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PROCESSO PENAL

1. Quais são os pressupostos e os requisitos indispensáveis à decretação válida da prisão preventiva


do acusado e por que se diz que essa custódia cautelar submete-se à cláusula da imprevisão?

A prisão preventiva, por sua natureza cautelar, apenas se justificará quando presentes alguns
pressupostos. O magistrado antes de analisar tais pressupostos, analisará se o crime cuja prática é atribuída ao agente,
admite a decretação da prisão preventiva. Após isso, deve ser analisando se há elementos que apontem no sentido
da presença simultânea de prova da existência do crime e de indícios suficientes de autoria (fumus commissi delicti).
É necessário, ainda, aferir a presença do periculum Iibertatis, quando a liberdade do réu comprometer
a ordem pública, a ordem econômica, a conveniência da instrução criminal, ou a aplicação da lei penal.
Além disso, a prisão preventiva poderá ser decretada nos casos de descumprimento de qualquer das
obrigações impostas por força de outras medidas cautelares. Por fim, o instituto da prisão preventiva rege-se pela
cláusula Rebus Sic Stantibus (cláusula de imprevisão) o que possibilita, diante da mudança do quadro fático no qual
ensejou a decretação da prisão preventiva, que esta poderá ser revogada ou implementada, inclusive de ofício pelo
juiz.

2. O juiz ou o delegado podem indeferir o acesso de advogado do investigado aos autos do inquérito
sob o fundamento de que existem diligências sigilosas em andamento (por ex. escuta telefônica)?

Havendo nos autos do inquérito diligências sigilosas em andamentos, o juiz ou o delegado podem
indeferir o acesso de advogado do investigado, pois tem prevalecido o entendimento que o advogado deve ter acesso
aos autos do procedimento investigatório, caso a diligência realizada pela autoridade policial já tenha sido
documentada. Assim, caso exista diligências em andamento ou ainda não realizadas não há que se falar em prévia
comunicação ao advogado, nem tão pouco ao investigado. Nesse sentido a súmula vinculante n° 14 “É direito do
defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em
procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao
exercício do direito de defesa”.

3. A ação penal pública é regida por determinados princípios, dentre eles o da obrigatoriedade,
segundo o qual os órgãos persecutórios criminais não podem adotar quaisquer critérios políticos
ou de utilidade social para decidir se oferecerão ou não a denúncia. Todavia, o legislador
brasileiro trouxe ao longo dos anos diversas. hipóteses que mitigaram o referido princípio, no
que parte da doutrina passou a chamar de discricionariedade regrada. Ante o exposto, mencione
brevemente as hipóteses nas quais o ordenamento jurídico pátrio traz exceções à obrigatoriedade
da ação penal pública.

Em sede de ação penal pública, o professor Renato Brasileiro 1 traz como exemplos de exceções do
princípio da obrigatoriedade:
A) transação penal: em se tratando de infrações de menor potencial ofensivo, ainda que haja lastro probatório
suficiente para o oferecimento de denúncia, desde que o autor do fato delituoso preencha os requisitos objetivos
e subjetivos do art. 76 da Lei nº 9.099/95, ao invés de o Ministério Público oferecer denúncia, deve propor a
transação penal, com a aplicação imediata de penas restritivas de direitos ou multa. Nessa hipótese, há uma
mitigação do princípio da obrigatoriedade, comumente chamada pela doutrina de princípio da
discricionariedade regrada ou princípio da obrigatoriedade mitigada;
B) Termo de ajustamento de conduta: a Lei nº 7.347/85, que disciplina a ação civil pública de responsabilidade
por danos causados ao meio-ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico,
turístico e paisagístico, à ordem econômica, à ordem urbanística, à honra e à dignidade de grupos raciais, étnicos
ou religiosos, ao patrimônio público e social, e a qualquer outro interesse difuso ou coletivo, prevê em seu art.
5º, § 6º, que “os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos interessados compromisso de ajustamento de
sua conduta às exigências legais, mediante cominações, que terá eficácia de título executivo extrajudicial”.
Inserido nas disposições finais da Lei nº 9.605/98 em 2001, o art. 79-A também dispõe que os órgãos ambientais

1
LIMA, Renato Brasileiro, Manual de Processo Penal – 4. ed
integrantes do Sisnama, responsáveis pela execução de programas e projetos e pelo controle e fiscalização dos
estabelecimentos e das atividades suscetíveis de degradarem a qualidade ambiental, ficam autorizados a
celebrar, com força de título executivo extrajudicial, termo de compromisso com pessoas físicas ou jurídicas
responsáveis pela construção, instalação, ampliação e funcionamento de estabelecimentos e atividades
utilizadores de recursos ambientais, considerados efetiva ou potencialmente poluidores.
C) Parcelamento do débito tributário: o parcelamento do débito tributário também figura como exceção ao
princípio da obrigatoriedade, já que a sua formalização antes do recebimento da denúncia é causa de suspensão
da pretensão punitiva, impedindo, pois, o oferecimento da peça acusatória pelo Ministério Público (Lei nº
9.430/96, art. 83, § 2º).
D) Acordo de leniência: também conhecido como acordo de brandura ou doçura,68 este acordo é uma espécie de
colaboração premiada prevista na Lei que dispõe sobre o Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência.
Segundo consta dos arts. 86 e 87 da Lei nº 12.529/11, o acordo de leniência poderá ser celebrado pelo Conselho
Administrativo de Defesa Econômica (CADE) com pessoas físicas e jurídicas que forem autoras de infração à
ordem econômica, desde que colaborem efetivamente com as investigações e o processo administrativo e que
dessa colaboração resulte: I – a identificação dos demais envolvidos na infração; e II – a obtenção de
informações e documentos que comprovem a infração noticiada ou sob investigação. Nos crimes contra a ordem
econômica, tipificados na Lei nº 8.137/90 e nos demais crimes diretamente relacionados à prática de cartel, tais
como os tipificados na Lei nº 8.666/93 e os tipificados no art. 288 do Código Penal, a celebração de acordo de
leniência determina a suspensão do curso do prazo prescricional e impede o oferecimento da denúncia com
relação ao agente beneficiário da leniência. Ademais, cumprido o acordo de leniência pelo agente, extingue-se
automaticamente a punibilidade dos crimes acima referidos;
E) Colaboração premiada na nova Lei das Organizações Criminosas: consoante disposto no art. 4º, § 4º, da
Lei nº 12.850/13, se da colaboração do agente resultar um ou mais dos seguintes resultados – identificação dos
demais coautores e partícipes da organização criminosa e das infrações penais por eles praticadas, a revelação
da estrutura hierárquica e da divisão de tarefas da organização criminosa, a prevenção de infrações penais
decorrentes das atividades da organização criminosa, a recuperação total ou parcial do produto ou do proveito
das infrações penais praticadas pela organização criminosa ou a localização de eventual vítima com sua
integridade física preservada –, o Ministério Público poderá deixar de oferecer denúncia se preenchidos dois
requisitos concomitantemente: I – o colaborador não for o líder da organização criminosa; II – o colaborador
for o primeiro a prestar efetiva colaboração nos termos deste artigo. Como se percebe, o legislador aí inseriu
mais uma exceção ao princípio da obrigatoriedade, porquanto o órgão ministerial poderá deixar de oferecer
denúncia se a colaboração levar à consecução de um dos resultados constantes dos incisos do art. 4º da Lei nº
12.850/13. Apesar de o legislador ter previsto a possibilidade de não oferecimento da denúncia, nada disse
quanto ao fundamento de direito material a ser utilizado para fins de arquivamento do procedimento
investigatório. Diante do silêncio da nova Lei de Organizações Criminosas, parece-nos possível a aplicação
subsidiária do art. 87, parágrafo único, da Lei nº 12.529/11, que prevê que o cumprimento do acordo de
colaboração premiada acarreta a extinção da punibilidade do colaborador.

4. No dia 5 de março do corrente ano, foi encontrado um cadáver na linha limítrofe entre as cidades
de Betim e Contagem. Foi instaurado o inquérito policial inicialmente na cidade de Betim e,
posteriormente, outro na de Contagem. Descoberta a autoria do fato, foram concluídas as
investigações apontando que os disparos contra a vítima foram efetuados próximo ao centro
comercial de Betim e que a vítima foi socorrida e levada até o HPS de Contagem, falecendo ao
dar entrada naquele nosocômio. Posteriormente, os autos foram enviados à Justiça. Pergunta-se:
qual o juízo competente, sabendo-se que o primeiro inquérito policial foi instaurado na cidade
de Betim e despachado pelo juiz daquela cidade? Explique e fundamenta a resposta.

Apesar do primeiro inquérito policial ter sido instaurado na cidade de Betim, o artigo
70 do CCP é claro ao dispor que a competência territorial será determinada pelo lugar da
consumação da infração penal, pelo menos em regra. Assim, diante do caso apresentado, o juízo
competente para processar e julgar será o da cidade de Contagem, pois este foi o local onde o
crime se consumou com a morte da vítima.
OBS: 1. Competência territorial: uma vez estabelecida a competência de Justiça, ou seja, se se trata de crime de
competência da Justiça Militar (da União ou dos Estados), Eleitoral, Federal ou Estadual, verificando-se, ademais,
se o acusado tem (ou não) foro por prerrogativa de função, torna-se importante estabelecermos em qual juízo
eleitoral, militar, federal (Seção/ Subseção Judiciária) ou estadual (comarca) deverá tramitar o processo, fixando-se,
então, a competência territorial, também conhecida como competência de foro. Esta, como deixa claro o art. 69,
incisos I e II, do CPP, poderá ser determinada pelo lugar da infração ou pelo domicílio ou residência do réu.
OBS 2. 1. Competência territorial quando não for conhecido o lugar da infração: caso não seja possível
determinar o lugar da infração, a competência será firmada pelo domicílio ou residência do réu (CPP, art. 72, caput)
-forum domicilii. Tem-se aí o denominado foro supletivo ou foro subsidiário. A título de exemplo, suponha-se que
um crime patrimonial de furto tenha sido cometido à noite no interior de um ônibus durante uma viagem
interestadual, sem que se possa estabelecer com precisão a exata comarca em que o veículo estava por ocasião da
consumação do delito. Se houver êxito nas investigações no tocante à identificação do autor do crime, sendo inviável
a descoberta do local em que se consumou a infração penal, deve o processo tramitar no foro do domicílio ou
residência do réu. Essa regra do art. 72 de aplicação subsidiária do foro do domicílio ou residência do réu somente
será possível quando não for conhecido o lugar da consumação da infração penal (locus commissi delicti).

5. Elabore dissertação acerca do sistema processual penal acusatório consagrado na atual Carta
Constitucional, abordando, necessariamente, os seguintes aspectos: - lastro normativo
constitucional do sistema processual penal em vigor; - características do sistema processual penal
acusatório; - gestão das provas e posição do juiz no sistema acusatório.

O sistema processual penal adotado no Brasil é matéria controvertida, não havendo


entendimento uniforme a respeito. A doutrina e a jurisprudência majoritária apontam o sistema acusatório.
Entretanto, há orientação em sentido oposto, entendendo vigorar o sistema misto ou inquisitivo garantista.
Para os adeptos da primeira corrente, a consagração do modelo acusatório está clara em
várias disposições da Constituição Federal, em especial aquelas que referem à obrigatoriedade de motivação das
decisões judiciais (art 93, IX) e às garantias da isonomia processual (art. 5°, 1), do juiz natural (art. 5°, XXXVII e
Llll), do devido processo legal (art. 5°, LIV), do contraditório, da ampla defesa (art. 5°, LV) e da presunção de
inocência (art. 5°, LVII). Já para aqueles que defende a segunda corrente, afirmam que no direito brasileiro ainda
há resquícios do sistema inquisitivo, como por exemplo a faculdade do juiz do produzir prova de ofício, como
previsto genericamente no artigo 156 do CPP, vigorando, assim, um sistema misto.
Destarte, seguindo o entendimento majoritário, mister se faz apontar algumas características
do sistema acusatório, dentre elas: há uma nítida distinção entre as funções de acusar, julgar e defender, com três
personagens distintos, autor, juiz e réu; o processo é regido pelo princípio da publicidade dos atos processuais,
admitindo- -se, como exceção, o sigilo na prática de determinados atos; sistema de provas adotado é do livre
convencimento, ou seja, a sentença deve ser motivada com base nas provas carreadas aos autos. O juiz está livre na
sua apreciação, porém não pode se afastar do que consta no processo.

DIREITO PENAL
1. Em matéria de excludentes de ilicitude, em que consiste o excesso de legítima defesa exculpante?
Existe previsão legal para sua aplicação no Código Penal Brasileiro?

O excesso de legítima defesa exculpante consiste na atuação emocional do agente que, devido a profunda
alteração de ânimo, medo ou susto provocado pela situação em que se encontra faz com que atue além do necessário
para repelir injusta agressão atual ou iminente. Há entendimento no sentido de que o excesso exculpante exclui a
culpabilidade, em razão da inexigibilidade de conduta diversa. Além disso, apesar de não existir previsão legal
expressa no Código Penal Brasileiro, o artigo 45 do Código Penal Militar prevê o “excesso escusável”, assim
dispondo: “Não é punível o excesso quando resulta de escusável surpresa ou perturbação de ânimo, em face da
situação”.
2. De acordo com a doutrina, são três os critérios de aferição de inimputabilidade. Nesse contexto,
redija um texto dissertativo que:
a) indique e conceitue esses três sistemas;
b) explicite aquele adotado como regra no Código Penal;
c) identifique o critério admitido, como exceção, ante a menoridade penal.

A imputabilidade penal é um dos elementos da culpabilidade, é entendida como a possibilidade de


se atribuir, imputar o fato típico e ilícito ao agente delinquente. No direito brasileiro a imputabilidade é regra, tendo
como exceção a inimputabilidade. Esta por sua vez, se divide em inimputabilidade por doença mental e imaturidade
natural, existindo 3 critérios para a sua aferição.
O critério biológico orienta que basta, para a inimputabilidade, a presença de um problema mental,
representado por uma doença mental, ou então por desenvolvimento mental incompleto ou retardado. Sendo
irrelevante que o agente tenha se mostrado lúcido ao tempo da infração penal. Por sua vez, para o critério
psicológico, será considerado inimputável aquele que se mostrar incapacitado de entender o caráter ilícito do fato
ou de determinar-se de acordo com esse entendimento, pouco importando apresentar algum problema mental.
Nesse sentido, como fusão dos dois critérios anteriores, o critério biopsicológico é inimputável quem,
ao tempo da conduta, apresenta um problema mental e, em razão disso, não possui capacidade para entender o
caráter ilícito do fato ou determinar-se de acordo com esse entendimento.
O nosso Código Penal, como regra, adota expressamente o critério biopsicológico quando necessário
aferir a inimputabilidade por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado. Entretanto,
quando se tratar de inimputabilidade por imaturidade natural, adotou-se o critério puramente biológico.

3. a) Com fundamento no modus agendi, diferencie "furto mediante fraude" de "estelionato",


b) Com fundamento no objeto material do delito, diferencie "roubo" de "extorsão",
c) Com fundamento no animus agendi, diferencie "apropriação indébita" de "estelionato".
"No furto com fraude o comportamento ardi loso, como regra, é utilizado para que seja faci litada a
subtração pelo próprio agente dos bens pertencentes à vítima. Ao contrário, no crime de estelionato, o artifício, o
ardil, o engodo são utilizados pelo agente para que, induzindo ou mantendo a vítima em erro, ela própria possa
entregar-lhe a vantagem ilícita." (GRECO, 2013, p. 466)
"Ao contrário do que ocorre no furto e no roubo, entretanto, não é só a coisa móvel a ser objeto do
crime; pode ocorrer a extorsão obrigando-se a vítima a transferir a propriedade de um imóvel ao agente ou terceiro."
(MIRABETE, 2000, p.248)
“O objeto material imediato do delito (de extorsão) é a pessoa, porque sobre si recaem a violência
ou a grave ameaça, e, mediato, a vantagem indevida, mesmo porque se a vantagem for devida, não terá lugar o delito
de extorsão." (PRADO, 2006, p. 434)
STJ CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. PENAL E PROCESSO PENAL. FRAUDE ELETRÔNICA
NA INTERNET. TRANSFERÊNCIA DE NUMERÁRIO DE CONTA DA CAIXA ECONÔM ICA FEDERAL.
FURTO MEDIANTE FRAUDE QUE NÃO SE CONFUNDE COM ESTELIONATO CONSUMAÇÃO.
SUBTRAÇÃO DO BEM. APLICAÇÃO DO ART. 70 DO CPP. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL
PARANAENSE. 1. O furto mediante fraude não se confunde com o estelionato. A distinção se faz primordialmente
com a análise do elemento comum da fraude que, no furto, é utilizada pelo agente com o fim de burlar a vigilância
da vítima que, desatenta, tem seu bem subtraído, sem que se aperceba; no estelionato, a fraude é usada como meio
de obter o consentimento da vítima que, iludida, entrega voluntariamente o bem ao agente.

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