Você está na página 1de 8

EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA 2ª VARA DO

JUIZADO ESPECIAL FEDERAL SEDIADO EM RONDONÓPOLIS-MATO GROSSO.

Proc. N.: 1005308-24.2022.4.01.3602


Autor: MARIA JOSÉ TAVARES DA SILVA
Réu: INSS

MARIA JOSÉ TAVARES DA SILVA, já devidamente qualificada nos


autos de Ação supra, que ora promove em desfavor do INSS, não se conformando
com a r. sentença que julgou improcedente o processo por ela promovido, vem
respeitosamente à presença de Vossa Excelência, apresentar RECURSO
INOMINADO na forma que abaixo aduz.

I - DA PRELIMINAR

A priori, em virtude de hipossuficiente, não tendo, portanto, as


mínimas condições de arcar com qualquer despesa que possa advir dos autos, logo,
requer que seja concedido o benefício da Justiça Gratuita, nos termos da Lei nº
1.061/50, com alterações introduzidas pela Lei nº 7.871 de 08/11/89;

Recebido e processado na forma da lei, requer seja o presente


recurso encaminhado à Egrégia Turma Recursal, com as razões que seguem em
anexo.

Nestes Termos.
P. e E. Deferimento.
Rondonópolis-MT, 23 de março de 2023.

CAROLINE CRISTINA BERTÉ DOURADO SIQUEIRA


OAB/MT 18.455
EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) RELATOR(A) DA TURMA
RECURSAL DO ESTADO DE MATO GROSSO.

Proc. N.: 1005308-24.2022.4.01.3602


Recorrente: MARIA JOSÉ TAVARES DA SILVA
Recorrido: INSS

RAZÕES DO RECURSO

COLENDA TURMA RECURSAL

INCLÍCITO JULGADORES

Concessa máxima vênia, a r. sentença objurgada merece ser


reformada, uma vez que não aplicou ao caso concreto todo o Direito Posto
correspondente, de modo que o insigne Juízo a quo deixou de fazer a costumeira
Justiça por completo.

I - DOS FATOS

A Recorrente propôs contra a Recorrida, Ação Judicial objetivando a


concessão do benefício de Aposentadoria por Idade Rural, tendo em vista que
preenche os requisitos para a concessão da aposentadoria desde a DIB ocorrida em
22.04.2022.

A r. sentença id. 1512315869 julgou, “...IMPROCEDENTE O PLEITO


FORMULADO NA INICIAL”, nos termos do art. 487, inciso I, do CPC, para rejeitar os
pedidos de obtenção de benefício de aposentadoria por idade e de recebimento de
parcelas em atraso.
Desta feita, não se conformando com o comando decisório supra,
porquanto destoante dos preceitos legais atinentes à matéria, interpõe a recorrente a
irresignação em tela.

II - DO MÉRITO

Egrégia Turma, as provas materiais colacionadas aos autos, são


absolutamente satisfatórias para demonstrar o direito em discussão, no que tange ao
deferimento do pleito em todos os seus termos.

A recorrente, nascida em 06.04.1967, possuía 55 anos de idade na


DER, cumprindo o requisito idade exigido no art. 48, §1º, da Lei 8.213/91.

Assim sendo, detentora de idade mínima bem como de período de


carência superior ao exigido para a aposentadoria por idade rural, requereu o
respectivo benefício em 22.04.2022 junto ao INSS, entretanto, em resposta fora este
indeferido sob o fundamento “Falta de comprovação de atividade rural em números
de meses idênticos à carência do benefício.”.

Verifica-se que foram acostados aos autos documentos


comprobatórios importantes, como início de prova material que comprovam sua
condição de segurada especial rural, inclusive, o MM. Juiz a quo assim entendeu
no dispositivo de sentença, vejamos:

“Os documentos que acompanham a peça vestibular (IDs n. 1327601764 a n.


1327622791 – certidão de casamento; comprovantes de endereço rural;
autodeclaração rural; carta de concessão de aposentadoria por idade ao
cônjuge; recibos e notas fiscais relativos à compra e venda de produtos rurais;
fotografias diversas, entre outros) configuram razoável início de prova material
do desenvolvimento de atividade rural em regime de economia familiar.”
Ocorre que o MM juízo de 1ª instância, ao julgar improcedente o feito,
assim o fez nos seguintes termos (id. 1512315869):

“In casu, verifica-se a precariedade da prova oral, uma vez que, na audiência
realizada em 24/01/2023, as testemunhas ouvidas: forneceram informações
singelas, com pouquíssimos detalhes; não descreveram pormenorizadamente
as atividades supostamente desenvolvidas no meio rural pela demandante;
não esclareceram a frequência com que viam a parte autora trabalhando ao
longo dos anos; não trouxeram informações relevantes sobre os demais
integrantes do grupo familiar; não apresentaram informações detalhadas
acerca da propriedade em que a parte autora reside; embora tenham afirmado
que conheciam a requerente havia mais de trinta anos, deixaram de mencionar
fatos que as fizessem chegar a tal conclusão.”

Verifica-se que o juízo a quo reconheceu a ligação da autora com


o meio rural, pelo início de prova material produzida nos autos, todavia, não se
contentou com o depoimento das testemunhas apresentadas pela parte autora como
prova oral.

III – DO DIREITO

Verifica-se que a recorrente completou o requisito etário para a


concessão da aposentadoria por idade rural (55 anos na DER).

Reside com seu esposo na zona rural do município de Juscimeira-MT


desde o ano de 1984, mais precisamente a partir do seu casamento em 13 de outubro
de 1984, em uma área de terra denominada Sítio Santo Expedito.

A recorrente e seu esposo vivem sob regime de economia familiar,


sem a ajuda de terceiros, cultivando, hortaliças, frutas e mandioca, bem como mantém
algumas cabeças de gado, galinhas e porcos, não tendo outra renda, senão a que
advém do seu trabalho no campo.

Ocorre que o MM juízo a quo entendeu insuficiente a prova


testemunhal produzida na audiência realizada no dia 24/01/2023.

A prova testemunhal constitui um meio de prova por intermédio de


quem presenciou ou possui algum conhecimento relevante sobre um fato e depõe
sobre o que assistiu, ouviu, ou até mesmo sobre sua percepção por meio dos outros
sentidos.

Sendo assim, vejamos trechos do depoimento das testemunhas na


audiência de instrução e julgamento realizada: (arquivo de vídeo id. 1465255348)

1. Informante Sr. Osmar de Paula:

Advogada: “...há quantos anos o sr. conhece a dona Maria?”


Informante: “Uns trinta anos mais ou menos”

Advogada: “quem mora com ela no sítio?”


Informante: “só o marido dela”

Advogada: “Sabe me dizer quantas cabeças de gado a dona Maria tem?”


Informante: “Mais ou menos umas 20.”

Advogada: “Ela tem funcionários que ajudam na lida?”


Informante: “Não, só ela e o esposo.”

Advogada: “O sr. sabe me dizer se eles fazem alguma outra atividade além do sítio?”
Informante: “Não, que eu saiba não tem não.”

2. Testemunha Sr. Anirson Francisco de Oliveira:

Advogada: “...o sr. conhece a dona Maria há quantos anos sr. Anirson?”
Testemunha: “...há mais de trinta anos”

Advogada: “O sr. sabe me falar o que que ela faz lá no sítio dela?”
Testemunha: “Lá ela planta lavoura branca, cria galinha, porco...planta mandioca”

Advogada: “O sr. sabe me informar quantos hectares tem a propriedade dela?”


Testemunha: “Mais ou menos quarenta e oito hectares.”

Advogada: “Tem alguém que ajuda a dona Maria na propriedade?”


Testemunha: “Não, só ela e o esposo dela, seu Diomar.”

Advogada: “Tem alguma outra atividade além do sítio?”


Testemunha: “Também não, só mesmo la dentro da pequena propriedade.”
Ora Excelências, não há o que se falar em insuficiência de prova oral,
sendo certo de que as testemunhas foram claras em suas respostas dentro de seus
conhecimentos sobre o fato, o que, corroborado aos documentos apresentados pela
recorrente, os quais configuram início razoável de prova material, resta comprovado
o desenvolvimento de atividade rural em regime de economia familiar, bem
como a qualidade de segurado especial rural da recorrente.

Além disso, devido à ausência do representante do INSS na


audiência, conforme ofício id. 1468385869, o depoimento pessoal da parte autora
restou prejudicado (arquivo de vídeo id. 1465255348).

Ora Excelências, o MM. Juiz a quo sequer ouviu a parte autora, ou


oportunizou a sua procuradora inquiri-la, o que afronta o princípio da verdade real dos
fatos, posto que o julgador deve procurar conhecer os fatos tão como, efetivamente,
ocorreram, a fim de, assim, dizer o direito à questão posta em causa.

Portanto, em se considerando o início de prova material devidamente


cumprido pela autora nos autos, bem como contando ela com 55 (cinquenta e cinco)
anos na ocasião da DER, certo se faz o deferimento da aposentadoria vindicada.

Súmula 14 da TNU: Para a concessão de aposentadoria rural por


idade, não se exige que o início de prova material corresponda a
todo o período equivalente à carência do benefício. (grifo nosso)

E mais, o cônjuge da autora é beneficiário de uma aposentadoria por


idade rural desde o ano de 2019, o que configura início de prova material para a
comprovação da qualidade de segurado especial rural da autora, conforme
entendimento do Enunciado 188 do FONAJEF, vejamos:

Enunciado 188 - O benefício concedido ao segurado


especial administrativamente ou judicialmente,
configura início de prova material válida para posterior
concessão aos demais integrantes do núcleo familiar,
assim como ao próprio beneficiário.

Verifica-se ainda, que o MM. Juiz a quo assim mencionou no


dispositivo de sentença:

“Além disso, não se pode ignorar as informações apresentadas pelo


INSS junto com a contestação de ID n. 1384291249, comprovadas
pelos documentos que a acompanham, no sentido de que: a) os
dados registrados na Receita Federal indicam que a parte autora
reside na zona urbana e b) o marido da demandante possui
habilitação para dirigir veículos de transporte de passageiros que
acomodem mais de oito passageiros (tipo “D”) e é proprietário de
veículo de transporte, elementos indicativos do desempenho de
profissão diversa da rurícola de subsistência.”

Tal situação já havia sido esclarecida na réplica apresentada pela


autora (id. 1456771352), sendo que, o endereço urbano apresentado pelo INSS
corresponde à residência dos genitores da autora, conforme prova apresentada na
réplica (comprovante de residência em nome do genitor da autora).

E ainda, o fato de o cônjuge da autora possuir um carro ou não, bem


como possuir CNH na categoria “D”, não retira o seu direito à aposentadoria como
segurado especial, posto que, o próprio esposo da autora recebe o benefício de
aposentadoria por idade rural, conforme outrora mencionado.

Vejamos entendimentos do Tribunal Regional Federal da 3ª Região:

EME N T A PREVIDENCIÁRIO - APOSENTADORIA RURAL POR


IDADE - INÍCIO DE PROVA MATERIAL - PROVA TESTEMUNHAL -
CORROBORAÇÃO - SÚMULA Nº 6 DA TNU - APLICAÇÃO -
EXTENSÃO DO TRABALHO RURAL DO MARIDO À ESPOSA -
CÔNJUGE SEGURADO ESPECIAL - COMPROVAÇÃO DOS
REQUISITOS PARA A APOSENTADORIA - IMPROVIMENTO DO
RECURSO INTERPOSTO PELA AUTARQUIA. 1. Comprovação dos
requisitos para a aposentadoria da autora, por início de prova material
corroborado por testemunhas, pelo prazo de carência e idade
necessária à obtenção do benefício. 2. Extensão do labor rural do
cônjuge, segurado especial rural, à esposa. Aplicação da Súmula
nº 6 da TNU. 3. Improvimento do recurso interposto pelo INSS. (TRF
3ª Região, 8ª Turma, ApCiv - APELAÇÃO CÍVEL - 5001790-
26.2016.4.03.9999, Rel. Desembargador Federal LUIZ DE LIMA
STEFANINI, julgado em 08/03/2021, Intimação via sistema DATA:
12/03/2021) (g.n.)

(...)

E M E N T A APELAÇÃO. PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA


POR IDADE RURAL. CONCESSÃO DO BENEFÍCIO. CARÊNCIA
CUMPRIDA. EXTENSÃO DA QUALIFICAÇÃO DO CÔNJUGE.
COMPROVADA A ATIVIDADE RURAL. INÍCIO DE PROVA
MATERIAL CORROBORADO POR TESTEMUNHOS.
PROVIMENTO. I. Comprovação da idade mínima e o
desenvolvimento de atividade rural no período imediatamente
anterior ao requerimento (Resp Repetitivo nº 1.354.908) como
requisitos para concessão do benefício previdenciário. II. A
atividade rural comprovada por meio de prova material
corroborada por prova testemunhal (Súmula nº 149 do STJ e
Recursos Repetitivos nºs 1.348.633 e 1.321.493). III. Entendimento
uniforme de que as contribuições previdenciárias são
desnecessárias, contanto que se comprove o efetivo exercício de
labor rural. Precedente do STJ. IV. Extensão da qualificação do
cônjuge, conforme jurisprudência (STJ, REsp 175.822/SP, Min.
Gilson Dipp, 5ª Turma, DJ 26.10.1998); V. Requisitos legais para a
concessão do benefício pleiteado foram preenchidos. VI. Apelação
provida. (TRF-3 - ApCiv: 52341829320204039999 SP, Relator:
Desembargador Federal LEILA PAIVA MORRISON, Data de
Julgamento: 30/04/2021, 9ª Turma, Data de Publicação: DJEN
DATA: 06/05/2021) (g.n.)

V - DO PEDIDO

Diante do exposto, requer seja reformada a r. sentença, para que seja


concedido o benefício de Aposentadoria por idade Rural em favor da recorrente,
desde a DER (22.04.2022), posto que restou comprovado tanto pela prova material
(documentos apresentados nos autos), quanto pela prova oral produzida em
audiência, o desenvolvimento de atividade rural em regime de economia familiar, bem
como a qualidade de segurado especial rural da recorrente.

Todavia, caso Vossas Excelências entendam em sentido contrário,


requer o retorno dos autos ao juízo de primeira instância, com a reabertura da fase
probatória, para que seja feita perícia in loco, se necessário, tudo em atenção aos
artigos 369 e 370 do CPC vigente, em busca da verdade real dos fatos.

Nestes Termos.
P. e E. Deferimento.
Rondonópolis-MT, 27 de março de 2023.

CAROLINE CRISTINA BERTÉ DOURADO SIQUEIRA


OAB/MT 18.455

Você também pode gostar