Você está na página 1de 5

MINISTÉRIO DA ECONOMIA - MECON

CONSELHO DE RECURSOS DA PREVIDÊNCIA SOCIAL - CRPS

3ª Câmara de Julgamento
Data/Hora: 16/10/2020 18:28:00

Número do Processo: 44234.054474/2019-11


Tipo do Processo: Recurso Especial
APS Responsável: AGÊNCIA DA PREVIDÊNCIA SOCIAL NOVO HAMBURGO
Objeto do Processo: Espécie/NB: 41/190.328.633-3
Espécie: Aposentadoria por idade
Recorrente: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS
Recorrido: MARIA MARLENE SCHAEFFER
DANIEL FIALHO GOMES
Assunto: INDEFERIMENTO
Relator: THALITA MELCHIOR DE LIMA

Inclusão em Pauta
Incluído em pauta em 09/10/2020 14:33:22 para sessão 0638/2020 E.

Relatório
Trata-se de recurso especial interposto pelo INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL – INSS em face de
MARIA MARLENE SCHAEFFER, em razão da decisão da 24ª Junta de Recursos, que conheceu e deu
provimento ao recurso ordinário da interessada, que reconheceu o período de 08/02/1965 a 31/12/1977
como rural. E assim, concedeu a aposentadoria por idade híbrida.
 
O INSS, em seu Recurso Especial, afirma que não há documentos em nome da interessada, somente de
terceiros. Nesse sentido, deveria haver o processamento de Justificação Administrativa.
 
A interessada apresentou contrarrazões, e requer a manutenção do decisório da D. Junta de Recursos.
Contudo, autoriza o processamento de Justificação Administrativa.
 
Principais documentos:
-Ficha de inscrição junto a Cooperativa dos Suinocultores do Caí Superior Ltda, em nome do pai, com data
de admissão 30/01/1960, constando em anotações movimentação de produção em 1984 informando NF
21031-soja.
-Declaração Cooperativa dos Suinocultores do Caí Superior Ltda informando matrícula e data de filiação
(30/01/1960).
-Atestado escolar da requerente para os anos de 1962 e 1963 (anterior ao período que quer comprovar)
-Ficha de classificação escolar para o ano de 1963.
-Certidão de casamento da requerente celebrado em 30/08/1977
-Ficha do Sindicato doa Trabalhadores Rurais de S.S. do Caí sem data de filiação
-Declaração do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de S.S. do Caí informando que o pai da requerente foi
associado de 1979 a 1981 (posterior ao período que deseja comprovar)

Assinatura do documento: 5FCF801BFCF7041F553C4C52DDC41A6FD0787900CC1D4FF57EE1984AF1045B40


Assinatura digital do presidente: FDA03A1EEB9E6B90EC98A6666D7FDC48CC1CA4FAD89FAB10F3572AFA4AED4501
Assinatura digital do(a) relator(a): DAC91323AFCA190295799D13E03F4C7A25120133C9C6A344A76055BB8AAFA45F
Página: 1
-Ficha do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Bom Pricípio datada em 28/02/1983 (posterior ao período
que deseja comprovar).
-Certificado de Batismo da requerente na Paróquia de Bom princípios
-Certificado do registro de Imóveis da Comarca de São Sebastião do Caí emitida em 23/10/2008 onde
consta uma fração de terra em Passo do Salseiro, zona rural, adquirida por José Arlindo Machado,
agricultor, em 1964.
 
À fl. 65, consta que a interessada conta com 95 contribuições mensais na DER – 04/07/2018. Data de
nascimento em 08/02/1953.
 
É o Relatório.

Voto
EMENTA:

DUPLO RECURSO. APOSENTADORIA POR IDADE HÍBRIDA. ART 48, §3° DA LEI 8213/91.
ATIVIDADE RURAL. SEGURADA ESPECIAL. JUNTADA DE DOCUMENTOS.
RECONHECIMENTO. ENUNCIADO 08 DO CRPS. AÇÃO CIVIL PÚBLICA Nº 5038261-
15.2015.4.04.7100/RS. CONCESSÃO DE APOSENTADORIA POR IDADE. RECURSO DO INSS
NÃO CONHECIDO. RECURSO DA RECORRENTE CONHECIDO E PROVIDO.

Observa-se que o recurso interposto pelo INSS é intempestivo, já que a parte obteve ciência da decisão
no dia 17/01/2020, conforme fl. 80, e somente interpôs seu recurso dia 18/02/2020, de acordo com fl. 85.
Portanto, ultrapassou o limite legal estabelecido no art. 305, §1° do Decreto n° 3.048/1999.
 
A intempestividade de recurso poderá ser relevada, caso seja demonstrado no mérito dos autos, de
forma líquida e certa o direito da parte, segundo o art. 16, inciso II do Regimento Interno deste
Conselho[1].
 
Recebo as contrarrazões tempestivas da interessada na forma de Recurso Especial. Autorizou o
processamento de Justificação Administrativa.
 
Os autos versam sobre a possibilidade de concessão da aposentadoria por idade híbrida.
 
A aposentadoria por idade híbrida diz respeito ao benefício do art. 48, §3° da Lei 8213/91, em que o
segurado trabalhou tanto no meio rural, quanto do meio urbano:
 
“Art. 48. A aposentadoria por idade será devida ao segurado que, cumprida a carência exigida nesta Lei,
completar 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se homem, e 60 (sessenta), se mulher.     (Redação dada
pela Lei nº 9.032, de 1995)
§3° Os trabalhadores rurais de que trata o §1° deste artigo que não atendam ao disposto no §2° deste
artigo, mas que satisfaçam essa condição, se forem considerados períodos de contribuição sob outras
categorias do segurado, farão jus ao benefício ao completarem 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se
homem, e 60 (sessenta) anos, se mulher. (Incluído pela Lei nº 11,718, de 2008)”
 
Para concessão de aposentadoria por idade híbrida é preciso observar a idade mínima de 65 anos para
homem e 60 anos mulher, é também art. 142 da Lei de Benefícios que diz respeito ao número de
contribuições exigido para aposentadoria por idade.
 
A interessada apresentou documentos e requer a homologação de períodos como rural.
 
A qualidade de segurado especial é caracterizada pelos requisitos expostos no art. 11, inciso VI, da Lei n°
8.213/91[2].
 
Além disso, é necessária análise de documentação dos autos para que seja efetiva a comprovação do
exercício da atividade rural, por meio dos documentos elencados no art. 106 da Lei n° 8.213/91[3].
 
Importante ressaltar o ENUNCIADO nº 8 do Conselho de Recursos da Previdência Social para
reconhecimento de atividade rural:
 
O tempo de trabalho rural do segurado especial e do contribuinte individual, anterior à Lei nº 8.213/91,

Assinatura do documento: 5FCF801BFCF7041F553C4C52DDC41A6FD0787900CC1D4FF57EE1984AF1045B40


Assinatura digital do presidente: FDA03A1EEB9E6B90EC98A6666D7FDC48CC1CA4FAD89FAB10F3572AFA4AED4501
Assinatura digital do(a) relator(a): DAC91323AFCA190295799D13E03F4C7A25120133C9C6A344A76055BB8AAFA45F
Protocolo: 44234.054474/2019-11 Página: 2
pode ser utilizado, independente do recolhimento das contribuições, para fins de benefícios no RGPS,
exceto para carência.
I - O tempo de trabalho rural do segurado especial e do contribuinte individual, anterior à Lei nº 8.213/91,
pode ser utilizado para contagem recíproca, desde que sejam indenizadas as respectivas contribuições
previdenciárias.
II - A atividade agropecuária efetivamente explorada em área de até 4 módulos fiscais, individualmente
ou em regime de economia familiar na condição de produtor, devidamente comprovada nos autos do
processo, não descaracteriza a condição de segurado especial, independente da área total do imóvel
rural.
III - O exercício de atividade urbana por um dos integrantes do grupo familiar não implica, por si só, na
descaracterização dos demais membros como segurado especial, condição que deve ser devidamente
comprovada no caso concreto.
IV - Quem exerce atividade rural em regime de economia familiar, além das tarefas domésticas em seu
domicílio, é considerado segurado especial, aproveitando-se-lhe as provas em nome de seu cônjuge ou
companheiro (a), corroboradas por outros meios de prova.
V - O início de prova material - documento contemporâneo dotado de fé pública, sem rasuras ou
retificações recentes, constando a qualificação do segurado ou de membros do seu grupo familiar como
rurícola, lavrador ou agricultor - deverá ser corroborado por outros elementos, produzindo um conjunto
probatório harmônico, robusto e convincente, capaz de comprovar os fatos alegados.
VI - Não se exige que o início de prova material corresponda a todo o período equivalente à carência do
benefício, porém deve ser contemporâneo à época dos fatos a provar, inclusive podendo servir de
começo de prova documento anterior a este período.
 
Em síntese, o trabalhador rural, na qualidade de segurado especial precisa exercer atividade rural, para a
sua subsistência e de sua família, em regime de economia familiar, e que para comprovar o efetivo labor
rural apresente documentos acostados no art. 106 da Lei n° 8.213/91.
 
No caso concreto, o período que se pretende comprovar é de 08/02/1965 a 31/12/1977. Sendo que a
interessada juntou Ficha de inscrição junto a Cooperativa dos Suinocultores do Caí Superior Ltda, em
nome do pai, com data de admissão 30/01/1960, constando em anotações movimentação de produção
até 1982.
 
Além disso, consta a interessada como sua dependente, e declaração do Sindicato ratificando as
informações.
 
Registra-se que foi solicitado o processamento de Justificação Administrativa. No entanto, o INSS não se
desincumbiu de seu dever de realizar a oitiva de testemunhas, conforme foi solicitado. Mesmo sendo
vedado ao INSS escusar-se de cumprir, no prazo regimental, as diligências solicitadas pelas unidades
julgadoras do CRSS, bem como deixar de dar efetivo cumprimento às decisões do Conselho Pleno e
acórdãos definitivos dos órgãos colegiados, reduzir ou ampliar o seu alcance ou executá-lo de modo que
contrarie ou prejudique seu evidente sentido, conforme art. 56 do Regimento Interno do CRPS.
 
Além disso, de acordo com o art. 373, §1° do Código de Processo Civil, o qual se aplica subsidiariamente
ao recursos administrativos previdenciários, conforme dispõe o artigo 71 do Regimento Interno, nos casos
previstos em lei ou diante de peculiaridades da causa relacionadas à impossibilidade ou à excessiva
dificuldade de cumprir o encargo nos termos do caput ou à maior facilidade de obtenção da prova do fato
contrário, poderá o juiz atribuir o ônus da prova de modo diverso, desde que o faça por decisão
fundamentada, caso em que deverá dar à parte a oportunidade de se desincumbir do ônus que lhe foi
atribuído.
 
A partir disso, é possível homologar o período de 08/02/1965 a 31/12/1977 como rural ante
documentação apresentada em nome de seu pai.
 
Ressalta-se que somente é possível o cômputo de período rural para fins de carência diante da Ação Civil
Pública nº 5038261-15.2015.4.04.7100/RS, em que os requerimentos em que o último vínculo do
segurado for urbano ou que esteja em gozo de benefício concedido em decorrência desta atividade, o
cômputo da carência em número de meses incluirá também os períodos de atividade rural sem
contribuição, inclusive anterior a 11/1991, não se aplicando o previsto nos incisos II e IV do artigo 154 da
Instrução Normativa nº 77/2015, seguindo os mesmos critérios da aposentadoria híbrida para os
trabalhadores rurais. Sendo que, todas as Agências da Previdência Social do país devem adotar o
entendimento para os requerimentos protocolados a partir de 05/01/2018, ou – para os benefícios ainda
não despachados – oportunizar a reafirmação da DER.

Assinatura do documento: 5FCF801BFCF7041F553C4C52DDC41A6FD0787900CC1D4FF57EE1984AF1045B40


Assinatura digital do presidente: FDA03A1EEB9E6B90EC98A6666D7FDC48CC1CA4FAD89FAB10F3572AFA4AED4501
Assinatura digital do(a) relator(a): DAC91323AFCA190295799D13E03F4C7A25120133C9C6A344A76055BB8AAFA45F
Protocolo: 44234.054474/2019-11 Página: 3
 
Nesse sentido, é possível a concessão do benefício de aposentadoria por idade híbrida em 30/04/2018
 
Ante o exposto, voto no sentido de não conhecer do recurso do INSS. E conhecer do Recurso Especial da
Recorrente, para no mérito, dar-lhe provimento.
 
 
 
 
 
[1] “Art. 16. Incumbe ao Conselheiro relator das Câmaras e Juntas:
(...)
II - propor à composição julgadora relevar a intempestividade de recursos, no corpo do próprio voto,
quando fundamentadamente entender que, no mérito, restou demonstrada de forma inequívoca a
liquidez e certeza do direito da parte;”
[2] “Art. 11. São segurados obrigatórios da Previdência Social as seguintes pessoas físicas: 
VII – como segurado especial: a pessoa física residente no imóvel rural ou em aglomerado urbano ou rural
próximo a ele que, individualmente ou em regime de economia familiar, ainda que com o auxílio eventual
de terceiros, na condição de: (Redação dada pela Lei nº 11.718, de 2008)
a) produtor, seja proprietário, usufrutuário, possuidor, assentado, parceiro ou meeiro outorgados,
comodatário ou arrendatário rurais, que explore atividade: (Incluído pela Lei nº 11.718, de 2008)
1. agropecuária em área de até 4 (quatro) módulos fiscais; (Incluído pela Lei nº 11.718, de 2008)
2. de seringueiro ou extrativista vegetal que exerça suas atividades nos termos do inciso XII do caput do
art. 2º da Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000, e faça dessas atividades o principal meio de vida;
(Incluído pela Lei nº 11.718, de 2008)
b) pescador artesanal ou a este assemelhado que faça da pesca profissão habitual ou principal meio de
vida; e (Incluído pela Lei nº 11.718, de 2008)
c) cônjuge ou companheiro, bem como filho maior de 16 (dezesseis) anos de idade ou a este equiparado,
do segurado de que tratam as alíneas a e b deste inciso, que, comprovadamente, trabalhem com o grupo
familiar respectivo.”  
 
[3] “Art. 106. A comprovação do exercício de atividade rural será feita, alternativamente, por meio de:
(Redação dada pela Lei nº 11.718, de 2008)
I – contrato individual de trabalho ou Carteira de Trabalho e Previdência Social; (Redação dada pela Lei nº
11.718, de 2008)
II – contrato de arrendamento, parceria ou comodato rural; (Redação dada pela Lei nº 11.718, de 2008)
III – declaração fundamentada de sindicato que represente o trabalhador rural ou, quando for o caso, de
sindicato ou colônia de pescadores, desde que homologada pelo Instituto Nacional do Seguro Social –
INSS; (Redação dada pela Lei nº 11.718, de 2008)
IV – comprovante de cadastro do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA, no caso de
produtores em regime de economia familiar;           (Redação dada pela Lei nº 11.718, de 2008)
V – bloco de notas do produtor rural; (Redação dada pela Lei nº 11.718, de 2008)
VI – notas fiscais de entrada de mercadorias, de que trata o § 7o do art. 30 da Lei no 8.212, de 24 de julho
de 1991, emitidas pela empresa adquirente da produção, com indicação do nome do segurado como
vendedor; (Incluído pela Lei nº 11.718, de 2008)
VII – documentos fiscais relativos a entrega de produção rural à cooperativa agrícola, entreposto de
pescado ou outros, com indicação do segurado como vendedor ou consignante; (Incluído pela Lei nº
11.718, de 2008)
VIII – comprovantes de recolhimento de contribuição à Previdência Social decorrentes da comercialização
da produção; (Incluído pela Lei nº 11.718, de 2008)”
IX – cópia da declaração de imposto de renda, com indicação de renda proveniente da comercialização de
produção rural; ou (Incluído pela Lei nº 11.718, de 2008)
X – licença de ocupação ou permissão outorgada pelo Incra. (Incluído pela Lei nº 11.718, de 2008)”
THALITA MELCHIOR DE LIMA
Relator(a)

Assinatura do documento: 5FCF801BFCF7041F553C4C52DDC41A6FD0787900CC1D4FF57EE1984AF1045B40


Assinatura digital do presidente: FDA03A1EEB9E6B90EC98A6666D7FDC48CC1CA4FAD89FAB10F3572AFA4AED4501
Assinatura digital do(a) relator(a): DAC91323AFCA190295799D13E03F4C7A25120133C9C6A344A76055BB8AAFA45F
Protocolo: 44234.054474/2019-11 Página: 4
Declaração de Voto

Conselheiro(a) concorda com o voto do(a) Relator(a).

ROMULO BARBOSA DA SILVA


Conselheiro(a) Suplente Representante dos Trabalhadores

Declaração de Voto

Presidente concorda com o voto do(a) Relator(a).

GUSTAVO BEIRAO ARAUJO


Presidente

Decisório
Nº Acordão: 3ª CAJ/10105/2020

Vistos e relatados os presentes autos, em sessão realizada em 16/10/2020, ACORDAM os membros


da 3ª Câmara de Julgamento, NÃO CONHECER DO RECURSO DO INSS E CONHECER DO RECURSO DO
RECORRENTE E DAR-LHE PROVIMENTO, POR UNANIMIDADE, de acordo com o voto do(a) Relator(a) e sua
fundamentação.

Participaram, ainda, do presente julgamento, os Conselheiros ROMULO BARBOSA DA SILVA.

THALITA MELCHIOR DE LIMA GUSTAVO BEIRAO ARAUJO


Relator(a) Presidente

Assinatura do documento: 5FCF801BFCF7041F553C4C52DDC41A6FD0787900CC1D4FF57EE1984AF1045B40


Assinatura digital do presidente: FDA03A1EEB9E6B90EC98A6666D7FDC48CC1CA4FAD89FAB10F3572AFA4AED4501
Assinatura digital do(a) relator(a): DAC91323AFCA190295799D13E03F4C7A25120133C9C6A344A76055BB8AAFA45F
Protocolo: 44234.054474/2019-11 Página: 5

Você também pode gostar