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Decisão do STF sobre a autonomia dos partidos para a duração dos mandatos de seus

dirigentes e para a vigência dos órgãos provisórios dos partidos (Lei 13.831/2019)
Os partidos políticos podem, no exercício de sua autonomia constitucional, estabelecer a
duração dos mandatos de seus dirigentes, desde que compatível com o princípio
republicano da alternância do poder concretizado por meio da realização de eleições
periódicas em prazo razoável. É inconstitucional a previsão do prazo de até oito anos
para a vigência dos órgãos provisórios dos partidos, para evitar distorções ao claro
significado de “provisoriedade”, notadamente porque, nesse período, podem ser
realizadas distintas eleições em todos os níveis federativos. É constitucional a previsão
de concessão de anistia às cobranças, devoluções ou transferências ao Tesouro Nacional
que tenham como causa as doações ou contribuições feitas em anos anteriores por
servidores públicos que exerçam função ou cargo público de livre nomeação e
exoneração, desde que filiados a partido político.
STF. Plenário. ADI 6230/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 5/8/2022
(Info 1062).

As mudanças promovidas pela Lei 14.230/2021 no elemento subjetivo e na prescrição


da improbidade administrativa retroagem?
A revogação da modalidade culposa do ato de improbidade administrativa, promovida
pela Lei 14.230/2021, é irretroativa, de modo que os seus efeitos não têm incidência em
relação à eficácia da coisa julgada, nem durante o processo de execução das penas e seus
incidentes.
Incide a Lei 14.230/2021 em relação aos atos de improbidade administrativa culposos
praticados na vigência da Lei 8.429/92, desde que não exista condenação transitada em
julgado, cabendo ao juízo competente o exame da ocorrência de eventual dolo por parte
do agente.
Os prazos prescricionais previstos na Lei 14.230/2021 não retroagem, sendo aplicáveis a
partir da publicação do novo texto legal (26.10.2021).
Tese fixada pelo STF:
1) É necessária a comprovação de responsabilidade subjetiva para a tipificação dos atos
de improbidade administrativa, exigindo-se — nos artigos 9º, 10 e 11 da LIA — a
presença do elemento subjetivo — DOLO;
2) A norma benéfica da Lei 14.230/2021 — revogação da modalidade culposa —, é
IRRETROATIVA, não tendo incidência em relação à eficácia da coisa julgada; nem
tampouco durante o processo de execução das penas e seus incidentes;
3) A nova Lei 14.230/2021 aplica-se aos atos de improbidade administrativa culposos
praticados na vigência do texto anterior da lei, porém sem condenação transitada em
julgado, em virtude da revogação expressa do texto anterior; devendo o juízo competente
analisar eventual dolo por parte do agente;
4) O novo regime prescricional previsto na Lei 14.230/2021 é IRRETROATIVO,
aplicando-se os novos marcos temporais a partir da publicação da lei.
STF. Plenário. ARE 843989/PR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 18/8/2022
(Repercussão Geral – Tema 1.199) (Info 1065).
Não cabe MS para questionar o parecer da comissão de heteroidentificação, que não
aceitou a autodeclaração de cotista em concurso
STJ. 1ª Turma. RMS 58.785-MS, Rel. Min. Sérgio Kukina, 23/08/2022 (Info 746).

Servidor público que se apropria dos salários que lhe foram pagos e não presta os
serviços, não comete peculato
A conduta do servidor poderia ter repercussões disciplinares ou mesmo no âmbito da
improbidade administrativa, mas não se ajusta ao delito de peculato, porque seus
vencimentos efetivamente lhe pertenciam.
Se o servidor merecia perceber a remuneração, à luz da ausência da contraprestação
respectiva, é questão a ser discutida na esfera administrativo-sancionadora, mas não na
instância penal, por falta de tipicidade. STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 2.073.825-RS,
Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 16/08/2022 (Info 746).

A guarda municipal não pode exercer atribuições das polícias civis e militares; a sua
atuação deve se limitar à proteção de bens, serviços e instalações do município
Caso concreto: dois guardas municipais estavam fazendo um patrulhamento nas ruas do
bairro quando se depararam com Douglas sentado na calçada. Ao avistar a viatura,
Douglas se levantou e colocou uma sacola plástica na cintura. Os guardas municipais
desconfiaram da conduta e decidiram abordá-lo. Os agentes fizeram uma revista pessoal
e encontraram drogas na posse de Douglas, que foi preso em flagrante. Para o STJ, essa
busca pessoal foi ilegal e, portanto, a prova dela derivada também é ilícita.
As guardas municipais não possuem competência para patrulhar supostos pontos de
tráfico de drogas, realizar abordagens e revistas em indivíduos suspeitos da prática de tal
crime ou ainda investigar denúncias anônimas relacionadas ao tráfico e outros delitos cuja
prática não atinja de maneira clara, direta e imediata os bens, serviços e instalações
municipais.
A Constituição Federal de 1988 não atribui à guarda municipal atividades ostensivas
típicas de polícia militar ou investigativas de polícia civil, como se fossem verdadeiras
“polícias municipais”. (STJ. 6ª Turma. REsp 1.977.119-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti
Cruz, julgado em 16/08/2022 (Info 746).

Incide a Súmula 326 do STJ, mesmo no caso de discrepância entre o valor indicado no
pedido e o quantum arbitrado na condenação, não havendo falar em sucumbência dos
autores da demanda, vencedores em seu pedido indenizatório
Caso concreto: João ajuizou ação de indenização por danos morais contra o jornal pedindo
R$ 1 milhão de reparação. O juiz reconheceu que o jornal cometeu grave erro na
reportagem veiculada, praticando, portanto, ato ilícito, condenou o réu ao pagamento de
apenas R$ 25 mil. O jornal recorreu alegando que, como o autor pediu 1 milhão e somente
obteve 25 mil, ele obteve provimento equivalente a 2,5% do valor pleiteado, devendo,
portanto, ser condenado ao pagamento de 97,5% dos honorários advocatícios e das verbas
de sucumbência.
O STJ acolheu a tese do réu? Não.
Aplica-se aqui a Súmula 326-STJ: Na ação de indenização por dano moral, a condenação
em montante inferior ao postulado na inicial não implica sucumbência recíproca. O
entendimento exposto na Súmula 326 do STJ permanece válido mesmo depois que o art.
292, V, do CPC/2015 passou a exigir que o autor da demanda indique o valor pretendido
a título de reparação pelos danos morais que diz haver suportado. STJ. 4ª Turma. REsp
1.837.386-SP, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 16/08/2022 (Info 746).

As entidades beneficentes prestadoras de serviços à pessoa idosa têm direito à


assistência judiciária gratuita, sem precisar comprovar insuficiência econômica
Pessoas jurídicas sem finalidade lucrativa também precisam demonstrar essa
precariedade de sua situação financeira para terem direito à justiça gratuita?
Em regra, sim. É necessário demonstrar.
Súmula 481-STJ: Faz jus ao benefício da justiça gratuita a pessoa jurídica com ou sem
fins lucrativos que demonstrar sua impossibilidade de arcar com os encargos processuais.
Contudo, existe uma exceção:
As entidades beneficentes prestadoras de serviços à pessoa idosa, em razão do seu caráter
filantrópico ou sem fim lucrativo e da natureza do público atendido, têm direito ao
benefício da assistência judiciária gratuita, independentemente da comprovação da
insuficiência econômica. Isso ocorre em razão da previsão específica do art. 51 do
Estatuto do Idoso:
Art. 51. As instituições filantrópicas ou sem fins lucrativos prestadoras de serviço às
pessoas idosas terão direito à assistência judiciária gratuita.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.742.251-MG, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 23/08/2022
(Info 746).

O princípio da intranscendência da pena também se aplica para pessoas jurídicas;


assim, se uma empresa que está respondendo processo por crime ambiental for
incorporada, sem nenhum indício de fraude, haverá extinção da punibilidade
O princípio da intranscendência da pena, previsto no art. 5º, XLV, da CF/88, tem
aplicação às pessoas jurídicas. Afinal, se o direito penal brasileiro optou por permitir a
responsabilização criminal dos entes coletivos, mesmo com suas peculiaridades
decorrentes da ausência de um corpo biológico, não pode negar-lhes a aplicação de
garantias fundamentais utilizando-se dessas mesmas peculiaridades como argumento.
Se a pessoa jurídica que estava respondendo processo penal por crime ambiental for
incorporadora, ela se considera legalmente extinta (art. 219, II, da Lei nº 6.404/76). Logo,
neste caso, se não houver nenhum indício de fraude, deve-se aplicar analogicamente o
art. 107, I, do CP (morte do agente), com a consequente extinção de sua punibilidade.
Obs: este julgamento tratou de situação em que a ação penal foi extinta pouco após o
recebimento da denúncia, muito antes da prolação da sentença. Ocorrendo fraude na
incorporação (ou, mesmo sem fraude, a realização da incorporação como forma de
escapar ao cumprimento de uma pena aplicada em sentença definitiva), haverá evidente
distinção em face do precedente ora firmado, com a aplicação de consequência jurídica
diversa. É possível pensar, em tais casos, na desconsideração ou ineficácia da
incorporação em face do Poder Público, a fim de garantir o cumprimento da pena.
STJ. 3ª Seção. REsp 1.977.172-PR, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 24/08/2022
(Info 746).
NÃO é cabivel desclassificar estupro de vulnerável p/ importunação sexual
Presente o dolo específico de satisfazer à lascívia, própria ou de terceiro, a prática de ato
libidinoso com menor de 14 anos configura o crime de estupro de vulnerável (art. 217-A
do CP), independentemente da ligeireza ou da superficialidade da conduta, não sendo
possível a desclassificação para o delito de importunação sexual (art. 215-A do CP).
STJ. 3ª Seção. REsp 1.959.697-SC, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 08/06/2022

A simples habilitação do advogado nos autos de processo conduzido por juiz que é seu
inimigo não se enquadra, por si só, na situação do art. 256 do CPP
A hipótese excepcional do art. 256 do CPP somente pode ser reconhecida se o magistrado
ou o Tribunal, atendendo a elevado ônus argumentativo, demonstrar de maneira
inequívoca que o excipiente provocou dolosamente a suspeição. Não cabem, aqui,
intuições, conjecturas ou palpites, sendo imprescindível a comprovação do artifício
ilícito, devidamente fundamentada na decisão ou acórdão.
Art. 256. A suspeição não poderá ser declarada nem reconhecida, quando a parte injuriar
o juiz ou de propósito der motivo para criá-la.
STJ. 5ª Turma. AREsp 2.026.528-MG, Rel. Min. Ribeiro Dantas, 07/06/2022 (Info 740).

A prerrogativa de prazo em dobro para as manifestações processuais também se aplica


aos escritórios de prática jurídica de instituições privadas de ensino superior
A partir da entrada em vigor do art. 186, § 3º, do CPC/2015, a prerrogativa de prazo em
dobro para as manifestações processuais também se aplica aos escritórios de prática
jurídica de instituições privadas de ensino superior. Art. 186. A Defensoria Pública
gozará de prazo em dobro para todas as suas manifestações processuais. (...) § 3º O
disposto no caput aplica-se aos escritórios de prática jurídica das faculdades de Direito
reconhecidas na forma da lei e às entidades que prestam assistência jurídica gratuita em
razão de convênios firmados com a Defensoria Pública. STJ. Corte Especial. REsp
1.986.064-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 01/06/2022 (Info 740).

O rol de procedimentos e eventos da ANS é meramente explicativo ou taxativo? O plano


de saúde pode se recusar a cobrir tratamento médico voltado à cura de doença coberta
pelo contrato sob o argumento de que o referido tratamento não está previsto na lista
de procedimentos da ANS?
1 - O rol de Procedimentos e Eventos em Saúde Suplementar é, em regra, taxativo;
2 - A operadora não é obrigada a arcar com tratamento não constante do rol da ANS se
existe, para a cura do paciente, outro procedimento eficaz, efetivo e seguro já incorporado
ao rol;
3 - É possível a contratação de cobertura ampliada ou a negociação de aditivo contratual
para a cobertura de procedimento extra rol;
4 - Não havendo substituto terapêutico ou esgotados os procedimentos do rol da ANS,
pode haver, a título excepcional, a cobertura do tratamento indicado pelo médico ou
odontólogo assistente, desde que
(i) não tenha sido indeferido expressamente, pela ANS, a incorporação do
procedimento ao rol da Saúde Suplementar;
(ii) haja comprovação da eficácia do tratamento à luz da medicina baseada em
evidências;
(iii) haja recomendações de órgãos técnicos de renome nacionais e estrangeiros; e
(iv) seja realizado, quando possível, o diálogo interinstitucional do magistrado com entes
ou pessoas com expertise técnica na área da saúde, incluída a Comissão de Atualização
do rol de Procedimentos e Eventos em Saúde Suplementar, sem deslocamento da
competência do julgamento do feito para a Justiça Federal, ante a ilegitimidade
passiva ad causam da ANS.
STJ. 2ª Seção. EREsp 1.886.929-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
08/06/2022 (Info 740).

O hospital que deixa de fornecer o mínimo serviço de segurança, contribuindo de forma


determinante e específica para homicídio praticado em suas dependências, responde
objetivamente pela conduta omissiva
Caso concreto: o hospital não possuía nenhum serviço de vigilância e o evento morte
decorreu de um disparo com arma de fogo contra a vítima dentro do hospital. A conduta
do hospital que deixa de fornecer o mínimo serviço de segurança e, por conseguinte,
despreza o dever de zelar pela incolumidade física dos seus pacientes contribuiu de forma
determinante e específica para o homicídio praticado em suas dependências, afastando-
se a alegação da excludente de ilicitude, qual seja, fato de terceiro. STJ. 2ª Turma. REsp
1.708.325-RS, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 24/05/2022 (Info 740).

É possível ao devedor poupar valores sob a regra da impenhorabilidade no patamar de


até 40 salários mínimos, não apenas aqueles depositados em cadernetas de poupança,
mas também em conta corrente ou em fundos de investimento, ou guardados em papel-
moeda
O art. 833, X, do CPC estabelece que são impenhoráveis “a quantia depositada em
caderneta de poupança, até o limite de 40 (quarenta) salários-mínimos”.
A abrangência da regra do art. 833, X, do CPC/2015 se estende a todos os numerários
poupados pela parte executada, até o limite de 40 (quarenta) salários mínimos, não
importando se depositados em poupança, conta-corrente, fundos de investimento ou
guardados em papel-moeda, autorizando as instâncias ordinárias, caso identifiquem abuso
do direito, a afastar a garantia da impenhorabilidade.
STJ. 2ª Seção. EREsp 1.330.567/RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, DJe de 19/12/2014.
STJ. 4ª Turma. AgInt no REsp 1.958.516-SP, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em
14/06/2022 (Info 742).
Não se deve designar a audiência de que trata o art. 16 da LMP se a mulher manifesta
interesse de desistir da representação após o recebimento da denúncia
A realização da audiência prevista no art. 16 da Lei nº 11.340/2006 somente se faz
necessária se a vítima houver manifestado, de alguma forma, em momento anterior ao
recebimento da denúncia, ânimo de desistir da representação.
STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1.946.824-SP, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em
14/06/2022 (Info 743).
Na ação de reintegração exige-se a citação de todos os que exercem a posse simultânea
do imóvel, considerando que são litisconsortes passivos necessários
Na hipótese de composse (quando mais de uma pessoa exerce a posse do mesmo bem), a
decisão judicial de reintegração de posse deverá atingir de modo uniforme todas as partes
ocupantes do imóvel, configurando-se caso de litisconsórcio passivo necessário.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.811.718-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
02/08/2022 (Info 743).
O art. 1.005 do CPC somente se aplica para qualquer litisconsórcio q gere situação
injusta
A regra do art. 1.005 do CPC/2015 não se aplica apenas às hipóteses de litisconsórcio
unitário, mas, também, a quaisquer outras hipóteses em que a ausência de tratamento
igualitário entre as partes gere uma situação injustificável, insustentável ou aberrante.
Art. 1.005. O recurso interposto por um dos litisconsortes a todos aproveita, salvo se
distintos ou opostos os seus interesses. A expansão subjetiva dos efeitos do recurso pode
ocorrer em três hipóteses:
1) quando há litisconsórcio unitário (art. 1.005, caput, c/c o art. 117 do CPC/2015);
2) quando há solidariedade passiva (art. 1.005, parágrafo único, do CPC/2015); e
3) quando a ausência de tratamento igualitário entre as partes gerar uma situação
injustificável, insustentável ou aberrante (art. 1.005, caput, do CPC/2015).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.993.772-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 07/06/2022
(Info 743).

O prazo prescricional para pedir reparação por danos causados por fundação privada
de apoio à universidade pública é de 5 anos
A fundação privada de apoio à universidade pública presta serviço público, razão pela
qual responde objetivamente pelos prejuízos causados a terceiros, submetendo-se a
pretensão indenizatória ao prazo prescricional quinquenal previsto no art. 1º-C da Lei nº
9.494/97.
STJ. 2ª Turma. AREsp 1.893.472-SP, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 21/06/2022
(Info 744).

A mesma autoridade que ofereceu denúncia criminal contra o suspeito pode atuar
como julgadora no processo administrativo que apura o mesmo fato (PGJ-SP)
O oferecimento de denúncia criminal por autoridade que, em razão de suas atribuições
legais, seja obrigada a fazê-lo não a inabilita, só por isso, a desempenhar suas funções
como autoridade julgadora no processo administrativo. Caso concreto: membro do MP
praticou fato que, em tese, configura, ao mesmo tempo, infração disciplinar e crime. Foi
instaurado processo administrativo. Além disso, o PGJ ofereceu denúncia criminal.
Depois da denúncia, chegou ao fim o processo administrativo e o mesmo PGJ aplicou
sanção disciplinar. Ele poderia ter feito isso. Não há, nesse caso, comprometimento da
imparcialidade. STJ. 1ª Turma. RMS 54.717-SP, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em
09/08/2022 (Info 744).

Acesso ao chip telefônico descartado pelo acusado em via pública não se qualifica
como quebra de sigilo telefônico
Caso adaptado: João praticou um roubo contra uma pessoa em via pública. O crime foi
presenciado por policiais militares que estavam em uma viatura e iniciaram perseguição
para prender o sujeito. Durante a fuga, João jogou fora um simulacro de arma de fogo,
um aparelho celular e um chip de operadora de telefonia, objetos recolhidos pelos
policiais em via pública.
Apreendido o chip descartado pelo acusado, houve a inserção em outro aparelho
telefônico pela polícia para fins de possível identificação da vítima lesada, o que de fato
ocorreu. Ocorre que a vítima não era proprietária do celular descartado, mas somente do
chip.
A defesa sustentou que o aparelho pertencia ao próprio acusado. Contudo, verificou-se
que o aparelho telefônico não foi examinado. Assim, ainda que o celular fosse de
propriedade do acusado, não houve extração de nenhum dado do aparelho, pois o alvo de
análise foi apenas o chip telefônico descartado, que de fato era de uma das vítimas. Logo,
não houve quebra de sigilo telefônico. Hipótese distinta seria se o celular fosse acessado
pelos policiais e alguma informação retirada e utilizada em desfavor do acusado, o que
não ocorreu.
Dessa forma, o STJ não admitiu a tese defensiva no sentido de suposta violação de sigilo
telefônico, uma vez que não encontrou amparo no contexto fático narrado nos autos.
STJ. 5ª Turma. HC 720.605-PR, Rel. Min. Ribeiro Dantas, em 09/08/2022 (Info 744).
Sócio devedor tem legitimidade e interesse para impugnar desconsideração inversa da
personalidade jurídica
O sócio executado possui legitimidade e interesse recursal para impugnar a decisão que
defere o pedido de desconsideração inversa da personalidade jurídica dos entes
empresariais dos quais é sócio. Exemplo: João iniciou o cumprimento de sentença contra
Pedro exigindo o pagamento de certa quantia. Não foram encontradas contas bancárias
nem bens veículos ou imóveis em nome de Pedro. João pediu a instauração de incidente
de desconsideração inversa da personalidade jurídica a fim de atingir o patrimônio da
pessoa jurídica Alfa, considerando que Pedro é um dos sócios. O juiz deferiu a
desconsideração inversa da personalidade jurídica, considerando que ficou demonstrado
a confusão patrimonial. Pedro possui legitimidade e interesse para impugnar essa decisão
que deferiu a desconsideração inversa.STJ. 3ª Turma. REsp 1.980.607-DF, Rel. Min.
Marco Aurélio Bellizze, julgado em 09/08/2022 (Info 744).

É possível cumular pedidos de prisão e de penhora na mesma execução de alimentos


Na cobrança de obrigação alimentar, é cabível a cumulação das medidas executivas de
coerção pessoal e de expropriação no âmbito do mesmo procedimento executivo,
desde que não haja prejuízo ao devedor nem ocorra qualquer tumulto processual.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.930.593/MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, 9/8/22 (Info 744).

Habilitação de credito no inventário  cabe agravo


O pronunciamento judicial que versa sobre a habilitação do crédito no inventário é uma
decisão interlocutória a que se impugna por meio de agravo de instrumento com base no
art. 1.015, parágrafo único, do CPC/2015. STJ. 3ª Turma. REsp 1.963.966-SP, Rel. Min.
Nancy Andrighi, julgado em 03/05/2022 (Info 744).

A atenuante da confissão espontânea deve preponderar sobre a agravante da


dissimulação
No concurso entre agravantes e atenuantes, a atenuante da confissão espontânea deve
preponderar sobre a agravante da dissimulação, nos termos do art. 67 do Código Penal.
Art. 67. No concurso de agravantes e atenuantes, a pena deve aproximar-se do limite
indicado pelas circunstâncias preponderantes, entendendo-se como tais as que resultam
dos motivos determinantes do crime, da personalidade do agente e da reincidência.
STJ. 6ª Turma. HC 557.224-PR, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em
16/08/2022 (Info 745).
IPL e ações penais em curso não servem para impedir o reconhecimento do tráfico
privilegiado
É vedada a utilização de inquéritos e/ou ações penais em curso para impedir a aplicação
do art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/2006. STJ. 3ª Seção. REsp 1.977.027-PR, Rel. Min.
Laurita Vaz, julgado em 10/08/2022 (Recurso Repetitivo – Tema 1139) (Info 745).
A jurisprudência deste Supremo Tribunal Federal é no sentido de que a existência de
inquéritos ou ações penais em andamento não é, por si só, fundamento idôneo para
afastamento da minorante do art. 33, § 4º, da Lei 11.343/2006. STF. 2ª Turma. HC
206143 AgR, Relator p/ Acórdão Min. Gilmar Mendes, julgado em 14/12/2021.

Prescrição de infrações disciplinares na execução penal é de 3 anos


Se o Estado demorar muito tempo para punir o condenado que praticou uma falta
disciplinar, haverá a prescrição da infração disciplinar. Não existe lei federal prevendo de
quanto será esse prazo prescricional. Por essa razão, a jurisprudência aplica, por analogia,
o menor prazo prescricional existente no Código Penal, qual seja, o de 3 anos, previsto
no art. 109, VI, do CP. Assim, se entre o dia da infração disciplinar e a data de sua
apreciação tiver transcorrido prazo superior a 3 anos, a prescrição restará configurada.
STF. 2ª Turma. HC 114422/RS, Rel. Min. Gilmar Mendes, em 6/5/2014 (Info 745).

É cabível revisão judicial de contrato de locação não residencial - empresa de


coworking - com redução proporcional do valor dos aluguéis em razão de fato
superveniente decorrente da pandemia da Covid-19
Caso concreto: a locatária do imóvel era uma empresa de coworking; em razão das
medidas de isolamento da Covid-19, a empresa teve uma redução drástica do seu
faturamento; diante disso, ajuizou ação de revisão contra a proprietária do imóvel
(locadora) pedindo a redução do valor dos aluguéis pagos. O STJ concordou com o pleito.
A revisão dos contratos com base nas teorias da imprevisão ou da onerosidade excessiva,
previstas no Código Civil, exige que o fato (superveniente) seja imprevisível e
extraordinário e que dele, além do desequilíbrio econômico e financeiro, decorra situação
de vantagem extrema para uma das partes, situação evidenciada na hipótese. A revisão
dos contratos em razão da pandemia não constitui decorrência lógica ou automática,
devendo ser analisadas a natureza do contrato e a conduta das partes - tanto no âmbito
material como na esfera processual -, especialmente quando o evento superveniente e
imprevisível não se encontra no domínio da atividade econômica das partes.
Na hipótese, ficou demonstrada a efetiva redução do faturamento da empresa locatária
em virtude das medidas de restrição impostas pela pandemia da covid-19. Por outro lado,
a locatária manteve-se obrigada a cumprir a contraprestação pelo uso do imóvel pelo valor
integral e originalmente firmado, situação que evidencia o desequilíbrio econômico e
financeiro do contrato.
Nesse passo, embora não se contestem os efeitos negativos da pandemia nos contratos de
locação para ambas as partes - as quais são efetivamente privadas do uso do imóvel ou da
percepção dos rendimentos sobre ele - no caso em debate, considerando que a empresa
locatária exercia a atividade de coworking e teve seu faturamento drasticamente reduzido,
a revisão do contrato mediante a redução proporcional e temporária do valor dos aluguéis
constitui medida necessária para assegurar o restabelecimento do equilíbrio entre as
partes. STJ. 4ª Turma. REsp 1.984.277-DF, julgado em 16/08/2022 (Info 745).
A empresa aérea que disponibilizar a opção de resgate de passagens aéreas com pontos
pela internet é obrigada a assegurar que o cancelamento ou reembolso destas seja
solicitado pelo mesmo meio
O fato da empresa aérea não disponibilizar a opção de cancelamento de passagem por
meio da plataforma digital da empresa (internet) configura prática abusiva, na forma do
art. 39, V, do CDC, especialmente quando a ferramenta é disponibilizada ao consumidor
no caso de aquisição/resgate de passagens.
Caso adaptado: João adquiriu, pela internet, passagem aérea, mediante a utilização de
pontos de milhas. Por questões pessoais, precisou cancelar a viagem e solicitou, também
pela internet, o reembolso das milhas, mas não obteve êxito. A companhia aérea informou
que o reembolso de passagens adquiridas com pontos só poderia ser feito no aeroporto,
ou por intermédio da central de vendas, por telefone, mas não pelo site.
O STJ considerou que a conduta foi abusiva (art. 39, V, do CDC). STJ. 4ª Turma. REsp
1.966.032-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 16/08/2022 (Info 745).

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