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EXCELENTÍSSIMO JUIZ FEDERAL DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL

DE MARÍLIA, ESTADO DE SÃO PAULO.

ROBERTO JOSE NOGUEIRA DOS SANTOS, brasileiro, casado,


trabalhador rural, portador da cédula de identidade nº 63.317.729-5 e CPF sob
n° 818.786.729-91 residente e domiciliado no Sitio Santo Antonio, nº. S/N, na
Cidade de Fernao–SP, CEP 17.455-00, por seu advogado, conforme
instrumento de mandato em anexo, vem perante Vossa Excelência, propor
ação de concessão de benefício previdenciário, qual seja, pedido de
aposentadoria, em face do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS),
Autarquia Federal, pelos fatos e fundamentos jurídicos a seguir aduzidos:

Cabe inicialmente informar ao Juízo que já fora interposto ação visando a


aposentadoria do Autor, entretanto foi o processo extinto sem o julgamento do
mérito (n°:5001106-92.2022.4.03.6345), pois o Douto Juízo entendeu não ser
plausível analisar o mérito do feito tendo em vista que não foi apreciado
administrativamente a autarquia ré todos os documentos que foram juntados
no âmbito judicial.

Porém, mesmo levando para análise administrativa da autarquia ré todos os


documentos comprovador do labor rural do Autor, o benefício foi indeferido,
razão pela qual recorre o Autor ao judiciário para ter seu direito reconhecido.

I - DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA

Tendo em vista que o autor não possui condições financeiras para arcar com as
custas e despesas processuais sem prejudicar seu sustento e de sua família,
requer seja deferido o benefício da justiça gratuita, nos termos do artigo 98 do
CPC.

II - BREVE SÍNTESE DOS FATOS

O Autor, nascido em 15/04/1962, atualmente com 59 anos de idade, sempre


laborou em atividade rural.

O Requerente nasceu na zona rural, é filho de produtor rural e sempre


executou as mais diversas tarefas rurais desde seus 14 anos de idade, conforme
os documentos em anexo que comprovam que a família do requerente (seus
genitores) sempre laborou no serviço rural.

Nessa idade, acompanhado de seus pais e irmãos, trabalhou na lavoura,


ajudando sua família no plantio, conforme se extrai dos diversos documentos
em anexo, como talões de nota e recibos.

Em 1973 até 1987 essas atividades eram desempenhadas no sítio de seu


genitor, no Paraná.

No entanto, após a venda da referida propriedade, seu genitor comprou um


sítio no município de Fernão, onde continuaram desempenhando a atividade
rural.

Conforme podemos verificar pelos documentos anexos, o autor possui mais de


40 anos de cômputo para o tempo de trabalho rural, pois permanece na
referida propriedade rural até os dias de hoje, mesmo após o falecimento de
seu genitor.

Para que não restem dúvidas quanto à narração destes fatos ora em discussão,
junta-se, os seguintes elementos de prova material:

- Certidão de nascimento;
- Certidão de casamento;
- Certidão de nascimento dos filhos;
- Matrícula imovel rural;
- Compras de mercadorias rurais, conforme recibos em anexos
- Notas fiscais de produtor rural em nome do autor, dos anos de 1973,
1976, 1980, 1981, 1982, 1983, 1987, 1999 (pag. 126/127,164 e 174 e
184/185 e 192), 2001 (pag. 186 e 194), 2002, 2003 (pag. 179 e 187),
2004 (pag. 180 e 188), 2005 (pag. 128 e 182 e 190), 2006 (pag. 13/17
129 e 141/142 e 173), 2007 (pag. 18/22, 130 e 171 e 191), 2008 (pag.
24/27, 131 e 143 e 172), 2009 (pag. 132 e 168), 2011 (pag. 179), 2012
(pag. 29/38, 133 e e 144/145 e 195/196), 2013 (pag. 39/42, 166), 2014
(pag. 134), 2015 (pag 135 e 167), 2016, 2017 (pag. 49/52, 147/149), 2018
(53/56, 136/140), 2019 (pag. 57/58), 2020 (pag. 59) e 2021 (pag. 61/63,
153/155);
- Recibos e notas fiscais de compras de produtos.
- Escritura de compra e venda (pag. 77/81)
- A autodeclaração de segurado especial da Sra. Inês Idalina dos Santos
(pag. 74/76 )
- Contrato de arrendamento rural do ano de 2004 (pag. 88/91)
- Registro de imóveis de Gália que consta o requerente como produtor
rural.
- CADESP (pag. 96/98 e 150/152)
- Contrato de arrendamento rural do ano de 2004, que consta requerente
como agricultor e produtor rural (pag. 88/91 do pedido administrativo
em anexo nos autos)
- Contrato de arrendamento rural do ano de 2009, que consta requerente
como agricultor e produtor rural (pag. 92/95 do pedido administrativo
em anos nos autos)
- Declaração do ano de 2016, emitida pela prefeitura da cidade Fernão
para esposa do requerente, onde consta que a mesma reside no sítio
Santo Antônio, bairro CAIC. (pag. 99)
- Ficha de cadastro domiciliar do requerente, que consta sua moradia
como rural (pag. 100/101)
- Ficha cadastral municipal do município de Fernão do requerente,
constando sua profissão como agricultor (pag. 102)
- Nota de crédito rural (pag. 108/122)
- Contrato particular de compra e venda de mudas, anos de 2004 (pag.
123) e 2018 (pag. 124/125)
- Consulta de declaração cadastral - DECA Inicial (pag. 197)

O INSS, mesmo diante de tantas provas materiais irrefutáveis que comprovam


o exercício no meio rural, a partir do ano de 1973, conforme prova documental
anexada, indeferiu o pedido administrativo do autor, conforme procedimento
administrativo que se anexa nos autos na íntegra.

Assim, cumprindo os requisitos legais para a obtenção do benefício


previdenciário em espécie e trabalhando no meio rural como segurado
especial, completando mais de 40 anos de tempo de contribuição, é que o
autor vem ao socorro do Poder Judiciário para obtenção de sua aposentadoria,
o fazendo com base nos fundamentos a seguir delineados.

Importante salientar que o Requerente sempre trabalhou no labor rural em


economia familiar, com seus pais e irmão e como se verificará através de
documento anexo na exordial.

III - DA TUTELA ANTECIPADA:

Estão preenchidos os requisitos do art. 273, do CPC que diz:

Art. 273, do CPC:

“O juiz poderá, a requerimento da parte, antecipar, total ou


parcialmente, os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial,
desde que, existindo prova inequívoca, se convença da
verossimilhança da alegação e:
I – haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil
reparação; ou

II – fique caracterizado o abuso de direito de defesa ou o


manifesto propósito protelatório do réu.

Os requisitos da verossimilhança das alegações e de prova inequívoca os


recibos de pagamento de trabalhos rurais, vendas pequenas de produtos
agrícolas, comprovante de matrícula em escola rural, CADESP, certidões,
sendo essas provas robustas pelos menos para o início de prova material para
fins de concessão dessa aposentadoria por idade rural, bem como todo o
procedimento administrativo de concessão da aposentadoria por idade rural
da autora foram juntados aos autos o que comprova o direito que lhe cabe a
concessão da aposentadoria.

Os requisitos de que haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil


reparação está caracterizado porque se trata de verba de natureza alimentar e
fora negado, sendo o autor idoso e necessitando dos proventos da
aposentadoria para sobreviver.

Aliás, não há óbice à concessão de tutela antecipada para a concessão de


aposentadoria rural, dado o seu caráter alimentar.

IV - DO DIREITO

A nossa Carta Magna de 1988 consagrou em nosso sistema jurídico o Nome


da Aposentadoria por Idade Rural, senão vejamos:

Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma de regime


geral, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios
que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, nos termos da
lei, a:
I- cobertura dos eventos de doença, invalidez, morte e idade
avançada;

(...)

§ 7º É assegurada aposentadoria no regime geral de


previdência social, nos termos da lei, obedecidas as seguintes
condições:

(...)

II - sessenta e cinco anos de idade, se homem, e sessenta anos de


idade, se mulher, reduzido em cinco anos o limite para os
trabalhadores rurais de ambos os sexos e para os que exerçam
suas atividades em regime de economia familiar, nestes
incluídos o produtor rural, o garimpeiro e o pescador artesanal

Dispõe o artigo 195, § 8º, da Constituição Federal:

“O produtor, o parceiro, o meeiro e o arrendatário


rurais e o pescador artesanal, bem como os respectivos
cônjuges, que exerçam suas atividades em regime de
economia familiar, sem empregados permanentes,
contribuirão para a seguridade social mediante a
aplicação de uma alíquota sobre o resultado da
comercialização da produção e farão jus aos benefícios
nos termos da lei.”

Analisando todos os documentos que a parte autora junta em anexo, dúvidas


não existem em relação a sua condição de rurícola, durante toda a sua vida na
condição de segurada especial, o que será corroborado por meio de prova
testemunhal.

O artigo 39, I, da Lei n.º 8.213/91 regula o direito a aposentadoria do


trabalhador rural e demonstra quais os requisitos necessários para a sua
concessão:
Art. 39. Para os segurados especiais, referidos no inciso VII do
art. 11 desta Lei, fica garantida a concessão:

I - de aposentadoria por idade ou por invalidez, de


auxílio-doença, de auxílio-reclusão ou de pensão, no valor de 1
(um) salário mínimo, desde que comprove o exercício de
atividade rural, ainda que de forma descontínua, no período,
imediatamente anterior ao requerimento do benefício, igual ao
número de meses correspondentes à carência do benefício
requerido; (...).

Então, neste artigo podemos extrair os seguintes requisitos: a) desempenho de


atividade rural; e b) cumprimento do prazo de carência.

Entretanto, o artigo 48, § 1º e 2º da Lei 8.213/91, também informa sobre


o terceiro requisito necessário para a concessão da aposentadoria por idade
para trabalhador rural, ou seja, idade mínima de 60 (sessenta) anos para
homens e de 55 (cinquenta e cinco) anos para mulheres, bem como
comprovação de efetivo exercício de atividade rural, ainda que de forma
descontínua, no período imediatamente anterior ao requerimento do
benefício, por tempo igual ao número de meses de contribuição
correspondente à carência do benefício pretendido.

Vejamos o artigo 48, § 1º e 2º da Lei 8.213/91:

"A aposentadoria por idade será devida ao segurado que,


cumprida a carência exigida nesta Lei, completar 65 (sessenta e
cinco) anos de idade, se homem e 60 (sessenta) se mulher,
reduzidos esses limites para 60 e 55 anos de idade para
os trabalhadores rurais, respectivamente homens e
mulheres, referidos na alínea "a" do inciso I e nos incisos IV e
VII do art.11".

O Superior Tribunal de Justiça também exige os requisitos acima citados para


a concessão de aposentadoria rural por idade, vejamos:
“AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL.
PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA RURAL POR IDADE.
VALORAÇÃO DE PROVA. INÍCIO DE PROVA MATERIAL.
EXISTÊNCIA. COMPROVAÇÃO DA ATIVIDADE RURAL EM
NÚMERO DE MESES EQUIVALENTE À CARÊNCIA DO
BENEFÍCIO. DESNECESSIDADE.

1. "A comprovação do tempo de serviço para os efeitos desta Lei,


inclusive mediante justificação administrativa ou judicial,
conforme o disposto no artigo 108, só produzirá efeito quando
baseada em início de prova material, não sendo admitida prova
exclusivamente testemunhal, salvo na ocorrência de motivo de
força maior ou caso fortuito, conforme disposto no
Regulamento." (artigo 55, parágrafo 3º, da Lei 8.213/91).

2. O início de prova material, de acordo com a interpretação


sistemática da lei, é aquele feito mediante documentos que
comprovem o exercício da atividade nos períodos a serem
contados, devendo ser contemporâneos dos fatos a comprovar,
indicando, ainda, o período e a função exercida pelo
trabalhador. (...)

4. A certidão de casamento e o certificado de reservista, onde


constam a profissão de lavrador do segurado, constituem-se em
início razoável de prova documental. Precedentes. 5. Agravo
regimental improvido.

(AgRg no REsp 298.272/SP, Rel. Ministro HAMILTON


CARVALHIDO, SEXTA TURMA, julgado em 03.06.2002, DJ
19.12.2002 p. 462).”

Em relação à idade necessária para a percepção do benefício pretendido, o


autor, hoje com 59 anos de idade, preencherá o requisito em 15/04/2022, ou
seja, daqui a 14 dias.
O exercício de atividade rural também fica visualizado, tendo em vista que o
requerente exerce esta labor desde a sua adolescência, labutando toda a sua
vida produtiva na condição de segurado especial.

Considerando que a legislação vigente exige o início de prova documental


quanto à condição de rurícola, o Requerente que durante toda a sua vida
laboral exerce atividades rurais, possui razoável início de prova material, a
qual será corroborada com a prova testemunhal, e comprovar o período
necessário de labor rural para demonstrar o cumprimento da carência exigida.
Entre os documentos, cita-se:

● Certidão de casamento;
● Certidão de nascimento dos filhos;
● Matrícula imovel rural;
● Notas fiscais de produtor rural em nome do autor, dos anos de 1973,
1976, 1980, 1981, 1982, 1983, 1987, 1999, 2002, 2004, 2005, 2006,
2007, 2008, 2009, 2012, 2013, 2014, 2015, 2016, 2017, 2018, 2019,
2020 e 2021;
● Recibos e notas fiscais de compras de produtos
● CADESP e outros documentos.

Por último, em relação a carência exigida, neste caso é de 180 meses, foi
devidamente atendida, pois o autor é trabalhador rural, tendo trabalhado toda
sua vida como produtor rural, como atestam os documentos juntados e
poderão ser confirmados por meio de prova testemunhal.

Diante dos fatos alegados, estão devidamente preenchidos os requisitos


atinentes a idade, comprovação de labor na condição de segurado especial e
ainda pelo tempo.

DA REAFIRMAÇÃO DA DER PARA DATA POSTERIOR AO


REQUERIMENTO ADMINISTRATIVO EM CASO DE NECESSIDADE
Na remota eventualidade de não serem reconhecidos todos os períodos
postulados, desde já requer seja reafirmada a DER para o momento em que a
Segurado adquirir direito a aposentadoria, concedendo-se o benefício a partir
da data da aquisição do direito, nos termos do art. 690 da IN 77/2015:
Art. 690. Se durante a análise do requerimento for verificado que na
DER o segurado não satisfazia os requisitos para o reconhecimento do direito,
mas que os implementou em momento posterior, deverá o servidor informar
ao interessado sobre a possibilidade de reafirmação da DER, exigindo-se para
sua efetivação a expressa concordância por escrito.
Parágrafo único. O disposto no caput aplica-se a todas as situações que
resultem em benefício mais vantajoso ao interessado. 
V - DOS PEDIDOS

Pelas razões de fato e de direito acima expostas, requer-se:

a) A concessão da Justiça Gratuita, por ser o requerente pobre na acepção


jurídica do termo;

b) A citação do Instituto Nacional do Seguro Social - INSS, na pessoa de


seu representante legal, para que responsa a presente demanda, no
prazo legal, sob pena de revelia;

c) Seja o pleito julgado procedente, para a concessão definitiva do


benefício aposentadoria por idade rural, desde o requerimento do
benefício de n°197.369.730-8 ao Requerente, em valor não inferior a
um salário mínimo mensal;

d) Requer desde já a reafirmação da DER, caso se comprove que o


Requerente preencha os requisito posteriormente;

e) Seja a Autarquia Ré condenada a pagar as parcelas atrasadas desde a


data do indeferimento do requerimento administrativo, anexo, com base
nos fundamentos supracitados;

f) A condenação da Autarquia ao pagamento das custas processuais e


honorários advocatícios a serem arbitrados por Vossa Excelência;
g) Seja deferida a produção de provas por todos os meios de prova
admitidos em direito, em especial a prova documental, testemunhal e
depoimento pessoal.

Dá-se a causa o valor de R$ 16.968,00 que correspondem a 2 prestações


vencidas e 12 prestações vincendas.

Termos em que pede deferimento.

Fernão-SP, 18 de agosto de 2022.

LEANDRO GOMES DE MELO OAB/SP 263.937

CAROLINE OLIVEIRA SOARES OAB/SP 463.409

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