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Impresso no Brasil
Printed in Brazil
WALFREDO CUNHA CAMPOS
Promotor de Justiça do Estado de São Paulo. Professor da Escola Superior do Ministério Público
do Estado de São Paulo e do Curso de Pós-Graduação- Atame (Universidade Cândido Mendes),
de Cuiabá. Palestrante do Conselho Nacional do Ministério Público.
O presente e-book é uma cortesia dos autores e da Editora Mizuno, sendo parte integrante da
obra “Tribunal do Júri - Teoria e Prática - 8ª Edição”.
dedicatória

Dedico este livro à minha avó


Giuseppina Bresci Tozzi (nonna), mãe com açúcar,
criatura boníssima e carinhosa, que, em todos os momentos de minha
vida, sempre me apoiou, amando-me incondicionalmente.
Dizem que você morreu...
Você não morreu: ausentou-se.
A vida é uma só. A sua continua.
Dizem, para consolo daqueles que aqui ficam, que a nossa vida continua
e não se pode deixar abater...
Pode ser...
Mas, para mim, sem você, a vida já não tem mais tanta poesia...
agradecimentos

A meu irmão José Alexandre Cunha Campos, que muito me estimulou a


seguir a carreira jurídica.
A Pedro Lazarine, pelo seu decisivo auxílio na materialização desta obra.
A Alex Sandro Ochsendorf, amigo de todas as horas, pela paciência de ter
lido os originais deste livro, ajudando-me a melhorá-lo.
A Marco Botelho, pelo importante apoio na divulgação das minhas ideias
e ideais sobre o júri.
A Gustavo dos Reis Gazzola, pela sua sinceridade cáustica e impiedosa das
primeiras amostras deste trabalho, fundamental para o seu aprimoramento.
A Levy Emmanuel Magno, um dos maiores promotores do júri que já
conheci, pela essencial ajuda à publicação desta obra.
Agradeço, muito especialmente, a Karyna Mori, por seu inestimável apoio,
decisivo para a conclusão, a tempo, deste livro.

Meu muito obrigado a todos.


SUMÁRIO

PARTE I
TEORIA
CAPÍTULO 1
Júri. Natureza Jurídica. Previsão Constitucional.......................................................................... 49
1.1. Definição............................................................................................................................... 49
1.2. Previsão constitucional.......................................................................................................... 49
1.3. Natureza jurídica dúplice....................................................................................................... 49
1.4. Elementos da instituição....................................................................................................... 53
1.5. Cláusula pétrea..................................................................................................................... 54
1.6. Princípios processuais constitucionais.................................................................................. 54
1.7. Plenitude de defesa.............................................................................................................. 54
1.8. Sigilo das votações............................................................................................................... 55
1.9. Soberania dos veredictos...................................................................................................... 60
1.10. Competência mínima para julgamento dos crimes dolosos contra a vida.......................... 61

CAPÍTULO 2
Investigação dos Crimes Dolosos Contra a Vida. Particularidades........................................... 63
2.1. Inquérito policial ou procedimento investigatório criminal..................................................... 63
2.2. Diligências do inquérito policial ............................................................................................ 63
2.2.1. Discricionariedade da autoridade policial na realização das diligências investigató-
rias e na colheita das provas........................................................................................... 63
2.2.2. Diligências investigatórias, elementos informativos e a produção de provas periciais
sob a responsabilidade da autoridade policial no decorrer do inquérito..................... 64
2.2.2.1. Diligenciar no local dos fatos.............................................................................. 64
2.2.2.2. Apreender os objetos relacionados ao fato........................................................ 65
2.2.2.2.1. Cadeia de custódia.................................................................................... 65
2.2.2.2.1.1. Definição de cadeia de custódia...................................................... 65
2.2.2.2.1.2. Preservação do local do crime......................................................... 66
2.2.2.2.1.3. Etapas da Cadeia de Custódia......................................................... 67
2.2.2.2.1.4. Coleta de vestígios........................................................................... 71
2.2.2.2.1.5. Recipientes para acondicionamento de vestígios............................ 71
2.2.2.2.1.6. Central de Custódia.......................................................................... 71
2.2.2.2.1.7. Possibilidade de o assistente técnico acompanhar a produção da
perícia........................................................................................................... 72
2.2.2.2.1.8. Descumprimento das normas que regulamentam a cadeia de
custódia. Consequências. Discussão acadêmica. ....................................... 72
2.2.2.2.1.8.1. Cadeia de custódia. A dura realidade brasileira...................... 74
2.2.2.3. Ouvir o ofendido, testemunhas e o indiciado. Violência institucional (art. 15-A
da lei 13.869/2019, acrescentado pela Lei 14.321/2022).......................................... 76
2.2.2.3.1. Reconhecimento pessoal e fotográfico..................................................... 78
2.2.2.3.2. Elementos informativos trazidos por notícia anônima que tenha auxiliado
à apuração do crime de homicídio. Disque-denúncia......................................... 82
2.2.2.4. Requisição de dados e informações cadastrais da vítima, testemunhas ou de
suspeitos pela autoridade policial.............................................................................. 83
2.2.2.5. Representação para obtenção da ERB visando obter informação a respeito da
localização do indiciado............................................................................................. 83
2.2.2.5.1. Identificação de usuários em determinada localização geográfica, sem
individualizar pessoa determinada...................................................................... 84
2.2.2.6. Perícias determinadas no decorrer do inquérito policial..................................... 85
2.2.2.7. Reprodução simulada dos fatos......................................................................... 88
2.2.2.8. Indiciamento....................................................................................................... 89
2.2.2.9. Identificação criminal.......................................................................................... 89
2.2.2.9.1. Identificação criminal. Noções gerais........................................................ 89
2.2.2.9.2. Identificação criminal e coleta de material biológico para a obtenção do
perfil genético. (Lei 12.037/2019 e Lei de Execução Penal)).............................. 91
2.2.2.10. Órgãos criados pela Lei 13.964/2019 (Pacote Anticrime) e a apuração dos
crimes dolosos contra a vida. Banco Nacional de Perfis Balísticos. Banco Nacional
Multibiométrico e de Impressões Digitais....................................................................... 97
2.2.2.10.1. Banco Nacional de Perfis Balísticos........................................................ 97
2.2.2.10.2. Multibiometria e Impressões Digitais....................................................... 98
2.2.2.10.2.1. Multibiometria................................................................................. 98
2.2.2.10.2.2. Banco Nacional Multibiométrico e de Impressões Digitais............. 98
2.2.2.10.2.3. Multibiometria e investigação criminal............................................ 99
2.3. Demora injustificada na apuração investigatória de crimes dolosos contra a vida............... 99
2.4. Audiência de Custódia e Júri. Previsão Convencional e legal.............................................. 100
2.4.1. Conceito. Finalidades. Prazo. Procedimento. Registro. Valor Probatório.................... 102
2.4.1.1. Conceito.............................................................................................................. 102
2.4.1.2. Finalidades da audiência de custódia................................................................. 102
2.4.1.3. Procedimento da audiência de custódia............................................................. 103
2.4.1.4. Valor probatório das declarações do preso na audiência de custódia................ 104
2.4.1.5. Decisões que podem ser tomadas pelo juiz durante a audiência de custódia... 106
2.4.1.6. Não realização da audiência de custódia no prazo legal .................................. 108
2.5. Prisão temporária (Lei nº 7.960/89)...................................................................................... 108
2.5.1. Conceito e natureza jurídica da prisão temporária...................................................... 108
2.5.2. Crimes que autorizam a decretação da prisão temporária.......................................... 109
2.5.3. Pressupostos e fundamentos para a decretação da prisão temporária....................... 109
2.5.3.1. Pressupostos da prisão temporária. Existência de fundadas razões, de acordo
com qualquer prova admitida na legislação penal, de autoria ou participação do
indiciado em determinados crimes (art. 1º, III, da Lei 7.960/89)............................... 109
2.5.3.2. Fundamento para a decretação da prisão temporária. Imprescindibilidade da
prisão para as investigações criminais (normalmente do inquérito policial – art. 1º,
I, da Lei 7.960/89)...................................................................................................... 109
2.5.3.3. Imprescindibilidade da prisão para as investigações criminais em razão de o
indiciado não possuir residência fixa ou não fornecer elementos necessários ao
esclarecimento de sua identidade (art. 1º, II, da Lei 7.960/89)................................. 110
2.5.4. Procedimento para a decretação da prisão temporária e sua duração....................... 110
2.5.5. Prisão temporária e recurso......................................................................................... 111
2.5.6. Cumprimento do mandado de prisão temporária......................................................... 111
2.5.7. Expiração da prisão temporária e a soltura automática do preso................................ 111
2.6. Prisão preventiva e medidas cautelares na fase investigativa.............................................. 112
2.6.1. Noções gerais.............................................................................................................. 112
2.6.2. Possibilidade de se decretar a prisão preventiva, sem que haja oferecimento simultâneo
de denúncia..................................................................................................................... 113
2.7. Citação do integrante das Forças de Segurança Pública investigado por crime doloso
contra a vida.......................................................................................................................... 114
2.7.1. Disciplina legal trazida pelo Pacote Anticrime.............................................................. 114
2.7.2. Categorias profissionais beneficiadas pela nova legislação........................................ 117
2.7.3. Citação (notificação) do investigado. Contraditório e ampla defesa limitados. Momento
de sua aplicação. Não suspensão da investigação. A previsão legal deve retroagir?........ 118
2.7.4. Imprescindibilidade do nexo entre o homicídio e a função pública exercida............... 121
2.7.5. Violação dos novos dispositivos legais. Consequências............................................. 121
2.7.6. O art. 14-A do CPP é constitucional?........................................................................... 122
2.7.6.1. Declaração incidental de inconstitucionalidade da norma. Prós e contras......... 124
2.7.6.2. O verdadeiro problema que criou a celeuma. Propostas de solução................. 125
2.8. Juiz das garantias e Júri........................................................................................................ 129
2.8.1. Juiz das garantais e Júri. Linhas gerais. Sua não aplicação ao rito do Júri, como
regra de competência funcional. ..................................................................................... 129
2.8.2. Aplicação da sistemática do juiz das garantias ao rito do Júri..................................... 130
2.9. Arquivamento de Inquérito Policial de crime doloso contra a vida. Novo procedimento
trazido pelo Pacote Anticrime (Lei 13.964/2019)................................................................... 130
2.9.1. Nova disciplina legal. Noções gerais........................................................................... 130
2.9.2. Necessidade de fundamentação do arquivamento dos crimes dolosos contra a
vida. ................................................................................................................................ 132
2.9.3. Hipóteses mais comuns de arquivamento do inquérito policial no caso dos crimes
dolosos contra a vida....................................................................................................... 132
2.9.4. Procedimento do arquivamento................................................................................... 133
2.9.4.1. Comunicações obrigatórias................................................................................ 133
2.9.4.2. Possibilidade de recurso administrativo em face da promoção de arquivamen-
to nos casos de crimes dolosos contra a vida........................................................... 135
2.9.4.3. Remessa dos autos de inquérito policial à instância revisional do Ministério
Público....................................................................................................................... 136
2.9.4.3.1. Possibilidade de o investigado arrazoar o recurso interposto pela vítima
ou por familiares.................................................................................................. 136
2.10. Investigação criminal dos homicídios praticados por militares estaduais ou integrantes das Forças
Armadas contra civis. Panorama geral. ..................................................................................... 137
2.10.1. Arquivamento de crime doloso contra a vida no bojo de inquérito policial militar por
juiz militar estadual.......................................................................................................... 141
2.11. Inquérito policial e prova ilícita............................................................................................ 142
2.11.1. Frutos da árvore proibida e Júri - ilicitude por derivação........................................... 142
2.11.2. Apreensão de celular de vítima de homicídio consumado ou de suspeito. Criptografia.... 143
2.11.3. Laudo pericial subscrito por policiais e não por peritos.............................................. 144
2.12. Detetives particulares e investigação criminal.................................................................... 145
2.13. Investigação defensiva........................................................................................................ 145
2.13.1. Conceito..................................................................................................................... 145
2.13.2. Fases em que pode se desenvolver a investigação defensiva.................................. 145
2.13.3. Finalidade da investigação defensiva........................................................................ 146
2.13.4. Poderes do advogado na condução da investigação defensiva................................ 146
2.13.5. Sigilo da investigação defensiva................................................................................ 146
2.13.6. Proibição de censura ou impedimento pelas autoridades à atividade de investiga-
ção defensiva................................................................................................................... 146
2.13.7. A investigação defensiva é constitucional? Argumentos pela inconstitucionalidade
e pela constitucionalidade. ............................................................................................. 146

CAPÍTULO 3
Competência ................................................................................................................................... 165
3.1. Competência dos integrantes do Tribunal do Júri................................................................. 165
3.2. Competência territorial do Júri.............................................................................................. 165
3.2.1. Linhas gerais ............................................................................................................... 165
3.2.2. Crimes dolosos contra a vida praticados no estrangeiro por brasileiros...................... 167
3.2.3. Crime doloso contra a vida cometido por estrangeiro no Brasil contra brasileiro. ...... 168
3.3. Júri federal............................................................................................................................ 168
3.3.1. Júri federal. Linhas gerais............................................................................................ 168
3.3.2. Júri federal e agente ou vítima que seja servidor público federal................................ 169
3.3.3. Júri federal e aberratio ictus......................................................................................... 170
3.3.4. Júri federal e conexão ou continência com infração de competência da Justiça estadual...... 170
3.3.5. Júri federal e a prática de crime doloso contra a vida no contexto de disputa sobre
direitos indígenas (art. 109, XI, da CF)............................................................................ 172
3.3.5.1. Crime cometido por indígena e necessidade de tradução de peças e de intérprete
aos acusados. Estudo antropológico................................................................................... 173
3.3.6. Júri federal e a prática de crime doloso contra a vida cometido a bordo de navio ou
aeronave (art. 109, IX, da CF)......................................................................................... 173
3.4. Júri estadual e do Distrito Federal......................................................................................... 174
3.5. Crime eleitoral em conexão com delito doloso contra a vida................................................ 174
3.6. Crime militar em conexão com delito doloso contra a vida................................................... 174
3.6.1. Alargamento da competência da Justiça Militar decorrente da Lei 13.491/2017 - O
novo conceito de crime militar trazido pela legislação..................................................... 175
3.6.2. Conexão entre um crime doloso contra a vida e crime militar..................................... 176
3.6.2.1. Conexão teleológica entre crime doloso contra a vida e crime militar................ 176
3.6.2.2. Norma processual de efeito imediato................................................................. 178
3.6.2.3. Retroatividade da lei penal e aplicação de benefícios penais pela Justiça Militar...... 181
3.7. Derrogação da competência constitucional do Júri. Foro por prerrogativa de função. ........ 181
3.7.1. Supremo Tribunal Federal........................................................................................... 183
3.7.2. Superior Tribunal de Justiça........................................................................................ 184
3.7.3. Tribunais de Justiça..................................................................................................... 185
3.7.3.1. Tribunais de Justiça e Constituições Estaduais.................................................. 185
3.7.4. Tribunais Regionais Federais...................................................................................... 190
3.7.5. Crimes praticados em coautoria.................................................................................. 190
3.7.6. Perda do cargo com prerrogativa de função................................................................ 192
3.8. Tribunal do Júri e violência doméstica (Lei 11.340/06)......................................................... 193
3.9. Tribunal do Júri e crimes praticados por militares................................................................. 195
3.9.1. Crimes dolosos contra a vida de civil praticados por militares. Regras gerais............ 195
3.9.2. Aberratio ictus e crime militar....................................................................................... 201
3.9.3. Crimes dolosos contra a vida de civil praticados por integrante das Forças Armadas.
Regras especiais. ........................................................................................................... 202
3.9.4. A retirada da competência do Júri Federal para processar e julgar os crimes dolosos
praticados por integrantes das Forças Armadas contra civil, atribuindo-a à Justiça Militar
da União, é inconstitucional?................................................................................................ 204
3.10. Tribunal do Júri e federalização das causas relativas a direitos humanos. Incidente de
deslocamento de competência para a Justiça federal (art. 109, V-A e § 5º, da CF).............. 205
3.11. Tribunal do Júri e crime de genocídio (Lei 2.889/56).......................................................... 210
3.12. Tribunal do Júri e o crime de latrocínio (art. 157, § 3º, do CP)........................................... 212
3.13. Tribunal do Júri e Tribunal Penal Internacional (art. 5º, § 4º, da CF).................................. 213
3.14. Crime doloso contra a vida praticado contra o Presidente da República, do Senado Federal, da
Câmara dos Deputados ou do Supremo Tribunal Federal....................................................... 213
3.15. Julgamento colegiado em 1º grau de jurisdição de crimes praticados por organizações
criminosas (Lei 12.694/12). Inovações trazidas pelo Pacote Anticrime (Lei 13.964/2019):
Vara Colegiada. ..................................................................................................................... 213
3.15.1. Julgamento colegiado em 1ª instância por decisão de juiz que se sinta intimidado
(Lei 12.694/12)................................................................................................................. 213
3.15.2. Julgamento colegiado em 1ª instância por Vara Criminal Colegiada (Lei
13.964/2019).................................................................................................................... 216
3.15.2.1. Linhas gerais.................................................................................................... 216
3.15.2.2. Distinções entre o juízo colegiado em 1ª instância (Lei 12.694/2012) e a Vara
Criminal Colegiada (Lei 13.964/2019) ...................................................................... 217
3.15.2.3. Número de juízes da Vara Colegiada. Sigilo das reuniões de seus integrantes.
Referência a voto divergente de um de seus integrantes.............................................. 218
3.15.2.4. Qual órgão de justiça deve prevalecer: Vara Criminal Colegiada ou juízo
colegiado?............................................................................................................ 218
3.15.2.5. Vara Criminal Colegiada (Lei 13.964/2019) e Júri............................................ 218
3.16. Tribunal do Júri e perpetuatio jurisdicionis.......................................................................... 220
3.16.1. Perpetuatio jurisdicionis e criação de órgão judiciário............................................... 220
3.16.2. Perpetuatio jurisdicionis e alteração da competência absoluta................................. 221

CAPÍTULO 4
Procedimento Especial do Júri...................................................................................................... 223
4.1. Do processo criminal............................................................................................................. 223
4.2. Rito ou procedimento criminal............................................................................................... 223
4.3. Rito do Júri............................................................................................................................ 223
4.3.1. Judicium accusationes................................................................................................. 223
4.3.1.1. Prioridade de julgamento ................................................................................... 224
4.3.2. Judicium causae.......................................................................................................... 225
4.3.3. Ordem de manifestação no rito do Júri na hipótese de corréus ................................. 225

CAPÍTULO 5
Juízo da Acusação........................................................................................................................... 227
5.1. Protagonistas do processo penal.......................................................................................... 227
5.1.1. Ministério Público......................................................................................................... 227
5.1.1.1. Ministério Público e vítimas................................................................................ 228
5.1.2. Assistente da acusação............................................................................................... 229
5.1.2.1. Generalidades.................................................................................................... 229
5.1.2.2. Atribuições.......................................................................................................... 230
5.1.2.3. Associação atuando como assistente da acusação........................................... 232
5.1.3. Defensor...................................................................................................................... 232
5.1.4. Acusado....................................................................................................................... 233
5.1.5. Juiz............................................................................................................................... 233
5.2. Denúncia............................................................................................................................... 234
5.2.1. Requisitos da denúncia ou queixa. Publicidade. Pedido de indenização.................... 234
5.2.1.1. Descrição pormenorizada da conduta de cada réu. .......................................... 235
5.2.1.2. Necessidade de narração das qualificadoras, causas de aumento de pena e
do crime conexo........................................................................................................ 237
5.2.1.3. Denúncia e arrolamento de testemunhas........................................................... 237
5.2.1.4. Denúncia alternativa que cumula imputação de dolo direto ou eventual........... 238
5.2.1.5. Desarquivamento de inquérito policial em razão de novas provas e oferecimento
de denúncia..................................................................................................................... 238
5.2.1.6. Arquivamento de inquérito policial militar e oferecimento de denúncia em
razão de novas provas......................................................................................... 240
5.2.1.7. Denúncia e dúvida a respeito da existência de crime militar ou de crime doloso
contra a vida.............................................................................................................. 242
5.2.1.8. Recebimento da denúncia e reconhecimento pessoal e fotográfico.................. 243
5.3. Denúncia e possibilidade de oferecimento de transação penal lato sensu ao autor de crime
conexo ao doloso contra a vida............................................................................................. 243
5.4. Denúncia e possibilidade de se oferecer acordo de não persecução penal ao autor de
crime conexo e para o autor de crime doloso contra a vida (art. 28-A do CPP, acrescentado
pela Lei 13.964/2019- Pacote Anticrime)............................................................................... 248
5.5. Denúncia e possibilidade de proposta de suspensão condicional do processo ao autor de
crime doloso contra a vida em geral ..................................................................................... 253
5.6. Possibilidade de se oferecer transação penal e suspensão condicional da pena ao crime
doloso contra a vida de induzimento, instigação ou auxílio a suicídio (art. 122 do CP)........ 257
5.6.1. É possível se oferecer transação penal para o autor do crime doloso contra a vida
de induzimento, instigação ou auxílio a suicídio?............................................................ 257
5.7. Aditamento da denúncia de crime doloso contra a vida........................................................ 260
5.8. Recebimento da denúncia. Ato decisório. Decretação da prisão preventiva ou medidas
cautelares. Citação................................................................................................................ 263
5.8.1. Recebimento ou rejeição da denúncia e sua fundamentação..................................... 263
5.8.1.1. Hipóteses de rejeição da denúncia de crime doloso contra a vida..................... 264
5.8.1.1.1. Denúncia manifestamente inepta.............................................................. 264
5.8.1.1.2. Rejeição da denúncia por faltar pressuposto processual ou condição
para o exercício da ação penal........................................................................... 264
5.8.1.1.2.1. Rejeição por incompetência do Juízo.............................................. 265
5.8.1.1.3. Rejeição da denúncia por faltar justa causa para o exercício da ação
penal. Verificação do cumprimento das regras da cadeia de custódia. ............. 266
5.8.1.2. É possível rejeitar-se a denúncia após a decisão de de recebimento? ............ 267
5.8.1.3. Rejeição ou recebimento da denúncia e recurso............................................... 268
5.8.1.4. Recebimento/rejeição parcial da denúncia......................................................... 268
5.8.1.5. Modificação da imputação pelo juiz no ato de recebimento da denúncia.......... 272
5.8.2. Recebimento da denúncia e decretação da prisão preventiva ou de medidas cautelares.. 273
5.8.2.1. Prisão preventiva e medidas cautelares. Noções gerais.................................... 273
5.8.2.2. Prisão preventiva de crimes dolosos contra a vida............................................ 274
5.8.2.2.1. Pressupostos da prisão preventiva........................................................... 274
5.8.2.2.2. Fundamentos da prisão preventiva........................................................... 274
5.8.2.2.3. Condições de admissibilidade da prisão preventiva no caso dos crimes
dolosos contra a vida ......................................................................................... 275
5.8.2.2.4. Revisão obrigatória e fundamentada da prisão preventiva, de ofício, pelo
juiz....................................................................................................................... 277
5.8.2.2.5. Proibição da decretação da prisão preventiva.......................................... 277
5.8.2.2.6. Prisão preventiva com fundamentação ilegal ........................................... 278
5.8.3. Prisão domiciliar........................................................................................................... 278
5.8.4. Citação......................................................................................................................... 280
5.8.4.1. Citação com hora certa....................................................................................... 280
5.8.4.2. Citação por edital e produção antecipada de provas......................................... 281
5.9. Prioridade de julgamento e produção antecipada de provas................................................ 284
5.9.1. Prioridade de julgamento............................................................................................. 284
5.9.2. Produção antecipada de provas ................................................................................. 285
5.10. Resposta à acusação.......................................................................................................... 286
5.10.1. Linhas gerais.............................................................................................................. 286
5.10.2. Resposta à acusação na hipótese de corréus em que um deles seja delator........... 289
5.10.3. Justificação. Produção antecipada de prova............................................................. 289
5.11. Despacho inicial.................................................................................................................. 292
5.12. Audiência una de instrução, debates e julgamento............................................................. 292
5.12.1. Linhas gerais.............................................................................................................. 292
5.12.1.1. Tele audiência (audiência virtual)..................................................................... 294
5.12.1.2. Ultrapassada a pandemia (ou convivendo-se com ela), as audiências virtuais
devem continuar?...................................................................................................... 294
5.12.1.3. Incomunicabilidade e audiências virtuais ........................................................ 296
5.12.1.4. Acareações, reconhecimento de pessoas e outras provas audiências virtuais... 297
5.12.1.5. Audiência virtual e testemunhas ameaçadas................................................... 297
5.12.1.6. Interrogatório real e virtual do acusado............................................................ 297
5.12.1.7. Sistema misto de inquirição: presencial e virtual.............................................. 299
5.12.1.8. Participação do juiz e das partes nas audiências............................................. 299
5.12.1.9. Mudança de paradigma. Novas tecnologias digitas. O metaverso. ................. 299
5.12.2. Gravação audiovisual da audiência e transcrição..................................................... 300
5.12.2.1. Declarações do ofendido.................................................................................. 300
5.12.2.1.1. Inquirição direta das vítimas.................................................................... 301
5.12.2.1.2. Incomunicabilidade das vítimas. Vítimas e testemunhas com identidade
sob sigilo. ................................................................................................................. 301
5.12.2.1.2.1. Teleaudiências e incomunicabilidade............................................. 302
5.12.2.1.3. Inquirição da mulher em situação de violência doméstica e familiar ou
de testemunha de violência doméstica .............................................................. 303
5.12.2.1.3.1. Linhas gerais. ................................................................................ 303
5.12.2.1.3.2. Procedimento de inquirição............................................................ 304
5.12.2.1.4. Depoimento sem dano ........................................................................... 304
5.12.2.1.4.1. Previsão legal do depoimento sem dano....................................... 305
5.12.2.1.4.2. Definição legal do depoimento especial......................................... 305
5.12.2.1.4.3. Proteção de contato com o autor................................................... 305
5.12.2.1.4.4. Local do depoimento especial........................................................ 305
5.12.2.1.4.5. Depoimento especial e produção antecipada de provas............... 305
5.12.2.1.4.6. Impossibilidade de novo depoimento especial, em regra.............. 306
5.12.2.1.4.7. Procedimento do depoimento especial.......................................... 306
5.12.2.1.4.8. Preservação da intimidade e privacidade...................................... 307
5.12.2.1.5. Declarações na ausência do réu............................................................. 307
5.12.2.1.6. Proibição de ofensa à dignidade de vítimas e testemunhas quando de
suas oitivas em audiência (Lei 14.245/2021- Lei Mariana Ferrer). Violência
institucional (Lei 14.321/2022) e instrução na 1ª fase do rito do Júri.................. 308
5.12.2.1.6.1. Entrada em vigor da nova Lei. Texto legal. Histórico de sua
promulgação. ...................................................................................... 308
5.12.2.1.6.2. A Lei Mariana Ferrer é aplicável à 1ª fase do rito do Júri?............. 308
5.12.2.1.6.3. Aplicação da Lei Mariana Ferrer na 1ª fase do rito do Júri............. 309
5.12.2.1.6.4. Violência institucional (Lei 14.321/2022) e instrução na 1ª fase do
rito do Júri..................................................................................................... 312
5.12.2.2. Ordem de inquirição das testemunhas............................................................. 314
5.12.2.2.1. Regra geral.............................................................................................. 314
5.12.2.2.2. Particularidades na ordem de oitivas de testemunhas arroladas pelas
defesas dos acusados delator e delatado. ......................................................... 315
5.12.2.2.3. Substituição de testemunha.................................................................... 315
5.12.2.2.4. Princípio da comunhão da prova............................................................. 315
5.12.3. Número de testemunhas............................................................................................ 316
5.12.4. Inquirição direta das testemunhas............................................................................. 317
5.12.5. Incomunicabilidade das testemunhas........................................................................ 318
5.12.5.1. Incomunicabilidade e audiências virtuais ........................................................ 318
5.12.6. Depoimento na ausência do réu................................................................................ 319
5.12.7. Direito de a defesa ter acesso à qualificação da testemunha com identidade protegida.. 319
5.12.8. Esclarecimentos dos peritos...................................................................................... 319
5.12.9. Acareações, reconhecimento de pessoas e coisas e juntada de documentos.......... 321
5.12.10. Interrogatório............................................................................................................ 323
5.12.10.1. Interrogatório. Linhas gerais........................................................................... 323
5.12.10.2. Interrogatório e delação de corréu.................................................................. 324
5.12.10.3. Interrogatório e carta precatória..................................................................... 326
5.12.10.4. Processos com dois ou mais réus e possibilidade de o advogado de um
deles realizar perguntas quando do interrogatório do outro corréu. ....................... 326
5.12.10.5. É possível o interrogatório virtual de réu foragido?........................................ 328
5.12.11. Debates.................................................................................................................... 330
5.12.11.1. Linhas gerais................................................................................................... 330
5.12.11.2. A apresentação de alegações finais pela defesa é obrigatória?..................... 332
5.12.11.3. Tempo de debates no caso de ação penal subsidiária da pública e ação
privada. ..................................................................................................................... 332
5.12.11.4. Possibilidade de conversão dos debates em memorais escritos.................... 333
5.12.11.5. Ordem de apresentação dos debates ou de memoriais escritos na hipótese
de corréus.................................................................................................................. 333
5.12.12. Decisão.................................................................................................................... 334
5.12.12.1. Conversão do julgamento em diligência......................................................... 334
5.12.12.2. Princípio da identidade física do juiz.............................................................. 336
5.12.13. Registro formal da audiência. Possibilidade de gravação da audiência pelas partes. .... 337
5.13. Prazo para conclusão da primeira fase do procedimento................................................... 338

CAPÍTULO 6
Pronúncia.......................................................................................................................................... 341
6.1. Requisitos da pronúncia........................................................................................................ 341
6.1.1. Prova da existência do crime....................................................................................... 341
6.1.2. Indícios suficientes de que o réu seja o autor. Depoimento de ouvir dizer. Autoria e
participação. Participação de menor importância e cooperação dolosamente distinta. A
prova do motivo implica a prova da autoria?................................................................... 347
6.1.2.1. Autoria e participação......................................................................................... 350
6.1.2.2. Autoria e aberratio ictus com unidade complexa................................................ 351
6.1.2.3. Necessidade de prova suficiente do fato ilícito e de autoria culpável para a
pronúncia................................................................................................................... 352
6.1.2.4. A prova do motivo implica a prova da autoria?................................................... 352
6.1.3. Pronúncia e standards probatórios.............................................................................. 353
6.1.4. Pronúncia lastreada em prova lícita............................................................................. 354
6.2. Pronúncia e sua fundamentação.......................................................................................... 355
6.3. Excesso de linguagem na pronúncia.................................................................................... 357
6.3.1. Excesso de linguagem na pronúncia: linhas gerais. ................................................... 357
6.3.2. Excesso de linguagem e anulação da pronúncia: deve a pronúncia ser desentranhada
dos autos? ........................................................................................................................... 359
6.4. Pronúncia e qualificadoras.................................................................................................... 361
6.4.1. Necessidade de fundamentação adequada e de prova judicial para que a qualificadora
seja reconhecida na pronúncia. ........................................................................................... 361
6.4.2. Qualificadoras em espécie e seu substrato lógico e jurídico....................................... 363
6.4.3. Qualificadoras e recursos............................................................................................ 364
6.5. Pronúncia com base em provas colhidas exclusivamente no inquérito policial.................... 365
6.5.1. Pronúncia e reconhecimento pessoal ou fotográfico................................................... 367
6.6. Decisão de pronúncia e aplicação de pena. Pronúncia e tese de colaboração premiada.... 373
6.6.1. Decisão de pronúncia e aplicação de pena................................................................. 373
6.6.2. Pronúncia e colaboração premiada............................................................................. 376
6.7. Pronúncia e o princípio da correlação. Emendatio e mutatio libelli....................................... 377
6.7.1. Emendatio libelli........................................................................................................... 378
6.7.1.1. Emendatio libelli e reconhecimento de qualificadora......................................... 382
6.7.1.2. Mutatio libelli....................................................................................................... 382
6.7.1.3. Mutatio libelli e reconhecimento de qualificadora e causas de aumento de
pena .......................................................................................................................... 385
6.8. Efeitos da decisão de pronúncia........................................................................................... 386
6.9. Pronúncia e prisão preventiva do acusado ou imposição de outras medidas cautelares..... 387
6.10. Pronúncia e excesso de prazo da prisão............................................................................ 389
6.11. Pronúncia e crime conexo................................................................................................... 390
6.12. Intimação da decisão de pronúncia..................................................................................... 392
6.12.1. Regras gerais............................................................................................................. 392
6.12.2. Acusado localizado no estrangeiro............................................................................ 393
6.12.3. Processos que tramitavam antes da vigência da Lei 9.271/96 que alterou o art. 366
do CPP............................................................................................................................. 394
6.13. Prova de autoria ou participação de outras pessoas não incluídas na acusação............... 395
6.14. Recurso da decisão de pronúncia....................................................................................... 396
6.14.1. Recurso da decisão de pronúncia e impronúncia concomitantes.............................. 397
6.14.2. Recurso da decisão de pronúncia e desclassificação simultâneas........................... 398
6.14.3. Recurso da decisão de pronúncia e absolvição sumária simultâneas....................... 398
CAPÍTULO 7
Impronúncia...................................................................................................................................... 399
7.1. Hipóteses de impronúncia..................................................................................................... 399
7.1.1. Excesso de linguagem na impronúncia....................................................................... 400
7.2. Propositura de nova ação penal........................................................................................... 401
7.2.1. Necessidade de novas provas..................................................................................... 401
7.3. Importância da impronúncia.................................................................................................. 402
7.4. Despronúncia........................................................................................................................ 409
7.5. Impronúncia e crimes conexos.............................................................................................. 410
7.6. Impronúncia de crime conexo............................................................................................... 410
7.7. Intimação da sentença de impronúncia................................................................................. 411
7.8. Prova de autoria ou participação de outras pessoas não incluídas na acusação................. 411
7.9. Impronúncia e recurso........................................................................................................... 412
7.9.1. Impronúncia parcial e recurso...................................................................................... 413
7.9.2. Recurso da decisão de impronúncia e pronúncia concomitantes................................ 414
7.9.3. Recurso da decisão de impronúncia e desclassificação simultâneas......................... 414
7.9.4. Recurso da decisão de impronúncia e absolvição sumária simultâneas..................... 415

CAPÍTULO 8
Desclassificação............................................................................................................................... 417
8.1. Desclassificação de um dos crimes conexos e remessa para o Júri.................................... 421
8.2. Conflito de competência........................................................................................................ 421
8.3. Desclassificação para delito de alçada da Lei 9.099/95....................................................... 424
8.4. Desclassificação e crime militar............................................................................................ 424
8.5. Desclassificação e crimes conexos....................................................................................... 425
8.6. Intimação da decisão de desclassificação............................................................................ 425
8.7. Prova de autoria ou participação de outras pessoas não incluídas na acusação................. 425
8.8. Recurso da decisão desclassificatória.................................................................................. 426
8.8.1. Recurso da decisão de desclassificação e pronúncia simultâneas............................. 428
8.8.2. Recurso da decisão desclassificatória e impronúncia simultâneas............................. 428
8.8.3. Recurso da decisão desclassificatória e absolvição sumária simultâneas.................. 428

CAPÍTULO 9
Absolvição Sumária.......................................................................................................................... 429
9.1. Diferença entre impronúncia e absolvição sumária.............................................................. 430
9.2. Hipóteses de absolvição sumária por inexistência do fato, prova de que o acusado não é
seu autor ou partícipe e por atipicidade do fato..................................................................... 430
9.3. Hipóteses de absolvição sumária pela existência de causas excludentes de ilicitude......... 431
9.4. Hipóteses de absolvição sumária por circunstâncias que isentam o réu de pena................ 431
9.5. Inimputabilidade e semi-imputabilidade e absolvição sumária............................................. 432
9.6. Absolvição sumária e crimes conexos.................................................................................. 434
9.7. Absolvição sumária de crime conexo.................................................................................... 435
9.8. Intimação da sentença de absolvição sumária..................................................................... 435
9.9. Prova de autoria ou participação de outras pessoas não incluídas na acusação................. 436
9.10. Fim do recurso ex officio..................................................................................................... 437
9.11. Recurso da sentença de absolvição sumária...................................................................... 437
9.11.1. Recurso da decisão de absolvição sumária e pronúncia simultâneas....................... 437
9.11.2. Recurso da decisão de absolvição sumária e impronúncia simultâneas................... 438
9.11.3. Recurso da decisão de absolvição sumária e desclassificação simultâneas............ 438

CAPÍTULO 10
Juízo da Causa – Preparação para o Julgamento....................................................................... 439
10.1. Fato modificativo superveniente à pronúncia...................................................................... 439
10.1.1. Fato processual penal modificativo da competência absoluta do Júri....................... 443
10.2. Da preparação do processo para julgamento em plenário................................................. 445
10.2.1. Requerimento de diligências e arrolamento de testemunhas.................................... 445
10.2.1.1. Arrolamento de testemunhas. Número legal. ................................................. 445
10.2.1.2. Número de Testemunhas não abarca oitiva de vítima e peritos....................... 447
10.2.1.3. Número de vítimas e aberratio icuts................................................................. 447
10.2.1.4. Arrolamento de testemunhas e preclusão........................................................ 447
10.2.1.5. O assistente da acusação pode arrolar testemunhas?.................................... 447
10.2.1.6. Testemunhas e vítimas arroladas em caráter de imprescindibilidade.............. 448
10.2.1.6.1. Pode ser determinado, pelo juiz, de ofício, a oitiva da vítima? .............. 448
10.2.1.7. Intimação pessoal de testemunhas e vítimas................................................... 449
10.2.1.7.1. Intimação por via eletrônica..................................................................... 449
10.2.1.8. Testemunha arrolada em caráter de imprescindibilidade que não tenha sido
localizada................................................................................................................... 450
10.2.1.9. A cláusula de imprescindibilidade aplica-se à vítima?...................................... 450
10.2.1.10. Perito oficial e assistente técnico e o rol de testemunhas.............................. 451
10.2.1.11. Substituição de testemunhas.......................................................................... 451
10.2.1.12. Renovação do rol de testemunhas no caso de julgamento anterior anulado. 451
10.2.1.13. Arrolamento de corréu como testemunha....................................................... 453
10.2.1.14. Juntada de documentos e requerimento de diligências................................. 453
10.2.1.15. Requerimento de transcrição dos depoimentos colhidos por meio audiovisual
para o plenário................................................................................................................ 457
10.2.1.16. Testemunha residente em outra comarca ...................................................... 459
10.2.1.17. Réu residente em outra comarca................................................................... 461
10.3. Ordem de apresentação da manifestação na fase do art. 422 na hipótese de corréus
em que um deles seja delator ............................................................................................... 462
10.4. Despacho saneador, juntada de relatório sucinto aos autos e designação de data para o
julgamento............................................................................................................................. 462
10.5. Data para designação do julgamento em plenário.............................................................. 466
10.6. Desmembramento de julgamento de corréus..................................................................... 467

CAPÍTULO 11
Juízo da Causa – Julgamento pelo Júri........................................................................................ 469
11.1. Abertura dos trabalhos da sessão – quórum mínimo.......................................................... 469
11.2. Jurados suplentes............................................................................................................... 469
11.2.1. Questão dos empréstimos de jurados........................................................................ 472
11.3. Multa ao jurado faltoso........................................................................................................ 473
11.4. Escusas oferecidas pelo jurado........................................................................................... 473
11.5. Análise pelo juiz presidente dos casos de impedimentos, isenção ou dispensa dos jurados...... 474
11.6. Pedido de adiamento da sessão e justificativa para não comparecimento......................... 475
11.6.1. Pedido de adiamento da sessão indeferido e nomeação de advogado ad hoc para
a sessão.......................................................................................................................... 475
11.7. Ausência das partes ou testemunhas.................................................................................. 475
11.7.1. Ausência do órgão do Ministério Público................................................................... 475
11.7.2. Réu sem defensor...................................................................................................... 476
11.7.3. Ausência do defensor................................................................................................. 476
11.7.4. Ausência do réu.......................................................................................................... 481
11.7.5. Ausência do acusador particular, em caso de queixa-crime em ação penal privada
subsidiária da pública...................................................................................................... 484
11.7.6. Ausência do querelante em caso de ação penal privada exclusiva em conexão com
ação penal pública........................................................................................................... 485
11.7.7. Ausência do advogado do assistente da acusação................................................... 485
11.7.8. Ausência de vítima ou testemunha arrolada pelas partes.......................................... 486
11.7.8.1. Vítima arrolada: oitiva imprescindível, se requerida pela parte. Direito da par-
te à condução coercitiva da vítima que, intimada, não compareceu. ....................... 486
11.7.8.2. Possibilidade de as partes requerem a expedição de ofícios para se localizar
o paradeiro da vítima não localizada ou sua substituição ........................................ 486
11.7.8.3. Impossibilidade de o juiz determinar, de ofício, a condução coercitiva da víti-
ma.............................................................................................................................. 487
11.7.8.4. Testemunha não localizada no endereço fornecido. Possibilidade de sua
substituição. .............................................................................................................. 487
11.7.8.5. Testemunha arrolada em caráter de imprescindibilidade.................................. 488
11.7.8.6. Testemunha arrolada sem o caráter de imprescindibilidade............................. 491
11.8. Produção antecipada de prova em plenário não realizado................................................. 491
11.9. Plenário não realizado e sua nova designação para o dia seguinte................................... 491
11.10. Instalação da sessão e posicionamento das partes na tribuna......................................... 491
11.11. Advertência do juiz presidente aos jurados sobre os impedimentos, incompatibilidades
e suspeições.......................................................................................................................... 493
11.12. Suspeição.......................................................................................................................... 493
11.13. Impedimento...................................................................................................................... 495
11.14. Incompatibilidade............................................................................................................... 497
11.14.1. Suspeição, impedimento e incompatibilidade e nulidades....................................... 497
11.15. Advertência do juiz presidente aos jurados sobre a incomunicabilidade.......................... 498
11.16. Arguição de suspeição...................................................................................................... 499
11.16.1. Arguição de suspeição contra o jurado no plenário................................................. 499
11.16.2. Arguição de suspeição contra o juiz presidente, promotor ou qualquer funcionário
antes do plenário............................................................................................................. 500
11.16.3. Arguição de suspeição contra o juiz presidente, promotor ou qualquer outro
funcionário no plenário............................................................................................... 501
11.16.4. Arguição contra o promotor em plenário ................................................................. 501
11.16.4.1. Promotor suspeito e nulidade......................................................................... 503
11.16.4.2. Designação de promotor para o Júri............................................................... 503
11.16.4.3. Atuação em conjunto de dois ou mais promotores em plenário..................... 504
11.16.5. Arguição contra funcionário...................................................................................... 504
11.16.6. Produção da prova da suspeição em plenário......................................................... 505
11.16.7. Arguição contra o juiz............................................................................................... 505
11.16.8. Quem pode arguir suspeição e contra quem? ....................................................... 506
11.17. Recusas peremptórias ou imotivadas............................................................................... 506
11.18. Formação do Conselho de Sentença, sua exortação e compromisso.............................. 510
11.18.1. Ausência de compromisso: efeitos .......................................................................... 512
11.18.2. Jurado incapaz de exercer a função........................................................................ 512
11.18.3. Jurado estrangeiro................................................................................................... 512
11.19. Entrega de cópias da pronúncia e do relatório do processo............................................. 513
11.20. Instrução em plenário........................................................................................................ 513
11.20.1. Declarações do ofendido.......................................................................................... 514
11.20.1.1. Regras gerais.................................................................................................. 514
11.20.1.2. Oitiva da vítima em segredo de justiça........................................................... 515
11.20.1.3. As partes podem dispensar a oitiva da vítima que esteja presente?.............. 515
11.20.2. Declarações do ofendido na ausência do acusado.................................................. 517
11.20.2.1. Inquirição da mulher em situação de violência doméstica e familiar ou de
testemunha de violência doméstica ......................................................................... 518
11.20.2.1.1. Linhas gerais. ........................................................................................ 518
11.20.2.1.2. Procedimento de inquirição................................................................... 519
11.20.2.2. Depoimento sem dano ou depoimento especial ........................................... 519
11.20.2.2.1. Previsão legal do depoimento especial................................................. 520
11.20.2.2.2. Definição legal do depoimento especial................................................ 520
11.20.2.2.3. Proteção de contato com o autor........................................................... 520
11.20.2.2.4. Local do depoimento especial............................................................... 520
11.20.2.2.5. Depoimento especial e produção antecipada de provas....................... 521
11.20.2.2.6. Impossibilidade de novo depoimento especial, em regra...................... 521
11.20.2.2.7. Procedimento do depoimento especial.................................................. 522
11.20.2.2.8. Preservação da intimidade e privacidade.............................................. 523
11.20.3. Incomunicabilidade das vítimas............................................................................... 524
11.20.4. Inquirição.................................................................................................................. 524
11.20.5. Inquirição de testemunhas....................................................................................... 524
11.20.5.1. Prova testemunhal........................................................................................ 524
11.20.5.1.1. Regras gerais......................................................................................... 524
11.20.5.1.2. Oitiva da testemunha em segredo de justiça......................................... 524
11.20.5.2. Testemunha não arrolada na fase de preparação do julgamento (art. 422 do
CPP).......................................................................................................................... 525
11.20.5.3. Testemunha ou vítima com identidade sob sigilo............................................ 528
11.21. Incomunicabilidade das testemunhas............................................................................... 529
11.22. Inquirição........................................................................................................................... 529
11.22.1. Inquirição direta pelas partes................................................................................... 529
11.22.2. Violação ao direito das partes á inquirição direta. O que fazer? ............................. 529
11.22.3. Inquirição pelo jurado............................................................................................... 530
11.22.4. Retorno ao sistema presidencialista se houver excessos na inquirição direta........ 530
11.22.5. Proibição de ofensa à dignidade de vítimas e testemunhas quando de suas
oitivas em plenário (Lei 14.245/2021- Lei Mariana Ferrer). Violência institucional (Lei
14.321/2022).............................................................................................................. 530
11.22.5.1. Entrada em vigor da nova Lei. Texto legal. Histórico de sua promulgação. .. 530
11.22.5.2. Lei processual penal para “resolver imediatamente o problema”. Resposta aos
reclamos sociais. Inflação legislativa. Inovação desnecessária. ..................................... 531
11.22.5.3. Como deve ser aplicado o art. 474-A do CPP? O difícil equilíbrio entre a
dignidade de vítima e testemunhas e os demais direitos de igual estatura constitu-
cional que não podem ser esquecidos. .................................................................... 534
11.22.5.4. E se o art. 474-A for violado e a vítima ou testemunha forem humilhadas,
ofendendo-se sua dignidade? O julgamento é nulo?................................................ 541
11.22.5.5. Violência institucional (Lei 14.321/2022) e instrução em plenário do Júri...... 543
11.23. Momento das oitivas.......................................................................................................... 545
11.24. Ordem de inquirição.......................................................................................................... 546
11.24.1. Ordem de inquirição e sistema acusatório constitucional. Inovação trazida pelo
pacote anticrime (art. 3º-A do CPP). Necessidade de mudança de paradigma. ............ 546
11.24.2. Atuação subsidiária do juiz presidente na produção da prova oral ....................... 549
11.24.3. Poder de direção do juiz presidente dos trabalhos da instrução criminal ............... 549
11.24.4. Ordem de inquirição legal (art. 473 do CPP) .......................................................... 550
11.25. Contradita e suspeição das testemunhas......................................................................... 551
11.26. Termo da oitiva.................................................................................................................. 552
11.27. Permanência da testemunha no Tribunal.......................................................................... 553
11.28. Falso testemunho em plenário.......................................................................................... 554
11.29. Retratação da testemunha em plenário............................................................................ 555
11.30. Falso testemunho na primeira fase do procedimento do Júri............................................ 556
11.31. Testemunha com prerrogativa de função ......................................................................... 557
11.32. Testemunha e, ao mesmo tempo, assistente da acusação............................................... 557
11.33. Reinquirição de testemunhas............................................................................................ 557
11.34. Local da oitiva das testemunhas....................................................................................... 559
11.35. Renovação do rol de testemunhas no caso de julgamento anterior anulado.................... 559
11.36. Depoimento da testemunha na ausência do acusado...................................................... 560
11.37. Acareações, reconhecimento de pessoas e coisas e esclarecimentos dos peritos.......... 561
11.37.1. Linhas gerais............................................................................................................ 561
11.37.2. Reconhecimento de pessoas e coisas..................................................................... 562
11.37.3. Esclarecimentos dos peritos.................................................................................... 563
11.38. Outras provas que podem ser requeridas ou produzidas em plenário.............................. 564
11.38.1. Os jurados podem ser consultados a respeito da necessidade de produção de
determinada prova requerida pelas partes? ................................................................... 565
11.39. Provas ilícitas e Júri........................................................................................................... 566
11.40. Dissolução do Conselho para a realização de diligências................................................ 567
11.40.1. Dissolução do Conselho de Sentença e aproveitamento das provas produzidas na
sessão............................................................................................................................. 567
11.41. Leitura de peças................................................................................................................ 568
11.41.1. Prova cautelar.......................................................................................................... 569
11.41.2. As provas não repetíveis.......................................................................................... 570
11.41.3. Provas antecipadas.................................................................................................. 571
11.41.4. Entrega de cópias de peças aos jurados................................................................. 573
11.41.5. Exibição de vídeos em plenário............................................................................... 573
11.42. Interrogatório. ................................................................................................................... 574
11.42.1. Interrogatório e corréus. Versões colidentes. Possibilidade de Cisão de julga-
mentos de corréus pelo juiz. Processos com dois ou mais réus e possibilidade de o
advogado de um deles realizar perguntas quando do interrogatório do outro corréu. ..... 575
11.43. Interrogatório e delação premiada. ................................................................................... 578
11.44. Perguntas pelas partes...................................................................................................... 580
11.45. Direito ao silêncio.............................................................................................................. 580
11.46. Corréus.............................................................................................................................. 581
11.46.1.1. Possibilidade de os corréus fazerem perguntas............................................. 581
11.47. Uso de algemas em plenário............................................................................................. 581
11.48. Banco dos réus.................................................................................................................. 585
11.49. Ausência ou deficiência de interrogatório.......................................................................... 586
11.49.1. Ausência de interrogatório........................................................................................ 586
11.49.2. Ausência de interrogatório como direito do réu e necessidade de sua presença
para o seu reconhecimento pessoal................................................................................ 586
11.49.3. Deficiência de interrogatório..................................................................................... 587
11.49.4. É possível o interrogatório virtual de réu foragido?.................................................. 587
11.50. Retirada do réu do plenário............................................................................................... 589
11.51. Debates............................................................................................................................. 589
11.52. Ordem dos debates........................................................................................................... 590
11.52.1. Debates com mais de um acusador......................................................................... 590
11.52.2. Debates com mais de um defensor.......................................................................... 590
11.53. Tempo dos debates........................................................................................................... 591
11.53.1. Tempo dos debates em caso de ação penal privada exclusiva e ação penal pública
em conexão........................................................................................................................... 592
11.53.2. Tempo dos debates no caso de ação penal privada subsidiária da pública ou com
assistente da acusação................................................................................................... 592
11.54. Possibilidade de prorrogação do tempo dos debates....................................................... 593
11.55. Limitação temática aos debates. Censura........................................................................ 594
11.55.1. A proibição de as partes se referirem ao teor da decisão de pronúncia, como argumento
de autoridade (art. 478, I, primeira parte, do CPP).......................................................... 595
11.55.1.1. Linhas gerais................................................................................................... 595
11.55.1.2. Análise crítica das limitações em espécie....................................................... 597
11.55.2. Proibição de as partes se manifestarem a respeito da determinação para que o
acusado permaneça algemado, como argumento de autoridade (art. 478, I, segunda
parte, do CPP)................................................................................................................. 599
11.55.3. Proibição de se fazer referências ao silêncio do acusado ou à ausência de
interrogatório em seu prejuízo (art. 478, II, do CPP)....................................................... 600
11.55.4. Interpretação atual a respeito da constitucionalidade das limitações temáticas dos
debates............................................................................................................................ 601
11.55.5. Aplicação prática das vedações temáticas em plenário........................................... 601
11.56. Aparte................................................................................................................................ 604
11.57. Pedido de informações ou esclarecimentos de fatos pela parte ou pelos jurados............ 606
11.58. Teses da acusação............................................................................................................ 608
11.58.1. Teses do Ministério Público. Liberdade postulatória como regra. ........................... 608
11.58.1.1. Impossibilidade de o promotor sustentar a “desclassificação” de crime doloso
contra a vida para o delito de latrocínio, em plenário. .............................................. 609
11.58.1.2. Acusação bifronte. ......................................................................................... 611
11.58.2. Querelante em ação penal privada exclusiva.......................................................... 611
11.58.3. Querelante em ação penal privada subsidiária da pública....................................... 612
11.59. Teses da defesa.............................................................................................................. 612
11.59.1. Teses da Defesa. Liberdade postulatória como regra.............................................. 612
11.59.2. Defesa técnica e autodefesa diversas..................................................................... 612
11.59.3. Impossibilidade de a defesa sustentar desclassificação para outro delito, cujos
elementos típicos sejam completamente diferentes daqueles referentes à imputação
original............................................................................................................................. 613
11.59.4. O que é defesa bifronte?.......................................................................................... 613
11.59.5. Pode a defesa sustentar a absolvição utilizando-se de argumentos extrajurídicos?..... 614
11.59.6. Impossibilidade de a defesa sustentar a tese da legítima defesa da honra em ple-
nário trazida pela medida cautelar na arguição de descumprimento de preceito
fundamental 779/DF. ....................................................................................................... 615
11.59.6.1. Breve histórico do tema.................................................................................. 615
11.59.6.2. Falta de lógica entre as decisões.................................................................... 616
11.59.6.3. Fundo prático da decisão liminar: correção de rumos.................................... 617
11.59.6.4. Efeitos práticos da liminar no julgamento dos recursos pelo Júri. Inovação
prejudicial à defesa. .................................................................................................. 618
11.59.6.5. Outras teses metajurídicas também estão proibidas?.................................... 619
11.59.6.6. Liminar em colisão com a Lei Maior................................................................ 619
11.59.6.7. A liminar já deve ser aplicada aos novos Júris?.............................................. 620
11.59.6.8. Como aplicar de uma maneira apropriada ao rito do Júri a nova determinação
advinda da ADPF?.......................................................................................................... 622
11.59.6.8.1. Tese da Legítima defesa da honra quando dos debates. Interpretação
pragmática .......................................................................................................... 622
11.59.6.8.2. Tese da legítima defesa da honra e instrução....................................... 626
11.59.6.8.3. Tese da legítima defesa da honra e interrogatório................................. 627
11.59.6.8.4. Tese da legítima defesa da honra e votação dos quesitos.................... 627
11.59.6.8.5. Tese de legítima defesa da honra e recursos........................................ 627
11.59.6.8.6. Nosso posicionamento a respeito da tese de legítima defesa da honra ...... 629
11.60. Réplica e tréplica............................................................................................................... 630
11.60.1. Pode haver tréplica sem réplica?............................................................................. 630
11.60.2. Réplica na hipótese de diversos acusadores........................................................... 632
11.60.3. Inovação na tréplica................................................................................................. 634
11.60.4. Tréplica em sendo diversos defensores................................................................... 638
11.61. Proibição de depoimento pessoal pelos tribunos.............................................................. 639
11.62. Proibição de leitura ou produção de documento novo em plenário.................................. 639
11.62.1. Vedação à apresentação de documentos em geral................................................. 639
11.62.2. Contagem do prazo para a juntada do documento novo......................................... 640
11.62.3. Direito à contraprova................................................................................................ 641
11.62.4. Livros, artigos e estudos científicos......................................................................... 642
11.62.5. Reconstituição do crime em plenário....................................................................... 642
11.62.6. Corpo da vítima ou do réu são documentos?.......................................................... 642
11.62.7. Fato novo que surge em plenário............................................................................. 643
11.62.8. Alusão a documento não juntado aos autos............................................................ 643
11.62.9. Exibição de documentos sobre a vida das testemunhas ........................................ 643
11.62.10. Exibição de documentos e nulidades..................................................................... 644
11.62.11. Exibição de vídeo e fotografia em plenário não relacionados- diretamente- com os
fatos submetidos ao Conselho de Sentença. Leitura de repertório de jurisprudências...... 644
11.62.12. Proibição de as partes pesquisarem, pela internet, em plenário, questão relacio-
nada à causa................................................................................................................... 644
11.63. Oferecimento de memoriais.............................................................................................. 645
11.64. Momento para se arguir nulidade ocorrida em plenário.................................................... 647
11.65. Preparação para o julgamento.......................................................................................... 647
11.66. Do questionário e sua votação.......................................................................................... 651
11.66.1. Quesitos................................................................................................................... 651
11.66.2. Fontes dos quesitos................................................................................................. 653
11.66.2.1. Interrogatório como fonte de quesitos............................................................. 653
11.66.3. Redação dos quesitos.............................................................................................. 655
11.66.4. Ordem dos quesitos................................................................................................. 656
11.66.4.1. Materialidade do fato....................................................................................... 656
11.66.4.1.1. Quesitação do nexo de causalidade no homicídio consumado............. 656
11.66.4.2. Autoria ou participação.................................................................................... 657
11.66.4.2.1. Especificação concreta da conduta do partícipe................................... 658
11.66.4.2.2. Impossibilidade de inovação da tese acusatória de dolo direto para
eventual ou de eventual para direto em plenário................................................ 659
11.66.4.3. Se o acusado deve ser absolvido................................................................... 660
11.66.4.4. Causas de diminuição de pena alegadas pela defesa.................................... 660
11.66.4.5. Circunstâncias qualificadoras......................................................................... 661
11.66.4.6. Causas de aumento de pena.......................................................................... 661
11.66.4.7. Prejudicialidade dos quesitos.......................................................................... 661
11.67. Tentativa............................................................................................................................ 662
11.68. Tese de desclassificação da infração para outra de competência do juiz singular........... 663
11.69. Tese de desclassificação da infração para outra de competência do Júri........................ 663
11.70. Mais de um crime ou mais de um acusado....................................................................... 664
11.71. Leitura dos quesitos.......................................................................................................... 664
11.72. Oportunidade para se reclamar dos quesitos.................................................................... 665
11.73. Oportunidade para os jurados sanarem dúvidas a respeito dos quesitos......................... 665
11.74. Julgamento........................................................................................................................ 666
11.75. Não interferência das partes no interior da sala secreta................................................... 666
11.76. Votação dos quesitos........................................................................................................ 667
11.77. Contradição nas respostas aos quesitos........................................................................... 667
11.77.1. Tese única defensiva de negativa de autoria ou participação e absolvição do
acusado..................................................................................................................... 668
11.77.2. Condenação do acusado e afastamento simultâneo do crime de falso testemunho
quesitado quanto a testemunha ouvida em plenário....................................................... 672
11.78. Esclarecimentos do juiz presidente................................................................................... 673
11.79. Eventual parcialidade do juiz na sala secreta................................................................... 673
11.80. Dúvida do jurado durante a votação.................................................................................. 674
11.81. Sigilo das votações............................................................................................................ 674
11.81.1. Funcionamento. Histórico legislativo. Interpretação constitucional do sigilo............ 674
11.81.2. Entendimento dos Tribunais Superiores a respeito do tema.................................... 678
11.81.3. Violação ao sigilo das votações com o computo da integralidade dos votos .......... 679
11.82. Decisões condenatórias e absolutórias............................................................................. 679
11.82.1. Sentença absolutória (art. 492, II, a, b e c, do CPP)................................................ 679
11.82.1.1. Sentença absolutória imprópria...................................................................... 679
11.82.1.2. Sentença absolutória própria e indenização pelos danos............................... 680
11.82.2. Absolvição do crime doloso contra a vida e crimes conexos................................... 682
11.82.3. Efeito da sentença absolutória de autor quanto aos partícipes............................... 682
11.82.4. Sentença condenatória (art. 492, I, a, b, c, d, e e f, do CPP). Linhas gerais.
Detração para fins de determinação de regime inicial de cumprimento da pena privativa
de liberdade. ................................................................................................................... 684
11.82.5. Sentença condenatória e reconhecimento de agravantes e atenuantes................. 686
11.82.6. Sentença condenatória e continuidade delitiva........................................................ 690
11.82.7. Efeito extrapenal automático da sentença condenatória: reparação dos danos
causados pela infração.................................................................................................... 690
11.82.7.1. Efeito extrapenal automático da sentença condenatória: identificação do
perfil genético (art. 9º-A da LEP)............................................................................... 693
11.82.8. Efeitos extrapenais não-automáticos da sentença condenatória. Perda do cargo,
função pública ou mandado eletivo; incapacidade para o exercício do poder familiar, da
tutela ou curatela; inabilitação para dirigir veículo (art. 92 do CP). Impossibilidade de
casamento do cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de
homicídio contra o seu consorte (art. 1521, VII, do CC). Ação de exclusão de herdeiro
por ato de indignidade. ................................................................................................... 693
11.82.8.1. Condenação pelo Júri e inelegibilidade – “Lei da Ficha Limpa”...................... 697
11.82.9. Decretação ou manutenção da prisão preventiva em plenário. Execução provi-
sória das condenações a penas iguais ou superiores a 15 anos proferidas pelo Júri
instituída pela Lei 13.964/2019 (Pacote Anticrime) ................................................................... 698
11.82.9.1. Nova disciplina legal....................................................................................... 698
11.82.9.2. 11.81.9.2 Decretação ou manutenção da prisão preventiva em plenário...... 699
11.82.9.2.1. Decretação da prisão preventiva........................................................... 699
11.82.9.2.2. Manutenção ou revogação da prisão preventiva em plenário............... 699
11.82.9.3. Execução provisória de pena igual ou superior a 15 anos............................. 700
11.82.9.3.1. Prisão-pena – execução provisória. Linhas gerais................................ 700
11.82.9.3.1.1. Execução provisória e réu inimputável e semi-imputável............. 701
11.82.9.3.2. Execução provisória das penas iguais ou superiores a 15 anos.
Procedimento............................................................................................. 701
11.82.9.3.2.1. Pressupostos da execução provisória: acusado que responda solto
ao processo de competência do Júri e inexistência dos requisitos da prisão
preventiva, ou acusado que se encontrava preso preventivamente e sua
prisão processual é convertida em prisão penal. ......................................... 701
11.82.9.3.2.2. Execução provisória da pena. Fundamentação........................... 702
11.82.9.3.2.2.1. Determinação de execução provisória da pena. Funda-
mentação. Possíveis requerimentos das partes. ................................... 702
11.82.9.3.2.2.2. Possibilidade de o juiz presidente conceder efeito suspensivo
à eventual apelação defensiva, impedindo a execução provisória da
pena............................................................................................................. 704
11.82.9.3.2.2.2.1. Efeito suspensivo concedido pelo juiz presidente...... 704
11.82.9.3.2.2.2.2. Efeito suspensivo por ser a decisão dos jurados ma-
nifestamente contrária a prova dos autos......................................... 705
11.82.9.3.2.2.2.3. Efeito suspensivo em razão de nulidade posterior à
pronúncia.......................................................................................... 706
11.82.9.3.2.2.2.4. Possibilidade de o juiz presidente não determinar a
execução provisória da pena por reputá-la inconstitucional ............ 707
11.82.9.3.3. A execução provisória no Júri viola o princípio da presunção de
inocência?................................................................................................. 707
11.82.9.3.3.1. Presunção de inocência. Previsão Constitucional e Convencional.. 707
11.82.9.3.3.2. Formas de manifestação da presunção de inocência no processo
penal................................................................................................................... 707
11.82.9.3.3.3. Entendimento atual do Supremo a respeito da constitucionalidade
da execução provisória...................................................................................... 708
11.82.9.3.3.4. Discussão a respeito da constitucionalidade da execução provisória
da pena pelo Júri. ................................................................................................... 709
11.82.9.3.3.4.1. Argumentos a favor. ........................................................... 709
11.82.9.3.3.4.2. Argumentos contrários à execução provisória no rito do
Júri.......................................................................................................... 712
11.82.9.3.3.4.3. Entendimento do STF e do STJ e dos demais Tribunais do
país quanto à constitucionalidade da execução provisória no Júri. ....... 714
11.82.9.3.3.4.3.1. Possibilidade de o Supremo conferir interpretação
conforme à Constituição ao instituto da execução provisória do
Júri prevista no art. 492 do CPP.......................................................... 726
11.82.9.3.3.4.3.2. Execução provisória do Júri: vácuo jurídico enquanto o
Supremo Tribunal Federal não decidir a respeito de sua constitucio-
nalidade................................................................................................. 726
11.82.9.3.3.4.3.3. A execução provisória da pena é retroativa?............. 727
11.82.9.3.3.4.3.4. Execução provisória e realidade prática ................... 730
11.82.9.3.3.5. Linhas gerais................................................................................ 730
11.82.9.3.3.6. Não realização de plenários de réus soltos. Aumento da
impunidade. ..................................................................................... 731
11.82.9.3.3.7. Tempo transcorrido e espetáculo da prisão em plenário do réu
solto: maior dificuldade para a condenação e aumento da impunidade. ..... 732
11.82.9.3.3.8. Fixação de teto de pena que não ultrapasse 15 anos.................. 737
11.82.9.3.4. Por qual motivo passou-se – pela primeira vez desde a nova ordem
constitucional – a se interpretar a soberania dos veredictos como autorizador
da execução provisória em 1ª instância?............................................................ 737
11.82.9.3.5. Alterações sistêmicas necessárias para a otimização da execução
provisória da pena............................................................................................... 749
11.83. Decisão desclassificatória (art. 492, §§ 1º e 2º, do CPP).................................................. 749
11.83.1. Inconstitucionalidade da desclassificação própria prevista na Lei........................... 750
11.83.2. Desclassificação e continuidade da votação............................................................ 752
11.83.3. Desclassificação e aplicação dos institutos da Lei 9.099/95 (art. 492, § 1º, do
CPP). Desclassificação e aplicação do benefício do Acordo de não persecução penal
(art. 28-A do CPP). ......................................................................................................... 753
11.83.3.1. Desclassificação e institutos da Lei 9.099/95................................................. 753
11.83.3.2. Desclassificação e acordo de não persecução penal..................................... 757
11.83.4. Desclassificação para um crime militar................................................................... 759
11.83.5. Efeito da desclassificação do crime doloso contra a vida quanto aos autores de
crimes conexos................................................................................................................ 759
11.83.6. Efeito da desclassificação em relação a crime imputado a um dos autores e
efeito extensivo quanto aos demais, quando a conduta for idêntica. Desclassificação
da conduta imputada aos autores e efeitos quanto aos partícipes................................. 760
11.83.6.1. Desclassificação do crime doloso contra a vida em face de um dos autores
e efeitos quanto aos demais...................................................................................... 760
11.83.6.1.1. Desclassificação do crime doloso contra a vida em face de um dos
autores e efeitos quanto aos demais, em julgamentos diversos pelo Júri.......... 760
11.83.6.1.2. Desclassificação do crime doloso contra a vida em face de um dos
autores e efeitos quanto aos demais, quando são julgados em conjunto pelo
Júri....................................................................................................................... 764
11.83.6.2. Desclassificação do crime doloso contra a vida e concurso formal de delitos
praticados pelo mesmo agente................................................................................. 765
11.83.6.3. Desclassificação do crime doloso contra a vida em face de um dos autores
e efeitos quanto aos partícipes.................................................................................. 768
11.83.7. Desclassificação e execução provisória da pena..................................................... 769
11.83.7.1. Desclassificação e prescrição......................................................................... 770
11.84. Leitura da sentença – intimação........................................................................................ 770
11.85. Identidade física do juiz presidente................................................................................... 771

CAPÍTULO 12
Questões Processuais do Juízo da Causa.................................................................................... 773
12.1. Insanidade mental de autor de crime conexo e julgamento do autor do crime doloso
contra a vida.......................................................................................................................... 773
12.2. Insanidade mental do autor de crime doloso contra a vida e julgamento de réu de crime
conexo................................................................................................................................... 774
12.3. Julgamento de vários corréus............................................................................................. 775
12.3.1. Regras gerais ............................................................................................................ 775
12.3.2. Julgamentos multitudinários...................................................................................... 776
12.4. Morte do corréu................................................................................................................... 776
12.5. Aproveitamento do mesmo Conselho para julgar mais de um processo............................ 777
12.6. Absolvição por negativa de autoria e novo processo por participação............................... 778
12.7. Abandono do plenário pelas partes..................................................................................... 780
12.7.1. Abandono por advogado constituído ou dativo.......................................................... 780
12.7.2. Abandono de plenário por membro da Defensoria Pública (e do Ministério Público)
e aplicação de multa pelo juiz presidente........................................................................ 782
12.8. Possibilidade de ampla divulgação dos julgamentos pelo Júri........................................... 783
12.9. Júri e processo digital.......................................................................................................... 784
12.10. É possível à Defensoria Pública atuar, no mesmo processo do rito do Júri, na defesa do
acusado e como assistente da acusação da vítima?............................................................ 786
12.11. Gravação dos debates por meio de mídia ........................................................................ 786
12.12. Autorização para que o acusado preso traje, durante o julgamento pelo Júri, roupas de
passeio e não o uniforme do presídio.................................................................................... 786
12.13. Habeas corpus para determinar a realização do julgamento do Júri................................ 787
12.14. É possível a pronúncia pelo juiz ou a condenação pelo Júri sem pedido expresso da
acusação nesse sentido?...................................................................................................... 787
12.15. Júri virtual ou Júri pandêmico: o Júri dos novos tempos?................................................. 789
12.16. Réu e advogado ao mesmo tempo................................................................................... 793
12.17. Uso de camisetas pelo público.......................................................................................... 793
12.18. Crimes contra a dignidade sexual..................................................................................... 794
12.19. Apartes que inviabilizem a fala do tribuno ........................................................................ 794
12.20. Atuação de advogado não habilitado em plenário............................................................ 794
12.21. Dissolução do Conselho de Sentença por se considerar a sociedade indefesa .............. 795
12.22. Luta corporal em plenário entre os debatedores............................................................... 799
12.23. Presença de crianças e adolescentes na assistência do Júri........................................... 799
12.24. Julgamento pelo Júri realizado em fim de semana........................................................... 800
12.25. Limitação de número de defensores em plenário............................................................. 801
12.26. Condução coercitiva de jurado.......................................................................................... 801
12.27. Psicografia e Júri............................................................................................................... 801
12.28. Tese defensiva de que o réu estaria possuído por espíritos malignos quando da prática
do crime................................................................................................................................. 802

CAPÍTULO 13
Documentos Essenciais do Julgamento pelo Júri....................................................................... 803
13.1. Termo de compromisso....................................................................................................... 803
13.2. Termo de votação................................................................................................................ 803
13.3. Ata de julgamento............................................................................................................... 804
13.3.1. Ausência de ata......................................................................................................... 806
13.3.2. Ausência de cópia da ata no processo...................................................................... 806
13.3.3. Ausência de assinatura na ata................................................................................... 806
13.3.4. Omissão ou erro na ata. Como se insurgir contra o teor da ata?.............................. 806
13.3.5. Gravação contínua de todo o julgamento.................................................................. 807

CAPÍTULO 14
Atribuições do Presidente do Tribunal do Júri............................................................................. 809

CAPÍTULO 15
Recursos............................................................................................................................................ 815
15.1. Conceito.............................................................................................................................. 815
15.2. Recursos no rito do Júri...................................................................................................... 815
15.2.1. Recurso em sentido estrito. Linhas gerais. ............................................................... 815
15.2.1.1. Recurso em sentido estrito em face da decisão de pronúncia e de desclassi-
ficação. Procedimento recursal................................................................................. 815
15.2.1.1.1. Recurso em sentido estrito para desclassificar o crime doloso para crime
culposo..................................................................................................................... 817
15.2.1.2. Recurso em sentido estrito, como regra, para se desconstituir a pronúncia e
afastar qualificadoras ou para se obter a desclassificação. Excepcional utilização
do habeas corpus para tanto. ................................................................................... 817
15.2.1.3. Recurso em sentido estrito em face da decisão que inclui ou exclui jurado.... 819
15.2.1.4. Pode haver julgamento pelo Júri, na pendência de recurso especial ou extra-
ordinário em face da decisão de pronúncia?............................................................. 820
15.2.1.5. Acórdão confirmatório da pronúncia e interrupção da prescrição.................... 823
15.2.1.6. Pronúncia e causas suspensivas da prescrição (mudanças trazidas pelo pa-
cote anticrime - Lei 13.964/2019).............................................................................. 824
15.2.1.7. Recurso em sentido estrito contra pronúncia lastreada exclusivamente em
reconhecimento pessoal inválido.............................................................................. 824
15.2.2. Apelação.................................................................................................................... 825
15.2.2.1. Interposição do recurso contra as decisões definitivas de absolvição ou con-
denação proferidas pelo Júri e limites da irresignação............................................. 826
15.2.2.2. Apelação nas hipóteses de nulidade posterior à pronúncia (art. 593, III, a, do
CPP).......................................................................................................................... 827
15.2.2.2.1. Nulidade pela tese de legítima defesa da honra .................................... 827
15.2.2.2.2. Apelação contra veredicto condenatório lastreado exclusivamente em
reconhecimento pessoal inválido........................................................................ 828
15.2.2.3. Apelação na hipótese de erro do juiz presidente (art. 593, III, b e c, do CPP). 828
15.2.3. Apelação contra decisão manifestamente contrária à prova dos autos (art. 593, III,
d, do CPP)....................................................................................................................... 829
15.2.3.1. Limites do provimento da apelação.................................................................. 829
15.2.3.2. Veredicto condenatório sem respaldo em prova judicial. Apenas elementos in-
formativos de inquérito policial. Cassação ou nulidade do veredicto? Entendimento
de que deva ser anulado também o processo, desde a pronúncia, substituindo-a
por decisão de impronúncia. ................................................................................... 830
15.2.3.3. Regras gerais de como o Tribunal deve julgar apelação em face de veredicto
do Júri........................................................................................................................ 835
15.2.3.4. Particularidades da análise pelo Tribunal dos veredictos condenatórios......... 836
15.2.3.5. O jurado pode condenar o réu com base apenas em “provas” (elementos
informativos) de inquérito policial? Esse veredicto é manifestamente contrário à
prova dos autos, e deve ser cassado, ou é válido, e deve ser mantido, em razão da
íntima convicção (não fundamentada) e a soberania próprias do Júri?.................... 841
15.2.3.6. O in dubio pro reo é válido como fundamento para se cassar o veredicto
condenatório? .......................................................................................................... 845
15.2.3.7. Como o Tribunal deve verificar se os jurados decidiram com base em provas
judiciais ou se apenas em elementos informativos do inquérito policial?................. 846
15.2.3.8. Recursos e medidas cabíveis se o Tribunal cassar decisão que não seja
manifestamente contrária à prova dos autos ....................................................... 847
15.2.3.9. Recursos cabíveis se o Tribunal mantiver a condenação pelo Júri.................. 848
15.2.3.10. Diferenciação entre anulação e cassação do veredicto................................. 848
15.2.3.11. Apelação para cassar o veredicto que seja aberrante da prova: recurso
único.......................................................................................................................... 849
15.2.3.12. Apelação contra decisão desclassificatória.................................................... 849
15.2.3.13. Habeas corpus e afastamento de qualificadoras reconhecidas pelo Júri....... 850
15.2.3.14. Análise pelo Tribunal a respeito do mérito do veredicto absolutório quando
são sustentadas duas ou mais teses de defesa........................................................ 850
15.2.3.15. Análise pelo Tribunal a respeito do mérito do veredicto no caso de decisão
contrária ao teor de perícia médica........................................................................... 851
15.2.3.16. Excesso de linguagem do acórdão que cassa o veredicto aberrante da
prova.......................................................................................................................... 852
15.2.4. Provimento parcial da apelação................................................................................. 853
15.2.5. Apelação e reformatio in pejus indireta...................................................................... 855
15.2.6. Apelação e reformatio in mellius................................................................................ 858
15.2.7. Impossibilidade de a acusação recorrer do veredicto absolutório reconhecido pelos
jurados ao votarem o quesito genérico da absolvição, mesmo quando manifestamente
contrário à prova dos autos............................................................................................. 859
15.2.8. Recurso de apelação contra absolvição do acusado por clemência......................... 867
15.2.9. Apelação contra veredicto absolutório quando a tese única defensiva era de negativa
de autoria ou participação .................................................................................................... 868
15.2.10. Incompatibilidade lógica entre acórdão que cassa o veredicto condenatório, por
ser manifestamente contrário à prova dos autos, quando o mesmo Tribunal que tenha
anulado a decisão seja aquele que tenha confirmado anteriormente a pronúncia, por
reputar existir prova de materialidade e autoria delitivas. .................................................. 868
15.2.11. Interrupção da prescrição pela publicação do acórdão condenatório recorrível...... 869
15.2.12. Não interrupção da prescrição no caso de anulação do julgamento condenatório
ou de cassação do veredicto condenatório..................................................................... 869
15.2.13. Causas suspensivas da prescrição e recursos. Mudanças trazidas pelo Pacote
Anticrime (Lei 13.964/2019). ........................................................................................... 870
15.2.14. Apelação da decisão que determinou ou não a Execução provisória das condena-
ções a penas iguais ou superiores a 15 anos proferidas pelo Júri. Alteração instituída
pela Lei 13.964/2019 (Pacote Anticrime) ........................................................................ 871
15.2.14.1. Nova disciplina legal....................................................................................... 871
15.2.14.2. Possibilidade de o juiz declarar a execução provisória da pena inconstitucional... 872
15.2.14.3. Possibilidade de o juiz presidente conceder efeito suspensivo à eventual
apelação defensiva, impedindo a execução provisória da pena............................... 872
15.2.14.3.1. Efeito suspensivo. Linhas gerais........................................................... 872
15.2.14.3.2. Efeito suspensivo por ser a decisão dos jurados manifestamente
contrária à prova dos autos............................................................................ 873
15.2.14.3.3. Efeito suspensivo em razão de nulidade posterior à pronúncia............ 874
15.2.14.3.4. Recurso em face da decisão do juiz presidente que determina a
execução provisória da pena ......................................................................... 874
15.2.14.3.5. A acusação pode recorrer da decisão do juiz presidente que não
determina a execução provisória da pena?.................................................... 879
15.2.15. Cassação do veredicto condenatório pelo Tribunal por ser manifestamente
contrário à prova dos autos e prisão preventiva..................................................... 882
15.3. Revisão criminal.................................................................................................................. 882
15.3.1. Revisão criminal e indenização................................................................................. 889
15.3.2. Revisão criminal e vedação à reformatio in pejus indireta......................................... 890
15.3.3. Revisão criminal e absolvição imprópria.................................................................... 891
15.3.4. Limitação do alcance da Revisão criminal pelos Tribunais quando, em recurso especial
ou extraordinário anteriores, o veredicto condenatório do Júri tenha sido mantido pelo
STJ ou STF........................................................................................................................... 891
15.3.5. Juízo rescindente e prescrição.................................................................................. 892
15.4. Extinção do recurso de protesto por novo Júri.................................................................... 892
15.5. Provimento do recurso ou procedência da revisão e a fase do art. 422 do CPP................ 894
15.6. Unirrecorribilidade recursal e encerramento da 1ª fase do rito do Júri. Decisão que, a um
só tempo, pronuncia, impronuncia, absolve sumariamente e desclassifica.......................... 895

CAPÍTULO 16
Nulidades Processuais..................................................................................................................... 897
16.1. Ato processual..................................................................................................................... 897
16.2. Graus de imperfeição dos atos processuais....................................................................... 897
16.2.1. Inexistência e irregularidade...................................................................................... 897
16.2.2. Nulidade relativa........................................................................................................ 898
16.2.3. Nulidade absoluta...................................................................................................... 899
16.2.3.1. Nulidade absoluta e necessidade de comprovação do prejuízo...................... 900
16.2.4. Nulidade parcial do veredicto .................................................................................... 900
16.2.5. Nulidades previstas no art. 564 do CPP.................................................................... 902
16.2.6. Nulidade por ter a acusação ou a defesa se referido à decisão de pronúncia ou
sobre o uso de algemas “como argumento de autoridade”, ou, ainda, se a acusação se
referiu ao silêncio do réu ou à ausência de seu interrogatório, em seu prejuízo (art. 478
do CPP). ......................................................................................................................... 908
16.2.7. Nulidade por ter a defesa se manifestado pedindo a absolvição com base na tese
de legítima defesa da honra em caso de feminicídio...................................................... 908
16.2.8. Casuística de nulidades do rito do Júri...................................................................... 909

CAPÍTULO 17
Desaforamento................................................................................................................................ 923
17.1. Definição............................................................................................................................. 923
17.2. Motivos................................................................................................................................ 924
17.3. Requerimento...................................................................................................................... 930
17.4. Suspensão do julgamento................................................................................................... 931
17.5. Processamento................................................................................................................... 931
17.6. Transferência do processo e não apenas do julgamento para outra comarca................... 934
17.7. Desaforamento e concurso de agentes.............................................................................. 934
17.8. Reaforamento..................................................................................................................... 935
CAPÍTULO 18
Organização do Júri......................................................................................................................... 937
18.1. Elaboração da lista de jurados............................................................................................ 937
18.2. Publicação da lista.............................................................................................................. 938
18.3. Listas provisória e definitiva................................................................................................ 939
18.4. Alteração da lista provisória................................................................................................ 939
18.5. Reclamações contra a lista provisória................................................................................. 940
18.6. Reclamação pelo próprio jurado......................................................................................... 940
18.7. Reclamação por qualquer do povo..................................................................................... 942
18.8. Alteração da lista definitiva.................................................................................................. 943
18.9. Efeitos da alteração da lista definitiva................................................................................. 944
18.9.1. Efeitos administrativos............................................................................................... 944
18.9.2. Efeitos processuais.................................................................................................... 944
18.10. Renovação das listas........................................................................................................ 946
18.10.1. Inclusão indevida de jurado que participou de julgamento nos últimos 12 meses.
O julgamento é nulo? ...................................................................................................... 947
18.11. Questões procedimentais referentes à lista e suas alterações......................................... 947
18.12. Sorteio dos jurados........................................................................................................... 949
18.13. Convocação dos jurados................................................................................................... 951
18.14. Prazo entre o sorteio e a primeira sessão da reunião....................................................... 952
18.14.1. Sigilo de dados dos jurados..................................................................................... 952

CAPÍTULO 19
Ordem dos Julgamentos pelo Júri................................................................................................. 955
19.1. Regra geral......................................................................................................................... 955
19.2. Alteração da regra geral...................................................................................................... 955

CAPÍTULO 20
Jurados............................................................................................................................................. 959
20.1. Definição............................................................................................................................. 959
20.2. Categorias........................................................................................................................... 959
20.3. Condições para ser jurado.................................................................................................. 959
20.4. Deveres............................................................................................................................... 962
20.5. Direitos................................................................................................................................ 962
20.6. Recusa ao serviço do Júri................................................................................................... 963
20.7. Vantagens........................................................................................................................... 964
20.8. Responsabilidade criminal.................................................................................................. 965
20.9. Vedação de desconto nos vencimentos ou salário do jurado............................................. 965
20.10. Jurado não alistável, isento e dispensado. Conceitos...................................................... 965
20.10.1. Jurado não alistável................................................................................................. 965
20.10.2. Jurado isento........................................................................................................... 967
20.10.3. Jurado dispensado .................................................................................................. 967

ANEXO A
Fluxogramas do Rito do Júri........................................................................................................... 969

ANEXO B
Modelos de Quesitos....................................................................................................................... 975
1. Homicídio simples consumado (art. 121 do CP)........................................................................... 1015
2. Homicídio simples tentado (art. 121 na forma do art. 14, II, do CP).............................................. 1016
2.1. Homicídio simples tentado (art. 121, na forma do art. 14, II, do CP), com tese de desclas-
sificação para o delito de disparo de arma de fogo............................................................... 1017
3. Homicídio simples com causa de aumento de pena (crime praticado por grupo de extermínio –
art. 121, § 6º, in fine, do CP)........................................................................................................ 1018
4. Homicídio consumado qualificado (art. 121, § 2º, incisos I ao V, e VIII, do CP)............................ 1020
5. Homicídio tentado qualificado (art. 121, § 2º, incisos I ao V, e VIII, na forma do art. 14, II, ambos
do CP).......................................................................................................................................... 1022
6. Homicídio simples privilegiado consumado (art. 121, § 1º, do CP)................................................ 1024
7. Homicídio consumado privilegiado-qualificado (art. 121, §§ 1º e 2º, incisos I ao V, e VIII, do
CP)............................................................................................................................................... 1026
8. Homicídio simples consumado com causa de aumento de pena (vítima menor de 14 anos – art.
121, § 4º, segunda parte, primeira figura do CP)......................................................................... 1028
9. Homicídio qualificado consumado com causa de aumento de pena (vítima menor de 14 anos –
art. 121, § 2º, incisos I ao V, e VIII, c.c. o § 4º, segunda parte, primeira figura do CP)............... 1029
10. Homicídio simples consumado com causa de aumento de pena (vítima maior de 60 anos – art.
121, § 4º, segunda parte, última figura do CP)............................................................................ 1030
11. Homicídio consumado qualificado com causa de aumento de pena (vítima maior de 60 anos –
art. 121, § 2º, incisos I ao V, e VIII, c.c. o § 4º, segunda parte, última figura do CP)................... 1031
12. Homicídio consumado qualificado com causa de aumento de pena (homicídio por milícia priva-
da ou grupo de extermínio – art. 121, § 2º, incisos I ao V, e VIII, c.c. o § 6º, do CP).................. 1032
13. Homicídio consumado qualificado pelo feminicídio cumulado com demais qualificadoras (art.
121, § 2º, incisos I ao V, VI, § 2º-A, I [violência doméstica e familiar], e VIII, do CP).................. 1033
14. Homicídio consumado qualificado pelo feminicídio e demais qualificadoras (art. 121, § 2º, in-
cisos I ao V, VI, § 2º-A, I violência doméstica e familiar, e VIII, do CP), com tese de homicídio
privilegiado (domínio de violenta emoção – art. 121, § 1º, do CP).............................................. 1035
15. Homicídio consumado qualificado pelo feminicídio cumulado com qualificadoras (art. 121, § 2º,
III, IV,VI, § 2º-A, II – menosprezo ou discriminação à condição da mulher, e VIII, do CP).......... 1038
16. Homicídio consumado qualificado pelo feminicídio cumulado com qualificadoras (art. 121, § 2º,
III, IV, VI, § 2º-A, I – menosprezo ou discriminação à condição de mulher, e VIII, do CP), com
tese de homicídio privilegiado (domínio de violenta emoção – art. 121, § 1º, do CP)................. 1040
17. Homicídio consumado qualificado pelo feminicídio cumulado com qualificadoras (art. 121, §
2º, I, II, III, IV, V, VI, § 2º-A, I – violência doméstica e familiar, e VIII, do CP), com causas de
aumento de pena (crime praticado durante a gestação ou nos 3 meses posteriores ao parto;
contra menor de 14 anos ou maior de 60 anos; ou com deficiência ou portadora de doenças
degenerativa que acarretem condição limitante ou de vulnerabilidade física ou mental; na pre-
sença física ou virtual de descendente ou ascendente da vítima; em descumprimento das
medidas de urgência previstas na Lei 11.340/2006 [Lei Maria da Penha] – art. 121, § 7º, I, II e
III e IV, do CP) e com tese de homicídio privilegiado (domínio de violenta emoção – art. 121, §
1º, do CP)..................................................................................................................................... 1042
18. Homicídio consumado qualificado pelo feminicídio cumulado com qualificadoras (art. 121, § 2º,
III, IV,VI, § 2º-A, II – menosprezo ou discriminação à condição de mulher, e VIIIdo CP), com
causas de aumento de pena – crime praticado durante a gestação, nos 3 meses posteriores ao
parto; contra menor de 14 anos, ou maior de 60 anos; ou com deficiência ou portadora de do-
enças degenerativa que acarretem condição limitante ou de vulnerabilidade física ou mental;
na presença física ou virtual de descendente ou ascendente da vítima; em descumprimento
das medidas de urgência previstas na Lei 11.340/2006 (Lei Maria da Penha) – art. 121, § 7º,
I, II e III e IV, do CP; e com tese de homicídio privilegiado (domínio de violenta emoção – art.
121, § 1º, do CP).......................................................................................................................... 1046
19. Homicídio consumado qualificado pelo meio insidioso, cruel ou que possa resultar perigo co-
mum, recurso que dificulte ou torne impossível a defesa da vítima, contra autoridade que
represente a segurança pública, seja policial penal, federal, estadual ou distrital, da Força Na-
cional ou das Forças Armadas, dentre outros, em razão dessas funções e mediante emprego
de arma de fogo de uso restrito ou proibido (art. 121, § 2º, III, IV, VII e VIII, do CP)................... 1049
20. Homicídio consumado qualificado pelo meio insidioso, cruel ou que possa resultar perigo co-
mum, recurso que dificulte ou torne impossível a defesa da vítima, contra autoridade que
represente a segurança pública, seja integrante da Polícia penal federal, estadual ou distrital,
da Força Nacional ou das Forças Armadas, dentre outros, em razão dessas funções, e com
emprego de arma de fogo de uso proibido ou restrito (art. 121, § 2º, III, IV,VII e VIII, do CP),
com tese de homicídio privilegiado (relevante valor social ou moral – art. 121, § 1º, do CP)..... 1051
21. Homicídio qualificado com tese de causa superveniente relativamente independente excluindo
a imputação (art. 121, § 2º, na forma do art. 13, § 1º, do CP)..................................................... 1054
22. Homicídio consumado com tese de legítima defesa própria........................................................ 1057
23. Homicídio consumado com tese de legítima defesa de 3º (art. 25 do CP) (vide modelo homicídio
consumado com tese de legítima defesa própria)............................................................................... 1059
24. Homicídio consumado com tese de legítima defesa exculpante (excesso exculpante como causa
supralegal de exclusão da culpabilidade).................................................................................... 1060
25. Homicídio consumado com tese de estado de necessidade próprio ou de terceiro.................... 1062
26. Homicídio consumado com tese de estado de necessidade próprio ou de terceiro exculpante
(causa supralegal de exclusão de culpabilidade)......................................................................... 1064
27. Homicídio consumado com tese de estrito cumprimento do dever legal................................................ 1066
28. Homicídio consumado com tese de estrito cumprimento do dever legal exculpante (inexigibili-
dade de conduta diversa)............................................................................................................. 1068
29. Homicídio consumado com tese de exercício regular de direito.................................................. 1070
30. Homicídio consumado com tese de coação moral irresistível...................................................... 1072
31. Homicídio consumado com tese de obediência hierárquica........................................................ 1074
32. Participação em homicídio consumado........................................................................................ 1076
33. Participação dolosamente distinta em homicídio consumado...................................................... 1078
34. Participação de menor importância em homicídio consumado.................................................... 1080
35. Participação de menor importância e cooperação dolosamente distinta em homicídio con-
sumado (art. 29, §§ 1º e 2º, do CP)............................................................................................. 1082
36. Homicídio consumado com tese de embriaguez completa causada por força maior ou caso
fortuito, tornando o agente inimputável........................................................................................ 1084
37. Homicídio consumado com tese de embriaguez incompleta causada por força maior ou caso
fortuito, tornando o agente semi-imputável.................................................................................. 1086
38. Homicídio consumado com tese única de inimputabilidade......................................................... 1089
39. Homicídio consumado com tese principal de excludente de ilicitude cumulada com tese secun-
dária de inimputabilidade............................................................................................................. 1092
40. Homicídio consumado com tese de semi-imputabilidade............................................................ 1095
41. Homicídio consumado com tese principal de absolvição e com tese secundária de desclassifi-
cação para lesões corporais seguidas de morte (art. 129, § 3º, do CP)...................................... 1098
42. Homicídio consumado com tese única de desclassificação para lesões corporais seguidas de
morte (art. 129, § 3º, do CP)........................................................................................................ 1100
43. Homicídio consumado com tese principal de descriminante putativa por erro de tipo escusável/
inevitável e tese subsidiária desclassificatória de erro de tipo inescusável/evitável (erro de tipo
indireto – art. 20 do CP)............................................................................................................... 1102
44. Homicídio consumado com tese principal de descriminante putativa por erro de proibição ine-
vitável/escusável e tese subsidiária de redução de pena pelo erro de proibição evitável/inescu-
sável (art. 21 do CP).................................................................................................................... 1104
45. Homicídio consumado com tese de causa supralegal de exclusão de culpabilidade (inexigibili-
dade de conduta diversa)............................................................................................................. 1106
46. Homicídio com tese de desclassificação para infanticídio........................................................... 1108
47. Homicídio consumado com tese de desclassificação para participação em suicídio com resul-
tado morte (art. 122, § 2º do CP)................................................................................................. 1110
48. Homicídio e aberratio ictus com unidade simples: tentativa de homicídio contra a pessoa visada (não
atingida) e homicídio em relação a terceira pessoa.......................................................................... 1113
49. Homicídio e aberratio ictus com unidade simples: tentativa de homicídio contra a pessoa visada
(não atingida) e lesões corporais em relação a terceira pessoa................................................ 1116
50. Aberratio ictus com unidade complexa: duplo homicídio.............................................................. 1118
51. Aberratio ictus com unidade complexa: homicídio contra a pessoa visada e lesões corporais
contra terceira pessoa.................................................................................................................. 1120
52. Aberratio ictus com unidade complexa: tentativa de homicídio contra a pessoa visada
(atingida) e homicídio em relação a terceira pessoa......................................................................... 1122
53. Aberratio ictus com unidade complexa: tentativa de homicídio contra a pessoa visada (atingida)
e lesões corporais em terceira pessoa......................................................................................... 1124
54. Homicídio doloso praticado mediante omissão (crime comissivo por omissão).......................... 1126
54.1. Homicídio doloso por omissão consumado. Agente com obrigação legal de cuidado,
proteção ou vigilância quanto à vítima (art. 13, § 2º, a, do CP)............................................. 1128
54.2. Homicídio doloso por omissão tentado. Agente com obrigação legal de cuidado, proteção
ou vigilância quanto à vítima (art. 13, § 2º, a, do CP)............................................................ 1129
54.3. Homicídio doloso por omissão consumado. Agente com obrigação, não derivada de lei,
de cuidado, proteção ou vigilância da vítima, por ter assumido a responsabilidade de im-
pedir o resultado (art. 13, § 2º, b, do CP).............................................................................. 1130
54.4. Homicídio doloso por omissão tentado. Agente com obrigação, não derivada de lei, de
cuidado, proteção ou vigilância da vítima, por ter assumido a responsabilidade de impedir
o resultado (art. 13, § 2º, b, do CP)................................................................................................... 1131
54.5. Homicídio doloso por omissão consumado. Agente que, com seu comportamento ante-
rior, criou o risco da ocorrência do resultado morte da vítima (art. 13, § 2º, c, do CP).......... 1132
54.6. Homicídio doloso por omissão tentado. Agente que, com seu comportamento anterior,
criou o risco da ocorrência do resultado morte da vítima (art. 13, § 2º, c, do CP)................. 1133
55. Aborto consumado provocado pela gestante – autoaborto (art. 124, 1ª parte, do CP)................ 1134
56. Aborto tentado provocado pela gestante – autoaborto (art. 124, 1ª parte, do CP)...................... 1140
57. Aborto consumado provocado por terceiro com consentimento da gestante – ré gestante (art.
124, 2ª parte, do CP).................................................................................................................... 1141
58. Aborto tentado provocado por terceiro com consentimento da gestante – ré gestante (art. 124,
2ª parte, do CP)............................................................................................................................ 1142
59. Aborto consumado sem consentimento da gestante com tese principal absolutória e com tese
subsidiária de desclassificação para aborto com consentimento da gestante (art. 125 do CP). 1143
59.1. Aborto consumado sem consentimento da gestante com tese principal de desclassifica-
ção para aborto com consentimento da gestante (art. 125 do CP)....................................... 1143
60. Aborto tentado provocado por terceiro sem o consentimento da gestante com tese principal
absolutória e com tese subsidiária de desclassificação para aborto com o consentimento da
gestante (art. 125 do CP)............................................................................................................. 1145
61. Aborto consumado provocado por terceiro com consentimento da gestante (art. 126 do CP).... 1146
62. Aborto tentado provocado por terceiro com consentimento da gestante (art. 126 do CP)........... 1147
63. Aborto consumado provocado por terceiro com consentimento inválido da gestante com tese
principal absolutória e tese subsidiária de desclassificação para aborto com consentimento
válido (art. 126, § único, do CP)................................................................................................... 1148
64. Aborto qualificado pelas lesões corporais de natureza grave (art. 127 do CP)............................ 1149
65. Aborto provocado por terceiro com consentimento da gestante qualificado pelas lesões corpo-
rais de natureza grave (art. 127 do CP)....................................................................................... 1150
66. Aborto provocado por terceiro sem consentimento da gestante qualificado pelas lesões corpo-
rais de natureza grave com tese principal absolutória e subsidiária de desclassificação para
aborto com consentimento válido (art. 127 do CP)...................................................................... 1151
67. Aborto qualificado pelo resultado morte (art. 127 do CP)............................................................. 1153
67.1. Aborto com consentimento da gestante qualificado pelo resultado morte (art. 127 do CP)........ 1153
67.2. Aborto sem consentimento da gestante qualificado pela morte da gestante com tese
principal absolutória e tese subsidiária de desclassificação para aborto com consentimento
da gestante (art. 127 do CP).................................................................................................. 1154
68. Aborto consumado decorrente de homicídio consumado qualificado (art. 121, § 2º, I, II, III,
IV, V, VI, VIII, § 2º-A, I – violência doméstica e familiar – do CP), com causas de aumento de
pena do feminicídio (crime cometido durante a gestação, na presença de descendente, e em
descumprimento de medidas protetivas de urgência- art. 121, § 7º, I, III e IV, do CP)................ 1156
69. Aborto tentado decorrente de homicídio consumado qualificado (art. 121, § 2º, I, II, III, IV, V, VI,
VIII, § 2º-A, I – violência doméstica e familiar – do CP), com causas de aumento de pena do
feminicídio (crime cometido durante a gestação, na presença de descendente, e em descum-
primento de medidas protetivas de urgência- art. 121, § 7º, I, III e IV, do CP)............................ 1160
70. Aborto consumado decorrente de homicídio tentado qualificado (art. 121, § 2º, I, II, III, IV, V, VI,
VIII, § 2º-A, I – violência doméstica e familiar – do CP), com causas de aumento de pena do
feminicídio (crime cometido durante a gestação, na presença de descendente, e em descum-
primento de medidas protetivas de urgência- art. 121, § 7º, I, III e IV, do CP)............................ 1163
71. Aborto tentado decorrente de homicídio tentado qualificado (art. 121, § 2º, I, II, III, IV, V, VI,
VIII, § 2º-A, I – violência doméstica e familiar – do CP), com causas de aumento de pena do
feminicídio (crime cometido durante a gestação, na presença de descendente, e em descum-
primento de medidas protetivas de urgência-art. 121, § 7º, I, III e IV, do CP)............................. 1166
72. Aborto consumado decorrente de homicídio consumado qualificado pelo feminicídio e demais quali-
ficadoras (art. 121, § 2º, I, II, III, IV, V, VI, VIII, § 2º-A, I – violência doméstica e familiar – do CP), com
causas de aumento de pena do feminicídio (crime cometido durante a gestação, na presença de
descendente, e em descumprimento de medidas protetivas de urgência-art. 121, § 7º, I, III e IV, do
CP) , e com tese de homicídio privilegiado (domínio de violenta emoção – art. 121, § 1º, do CP)..... 1170
73. Aborto tentado decorrente de homicídio tentado qualificado e pelo feminicídio (art. 121, § 2º, III, IV
e VI, § 2º-A, II – menosprezo ou discriminação à condição de mulher, e VIII do CP), com causas
de aumento de pena do feminicídio (crime cometido durante a gestação, na presença de descen-
dente, e em descumprimento de medidas protetivas de urgência-(art. 121, § 7º, I, III e IV, do CP),
e com tese de homicídio privilegiado (domínio de violenta emoção – art. 121, § 1º, do CP).......... 1174
74. Aborto provocado por terceiro com tese de estado de necessidade (art. 24 do CP)................... 1179
75. Aborto praticado por médico – aborto terapêutico (art. 128, inciso I, do CP)............................... 1180
76. Aborto praticado por médico com consentimento da gestante, em caso de gravidez resultante
de estupro (aborto sentimental – art. 128, II)............................................................................... 1181
77. Infanticídio consumado (art. 123 do CP)...................................................................................... 1182
78. Infanticídio tentado (art. 123 do CP)............................................................................................. 1184
79. Induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio com resultado morte (art. 122, § 2º, do CP)....... 1185
80. Induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio com resultado lesão corporal grave ou gravíssi-
ma (art. 122, § 1º, do CP)............................................................................................................ 1194
81. Induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio, com resultado morte e com causas de aumento
de pena (art. 122, parágrafo 3º, incisos I e II, § § 4º e 5º, do CP)............................................... 1197
82. Falso testemunho (art. 342 do CP).............................................................................................. 1199
83. Quesitação dos crimes conexos................................................................................................... 1203
83.1. Lesão corporal dolosa simples (art. 129, caput, do CP)..................................................... 1204
83.2. Lesão corporal de natureza grave (art. 129, § 1º, do CP)................................................... 1204
83.3. Lesão corporal de natureza gravíssima (art. 129, § 2º, do CP).......................................... 1204
83.4. Furto qualificado (art. 155, parágrafos 4º, 5º, 6º e 7º, do CP)............................................. 1205
83.5. Roubo agravado (art. 157, § 2º, II, III, IV, V, VI e VII; § 2º-A, I, II; § 2º-B; § 3º, I e II, do CP).. 1205
83.6. Estupro qualificado pelo resultado (art. 213, na forma dos §§ 1º e 2º, do CP)................... 1206
83.7. Resistência qualificada (art. 329, § 1º, do CP).................................................................... 1207
83.8. Associação criminosa simples (art. 288, caput, do CP)...................................................... 1207
83.9. Associação criminosa agravada (art. 288, parágrafo único, do CP)................................... 1207
83.10. Colaboração premiada visando o perdão judicial ou a redução da pena (Lei 12.850/13
– Lei que define organização criminosa e dispõe sobre a investigação criminal, os meios de
obtenção da prova e infrações penais correlatas)................................................................... 1207
83.11. Tráfico de drogas (art. 33 da Lei 11.343/2006).................................................................. 1208
83.12. Destruição, subtração ou ocultação de cadáver (art. 211 do CP)..................................... 1209
83.13. Fraude processual (art. 347, § único, do CP)................................................................... 1210
83.14. Tortura (art. 1º, II, da Lei 9.455/97)................................................................................... 1210
84. Quesitos desnecessários............................................................................................................. 1211
84.1. Caso fortuito ou força maior................................................................................................ 1211
84.2. Crime impossível (art. 17 do CP)........................................................................................ 1211
84.3. Desistência voluntária e arrependimento eficaz (art. 15 do CP)......................................... 1212
84.4. Insuficiência de provas........................................................................................................ 1214
84.5. Crime continuado (art. 71 do CP)........................................................................................ 1215
85. A questão do dolo eventual.......................................................................................................... 1216
85.1. Dolo eventual – sua natureza e a necessidade de quesitá-lo............................................. 1216
85.2. Impossibilidade de cumular-se, no mesmo questionário, dolo direto e eventual................ 1217
85.3. Dolo eventual, qualificadoras do homicídio e homicídio privilegiado.................................. 1217
85.4. Dolo eventual e causas de aumento de pena do homicídio................................................ 1220
85.5. Dolo eventual e tentativa..................................................................................................... 1220
85.6. Dolo eventual e “racha”....................................................................................................... 1221
85.7. Dolo eventual, “racha” e concurso de agentes.................................................................... 1222
85.8. Dolo eventual e entrega de veículo a pessoa embriagada................................................. 1223
85.8.1. Homicídio culposo e lesão corporal culposa na direção de veículo automotor e
embriaguez. Fuga de local de acidente (art. 305 do CTB).............................................. 1224
85.8.2. Embriaguez e dolo eventual...................................................................................... 1224
85.9. Modelos de questionários de homicídio com dolo eventual................................................ 1225
85.9.1. Homicídio simples consumado com dolo eventual (art. 121 do CP). Tese principal
absolutória e tese secundária desclassificatória para homicídio culposo....................... 1225
85.9.2. Homicídio consumado qualificado com dolo eventual (art. 121, § 2º, V, do CP). Tese
principal absolutória e tese secundária desclassificatória para homicídio culposo............. 1228
85.9.3. Homicídio simples consumado com dolo eventual (art. 121 do CP). Tese única de
desclassificação para homicídio culposo......................................................................... 1231
PARTE II
Prática

Manual de atuação da Polícia, do Promotor, do Defensor e do Juiz na Apuração e Julgamento dos


Crimes Dolosos contra a Vida........................................................................................................ 1237
1.1. Polícia judiciária.................................................................................................................... 1237
1.2. Polícia científica.................................................................................................................... 1240
1.3. Atuação do promotor na investigação criminal...................................................................... 1243
1.4. Atuação do defensor no inquérito policial.............................................................................. 1245
1.5. Atuação do promotor na primeira fase do rito do Júri........................................................... 1246
1.5.1. Denúncia...................................................................................................................... 1246
1.5.2. Audiência una de instrução.......................................................................................... 1248
1.5.3. Debates........................................................................................................................ 1249
1.6. Atuação do defensor na primeira fase do rito do Júri............................................................ 1249
1.6.1. Defesa inicial, audiência una de instrução................................................................... 1249
1.6.2. Audiência una de instrução.......................................................................................... 1249
1.6.3. Debates........................................................................................................................ 1250
1.6.4. Recurso contra a decisão de pronúncia...................................................................... 1250
1.7. Perfil dos tribunos................................................................................................................. 1250
1.7.1. Necessidade de especialização................................................................................... 1250
1.7.2. Especialização no Ministério Público........................................................................... 1251
1.8. Preparação do plenário pelos tribunos.................................................................................. 1253
1.8.1. Estudo aprofundado do processo................................................................................ 1253
1.8.2. Vestir o processo......................................................................................................... 1254
1.8.3. Humanização dos protagonistas do processo............................................................. 1254
1.8.4. Preparação para instrução em plenário....................................................................... 1254
2. Discurso em Plenário................................................................................................................... 1256
2.1. Roteiro clássico do discurso.................................................................................................. 1256
2.2. O que se deve fazer.............................................................................................................. 1260
2.3. O que não se deve fazer....................................................................................................... 1279
3. Atuação dos juízes no plenário..................................................................................................... 1286
APÊNDICE A
Propostas de Alterações do Júri................................................................................................... 1291

APÊNDICE B
Breve Esboço Histórico-Constitucional......................................................................................... 1301

APÊNDICE C
Defensores e Detratores do Júri................................................................................................... 1303

REFERÊNCIAS...................................................................................................................................... 1309

ÍNDICE ALFABÉTICO REMISSIVO......................................................................................................... 1319


CAPÍTULO 2
Investigação dos Crimes Dolosos Contra a Vida.
Particularidades.

2.2.2.2.1.3 Etapas da Cadeia de Custódia


O art. 158-B, do CPP, apresenta os elos da cadeia de custódia, que são os seguintes:

I - reconhecimento: ato de distinguir um elemento como de potencial interesse


para a produção da prova pericial; normalmente quem efetua tal reconhecimento será o
olho treinado de algum policial ou perito com experiência na apuração dos homicídios.
Alguns vestígios podem não ser percebidos pelos sentidos humanos (a olho nu), dependendo
da utilização de equipamentos especiais para sua percepção. É o caso da luz forense que
deve constar, segundo Jesus Antonio Velho, Karina Alves Costa e Clayton Tadeu Mota
Damasceno1, “nos protocolos básicos de levantamento de local em qualquer centro de
perícia”, afinal, segundo bem apontam os autores, “uma cena de crime pode estar repleta
de vestígios latentes que não são distinguíveis a olho nu sob luz visível”;
II - isolamento: ato de evitar que se altere o estado das coisas, devendo isolar e preservar
o ambiente imediato, mediato e relacionado aos vestígios e local de crime. O ambiente imediato
é o local do crime de homicídio (v.g, o interior da casa onde houve o feminicídio e se encontra o
cadáver); o ambiente mediato é a adjacência daquele local (exemplo, o quintal da casa onde foi
praticado o homicídio, em que há rastro de sangue); local relacionado é outro local que não o local
dos fatos, mas que se relaciona com a conduta delitiva (exemplo: casa do indiciado onde, após
o homicídio, foi escondida a arma do crime). Ao redor do local onde é realizada a perícia (local
imediato, mediato e relacionado), denominado de perímetro de processamento, deverá ser esta-
belecido um perímetro de segurança, que, como explicam Jesus Antonio Velho, Karina Alves Costa
e Clayton Tadeu Mota Damasceno “compreende uma área destinada à circulação de um número
restrito e controlado de pessoas. É neste espaço onde autoridades e agentes de segurança pública
exercerão suas atividades. Os populares, imprensa e demais pessoas que por ventura possam estar
próximas ao local do crime permanecerão além do perímetro de segurança”2.
Curiosos, imprensa, e quaisquer outros não vinculados à apuração policial-pericial,
deverão ser mantidos a distância, inclusive proibindo-se a circulação dos próprios policiais
pela cena do crime; o correto é afixar-se uma fita de isolamento no local para servir de
barreira física - e alerta - quanto a seriedade do processamento de vestígios pela perícia.
III - fixação: descrição detalhada do vestígio conforme se encontra no local de crime ou
no corpo de delito, e a sua posição na área de exames, podendo ser ilustrada por fotografias,

1 Jesus Antonio Velho, Karina Alves Costa e Clayton Tadeu Mota Damasceno, Locais de Crime, dos
vestígios à dinâmica Criminosa, p. 95.
2 Jesus Antonio Velho, Karina Alves Costa e Clayton Tadeu Mota Damasceno, Locais de Crime, dos
vestígios à dinâmica criminosa, p. 36.
Tribunal do Júri 8ª Edição
Walfredo Cunha Campos

filmagens ou croqui, sendo indispensável a sua descrição no laudo pericial produzido pelo
perito responsável pelo atendimento; nessa descrição, devem ser apontadas as condições do
isolamento, nomes dos responsáveis pela área até o momento, as condições climáticas (tem-
peratura, umidade do ar), portas, cortinas ou janelas, se abertas ou fechadas, luzes, acesas
ou apagadas, pegadas, marcas de pneu, a hora da chegada do perito, e outras informações.
Deverão ser diligenciadas, inclusive, áreas pouco visualizadas, como locais escondidos.
Nessa etapa, deverão ser tiradas fotografias do local, o denominado planejamento fo-
tográfico: fotografias panorâmicas, a distância, acompanhadas de fotos a uma distância média,
e, por fim, fotos bem próximas (“em close”), de preferência, se possível, instruídas por uma
escala de medida, que pode ser tirada do corpo da vítima, especialmente da lesão sofrida, ou do
instrumento do crime (v.g, uma faca ao lado de uma régua para se ter uma ideia do tamanho do
instrumento vulnerante, ou uma régua do lado da lesão ostentada pelo cadáver, demonstrando
sua extensão). Sendo o local do crime uma residência, necessária a tomada fotográfica dos locais
de acesso, como as portas, janelas, corredores etc. Muito útil que se obtenha, através do Google
Earth, imagem de satélite do local.

Fixação das manchas de sangue


Têm fundamental importância na dinâmica do homicídio, podendo demonstrar a
movimentação da vítima, se o sangue encontrado é arterial ou venoso, se a vítima corria ou
andava ou estava parada quando foi atingida, se houve transferência da substância hemática
para outro local, se o ofendido estava sentado ou em pé quando foi agredido3. Todas essas
amostras de sangue deverão ser fotografadas constando do laudo a interpretação dada
pelos peritos a respeito de como se deu a agressão, o local no espaço periciado em que a
vítima foi atingida bem como o seu movimento após o ataque.
IV - coleta: ato de recolher o vestígio que será submetido à análise pericial, res-
peitando suas características e natureza. Para a coleta, será necessário um suabe (espécie
de cotonete) cuja extremidade é revestida de algodão; retirada a amostra será inserida
em um pote, que por sua vez será colocado em um envelope ou caixa; para as coletas, o
perito deverá contar com tesouras, pinças e bisturis que serão utilizados para as coletas
dos mais diversos materiais. No caso de projéteis secos, poderão ser embalados em papel;
havendo material orgânico aderido ao projétil deverá ser acondicionado em embalagem
plástica propícia para o congelamento; de idêntica maneira, o pelo, mesmo sendo material
seco deverá ser congelado, em temperatura igual ou inferior a 20 graus negativos em em-
balagem plástica; os materiais úmidos e líquidos devem ser mantidos em refrigeração sob
uma temperatura entre 2 a 8 graus centígrados, em um curto período - durante a perícia
de local e até o transporte até o local onde serão mantidos e congelados em temperatura
igual ou inferior a 20 graus centígrados.4 Mostra-se, assim, indispensável que o perito do
local possua uma embalagem (ou caixa) térmica para manter os vestígios na temperatura
necessária à sua preservação (refrigeração temporária de vestígio)5.

3 Manual de Atendimento a Locais de Morte Violenta, Amilcar da Serra e Silva Netto Alberti Espindula, p. 133.
4 Jesus Antonio Velho, Karina Alves Costa e Clayton Tadeu Mota Damasceno, Locais de Crime, dos
vestígios à dinâmica criminosa, p. 115 e 121.
5 Jesus Antonio Velho, Karina Alves Costa e Clayton Tadeu Mota Damasceno, Locais de Crime, dos
vestígios à dinâmica criminosa, p. 121.

48 |
CAPÍTULO 2
Investigação dos Crimes Dolosos Contra a Vida. Particularidades

Coleta de material das unhas da vítima ou do agressor para realização do


exame ungueal
No caso de cadáver ou vítima viva, poderá ser extraído, das unhas do ofendido,
material genético do seu agressor; coletado o material, será preservado para eventual
comparação com amostras do organismo do possível suspeito. O mesmo procedimento
pode ser efetivado junto às unhas do suspeito, a fim de se verificar se há material genético
da vítima em seu corpo. Não há se falar, nessa hipótese, em legítima recusa por parte
do acusado em fornecer seu material genético - porque estaria escorado na vedação à
produção de provas contra si mesmo -, uma vez que não é necessária qualquer ação positiva
sua, mas apenas a extração de eventual sedimento de tecido do ofendido, embaixo de sua
unha. Assim como o suspeito deve ser submetido a exame de corpo de delito para apurar
eventuais lesões suportadas, caso alegue ter sido agredido pelo ofendido, com mais razão
ainda, impõem-se a ele que se submeta a um mero exame perfunctório de suas unhas.

Exame externo do cadáver


O denominado exame perinecroscópico (ao redor da morte), ou seja, no perímetro
do cadáver, tem por finalidade apresentar não apenas a posição do corpo morto, mas
também a possível dinâmica do crime. Deve-se proceder a uma tomada fotográfica do
local, a várias distâncias - à maior distância, média e próxima, elaborar-se croqui do local;
examinarem-se as vestes do cadáver, podendo ser recolhidas se houver material orgânico.
É muito comum que, após essas etapas, as vestes do cadáver sejam rasgadas, deixando-o
nu (ou apenas com trajes íntimos) para que seja procedida a nova tomada fotográfica das
lesões suportadas pela vítima.

Coleta de cadáveres
Quem coleta os cadáveres são os funcionários do Instituto Médico Legal. Poderá ser
coletado sangue, em punção cardíaca, em se tratando de cadáveres recentes; havendo de-
composição ou carbonização do cadáver, deverá se rastrear algum material orgânico, como
dentes, tecidos aderido ao osso, embalando esses materiais em recipientes refrigerados para
depois congelá-los. No caso de ossos sem material orgânico aderido, poderão ser embalados
em papel na temperatura ambiente6.
Até 72 horas depois da morte, como ensinam Jesus Antonio Velho, Karina Alves Costa
e Clayton Tadeu Mota Damasceno7, a medicina legal consegue - por seus métodos - apurar
a estimativa do IPM (Intervalo pós-morte até o encontro do cadáver). Depois desse período,
haverá uma degradação dos tecidos do corpo, de modo que o método para se apurar esse
intervalo cronológico será pelo estudo dos insetos que passarão a se alimentar do cadáver.
Esses insetos, bem como as massas e larvas de ovos deverão ser coletadas, acondicionadas
em frascos, em temperatura fria, mas não congelada, até que cheguem para serem estudados
pelo entomologista forense, perito que estuda os insetos, seu desenvolvimento vital, a fim de
elucidar crimes, notadamente a data provável da morte e até a sua possível causa.

6 Jesus Antonio Velho, Karina Alves Costa e Clayton Tadeu Mota Damasceno, Locais de Crime, dos
vestígios à dinâmica criminosa, p. 117.
7 Jesus Antonio Velho, Karina Alves Costa e Clayton Tadeu Mota Damasceno, Locais de Crime, dos
vestígios à dinâmica criminosa, p. 133 e 142.

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Tribunal do Júri 8ª Edição
Walfredo Cunha Campos

Exame de DNA de impressões digitais ou coleta de padrões digitais?


O perito deverá escolher se procederá à coleta das impressões digitais ou se procederá
ao exame de DNA da amostra de impressões digitais; trata-se de uma escolha exclusiva, uma
vez que - optado por uma perícia - a outra poderá ser prejudicada, como bem explicam Jesus
Antonio Velho, Karina Alves Costa e Clayton Tadeu Mota Damasceno8.
V - acondicionamento: procedimento por meio do qual cada vestígio coletado é
embalado de forma individualizada, de acordo com suas características físicas, químicas e bio-
lógicas, para posterior análise, com anotação da data, hora e nome de quem realizou a coleta
e o acondicionamento, bem como a identificação numérica individualizadora;
VI - transporte: ato de transferir o vestígio de um local para o outro, utilizando as
condições adequadas (embalagens, veículos, temperatura, entre outras), de modo a garantir a
manutenção de suas características originais, bem como o controle de sua posse;
VII - recebimento: ato formal de transferência da posse do vestígio, que deve ser do-
cumentado com, no mínimo, informações referentes ao número de procedimento e unidade
de polícia judiciária relacionada, local de origem, nome de quem transportou o vestígio, código
de rastreamento9, natureza do exame, tipo do vestígio, protocolo, assinatura e identificação
de quem o recebeu;
VIII - processamento: exame pericial em si, manipulação do vestígio de acordo com
a metodologia adequada às suas características biológicas, físicas e químicas, a fim de se obter
o resultado desejado, que deverá ser formalizado em laudo produzido por perito;
IX - armazenamento: procedimento referente à guarda, em condições adequadas,
do material a ser processado, guardado para realização de contraperícia10, descartado ou
transportado, com vinculação ao número do laudo correspondente;
X - descarte: procedimento referente à liberação do vestígio, respeitando a le-
gislação vigente e, quando pertinente, mediante autorização judicial.
Investigação defensiva e fases da persecução penal
Analisadas a verdadeira natureza dos elementos de convicção que podem ser
produzidos na investigação defensiva, resta verificar as etapas da investigação e do proce-
dimento do Júri em que pode se fazer uso deles, e quais efeitos poderão produzir.

Fase do inquérito policial até à deliberação pelo recebimento ou rejeição da


denúncia por crime doloso contra a vida
A investigação defensiva poderá, na fase da investigação criminal, colher depoimentos,
juntar documentos, anexar pareceres técnicos ou reconstituições (que nada mais são do
que uma espécie de parecer técnico). A finalidade poderá ser a de convencer o membro do

8 Jesus Antonio Velho, Karina Alves Costa e Clayton Tadeu Mota Damasceno, Locais de Crime, dos
vestígios à dinâmica criminosa, p. 116.
9 Código de rastreamento é o conjunto de algarismos sequenciais que possui a capacidade de traçar
o caminho da história, aplicação, uso e localização de um objeto individual (Portaria 82 da SENASP,
Secretaria Nacional de Segurança Pública).
10 Contraperícia é a nova perícia realizada no material devidamente armazenado, com a finalidade de questiona-
rem-se as conclusões do trabalho pericial anterior; o resultado da nova perícia constituirá uma contraprova.

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CAPÍTULO 2
Investigação dos Crimes Dolosos Contra a Vida. Particularidades

Ministério Público a arquivar os autos, no caso de atuação da defesa do investigado; poderá,


ainda, a investigação defensiva ter por finalidade, no caso de advogado contratado pela
vítima ou seus representantes legais, em se tratando nessa última hipótese de homicídio
consumado, convencer o promotor a oferecer denúncia, apresentando a ele os elementos
informativos para tanto.
E ainda: arquivado o inquérito policial, o advogado da vítima poderá recorrer dessa
decisão à instância revisional do Ministério Público, encartando os autos da investigação
defensiva ao recurso, por visar sua reforma, e consequente oferecimento de denúncia,
nos termos do que passou a prever o atual art. 28 do CPP (alteração trazida pela Lei
13.964/2019- Pacote Anticrime, que se encontra suspenso por liminar proferida pelo STF).
Assiste idêntico direito ao advogado do investigado que poderá contrarrazoar o recurso em
face do arquivamento, sustentando, perante a instância revisional do Ministério Público, a
necessidade de sua manutenção, encartando os autos a sua a investigação defensiva.
Oferecida denúncia por crime doloso contra a vida, mas ainda não deliberado a
respeito do seu recebimento pelo juiz, restará ao advogado da vítima ou seus representantes
legais, e ao defensor do investigado (agora denunciado), anexarem os autos da investigação
defensiva para subministrar informações ao magistrado, postulando pelo recebimento, ou
não, conforme o caso, da peça acusatória.
Como nessa etapa processual ora tratada não vige o contraditório e a ampla defesa,
uma vez que se aquilata apenas da seriedade da existência de elementos informativos, ou
seja, se há ou não justa causa para o oferecimento e recebimento da denúncia, será per-
feitamente possível se levar em consideração quaisquer das espécies de dados amealhados
no decorrer da investigação defensiva, seja pela instância revisional do Ministério Público
(em caso de arquivamento de que se recorreu), seja pelo juiz, quando emite o juízo de
prelibação ao receber ou não a denúncia.

Fase judicial I: do oferecimento de resposta à acusação até a decisão de


pronúncia
Resposta à acusação
Oferecida e recebida a denúncia, será apresentada resposta à acusação pela defesa
(art. 406, § 3º, do CPP), oportunidade em que o advogado do agora acusado poderá anexar
aos autos os resultados extraídos da investigação defensiva. Em se tratando de depoimentos
prestados ao advogado do acusado, caberá ao profissional requerer a oitiva daquela de-
poente para ser ouvido em juízo, a fim de converter o elemento informativo coligido em
sede de investigação defensiva em prova propriamente dita, qual seja, aquela produzida
em contraditório judicial. Apenas com essa conversão, esse elemento de convicção poderá
alicerçar uma decisão judicial; se não for convertido, o elemento informativo poderá ser
usado apenas de maneira subsidiária, como expressamente dispõe o art. 155, caput, do CPP.
No caso de documentos anexados durante a investigação defensiva (dados e in-
formações emanados de órgãos públicos ou privados), por terem a natureza jurídica de
uma espécie de prova nominada (prova documental, art. 231 ao 238 do CPP), terão plena
eficácia probatória, sendo despiciendo se falar em qualquer conversão; como vimos, esses
documentos não são elementos informativos carentes de conversão em prova, mas sim
provas em sua essência, de modo que poderão se tornar o alicerce exclusivo para uma
decisão judicial, como estipula o art.155 do CPP.

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Tribunal do Júri 8ª Edição
Walfredo Cunha Campos

Nas situações de “laudos”, “exames periciais” e “reconstituições”, como vimos acima


não se trata, verdadeiramente, de prova técnica, mas de documentos privados emanados
de assistentes técnicos em que se anexa um parecer; não são provas propriamente ditas,
portanto, mas apenas uma espécie diferenciada de elemento informativo, que pode, apenas
de maneira secundária, estribar uma decisão judicial, como vimos acima.

Investigação defensiva para instruir pedido de benefícios penais ou processuais


penais
O advogado do acusado poderá fazer uso da investigação defensiva, em autos do
processo, não apenas para tentar sustentar sua tese de mérito, mas também para requerer,
por exemplo, a revogação de medidas cautelares; proposta de colaboração premiada,
acordo de não persecução penal, ou de suspensão condicional do processo, se cabíveis;
instruir pedido de habeas corpus, dentre outros; nesses casos em que não se discute o
mérito da causa penal, será possível que se obtenha o benefício pretendido, apenas com
base nos elementos informativos coligidos, se persuasivos.

Advogado da vítima e investigação defensiva


Não apenas o advogado do acusado poderá fazer uso da investigação defensiva, na
fase judicial: também o advogado da vítima ou de seus representantes legais, em qualquer
etapa do processo, poderá anexar as conclusões de investigação defensiva, para discutir
questões de mérito da causa, ou então, v.g, para requerer a prisão preventiva do acusado,
cassar sua liberdade provisória, e outros pleitos.

Fase das alegações finais


Poderão ser anexados os autos da investigação defensiva, quando do oferecimento
de alegações finais pela defesa do acusado (art. 411, § 4º, do CPP); nesse caso, em ho-
menagem ao contraditório, deve ser aberto vista ao Ministério Público (e ao assistente de
acusação de houver) para que se manifestem a respeito de seu teor. Depois da manifestação
da acusação, deve ser aberta nova vista à defesa para que tenha a possibilidade de falar por
último, a fim de não se comprometer a ampla defesa, o que causaria a nulidade do processo.
No caso de investigação defensiva encartada aos autos pelo advogado da vítima ou
de seus representantes legais, deve se oportunizar ao promotor se posicionar a respeito,
assegurando-se a derradeira manifestação à defesa do acusado.

Possibilidade de contraditório pela acusação, pela defesa do acusado, pelo


assistente da acusação, em contraposição à investigação defensiva
Em se tratando de investigação defensiva anexada, seja pelo advogado do acusado
ou pelo da vítima, consistindo em elementos informativos atinentes a “laudos”, “exames
periciais”, “reconstituições”, ou depoimentos, poderá o promotor requerer a produção
de prova que aquilate se aquelas informações são condizentes com a realidade; para tanto,
bastará requerer a oitiva, em juízo, da testemunha ouvida pelo advogado; no caso de
“laudos”, “exames periciais” ou “reconstituições”, de cujas conclusões discorde, poderá
requerer a realização, se possível, de perícia oficial para verificar se as conclusões emanadas
pelo assistente técnico contratado eram corretas. Esse pedido de contraprova dependerá
do momento em que foi anexado os autos da investigação defensiva: se anexada quando do

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CAPÍTULO 2
Investigação dos Crimes Dolosos Contra a Vida. Particularidades

oferecimento da resposta à acusação (art. 406, § 3º, do CPP), pela defesa do acusado ou
da vítima, caberá ao promotor requerer, imediatamente depois (art. 409 do CPP), a con-
traprova; se anexada a investigação particular na fase das alegações finais (art. 411, § 4º, do
CPP), o pedido de realização de contraprova pelo Ministério Público será formulado antes
da prolação de decisão judicial. De idêntica maneira, sendo anexada pelo advogado que
representa os interesses da vítima uma investigação defensiva com depoimentos, “laudos”
e “perícias” e “reconstituições”, será permitido ao advogado do acusado que requeira a
contraprova, como a oitiva em juízo daquela testemunha ouvida pelo advogado da vítima,
ou, então, a realização de perícias oficiais para aquilatar a veracidade do concluído nos
estudos técnicos particulares. E ainda: anexada a investigação defensiva pelo advogado do
investigado, o assistente da acusação poderá solicitar a realização de provas para passar
aquelas informações pelo crivo de um controle judicializado probatório, em que se exerça
o contraditório.
Em suma, as medidas sugeridas nada mais são do que formas de se assegurar, na
prática, o contraditório entre as partes.
Tratando-se de matéria de relevância probatória, caberá ao juiz deferir o pleito
de produção de prova para filtrar em juízo os elementos informativos coligidos durante
a investigação defensiva; se a prova requerida pelas partes, contudo, for considerada pelo
magistrado como irrelevante, impertinente ou protelatório, o pleito poderá ser indeferido
(art. 411, § 2º, do CPP). Desse indeferimento em si, não cabe recurso, mas as partes
poderão, quando proferida decisão que tenha encerrado a primeira fase do rito do Júri
(pronúncia, impronúncia, absolvição sumária e desclassificação). recorrer de tal decisão e
sustentar, em sede preliminar de recurso, a nulidade por ofensa ao princípio constitucional
do contraditório caracterizada pelo indeferimento de produção de prova. Cabível, ainda,
contra a decisão de indeferimento, habeas corpus pela defesa; no caso da acusação, seria
possível a impetração de mandado de segurança, pois a finalidade dessa ação constitucional
é a de fazer reconhecer o direito líquido e certo a produção de prova, que nada mais é que
um corolário do direito constitucional de ação. É de conhecimento nosso o teor da Súmula
604 do STJ, que não admite mandado de segurança pelo Ministério Público quando visa
atribuir efeito suspensivo ao recurso criminal interposto. No caso, porém, não se pretende,
com a impetração do mandado de segurança, conceder-se qualquer efeito suspensivo a
recurso contra a decisão que indeferiu a produção de provas- até porque não há recurso
contra a decisão que indeferiu a produção de provas- mas simplesmente se reconhecer
o direito constitucional líquido e certo a realização de atos probatórios pertinentes por
contribuírem com a busca da verdade dos fatos.

Investigação defensiva e decisão judicial


Anexadas a investigação defensiva, pelo advogado do acusado ou da vítima, o juiz
levará em conta os elementos informativos coligidos, tendo por base o artigo 155 do CPP;
isoladamente, tais elementos não podem fundamentar qualquer das decisões possíveis no
encerramento da 1ª fase do rito do júri (pronúncia, impronúncia, absolvição sumária ou
desclassificação); subsidiariamente, todavia, os elementos informativos, se coerentes com
as provas judicializadas produzidas, poderão sustentar aquelas espécies de decisões (art.
155 do CPP).

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Tribunal do Júri 8ª Edição
Walfredo Cunha Campos

Fase judicial II: do julgamento do recurso em face da pronúncia


Proferida decisão de pronúncia, o advogado do acusado ou da vítima, em sede
recursal, poderão anexar os autos da investigação defensiva, a fim de tentar persuadir o
Tribunal a dar provimento ao seu recurso; quanto à superior instância, claro, vale a mesma
regra legal de apenas poder usar como fundamento da decisão as provas propriamente
ditas, e não os elementos informativos, a não ser subsidiariamente (art. 155 do CPP).

Fase judicial III: fase do art. 422 do CPP- etapa preparatória de julgamento
pelo Júri.
Nessa etapa processual, se permite às partes juntarem documentos, de forma que
poderá a defesa do acusado ou do assistente da acusação (advogado que tutela os interesses
da vítima) anexar, nessa fase derradeira prévia ao julgamento pelo Júri, os autos da inves-
tigação defensiva.
No caso de elementos informativos de relevância, juntados pelo advogado do acusado
ou pelo assistente da acusação, como o depoimento prestado por uma testemunha dita
presencial ao advogado; ou então, as conclusões de “laudo pericial” ou “reconstituição” que
contrariem perícias oficiais anteriores, se facultará ao promotor requerer a contraprova,
seja requerendo a oitiva da testemunha referida em plenário, seja a produção de prova
pericial que possa dirimir uma questão técnico-científica mais complexa.
De idêntica forma, sendo anexada investigação defensiva pelo assistente da acusação,
ao advogado do investigado assiste o direito de postular a realização de contraprova.

54 |
capítulo 6
Pronúncia

Pronúncia e reconhecimento pessoal ou fotográfico


Segundo determina o art. 226 do CPP, quando houver necessidade de se proceder
ao reconhecimento de pessoa, o reconhecedor deverá descrever a pessoa que deva ser
reconhecida; após, a pessoa, cujo reconhecimento se pretender, será colocada, se possível,
ao lado de outras que com ela tiverem qualquer semelhança, convidando-se quem tiver de
fazer o reconhecimento a apontá-la.
Do ato de reconhecimento deve lavrar-se auto pormenorizado, subscrito pela au-
toridade, pelo reconhecedor, e por duas testemunhas presenciais (art. 226, IV, do CPP). O
reconhecimento, que será sempre individual, sob pena de nulidade, poderá ser procedido
pela autoridade policial – durante as investigações – e será considerado um elemento
informativo,ou se produzido durante o processo, constituirá,nessa última hipótese,uma
prova propriamente dita.

E se esse procedimento probatório detalhado em lei não for seguido?


Até recentemente, boa parte da doutrina e da jurisprudência entendiam que o não
atendimento do procedimento probatório previsto no art. 226 do CPP, caracterizaria mera
irregularidade formal, sem consequências processuais.
Em nova posição sobre o tema, a 6ª Turma do STJ11 fixou a compreensão que esse
procedimento probatório é uma garantia mínima para quem se encontra na condição de
suspeito da prática de um crime, e sua inobservância torna inválido o reconhecimento, de
modo que seu cumprimento integral é uma injunção legal imposta aos delegados de polícia
e aos magistrados.
A inobservância do procedimento probatório do ato de reconhecimento, ao tornar
inválido o reconhecimento da pessoa suspeita, não servirá de lastro a eventual condenação,
se essa se basear exclusivamente nessa prova.
A tese fixada compreende os seguintes pontos, in verbis12:

“1- Tanto o reconhecimento fotográfico quanto o reconhecimento presencial de


pessoas efetuados em sede inquisitorial devem seguir os procedimentos descritos
no art. 226 do CPP, observada a ressalva, contida no inciso II do mencionado
dispositivo legal, de que a colocação de pessoas semelhantes ao lado do suspeito
será feita sempre que possível devendo a impossibilidade ser devidamente justi-
ficada, sob pena de invalidade do ato.

11 STJ - HC 598.886. Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz.


12 STJ- HC 651.284 (2021/0076934-3). Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca.
Tribunal do Júri 8ª Edição
Walfredo Cunha Campos

2- O reconhecimento fotográfico constitui prova inicial que deve ser referendada


por reconhecimento presencial do suspeito e, ainda que o reconhecimento foto-
gráfico seja confirmado em juízo, não pode ele servir como prova isolada e única
da autoria do delito, devendo ser corroborado por outras provas independentes
e idôneas produzidas na fase judicial, sob o crivo do contraditório e da ampla
defesa.
3- O reconhecimento de pessoas em juízo também deve seguir o rito do art. 226
do CPP.
4- A inobservância injustificada do procedimento previsto no art. 226 do CPP enseja
a nulidade da prova e, portanto, não pode servir de lastro para a condenação do
réu, ainda que confirmado em juízo, o reconhecimento realizado na fase inqui-
sitorial, a menos que outras provas, por si mesmas, conduzam o magistrado a
convencer-se acerca da autoria delitiva”.

Em suma, segundo essa compreensão do assunto, se, na delegacia de polícia, ao se


proceder ao reconhecimento do então indiciado, não forem cumpridas as determinações do
art. 226 do CPP – ou seja, não houver descrição prévia de quem se pretendia reconhecer;
não tiverem sido colocadas outras pessoas ao lado de quem se pretendia reconhecer; o ato
não tiver sido individual; não tiver sido providenciada a lavratura de auto pormenorizado,
esse elemento informativo (reconhecimento de pessoa) será imprestável, de modo que,
mesmo que o reconhecedor, em juízo, confirme o reconhecimento, não servirá de lastro à
condenação. De idêntica forma, se não for seguido o procedimento probatório em juízo, a
nulidade desse elemento de convicção será manifesta.
Em miúdos: procedido ao reconhecimento de pessoa, na fase do inquérito policial,
ao arrepio das prescrições legais do art. 226 do CPP, mesmo que tal reconhecimento seja
confirmado pelo reconhecedor, quando prestar seu depoimento juízo, não se autorizará
a condenação, se não houve outro elemento de prova que torne possível a condenação;
apenas na hipótese de existir outra prova convincente – além do indigitado reconhecimento
falho e, por isso, imprestável – será possível a condenação.
Importante um aprofundamento do tema: o descumprimento, pela autoridade
policial, das formalidades legais atinentes ao reconhecimento pessoal, não poderia ter o
condão de tornar inválido eventual outro reconhecimento, realizado em juízo, em que se
tenha cumprido todo o procedimento probatório: o elemento informativo inválido, que é
o reconhecimento pessoal procedido durante o inquérito violando as determinações legais,
não poderia contaminar um ato probatório processual – produzido em juízo, sob o manto
do contraditório e da ampla defesa – que tenha cumprido – à risca – as determinações do
art. 226 do CPP. A independência e a natureza completamente distintas dos atos repu-
diariam essa pretendida contaminação. No entanto, deve-se compreender que, no caso
de reconhecimento, a situação é diferenciada. Um elemento informativo produzido na fase
do inquérito policial sem que tenham cumpridas todas as suas formalidades legais pode ser
sucedido pela produção absolutamente regular de idêntica prova, em juízo, o que afasta a
invalidade anterior. Exemplos: uma acareação em que aos acareados não se impõem que
expliquem os pontos de suas divergências, é substituída por uma acareação regular (art.
229 do CPP); um gráfico elaborado por policiais com conclusões equivocadas a respeito

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CAPÍTULO 6
Pronúncia

das lesões suportadas pelo cadáver da vítima, pode ser substituído por irretocável laudo
necroscópico (cadavérico), esquemas e gráficos anexados pelo médico legista (art. 165
do CPP). No caso do reconhecimento irregular (pessoal ou fotográfico) produzido na de-
legacia de polícia, ou seja, que não tenha seguido as prescrições do art. 226 do CPP, o ato de
reconhecimento em si estaria comprometido, viciado, contaminado: quem produz a prova
de reconhecimento (o reconhecedor) teria sua capacidade de identificação- sua memória-
viciada, pela contaminação, ou, no mínimo, colocada em dúvida, pois, a cada vez que fosse
convidado a reconhecer- mesmo que em juízo, identificaria, não necessariamente quem
cometeu o crime, mas quem reconheceu, de maneira irregular, na delegacia de polícia; seria
um reconhecimento da pessoa que lhe foi apresentada no reconhecimento ilegal anterior, e
não um reconhecimento de pessoa que teria cometido o crime.
Desse modo, mesmo que haja um reconhecimento em juízo, cumprindo-se todas as
formalidades do art. 226 do CPP, se o reconhecimento anterior, na delegacia de polícia, não
tiver seguido o procedimento probatório legal, a prova produzida em juízo não poderá, por si
só, justificar uma condenação, a não ser que haja outro elemento de convicção independente.
Claro que o descumprimento das exigências legais do reconhecimento, na fase policial
e judicial, ou apenas na fase judicial, acarretará o mesmo efeito: a imprestabilidade da prova.
De outro giro, o reconhecimento realizado na delegacia de polícia descumprindo
as formalidades legais e se for meramente ratificado, quando do depoimento do reco-
nhecedor, ou seja, sem se proceder a novo reconhecimento em juízo, essa mera ratificação
do reconhecimento anterior, não autoriza a condenação do acusado, se for essa a única
prova em face dele.
Quanto ao reconhecimento fotográfico, deverá seguir o mesmo procedimento do
reconhecimento pessoal, e deve ser encarado como mera prova inicial que depende ser
referendada por reconhecimento presencial do suspeito; mesmo que o reconhecimento
fotográfico seja confirmado em juízo, não pode servir como prova isolada da autoria, e deve
ser confirmado por prova independente. Significa dizer que o reconhecimento fotográfico
pode ser a base inicial de uma investigação, inclusive para fundamentar a decretação da
prisão preventiva13, mas mesmo que todo o trâmite do art. 226 do CPP seja seguido, na
fase policial e judicial (com dois reconhecimentos por fotografia), não poderá, isoladamente,
essa prova, justificar uma condenação. O reconhecimento por foto de mídia social como
Facebook, Instagram, não é válido, se não seguir o rito probatório do art. 226 do CPP14. De
idêntica maneira, mera exibição de prints fotográficos do suspeito, sem se cumprir o rito
do reconhecimento, acarreta a nulidade da prova15, ou a de foto, por meio de WhatsApp16.
Mas ante a todas essas regras probatórias legais, agora tidas como obrigatórias, há
uma ressalva apontada pelo STJ: cumpridas as prescrições do art. 226 do CPP, no geral, com
a descrição prévia de quem se vai reconhecer, colocação ao lado dele de outras pessoas,
reconhecimento individualizado (impedindo-se o reconhecimento de dois ou mais reco-
nhecedores e/ou dois ou mais reconhecidos, ao mesmo tempo), não haverá nulidade da

13 STJ- 6ª T. HC 651.595. Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro.


14 STJ- HC 617.717/DF (2020/0262983-8). Rel. Minª. Laurita Vaz
15 STJ- HC 697.428. Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro.
16 STF- RHC 206846. Rel. Min. Gilmar Mendes.

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Tribunal do Júri 8ª Edição
Walfredo Cunha Campos

prova, se não tiverem sido colocados, ao lado de quem se pretendia reconhecer, pessoas
com semelhança física, como ressalva o inciso II do art. 226 do CPP: “a pessoa, cujo reco-
nhecimento se pretender, será colocada, se possível, ao lado de outras que com ela tiverem
qualquer semelhança (...)”. Sendo assim, a não colocação de pessoa semelhante ao lado
de quem se pretende reconhecer não gerará nulidade, desde que tal impossibilidade seja
devidamente justificada. Logo, se não for justificada a impossibilidade, o reconhecimento
será nulo como prova; evidentemente que, se quem tiver que ser reconhecido não for co-
locado ao lado de mais ninguém- semelhantes fisicamente ou não- com maior razão ainda,
a nulidade da prova seria inevitável.
Adaptando essa questão da validade ou não do reconhecimento ao rito do Júri,
chegamos às seguintes conclusões:

1ª- se o único elemento de convicção apontando a autoria delitiva for o reconhe-


cimento pessoal falho na delegacia de polícia não se autorizará o recebimento da denúncia
(por falta de justa causa, como vimos no Capítulo 5, item 5.2.1.8, Recebimento da denúncia
e reconhecimento pessoal ou fotográfico), nem a pronúncia do acusado17; isso porque a
pronúncia, como filtro de provas, tem justamente a finalidade de barrar a possibilidade de
condenações injustas, de provável ocorrência quando se trata de processos cujas provas
não sejam confiáveis.
Sendo proferida condenação pelo Júri, com base exclusivamente nesse elemento in-
formativo inválido colhido na fase do inquérito, e havendo recurso de apelação, o veredicto
deverá ser cassado por ser manifestamente contrário à prova dos autos, a fim de que outro
julgamento se realize.
No caso de condenação transitada em julgado, será admissível revisão criminal (ou
mesmo habeas corpus) postulando-se a absolvição do acusado, com base no novo enten-
dimento do STJ a respeito das consequências do descumprimento das balizas do art. 226
do CPP para se realizar o reconhecimento (os Tribunais Superiores pacificaram ser possível
julgar pelo mérito a revisão criminal a fim de absolver o condenado pelo Júri).
2ª- reconhecimento pessoal falho na delegacia de polícia, mas que tenha sido saneado
por um reconhecimento regular em juízo onde tenham sido seguidas todas as formalidades
legais; nessa situação, entendíamos que seautorizaria a pronúncia do acusado, mesmo que
a única prova que houver em seu desfavor tivesse sido o reconhecimento procedido em
juízo. Melhor analisando o tema, de acordo com a clareza da posição do STJ, não há como
se sustentar essa compreensão, uma vez que o Tribunal Superior é explícito ao entender
que, constatada a irregularidade do reconhecimento policial, mesmo que produzido um
reconhecimento escorreito em juízo, a nulidade do ato processual é indeclinável: “Embora
a realização posterior de prova em regra afaste a invalidade de semelhante prova
anterior, no caso do reconhecimento isso não se pode permitir pelo natural vício
da memória já identificadora de pessoa inicial com erro- a fixação da imagem do reconhe-
cimento tende a substituir aquela memória do dia do crime. Assim não serve como prova

17 O Tribunal Regional Federal da 2ª Região, ao julgar recurso em sentido estrito, reformou pronúncia
para impronunciar o acusado que foi reconhecido pelas vítimas da tentativa de homicídio sem que se
tivesse seguido o procedimento previsto no art. 226 do CPP. As vítimas do crime reconhecerem o
acusado que estava sozinho em um leito hospitalar (autos 5005606.24.2020.4.02.5110/RJ).

58 |
CAPÍTULO 6
Pronúncia

independente e idônea o reconhecimento posterior em juízo, após grave falha no


reconhecimento inicial18”. De acordo com o entendimento do STJ, portanto, a nulidade
será manifesta, de modo que, sendo proferida pronúncia, exclusivamente, estribada em
reconhecimento irregular na fase do inquérito, mesmo que confirmado o reconhecimento
regular em juízo, referida decisão de admissibilidade da acusação em plenário deverá ser
anulada. Condenado o réu em plenário com base apenas em prova de reconhecimento ilegal
na delegacia- embora produzida idêntica prova escorreita em juízo- o veredicto poderá
ser cassado, para que outro julgamento se realize. No caso de condenação transitada em
julgado, nessas condições de prova, será admissível revisão criminal (ou mesmo habeas
corpus) postulando-se a absolvição do acusado, com base no novo entendimento do STJ
(os Tribunais Superiores pacificaram ser possível julgar pelo mérito a revisão criminal a fim
de absolver o condenado pelo Júri).
3ª- reconhecimento pessoal sem as formalidades legais, tanto na delegacia quanto
em juízo, sem outras provas de autoria: não haverá prova para a pronúncia, nem muito
menos para a condenação em plenário, de modo a se autorizar a anulação da pronúncia, a
cassação do veredicto condenatório em apelação, e a revisão criminal a fim de se absolver
o condenado (no caso de decisão condenatória transitada em julgado).
4ª- No caso de reconhecimento fotográfico isolado, na fase policial e/ou em juízo,
se não cumpridas as formalidades legais, acarretará a nulidade da pronúncia e do veredicto
condenatório, e a absolvição em sede de revisão criminal (no caso de condenação transitada
em julgado). O reconhecimento fotográfico regular realizado na fase policial, desde que
amparado em outras provas, é válido19;
5ª- reconhecimento fotográfico na fase policial que seguiu todas as formalidades
legais, mas sem estar acompanhado de outros elementos de convicção, impondo-se os
mesmos efeitos acima.
6º- Novamente citando a importante decisão da 6ª Turma do STJ20, passou-se a
entender que a mera confirmação, em juízo, do reconhecimento fotográfico procedido
na delegacia de polícia (sem proceder a outro reconhecimento), não pode servir como
prova em ação penal, uma vez que o reconhecimento fotográfico deve ser visto como etapa
antecedente a eventual reconhecimento pessoal, não valendo por si só. Se for a única base
probatória da pronúncia ou da condenação, as consequências serão as mesmas: nulidade da
pronúncia, cassação do veredicto condenatório, e absolvição por revisão criminal no caso
de condenação transitada em julgado.
7º- Reconhecimento fotográfico e pessoal descumpridores das diretrizes do art. 226
do CPP: imprestabilidade da prova, gerando os mesmos efeitos referidos acima.

18 Excerto do voto do Min. Nefi Cordeiro, do STJ, citado pelo Min. Reynaldo Soares da Fonseca, tam-
bém do STJ, no seu voto no HC 652.284/SC.
19 STJ- 6ª T. AgRg no HC 633.659/SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro. J. 02/03/2021, DJe 05/03/2021.
20 STJ - 6ª T. HC 598.886. Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz.

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CAPÍTULO 16
Nulidades Processuais

Casuística de nulidades do rito do Júri


Quebra da incomunicabilidade das testemunhas na 1ª fase do rito
Interessante notar que a quebra da incomunicabilidade das testemunhas, na primeira
fase do rito ou no dia do julgamento pelo Júri, por ofensa ao que dispõem, respectivamente,
os arts. 210 e 460, ambos do CPP, poderá ensejar a nulidade do feito, se evidenciado o
prejuízo. Trata-se, portanto, de nulidade relativa.

Excesso de linguagem na decisão que decretou a prisão preventiva


Não haverá qualquer nulidade na decisão interlocutória que tenha decretado a prisão
preventiva do acusado, usando – como se espera – fatos concretos da imputação, para jus-
tificar a medida extrema21; ademais, a nulidade, quanto ao tópico excesso de linguagem, só
poderia ser declarada no caso de decisão de pronúncia, e não de decisão referente à prisão
processual. Ademais, sabe-se que todas as decisões judiciais devem ser fundamentadas (art.
93, IX, da CF), sob pena de nulidade (art. 564, V, do CPP).

Atuação de membro do Ministério Público suspenso da função em plenário


A atuação de membro do Ministério Público, suspenso de suas atividades, em jul-
gamento pelo Júri, sem, portanto, capacidade postulatória, acarreta a nulidade absoluta do
ato processual22.
Réu indefeso em plenário: curta manifestação da defesa em debates.
Faz parte das atribuições do juiz presidente dissolver o Conselho de Sentença, quando
considerar que o réu está indefeso, ainda que o acusado esteja satisfeito com o trabalho do
defensor, designando novo dia para o julgamento, com a nomeação ou a constituição de
novo defensor (art. 497, V, do CPP). O STJ23 anulou julgamento pelo Júri em que a defesa
de acusado de ter praticado homicídio qualificado se manifestou em debates por apenas 4
minutos, por julgá-lo, obviamente, indefeso. Em outra decisão, porém, também do STJ24,
não se anulou o julgamento em plenário pelo fato de a defesa ter se manifestado em curto
espaço de tempo – 9 minutos – enquanto a acusação usou uma hora e 3 minutos; reputou-
-se que a alegação de nulidade, sem a efetiva demonstração do prejuízo, especialmente
quando inexistiu recurso da defesa, não leva inexoravelmente à eiva alegada. Em sentido
semelhante, outra decisão do STF25.

21 STF - 2ª T. HC 161960. Rel. Min. Gilmar Mendes.


22 STJ - Recurso em Habeas Corpus nº 43.105/SP (2013/0396834-9). Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz.
23 STJ: HC 234.758.
24 STJ - HC 365.008/PB. Rel. Min. Sebastião Reis Júnior.
25 STF - 2ª T. HC 164535 AgR/RJ, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgamento em 12/11/2019.
CAPÍTULO 16
Nulidades Processuais

Réu indefeso em plenário: falso advogado


Se a defesa for patrocinada por falso advogado, o julgamento deverá ser dissolvido
pelo juiz presidente, se ainda estiver ocorrendo o plenário, quando tomar conhecimento
dessa inusitada situação; na hipótese de o magistrado tomar conhecimento, antes do
plenário, da inabilitação profissional do pretenso advogado, deverá intimar o acusado a
constituir advogado de sua confiança, em determinado prazo; se não providenciar, será
nomeada a Defensoria Pública ou advogado dativo para atuar no julgamento. Sendo o
acusado defendido por pretenso advogado, se condenado, o julgamento deverá ser anulado;
se absolvido com trânsito em julgado, por se ter constituído a coisa soberanamente julgada,
não será invalidará tal absolvição.

Condução rude de interrogatório em plenário por parte do juiz togado e


suposta parcialidade
O STJ26 decidiu que, mesmo tendo sido conduzido o interrogatório em plenário de
forma firme, senão rude, pelo juiz togado, não há se falar em quebra da imparcialidade, e,
portanto, em nulidade do julgamento, até porque inexistiu prejuízo. Ademais, o juiz não
é mero espectador do julgamento, tendo o dever de conduzir os trabalhos (art. 497 do
CPP) e interrogar o acusado, desde que não opine a respeito do caso criminal vertente.
Em outra decisão, o STJ27 refutou a tese de que o juiz presidente teria usado de excesso de
linguagem na sessão de julgamento, influenciando indevidamente os jurados; decidiu-se que
a intervenção do magistrado, no exercício de sua atribuição de poder de polícia da sessão,
ao alertar o tribuno a não usar palavreado chulo e grosseiro, não poderia ser considerada
quebra da imparcialidade, nem influência negativa nos jurados.

Ausência de testemunha arrolada em caráter de imprescindibilidade. Sus-


pensão da sessão plenária para determinar sua condução coercitiva ao plenário.
Realização do plenário ante sua não localização.
Arrolada uma testemunha pelas partes, em caráter de imprescindibilidade, na fase
do art. 422 do CPP, se, apesar de intimada, não comparecer à sessão plenária, é possível ao
juiz suspender a sessão e determinar sua condução coercitiva. Caso a testemunha não seja
localizada pelo oficial de justiça, o magistrado poderá determinar a realização da sessão, nos
termos do procedimento previsto no art. 461 do CPP, não havendo se falar em qualquer
nulidade nesse proceder28.

Instrução na 1ª fase do rito do Júri ou em plenário colhida por mídia eletrônica


inaudível
Na prática, infelizmente, às vezes ocorre que a prova oral, captada por dispositivos de
mídia eletrônica, não apresente qualidade mínima, e seja – algumas vezes, completamente

26 STJ - HC 410.161/PR. Min. Rel. Maria Thereza de Assis Moura.


27 STJ- HC 694.450/SC (2021/0299642-1). Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca.
28 STJ - 5ª T. HC 282.691/SP. Rel. Min. Leopoldo de Arruda Raposo (Desembargador convocado do TJ/
PE), julgado em 06/08/2015, DJe 18/08/2015).

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Tribunal do Júri 8ª Edição
Walfredo Cunha Campos

inaudível; se assim ocorrer, a nulidade do ato deve ser decretada. Em razão disso que,
sempre que possível, deve-se transcrever tais depoimentos, pelo setor técnico do Tribunal.
Seria uma hipótese de nulidade do ato processual, e não de inexistência, afinal a
prova oral foi efetivamente produzida, mas, por um defeito técnico, não se registrou em
mídia audiovisual sua produção; o defeito é da forma do ato processual, não se questionado
sua existência material, portanto.
Se a prova tiver sido colhida na 1ª fase, por mídia inaudível (sem transcrição em de-
poimentos escritos), as partes não terão acesso aos depoimentos para se preparem para o
julgamento, e, no dia do plenário – igualmente os jurados – o que, por óbvio, cerceia – se não
impossibilita – a atuação acusatória e defensiva, bem como a competência constitucional do
Júri de julgar os crimes dolosos contra a vida, competência essa que pressupõe – em primeiro
lugar – o amplo conhecimento dos fatos e das provas postos sob seu poder de decisão.
Se a falha da gravação for notada, após a realização das audiências e antes de as
partes se manifestarem em alegações finais e o juiz exercer o juízo de admissibilidade da
acusação (fase da pronúncia), a instrução deverá ser repetida, intimando-se, novamente,
todas as testemunhas, vítima e acusado, para serem ouvidos, mais uma vez, a respeito
dos mesmos fatos. Não será possível se dar seguimento ao processo com base apenas na
lembrança subjetiva das partes e do juiz a respeito daquilo que os inquiridos em audiência
teriam dito. Nessa situação, o refazimento integral de todas as inquirições se impõe, porque
patenteada a nulidade da instrução (evidentemente se o defeito técnico não puder ser re-
solvido através de aparelhos mais sofisticados); se o magistrado determinar, porém, a re-
tomada do processo, sem a reinquirição das testemunhas, a nulidade do feito será evidente,
a ser decretada, inclusive por meio de habeas corpus, ou, em sede de preliminar de recurso
em face da decisão que encerrou a primeira fase do rito do Júri (pronúncia, impronúncia,
absolvição sumária e desclassificação). Claro que se uma das partes gravou a audiência,
como lhe é permitido fazê-lo, por conta própria, bastará ceder a gravação para o juiz e para
o seu adversário processual, a fim de que o registro da prova oral seja entranhado aos autos,
o que afastará a ocorrência da nulidade.
Pode ocorrer, ainda, que, realizada a audiência de instrução, gravada por mídia audio-
visual, as partes se manifestem em alegações finais orais ou escritas e o juiz profira decisão
na fase de encerramento da 1ª etapa do rito do Júri, com base apenas naquilo que ouviram
em audiência e que possam ter lembrança, ou anotado, quando da inquirição, sem que
tenham tido a necessidade de ouvirem as gravações para tanto (de modo que a falha técnica
não foi notada pelas partes e pelo magistrado); prolatada a pronúncia (ou impronúncia,
absolvição sumária ou desclassificação), e havendo recurso, se o Tribunal se aperceber da
ausência de mídia audível, tentará solucionar o problema técnico; se não lograr êxito, de-
terminará a nulidade do processo a partir da instrução, para que seja refeita, colhendo-se a
prova oral mais uma vez. O problema surgirá quando, na situação ora em estudo- em que
as partes tenham se manifestado em alegações finais, o juiz pronuncie e o Tribunal confirme
a pronúncia, sem que ninguém tenha se apercebido que a mídia se encontra inaudível. E,
quando as partes se preparam para o plenário, ao ouvirem as gravações, notam que os
depoimentos estão inaudíveis. O que fazer? Notando-se, antes do julgamento pelo Júri, que
os depoimentos colhidos por mídia estão inaudíveis, a primeira providência a ser tomada é
a de, através de equipamento técnico mais sofisticado, tentar-se captar-se o seu teor; se não
for possível essa solução, poderá ser determinada a nova oitiva de todas as testemunhas

62 |
CAPÍTULO 16
Nulidades Processuais

cujos depoimentos estejam inaudíveis, proporcionando-se novo interrogatório, alegações


finais das partes, e outra pronúncia; para tanto, basta ao juiz declarar a nulidade de parte do
processo, e seu consequente refazimento (art. 573 do CPP).
Outra alternativa para resolver o problema, que parece mais pragmática, indo ao
encontro do princípio constitucional da razoável duração do processo (art. 5º, LXXVIII, da
CF), será se utilizar os memoriais das partes, orais ou escritos, e, sobretudo, a decisão de
pronúncia (e sua eventual confirmação pelo Tribunal), como referência para se restaurar
as provas produzidas na 1ª fase do rito, a fim de tornar possível que as partes e os jurados
tenham acesso, pelo menos por via indireta, aos elementos de convicção trazidos aos autos.
Nessa hipótese, e sendo repetida a prova na sessão plenária, se reduzirá, e muito, os pre-
juízos sofridos pelos defeitos da mídia. Essa alternativa para se tentar sanear a nulidade só
pode ser implementada se for elaborada uma decisão de pronúncia bem circunstanciada,
com a descrição, em detalhes, de cada depoimento prestado; se for prolatada decisão de
pronúncia omissa e lacunosa- daquelas recheadas de jurisprudências e doutrinas mas pobre
de fatos- não haverá como se restaurar, através dessa decisão, o material probatório coligido
anteriormente e perdido na gravação, de modo que se mostrará necessária a repetição
integral da prova oral, com a nulidade do processo, a partir da instrução. A insistência na
realização do plenário, pelo juiz, sem a repetição das provas perdidas, e com pronúncia
vazada em termos genéricos, induzirá a nulidade do processo, cabendo a impetração de
habeas corpus, mandado de segurança ou correição parcial contra essa medida.
No dia do julgamento do processo cujas provas audiovisuais estejam inaudíveis, as
partes poderão requerer o reconhecimento da nulidade, logo depois de anunciado o jul-
gamento e apregoadas as partes (art. 571, V, do CPP), a fim de que o plenário não se realize.
Deferido o pedido, o julgamento não seguirá, e o magistrado tentará sanear o problema
técnico; se não resolvido, poderá determinar a nulidade do processo a partir da instrução,
para que a prova oral seja repetida. Se o magistrado indeferir o pleito, constará a arguição
de nulidade em ata (art. 495, XV, do CPP), que poderá ser reconhecida, pelo Tribunal, em
preliminar de apelação. O tribuno poderá se recusar, a nosso ver, de modo fundamentado,
a participar de um julgamento que esteja completamente desfalcado de provas que possam
ser exibidas aos jurados, o que justificaria até o abandono do plenário, como forma de
exercer o direito de resistência possível a uma ilegalidade.
A solução mais prática para esse dilema de processo desfalcado de provas audio-
visuais será o de, como dissemos acima, se proceder a uma espécie de restauração da prova
produzida, com o uso das alegações finais das partes, e, principalmente, da pronúncia (e
sua eventual confirmação pelo Tribunal), o que, se adicionada a uma exauriente produção
de prova em plenário, permitirá a realização responsável do julgamento sem que ocorra
nulidade. Mas, como se viu, indispensável, para esse possível saneamento, uma pronúncia
exauriente e detalhada na descrição de toda a prova oral produzida; na hipótese de pro-
núncia lacônica, nada há a se fazer, senão se invalidar o processo desde o início da instrução,
determinando-se seu refazimento.

Instrução em plenário colhida por mídia eletrônica inaudível e recurso


Se a mídia referente à instrução produzida em plenário for inaudível, e havendo recurso
em que se alegue que o veredicto tenha se divorciado completamente das provas, o julgamento

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Tribunal do Júri 8ª Edição
Walfredo Cunha Campos

pelo Júri deverá ser anulado (nulidade absoluta), pois não será possível ao Tribunal apreciar o
acerto ou desacerto da decisão do Conselho de Sentença, uma vez que a prova oral produzida
em plenário deixou de ser registrada, e não haverá, ao contrário da situação acima retratada,
qualquer peça processual, como memoriais e pronúncia para se restaurar as provas produzidas.
Claro que se uma das partes tiver gravado, por conta própria a instrução, o problema estará
solucionado. No entanto, se o recurso impugnar – não o mérito do veredicto – mas apenas
eventual nulidade ocorrida em plenário que possa ser comprovada exclusivamente pela ata dos
trabalhos, não haveriase falar em nulidade, porque o fato de a mídia da prova oral coligida na
sessão de julgamento não ser audível em nada prejudicaria o julgamento do recurso, e, sem
nulidade, não haveria prejuízo (art. 563 do CPP). Pensamos, porém, que é direito de todo o
acusado, até para se permitir eventual ajuizamento de revisão criminal no futuro (mesmo que
não se deseje discutir o mérito da causa em apelação), e também é prerrogativa da sociedade,
possuir registrado o acervo de provas que tenha legitimado uma condenação de alguém pelo
Tribunal do Júri; é inadmissível que as provas desapareçam, até pela impossibilidade de serem res-
tauradas, e o veredicto transite em julgado, sem qualquer providência. Desse modo, pensamos
que é o caso de se reconhecer a nulidade do processo (a partir da instrução da primeira fase do
rito) em se tratando de veredicto condenatório, inclusive de ofício pelo Tribunal, mesmo que as
partes não entrem na discussão do mérito da causa e discutam, no recurso, apenas a ocorrência
de irregularidades formais no julgamento (o que é raro de ocorrer). No caso de veredicto abso-
lutório, mesmo que com mídia inaudível, se houver recurso da acusação sustentando a nulidade,
o julgamento deverá ser anulado; obviamente, se não houver essa arguição pelo promotor, o
veredicto absolutório transitará em julgado, porque não pode o Tribunal reconhecer, contra o
réu, de ofício, nulidade, mesmo que absoluta (como é o caso)29, uma vez que seria uma espécie
de reformatio in pejus indireta (reformar para pior a decisão anterior sem pedido expresso da
acusação para tanto), o que é vedado pelo art. 617 do CPP.

Diferentes tipos de deficiência técnica das mídias


Em algumas vezes, a mídia – se processada no computador – é inaudível, mas, com
o uso de fones de ouvido a audição torna-se possível; nessa situação, não haverá se falar
em nulidade; bastará – num ato mínimo de boa vontade – fazer uso do mencionado singelo
meio de se ouvir a mídia.
E se partes da mídia forem ininteligíveis (ou seja, se não puderem ser compreendidas),
ou se apenas um ou outro depoimento for inaudível haverá nulidade? Depende: se o trecho
da fala comprometer a compreensão do todo da prova oral, e for muito relevante essa
prova, a nulidade é de rigor; se não impedir a intelecção do todo, ou se o depoimento não
tiver maior importância probatória, não haverá eiva; dependerá, em suma, da possibilidade
de a incompreensão do depoimento causar prejuízo à parte na apuração da verdade subs-
tancial da causa, nos termos do que prevê o art. 566 do CPP.

Depoimento pessoal da parte em plenário


É vedado o depoimento pessoal da parte em plenário a respeito do mérito da causa,
porque impossibilita o contraditório: não há como o adversário processual rebater algo

29 Este é o teor da Súmula 160 do STF: É nula a decisão do Tribunal que acolhe, contra o réu, nulidade
não arguida no recurso da acusação, ressalvado os casos de recurso de ofício.

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CAPÍTULO 16
Nulidades Processuais

que seria do conhecimento íntimo do orador; por esse motivo, o depoimento pessoal – se
ocasionar prejuízo – acarretará a nulidade do julgamento.
O Tribunal de Justiça de São Paulo30, acertadamente, anulou julgamento em que o
membro do MP, na sua fala, relatou ter obtido informações a respeito da causa pelo fato de
seu genitor ter mantido conversas com o genitor do acusado, o que o habilitaria a sustentar
a tese acusatória, uma vez que conhecia efetivamente como os fatos ocorreram.

Uso de algemas em plenário fundamentado pelo juiz presidente


Conduzido o acusado preso à sessão plenária de julgamento pelo Júri, caberá ao
juiz presidente decidir – de maneira fundamentada – se manterá ou não o réu algemado
no decorrer do ato solene. Para tanto, o magistrado deverá levar em conta as informações
prestadas pela escolta do preso: se há condições ou não de segurança para todos, para
desalgemar o preso; afiançado pela polícia que não há óbices de segurança para tanto, o juiz
determinará – de ofício ou a pedido da defesa – que o réu permaneça sem algemas; aduzindo,
porém, a escolta policial, que é necessária,a fim de se preservar a incolumidade física de
todos, a manutenção do réu algemado, o juiz deverá,de maneira justificada,implementar tal
medida, não havendo qualquer nulidade nesse proceder.
Exemplos de situações que justificam o uso de algemas durante o plenário: envol-
vimento do acusado em organizações criminosas; diversos antecedentes criminais do réu, por
si sós, não justificariam, necessariamente, o uso de algemas, a não ser que haja um histórico
de fugas, ou alguma circunstância específica que demonstre tal necessidade; particularidades
especialmente gravosas do crime em que esteja o réu sendo julgado também não configuram,
por si mesmas, a conclusão de que o uso de algemas seja imprescindível, a não ser que se
aponte determinado fato ocorrido no passado com o risco que se correria na sessão de jul-
gamento com o réu desalgemado; permanência em presídio de segurança máxima; histórico
de fugas, rebeliões e punições disciplinares, pouco efetivo policial no fórum etc.
Como muito bem explanado pelo Min. Barroso, do STF31, ao tratar do tema: “(...)
a questão da periculosidade, ou não, do réu, é assunto de polícia e não de juiz. Se a polícia
informa que o réu é perigoso, o juiz, que, normalmente, entra em contato com o réu pela
primeira vez, tem que confiar na presunção de legitimidade da informação passada pela
autoridade policial. Fora dos casos de abuso patente, é preciso dar credibilidade àquele que
tem o encargo de zelar pela segurança pública, inclusive no âmbito do tribunal”.
Ressalte-se, porém, que o juiz, ao determinar a manutenção do acusado algemado,
de ofício ou no caso de indeferir o pedido da defesa, deverá usar fundamentação sóbria e
comedida, a fim de não influenciar indevidamente os jurados. Se o juiz empregar expressões
fortes, ao se referir ao acusado a fim de mantê-lo algemado, como, por exemplo, “contumaz
delinquente”; “facínora”, “se solto, um perigo à sociedade”, o caso será de se reconhecer
nulidade de eventual veredicto condenatório, uma vez que os jurados certamente terão
sido persuadidos da culpa do réu – mais pela fundamentação exarada pelo juiz presidente –
que pelas próprias provas do processo.

30 TJSP - Apelação Criminal nº 0116525-15.2003.8.26.0114. Comarca de Campinas. 2ª Câmara Cri-


minal do Tribunal de Justiça de São Paulo. Relator Desembargador Amaro Thomé. Julgamento em
11/11/2019.
31 STF - 1ª T. Rcl 32970 AgR/RJ, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgamento em 17/12/2019.

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Tribunal do Júri 8ª Edição
Walfredo Cunha Campos

A ressalva é a de que se for se determinar a manutenção do réu algemado, cabe


ao juiz fazê-lo de modo sucinto, com invocação dos dispositivos legais, e menção – sem
contundência – a fatos concretos que justificam a medida.
Há entendimento no sentido de se decretar a nulidade da condenação pelo Júri,
pelo simples fato de o juiz presidente determinar a manutenção do acusado algemado,
sem que qualquer fato concreto justificasse tal medida extrema – quer pelo histórico
não desabonador do acusado (primário e de bons antecedentes), quer por não ter sido
referida providência recomendada pela escolta policial; segundo essa compreensão do
tema, a mera visualização do acusado algemado influenciaria os jurados a condenarem,
independentemente das provas produzidas. Temos, todavia, pela nossa experiência, visão
mais elevada dos jurados: são pessoas, desde que bem escolhidas pelo juiz presidente, que
não se deixam impressionar pelo simples fato de o acusado surgir algemado à sua frente; o
jurado – homem e mulher inseridos na modernidade – já viram de tudo – cenas grotescas
e até deploráveis – pela televisão, mídias sociais e internet – e não é a visão de alguém
algemado, que irá convencer a condenar mesmo ao arrepio das provas, unicamente por
presenciar essa “cena chocante”: um ser humano algemado. Essa nulidade poderia ter sua
razão de ser há cem anos ou mais, na roça, não hoje em dia, numa sociedade urbana,
assoberbada de informações, fake News, imagens e vídeos de todos os tópicos, de bom
e péssimo gosto; é preciso que o aplicador do Direito pare de tratar o jurado, como se
padecesse de menoridade mental. Claro que é possível que haja pessoas mais suscetíveis
com a presença do réu algemado e que possam se sentir excessivamente incomodados
com a cena, que é bem diferente do que se assistir, tal acontecimento, apenas pela TV ou
pela internet- afinal é acontecimento real sem a barreira de uma tela digital; mas isso não é
a regra do corpo de jurados: os juízes leigos estão inseridos, não apenas em uma sociedade
contemporânea, mas, sobretudo, em uma das sociedades mais violentas do planeta, como,
infelizmente, é a nossa, de que modo que um algemamento ou uma morte violenta- este sim
o mais chocante de todos os acontecimentos- se tornou uma realidade cotidiana.
Mas há que se separar duas situações: se o réu permaneceu algemado, mesmo que
sem motivação idônea ou ausente qualquer deliberação judicial a respeito, mas se não houve
requerimento da defesa para que o acusado fosse desalgemado, pensamos que não é o caso
de se decretar a nulidade, de ofício, pelo Tribunal, porque se trataria de verdadeira nulidade
por presunção a respeito de ato (a manutenção em algemas do réu) que sequer a defesa se
interessou em plenário em desconstituir. Por outro lado, a defesa silenciar-se, em plenário,
quanto a uma possível causa de invalidação do julgamento, para, apenas depois, argui-la, em
sede de preliminar de recurso, seria uma maneira de se colher os frutos de uma nulidade de
efeito retardado, conforme um resultado adverso em plenário, o que vai de encontro com a
regra das nulidades ocorridas durante a sessão de julgamento, que devem ser arguidas no
exato momento em que ocorrem, sob pena de preclusão. É como soa o art. 571, VIII, do
CPP, deteminando que as nulidades do julgamento em plenário devem ser arguidas logo depois de
ocorrerem. Desse modo, não arguida a possível nulidade referente ao algemamento indevido
do acusado em plenário, haverá a preclusão, não se admitindo sua arguição extemporâmea,
em sede de preliminar de recurso de apelação, quando nada se alegou em plenário.
Porém, se o réu permaneceu algemado durante o julgamento, mesmo não havendo
motivo idôneo para tanto que tenha sido devidamente fundamentado, e tendo a defesa
postulado que o acusado fosse desalgemado (e constando de ata o incidente), será possível
se reconhecer a nulidade, no caso de condenação, é claro: a defesa sustentará, em sede

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CAPÍTULO 16
Nulidades Processuais

de preliminar de apelação, que, como os jurados decidem pela íntima convicção, sem fun-
damentação, é possível que o fator preponderante que os conduziu ao veredicto conde-
natório tenha sido justamente a permanência contínua do réu algemado durante a sessão.
Como não é possível apurar se foi verdadeiramente o algemamento indevido do acusado
a causa de sua condenação- e não há como se exigir que a defesa comprove esse nexo de
causalidade (que é prova inviável de ser produzida), o caminho lógico é se presumir que
referida causa gerou o evento condenatório. Evidente que, se o indeferimento do pedido
de desalgemamento for fundamentado e idôneo, apesar do pedido expresso da defesa e
a arguição da nulidade, não se decretará a invalidação do julgamento, como acima se viu.

Recusa peremptória e cerceamento, pelo juiz presidente, de seu exercício


pela defesa: nulidade
Como tivemos oportunidade de explicar ao tratarmos das recusas peremptórias (art.
468 do CPP), essas recusas imotivadas – em número de três – perfazem direito subjetivo
processual de cada réu: mesmo que dois ou mais acusados sejam levados a julgamento pelo
Júri, e sejam todos defendidos pelo mesmo advogado, o direito,de cada um dos acusados,
é d,e – por intermédio de seu advogado – recusar até três jurados imotivadamente; sua
violação configura nulidade, por ofensa à plenitude de defesa.
De outro giro, se um acusado é defendido por dois ou mais defensores, o direito de
recusa – que é do réu e não de seu advogado – continua sendo no número de três.
Em lapidar decisão, o STJ32 encampou nossa tese, anulando julgamento em que se
vedou o exercício pleno das recusas peremptórias, em número de três, para cada réu.

Apuração total dos votos proferidos pelos jurados na sala secreta


Para se assegurar o sigilo das votações, previsto na Lei Maior (art. 5º, XXXVIII, b,
da CF), determina o art. 483, § 2º, do CPP, que a votação dos quesitos se encerre quando
alcançar quatro votos “sim” ou “não”. Equivocadamente, porém, alguns poucos juízes
dão continuidade ao julgamento até o último voto, indo de encontro, simultaneamente,
aos dispositivos constitucional e legal citados. O STJ33 já decidiu, com inteiro acerto, que
esse proceder traduz mera irregularidade, uma vez que se mostra necessário – para que se
declare qualquer nulidade – a demonstração do prejuízo (art. 563 do CPP), o que, no caso
julgado, não se comprovou.

Não comparecimento de acusado preso para audiência e nulidade34


Se o acusado não comparecer à audiência, por estar preso em outra comarca, e não
for requisitado para acompanhar o ato solene, mas – mesmo assim – produzir-se a instrução
à sua revelia, o processo deverá ser anulado, a partir da audiência referida, por ofensa ao
contraditório e à ampla defesa.

32 STJ - Recurso Especial nº 1.540.151/MT. Rel. Min. Sebastião Reis Júnior.


33 STJ - Recurso Especial nº 1.745.056/M. Rel. Min. Joel Ilan Paciornik. STJ- HC 197.375/GO. 5ª T. Rel.
Min. Gilson Dipp. DJe 28/09/2011.
34 TJSP - 13ª Câmara Criminal. HC 2228388-31.2019.8.26.0000. Rel. Desembargador Augusto de Siqueira.

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Tribunal do Júri 8ª Edição
Walfredo Cunha Campos

Participação de mesmo jurado em dois ou mais Conselhos de Sentença no


período de um ano
Não há qualquer óbice na participação de um mesmo jurado em dois ou mais Con-
selhos de Sentença, no decorrer do ano35, desde que o referido juiz leigo não tenha julgado
o mesmo processo na hipótese de corréus (art. 449, I, do CPP)36; veda-se, apenas, a inclusão
de idêntico jurado na lista geral de jurados em dois anos subsequentes; em nosso entender,
nessa última situação, estaria configurada mera irregularidade, mas há entendimento que tal
participação acarretaria nulidade do julgamento.

Indeferimento de diligências probatórias na fase do art. 422 do CPP


As diligências que possam ser requeridas na fase preparatório do julgamento pelo Júri
passam pelo crivo do juiz que poderá indeferi-las se forem irrelevantes, impertinentes ou
protelatórias, nos termos do art. 411, § 2º, do CPP, dispositivo legal esse que, embora trate
especificamente do indeferimento de provas requeridas em audiência, é verdadeira norma
geral aplicável também à fase preparatória da sessão plenária do Júri. Não haverá, nulidade,
portanto, desde que o indeferimento tenha sido fundamentado37.

Participação de jurado que não resida mais na comarca sede do Conselho


de Sentença
Não haverá nulidade pelo fato de o jurado que participar do Conselho de Sentença da
comarca não residir mais nela, desde que mantenha vínculos profissionais, pessoais, familiares ou
comunitários com a comarca sede do Tribunal do Júri38.

35 STF - Embargos Declaratórios no HC 167.348/RJ. Rel. Min. Alexandre de Moraes.


36 STJ - Agravo em Recurso Especial 1.461.818/RJ. Rel. Min. Sebastião Reis Júnior.
37 STJ - Agravo em Recurso Especial nº 1.461.818/RJ. Min. Relator Sebastião Reis Júnior.
38 STF - Embargos Declaratórios no Habeas Corpus 167.348/RJ. Min. Rel. Alexandre de Moraes.

68 |
Anexo B
Modelos de Quesitos

16. Homicídio consumado qualificado pelo feminicídio cumulado com


qualificadoras (art. 121, § 2º, III, IV, VI, § 2º-A, I – menosprezo ou discrimi-
nação à condição de mulher, e VIII, do CP), com tese de homicídio privile-
giado (domínio de violenta emoção – art. 121, § 1º, do CP)

1º No dia 24 de agosto de 2020, na rua Ipanema, 132, Bairro Guilhermina, na cidade


de...................,, “B” sofreu os ferimentos descritos no laudo necroscópico de fl.
34 que lhe acarretaram a morte?
2º O réu “A” desferiu disparos de arma de fogo contra “B” produzindo os feri-
mentos acima descritos?
3º O jurado absolve o acusado?
4º O réu “A” cometeu o crime sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a
injusta provocação da vítima (descrever no que consistiu a provação do ofendido)?
5º O crime foi cometido com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura
ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum (que
deve ser descrito)?
6º O crime foi cometido à traição, de emboscada ou mediante dissimulação ou
outro recurso que dificultou ou tornou impossível a defesa do ofendido (con-
sistente em [...])?
7º O crime foi cometido contra a vítima “B”, por razões da condição de sexo feminino
consistente no menosprezo ou discriminação à condição de mulher (descrever con-
cretamente no que consistiu o menosprezo ou discriminação)?
8º- O crime foi cometido com emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido?

Explicação dos quesitos: indaga-se, no 1º quesito, a respeito da materialidade da


infração (a existência física do crime). No 2º quesito é perguntado a respeito da autoria; e,
no 3º, se o jurado absolve o acusado. As teses excludentes de ilicitude, de culpabilidade, de
exclusão do dolo ou mesmo não jurídicas alegadas pelas partes devem ser reconhecidas ou
não quando da votação desse último quesito. No 4º quesito consta a tese do homicídio pri-
vilegiado pela violenta emoção, que deve, sempre, preceder aos quesitos das qualificadoras.
No 5º, 6º e 8º quesitos são articuladas as únicas qualificadoras (objetivas) compatíveis
com essa espécie de feminicídio. No 7º quesito é articulada a única indagação referente
ao feminicídio praticado em razão de menosprezo ou discriminação à condição de mulher;
nessa espécie de feminicídio, o crime é cometido fora do contexto de violência doméstica
e familiar, ou seja, a infração não ocorre no âmbito da unidade doméstica – espaço de
convívio permanente entre pessoas; ou no âmbito da família, ou no transcurso de qualquer
Tribunal do Júri 8ª Edição
Walfredo Cunha Campos

relação íntima de afeto, no qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida.
Deve-se descrever no 7º quesito que o crime foi cometido contra a vítima “B”, por razões
da condição de sexo feminino consistente no menosprezo ou discriminação à condição de
mulher, narrando, de maneira concreta, no que consistiu o menosprezo ou discriminação.
Trata-se, sem dúvida alguma, de qualificadora de natureza subjetiva.
Se os jurados votam não ao 1º quesito, negam a materialidade e absolvem o réu.
Afirmados os dois primeiros quesitos, indagar-se-á o 3º; votado sim a essa indagação, o
réu terá sido absolvido, porque os jurados reconheceram, implicitamente, alguma tese
alegada pelas partes quando dos debates, e, em razão disso, entenderam que o acusado é
inocente. Se for votado não ao 3º quesito, os jurados terão condenado o acusado, até esse
momento, por um homicídio simples. Votado sim ao 4º quesito (homicídio privilegiado),
automaticamente está prejudicado o quesito referente ao feminicídio (quesito 7º), porque
totalmente incompatíveis o privilégio (sempre subjetivo) com uma qualificadora também
subjetiva. Todavia, o reconhecimento do homicídio privilegiado pela violenta emoção não
prejudica as demais qualificadoras objetivas quesitadas, que deverão ser normalmente in-
dagadas aos jurados (5º, 6º e 8º quesitos).
Se não for reconhecido o privilégio (votando não ao 4º quesito), os jurados serão
indagados a respeito de todas as qualificadoras, inclusive a do feminicídio. Quando dos
votos referentes à 5ª e 6ª indagações, os jurados reconhecerão ou não as circunstâncias
qualificadoras. Afirmada qualquer uma delas, o acusado passa a responder pelas penas do §
2º do art. 121 do CP. Na redação dos quesitos referentes às qualificadoras, deve-se sempre
mencionar, de maneira sucinta, no que consistiu a qualificadora, individualizando perfei-
tamente as circunstâncias mais gravosas do crime imputado ao réu, tornando possível aos
jurados julgar os fatos concretos dos autos, e não conceitos abstratos jurídicos (quando consta
dos quesitos somente a expressão literal do artigo, v. g, motivo torpe, fútil, emboscada
etc.). Além de essencial para o julgamento consciente dos jurados, tal medida é necessária
para que o tribunal ad quem, em eventual apelação, possa melhor analisar se a decisão
dos jurados, quanto às qualificadoras, foi ou não manifestamente contrária à prova dos
autos. Quer tenham os jurados reconhecido ou não as qualificadoras do 5º e 6º quesitos, se
indagará a respeito do feminicídio propriamente dito, no 7º quesito, que trata do especial
ânimo de agir do acusado; respondido não a esse quesito, a qualificadora do feminicídio foi
rechaçada; respondido sim ao 7º quesito, reconheceu-se o feminicídio. De qualquer forma,
deve-se votar o 8º quesito que trata da qualificadora do emprego de arma de fogo de uso
restrito ou proibido.

70 |
ANEXO B
Modelos de Quesitos

22. Homicídio consumado com tese de legítima defesa própria

Breve noção penal – legítima defesa (art. 25 do CP)


Conceito: é a repulsa a uma injusta agressão a um direito seu (legítima defesa própria)
ou de outrem (legítima defesa de 3º), utilizando-se para tal o agente, de maneira moderada,
de algum meio necessário. A legítima defesa exclui a ilicitude da conduta.

Espécies
1. legítima defesa própria: quando o bem jurídico ameaçado ou agredido é do
próprio agente;
2. legítima defesa de 3º: quando o bem jurídico ameaçado ou agredido é de outra
pessoa que não o agente.

Requisitos para o seu reconhecimento


a) existência de uma agressão injusta, atual (presente) ou iminente (prestes a
acontecer), direcionada a um bem jurídico. Nesse último caso, de iminência da
agressão, trata-se, em verdade, de uma violência que esteja prestes a acontecer.
Tanto a agressão quanto sua iminência se dirigem a um bem jurídico (vida, in-
tegridade física, propriedade etc.) próprio (legítima defesa própria) ou de 3º
(legítima defesa de 3º);
b) repulsa a tal agressão ou ameaça, utilizando-se o agente, para tanto, modera-
damente, de algum meio necessário.

Excesso (parágrafo único do art. 23 do CP): se o agente, ao repelir a injusta agressão,


exceder-se na repulsa, quer porque utilizou-se de meio desnecessário, quer porque usou
imoderadamente de um meio necessário, responderá pelo excesso: dolosamente, se quis
exagerar na resposta à agressão; culposamente, se não desejava a imoderação, mas ela
aconteceu por sua imprudência, negligência ou imperícia. O parágrafo único do art. 25
do CP, por sua vez, prevê que: “Observados os requisitos previstos no caput deste artigo,
considera-se também em legítima defesa o agente de segurança pública que repele agressão
ou risco de agressão a vítima mantida refém durante a prática de crimes (dispositivo esse
acrescentado pela Lei 13.964/2019- Pacote Anticrime).

Questionário
1º No dia 24 de agosto de 2020, na rua Ipanema, 132, Bairro Guilhermina, na cidade
de...................,, “B” sofreu os ferimentos descritos no laudo necroscópico de fl.
34 que lhe acarretaram a morte?
2º O réu “A” desferiu disparos de arma de fogo contra “B” produzindo os feri-
mentos acima descritos?
3º O jurado absolve o acusado?
4º Eventuais causas de diminuição de pena.

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Tribunal do Júri 8ª Edição
Walfredo Cunha Campos

5º Eventuais qualificadoras.
6º Eventuais causas de aumento de pena.

Explicação dos quesitos: indaga-se, no 1º quesito, a respeito da materialidade da


infração (a existência física do crime). No 2º quesito é perguntado a respeito da autoria e,
no 3º, se o jurado absolve o acusado. A tese da legítima defesa deverá ser aceita ou não
pelo Conselho de Sentença quando da votação do 3º quesito. Se os jurados votam não ao 1º
quesito, negam a materialidade e absolvem o réu; se votam sim, admitem-na. Negado o 2º
quesito, os jurados terão afastado a autoria e, igualmente, estará absolvido o réu. Afirmados
os dois primeiros quesitos, indagar-se-á o 3º; votado sim a essa indagação, o réu terá sido
absolvido, porque os jurados reconheceram, implicitamente, a legítima defesa alegada pelas
partes quando dos debates, e, em razão disso, entenderam que o acusado é inocente. Se for
votado não ao 3º quesito, os jurados terão rechaçado a tese da legítima defesa e condenado
o acusado. Nesse caso, deve-se prosseguir com a votação das demais teses articuladas. A
tese do excesso doloso sustentada pela acusação será resolvida pela resposta ao 3º quesito;
a resposta sim a essa indagação afastará o excesso doloso; a resposta não reconhecerá o
excesso, sagrando vencedora a tese da acusação. A dificuldade surgirá quando a acusação
postular o excesso doloso e a defesa o excesso culposo e optarem os jurados pela condenação do
acusado: nessa situação, terão condenado pelo excesso doloso ou pelo culposo? A impossi-
bilidade de se saber a resposta aponta a necessidade de se confeccionar um quesito específico a
respeito do excesso culposo, após o 3º quesito e o seu reconhecimento importará em desclas-
sificação (imprópria) para um crime culposo, cessando a votação e prejudicados os demais
quesitos porque a competência passará a ser do juiz presidente. A redação do quesito seria
a seguinte: o réu “A” excedeu os limites da sua defesa (legítima defesa própria), porque foi
imprudente, imperito ou negligente (descrever, sucintamente, como)? Negada pelos juízes
leigos a ocorrência do excesso culposo, terão reconhecido o excesso doloso e deverá se
prosseguir com a votação. De igual maneira, se a defesa sustentar a tese do excesso culposo
e a acusação se contrapuser a tal linha argumentativa sem postular pelo reconhecimento do
excesso doloso (ou seja, para a acusação, em nenhum momento o réu agiu em legítima
defesa, de modo que não há se falar em excesso de algo que não existiu), e for respondido
negativamente ao 3º quesito, será preciso formular quesito específico a respeito do excesso
culposo, cuja votação trará os efeitos acima estudados.

72 |
ANEXO B
Modelos de Quesitos

41. Homicídio consumado com tese principal de absolvição e com tese


secundária de desclassificação para lesões corporais seguidas de morte
(art. 129, § 3º, do CP)

Breve noção penal – lesão corporal seguida de morte (art. 129, § 3º, do CP)
Conceito: ocorre quando o agente, com o ânimo de ferir alguém, acaba por ocasionar,
por culpa sua (em decorrência de imprudência, imperícia ou negligência), a morte da vítima.
Há dolo no antecedente (na intenção de ferir) e culpa no consequente (na morte do ofendido,
não desejada pelo réu). É o chamado homicídio preterdoloso ou preterintencional.

Requisitos para a admissão da tese de lesão corporal seguida de morte


a) ação do agente animada pelo dolo de lesionar a vítima;
b) resultado morte da conduta indesejado pelo réu, ocorrido, porém, por sua culpa
stricto sensu.

Questionário
1º No dia 24 de agosto de 2020, na rua Ipanema, 132, Bairro Guilhermina, na cidade
de...................,, “B” sofreu os ferimentos descritos no laudo necroscópico de fl.
34 que lhe acarretaram a morte?
2º O réu “A” desferiu socos contra “B” produzindo os ferimentos acima descritos?
3º O jurado absolve o acusado?
4º O réu “A”, assim agindo, quis o resultado morte (caso de acusação por dolo direto)?
5º O réu “A”, assim agindo, assumiu o risco de produzir o resultado morte (caso de
acusação por dolo eventual, em que se deve descrever, por meio de fatos, como)?
6º Eventuais causas de diminuição de pena.
7º Eventuais qualificadoras.
8º Eventuais causas de aumento de pena.

Explicação dos quesitos: indaga-se, no 1º quesito, a respeito da materialidade da


infração (a existência física do crime). No 2º quesito é perguntado a respeito da autoria
e, no 3º se o acusado deve ser absolvido. Nos 4º e 5º, é articulada a tese da desclassi-
ficação do homicídio consumado para o crime de lesões corporais seguidas de morte. As
teses que buscam a absolvição do acusado (v. g, legítima defesa, causa supralegal de exclusão
da culpabilidade etc.) devem ser questionadas, após o segundo quesito, nos termos do que
dispõe o § 4º do art. 483 do CPP. Essa é a interpretação que damos ao dispositivo legal em
comento, uma vez que, a nosso sentir, melhor traduz o princípio constitucional da plenitude
de defesa, permitindo ao acusado ser absolvido pelo Júri, se for da vontade do Conselho
de Sentença, o que é infinitamente mais benéfico do que ser condenado por crime diverso
pelo juiz presidente, como poderia ocorrer se a desclassificação fosse indagada primeiro39.

39 Nesse sentido, decisão do STJ: 5º T. REsp 1.796.864.

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Tribunal do Júri 8ª Edição
Walfredo Cunha Campos

Para tanto, questiona-se, primeiro, o quesito absolutório, e, depois, aquele que acarretaria
a desclassificação do delito. Claro que se fosse quesitada a tese desclassificatória antes da
tese absolutória, se resolveria, em um primeiro momento, se o Júri é competente ou não
para julgar a infração; ou seja, se o delito levado a julgamento é crime doloso contra a vida
ou não, determinando-se, antes de qualquer outra formulação, a competência, também
constitucional, do Tribunal do Júri. Ocorre que, havendo conflito em potencial entre a com-
petência do Júri e a plenitude de defesa, ambos de altitude constitucional, pensamos que,
dada a natureza de garantia individual do Júri, deverá prevalecer aquele questionário que
seja mais favorável à liberdade do acusado.
Caso entendam os jurados que o acusado não deve ser absolvido, aí sim, irão votar
os membros do Conselho de Sentença a proposta desclassificatória, que é a tese subsidiária
apresentada. Se os jurados votam não ao 1º quesito, negam a materialidade e absolvem
o réu; se votam sim, admitem a existência do delito. Negado o 2º quesito, os jurados
terão afastado a autoria e, igualmente, estará absolvido o réu. Afirmados os dois primeiros
quesitos, indagar-se-á se o jurado absolve o réu. Votado sim ao 3º quesito, o acusado terá
sido absolvido, porque, implicitamente, os jurados reconheceram alguma causa excludente
de ilicitude, de isenção de pena, de exclusão do dolo ou mesmo não jurídica que tenha sido
alegada pelas partes quando dos debates. Se responderem não ao 3º quesito, será indagado
a eles a respeito da tese de desclassificação. No 4º quesito, é questionada a tese da des-
classificação quando a acusação é de homicídio consumado por dolo direto; no 5º quesito,
é questionada a desclassificação quando a acusação é de homicídio consumado por dolo
eventual. Note-se que ou a acusação se estriba numa ação, exclusivamente, movida por
dolo direto, ou por dolo eventual, e não é possível cumulá-las alternativamente quando se
trata de uma só conduta do agente contra a mesma vítima (imputando ao acusado a conduta
de querer matar a vítima, ou de, pelo menos, ter assumido o risco de tal resultado ocorrer);
a acusação deve ser clara e definida, sem teses subsidiárias. Votando não ao 4º ou 5º quesitos,
terão os jurados desclassificado a infração para o delito de lesões corporais seguidas de
morte (desclassificação imprópria) e a competência para julgar será deslocada para o juiz
presidente, encerrando-se a votação (art. 492, § 1º, do CPP). Se os jurados votarem sim
aos quesitos 4º ou 5º, o réu será condenado por homicídio. Nesse caso, deve-se prosseguir
com a votação das demais teses suscitadas pelas partes. Os referidos quesitos devem ser
redigidos de maneira afirmativa, a fim de se evitar nulidade, que fatalmente ocorreria se
fossem formulados de modo negativo.

74 |
ANEXO B
Modelos de Quesitos

45. Homicídio consumado com tese de causa supralegal de exclusão de


culpabilidade (inexigibilidade de conduta diversa)

Breve noção penal de causa supralegal de exclusão de culpabilidade por


inexigibilidade de conduta diversa
Conceito: as causas legais de exclusão de culpabilidade são: erro de proibição es-
cusável (art. 21 do CP), inimputabilidade (art. 26), embriaguez completa proveniente de
caso fortuito ou força maior (art. 28, § 1º, do CP) e coação moral irresistível e obediência
hierárquica (art. 22 do CP).
De todas essas causas legais que isentam o agente de pena, as que têm por fun-
damento a inexigibilidade de conduta diversa são a coação moral irresistível e a obediência
hierárquica.
Tem-se entendido, porém, que, além dessas duas causas citadas expressamente em
lei, no art. 22 do CP, é possível reconhecer-se, excepcionalmente, causas não previstas
em lei (extralegais) de inexigibilidade de conduta diversa para excluir a culpabilidade. Esse
pensamento se baseia na constatação de que a inexigibilidade de conduta diversa é um
princípio de direito penal, cuja previsão no nosso CP, ao tratar da obediência hierárquica e
coação moral irresistível, é meramente exemplificativa, não obstando que novas situações
não previstas em lei se enquadrem como inexigíveis de comportamento diverso ao homem
médio, podendo excluir sua culpabilidade40. Soma-se a tal argumento que o nosso Direito
Penal entende ser imprescindível para que alguém seja apenado sua efetiva culpabilidade;
ora, como casar-se o espírito dessa codificação com a responsabilização, sem culpa efetiva
do agente, só porque a causa eximente não foi inserida expressamente na nossa legislação?
Importante referir que a Lei 12.850/2013 (Lei que define organizações criminosas e dispõe
sobre a investigação criminal e procedimento criminal referente a tais delitos), dispõe, em
seu art. 13, parágrafo único, que o agente de polícia infiltrado na organização criminosa que
praticar crime, no curso da investigação, não será punido, quando inexigível conduta diversa.
Não obstante esse permissivo penal, o caput do art. 13 da Lei 12.850/2013 ressalta que o agente
infiltrado que não guardar, em sua atuação, a devida proporcionalidade com a finalidade da inves-
tigação, responderá pelos excessos praticados. Parece-nos, assim, que, dificilmente, poderia ser
acatada, como causa de exclusão de culpabilidade, um homicídio praticado por agente infiltrado,
no curso da investigação, por mais relevante que fosse tal trabalho investigatório; afinal, evidente
seria a desproporcionalidade entre os bens jurídicos em jogo – persecução criminal de uma
organização criminosa, de um lado, e a vida humana, de outro, mesmo que de um integrante de
uma sociedade de malfeitores.

40 Em caso julgado pelo STJ (6ª T. AgRg no AgRg no Agravo em Recurso Especial nº 1866503/CE, Rel.
Min. Rogerio Schietti Cruz) o réu, acusado de homicídio, havia sido absolvido, pelo Júri, por inexigibi-
lidade de conduta diversa, uma vez que a vítima, dependente químico, pulava o muro da casa do réu
“para pegar dinheiro na casa do acusado”; o Tribunal cassou a absolvição por reputar que o motivo
apresentado para a prática do crime não possuía o condão de configurar a tese sustentada, mas o STJ
restabeleceu a absolvição em respeito à soberania dos veredictos.

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Tribunal do Júri 8ª Edição
Walfredo Cunha Campos

Requisitos para se reconhecer essa causa supralegal de exclusão de culpa-


bilidade
a) uma situação anormal, insuportável, em que foi colocado o agente;
b) como consequência dessa situação inusitada, o agente cometeu o crime;
c) qualquer pessoa normal no lugar do agente, submetida a mesma situação insu-
portável a que foi submetido, seria levada a cometer idêntica ação antissocial,
sendo assim inexigível do réu uma conduta diferente, de santo ou de herói.

Questionário
1º No dia 24 de agosto de 2020, na rua Ipanema, 132, Bairro Guilhermina, na cidade
de...................,, “B” sofreu os ferimentos descritos no laudo necroscópico de fl.
34 que lhe acarretaram a morte?
2º O réu “A” desferiu disparos de arma de fogo contra “B”, produzindo os feri-
mentos acima descritos?
3º O jurado absolve o acusado?
4º Eventuais causas de diminuição de pena.
5º Eventuais qualificadoras.
6º Eventuais causas de aumento de pena.

Explicação dos quesitos: indaga-se, no 1º quesito, a respeito da materialidade da


infração (a existência física do crime). No 2º quesito é perguntado a respeito da autoria; e,
no 3º se o jurado absolve o acusado. A tese da causa supralegal de exclusão de culpabilidade
por inexigibilidade de conduta diversa deverá ser aceita ou não pelo Conselho de Sentença
quando da votação do 3º quesito. Se os jurados votam não ao 1º quesito, negam a materia-
lidade e absolvem o réu; se votam sim, admitem a existência da infração. Negado o 2º quesito,
os jurados terão afastado a autoria e, igualmente, estará absolvido o réu. Afirmados os dois
primeiros quesitos, indagar-se-á o 3º; votado sim a essa indagação, o réu terá sido absolvido,
porque os jurados reconheceram, implicitamente, a causa supralegal de exclusão de culpa-
bilidade por inexigibilidade de conduta diversa alegada pelas partes quando dos debates, e,
em razão disso, entenderam que o acusado é inocente. Se for votado não ao 3º quesito, os
jurados terão rechaçado a tese referida, devendo-se prosseguir com relação às demais teses.

76 |
ANEXO B
Modelos de Quesitos

Emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido

Breve histórico legislativo


O Pacote Anticrime, que trouxe diversas alterações na legislação penal e processual
penal, foi encaminhado à sanção presidencial no final de 2019, convertendo-se na Lei
13.964/2019.
O projeto de lei previa uma nova qualificadora do crime de homicídio (art. 121, § 2º,
VIII, do CP), com a seguinte redação:

Art. 121. Matar alguém


§2º. Se o homicídio é cometido:
(...)
VIII- com emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido
Pena- reclusão de 12 (doze) a 30 (trinta) anos

Submetido ao crivo do Presidente da República, referido dispositivo legal, assim como


diversos outros, foi vetado “por violar o princípio da proporcionalidade entre o tipo penal
descrito e a pena cominada”, além de “gerar insegurança jurídica aos agentes da segurança
pública”, que “poderão ser severamente processados ou condenados criminalmente por
utilizarem suas armas, que são de uso restrito, no exercício de suas funções para defesa
pessoal ou de terceiros ou, ainda, em situações extremas para a garantia da ordem pública,
a exemplo de conflito armado contra facções criminosas”.
A Câmara dos Deputados e o Senado Federal, este último em 19 de abril de 2021,
derrubaram parte dos vetos presidenciais, dentre eles, aquele que impedia a criação dessa
nova qualificadora do homicídio.
Desse modo, passou a existir mais uma qualificadora do homicídio, agora
referente ao emprego, pelo agente, de arma de fogo de uso restrito ou proibido.

Natureza da qualificadora
É uma qualificadora de meio para a prática do homicídio e é objetiva.

Conceito de arma de fogo de uso restrito ou proibido


Para que se compreenda no que consiste essa qualificadora é indispensável haurir-se
o conceito de arma fogo de uso restrito e proibido, e, para tanto, deve-se buscar essas
definições no Estatuto do Desarmamento (Lei 10.826/03).
A nova qualificadora do homicídio é uma norma penal em branco, por depender do
completo de outras normas para se obter a tipicidade penal, in casu, para se obter o juízo
da tipicidade referente à qualificadora recém-criada.
Passemos, então, em revista aos conceitos de arma de uso restrito, proibido e permitido.
As armas de fogo de uso restrito estão previstas no art. 16, caput, e § 1º, II, da Lei
10.826/03; as de uso proibido no art. 16, § 2º, do mesmo diploma legislativo.
Mas o Estatuto do Desarmamento, por si só, não é o suficiente para se estabelecer o
que é arma de uso restrito ou proibido. É indispensável, ainda, a busca pelos decretos que

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Tribunal do Júri 8ª Edição
Walfredo Cunha Campos

regulamentam e conceituam, tecnicamente, o que se deve entender como armas de uso


permitido, restrito ou proibido.
Segundo a atual regulamentação das armas de fogo, as armas de fogo de uso
restrito são, de acordo com o Decreto n. 10.030/19 as armas de fogo automáticas, de
qualquer tipo ou calibre, e as semiautomáticas ou de repetição que sejam:

a) não portáteis (metralhadoras pesadas, morteiros, obuseiros, canhões anti-aéreos);


b) de porte, cujo calibre nominal, com a utilização de munição comum atinja, na
saída do cano de prova, energia cinética superior a mil e duzentas libras-pé ou
mil seiscentos e vinte joules;
c) portáteis de alma raiada, cujo calibre nominal, com a utilização de munição
comum, atinja, na saída do cano de prova, energia cinética superior a mil e du-
zentas libras-pé ou mil seiscentos e vinte joules”.

Exemplos de armas de uso restrito: .50 Magnum; . 454 Casull;. 445 SuperMag; Fuzil
FAL; Fuzil AK-47; Fuzil AR-15.
Armas de fogo de uso proibido são, de acordo com o mesmo decreto: a) as armas
de fogo classificadas de uso proibido em acordos e tratados internacionais dos quais a Re-
pública Federativa do Brasil seja signatária; b) as armas de fogo dissimuladas, com aparência
de objetos inofensivos”. Exemplos: bengalas-pistola, canetas-revólver e outros.

Amas de uso permitido são as armas curtas, revólveres e pistolas, bem como as
longas (espingardas), que não se enquadrem nos conceitos de armas de uso restrito ou
proibido. Chega-se à definição de arma de uso permitido, portanto, por exclusão: tudo o
que não for proibido ou restrito é permitido. Exemplos de armas de uso permitido: .32; .38
Special; .380 Automatic Colt Pistol; .9mm Parabelum EXPP; .40 Automatic Colt Pistol; .45
Automatic Colt Pistol. .45 EXPO + Gold Hex; .44 Magnum; 44 SPL; .357 Magnum.
Quanto às armas longas (de repetição ou semi-automáticas). .22 LR; .32-20; .38-40;
.44-40; Gáugio 12.
Na prática, o que se verá como uso de arma de uso restrito, como forma de se reco-
nhecer a qualificadora nova do homicídio, se restringirá ao emprego de fuzis (os demais arma-
mentos citados como exemplos de armas de uso restrito ou proibido são bastante incomuns).
A ratio da qualificadora é a de agravar a pena de quem, ao cometer um homicídio,
utiliza-se de arma de fogo de uso restrito ou proibido, uma vez que essa circunstância
demonstra reprovabilidade maior da conduta. Para se verificar a incidência ou não da
qualificadora, será indispensável a utilização do decreto regulamentar que estipula, pela
quantidade de energia cinética da munição na saída do cano da arma, quais são as armas de
fogo permitidas, restritas e proibidas.
Desse modo, a prática de um homicídio com emprego de uma pistola 9 mm; . 40;
.45; .357 Magnum- armas de fogo consideradas como de uso permitido (e não proibido)-
não caracterizam a nova qualificadora do inciso VIII ora estudada.

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ANEXO B
Modelos de Quesitos

Entrada em vigor da nova qualificadora


Submetido ao crivo do Presidente da República, referido dispositivo legal, assim
como diversos outros, foi vetado, em 24 de dezembro de 2019.
A Lei 13.964/19 (Pacote Anticrime) entrou em vigor em 23 de janeiro de 2020.
Os vetos foram encaminhados ao Parlamento em 26 de dezembro de 2020, mas,
apenas quando transcorrido quase um ano e meio depois, o Congresso Nacional, no dia
19 de abril de 2021, derrubou o veto presidencial relacionado à nova qualificadora do
homicídio (no total, foram derrubados 16 vetos).
Derrubado o veto, houve a promulgação das partes vetadas da Lei 13.964/19 (in-
clusive referente à nova qualificadora), em 30 de abril de 2021.
Com a promulgação, nasceu no ordenamento jurídico penal uma nova qualificadora
do crime de homicídio.
Mas o surgimento dessa qualificadora não se deu como lei autônoma e independente:
ao contrário, como a qualificadora do homicídio estava inserida originariamente na Lei
13.964/19 (Pacote Anticrime), foi reincorporada ao referido diploma legislativo.
Sendo reintroduzida a qualificadora à Lei 13.964/19, foi seguida a disposição geral
dessa lei que trata do prazo da vacatio legis de 30 dias (art. 20 da Lei).
O prazo de 30 dias de vacância da lei contou-se da data da promulgação da nova
qualificadora, qual seja, do dia 30 de abril de 2021.
Indaga-se: qual o prazo em que passou a vigorar a nova qualificadora?
Devemos seguir as prescrições do art. 8º, § 1º da Lei Complementar n. 95/98 (Lei
que disciplina a elaboração, redação, alteração e consolidação das leis), ao estipular que a
contagem do prazo para a entrada em vigor das leis que estabeleçam período de vacância
será procedida com a inclusão da data da publicação e do último dia de prazo, entrando em
vigor no dia subsequente à sua consumação integral.
Como a data da publicação da nova qualificadora ocorreu em 30 de abril de 2021,
contando-se o prazo de trinta dias, a vacância se exauriu em 29 de maio de 2021, mas a
norma penal só entrou em vigor no dia subsequente à consumação integral desse prazo, ou
seja, no dia 30 de maio de 2021.
Sendo assim, só poderão ser oferecidas denúncias por emprego de arma de
fogo de uso restrito ou proibido relacionados a fatos ocorridos a partir do dia 30
de maio de 2021.

Como se provar o emprego de arma de fogo de uso restrito?


Indispensável, para que seja articulada essa qualificadora, que a arma tenha sido
apreendida, e periciada, ou, pelo menos, que cartuchos, cápsulas ou projéteis referentes à
arma utilizada tenham sido apreendidos e periciados, a fim de se comprovar tecnicamente
o efetivo uso do armamento restrito ou proibido (art. 175 do CPP).
A apreensão e a custódia da arma e/ou munição deverão seguir todo o procedimento
da cadeia de custódia (art. 158-A/F do CPP).
Não sendo apreendida a arma de fogo, nem suas munições, projéteis, cartuchos,
cápsulas no local dos fatos, será possível que se constate, através da realização do laudo

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Tribunal do Júri 8ª Edição
Walfredo Cunha Campos

necroscópico, a utilização de projétil de alta energia, a comprovar o emprego de arma de


fogo de uso restrito.
Todo projétil possui alguma capacidade de penetração, rompendo ou destruindo,
com maior ou menor intensidade, o tecido do organismo. O projétil poderá formar uma
cavidade permanente, que é o seu trajeto no corpo humano, ao percorrer, como se criasse
um túnel, os tecidos do corpo humano, que são destruídos nessa passagem. Além da ca-
vidade permanente, que nada mais, como se disse, que uma espécie de túnel no corpo
humano “cavado” pelo projétil, poderá se formar também a cavidade temporária: a ex-
pansão momentânea de uma nova cavidade, em razão da transferência da energia cinética,
quando passa o projétil. É como se os tecidos adjacentes à cavidade permanente fossem,
transitoriamente, empurrados pelo túnel recém-formado, em decorrência da energia dis-
pendida pelo projétil quando do seu percurso.
Quanto maior a energia do projétil, maior a formação da cavidade temporária.
Segundo Allan Antunes Marinho Leandro41, as armas curtas, como revólveres ou
pistolas, podem produzir cavidade temporária de 3 a 5 vezes o tamanho do calibre do
projétil, enquanto um fuzil pode produzir cavidade temporária 25 vezes ou mais vezes
maior que o calibre do projétil.
Em razão dessa enorme expansão de tecidos, é comum que, em corpos atingidos
por disparos de fuzil, formada uma expressiva cavidade temporária, órgãos como o fígado,
rins, coração sejam completamente destruídos, como bem aponta Hygino de C. Hércules42.
Constatando o médico legista a existência de cavidade temporária- na verdade, os
efeitos da formação dessa cavidade, acima do que normalmente se dá, deverá mencionar
essa relevante circunstância em seu laudo necroscópico, fundamentando, com descrição
pormenorizada e fotografias, essa realidade. Sugere-se, até a confecção de quesito próprio
a respeito, elaborado e respondido, de maneira fundamentada, pelo próprio médico.
Diante do estudo dos efeitos da cavidade temporária específicos da utilização de
projéteis de alta energia, sendo reconhecidos como tal no laudo necroscópico, poderá ser
articulada a qualificadora do emprego de arma de uso restrito, na peça acusatória, e, se
reputada admissível na pronúncia, será indagada aos jurados quando dos quesitos, mesmo
que a arma, projétil ou qualquer resquício de munição não tenham sido apreendidos.
As particularidades dos orifícios de entrada do projétil também poderão elucidar se
houve o emprego de arma de fogo de uso restrito, especialmente do fuzil, uma vez que,
nos socorrendo mais uma vez do magistério de Hygino de C. Hércules43, lesões no crânio
podem ser tão intensas que podem chegar ao ponto de levar à sua explosão, de modo a
impossibilitar se distinguir entre a entrada e a saída. De igual maneira, lesões de entrada
ocasionadas pelo emprego de fuzil, quando atinjam o esterno (área do peito), são demasia-
damente amplas, lembrando até uma lesão de saída.

41 Allan Antunes Martinho Leandro, Armas de Fogo e Legítima Defesa. A desconstrução de oito mitos.
Editora Lumen Juris. 3ª Tiragem. Página 44.
42 Hygino de C. Hercules. Medicina Legal. Texto e Atlas. 2ª Edição. Revista e Ampliada. Editora Athe-
neu. Fls. 297 e 298.
43 Hygino de C. Hercules. Medicina Legal. Texto e Atlas. 2ª Edição. Revista e Ampliada. Editora Athe-
neu. Fls. 291.

80 |
ANEXO B
Modelos de Quesitos

Situações como essa justificam que o médico legista descreva e fundamente, no


laudo necroscópico, a utilização de projétil de alta energia e, desse modo, a incidência da
qualificadora de emprego de arma de uso restrito
Tirando as hipóteses de os disparos terem atingido a cabeça ou o esterno em que,
muitas vezes, ocorre alargamento demasiado ou a explosão do orifício de entrada como
vimos acima, as lesões de entrada ocasionadas por fuzis podem, ao contrário, ser seme-
lhantes àquelas deixadas por projéteis comuns, dependendo, sempre, da região corporal
atingida44.
A própria ferida de entrada no crânio nem sempre será explosiva, pois há registro
de lesões ocasionadas por disparo de fuzil na região mastoidea esquerda e occipital (região,
grosso modo, da nuca) em que o orifício de entrada em nada se distingue de outro calibre
qualquer45; no entanto, o orifício de saída pode levar à explosão do crânio, de modo a se
comprovar o emprego de arma de uso restrito, nessa hipótese, não mais pelo orifício de
entrada, mas pelo de saída.
Em suma, no caso de não apreensão de armas e munições, o laudo necroscópico
poderá comprovar o emprego de arma de uso restrito por meio dos orifícios de entrada e
saída e pelos efeitos da cavidade temporária na destruição de órgãos.
Como última forma de se comprovar a qualificadora em questão, se impossibilitada
estiver a confecção da prova técnica, restará a prova testemunhal ou mesmo outra prova
(como filmagens, por exemplo), suprindo a falta de exame de corpo de delito, porque
ausentes os vestígios materiais da infração penal, nos termos do que dispõe o art. 167 do
CPP. Seria o caso de testemunhas ou filmagens (tão comuns, hoje em dia, de serem feitas
através do celular) em que se demonstre o uso por parte do agente de um fuzil ou rifle,
facilmente perceptíveis até pelas dimensões consideráveis de tal armamento.
Porte ilegal de arma de fogo de uso proibido ou restrito e homicídio quali-
ficado pelo emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido
No caso de utilização da arma de fogo de uso restrito ou proibido pelo agente que
comete o crime de homicídio, no mesmo contexto fático (ou seja, o agente não utilizou
a arma antes nem depois do crime doloso contra a vida), responderá o autor apenas pela
prática do crime doloso contra a vida qualificado (art. 121, § 2º, VIII, do CPP), sendo ab-
sorvida a conduta de porte ilegal de arma de fogo de uso restrito (art. 16, caput, da Lei
10.826/03), ou da ação referente ao porte ilegal de arma de fogo de uso proibido (art. 16,
§ 2º, da Lei 10.826/03). A imputação simultânea do crime de homicídio qualificado, nessa
hipótese, com os crimes previstos no Estatuto do Desarmamento implicaria em evidente,
e inadmissível, bis in idem.
A nova qualificadora se aplica ao policial que portava, por dever de ofício, tal
armamento e sua atuação funcional?
A qualificadora deverá ser reconhecida quando o uso da arma de fogo de uso restrito-
por exemplo- um Fuzil, tiver como sujeito ativo um agente policial, devidamente autorizado
ao porte de referido armamento?

44 Hygino de C. Hercules. Medicina Legal. Texto e Atlas. 2ª edição. Revista e Ampliada. Página 291
45 Hygino de C. Hercules. Medicina Legal. Texto e Atlas. 2ª edição. Revista e Ampliada. Página 298.

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Tribunal do Júri 8ª Edição
Walfredo Cunha Campos

Exemplo: integrante da Polícia Civil ou da Polícia Militar, devidamente autorizado a


portar, em serviço, Fuzil, se envolve em uma ocorrência de troca de tiros, em que teria se
excedido no uso da força letal, ultrapassando, dolosamente, os limites da legítima defesa;
indaga-se: deverá responder pela qualificadora do emprego de arma de fogo de uso restrito?
Pensamos que não, afinal, o servidor público integrante do sistema de segurança
pública não pode ser punido mais gravemente pelo fato de empregar- mesmo que se exceda
em seu uso- armamento legalmente autorizado pelo Estado para ser portado em serviço.
Em suma: o porte do armamento de uso restrito pelo agente da segurança pública, quando
em serviço, é um exercício regular de direito (ou, conforme o caso, estrito cumprimento de
dever legal), de modo que não pode ser considerado, ao mesmo tempo, como sendo fato
ilícito (qualificadora de homicídio).
Claro que o sentido da pena mais grave para o homicida que emprega arma de
fogo de uso restrito não foi o de punir o policial que tenha, em serviço, eventualmente se
excedido no uso da arma de uso restrito que lhe foi confiada pelo Estado, mas sim o de
recrudescer a pena do agente que- completamente alheio aos quadros da segurança pública-
de maneira a desafiar o Estado de Direito, utiliza verdadeiro armamento de guerra para
cometer um crime doloso contra a vida.
Porém, se o agente de segurança pública utiliza armamento de uso restrito que lhe
foi confiado para ser usado em serviço, na sua vida particular, cometendo, por exemplo, um
homicídio passional, ou mata alguém, com referida arma, durante o exercício de trabalho
particular de segurança (bico), será possível a incidência da referida qualificadora, porque,
nessas situações, deixará de existir o nexo funcional que legitimava o emprego do material
bélico restrito.

QUESITAÇÃO DA QUALIFICADORA
O quesito deverá ser redigido mencionando o uso de arma de fogo restrita ou
proibida, fazendo referência ao laudo que tenha apreendido o instrumento vulnerante,
projéteis, cartuchos, ou, então, ao laudo necroscópico que tenha apontado características
especiais dos ferimentos ocasionados por projéteis de alta energia.

82 |
capítulo 11
Juízo da Causa – Julgamento pelo Júri

11.22.5 Proibição de ofensa à dignidade de vítimas e testemunhas quando


de suas oitivas em plenário (Lei 14.245/2021- Lei Mariana Ferrer). Violência
institucional (Lei 14.321/2022).

11.22.5.1 Entrada em vigor da nova Lei. Texto legal. Histórico de sua


promulgação.
No dia 23 de novembro de 2021, entrou em vigor a Lei 14.245/2021, que promoveu
alterações no Código Penal, no Código de Processo Penal e na Lei 9.099/95 (Lei dos Juizados
Especiais Criminais). A lei enuncia como sua finalidade, no art. 1º, coibir a prática de atos
atentatórios à dignidade da vítima e das testemunhas.
Inseriu-se o art. 474-A, no Código de Processo Penal, na Seção XI, que tem por
objeto a instrução em plenário. O texto da lei é o seguinte:

Art. 474-A. Durante a instrução em plenário, todas as partes e demais sujeitos pro-
cessuais presentes no ato deverão respeitar a dignidade da vítima, sob pena de res-
ponsabilização civil, penal e administrativa, cabendo ao juiz presidente garantir o cum-
primento do dispositivo neste artigo, vedadas:
inciso I- a manifestação sobre circunstâncias ou elementos alheios aos fatos objeto de
apuração nos autos;
o inciso II- a utilização de linguagem, de informações ou de material que ofendam a
dignidade da vítima ou de testemunhas.

A lei foi denominada Lei Mariana Ferrer. Mariana Ferrer é uma influenciadora digital
que constava como vítima de estupro em processo na cidade de Florianópolis, que teve
grande repercussão; a ofendida foi ouvida em audiência que foi disponibilizada pela internet
que gerou enorme comoção, de um lado, pelo tratamento dispensado pelo advogado
do então acusado à ofendida, tido como desumano, indigno e humilhante; de outro, pela
aparente inércia e omissão do juiz que teria permitido que a dignidade da ofendida fosse
ultrajada, inclusive sendo utilizado adjetivos que atentariam contra a honra de Mariana.
Estipula o art. 474-A, caput, do CPP que o descumprimento ao dever de se res-
peitar a dignidade da vítima acarretará a responsabilização civil, penal e administrativa de
seu violador. Quanto à responsabilização civil, se trata de ajuizamento de ação no Juízo
Cível para se reparem os danos morais e materiais; quanto à responsabilização criminal,
seria a responsabilização dos tribunos pela prática do crime de calúnia contra a vítima, lhe
imputando a prática de crime. Quanto à possível prática do crime de palavra, o art. 133 da
Constituição Federal e o art. 2º, § 3º do Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil (Lei
Tribunal do Júri 8ª Edição
Walfredo Cunha Campos

8.906/94) asseguram aos advogados, no exercício da profissão, a inviolabilidade por seus


atos e manifestações, não constituindo, outrossim, injúria e difamação puníveis qualquer
manifestação de sua parte, no exercício de sua atividade em juízo, sem prejuízo das sanções
disciplinares perante a OAB pelos excessos cometidos (art. 7º, XXI, § 2º, do Estatuto).
De idêntica forma o art. 142, inciso I, do Código Penal, reza que não constitui injúria ou
difamação puníveis a ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa, pela parte ou por seu
procurador. Quanto aos membros do Ministério Público, gozarão de inviolabilidade pelas
opiniões que externem ou pelo teor de suas manifestações processuais (o que inclui as per-
guntas formuladas às vítimas), nos limites de sua independência funcional (art. 41, V, da Lei
Complementar 8.625/93- Lei Orgânica Nacional do Ministério Público). No que se refere
aos magistrados, salvo os casos de impropriedade ou excesso de linguagem não poderão
ser punidos ou prejudicados pelas opiniões que manifestarem ou pelo teor das decisões que
proferirem (art. 41 da Lei Orgânica da Magistratura- Lei Complementar 35/79). Pensamos
que essa imunidade judiciária se estende aos jurados, que devem ser igualmente protegidos
caso se excedam na inquirição da vítima em plenário.
Pelo que se deflui desses dispositivos, especificamente em relação ao advogado e o
promotor, não serão responsabilizados criminalmente por eventual injúria ou difamação que
lhes possa ser atribuída tendo por vítima do crime contra a honra justamente o ofendido
do crime contra a vida; remanesceria, porém, sua responsabilização pelo crime de calúnia
(imputação de fato criminoso- previsto no art. 138 do CP), inclusive a calúnia contra os
mortos (art. 138, § 2º, do CP). Essa possibilidade de responsabilização deve ser circunscrita
a casos excepcionais- de evidente imputação falsa de crime ao ofendido- uma vez que pode
ser estratégia dos tribunos, especialmente da defesa, lançar dúvidas a respeito do passado
do ofendido, como forma de se obter, senão uma explicação para o crime (exemplo: tese
de legítima defesa alegada pelo réu em que afirma ter sido ameaçado de morte ou agredido
no dia pelo ofendido, que seria um contumaz criminoso); ou, pelo menos, uma minorante
penal (exemplo: caso de homicídio privilegiado). Tolher-se essa linha de argumentação, a
fim de proteger, a qualquer preço, a honra e a dignidade da vítima, não nos parece ser o
melhor caminho, a uma, porque cabe à acusação refutar eventual ataque a honra da vítima,
de modo a preservar sua dignidade; a duas, porque essa censura comprometeria a plenitude
de defesa; o que indica que não se deve cassar a palavra da defesa nessa situação, nem muito
menos responsabilizá-la pela prática de calúnia. No que toca a responsabilização adminis-
trativa do promotor ou defensor, serão apuradas perante a Corregedoria do Ministério
Público ou da Defensoria Pública, ou em sede de Tribunal de Ética da OAB.
Prevê o inciso I do art. 474-A do CPP, que cabe ao juiz presidente, a fim de se tutelar
a dignidade da vítima, vedar a manifestação dos tribunos, das partes (outras vítimas ou do
réu) sobre circunstâncias ou elementos alheios aos fatos objeto de apuração nos autos; em
uma interpretação literal desse inciso, se a acusação ou a defesa endereçarem perguntas à
vítima não relacionadas ao fato, tais indagações poderiam ser indeferidas. Não se trata de
novidade, afinal o art. 212 do CPP prevê, como regra geral de inquirição- válida para toda
e qualquer inquirição em juízo, inclusive em plenário, que o magistrado não admita aquelas
indagações que possam induzir a resposta ou não tiverem relação com a causa. A inter-
venção do juiz presidente, a pretexto de fazer direcionar a inquirição da vítima estritamente
aos fatos objeto de apuração nos autos, poderá comprometer toda a estratégia acusatória
ou defensória com a indagação de fatos, que apenas aparentemente seriam alheios ao fato

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CAPÍTULO 11
Juízo da Causa – Julgamento pelo Júri

criminoso, mas que podem, de uma maneira sutil, estarem relacionados entre si, e cuja
ligação poderia ser proveitosamente explorada pelos tribunos, e do qual o magistrado não
seria seu conhecedor, justamente porque não refletiu qual seria a tática persuasiva dos
expositores. Desse modo, em regra, deve ser o juiz presidente tolerante com perguntas
aparentemente desvinculadas do contexto principal dos fatos, justamente para não com-
prometer o direito líquido e certo das partes à produção das provas, sem se descurar que
questões morais, comportamentais, relacionadas à vítima, muito embora não se relacionem
ao fato objetos dos autos, são levadas em grande consideração pelos jurados, o que motiva
as partes a sua indagação; esse livre questionamento- desde que não abusivo, e desrela-
cionado completamente da causa, ou ofensivo, deve ser preservado como forma de se
assegurar o direito subjetivo das partes à produção de provas em plenário, e o direito do
cidadão-jurado conhecer a causa, em seus múltiplos enfoques, inclusive sob a ótica moral
de discussão. Pelas mesmas razões, a manifestação de outras vítimas, testemunhas ou do
réu em suas versões apresentadas em plenário devem ser asseguradas, em regra, mesmo
que aparentemente desvinculadas da causa, sob pena se comprometer a livre narrativa do
ocorrido, que poderia comprometer a busca da verdade dos fatos, e, no caso do acusado,
o seu exercício a autodefesa.

Inciso I do art. 474-A do CPP


Quando o inciso I do art. 474-A, do CPP, se refere à vedação à manifestação sobre
circunstâncias ou elementos alheios aos fatos objeto de apuração nos autos, se relaciona,
estritamente, à inquirição da vítima, uma vez que o citado dispositivo legal está inserido na
Seção XI- Instrução em Plenário, de modo que não se trata de uma vedação aos debates: o
juiz presidente não poderá cassar a palavra do tribuno que se alongue na discussão sobre
circunstâncias ou elementos alheios aos fatos apurados, mesmo que atacando a reputação
da vítima, porque podem fazer parte da linha argumentativa da parte, sem prejuízo, claro,
de o magistrado intervir em caso de abuso, excesso de linguagem no decorrer do discurso
(art. 497, III, do CPP). Em miúdos: como o inciso I do art. 474-A do CPP restringe direitos
processuais, deverá ser aplicado restritivamente (a incidir apenas, e quando for o caso,
exclusivamente na fase instrutória do julgamento pelo Júri).

Inciso II do art. 474-A do CPP


O inciso II do art. 474-A do CPP impõe ao juiz presidente que vede a utilização
de linguagem, de informações ou de material que ofendam a dignidade da vítima ou de
testemunhas. A primeira observação é a de que o inciso ampliou o leque protetivo, que
inicialmente se relacionava à dignidade da vítima, incluindo também a testemunha; quanto
a utilização de linguagem que ofenda a dignidade da vítima ou testemunha, caberá ao juiz
evitar a humilhação, o tratamento desumano, nitidamente descortês, da parte, na oitiva do
depoente; o que se visa evitar é a ofensa gratuita, sem finalidade, não se vedando, porém,
a mera veemência da linguagem (que varia de acordo com cada estilo de orador)- desde que
mantida a mínima educação- quando da oitiva da vítima ou testemunha. Proibido, ainda, pelo
inciso II, a utilização de informações ou de material que possa ofender a dignidade da vítima
ou de testemunhas. Indaga-se: seria vedado, então, aos tribunos, juntarem folha de ante-
cedentes da vítima ou de testemunhas, ou cópias de processos a que tenham respondido

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Tribunal do Júri 8ª Edição
Walfredo Cunha Campos

pela prática de crimes, como homicídios, roubos, tráfico, estupro? Essas informações do
passado da vítima ou das testemunhas deveriam ser ocultadas de todos, sobretudo dos
jurados, a título de se preservar a dignidade do ofendido ou da testemunha? Pensamos que
não, afinal é direito dos jurados tomarem conhecimento do passado- criminoso ou santificado,
glorioso ou vergonhoso- de ofendido e das testemunhas para aquilatarem quem é a pessoa que
presta depoimento, e qual valor deve ser conferido ao seu testemunho. Impedir-se essa ex-
ploração de informações ou de material, mesmo que ofensivo a dignidade da vítima ou
de testemunhas, desde que pertinente a busca em que se discuta a credibilidade ou não
que mereça a pessoa que presta depoimento, seria uma violação à produção da prova
pelas partes e um desrespeito ao direito de o jurado conhecer quem são os protagonistas
do processo: a vítima, que pode ter desencadeado, pelo seu comportamento anterior, a
conduta criminosa contra si (essa pode ser a tese defensiva); quanto às testemunhas, um
depoente que tenha sido condenado por falso testemunho merece a mesma credibilidade
que outro com antecedentes imaculados?; um depoente que esteja sendo investigado por
ser traficante concorrente do acusado não pode ser interessado em sua condenação? Em
miúdos: pensamos que as informações ou o material relacionado à vida passada da vítima
ou testemunhas, mesmo que atentatório às suas dignidades, devem ser preservados, desde
que, de alguma forma, revelem seu caráter, e, por consequência, a credibilidade ou não,
que seus depoimentos deverão colher. Caso a juntada dessas informações ou material
forem indeferidas pelo juiz, na fase de preparação para o julgamento em plenário (fase do
art. 422 do CPP), as partes poderão impetrar habeas corpus ou mandado de segurança,
conforme o caso, contra essa decisão arbitrária, a fim de se assegurar o direito líquido e
certo à produção da prova, que deve incluir, em sua abrangência conceitual, a possibilidade
de se subministrarem elementos documentais aptos a permitir que os jurados conheçam
quem são (ou foram), pelo que fizeram, no passado, ofendido e testemunhas. Esse é um
julgamento moral que cabe aos jurados fazerem ou não, e que não pode deles ser usurpado,
mesmo que a custo de desgaste emocional do depoente exposto em sua honra: é intuitivo e
válido se procurar saber, e levar em consideração, quem é a pessoa que se apresenta como
fonte da prova oral; é ilógico e contrário ao que ensina a experiência de vida separar-se-
artificialmente- a pessoa do depoente dos fatos por ele relatados; afinal, a maior ou menor
credibilidade do que é dito depende, em parte, dos atributos morais de quem fala. E ainda:
como as partes poderão contraditar a testemunha ou arguir circunstâncias ou defeitos que
a tornem suspeita de parcialidade ou indigna de fé, como permite o art. 214 do CPP, se for
vedada a utilização de informações ou de material que ofendam a dignidade da testemunha?
Estaria inviabilizada a arguição de suspeição, de modo a se impedir que os jurados tomem
conhecimento, por exemplo, de que a testemunha é inimiga figadal do acusado ou da vítima;
é um estelionatário contumaz, tem interesse na condenação injusta do réu por uma questão
comercial; tem um relacionamento amoroso com a mulher do acusado e pretende com ela
se casar, depois da condenação do acusado, etc. Seguindo-se a literalidade do inciso II do
art. 474-A do CPP, os jurados nada saberiam a respeito de fatos relevantíssimos, porque seriam
atentatórios à dignidade das testemunhas, o que não nos parece uma interpretação razoável.

11.22.5.5 Violência institucional (Lei 14.321/2022) e instrução em plenário


do Júri
A Lei 14.321, de 31 de março de 2022, acrescentou o art. 15-A à Lei de Abuso de
autoridade (Lei 13.869/2019), que tem a seguinte redação:

86 |
CAPÍTULO 11
Juízo da Causa – Julgamento pelo Júri

Violência institucional
Art.15-A Submeter a vítima de infração penal ou a testemunha de crimes violentos
a procedimentos desnecessários, repetitivos ou invasivos, que a leve a reviver, sem estrita
necessidade:

I-a situação de violência; ou


II-outras situações potencialmente geradoras de sofrimento ou estigmatização:
Pena-detenção de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.
§ 1º Se o agente público permitir que terceiro intimide a vítima de crimes violentos,
gerando indevida revitimização, aplica-se a pena aumentada de 2/3 (dois terços).
§ 2º Se o agente público intimidar a vítima de crimes violentos, gerando indevida
revitimização, aplica-se a pena em dobro.

Tratando-se de uma espécie de crime de abuso de autoridade, de acordo com o art.


2º da Lei 13.869/2019, os sujeitos ativos do crime são os agentes públicos em geral, que
são aqueles que exercem, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição,
nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo,
mandato, cargo, emprego ou função, em órgão ou entidade da administração direta, indireta
ou fundacional dos Poderes da União, dos Estados, DF e Municípios, compreendendo, entre
outros, os servidores públicos, os membros do Poder Legislativo, Executivo, Judiciário, Mi-
nistério Público, membros dos Tribunais.
No caso específico da instrução em plenário do Júri, que ora irá se abordar, podem
cometer o crime o promotor, o juiz, o defensor público, o advogado nomeado/dativo que
desempenha as funções da Defensoria Pública, e até o jurado, que exerce, nos termos
do § único do art. 2º da Lei de Abuso de Autoridade, ainda que transitoriamente e sem
remuneração, a função pública de compor o Tribunal do Júri, de modo que, para fins penais,
integra (embora momentaneamente) o Poder Judiciário.
O sujeito passivo desse crime é a vítima ou a testemunha constrangida, além do
Estado, que tem sua reputação, funcionamento e credibilidade afetados pela conduta
abusiva de quem integra, mesmo que momentaneamente, seus quadros, e que, ao invés de
servir aos interesses da sociedade, em nome do Poder Público, se excede no exercício de
suas funções, em prejuízo do particular.
Poderão ser as vítimas desse crime as crianças e adolescentes testemunhas ou vítimas
de violência que devem ser ouvidas por meio de depoimento especial (Lei 13.431/2017), e
as mulheres vítimas ou testemunhas de violência doméstica e familiar (art. 10-A, §§ 1º e 2º
da Lei 11.340/2016- Lei Maria da Penha).
Determina o art. 10-A, § 1º, inciso III, da Lei 11.340/2016 (Lei Maria da Penha) que
uma das diretrizes da inquirição da mulher em situação de violência doméstica e familiar
ou de testemunha de violência doméstica, quando se tratar de crime contra a mulher, é a
não revitimização da depoente, evitando sucessivas inquirições sobre o mesmo fato nos âmbitos
criminal, cível e administrativo, bem como questionamento sobre a vida privada.
Com redação semelhante, a Lei 13.431/2017, que estabeleceu o sistema de garantias
de direitos da criança e do adolescente vítima ou testemunha de violência e que regu-
lamenta o depoimento especial, declara que não será admitida a tomada de novo depoimento,

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Tribunal do Júri 8ª Edição
Walfredo Cunha Campos

salvo quando justificada a sua imprescindibilidade pela autoridade competente e houver a


concordância da vítima ou testemunha, ou de seu representante legal (art. 11, § 2º da Lei
11.343/2017).
A repetição desnecessária do depoimento da mulher vítima ou testemunha de violência
doméstica e familiar contra a mulher ou da criança ou de adolescente vítima ou testemunha
de violência, por determinação do agente público, poderá configurar o crime do art. 15-A
ora estudado; poderá ainda incorrer na prática do crime o agente público que não adotar,
quanto a essas vítimas, os procedimentos especiais de depoimento especial previstos nas
Leis 11.3431/2017 (para as crianças e adolescentes vítimas ou testemunhas de violência) e
11.340/2016- (para as mulheres vítimas ou testemunhas de violência doméstica e familiar).
Podem, ainda, ser vítimas desse crime as vítimas e testemunhas que estejam inseridas
em programa de proteção (Lei 9.807/99), ou que tenham suas identidades preservadas
Os crimes de abuso de autoridade são impelidos por dolo, inexistindo forma culposa,
uma vez que o § 1º do art. 1º da Lei 13.869/2019(Lei do Abuso de Autoridade) prevê
que só se configura o abuso de autoridade quando praticado pelo agente com a finalidade
específica de prejudicar outrem ou beneficiar a si mesmo ou a terceiros, ou ainda por mero
capricho ou satisfação pessoal.
A mera divergência na interpretação de lei ou na avaliação de fatos e provas não
configura abuso de autoridade (art. 1, § 2º da Lei de Abuso de Autoridade).
Quanto à ação criminosa, descreve-se no tipo penal a submissão da vítima de in-
fração penal (qualquer infração penal, inclusive as violentas) ou a testemunha de crime
violentos a procedimentos desnecessários, repetitivos ou invasivos; o procedimento desne-
cessário é aquele reputado como inútil, como, por exemplo, uma reprodução simulada dos
fatos, quando toda a dinâmica do crime já está esclarecida; ou a formulação de perguntas
desnecessárias em plenário, que nada venham a esclarecer a respeito dos fatos que são
objeto do processo; o procedimento repetitivo é aquele que, já foi útil e alcançou sua fi-
nalidade, não havendo sentido sua repetição, como a oitiva de um menor de idade que
tenha sido testemunha do feminicídio da mãe, e que já foi ouvida em depoimento especial
(Lei 13.431/2017), ou a repetição de perguntas em plenário a respeito do relacionamento
amoroso traumático da vítima de violência doméstica e familiar contra a mulher (Lei
11.340/2006); o procedimento invasivo dá a ideia de utilização de método que perturbe a
privacidade da testemunha ou vítima, como a determinação para a apreensão e perícia nos
seus celulares, com a transcrição de todas as conversas de WhatsApp existentes; ou ainda,
o endereçamento de perguntas que invadam a privacidade do ofendido ou da testemunha,
não relacionados aos fatos em apuração, como a sua orientação sexual, seus hábitos, seus
afetos ou desafetos de sua vida íntima.
Desses procedimentos desnecessários, repetitivos ou invasivos- agora especifi-
camente tratando das indagações em plenário- advém, como resultado, para a vítima ou
para a testemunha, o reviver, sem estrita necessidade, da situação de violência, ou de outras
situações potencialmente geradoras de sofrimento ou estigmatização.
Claro que toda e qualquer oitiva, especialmente de crimes violentos como o ho-
micídio, geram, por si só, sofrimento quando se impõe que vítimas e testemunhas sejam
obrigadas a depor; mas essa dor moral em se obrigar a reviver a situação dramática é uma ne-
cessidade da Justiça; certa dose, portanto, de vitimização secundária (de sofrimento trazido

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CAPÍTULO 11
Juízo da Causa – Julgamento pelo Júri

pelas recordações do fato traumático) acaba sendo inevitável. O que a lei visa evitar é o
sofrimento desnecessário, por capricho ou satisfação pessoal (por sadismo) do agente público,
contra aquele que se pretenda que produza a prova.
A produção da prova- a arguição em plenário à vítima e testemunhas- é essencial para
que os jurados possam bem decidir, e não há como se responsabilizar criminalmente o juiz,
o promotor, o defensor público e os jurados interessados e diligentes na produção de provas
e que formulam indagações pertinentes ao depoente. Apenas se visa reprimir os questio-
namentos inúteis, repetitivos ou invasivos da privacidade, os quais, sendo formuladas pelo
promotor, jurados ou pelo defensor público, podem ser obstadas pelo juiz presidente, no
exercício de coordenação dos trabalhos em plenário, sem prejuízo de apuração de eventual
responsabilidade criminal pelo tipo penal do art. 15-A da lei de Abuso de autoridade.

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capítulo 15
Recursos

15.2.3.4 Particularidades da análise pelo Tribunal dos veredictos conde-


natórios
O Júri é uma forma de exercício da democracia direta, como o plebiscito e o re-
ferendo: o cidadão exerce, temporariamente, a função de julgar os crimes dolosos contra a
vida. Por se tratar de um direito à cidadania- e também uma garantia individual do acusado
de ser julgado por seus pares, é considerada uma cláusula pétrea da Constituição Federal
(art. 60, § 4º, IV, da CF), ou o núcleo intangível da Lei Maior, a impedir qualquer projeto
de emenda constitucional, que viesse, sequer potencialmente, a comprometer o regular
funcionamento e genuíno poder da Instituição Tribunal do Júri. O Júri, como Instituição
judiciária/política, e os princípios que lhe são aplicáveis, e que são previstos expressamente
na Lei Maior (art. 5º, XXXVIII, alíneas a- plenitude de defesa, b- sigilo das votações, c-
-soberania dos veredictos, d- competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a
vida), se encontram protegidos em face de qualquer proposta de alteração constitucional
ou legal que venha a comprometer sua substância e poder real. O que se deve entender
por soberania dos veredictos? É a imutabilidade, pelo mérito, dos veredictos dos jurados,
a se impedir que os Tribunais togados, mesmo que os superiores, possam modificar, pelo
mérito, o que tenha sido decidido pelo Conselho de Sentença, condenando quem foi ab-
solvido, ou absolvendo quem foi condenado, ou ainda, reconhecendo (ou afastando) qua-
lificadoras, causas de aumento de pena, privilégio. Essa soberania, porém, não é ilimitada,
nem poderia sê-lo: do erro judiciário, positivo (condenar quem deveria ser absolvido) ou
negativo (absolver quem deveria ser condenado) nenhum magistrado, togado ou leigo, está
livre. Para se evitar a perpetuação do erro, com os seus terríveis efeitos- de se levar ao
cárcere um inocente, ou de se absolver um culpado que gozaria de sórdida impunidade a
contagiar, pelo infame exemplo, quem possua índole semelhante a seguir a mesma trilha
ilícita- é assegurado o direito subjetivo ao recurso, no rito do Júri ou fora dele. Em se
tratando de decisões emanadas do Júri, em razão da soberania dos veredictos, as possibi-
lidades recursais são limitadas, a envolver questões de ordem pública atinentes ao rito, que
possam ensejar a nulidade processual, ou, de mérito, quando o veredicto dos jurados beire
o absurdo, a ilogicidade, a manifesta e indecorosa injustiça; ou, nos termos do art. 593, III,
d, do CPP, quando “for a decisão dos jurados manifestamente contrária à prova dos autos”.
Assentada a premissa que, não obstante a soberania dos veredictos, o que decidido
pelos jurados não é intangível ou sacrossanto, e pode ser cassado, por meio de recurso (s),
determinando-se a realização de novo julgamento pela mesma Instituição- o Tribunal do
Júri, resta verificar como julgar tais recursos, resguardando-se a substância e poder do Júri,
ao mesmo tempo que se impeça que o erro judiciário prevaleça.
Para se verificar a regularidade de um veredicto condenatório, incumbe ao Tribunal
julgar a apelação da defesa em que se postula a cassação do veredicto por ser manifes-
tamente contrário à prova dos autos. E o que significa dizer que o veredicto condenatório
CAPÍTULO 15
Recursos

foi manifestamente contrário à prova dos autos? É o veredicto que condenou sem prova
alguma; com provas que não sejam minimante confiáveis; ou que tenha condenado, apesar
de evidências razoáveis de que o acusado não foi o autor; ou ainda que tenha condenado não
obstante a existência de elementos probatórios apontando para alguma causa excludente
da ilicitude (como, por exemplo, a legítima defesa), ou de isenção de pena (exclusão da
culpabilidade), como, a coação moral irresistível ou inexigibilidade de conduta diversa, que
beneficiam o réu, e que tenham sido ignoradas pelos jurados. Em síntese, o veredicto conde-
natório manifestamente contrário à prova dos autos é aquele que responsabiliza o acusado,
mesmo sem prova minimante idônea e racional, de que foi ele o autor de um fato típico,
ilícito e culpável. Já o veredicto condenatório compatível com os elementos probatórios do
processo é aquele que se alicerça em dados de convicção sérios a apontar que o acusado é
o autor de uma conduta antijurídica e reprovável penalmente. Pelo que se nota, o veredicto
aberrante da prova/compatível com a prova são duas possibilidades auto excludentes, ou
uma, ou outra, realidade, necessariamente, ocorreram, afinal, por um princípio elementar
do pensamento racional, uma coisa não pode ser e não ser ao mesmo tempo.
Para verificar se o veredicto condenatório está divorciado da prova, ou se é com ela
compatível, o Tribunal tem que, ao decidir o recurso de apelação, identificar os elementos
de prova que possam ter convencido os jurados a responsabilizar o réu.
Ao Tribunal se impõe o dever de identificar- expressamente- os elementos de con-
vicção que sustentaram o veredicto condenatório: a prova de materialidade e de autoria de
fato ilícito e culpável, que não seja seriamente comprometido por evidências de que haveria
causas excludentes de ilicitude ou culpabilidade que militassem em favor do réu. Identi-
ficados os alicerces probatórios do veredicto condenatório, o Tribunal poderá mantê-lo,
negando provimento à apelação defensiva. Se, ao contrário, não os identificar, deve referir,
também explicitamente, que não os há; ou que são insuficientes; ou que não confiáveis; ou
que são contraditórios entre si; ou que operaram em favor do réu evidências de que teria
agido amparado por alguma causa excludente de ilicitude ou de culpabilidade. Em suma,
nessa última situação, é dever do Tribunal, ao exercer o controle da legalidade das decisões
do Júri, referir não ter encontrado base de apoio probatória sólida e coerente naquele
veredicto, e, em razão, disso, cassá-lo, para que outro seja proferido.
Mantida a condenação pelo Tribunal, julgando improcedente a apelação defensiva,
mesmo quando não se tenha evidenciado- por não existirem- provas mínimas de autoria
e da existência de fato ilícito ou culpável, a defesa poderá interpor recurso especial ou
mesmo habeas corpus, perante os Tribunais Superiores, visando desconstituir o veredicto
condenatório emanado do Júri, bem como o acórdão do Tribunal que o manteve.

15.2.3.5 O jurado pode condenar o réu com base apenas em “provas”


(elementos informativos) de inquérito policial? Esse veredicto é manifes-
tamente contrário à prova dos autos, e deve ser cassado, ou é válido, e
deve ser mantido, em razão da íntima convicção (não fundamentada) e a
soberania próprias do Júri?
Praticado um delito doloso contra a vida, desencadeia-se a investigação- nor-
malmente por meio de inquérito policial presidido pela autoridade policial- para se apurar

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Tribunal do Júri 8ª Edição
Walfredo Cunha Campos

a materialidade e autoria delitivas. O escopo da investigação é o de trazer elementos que


possam informar o titular da ação penal- o Ministério Público- a oferecer denúncia, ini-
ciando a ação penal, ou, no caso de insuficiência das informações coligidas, promover o
arquivamento daqueles autos. No decorrer do inquérito policial são produzidos elementos
informativos- oitivas de testemunhas, reconhecimentos, acareações (e outros), mas
também podem ser produzidas provas- classificadas como cautelares- no seu transcurso,
como as provas periciais (laudo de exame de corpo de delito, de DNA, de local do crime,
de balística, de apreensão de cartuchos e projéteis, de confronto balístico, e outras); pode
ser determinada a quebra de sigilo telefônico e a interceptação telefônica. Essas provas
cautelares não são elementos informativos, recebem a denominação doutrinária de prova; mas
com uma particularidade: seu contraditório é diferido ou postergado, uma vez que, quando de
sua produção- por exigirem sigilo ou urgência na sua implementação- não se possibilita o
contraditório simultâneo, mas apenas o posterior; depois de realizada a perícia ou a inter-
ceptação telefônica, por exemplo, as partes poderão requerer a realização de uma outra
perícia complementar; podem nomear um assistente técnico para rebater as conclusões;
requerer a oitiva do perito oficial em juízo; quanto à interceptação, seria plenamente
possível se postular a realização de perícia em seu conteúdo, inclusive a de comparação de
vozes, a localização e oitiva de quem travou conversações que tenham sido gravadas etc.
Desse modo, o inquérito policial nem sempre é constituído exclusivamente de elementos infor-
mativos- em que não incide o contraditório e a ampla defesa, ou seja, a participação dialética
das partes; poderá também constar do seu bojo provas cautelares, como as perícias em geral e a
interceptação telefônica referidas, as quais terão seu contraditório- discussão das partes quanto
a seu conteúdo- meramente diferido, de modo que têm a natureza jurídica de prova (e não de
elemento informativo).
As distinções acima tratadas entre elemento informativo, prova judicial, prova
cautelar são estabelecidas pelo art. 155, caput, do CPP:

Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em
contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente
nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas
cautelares, não repetíveis e antecipadas. (grifo nosso)

Resta analisar se a regra geral a respeito das provas, que impõe ao juiz que forme
sua convicção pela análise de prova- vedada a fundamentação calcada exclusivamente em
elementos informativos da investigação- seria também aplicável ao rito do Júri?
Já se responde que, indiscutivelmente, sim, mas há particularidades que serão agora
tratadas.
Os elementos informativos coligidos no decorrer do inquérito policial têm por fina-
lidade entregar a justa causa necessária para que o promotor possa oferecer denúncia, de
maneira responsável, em face de alguém, pela prática de um crime doloso contra a vida. O
standard probatório- a qualidade e o grau de convicção da prova, nessa situação de início da
ação penal, de recebimento da denúncia, são pouco exigentes: impõe-se a existência de ele-
mentos informativos coerentes, enfeixando uma hipótese razoável de autoria, mas não provas
propriamente ditas, uma vez que apenas se formula uma proposta acusatória que passará pelo
crivo do contraditório, com amplas possibilidades de a defesa rebater seus termos.

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CAPÍTULO 15
Recursos

Iniciada a 1ª fase do rito do Júri, devem ser colhidas, a fim de que se possa pronunciar
o acusado legitimamente, provas judiciais, sob o manto do contraditório e da ampla defesa,
como explicamos no Capítulo 6 (Pronúncia). Esse entendimento sedimentou-se junto ao STJ
e ao STF. Não bastam elementos informativos para se pronunciar o acusado: são indispen-
sáveis provas judiciais, sob pena de nulidade da pronúncia; no caso de ser proferida pronúncia
nessas condições (sem provas judiciais, mas apenas com elementos informativos), e o réu for
condenado, esse veredicto deverá ser cassado, porque a decisão dos jurados terá sido mani-
festamente contrária à prova dos autos. Dessa maneira, o standard probatório da pronúncia é
mais exigente que o do mero recebimento da denúncia, porque exige prova de autoria e de
materialidade delitiva (art. 413, § 1º, do CPP), e não meros elementos informativos.
Quanto ao julgamento pelo Júri em si- a fase do juízo da causa do rito- como os jurados
decidem pela íntima convicção, sem fundamentar os seus votos, não há como se saber se
deliberaram de acordo com os elementos informativos do inquérito policial ou se levaram
em consideração as provas judiciais. Quanto ao standard probatório necessário para uma con-
denação, mesmo aquela proferida pelo Tribunal Popular, deve ser tão qualificado, ou seja, no
mínimo, igual, ou, preferencialmente, mais convincente e persuasivo que aquele que existia
quando da pronúncia e que havia reconhecido a existência de provas judiciais de autoria e
materialidade delitivas. Se a pronúncia declarou admissível a acusação em plenário, apontando
provas judiciais, a condenação pelos jurados, quer tenham sido novamente reproduzidas tais
provas em plenário ou não, será válida, porque se alcançou o standard probatório mínimo para
a condenação penal pelo Júri: provas judiciais de autoria e materialidade delitiva. Aliás, a pro-
núncia, como filtro processual a viabilizar a garantia individual do acusado à liberdade, existe
justamente para ser uma barreira de relevância probatória (de standard probatório mínimo):
remetem-se ao julgamento pelo Júri apenas aqueles processos em que se detectou a exis-
tência de provas judiciais de autoria e materialidade delitivas, relegando-se aqueles outros
processos em que foram coligidos exclusivamente elementos informativos de inquérito po-
licial à extinção processual, por meio da sentença de impronúncia.
Pronunciado o acusado, com base em provas judiciais de autoria e materialidade
delitiva, se os jurados o condenarem, o veredicto não será considerado, em regra, contrário
a prova dos autos. Se, além de provas judiciais, houver elementos informativos de inquérito
policial, não se saberá- em razão da íntima convicção (não fundamentada) imanente ao
Júri- qual o peso que os jurados deram a cada um deles: pode ser até que o Conselho
de Sentença tenha levado mais em consideração as informações trazidas pelo inquérito,
mas, de qualquer forma, constatando-se a existência de provas judiciais naqueles autos, não
haveria razão, normalmente, para se invalidar o julgamento.
Se a pronúncia for lastreada, exclusivamente, em elementos de convicção hauridos
do inquérito, inexistentes provas judiciais que a confirmem, a condenação pelos jurados
será válida? Em outras palavras: como os jurados decidem de acordo com a sua íntima
convicção, não fundamentada, a eles se aplicaria, ou não, a regra probatória do art. 155
do CPP, que exige que o juiz profira decisão apenas quando persuadido pela prova judicial
produzida em contraditório?
Há duas posições a respeito do tema:

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Tribunal do Júri 8ª Edição
Walfredo Cunha Campos

1ª Posição: Aos jurados não se aplica a regra probatória do art. 155 do CPP, apenas
incidente em se tratando de juízes togados. Como os jurados decidem pela íntima con-
vicção, não fundamentada, lhes seria possível condenar o acusado com lastro exclusivo
em elementos de inquérito policial, mesmo que inexistentes provas judiciais. Essa posição
possui vários precedentes no STJ, em que as duas Turmas Criminais deliberaram pela não
aplicação do art. 155 do CPP ao rito do Júri46.
2ª Posição: Aos jurados também se aplica a regra probatória do art. 155 do CPP.
Entende-se, segundo essa corrente proposta com ineditismo, e raro brilho, pelo Min.
Ribeiro Dantas, do STJ, que seria contraditório se exigir que a pronúncia seja alicerçada,
sob pena de nulidade, em provas judiciais, enquanto uma decisão condenatória proferida
pelo Júri (e, por isso, soberana, ou seja, raramente desconstituída) possa se contentar com
meros elementos informativos, destituída de provas judiciais. Ora, se uma mera decisão de
admissibilidade da acusação, uma sentença processual por excelência como é a pronúncia,
embora não julgue o mérito da causa (a pronúncia não condena ninguém!), se impõe que
seja fundamentada em provas judiciais, como standard probatório obrigatório, não há como-
sob pena de completa falta de lógica- se exigir menos justamente para a condenação! No
caso do Júri, não se trata de mera condenação criminal: é a condenação soberana que, em
regra, não se desconstitui nem se invalida, o que é mais um motivo para que, a mesma regra
probatória aplicável aos juízes técnicos em geral (art. 155 do CPP), também incida no caso
dos jurados. Esse posicionamento foi seguido pelo STJ, em mais um brilhante voto do Min.
Ribeiro Dantas47, que se recomenda a leitura integral de seu conteúdo, lúcido, didático, e
logicamente irretocável.
Nas palavras do Ministro: “A ideia central de minha proposta é a de que, se existem
provas judicializadas e elementos inquisitoriais quanto a determinado elemento do crime (de
acordo com o exame do acervo fático-probatório feito pelo Tribunal local), realmente não é
possível saber em quais os jurados basearam seus votos, e aqui não há ofensa ao art. 155 do
CPP. Diferentemente, se não há nenhuma prova judicializada, o veredicto condenatório só
pode ter buscado fundamento nos elementos de inquérito que foram apresentados ao júri,
e isso efetivamente contraria o art. 155 do CPP”.
Quando se fala em prova judicial, logo se vem à mente depoimentos de testemunhas
prestados em juízo, de maneira que depoimentos ocorridos no decorrer do inquérito po-
licial- mas não repetidos durante a instrução judicial-não podem autorizar, como acima se
viu, a pronúncia, nem o veredicto condenatório.
Mas se deve refletir que a prova judicial não se circunscreve à prova oral (oitiva em
juízo de vítimas e testemunhas), mas abarca um largo leque de provas antecipadas/periciais,
como os laudos de exame de corpo de delito, o laudo de local, de balística, de confronto
balístico, de colheita de impressões datiloscópicas, de exame de material orgânico e coleta
de DNA; também se inclui no rol de provas cautelares, mas que não são científicas, a inter-
ceptação telefônica, a quebra de sigilo telefônico ou telemático.

46 STJ_ 5ª T. AgRg no HC 489.737/RN, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca. J. 25/06/2019, DJe
05/08/2019. STJ- 6ª T. AgRg no HC 454.895/RS, Rel. Min. Nefi Cordeiro. J. 18/09/2018, DJe
25/09/2018. STJ. 6ª T. AgRg no AREsp 1013003/RS, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, J.
07/03/2017, Dje 17/03/2017.
47 STJ- 5ª T. Recurso Especial nº 1.916.733/MG (2021/0018557-4). Rel. Min. Ribeiro Dantas.

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CAPÍTULO 15
Recursos

Com essas provas judiciais acima exemplificadas, cujo contraditório é diferido ou pos-
tergado, mas que têm a natureza jurídica de provas, nos estritos termos do art. 155 do CPP,
autoriza-se, ao juiz togado e também aos jurados, proferirem uma decisão, exclusivamente,
calcado nelas, mesmo que inexistente prova testemunhal, sem que tenha ocorrido nulidade
nesta decisão. E não poderia ser diferente, afinal, a título de exemplos, com a colheita de
impressões datiloscópicas; material genético do acusado no corpo da vítima ou no local do
crime; admissão do acusado de que assassinou a vítima captada em interceptação telefônica;
laudo necroscópico cuja interpretação por meio de estudos médico-legais demonstra como
impossível a versão do acusado de que agiu em legítima defesa; são todos esses elementos
de convicção considerados como provas judiciais que podem ser mais persuasivos que
qualquer depoimento prestado durante a instrução criminal. Diante desse quadro, mesmo
que não tenha sido produzida prova testemunhal durante a instrução, constando apenas a
negativa do réu em seu interrogatório, será legítima a decisão de pronúncia e o veredicto
condenatório, se houver prova cautelar- pericial ou de outra espécie- que seja convincente
quanto à autoria e materialidade delitivas.

15.2.3.6 O in dubio pro reo é válido como fundamento para se cassar o


veredicto condenatório?
Assentada a premissa acima desenvolvida de que, como a pronúncia deve ser neces-
sariamente lastreada em provas, igualmente a condenação pelo Júri, para ser válida, também
deve ser nelas baseadas, importante discutirmos outra questão: e a suficiência dessas provas
judiciais para a condenação? Essas provas judiciais que convenceram os jurados a condenar
o acusado precisam se situar acima de qualquer dúvida razoável?
Em outras palavras: se as provas judiciais não forem- como normalmente não são-
uniformes, mas se forem contrariadas por outras provas (por exemplo, versões colidentes
entre testemunhas da acusação e da defesa, laudos contraditórios entre si), e, mesmo assim,
os jurados condenarem o réu, esse veredicto deve ser cassado por ser manifestamente
contrário à prova dos autos?
O que se tem entendido, majoritariamente, é que, os jurados optando por uma das
versões factíveis dos autos, o veredicto deverá ser mantido, em razão da soberania dos
veredictos. Em outras palavras: ao juiz togado se permite que absolva o réu, quando não
existir prova suficiente para a condenação (art. 386, VII, do CPP), ou seja, é hipótese em
que existe prova que incrimina o acusado, mas há contradições, lacunas, obscuridades ou
insuficiências em seu conteúdo ao ponto de se gerar uma dúvida no espírito do julgador,
que o leva a absolver (é a aplicação do conhecido brocardo in dubio pro reo). Essa regra de
prova, porém, como se viu, de acordo com o entendimento majoritário, não seria aplicável
aos jurados, que decidem pela íntima convicção, sem estarem jungidos a critérios rígidos
de apreciação da prova, de modo que seu veredicto condenatório- mesmo que a análise
dos elementos de convicção não seja considerada a melhor pelos juízes togados- deverá ser
mantida. Pensamos, porém, que, de maneira excepcional, mesmo existindo, formalmente,
uma prova judicial nos autos, se for pouco persuasiva, ao ponto de se exigir muito esforço
para se chegar à convicção de que o réu é culpado, o Tribunal poderá cassar esse veredicto
por ser manifestamente contrário à prova dos autos. Em suma: não basta a existência formal
de uma prova judicial para que o veredicto condenatório seja válido; é preciso que esse elemento

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Tribunal do Júri 8ª Edição
Walfredo Cunha Campos

de convicção seja minimamente confiável e racional, e, por isso, a condenação com base nele
se mostre um provável ato de justiça; não é possível se aceitar, mesmo que em homenagem à
soberania dos veredictos, que um veredicto condenatório seja a encarnação da injustiça, apesar
de formalmente válido porque constituído por prova judicial, se o senso crítico de qualquer
pessoa dotada de racionalidade e experiência o repudiar. Nessa situação anômala, pensamos
ser válida a cassação do veredicto, não obstante a existência, meramente protocolar, de
provas judiciais. Evidente que essa postura tem seus riscos: os Tribunais podem se arrogar
em verdadeiros censores do mérito daquilo que foi decido pelos jurados, afrontando a
soberania do voto popular; por outro lado, não há como cruzarem-se os seus braços, com
apatia, ante uma condenação construída sobre areia probatória. Ademais, do acórdão que
venha a se animar a adentrar, indevidamente, no mérito do veredicto dos jurados prolatado
com base em prova racional e verossímil, e venha a cassar a decisão popular, caberá ao
Ministério Público interpor recurso especial, perante o STJ, para restaurar a ordem jurídica
violada. Mas, a pergunta permanece: o art. 387, VII, do CPP, que estabelece como regra de
julgamento o in dubio pro reo, determinando que o juiz absolva quanto a prova judicial não for
suficiente é aplicável aos veredictos do Júri? A resposta não, tornando impossível a cassação
de um veredicto condenatório, mesmo que alicerçado em provas judiciais contraditórias
e lacunosas ao extremo, tornaria definitiva- e soberana- uma possível injustiça; de outro
lado, a resposta sim, se permitindo que o Tribunal, sob a sua ótica tecnicista-processual,
tornasse insubsistente a decisão popular, por qualquer filigrana de prova, seria uma afronta
à soberania dos veredictos, e à própria democracia, tornando o Júri um órgão de justiça
consultivo, quase que um objeto decorativo, sem funcionalidade e poder, o que é inaceitável.
Pensamos que a regra prevista no art. 387, VII, do CPP, é aplicável ao Júri, desde que, como já
se disse, as provas judiciais sejam extremamente frágeis em seu poder de convencimento de
uma pessoa racional, ao ponto de se colocar em dúvida se a confirmação de uma condenação
não seria uma chancela soberana à uma injustiça. De outro giro, não é qualquer prova contro-
vertida- interpretação diversa das provas, de seu valor ou grau de convencimento- que podem
acarretar a cassação do veredicto condenatório, sob pena de violação da soberania dos vere-
dictos. Em miúdos: o art. 386, VII, do CPP é aplicável, ao Júri, mas com moderação, apenas em
casos de prova judicial rota e esfarrapada, destituída de real poder de convencimento, tendo
por ponto de vista- não o jurista- mas o espírito lúcido e racional.

15.2.3.7 Como o Tribunal deve verificar se os jurados decidiram com


base em provas judiciais ou se apenas em elementos informativos do
inquérito policial?
Estabeleceu-se, até esse momento, de acordo com os itens anteriores, as seguintes
conclusões:

1ª- Para a pronúncia e o veredicto condenatório, exige-se prova judicial, sendo


aplicável ao Júri, em todas as fases do seu rito, o art. 155 do CPP;
2ª- A prova judicial não é só a testemunhal: as provas cautelares, especialmente, as
periciais, mesmo que isoladamente, podem legitimar uma decisão de pronúncia
e o veredicto condenatório.
3ª- A prova judicial deve ser minimamente persuasiva, aplicando-se, de maneira
restritiva, o art. 386, VII, do CPP;

96 |
CAPÍTULO 15
Recursos

Resta analisar, agora, como os Tribunais deverão julgar as apelações da defesa que se
voltem contra os veredictos condenatórios. Como se estudou nos itens anteriores, a quem
se remete o leitor, caberá à 2ª instância identificar prova judicial de que o acusado é o autor
de um fato típico, ilícito e culpável. Havendo essa prova judicial- e sendo minimamente per-
suasiva- o veredicto condenatório deverá ser mantido; se não houver prova judicial alguma
(mas apenas elementos informativos do inquérito), ou se seu grau de convencimento for
pífio, a condenação deverá ser cassada. A condenação estribada em prova controvertida-
com dupla interpretação razoável possível- deverá ser mantida pelo Tribunal.
E como os Tribunais Superiores exercerão o controle sobre às decisões da 2ª instância
que mantiveram o veredicto condenatório, não provendo a apelação defensiva? Por meio
de recurso especial (ou extraordinário, ou mesmo habeas corpus como tratamos no item
anterior) deverão analisar, pela leitura do acórdão dos Tribunais de Justiça ou dos Tribunais
Regionais Federais, se foi especificada a existência de prova judicial; havendo elementos
probatórios em juízo, os Tribunais Superiores poderão manter o acórdão da 2ª instância,
que confirmou o veredicto condenatório (e o próprio veredicto condenatório, é claro).
No caso de inexistirem elementos de convicção coligidos em juízo, mas apenas elementos
informativos do inquérito policial- o que é facilmente aferível pela superior instância através
da leitura do acórdão da 2ª instância, da pronúncia, das peças das partes, do termo de
audiência da 1ª fase do rito do Júri, ou da ata de plenário, o STJ (ou conforme o caso o STF)
poderão anular o acórdão do Tribunal de apelação, e cassar o julgamento pelo Júri, para que
outro plenário seja realizado, por ofensa ao art. 155 do CPP.
Na hipótese de existirem elementos probatórios judicializados em juízo, mas o
Tribunal de apelação não os especificar, como deveria, apontando as evidências concretas
de materialidade e autoria de conduta criminosa ilícita e culpável, ao se contentar em utilizar
expressões jurídicas genéricas, essa omissão na fundamentação legal levará à anulação do
acórdão, para que outro seja prolatado, por violação ao art. 93, IX, da CF e art. 315, § 2º,
II, do CPP), preservando-se o veredicto condenatório.

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Tribunal do Júri 8ª Edição
Walfredo Cunha Campos

Manual de atuação da Polícia, do Promotor, do Defensor


e do Juiz na Apuração e Julgamento dos Crimes Dolosos
contra a Vida

2. Discurso em Plenário

2.1 Roteiro clássico do discurso


Não basta, para ser eloquente, o estudo anterior do processo – mesmo que com
afinco,e sua mera elocução,sem planejamento e método,em plenário, na esperança (quase
sempre amargamente frustrada) de que a inspiração irá miraculosamente exercer o poder
de convencimento sobre os jurados. Normalmente esse proceder leva a um retumbante
fracasso: nervosismo e esquecimento de pontos relevantes pelo orador; desinteresse e
bocejos, pela incompreensão do assunto, por parte dos jurados.
A eloquência é composta e lapidada, antes do dia do julgamento, em cinco partes,
como ensina o grande orador romano Cícero48:

1ª invenção: estuda-se o processo, em detalhes, muitas vezes com o auxílio de


livros técnicos de Direito ou de Medicina Legal e Criminalística, para se conhecer
a fundo os fatos e as provas; depois de filtrados os fatos, inicia-se então a se
pensar a respeito da tese que vai ser exposta no plenário, bem como os possíveis
argumentos contrários a ela;
2ª- disposição: seleção e classificação das ideias e o seu encadeamento lógico; é o
plano do discurso;
3ª- elocução: colocação em uma forma de discurso; pode ser escrito integralmente a
fala a ser pronunciada; ou então, o que parece ser melhor, apenas anotar algumas
frases principais que sintetizam as vigas-mestras da elocução, e o elo entre os
períodos do discurso, numa sequência lógica de exposição;
4º- memória: gravar, senão todo o discurso, pelo menos, as principais partes dele, na
memória, recordando-se de tudo aquilo que se preparou; memorizar as ideias
principais, e não necessariamente todas as frases que serão ditas;
5ª- ação: o discurso é pronunciado diante do auditório.

De modo geral, o padrão de todo discurso forense segue a ordem preconizada por
Maurice Garçon em sua clássica obra Ensaios sobre a eloquência judiciária:49
1. Exórdio: é a introdução, a fala inicial do tribuno, e oportunidade em que se cum-
primenta o juiz, os jurados e a parte adversária e se apresenta o assunto que será tratado.

48 Marco Túlio Cícero, Brutus e a Perfeição Oratória (Do melhor gênero de oratória), p. 45.
49 Maurice Garçon, Ensaios sobre a eloquência judiciária.

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CAPÍTULO 15
Manual de atuação da Polícia, do Promotor, do Defensor e do Juiz na Apuração e Julgamento dos Crimes Dolosos contra a Vida

O exórdio deve ser adaptado ao caso que está sendo julgado, podendo ser racional ou
emotivo, poético ou agressivo, rápido ou um pouco mais longo. Note-se que, embora o
introito possa ser mais demorado que o usual, nunca deve rivalizar em duração com a
narrativa e a discussão do discurso. O exórdio, segundo Silveira Bueno50, pode ser: simples
ou direto (em uma exposição breve, o orador entra no assunto); ex-abrupto ou veemente
(entrar diretamente no assunto, sem a menor preparação); nessa última situação, o estado
de ânimo do orador e da sessão plenária deve estar bastante acalorado. Exórdio pomposo
(é aquele em que é usada uma linguagem elevada, sofisticada; não é recomendável na
oratória desenvolvida no Júri); insinuante (aquele em que o orador entra sutilmente no tema
do discurso; recomendável quanto os jurados se mostram hostis à tese a ser desenvolvida,
ou às personagens do processo – réu ou vítima, de modo que é necessário preparar o
espírito de quem ouve, combatendo preconceitos e objeções). Não se aconselha iniciar-se
o discurso com uma fala muito emocionada e veemente, pois a imensa energia dispendida,já
nos primeiros minutos,irá, em pouco tempo, exaurir o orador; no meio do discurso, o
tribuno já estará cansado; no fim, justamente quando seria mais importante passar a última
impressão de convicção aos jurados, sua voz estará um fiapo, sua postura, em frangalhos, sua
mente, lerda, ao ponto de demandarem,por falta de disposição física,o abreviamento – às
vezes indevido e prematuro – do discurso, mesmo que se correndo o risco de não se apre-
sentar bons argumentos finais. Recorde-se Maurice Garçon51: “Outro defeito dos exórdios
demasiado veementes, ou que começam num tom muito elevado ou por demais enfático, é
que tiram o fôlego ao orador no momento em que precisa economizar as suas forças para
as equilibrar durante todo o discurso. Se o orador fizer um esforço físico desproporcionado
ao começar, arrisca-se a manifestar em seguida um cansaço que afrouxará o movimento, e
acabará por tirar-lhe o benefício da primeira impressão que soubera produzir”. Continua
o mestre: “Começando com uma autoridade calma num tom bastante baixo, mas bem
timbrado, não só economizamos fôlego e forças, como obrigamos o juiz a exigir silêncio
para melhor ouvir e poder prestar a maior atenção às primeiras palavras. Não é necessário
apressarmo-nos. Nada força o orador, a quem acaba de ser dada a palavra, a acalorar-se
imediatamente. Ele pode proceder de seu vagar (...) Se começar então por algumas frases
claras, fluentes, fáceis e sem pressas inúteis (...)”.
Acrescentamos nós que o exórdio deve ser curto, mas interessante – original e com o
condão de tocar a sensibilidade de quem ouve, despertando a atenção; proibidos os clichês
e as frases feitas sem originalidade alguma. O ensinamento de Danni Sales52 é irretocável:
“A abertura dos discursos marca um momento de entrega mútua e recíproca, entre orador
e jurados. É um momento de fidelizar atenções! Experimente começar de uma forma inte-
ressante, impactante, surpreendente ou inspiradora. (...) Evite chavões introdutórios (...) A
abertura é momento de cativar, e não de enfadar” (grifo nosso).
2. Cumprimentos/saudações: cuidado para não aborrecer os jurados com extensos
cumprimentos ao tribuno oponente ou ao juiz, pois pode tal conduta provocar dois efeitos
deletérios ao orador: primeiro, entediar o juiz leigo e convidá-lo à distração e à falta de paciência;

50 Silveira Bueno, A Arte de falar em Público, p. 69/74.


51 Maurice Garçon, Eloquência judiciária, p. 213.
52 Danni Sales, Júri, o Tribuno, p. 106.

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Tribunal do Júri 8ª Edição
Walfredo Cunha Campos

segundo, indispô-lo contra quem fala, quando as homenagens são falsas. Pensará o Conselho
de Sentença, cartesianamente: se o tribuno não é verdadeiro nesse trecho de sua fala, prova-
velmente não o será no resto. O que muitas vezes é mesmo verdade! Santa psicologia essa do
jurado! O mais lamentável é que alguns sempre repetem, indistintamente, idênticos elogios,
sejam lá a quem forem elas destinados, utilizando até as mesmas expressões: o imparcial juiz, o
aguerrido promotor, o conspícuo defensor etc. Francamente, só se deve tecer homenagens quando
de fato se tem algo de bom a dizer; se não houver, por amor à verdade, não há que se falar nada.
Neste início é que se deve conquistar os jurados, atentos às primeiras palavras, para ganhar, ao
longo do discurso, seus votos. Costumamos fazer, no início dos nossos discursos perante o Júri,
o que Danni Sales denomina “saudação em arranjamento”53: “fazer da saudação um exórdio, em
que damos ao ouvinte uma ideia geral do assunto a ser tratado”.

3. Proposição: a introdução deve vir acompanhada de uma proposição, isto é, a


enunciação de uma ideia geral à volta da qual se desenrolará todo o discurso. Nas palavras
de Silveira Bueno54, “A proposição é a indicação breve e clara do assunto do discurso; é o
próprio discurso em miniatura”.

4. Narração: a parte mais importante do discurso – saber narrar, com vida e espírito,
os fatos do processo. Este trecho deve ser claro e verossímil. A narração deve ser uma recons-
tituição completa, propondo-se a reviver os homens com seus sentimentos exatos e hesitações
(circunstâncias psicológicas); apresentar não só as suas ações, mas ainda os pensamentos que
as acompanharam. Como ensina Aristóteles55, é preciso “fazer os ouvintes verem, (...) usando
expressões capazes de representar as coisas como se estivessem em atividade”.
Pode-se seguir a ordem cronológica dos fatos ou, querendo chamar um pouco mais a
atenção, enunciar o último fato da ordem cronológica, voltando em seguida para recomeçar
do princípio, para, aí então, seguir a ordem do tempo. Isso porque, ao invés de contar desde
o início a sucessão dos acontecimentos, que podem não oferecer nenhum interesse e, por
conseguinte, não despertar a atenção, o autor descreve em primeiro lugar o fato mais dra-
mático, e que acontece ser o último da série. Depois, para explicá-lo, remonta bastante longe
no passado e segue a sucessão natural dos fatos que conduzem ao último que já se conhece.
A vantagem do sistema está em provocar, desde o primeiro momento, uma viva curiosidade e
de levar o ouvinte a prestar uma atenção tanto maior quanto se sente animado do desejo de
saber por que e como sobreveio o fato surpreendente que acaba de ser revelado.
Sendo produzida toda a prova oral em plenário, a narração pode até ser dispensada,
abordando-se, de imediato, as provas dos autos; a nosso ver, é mais recomendável, antes de
analisar as provas, resumir-se – mesmo que brevemente – as linhas gerais da narração fática.
Todavia, no caso de não ser produzida a prova em plenário, deverá ser dedicada a máxima
atenção à narrativa, porque os fatos serão praticamente desconhecidos dos jurados.
5. Discussão: analisar, durante a narração, ou após, com profundidade, os fatos,
discutindo-os, quer dizer, argumentando, com emoção, sobre eles. É o momento de ra-
ciocinar emocionando e emocionar raciocinando.

53 Danni Sales, Júri, o Tribuno, p. 106.


54 Silveira Bueno, A arte de falar em Público, p. 77.
55 Aristóteles, Retórica, p. 240.

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CAPÍTULO 15
Manual de atuação da Polícia, do Promotor, do Defensor e do Juiz na Apuração e Julgamento dos Crimes Dolosos contra a Vida

Quanto à ordem de exposição dos argumentos, Silveira Bueno56 recomenda que


se deve começar com um argumento forte (mas não o melhor), depois outros menos
fortes (argumentos bons, mas ainda não os melhores), e encerrar com os fortíssimos ou
irrefutáveis. Nas palavras do autor: “A gradação é de rigor depois do segundo argumento:
não se começa pelos mais fracos porque podem impressionar deficientemente o auditório.
Inicia-se, pois, a série com um bom argumento, não porém, com o melhor de todos, (...)
Dado o primeiro argumento, os outros virão em gradação ascendente”. E se todos os ar-
gumentos forem ótimos? Nesse caso, recomenda o mestre que sejam apresentados
separadamente, para que se valorize o valor de cada um deles. E se forem fracos, ou não
tão fortes, cada um dos argumentos? Agora, é fazer o contrário: “apresentá-los em massa,
em aluvião, para que o número supra a deficiência da qualidade”.

6. Digressão: tanto durante a narração quanto no decorrer da discussão, pode ser


necessário fazer uma digressão (tocar em algum assunto não ligado diretamente com os
fatos). Isso porque tal recurso oratório pode ser uma excursão fora dos autos; é um ver-
dadeiro descanso à atenção dos jurados, um momento de lazer na concentração exigida pelo
caso posto sob julgamento. Pode ser uma ideia pessoal, um exemplo de vida, uma expe-
riência própria, uma reflexão, uma conversa reveladora que já se teve, um acontecimento
particular que o marcou, uma notícia divulgada na mídia que seja de amplo conhecimento
da qual se possa extrair uma lição. De qualquer forma, para-se e faz-se com que o auditório,
divertido, interessado ou comovido escute sem se aperceber de que a sua atenção está
descansando. A digressão útil nunca passa de um recreio, devendo uma transição apropriada
trazer de volta à narrativa ou à discussão, com a vantagem de os ouvintes aproveitarem
mais as novas informações, porque estão com suas mentes mais relaxadas e recuperadas
pelo descanso proporcionado pela benfazeja digressão. Pode ser uma digressão a leitura
de jurisprudências que, ao invés de serem lidas, de maneira maçante, pelo orador, seriam
expostas, em forma de casos, de relatos breves, pelo orador, antes de se mostrar a solução
dada pelos tribunais; com isso, se introduzirão no discurso curtas narrativas, que não estão
fora de propósito e que descansam o auditório.

7. Peroração: sempre carregada de emoção, termina o discurso anunciando seu


fim. Pode-se aproveitar para, imediatamente antes, fazer um resumo do que foi objeto da
narrativa e da discussão e refutar, pela derradeira vez, os argumentos contrários.
Depois do resumo, em que se retraçaram as linhas mestras do discurso, deve-se en-
cadear com as últimas palavras do exórdio, no qual já se tinha anunciado, na proposição, os
fins que se propunha atingir. A peroração serve para mostrar que a promessa foi cumprida,
que a demonstração foi plenamente realizada e a conclusão predita (deve ser o réu ab-
solvido ou condenado) se impõe.
Esse plano geral de exposição, chamado de plano clássico do discurso judiciário,
conforme magistério do grande orador Maurice Garçon,

56 Silveira Bueno, A Arte de falar em Público, p. 96

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Tribunal do Júri 8ª Edição
Walfredo Cunha Campos

“pode servir pelo menos de base a quase todos os discursos. É a arte pessoal do orador e sua
originalidade que farão desse plano uma obra notável ou somente de valor médio. Nunca, se o
aplicarmos com rigor, faremos uma obra má”.57

2.2 O que se deve fazer


Ter um roteiro da fala: o discurso não pode ser deixado apenas para o momento
em que se fala, sem prévia preparação, o que não significa memorizá-lo palavra por palavra,
mas sim montar um esquema, um esqueleto, com início, meio e fim, daquilo que é es-
sencial falar, anotado em tópicos, roteiro esse que deve acompanhar o orador em toda sua
atuação. Se ele se esquecer de alguma coisa, poderá imediatamente consultar o seu guia,
para que as ideias ruminadas durante o estudo dos autos acorram à sua mente. Não se pode
menosprezar esse roteiro de trabalho no plenário, pois, além de ser efetivamente útil, ele
dá maior segurança ao tribuno, que não fica preocupado com a possibilidade de dar branco.
O importante não é memorizar as palavras do discurso, que fluirão da emoção, do
clima do Júri, na hora da fala, mas ter na mente bem cimentados quais os principais argu-
mentos que devem ser expendidos e a ordem lógica de sua enunciação. Isso tudo não sai
do plenário por obra do Espírito Santo, mas surge das reflexões que são produto da quase
beneditina paciência que se deve ter no estudo do processo, trabalhando nele, em cada detalhe,
como um artesão.

Falar de maneira natural e objetiva: falar com naturalidade, como se estivesse


expondo para um grupo de amigos uma estória, em sua sala de estar, sem assumir ares
grandiloquentes nem utilizar um vocabulário arcaico, que normalmente nunca o orador
usaria em suas conversas do cotidiano, sob pena de ser considerado ridículo. Como bem
pontifica o filósofo francês Montaigne58, o bom orador é o que adapta as palavras aos as-
suntos, e não aqueles que – na falta de assunto – procuram assuntos através das palavras;
continua o filósofo dizendo que, como ouvinte: “Quero que as coisas dominem e encham a
imaginação de quem escuta, de tal modo que o ouvinte não tenha nenhuma lembrança das
palavras. A linguagem que amo é uma linguagem simples e natural, tanto no papel como na
boca: uma linguagem suculenta e nervosa, curta e concisa, não tanto delicada e penteada
como veemente e brusca”.
Todo discurso tem um tema principal, uma tese que se pretende demonstrar, e que
o orador, já no início de sua fala, dirá qual é. Como sentenciava Platão59: “Seja qual for o
tema, meu rapaz, há um ponto prévio que todos devem observar antes de encetarem uma
discussão: saberem bem qual a matéria que vão discutir”.
Dizer o essencial à persuasão dos jurados, sem detalhes supérfluos, nem muito
menos repetições irritantes. Ensina Danni Sales60: “O orador essencialista avalia um grande
conjunto de informações antes de subir à tribuna. Analisa todo o casting processual, para só
depois se comprometer com alguns elementos de prova. Atrela-se a um número seletivo de

57 Maurice Garçon, Ensaios sobre a eloquência judiciária, p. 198.


58 Montaigne, Os ensaios, p. 122.
59 Platão, Fedro, 237 b, citado no livro Textos Filosóficos de Marco Túlio Cícero, p. 289.
60 Danni Sales. Júri, O Tribuno, p. 16.

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CAPÍTULO 15
Manual de atuação da Polícia, do Promotor, do Defensor e do Juiz na Apuração e Julgamento dos Crimes Dolosos contra a Vida

ideias. Assim, pode se ocupar, prioritariamente, da missão de “como apresentá-las”. Voca-


bulário, portanto, simples, sem ser simplório, direto, incisivo, veemente. Esse o segredo da
famosa e eficaz oratória de Piero Calamandrei, que aponta a artificial diferença entre uma
mesma pessoa que conversa com outras, de maneira natural, quando não está no fórum, e
muda completamente, quando discursa como advogado:
“Por que, se um juiz encontra um advogado no bonde ou no café e trava conversa com ele,
talvez até sobre questões atinentes a um processo em curso, dispõe-se a acreditar muito
mais nele do que se o ouvisse dizer as mesmas coisas em audiência, com a indumentária do
defensor? Por que no discurso de homem a homem há mais confiança e maior proximidade
espiritual do que no discurso de advogado a juiz? Grande advogado é aquele que consegue falar
na audiência com a mesma simplicidade e a mesma limpidez com que falaria ao juiz encontrado
na rua; aquele que, quando veste a beca, consegue dar ao juiz a impressão de que pode confiar
nele como se estivesse fora da audiência”61.

Como sentencia com brilhantismo Henri Robert:


“É preciso ter aprendido tudo e querer esquecer tudo. É preciso despojar-se desses vãos
ornamentos, deliberadamente deixar de lado as horríveis flores artificiais, em série, conhecidas
pelo nome de ‘flores de retórica’. É preciso que apenas a chama da convicção vos anime, que
o objetivo a atingir seja o objeto de todos os vossos esforços. Por fim, é preciso consentir em
esquecer de si mesmo para pensar apenas na causa e no resultado a obter. É preciso querer
convencer, e não seduzir”62.

Os jurados são pessoas ocupadas. Não se deve fazer com que, à custa do tempo e da
paciência deles, demonstremos nossa espantosa e variada cultura nas mais diversas matérias
do saber humano. O importante, como diz Magarinos Torres,
“[...] é não maçar: fazer tudo isso com brevidade e concisão, elegância e compostura, é a
melhor maneira de agradar... e de vencer”.63

Essa urgência dos tempos modernos se verifica pela chamada “audição ansiosa”,
canções com menor tempo de duração, objetiva e curta, de preferência não superior a
dois minutos e meio; tudo é breve e apressado: stories de 15 segundos; Twitter com pouco
texto; TikTok em um minuto64. Nosso discurso, para que venha a ser assimilado, deve ser, na
medida do possível, mais curto e objetivo, não, é claro, atendendo aos exageros de uma fala
tão enxuta que se reduza a breves minutos, mas não tão longo e repleto de detalhes inúteis
que gere tédio e enfado em quem nos ouve.
Deve-se expor o assunto de maneira simples, sem demonstrações gratuitas de
erudição. Claro que, se houver uma ligação do fato que se quer comentar com algum co-
nhecimento que se tenha de leituras, se poderá, de maneira natural, discorrer a respeito.
Afrânio Peixoto, inimigo figadal do Júri, em página antológica, faz a crítica dos vaidosos
tribunos de seu tempo, acometidos de verborreia incontida:

61 Piero Calamandrei, Eles, os juízes, vistos por nós advogados, p. 87.


62 Henri Robert, O advogado, p. 23.
63 Magarinos Torres, Processo penal do júri no Brasil, p. 371.
64 Reportagem do Jornal “O Estado de São Paulo”, do dia 7 de novembro de 2021, C4/C5-, Cultura e
Comportamento.

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Tribunal do Júri 8ª Edição
Walfredo Cunha Campos

“Esses torneios oratórios assumem às vezes proporções inverossímeis. Quando açulada a


vaidade pela exibição em causa sensacional, promotores, advogados da acusação ou da defesa
entregam-se a um steeple-chase, verdadeira aposta de fôlego, de logorreia ou de abuso da
paciência alheia. Por isso as sessões duram dias e noites, os discursos passam de doze e vinte
e quatro horas (foi a tanto abuso que se tornou necessário coibir, reduzindo, agora, apenas a
três horas...), fala-se de tudo – antropologia, viagens, direito, política, religião, meteorologia,
medicina e, às vezes, do crime em questão [...]. Mas os homenzinhos continuam... Se o que
está em causa é a vaidade deles!”65

Impressiona mais vivamente ao jurado a exposição da experiência de vida do orador,


que tenha alguma relação com a explicação da causa ou a lógica do bom senso que trechos
inteiros lidos ou decorados de autores de direito consagrados como Malatesta ou Nélson
Hungria.
Cuidado com as digressões extensas. Se curtas, despertam novamente a atenção
dos ouvintes que, depois de algum tempo, começam a se dispersar, e fazem com que,
quando se retorna ao assunto principal, estejam descansados e prontos para novamente
prestar atenção na discussão da causa; se muito longas, terminam o trabalho de dispersão
dos jurados que, quando se retorna à discussão da causa,, estarão com suas atenções irre-
mediavelmente perdidas, e ansiosos para que aquele discurso enfadonho e incompreensível
logo se encerre. Digressão é, portanto, uma questão de medida.
Vale, ainda, a lição de Manoel Pedro Pimentel:

“Um julgamento feito pelo Tribunal do Júri, ao contrário do que muitos pensam, não é uma
loteria. Depende, é certo, de algumas peripécias, mas pode ser o seguro resultado de uma
conduta bem planejada e executada com rigor, desde a fase do inquérito policial até o [...]
Plenário do Júri. [...] a apresentação dos argumentos deve obedecer a um plano previamente
traçado, a exposição deve ser fluente e clara, sem rodeios e tiradas literárias, ferindo os pontos
em debate. As proposições devem seguir a forma silogística, e cada conclusão se ajustará às
outras, formando um tecido único. O tom de voz, as modulações não devem seguir o superado
critério da exaltação e passionalismo, a não ser que o momento do discurso ou a dramati-
cidade do tema o imponham. Não terá o advogado, também, a preocupação de formar frases
pomposas, bombásticas, geralmente vazias de sentido, cujo único mérito é causar admiração
dos que se deixam impressionar pela beleza da forma. As demonstrações de cultura, quando
desnecessárias, soam falsas e traem a intenção do orador de se autovalorizar, o que, às vezes,
é consagrado à custa do direito do constituinte. Os torneios de retórica, o uso de frases feitas,
as citações eruditas só cabem raramente no discurso forense. Mesmo os oradores, que podem
contar naturalmente com esses recursos, devem policiar-se e não permitir que a exuberância
da forma prejudique a essência do discurso. As incursões no campo doutrinário do direito
serão reduzidas ao essencial e, sempre que possível, traduzidas em linguagem acessível aos
leigos, e explicadas em termos simples, sem complicações teóricas ou filigranas jurídicas, que
conduzem à perplexidade inútil e até mesmo prejudicial. Resumindo, diríamos que o discurso
forense deverá ser simples e objetivo, visando demonstrar para convencer sem preocupações
literárias ou retóricas e transmitindo em voz natural, em tom didático, usando a linguagem
também simples e acessível. Esta linguagem, por força, deverá ser correta, embora desatada da
preocupação de ser elegante e literária. É recomendável a abstenção de termos ou expressões
de gíria. Não será condenável o seu uso, entretanto, caso não exista outra maneira de dizer, nas
circunstâncias, contando já o defensor com suficiente dose de empatia com o Júri”66;

65 Afrânio Peixoto, Criminologia, p. 257.


66 Manoel Pedro Pimentel, Advocacia criminal: teoria e prática, p. 207 e 215-216.

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CAPÍTULO 15
Manual de atuação da Polícia, do Promotor, do Defensor e do Juiz na Apuração e Julgamento dos Crimes Dolosos contra a Vida

O escritor russo Fiódor Dostoiévski67 retratou, em breves pinceladas, o que deve ser
um orador no Júri: “Ele começou de forma excepcionalmente direta, simples e convincente,
mas sem a mínima arrogância. Sem a mínima tentativa de eloquência, de notas patéticas, de
expressão arrebatada. Era como se falasse num círculo íntimo de simpatizantes de seu pen-
samento. Tinha uma voz bela, sonora e simpática, e era como se essa voz já se distinguisse
algo simples e sincero”.
Por fim, a síntese magistral de Churchill68: “Das palavras, as mais curtas; as mais
comuns, quando curtas, melhor ainda”.

Mesclar períodos longos e curtos.


Durante o discurso fazer a alternância de frases longas e curtas, para não entediar os
jurados, pois, como alerta Silveira Bueno69, sem a variedade, corre-se o risco de “(...) ver-se
bem depressa nas garras da monotonia, o pesadelo de todos os homens da palavra”.

Estabelecer contato visual e a movimentação corporal adequados junto aos


jurados
Ao se discursar, deve-se olhar nos olhos dos jurados – de todos eles – mas sem
exageros: nem muito de perto, o que pareceria intimidação; nem muito menos deixar de
olhar para eles, para se mirar o teto, o auditório, o chão, o que pareceria indiferença.
Quanto à movimentação corporal em plenário, absolutamente inaceitável que o
tribuno fale sentado: já tive o desprazer de assistir um “tribuno” – membro do Ministério
Público – discursar tediosa, fria e mecanicamente sentado, em voz baixa, usando de um
microfone para não elevar sua voz e se cansar; passou não apenas a impressão, mas a
certeza – aos jurados e a todos que estavam na assistência – de que “o tribuno” se en-
contrava lá tão somente cumprindo uma obrigação profissional, sem que tivesse a mínima
convicção na justiça da causa. Foi derrotado fragorosamente, é claro: o orador, por sua
postura, deve despertar força, saúde, confiança no que diz, o que só pode se conseguir de
pé, em movimentação corporal adequada. Essa movimentação consiste em se aproximar
dos jurados – mas não muito a ponto de constrangê-los! – nem deles ficar distante.
Enfim, como recorda Danni Sales70, a síntese do orador perfeito, de Cícero: “O
orador deve falar de pé para ser visto, alto para ser ouvido, claro para ser entendido e
pouco para ser aplaudido”.

67 Fiódor Dostoiévski, Os irmãos Karamázov, v. 2, p. 935.


68 Ricardo Sondermann, Churchill e a ciência por trás dos discursos. Como palavras se transformam em
armas. P. 407.
69 Silveira Bueno, A arte de falar em Público, p. 40.
70 Danni Sales Silva, Júri, Persuasão na Tribuna, p. 49.

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