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1 TEMA DA PESQUISA

A influência da mídia no tribunal do júri

2 PROBLEMA DA PESQUISA

Como a cobertura da mídia em casos de grande repercussão pode atingir a


imparcialidade dos julgamento pelo tribunal do júri?

3 OBJETIVOS

3.1 Objetivo Geral

Analisar como a influência da mídia em casos de grande repercussão pode


atingir a imparcialidade dos julgamentos

3.2 Objetivos Específicos

- Apontar a função, composição e funcionamento tribunal do júri


- Identificar o papel midiático no tribunal do júri
- Explorar casos de grande repercussão, com interferência midiática no
tribunal do júri

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SUMÁRIO

1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS........................................................................................ 09
2 TRIBUNAL DO JÚRI: FORMAÇÃO SOB A ÓTICA DO ORDENAMENTO
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JURÍDICO BRASILEIRO...................................................................................................
2.1 Conceito: o que é o tribunal do jurí?.............................................................................
2.2 Origem e evolução histórica do tribunal do jurí no Brasil..........................................
2.3 Função, Composição e funcionamento do Tribunal do Júri........................................
2.4 Princípios Constitucionais norteadores do Tribunal do Júri......................................
2.4.1 Plenitude de defesa.......................................................................................................
2.4.2 Sigilo da votações..........................................................................................................
2.4.3 Soberania dos veredictos..............................................................................................
2.4.4 Competência para julgar os crimes dolosos contra a vida........................................
2.5 Princípios Constitucionais do Processo Penal...............................................................
3 QUAL O PAPEL MIDIÁTICO NO TRIBUNAL DO JÚRI?.......................................
3.1 Garantias constitucionais: direito à informação e liberdade de imprensa.................
3.2 Influência da mídia no processo penal: Mídia x devido processo...............................
3.3 (im)parcialidade dos jurados diante a influência midiatica........................................
3.3 Criminologia midiatica e seus reflexos no processo penal brasileiro..........................
4 CASOS DE GRANDE REPERCUSSÃO COM INFLUENCIA MIDIATICA NO
TRIBUNAL DO JURI..........................................................................................................
4.1 Boate Kiss.........................................................................................................................
4.2 Flor de Liss.......................................................................................................................
5 METODOLOGIA .............................................................................................................
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................................
REFERÊNCIAS.....................................................................................................................

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1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

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2 TRIBUNAL DO JÚRI: FORMAÇÃO SOB A ÓTICA DO ORDENAMENTO
JURÍDICO BRASILEIRO.

O tribunal do júri assume um papel fundamental no ordenamento jurídico brasileiro,


considerando que, reflete os princípios democráticos por meio da participação direta da
sociedade no sistema de justiça, a instituição não apenas reforça a relevância da democracia e
da participação popular, como promove uma justiça mais equitativa e imparcial, isso ocorre
ao permitir que cidadãos comuns, agindo como representantes do interesse da sociedade,
desempenhem um papel ativo no julgamento dos réus, essa participação é um componente
especial na busca pela justiça, uma vez que, os crimes dolosos contra a vida, atingem de
maneira indireta a sociedade em geral, assim como, todo o aparato estatal .

Essa instituição, serve como um mecanismo de controle social, permitindo que a


sociedade tenha uma palavra ativa na determinação da culpa ou inocência dos réus, pois, ao
conselho de sentença compete temporariamente o poder de julgar os crimes considerados
mais gravosos pelo código penal brasileiro, que são os crimes dolosos contra a vida.

Tanto a Constituição Federal (CF) quanto o Código de Processo Penal (CPP) abordam
essa instituição de maneira significativa, estabelecendo as bases para seu funcionamento e
garantindo sua relevância no sistema legal do país.

O Tribunal do Júri é reconhecido como um direito e garantia fundamental do cidadão,


respaldado pela Constituição Federal:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

XXXVIII - e reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei,
assegurados:

a) a plenitude de defesa;

b) o sigilo das votações;

c) a soberania dos veredictos;

d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida;

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Por estar inserido no rol de direitos e garantias fundamentais, o Tribunal do Júri é
considerado uma cláusula pétrea, o que implica que sua existência não pode ser abolida e o
conteúdo não podem ser modificado. Portanto, qualquer ação por parte do poder público com
esse propósito será considerada inconstitucional.

O Código de Processo Penal (CPP) brasileiro, em seus artigos 406 a 497, dispõe sobre
a composição, o funcionamento, a competência e outras disposições pertinentes ao tribunal do
júri. Essa regulamentação visa garantir a integridade dos processos de julgamento, bem como
a observância rigorosa dos princípios e regras que norteiam essa instituição.

Nesse contexto, encontra-se o Tribunal do Júri, como uma instituição “sui generis” no
ordenamento jurídico brasileiro, uma vez que, o julgamento nesse órgão não é da competência
de um juiz togado “juiz de direito ou juiz federal”, como é comum em outros ramos judiciais,
mas sim de um corpo de jurados composto por sete pessoas leigas que normalmente não
possuem formação ou conhecimento jurídico formal.

2.1 CONCEITO: O QUE É O TRIBUNAL DO JURÍ?

O Tribunal do Júri é uma instituição que faz parte do sistema judiciário de muitos países,
entre eles o Brasil, sua função principal é a apreciação e julgamento de casos relacionados a
crimes gravosos, o que torna esse órgão singular é que a análise e o julgamento são
conduzidos por membros comuns da sociedade, que não precisam necessariamente possuir
formação jurídica formal.

No contexto brasileiro, esse órgão é responsável por julgar “os crimes dolosos contra a
vida”, ou seja, refere-se aos crimes em que um indivíduo, intencionalmente tira a vida de
outro. São submetidos ao julgamento pelo tribunal do júri, os seguintes crimes: homicídio,
infanticídio, participação ou auxilio ao suicídio e aborto, tanto em suas formas consumadas
como nas tentadas, assim como, os crimes conexos a esse delitos.

De acordo com Walfrade Cunha Campos:

O Júri é um órgão especial do Poder Judiciário de primeira instância, pertencente à Justiça


comum, colegiado e heterogêneo – formado por um juiz togado, que é seu presidente, e por
25 cidadãos –, que tem competência mínima para julgar os crimes dolosos praticados contra
a vida, temporário (porque constituído para sessões periódicas, sendo depois dissolvido),

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dotado de soberania quanto às suas decisões, tomadas de maneira sigilosa e inspiradas pela
íntima convicção, sem fundamentação, de seus integrantes leigos. (Campos, 2018, p.2)

O tribunal do júri é uma instituição composta por dois elementos essenciais: um juiz
togado, isto é, um juiz de direito ou juiz federal devidamente treinado e capacitado para
conduzir o processo de forma imparcial, e um conselho de jurados composto por sete cidadãos
comuns da comunidade.

Esses cidadãos desempenham um papel crucial no sistema de justiça, uma vez que são
encarregados de analisar minuciosamente as provas apresentadas tanto pela defesa quanto
pela acusação. No final do processo, eles têm o poder de votar e assim determinar a
absolvição ou a condenação do réu.

Para Campos (2019) o Tribunal do Júri é um instrumento capaz de defender o cidadão


contra arbitrariedades do Estado, ao permitir que os acusados sejam julgados por seus pares.

Na obra “Arte, emoção e caos no Tribunal do Júri de Ariano Suassuna” a autora


descreve o tribunal do júri como um órgão que julga com base em emoções:

No Tribunal do Júri, julgam-se as emoções do acusado pelo crivo das emoções dos jurados
sorteados. Serão estes que, no espaço representacional do Júri, irão julgar segundo suas
consciências e convencimento, porque, dentro de si, alguma emoção foi sentida, seja para
inocentar ou para condenar o acusado. Para Nussbaum249 o ingrediente essencial (MELO,
2022, p. 79).

Por esse motivo a presente intuição é alvo de forte criticas, porque, ao contrário dos
procedimentos judiciais tradicionais, o Tribunal do Júri é composto por cidadãos que não têm
formação jurídica, cujas decisões muitas vezes se baseiam em sentimentos e emoções.

2.2 CONTEXTO HISTÓRICO: ORIGEM E EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO JÚRI NO


ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO.

Há um grande debate quando o assunto é a origem do Tribunal do Júri, uma vez que,
diferentes povos, em períodos distintos, adotaram esse sistema de justiça. Portanto, determinar

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com precisão qual civilização ou período histórico deu origem a esse sistema, é uma tarefa
árdua, devido a escassez de registro histórico que possam ser considerados seguros.

Segundo a citação de Carlos Maxiliano, conforme mencionado por Guilherme de


Souza Nucci, "as origens do instituto, vagas e indefinidas, remontam a tempos antigos e
distantes" (NUCCI, 2015, p.57).

Ao analisar a estrutura do Tribunal do Júri no contexto atual, muitos estudiosos


afirmam que sua origem está notoriamente associada à Inglaterra, especialmente à Magna
Carta de 1215. No entanto, é importante ressaltar que esse sistema de justiça já era conhecido
e aplicado em outros países, como Roma, Palestina e Grécia. Contudo, é inegável que a
influência inglesa desempenhou um papel fundamental na disseminação dessa instituição por
todo o continente europeu, assim como, ao redor do mundo

A origem e a evolução histórica do júri no sistema jurídico brasileiro têm suas raízes
firmemente estabelecidas no período colonial, quando o Brasil estava sob o domínio da Coroa
Portuguesa. Nessa época, a instituição do júri foi introduzida e desenvolvida no Brasil, o que
desempenhou um papel fundamental na configuração que o júri possui atualmente.

De acordo com Nucci (2015), a instituição do Júri foi oficializada no Brasil por meio
do Código de Processo Criminal de 1832, este código estabeleceu regras básicas para
implementação e organização do tribunal do júri no país, estabelecendo a participação dos
cidadãos com a atribuição de julgar crimes relacionados à imprensa, com o corpo de jurados
composto por 24 homens de conduta ilibada e representantes das tradições patriarcais do país,
as decisões proferidas pelo júri, somente poderia ser revistas, pelo príncipe regente

Em 1824, com a Constituição Império, o tribunal do juri passou a ter previsão


constitucional, com a competência de julgas causas criminais e civis, conforme as leis
determinava.

Nas perspetivas de Rangel (2019), após o fim do Brasil império e com a proclamação
da república, uma nova constituição foi promulgada em 1891, a qual, preservou a instituição
do Tribunal do Júri, incorporando-a ao âmbito dos direitos e garantias individuais.

Em 1937, devido ao governo autoritário da época, a instituição do júri não foi


mencionada no texto Constitucional, o que causava rumores, pois com o Estado Novo, era
necessário uma nova ordem jurídica penal e processual penal. Logo o Decreto-lei 167, de
1938, reconfigurou a figura do júri, instituindo um número de sete jurados e retirando a
soberania que a instituição possuía.

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Com a democratização em 1946, o tribunal do Júri foi novamente inserido no texto
constitucional e reinserido no capitulo de direitos e garantias individuais e mencionado os
princípios norteadores do tribunal do júri, que são eles: sigilo das votações, plenitude de
defesa, soberania dos veredictos e competência

Em 1967, durante o período militar o texto constitucional manteve a redação anterior


reafirmando a competência do instituto no julgamento dos crimes dolosos contra a vida, nada
foi mencionado sobre a o sigilo das votações, soberania e plenitude de defesa.

Com o restabelecimento da democracia, a Constituição Federal de 1988 reintegrou o


Júri no capítulo de direitos e garantias individuais, preservando os mesmos princípios da
Constituição de 1946. Nesse processo, também foram retomados os princípios fundamentais
que orientam o Tribunal do Júri, a saber: o sigilo das votações, a soberania dos veredictos, a
plenitude da defesa e a competência para julgar os crimes dolosos contra a vida.

Sendo assim, na conjuntura atual, o Tribunal do Júri é uma instituição especial do


Poder Judiciário, a ele compete os julgamentos dos crimes dolosos contra a vida e é composto
por um conselho de sentença com sete jurados leigos e uma juiz togado.

2.3 FUNÇÃO, COMPOSIÇÃO E FUNCIONAMENTO DO TRIBUNAL DO JÚRI

O Tribunal do Júri, um órgão do Poder Judiciário no Brasil, tem a responsabilidade


específica de julgar os crimes dolosos contra a vida. Esses critérios desempenham um papel
crucial na determinação da competência do júri para o julgamento.

O termo "dolo" está intimamente relacionado à intenção deliberada e consciente do autor


ao cometer um ato ilícito, seja por meio de ação ou omissão. Existem duas modalidades de
dolo: dolo direto e dolo eventual, este, ocorre quando o agente não tem a intenção direta de
cometer o ato ilegal, mas age de forma a assumir o risco de que ele ocorra, aquele ocorre
quando o agente deseja o resultado e age de maneira a causar o ato ilegal para obtê-lo.

Os crimes contra a vida estão previstos de forma taxativa no Código Penal, art. 121 º
prevê o homicídio que esta na conduta de eliminar a vida de outra pessoa; art. 122º
induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio, refere-se a influenciar, instigar ou auxiliar
alguém a cometer suicídio; art 123º infanticídio que é a ação da mãe sob a influência do

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estado puerperal, tirar a vida do próprio filho recém-nascido e art. 124º ao 128º que trata do
aborto nas suas mais diversas modalidades, condiz a conduta de interromper a gravidez.

Ao Tribunal do Júri também é atribuída a função de julgar não apenas os crimes contra
a vida, mas também, de forma atrativa, os crimes conexos. Esses são delitos que apresentam
alguma ligação, seja por de tempo, lugar, forma de execução ou relação entre os envolvidos.

Sendo assim, a função principal do Júri e julgar os crimes dolosos (dolo direto ou dolo
eventual) contra a vida (homicídio, induzimento, instigação ou auxilio ou auxílio ao suicídio,
infanticídio e aborto) em suas formas consumadas ou tentadas, assim como crimes a eles
conexos.

O Tribunal do Júri é composto por um juiz togado que preside a sessão, assegurando a
conformidade do processo com as leis e regulamentos. O juiz desempenha a função de
orientar o júri, tomar decisões relacionadas a questões legais e aplicar a legislação ao caso em
julgamento. Além disso, há 25 jurados, cidadãos comuns de boa índole e maiores de 18 anos,
sendo que, no decorrer do processo, sete deles serão sorteados para integrar o conselho de
sentença.

O conselho de sentença será responsável por analisar as provas e ouvir as partes, ao


final emitir veredictos, o numero de sete jurados é essencial para que não haja situação de
empate.

No júri há também a figura do Ministério Público órgão de acusação que atua em


representação do Estado; O advogado de defesa que atua em favor do acusado, as testemunhas
que são pessoas com informações relevantes sobre o crime, perito que serão responsáveis por
fornecer uma visão mais técnica para o entendimento de como ocorreu o crime e o escrivão
que registrar toda atividade relevantes produzidas no Tribunal do Júri.

Em relação ao funcionamento do Júri:

O julgamento no Tribunal do Júri brasileiro é um processo meticuloso e estruturado,


composto por diversas fases que visam garantir a justiça e a imparcialidade na tomada de
decisões. Essas fases, que compreendem desde a apresentação das provas até a deliberação
final, desempenham um papel essencial na determinação da culpa ou inocência do acusado.
(MENDES, 2023 p. 18)

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A instituição possui duas etapas, a primeira é a instrução preliminar e a segunda é o
julgamento no plenário, as duas etapas, são fundamentais para o funcionamento do Tribunal
do Júri e garantem que o processo seja justo e imparcial.

Sobre a primeira fase, Wanfredo Cunha Campos, leciona que:

A primeira fase, judicium accusationes (juízo ou formação da acusação), tem por finalidade
averiguar se existem provas sérias e coerentes, produzidas em juízo, de ter o réu praticado
um fato típico, ilícito, culpável e punível, para autorizar seu julgamento pelo Tribunal
Popular. Tal etapa procedimental é prevista nos arts. 406-421 do CPP e tem cunho
preparatório-seletivo, de joeirar as causas que devem ou não ser remetidas ao Júri, através
da análise crítica da prova. ( CAMPOS, 2018, p.52)

Consiste então em produzir provas, afim de analisar se houve a ocorrência de um crime


doloso contra a vida, nessa fase há a possibilidade de: pronuncia, impronuncia ou absolvição
sumaria.

Pronuncia quando o juiz, após analisar as evidências apresentadas durante a fase


preliminar do processo, considera que existem indícios suficientes de que o réu cometeu o
crime e que ele deve ser levado a julgamento pelo Tribunal do Júri

Impronuncia quando quando o juiz, após examinar as evidências, conclui que não há
indícios suficientes para levar o réu a julgamento perante o Tribunal do Júri.

Absolvição sumária ocorre quando o juiz, durante o julgamento, conclui que não há
provas suficientes para sustentar a acusação contra o réu, e que, portanto, não é necessário que
o júri continue o julgamento.

Somente após a pronuncia, dar-se-a inicio á segunda fase:

A segunda fase, judicium causae (juízo da causa), se desenrola após admitida a acusação na
etapa inicial, quando se julgará a causa, em uma sessão única de instrução, debates e
julgamento, realizado este último pelos jurados. É prevista nos arts. 422-424 e 453-497 do
CPP e progride, desde a intimação do órgão do Ministério Público ou do querelante, no caso
de queixa, e do defensor, para apresentarem rol de testemunhas, juntarem documentos e
requererem diligências, até o julgamento em plenário. Importante notar que deixou de
existir, em razão da Lei 11.689, de 9 de junho de 2008, que modificou o rito do Júri, as

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peças processuais denominadas libelo e contrariedade ao libelo, que eram apresentadas,
respectivamente, pela acusação e pela defesa.

Ao final de toda a segunda fase, o juiz é obrigado a proferir o veredicto, anunciando o


resultado final do julgamento e decidindo sobre a culpa ou inocência do réu, bem como,
quando for o caso, determinando a aplicação da pena.

Conforme Campos (2018), tanto a fase de instrução como a fase de julgamento no


Tribunal do Júri seguem um processo que envolve solicitações das partes, apresentação de
provas e argumentações, bem como a tomada de decisão. Entre essas etapas, existe uma fase
intermediária, de natureza administrativa, na qual o juiz realiza procedimentos
organizacionais para garantir que o julgamento ocorra de maneira eficiente. Detalhes sobre
essa fase administrativa serão explicados após uma análise completa do procedimento, a fim
de facilitar o entendimento de como o Tribunal do Júri opera

Embora seja um tribunal de única instância, é importante destacar que as decisões do


Tribunal do Júri podem ser objeto de recurso. A sentença proferida pelo júri pode ser apelada,
desde que haja fundamentos legais para tal. Em circunstâncias excepcionais, um julgamento
pode ser anulado e submetido a um novo júri.

2.4 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS NORTEADORES DO TRIBUNAL DO JÚRI

Constituição Federal de 1988 não apenas reconhece a existência do Tribunal do Júri,


mas também estabelece e assegura os princípios que orientam a atuação desse órgão judiciário
de caráter popular.

Os princípios por sua vez, indicam uma direção, um valor, um fim e em caso de colisão
entre os diversos sentidos seguidos pelos mesmos, não haverá a prevalência de um sobre o
outro, cabendo ao intérprete proceder à ponderação dos princípios, considerando a
dimensão de peso que assumem em situação específica, sendo portanto, considerados como
mandados de otimização. (Siebra, 2020, p. 38)

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Em seu artigo 5º , paragrafo XXXVIII, estão assegurados: a plenitude de defesa, sigilo
das votações, soberania dos veredictos e competência para julgar os crimes dolosos contra a
vida.

1. Plenitude de defesa: o acusado deve ter plenitude para utilizar meios de se defender, não
restringir-se apenas a uma defesa técnica, nesse principio também engloba o contraditório e
ampla defesa.

2. Sigilo das votações: falasse do sigilo da votação em si e da incomunicabilidade dos jurados,


ambos, visam proteger a integridade do julgamento de influências externas.

3. Soberania dos veredictos: estitui que a decisão dos jurados é soberana e não pode ser
mudada por tribunais compostos por juízes togados, só sendo possível revisão por outro
conselho de sentença

4. Competência para julgar os crimes dolosos contra a vida: ao júri compete julgar os crimes
dolosos contra a vida que são eles: homicídio, infanticídio, instigação e auxilio ao suicídio e
aborto, assim como os crimes conexos a eles.

2.4.1 Plenitude de defesa

Nos processos penais em geral, é assegurado ao réu o contraditório e ampla defesa,


para que ele possa se defender do fato que lhe foi imputado, visando proteger um bem jurídico
valioso que é a liberdade do individuo.

No tribunal do júri no entanto, é assegurado ao acusado a plenitude de defesa, para


que o defensor não fique atrelado apenas a uma argumentação técnica e jurídica, uma vez que
o julgamento pelo júri é conduzido por cidadãos leigos, que podem não ter um profundo
entendimento das complexidades legais.

Por se tratar de uma instituição especial do sistema jurídico brasileiro, faz-se necessário
regras e procedimentos específicos, por isso, é garantido ao réu uma defesa plena, na qual o
seu defensor poderá apresentar de argumentos emocionais e apelos à compaixão dos jurado,
apelando para sua empatia e compreensão dos aspectos humanos dos jurados.

De acordo com Walfredo Cunha Campos

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Esse princípio demonstra a intenção do legislador constitucional de privilegiar o Júri como
garantia individual (de ser julgado o cidadão por esse tribunal), uma vez que se preocupa,
excepcionalmente, com a qualidade do trabalho do defensor do acusado, a ponto de erigir
em princípio a boa qualidade da defesa dos autores de crimes que serão julgados pelo
Tribunal Popular. (Campos, 2018, p. 7)

A de se ponderar que o réu precisa dessa maior proteção, para que ele possa se defender
de amplamente dos fatos que foram a ele imputados, uma vez que, o que esta em risco é a
liberdade do réu e ao tribunal popular é assegurado a votação sigilosa, na qual os jurados não
precisam fundamentar suas decisões.

Ezilda Melo, na obra, Arte, Emoção e Caos no Tribunal do Júri de Ariano Suassuna:

Espetáculos! Verdadeiros espetáculos: com posturas, gestos, silêncios, vozes, lágrimas,


vestes, cenários, e o talento dos atores em cena para reconfiguração de cada caso concreto.
Longe de depreciar, com essa visão, o instituto do Tribunal do Júri, quer-se analisar como é
um exemplo concreto da influência do discurso na resolução de situações jurídicas
analiticamente resolvidas pelo crivo do caos, do senso comum e das emoções que, para
Bauman96, falam línguas diferentes contrariamente à razão que é uma só e tem apenas uma
língua ou forma de se expressar. Na pós-modernidade (MELO, 2022, p. 39)

Sendo assim, o Tribunal do Júri, e uma instituição singular, no qual o julgamento é


feito conforme o despertar do lado emocional dos julgadores, em substituição à apreciação
técnica realizada por juízes togados.

2.4.2 Sigilo da votações

Aos jurados é assegurado o sigilo das votações, sendo disponibilizada uma sala
especial para que os jurados possam votar sem interferência ou pressão externa, tendo assim ,
maior liberdade para proferir seus veredictos.

Nas palavras de Guilherme de Souza Nucci:

Não se pode imaginar um julgamento tranquilo, longe de qualquer pressão, feito à vista do
público, no plenário do júri. Note-se que as pessoas presentes costumam manifestar-se
durante a sessão, ao menor sinal de um argumento mais incisivo feito pela acusação ou
pela defesa. Ainda que o juiz exerça o poder de polícia na sala e possa determinar a retirada

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de alguém espalhafatoso de plenário, é certo que, durante a votação, essa interferência teria
consequências desastrosas. (NUCCI, 2015.p.41)

Contudo, o objeto é sigiloso é a votação, não o voto em si, as partes e a população têm
acesso à quantidade de “sim” e “não” que foram depositados na urna, o conteúdo sigiloso é
qual jurado votou no sim e qual votou no não.

O sigilo das votações é um pilar que visa proteger a independência dos jurados. Ao garantir
que as votações sejam realizadas em segredo, evita-se pressões externas ou influências que
possam afetar as decisões dos jurados. Isso permite que os jurados expressem suas opiniões
sinceramente, sem temer represálias ou julgamentos da sociedade. (MENDES, 2023, p.9)

Existe um princípio intimamente relacionado ao sigilo das votações, que é a


incomunicabilidade dos jurados que consiste na falta de expressão verbal entre os jurados no
momento do julgamento. Este princípio está previsto no artigo 466 do Código de Processo
Penal:

Art. 466. [...] § 1º O juiz presidente também advertirá os jurados de que, uma vez sorteados,
não poderão comunicar-se entre si e com outrem, nem manifestar sua opinião sobre o
processo, sob pena de exclusão do Conselho e multa, na forma do § 2o do art. 436 deste
Código. § 2º A incomunicabilidade será certificada nos autos pelo oficial de justiça.

Sendo assim, fica evidente que há um interesse público em preservar a integridade das
votações e proteger a formação de opinião dos jurados de forma á evitar que esta sofra
influências externas.

2.4.3 Soberania dos veretictos

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Veredicto é a decisão proferido pelo conjunto de jurados, o principio da soberania dos
veredictos garantes que essa decisão não seja modificado, em seu mérito, por tribunais
composto por juízes togados, seja a modificação feita para absolver ou condenar o réu.

Conforme Walfredo Cunha Campos:

A decisão coletiva dos jurados, chamada de veredicto, não pode ser mudada em seu mérito
por um tribunal formado por juízes técnicos (nem pelo órgão de cúpula do Poder Judiciário,
o Supremo Tribunal Federal), mas apenas por outro Conselho de Sentença, quando o
primeiro julgamento for manifestamente contrário às provas dos autos. E assim deve ser.
Júri de verdade é aquele soberano, com poder de decidir sobre o destino do réu, sem
censuras técnicas dos doutos do tribunal. (Campos, 2018, p. 8)

Na mesma linha de raciocínio, Natanael de Souza Mendes:

A soberania dos veredictos impede que a decisão dos jurados seja revista, a menos que haja
circunstâncias excepcionais. A incomunicabilidade dos jurados, por sua vez, visa evitar
influências externas durante o período de deliberação, contribuindo para decisões
independentes. (MENDES, 2023, p.33)

Sendo assim, os veredictos proferidos pelo tribunal do júri, não poderão ser revisado por
outros órgãos, nem mesmo por tribunais superiores. Há a possibilidade, nos caso em que os
jurados decidam contrariamente as provas apresentadas nos autos, em caso de apelação, a
decisão pode ser caçada e que os autos sejam remetidos para novo julgamento feito por
conselho de sentença.

2.4.4 Competência para julgar os crimes dolosos contra a vida

Conforme Hunt apud Melo, “o crime contra a vida é o crime mais contrário à própria
existência; é a antítese à ideia de direitos humanos”

Crimes contra a vida são considerados os mais chocantes na sociedade, uma vez que
envolvem a perda de uma vida humana. Por essa razão, a justiça busca ser mais equitativa ao

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permitir que os autores desses crimes sejam julgados por seus pares, como estabelecido no
sistema do Tribunal do Júri.

Esse sistema é baseado no princípio de representação popular na administração da


justiça, no qual os cidadãos comuns desempenham um papel fundamental no processo de
julgamento, refletindo a ideia de que a comunidade deve participar ativamente na
determinação da culpa ou inocência em casos tão graves como os crimes contra a vida.

Como Sylvio Motta e William Douglas falam:

Vale acrescentar que o texto constitucional não proíbe que uma alteração da legislação
ordinária transfira outros delitos para o Tribunal Popular, o que seria interessante, como nos
casos de crimes políticos, corrupção, economia popular, etc. O que o dispositivo proíbe é
retirar do júri o julgamento dos crimes dolosos contra a vida (MOTTA FILHO;
DOUGLAS, 2003, p. 88).

Sendo assim, foi constitucionalmente instituído ao tribunal do júri a competência para julgar
os crimes contra a vida, e esta, não pode ser suprimida, no entanto, não proíbe que uma lei
ordinária atribua ao júri, competência para julgar outros crimes.

2.5 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO PROCESSO PENAL

São numerosos os princípios constitucionais que orientam o processo penal. No


Tribunal do Júri, além de observar os princípios inerentes ao próprio órgão, também se
submete a princípios que guiam o processo penal como um todo.

Devido processo legal é o principio que visa garantir a não apenas a igualdade, mas
também, a equidade no processo penal, assegurando que todas as partes envolvidas em um
processo legal sejam tratadas de maneira justa e de acordo com as leis estabelecidas

Neste sentido:

O devido processo legal em sentido formal ou processual sem seu conteúdo inclui certas
garantias processuais que são conferidas às partes tanto no aspecto processual quanto em

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sua relação com o judiciário. Os arguidos têm a garantia de serem processados de forma
juridicamente previsível e reconhecidos como viáveis e constitucionais no processo penal.
(LAGE, 2023, p. 25)

Derivando do devido processo legal, há o direito de presunça de inocência que é um


principio que garante que o réu não seja considerado culpado antes de uma sentença
condenatória transitada em julgado, ou seja, o réu deve ser considerado inocente ate que as
provas apresentadas provem o contrario, as provas apresentadas devem ser conveniente a
´ponto de não restar duvidas que o foi o réu quem cometeu o crime

A presunção de inocência é outro princípio que desempenha um papel vital no Tribunal do


Júri. Antes de ser considerado culpado, o acusado é presumido inocente. Essa presunção
coloca o ônus da prova sobre a acusação, que deve demonstrar a culpabilidade além de
qualquer dúvida razoável. Essa salvaguarda visa proteger os direitos do acusado e garantir
que nenhum indivíduo seja considerado culpado sem uma base sólida de evidências.
(MENDES, p 8-9)

Neste sentido, atrela-se o principio “in dubio pro reo”, que com o intuito de evitar a
condenação de um inocente, diz que, em caso de duvidas, deve-se favorecer o réu, determina
que em caso de duvida razoável o réu não deve ser condenado, e a presunção de inocência
deve ser mantida.

De acorodo com o CPP em seu art 386:

Art. 386. O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na parte dispositiva, desde que
reconheça [...]

VIII – Não existir prova suficiente para a condenação”.

Contraditorio e ampla defesa, Tem fundamentação legal no artigo 5º, inciso LV


CRFB/88, esse principio já esta implicitamente contido no princípio da plenitude de defesa,
ele garante ao acusado o direito de se defender de forma plena e completa dos fatos que estão
sendo imputados a ele, sendo assim:

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A palavra ampla é conceituada como enorme, abrangente, abundante. Portanto, pode-se
afirmar que a ampla defesa assegura aos réus o acesso a todas as formas de proteção
disponíveis, permitindo-lhes utilizar os meios e recursos legais para evitar qualquer tipo de
restrição. (LAGE, p. 15)

Imparcialidade busca assegurar que os jurados e demais participantes do julgamento


sejam imparciais e não tenham preconceitos em relação ao réu, assegurando assim que
julgamento seja justo e imparcial. Em favor desse principio são estabelecidas medidas como a
designação de uma sala especial para a votação e a incomunicabilidade dos jurados na hora do
julgamento. Essas medidas são essenciais para garantir que o veredicto do júri seja baseado
unicamente nas evidências e na aplicação da lei ao caso, sem a influência de preconceitos,
pressões externas ou discussões paralelas.

O princípio da imparcialidade é a pedra angular do Tribunal do Júri. Cada jurado é


selecionado com base em sua capacidade de julgar o caso de forma justa, livre de
preconceitos e influências externas. Essa imparcialidade é crucial para assegurar que o
acusado receba um julgamento justo, no qual suas ações são avaliadas objetivamente, e não
com base em suposições ou estereótipos.( MENDES, 2023, p 8)

O Princípio da Oralidade no Tribunal do Júri destaca a importância de que grande parte


das provas e dos argumentos seja apresentada de forma verbal durante as audiências. Esse
princípio promove a prática de que as informações, depoimentos de testemunhas e alegações
das partes sejam comunicados de maneira falada, permitindo que todos os envolvidos,
incluindo as partes, o júri e o juiz, ouçam diretamente o que está sendo dito, esse principio
contribui para um julgamento mais dinâmico e interativo, no qual as informações são
transmitidas de forma verbal, permitindo que as partes exerçam seus direitos, as testemunhas
sejam ouvidas de maneira direta e o júri e o juiz possam tomar decisões embasadas em
informações claras e transparentes.

Dessa forma, os princípios que guiam o processo penal desempenham um papel de


extrema importância na aplicação da lei penal no país. O objetivo fundamental desses
princípios é garantir os direitos do acusado e assegurar um julgamento imparcial e equitativo.
Isso é válido também para o Tribunal do Júri, que, embora seja um órgão especial no sistema

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jurídico brasileiro, é regido por princípios e normas destinados a preservar os direitos
fundamentais do indivíduo

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REFERENCIAS:

-SILVA,Rodrigo; AVELAR, Daniel. Manual do Tribunal do Júri. São Paulo (SP): Editora
Revista do Tribunais. 2021. Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/doutrina/manual-
do-tribunal-do-juri/1233936857

-NUCCI, Guilherme de Souza. Tribunal do Júri. 6. ed. Rio de Janeiro: Forence, 2015.

-CAMPOS, Walfredo C. Tribunal do Júri - Teoria e Prática, 6ª edição. 2018.

-RANGEL, Paulo. Tribunal do Júri - Visão Linguística, Histórica, Social e Jurídica, 6ª


edição., 2018.

-SIEBRA, Edgar F. Tribunal do Júri - Uma Analise Crítica às Decisões Proferidas pelo
Conselho de Sentença - 2020

-MELO, Ezilda Arte, emoção e caos no Tribunal do Júri de Ariano Suassuna/ Ezilda
Melo. -- 1. ed. -- João Pessoa, PB: Editora Porta, 2022.

-LAGE, André - Tribunal do Júri: o que você não pode esquecer. André Lage - 1.ed. —
São Paulo (SP) : SGuerra Design, 2023.

-TAVARES, Quintino. TRIBUNAL DO JÚRI: manual de consulta rápida. / Quintino


Tavares. – Rio de Janeiro: Quentin T., 2016. (2ª Edição Revista e Atualizada)

-MOTTA FILHO, Sylvio Clemente da; DOUGLAS, William. Direito constitucional. 12. ed.
Rio de Janeiro: Impetus, 2003.

Bonfim, Edilson M. No tribunal do júri. Disponível em: Minha Biblioteca, (6th edição).
Editora Saraiva, 2018.

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