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TRIBUNAL DO JÚRI 1
RESUMO
1
Artigo extraído do Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para
obtenção do grau de Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais da Faculdade de Direito da Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul, aprovado, com grau máximo, pela banca examinadora,
composta pelos professores Vitor Antônio Guazzelli Peruchin (orientador), Marcelo Caetano
Guazzelli Peruchin e Marcus Vinicius Boschi, em 10 de junho de 2011.
2
Acadêmica de Ciências Jurídicas e Sociais da Faculdade de Direito da Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul. E-mail: bru_bru84@hotmail.com
INTRODUÇÃO
3
LOPES FILHO, Mário Rocha. O tribunal do júri e algumas variáveis potenciais de influência.
Porto Alegre: Núria Fabris, 2008. p. 15.
4
NUCCI, Guilherme de Souza. Júri: princípios constitucionais. São Paulo: Juarez de Oliveira, 1999.
p. 36.
5
GIACOMOLLI, Nereu José. Reformas (?) Do Processo Penal: Considerações Críticas. Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 2008. p. 95.
Os jurados são pessoas do povo que não precisam conhecer o sistema penal
brasileiro, nem seu ordenamento jurídico para que possam julgar seus semelhantes
pelo cometimento de crime doloso contra a vida.
Cumpre salientar que a função dos jurados é decidir e votar sobre matéria de
fato. Votado os quesitos, decidida a matéria fática, o Juiz de Direito, Presidente do
Tribunal do Júri, aplica o direito ao caso concreto. Nas palavras de Flávio Prates e
Neusa Felipim dos Anjos Tavares:
6
MARREY, Adriano et al. Teoria e Prática do Júri. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997. p. 107.
7
PRATES, Flávio Cruz; TAVARES, Neusa Felipim dos Anjos. A influência da mídia nas decisões do
conselho de sentença. Direito & Justiça, Porto Alegre, v. 34, n. 2, p. 34, jul./dez. 2008. Disponível
em: <http://verum.pucrs.br/F/JSQ4PEMN6HVE7KCYJHB8GS8FUR81FEN1HCNXX41GKETDVK5L4B-
37826?func=full-set-set&set_number=004325&set_entry=000002&format=999>. Acesso em: 25 mar.
2011.
Sendo a instituição do Júri composta por julgadores do povo, que possuem
opiniões pré-definidas, em regra incutidas pela mídia, e inúmeros preconceitos e
que, ainda, na maioria das vezes, não possuem conhecimento técnico, é possível
afirmar que ao longo do julgamento, tais questões podem influenciar na decisão do
jurado, ferindo o princípio da presunção de inocência, que é uma das garantias
constitucionais balizadoras do direito penal brasileiro e deveria ser respeitado
durante os julgamentos feitos pelo Tribunal do Júri.
Foi recepcionado pela Magna Carta de 1988, pois é com ela que o Brasil se
torna um Estado Democrático de Direito e, nas palavras de Maria Elisabeth Queijo:
8
FERREIRA, Michelle Kalil. O Princípio da Presunção de Inocência e a Exploração Midiática.
Revista Jurídica do Ministério Público do Estado de Minas Gerais, Belo Horizonte, n. 9, p. 150-
181, jul./dez. 2007. p. 165. Disponível em: <http://bdjur.stj.jus.br/dspace/handle/2011/27368>.
Acesso em: 22 fev. 2011.
proteção aos princípios de Direito Penal e Processo Penal, em dado
ordenamento jurídico, é um importante termômetro de quanto se está mais
próximo ou mais distante de um regime democrático ou ditatorial.
Nas ditaduras verifica-se, inexoravelmente, a supressão ou redução
substancial de direitos e garantias na esfera penal e processual penal.
Em contrapartida, é no Estado Democrático que os princípios de Direito
Penal e o Processo Penal encontram maior proteção.
O Estado Democrático nasceu da luta contra o absolutismo e seus
princípios advêm de três movimentos: a Revolução Inglesa; a Revolução
Americana e a Revolução Francesa. Desses três movimentos advieram
declarações de direitos, que prestigiaram, entre outros, direitos e garantias
9
penais e processuais penais.
2 MÍDIA
9
QUEIJO, Maria Elizabeth. Princípios constitucionais no direito penal: ensaios penais em
homenagem ao Professor Alberto Rufino Rodrigues de Sousa. Porto Alegre: Ricardo Lenz ,
2003. p. 590.
10
GOMES, André Luís Callegaro Nunes. Presunção de inocência ou de não-culpabilidade. Não ser
considerado culpado é o mesmo que ser presumido inocente? Jus Navigandi, Teresina, ano 13, n.
1791, 27 maio 2008. Disponível em: <http://jus.uol.com.br/revista/texto/11310>. Acesso em: 3 mar.
2011.
11
MORAES, Alexandre de. Constituição do Brasil interpretada e legislação infraconstitucional.
São Paulo: Atlas, 2003. p. 386.
2.1 LIBERDADE DE IMPRENSA
Surgiu na França, em 1789, com a Declaração dos Direitos do Homem e do
Cidadão e posteriormente foi prevista na declaração Universal dos Direitos do
Homem, em 1948.
A luta pela liberdade de imprensa tem já alguns séculos e sua origem está
na própria luta pela liberdade literária constrangida pela Igreja. Com o
aparecimento dos primeiros jornais periódicos, no final do século XVI, a luta
toma nova dimensão em escala social. Este processo chega a dois
momentos marcantes; a Independência dos Estados Unidos, em 1776
(quando a liberdade de imprensa passa a ser entendida como suporte da
própria liberdade social), e a Revolução Francesa, que, a partir de 1789,
proclamou também a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão,
dispondo que a liberdade de exprimir idéias e opiniões era um dos direitos
mais preciosos da humanidade. 12
12
KARAM, Francisco José. Jornalismo, ética e liberdade. São Paulo: Summus, 1997. p. 16-17.
13
CARLIN, Volnei Ivo. A justiça e a mídia. Revista do Instituto de Pesquisas e Estudos, Bauru, n.
23, p. 23-29, ago./nov. 1998. Disponível em: <http://bdjur.stj.gov.br/xmlui/bitstream/handle/
2011/20177/A%20justi%C3%A7a%20e%20a%20m%C3%ADdia.pdf?sequence=1>. Acesso em: 7
mar. 2011. p. 23.
Sobre a finalidade da liberdade de imprensa, Flávio Prates e Neusa Felipim
dos Anjos Tavares se manifestam dizendo que:
Ocorre que, a liberdade de imprensa não pode ser tida como absoluta,
sofrendo restrições, nos termos do parágrafo 1º do artigo 220 da CF/88. Sendo
assim, as restrições à liberdade de imprensa dizem respeito à honra, à imagem, à
intimidade e à vida privada. Bem como, dentro do processo penal, ao princípio da
presunção da inocência.
14
PRATES; TAVARES, 2008, p. 35.
15
MELLO, Carla Gomes de. Mídia e Crime: Liberdade de Informação Jornalística e Presunção de
Inocência. Revista de Direito Público, Londrina, v. 5, n. 2, ago. 2010. Disponível em:
<http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/direitopub/ article/view/7381/6511>. Acesso em: 13 dez.
2010. p. 109.
16
MORAES, 2003, p. 2009.
Nos dizeres de Maurício Jorge D’ Augustin Cruz:
17
CRUZ, Maurício Jorge D’Augustin. O caso da escola infantil da base: liberdade de imprensa e
presunção de inocência. Porto Alegre: PUCRS, 2003. Dissertação (Mestrado em Ciências
Criminais), Faculdade de Direito, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 2003. p.
106.
18
MELLO, 2010, p. 119.
forma, importantíssima no exercício do direito à informação. Assim, os indivíduos se
utilizam dos meios de comunicação para que possam se manter informados e para
que consigam se comunicar, dentro de seus ambientes sociais, sobre os
acontecimentos ocorridos no mundo.
19
TEIXEIRA, Sálvio de Figueiredo. A imprensa e o judiciário. Revista do Instituto de Pesquisas e
Estudos, Bauru, n. 15, ago./nov. 1996. Disponível em: <http://bdjur.stj.gov.br/xmlui/
bitstream/handle/2011/20397/imprensa_judiciario.pdf?sequence=3>. Acesso em: 20 mar. 2011.
p. 15.
20
SCHIFINO, Ana Paula Albrecht. Comunicação e poder: uma leitura semiológica da
campanha institucional RBS “O amor é a melhor herança. Cuide das crianças”. Porto
Alegre: PUCRS, 2009. Dissertação (Mestrado em Comunicação Social), Faculdade de
Comunicação Social, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 2009. Disponível
em: <http://tede.pucrs.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=2189>. Acesso em: 20 mar.
2011. p. 14.
cometendo excessos e estabelecendo a suposta verdade do caso. Ainda, a mídia
elege os assuntos que, condizendo com o seu interesse, são considerados
importantes e terão grande divulgação.
Agindo dessa maneira, a imprensa está tratando a notícia como meio para
obtenção de lucros, não se preocupando com a veracidade e fidedignidade das
informações. O que mais importa é que determinado meio de comunicação seja o
único a publicar determinado evento, que este tenha grande propagação no cenário
nacional e até mundial e que os espectadores se interessem por ele. Para que isto
ocorra, buscam-se inúmeros artifícios como a dor sentimental, o sofrimento físico, a
emoção, a comoção, o espetáculo, a tragédia, etc, tudo no intuito de que o
recebedor da notícia seja influenciado por ela e sequer analise a veracidade de seu
conteúdo.
22
Cumpre salientar que no Brasil a taxa de analfabetismo é elevada , bem
como existem baixos índices educacionais e culturais. Em recente publicação, o
Ministério da Cultura divulgou que o índice de leitura em nosso país é de 4,7 livros
por ano, o que demonstra que ainda vivemos em uma pátria de poucos leitores e a
leitura é o meio através do qual se desenvolve o conhecimento e o senso crítico
para análise das informações que nos são prestadas.
O conhecimento pode ser encontrado através da leitura e esta, por sua vez,
possibilita formar uma sociedade consciente de seus direitos e de seus
deveres; possibilita que estes tenham uma visão melhor do mundo e de si
21
MELLO, 2010, p. 111.
22
Segundo INAF Brasil (Indicador de Analfabetismo Funcional), com base em pesquisa realizada no
ano de 2009 com pessoas de 15 a 64 anos, 7% da população é totalmente analfabeta, 68% da
população é analfabeta funcional (21% analfabeto funcional rudimentar e 47% é analfabeto
funcional básico) e 25% da população é alfabetizada (INSTITUTO BRASILEIRO DE OPINIÃO
PÚBLICA E ESTATÍSTICA (IBOPE). Indicador de Analfabetismo Funcional. Brasil, [2009].
Disponível em: <http://www.ibope.com.br/ipm/relatorios/relatorio_inaf_2009.pdf>. Acesso em: 10
mar. 2011.
23
mesmos.
23
SOUZA, Leila. A importância da leitura para a formação de uma sociedade consciente. [S.d.].
Disponível em: <http://dici.ibict.br/archive/00001095/01/aimportanciadaleitura.pdf>. Acesso em: 11
mar. 2011.
24
FERRÉS, Joan. Televisão e educação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996. p. 79.
25
Ibid., p. 79.
Sabe-se, que a aquisição do conhecimento e a formação crítica de leitores
não se dá pela leitura única de um veículo, mas justamente pela
comparação entre eles. É exatamente pelo acesso ao contraditório, à
percepção e ao reconhecimento de diferentes visões e interpretações de um
mesmo fato, pela polifonia das vozes, que é possível efetuar uma leitura do
mundo que vá além da leitura das palavras. 26
26
CALDAS, Graça. Mídia, escola e leitura crítica do mundo. Educação Social, Campinas, v. 27, n.
94, p. 117-130, jan./abr. 2006. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/es/v27n94/a06v27n94.pdf>.
Acesso em: 7 mar. 2011. p. 126-127.
27
MELLO, 2010, p. 113.
28
LOPES FILHO, 2008, p. 81.
Utilizando-se do interesse da população pelos crimes, a mídia escolhe, dentro
os inúmeros delitos que são praticados diariamente, os que mais irão impressionar e
chocar a população, pois atitudes cruéis e más estão dentre as notícias mais
rentáveis e possibilitam a manipulação da sociedade para o fortalecimento do direito
penal, para a seleção dos criminosos e para ocultação de inúmeros outros
problemas sociais.
Flávio Prates e Neusa Felipim dos Anjos Tavares citaram outro exemplo que
teve forte divulgação midiática, que foi o caso Reichtofen, in verbis::
30
MELLO, 2010, p. 118.
31
PRATES; TAVARES, 2008, p. 37.
32
BUDÓ, Marília Denardin. Mídia e crime: a contribuição do jornalismo para a legitimação do sistema
penal. UNIrevista, Florianópolis, v. 1, n.3, 2006. Disponível em:
<http://www.unirevista.unisinos.br/_pdf/UNIrev_Budo.PDF>. Acesso em: 10 set. 2010. p. 10.
que eles se vejam em todas as manchetes de telejornais, revistas e jornais.
A mídia, assim, vai produzindo celebridades para poder realimentar-se
delas a cada instante, ignorando a sua intimidade e privacidade. 33
[...] É valiosa a pretensão de que o réu seja julgado por seus pares, como
garantia da justiça, mas nem sempre, ou até mesmo poucas vezes, estes
“pares” terão o equilíbrio e o discernimento para filtrar o que foi
reiteradamente incutido em seus pensamentos antes do julgamento do
processo que irão decidir. Dificilmente um jurado consegue manter-se isento
diante da pressão da mídia e do prévio julgamento “extrajudicial” transmitido
diariamente para suas casas. 38
37
MELLO, 2010, p. 118.
38
PRATES; TAVARES, 2008, p. 38.
39
pública, etc.
39
LOPES FILHO, 2010, p. 36
40
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. Coimbra:
Almedina, 2003. p. 393.
41
Ibid., p. 396.
42
CRUZ, 2003, p. 146.
condenem publicamente, está-se ferindo diretamente o princípio da presunção de
inocência, que deve ser preservado, podendo somente ser quebrado, no âmbito
processual, com a observância do devido processo legal.
43
MELLO, 2010, p. 119.
44
Ibid., p. 119.
45
CRUZ, 2003, p. 146.
46
Ibid., p .152.
47
SCHÄFER, Jairo Gilberto; DECARLI, Nairane. A colisão dos direitos à honra, à intimidade, à vida
privada e à imagem versus a liberdade de expressão. Prisma Jurídico, São Paulo, v. 6, 2007. p.
131.
forma proporcional e adequada, frente ao princípio da presunção de inocência, uma
vez que não é razoável que a liberdade de imprensa prevaleça em detrimento de
direitos e garantias fundamentais do indivíduo.
48
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Censo 2010. 2010.
Disponível em: <http://www.censo2010.ibge.gov.br/dados_divulgados/index.php?uf=43>. Acesso
em: 25 mar. 2011.
em 14 de fevereiro de 2011.
4 RESULTADOS
Frequência Frequência
Opinião
absoluta (n) relativa (%)
Sim, é possível 6 28,6
Não é possível 5 23,8
É possível em partes 10 47,6
Frequência Frequência
Opinião
absoluta (n) relativa (%)
Influenciam 7 33,3
Não influenciam 9 42,9
Influenciam em partes 5 23,8
Frequência Frequência
Opinião
absoluta (n) relativa (%)
As provas produzidas 7 33,3
nos autos do processo
As informações produzidas 0 0,0
pela mídia
Ambas concorrem para 14 66,7
o resultado final
CONCLUSÃO
49
LOPES FILHO, 2008, p. 127.
originando a condenação antecipada do suspeito acusado sem que haja o trânsito
em julgado da sentença condenatória.
REFERÊNCIAS
GOMES, Luiz Flávio. Casal Nardoni: inocente ou culpado? (parte 1). Disponível
em: <http://www.lfg.com.br/public_html/article.php?story=20100315111040784>.
Acesso em: 20 mar. 2011.
KARAM, Francisco José. Jornalismo, ética e liberdade. São Paulo: Summus, 1997.
MARREY, Adriano et al. Teoria e Prática do Júri. São Paulo: Revista dos Tribunais,
1997.
PRATES, Flávio Cruz; TAVARES, Neusa Felipim dos Anjos. A influência da mídia
nas decisões do conselho de sentença. Direito & Justiça, Porto Alegre, v. 34, n. 2,
p. 34, jul./dez. 2008. Disponível em: <http://verum.pucrs.br/F/
JSQ4PEMN6HVE7KCYJHB8GS8FUR81FEN1HCNXX41GKETDVK5L4B-
37826?func=full-set-set&set_number=004325&set_entry=000002&format=999>.
Acesso em: 25 mar. 2011.