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EXCELENTÍSSIMO JUÍZO DE DIREITO DA 2ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE

MOGI DAS CRUZES – ESTADO DE SÃO PAULO.

Processo nº:
Curadoria Especial - Incidente de Desconsideraçã o da Personalidade Jurídica

A Defensoria Pú blica da Unidade de Mogi das Cruzes,


nos moldes do art. 5.º, VIII da LC Estadual n.º
988/06, vem atuar como curador especial do
presente feito, requerendo a observaçã o do contido
no art. 128, I, da LC 80/94, ou seja, intimaçã o
pessoal e prazo em dobro, procedendo-se à s
anotaçõ es de praxe.

OUTRO, devidamente qualificados nos autos do processo em


epígrafe, neste ato representado pela DEFENSORIA PÚ BLICA DO ESTADO DE SÃ O
PAULO, agindo na qualidade de CURADOR ESPECIAL, com fulcro no art. 72º, II do
CPC, vem respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, utilizando-se das
prerrogativas da intimaçã o pessoal e do prazo em dobro que lhe confere o artigo
186 do Có digo de Processo Civil, apresentar IMPUGNAÇÃO pelos motivos de fato e
de direito a seguir expostos:

DA SÍNTESE DO PROCESSO

Trata-se de INCIDENTE DE DESCONSIDERAÇÃO DA


PERSONALIDADE JURÍDICA movida pela Exequente, onde narra que nã o obtendo
êxito na açã o de execuçã o de autos n°, pretende desconsiderar a personalidade

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jurídica das empresas envolvidas, para executar o débito que fora provido na açã o
de cobrança nos autos n° através do presente incidente.
Alega a requerente, que apó s diversas tentativas de
satisfaçã o do débito, teria a Executada desviado a finalidade da empresa fugindo de
suas responsabilidades.
Desta forma, o Exequente pretende o deferimento do
incidente, a fim de incluir a empresa mencionada na exordial no polo passivo da
execuçã o, para que assim, responda a empresa e os só cios com os pró prios bens
pelos débitos presentes
Como a empresa nã o foi localizada, acabou citada fictamente,
razã o maior para atuaçã o da Defensoria Pú blica, na qualidade de curador especial.
Eis a síntese do necessá rio.
O incidente nã o merece prosperar.

DOS PRESSUPOSTOS INERENTES A DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE


JURÍDICA

A desconsideraçã o da personalidade jurídica pressupõ e o


preenchimento de requisitos, destacando-se frente ao disposto no artigo 50 do
Có digo Civil, a confusã o patrimonial e o abuso do direito.
É importante frisar, que o art. 133, § 1º do CPC, também
reforça os pressupostos do pedido de desconsideraçã o da personalidade jurídica,
orientando observar os requisitos previstos em lei.
Por conseguinte, da aná lise do art. 50 do CC, depreende-se
que o ordenamento jurídico pá trio adotou a chamada Teoria Maior da
Desconsideraçã o, segundo a qual se exige, para além da prova de insolvência, a
demonstraçã o ou de desvio de finalidade (teoria subjetiva da desconsideraçã o) ou
de confusã o patrimonial (teoria objetiva da desconsideraçã o).
Nesse sentido, vejam-se o seguinte julgado:

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PROCESSUAL CIVIL E CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃ O DE
EXECUÇÃ O DE TÍTULO JUDICIAL. INEXISTÊ NCIA DE BENS
DE PROPRIEDADE DA EMPRESA EXECUTADA.
DESCONSIDERAÇÃ O DA PERSONALIDADE JURÍDICA.
INVIABILIDADE. INCIDÊ NCIA DO ART. 50 DO CC/02.
APLICAÇÃ O DA TEORIA MAIOR DA DESCONSIDERAÇÃ O DA
PERSONALIDADE JURÍDICA. - A mudança de endereço da
empresa executada associada à inexistência de bens capazes
de satisfazer o crédito pleiteado pelo exequente nã o
constituem motivos suficientes para a desconsideraçã o da
sua personalidade jurídica. - A regra geral adotada no
ordenamento jurídico brasileiro é aquela prevista no art. 50
do CC/02, que consagra a Teoria Maior da Desconsideraçã o,
tanto na sua vertente subjetiva quanto na objetiva. - Salvo
em situaçõ es excepcionais previstas em leis especiais,
somente é possível a desconsideraçã o da personalidade
jurídica quando verificado o desvio de finalidade (Teoria
Maior Subjetiva da Desconsideraçã o), caracterizado pelo ato
intencional dos só cios de fraudar terceiros com o uso
abusivo da personalidade jurídica, ou quando evidenciada a
confusã o patrimonial (Teoria Maior Objetiva da
Desconsideraçã o), demonstrada pela inexistência, no campo
dos fatos, de separaçã o entre o patrimô nio da pessoa
jurídica e os de seus só cios. Recurso especial provido para
afastar a desconsideraçã o da personalidade jurídica da
recorrente. (REsp 970.635/SP, Rel. Ministra NANCY
ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 10/11/2009, DJe
01/12/2009).

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Desta forma, verifica-se que o Exequente nã o observou os
requisitos que constituem a possibilidade de desconsideraçã o da personalidade
jurídica, conforme previsã o legal.
Destarte, nã o ocorrendo os requisitos constantes na norma
legal, nã o há o que se falar na desconsideraçã o da personalidade jurídica, de
acordo com entendimento sobre o tema:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. CUMPRIMENTO DE


SENTENÇA. DESCONSIDERÇÃ O DA PERSONALIDADE
JURÍDICA. Impossibilidade. O requerimento de
desconsideraçã o da personalidade jurídica deve demonstrar
o preenchimento dos pressupostos legais específicos para
tanto. Inteligência do disposto no art. 134, §4º do CPC. A
mera situação de inadimplência, por si só, não tem condão de
demonstrar o preenchimento dos requisitos legais. Inteligência
do art. 50 CC/2002. Precedente do C. Superior Tribunal de
Justiça. Manutenção da r. decisão interlocutória. RECURSO
DOS EXECUTADOS PROVIDO. (TJSP; Agravo de
Instrumento 2058759-59.2019.26.0000; Rel.: Berenice
Marcondes Cesar; Ó rgã o julgador: 28ª Câ mara de Direito
Privado; Foro de Guarujá – 1ª Vara Cível; Julgado em
30/04/2019.

Embora a executada nã o apresente patrimô nio atualmente,


isto nã o constitui elemento suficiente para autorizar o procedimento. Visto que
este desvio de finalidade nã o passa de suposiçã o, ora Douto Juízo, uma só cia de
uma empresa que faz parte de outras sociedades nã o deve ser acusada de fraude

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desta forma, tã o pouco por conta de a empresa nã o conter patrimô nio, o alegado
pelo Exequente nã o perfaz prova de má -fé.
Patente observar o seguinte julgado:

EMBARGOS À EXECUÇÃ O – Desconsideraçã o da


personalidade jurídica – Nã o demonstrado abuso da
devedora a justificar a inclusã o dos só cias no polo passivo da
execuçã o – O fato das embargantes serem só cias da
executada nã o as torna por si só , devedoras do título – De
igual sorte, a nã o localizaçã o de bens na ú nica tentativa
realizada via sistemas Infojud e Renajud nã o indica o abuso
de personalidade, caracterizado pelo desvio de finalidade ou
confusã o patrimonial, como exige o artigo 50 do Có digo Civil
– Precedentes da Corte – De rigor, o acolhimento dos
embargos para excluir as só cias do polo passivo da execuçã o
– (...) (TJSP; Apelaçã o Cível 1046031-62.2017.26.0100; Rel.:
Mendes Pereira; Ó rgã o julgador: 15ª Câ mara de Direito
Privado; Foro Central Cível – 41ª Vara Cível; Julgado em
12/03/2019.

Portanto, deverá o Exequente apresentar provas


comprobató rias que há existência dos pressupostos dispostos no art. 50 do
Có digo Civil.
Assim, nã o há que se falar em desconsideraçã o, visto nã o
existir qualquer prova do desvio de finalidade, abuso de direito ou confusã o
patrimonial.

CONCLUSÃO

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Ante o exposto, requer-se que o presente incidente seja
julgado improcedente, por se tratar de medida de direito, condenando a parte
exequente as verbas de sucumbência nos termos do artigo 85 do CPC.

Mogi das Cruzes, 30 de Junho de 2023.

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