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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5.ª REGIÃO


SEÇÃO JUDICIÁRIA DO CEARÁ
SUBSEÇÃO DE TAUÁ
24ª VARA - JUIZADO ESPECIAL FEDERAL

SENTENÇA

1. Relatório

Dispensado o relatório, nos termos do art. 38 da Lei 9.099/1995,


aplicável subsidiariamente aos Juizados Especiais Federais, em consonância com o
art. 1º da Lei 10.259/2001.

2. Fundamentação

Sem preliminares.

Mérito.

Cuida-se de demanda previdenciária ajuizada pelo rito do juizado


especial em que a parte autora postula provimento jurisdicional que condene o INSS a
conceder-lhe o benefício de salário-maternidade, devidamente corrigido e acrescido
de juros de mora.

Inicialmente, cumpre abordar a constitucionalidade dos atos de


instrução colhidos por conciliador. Dispõe a súmula conjunta nº 3 das Turmas
Recursais do Ceará:

“É constitucional a ouvida de partes e testemunhas em audiência


conduzida por conciliador, sendo dispensável, a critério do juiz, a
repetição ou a complementação da prova oral produzida perante o
conciliador, se não houver fundada impugnação das partes (art. 26 da
Lei nº 12.153/2009).”

Nesse caso, havendo depoimento pessoal e oitiva de testemunha


anexados aos autos suficientes para embasar o julgamento do feito, passa-se ao
exame do mérito.

O benefício de salário-maternidade, no valor de um salário-mínimo, é


devido à segurada especial, desde que esta comprove o exercício de atividade rural,
individualmente ou em regime de economia familiar, ainda que de forma descontínua,
nos 10 (dez) meses imediatamente anteriores ao do início do benefício, conforme
estabelecido no art. 25, inciso III, c/c o art. 39, parágrafo único, ambos da Lei nº
8.213/91.

Acerca da comprovação do efetivo exercício da atividade agrícola, o


art. 55, § 3º da Lei nº 8.213/91 dispõe expressamente que: “A comprovação do tempo
de serviço para os efeitos desta Lei, inclusive mediante justificação administrativa ou
judicial, conforme o disposto no artigo 108, só produzirá efeito quando baseada em
início de prova material, não sendo admitida prova exclusivamente testemunhal, salvo
na ocorrência de motivo de força maior ou caso fortuito, conforme disposto no
Regulamento.” Corroborando esse dispositivo legal, o Colendo STJ editou a Súmula
nº 149, asseverando que: “A prova exclusivamente testemunhal não basta à
comprovação da atividade rurícola, para efeito de obtenção do benefício
previdenciário.”

Observa-se que a lei exige o início de prova material


consubstanciada em documentação idônea expedida nos dez meses anteriores
ao início do benefício. Aplica-se, a propósito dessa questão, a Súmula nº 34 da
Turma Nacional de Uniformização dos Juizados Especiais Federais: “Para fins de
comprovação do tempo de labor rural, o início de prova material deve ser
contemporâneo à época dos fatos a provar.”

No presente caso, o nascimento do(a) filho(a) da autora foi


comprovado a partir da anexação de sua certidão de nascimento, que demonstram
ter ocorrido o fato deflagrador do direito ao benefício em 16/03/2021 (ID 17375688).

Para comprovação do seu direito, a parte autora anexou, dentre


outros documentos que não são suficientes para tal fim:

1) DAP emitido em 01/2022;


2) Autodeclaração de segurado especial do ano de 2023;
3) Autodeclaração de segurado especial do ano de 2022;
4) Autodeclaração de segurado especial do ano de 2021

De início, ressalte-se que não servem como início de prova material


do labor rural documentos que não se revestem das formalidades legais, tais como:
carteiras, comprovantes e declarações de sindicatos sem a devida homologação do
INSS e do Ministério Público; a certidão eleitoral com anotação indicativa da profissão
de lavrador; declarações escolares, de Igrejas, de ex-empregadores e afins;
prontuários médicos em que constem as mesmas anotações; além de outros que a
esses possam se assemelhar.

Deveras, a qualificação profissional constante dos documentos


mencionados não serve de prova do labor rural, mormente considerada a sua
natureza meramente autodeclaratória, na medida em que derivam de informações
que são registradas a partir de mera declaração do próprio interessado.

O comprovante de Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural - ITR


e o Certificado de Cadastro de Imóvel Rural - CCIR se prestam a constatar apenas a
existência do referido imóvel e suas circunstâncias, bem como atestam a qualidade
de proprietário/contribuinte daquele que figura como titular nos referidos documentos,
mas não se prestam para demonstrar o efetivo labor rural da parte autora.

Nesse sentido, destaco o seguinte posicionamento da jurisprudência:

PREVIDENCIÁRIO. PROCESSUAL CIVIL. SALÁRIO-


MATERNIDADE. TRABALHADORA RURAL. AUSÊNCIA DE INÍCIO
DE PROVA MATERIAL NO PERÍODO DE CARÊNCIA. PROVA
EXCLUSIVAMENTE TESTEMUNHAL. INADIMISSIBILIDADE. 1.
Sentença proferida na vigência do novo CPC/2015: remessa
necessária não conhecida, a teor art. 496, § 3º, I, do novo Código de
Processo Civil. 2. A prescrição atinge as prestações vencidas antes
do lustro que antecedeu a propositura da presente ação, nos termos
da Súmula 85/STJ. Inocorrência de prescrição na espécie, porque não
decorrido o lustro entre o nascimento da filha da autora (27.02.2014) e
o requerimento administrativo. 3. O benefício de salário-maternidade é
devido à segurada da Previdência Social durante 120 (cento e vinte)
dias, com início no período entre 28 (vinte e oito) dias antes do parto e
a data de ocorrência deste, observadas as situações e condições
previstas na legislação no que concerne à proteção à maternidade
(artigo 71 da Lei 8.213 de 1991). 4. Não servem como início de
prova material do labor rural durante o período da carência, pois
não revestidos das formalidades legais para comprovar a
autenticidade, a segurança jurídica e quando tiverem sido
confeccionados em momento próximo ao ajuizamento da ação
ou à data do nascimento da criança, a certidão eleitoral
(retificável a qualquer tempo) com anotação indicativa da
profissão de rurícola, certidão de nascimento da criança e/ou
certidão de casamento sem qualificação profissional, prontuários
médicos, cartão da gestante, cartão de vacinas, carteira e ficha
de filiação a sindicato de trabalhadores rurais, desacompanhado
dos recolhimentos, CTPS sem anotações de vínculos rurais,
documentos de terras em nome de terceiros, bem como
declaração de terceiros. 5. O pleito encontra óbice na ausência de
início de prova material, pois não ficou comprovado o exercício de
atividade rural no período de carência (art. 48, §§ 1º e 2º, da Lei n.
8.213/91), tendo em vista que os documentos apresentados pela
autora não são suficientes para comprovar o efetivo exercício
campesino em regime de economia familiar. 6. A autora postula o
benefício de salário-maternidade em decorrência do nascimento de
sua filha, ocorrido em 18.09.2009 - certidão de nascimento de fl. 14 e,
com o propósito de comprovar a sua condição de trabalhadora rural,
juntou aos autos os seguintes documentos: certidão de nascimento
próprio, sem qualificação dos genitores - fl. 09; certidão do TRE-MG -
fl. 10, declaração particular , datada de 2014, portanto, após o parto -
fl. 17 e certidão de casamento religioso, sem qualificação dos
nubentes, datada de 02/2012, portanto, após o parto - fl. 09. 7. O
Reconhecimento de tempo de serviço rural exige início razoável de
prova material corroborada por prova testemunhal robusta, não sendo
admissível prova exclusivamente testemunhal. 8. Deferida a
gratuidade de justiça requerida na inicial, fica suspensa a execução
dos honorários de advogado arbitrados em R$ 1.000,00 (um mil
reais), enquanto perdurar a situação de pobreza do autor pelo prazo
máximo de cinco anos, quando estará prescrita. 9. A coisa julgada
opera secundum eventum litis ou secundum eventum probationis,
permitindo a renovação do pedido ante novas circunstâncias ou novas
provas. 10. Remessa necessária não conhecida. Apelação do INSS
provida para julgar improcedente o pedido inicial. (TRF-1 - AC:
00229029720184019199, Relator: DESEMBARGADOR FEDERAL
FRANCISCO DE ASSIS BETTI, Data de Julgamento: 03/04/2019,
SEGUNDA TURMA, Data de Publicação: 03/05/2019)

A declaração de exercício de atividade rural emitida por particular


equipara-se a depoimento de informante reduzido a termo, ao passo que a
autodeclaração de segurado especial não ratificada por entidades públicas
credenciadas, nos termos do art. 13 da Lei nº 12.188, de 11 de janeiro de 2010, e por
outros órgãos públicos, na forma prevista no regulamento (art. 19-D, §10, do Decreto
n° 3.048/99), não se mostra hábil a comprovar o efetivo exercício de labor rural.

A carteira de identificação e recibos de pagamento de mensalidade a


Sindicato de Trabalhadores Rurais e/ou Associação Comunitária nada mais provam
do que o vínculo com as referidas entidades.

Feitas tais considerações, entendo que insuficientes à comprovação


do labor rural os documentos mencionados nos itens 01 e 04.

Há nos autos 03 autodeclarações de segurado especial com datas


diferente e informações divergentes. Vejamos. A autodeclaração datada em janeiro de
2023 informa como período declarado, na condição de parceiro, janeiro de 2019 a
março de 2021 (ID 18502404 - Pág. 28).

De outro lado, autodeclaração de julho de 2022, noticia o período de


02/2020 a 03/2021, também na condição de parceria. (ID 18502405 - Pág. 16).

A autodeclaração de julho de 2021 informa o período de junho de 11


a junho de 2021 na condição de usufrutuário.

Ademais, em depoimento, a autora aduz que morava no interior do


Estado de São Paulo, passando a morar no Ceará apenas a partir de fevereiro de
2020.

O marido trabalhou como segurado empregado até outubro de 2020,


conforme CNIS. (ID 18502414 - Pág. 3)
In casu, evidenciada a ausência de prova documental hábil a
comprovar o efetivo exercício de labor rural durante o período de carência do
benefício, e à luz do disposto no art. 55, § 3º, da Lei nº 8.213/91, e da Súmula nº 149
do STJ, que inadmite a prova exclusivamente testemunhal com vistas à comprovação
do efetivo exercício da atividade agrícola, não há como se conceber a concessão do
benefício pleiteado na hipótese dos autos.

Frise-se, ainda, que o depoimento da autora e o testemunho não


permitiram firmar a convicção do julgador no sentido de que a requerente
efetivamente trabalhou na agricultura durante o período de carência do benefício
reivindicado.

Desta forma, entendo que o conjunto fático-probatório dos autos se


mostrou insuficiente a firmar um juízo de convicção neste juízo quanto ao efetivo
desempenho de labor rural pela postulante no período de carência exigido pela
legislação, qual seja, nos 10 (dez) meses imediatamente anteriores ao início do
benefício, ainda que de forma descontínua, razão pela qual não vislumbro como
conceder o benefício requestado na exordial.

3. Dispositivo

Ante o exposto, JULGO IMPROCEDENTE o pedido.

Sem custas e honorários advocatícios, em face do disposto no art. 55


da Lei 9.099/1995.

Defiro a gratuidade da justiça.

Publicação e registro na forma eletrônica.

Intimem-se as partes.

Tauá/CE, [data da assinatura eletrônica].

MARCELO SAMPAIO PIMENTEL ROCHA

Juiz Federal Titular da 24ª Vara da SJCE

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