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MM. Juízo,
Sabe-se que o prazo para apresentaçã o da réplica é de 15 (quinze) dias, nos
termos do artigo 350 do Código de Processo Civil.
Pois bem. Considerando que a intimaçã o da parte autora pelo portal do E. TJERJ
ocorreu no dia 31/08/2020 (segunda-feira), consoante se verifica na certidão
de intimação acostada na fl. 187, tendo o termo a quo sido fixado em
01/09/2020 (terça-feira) e o dies ad quem em 22/09/2020 (terça-feira),
levando-se em conta o feriado nacional do dia 07/09/2020 (segunda-feira).
Portanto, uma vez protocolizada a presente peça processual nesta data
(20/09/2020 - domingo), inquestioná vel é a sua tempestividade.
Trata-se de Ação Declaratória c.c. Indenizatória por Dano Moral, ajuizada pela
parte autora em face da ré, tendo a mesma alegado como causa de pedir que nã o
celebrou o negó cio jurídico que gerou o suposto crédito que foi cedido à empresa
ré, e que lamentavelmente gerou a restrição do seu nome (indexador 29).
A liminar vindicada pela parte autora foi deferida (indexador 34), sendo certo
que de acordo com os ofícios acostados nos indexadores 48 e 183, o nome da
parte autora foi baixado dos cadastros restritivos de crédito.
A empresa ré devidamente citada para responder a presente demanda, apresentou
Contestação à fl. 50 e seguintes, alegando, em síntese: (i) que a parte autora é
carecedora de uma das condiçõ es da açã o, porquanto, seu nome se encontra
baixado, e nessa perspectiva houve a perda do objeto; (ii) que adquiriu o título de
crédito por meio de cessã o de crédito pelo Banco Bradescard S/A; (iii) que o
débito é regular e persiste; (iv) que embora a inscriçã o da dívida tenha sido
efetuada no exercício regular de direito, a baixa da restriçã o foi devidamente
cumprida; (v) que nã o há que se falar em dever de reparaçã o por negativaçã o
supostamente indevida; (vi) que eventual indenizaçã o arbitrada deve observar a
proporcionalidade e a razoabilidade.
MM. Juízo,
A restriçã o do nome da parte autora restou incontroversa, conforme se verifica
no indexador 29. Assim, depreende-se dos autos que a parte autora juntou prova
mínima dos fatos narrados na petiçã o inicial, na forma do artigo 373, inciso I do
Código de Processo Civil, comprovando a anotaçã o restritiva em seu nome por
débito que desconhece.
Em contrapartida, a empresa ré em sua defesa (fls. 50/61) nã o produziu provas
acerca da origem da relaçã o contratual, pois apenas se limitou a dizer que
adquiriu o crédito do Banco Bradescard S/A por meio do documento de fl. 64.
No caso dos autos, caberia à empresa ré realizar provas dos fatos modificativos,
extintivos ou impeditivos do direito da parte autora, na forma do artigo 373,
inciso II do Código de Processo Civil, porém nã o se desincumbiu de seu ô nus
probató rio.
- Da Ausência do Contrato Originário:
Na realidade, nã o houve a comprovaçã o da negociaçã o que teria dado origem ao
débito que gerou a restrição do nome da parte autora (indexador 29), tendo
em vista que a empresa ré apenas afirma que houve a cessã o do crédito pelo
Banco Bradescard S/A (indexador 64), porém deixou de juntar aos autos o
contrato originá rio capaz de comprovar a contratação do suposto cartão de
crédito, a inadimplência e a suposta dívida contraída pela parte autora.
Sequer a empresa ré buscou obter referida documentaçã o junto à instituiçã o
bancá ria cedente, de modo a comprovar a existência do débito que ensejou o
apontamento nos cadastros restritivos de crédito em desfavor da parte autora,
obrigaçã o sua a teor do que dispõ e o inciso II, do artigo 373, do Código de
Processo Civil
Assim a empresa ré, em que pese o ô nus probató rio disposto no § 3º do art. 14 do
Código de Defesa do Consumidor, e todos os mecanismos técnicos em seu favor,
nã o fez qualquer prova nos autos que rompesse o nexo de causalidade a afastar a
sua responsabilidade e o seu dever de indenizar os danos que restaram
comprovados nos autos.
Ademais, sabe-se que nas relaçõ es de consumo, como o acima já mencionado, a
responsabilidade do prestador de serviços é objetiva, só podendo ser afastada se
este demonstrar que o serviço nã o é defeituoso ou que o fato é exclusivo do
consumidor ou de terceiro, prova essa que nã o foi feita pela de empresa ré, visto
que a falha na prestaçã o dos serviços constitui um fortuito interno, que nã o rompe
o nexo de causalidade, tendo em vista que se trata de risco inerente à atividade
lucrativa por ela exercida, também inserido no Código Civil, no parágrafo único
do art. 927.
Assim, em se tratando de responsabilidade objetiva, nã o há que se perquirir a
existência de culpa da empresa ré para sua responsabilizaçã o, a qual somente
poderia ser afastada por uma das causas excludentes da relaçã o de causalidade
(fato exclusivo da vítima, caso fortuito ou força maior e fato exclusivo de
terceiros), o que nã o se observa no caso concreto, haja vista a falta de
comprovaçã o de quaisquer das hipó teses susodescritas, conforme exigência legal
do art. 373, inciso II, do CPC.
Aplica-se à hipó tese dos autos a teoria do risco do empreendimento, que só
deve ser afastada se comprovado que o defeito inexiste ou que decorreu de fato
exclusivo da vítima ou de terceiro (art. 14, § 3º, do CDC). Nesse aspecto, ressalte-
se que eventual fato praticado por terceiro só rompe o nexo causal se o fortuito for
externo, isto é, nã o decorrer de atividade normalmente desenvolvida pelo
fornecedor.
A perpetraçã o de fraudes constitui risco inerente ao exercício da atividade
comercial e de prestaçã o de serviços, evidenciando típica hipó tese de fortuito
interno, a qual, por si só , nã o rompe o nexo causal e, consequentemente, o dever de
indenizar.
[1] José A. Montilla Martos. Minoria Política & Tribunal Constitucional, cit., 3.6, p.
123-124.