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AO JUÍZO DA ________ VARA ________ DO TRABALHO DA COMARCA

DE ________

Processo nº ________

________ , já qualificado na Reclamação Trabalhista em


epígrafe, vem por meio do presente, com fulcro no art.
855-A da CLT e arts. 133 a 137 do CPC, apresentar

IMPUGNAÇÃO AO INCIDENTE DE
DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE
JURÍDICA

o que faz e nos argumentos de fato e de direito a seguir


aduzidos.

DA DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA

Manifestamente descabido o pedido da desconsideração da


personalidade jurídica pelo reclamante, quando AUSENTES OS
REQUISITOS LEGAIS legais para o seu deferimento, senão, vejamos.

O Art. 50 do Código Civil, dispõe claramente a necessária


observância dos requisitos previstos para a sua concessão:

Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica,


caracterizado pelo desvio de finalidade ou pela confusão
patrimonial, pode o juiz, a requerimento da parte, ou do
Ministério Público quando lhe couber intervir no processo,
desconsiderá-la para que os efeitos de certas e
determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos
bens particulares de administradores ou de sócios da
pessoa jurídica beneficiados direta ou indiretamente pelo
abuso.

§ 1º - Para os fins do disposto neste artigo, desvio de


finalidade é a utilização da pessoa jurídica com o propósito
de lesar credores e para a prática de atos ilícitos de
qualquer natureza.

§ 2º - Entende-se por confusão patrimonial a ausência de


separação de fato entre os patrimônios, caracterizada por:

I - cumprimento repetitivo pela sociedade de obrigações


do sócio ou do administrador ou vice-versa;

II - transferência de ativos ou de passivos sem efetivas


contraprestações, exceto os de valor proporcionalmente
insignificante; e

III - outros atos de descumprimento da autonomia


patrimonial.

§ 3º - O disposto no caput e nos §§ 1º e 2º deste artigo


também se aplica à extensão das obrigações de sócios ou
de administradores à pessoa jurídica.

§ 4º - A mera existência de grupo econômico sem a


presença dos requisitos de que trata o caput deste artigo
não autoriza a desconsideração da personalidade da
pessoa jurídica.

§ 5º - Não constitui desvio de finalidade a mera expansão


ou a alteração da finalidade original da atividade
econômica específica da pessoa jurídica.

Ocorre que o impugnado não trouxe nenhuma evidência sobre


qualquer um dos requisitos acima mencionados, não podendo se presumir o
dolo ou desvio de finalidade, uma vez quer:

A lei prevê expressamente a existência do DOLO na conduta da


empresa para lesar credores, o que não ficou evidenciado em qualquer
elemento trazido pelo requerente.

A desconsideração da personalidade jurídica trata-se de exceção à


regra, admitida somente em casos extremos, conforme assevera a doutrina:

"Tratando-se de regra de exceção, de restrição ao


princípio da autonomia patrimonial da pessoa jurídica, a
interpretação que melhor se coaduna com o art. 50 do
Código Civil é a que relega sua aplicação a casos
extremos, em que a pessoa jurídica tenha sido
instrumento para fins fraudulentos, configurado
mediante o desvio da finalidade institucional ou a
confusão patrimonial" (STJ EREsp
1.306.553/SC)."(MARINONI, Luiz Guilherme.
ARENHART, Sérgio Cruz. MITIDIERO, Daniel. Novo
Código de Processo Civil comentado. 3ª ed. Revista dos
Tribunais, 2017. Vers. ebook. Art. 133)

Afinal, não ocorrendo os referidos requisitos não há que se falar na


desconsideração da personalidade jurídica sob pena de grave afronta à
legalidade, conforme precedentes sobre o tema:

EMBARGOS À EXECUÇÃO - Desconsideração da


personalidade jurídica - Não demonstrado abuso da
devedora a justificar a inclusão das sócias no polo
passivo da execução - O fato das embargantes
serem sócias da executada não as torna por si só,
devedoras do título - De igual sorte, a não localização
de bens na única tentativa realizada via sistemas Infojud e
Renajud não indica o abuso de personalidade,
caracterizado pelo desvio de finalidade ou confusão
patrimonial, como exige o artigo 50 do Código Civil -
Precedentes da Corte - De rigor, o acolhimento dos
embargos para excluir as sócias do polo passivo da
execução - (...) (TJSP; Apelação Cível 1046031-
62.2017.8.26.0100; Relator (a): Mendes Pereira; Órgão
Julgador: 15ª Câmara de Direito Privado; Foro Central
Cível - 41ª Vara Cível; Data do Julgamento: 12/03/2019;
Data de Registro: 12/03/2019)

AGRAVO DE PETIÇÃO. DESCONSIDERAÇÃO DA


PERSONALIDADE JURÍDICA. Não há falar em
desconsideração da personalidade jurídica no
caso, tendo em vista que não restou demonstrado
o abuso da personalidade jurídica da executada,
tampouco o seu desvio de finalidade ou a confusão
patrimonial. (TRT da 3.ª Região; PJe: 0011087-
63.2017.5.03.0093 (AP); Disponibilização: 09/03/2018;
Órgão Julgador: Quinta Turma; Relator: Convocado
Danilo Siqueira de C.Faria)

DA DESCONSIDERAÇÃO INVERSA DA PERSONALIDADE


JURÍDICA

A desconsideração inversa da personalidade jurídica exige


igualmente os requisitos dispostos no Art. 50 do Código Civil para sua
concessão, ou seja, deve ficar demonstrado pelo requerente o abuso da
personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela
confusão patrimonial.

No entanto, nenhum desses elementos ficou evidenciado, sendo


indevido o deferimento da desconsideração inversa da personalidade jurídica,
conforme entendimento jurisprudencial:

DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA


INVERSA - Executado empresário individual - Localização
de bem- - Pedido de desconsideração inversa da
personalidade jurídica - Não cabimento - Ausência dos
requisitos objetivos e subjetivos - Constrição do
patrimônio empresa estranha - Impossibilidade: - Não se
admite a extensão da execução aos bens do acervo
patrimonial de empresa constituída pela empresária
individual executada quando existente bem de titularidade
desta, e ainda, por estarem ausentes os requisitos para a
desconsideração inversa da personalidade jurídica.
RECURSO NÃO PROVIDO. (TJSP; Agravo de
Instrumento 2222033-05.2019.8.26.0000; Relator (a):
Nelson Jorge Júnior; Órgão Julgador: 13ª Câmara de
Direito Privado; Foro de Americana - 4ª Vara Cível; Data
do Julgamento: 28/01/2020; Data de Registro:
28/01/2020)

CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. NOTÍCIA DA


AUSÊNCIA DE BENS PENHORÁVEIS. DETERMINAÇÃO
DE DESCONSIDERAÇÃO INVERSA DA
PERSONALIDADE JURÍDICA. NÃO
PREVALECIMENTO. AUSÊNCIA DE INDÍCIO DE
FRAUDE PARA JUSTIFICAR A PROVIDÊNCIA.
RECURSO PROVIDO. A desconsideração da
personalidade jurídica inversa deve pressupor a ocorrência
de fraude, da finalidade de utilização da empresa para
inviabilizar a realização da penhora de bens do executado.
No caso, não existe qualquer indício que ampare tal
medida. Daí advém o reconhecimento da ilegitimidade
passiva da recorrente. (TJSP; Agravo de Instrumento
2216458-16.2019.8.26.0000; Relator (a): Antonio Rigolin;
Órgão Julgador: 31ª Câmara de Direito Privado; Foro de
Guararapes - 2ª Vara; Data do Julgamento: 25/07/2017;
Data de Registro: 22/01/2020)

AGRAVO DE INSTRUMENTO - REPARAÇÃO DE DANOS


MATERIAIS E MORAIS - CUMPRIMENTO DE
SENTENÇA - DECISÃO QUE DEFERIU PEDIDO DE
DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA
INVERSA - EXECUTADO QUE NUNCA PARTICIPOU DO
QUADRO SOCIAL DA EMPRESA AGRAVANTE -
REQUISITOS LEGAIS NÃO DEMONSTRADOS - TEORIA
DA DESCONSIDERAÇÃO QUE DEVE SER APLICADA
COM CAUTELA - AUSÊNCIA DE PROVA CONCRETA --
DADO PROVIMENTO AO RECURSO. (TJSP; Agravo de
Instrumento 2251585-15.2019.8.26.0000; Relator (a):
Silvério da Silva; Órgão Julgador: 8ª Câmara de Direito
Privado; Foro Central Cível - 24ª Vara Cível; Data do
Julgamento: 27/02/2020; Data de Registro: 27/02/2020)

Portanto, o pedido deve ser sumariamente indeferido.

DO SÓCIO RETIRANTE

Não obstante a ausência dos requisitos ensejadores à


desconsideração da personalidade, cumpre destacar que o sócio é retirante há
mais de 2 anos, sendo incabível, portanto, o redirecionamento ao ex-sócio,
conforme precedentes sobre o tema:

AGRAVO DE PETIÇÃO. INCIDENTE DE


DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA.
SÓCIO RETIRANTE HÁ MAIS DE DOIS ANOS. Nos
termos do artigo 10-A, da CLT, o sócio cedente responde
subsidiariamente com o cessionário até dois anos após
averbação de sua exclusão da sociedade. Portanto, não há
como direcionar a execução em face da ex-sócia. (TRT-1,
0101071-45.2018.5.01.0201 - DEJT 2020-02-14, Rel.
CARLOS HENRIQUE CHERNICHARO, julgado em
05/02/2020)

LOCAÇÃO - EMBARGOS À EXECUÇÃO - Impugnação -


Ilegitimidade passiva - Desconsideração da personalidade
jurídica - Sócio retirante que somente responde pelas
obrigações sociais até dois anos após a averbação da
alteração do social - Interpretação dos arts. 1.003 e 1.032
do Código Civil - Sentença mantida. Recurso não provido.
(TJSP; Apelação Cível 1007066-79.2015.8.26.0554;
Relator (a): Sá Moreira de Oliveira; Órgão Julgador: 33ª
Câmara de Direito Privado; Foro de Santo André - 6ª Vara
Cível; Data do Julgamento: 29/01/2020; Data de Registro:
29/01/2020)

SÓCIO RETIRANTE. RESPONSABILIZAÇÃO. PRAZO


PARA INSTAURAÇÃO DO PROCEDIMENTO DE
DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA.
O art. 1032 do CCB limita a responsabilidade do sócio que
se retira da sociedade, em relação às "obrigações
anteriormente assumidas", ao período de dois anos
contados da data da averbação da respectiva alteração
contratual. Nesse contexto, as referidas obrigações, por
dedução lógica, são aquelas contraídas enquanto sócio da
empresa, das quais, direta ou indiretamente, ele se
beneficiou. Dessa forma, a responsabilidade atribuída ao
sócio retirante decorre da consecução concomitante de
dois requisitos, a saber: que não tenha decorrido o prazo
de dois anos, contados da averbação da alteração
contratual, quando da aplicação da desconsideração da
personalidade jurídica e que o ex-sócio tenha integrado a
sociedade à época da prestação dos serviços pelo
empregado. (TRT da 3.ª Região; PJe: 0038900-
36.1997.5.03.0103 (AP); Disponibilização: 17/02/2020;
Órgão Julgador: Setima Turma; Relator: Cristiana
M.Valadares Fenelon)

Ademais, o simples fato de sequer pertencer à administração da


empresa ao tempo do contrato, ora impugnado, fundamenta a exclusão do polo
passivo da demanda:

DESCONSIDERAÇÃO PERSONALIDADE JURÍDICA DA


RÉ. SOCIEDADE ANÔNIMA. ADMINISTRADORES
SUBSTITUÍDOS ANTES CONTRATAÇÃO DOS
AUTORES. IMPOSSIBILIDADE RESPONSABILIZAÇÃO.
Ao tempo da contratação e dispensa dos autores, quando
teria se formado a dívida da ré perante eles, não mais
faziam parte da administração os Srs. ***, motivo pelo
qual não há como se manter a execução em face deles, pois
não foram responsáveis pelos prejuízos verificados nos
autos, tampouco pelo encerramento da empresa, o que só
veio a acontecer anos depois. (TRT-1,
00042001019965010302, Relator Desembargador/Juiz
do Trabalho: Volia Bomfim Cassar, Nona Turma,
Publicação: DOERJ 07-02-2018)

Sendo portanto, incabível o pedido de redirecionamento da


execução ao sócio ________ .

Ademais, considerando que a Recuperação Judicial foi deferida,


demonstra-se a viabilidade da empresa em adimplir suas dívidas, não restando
demonstrada a insuficiência patrimonial necessária para a desconsideração da
personalidade jurídica.

Nesse sentido:

DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA


DE EMPRESA EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL. O
deferimento do processamento da recuperação
judicial demonstra a viabilidade do
restabelecimento da empresa, do que se
depreende que, havendo a possibilidade de
pagamento da dívida, ainda que por meio do Plano de
Recuperação, não há que se falar em insuficiência
patrimonial da empresa, pelo que resta obstada a
configuração do requisito objetivo do instituto da
desconsideração da personalidade jurídica. (TRT-1,
00117347820145010009, Relator Desembargador/Juiz do
Trabalho: GUSTAVO TADEU ALKMIM, Gabinete do
Desembargador Gustavo Tadeu Alkmim, Publicação:
16/02/2019)

Razão pela qual é de se negar o pedido por manifestamente ilegal.

PEDIDOS

Diante todo o exposto, REQUER:

a) Seja permitida a produção probatória, em especial ________ ;

b) Seja julgado totalmente improcedente o incidente de


desconsideração da personalidade jurídica.

Termos em que, pede e espera deferimento.

________ , ________ .

________

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