Você está na página 1de 9

Noções de Direito Penal, Processo Penal e Direito Processual Penal

Direito penal- É o conjunto de princípios e normas codificadas ou constantes de


diplomas avulsos, que consagram os pressupostos gerais da punição (teoria geral da
infracção) que preveêm as condutas puníveis (crimes) e estabelecem as penas e
respectivos regimes.

Processo Penal- O processo é o conjunto de actos, é a marcha consubstanciada de


diferentes actos realizados por pessoas com legitimidade autorizadas, actos
preordenados.

A sua justa aplicação, é o que se costuma designar por processo penal.

O conjunto de normas jurídicas que regulam e disciplinam e que forma o direito


processual penal.

Direito Processual Penal- Constitui o conjunto de normas codificadas (no Código de


Processo Penal e outra legislação avulsa) que permitem a realização de actos, com
obediência e determinadas formalidades, praticadas e ordenados pelo tribunal e outras
autoridades judiciais competentes com vista a descoberta dos factos constitutivos da
prática de um crime e do seu agente ou agentes, para que no final, o tribunal possa
proferir decisão sobre a aplicação ou não de uma determinada sanção ao arguido.

Princípios gerais do Direito Processual Penal

Os princípios do Direito Processual Penal estão enquadrados em quatro grupos,


nomeadamente:

 Iniciativa ou promoção processual;


 Decurso ou prossecução processual;
 Prova;
 Forma.

1
A título enunciativo são princípios relativos a promoção ou iniciativa processual, os
princípios da oficialidade, da legalidade e da acusação. Trata-se de princípios que
respeitam ao desencadeamento do processo penal.

São princípios referentes a prossecução ou decurso processual, ou seja, relacionados


com a marcha do processo penal uma vez que promovido ou iniciado por órgão com
competência, os princípios da investigação, da contraditoriedade e da audiência, da
suficiência e da concentração.

Enfim, são princípios respeitantes à forma, os da publicidade, da oralidade e da


imediação. São princípios concernentes à forma porque dizem respeito ao modo que
caracterizam o processo penal, principalmente quando na fase do julgamento em sede
de tribunal no qual se realizam certas sessões judiciais.

Para além dos princípios acima aludidos de forma agrupada, outros existem que também
serão sumariamente abordados, designadamente: Princípio da vinculação temática,
princípio do juiz natural, princípio da igualdade de oportunidades, princípio da
proibição de reformatio in pejus e princípio da recorribilidade

Princípios relativos à promoção ou iniciativa processual

 Princípio da oficialidade
O princípio da oficialidade do processo significa que a iniciativa e a prossecução
processuais pertencem ao Estado, através do MP, que tem o direito e o dever de
perseguir criminalmente os criminosos com vista a responsabilização criminal
dos responsáveis sem consideração pela vontade dos ofendidos. Portanto, o
Estado, através do MP, deve intervir oficiosamente em todos os factos da
natureza criminal.
Cabendo ao MP o exercício da acção penal ou a promoção processual oficiosa,
compete-lhe também dirigir o conjunto de diligências tendentes a provar a culpa
ou inocência dos arguidos, é a direcção da instrução preparatória pelo MP, sem
prejuízo de delegá-la na PIC.
Aliás, casos há em que a realização da instrução preparatória é especialmente
atribuída à PIC ou a PRM. Em qualquer destes casos temos entidades de

2
natureza pública ou oficial às quais cabe a realização da instrução preparatória e,
consequentemente, o impulso ou iniciativa do processo penal.
Com efeito, face a um crime semi-público o MP só terá legalidade e promoverá
o processo criminal depois de apresentação de denúncia (participação ou queixa)
por parte do ofendido ou por quem tem legitimidade, e nos crimes particulares
apenas o MP promoverá o processo penal para esclarecimento do crime e
punição do infractor desde que, fora a participação, haja lugar a dedução de
acusação particular por parte de pessoa com legitimidade para se constituir em
assistente e tenha se constituído como tal.
Nestes termos, é de concluir que o princípio da oficialidade vale em pleno
quando se trata de crimes públicos, que são ``…aqueles em que o MP promove
oficiosamente e por sua própria iniciativa o processo penal e decide com plena
autonomia…da sua submissão ou não submissão de uma infracção a julgamento.

 Princípio da legalidade- Este princípio tem a mesma função com o princípio da


oficialidade que é de levar o Estado a corresponder ao seu dever de administrar e
realizar a justiça penal, atento aos valores que esta visa salvaguardar, obtendo a
condenação dos culpados do cometimento de uma infracção, e para tal o
princípio da oficialidade não é suficiente para que o processo penal à
materialização de tal objectivo ou fim, logo também faz parte do processo penal,
dentre os princípios relativos a promoção ou iniciativa processual o princípio da
legalidade.
Por força deste princípio, o MP deve obrigatoriamente ´´…proceder e dar
acusação por todas as infracções de cujos pressupostos-factuais e jurídicos,
substantivos e processuais- tenha tido conhecimento e tenha logrado recolher, na
instrução, indícios diferentes.
No que se refere ao alcance do referido princípio da legalidade é que o MP,
entidade de natureza pública a quem compete a iniciativa processual, sobre ele
recai a obrigatoriedade de efectivamente exercer acção penal perante
determinada notícia de crime e deduzir acusação, após ter recolhido provas
bastantes para o efeito, levando o caso ao conhecimento do tribunal.
Trata-se de um dever (legal) do MP, e não de uma faculdade, como sucede na
área processual civil em que o interessado pode fazer um juízo de oportunidade
sobre se vale a pena ou não instaurar acção. No processo penal a actividade do

3
MP no que diz respeito a promoção processual está vinculada à lei e não a
considerações de qualquer natureza (políticas, financeiras e outras) não há
espaço para juízos de oportunidade.

A doutrina aponta ao princípio da legalidade alguns méritos ou vantagens, como


é o caso da igualdade na aplicação do direito em atenção ao princípio da
igualdade entre os cidadãos consagrado no artigo 35 da CRM, concretamente do
direito penal aos cidadãos, pondo assim “…a justiça penal a coberto de suspeitas
e tentações de parcialidade e arbítrio...” que poderiam ter lugar caso os órgãos
públicos encarregados do procedimento penal pudessem apreciar da
conveniência do seu exercício e omiti-lo por inoportuno, dando influências
externas da mais diversa natureza na administração da justiça penal, influências
que, mesmo não logrando se impor, abalariam ou diminuiriam a confiança da
comunidade e dos cidadãos relativamente a actuação da administração da
justiça penal.
Outra vantagem traduz-se na defesa e potenciamento do efeito de prevenção
geral das penas ligado à administração da justiça penal.

 Princípio da acusação
O processo penal evolui de um tipo inquisitório para um tipo acusatório.
No processo do tipo inquisitório, em que a entidade julgadora tinha também
funções de investigação preliminar, no processo penal do tipo acusatório à dita
entidade julgadora compete somente “investigar e julgar dentro dos limites que
lhe são postos por uma acusação fundamentada e deduzida por um órgão
diferenciado...”
O princípio da acusação como um dos princípios relativos a iniciativa ou
promoção processual consiste, ou seja, a atribuição processo penal da função de
investigar e deduzir acusação por infracções a entidade diferente (MP) a quem
compete julgar tais infracções (tribunal).
Neste sentido, a consequência do princípio da acusação ou princípio do
acusatório é que não pode o tribunal, a quem compete proceder ao julgamento
“…por sua iniciativa, começar uma investigação tendente ao esclarecimento de

4
uma infracção e à determinação dos seus agentes; isto tem lugar numa fase
processual ou pré-processual, tanto importa.)
Aluz da legislação processual penal moçambicana o juiz somente pode julgar e
decidir sobre uma infracção, caso a mesma lhe tenha sido previamente acusada
por entidade diferente, mormente o MO, visto este ser o titular da acção penal
por força do art.5 do CPP e art.1, do Dl. nº35.007.
Princípios referentes à prossecução ou decurso processual
 Princípio da investigação
Este princípio, é elemento integrante da estrutura basicamente acusatória do
processo penal, que traduz o poder-dever que recai o tribunal de ele próprio
esclarecer e instruir, de forma autónoma, o facto que através da acusação foi
levado ao seu conhecimento e decisão ou julgamento, de modo a criar as suas
próprias bases necessárias à decisão, sem dependência das contribuições da
acusação e da defesa que aliás poe até ir para além delas.
É um princípio que pode se considerar como se manifestando, em grande
medida, na fase de julgamento do processo penal, durante a produção de prova,
comi se constata das disposições do 3º do art.425.
A finalidade deste princípio é permitir a obtenção, pelo tribunal, das bases da
decisão, pode também ser designado por princípio da verdade material, visto que
a descoberta da verdade material é sua razão de ser, para que se alcance o fim da
justiça penal, a condenação dos culpados e só dos culpados.

 Princípio da contraditoriedade
Consiste o princípio do contraditório ou da contraditoriedade, isto é, a audição
pelo juiz quer da acusação quer da defesa sobre o objecto do processo penal
sem, no entanto, e por força do princípio da investigação,
permanecer passivo ouvindo o debate das partes.
Através deste princípio no decurso do processo faz-se ressaltar não somente as
razões da acusação como também as da defesa, para permitir uma justa decisão,
o que se passa por aceitar também a própria iniciativa daqueles sujeitos
processuais.
Por via do princípio do contraditório assegura-se que, no decurso do processo,
que se tome qualquer decisão que atinja o estatuto jurídico de determinada

5
pessoa sem que a mesma tenha tido a oportunidade de se fazer previamente
ouvir, permitindo a exposição em particular pelo arguido das suas razões.
No direito moçambicano, tendo consagração constitucional no art 65 da CRM, o
princípio do contraditório encontra, em sede da legislação processual penal,
consagração nos arts 415 e 423, referentes à fase de julgamento, transparecendo
ainda nos arts 379 e seguintes; 390 e 398, relativos à contestação. Na instrução
contraditória o princípio da contraditoriedade transparece nos arts 326 e ss, em
especial no art. 327, corpo, e art.328.
 Princípio da audiência
Consiste na oportunidade que é conferida a todos participantes ou intervenientes
no processo de influir, mediante sua audição pelo tribunal, no decurso ou
desenrolar do processo.

 Princípio da suficiência
Este princípio encontra-se consagrado no art2, do qual decorre a auto-suficiência
do processo penal, isto é, que o exercício e o julgamento da acção penal não
depende de qualquer outra acção, e para o feito no processo penal resolvem-se
todas as questões que interessam à decisão da causa ou cuja resolução
condiciona o ulterior desenrolar do processo penal, sejam elas de que a natureza
for (penal, civil, administrativa, etc), que sejam suscepctíveis de cognição
autónoma pelo tribunal.
Este princípio tem vista a interrupção da marcha ou decurso do processo penal e
seu consequente exercício, devido ao surgimento de uma questão susceptível de
ser conhecida pelo tribunal autonomamente, pois, tal a suceder levantar-se-iam,
indirectamente, obstáculos ao exercício do processo penal, ou pelo menos
comprometer-se ia as exigências de concentração e de continuidade do processo
penal, frustrado eventualmente o fim da verdade material no processo.

Como resultado do princípio da suficiência do processo penal, em regra o


processo penal não pode ser interrompido em consequência do surgimento de
uma questão prejudicial, uma vez que esta não levantará nenhum problema
específico, pois o tribunal penal terá sempre competência para dela conhecer e
decidir, e consequentemente, resolver a questão principal.

6
 Princípio da concentração
O princípio da concentração funda-se na necessidade de evitar obstáculos ao
exercício do processo penal, formando deste modo o decurso do processo penal
Assim resulta deste princípio (concentração) a necessidade da prossecução e
desenvolvimento unitário, na medida do possível concentradamente, do
complexo de todos os termos e actos processuais, no tempo (o ideal) é que
iniciada a audiência, a mesma decorra sem quebra de continuidade até o (ao fim)
e no espaço (desenvolvimento da audiência num mesmo local).

Princípios relativos á forma

 Princípio da investigação
Este princípio é muito importante no processo penal. Em processo é
fundamental atingir a verdade sem subordinação a qualquer forma privilegiando-
se a descoberta da verdade, independentemente do meio usado, havendo total
investigação.
Consiste ao conteúdo do princípio da investigação, o dever do tribunal de
investigar e esclarecer a título oficioso, independentemente das contribuições
das partes, ou da acusação e defesa, o facto submetido a julgamento
(conhecimento e decisão). Encontra-se patente o princípio em alusão nos arts 9;
330,333; ss 1º e 2º;404, ss 1º,425, ss3º;435, corpo e ss 1º,443, corpo e ss 1º; e
465, ss único.

 Princípio da livre apreciação da prova


O processo penal quando se encontra na fase de julgamento faz-se a produção da
prova com vista a adoptar o tribunal de condições necessárias para formar a sua
convicção sobre a existência ou inexistência dos factos juridicamente relevantes
para a sentença.
A prova é valorada livremente pelo juiz, de acordo com as regras da experiência
e o bom senso, seguindo o critério do bonus pater familiae. No final do processo,
ao ditar a sentença, tem de estar completamente convencido de que o arguido

7
terá cometido a infracção, é culpado e que deve ser condenado inocente e deve
ser absolvido

Princípios relativos á forma

 Princípio da publicidade
A publicidade das audiências dos tribunais em processo penal encontra a sua
razão de ser no facto de, desempenhando o processo penal e função comunitária,
o esclarecimento dos crimes, que é assunto que interessa a toda comunidade
jurídica, a publicidade permite afastar eventuais desconfianças que possam
surgir relativamente a independência e a imparcialidade com que é exercida a
justiça penal e tomadas as decisões.

8
9

Você também pode gostar