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RÉ PLICA EM RELAÇÃ O À CONTESTAÇÃ O QUE DEFENDE A CESSÃ O DE CRÉ DITO.

MM. JUÍZO DE DIREITO DA XX VARA CÍVEL DA REGIONAL XXXXXX - COMARCA


DE BOA VISTA - RR.

Processo nº: XXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX, já qualificada nos autos do processo em epígrafe


da Ação de Obrigação Fazer c/c Indenização por Dano Moral e Pedido de
Tutela de Evidência que move em face do FUNDO DE INVESTIMENTOS EM
DIREITOS CREDITÓRIOS NÃO-PADRONIZADOS NPL I (FIDC NPL I), por seu
advogado infra-assinado (fls. 15/16), vem, respeitosamente a presença deste MM.
Juízo, tempestivamente, em atendimento ao ato ordinatório de fl. 184, com
fundamento nos artigos 350 e 437 do Código de Processo Civil, apresentar sua
MANIFESTAÇÃO em RÉPLICA

em decorrência da juntada da contestação (fls. 50/61) acompanhada dos


documentos acostados nas fls. 62/179, o que faz na forma abaixo, nos seguintes
termos:
I – DA TEMPESTIVIDADE:

MM. Juízo,
Sabe-se que o prazo para apresentaçã o da réplica é de 15 (quinze) dias, nos
termos do artigo 350 do Código de Processo Civil.
Pois bem. Considerando que a intimaçã o da parte autora pelo portal do E. TJERJ
ocorreu no dia 31/08/2020 (segunda-feira), consoante se verifica na certidão
de intimação acostada na fl. 187, tendo o termo a quo sido fixado em
01/09/2020 (terça-feira) e o dies ad quem em 22/09/2020 (terça-feira),
levando-se em conta o feriado nacional do dia 07/09/2020 (segunda-feira).
Portanto, uma vez protocolizada a presente peça processual nesta data
(20/09/2020 - domingo), inquestioná vel é a sua tempestividade.

II – DA BREVÍSSIMA SUMA FÁTICA:

Trata-se de Ação Declaratória c.c. Indenizatória por Dano Moral, ajuizada pela
parte autora em face da ré, tendo a mesma alegado como causa de pedir que nã o
celebrou o negó cio jurídico que gerou o suposto crédito que foi cedido à empresa
ré, e que lamentavelmente gerou a restrição do seu nome (indexador 29).
A liminar vindicada pela parte autora foi deferida (indexador 34), sendo certo
que de acordo com os ofícios acostados nos indexadores 48 e 183, o nome da
parte autora foi baixado dos cadastros restritivos de crédito.
A empresa ré devidamente citada para responder a presente demanda, apresentou
Contestação à fl. 50 e seguintes, alegando, em síntese: (i) que a parte autora é
carecedora de uma das condiçõ es da açã o, porquanto, seu nome se encontra
baixado, e nessa perspectiva houve a perda do objeto; (ii) que adquiriu o título de
crédito por meio de cessã o de crédito pelo Banco Bradescard S/A; (iii) que o
débito é regular e persiste; (iv) que embora a inscriçã o da dívida tenha sido
efetuada no exercício regular de direito, a baixa da restriçã o foi devidamente
cumprida; (v) que nã o há que se falar em dever de reparaçã o por negativaçã o
supostamente indevida; (vi) que eventual indenizaçã o arbitrada deve observar a
proporcionalidade e a razoabilidade.

Pleiteia pela total improcedência dos pedidos autorais.


A peça defensiva veio acompanhada dos documentos acostados à s fls. 62/179.
III – DA ÚNICA “PRELIMINAR” A SER ENFRENTADA:

Analisando a peça de resistência, verifica-se que ú nica preliminar arguida pela


empresa ré, consiste na “pseuda carência de ação”, ao pífio argumento de que em
razã o do nome da parte autora ter sido baixado dos ó rgã os de proteçã o ao crédito
(indexadores 48 e 183), houve a perda superveniente do objeto, conforme quer
fazer crer em sua ilaçã o contida na fl. 54.
Na hipó tese em exame deve ser rejeitada a alegada carência de ação em razã o
da concessã o da natureza satisfativa da liminar concedida, até porque, a mesma
nã o possui o condã o de impedir a apreciaçã o do mérito da pretensã o inicial, já que
se confundiria com o mesmo e na medida da inafastabilidade da jurisdiçã o.
Por outro lado, sabe-se que em uma democracia pluralista, o Judiciá rio,
precipuamente a jurisdiçã o constitucional, nã o possui tã o somente a funçã o de
assegurar a preservaçã o normativa do texto constitucional, junto a essa funçã o, ele
deve, necessariamente, agregar a proteção da minoria perante o legislador e
a vontade da maioria. [1]
Com efeito, nã o obstante o cumprimento da obrigaçã o, seja por força da
determinaçã o deste MM. Juízo (decisão de indexador 34 e ofícios de
indexadores 48 e 183), seja por conveniência da Ré (fl. 54), verifica-se que a
decisã o liminar é de cará ter provisó rio, devendo ser confirmada na sentença, o que
até entã o nã o foi feito nos autos devido ao momento processual em que o feito se
encontra.
Desse modo, nã o há falar-se ausência de interesse ou perda do objeto. Portanto,
deve ser rejeitada a preliminar arguida.
IV – DO MÉRITO DA CAUSA:

MM. Juízo,
A restriçã o do nome da parte autora restou incontroversa, conforme se verifica
no indexador 29. Assim, depreende-se dos autos que a parte autora juntou prova
mínima dos fatos narrados na petiçã o inicial, na forma do artigo 373, inciso I do
Código de Processo Civil, comprovando a anotaçã o restritiva em seu nome por
débito que desconhece.
Em contrapartida, a empresa ré em sua defesa (fls. 50/61) nã o produziu provas
acerca da origem da relaçã o contratual, pois apenas se limitou a dizer que
adquiriu o crédito do Banco Bradescard S/A por meio do documento de fl. 64.
No caso dos autos, caberia à empresa ré realizar provas dos fatos modificativos,
extintivos ou impeditivos do direito da parte autora, na forma do artigo 373,
inciso II do Código de Processo Civil, porém nã o se desincumbiu de seu ô nus
probató rio.
- Da Ausência do Contrato Originário:
Na realidade, nã o houve a comprovaçã o da negociaçã o que teria dado origem ao
débito que gerou a restrição do nome da parte autora (indexador 29), tendo
em vista que a empresa ré apenas afirma que houve a cessã o do crédito pelo
Banco Bradescard S/A (indexador 64), porém deixou de juntar aos autos o
contrato originá rio capaz de comprovar a contratação do suposto cartão de
crédito, a inadimplência e a suposta dívida contraída pela parte autora.
Sequer a empresa ré buscou obter referida documentaçã o junto à instituiçã o
bancá ria cedente, de modo a comprovar a existência do débito que ensejou o
apontamento nos cadastros restritivos de crédito em desfavor da parte autora,
obrigaçã o sua a teor do que dispõ e o inciso II, do artigo 373, do Código de
Processo Civil

Assim a empresa ré, em que pese o ô nus probató rio disposto no § 3º do art. 14 do
Código de Defesa do Consumidor, e todos os mecanismos técnicos em seu favor,
nã o fez qualquer prova nos autos que rompesse o nexo de causalidade a afastar a
sua responsabilidade e o seu dever de indenizar os danos que restaram
comprovados nos autos.
Ademais, sabe-se que nas relaçõ es de consumo, como o acima já mencionado, a
responsabilidade do prestador de serviços é objetiva, só podendo ser afastada se
este demonstrar que o serviço nã o é defeituoso ou que o fato é exclusivo do
consumidor ou de terceiro, prova essa que nã o foi feita pela de empresa ré, visto
que a falha na prestaçã o dos serviços constitui um fortuito interno, que nã o rompe
o nexo de causalidade, tendo em vista que se trata de risco inerente à atividade
lucrativa por ela exercida, também inserido no Código Civil, no parágrafo único
do art. 927.
Assim, em se tratando de responsabilidade objetiva, nã o há que se perquirir a
existência de culpa da empresa ré para sua responsabilizaçã o, a qual somente
poderia ser afastada por uma das causas excludentes da relaçã o de causalidade
(fato exclusivo da vítima, caso fortuito ou força maior e fato exclusivo de
terceiros), o que nã o se observa no caso concreto, haja vista a falta de
comprovaçã o de quaisquer das hipó teses susodescritas, conforme exigência legal
do art. 373, inciso II, do CPC.
Aplica-se à hipó tese dos autos a teoria do risco do empreendimento, que só
deve ser afastada se comprovado que o defeito inexiste ou que decorreu de fato
exclusivo da vítima ou de terceiro (art. 14, § 3º, do CDC). Nesse aspecto, ressalte-
se que eventual fato praticado por terceiro só rompe o nexo causal se o fortuito for
externo, isto é, nã o decorrer de atividade normalmente desenvolvida pelo
fornecedor.
A perpetraçã o de fraudes constitui risco inerente ao exercício da atividade
comercial e de prestaçã o de serviços, evidenciando típica hipó tese de fortuito
interno, a qual, por si só , nã o rompe o nexo causal e, consequentemente, o dever de
indenizar.

Assim, nã o paira dú vida acerca da irregularidade da negativaçã o do nome da parte


autora, violando a empresa ré os princípios da boa-fé objetiva inerente aos
contratos negociais, ao nã o lograr a comprovaçã o de que referido atuar decorreu
do exercício regular do direito.
Deveras, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é no sentido de que"a
ausência de notificação do devedor acerca da cessão de crédito prevista no art. 290
do Código Civil não torna a dívida inexigível, tampouco impede o novo credor de
praticar os atos necessários à preservação dos direitos cedidos"(AgInt no AREsp
XXXXX/RS, Relatora Ministra Maria Isabel Gallotti, Quarta Turma, julgado
em 23/05/2017, DJe 02/06/2017).
Contudo, in casu, inexiste prova alguma da relação de direito material
originária, apta a ensejar a cobrança via cessã o de crédito.
Repita-se que a empresa ré nã o logrou desconstituir as alegaçõ es autorais, nã o se
desincumbindo, assim, do ô nus que lhe competia, previsto no art. 373, II, do
CPC/2015 (“O ônus da prova incumbe: (...) II - ao réu, quanto à existência de fato
impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor), tampouco demonstrou
qualquer das excludentes de responsabilidade elencadas no art. 14, § 3º, da Lei nº.
8078/90.
Portanto, diante da inobservâ ncia do dever de cautela por parte da empresa ré, a
par da ausência de demonstraçã o da existência do contrato e da legitimidade da
cobrança dele derivada, nã o merece acolhida a sua tese defensiva.
Aplica-se, por analogia, o disposto nos enunciados sumulares nº 475 do STJ e nº
332 do TJRJ, a seguir transcritos:
“Nº 475, STJ - Responde pelos danos decorrentes de protesto indevido o
endossatário que recebe por endosso translativo título de crédito contendo
vício formal extrínseco ou intrínseco, ficando ressalvado seu direito de
regresso contra os endossantes e avalistas.”

" Nº 332, TJRJ - No caso de endosso, endossante e endossatário respondem


solidariamente pelo protesto indevido de título de crédito com vício formal
anterior à transmissão. "
Pontue-se que a inclusã o indevida junto aos cadastros restritivos de crédito, por si
só , é motivo bastante para configurar o dano moral, conforme estabelecido no
enunciado nº 89 da Súmula do E. TJERJ, in verbis:
" A inscrição indevida de nome do consumidor em cadastro restritivo de
crédito configura dano moral, devendo a verba indenizatória ser fixada de
acordo com as especificidades do caso concreto, observados os princípios da
razoabilidade e proporcionalidade. "
O dano moral, na hipó tese é in re ipsa, visto que independe de prova e restou mais
do que evidente pelos fatos descritos nos autos, na medida em que a parte autora
teve seu nome negativado e mantido de forma indevida em cadastro restritivo
de crédito, sendo certo que a conduta da empresa ré causou a parte autora
transtornos que extrapolaram em muito a ó rbita do mero aborrecimento,
registrando-se ainda que a parte autora ainda teve que se socorrer do Judiciá rio
para fazer valer o seu direito.

Ante a ausência de prova da legitimidade do débito imputado à parte autora, se


reputa ilegítima a negativaçã o de seu nome por débito, razã o pela qual deve a
presente demanda ser julgada procedente.
- Da Impugnação das Faturas Juntadas no Indexador 67 (fls. 67/131):

Como já sustentado ao longo desta réplica, a parte autora impugna as faturas


colacionadas pela empresa ré, em razã o de nunca ter possuído relaçã o jurídica com
o aludido cartã o de crédito, quiçá com a empresa ré.
Ademais, como já exaustivamente sustentado ao longo deste arrazoado, a empresa
ré nã o trouxe aos autos eventual contrato originá rio, isto é, que deu origem a
suposta dívida (eventualmente firmada pela parte autora) capaz de
comprovar a contratação do suposto cartão de crédito, a inadimplência e a
suposta dívida contraída pela mesma, sendo essa, uma obrigaçã o sua a teor do
que dispõ e o inciso II, do artigo 373, do Código de Processo Civil.
Desta forma, restam impugnadas as faturas apresentadas pela empresa ré (fls.
67/131), sobretudo, em razã o das mesmas estarem desacompanhadas do
eventual contrato de prestaçã o de serviços que poderia ratificar a origem da
dívida, legitimando assim, a restriçã o impingida à parte autora.
V – DO REQUERIMENTO FINAL:

Por todo o exposto, requer a este MM. Juízo:


a)- A rejeição da preliminar invocada pela empresa ré, já que a mesma
indubitavelmente se confunde com o mérito da presente demanda;

b)- Já no mérito, requer seja transformada em definitiva a tutela de urgência


deferida nas fl. 34;

c)- A procedência dos pedidos elencados na peça vestibular.

Termos em que espera deferimento.


Rio de Janeiro, RJ, 20 de setembro de 2020.

JULIO CESAR FERREIRA


OAB/RJ 173.974
(Assinado eletronicamente – alínea ‘a’, inciso III, § 2º, art. 1º da Lei
11.419/2006, conforme impressão à margem direita)

[1] José A. Montilla Martos. Minoria Política & Tribunal Constitucional, cit., 3.6, p.
123-124.

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