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AO JUÍZO DA 5ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE IMPERATRIZ - MA

Autos nº 0805758-45.2023.8.10.0040

BANCO BRADESCO S/A, já qualificado nos autos da ação cuja


numeração segue em referência, em que contende com MARIA DO SOCORRO
GOMES DA SILVA, vem, perante V. Exa., através de procurador devidamente
constituído, apresentar tempestivamente sua

CONTESTAÇÃO

O que faz pelos fatos e fundamentos que passa a expor.


Igualmente, requer a V. Exa. que determine a anotação na capa dos autos, para
que passe a constar o nome e número da OAB do DR. DIEGO MONTEIRO
BAPTISTA – OAB/MA 19.142-A, com intenção de que as posteriores publicações
sejam expedidas em nome do mesmo, SOB PENA DE NULIDADE.

I - DA BREVE SÍNTESE DA DEMANDA

Trata-se de ação de conhecimento onde a parte autora informa


que sofreu descontos de empréstimo desconhecido em seu benefício
previdenciário. A parte autora destaca que não contratou qualquer empréstimo
com a ré.
Diante do ocorrido a parte autora buscou solução administrativa,
mas não obteve resultado frutífero.

Ante o narrado, requer: I) a repetição do indébito de todos os


valores descontados; II) compensação por danos morais no valor de R$ 5.000,00
(cinco mil reais).

No entanto, não deve prosperar a pretensão autoral pelos motivos


expostos a seguir.

II – PRELIMINARMENTE

1) DA AUSÊNCIA DE CONDIÇÃO DA AÇÃO - DA FALTA DE


INTERESSE DE AGIR.

Analisando os fatos e documentos trazidos aos autos, se verifica


que não restou comprovada ou ao menos demonstrada pela PARTE AUTORA que
a pretensão deduzida foi resistida pelo RÉU, sendo esta condição essencial para
formação da lide.

Somente com a demonstração de busca da solução e a recusa da


parte contrária em atender o interesse será composta a lide, ou seja, um conflito
de interesses, qualificado por uma pretensão resistida.

A ausência de requerimento administrativo ou mesmo de


reclamação apresentada pela PARTE AUTORA não atendida pelo RÉU caracteriza a
ausência de conflito e, portanto, a pretensão deduzida em Juízo carece de requisito
essencial para sua válida constituição, qual seja o interesse de agir, devendo restar
comprovada a necessidade da parte de se valer da via processual para alcançar o
bem da vida pretendido, não obtida por outros meios.

Não se trata da necessidade do exaurimento da via administrativa,


mas sim de encontrar uma resistência a pretensão, caso contrário não haverá lesão
ou ameaça a ser apreciada pelo Poder Judiciário, nos termos do art. 5º, inciso XXXV
da Constituição da República.

Desta forma, evidenciada a ausência de interesse de agir, se requer


seja acolhida a preliminar ora arguida, julgando-se extinto o processo sem a
resolução do mérito, nos termos dos Art. 330, inciso III c/c Art. 485, inciso IV, ambos
do NCPC.

2) DO REQUERIMENTO DE CONVERSÃO DO FEITO EM


DILIGÊNCIA – EXPEDIÇÃO DE OFÍCIO AO INSS

No presente caso deve-se observar o que preceitua o Art 6° da


Lei 10.820/2003 e Instrução Normativa INSS/PRES n° 28 de 16/05/2008.

Em reclamações quanto às parcelas de empréstimos que incidem


no benefício previdenciário deve haver a autorização expressa do titular deste a
fim de que seja formalizada a consignação e realizados os descontos em seus
proventos, nas condições estabelecidas segundo os dispositivos supracitados.
Neste sentido, após a comunicação dos dados da operação de
empréstimo consignado à Autarquia Previdenciária, faz parte do dever de cuidado
e fiscalização a verificação da regularidade de tais operações, pois tem ela a
obrigação de somente proceder à consignação caso haja autorização expressa do
titular do benefício.

Por isso, somente a Autarquia Previdenciária (INSS) poderia


apresentar a documentação comprobatória, no intuito de demonstrar que a parte
autora não autorizou os descontos em seu benefício proveniente do empréstimo
objeto da lide, ou, se havendo autorização apresentar cópias dos documentos que
permitiram a realização dos descontos.

Desta forma, requer-se que seja convertido o feito em diligência


para que seja oficiada a Autarquia Previdenciária (INSS) com o intuito de que esta
apresente em Juízo o requerimento de consignação do valor da parcela do
empréstimo impugnado em relação ao número de Benefício de titularidade
da parte Autora.

3) DOS EXTRATOS NÃO JUNTADOS PELA PARTE AUTORA –


OBSERVÂNCIA AOS ENUNCIADOS E RECOMENDAÇÕES DO I
FÓRUM DE DEBATES DA MAGISTRATURA MARANHENSE E AO
IRDR N° 53983/2016.

No presente caso deve ser aplicado as teses firmadas no IRDR


de n° 53983/2016, ou seja, a parte autora não observou uma das teses que
deveria ter sido cumprida por ela. A primeira tese firmada preceitua que
independentemente da inversão do ônus da prova se a parte autora alegar
que não recebeu o valor do empréstimo reclamado deverá fazer a juntada do
seu EXTRATO BANCÁRIO.

Desta forma, a parte autora alegou na sua exordial que não teria
usufruído do valor do empréstimo impugnado tendo em vista a sua não realização
com o Banco Réu, porém, não juntou nenhum extrato que comprovasse esta não
utilização do valor impugnado. Assim, conforme IRDR supracitado cabia a parte
autora a juntada desse extrato para comprovar a não utilização do valor do
empréstimo, o que não fez.

Insta salientar, que conforme Enunciados e recomendações do I


Fórum de Debates da Magistratura Maranhense de n° 1, também há essa
observação de que é ônus da parte Autora a juntada de extrato para comprovar
que de fato não utilizou o valor do empréstimo impugnado.

Portanto, caso a parte autora não junte o devido extrato até a


Audiência de Instrução e Julgamento, comprovando que não tenha se utilizado do
valor do empréstimo impugnado, os pedidos autorais devem ser julgados
improcedentes.

4) DA CONEXÃO – NECESSÁRIA REUNIÃO PARA JULGAMENTO


EM CONJUNTO DAS CAUSAS COM MESMAS PARTES E MESMO
PEDIDO – AUTOS

Exa., imperioso informar, que a parte autora promoveu outras


demandas, a serem analisadas por este mesmo Juízo, tendo as mesmas partes,
o mesmo pedido e a mesma causa de pedir, relacionado abaixo:
• 0805754-08.2023.8.10.0040;
• 0805764-52.2023.8.10.0040;
• 0805755-90.2023.8.10.0040;
• 0805757-60.2023.8.10.0040;

Neste sentido, é o entendimento do legislador, externado na


redação do art. 55 do CPC, litteris:

Art. 55. Reputam-se conexas 2 (duas) ou mais ações quando lhes for
comum o pedido ou a causa de pedir.

Dessa forma, diante dos conhecidos elementos da ação


(partes, pedido e causa de pedir), a conexão aparece entre demandas que
tenham o mesmo pedido ou a mesma causa de pedir (requisitos alternativos),
isto é, que, no fundo, tratem da mesma relação jurídica, da mesma lide
sociológica subjacente ao processo, conforme a redação no §1º do mesmo art.
55 do CPC, que dispões, in verbis:

Art. 55.

(...)

§ 1º Os processos de ações conexas serão reunidos para decisão


conjunta, salvo se um deles já houver sido sentenciado.

A mera semelhança “basta para caracterizar a conexão, na


forma em que está definida em lei, não sendo necessário eu se cuide das
causas idênticas (quanto ao fundamento e objeto); basta que as ações sejam
análogas, semelhantes, visto como o escopo da junção das demandas para
um único julgamento é a mera possibilidade da superveniência de
julgamentos discrepantes, com prejuízo para o conceito do Judiciário, como
Instituição”. (STJ, CC. 22.123, j. 14.04.1999)

Neste viés, é claro o § 3º do art. 55 do CPC que, em sua redação,


dispõe:

Art. 55.

(...)

§ 3º Serão reunidos para julgamento conjunto os processos que possam


gerar risco de prolação de decisões conflitantes ou contraditórias caso
decididos separadamente, mesmo sem conexão entre eles.

Outrossim, a conexão entre os processos gera celeridade e


economia processual, já que não haverá gasto de tempo com eventuais
audiências, sem contar com o tempo dispendido pelo Judiciário para julgar
uma a uma, eventuais recursos, intimações para cada processo, etc.

Veja MM. Juízo, que o legislador é claro em determinar que ou


um elemento ou outro sejam suficientes para caracterizar a conexão, não
mencionando em nenhum momento o objeto da ação, tanto porque, se o
objeto da ação fosse o mesmo em duas ou mais demandas, teríamos uma
litispendência, que trata-se de instituto jurídico totalmente diverso da
conexão.
Desta forma, é imperiosa a decretação da conexão entre os
processos supracitados, haja vista a expressa determinação dos dispositivos
legais mencionados, além de respeitar os princípios da celeridade processual,
da economia processual e da segurança jurídica.

5) DA TENTATIVA DE ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA –


FATIAMENTO DE AÇÕES

Verifica-se que o requerente pretende tirar proveito da presente


situação junto à requerida, aspirando receber indenização por danos morais,
mesmo não tendo sido comprovado nos autos que a Recorrente possui qualquer
responsabilidade.

Há várias ações propostas pelo requerente nesta mesma comarca,


sendo pelo menos 5 contra o requerido, tendo por patrono advogado reincidente
contumaz em abarrotar o judiciário com ações semelhantes, a qual pretende
claramente locupletar-se da requerida e enriquecer-se de forma indevida.

Porém ao invés de ajuizar uma única ação o requerente utiliza-se


do FATIAMENTO das ações buscando danos morais em cada uma delas para
enriquecer-se de forma ilícita. Observa-se que todas as quatro ações tratam da
mesma questão, porém contratos diversos, o que mostra de forma transparente o
abuso quando do ajuizamento das demandas perante este Poder Judiciário.
No caso em tela houve a cobrança de valor devido, real e medido
em conformidade com o contrato. Nada além disso! Importante ainda destacar
que o nosso Código Civil veda o enriquecimento sem causa, ao dizer que “aquele
que, sem justa causa, se enriquecer à custa de outrem, será obrigado a restituir o
indevidamente auferido, feita a atualização dos valores monetários” (art. 884).
Neste sentido, aduz jurisprudência do STJ:

APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR INEXISTÊNCIA DE


DÉBITO C/C DANOS MORAIS - INSCRIÇÃO IMPRÓPRIA DO NOME DO
RECORRENTE NO CADASTRO DE INADIMPLENTES - APLICAÇÃO DO
CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR ARTIGO 3º E 17 -
RESPONSABILIDADE OBJETIVA - INEXISTÊNCIA DE PROVA DA
CONTRATAÇÃO - PRESTAÇÃO DE SERVIÇO DEFEITUOSA - ARTIGO 14 DO
CDC - CONFIGURAÇÃO DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA O DEVER
DE REPARAR CARACTERIZAÇÃO DO ABALO MORAL - RAZOABILIDADE
DO VALOR FIXADO (R$ 500,00), LEVANDO EM CONSIDERAÇÃO QUE O
POSTULANTE JÁ RECEBEU, EM OUTRAS AÇÕES IDÊNTICAS,
APROXIMADAMENTE R$ 16.000,00, ALTERANDO APENAS O NÚMERO
DO CONTRATO - MULTA POR LITIGÂNCIA - MANUTENÇÃO -
FATIAMENTO ARTIFICIOSO DE LIDES - COMPROVAÇÃO - VÁRIAS AÇÕES
REFERENTES À DIVERSAS NEGATIVAÇÕES SEM MENÇÃO DE QUALQUER
UMA DELAS - NÍTIDA INTENÇÃO DE OBTENÇÃO DE PROVEITO
ECONÔMICO COM OS PEDIDOS INDENIZATÓRIOS - RECURSO
CONHECIDO E IMPROVIDO - DECISÃO UNÂNIME. (AGRAVO EM
RECURSO ESPECIAL Nº 1.199.907 - SE (2017/0269246-6)

Fica claro o oportunismo do requerente ao tentar receber em cada


uma das ações, quando o suposto dano seria o mesmo!

Sendo assim, incabível a procedência dos pedidos, posto que se o


recorrente receber o referido valor caracterizará enriquecimento ilícito, o que o
recorrido repudia e o que não deverá ser consagrado obviamente por esse D. Juízo.
6) DO MONITORAMENTO DA ATUAÇÃO DE ADVOGADO
LITIGANTE – CAPTAÇÃO IRREGULAR

Infelizmente tem se tornado recorrente a prática de fraude


processual em desfavor de instituições bancárias. Nesses casos é possível verificar
um abuso do direito fundamental de acesso à justiça vez que as peças não são
individualizadas e devidamente fundamentadas, são na verdade, constituídas por
uma série de atos concertados, sucessivas pretensões desprovidas de
fundamentação e em quase uma dezena de demandas frívolas e temerárias.

Essa sistemática já foi inclusive objeto de debate no Superior


Tribunal de Justiça, com o julgamento do REsp n.º 1.817.845 – MS conforme trecho
in verbis:

“Com efeito, o abuso do direito fundamental de acesso


à justiça em que incorreram os recorridos não se
materializou em cada um dos atos processuais
individualmente considerados, mas, ao revés,
concretizou-se em uma série de atos concertados, em
sucessivas pretensões desprovidas de fundamentação e
em quase uma dezena de demandas frívolas e
temerárias, razão pela qual o conjunto desta obra
verdadeiramente mal-acabada que configura o dever
de indenizar.” Resp. 1.817.845- MS.

Assim, após a leitura da peça inaugural, é possível observar que as


alegações feitas no presente feito são exatamente as mesmas narradas em diversas
ações idênticas patrocinadas pelo Dr. Shelby Lima de Sousa, respectivamente
inscrito na OAB/MA 16482-A.

São alegados fatos genéricos e padronizados com a mesma


abordagem e argumentação, o que gera estranheza, afinal é um número incomum
de clientes captados dentro de um curto espaço de tempo. Basta uma pesquisa no
site deste E. Tribunal para constatar tal informação. Dos supramencionados, todas
as iniciais são idênticas, possuem a mesma narrativa fática e a causa de pedir.

Importante consignar que não se questiona a aptidão e


competência do referido procurador, mas sim o seu meio de captação de clientela
vez que o número de ações idênticas, versando sobre fatos repetitivos e
padronizados, causa estranheza.

Inclusive, neste sentido que o Centro de Inteligência dos Juizados


Especiais do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte, emitiu a Nota Técnica
01/2020, de relatoria do Exmo. Dr. Juiz Paulo Luciano Maia Marques acerca das
Causas Repetitivas e a Litigância Agressora e Demandas Fabricadas.

No referido estudo o nobre juiz assim conceituou a demanda


agressora:

"A demanda agressora se caracteriza pelo ajuizamento de causas


fabricadas em lotes imensos de processos, geralmente trazidas por
poucos escritórios de advocacia que praticam captação de clientela
em massa e dizem respeito a uma tese jurídica 'fabricada' com o
objetivo de enriquecer ilicitamente partes e advogados,
independentemente da plausibilidade daquele pedido... fazendo
com que o ajuizamento maciço de ações em todo o país ou estado
acabe por dificultar ou impedir a defesa consistente das teses
levantadas”.

Desta forma, visando coibir esse tipo de captação irregular, dispôs


o EAOAB, em seu artigo 32 que:

Art. 32. O advogado é responsável pelos atos que, no exercício


profissional, praticar com dolo ou culpa.

Parágrafo único. Em caso de lide temerária, o advogado será


solidariamente responsável com seu cliente, desde que coligado com
este para lesar a parte contrária, o que será apurado em ação
própria.

Portanto, no caso dos autos, restou evidente que o advogado


praticou as condutas defesas pelo seu próprio Estatuto, devendo ser
responsabilizado pelas mesmas.

É o entendimento jurisprudencial:

EMENTA: Apelação. Inadequação da via eleita. Demanda que


reflete, na realidade, cautelar de exibição de documentos, hipótese
não contemplada pela novo CPC. Ademais, peculiaridades do caso
concreto que indicam abuso do direito de demandar. Ajuizamento,
pelo mesmo advogado, de centenas de ações de teor semelhante.
Desnecessidade concreta da atividade jurisdicional. Notificação
extrajudicial que solicita o envio dos documentos a endereço
diverso do devedor. Recurso improvido. (TJSP, Apelação nº
1016588-87.2018.8.26.0114, Rel. Walter Cesar Exner, DJ.
12/11/2018).

Ainda,

EMENTA: CAUTELAR DE EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS.


Indeferimento da petição inicial. Ausência de prévio requerimento
administrativo. Interesse processual inexistente. Abuso do direito
de demandar. Patrono do requerente que ajuizou milhares de
ações similares. Evidenciado o intuito de apenas receber
honorários sucumbenciais. Sentença mantida. Recurso
desprovido. (TJSP, Apelação nº 1002551-42.2014.8.26.0196,
Rel. Milton Carvalho, DJ. 16/11/2016).

IMPORTANTE DESTACAR, INCLUSIVE, QUE O CONSELHO


NACIONAL DE JUSTIÇA, ATRAVÉS DA PORTARIA DE Nº 250, DE 25 DE JULHO
DE 2022, INSTITUIU GRUPO DE TRABALHO COM O OBJETIVODE
APRESENTAR PROPOSTAS PARA O ENFRENTAMENTO DA LITIGÂNCIA
PREDATÓRIA ASSOCIATIVA. NOTA-SE, POIS, QUE O TEMA EM QUESTÃO SE
TORNOU NACIONAL E MERECE SER REPRIMIDO, SOB PENA DE ABARROTAR
O JUDICIÁRIO MUITAS DAS VEZES COM AÇÕES INÓCUAS OU COM O
PROPOSITIVO OBJETIVO DE ENRIQUECIMENTO ILÍCITO.

Desta forma, em decorrência do exposto acima, mister analisar de


modo específico, a conduta profissional do advogado que subscreveu a exordial.
Para tanto, pleiteia a) a intimação pessoal do Autor para que
seja constatado o seu conhecimento acerca da demanda, bem como, preste
seu depoimento sobre a narrativa fática e b) a expedição de ofício à Ordem
dos Advogados do Brasil para que seja apurado eventual(is) desvio(s) ético(s)
praticado(s) pelo advogado do autor, determinando-se as providências
cabíveis.

III – MÉRITO

1) DO CONTRATO REALIZADO. DA LEGALIDADE DA OPERAÇÃO

A parte autora alega que não realizou contrato com a parte ré e


que nunca teve qualquer relação com esta. Os argumentos autorais não merecem
prosperar, como será demonstrado a seguir.

Excelência, a parte autora firmou contrato de empréstimo com


o réu nas seguintes condições:

• Número do contrato de empréstimo:


0123464518695;
• Valor da parcela: R$ 165,72;
• Número de parcelas: 66;
• Data do contrato: 22/07/2022;
• Data de exclusão: 09/08/2022;

O instrumento contratual será juntado na fase probatória,


ocasião na qual não restarão dúvidas quanto à legalidade da operação.
A parte requerente não pode furtar-se ao cumprimento de
suas obrigações decorrentes do contrato de empréstimo alegando em juízo
que nunca realizou a contratação da operação impugnada.

Frise-se, portanto, que o réu cumprira todas as obrigações


assumidas quando da realização da operação de crédito, adotando todas as
providências necessárias para a formalização do contrato.

Dessa forma, não está cabalmente demonstrada qualquer conduta


ilícita praticada pelo Réu.

Ressalta-se que a operação questionada foi efetuada pela autora


de livre e espontânea vontade atendendo-se ao princípio da boa-fé, inexistindo
qualquer vicio de consentimento e fora firmada sob a égide da Constituição da
República.

A liberdade de contratar é decorrente da liberdade individual,


estando assegurada entre as garantias constitucionais dos direitos individuais (art.
5º, inciso XXXVI, da Constituição da República Federativa do Brasil):

“Artigo 5º - XXXVI – A lei não prejudicará o direito adquirido, o ato


jurídico perfeito e a coisa julgada.”

No mesmo sentido dispõe a Lei de Introdução ao Código Civil:

“Artigo 6º - A lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o


ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada.

§ 1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado segundo a lei


vigente ao tempo em que se efetuou.”
É certo que os contratos sub judice, livremente pactuados entre as
partes, é ato jurídico perfeito e, como tal, deve ser fielmente obedecido dentro do
sagrado princípio da “força obrigatória do contrato”.

Além disso, é importante ressaltar que o réu tomara todas as


cautelas devidas quando da formalização do contrato de empréstimo.

2) INEXISTÊNCIA DE DANOS MORAIS

No tocante ao dano moral, não há nos autos qualquer prova de


sua ocorrência, inexistindo em toda a narrativa sequer indicação de evento danoso
capaz de gerar a obrigação de indenizar para o réu.

Desta feita, vemos claramente que não houve qualquer falha nos
serviços operados pelos réus, sendo evidente a inexistência de qualquer dano.

Nobre julgador, a CRFB/88 é clara ao tratar do direito à


indenização por danos morais, vide reprodução:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer


natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros
residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade,
à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

(...)

V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo,


além da indenização por dano material, moral ou à imagem;
(...)

X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a


imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo
dano material ou moral decorrente de sua violação;

Ao analisar as alegações da parte autora, bem como os


documentos que instruem a exordial, vemos claramente que em momento algum
houve qualquer violação aos direitos da personalidade. Desta forma, não há que
se falar em direito à indenização pleiteada.

Assim, somente deve ser deferida indenização nos casos em que


realmente se verificar abalo à honra e imagem da pessoa, dor, sofrimento, tristeza,
humilhação, prejuízo à saúde e integridade psicológica de alguém, o que não
restou demonstrado nos autos.

Douto Juiz, mero dissabor, aborrecimento, mágoa, irritação ou


sensibilidade exacerbada estão fora da órbita de alcance do dano moral.

Cumpre destacar que as indenizações devem ser concedidas


nos casos em que há ato ilícito praticado pelo réu ou nos casos em que se
reputa a responsabilidade objetiva ao réu. Não é o caso nos presentes autos.
Há que se ressaltar que o art. 944 do Código Civil determina que a extensão
do dano é fato primordial para que seja quantificada a indenização. Vejamos:

“Art. 944 – A indenização mede-se pela extensão dos danos.”.

Não há nos autos qualquer comprovação de que esta instituição


agiu de maneira a causar danos ao autor.
Portanto, na hipótese dos autos, não se vê nenhuma irregularidade
na conduta ilibada do banco réu, nem mesmo falha na prestação de serviço capaz
de ensejar título condenatório para reparação de danos morais.

Ante o exposto, requer a improcedência do pedido de indenização


por danos morais.

3) DO PEDIDO DE REPETIÇÃO DE INDÉBITO

In casu, está devidamente provado que não houve qualquer falha


na prestação de serviço, razão pela qual imperioso se faz concluir que não houve
dano capaz de ensejar a restituição de qualquer quantia.

Caso assim não se entenda, descabe ainda a aplicação do artigo


42, parágrafo único, do CDC seja pela ausência de MÁ-FÉ da instituição ora ré.

Em recente desate da matéria, o Colendo SUPERIOR TRIBUNAL


DE JUSTIÇA foi instado a se manifestar a respeito da RECLAMAÇÃO 4892, cujo
escopo era pacificar o entendimento a respeito da aplicação do artigo 42,
parágrafo único, do CDC. Diante disso, o Ministro Raul Araújo, pondo um fim
à controvérsia, pacificou o entendimento esclarecendo que somente incidirá
a aplicação do artigo 42, P. único do CDC se restar devidamente comprovada
a MÁ-FÉ da parte.

Destarte, é a presente para requerer que o pedido de restituição


do valor seja julgado improcedente. Caso Vossa Excelência assim não entenda,
requer que seja determinada a restituição de forma simples.
4) DA COMPENSAÇÃO

Conforme as informações apresentadas nos autos, a parte autora


afirma não reconhecer o empréstimo consignado com o Banco Bradesco
Financiamentos S/A, apesar de realizado em regularidade com o que preceitua a
legislação aplicável. Anulado o negócio jurídico, as partes serão restituídas ao
estado em que se encontravam antes da realização do mesmo. Não sendo possível
restituí-las, serão indenizadas com o equivalente. É o que preleciona o art. 182 do
Código Civil.

Ante o exposto, na eventual hipótese de acolhimento do pleito


autoral, restará imperativo que se opere a compensação do valor referente ao
valor liberado para a parte autora. A compensação há de se operar com o valor de
eventual condenação do réu em obrigação de pagar.

5) DO REQUERIMENTO PARA JUNTADA DO CONTRATO EM


MOMENTO POSTERIOR ANTE À PANDEMIA DE CORONAVÍRUS

Excelência, é fato notório que o BANCO BRADESCO S.A. encontra-


se entre as maiores instituições financeiras do Brasil. Tendo em vista o volume de
negócios jurídicos celebrados pelo réu, em todas as partes do BRASIL, tornou-se
necessária a guarda da documentação pertinente a tais negócios jurídicos, das
mais variadas vertentes, em locais específicos.
De igual modo, o volume de documentos arquivados implica ao
réu a total impossibilidade de obtenção célere destes documentos para
apresentação em juízo.

Em grande parte dos casos ajuizados em face do BANCO


BRADESCO S.A. percebe-se, Excelência, que os autores questionam contratos
realizados há dois, três, quatro ou cinco anos atrás, ou seja, contratos que já estão
arquivados a demasiado tempo e que, às vezes, necessitam de diligências mais
profundas nos arquivos para que possam ser encontrados.

ALIADO À QUESTÃO DA GUARDA DA DOCUMENTAÇÃO ESTÁ


A IMPOSSIBILIDADE DE FUNCIONAMENTO DE ATIVIDADES NÃO ESSENCIAIS
NO ESTADO DE SÃO PAULO DEVIDO À PANDEMIA DE CORONAVÍRUS, COMO
LARGAMENTE TEM SIDO NOTICIADO EM TODOS OS MEIOS DE
COMUNICAÇÃO.

Tendo em vista este cenário e pelo fato de o BANCO


BRADESCO S/A contar com equipe reduzida e que está trabalhando por
HOME OFFICE, ainda não foi possível localizar a documentação referente ao
contrato impugnado, mas, tal documentação será apresentada em momento
oportuno. O réu pede a compreensão deste I. Juízo posto que não há
qualquer objetivo em retardar a marcha processual e tal requerimento é feito
para que haja uma correta apreciação do caso nos autos.

Assim, esta instituição financeira encontra-se impossibilitada no


momento de apresentar em Juízo o instrumento contratual, mas, o apresentará
quando do momento de produção de provas. Nesta toada, a ré já informa que
requer a produção de prova documental suplementar em momento
oportuno.

IV - CONSIDERAÇÕES FINAIS E PEDIDOS

Ex positis, confiante no notório conhecimento jurídico do qual se


reveste V. Exa., bem como no mais alto espírito de Justiça que sempre imperou em
suas decisões, espera e confia o réu que sejam acolhidas as preliminares suscitadas
pelo réu, extinguindo o processo sem julgamento do mérito; acaso assim não se
entenda, seja julgado improcedente, in totum, o pedido formulado pela parte
autora.

Outrossim, requer seja deferido o direito à produção em Juízo das


provas admissíveis, especialmente as documentais, testemunhais e o depoimento
pessoal da parte autora.

Nestes termos,
Pede deferimento.

São Luís – MA, 16 de maio de 2023

DIEGO MONTEIRO BAPTISTA


OAB/MA 19.142-A

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