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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA 33ª VARA DO

TRABALHO DE SÃO PAULO / SP.

Processo n.º

EMPRESA, já devidamente qualificado, por seu advogado e


procurador que esta subscreve, nos autos da RECLAMAÇÃO TRABALHISTA movida
por EMPREGADO em face de EMPRESA. e outras, vem, respeitosamente à
presença de Vossa Excelência, ante ao r. despacho de fls. 595 (Id. fe1498f),
apresentar manifestação nos termos do artigo 135, do CPC e artigo 855-A, da CLT,
conforme segue:

I. SÍNTESE DA PRETENSÃO

Pretende o Exequente a desconsideração da personalidade


jurídica das empresas Executadas, sob a seguinte argumentação:

“... Considerando-se o teor negativo dos ofícios enviados por este


DD. Juízo, às fls. 571 / 572 com o fito de serem localizados bens
das rés; Requer o autor a INSTAURAÇÃO DE INCIDENTE DE
DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA das rés,
passando a execução à pessoa de seus sócios, consoante
constam em Fichas Cadastrais anexas a este petitório. Ato
contínuo, requer sejam constritos ativos financeiros e bens
capazes de suportar o crédito exequendo mediante expedição de
ofícios (BACENJUD, RENAJUD, INFOJUD, ARISP, CNIB,
SERASAJUD) deste DD. Juízo em desfavor dos sócios adiante
elencados [...]”.

Entretanto, o Peticionante não se conforma com tal alegação


genérica, nem mesmo com a r. decisão proferida nesta fase executória que determinou
a sua inclusão na lide para responder aos termos do presente incidente.

Entende-se que, a inclusão do Peticionante no atual momento


processual fere diversos dispositivos legais, em especial, porque a desconsideração da
personalidade jurídica é precoce e indevida.

Roga-se pelo não deferimento da desconsideração da


personalidade jurídica, conforme razões a seguir expostas:

II. DA DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA: INDEVIDA E


PRECOCE

Excelência, o Exequente de forma singela requereu nos próprios


autos a abertura de incidente de desconsideração da personalidade jurídica em face
do Peticionante, tendo como único intuito o bloqueio de bens de sua propriedade e
fundamentando apenas que teria havido inércia no pagamento da execução diante da
não localização de bens das empresas, o que não merece prosperar.

O primeiro ponto para o indeferimento da desconsideração da


personalidade jurídica pleiteada é o simples fato das empresas estarem ativas e
possuírem bens suficientes para garantir a execução, cabendo ao próprio Exequente
diligenciar neste sentido.

Não há motivos para a desconsideração da personalidade jurídica.


A Executada Profit indicou, inclusive, bens à penhora, o que foi
recusado pelo próprio Exequente (Id. bc309f7). Ademais, as pesquisas de patrimônio
realizadas nos autos se limitam ao trivial, não diligenciando o Exequente em busca de
outras medidas, tal como o CCS-BACEN.

A personalidade jurídica é uma ficção jurídica, prevista no artigo 45


do Código Civil e não se confunde com a personalidade de seus integrantes.

O escopo da teoria da desconsideração da personalidade jurídica é


alcançar o patrimônio dos sócios-administradores que se utilizam da autonomia
patrimonial da pessoa jurídica para fins ilícitos, abusivos ou fraudulentos, acarretando
àqueles a responsabilidade direta, pessoal e ilimitadamente.

Não há fins ilícitos, abusivos ou fraudulentos se a empresa está


ativa, em funcionamento e ainda indica bens à penhora.

No caso do presente processo, não se constata o uso da


autonomia patrimonial da pessoa jurídica para fins ilícitos, abusivos ou fraudulentos e o
fundamento do Exequente, se revela genérico, abusivo, desproporcional e ilegal, vez
que é ônus do próprio Exequente fornecer meios para a satisfação da execução e não
das Executadas ou do Peticionante.

Não há qualquer comprovação cabal de abuso da personalidade


jurídica pelo Peticionante, o que se evidenciaria apenas pelo desvio de finalidade ou
pela confusão patrimonial e não pela falta de “opções de escolha” de bens da
empresa que fossem passíveis de penhora.

Veja-se que aqui não se trata da falta de bens em si, mas sim o
fato do Exequente querer escolher qual bem penhorar. Então se o que busca não é o
que ele quer, ele também não pode deliberadamente tentar atingir os bens dos
sócios.
O pedido do Exequente não se enquadra nos limites previstos na
legislação pertinente; os requisitos do artigo 50, do Código Civil não restam
preenchidos.

Importante frisar que o redirecionamento totalmente precoce da


presente execução trabalhista é abusivo e contrário ao que dispõe a legislação e
jurisprudência, pois, não houve nenhum ato praticado pela empresa, tampouco pelo
Peticionante que visasse fraudar o Exequente.

O Exequente não fez qualquer prova de desvio da finalidade, com


o intuito de fraudar o cumprimento das obrigações, ou a confusão patrimonial, ou
ainda, prova robusta de má-fé da empresa ou do Peticionante no exercício das suas
atribuições e o dolo, para então lhe redirecionar a presente execução, sendo certo que
somente assim Vossa Excelência poderia deferir o pretendido, o que se repisa: não é o
caso dos autos.

Não há base legal para se impor a responsabilidade solidária ou


subsidiária pelos débitos trabalhistas reivindicados e executados.

Enfatiza-se que a não localização de bens da empresa que o


Exequente quer por si só não é motivo para aplicação da desconsideração da
personalidade jurídica, até porque houve indicação de bens à penhora, o que foi
recusado pelo Exequente.

A teoria maior, regra em nosso ordenamento, encontra-se disposta


na Legislação Substantiva Civil, verbo ad verbum:

“Art. 50 - Em caso de abuso da personalidade jurídica,


caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão
patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do
Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, que os
efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam
estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios da
pessoa jurídica.

Nesse passo, a teoria menor, consoante melhor doutrina, atrelasse


tão somente à dificuldade do recebimento de bens do devedor. Assim, um único
pressuposto.

Quanto à teoria maior, que é o caso em estudo, além do obstáculo


ao recebimento do crédito, exige, além disso, provar-se o “abuso da personalidade
jurídica”. Segundo Flávio Tartuce, que, aludindo às lições de Fábio Ulhoa Coelho,
destaca ad litteram:

“Aprofundando, em relação à desconsideração da personalidade


jurídica, a doutrina aponta a existência de duas grandes teorias: a
teoria maior e a teoria menor. Ensina Fábio Ulhoa Coelho que ‘há
duas formulações para a teoria da desconsideração: a maior, pela
qual o juiz é autorizado a ignorar a autonomia patrimonial das
pessoas jurídicas, como forma de coibir fraudes e abusos
praticados através dela, e a menor, em que o simples prejuízo do
credor já possibilita afastar a autonomia processual’ (Curso ...,
2005, v. 2, p.35). Por óbvio que o Código Civil de 2002 adotou a
teoria maior. De qualquer modo, entendemos que o abuso da
personalidade jurídica deve ser encarado como forma de abuso de
direito, tendo como parâmetro o art. 187 do CC [...]”.

Nota-se claramente nesta hipótese a ausência dos requisitos


autorizadores da desconsideração da personalidade jurídica; não há comprovação de
abuso de personalidade, caracterizado pelo desvio de finalidade ou confusão
patrimonial; a desconsideração da personalidade jurídica é medida excepcional em
nosso direito, somente sendo aplicada no momento em que forem constatados os
requisitos exigidos pelo artigo 50, caput do Código Civil, quais sejam, a comprovação
do desvio de finalidade ou da confusão patrimonial, o que não se verifica na neste
particular; não há provas que garantam a pretensão do Exequente.
Há ilegitimidade passiva do Peticionante e, diante disso, não há o
que se falar em desconsideração de personalidade jurídica e sua inclusão no polo
passivo da demanda para responder pelo crédito exequendo.

É importante evidenciar que a jurisprudência pátria exige o


exaurimento de todas as medidas de constrição, o que não se verifica ao presente
processo.

Diante de todo exposto, roga-se a Vossa Excelência para que seja


decretada a ilegalidade da pretensão do Exequente, em face da ilegitimidade do sócio
ora Peticionante, determinando que o Exequente esgote todos os meios para a
satisfação de seu crédito em face das empresas Executadas.

Pela improcedência deste incidente de desconsideração da


personalidade jurídica.

III. DO PEDIDO

Diante do exposto, pugna-se pelo não acolhimento das pretensões


destacadas pelo Exequente, o que ensejara a extinção do feito em relação ao
peticionário, como forma de Justiça.

Requer por fim, que o Exequente seja condenado em honorários


advocatícios e demais encargos processuais; pugna-se desde já por provar o alegado
por todos os meios de provas admitidos no texto processual aplicável.

Termos em que,
Pede e espera o deferimento.

Barueri / SP, 29 de outubro de 2021.

ADVOGADO
OAB

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