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Pontes de Miranda, um Metafísico que se Ignora*

Miguel Reale**

As letras jurídicas indeléveis - vede como têm força os idola tribus!


- foram as capelas ou arcas erigidas para relembrar
Há cidades que são como as criaturas juristas da Escola de Bolonha, a qual, a partir do
humanas, das quais só guardamos alguns traços século XI, reconstruiu amorosamente as lições do
essenciais. De umas lembramos mais as linhas Direito Romano hauridas nas matrizes do Corpus
projetantes de uma catedral, a imponência de uma Juris Civilis de Justiniano. Felizes tempos aqueles
praça, um teatro que a outros serviu de modelo, em que o povo eternizava na praça pública figuras
um jardim de canteiros simétricos ou, então, um de jurisconsultos, ao lado de santos e de heróis!
grupo de crianças álacres expandindo saúde em É que a humanidade, na sua constante aspiração
seus trajes tradicionais; de outras cidades o que nos de liberdade e igualdade, sentia que glosadores
resta na memória é apenas uma visão de conjunto, medievais, como Irnério, Accursio e Odofredo,
a composição aparentemente arbitrária ou inten­ estavam lançando as bases de uma nova ordem
cionalmente racionalizada de suas vias públicas, social, legítima porque fundada na constante tenta­
ou de sua dominante arquitetura. Segundo nossos tiva de realizar o justo. Foi na mesma época que da
pendores afetivos ou culturais, a cada localidade alma popular brotaram os cantares dos trovadores,
fazemos corresponder um símbolo que nem sempre intérpretes espontâneos de sua gente, preparando a
coincide com aquele que seus habitantes vaidosa­ emergência das línguas novilatinas, flores do Lácio
mente ostentam. ainda incultas, mas destinadas a resplandecer na
poesia lírica de Petrarca, nas éclogas de Garcilaso
De Bolonha, a douta, o que mais me Im­
de la Vega, nos ensaios de Montaigne, ou na epo­
pressionou não foram as suas arcadas conventuais,
péia de Camões.
nem a vetusta universidade, onde nós brasileiros
apontamos, orgulhosos, entre os brasões dos rei­ Perdoai, senhores, se, com certo artifício de
tores que lhe ornam os capitéis, grandes nomes da bacharel, estou reivindicando para as letras jurídi­
linhagem lusitana ou hispânica, raízes de Coimbra cas, não os puros valores estéticos dos poemas ou
e Salamanca. Nem mesmo domina o campo de mi­ dos romances, mas apenas a humilde função dos
nhas lembranças a torre inclinada dos Garisendi, de alicerces que somente existem para bem servir.
cujas bases contemplei a passagem das nuvens para Nem seria por outra razão que as portas desta
reviver a aflição de Dante sentindo pender sobre ele Academia se abrem, periodicamente, para aco­
e Virgilio o vulto aterrador do gigante Anteu para lher juristas, desde os fundadores, como Clóvis
os transferir à última plataforma do Inferno: Bevilaqua, até Pontes de Miranda, que hoje fes­
Qual pare a riguardar la Garisenda tivamente recebemos, passando por uma plêiade
sotlo i chinato, quando un nuvol vada tão grande de diplomados em leis, cujos valores se
sovr'essa, si che ella incontro penda. projetaram nas mais diferentes manifestações do
(Divina Commedia, Inf., XXXI, 136). espírito, que incorrem em graves erros e lacunas
Da cidade natal dos pintores Caracci e aqueles que pretendem escrever a história da cultu­
Domenichino e dos físicos Galvani e Marconi, ra brasileira fazendo abstração de nossas Faculda­
o que mais se fixou em meu espírito com sinais des de Direito tradicionais.

* Discurso de saudação a Ponles de Miranda ao ser recebido na Academia Brasileira de Lelras no dia 15 de maio de 1979.
** Professor catedrático emérito da Universidade de São Paulo.
Que conquista o mundo inteiro
Dois amigos
Sem nunca ter Waterloo
(Espumas Flutuantes, in Obras Completas,
A Hermes Lima, cultor de Ciência Política e
Rio de Janeiro, 1921, v. I, p. 310).
do Direito, sociólogo e ensaísta de excelsos méritos,
ligam-me linhas afetivas que remontam à minha ju­
ventude, quando, entre surpreso e arrogante, ainda
As convicções do século XIX
nos bancos da Faculdade de Direito de São Paulo,
Quem, ao dedicar-se à Jurisprudência, desde
dele recebia o convite para lecionar Latim e Lite­
a década dos vinte, não encontrou em vossos livros
ratura Latina, talvez no primeiro curso destinado a
manancial inexaurível de doutrina, abrindo cami­
preparar jovens para exames vestibulares. Foram
nhos insuspeitados à experiência jurídica ou política
três anos de convívio, ao lado de Alfredo Ellis, o
de nossa pátria?
historiador e antropogeógrafo, três anos em que
mais aprendi do que ensinei. Aprendi com Hermes Ainda há pouco tempo, convidado por Mario
Lima a arte de não ostentar ciência como condição Rotondi, o venerando mestre da Universidade de
essencial à sabedoria; dele recebi o sereno contem­ Pádua, para traçar o panorama da Ciência Jurídica
plar dos fatos e dos homens, com aquele seu sorriso brasileira nos últimos cem anos, tive a oportunida­
aberto que era como que uma ponte estendida à de de assinalar a vossa decisiva presença em quase
compreensão. todos os quadrantes do Direito. Não creio seja esta
ocasião adequada para analisar quanto contribuístes
Quando inesperadamente nos deixou, foi
para a renovação de nosso saber jurídico, bastan­
parte de minha existência que partiu com ele, como
do salientar que, se com a obra clássica sobre o
bem o soubestes retratar, senhor Pontes Miranda,
Habeas Corpus soubestes dar consciência dogmá­
nos belos versos em que confidenciais:
tica à defesa dos direitos fundamentais do homem,
À medida que os anos passam, cresce com as demais colocastes nossa cultura jurídica
alteando-se, junto a nós, como um suave abrigo,
no mais avançado posto da tradição do Ocidente,
num obscurecer de céus em que anoitece,
desde os domínios do Direito Constitucional aos do
aquele algo de nós que morre em cada amigo.
Processual, do Civil ao Mercantil, do Internacional
(Obras literárias, Rio de Janeiro, 1960, p. 471)
Público ao Privado.
A um amigo sucede outro amigo; a um ju­
A mim, particularmente, logo no início de
rista, outro jurista. Nossa amizade, senhor Pontes
meus estudos, já tocado pelo sortilégio da Filosofia,
Miranda, é quase tão antiga, pois mesmo antes de
o que mais me seduziram foram os vossos livros
contarmos com a vossa prestigiosa presença em São
Paulo, no lO Congresso Internacional de Filosofia
Sistema de Ciência Positiva do Direito, Introdução
à Sociologia Geral e Introdução à Política Cientí­
realizado no Brasil, como parte das comemorações
do IV Centenário da cidade, já compartilhara dos fica.
valores de vosso espírito, desde os aforismos da Mal saídos de uma Conflagração Universal,
"Sabedoria dos Instintos" e da "Sabedoria da Inte­ que iria pôr fim a todo um ciclo de cultura fundada
ligência", até ao monumental edificio jurídico que em desmedida crença na capacidade criadora dos
'"
Q
'C
viestes construindo, pedra por pedra, livro sobre indivíduos e nos poderes demiurgos da ciência,
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=
'C
:;Q
livro, com tal dedicação e desvelo que por certo vos ainda continuamos, por algum tempo, tanto no Bra­
cabem, mais do que a qualquer outro, os versos de sil como no resto do mundo, alimentando a ilusão
Q
Castro Alves, o patrono de vossa Cadeira:
.;'" de podermos manter intocáveis os antigos ídolos
~ Quando ante Deus vos mostrardes que haviam encantado as gerações de Spencer e
Tereis um livro na mão: de Renan. As épocas históricas são dominadas por
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O livro - esse audaz guerreiro natural força de inércia, e, mesmo quando o tufão
das guerras e das revoluções varre a face da Terra, nava a idéia do progresso ilimitado, baseado nas
custa a se recompor, segundo novos lineamentos, leis científicas de pretensa objetividade isenta e
a realidade abalada pelos cataclismos sociais que, transpessoal, já era um grande passo reconhecerdes
inesperadamente, cavam brechas e abismos na con­ o caráter estatístico das leis e a lacunosidade dos or­
vivência humana. denados legais, reivindicando mais autonomia aos
juízes no ato de julgar, como condição de justiça
Mesmo em tais crises de estrutura, por mais
concreta.
que lancemos olhares perscrutadores e angustiados,
tentando romper os mistérios do futuro, jamais nos Fostes, com efeito, o primeiro a empunhar,
libertamos das raízes que nos vinculam ao passado. no Brasil, a bandeira da Livre Investigação do Di­
Somos, queiramos ou não, como o pressentiu o gê­ reito, desde que lastreada em adequados conheci­
nio de Nietzsche, os eternos portadores do cadáver mentos sociológicos; e o fizestes com o entusiasmo
de nós mesmos ao cimo da montanha, o cadáver das que animou a geração que assistia ao declínio da
velhas crenças que formam parte essencial de nos­ Belle Époque, reclamando a supremacia dos fatos
so ser, de sentimentos arraigados que pesam como sociais perante a presumível plenitude hermética
capa de chumbo embaraçando a compreensão dos dos códigos.
novos tempos.
Filho da "Escola de Recife", como com
Destarte, como seria possível não compreen­ acuidade o advertiu Clovis Bevilaqua, comungastes
der o sentido da obra que escrevestes por ocasião com Tobias Barreto em veneração talvez desmedida
do primeiro centenário da Independência do Brasil, pela cultura germânica. Era com incontida alegria
quando fomos naturalmente levados a fazer o balan­ de descobridor de novas plagas que fazíeis a enu­
ço de nosso passado, em visão de futuro? Não foi por meração das novas teorias que deveriam nortear o
acaso que o ano crucial de 1922 acusou um saldo, à Direito, dando valor de "princípios", equiparáveis
primeira vista minguado, mas do mais alto alcance aos das ciências naturais, às diretrizes traçadas por
nos planos político e artístico, com os movimentos von BüIlow, Zitelmann ou Sternberg, princípios
da Semana de Arte Moderna e do Tenentismo, duas esses aos quais vossos discípulos acrescentaram,
formas distintas mas convergentes de descobrir Bra­ depois, com igual deslumbramento, aureolando-os
sil. Não podemos olvidar que é também do mesmo com o vosso nome, outros mais, como o do "espaço
ano o vosso Sistema de Ciência Positiva do Direito, social", da "integração dos círculos sociais" ou da
destinado a rasgar novos horizontes à vida jurídica "diminuição do quantum despótico".
nacional, o que demonstra a sincrônica solidarieda­
Seria enlearmo-nos numa crítica externa
de dos valores em cada ciclo cultural.
infecunda lembrar que a Teoria do Conhecimento,
Focalizada a essa luz, sem o anacromsmo em nossos dias, já superou asserções ilusórias do
perigoso de projetar para o passado as perspectivas cientificismo oitocentista, mostrando quão relativa
do presente, a vossa obra maior de 1922 oferecia à é a objetividade das chamadas ciências exatas, e
meditação brasileira admirável panorama da cultura que, bem longe das certezas inabaláveis, o que
jurídica do século XIX, a qual, na realidade, só co­ caracteriza o saber científico é o reconhecimento
meça a perder substância a partir da Primeira Guerra de sua constante refutabilidade crítica, através de
'"
Q
Oi:
Mundial. renovadas tentativas e testes experienciais. '''''
-1:=
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Se é certo que ainda vos mantínheis apegado Verdade é, porém, que, se vos empolgavam Q
Q

a verdades consideradas definitivas, mas que hoje os triunfos das ciências positivas, tivestes o mérito .;'"
sabemos também relativas e provisórias, tais como de não vos deixar seduzir pelas soluções unilaterais ~
a da universalidade do princípio de causalidade ou ou monocórdicas que erigiam, ora a Física, ora a
19
o primado do método indutivo; se ainda vos fasci­ Matemática, ora a Biologia, em modelo exclusivo
da Realidade, talvez porque o hábito da Jurispru­ ristas, o monismo e o pluralismo, porque o mistério te
dência nos leva, a nós juristas, a uma compreensão das coisas é o uno no mútiplo", e, finalmente: "a tal
unitária e orgânica da vida e do mundo. Metafisica toca com as suas mãos imensas, com n<l

seus milhares de tentáculos, toda a periferia do da


odesafio da realidade objeto: a sua afirmação é toda a esfera da verdade.
Mas não penetra a coisa: os dedos só sentem a su­
A Realidade, palavra que significativamente perficie, o que está fora ou o que a Ciência, para ver,
sempre grafais com maiúscula, foi e talvez continue dissociou e discemiu" (Obras literárias, cit., p. 148,
sendo o vosso tormento, a esfinge que vos devora, 151,152, 156, e 163).
ou, consoante vossas próprias palavras, "a sibila de
Os mesmos ensinamentos, com mais rigor
matéria e de espaço".
técnico, vêmo-Ios repetidos em Sistema de Ciên­
Espírito essencialmente positivo, vinculado cia Positiva do Direito, onde reiterais que "não há n~
ao mundo da causalidade e do factual, nem por isto dúvida que é impossível elidir a coisa em si". No cq,
vos contentais com a fácil redução do real à trama vosso entender, "o terror e a hostilidade à coisa em inj
!
tentadora das aparências ou de meros símbolos si é em grande parte o apego à crença vulgar, ao c~
lingüísticos. Se tudo são relações, não vos iludis dualismo do senso comum, criador da epistemolo­ ~ ]

confundindo o que nossos sentidos nos oferecem gia conservadora". Como se vê, o monismo científi­ tOl
como o Real em si. Eis uma afirmação que a alguns co, em virtude de sua pluralidade imanente, não vos sei,
parecerá estranha, sobretudo a quantos vos apresen­ leva a repelir, como destituído de sentido, problema e~
t, .,
tam como adepto ortodoxo do neopositivismo, para da "face oculta do Real". Com base no princípio do
qual seriam desprovidas de sentido, porque não sus­ "plúrimo no uno" a concepção unitária do cosmos
cetíveis de verificação analítica ou empírica, todas não exclui, como se vê, mas antes postula o "ser em
as asserções de natureza metafisica sobre o ser em si", como tema de inevitável Ontologia. (Op. cit., v.
si, ou os valores fundantes da Ética. I, p. 6, nota 1, e 121 e ss.).
Ainda agora, ao rever vossas obras princi­ Dir-se-á que, com o volver dos anos, aban­
pais, desde os escritos da juventude até aos mais donastes essas teses que, mutatis mutandis, seriam
recentes pronunciamentos, vi confirmado o vosso redutíveis às do "realismo crítico" que, conscien­
persistente reconhecimento de que a rede objetiva temente ou não, está implícito em todas as inves­
das relações, tanto no mundo fisico como no mundo C<l
tigações do empiriocriticismo de Mach, Comelius
moral, submetidos ambos às mesmas leis universais, há
e Avenarius, os autores mais presentes em vossas
não exclui, mas, antes, exige a existência (o termo
páginas filosóficas da década dos 20, mas não é o
é vosso) de algo que se furta e se furtará sempre à
que acontece. p~
nossa capacidade cognoscitiva. O
Se lermos, com efeito, com a devida atenção,
De Sabedoria da Inteligência destaco alguns as
a monografia que, consoante consta do Prefácio,
tópicos elucidativos desse vosso realismo funda­ m
sentistes a necessidade de escrever, em 1937, O
mental, cujo pressuposto é o "ser em si" que recua à dt
Problema Fundamental do Conhecimento, fácil é
medida que a ciência avança, sem que jamais logre d<
perceber que, ao contrário de afirmações correntes,
'"
Q
'i: decifrá-lo por inteiro: "As relações são reais. Não há fi(
'Cll
c:
aceitastes com reservas as afirmações que brotavam
'i: realidade que não sejam relações". (....) "Por mais dt
do "Círculo de Viena", com Wittgenstein, Schlick
-=
Q
c:l
relativistas que sejamos, não devemos e não pode­ m
e Camap à frente, bem como os ensinamentos de
'"&, mos excluir a coisa em si" (....). "Ninguém jamais fil
'i Bertrand Russell e seus continuadores.
-< viu o fundo dos vulcões, mas ele existe"(....) como VI

"existe a coisa em si"(....). "No final todos têm ra­ Fácil é compreender o vosso entusiasmo O
20
zão: cantorianos e pragmatistas, idealistas e empi­ quando após o eclipse de mais de vinte anos, duran- C(

..
te o qual haviam predominado as idéias intuicionis­ reconhecendo a inviabilidade de penetrar-lhe a na­
tas de Bergson ou do pragmatismo anglo-america­ tureza íntima (Op. cit., p. 41, nota e p. 49). Poder­
no, podíeis ver jorrar, novamente, das fontes vivas se-ia afirmar que o que vos separa dos analistas da
da experiência um novo fervor em prol de teses tão linguagem ou do logicismo matemático, cujos altos
caras ao vosso espírito, quanto à necessidade de um méritos a todo instante proclamais, é, em sua, a vos­
pensamento essencialmente vinculado às ciências sa convicção de que não podemos conceber relações
empíricopositivas ou confundido com as ciências que não sejam relações reais. No fundo, poderieis
mesmas! concordar com o espírito subtil de Paul Valéry quan­
do nos adverte sobre a ilusão de contrapormos ao
Quero aqui sublinhar, antes de mais nada,
Real as aparências, pois, bien vite, on vient à penser
a modernidade dos conhecimentos revelados nas
que ce Réel ne vaut mieux que ses apparences, e
pesquisas gnoseológicas, que então realizastes ao
que le mépris du Réel suit immediatement le mépris
nível das mais recentes e decisivas disputas em
de I'apparence - comme le corps suit son ombre
curso na Europa ou na América do Norte, desde as
(Cahiers, Paris, 1973, I, p. 502).
investigações fenomenológicas de Husserl até as
contribuições da Nova Lógica ou da Teoria da Lin­ É claro que vosso pensamento adquire novos
guagem. Não incorrestes, em suma, no equívoco de contornos, em 1937, mas o vosso realismo essencial
tomar nuvem por Juno, enamorando-vos por figuras persiste até se converter, na referida monografia,
secundárias como a de Ludwig Noiré, que fora o numa teoria sistemática sobre o jecto. Que é jecto?
encanto e o pecado de Tobias Barreto, mas soubes­ À primeira vista, parece que tudo se reduz a um
tes assumir posição própria perante o que havia de signo lingüístico, mas, a bem ver, o que reiterais é a
mais representativo nos debates epistemológicos referência imprescindível à Realidade em si, oculta,
de vosso tempo. É esse um traço que merece assi­ pressuposta tanto naquilo que é asserido pelo su­
nalado em vossa produção científica: a atualidade jeito como naquilo que é captado do objeto. Como
da informação essencial, quer se trate de Filosofia, ponderou Djacir Menezes, o jecto é o que escapa às
de Política, de Sociologia ou de Direito, orientação garras apreensoras de nosso poder cognoscitivo, o
que passou a predominar cada vez mais na cultura "inefável" de Hegel, o "incognoscível" de Spencer,
bmsileira, corrigindo-se aquele vazio de gerações a mas, julgo eu, é, sobretudo, a "coisa em si" que, nos
que se referia Silvio Romero, quando anunciávamos escritos juvenis, quisestes transladar do plano trans­
como novidades de última hora teorias já superadas, cendental, em que a situara Kant, para o plano empí­
há muito tempo, em suas fontes inspiradoras... rico, no qual indefinidamente avançam as pesquisas
científicas do Real que, consoante acentuais, "é um
Volvendo, porém, à linha central de vosso
deus, e como todos os deuses, invisível e absoluto"
pensamento; se a vossa Teoria Fundamental do
(Obras literárias, cit., p. 29).
Conhecimento, entendida como Teoria da Ciência,
assume certo ar de auto-suficiência, sob as vestes A bem ver, dais às crenças da mocidade ves­
modernas da linguagem neopositivista, não vos tes mais adequadas aos novos tempos, mas são rou­
deixastes, no entanto, seduzir pelo "fisicalismo" pagens que não logram encobrir a antiga ansiedade,
do primeiro Carnap, assim como vos pareceu que a nudez de nossa insuficiência perquiridora, a inca­
."
no logicismo de Schlich se ocultavam resquícios pacidade irremediável do homem perante a essência Q
'i::
"a
de idealismo: antecipando-vos, de certa forma, a última das coisas, o que, de início, vos fazia oscilar =
'i:
mais atuais posições neopositivistas, continuastes da finitude à infinitude, até uma confissão inespera­ -=
Q
Q

fiel às linhas de um realismo crítico assente em no­ da: "É temerário negar a Deus (....) De minha parte ~
vas bases. Chegastes mesmo a reclamar uma nova não posso não crer: é impertinente a freqüência com ~
Ontologia, não como teoria clássica do Ser, mas que O vejo em meus caminhos" (Obras literárias,
21
como estudo das estruturas do Real, muito embora loco cit.).
Impossível vos parece, portanto, contestar proferido por Du Bois-Reymond. (O problemafun­
que, além da rede de relações, que as percepções damental do conhecimento, cit., p. 29 e ss.).
sensitivas vão tecendo, resta sempre algo de into­
Ora, o Direito, em vossa teoria, não é senão
cável e de inatingível, fechada ao homem a via das
um momento da harmonia cósmica, até o ponto de
essências. Daí ser a vossa Teoria Fundamental do
afirmardes que há sempre um aspecto jurídico em
Conhecimento, em seu sentido predominante, um
todos os seres do universo. Vossa afirmação é, nesse
diálogo com Edmund Husserl, o qual tentando supe­
rar Kant nas linhas de um novo platonismo, visara a
sentido, peremptória, bastando para comprová-lo ,
I.
uma única citação: "Quando o mineral se cristaliza
alcançar o eidos, a essência da Realidade. Não obs­
em poliedros, escrevestes, há certo ritmo que, se não
tante vosso acordo com o mestre da Fenomenologia
é o nosso direito, deve ser algo de vivo e de natural
quanto à necessidade de "volver às coisas mesmas",
como ele" (Sistema, cit., v. 11, p. 84).
reconhecendo que "perceber é perceber algo" (Op.
cit., Porto Alegre, 1937, p. 63), reiteradamente con­ Por essa razão, o Direito não vos parece ser
testais a posição husserliana, de cunho idealista, "fenômeno peculiar ao homem, e nem mesmo ao
sustentando uma solução que, em última análise, mundo orgânico"(....) pois "podemos mostrá-lo
se mantém fiel à filosofia metaempírica de Mach entre os sólidos inorgânicos (espaço euclidiano)
e Avenarius. Trata-se, como se percebe, de assunto bem como no mundo das figuras bidimensionais",
que deveria merecer mais atenta e demorada análise por significar apenas um sistema de relações e con­
por parte de nossos estudiosos das idéias, mas que ciliações, de composições de forças, ou, por outras
não se harmoniza com a natureza deste nosso en­ palavras, uma expressão da lei geral de expansão e
contro, onde a Filosofia pura pode parecer conviva de adaptação que governa o universo. (Op. cit., v. 11,
petulante e intruso... p. 26 e passim).

No contexto dessa concepção cósmica,


Um romântico do naturalismo cósmico perguntar-se-á como é que, apesar de todo vosso
extremado amor pelo determinismo causal, - a tal
É possível, meu caro Pontes de Miranda, que,
ponto que o Direito só pertenceria ao "mundo do
a esta altura, já estais estranhando a imagem que
ser", e nunca ao do "dever ser", - toda a vossa obra
faço surgir de vossos escritos, bem diversa da rígi­
jurídico-política possa ter como fulcro essencial a
da catadura que, em geral, se tem de vossa posição
idéia de liberdade.
científica, tão habituados andam quase todos com
contornos castigados, para não dizer, retorcidos de É que em vosso pensamento atua outro prin­
vosso estilo, mais preocupado com "a verdade fáti­ cípio, não menos relevante, que é o da adaptação
ca" do que com o adorno da frase. contínua dos seres ao processo evolutivo do Real,
até culminar na autoconsciência do homem, o que
Talvez causará maior surpresa se vos disser
vos aproxima, penso eu, do conceito de liberdade
que, indo ao fundo do vosso sistema de idéias,
de Espinosa, como "consciência da necessidade", à
todo alimentado de aparente positividade escrita,
medida que esta vai sendo revelada, segundo seus
descubro um romântico da universidade cósmica,
nexos causais, graças à indagação cientifico-positi­
segundo o princípio que enunciastes nas obras ju­
'"
Q
va da Natureza, cujos resultados espontaneamente
,...,
'C venis, e viestes confirmando pelo tempo afora: a
c se impõem a todos os espíritos.
'oS verdade do uno no múltiplo. Estais convicto de que,
Q
6 na "peregrinação sacra" dos "exploradores da Natu­ Em vossa concepção, a evolução universal
'"
s;, reza", a harmonia só existe no "Real em si" e que, atinge o seu momento culminante com o advento do
~ feitas as contas, o não conhecido é a razão última de espírito como integração individual plena, quando
nossa paixão de conhecer, tanto assim que não vos toma "tudo o que é seu, objeto de sua posse". Nessa
22
conformais com o ignorabimus desconsoladamente ordem de idéias surge, em vossos escritos, a figura

lIIIIIIIí
do Cristo, do "homem-deus", como a plenitude da Sei que jamais quisestes pactuar, um ins­
integração e da liberdade: "tudo nele está integrado, tante sequer, com qualquer compreensão jurídica
assim o dissestes, na sua divina humildade e todo de tipo emocional, tão profunda é vossa crença no
ele entregue a si mesmo. Daí aquela estranha genia­ encadeamento do universo segundo leis quantifi­
lidade de ser sublime na fraqueza.... Integrou-se, eis cáveis. Em vossos ensaios juvenis já se encontra,
tudo" (A sabedoria dos instintos, em Obras literá­ com outros ritmos, a mesma concepção cósmica
rias, cit., p. 54). que sempre animou vossa atividade intelectual. Só
que nas meditações da adolescência ou da primeira
Não obstante essa visão panteista (e que
juventude noto mais audácia e fantasia, achegadas
outro adjetivo poderia eu empregar?) não falta em
ao gênío de Nietzche, cuja presença me parece mar­
vossos escritos a atração rumo à transcendência,
cante em vossos aforismos, mesmo quando radical­
não só pelo fato de ser pressuposta a face oculta
mente vos afastais dele.
das coisas no nosso processo infindável do conhe­
cimento, como também porque declarais que todas A escolha mesma do aforismo para expres­
as verdades se refletiram, certo momento, em Jesus, são do pensamento é de incontestável inspiração
"como no espelho instantâneo da Realidade" (Op. nietzcheana; aceitastes, com galhardia, o risco das
cit., p. 131). sentenças atômicas e conceituosas, que tanto se
prestam a revelar a pérola de uma idéia criadora
No jogo das perspectivas encastoada na ostra na frase, como para ocultar a
pedra dura de um dogma.
Não estou certo, senhor Pontes Miranda, de
Em vossos aforismos, que mereceram elo­
ter conseguido oferecer pálida idéia de todo o rico
gios encomiástivos de João Ribeiro e justo galardão
jogo de perspectivas que se projeta no decurso de
desta Academia, vossa cosmovisão é a da natureza
vossa longa e fecunda existência, nem penso poder
que progressivamente se auto-revela, graças ao
sempre contar com a vossa concordância, mas, no
dizer acertado de Nicolai Hartmann, o drama maior constante esforço humano de perquirir e conhecer,
de todo escritor consiste em não lhe ser dado saber até surgirem o gênio, o sábio, o profeta, o super-ho­
qual o sentido mais profundo e duradouro de sua mem, personagens que, a todo instante, ressoam em
própria obra. vossas sentenças, confirmando amorável convívio
com as obras aliciantes de Nietzche. Ama-se tam­
Está na moda remontarmos aos escritos da
bém por contrastes...
mocidade para melhor compreendermos a imagem
dos autores, tendo tido sucesso a descoberta do "jo­ Tudo vos parece governado pela Energia
vem Hegel" ou do "jovem Marx". Fuí atraído a ver primeva, a qual ordena o mundo infindável das rela­
no "jovem Pontes Miranda" a raiz do batalhador que ções naturais e humanas segundo leis de simetria e
se espalha nas monografias jurídicas e na recém-pu­ adaptação. É a Energia que colocais no princípío de
blicada Democracia. Liberdade, Igualdade, na qual tudo; não o Verbo, que é a palavra absoluta e trans­
a conquista dos valores mais autos da cidadania cendente; nem a Ação, que é o impulso criador do
avança pari passu com as crescentes realizações das poder humano. A Energia, ao contrário, é o princí­
ciências positivas, o que vos leva a enaltecer o papel pio do Todo englobante, cujo conhecimento, jamais
da educação do povo como condição primordial à concluso, se impõe como dever e missão irrenunciá­
vída democrática. Nem vos falta, perdoai-me se vos
veis aos seres humanos, sujeitos às leis do universo,
digo, o exagero de víncular, por excessivo apego
as mesmas para os insetos e as estrelas.
intelectualista, os males dos regímes autocráticos de
nossa época à Fílosofia intuicionista de Bergson, em Se vos mantivestes fiel, de maneira geral, a
cujas lições outros juristas se inspiraram para captar tais premissas, podemos, contudo, observar muta­
23
a justiça em sua pureza nascente.... ções naturais em vosso pensamento, vínculadas às
vicissitudes sociais e históricas de nosso atormen­ ao ideal da Democracia Social, ao Estado de Direito mér
a
tado século. Não ignoro que, na 2 edição de vosso entendido como Estado da participação e da justiça liçã4
Sistema, julgais poder confirmar, serenamente, o sociais, acha-se em sintonia com o vosso entendi­ parti
já pensado e escrito meio século antes (Op. cit., 2a mento do Direito como processo de constante adap­
ed., 1972, v. I1I, p. 317) mas, se a linha essencial de tação e integração, visando a compor em unidade os
ee
vosso pensamento se mantém inalterada, não posso "supedâneos fáticos" com as diretivas consagradas
no
deixar de observar compreensíveis mudanças, mes­ nas regras jurídicas, sempre em busca da justiça que
mo porque não transitamos pelo espaço social, pas­ pretendeis possa e deva ser "concreta, social, verifi­
sando de um a outro "campo de energia", distintos cável e conferível como fato".
apenas por diferenças de graus, num cenário neutro
Se abrandastes, por conseguinte, a rebeldia
e homogêneo, mas participamos, antes, racional e
juvenil contra o mundo das normas, embora rea­
emotivamente, de um mundo concreto de exigên­
firmando a natureza "factual" da Ciência Jurídica,
cias vitais, contrastantes e imprevisíveis.
distinta da atividade dos aplicadores das regras,
Assim é que o vosso entusiasmo juvenil pela parece-me inegável que, a exemplo dos mestres
Livre indagação do Direito não se consolida nas alemães que teceram a nova Teoria Geral do Direito
obras posteriores de jurista, nos clássicos Comentá­ a partir do Código Civil germânico de 1900, em
rios às Constituições, ao Código de Processo Civil, igual tarefa hercúlea vos empenhastes, elaborando
ou no monumental Tratado de Direito Privado, poderoso trabalho hermenêutico sobre as bases de
cujos sessenta tomos já bastariam para demonstrar nossa Lei Civil de 1916. Não desejo passar, aqui,
títuJ
que, no que se refere à experiência jurídica, não so­ sem reparo, que nessa construção de teórico do
daq
mos um povo subdesenvolvido, verdade que merece Direito, atuastes com admirável rigor técnico, bem
clali
assinalada, desde a produção genial de Teixeira de como com ampla visão histórica, na qual soubestes
má~
Freitas. reservar papel de grande relevo aos antigos ensina­
mentos tanto dos jurisconsultos romanos como dos
Nada tenho a cntIcar-vos, por terdes reco­
praxistas portugueses, os quais preferiam a concre­ algu
nhecido que, por mais que o jurista possa e deva
titude do real aos enunciados puramente formais das justi
se valer das pesquisas sociológicas, econômicas,
normas jurídicas.
psicológicas etc., segundo dados objetivos colhidos com
nas relações factuais, jamais poderá ele transpor, a Mas, se algo de significativo me parece ter o cc
seu talante, os horizontes fixados pelo sistema das mudado em vossa compreensão de jurista, como com
normas jurídicas, horizontes móveis, é certo, em fruto de diuturnas e desveladas experiências, penso são
função de renovadas exigências sociais, mas que que em outros pontos renuciastes também a certas mas
excluem o arbítrio do juiz, tão condenável como afirmações da juventude de cunho arrogante varo­ veri:
qualquer outro arbítrio. nil. Estou certo de que não diríeis mais, nos dias de
justi
hoje, que a mulher é simples reflexo da idealização
Na realidade, a Escola da Livre Pesquisa do
que dela faz o homem que a ama; nem que a men­
Direito, como assinala Max Ascoli, representou uma
talidade feminina "consiste em simples jogo, mais um
ventania romântica que percorreu todos os quadran­
ou menos ardiloso, de imagens e vãs mundanida­ resu
tes do Direito. Ventania benéfica que derrubou os ra­
des". Nem tampouco corríeis o risco de asseverar mor
'"
Q
't; mos secos do formalismo jurídico imperante numa
'Cl:I que Eva "não foi feita para o Paraíso, mas para ser a di
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't;
::;
fase dominada pela compreensão individualista dos
expulsa...." (A sabedoria dos instintos, em Obras
Q
valores sociais; ventania que, sacudindo os troncos teve
Q
'"
literárias, cit., p. 57 e 59). não
g>" da Ciência Jurídica, teve a virtude de fortalecer as
~ raízes do Direito, dando início ao processo de sua Paladino ardoroso dos direitos humanos,
... Ta
crescente socialização. O socialismo democrático, aprendestes que, afinal, em matéria de sexos, tudo a25
24
que pregais, e que, segundo me parece, corresponde nos une e nada nos separa..., inclusive no plano dos **A

.....
méritos, das prerrogativas e dos deveres: é essa a descobridor da natureza e da vida, em todo aquele
lição que, inegavelmente, brota de vossos livros, a que, no ardor da conquista, sabe aguardar, paciente,
partir da maturidade. a resposta oculta no âmago dos seres.

Ai de nós se não tivéssemos a oportunidade Ninguém entra tarde em nossa Confra­


e encanto de alterar idéias e sentimentos, captando na, mas sempre a seu tempo e a sua hora, e,
no húmus da vida humana a inspiração de renovadas incontinenti, o tempo retroage ao instante do nosso
perspectivas! primeiro ato criador. No vosso caso, senhor Pontes
É com essa bagagem cultural multiforme, Miranda, podeis relembrar, para vaidade recíproca,
que, esta noite, a nossa Academia vos recebe. Filó­ o que escrevestes, pouco mais que adolescente:
sofo, jurisconsulto, sociólogo, ensaísta e poeta, por Na história da inteligência, os últimos lem­
duas vezes laureado por esta Casa, por três vezes brados são os mais gloriosos. Glória que tarda é
batestes à sua porta, e, por fim, foi ouvido o apelo maior, porque exigiu mais altos espíritos que a
do Don Juan, que, certa feita, enxergastes em todo pudessem sentir e proclamar.

Problemática da Justiça*
Miguel Rea/e**

Resolvera, de início, dar à presente palestra o Antes desse momento insondável de auto­
título genérico de "Teorias da Justiça", mas, à medi­ consciência espiritual, a justiça jazia no plano divi­
da que a pesquisa veio se desenvolvendo, tomou-se no, aventando Cassirer a hipótese de que a primeira
claro que a denominação mais adequada é "Proble­ idéia de uma ordem justa ou harmônica (idéias de
mática da Justiça". início intercambiáveis) teria sido inspirada pela or­
dem dos astros, pela periodicidade da visão regular
Meu propósito, com efeito, não é delinear do solou da lua.
algumas das mais significativas doutrinas sobre a
Obedecer à ordem cósmica era seguir a or­
justiça, visando determinar seu conceito ou idéia,
dem justa, de tal modo que a justiça não era senão
conforme distinção feita por Kant entre um e outra;
uma modalidade da ordem posta pelos deuses.
o conceito como afirmação de algo suscetível de
Themis e Diké eram a personificação da ordem di­
comprovação experiencial; e a idéia como expres­ vina, a que os seres humanos deviam obediência,
são pela razão de algo dotado de força regulativa, não podendo ajustiça ser senão umfato, ou melhor,
mas não possível de prova. O que pretendo é antes fado, que é o fato envolto no mistério.
verificar como, ao longo da história, o problema da
Pode-se, pois, conjeturar (no sentido que
justiça foi posto e estudado.
dou a esta palavra) que, antes de tudo, a justiça
Quando surgiu a problemática do justo como imperou como algo de objetivo, independente da
um campo autônomo de conhecimento? Esse foi o subjetividade humana. Pode-se dizer também que
resultado de milênios da experiência humana, até o a multimilenar história da justiça é a do conflito ou
momento em que o homem, sem negar de antemão dialética entre o que há de subjetivo ou objetivo,

a divindade, procurou situar-se perante ela,ou seja, como se verá.

teve a intuição primeira de possuir algo de próprio, É que a idéia de justiça se confunde com
não obstante o supremo poder dos deuses. o ideal de justiça, envolvendo sempre elementos

* Texto básico da conferência de abertura do XVIII Seminário Roma-Brasília. realizado no Superior Tribunal de]ustiça, em Brasília/DF. de 23
a 25 de agosto de 2001.
** Professor catedrático emérito da Universidade de São Paulo.

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