EXCELENTÍSSIMO JUÍZO DE DIREITO DA 2ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE
Processo nº: Curadoria Especial - Incidente de Desconsideraçã o da Personalidade Jurídica
OUTRO, devidamente qualificados nos autos do processo em
epígrafe, neste ato representado pela DEFENSORIA PÚ BLICA DO ESTADO DE SÃ O PAULO, agindo na qualidade de CURADOR ESPECIAL, com fulcro no art. 72º, II do CPC, vem respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, utilizando-se das prerrogativas da intimaçã o pessoal e do prazo em dobro que lhe confere o artigo 186 do Có digo de Processo Civil, apresentar IMPUGNAÇÃO pelos motivos de fato e de direito a seguir expostos:
DA SÍNTESE DO PROCESSO
Trata-se de INCIDENTE DE DESCONSIDERAÇÃO DA
PERSONALIDADE JURÍDICA movida pela Exequente, onde narra que nã o obtendo êxito na açã o de execuçã o de autos n°, pretende desconsiderar a personalidade jurídica das empresas envolvidas, para executar o débito que fora provido na açã o de cobrança nos autos n° através do presente incidente. Alega a requerente, que apó s diversas tentativas de satisfaçã o do débito, teria a Executada desviado a finalidade da empresa fugindo de suas responsabilidades. Desta forma, o Exequente pretende o deferimento do incidente, a fim de incluir a empresa mencionada na exordial no polo passivo da execuçã o, para que assim, responda a empresa e os só cios com os pró prios bens pelos débitos presentes Como a empresa nã o foi localizada, acabou citada fictamente, razã o maior para atuaçã o da Defensoria Pú blica, na qualidade de curador especial. Eis a síntese do necessá rio. O incidente nã o merece prosperar.
DOS PRESSUPOSTOS INERENTES A DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE
JURÍDICA
A desconsideraçã o da personalidade jurídica pressupõ e o
preenchimento de requisitos, destacando-se frente ao disposto no artigo 50 do Có digo Civil, a confusã o patrimonial e o abuso do direito. É importante frisar, que o art. 133, § 1º do CPC, também reforça os pressupostos do pedido de desconsideraçã o da personalidade jurídica, orientando observar os requisitos previstos em lei. Por conseguinte, da aná lise do art. 50 do CC, depreende-se que o ordenamento jurídico pá trio adotou a chamada Teoria Maior da Desconsideraçã o, segundo a qual se exige, para além da prova de insolvência, a demonstraçã o ou de desvio de finalidade (teoria subjetiva da desconsideraçã o) ou de confusã o patrimonial (teoria objetiva da desconsideraçã o). Nesse sentido, vejam-se o seguinte julgado:
PROCESSUAL CIVIL E CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃ O DE
EXECUÇÃ O DE TÍTULO JUDICIAL. INEXISTÊ NCIA DE BENS DE PROPRIEDADE DA EMPRESA EXECUTADA. DESCONSIDERAÇÃ O DA PERSONALIDADE JURÍDICA. INVIABILIDADE. INCIDÊ NCIA DO ART. 50 DO CC/02. APLICAÇÃ O DA TEORIA MAIOR DA DESCONSIDERAÇÃ O DA PERSONALIDADE JURÍDICA. - A mudança de endereço da empresa executada associada à inexistência de bens capazes de satisfazer o crédito pleiteado pelo exequente nã o constituem motivos suficientes para a desconsideraçã o da sua personalidade jurídica. - A regra geral adotada no ordenamento jurídico brasileiro é aquela prevista no art. 50 do CC/02, que consagra a Teoria Maior da Desconsideraçã o, tanto na sua vertente subjetiva quanto na objetiva. - Salvo em situaçõ es excepcionais previstas em leis especiais, somente é possível a desconsideraçã o da personalidade jurídica quando verificado o desvio de finalidade (Teoria Maior Subjetiva da Desconsideraçã o), caracterizado pelo ato intencional dos só cios de fraudar terceiros com o uso abusivo da personalidade jurídica, ou quando evidenciada a confusã o patrimonial (Teoria Maior Objetiva da Desconsideraçã o), demonstrada pela inexistência, no campo dos fatos, de separaçã o entre o patrimô nio da pessoa jurídica e os de seus só cios. Recurso especial provido para afastar a desconsideraçã o da personalidade jurídica da recorrente. (REsp 970.635/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 10/11/2009, DJe 01/12/2009).
Desta forma, verifica-se que o Exequente nã o observou os
requisitos que constituem a possibilidade de desconsideraçã o da personalidade jurídica, conforme previsã o legal. Destarte, nã o ocorrendo os requisitos constantes na norma legal, nã o há o que se falar na desconsideraçã o da personalidade jurídica, de acordo com entendimento sobre o tema:
AGRAVO DE INSTRUMENTO. CUMPRIMENTO DE
SENTENÇA. DESCONSIDERÇÃ O DA PERSONALIDADE JURÍDICA. Impossibilidade. O requerimento de desconsideraçã o da personalidade jurídica deve demonstrar o preenchimento dos pressupostos legais específicos para tanto. Inteligência do disposto no art. 134, §4º do CPC. A mera situação de inadimplência, por si só, não tem condão de demonstrar o preenchimento dos requisitos legais. Inteligência do art. 50 CC/2002. Precedente do C. Superior Tribunal de Justiça. Manutenção da r. decisão interlocutória. RECURSO DOS EXECUTADOS PROVIDO. (TJSP; Agravo de Instrumento 2058759-59.2019.26.0000; Rel.: Berenice Marcondes Cesar; Ó rgã o julgador: 28ª Câ mara de Direito Privado; Foro de Guarujá – 1ª Vara Cível; Julgado em 30/04/2019.
Embora a executada nã o apresente patrimô nio atualmente,
isto nã o constitui elemento suficiente para autorizar o procedimento. Visto que este desvio de finalidade nã o passa de suposiçã o, ora Douto Juízo, uma só cia de uma empresa que faz parte de outras sociedades nã o deve ser acusada de fraude desta forma, tã o pouco por conta de a empresa nã o conter patrimô nio, o alegado pelo Exequente nã o perfaz prova de má -fé. Patente observar o seguinte julgado:
EMBARGOS À EXECUÇÃ O – Desconsideraçã o da
personalidade jurídica – Nã o demonstrado abuso da devedora a justificar a inclusã o dos só cias no polo passivo da execuçã o – O fato das embargantes serem só cias da executada nã o as torna por si só , devedoras do título – De igual sorte, a nã o localizaçã o de bens na ú nica tentativa realizada via sistemas Infojud e Renajud nã o indica o abuso de personalidade, caracterizado pelo desvio de finalidade ou confusã o patrimonial, como exige o artigo 50 do Có digo Civil – Precedentes da Corte – De rigor, o acolhimento dos embargos para excluir as só cias do polo passivo da execuçã o – (...) (TJSP; Apelaçã o Cível 1046031-62.2017.26.0100; Rel.: Mendes Pereira; Ó rgã o julgador: 15ª Câ mara de Direito Privado; Foro Central Cível – 41ª Vara Cível; Julgado em 12/03/2019. Portanto, deverá o Exequente apresentar provas comprobató rias que há existência dos pressupostos dispostos no art. 50 do Có digo Civil. Assim, nã o há que se falar em desconsideraçã o, visto nã o existir qualquer prova do desvio de finalidade, abuso de direito ou confusã o patrimonial.
CONCLUSÃO
Ante o exposto, requer-se que o presente incidente seja
julgado improcedente, por se tratar de medida de direito, condenando a parte exequente as verbas de sucumbência nos termos do artigo 85 do CPC.