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REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE

MINISTĖRIO PÚBLICO
PROCURADORIA PROVINCIAL DA REPÚBLICA MAPUTO
II Reunião dos Cartórios da Procuradoria Provincial da República

Legislação Penal - Intervenção dos Oficiais de Justiça – Actos de


cartório
Nota Prévia
Caros colegas, estas paginas começaram por ser um breve apontamento de noções elementares de
processo penal por reconhecer que a reforma do processo penal finalizada e publicada em 2019 e só
agora em 2021 iniciou a sua vigência, exigia um estudo permanente.
A Lei n.o 25/2019, de 26 de Dezembro que sofreu alterações dadas pelas leis n. os 17 e 18 de 2020, de
23 de Dezembro, introduziu alterações profundas implicando modificação de algumas habituais
praticas no que toca a direitos, liberdades e garantias dos cidadãos em geral e, do arguido em
particular, exemplificativamente a obrigatoriedade de validação da constituição de arguido.
Esta contribuição não é um trabalho definitivo, admite-se a possibilidade de futura edição a curto
prazo, depois de começar a surgir jurisprudência incidente sobre as alterações legislativas. Por outro
lado, devido a contestação dos operadores judiciários de que a vamos ouvindo pelos corredores e
com ecos na comunicação social quanto algumas delas, é de prever que a lei venha a ser objecto de
revisão.
A partilha deste estudo tem como finalidade fornecer aos oficiais e assistentes do Ministério Público
da Província e, de um modo geral, a todos aqueles que se interessem pelo Processo Penal.
Dividimo-la em três partes:
Na primeira tentamos apresentar a noção básica de Ministério Público como sujeito processual, cujo
entendimento é indispensável a compreensão da sua intervenção no processo penal.
Na segunda fazemos um breve plano geral nas formas e tramitação do processo penal no seu
aspecto dinâmico, quer na forma comum quer nas formas especiais, desde a notícia do crime até ao
arquivamento.
Na terceira incluímos os actos processuais com algumas fórmulas processuais que, pensamos,
poderão ser uteis.

Manhiça, 30 de Abril de 2021


O Ministério Público, Sujeito Processual

Antes de mais e porque mais abaixo haverá sempre necessidade de conjugar entendimento,
quero aproveitar para desmitificar a expressão Ministério Público contribuindo em tudo
para uma melhor aplicação da lei e não necessariamente a insubordinação e arruaceira.
Na verdade, a Constituição no artigo 234 define Ministério Público como uma magistratura,
sendo que no exercício das suas funções, os magistrados e agentes do Ministério Público
estão sujeitos aos critérios de legalidade, objectividade, isenção e exclusiva sujeição às
directivas e ordens previstas na lei.
O alcance desta não pode ter outro significado se não que o Ministério Público é uma
instituição pública autônoma (e não pessoa) ou órgão de administração da justiça,
autónomo e organizado hierarquicamente a quem a Constituição atribuiu a incumbência de
defender a ordem jurídica, o regime democrático e os interesses sociais e individuais
indisponíveis.
Isto é, o Ministério Público, é o grande defensor dos interesses do conjunto da sociedade
moçambicana, sendo fundamental que seus magistrados e agentes (oficiais de justiça e
assistente de oficiais justiça) colaborem com o Tribunal na descoberta da verdade.
No entanto e atento a unidade da legislação nacional nem sempre que encontramos a
expressão Ministério Público quis o aquele significar instituição pública autônoma, podendo
e devendo mesmo ser percebida como pessoa do magistrado daquela instituição, como
iremos perceber da viagem ao Código de Processo Penal novo.
Enquadrado essa realidade é fundamental recordar que:
Qualquer processo (crime, civil, trabalho, administrativo, fiscal e aduaneiro, família e
menores e outro qualquer que não tenha feito referência e sem importância de como eles
se iniciam) sabemos todos que eles se desenvolvem por actos praticados pelas partes do
processo.
Mas especialmente pelos auxiliares da justiça, encontrando legitimidade para tal no artigo 2
da Lei n.o 9/2017, de 21 de Julho (Aprova Estatuto dos Oficiais de Justiça e de Assistentes
de Oficiais de Justiça do Ministério Público) e que passamos a citar:
“os oficiais de justiça e os assistentes de oficiais de justiça são funcionários públicos de
carreira especifica, técnico processual e responsáveis pela prática de actos, termos,
tramitação e gestão processual”.
Uma afirmação de todos os dias é de que:
“os actos processuais são as realizações de procedimentos praticados no andamento do
processo. Existe uma forma para cada procedimento praticado no processo, pelo qual se
desenvolve visando resguardar o princípio do devido processo legal e do contraditório”.
Qual o significado da afirmação?
Para se realizar os actos processuais se faz necessário observar as regras gerais e específicas
para o seu cumprimento. Portanto, consideram-se actos processuais aquela condutas
realizadas dentro do processo que gerem efeitos para este. Nesse passo, os actos
processuais podem ser praticados pelos diversos sujeitos do processo sempre observando o

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devido procedimento a ser aplicado para o bom desenvolvimento dos actos, tornando assim
a relação processual mais eficaz. alínea a) do n. 2 do artigo 14 da Lei n. o 9/2017, de 21 de
Julho – Princípio da Legalidade
Por ser o processo um acto formal os actos processuais devem obedecer normas pré-
definidas existentes nos Códigos de Processo, de acordo com a jurisdição.
Eis, pois, que o convite formulado, e autorizado por excelência Procuradora Provincial
Chefe, é para debruçarmos sobre o novíssimo Código de Processo Penal em contributo para
um processo crime uniforme e conforme, sob pena de serem declarados nulos os actos que
não observem a legalidade.
Em rigor nenhuma pena ou medida de segurança pode ser aplicada sem haver um processo
em que se prove a existência da infracção e a responsabilidade criminal do acusado, em
conformidade com as regras definidas no CPP.
O Ministério Público tem legitimidade para promover o processo penal, embora limitada,
porque nos crimes semipúblicos e particulares esta sujeito a condições de procedibilidade –
o exercício prévio do direito de queixa e a acusação particular, igualmente tem competência
em especial para:
o Receber as denuncias, as queixas e as participações e apreciar o seguimento a dar-
lhes;
o Dirigir a instrução;
o Deduzir acusação e sustentá-la efectivamente na audiência preliminar e no
julgamento;
o Interpor recursos ainda que no exclusivo interesse da defesa; e
o Promover a execução das penas e das medidas de segurança.

Em toda esta acção os oficiais de justiça e assistentes de justiça do Ministério Público fazem-
no em respeito aos deveres imposto pela Lei n.o 9/2017, de 21 de Julho Aprova Estatuto dos
Oficiais de Justiça e de Assistentes de Oficiais de Justiça do Ministério Público) porquanto
o não cumprimento constitui responsabilidade disciplinar sem prejuízo de a cada caso se
verificar outras sanções previstas na lei.
Formas e Tramitação do Processo Penal

Aquisição da notícia do crime


O Ministério Público adquire notícia do crime por conhecimento próprio, por intermédio
dos órgãos de polícia criminal ou mediante denúncia.
É obrigatoriamente reduzida a auto a denúncia, quando feita oralmente – n. 2 do artigo 322.
Sendo que se tratando de crime cujo procedimento depende de acusação particular, a
declaração é obrigatória, devendo, neste caso, a autoridade judiciária ou o órgão dos
serviços de investigação criminal a quem a denúncia for feita verbalmente advertir o
denunciante da obrigatoriedade de constituição de assistente e dos procedimentos a
observar – Artigos 55 e 56.

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Conforme o artigo 290 o Ministério Público procede ou manda proceder ao registo de todas
as denúncias que lhe forem transmitidas, podendo o denunciante a todo o tempo, requerer
ao Ministério Público certificado do registo da denúncia.
Ressalvadas as excepções previstas neste Código, a notícia de um crime dá sempre lugar à
abertura de instrução - artigo 307.
Formas de processo – Artigo 305
Em processo penal há uma forma de processo comum e há processos especiais.
Para se saber se a forma é a comum começa-se por verificar se o caso se enquadra em
qualquer das formas especiais. Se não se enquadrar em nenhuma destas segue-se o
processo comum.
São processos especiais:
a) o processo sumário (artigos 420 à 430);
Quando o caso é de prova fácil (por o arguido ter sido detido em flagrante delito), o crime é
de gravidade ligeira (ao facto cabe pena de prisão até cinco anos) e o julgamento pode ser
feito em curto período (se iniciar no máximo de 48 horas ou, no caso de notificação verbal de
testemunhas para comparecerem na audiência, até 5 dias após a detenção).
É necessário que a pessoa tenha sido detida por uma autoridade judiciária ou entidade
policial ou, quando a detenção tiver sido feita por outra pessoa, que o detido tenha sido
entregue imediatamente a uma daquelas entidades, tendo esta redigido auto sumario da
entrega.
b) o processo sumaríssimo (artigos 431 à 435);
Aplica-se se a gravidade do crime for ligeira (moldura penal até 1 ano de prisão) e se o
procedimento não depender de acusação particular. O Ministério Público, quando entender
que ao caso deve ser concretamente aplicada pena remete a participação ou auto de notícia
ao tribunal competente para julgamento em processo sumaríssimo. É necessário que o juiz
concorde.
c) o processo por difamação, calúnia e injúrias (artigos 435 à 440);
Nos processos por difamação, injúrias e calúnia, haverá lugar a instrução nos termos da
tramitação do processo comum, sendo que uma vez concluída o agente do Ministério
Público deduz a acusação no prazo de 5 dias e, para o mesmo fim e em igual prazo, será, em
seguida, notificada a parte acusadora (o assistente).
e d) o processo de transgressões (artigo 441 à 450)
Serão julgados em processo de transgressões as contravenções punidas com multa ou pena
de prisão e multa, bem como as transgressões a regulamentos, editais, posturas ou a
quaisquer disposições que, atendendo à entidade que as formula, devam qualificar-se de
regulamentares. Não é obrigatória a constituição de arguido e a nomeação de defensor só é
obrigatória quando requerida pelo arguido, e nem mesmo é permitida a intervenção de
assistente, sem prejuízo do dever do Ministério Público de ouvir, antes de formular o
requerimento.
Se à contravenção ou transgressão corresponder unicamente pena de multa, é admitido o
pagamento voluntário desta. Não tendo sido paga a multa, se o transgressor tiver

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apresentado a sua defesa ou não for notificado pessoalmente ou, ser a contravenção punida
com pena de prisão, o juiz designa dia para julgamento.
No processo de transgressões não se aplica Arquivamento em caso de dispensa da pena,
Suspensão provisória do processo, e efeitos da suspensão.
Tramitação do Processo Comum em Primeira Instância – Instrução
Finalidade e âmbito da instrução
A instrução é a fase inicial do processo penal, dirigida pelo Ministério Público, e
compreendem o conjunto de diligências que visam investigar a existência de um crime,
determinar os seus agentes e a responsabilidade deles e descobrir e recolher as provas, em
ordem à decisão sobre a acusação – artigo 307
O Ministério Público pratica os actos e assegura os meios de prova necessários à realização
dessa finalidade, conquanto, sempre que for necessário assegurar a presença de qualquer
pessoa em acto de instrução, emite mandado de comparência, do qual conste a
identificação da pessoa, a indicação do dia, do local e da hora a que deve apresentar-se e a
menção das sanções em que incorre no caso de falta injustificada, que no caso condenada
ao pagamento de uma multa a variar entre 1 a 5 salários mínimos processando de acordo
com artigo 132. – artigo 320
Dos actos de instrução
Comunicações ao arguido - artigo 319
O Ministério Público, quando proceder a interrogatório de um arguido ou a acareação ou
reconhecimento em que aquele deva participar, comunica-lhe, pelo menos com 24 horas de
antecedência, o dia, a hora e o local da diligência.
Mandado de comparência e notificação – artigo 320
Sempre que for necessário assegurar a presença de qualquer pessoa em acto de instrução, o
Ministério Público emite mandado de comparência, do qual conste a identificação da
pessoa, a indicação do dia, do local e da hora a que deve apresentar-se e a menção das
sanções em que incorre no caso de falta injustificada.
O mandado de comparência é notificado ao interessado com pelo menos 3 dias de
antecedência, salvo em caso de urgência devidamente fundamentado, em que pode ser
deixado ao notificando apenas o tempo necessário à comparência. A falta injustificada de
comparecimento é correspondentemente aplicável o disposto no número 2 do artigo 132
( o PROCURADOR pode ordenar, oficiosamente, a detenção de quem tiver faltado
injustificadamente, pelo tempo indispensável à realização da diligência).
Entendimento geral é de que o arguido quando constituído em conformidade com artigo 66
arguidos devem permanecer à disposição das instituições partes do processo penal, ficando
obrigado a comparecer em juízo/ ou diligencia quando a lei o exija ou por ordem do
magistrado competente. Tomando-se as providências necessárias contra quem perturbar o
decurso dos actos respectivos (artigo 95)
Na verdade e conforme o artigo 68, desde que uma pessoa adquira a qualidade de arguido
é-lhe assegurado o exercício de direitos e de deveres processuais, sem prejuízo da aplicação
de medidas de coacção e de garantia patrimonial e da efectivação de diligências

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probatórias, nos termos especificados na lei. Se o prevaricador dever ainda intervir ou estar
presente no próprio dia, em acto presidido pelo Procurador, este ordena, se necessário, que
aquele seja detido até à altura da sua intervenção, ou durante o tempo em que a sua
presença for indispensável.
Esta é a situação habitualmente chamada de “audição sob custodia”, não se podendo e nem
devendo confundir com uma alteração da medida de coação que continua a ser poder
exclusivo do Juiz da Instrução.
Portanto uma vez efectivida a audição e ou acareação que fundou a detenção deva o
arguido ser imediatamente restituído a liberdade se não existir outra razão de facto e de
direito legal para o manter e conduzir ao Juiz da Instrução.
Certidões e certificados de registo - 321
São juntos aos autos as certidões e certificados de registo, nomeadamente o certificado do
registo criminal do arguido, que se afigurem previsivelmente necessários à instrução ou à
audiência preliminar ou ao julgamento que venham a ter lugar e à determinação da
competência do tribunal.
Com relevância para o processo criminal actual, é a existência no processo da certidão e ou
certificado da constituição de arguido e da fixação da medida de coação menos gravosa –
Termo de Identidade e Residência- indicando o arguido a sua residência, o local de trabalho
ou outro domicílio à sua escolha valido para sua simples notificação.
Está medida é aplicada por despacho e devidamente notificado ao arguido contendo a
enunciação dos motivos de facto da decisão e a advertência das consequências do
incumprimento das obrigações impostas – artigo 235 e 237
Do termo deve constar que àquele foi dado conhecimento:
a) da obrigação de comparecer perante a autoridade competente ou de se manter à
disposição dela sempre que a lei o obrigar ou para tal for devidamente notificado;
b) da obrigação de não mudar de residência nem dela se ausentar por mais de 5 dias sem
comunicar a nova residência ou o lugar onde possa ser encontrado;
c) de que as posteriores notificações serão feitas por via postal simples para a morada
indicada, excepto se o arguido comunicar uma outra, através de requerimento entregue à
secretaria onde os autos se encontrarem a correr nesse momento;
d) de que o incumprimento do disposto nas alíneas anteriores legítima a sua representação
por defensor em todos os actos processuais nos quais tenha o direito ou o dever de estar
presente e bem assim a realização da audiência na sua ausência, nos termos do artigo 378
De tudo isso acima está a condição para o julgamento à revelia, o qual o legislador entendeu
expressar como “Declaração de Contumácia”, abandonado “o Julgamento a revelia.
Na verdade, pela doutrina de que perfilhámos, o instituto da contumácia se refere a parte
que se omitiu de comparecer à justiça, isto é, que se manteve inerte, inativa diante da ação.
Deve ser entendida como sendo inércia processual, quer do autor, quer do réu. Quando se
falar da contumácia do réu, utiliza-se o termo REVELIA. Quando se falar em contumácia
do autor, utiliza-se a expressão DESISTÊNCIA TÁCITA.

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Mas no caso e para melhor contribuir vamos assim dizer que no Processo Penal agora a
vigorar contumácia é a recusa de um acusado em comparecer a juízo quando obrigado ou
quando for de seu interesse. Juridicamente, contumácia é a desobediência deliberada em
não estar presente, após convocação, a um julgamento. A contumácia também é
denominada revelia e ou contumaz, revel. Artigos 377 à 382
Prazos de duração máxima da instrução - 323
6 meses, se houver arguidos presos ou sob obrigação de permanência na habitação;
Excepcionalmente os prazos 6 meses alargam para:
8 meses quando a instrução tiver por objecto crime de terrorismo, criminalidade violenta ou
altamente organizada.
10 meses, quando, independentemente do tipo de crime, a instrução se revelar de
excepcional complexidade, em razão de se proceder por crime punível com pena de prisão
de máximo superior a 8 anos.
12 meses quando a instrução tiver por objecto crime de terrorismo, criminalidade violenta
ou altamente organizada e se revelar de excepcional complexidade, relativamente à
qualidade dos ofendidos ou pelo carácter altamente organizado do crime.
8 meses, se não houver arguido preso; (Mas sempre sob Termo de Identidade e
Residência)
Excepcionalmente os prazos 8 meses alargam para:
14 meses quando a instrução tiver por objecto crime de terrorismo, criminalidade violenta
ou altamente organizada.
16 meses, quando, independentemente do tipo de crime, a instrução se revelar de
excepcional complexidade, em razão de se proceder por crime punível com pena de prisão
de máximo superior a 8 anos.
18 meses quando a instrução tiver por objecto crime de terrorismo, criminalidade violenta
ou altamente organizada e se revelar de excepcional complexidade, relativamente à
qualidade dos ofendidos ou pelo carácter altamente organizado do crime.
(NB: a redação do artigo 256 é dada pela Lei n.º 18/2020, de 23 de Dezembro - Altera os artigos 159, 256, o
Capítulo III, do Título I do Livro X, os artigos 485, 486, 487, 488, do Código de Processo Penal, aprovado pela Lei
n.º 25/2019, de 26 de Dezembro)
O prazo contar-se-á a partir do momento em que a instrução tiver passado a correr contra
pessoa determinada ou em que se tiver verificado a constituição de arguido, outra grande e
importante lembrança da necessária existência no processo da certidão e ou certificado da
constituição de arguido e da fixação da medida de coação menos gravosa – Termo de
Identidade e Residência.
Lembrando que o Termo de Identidade e Residência (se não houver arguido preso) é
aplicada por despacho do magistrado do Ministério Público e devidamente notificado ao
arguido contendo a enunciação dos motivos de facto da decisão e a advertência das
consequências do incumprimento das obrigações impostas – artigo 235 e 237
Outra excepção a regra geral dos prazos e igualmente aplicada a excepção principal, é
respeitante a expedição de carta rogatória até à respectiva devolução, que no concreto

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suspende o prazo fixado não podendo o período total de suspensão, em cada processo, ser
superior a metade do prazo máximo que corresponder a instrução.
Ao nosso entender, e salvo melhor matemática, estamos a dizer que em caso de expedita
carta rogatória:
se houver arguidos presos ou sob obrigação de permanência na habitação;
6 meses acrescido de 3 meses (metade do prazo máximo) = 9 meses
Excepcionalmente
8 meses quando a instrução tiver por objecto crime de terrorismo, criminalidade violenta ou
altamente organizada. acrescido de 3 meses = 11 meses
10 meses, quando, independentemente do tipo de crime, a instrução se revelar de
excepcional complexidade, em razão de se proceder por crime punível com pena de prisão
de máximo superior a 8 anos. acrescido de 3 meses = 13 meses
12 meses quando a instrução tiver por objecto crime de terrorismo, criminalidade violenta
ou altamente organizada e se revelar de excepcional complexidade, relativamente à
qualidade dos ofendidos ou pelo carácter altamente organizado do crime. acrescido de 3
meses = 15 meses
se não houver arguido preso; (Mas sempre sob Termo de Identidade e Residência)
8 meses acrescido de 4 meses (metade do prazo máximo) = 12 meses
Excepcionalmente os prazos 8 meses alargam para:
14 meses quando a instrução tiver por objecto crime de terrorismo, criminalidade violenta
ou altamente organizada. acrescido de 4 meses = 18 meses
16 meses, quando, independentemente do tipo de crime, a instrução se revelar de
excepcional complexidade, em razão de se proceder por crime punível com pena de prisão
de máximo superior a 8 anos. acrescido de 4 meses = 20 meses
18 meses quando a instrução tiver por objecto crime de terrorismo, criminalidade violenta
ou altamente organizada e se revelar de excepcional complexidade, relativamente à
qualidade dos ofendidos ou pelo carácter altamente organizado do crime. acrescido de 4
meses = 22 meses
Assim e não sendo observado estes prazos o magistrado do Ministério Público titular do
processo comunica ao superior hierárquico imediato a violação do prazo previsto, indicando
as razões que explicam o atraso e o período necessário para concluir a instrução. O superior
hierárquico pode avocar o processo e dá sempre conhecimento ao Procurador-Geral da
República, ao arguido e ao assistente da violação dos prazos e do período necessário para
concluir a instrução.
Encerramento da instrução
Concluído a instrução, o auto fica à guarda do agente do Ministério Público que irá encerrar
a instrução, arquivando os autos ou deduzindo acusação.
(o despacho de) a acusação - É a peça processual em que, aquando do encerramento da
instrução, formalmente se imputam a uma pessoa os factos que integram um ou mais
crimes.

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A acusação pública é elaborada pelo Ministério Público. O assistente também pode deduzir
acusação, designadamente nos casos de crimes particulares, em que é obrigatoriamente
deduzida por ele, sob pena de o processo não poder prosseguir.
a) Deduzindo acusação – Artigo 330
Crime Público e Semipúblico
Tendo legitimidade para acusar, o magistrado do Ministério Público, deduzirá a mesma no
prazo de 8 dias.
Ao que essa acusação e notificada ao assistente, existindo, para em 5 dias querendo deduzir
a sua acusação particular.
Crime Particular
Se o denunciante, ou aquele com faculdade de se constituir em assistente, ainda não o tiver
feito, o Ministério Público notificá-lo-á para que, em 5 dias, se constitua como tal e deduza
acusação particular.
Tem oportunidade o denunciante em constituir-se em assistente na apresentação da sua
denuncia por declaração de tal vontade - número 4 do artigo 289. Verificando-se tal
manifestação de interesse logo a início, finda a instrução, o Ministério Público notificará o
assistente para que este, em 5 dias, deduza, querendo, acusação particular.
A constituição de assistente dá lugar ao pagamento de imposto de justiça artigo 547 – sendo
efectuado nos termos fixados no Código das Custas Judiciais, quando se requeira a
constituição e se faça representar são os autos presentes ao M. Juiz de Instrução (juiz do
distrito se ai não houver TIC – Tribunal de Instrução Criminal) para que o ofendido seja
admitido a intervir como tal na posição processual e suas atribuições do artigo 78.
A acusação é dirigida ao tribunal onde a causa vai ser julgada, salvo se qualquer dos sujeitos
processuais requerer audiência preliminar, termos em que os autos serão remetidos ao juiz
de instrução.
SEMÍ-PÚBLICOS, a norma incriminatória refere “depende de queixa”; PARTICULARES a
norma incriminatória refere “ depende de acusação particular “. PÚBLICOS, são todos os
crimes em que não é feita menção expressa relativamente à queixa ou acusação particular.
b) arquivando os autos – Artigo 324
O Ministério Público procede, por despacho, ao arquivamento da instrução, logo que tiver
recolhido prova bastante de se não ter verificado nenhum crime, de o arguido não o(s) ter
praticado ou de ser legalmente inadmissível o procedimento.
O Ministério Público também determina o arquivamento do inquérito se não tiver sido
possível obter indícios suficientes da verificação de crime ou de quem foram os seus
autores.
Arquivamento dos autos por despacho fundamentado, logo que tiver recolhido prova
bastante de se 1) não ter verificado crime, de o 2) arguido não o ter praticado a qualquer
título, de a 3) acção penal estar extinta ou de, por qualquer outra razão, ser 4) legalmente
inadmissível o procedimento penal; e ainda 5) arquivados, aguardando a produção de
melhor prova, se não tiver sido possível ao Ministério Público obter indícios suficientes da
verificação de crime ou de quem foram os agentes

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O despacho de arquivamento será comunicado, pelos meios estabelecidos no presente
Código, 1.o ao assistente, 2.o ao denunciante com legitimidade para se constituir assistente,
3.o ao ofendido, 4.o à parte civil e a quem, no processo, tenha manifestado o propósito de
deduzir pedido de indemnização civil, e, ainda, ao 5. o respectivo defensor constituído ou
oficioso. 6.o e último, ao arguido (pela razão logica de que só depois do prazo de 30 dias
para o assistente e ou denunciante requerer a audiência preliminar ou suscitar a intervenção
do superior hierárquico no prazo previsto para requerer a abertura da audiência preliminar,
e se o imediato superior hierárquico não determinar que seja formulada acusação ou que as
investigações prossigam).

Se não for assistente, deve requerer a constituição formal como tal e, uma vez assistido por
advogado (ou patrono ao abrigo do regime de Apoio Jurídico), pode requerer a abertura da
audiência preliminar, fazendo assim intervir um juiz de instrução, a fim de serem
reapreciados os fundamentos do despacho de arquivamento.
Se já for assistente, pode requerer a abertura de instrução, o que só pode fazer no prazo de
30 dias a contar da notificação do despacho de arquivamento.
Também pode solicitar a intervenção do superior hierárquico do Magistrado do Ministério
Público que proferiu o despacho de arquivamento que analisará o referido despacho,
mantendo-o ou revogando-o.
Pode ainda, se dispuser de novos elementos que invalidem os fundamentos invocados pelo
Ministério Público no despacho de arquivamento, solicitar a reabertura da instrução – artigo
326.

No novo código passam a existir duas novas situações de arquivamento por iniciativa do
Ministério Público, a saber:
c) Arquivamento em caso de dispensa da pena – Artigo 327
O agente do Ministério Público pode, sem objecção do assistente, decidir-se pelo
arquivamento do processo, se se verificarem:
Geral
O crime for punido com pena de prisão não superior a três meses, pode o tribunal declarar o
réu culpado, mas não aplicar qualquer pena se: a) a ilicitude do facto e a culpa do agente
forem diminutas; b) o dano tiver sido reparado; e c) à dispensa de pena se não opuserem
razões de prevenção – artigo 78 da Lei n.o 29/2019, de 24 de Dezembro
Crimes Contra a Dignidade das Pessoas
Quando o agente, do crime, der esclarecimentos ou explicações da ofensa de que foi
acusado, se o ofendido, quem o represente ou integre a sua vontade como titular do direito
de queixa ou de acusação particular, os aceitar como satisfatórios. Pode ainda dispensar de
pena se a ofensa tiver sido provocada por uma conduta ilícita ou repreensível do ofendido. E
ainda se o ofendido responder, no mesmo acto, com uma ofensa a outra ofensa, pode-se
dispensar da pena ambos os agentes ou só um deles, conforme as circunstâncias. artigo 243
da Lei n.o 29/2019, de 24 de Dezembro

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Crimes Contra a Fé Pública
Inclusivamente no caso em que o apresentante de um documento falso em juízo tenha
declarado desistir dele nos termos da lei civil, depois de arguido de falso - artigo 340 da Lei
n.o 29/2019, de 24 de Dezembro
Crimes Contra A Realização da Justiça
Pode ter lugar a dispensa de pena nas circunstâncias das alíneas a) e b) do artigo 414 da Lei
n.o 29/2019, de 24 de Dezembro
Corrupção e Crimes Conexos
O agente pode ser dispensado da pena se, voluntariamente, antes da prática do facto,
repudiar o oferecimento ou a promessa que aceitara, restituir a vantagem ou ganho ou,
tratando-se de coisa fungível, o seu valor – alínea b) do artigo 449 Lei n. o 29/2019, de 24 de
Dezembro
d) Suspensão provisória do processo – Artigo 328
Pode o agente do Ministério Público decidir-se pela suspensão do processo se o crime for
punível com pena de prisão não superior a 1 ano ou com sanção diferente da prisão,
mediante a imposição ao arguido de regras de conduta, se se verificarem os pressupostos
da Lei. Devendo sempre, desse facto, ser comunicado o imediato superior hierárquico ( à
decisão de suspensão, em conformidade com o número 1, é correspondentemente aplicável o disposto no
número 3 do artigo 324, e artigo 325)
Tem de duração máxima 2 anos, e uma vez com sucesso cumpridas as regras de conduta é
exarado o despacho de arquivamento que segue de imediato ao crivo do imediato superior
hierárquico

É uma outra solução processual, respeitante a crimes de reduzida gravidade, em que o


Ministério Público, com o acordo do arguido e do assistente, determina, com a
homologação do juiz, a sujeição do arguido a regras de comportamento ou injunções
durante um determinado período de tempo. Caso as mesmas não sejam cumpridas pelo
arguido, é deduzida acusação.
Questão de debate: é sempre necessário a remessa do processo ao juiz de instrução
deduzida acusação e ou o despacho de arquivamento?
Deduzida a acusação ou despacho de arquivar os autos, a primeira é dirigida ao Presidente
do Tribunal competente para julgamento, sendo, porém, depositada junto do juiz de
instrução criminal para as finalidades de - obter uma decisão de submissão ou não da causa
a julgamento, através da comprovação da decisão de deduzir acusação ou de arquivar os
autos da instrução.
Sendo que audiência preliminar tem carácter facultativo podendo ser requerida pelo
arguido, no prazo de 8 dias a contar da notificação da acusação, e pelo assistente pelo
arquivamento se o procedimento não depender de acusação particular, relativamente a
factos pelos quais o Ministério Público não tiver deduzido acusação – artigos 332 e 333
Concluído a instrução é remetido ao juiz competente para a audiência preliminar (por
requerimento) ou para o julgamento, nos termos dos artigos 324 e 333.

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Actos processuais

Os actos processuais são os actos jurídicos praticados dentro do processo e que geram
efeitos dentro do processo. Esses actos existem para criar, para modificar, para conservar
ou para extinguir o processo.
Os actos processuais são sempre escritos. Contudo, se feito na forma oral, deve ser sempre
reduzido a termo (Eu tenho conhecimento que "reduzir a termo" significa registar por escrito
algo que está sendo comunicado de forma oral).
O novo Código de Processo Penal reitera o conteúdo do consagrado no anterior e prestigia o
princípio da instrumentalidade das formas (temos que a existência do acto processual é um
instrumento utilizado para se atingir determinada finalidade. Assim, ainda que com vício, se o acto atinge
sua finalidade sem causar prejuízo às partes, não se declara sua nulidade. Caso o acto não seja praticado
conforme a forma estabelecida e não atinja o seu fim o mesmo será declarado nulo ). Mas ainda assim,
sempre haverá que se observar alguma forma na prática dos actos e termos processuais,
preferencialmente a forma preconizada em lei.
Como sempre reiteramos o direito processual é direito formal, pois visa garantir o regular
desenvolvimento do processo e dos direitos das partes.
A forma dos actos e o dever de fundamentação
Actos e sua Documentação – artigos 102 à 10
Nos actos processuais, tanto escritos como orais, utiliza-se a língua oficial portuguesa, sob
pena de nulidade. Os actos processuais que tiverem de praticar-se sob a forma escrita são
redigidos de modo perfeitamente legível, não contendo espaços em branco que não sejam
inutilizados, nem entrelinhas, rasuras ou emendas que não sejam ressalvadas.
Aqueles que hajam de ser ouvidos, podem, no entanto, exprimir-se em língua diferente, se
não conhecerem a portuguesa, devendo nomear-se um intérprete, quando seja necessário,
para, sob juramento de fidelidade, estabelecer a comunicação. ( Artigos 101, 102 e 103 do CPP e
ainda artigo 139.º do CPC)
É obrigatória a menção do dia, mês e ano da prática do acto.
O escrito a que houver de reduzir-se um acto processual é no final, e ainda que este deva
continuar-se em momento posterior, assinado por quem a ele presidir, por aquelas pessoas
que nele tiverem participado e pelo oficial de justiça que tiver feito a redacção, sendo as
folhas que não contiverem assinatura rubricadas pelos que tiverem assinado.
Manutenção de ordem nos actos processuais
O Ministério Público constitui uma autoridade judiciária, quanto aos actos processuais que
cabem nas suas competências ( n. o 3 do artigo 54) pelo que cabe aos funcionários de justiça
regular os trabalhos e manter a ordem nos actos processuais a qual o magistrado preside ou
dirigire, tomando as providências necessárias contra quem perturbar o decurso dos actos
respectivos.
Para manutenção de ordem nos actos processuais requisita-se, sempre que necessário, o
auxílio da força pública, a qual fica submetida, para o efeito, ao poder de direcção da
autoridade judiciária que presidir ao acto. ( n.o 4 do artigo 95 )

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Publicidade, limites à publicidade e segredo de justiça
A trilogia em que assenta a Instrução, Ministério Público, Órgãos de Polícia Criminal é o
Segredo de justiça (sem esquecer o papel do Juiz de Instrução Criminal), justifica que se
apontem como finalidades do processo penal a realização da justiça e a descoberta da
verdade material, a protecção dos direitos fundamentais das pessoas e o restabelecimento
da paz jurídica.
O segredo de justiça vincula todos os participantes processuais, bem como as pessoas que,
por qualquer título, tiverem tomado contacto com o processo e conhecimento de
elementos a ele pertencentes.
Pode, todavia, a autoridade judiciária que preside à fase processual respectiva dar, ou
ordenar ou permitir que seja dado, conhecimento a determinadas pessoas do conteúdo de
acto ou de documento em segredo de justiça, se tal se afigurar conveniente ao
esclarecimento da verdade.
No entanto ficam essas pessoas, em todo o caso, vinculadas pelo segredo de justiça. (artigo
96)
É reconhecido que em certos processos mais mediáticos, o MP não tem sabido gerir as
situações, face às constantes e mais do que frequentes fugas de informação dos elementos
constantes dos processos, desde que esteja ou seja restringida ou derrogada a publicidade.
Estas fugas consubstanciam, assim, uma situação de violação do segredo de justiça. O
processo penal é, sob pena de nulidade, público a partir do despacho de pronúncia ou, se a
audiência preliminar não tiver lugar, do despacho que designa dia para a audiência de
julgamento, vigorando até qualquer desses momentos o segredo de justiça. (artigo 96)
Os Oficiais de Justiça encontram-se, evidentemente, vinculados pelo segredo de justiça,
estando, também, obrigados ao dever de sigilo (art. 14 º, n.º 2, al. n) da Lei n.o 9/2017, de 21
de Julho Aprova Estatuto dos Oficiais de Justiça e de Assistentes de Oficiais de Justiça do
Ministério Público).
Os actos processuais: modalidades e regimes
Auto, Redacção do auto, Registo e transcrição – artigos 109, 110 e 111
Autos é o instrumento destinado a fazer fé quanto aos termos em que se desenrolaram os
actos processuais a cuja documentação a lei obrigar e aos quais tiver assistido quem o
redige, bem como a recolher as declarações, requerimentos, promoções e actos decisórios
orais que tiverem ocorrido perante aquele.
A redacção do auto é efectuada pelo oficial de justiça, ou pelo funcionário dos serviços de
investigação criminal durante a instrução, sob a direcção do agente do Ministério Público
entidade que presidi ao acto.
Elementos que deverão constar dos autos Deverá ter-se em atenção a obrigatoriedade de
menção no auto dos elementos referidos no art. 104, n.º 7 e 105.
Na transcrição do auto podem utilizar-se meios estenográficos, estereotípicos ou outros
diferentes da escrita comum, bem como socorrer-se de gravação magnetofónica. Quando
utilizados meios estenográficos, estenotípicos ou outros diferentes da escrita comum é feita
a transcrição pelo funcionário ou por pessoa idónea, no mais curto espaço de tempo

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possível, sendo os respectivos encargos suportados nos termos fixados no Código das Custas
Judiciais, devendo a entidade que presidiu ao acto certificar-se da conformidade da
transcrição, antes da assinatura.
É também imposição da Lei n.o 9/2017, de 21 de Julho Aprova Estatuto dos Oficiais de
Justiça e de Assistentes de Oficiais de Justiça do Ministério Público) que os Oficiais de
Justiça transcrevam fielmente os depoimentos prestados, obrigando-se ainda a comparecer
aquelas diligencias com pontualidade e zelando a garantia da celeridade na tramitação do
processo dos serviços em geral para o cumprimento do prazo [art. 14 º, n.º 2, als. n), h), j), e
o)].
Quando se praticam os actos – artigo 113
Os actos processuais praticam-se nos dias úteis, às horas de expediente dos serviços de
justiça e fora do período de férias judiciais. Os actos não podem ser praticados nos
domingos nem em dias feriados nem durante as férias. Exceptuam-se as notificações e os
actos que se destinem a evitar dano irreparável.
O interrogatório do arguido não pode, sob pena de nulidade, ser efectuado entre as 0 e as 6
horas, salvo em acto seguido à detenção.
Exceptuam-se a pratica nos dias úteis, às horas de expediente dos serviços de justiça e fora
do período de férias judiciais: 1) os actos processuais relativos a arguidos detidos ou presos,
ou indispensáveis à garantia da liberdade das pessoas; 2) os actos de instrução
relativamente as quais for reconhecida, por despacho do magistrado, vantagem em que o
seu início, prosseguimento ou conclusão ocorra sem aquelas limitações; 3) os actos de mero
expediente, bem como as decisões das autoridades judiciárias, sempre que necessário.
Os prazos processuais
Contagem dos prazos de actos processuais – artigo 114
Aplicam-se à contagem dos prazos para a prática de actos processuais as disposições da lei
processual civil. Logo, a regra é a continuidade dos prazos e da suspensão nas férias judiciais
(artigo 144º do CPC), com as excepções a que refere o n.º 2 do presente artigo.
Assim, dever-se-á ter em atenção o disposto nos artigos 144º do CPC , art. 279º e 296º CC. O
prazo processual, estabelecido por lei ou fixado por despacho do juiz, é contínuo, começa a
correr independentemente de assinação ou outra formalidade, e corre seguidamente,
mesmo durante as férias e nos domingos e dias feriados, salvas as disposições especiais da
lei.
Quando o prazo para a prática de determinado acto termine ao sábado, transfere-se o seu
termo para o primeiro dia útil seguinte. Por outras palavras, quando o prazo para a prática
do acto processual terminar em dia em que os tribunais estiverem encerrados, transfere-se
o seu termo para o primeiro dia útil seguinte. Consideram-se encerradas a secretaria
quando for concedida tolerância de ponto.
Os actos processuais que devam ser praticados por escrito pelas partes são apresentados na
secretaria, valendo como data da prática do acto processual a da respectiva entrega. A
remessa pelo correio, sob registo, valendo como data da prática do acto processual a da
efectivação do respectivo registo postal.

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Na contagem de qualquer prazo não se inclui o dia, nem a hora, se o prazo for de horas, em
que ocorrer o evento a partir do qual o prazo começa a correr; O prazo fixado em semanas,
meses ou anos, a contar de certa data, termina às 24 horas do dia que corresponda, dentro
da última semana, mês ou ano, a essa data; mas, se no último mês não existir dia
correspondente, o prazo finda no último dia desse mês;
É havido, respectivamente, como prazo de uma ou duas semanas o designado por oito ou
quinze dias, sendo havido como prazo de um ou dois dias o designado por 24 ou 48 horas;
O prazo que termine em domingo ou dia feriado transfere-se para o primeiro dia útil; aos
domingos e dias feriados são equiparadas as férias judiciais, se o acto sujeito a prazo tiver
de ser praticado em juízo
Prazo para a prática de acto processual, termos e mandados – artigos 116 e 117
Relembrando que prazo é o lapso de tempo em que o acto processual pode ser validamente
praticado. É delimitado por dois termos: termo inicial ( dies a quo) e termo final (dies ad
quem), sendo que salvo disposição legal em contrário, é de 5 dias o prazo para a prática de
qualquer acto processual.
Os funcionários de justiça lavram os termos do processo e passam os mandados (trata-se de
uma ordem emitida pelo Procurador determinando a prática de acto ou diligência que deve
ser cumprida) no prazo de 2 dias.
A comunicação dos actos e o regime de notificações
As regras gerais sobre notificações estão inseridas no titulo do CPP epigrafado
“Comunicação dos actos e Convocação para eles” Artigos 119 à 133.
A convocação de uma pessoa para comparecer a um acto processual ou a comunicação de
despacho ou mandado reveste a forma de notificação.
Porque um dos actos mais importantes do processo é a comunicação, se impõem que
possamos analisar esses actos, ainda que em linhas gerais, devendo entendê-los como actos
de uma comunicação que venha a ocorrer dentro do processo.
Pensamos que qualquer notificação, para que seja entendida como acto de comunicação,
precisa obedecer ao que chamamos de núcleo essencial do acto de comunicação, isto é,
deve possuir os seguintes elementos:

a) emissor;
É sempre o Estado, no caso o Ministério Público
b) receptor;
O receptor é o arguido, o declarante ou assistente, a testemunha, o perito, o intérprete e
qualquer outra pessoa que interesse ao processo.
c) informação;
É o conteúdo que se quer comunicar por meio da notificação. Tal informação pode ser
alusiva a facto novo, a facto pretérito ou, ainda, a facto futuro do processo.
e d) instrumento utilizado para comunicação (MEIOS DE COMUNICAÇÃO – art. 120).
A comunicação entre serviços de justiça e entre as autoridades judiciárias e a ser cumprido
pelo oficial de Justiça efectua-se mediante:

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Mandado: quando se determinar a prática de acto processual a entidade com um âmbito de funções
situado dentro dos limites da competência territorial da entidade que proferir a ordem;
Carta: quando se tratar de acto a praticar fora daqueles limites, denominando-se precatória quando a
prática do acto em causa se contiver dentro dos limites do território nacional e rogatória havendo que
concretizar-se no estrangeiro; ou
Ofício, aviso, carta, telegrama, fax, comunicação telefónica, correio electrónico ou qualquer outro meio de
telecomunicações: quando estiver em causa um pedido de notificação ou qualquer outro tipo de
transmissão de mensagens.
A finalidade do acto de comunicação é transmitir uma mensagem com sucesso. Em outras
palavras, o escopo de qualquer acto de comunicação é dar publicidade de um evento que
aconteceu ou que está por acontecer a determinada pessoa que faça parte (entendido no
seu sentido amplo) do processo. Isto é, a finalidade direta do acto de comunicação é a
publicidade interna ao processo.
Nesse sentido, o acto de comunicação tem por objetivo deixar registrado e certificado
dentro dos autos do processo que tal mensagem foi transmitida, de maneira efetiva ou
fictícia, ao destinatário previsto em lei, ou seja, a finalidade indireta do acto de comunicação
é dar conhecimento às demais pessoas estranhas à relação processual da mensagem que se
quis comunicar.
Em todas as oportunidades em que a autoridade determinar que seja alguém comunicado
de que deve fazer ou deixar de fazer algo, resultando a desobediência na cominação de uma
sanção, então, pode-se falar, de maneira técnica, em notificação.
Notificação – artigo 122
A convocação para comparência ou participação em qualquer acto processual e a
transmissão do teor de acto realizado ou de decisão proferida em processo é efectuada por
meio de notificação.
Na notificação dá-se conhecimento da decisão que a ordena e do fim da convocação, e, se o
convocado for arguido, é ainda a notificação feita com a obrigação de apresentação de
bilhete de identidade ou outro meio legalmente admissível de identificação.
Formas de notificação – artigo 123
Esta pode ser feita por:
Notificação pessoal - por contacto pessoal com o notificando e no lugar onde este for
encontrado;
Notificação por via postal - quando a notificação se destinar a convocar pessoa “que não
seja arguido, assistente ou parte civil”, pode ser feita por via postal, através de carta ou
aviso registados ou não (artigo 127). Sendo que o regime da notificação por via postal
consta do artigo 128.
Notificação Edital - mediante editais e anúncios, quando a lei expressamente o admitir. Isto
é quando esgotadas as possibilidades de utilizar outra. (artigo 130)
Esta forma de notificação consiste na afixação de editais: na porta da procuradoria, na porta
da última residência do arguido, e em lugares destinados a afixação pelo órgão executivo do
poder local.

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Pode também ser ordenada a publicação de anúncios em dois números seguidos de um dos
jornais de maior circulação na localidade da última residência do arguido ou de maior
circulação nacional.
Notificação ao defensor - as notificações ao defensor constituído ou ao defensor nomeado,
quando outra forma não resultar da lei, são feitas por notificação pessoal e notificação
urgente por telefone ou outros meios de telecomunicações, no que for aplicável, ou por
correio electrónico ou fax por ele fornecidos. (artigo 125)
Notificação urgente por telefone ou outros meios de telecomunicações - Em casos de
manifesta urgência na convocação de alguma pessoa que não seja o arguido, para acto
processual, o agente do Ministério Público oficiosamente pode ordenar que a notificação
seja substituída por convocação telefónica, telegráfica ou por outro meio de
telecomunicação que assegure o conhecimento, desde que sejam satisfeitas as seguintes
formalidades:
 Identificação da entidade que faz a convocação ou comunicação e dos elementos
que permitam ao notificado tomar conhecimento do acto para que é convocado;
 Possibilidade de o notificado efectuar a contraprova de que se trata de telefonema
oficial e verdadeiro;
 Aviso ao notificando de que a convocação ou comunicação vale como notificação;
 Confirmação do telefonema por sms, correio electrónico, telegrama, telex, fax ou
qualquer outro meio escrito.
Da convocação telefónica lavra-se cota no processo, sendo registados o número de telefone
chamado, o nome, as funções ou a ocupação da pessoa que atendeu a chamada, a sua
relação com o notificando, o dia e a hora do telefonema. (artigo 129)
Casos especiais de notificação - a lei contém regras especiais para a notificação de presos e
de funcionários ou agentes da administração:
A notificação de pessoa que estiver detida ou presa é requisitada ao director do respectivo
estabelecimento, que a mandará executar por funcionário prisional através de contacto
pessoal com o notificando.
A pessoa que dependendo de superior hierárquico (agentes da administração) podem ser
notificados pelas vias gerais ou requisitada a sua comparência a Procuradoria respectiva. Se
tiverem sido notificadas pelas vias gerais (pessoal ou por via postal) para comparecer em
acto processual não carece de autorização, mas deve informar imediatamente da
notificação o seu superior e apresentar lhe documento comprovativo da comparência.
No caso da requisição, a comparência do notificado a acto processual não carece de
autorização do superior hierárquico.
Lugar dos actos processuais
O lugar dos actos processuais são realizados, em regra, na sede onde tramita o processo,
mas devendo sempre ser indicado (última parte do n. 7 do artigo 104).

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REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE
MINISTĖRIO PÚBLICO
PROCURADORIA PROVINCIAL DA REPÚBLICA MAPUTO
Procuradoria da República do Distrito –
TERMO DE CONSTITUIÇÃO DE ARGUIDO

No âmbito do presente auto de ______________________________ e nos termos do artigo 66 do


CPP, fica informado o Sr(a) ________________________________________________ de que a
partir deste momento deve considerar-se arguido em processo penal sendo titular dos direito e ficando
vinculado aos deveres constantes do artigo 69 e 237 todos do CPP, a seguir indicados:
1. O arguido goza, em especial, em qualquer fase do processo e salvas as excepções da lei, dos direitos de:
a) estar presente aos actos processuais que directamente lhe disserem respeito;
b) ser ouvido pelo juiz sempre que ele deva tomar qualquer decisão que pessoalmente o afecte;
c) não responder a perguntas feitas, por qualquer entidade, sobre os factos que lhe forem imputados e sobre o conteúdo das
declarações que acerca deles prestar;
d) escolher defensor ou solicitar ao juiz que lhe nomeie um;
e) ser assistido por defensor em todos os actos processuais em que participar e, quando detido, comunicar, mesmo em privado,
com ele;
f) intervir na instrução e na audiência preliminar, oferecendo provas e requerendo as diligências que se lhe afigurarem
necessárias;
g) ser informado pela autoridade judiciária ou pelos serviços de investigação criminal perante os quais seja obrigado a
comparecer, dos direitos que lhe assistem; e
h) recorrer, nos termos da lei, das decisões que lhe forem desfavoráveis.
2. A comunicação em privado referida na alínea e) do número 1 ocorre à vista quando assim o impuserem
razões de segurança, mas em condições de não ser ouvida pelo encarregado da vigilância.
3. Recaem, em especial, sobre o arguido os deveres de:
a) comparecer perante o juiz, o Ministério Público ou os serviços de investigação criminal sempre que a lei o exigir e para tal tiver
sido devidamente convocado;
b) responder com verdade às perguntas feitas por entidade competente sobre a sua identidade e, quando a lei o impuser, sobre
os seus antecedentes criminais;
c) cumprir com diligências de prova, medidas de coacção e garantia patrimonial especificadas na lei e ordenadas e efectuadas
por entidade competente; e
d) prestar termo de identidade e residência logo que assuma a qualidade de arguido.
O arguido

_________________________________

Distrito de ..........., ......... de .................................. de ....................


O Magistrado do Ministério Público

_________________________________________________

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REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE
MINISTĖRIO PÚBLICO
PROCURADORIA PROVINCIAL DA REPÚBLICA MAPUTO
Procuradoria da República do Distrito –
TERMO DE INDENTIDADE E RESIDÊNCIA

Número de processo crime (NPC) _________________

Aos _____ dias do mês de ________________ de _____________, nesta Procuradoria do Distrito


de .........., ...... Secção Criminal, perante mim, ____________________ (nome próprio) oficial de justiça,
compareceu ___________________________, devidamente identificado no processo com o NPC acima
indicado que, nos termos do artigo 237 do CPP, declarou que a sua residência é:

____________________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________________,
Morada que escolhe para receber notificações que lhe devam ser feitas no âmbito do presente processo e bem
assim que se obriga não só a comparecer perante autoridade competente e a manter-se à disposição dela,
sempre que a lei obrigar ou para tal for devidamente notificado, bem como a não mudar de residência ou dela se
ausentar por mais de cinco dias sem comunicar a nova ou lugar onde possa ser encontrado.
O incumprimento do disposto anteriormente legitima a sua representação por defensor em todos actos
processuais nos quais tenha direito ou dever de estar presente, e bem assim a realização da audiência de
julgamento na sua ausência ainda que tenha justificado falta anterior.
As notificações serão feitas na própria pessoa para a morada indicada, excepto se comunicar outra através de
requerimento entregue ou remetido à secretaria a onde os autos se encontrarem a correr.
Foi advertido de que, caso viole as obrigações indicadas lhe podem ser impostas, cumulativamente, outras
medidas de coação previstas no CPP.
O arguido

_________________________________

Distrito de ..........., ......... de .................................. de ....................


O Magistrado do Ministério Público

_________________________________________________

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