AO JUÍZO DA 2ª VARA DO TRABALHO DE BLUMENAU/SC

ATOrd 0000855-95.2022.5.12.0018

JULIANO FERNANDO MACHADO, parte autora devidamente

qualificada nestes autos virtuais da ação trabalhista proposta em desfavor de
SPRINK SEGURANCA CONTRA INCENDIO LTDA E OUTROS, igualmente já
qualificados, vem, respeitosamente, por seu procurador infrafirmado,
apresentar manisfestação aos documentos, nos seguintes termos:

PRELIMINARMENTE
INEXISTÊNCIA DE RÉPLICA NA JUSTIÇA DO TRABALHO

Importante mencionar que na Justiça do Trabalho, não existe a figura

da réplica obrigatória, ou seja, não existe prazo para apresentação de réplica
por parte da Reclamante, ainda mais quando a audiência é una, mas apenas
prazo para as partes aduzirem razões finais, como indica o artigo 850 da CLT.

A sistemática processual trabalhista não há qualquer previsão legal

sobre réplica do autor, podendo este apenas ofertar impugnação quanto à
validade dos documentos apresentados pela parte contrária.

Assim, a ausência de impugnação à defesa não tem o condão de

caracterizar a veracidade inconteste dos fatos alegados na contestação, bem
como não obsta a produção probatória pelo autor no momento da audiência
de instrução processual.

HORAS EXTRAS. AUSÊNCIA DE IMPUGNAÇÃO À DEFESA E DOCUMENTOS. Esse

juízo adota o entendimento de que o artigo 326 do CPC, não tem aplicação
subsidiária na seara laboral, ante a existência de normatização própria do rito
contida nos artigos 848 a 850 da CLT. A ausência de impugnação obreira não
tem o condão de tornar incontroversos os fatos afirmados pelo reclamado na
peça defensiva, mas apenas invocar uma presunção relativa de veracidade, o
que admite prova em contrário, não obstaculizando, portanto, a produção
probatória pelo autor no momento da audiência de instrução processual.
Recurso não provido."

Em suma, os limites da lide são traçados pela petição inicial e pela

contestação, deste modo a ausência de impugnação ou o seu protocolo
intempestivo não torna os fatos trazidos com a contestação incontroversos,
até porque não existe previsão expressa na CLT de que o Autor deve
impugnar a contestação e os documentos que a acompanharam. Ademais,
não se pode impor ao Autor que reafirme aquilo que já requereu na inicial,
sob pena de, se assim não o fizer, arcar com o pesado ônus de se considerar
incontroversos os fatos.
 Sendo assim, impugna-se e registra-se protesto a qualquer
despacho, decisão ou entendimento no sentido de existir ônus à parte autora
em apresentar réplica ou manifestação aos termos da contestação por assim
representar ofensa ao devido processo legal (artigo 5º, LIV, da CF/88).

FATOS INCONTROVERSOS – Desnecessidade de Provas

(art. 847 da CLT c/c os arts. 336, 341-caput e 374-III do CPC)

Os seguintes fatos articulados na petição inicial não sofreram

impugnação e, por esta razão, tem-se por verazes e acerca deles não mais há
necessidade de provas:

a) Jornada de trabalho do Autor (jornada 12x36) e função do

Reclamante (Bombeiro Civil);

Destarte, os fatos acima apontados, porque sobre eles não foi

instaurado o contraditório, devem ser tomados por verazes e acerca deles é
desnecessária qualquer prova, do contrário será agredido o Devido Processo
Legal (art. 5º, LIV, da Constituição) delineado nos arts. 847 da CLT e 336, 341-
caput e 374 do CPC, in litteris :

CLT
Art. 847. Não havendo acordo, o reclamado terá vinte minutos para
aduzir sua defesa, após a leitura da reclamação, quando esta não for
dispensada por ambas as partes.

CPC
Art. 336. Incumbe ao réu alegar, na contestação, toda a matéria de
defesa, expondo as razões de fato e de direito com que impugna o
pedido do autor e especificando as provas que pretende produzir.

Art. 341. Incumbe também ao réu manifestar-se precisamente sobre

as alegações de fato constantes da petição inicial, presumindo-se
verdadeiras as não impugnadas, salvo se:

Art. 374. Não dependem de prova os fatos:

I - omissis
(...)
III - admitidos no processo como incontroversos;

DOCUMENTOS NÃO JUNTADOS NOS AUTOS, ÔNUS QUE

COMPETIA A RÉ

 Folhas de pagamento;
 Todas as fichas financeiras da contratualidade;
 Cartões ponto de toda a contratualidade;
 Extrato do FGTS de toda a contratualidade;
 A Reclamada não anexou aos autos as folhas de pagamentos e nem
mesmo as fichas financeiras de toda a contratualidade, bem como os cartões
ponto de todo o período imprescrito, ônus do qual não se desincumbiu a
contento, nos termos do art. 818, II da CLT e art. 373, II do CPC.

Além disso, a ausência de juntada dos documentos mencionados

impede o exercício da ampla defesa e do contraditório, amplamente
assegurados pela CF/88 (Art. 5º, LV da CF/88), outrossim inviabilizam qualquer
apresentação de diferenças por amostragem pelo empregado, e, portanto,
ratificam de forma expressa e/ou ficta os termos do alegado à exordial.

ID. 26a4a03 – CONTRATO DE TRABALHO

Não tem o condão de alterar os fatos da inicial.

ID. 500be33, e473bc3 e 7dd1651 – FICHAS FINANCEIRAS

ID. 2d3d7b7, ID. 423a413, ID. 0254913, ID. 92ce699 – CARTÕES PONTO

Da análise das Fichas Financeiras juntadas aos autos não é possviel

verificar a quantidade de horas extras laboradas e pagas, na medida em que o
o campo “referência”se encontra vazio. Impugna-se!

Impugna-se os cartões ponto juntados pela Ré, haja vista que nao
condiz com a realidade do obreiro.

Foram juntados, pela reclamada, fichas financeiras sem assinatura

dos obreiro, bem como sem a apresentação dos comprovantes bancários
acerca do pagamento dos valores ali descritos.

Conforme dispõe o artigo 464, parágrafo único da CLT, os recibos de

pagamento (holerites) sem assinatura ou desacompanhados de comprovante
de depósito bancário são inválidos como meio de prova:

Art. 464 - O pagamento do salário deverá ser efetuado contra recibo,

assinado pelo empregado; em se tratando de analfabeto, mediante sua
impressão digital, ou, não sendo esta possível, a seu rogo.
Parágrafo único. Terá força de recibo o comprovante de depósito em
conta bancária, aberta para esse fim em nome de cada empregado,
com o consentimento deste, em estabelecimento de crédito próximo
ao local de trabalho.

No caso dos autos, não há nenhuma folha de pagamento, tão

somente fichas financeiras as quais estão desacompanhadas de assinatura,
nem mesmo há o comprovante de depósitos bancário dos valores ali descritos.
Resta incontroverso que a situação se enquadra nos moldes do artigo
supracitado e, portanto, inválidos, em razão de serem produzidos
unilateralmente pela ré a fim de beneficiá-la.
 Nesta toada é o entendimento do Tribunal Catarinense:

RECIBOS DE PAGAMENTO. ASSINATURA. FORÇA PROBANTE. O recibo

de pagamento devidamente assinado pelo trabalhador possui força
probante quanto ao recebimento das verbas nele elencadas, na
forma do art. 464 da CLT. A sua desconstituição apenas é possível
mediante a existência de prova robusta em sentido contrário. (TRT da
12ª Região; Processo: 0001315-97.2019.5.12.0047; Data: 31-03-2021;
Órgão Julgador: Gab. Des. Roberto Luiz Guglielmetto - 1ª Câmara;
Relator(a): ROBERTO LUIZ GUGLIELMETTO)

RECIBOS DE PAGAMENTO APÓCRIFOS. INSUFICIÊNCIA PARA

COMPROVAR SALÁRIO EXTRAFOLHA. Recibos de pagamento sem
assinatura, por si só, não provam nada. À luz do artigo 464 da CLT,
entendo que a comprovação do pagamento somente será válida se o
recibo estiver devidamente assinado ou se for apresentado
respectivo comprovante de depósito. As testemunhas, para suprirem
a carência dos documentos, devem prestar depoimento seguro do
salário extrafolha, o que não ocorreu nos autos. Recurso a que se nega
provimento. (TRT da 12ª Região; Processo: 0000062-66.2021.5.12.0027;
Data: 22-09-2021; Órgão Julgador: Gab. Des. Wanderley Godoy Junior -
1ª Câmara; Relator(a): WANDERLEY GODOY JUNIOR)

Deste modo, requer-se a declaração de invalidade como meio de

provas as fichas financeiras juntadas a luz do artigo 464 da CLT.

Todavia, na hipótese de os registros de ponto serem tomados

por válidos, bem como as fichas financeiras, esses confirmam:

 A prestação de horas extras;

 Horas extras não remuneradas na integralidade;
 Intervalo intrajornada violado e não remunerado;

Também confirmam a não adoção do divisor 180 e, por essa razão,

restarem devidas diferenças a título de horas extras, adicional noturno, horas
noturnas reduzidas e demais verbas.

APURAÇÃO DE HORAS EXTRAS ALÉM DA 36ª SEMANAL

Conforme se verifica do cartão ponto do mês de janeiro de 2019 (ID.

0254913- fl. 576), o Reclamante labrou em regime de sobrejornada nos dias 17,
18 e 19 de janeiro de 2019 das 19h00min as 7h00min (noturno), totalizando
assim, 36 horas extras.

HORAS EXTRAS - DIVISOR 156

Devido Pago Diferenças
Salário básico 1.821,53
Adicional de periculosidade 546,46
Adicional Noturno 381,00
Valor da hora 17,62
Quantidade Horas extras 36 0 0
R$
Horas Extras com 100% R$ 1.268,64 - R$ 1.268,64
R$ 1.268,64

HORAS EXTRAS - DIVISOR 180

Devido Pago Diferenças
Salário básico 1.821,53
Adicional de periculosidade 546,46
Adicional Noturno 381,00
Valor da hora 15,27
Quantidade Horas extras 36 0 0
R$
Horas Extras com 100% R$ 1.099,00 - R$ 1.099,00
R$ 1.099,00

HORAS EXTRAS - DIVISOR 220

Devido Pago Diferenças
Salário básico 1.821,53
Adicional de periculosidade 546,46
Adicional Noturno 381,00
Valor da hora 12,49
Quantidade Horas extras 36 0 0
R$
Horas Extras com 100% R$ 899,28 - R$ 899,28
R$ 899,28

Outrora, apesar de constar a existência de horas extras laboradas no

dia 6/10/2018, é impossível realizar uma amostragem devido a ausência das
folhas de pagamento e/ou ficha financeira deste período.

As fichas financeiras são totalmente inservíveis ao deslinde do feito,

uma vez que produzidos unilateralmente pela parte ré a fim de beneficiá-la, ao
passo que a remuneração do autor, ao que tudo indica, no ano de 2020 é
inexistente mesmo contrato de trabalho iniciado em 2017:

ID 500be33
 Não há como garantir veriacidade aos documentos, devendo ser
declarados processualmente nulos, declinando-se como verdadeiros os fatos
alegados na exordial.

INTRAJORNADA – BASE DE CÁLCULO DAS HORAS EXTRAS

Em que pesem os argumentos da Ré, o pedido do Autor é o

pagamento de diferenças de horas extras pagas pela integração do intervalo
intrajornada com reflexos em RSR´s e feriados e, após, com estes em 13º
salário, férias com 1/3, abono de férias, FGTS e, em ocorrendo a dispensa do
autor antes da prolação da sentença, também no aviso prévio e na multa
compensatória de 40%.

Na hipótese de os registros de ponto serem tomados por

válidos, bem como as fichas financeiras, esses confirmam a existência de
diferenças de horas extras impagas em razão da integração do intrajonrada
na base de cálculo, por amostragem o mês de março de 2022:

HORAS EXTRAS 100% COM INTEGRAÇÃO DO INTRAJONRADA COM DIVISOR 156

Devido Pago Diferenças
Salário básico 1.821,53
Adicional de periculosidade 546,46
Adicional Noturno 388,59
Hora Noturna Reduzida 381,00
Intervalo Intrajornada 381,00
Valor da hora R$ 22,55
Quantidade Horas extras 36 0 0
Horas Extras com 100% R$ 1.623,96 R$ R$ 1.623,96
R$ 1.623,96

Maio de 2022:

HORAS EXTRAS 100% COM INTEGRAÇÃO DO INTRAJONRADA COM DIVISOR 156

Devido Pago Diferenças
Salário básico 2.014,61
Adicional de periculosidade 604,38
Adicional Noturno 349,20
Hora Noturna Reduzida 337,95
Intervalo Intrajornada 370,52
Valor da hora R$ 23,74
Quantidade Horas extras 36
Horas Extras com 100% R$ 1.709,28 R$ 402,92 R$ 1.306,36
R$ 1.306,36

Confirmam a denúncia na petição inicial do labor em jornadas de 12

horas em dias alternados (dia sim, outro não), ou seja, em uma semana há o
labor em 03 dias, ocorrendo o respeito ao limite de 36 horas semanais do art.
5º da Lei 11.901/09 (03 dias x 12 horas), porém, na semana seguinte há o
trabalho em 04 dias e, com isso, a ocorrência de horas extras pela extrapolação
do limite semanal porque ativadas 48 horas (04 dias x 12 horas).

 Terça e sábado : das 19h às 07h = 24 horas semanais; e

 Seg., qua., sex. e dom. : das 19h às 07h = 48 horas semanais.

Por fim, da análise dos cartões ponto, comprova-se que o autor

laborou para a 2ª Ré, nos termos do noticiado na inicial:

ID. 423a413 – fl 565

ID. 31647b5 – FICHA DE ENTREGA DE EPIS

Impugna-se a Ficha de Entrega de EPIs, haja vista que não consta a

entrega de uniformes e equipamentos de segurança individual para o exercício
da atividade de bombeiro civil, notadamente aqueles para a atuação em
combate a incêndio.

Além disso, não consta a entrega de Equipamento de Proteção

Respiratório (EPR) ou qualquer uniforme específico para combate a incêndio, o
que comprova a tese da inicial, no sentido de que o Equipamento de Proteção
Respiratório (EPR) foi fornecido apenas no 2º semestre de 2019 (um tanque
de ar com máscara), mas as vestimentas continuaram irregulares: fornecido
apenas 01 conjunto para uso coletivo (!!!) composto de capa (“gandola”),
calça, capacete com viseira retrátil, balaclava, luva, bota, porém, em tamanho
único e diverso daquele adequado para cada bombeiro que labora no mesmo
local. Por exemplo, o autor calça 39 e a bota é tamanho 42.

A conduta da Ré viola os princípios da plena proteção da saúde e

segurança do empregado, esculpido no art. 7°, XXII, da CF e o art. 6º da Lei
11.901/09, os quais asseguram ao bombeiro civil ... redução dos riscos
inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança.,

Excelência, cumpre esclarecer que os EPI’s devem ser adequadas

para cada bombeiro, visto que cada bombeiro possui uma estrutura física
distinta, sob pena de não ser totalmente eficaz e colocar em risco a saúde e
segurança do empregado.
ID 0411f43 – CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS

Impugna-se o documento, pois não afasta a responsabilidade da 2ª

Reclamada na presente demanda, uma vez que não descreve a quem recairia a
responsabilidade por débitos de ordem trabalhista.

ID c2a2a7b – EXTRATO FGTS

Do extrato FGTS juntado pela ré, percebe-se a inexistência de

depositos regulares a este título, uma vez que o contrato se encerrou em
outubro de 2022 e o ultimo deposito ocorreu com atraso de dois meses, sendo
referente ao mês de maio de 2022. Não ocorreram, naquele mesmo ano os
depósitos referente a janeiro e fevereiro.

Impossível o autor apontar a diferença exata devida devido a

ausência do extrato de toda a contratualidade. Contudo, acredita-se que a
diferença seja de aproximadamente R$ 40.000,00.

Inexiste, ainda, o depósito da multa de 40%, motivo que é devida na

integralidade nos termos indicados na inicial.

Deste modo, pugna-se pela procedência dos pedidos nos moldes

indicados na exordial.

DEMAIS DOCUMENTOS APRESENTADOS PELA RECLAMADA

A Reclamante deixa de se manifestar acerca dos demais documentos

juntados pela Ré, tendo em vista que em nada interferem no pleito da inicial.

MÁTÉRIAS DE DIREITO

a) JUSTIÇA GRATUITA;
b) HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS;
c) CORREÇÃO MONETÁRIA E JUROS;
d) COMPENSAÇÃO E DEDUÇÃO;
e) LIMITAÇÃO DA CONDENAÇÃO AO VALOR DOS PEDIDOS;

Por se tratarem as citadas matérias como tema exclusivamente de

direito, reitera-se os termos da exordial, eis que já abordados com o fito de
impugnação aos alegados pela Ré.

DOS REQUERIMENTOS

Ante o exposto, requer-se a Vossa Excelência:

 a) Seja recebida e acolhida a presente manifestação;

b) O Reclamante informa que concorda com o juízo 100%

digital;

c) O Reclamante requer pela designação de audiência de

instrução para oitiva das partes e testemunhas para comprovar os fatos
alegados na inicial, especialmente jornada laboral descrita na inicial e
ausência de entrega de EPI;

d) Dados dos procuradores: E-mail: blumenau@sts.com.br;

Telefone/Whatsapp: 47 3322-8069 ou 9 9948-6099;

No mais, o regular prosseguimento do feito, com acolhimento dos

pedidos descritos à inicial.

Nestes termos, pede deferimento.

Blumenau/SC, 01 de março de 2023.

SALÉZIO STÄHELIN JUNIOR

OAB/SC 12.001

SERGIO CALIXTO JUNIOR

OAB/SC 58.681