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Apelação Nº 5076178-21.2022.8.24.

0023/SC

RELATOR: Desembargador LUIZ ZANELATO

APELANTE: MARCELLE AMARAL DE MIRANDA AMARO


(EMBARGANTE) APELADO: X POWER IMPORTACAO E EXPORTACAO LTDA (EMBARGADO)

RELATÓRIO

Marcelle Amaral de Miranda Amaro interpôs recurso de apelação em face da


sentença proferida pelo juízo da 3ª Vara Cível da Comarca de
Florianópolis, que julgou extintos os embargos de terceiro por si opostos
contra X Power Importação e Exportação LTDA, pelo reconhecimento de sua
ilegitimidade para figurar no polo ativo dos embargos, nos seguintes
termos (evento 6, autos do 1º grau):
Trata-se de embargos de terceiro opostos por MARCELLE AMARAL DE MIRANDA
AMARO contra X POWER IMPORTACAO E EXPORTACAO LTDA, partes devidamente
qualificadas.
É o breve relatório.
Fundamento e decido.
Diante da realidade dos autos, cabível o julgamento conforme o estado do
processo, nos termos do artigo 354 do Código de Processo Civil, tendo em
vista a ilegitimidade ativa ad causam, a teor do art. 485, VI, do
mesmo diploma legal.
De acordo com o disposto no artigo 330 do CPC, "a petição inicial será
indeferida quando: I - for inepta; II - a parte for manifestamente
ilegítima; III - o autor carecer de interesse processual; IV - não
atendidas as prescrições dos arts. 106 e 321".
Cumpre salientar que são condições da ação previstas pelo atual Código de
Processo Civil a legitimidade e o interesse de agir, em concordância com
o que preleciona o caput do seu artigo 17.
A legitimidade para a oposição de embargos de terceiro, como cediço,
encontra-se disciplinada no artigo 674 do CPC, o qual cito in verbis:
Art. 674. Quem, não sendo parte no processo, sofrer constrição ou ameaça
de constrição sobre bens que possua ou sobre os quais tenha direito
incompatível com o ato constritivo, poderá requerer seu desfazimento ou
sua inibição por meio de embargos de terceiro.
§ 1º Os embargos podem ser de terceiro proprietário, inclusive
fiduciário, ou possuidor.
§ 2º Considera-se terceiro, para ajuizamento dos embargos:
I - o cônjuge ou companheiro, quando defende a posse de bens próprios ou
de sua meação, ressalvado o disposto no art. 843;
II - o adquirente de bens cuja constrição decorreu de decisão que declara
a ineficácia da alienação realizada em fraude à execução;
III - quem sofre constrição judicial de seus bens por força de
desconsideração da personalidade jurídica, de cujo incidente não fez
parte;
IV - o credor com garantia real para obstar expropriação judicial do
objeto de direito real de garantia, caso não tenha sido intimado, nos
termos legais dos atos expropriatórios respectivos.
No caso dos autos, contudo, verifico que a embargante não é terceira
estranha à lide, uma vez que é titular da empresa individual executada
nos autos do cumprimento de sentença n. 5046374-76.2020.8.24.0023, "cujo
patrimônio não se distingue da pessoa física que exerce diretamente a
atividade" (TJSC, Apelação Cível n. 2009.031494-4, de Araranguá, rel.
Gilberto Gomes de Oliveira, Segunda Câmara de Direito Civil, j. 28-02-
2013).
Nessa mesma lógica, extraio da jurisprudência do Eg. TJSC:
APELAÇÃO CÍVEL. EMBARGOS DE TERCEIRO. SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA.
INSURGÊNCIA DA EMBARGADA. QUESTÃO PREJUDICIAL. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA
QUE ORIGINOU A CONSTRIÇÃO MOVIDO EM FACE DE EMPRESA INDIVIDUAL. PENHORA
DE BEM DE PROPRIEDADE DA PESSOA FÍSICA. EMBARGOS DE TERCEIRO MOVIDOS PELO
SÓCIO. AUSÊNCIA, ENTRETANTO, DE DISTINÇÃO PATRIMONIAL ENTRE O EMPRESÁRIO
INDIVIDUAL E A PESSOA NATURAL QUE EXERCE A ATIVIDADE
EMPRESARIAL. EMBARGANTE QUE NÃO SE QUALIFICA COMO TERCEIRO PARA FINS DE
OPOSIÇÃO DOS PRESENTES EMBARGOS. RECONHECIMENTO, EX OFFICIO, DA
ILEGITIMIDADE ATIVA DO EMBARGANTE. [...] 3. A jurisprudência do STJ já
fixou o entendimento de que "a empresa individual é mera ficção jurídica
que permite à pessoa natural atuar no mercado com vantagens próprias da
pessoa jurídica, sem que a titularidade implique distinção patrimonial
entre o empresário individual e a pessoa natural titular da firma
individual" (REsp 1.355.000/SP, Rel. Ministro Marco Buzzi, Quarta Turma,
julgado em 20/10/2016, DJe 10/11/2016) e de que "o empresário individual
responde pelas obrigações adquiridas pela pessoa jurídica, de modo que
não há distinção entre pessoa física e jurídica, para os fins de direito,
inclusive no tange ao patrimônio de ambos" (AREsp 508.190, Rel.
Min. Marco Buzzi, Publicação em 4/5/2017). [...](REsp 1682989/RS, Rel.
Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 19/09/2017, DJe
09/10/2017) POSSIBILIDADE, ENTRETANTO, DE RECEBIMENTO DOS EMBARGOS DE
TERCEIRO COMO IMPUGNAÇÃO À PENHORA COM BASE NO PRINCÍPIO DA
INSTRUMENTALIDADE DAS FORMAS. PARTES QUE, EM QUE PESE DEVIDAMENTE
INTIMADAS A RESPEITO, QUEDARAM-SE INERTES. ANÁLISE DAS TESES VENTILADAS
NA INICIAL. AVENTADA IMPOSSIBILIDADE DE PENHORA DE BEM DE PROPRIEDADE DA
PESSOA FÍSICA PARA PAGAMENTO DE DÉBITO CONTRAÍDO PELA PESSOA JURÍDICA.
INSUBSISTÊNCIA. AUSÊNCIA DE DISTINÇÃO PATRIMONIAL ENTRE OS BENS DO
EMPRESÁRIO INDIVIDUAL E DA PESSOA FÍSICA QUE ATUA COMO ÚNICA SÓCIA. TESE
DE QUE O IMÓVEL CONSTITUI BEM DE FAMÍLIA. ELEMENTOS DE PROVA AMEALHADOS
AOS AUTOS QUE SE MOSTRAM APTOS A DEMONSTRAR QUE O BEM, PARA ALÉM DE SER O
ÚNICO IMOVEL DE PROPRIEDADE DO EMBARGANTE, É UTILIZADO PARA RESIDÊNCIA
PRÓPRIA. IMPENHORABILIDADE RECONHECIDA. ÔNUS DE SUCUMBÊNCIA. OPOSIÇÃO DOS
EMBARGOS DE TERCEIRO QUE NÃO CONSTITUÍAM O MEIO ADEQUADO DE DEFESA.
APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA CAUSALIDADE. CONDENAÇÃO DO EMBARGANTE AO
PAGAMENTO DAS CUSTAS E HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS, ARBITRADOS NOS TERMOS DO
ART. 85, § 2º, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. HONORÁRIOS RECURSAIS
INDEVIDOS. RECURSO DA EMBARGADA PREJUDICADO. (TJSC, Apelação n. 0301050-
60.2016.8.24.0041, do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, rel. Rosane
Portella Wolff, Segunda Câmara de Direito Civil, j. 15-07-2021).
(Grifei).
Dessa forma, levando em conta a evidente ilegitimidade da embargante para
opor os presentes embargos de terceiro, a extinção do feito, sem
resolução de mérito, é medida que se impõe.
Ante o exposto, JULGO EXTINTOS os embargos de terceiro, sem resolução de
mérito, com fundamento no art. 485, I e VI, do Código de Processo Civil.
Custas, se houver, pela parte embargante. Sem honorários, contudo,
porquanto não triangularizada a relação processual.
Publique-se. Registre-se. Intime-se.
Transitada em julgado, dê-se baixa e arquive-se, observado o art. 320 e
seguintes do CNCGJ/SC no tocante às custas pendentes.
Inconformada, a embargante opôs embargos de declaração, os quais foram
rejeitados (evento 12, autos do 1º grau).
Irresignada, a embargante interpôs o presente apelo (evento 17, autos do
1º grau), arguindo, em síntese, que, ao contrário do consignado na
sentença combatida, é manifestamente indevido o reconhecimento de sua
ilegitimidade para opôr embargos de terceiro, pois "Como não foram
encontrados bens da empresa - ré originária nos autos - , o Juízo
sentenciante decretou de modo direto realização de penhora de bens da
sócia da empresa sem oportunizar e garantir o devido processo legal. A
apelante em nenhum momento participou do processo ou foi intimada a
realizar qualquer pagamento", sendo que "É incontroverso que a apelante
nunca foi sujeito da relação processual e teve seus bens penhorados,
trazidos sigilosa e repentinamente aos autos através de medidas extremas,
sem que antes fosse provocada a pessoalmente se manifestar acerca de
qualquer pedido formulado contra si, fatos todos que legitimam os
embargos de terceiros e a análise de seu mérito".
Foram apresentadas contrarrazões (evento 37, autos do 1º grau).
Vieram os autos conclusos.
É o relatório.

VOTO

1. Exame de admissibilidade
Por presentes os requisitos intrínsecos e extrínsecos de admissibilidade,
conhece-se do presente recurso, o qual passa a ser analisado.
2. Fundamentação
Insurge-se a embargante em face da sentença que julgou extintos os
embargos de terceiro por si opostos, em razão do reconhecimento de
sua ilegitimidade para figurar no polo ativo da lide, sob o fundamento
precípuo de que, ao contrário do estabelecido na sentença, a embargante é
terceira estranha à relação processual estabelecida nos autos n. 5046374-
76.2020.8.24.0023, um vez que não se confunde com a pessoa jurídica
de MARCELLE AMARAL DE MIRANDA - ME.
Sobre a legitimidade processual, é elucidativo transcrever a lição de
Cássio Scarpinella Bueno:
A legitimidade das partes - também legitimidade para a causa, legitimatio
ad causam ou legitimidade para agir - relaciona-se à identificação
daquele que pode pretender ser o titular do bem da vida deduzido em
juízo, seja como autor (legitimidade ativa), seja como réu (legitimidade
passiva) [...] A "legitimidade para a causa" corresponde, em regra, à
"capacidade de ser parte". A regra, para o sistema processual civil
brasileiro, é que somente aquele que tem condições de se afirmar o
titular do direito material deduzido em juízo pode ser parte ativa ou
passiva. A "capacidade jurídica", é dizer, a capacidade de alguém de
assumir direitos e deveres na esfera material, é que dá nascimento também
à legitimidade para a causa. Neste sentido, a "legitimidade para a causa"
nada mais é do que a "capacidade jurídica" transportada para juízo,
traduzida para o plano do processo. A regra é que somente aquele que pode
ser titular de direitos e deveres no âmbito do plano material tem
legitimidade para ser parte, é dizer, para tutelar, em juízo, ativa ou
passivamente, tais direitos e deveres. Assim, a noção de legitimidade
para a causa deve ser extraída do plano material, transformando a
titularidade da relação jurídica material em parte, entendida, pela
doutrina dominante, como aquela que pede ou em face de quem se pede algo
em juízo [...] (Curso sistematizado de direito processual civil: teoria
geral do direito processual civil, 1. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p.
368-370).
Sobre o tema, corrobora Hélio do Valle Pereira, no sentido de que:
[...] as condições da ação não representam o mérito, mas uma relação de
logicidade entre a versão do autor e o seu pedido, tendo em vista a
viabilidade da provocação da jurisdição. De tal modo, toda pessoa pode ir
a juízo, mas apenas aqueles que indicarem uma vinculação com a situação
retratada no processo poderão efetivamente exercer a ação, permitindo a
análise de mérito. (Manual de Direito Processual Civil, Florianópolis:
Conceito Editorial, 2008, p. 81-82 - grifo no original).
Nessa linha de raciocínio, anota-se que, condição da ação, a legitimidade
ativa, como elemento de pertinência subjetiva, encontra-se vinculada
àquele sujeito que pretende ser o titular do bem da vida deduzido em
juízo, em face do qual a pretensão levada a juízo deverá produzir seus
efeitos, na hipótese de ser acolhida a relação de congruência que se
infere das repercussões da causa de pedir, bem como do pedido correlato.
Sabidamente, como regra, a titularidade da ação vincula-se à titularidade
do pretendido direito material subjetivo debatido na causa, fenômeno
conhecido como legitimação ordinária, o que atrai a aplicação da norma
do art. 18 do CPC vigente, que assim preconiza: "Ninguém poderá pleitear
direito alheio em nome próprio, salvo quando autorizado pelo ordenamento
jurídico."
Adentrando-se nas circunstâncias do caso concreto, verifica-se que os
embargos de terceiro subjacentes foram opostos em face de decisão
proferida nos autos do cumprimento de sentença n. 5046374-
76.2020.8.24.0023 intentada por X POWER IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO LTDA
contra MARCELLE AMARAL DE MIRANDA - ME, que manteve a penhora de valores
(R$ 14.738,86) realizada em conta bancária de titularidade desta,
enquanto pessoa natural ou física, bem como decisão posterior que
determinou a realização da penhora de veículo alienado fiduciariamente em
favor de instituição financeira.
Na inicial dos embargos de terceiro, a embargante MARCELLE AMARAL DE
MIRANDA AMARO sustenta sua qualidade de terceira em relação ao processo
de execução voltado contra sua empresa individual, e pugna pelo
reconhecimento da impenhorabilidade do veículo e do numerário, sob o
fundamento de que a verba penhorada é inferior a 40 (quarenta) salários
mínimos, bem como que seria inviável a penhora de veículo alienado
fiduciariamente.
Ato contínuo, foi prolatada a sentença extintiva.
A ação de embargos de terceiro segue o procedimento especial contemplado
nos arts. 674 a 681 do CPC/2015 e não se limita à proteção do domínio,
sendo meio processual apto, ainda, para defender a posse ou qualquer
outro direito afetado pela constrição judicial.
No caso em apreço, o magistrado singular entendeu que por ser MARCELLE
AMARAL DE MIRANDA - ME uma empresa individual, não haveria distinção
patrimonial entre a pessoa jurídica e a pessoa física de sua titular.
Tal conclusão merece prevalecer.
Com efeito, a teor da norma do art. 966 do Código Civil, o empresário
individual é a pessoa física que exerce profissionalmente atividade
econômica organizada para produção ou circulação de bens ou de serviços.
Como ele opera sob firma individual, o patrimônio entre as pessoas
jurídica e física se confunde, de modo que a responsabilidade pelas
obrigações é solidária e ilimitada.
De acordo com o magistério de Fábio Ulhoa Coelho, "empresário é a pessoa
que toma a iniciativa de organizar uma atividade econômica de produção ou
circulação de bens ou serviços. Essa pessoa pode ser tanto a física, que
emprega seu dinheiro e organiza a empresa individualmente, como a
jurídica, nascida da união de esforços de seus integrantes" (Curso de
Direito Comercial. Vol. 1. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 123).
Sobre o tema, André Luiz Santa Cruz Ramos leciona que "a grande diferença
entre o empresário individual e a sociedade empresária é que esta, por
ser uma pessoa jurídica, tem patrimônio próprio, distinto do patrimônio
dos sócios que a integram. Assim, os bens particulares dos sócios, em
princípio, não podem ser executados por dívidas da sociedade, senão
depois de executados os bens sociais. O empresário individual, por sua
vez, não goza dessa separação patrimonial, respondente com todos os seus
bens, inclusive os pessoais, pelo risco do empreendimento". (Direito
empresarial esquematizado. São Paulo: Método, 2015, p. 39).
Portanto, no caso em comento, tratando-se a executada MARCELLE AMARAL DE
MIRANDA - ME de empresa individual (autos n. 0312814-63.2017.8.24.0023),
tem-se que ela não se trata de pessoa jurídica com autonomia patrimonial,
de modo que o patrimônio pessoal da empresária individual (MARCELLE
AMARAL DE MIRANDA AMARO), responde pelos débitos decorrentes da atividade
comercial por ela exercida.
Empresário e pessoa física (pessoa natural) confundem-se em uma só
pessoa, diferentemente do que ocorre no registro das sociedades e da
EIRELI, o qual responde pelo nascimento de uma nova pessoa (pessoa
jurídica), distinta das pessoas dos sócios (no caso das sociedades) e do
titular da EIRELI" (PENANTE JÚNIOR, Francisco. Direito Empresarial.
Salvador: Juspodivm, 2017, p. 72).
Daí porque, não havendo distinção patrimonial da empresária individual,
indubitável que não há se falar na sua legitimidade para opor embargos de
terceiro à decisão que determinou a constrição de seu patrimônio pessoal
em autos que a empresa individual é executada.
Neste sentido, confira-se a jurisprudência:
CONDIÇÕES DA AÇÃO. LEGITIMIDADE ATIVA 'AD CAUSAM' E INTERESSE PROCESSUAL.
AUSÊNCIA. EMBARGOS DE TERCEIRO. OPOSIÇÃO POR EMPRESÁRIO INDIVIDUAL. AÇÃO
PRINCIPAL, TODAVIA, EM QUE É EXECUTADA A PESSOA FÍSICA TITULAR DA FIRMA
INDIVIDUAL EMBARGANTE. INEXISTÊNCIA DE PERSONALIDADE JURÍDICA DISTINTA DA
EMPRESA INDIVIDUAL. CONFUSÃO PATRIMONIAL PATENTE. EMBARGANTE QUE NÃO É
'TERCEIRO' PARA FINS DE OPOSIÇÃO DA AÇÃO AUTÔNOMA DE EMBARGOS. VIA
INADEQUADA, OUTROSSIM, À PRETENSA PROTEÇÃO DO BEM ANTE A CONSTRIÇÃO
DETERMINADA. EXTINÇÃO DO PROCESSO, SEM RESOLUÇÃO DO MÉRITO, BEM LANÇADA.
SENTENÇA MANTIDA. RECURSO IMPROVIDO. (TJSP; Apelação Cível 0005009-
98.2015.8.26.0136; Relator (a): Vito Guglielmi; Órgão Julgador: 6ª Câmara
de Direito Privado; Foro de Cerqueira César - 1ª Vara; Data do
Julgamento: 10/11/2016; Data de Registro: 10/11/2016)
Por fim, consigna-se que é justamente em razão da inexistência de
distinção patrimonial entre o empresário individual e a pessoa física ou
natural, que tampouco seria cabível a instauração de incidentes de
desconsideração da personalidade jurídica para eventual inclusão da
pessoa física em processo no qual a empresa individual faça parte.
Mutatis mutandis, extrai-se da jurisprudência do Superior Tribunal de
Justiça e desta Corte:
AGRAVO DE INSTRUMENTO. TRIBUTÁRIO. EXECUÇÃO FISCAL. EMPRESÁRIO
INDIVIDUAL. REDIRECIONAMENTO.
1. A controvérsia cinge-se à responsabilidade patrimonial do empresário
individual e as formalidades legais para sua inclusão no polo passivo de
execução de débito da firma da qual era titular.
2. O acórdão recorrido entendeu que o empresário individual atua em nome
próprio, respondendo com seu patrimônio pessoal pelas obrigações
assumidas no exercício de suas atividades profissionais, sem as
limitações de responsabilidade aplicáveis às sociedades empresárias e
demais pessoas jurídicas.
3. A jurisprudência do STJ já fixou o entendimento de que "a empresa
individual é mera ficção jurídica que permite à pessoa natural atuar no
mercado com vantagens próprias da pessoa jurídica, sem que a titularidade
implique distinção patrimonial entre o empresário individual e a pessoa
natural titular da firma individual" (REsp 1.355.000/SP, Rel. Ministro
Marco Buzzi, Quarta Turma, julgado em 20/10/2016, DJe 10/11/2016) e de
que "o empresário individual responde pelas obrigações adquiridas pela
pessoa jurídica, de modo que não há distinção entre pessoa física e
jurídica, para os fins de direito, inclusive no tange ao patrimônio de
ambos" (AREsp 508.190, Rel. Min. Marco Buzzi, Publicação em 4/5/2017).
4. Sendo assim, o empresário individual responde pela dívida da firma,
sem necessidade de instauração do procedimento de desconsideração da
personalidade jurídica (art. 50 do CC/2002 e arts. 133 e 137 do
CPC/2015), por ausência de separação patrimonial que justifique esse
rito.
5. O entendimento adotado pelo Tribunal de origem guarda consonância com
a jurisprudência do STJ, o que já seria suficiente para se rejeitar a
pretensão recursal com base na Súmula 83/STJ. O referido verbete sumular
aplica-se aos recursos interpostos tanto pela alínea "a" quanto pela
alínea "c" do permissivo constitucional. Nesse sentido: REsp
1.186.889/DF, Segunda Turma, Relator Ministro Castro Meira, DJe de
2.6.2010.
6. Não obstante isso, não se constata o preenchimento dos requisitos
legais e regimentais para a propositura do Recurso Especial pela alínea
"c" do art. 105 da CF. 7. A apontada divergência deve ser comprovada,
cabendo a quem recorre demonstrar as circunstâncias que identificam ou
assemelham os casos confrontados, com a indicação da similitude fática e
jurídica entre eles.
8. In casu, o recorrente não se desincumbiu do ônus de demonstrar que os
casos comparados tratam da mesma situação fática: empresário individual.
Ao revés, limitou-se a transcrever ementas e trechos que versam sobre
sociedade empresarial cuja diferença em relação ao caso dos autos foi
suficientemente explanada neste julgado.
9. Recurso Especial não conhecido. (STJ. REsp 1682989/RS, Rel. Ministro
HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 19/09/2017, DJe 09/10/2017)

EVICÇÃO. APREENSÃO DE BEM MÓVEL PELA AUTORIDADE ADMINISTRATIVA.


PROCEDÊNCIA. APELO DA PARTE DEMANDADA. EMPRESÁRIO E FIRMA INDIVIDUAL.
PERSONALIDADE JURÍDICA UNA. LEGITIMIDADE PASSIVA. É cediço que pessoa
física pode exercer a atividade empresarial de duas maneiras, na forma
individual ou societária, com a constituição de uma pessoa jurídica com
patrimônio, direitos e obrigações distintas da física. Cada obrigação, em
tais casos, é constituída em uma esfera distinta. Tratando-se de pessoa
jurídica (sociedade empresária), o patrimônio da sociedade, em regra,
portanto, responde pelas suas obrigações. Só em casos excepcionais,
quando há confusão patrimonial ou fraude, poderá haver, a teor do que
prescreve o art. 50 do Código Civil, a desconsideração da personalidade
jurídica da sociedade empresária para que se alcance os bens dos sócios.
Porém, quando a pessoa física atua como empresário/firma individual,
apesar de existir cadastro específico (CNPJ), a pessoa física constitui a
própria empresa individual, de modo que não tem personalidade jurídica
distinta, apenas, excepcionalmente, para fins tributários. "Não é
correto atribuir-se ao comerciante individual personalidade jurídica
diferente daquele que se reconhece a pessoa física" (STJ. RESP nº
102.539-SP, rel. Min. Humberto Gomes de Barros, julgado em
12.11.1996). BOA-FÉ DO ALIENANTE. ELEMENTO QUE, POR SI SÓ, NÃO AFASTA
O DIREITO DO ADQUIRENTE AO RESSARCIMENTO QUE RESULTA DO DEVER DE
GARANTIA. O dever de garantia que, em favor do adquirente, resulta da
evicção deriva do próprio ato de compra e venda e, por isso,
independentemente de qualquer menção no contrato, ela se opera
imediatamente, isto é, de pleno direito - ex lege. Justo por isso, ainda
que a alienante tenha atuado com boa-fé, esta condição não a desobriga da
garantia contratual. APELO A QUE SE NEGA PROVIMENTO. (TJSC, Apelação
Cível n. 2011.007535-5, de Videira, rel. Des. Gilberto Gomes de Oliveira,
Segunda Câmara de Direito Civil, j. 29-05-2014).
À luz destas ponderações, a sentença que reconheceu a ilegitimidade da
apelante para ingressar em juízo com embargos de terceiro, para defesa da
propriedade ou posse de bens que reputa pessoais e distintos do
patrimônio da empresa individual, merece ser mantida.
3. Dispositivo
Diante do exposto, voto por conhecer e negar provimento ao recurso.

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Apelação Nº 5076178-21.2022.8.24.0023/SC

RELATOR: Desembargador LUIZ ZANELATO

APELANTE:
MARCELLE AMARAL DE MIRANDA AMARO (EMBARGANTE) APELADO: X POWER IMPORTACAO
E EXPORTACAO LTDA (EMBARGADO)

EMENTA
APELAÇÃO CÍVEL. EMBARGOS DE TERCEIRO. SENTENÇA EXTINTIVA DO FEITO
POR ILEGITIMIDADE ATIVA.
RECURSO DA TERCEIRA-EMBARGANTE.
LEGITIMIDADE PARA A CAUSA. CONDIÇÃO DA AÇÃO ASSENTADA, NO CASO
CONCRETO, NA PREMISSA DE QUE A PESSOA NATURAL OU FÍSICA NÃO SE CONFUNDE
COM A EMPRESA INDIVIDUAL, SENDO DISTINTO O PATRIMÔNIO DE AMBAS. TESE
RECHAÇADA. PATRIMÔNIO DO EMPRESÁRIO INDIVIDUAL, INCLUSIVE PESSOAL, QUE
RESPONDE PELAS DÍVIDAS DO EMPREENDIMENTO, CIRCUNSTÂNCIA QUE O INVESTE DE
LEGITIMIDADE PARA, EM AÇÃO DE EXECUÇÃO OU EM CUMPRIMENTO DE SENTENÇA
PROMOVIDO CONTRA A FIRMA INDIVIDUAL, DEFENDER-SE POR EMBARGOS À
EXECUÇÃO OU IMPUGNAÇÃO RESPECTIVAMENTE, JAMAIS POR EMBARGOS DE
TERCEIRO. SENTENÇA QUE MERECE SER MANTIDA.
1. A teor da norma do art. 966 do Código Civil, o empresário individual é
a pessoa física que exerce profissionalmente atividade econômica
organizada para produção ou circulação de bens ou de serviços. Como ele
atua no formato de firma individual, o patrimônio entre as pessoas
jurídica e física ou natural se confunde, de modo que a responsabilidade
pelas obrigações é solidária e ilimitada.
2. Segundo a doutrina, "a grande diferença entre o empresário individual
e a sociedade empresária é que esta, por ser uma pessoa jurídica, tem
patrimônio próprio, distinto do patrimônio dos sócios que a integram.
Assim, os bens particulares dos sócios, em princípio, não podem ser
executados por dívidas da sociedade, senão depois de executados os bens
sociais. O empresário individual, por sua vez, não goza dessa separação
patrimonial, respondente com todos os seus bens, inclusive os pessoais,
pelo risco do empreendimento". (SANTA CRUZ, André. Direito empresarial
esquematizado. São Paulo: Método, 2015, p. 39).
3. "O empresário individual responde pela dívida da firma, sem
necessidade de instauração do procedimento de desconsideração da
personalidade jurídica (art. 50 do CC/2002 e arts. 133 e 137 do
CPC/2015), por ausência de separação patrimonial que justifique esse
rito". (STJ. REsp 1682989/RS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA
TURMA, julgado em 19/09/2017, DJe 09/10/2017)
RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, a


Egrégia 1ª Câmara de Direito Comercial do Tribunal de Justiça do Estado
de Santa Catarina decidiu, por unanimidade, conhecer e negar provimento
ao recurso, nos termos do relatório, votos e notas de julgamento que
ficam fazendo parte integrante do presente julgado.

Florianópolis, 10 de agosto de 2023.

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dezembro de 2006. A conferência da autenticidade do documento está
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EXTRATO DE ATA DA SESSÃO VIRTUAL DE
10/08/2023

Apelação Nº 5076178-21.2022.8.24.0023/SC

RELATOR: Desembargador LUIZ ZANELATO

PRESIDENTE: Desembargador GUILHERME NUNES BORN

PROCURADOR(A): ELIANA VOLCATO NUNES


APELANTE: MARCELLE AMARAL DE MIRANDA AMARO (EMBARGANTE) ADVOGADO(A):
DIOGO ALBUQUERQUE MARANHAO DE OLIVEIRA (OAB RJ122809) APELADO: X POWER
IMPORTACAO E EXPORTACAO LTDA (EMBARGADO) ADVOGADO(A): MAURICIO PEREIRA
CABRAL (OAB SC038505) ADVOGADO(A): AUGUSTO PFEIFFER COLLEONI (OAB
SC062539) ADVOGADO(A): GUSTAVO BLASI RODRIGUES (OAB SC021620)
ADVOGADO(A): JOSÉ ANTÔNIO HOMERICH VALDUGA (OAB SC008303)
Certifico que este processo foi incluído na Pauta da Sessão Virtual do
dia 10/08/2023, na sequência 142, disponibilizada no DJe de 24/07/2023.
Certifico que a 1ª Câmara de Direito Comercial, ao apreciar os autos do
processo em epígrafe, proferiu a seguinte decisão:A 1ª CÂMARA DE DIREITO
COMERCIAL DECIDIU, POR UNANIMIDADE, CONHECER E NEGAR PROVIMENTO AO
RECURSO.

RELATOR DO ACÓRDÃO: Desembargador LUIZ ZANELATO


Votante: Desembargador LUIZ ZANELATOVotante: Desembargador JOSÉ MAURÍCIO
LISBOAVotante: Desembargador MARIANO DO NASCIMENTO
PRISCILA DA ROCHASecretária

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