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RODRIGO COELHO DO

12/03/2020 14:07
Conferência em www.tce.es.gov.br

Assinado por
Identificador: 3CF75-757FF-494D7

ACÓRDÃO 00127/2020 – PLENÁRIO

CARMO
ANASTACIO DA SILVA
11/03/2020 14:49
Acórdão 00127/2020-8 - Plenário

LUIS HENRIQUE
Assinado por
Processo: 06887/2013-2
Classificação: Tomada de Contas Especial Convertida
Exercício: 2012

10/03/2020 13:43
MARCIA JACCOUD
UG: PML - Prefeitura Municipal de Linhares

Assinado por
Relator: Sebastião Carlos Ranna de Macedo

FREITAS
Interessado: PREFEITURA LINHARES
Responsável: JOAO CLEBER BIANCHI, SONIA MARIA DALMOLIM DE SOUZA, GUERINO
LUIZ ZANON, IVAN SALVADOR FILHO, JUSSARA CARVALHO DE OLIVEIRA, THIAGO

DOMINGOS AUGUSTO

09/03/2020 10:00
BRUNELI PESSOA, THIAGO MONTEIRO BONATTO, GERALDO TADEU SCARAMUSSA DA
SILVA, JOSE CARLOS ELIAS, JONES DA SILVA DE FREITAS MATTOS, BRUNO

Assinado por
MARGOTTO MARIANELLI, JOSE CARLOS PEREIRA, LUCAS SCARAMUSSA, PAULO

TAUFNER
ROBERTO PITANGA MEDINA, JOSE JAIR REALI, MARLENO VENDRAMINE, ANTONIO
BEZERRA NETO, MARIA DE FATIMA FIORINO BIANCARDI, ARLINDO MELO, ADALTO
EZIDIO, AGUINALDO BERNARDO, PAULO ROBERTO VIEIRA CALDELLAS, MARCIO

CICILIOTTI DA CUNHA
PIMENTEL MACHADO, LUMA CONFECCOES LTDA, LS LOCACOES, SERVICOS E

05/03/2020 18:17
EVENTOS LTDA, ASS.BRAS.DOS MUNICIPIOS C/TERMINAIS MARITIMOS,FLUVIAIS E

Assinado por
LUIZ CARLOS
TERRESTRES P/EMBARQUE E DESEMB. DE PETROLEO E GAS NATURAL - ABRAMT,
MALHARIA CRISTMARA LTDA, PAULA CRISTINA CALMON JOVITA, ANTONIO ROBERTE
BOURGUIGNON, SERGIO GABRIEL PESSOTTI
Procuradores: CHEIM JORGE & ABELHA RODRIGUES ADVOGADOS ASSOCIADOS

SERGIO MANOEL NADER


(CNPJ: 03.444.489/0001-89), ALEX DE FREITAS ROSETTI (OAB: 10042-ES), BARBARA

05/03/2020 16:42
DALLA BERNARDINA LACOURT (OAB: 14469-ES), CHRISTINA CORDEIRO DOS SANTOS

Assinado por
(OAB: 12142-ES), CARLOS EDUARDO AMARAL DE SOUZA (OAB: 10107-ES), MARCELO
ABELHA RODRIGUES (OAB: 7029-ES), FLAVIO CHEIM JORGE (OAB: 262B-ES), MARIANA

BORGES
FERNANDES BELIQUI (OAB: 15918-ES), AMANDA LOYOLA GOULART (OAB: 24474-ES),
MATHEUS DOCKHORN DE MENEZES (OAB: 14007-ES), FLAVYA CAZELLI LOUREIRO
MATOS (OAB: 14752-ES), EDSON PEREIRA NEVES ADVOGADOS E CONSULTORES S/S
05/03/2020 16:38
(CNPJ: 92.098.441/0001-96), EDSON MENEGUSSO NEVES (OAB: 56354-RS), DAISE
RODRIGO FLAVIO
FREIRE FARIAS

MENEGUSSO NEVES HANS (OAB: 31711-RS), EDSON PEREIRA NEVES (OAB: 6448B-RS,
Assinado por

OAB: 01128A-DF, OAB: 55430-BA)


CHAMOUN

TOMADA DE CONTAS ESPECIAL CONVERTIDA –


SEBASTIAO CARLOS

05/03/2020 16:21
RANNA DE MACEDO

EXERCÍCIO DE 2012 – REJEITAR INCIDENTE DE


Assinado por

INCONSTITUCIONALIDADE – ACOLHER A
ILEGITIMIDADE PASSIVA SR. GUERINO LUIZ ZANON
– RESSARCIMENTO – DETERMINAÇÃO –
05/03/2020 16:11
BARBOSA JUNIOR

RECOMENDAÇÃO – ARQUIVAR.
ODILSON SOUZA
Assinado por

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ACÓRDÃO T C-127/2020
lc/fbc

VOTO DO RELATOR

O EXMO. SENHOR CONSELHEIRO SEBASTIÃO CARLOS RANNA DE MACEDO

1 RELATÓRIO
Versam os presentes autos sobre Tomada de Contas Especial convertida de
1
Fiscalização realizada na Prefeitura Municipal de Linhares, relativa ao exercício de
2012 e consubstanciada no Relatório de Fiscalização TC RA-O 102/2014 que
apontou indícios de irregularidades contidos na Instrução Técnica Inicial 565/2015
onde sugere a citação dos responsáveis e a conversão do processo em Tomada de
Contas Especial tendo em vista indicativos de dano ao erário presentes nos itens
5.1.1.4, 5.1.2.4, 5.1.3.3, 5.1.3.4, 5.2.2.1, 5.2.2.2, 5.3.1.1, 5.3.2.1 e 5.3.3.1 do
mencionado relatório, e também:

“[...]

1- Em relação às irregularidades do item 5.3.1 (repasses de recursos ao Linhares Futebol


Clube), a equipe sugere à esta Corte de Contas, preliminarmente, afastar a aplicação das Leis
Municipais nº 2.764/08, 2.794/08, 2.833/09, 2.919/09, 3.002/10 e 3.147/11, com fulcro no art. 1º,
inciso XXXIV do Resolução 261/13 (Regimento Interno do TCEES) e da Súmula 347 do STF, por
contrariar o Princípio da Impessoalidade (finalidade) e da Moralidade garantidos pelo art. 37,
caput, da Constituição Federal.
2- A equipe sugere, ainda, a inclusão dos seguintes pontos em auditorias a serem real izadas no
município de Linhares:
- no Processo FMAS 12.690/12. Pregão Presencial 238/12. Cursos de qualificação social e
profissional (Pró-jovem trabalhador). Instituto de Políticas Públicas e Desenvolvimento Social e
Educacional do Estado do Espírito Santo – IPPES. R$1.890.273,00. A equipe de auditoria
constatou a inexecução do contrato 706/12 com o Instituto de Políticas Públicas e
Desenvolvimento Social e Educacional do Estado do Espírito Santo - IPPES, tendo sido aditivado
o prazo de vigência até fevereiro de 2014.
- nos processos de pagamentos à ABRAMT, anos de 2010 e 2011 (foram pagos,
respectivamente, à os valores de R$136.000,00 e R$96.000,00, conforme pesquisa no
Sisaud);
[...]”

Votei pela citação dos seguintes responsáveis:

- do Município de Linhares, na pessoa de seu representante legal, o Prefeito


Municipal senhor Jair Correa, e o senhor Guerino Luiz Zanon, assegurando o
contraditório, quanto à arguição de incidente de inconstitucionalidade, para no
caso concreto, negar a exequibilidade das Leis Municipais 2.764/08, 2.794/08,

1
Decisão TC 46/2015 – fls. 3715/3717

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2.833/09, 2.919/09, 3.002/10 e 3.147/11, na forma do art. 176 da Lei


Complementar 621/2012 c/c os artigos 332, 333, § 2º, 334 e 358, III, do RITCEES,
por infringência ao artigo 32, caput, da Constituição Estadual c/c ao art. 37, caput,
da Constituição Federal, apontado no item 5.3.1 do Relatório de Fiscalização RA -
O 102/2014;

- dos agentes responsáveis, descritos no quadro abaixo, na forma do art. 56, II e


III da LC 621/2012 e do artigo 157, II e III, do RITCEES para apresentarem
justificativas individual ou coletivamente, conforme suas responsabilidades, bem
como documentos que entenderem necessários, em relação aos indícios de
irregularidades apontados na Instrução Técnica Inicial ITI 565/2015, como se
demonstra seguir.

Quadro 1 – Demonstrativo dos valores passíveis de ressarcimento, por responsáveis

Responsáveis IMPORTÂNCIA passível de Data do


individuais e subitens/IRREGULARIDADES ressarcimento pagto da
solidários R$ VRTE despesa

5.1.1.4 – Ausência de interesse público. 8.146,08 3.606,22 31/07/12

5.1.2.4 – Ato antieconômico praticado: não


demonstração de ingresso nos cofres 46.865,28 20.746,95 31/08/12
públicos da exploração econômica do evento.

5.1.3.3 – Ausência de interesse público. 190.841,56 31/08/12


431.092,00
5.1.3.4 – Não comprovação da entrega da
58.908,00 26.078,18 31/08/12
premiação.

15/05/12,
26/06/12 e
5.2.2.1- Liquidação e pagamento irregular de
Guerino Luiz 219.102,00 96.995,00 08/11/12;
despesas
Zanon - 20/04/12 e
Prefeito 26/06/12
1
Municipal no
período 5.2.2.2- Sobrepreço e superfaturamento na
76.752,00 33.977,60
2009/2012 aquisição de material esportivo (*)
30.000,00 15.568,24 17/06/09
100.000,00 49.815,68 09/04/10
5.3.1.1- Ausência previsão legal no 100.000,00 49.815,68 22/06/10
ordenamento jurídico para transferir recursos 20.000,00 9.963,14 30/12/10
para entidade com fins lucrativos e ausência
de justificativas, motivação e da 50.000,00 22.134,67 13/02/12
demonstração do interesse público. 50.000,00 22.134,67 06/03/12
50.000,00 22.134,67 10/04/12
50.000,00 22.134,67 10/05/12

subtotal
450.000,00 213.701,41

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5.3.2.1– Justificativas e motivação 30/01,9/02,


insuficientes e ausência da demonstração do 30/03, 7/04,
interesse público para a contratação, 24/05, 5/06,
ausência de termo contratual (contrato verbal 96.000,00 42.498,56 26/07, 7/08,
com a administração) e ausência de 28/09, 5/10,
prestação de contas dos recursos recebidos. 30/11 e
Ressarcimento. 21/12/12
Total
1.310.113,36 594.467,87

José Carlos 5.3.1.1- Ausência previsão legal no


Elias, Prefeito ordenamento jurídico para transferir recursos
18/04/08 e
2 Municipal no para entidade com fins lucrativos e ausência 350.000,00 193.231,38
22/09/08
período de justificativas, motivação e da
2005/2008 demonstração do interesse público.

5.1.1.4 – Ausência de interesse público. 8.146,08 3.606,22 31/07/12

5.1.2.4 – Ato antieconômico praticado: não


demonstração de ingresso nos cofres 31/08/12
46.865,28 20.746,95
públicos da exploração econômica do evento.

17/06/09
30.000,00 15.568,24
09/04/10
100.000,00 49.815,68
Geraldo 22/06/10
Tadeu 100.000,00 49.815,68
5.3.1.1- Ausência previsão legal no
Scaramussa ordenamento jurídico para transferir recursos 30/12/10
3 20.000,00 9.963,14
da Silva – para entidade com fins lucrativos e ausência
Procurador de justificativas, motivação e da 13/02/12
Chefe; 50.000,00 22.134,67
demonstração do interesse público.
06/03/12
50.000,00 22.134,67
10/04/12
50.000,00 22.134,67
10/05/12
50.000,00 22.134,67
subtotal
450.000,00 213.701,41
total
505.011,36 238.054,57

5.1.1.4 – Ausência de interesse público. 31/07/12


8.146,08 3.606,22
Paulo Roberto
5.1.2.4 – Ato antieconômico praticado: não
Vieira
demonstração de ingresso nos cofres 31/08/12
Caldellas – 46.865,28 20.746,95
4 públicos da exploração econômica do evento.
Auditor Geral.
5.1.3.3 – Ausência de interesse público. 31/08/12
431.092,00 190.841,56
total
486.103,36 215.194,72

José Jair 5.1.1.4 – Ausência de interesse público. 31/07/12


Reali, 8.146,08 3.606,22
5 Secretário 5.1.2.4 – Ato antieconômico praticado: não
Municipal de demonstração de ingresso nos cofres 31/08/12
46.865,28 20.746,95
Esporte e públicos da exploração econômica do evento.

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Lazer
5.1.3.3 – Ausência de interesse público. 31/08/12
431.092,00 190.841,56
5.1.3.4 – Não comprovação da entrega da
31/08/12
premiação. 58.908,00 26.078,18
15/05/12,
26/06/12 e
5.2.2.1- Liquidação e pagamento irregular de
219.102,00 96.995,00 08/11/12;
despesas
20/04/12 e
26/06/12
total 705.205,36 312.189,72

Aguinaldo
Bernardo –
Servidor 5.1.3.4 – Não comprovação da entrega da
6 58.908,00 26.078,18 31/08/12
designado premiação.
gestor do
contrato.

5.3.1.1- Ausência previsão legal no


ordenamento jurídico para transferir recursos
Arlindo Melo, 18/04/08 e
7 para entidade com fins lucrativos e ausência
Procurador 350.000,00 193.231,38 22/09/08
de justificativas, motivação e da
demonstração do interesse público.

5.3.1.1- Ausência previsão legal no


Adalto Ezídio,
ordenamento jurídico para transferir recursos
Diretor do 18/04/08 e
8 para entidade com fins lucrativos e ausência
Departamento 350.000,00 193.231,38 22/09/08
de justificativas, motivação e da
de Auditoria
demonstração do interesse público.

LS Locações,
Serviços e
5.1.3.4 – Não comprovação da entrega da
9 Eventos Ltda. 31/08/12
premiação. 58.908,00 26.078,18
EPP –
Contratada.

Malharia 15/05/12,
5.2.2.1- Liquidação e pagamento irregular de
10 Cristimara 26/06/12 e
despesas 189.750,00 84.001,06
Ltda. 08/11/12

Luma
5.2.2.1- Liquidação e pagamento irregular de 20/04/12 e
11 Confecções
despesas 29.352,00 12.993,94 26/06/2012
Ltda. ME
5.3.3.1– Justificativas e motivação 30/01, 29/02,
insuficientes e ausência da demonstração do 30/03, 27/04,
interesse público para a contratação, 24/05, 25/06,
ABRAMT -
12 ausência de termo contratual (contrato verbal 26/07, 27/08,
Beneficiária 96.000,00 42.498,56
com a administração) e ausência de 28/09, 25/10,
prestação de contas dos recursos recebidos. 30/11 e
Ressarcimento. 21/12/12
VRTE/2008 - 1,8113; VRTE/2009 - 1,9270; VRTE/2010 - 2,0074 e VRTE/2012 - 2,2589.
(*) este valor não será somado ao total, pois já está embutido no valor de R$ 219.102,00

Irregularidades que não ensejam diretamente dano ao erário:

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Quadro 2 – Demonstrativo das irregularidades por responsável


Responsáveis Irregularidades
5.1.1.1– Restrição ao caráter competitivo do certame.

5.1.1.2 – Ausência de planilhas de preços unitários.

5.1.1.3 – Omissão na fiscalização da execução contratual.

5.1.1.5 – Liquidação irregular da despesa.

5.1.2.1– Restrição ao caráter competitivo do certame.

5.1.2.2 – Ausência de planilhas de preços unitários.

Guerino Luiz Zanon - Prefeito 5.1.2.3 – Omissão na fiscalização da execução contratual.


1
Municipal
5.1.3.1 – Restrição ao caráter competitivo do certame.

5.1.3.2– Ausência de planilhas de preços unitários.

5.1.3.5 – Omissão na fiscalização da execução contratual.

5.1.4.1 – Inexistência de justificativa de preço


5.2.1.1- Ausência de acompanhamento e fiscalização da
execução contratual.
5.2.9.1 – Ausência de fiscalização e controle insuficiente da
execução contratual.

5.1.1.1– Restrição ao caráter competitivo do certame.

5.1.1.2 – Ausência de planilhas de preços unitários.

Thiago Monteiro Bonatto - 5.1.2.1– Restrição ao caráter competitivo do certame.


2
Pregoeiro Municipal; 5.1.2.2 – Ausência de planilhas de preços unitários.

5.1.3.1 – Restrição ao caráter competitivo do certame.

5.1.3.2– Ausência de planilhas de preços unitários.

5.1.1.1– Restrição ao caráter competitivo do certame.

5.1.1.2 – Ausência de planilhas de preços unitários.

5.1.2.1– Restrição ao caráter competitivo do certame.

5.1.2.2 – Ausência de planilhas de preços unitários.


Geraldo Tadeu Scaramussa da
3
Silva – Procurador Chefe 5.1.3.1 – Restrição ao caráter competitivo do certame.

5.1.3.2– Ausência de planilhas de preços unitários.

5.1.4.1 – Inexistência de justificativa de preço


5.1.4.2 – Ausência de cláusulas contratuais obrigatórias e
liquidação inadequada das despesas.

Paulo Roberto Vieira Caldellas 5.1.1.1– Restrição ao caráter competitivo do certame.


4
– Auditor Geral. 5.1.1.2 – Ausência de planilhas de preços unitários.

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5.1.2.1– Restrição ao caráter competitivo do certame.

5.1.2.2 – Ausência de planilhas de preços unitários.

5.1.3.1 – Restrição ao caráter competitivo do certame.

5.1.3.2– Ausência de planilhas de preços unitários.

5.1.4.1 – Inexistência de justificativa de preço

5.1.1.2 – Ausência de planilhas de preços unitários.

5.1.1.3 – Omissão na fiscalização da execução contratual.

5.1.1.5 – Liquidação irregular da despesa.

5.1.2.1– Restrição ao caráter competitivo do certame.

5.1.2.2 – Ausência de planilhas de preços unitários.

5.1.2.3 – Omissão na fiscalização da execução contratual.


José Jair Reali - Secretário
5
Municipal de Esporte e Lazer 5.1.3.1 – Restrição ao caráter competitivo do certame.

5.1.3.2– Ausência de planilhas de preços unitários.

5.1.3.5 – Omissão na fiscalização da execução contratual.

5.1.4.1 – Inexistência de justificativa de preço


5.1.4.2 – Ausência de cláusulas contratuais obrigatórias e
liquidação inadequada das despesas.
5.2.9.1 – Ausência de fiscalização e controle insuficiente da
execução contratual.

5.1.1.3 – Omissão na fiscalização da execução contratual.

Aguinaldo Bernardo – Servidor 5.1.1.5 – Liquidação irregular da despesa.


6
designado gestor do contrato. 5.1.2.3 – Omissão na fiscalização da execução contratual.

5.1.3.5 – Omissão na fiscalização da execução contratual.

7 Thiago Bruneli Pessoa–Presidente CPL 5.1.4.1 – Inexistência de justificativa de preço.

Sônia Maria Dalmolin de Souza - 5.2.1.1- Ausência de acompanhamento e fiscalização


8
Secretária Municipal de Saúde da execução contratual.

Maria de Fátima Fiorino Biancardi - 5.2.1.1- Ausência de acompanhamento e fiscalização


9
Secretária Municipal de Saúde. da execução contratual.

Antonio Roberte Bourguignon - 5.2.9.1 – Ausência de fiscalização e controle


10
Secretário Municipal de Agricultura insuficiente da execução contratual.

João Cleber Bianchi – Secretário 5.2.9.1 – Ausência de fiscalização e controle


11
Municipal de Obras insuficiente da execução contratual.

Marleno Vendramine – Secretário Chefe 5.2.9.1 – Ausência de fiscalização e controle


12
do Gabinete do Prefeito insuficiente da execução contratual.

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Bruno Margotto Marianelli – Secretário 5.2.9.1 – Ausência de fiscalização e controle


13
Municipal de Planejamento insuficiente da execução contratual.

José Carlos Pereira – Secretário 5.2.9.1 – Ausência de fiscalização e controle


14
Municipal de Finanças insuficiente da execução contratual.

Márcio Pimentel Machado – Secretário


5.2.9.1 – Ausência de fiscalização e controle
15 Municipal de Administração e dos
insuficiente da execução contratual.
Recursos Humanos

Paulo Roberto Pitanga Medina –


Secretário Municipal de
5.2.9.1 – Ausência de fiscalização e controle
16 Desenvolvimento Econômico, Indústria
insuficiente da execução contratual.
e Comércio e Secretário Municipal de
Turismo

Lucas Scaramussa – Secretário


5.2.9.1 – Ausência de fiscalização e controle
17 Municipal de Meio Ambiente e Recursos
insuficiente da execução contratual.
Hídricos Naturais

Jussara Carvalho de Oliveira –


5.2.9.1 – Ausência de fiscalização e controle
18 Secretária Municipal de Comunicação
insuficiente da execução contratual.
Social

Jones da Silva de Freitas Mattos –


5.2.9.1 – Ausência de fiscalização e controle
19 Secretário Municipal de Cidadania e
insuficiente da execução contratual.
Segurança Pública

Sérgio Gabriel Pessoti – Secretário 5.2.9.1 – Ausência de fiscalização e controle


20
Municipal de Serviços Urbanos insuficiente da execução contratual.

Paula Cristina Calmon Jovita Mota – 5.2.9.1 – Ausência de fiscalização e controle


21
Secretária Municipal de Educação insuficiente da execução contratual.

Antonio Bezerra Neto – Secretário 5.2.9.1 – Ausência de fiscalização e controle


22
Municipal de Cultura insuficiente da execução contratual.

Ivan Salvador Filho – Secretário 5.2.9.1 – Ausência de fiscalização e controle


23
Municipal de Assistência Social insuficiente da execução contratual.

Foram os responsáveis devidamente citados para apresentarem justificativas conforme


suas responsabilidades.

Recebidas e analisadas as justificativas, o Núcleo de Análises Conclusivas desta Corte


apresentou a Instrução Técnica Conclusiva 6134/2017 de fls. 6821-7021, onde
entende pela permanência das irregularidades referentes aos seguintes itens do
Relatório de Auditoria: 5.1.1.1, 5.1.1.2, 5.1.1.4, 5.1.2.2, 5.1.2.4, 5.1.3.1, 5.1.3.2, 5.1.3.3,
5.1.3.4, 5.1.4.1, 5.1.4.2 e 5.2.2.1.

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Em sequência o Ministério Público Especial de Contas emitiu o Parecer 5130/2019,


da lavra do Procurador de Contas Heron Carlos Gomes de Oliveira, em consonância
com a área técnica.

É o relatório.

2 FUNDAMENTAÇÃO
2.1 PRELIMINARES

2.1.1 Incidente de Inconstitucionalidade (subitem 5.3.1.1 do RA-O 102/2014)

A equipe de auditoria suscita incidente de inconstitucionalidade das Leis Municipais


2.764/08, 2.794/08, 2.833/09, 2.919/09, 3.002/10 e 3.147/11. A subscritora da análise
técnica conclusiva analisa a questão na Instrução Técnica Conclusiva 6134/2017, in
verbis:

“[...]

2 - QUESTÕES PRÉVIAS

2.1 INCIDENTE DE INCONSTITUCIONALIDADE. (subitem 5.3.1.1 do RAO)


Base legal: Princípio da impessoalidade e da moralidade, Constituição Federal, art. 37,
caput, e Constituição do Espírito Santo, art. 32, caput.
A equipe de auditoria suscita incidente de inconstitucionalidade das Leis Municipais
2.764/08, 2.794/08, 2.833/09, 2.919/09, 3.002/10 e 3.147/11, que autorizaram o repasse de
recursos financeiros ao Linhares Futebol Clube Ltda., respectivamente nos exercícios de
2008, 2009, 2010, 2011 e 2012.
Segundo a equipe, a referidas leis violavam os princípios constitucionais da impessoalidade
e da moralidade, na medida em que outorgavam vantagem pecuniária a uma entidade com
fins lucrativos, com base em critérios subjetivos, passíveis de ser apreciados de forma
discricionária pelo ente municipal.
Citado para apresentar o contraditório, o senhor Guerino Luiz Zanon, por meio de advogado
constituído, argumenta que este Tribunal de Contas não tem competência para declarar
inconstitucionalidade de leis e/ou atos do Poder Público, sendo esta competência privativa
do Poder Judiciário, nos termos da Constituição Federal de 1988.
A defesa assinala que as competências afetas aos Tribunais de Contas estão taxativamente
previstas na Constituição Federal, não podendo ser alargadas por Constituições Estaduais
e/ou lei de qualquer natureza, sob pena de inconstitucionalidade destas.
E completa afirmando que: “E dentre estas competências taxativamente previstas NÃO SE
ENCONTRA declarar a inconstitucionalidade de lei ou atos do Poder Público. ” (grifos da
defesa)
Por fim, lembra que o próprio Supremo Tribunal Federal já reconheceu que os Tribunais de
Contas não têm tal competência. Nesse sentido, citou os seguintes julgados: MS 26.140/DF,
MS 27.232/DF, MS 25.986/DF e MS 27.337/DF.

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Com base nessas decisões, defende a tese da inconstitucionalidade do artigo 176 da LC


621/2012, inexistindo, assim, competência deste Tribunal de Contas para declarar a
inconstitucionalidade das Leis Municipais 2.764/08, 2.794/08, 2.833/09, 2.919/09, 3.002/10 e
3.147/11.
Análise dos Argumentos da Defesa:
Primeiramente, cabe verificar se esta Corte de Contas detém competência para afastar
a executoriedade das citadas leis.
O controle de constitucionalidade caracteriza-se como um sistema de verificação da
conformidade de um ato normativo em relação à Constituição. Uma norma ou ato
hierarquicamente inferior à Constituição não pode afrontá-la.
Nos termos da Constituição Federal de 1988, existem duas espécies de controle de
constitucionalidade: o concentrado (abstrato) e o difuso (concreto).
O processamento do controle concentrado, nos termos do art. 102, I, “a” da CF/88, pertence
originariamente ao Supremo Tribunal Federal, através de ação própria proposta com o
objetivo específico de se obter a declaração de inconstitucionalidade da lei em tese (ação
direta de inconstitucionalidade – ADI) ou de constitucionalidade de lei ou ato normativo
federal (ação declaratória de constitucionalidade – ADECOn).
Já o controle difuso, também chamado “incidental” ou concreto, é empregado no decorrer
do processo em que foi levantada a inconstitucionalidade, sendo de competência de todos
os tribunais ordinários e especiais. Desta forma, no controle incidental, a análise da
constitucionalidade, é tratada como uma questão prejudicial da causa principal. Logo, neste
tipo de controle, a finalidade não é questionar diretamente a norma viciada, mas sim,
resolver previamente a questão constitucional como condição necessária para decidir
acerca do caso concreto.
Importante enfatizar que não subsistem dúvidas de que os Tribunais de Contas, no
exercício das funções que lhes foram atribuídas constitucionalmente, possuem competência
para apreciar a constitucionalidade de leis e atos do Poder Público, podendo afastar a
aplicação daqueles que entender inconstitucionais.
O reconhecimento desta competência deriva da jurisprudência do próprio Supremo Tribunal
Federal, cuja Súmula 347 assegura aos Tribunais de Contas, no exercício de suas
atribuições, o pronunciamento acerca da inconstitucionalidade de leis e atos do Poder
Público, senão vejamos:
Súmula 347: O Tribunal de Contas, no exercício de suas atribuições, pode
apreciar a constitucionalidade das leis e dos atos do Poder Público.

Entretanto, deve ser ressaltado que o controle de constitucionalidade realizado pelos


Tribunais de Contas é exercido em sede de controle difuso e se dá de modo
incidental à apreciação de um caso concreto. Explicitando o sentido do controle concreto
2
ou incidental o professor Marcelo Novelino aduz que:
Quando a constitucionalidade é analisada em um processo constitucional
subjetivo, com a finalidade principal de solucionar uma controvérsia
envolvendo direitos subjetivos, costuma-se denominar esta espécie de
controle concreto.
Neste caso, antes de decidir a questão de fato formulada no pedido [...]
será necessário aferir, incidenter tantum, a questão de direito envolvendo
a compatibilidade entre a lei e o parâmetro constitucional . Nessa hipótese,
a verificação da constitucionalidade será um antecedente lógico, temporal
e incidental para a formação do juízo de convicção acerca da controvérsia
principal. Por isso a expressão controle incidental (g.n).

2
NOVELINO, Marcelo. Manual de Direito Constitucional. São Paulo: Método, 8 ed., 2013, p. 238.

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3
Acrescem os professores Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino que:
O exercício da via incidental dá -se diante de uma controvérsia concreta,
submetida à apreciação [...], em que uma das partes requer o
reconhecimento da inconstitucionalidade de uma lei, com o fim de afastar
a sua aplicação ao caso concreto de seu interesse (g.n).
Acerca dos efeitos e alcance produzidos por decisão proferida em sede de controle difuso
4
de constitucionalidade os professores Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino tecem
esclarecedora lição que merece ser reproduzida:
Conforme já analisado, no controle incidental a inconstitucionalidade pode ser
pronunciada por qualquer juiz ou tribunal do País, no curso de um caso
concreto a ele submetido.
[...]
Como em qualquer caso [...] o que se busca na via incidental é o simples
afastamento da aplicação da lei ao caso concreto, os efeitos da decisão
serão os mesmos, independentemente do órgão de que tenha sido emanada.
Assim, qualquer que tenha sido o órgão prolator, a decisão no controle de
constitucionalidade incidental só alcança as partes do processo (eficácia
inter partes), não dispõe de efeito vinculante e, em regra, produz efeitos
retroativos (ex tunc).
A decisão só alcança as partes do processo porque no controle incidental
o interessado, [...], requer a declaração da inconstitucionalidade da norma
com a única pretensão de afastar a sua aplicação ao caso concreto. Logo,
é somente para as partes que integram o caso concreto que o juízo estará
decidindo, constituindo a sua decisão uma resposta à pretensão daquele
que arguiu a inconstitucionalidade .
Com isso, a pronúncia de inconstitucionalidade não retira a lei do ordenamento
jurídico. Em relação a terceiros, não participantes da lide, a lei continuará
a ser aplicada, integralmente, ainda que supostamente esses terceiros se
encontrem em situação jurídica semelhante à das pessoas que foram parte
na ação em que foi declarada a inconstitucionalidade.
Assim, a pronúncia de inconstitucionalida de [...] na via incidental,
proferida em qualquer nível, limita -se ao caso em litígio, no qual foi
suscitado o incidente de inconstitucionalidade, fazendo coisa julgada
apenas entre as partes do processo. [...]
Essa eficácia, em regra, surte efeitos ex tunc, isto é, opera retroativamente em
relação ao caso que deu motivo à decisão (e, repita-se, só em relação a este),
fulminando, desde o seu nascimento, a relação jurídica fundada na lei
inconstitucional.
[...]
Em qualquer caso, a norma declarada inconstitucional no controle
concreto continua a viger, com toda sua força obrigatória, em relação a
terceiros, que não tenham sido parte na ação. Todas as pessoas que
desejarem ver a si estendidos os efeitos da inconstitucionalidade já declarada
em caso idêntico deverão postular sua pretensão perante os órgãos judiciais,
em ações distintas (g.n.).
Dessa forma, extrai-se que o Tribunal de Contas, ao apreciar uma questão que lhe cabe
decidir, deparando-se com uma incompatibilidade entre a norma ou ato normativo e a
Constituição, deverá resolver a questão prejudicial de inconstitucionalidade preliminarmente

3
ALEXANDRINO, Marcelo; PAULO, Vicente. Direito Constitucional Descomplicado. 10. ed. São
Paulo: Método, 2013, p. 774.
4
ALEXANDRINO; PAULO. Op. Cit. 2013, p. 806.

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ao julgamento de mérito do caso concreto, caracterizando assim o controle difuso de


constitucionalidade.
Nesta Corte de Contas o incidente de inconstitucionalidade tem rito procedimental próprio
definido nos artigos 176 a 179 da LC 621/2012 e artigos 332 a 339 da Res. TC 261/2013,
devendo o expediente ser apreciado de forma prejudicial às demais matérias constantes
nesse caderno processual.
Cabe asseverar, também, que a declaração de inconstitucionalidade das Leis Municipais
2.764/08, 2.794/08, 2.833/09, 2.919/09, 3.002/10 e 3.147/11 constituir-se-á em prejulgado a
ser aplicado a casos análogos submetidos a este E. Tribunal de Contas, conforme
preceituado no art. 177, da LC 621/2012, in verbis:
Art. 177. A decisão, contida no acórdão que deliberar sobre o incidente de
inconstitucionalidade de lei ou ato do poder público, solucionará a questão
prejudicial, constituindo prejulgado a ser aplicado a todos os casos
submetidos ao Tribunal de Contas (grifou-se).
Tecidas estas considerações iniciais acerca da natureza e processamento do incidente de
inconstitucionalidade perante as Cortes de Contas, deixamos de acolher os argumentos da
defesa e passamos, na sequência, ao exame do incidente ora suscitado.
Mérito:
Pugna o RAO 102/2014, acompanhado pela ITI 565/2015, pela inconstitucionalidade das
Leis Municipais 2.764/08, 2.794/08, 2.833/09, 2.919/09, 3.002/10 e 3.147/11, uma vez que
ao autorizar o Município a repassar recursos financeiros para o Linhares Futebol Clube
Ltda., entidade esportiva profissional privada (com fins lucrativos), elas contrariavam os
Princípios da Impessoalidade e Moralidade garantidos pelo artigo 37, caput, da Constituição
Federal.
Antes de analisar o caso concreto, é importante destacar que, a Constituição Federal,
Constituição do Estado do Espírito Santo e Lei Orgânica do Município de Linhares,
estabelecem como dever do Estado o fomento à prática de esportes.
Sobre o tema, assim dispõe a Constituição Federal:
SEÇÃO III
DO DESPORTO
Art. 217. É dever do Estado fomentar práticas desportivas formais e não-
formais, como direito de cada um, observados:
I - a autonomia das entidades desportivas dirigentes e associações, quanto a
sua organização e funcionamento;
II - a destinação de recursos públicos para a promoção prioritária do
desporto educacional e, em casos específicos, para a do desporto de alto
rendimento;
III - o tratamento diferenciado para o desporto profissional e o não- profissional;
IV - a proteção e o incentivo às manifestações desportivas de criação nacional.
§ 1º O Poder Judiciário só admitirá ações relativas à disciplina e às
competições desportivas após esgotarem-se as instâncias da justiça
desportiva, regulada em lei.
§ 2º A justiça desportiva terá o prazo máximo de sessenta dias, contados da
instauração do processo, para proferir decisão final.
§ 3º O Poder Público incentivará o lazer, como forma de promoção social. (gn).

O artigo 217 é repisado na Constituição do Estado do Espírito Santo. Vejamos :

Seção III

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Do Desporto e do Lazer
Art. 185 O Poder Público fomentará prática desportivas formais e não -
formais, como direito de cada um, observados os princípios
estabelecidos na Constituição Federal.
§ 1º - O Poder Público incentivará o esporte amador para a pessoa com
deficiência.
§ 2º - O Poder Público incentivará o lazer como forma de promoção social e
assegurará a utilização criativa do tempo de descanso, mediante oferta de
serviços públicos para fins de recreação e execução de programas culturais e
de projetos turísticos intermunicipais.
§ 3º - Fica assegurada a participação democrática na formulação e
acompanhamento da política estadual do desporto e lazer. (gn)

Já a Lei Orgânica do Município de Linhares, assim trata do tema desporto:

SEÇÃO III
DO DESPORTO E LAZER

Art. 200 O Município fomentará as práticas desportivas formais e não


formais, dando prioridade aos alunos de sua rede de ensino e à promoção
desportiva das associações desportivas locais.

§ 1º O Município incentivará o esporte amador para pessoa portadora de


deficiência.

§ 2º O Município incentivará o lazer, como forma de promoção social e


assegurará a utilização criativa, mediante oferta de exposições públicas para
fins de recreação e execução de programas culturais e de projetos turís ticos
intermunicipais.

§ 3º Fica assegurada a participação democrática, na formulação e


acompanhamento da política municipal do desporto e lazer. (gn)

Tendo em vista os regramentos constitucionais, especialmente o artigo 217, II, da CRFB,


verifica-se a possibilidade do Poder Público destinar recursos com o intuito de incentivar o
esporte, inclusive o de alto rendimento. Dessa forma, resta apenas definir se entidades e
atletas profissionais podem ser beneficiados por essas verbas.
Como se infere da leitura dos dispositivos acima transcritos, o vocábulo “profissional” não é
utilizado pela CRFB tampouco pela CE-ES ou Lei Orgânica do Município. Por outro lado, a
legislação infraconstitucional (Lei Federal 9.615/98), que institui normas gerais sobre
desporto, ocupou-se de definir o que é o esporte profissional:
o
Art. 3 O desporto pode ser reconhecido em qualquer das seguintes
manifestações:
III - desporto de rendimento, praticado segundo normas gerais desta Lei e
regras de prática desportiva, nacionais e internacionais, com a finalidade de
obter resultados e integrar pessoas e comunidades do País e estas com as de
outras nações.
o
§ 1 O desporto de rendimento pode ser organizado e
praticado: (Renumerado do parágrafo único pela Lei nº 13.155, de 2015)
I - de modo profissional, caracterizado pela remuneração pactuada em contrato
formal de trabalho entre o atleta e a entidade de prática desportiva;

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Diante desse quadro, o TJ-MG, no processo 1.0480.03.047392-4/002, julgando incidente de


inconstitucionalidade, decidiu, em 26/10/2011, que não há vedação ao Poder Público a
destinar recursos financeiros à entidade desportiva profissional, nos seguintes termos:
Para o caso dos autos, em que se discute a constitucionalidade de Leis criadas
para endereçar recursos públicos aos clubes de futebol profissional do
Município de Patos de Minas, importam o caput e os incs. I e II do art. 217da
CR/88, e incs. I e III do art. 218 da CEMG/89.
Neste contexto, é primeiramente necessário distinguir alguns conceitos: O que
a doutrina considera como desporto formal e não formal, desporto de alto
rendimento, e desporto profissional e não profissional.
Para realização desta tarefa trago à baila definições formuladas pelo professor
JOSÉ AFONSO DA SILVA na obra "Comentário Contextual à Constituição", 6ª
edição, editora Melhoramentos:
Diferenciando o desporto formal do não formal:
Formal e não-formal: Formal, quando regulado por normas e regras
universalmente aceitas em cada modalidade. Não formal, quando caracterizado
pela liberdade lúdica de seus praticantes. (p.816).
Conceituando o desporto de alto rendimento:
Desporto de rendimento: É também chamado de desporto de competição,
porque visa a obter resultado desportivo, ao desempenho competitivo, com
organização e prática segundo regras internacionais adotadas em cada
modalidade pelas entidades nacionais de administração do desporto. Abrange
as atividades das associações atléticas, ligas, federações, confederações.
Pode ser profissional ou não profissional." (p.816).
Diferenciando o desporto profissional do não profissional:
Desporto profissional e não profissional: Profissional é o desporto organizado
com o objetivo de obter renda e praticado por atletas remunerados, nos termos
estabelecidos em contrato de trabalho ou de patrocínio. O não profissional
identifica-se pela liberdade de prática e pela inexistência de contrato de
trabalho, sendo permitido o recebimento de incentivos materiais e patrocínio.
(p.816).
Sendo assim, considerando as classificações acima, um clube de futebol filiado
a uma federação regional e que dispute campeonatos de futebol profissional,
pratica o desporto que pode ser classificado como profissional, formal e de alto
rendimento. Profissional por que visa obtenção de renda através da utilização
de atletas remunerados; de alto rendimento, à medida que visa o desempenho
competitivo para obtenção de resultado esportivo; formal, pois regulado por
normas e regras universais. É o caso dos clubes de futebol do Município de
Patos de Minas.
Os arts. 217 da CR/88 e 218 da CEMG/89 atribuem ao Estado o dever de
fomentar tanto o desporto formal, quanto o não formal. Dever este que, como
visto, têm aplicabilidade imediata, como os direitos fundamentais de primeira
geração. O inc. II do art. 217 da CR/88 permite a destinação de recursos
públicos para a promoção do desporto, mas frisa que deve ser dada
prioridade ao desporto educacional, podendo acontecer para o desporto
de alto rendimento apenas em casos específicos. Caso específico deve
ser entendido como uma justificativa factual, uma situação não habitual, e
que tenha grande relevância social. O inc. III, por seu turno, tanto do art. 217
da CR/88, quando do art. 218 da CEMG/89, permite o tratamento diferenciado
entre o desporto profissional e o não profissional, devendo o esforço de o
Estado privilegiar, evidentemente, o fomento à prática não profissional.
Entretanto, não está a Administração Pública adstrita de fomentar o desporto
profissional por meio de verbas ou outras formas.

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Ora, se o desporto profissional é também de alto rendimento, como no


caso de clubes de futebol, nada obsta que sejam remetidos recursos
públicos a seu fomento, em situações específicas, devidamente
justificadas, e que tenham relevante repercussão social, respeitando-se,
ainda, o princípio da isonomia, para que haja uma valorização do desporto
regional, e, não apenas de um clube.
O ato que destina os recursos públicos às entidades de desporto
profissional regionais deve ser, também, transparente, em homenagem ao
princípio da publicidade dos atos da Administração Pública. Se instituído
por lei, torna-se ainda mais sólido, pois o processo legislativo representa
a aprovação da sociedade. (g.n.)
Vê-se que a citada decisão condiz com as previsões constitucionais, que, em nenhum
momento, vedam a destinação de recursos públicos a entidades profissionais.
O mesmo julgado também considerou que a Lei Municipal, prevendo o repasse de recursos
para entidade desportiva, deve obedecer aos princípios tanto da Constituição Federal,
quanto Estadual, sendo que esta deve ser pautada nos princípios daquela. Em razão disto,
será inconstitucional qualquer dispositivo legal, tanto municipal, quanto estadual, que
desobedeça aos princípios da Constituição Federal. Inconstitucionalidade esta que pode ser
declarada não por vício formal, mas por vício material.
No caso do Município de Linhares, não se verifica qualquer vício material que enseje a
inconstitucionalidade das Leis Municipais objurgadas, tanto pelo prisma da Constituição
Federal, quanto pela disposição contida na Constituição do Estado do Espírito Santo.
As Leis Municipais ora questionadas, tão somente, deram cumprimento a uma disposição
constitucional para dar efetividade ao dever do Estado de fomentar a prática desportiva.
Esses normativos contemplavam com recursos públicos o único clube profissional do
município de Linhares, em ato legislativo isento de vício formal e devidamente publicado,
com a finalidade específica de fomentar a participação do clube nas duas competições
oficiais da Federação Capixaba de Futebol, de grande relevância para o esporte estadual: o
Campeonato e a Copa Espírito Santo.
No entanto, impõe-se que tais transferências, permitidas nas referidas Leis, sejam
interpretadas conforme a Constituição Federal.
Isso porque, como já repetido, as Constituições Federal, Estadual, bem como a Lei
Orgânica do Município de Linhares não vedam a destinação de recursos públicos a
entidades desportivas profissionais. Contudo, a CF é clara ao estabelecer que a
transferência de recursos àqueles que desempenhem esporte de alto rendimento (gênero
de que o esporte profissional é espécie) deve acontecer em casos específicos, não
rotineiramente, após a priorização do desporto educativo. Nesse ponto, a LOM de Linhares
não é explícita, silenciando sobre a destinação somente ocorrer em casos específicos. Mais
que isso, o artigo 200 da LOM de Linhares prioriza não somente o desporto educacional,
mas também à promoção desportiva das associações desportivas locais.
No que tange às alegações relativas à forma de constituição da entidade esportiva
(sociedade empresária com fins lucrativos), aventadas no RAO 102/2014, cabe ainda
destacar que, diante do acima exposto, seu enfretamento torna-se despiciendo, na medida
em que a CF, CE-ES e LOM Linhares não vedam expressamente o repasse de recursos a
entidades profissionais, mesmo que tenham fins lucrativos. Dessa maneira, se cumpridos os
requisitos da CF (prioridade ao desporto educacional e transferência somente em casos
específicos), irrelevante a finalidade lucrativa da entidade para o fim de se declarar ou não a
inconstitucionalidades das leis do Município de Linhares, que autorizavam o repasse de
recursos financeiros ao Linhares Futebol Clube Ltda.
Ademais, coube a legislação infraconstitucional (Lei Federal 9.615/98) expressamente
permitir o repasse de verbas públicas a entidades desportivas profissionais,
independentemente da forma jurídica adotada (artigo 27, caput, § 6º). Vejamos:

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Art. 27. As entidades de prática desportiva participantes de competições


profissionais e as entidades de administração de desporto ou ligas em que se
organizarem, independentemente da forma jurídica adotada , sujeitam os
o
bens particulares de seus dirigentes ao disposto no art. 50 da Lei n 10.406, de
10 de janeiro de 2002, além das sanções e responsabilidades previstas
o
no caput do art. 1.017 da Lei n 10.406, de 10 de janeiro de 2002, na hipótese
de aplicarem créditos ou bens sociais da entidade desportiva em proveito
próprio ou de terceiros. (Redação dada pela Lei nº 10.672, de 2003)(gn)
(...)
§ 6º Sem prejuízo de outros requisitos previstos em lei, as entidades de
que trata o caput deste artigo somente poderão obter financiamento com
recursos públicos ou fazer jus a programas de recuperação econômico-
financeiros se, cumulativamente, atenderem às seguintes
condições: (Redação dada pela Lei nº 12.395, de 2011).
I - realizar todos os atos necessários para permitir a identificação exata de sua
situação financeira; (Incluído pela Lei nº 10.672, de 2003)
II - apresentar plano de resgate e plano de investimento; (Incluído pela Lei nº
10.672, de 2003)
III - garantir a independência de seus conselhos de fiscalização e
administração, quando houver; (Incluído pela Lei nº 10.672, de 2003)
IV - adotar modelo profissional e transparente; e (Incluído pela Lei nº 10.672,
de 2003)

Como se vê, o § 6º do artigo 27 da Lei 9.615/1998 não veda o repasse de recursos públicos
para entidades esportivas com fins lucrativos, mas apenas estabelece que as entidades,
independentemente da forma jurídica adotada, somente poderão recebê-los quando
cumpridas as condições expressas nos incisos I a IV.
É importante ressaltar, ainda, que as atividades desenvolvidas pelos clubes de futebol,
ainda que entidade com fins lucrativos, por terem alta relevância social, não podem ser
comparadas a uma sociedade empresária comum.
Nesse sentido, o Sr. Desembargado Dárcio Lopardi Mendes do TJ-MG, em voto exarado no
processo 1.0480.03.047392-4/002, destacou:

Ressalto que, ainda que os clubes sejam instituições privadas, têm alta
relevância social relacionada ao entretenimento e identidade cultural de seus
torcedores, e que as rendas que auferem têm o único e específico objetivo de
serem reinvestidas na realização da atividade principal, que, no caso, é o
futebol, motivo pelo qual não devem ser comparados a uma sociedade
empresária comum, cujo objetivo é o enriquecimento dos sócios.

Analisando os documentos carreados aos autos, verifica-se que o recebimento do benefício


estava condicionado à apresentação pela entidade de plano de aplicação e à comprovação
por meio de prestação de contas, nas quais se pode observar que os recursos deveriam ser
destinados à atividade principal, o futebol.
Por todo o exposto, opine-se por improcedente o incidente de arguição de
inconstitucionalidade das Leis Municipais 2.764/08, 2.794/08, 2.833/09, 2.919/09,
3.002/10 e 3.147/11, que tão somente deram cumprimento a uma disposição constitucional
para dar efetividade ao dever de o Estado fomentar a prática desportiva.
Ademais, cabe assinalar que, o controle da constitucionalidade realizado pelo Tribunal de
Contas é exercido em sede de controle difuso (concreto). No entanto, a equipe de auditoria,
não juntou aos autos, elementos que permitem juízo de valor quanto ao fato de tai s

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transferências ocorrerem habitualmente em detrimento ao financiamento do desporto


educacional, que conforme a regra constitucional é a prioridade.

A equipe de auditoria suscita incidente de inconstitucionalidade das Leis Municipais


2.764/08, 2.794/08, 2.833/09, 2.919/09, 3.002/10 e 3.147/11, que autorizaram o
repasse de recursos financeiros ao Linhares Futebol Clube Ltda., entidade com fins
lucrativos, respectivamente nos exercícios de 2008, 2009, 2010, 2011 e 2012, efetivado
por meio dos Convênios 18/08, 28/08,19/09, 05/10, 20/11 e 02/12, no valor total de
406.932,79 VRTE.

O responsável defende-se tão somente atacando a competência desta Corte em


declarar a inconstitucionalidade das Leis Municipais.

A instrução conclusiva devidamente analisa que essa Corte de Contas detém


competência para afastar a executoriedade das citadas leis, de forma incidental, “no
decorrer do processo em que foi levantada a inconstitucionalidade, sendo de
competência de todos os tribunais ordinários e especiais”. E que este incidente tem rito
procedimental próprio definido nos artigos 176 a 179 da LC 621/2012 e artigos 332 a
339 da Resolução TC 261/2013 - RITCEES, devendo o expediente ser apreciado de
forma prejudicial às demais matérias constantes no processo.

No mérito não houve argumentação da defesa, contudo o subscritor da instrução


conclusiva entende por manter a executoriedade das citadas leis com base em:

- a Constituição Federal, Constituição do Estado do Espírito Santo e Lei Orgânica do


Município de Linhares, estabelecem como dever do Estado o fomento à prática de
esportes;

CRFB/88
Art. 217. É dever do Estado fomentar práticas desportivas formais e não-formais,
como direito de cada um, observados:
... II - a destinação de recursos públicos para a promoção prioritária do desporto
educacional e, em casos específicos, para a do desporto de alto rendimento;

Lei Orgânica de Linhares


Art. 200 O Município fomentará as práticas desportivas formais e não formais, dando
prioridade aos alunos de sua rede de ensino e à promoção desportiva das
associações desportivas locais.

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ACÓRDÃO T C-127/2020
lc/fbc

- Defende que em nenhum momento, as previsões constitucionais vedam a destinação


de recursos públicos a entidades profissionais e que, no caso do Município de
Linhares, não se verifica qualquer vício material que enseje a inconstitucionalidade das
Leis Municipais objurgadas, tanto pelo prisma da Constituição Federal, quanto pela
disposição contida na Constituição do Estado do Espírito Santo, visto que “o artigo 200
da LOM de Linhares prioriza não somente o desporto educacional, mas também à
promoção desportiva das associações desportivas locais.”;

- Alega que a Constituição Federal, a Constituição do Estado do ES e a LOM de


Linhares não vedam expressamente o repasse de recursos a entidades profissionais,
mesmo que tenham fins lucrativos.

Por essas razões opina por “improcedente o incidente de arguição de


inconstitucionalidade das Leis Municipais 2.764/08, 2.794/08, 2.833/09, 2.919/09,
3.002/10 e 3.147/11”.

As Constituições Federal e Estadual não vedam a destinação de recursos públicos a


entidades desportivas profissionais. Contudo, a CRFB/88 é clara ao estabelecer que a
transferência de recursos àqueles que desempenhem esporte de alto rendimento deve
acontecer em casos específicos, não rotineiramente, após a priorização do desporto
educativo. Nesse ponto, a LOM de Linhares não é explícita, silenciando sobre a
destinação somente ocorrer em casos específicos.

O art. 200 da LOM de Linhares, ainda, inclui promoção desportiva às associações


desportivas locais, que, em interpretação conforme, poderia ser contemplada em caso
prioritário para o desporto educacional e, em casos específicos, para a do desporto de
alto rendimento.

O objeto dos Convênios de repasse de recursos para o Linhares Futebol Clube (fls.
134), amparados nas leis municipais em análise, referem-se, em tese, ao apoio
financeiro para participação deste em campeonatos locais e estaduais, situação esta
prevista no texto constitucional.

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ACÓRDÃO T C-127/2020
lc/fbc

Verifico que este tema também foi objeto de análise e julgamento nos autos do
processo TC 1750/2014, referente à Tomada de Contas Especial no Município de
Jaguaré, exercício de 2013. Naqueles autos foi realizada interpretação conforme a
Constituição da Lei Orgânica Municipal, segundo Acórdão TC 1444/2017:

“(...) 1. ACÓRDÃO
VISTOS, relatados e discutidos estes autos, ACORDAM os Conselheiros do Tribunal
de Contas do Estado do Espírito Santo, reunidos em sessão plenária, ante as razões
expostas pelo relator, em:
1.1. Preliminarmente:
1.1.1. conferir ao art. 241 da Lei Orgânica do Município de Jaguaré (Lei nº 01/90),
interpretação conforme a Constituição, de modo que as subvenções a entidades
esportivas profissionais de que trata o dispositivo sejam concedidas de modo não
habitual, somente em casos específicos compatíveis com o interesse público, e após
se priorizar o desporto educacional; (...)”

A partir da decisão do Acórdão TC 1444/2017, editou-se o Prejulgado nº 37, nos


seguintes termos:

“Conferir ao artigo 241 da Lei Orgânica do Município de Jaguaré (Lei nº 01/1990),


interpretação conforme a Constituição, de modo que as subvenções a entidades
esportivas profissionais de que trata o dispositivo sejam concedidas de modo não
habitual, somente em casos específicos compatíveis com o interesse público, e após
se priorizar o desporto educacional; (...)”

Por todo o exposto, acompanho o entendimento técnico pela rejeição da negativa


de exequibilidade das Leis municipais 2.764/08, 2.794/08, 2.833/09, 2.919/09, 3.002/10
e 3.147/11, por inconstitucionalidade, entendendo que os recursos públicos repassados
às entidades desportivas de alto rendimento (profissional e não profissional)
observaram casos específicos, de modo não habitual, apesar de não se ter informação
nos autos da priorização do desporto educativo, estando recomendação ao gestor
atual.

2.1.2 Preliminar de Ilegitimidade Passiva do Sr. Guerino Luiz Zanon

O Sr. Guerino Luiz Zanon em sua defesa alega que nenhuma das condutas indicadas
na Instrução Inicial fora praticada por ele.

A subscritora da peça da área técnica analisa a questão na Instrução Técnica


Conclusiva 6134/2017, in verbis:

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ACÓRDÃO T C-127/2020
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“[...]
Deve-se reconhecer de plano a ilegitimidade do senhor Guerino Luiz Zanon para responder
pelos indícios de irregularidades apurados na auditoria, segundo alegações salientadas pela
defesa.
Isso porque, o Município de Linhares adotou o modelo de administração desconcentrada
desde o advento da Lei Municipal 2.576/2005 (art. 2º, §§ 1º e 2º), outorgando aos
Secretários Municipais competências para produzir atos, distribuir decisões e execuções
administrativas, que induzem às de autorizar despesas, assinar contratos, acordos,
convênios e outros instrumentos congêneres, emitir e assinar ordem de pagamento e
autorizar suprimento, observando as normas pertinentes à matéria, passando-os à condição
de gestores e ordenadores de despesas.
Nesse contexto, o Prefeito deixou de atuar como ordenador de despesas e gestor em
contratações submetidas às Secretarias, não havendo a possibilidade de defender sua
responsabilidade solidária quando as irregularidades imputadas tenham se desenrolado sob
os plenos poderes legalmente conferidos aos Secretários e em razão dos atos de gestão
por eles praticados.
A desconcentração administrativa, portanto, trouxe a presunção relativa de
irresponsabilidade do Prefeito, haja vista que os Secretários Municipais são subordinados
hierarquicamente a ele e são pessoas de sua confiança e de sua livre nomeação e
exoneração. Pessoas que, na prática, não desfrutam da autonomia e da independência
funcionais inerentes aos servidores públicos efetivos.
Apenas por isso, o Prefeito poderá, em tese, ser responsabilizado solidariamente por culpa
in eligendo e por culpa in vigilando, o que, de qualquer modo, deve estar plenamente
demonstrado nos autos.
Em regra, no caso de desconcentração legal (outorga de competência originária), e não por
delegação (outorga secundária), é excluída a responsabilidade do Prefeito, a menos que
haja expressa disposição legal em contrário, conforme já decidido por esta Corte de Contas,
nos termos do voto do Conselheiro Sérgio Aboudib Ferreira Pinto (Acórdão TC 474/2012).
Vejamos:
Concluo manifestando meu entendimento de que, para que seja responsabilizado o
Prefeito Municipal pelos atos praticados pelos seus secretários ou ordenadores de
despesas torna-se necessária a existência de elementos subjetivos - dolo ou culpa,
vez que não se pode presumir responsabilidade automática ao prefeito por atos
praticados pelos seus secretários e subordinados, sobretudo quando tem
competência delegada por lei e porque não cabe a ele, Prefeito, rever todos os
atos administrativos praticados por seus subordinados, o que inviabilizaria
toda a gestão.
Inexistindo nos autos esses elementos subjetivos, a meu ver, não é juridicamente
correto imputar essa responsabilidade ao Prefeito Municipal.
Por seu turno, é indiscutível que a qualquer tempo, será o Prefeito o responsável
politicamente pelos atos praticados pelos seus comandados. A sua imagem é que
será avaliada de forma positiva ou negativa. Em eleições futuras acarretará as
consequências de escolhas mal feitas de membros da equipe. Entretanto o que aqui
se discute é se o mesmo será responsável de forma objetiva a ser alcançado pelas
sanções decorrentes de atos praticados em função da delegação.
Ante o exposto, acato a preliminar de ilegitimidade ad causam do Prefeito Municipal,
excluindo-o do polo passivo do presente feito.
Registro, por derradeiro, que situações equivalentes deverão ser analisadas in
concreto. [g.n.]
Cabe ressaltar que os indícios de irregularidades abordados neste processo diz em respeito
a questões atinentes a licitações, convênios ou instrumentos congêneres, liquidações e
pagamentos de despesas, que ocorreram sob a ordenação de atos dos Secretários
Municipais.

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Ademais, em determinados casos, não se verificou no feito condutas eventualmente


praticadas pelo Prefeito que guardassem nexo com as irregularidades apontadas.
Nesse cenário, é importante ressaltar que ao Prefeito Municipal não compete, tampouco lhe
é exigível, o dever de revisar todos os editais e procedimentos licitatórios, bem como
convênios ou instrumentos congêneres, efetivados pelas Secretarias locais, razão pela qual
não pode ser responsabilizado de forma objetiva por irregularidades que porventura
ocorram fora do seu âmbito de atuação.
Logo, entende-se que deva ser reconhecida a ilegitimidade passiva do senhor Guerino
Luiz Zanon em relação aos indícios de irregularidade tratados nesta Instrução.
[...]”

2.1.3 Preliminar de Ilegitimidade Passiva do Sr. Paulo Roberto Vieira Caldellas

O senhor Paulo Roberto Vieira Caldellas, em sua defesa alega sua ilegitimidade
passiva, alegando:

a) Ausência de responsabilidade para atestar a regular observância dos


procedimentos legais pertinentes às licitações, embora tenha opinado pelo
prosseguimento de procedimentos instaurados pela Prefeitura;
b) Prescrição dos fatos constantes do Relatório de Auditoria, uma vez que o
prazo de julgamento das contas, relativas ao exercício de 2012, extinguiu-se
em 30/3/2015, conforme regramento exposto no artigo 76 da LC 621/2012;
c) Ilegalidade da instauração da tomada de contas especial.

A área técnica analisa a questão na Instrução Técnica Conclusiva 6134/2017, in


verbis:

“[...]
Análise:
a) Ausência de responsabilidade para atestar a regular observância dos
procedimentos legais pertinentes às licitações, embora tenha opinado pelo
prosseguimento de procedimentos instaurados pela Prefeitura:

Sobre a primeira alegação, parece-nos haver invasão do mérito. A ilegitimidade passiva


estaria caracterizada, por exemplo, se fosse imputada irregularidade a outro responsável e,
equivocadamente, o justificante tivesse sido citado.
Os argumentos trazidos, em que pese sua validade, não tratam do tema legitimidade
processual, devendo ser abordados em análise de mérito. O justificante foi citado
validamente por irregularidades que foram a ele atribuídas, posto que era praxe
administrativa da Prefeitura de Linhares, a manifestação da auditoria geral nos processos
licitatórios, conforme se pode constatar com os documentos carreados aos autos pela
equipe do TCEES. Assim se faz necessário analisar no mérito o nexo de causalidade da
conduta do agente com as supostas irregularidades aventadas pela auditoria.

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b) Prescrição dos fatos constantes do Relatório de Auditoria, uma vez que o prazo de
julgamento das contas, relativas ao e xercício de 2012, extinguiu-se em 30/3/2015,
conforme regramento exposto no artigo 76 da LC 621/2012:

O relatório da fiscalização procedida na Prefeitura de Linhares, posteriormente convertido


em Tomada de Contas Especial, analisou a regularidade dos atos de gestão praticados no
exercício de 2012. Portanto, não se aplica a regra do artigo 76 da LC 621/2012, citado pelo
defendente, posto que, o referido dispositivo refere-se a contas de governo.
Nesse sentido, vale trazer a distinção entre contas de Governo e contas de Gestão,
extraída de julgamento do Superior Tribunal de Justiça – ROMS 11060. Vejamos:
Contas de Governo:
“Demonstram o retrato da situação das finanças da unidade federativa (União,
Estados, Distrito Federal e Municípios). Revelam o cumprir do orçamento, dos
planos de governo, dos programas governamentais, demonstram os níveis de
endividamento, o atender aos limites de gasto mínimo e máximo previstos no
ordenamento para saúde, educação e gastos com pessoal. Consubstanciam -
se, enfim, nos Balanços Gerais prescritos pela Lei 4.320/64.”

Contas de Gestão:
“Referem-se aos atos de administração e gerência de recursos públicos
praticados pelos chefes, e demais responsáveis, de órgãos e entidades
públicas, tais como: admitir pessoal, aposentar, licitar, contratar, empenhar,
liquidar, pagar (assinar cheques ou ordens bancárias), inscrever em restos
a pagar, conceder adiantamentos, etc.; É julgamento essencialmente técnico,
ou seja, obedece a parâmetros de ordem técnico-jurídica, têm,
substancialmente, o objetivo de efetivar a reparação de dano ao patrimônio
público.” (gn)
Estes autos versam sobre a auditoria levada a efeito na Prefeitura Municipal de Linhares,
abrangendo atos de gestão praticados no exercício de 2012, em cumprimento ao Plano de
Fiscalização 88/2013. Dos trabalhos, resultou o Relatório de Auditoria RA -O 102/2014,
posteriormente convertido em Tomada de Contas Especial, por haver indícios de dano ao
erário. Trata-se, portanto, de contas de gestão.
a) Ilegalidade da instauração da tomada de conta s especial.

O senhor Paulo Roberto Vieira Caldellas, ainda, sustenta preliminarmente, que não haveria
pressuposto legal que ensejasse a conversão deste processo (originariamente de natureza
fiscalizatória) em tomada de contas especial, uma vez que não haveria a configuração da
ocorrência de desfalque, desvio de bens ou outra irregularidade de que resulte dano ao
erário.
Da argumentação aduzida na peça contestatória denota-se que o defendente apega-se à
ideia de que a palavra “configurada”, presente na expressão “configurada a ocorrência de
desfalque, desvio de bens ou outra irregularidade de que resulte dano ao erário”,
5 6
expressada nos artigos 115, caput e 57, IV , da Lei 621/2012, teria o significado de “que
tenha dado ou tomado forma”. Sem razão o defendente, eis que os dicionários tradicionais

5
Art.115. Ao exercer a fiscalização, se configurada a ocorrência de desfalque, desvio de bens ou outra
irregularidade de que resulte dano ao erário, o Tribunal converterá o processo emtomada de contas
especial e determinará a citação dos responsáveis, para, no prazo fixado no Regimento Interno,
apresentar alegações de defesa e/ou recolher a importância devida.
6
Art. 57. Na fase de instrução, havendo indícios de irregularidade, cabe ao Tribunal de Contas ou ao
Relator:
[...]
IV - converter, se for o caso, o processo em tomada de contas especial, se configurada a ocorrência de
desfalque, desvio de bens ou outra irregularidade de que resulte dano ao erário.

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da língua portuguesa atribuem ao termo “configurado” a acepção de “ter semelhanças ou
características” tais que ensejam uma determinada classificação, dessa forma, a teor do
significado do vocábulo “configurada”, não se exige um juízo de certeza quanto ao dano
experimentado pelo erário para que se autorize a conversão do processo de fiscalização em
tomada de contas especial não havendo equívoco desta Corte ao tomar a decisão de
conversão antes de findar-se a fase de instrução técnico-processual.
Também argumenta o defendente que descaberia a conversão em tomada de contas
especial por não se encontrarem presentes os requisitos preconizados no art. 57, inciso IV,
da LC 621/2012. Eis o teor do dispositivo legal:
Art. 57. Na fase de instrução, havendo indícios de irregularidade, cabe ao
Tribunal de Contas ou ao Relator:
(...)
IV - converter, se for o caso, o processo em tomada de contas especial, se
configurada a ocorrência de desfalque, desvio de bens ou outra irregularidade
de que resulte dano ao erário.
Em que pesem os argumentos tecidos pelo ora defendente evidencia-se que o disposto no
art. 57 da LC 621/2012 se refere à fase de elaboração da Instrução Técnica Inicial que, por
sua vez, tem caráter meramente propositivo eis que o reconhecimento do dano e eventual
condenação são de competência exclusiva dos órgãos colegiados compostos de
Conselheiros ou Conselheiros em substituição desta Corte de Contas. Tratando-se de fase
processual propositiva tem-se que a “constatação”, referida no inciso I do § 1º do art. 317 do
RITCEES, se dá em tese, ou seja, na presença de indícios dos quais se possa inferir a
necessidade de condenação ao ressarcimento, oportunizando-se, por óbvio, amplo direito
de defesa para que se elida o indício de irregularidade que contém sugestão de
reconhecimento de dano e consequente imputação de ressarcimento à parte, do contrário
não haveria sentido quanto ao disposto no § 2º do mesmo artigo 317 que estabelece a
preferência pela conversão do processo em tomada de contas especial por ocasião da
determinação de citação, senão vejamos:
Art. 317. [...]
§2º A conversão em tomada de contas especial ocorrerá,
preferencialmente, por ocasião da determinação de citação do
responsável.
De se notar, ainda, que a mera conversão do processo de fiscalização em tomada de
contas especial não implica, automaticamente, no julgamento pela irregularidade das contas
das partes do processo, não havendo que se falar em prejuízos a sua esfera jurídica ou ao
seu direito de defesa, ao contrário, já que, em havendo conversão por ocasião da
determinação de citação, estar-se-á, quando da realização do ato citatório, dando ciência
inequívoca à parte de que em face dela existe um processo que poderá ensejar, além da
condenação às sanções previstas na LC 621/2012 e a imputação de ressarcimento, o
julgamento de suas contas com as consequentes implicações previstas na Lei
Complementar 135/2010 (Lei da Ficha Limpa) que podem repercutir em sua capacidade
eleitoral passiva.
Portanto, longe de se constituir em ofensa às garantias constitucionais, a conversão do feito
em tomada de contas especial proporciona à parte o conhecimento amplo das
consequências de um possível julgamento em seu desfavor estando em plena consonância
com os princípios do devido processo legal e da ampla defesa, consagrados na Constituição
da República.
Reforçando a ausência de prejuízo às partes em razão da conversão da natureza
processual do feito registre-se que a própria norma regimental deste TCEES prevê a
desconversão do processo de tomada de contas especial, caso em que retornará à
natureza de processo de fiscalização com os consectários que lhe são característicos
(possibilidade de aplicação das sanções previstas na LC 621/2012, bem como de expedição
de determinações e recomendações), senão vejamos:

7
Vide os Dicionários Michaelis e Aurélio em suas versões disponíveis na rede mundial de computadores.

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Art. 329. A apreciação e julgamento dos processos sob a jurisdição do Tribunal


observarão as normas relativas aos ritos especiais previstos neste Regimento.

[...]

§ 8ºOs processos de fiscalização convertidos em tomada de contas


especial em que, por ocasião do julgamento, for afastada a imputação de
ressarcimento de valores, subsistindo, no entanto, a irregularidade,
deverão ser desconvertidos para serem apreciados como processo de
fiscalização, apenas quanto aos responsáveis que se enquadrem nessa
hipótese. (Parágrafo acrescido pela Emenda Regimental nº 006, de 29.3.2016)
(g.n).

Conclusão:
Dessa forma, a vista das razões aqui expostas, opina-se pelo não acolhimento da
preliminar, resguardando-se a verificação acerca da responsabilidade quando da análise
do mérito do nexo de causalidade entre as supostas irregularidades aventadas pela
auditoria e a conduta do agente]
[...]”

2.1.4 Preliminar de Ilegitimidade passiva arguida pelos senhores Thiago Bruneli


Pessoa (Presidente da CPL) e Thiago Monteiro Bonatto (Pregoeiro)

O Sr. Thiago Bruneli Pessoa alega em suas justificativas que “apenas desempenhou
suas funções no propósito de formalizar o processo de inexigibilidade de licitação, não
tendo realizado qualquer ato decisório ou mesmo ato administrativo capaz de impingir-
lhe a responsabilidade ora sob análise.”. Registra que” a lei não atribui ao presidente
da CPL a competência para atuar na fase interna, tampouco concede poderes para
impedir o prosseguimento dos processos administrativos após aprovação da autoridade
competente e do órgão jurídico. E frisa: ´’A lei lhe atribui sim grandes
responsabilidades, porém, todas elas a partir da publicação do edital e não antes na
fase de sua elaboração e prévia instrução processual’”.

Já o Sr. Thiago Monteiro Bonatto argumenta que não houve qualquer relato de indício
de irregularidade que tenha ocorrido na fase externa dos procedimentos licitatórios, ou
seja, publicação do edital à adjudicação. Todos os atos questionados pela auditoria são
referentes à instrução dos processos na fase interna. “Lembra que a responsabilidade
do pregoeiro e de sua equipe de apoio, conforme regramento da Lei 10.520/2002,
inicia-se na fase externa da licitação, quando do recebimento das propostas e lances e
se encerra na adjudicação do objeto licitado ao vencedor (artigo 3º, IV).” Esclarece que
“ao receber os processos da Secretaria requisitante, de imediato os remetia à
Procuradoria Jurídica Administrativa, para atendimento ao disposto no artigo 38, inciso

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VI da Lei 8.666/93, ou seja, para análise da modalidade adotada para a contratação,


bem como, das minutas dos instrumentos convocatórios e seus anexos, incluindo as
minutas dos contratos administrativos.”.

A subscritora da análise técnica aborda a questão na Instrução Técnica Conclusiva


6134/2017, in verbis:

“[...]
Análise:
As atribuições dos membros das comissões de licitação, dos pregoeiros e de suas equipes
de apoio – segundo a lei e a doutrina – se concentram na fase externa dos procedimentos
licitatórios (repostas a pedidos de esclarecimentos ou dúvidas acerca do edital, decisões
sobre impugnações ao edital, decisões que habilitam ou inabilitam licitantes, classificam ou
desclassificam propostas, juízo de aceitabilidade de preços, julgamento de recursos,
adjudicação do objeto etc.).
No entanto, admite-se que esses servidores possam ser chamados a responder por atos
que hajam praticado ou de que tenham participado, mesmo de forma indireta, na fase
interna da licitação (tais como: definição do objeto, pesquisa de preços de mercado,
elaboração de projeto básico, elaboração de ato convocatório) ou do processo de
contratação direta, a despeito de não serem de sua regular competência.
Nesse sentido, destaca-se o seguinte julgado do TCU:

5.7 ainda que a Comissão de Licitação não detenha competência para a prática da
elaboração do edital, que compete à Administração, não poderia adotar uma atitude
passiva diante de vícios nesse instrumento, que constitui a base para todo o seu
trabalho de processamento da licitação, senão chegaríamos à possibilidade absurda
de a Comissão dar seguimento a um procedimento patentemente irregular, por vício
óbvio no edital, com grande prejuízo à Administração Pública daí advindo, e levar a
licitação a seu término, com adjudicação do objeto, ainda que conhecedora do
problema desde o início de suas tarefas.
5.8 Corrobora ainda a argumentação aqui exposta o disposto no §1º do art. 41 da Lei
nº 8.666/93, ao facultar a qualquer cidadão a impugnação do edital de licitação por
irregularidade na aplicação daquela lei, devendo a Administração julgar e responder
em até três dias úteis.
5.9 Estabelece-se, portanto, um mecanismo formal e padronizado para
descontinuidade de edital eivado de vícios de legalidade.
5.10 Mencione-se, ainda, que a jurisprudência desta Corte de Contas possui
inúmeros julgados que indicam não dever a Comissão de Licitação tolerar vícios no
edital: Acórdãos de nº 2.640/07 – Plenário, 2.639/07 – Plenário, 2.638/07 – Plenário
(...), 1.727/05 – Segunda Câmara, 135/05 – Plenário, dentre outros.
5.11... no caso em tela, o vício do edital em questão era patente e óbvio, já que
especificava marca de produto, em notória afronta à Lei nº 8.666/93 e à
jurisprudência desta Corte de Contas, que os membros da Comissão de Licitação
deveriam conhecer.
5.12 Diante dessa argumentação, podemos refutar os argumentos dos recorrentes,
pois, ainda que os atos anteriores, que culminaram com a elaboração do edital, não
sejam de competência da Comissão de Licitação e não haja assinatura de seus
membros em nenhum dos documentos correspondentes, a Comissão, ante a
interpretação sistemática da legislação incidente ao caso, não poderia dar
prosseguimento a procedimento com afronta clara ao princípio da legalidade,

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causada por vício no edital (Acórdão nº 833/2008, Plenário, Processo nº


007.792/20045,Relator Min. Valmir Campelo).

Vê-se, portanto, que, em regra, membros da Comissão de Licitação, pregoeiros e suas


equipes de apoio serão responsabilizados por atos vinculados a fase externa do
procedimento licitatório, que se inicia a partir da publicação do edital e se encerra com a
adjudicação do objeto da licitação. Contudo, poderão ser responsabilizados por atitude
passiva diante de vícios óbvios na fase preparatória da licitação, primordial para a boa e
regular condução do procedimento.
Dessa forma, opinamos pelo não acolhimento da preliminar de ilegitimidade passiva
arguida pelos defendentes, senhores Thiago Brunelli Pessoa e Thiago Monteiro
Bonatto, respectivamente Presidente da Comissão Permanente de Licitação e Pregoeiro da
Prefeitura de Linhares, resguardando-se a verificação de suas responsabilidades, quando
da análise do mérito das supostas irregularidades a eles imputadas pela auditoria, momento
no qual será avaliada a configuração da culpa (negligência, imprudência ou imperícia) ou o
dolo por atos vinculados à fase interna ou externa dos procedimentos licitatórios.
[...]”

2.1.5 Preliminar de Ilegitimidade passiva arguida pelo senhor Geraldo Tadeu


Scaramussa da Silva (parecerista jurídico)

A subscritora da análise técnica aborda a questão na Instrução Técnica Conclusiva


6134/2017, in verbis:

“[...]
Preliminarmente o defendente argumenta que qualquer tentativa de responsabilização do
parecerista viola flagrantemente à Constituição da República Federativa do Brasil, em
especial no tocante ao exercício da profissão de advogado expresso no artigo 133, que
assim dispõe:
Art. 133 O advogado é indispensável à administração da justiça, sendo
inviolável por seus atos e manifestações no exercício da profissão, nos limit es
da lei.

Complementa afirmando que, é assente na doutrina e jurisprudência que o procurador


jurídico dos órgãos ou entes públicos não pode ser responsabilizado por seus pareceres,
não tendo restado configurado de sua parte, dolo, erro inescusável ou clara omissão quanto
a dever de agir.
Cita julgado do Supremo Tribunal Federal, que, no MS nº 24.073, na relatoria do Ministro
Carlos Velloso, ficou assentado que o parecer não é ato administrativo, mas opinamento
que visa esclarecer e informar. O parecerista é somente civilmente responsável por seus
atos se causar danos a seus clientes ou a terceiros, e se o ato opinativo for praticado com
culpa em sentido amplo.
Cita, também, o próprio Tribunal de Contas do Estado do Espírito Santo, que, nos termos do
Acórdão TC 568/2014, afastou a responsabilidade de irregularidade da conduta do
parecerista, por entender que o mesmo não pratica ato administrativo, mas, tão somente,
emite a sua opinião à luz da lei.
Análise:

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A legislação regente deste Tribunal de Contas, Lei 621/2012 (Lei Orgânica) e Resolução
261/2013 (Regimento Interno), trazem expressa proibição de sujeição de advogados
públicos pareceristas à jurisdição desta Corte de Contas. In verbis:
Lei Orgânica do TCEES
Art. 5º A jurisdição do Tribunal abrange:
XVII - os responsáveis pela elaboração dos editais de licitação e dos convites,
os participantes das comissões julgadoras dos atos licitatórios, os pregoeiros,
bem como os responsáveis e ratificadores dos atos de dispensa ou
inexigibilidade. (Inciso incluído pela LC nº 658/2012 – DOE 21.12.2012)
Parágrafo único. Excetuam-se do disposto no inciso XVII deste artigo os atos e
manifestações dos advogados públicos submetidos à Lei Federal nº 8.906, de
04.7.1994, em face da disposição contida no § 3º do seu artigo 2º . (Incluído
pela LC nº 658/2012 – DOE 21.12.2012) (gn)
Regimento Interno do TCEES
Art. 5º A jurisdição do Tribunal abrange:
[...]
XII - os responsáveis pela elaboração dos editais de licitação e dos convites, os
participantes das comissões julgadoras dos atos licitatórios, nos termos do art.
51, § 3º, da Lei nº 8.666/93, e os pregoeiros, bem como os responsáveis e
ratificadores dos atos de dispensa ou inexigibilidade;
[...]
Parágrafo único. Excetuam-se do disposto no inciso XII deste artigo os atos e
manifestações dos advogados públicos submetidos à LeiFederal nº 8.906, de
04.7.1994, em face da disposição contida no § 3º do seu artigo 2º. (gn)

Pretendeu-se, assim, reafirmar o disposto no art. 133 da CRFB e no § 3º do art. 2º da Lei


8
8.906/1994 , visando assegurar a liberdade e autonomia do advogado no exercício de sua
profissão. Contudo tal garantia não é absoluta, uma vez que, o advogado poderá ser
9
responsável pelos atos que, no exercício profissional, praticar com dolo ou culpa .
Quanto à interpretação do parágrafo único do art. 5º da LC 621/2012, vale lembrar recente
julgado deste Tribunal de Contas. In verbis:
Acórdão TCEES-455/2016-Plenário
Tratam os presentes autos de Embargos de Declaração, interposto em face do
Acórdão TC–1215/2015, que julgou a responsabilidade do parecerista quanto à
contratação por inexigibilidade de licitação, sem a presença dos requisitos
legais. O embargante alegou a omissão da decisão por não levar em
consideração “a Lei Orgânica nº 621/12 que excetua da jurisdição do TCE os
advogados públicos submetidos ao estatuto da advocacia”. Em relação à
obscuridade, o relator trouxe em seu voto que: “ao me posicionar acerca da
responsabilização do advogado público, fiz considerações quanto à disposição
constitucional que estabelece normas para procedimentos licitatórios, o que
abrange a competência desta Corte de Contas consoante dispõe o artigo 5º, I
da LC 621/12, o que em consonância com o entendimento do STF o advogado
público responde por erro crasso quanto emitido em parecer.

8
Art. 2º (...)
(...)
§ 3º - No exercício da profissão, o advogado é inviolável por seus atos e manifestações, nos limites desta
lei.
9
Art. 159 do Código Civil e art. 32 da Lei n° 8.906/94

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A exceção prevista no parágrafo único da LC 621/12 que estabelece ausência


de competência desta Casa de Contas, diz respeito, tão somente, a atos e
manifestações abarcadas pelo estatuto da OAB, o que não retrata a hipótese
de parecer emitido por advogado público que, sem fundamentação legal, causa
prejuízo ao erário.
O relator concluiu pela inexistência de quaisquer dos defeitos previstos no art.
167 da LC nº 621/12, que caracterizam a interposição dos embargos de
declaração. O Plenário, à unanimidade, não conheceu os Embargos de
Declaração. Acórdão TC-455/2016-Plenário, TC 13558/2015, relator
Conselheiro José Antônio Almeida Pimentel, publicado em 24/05/2016. (gn)

Em sentido análogo, o STF já havia decido, em 2002, que o advogado somente será
civilmente responsável pelos danos causados a seus clientes ou a terceiros, se decorrentes
de erro grave, inescusável, ou de ato ou omissão praticado com culpa em sentido largo (MS
24073/DF, Rel. Min. Carlos Velloso, Tribunal Pleno, DJ 06/11/2002).
Já o TCU, em uma interpretação mais específica, tem entendido que o parecerista jurídico
deve responder quando a peça que elaborou contenha fundamentação absurda,
desarrazoada ou claramente insuficiente e tenha servido de fundamentação jurídica para a
prática de ato irregular.
Certo que, quanto à responsabilização do parecerista jurídico, a maioria da doutrina e
jurisprudência, principalmente após as manifestações do STF nas decisões MS 24.584 e
MS 24.631 convergem para a possibilidade quando o parecer é de natureza vinculante e,
em se tratando de parecer opinativo, quando há demonstração de erro grosseiro, má-fé ou
culpa em sentido largo.
Neste sentido, perfaz-se oportuno trazer à baila trechos dos referidos Acórdãos da Suprema
Corte:
MS 24.584/DF

A) No silêncio da lei, o exercício de função consultiva técnico-jurídica


meramente opinativa não gera, em princípio, responsabilidade do parecerista.
A contrário senso, e a bem da coerência do sistema, não cabe extrair dessa
conclusão que o administrador também se isenta da responsabilidade, pois se
a lei lhe reconhece autoridade para rejeitar entendimento da consultoria,
também lhe imputa as eventuais irregularidades do ato. Esse é entendimento
firmado no MS 24.073, ressaltando que se aplica a ressalva desse julgado
quanto à possibilidade de verificação de “erro grave, inescusável, ou de ato ou
omissão praticado com culpa, em sentido largo” (trecho da ementa do MS
24.073).
B) Nos casos de definição, pela lei, de vinculação do ato administrativo à
manifestação favorável no parecer técnico jurídico, a lei estabelece efetivo
compartilhamento do poder administrativo de decisão, e assim o parecerista
responde conjuntamente com o administrador, pois é também administrador
nesse caso. (gn)

MS 24.631/DF

I. Repercussões da natureza jurídico-administrativa do parecer jurídico: (i)


quando a consulta é facultativa, a autoridade não se vincula ao parecer
proferido, sendo que seu poder de decisão não se altera pela manifestação do
órgão consultivo; (ii) quando a consulta é obrigatória, a autoridade
administrativa se vincula a emitir o ato tal como submetido à consultoria, com
parecer favorável ou contrário, e se pretender praticar ato de forma diversa da
apresentada à consultoria, deverá submetê-lo a novo parecer; (iii) quando a lei
estabelece a obrigação de decidir à luz de parecer vinculante, essa
manifestação de teor jurídica deixa de ser meramente opinativa e o

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administrador não poderá decidir senão nos termos da conclusão do parecer


ou, então, não decidir.

II. No caso de que cuidam os autos, o parecer emitido pelo impetrante não
tinha caráter vinculante. Sua aprovação pelo superior hierárquico não desvirtua
sua natureza opinativa, nem o torna parte de ato administrativo posterior do
qual possa eventualmente decorrer dano ao erário, mas apenas incorpora sua
fundamentação ao ato.

III. Controle externo: É lícito concluir que é abusiva a responsabilização do


parecerista à luz de uma alargada relação de causalidade entre seu parecer e
o ato administrativo do qual tenha resultado dano ao erário. Salvo
demonstração de culpa ou erro grosseiro, submetida às instâncias
administrativo-disciplinares ou jurisdicionais próprias, não cabe a
responsabilização do advogado público pelo conteúdo de seu parecer de
natureza meramente opinativa. (gn)

Afirmou-se, ainda no julgamento do MS 24.584-DF, que o caso específico tratado no MS


24.073-DF era diverso, eis que relativo a parecer onde se interpretaram dispositivos da Lei
nº 8.666/93 referentes a hipóteses de dispensa e inexigibilidade. Nesse passo, assentou o
STF, que o parecer que consubstancia o reconhecimento de casos de dispensa e
inexigibilidade tem caráter opinativo.
Deve-se destacar, ainda, o entendimento do Tribunal de Contas da União, conforme consta
no Informativo n° 191, referentes às Sessões de 1º e 2 de abril de 2014, parcialmente
transcrito:
O parecerista jurídico pode ser responsabilizado solidariamente com
gestores por irregularidades na aplicação de recursos públicos. O parecer
jurídico integra e motiva a decisão a ser adotada pelo ordenador de
despesas.
Por meio de Pedido de Reexame, subprocurador administrativo de município
requereu a reforma de deliberação que o condenara ao pagamento de multa
em razão de irregularidades em procedimento licitatório envolvendo a aplicação
de recursos públicos federais no Programa Caminho da Escola e no Programa
Nacional de Apoio ao Transporte Escolar. Alegou o recorrente que não poderia
ser responsabilizado "pois apenas emitiu parecer jurídico, que seria ato
'meramente opinativo'”, e ainda que "não ordenou despesas, não gerenciou,
arrecadou, guardou ou administrou quaisquer bens ou valores públicos ”. Ao
examinar a matéria, a relatora anotou que "o entendimento deste Tribunal é de
que o parecerista jurídico pode ser responsabilizado solidariamente com
gestores por irregularidades na aplicação dos recursos públicos. O parecer
jurídico,via de regra acatado pelo ordenador de despesas, é peça com
fundamentação jurídica que integra e motiva a decisão a ser adotada". Citou
precedente do STF que, "ao tratar da responsabilização de procurador de
autarquia por emissão de parecer técnico-jurídico, admitiu a responsabilidade
solidária do parecerista em conjunto com o gestor". Ademais, “a
responsabilização solidária do parecerista por dolo ou culpa decorre da própria
Lei 8.906/1994 (Estatuto da Advocacia), que, em seu art. 32, dispõe que o
‘advogado é responsável pelos atos que, no exercício profissional, praticar com
dolo ou culpa’". Por fim, observou que o parecer favorável emitido pelo
recorrente implicou prosseguimento de certame "marcado por total falta de
competitividade". O Tribunal, então, seguindo o voto da relatora, decidiu negar
provimento ao recurso. (Acórdão 825/2014-Plenário, TC 030.745/2011-0,
relatora Ministra Ana Arraes, 2.4.2014.) (g.n.).
Ressalta-se que, foi reafirmado no Acórdão de julgamento do Agravo Regimental no MS
27.867 que “[...] é possível a responsabilização de advogado público pela emissão de
parecer de natureza opinativa nas situações em que restar configurada a existência de
culpa ou erro grosseiro”.

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De se destacar, também, o entendimento desta Corte de Contas que, em recentes julgados,


se manifestou pela possibilidade de responsabilização do parecerista jurídico. Senão
vejamos :
Acórdão TCEES 1803/2015-Plenário
Em voto vista, o Conselheiro Rodrigo Flávio Freire Farias Chamoun acolheu a
manifestação da área técnica no seguinte sentido:
“(...) Frise-se, portanto, que o STF fixou, no julgamento do MS 24.584-DF, por
maioria de votos, o entendimento de que a manifestação jurídica sobre minutas
de editais de licitação, de contratos, de acordos, de convênios e de ajustes,
tem natureza vinculante, e não meramente opinativa, de sorte que o emitente
do parecer terá responsabilidade solidária com a autoridade que vier a praticar
o ato, uma vez que o dispositivo deixa claro que deverá haver aprovação da
assessoria jurídica, condicionando a prática do ato à aprovação do parecerista,
havendo, assim, segundo o STF, compartilhamento de poder decisório (...).
De acordo com a ITI 999/2014, o senhor (...), atuando como procurador,
elaborou parecer acerca de edital de licitação supostamente viciado. Tal
parecer, conforme apontamentos acima, tem natureza vinculante, e, não se
subsumindo às hipóteses do inciso XVII, não incide na exceção do parágrafo
único do art. 5º da LC 621/2012, enquadrando-se, assim, nas situações que
são de competência desta Corte. Por esse motivo, o parecerista é legítimo para
figurar no polo passivo do presente processo, dependendo, no entanto, sua
efetiva responsabilização do exame do mérito da irregularidade (...)”. Por fim,
asseverou que “no caso dos autos, somente analisando o teor do parecer
jurídico emitido pelo Subprocurador é que se pode ter um juízo acerca de sua
responsabilidade pelos atos tidos por irregulares” e votou por afastar a
preliminar de ilegitimidade passiva do Subprocurador Municipal. O Plenário, à
unanimidade, decidiu: “rejeitar a preliminar de ilegitimidade passiva do senhor
(...), Subprocurador Municipal” e “considerar procedente a presente
Representação, aplicando ao Subprocurador, Dr. (...), e à Pregoeira, Srª. (...),
multa pecuniária individual no valor de 3.000,00 (três mil reais), na forma dos
artigos 131, 132 e 135, inciso II da Lei Complementar Estadual nº 621/12”.
Acórdão TC-1803/2015-Plenário, TC 9033/2013, relator Conselheiro Marco
Antônio da Silva, publicado em 15/02/2016.
Por fim, destaca-se que por meio do recente Acórdão TC-542/2016 do Plenário desta Corte
de Contas, restou assentado que a responsabilização do advogado público deve ser
analisada na situação concreta, posto não ser admitido pelo ordenamento jurídico a
responsabilização objetiva. Nesse sentido, vale a transcrição da argumentação utilizada
para embasar o referido decisum colegiado:
O Ordenamento Jurídico Brasileiro não é condescendente com a
inimputabilidade, a irresponsabilidade absoluta de qualquer pessoa ou
categoria profissional, sejam públicos ou privados, pelo fato de estarem
devidamente inscritos nos quadros da OAB, haja vista a regra geral de
responsabilização por atos ilícitos, especialmente aqueles que possam causar
danos a terceiros.
Inicialmente, importante apontar o que preceitua o Regimento Interno desta
Casa no tocante à abrangência de sua jurisdição:
Art. 4º O Tribunal possui jurisdição própria e privativa em todo o território
estadual, sobre as pessoas e matérias sujeitas à sua competência.
Art. 5º A jurisdição do Tribunal abrange:
(...)
XIII - os responsáveis pela aprovação das minutas de editais de licitação,
bem como as dos contratos, acordos, convênios ou ajustes, nos termos
do art. 38, parágrafo único, da Lei nº 8.666/93;

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Por outra vertente, cumpre registrar que o Tribunal de Contas da União – TCU
já firmou seu entendimento acerca da possibilidade de responsabilização do
“advogado público”, desde que sejam constatados alguns pressupostos
específicos, quais sejam: quando o parecer não estiver devidamente
fundamentado; quando não defende tese jurídica aceitável; e/ou quando não
está alicerçado em entendimento doutrinário ou jurisprudencial.
Neste sentido, transcrevemos trecho do Voto do Ministro substituto Benjamim
Sherman Cavalcanti proferido nos autos do Processo TC-014.973/2004-4,
Acórdão nº 629/2004-Plenário, Ata 17:
“7. Relativamente à alegada contradição, sob o argumento de que este Tribunal
firmou entendimento segundo o qual, ‘quando o administrador age sob o
entendimento de parecer jurídico, não se lhe deve imputar responsabilidade
pelas irregularidades’, há que se observar que esta Corte evoluiu, já há algum
tempo, seu posicionamento no sentido de que tal entendimento somente pode
ser admitido a partir da análise de cada caso, isto é, deve-se verificar ‘se o
parecer está devidamente fundamentado, se defende tese aceitável, se está
alicerçado em lição de doutrina ou de jurisprudência’. Presentes tais condições,
‘não há como responsabilizar o advogado, nem, em consequência, a
autoridade que se baseou em seu parecer’, conforme leciona a professora
Maria Silvia Zanella Di Pietro (in “Termos Polêmicos sobre Licitações e
Contratos”, Malheiros Editores, 2ª edição, 1995, pág. 118).”.
Segundo Marçal Justen Filho, os integrantes de assessoria jurídica devem ser
responsabilizados em caso de emissão de parecer que contenha erro ou
irregularidade.
“Ao examinar e aprovar os atos da licitação, a assessoria jurídica assume
responsabilidade pessoal solidária pelo que vier a ser praticado. Ou seja, a
manifestação acerca da validade do edital e dos instrumentos de contratação
associa o emitente do parecer ao autor dos atos. Há dever de ofício de
manifestar-se pela invalidade, quando os atos contenham defeitos. Não é
possível os integrantes da assessoria jurídica pretenderem escapar aos efeitos
da responsabilização pessoal quando tiverem atuado defeituosamente no
cumprimento de seus deveres: se havia defeito jurídico, tinham o dever de
aponta-lo.”
Sobre o mesmo tema, assim se pronunciou o Superior Tribunal de Justiça –
STJ no julgamento do Recurso Especial Nº 827.445 – SP (2006/0058922-3),
em voto-vista do Ministro Teori Albino Zavascki:
“(...)
ADMINISTRATIVO. AÇÃO DE IMPROBIDADE. LEI 8.429/92. ELEMENTO
SUBJETIVO DA CONDUTA. IMPRESCINDIBILIDA DE.
(...)
3. É razoável presumir vício de conduta do agente público que pratica um ato
contrário ao que foi recomendado pelos órgãos técnicos, por pareceres
jurídicos ou pelo Tribunal de Contas. Mas não é razoável que se reconheça ou
presuma esse vício justamente na conduta oposta: de ter agido segundo
aquelas manifestações, ou de não ter promovido a revisão de atos praticados
como nelas recomendado, ainda mais se não há dúvida quanto à lisura dos
pareceres ou à idoneidade de quem os prolatou. Nesses casos, não tendo
havido conduta movida por imprudência, imperícia ou negligência, não há
culpa e muito menos improbidade . A ilegitimidade do ato, se houver, estará
sujeita a sanção de outra natureza, estranha ao âmbito da ação de
improbidade.” (grifos do Acórdão).
Em todo caso, este Tribunal tem se pautado pelo cuidado de não
responsabilizar ninguém objetivamente, em analisar cada situação concreta,
mas julgando com a necessária razoabilidade.

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No caso concreto, a equipe técnica indicou elementos nos quais pode ter
ocorrido falhas da parecerista, tornando-se necessário, portanto, que esta
apresente sua defesa em face dos indicativos apontados no Processo TC
2681/2012.
Desta forma, e sem a intenção de fazer um juízo de mérito das supostas
irregularidades praticadas pela advogada, até porque as possíveis
irregularidades estão sendo analisadas no Processo TC 2681/2012. O que nos
compete aqui é tão somente analisar se é cabível ou não responsabilização do
parecerista em atos licitatórios.
Ademais, é preciso deixar claro que casos de isenção da
responsabilização do parecerista devem ser analisados no caso concreto,
a depender da suposta ilicitude apontada. (Grifo nosso)
Acórdão TC 542/2016 – Plenário. Data do julgamento: 24/05/2016. Relator:
Conselheiro Domingos Augusto Taufner.
Feito este arrazoado acerca da posição atual do STF, TCU e desta Corte de Contas sobre a
responsabilidade do parecerista, volta-se ao debate da questão da responsabilização do
senhor Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva.
Note-se que foi tratada sobre a possibilidade jurídica e legal de imputação de
responsabilidade solidária do “advogado público” juntamente com o Gestor Público, quando
na hipótese restar adequadamente demonstrado que a emissão de parecer técnico-jurídico
decorresse de exigência legal (obrigatório) e possuísse força vinculante em relação à
decisão a ser tomada, e, ainda, quando houvesse erro grosseiro ou quando o parecer
não estivesse devidamente fundamentado; quando não defendesse tese j urídica
aceitável; e/ou quando não estivesse alicerçado em entendimento doutrinário ou
jurisprudencial.
Destarte, a análise de tais requisitos autorizadores da imputação de responsabilidade
solidária se confundem, inexoravelmente, com a análise do caso concreto, de sorte que a
imputação de responsabilidade e possível aplicação da respectiva sanção administrativa em
relação ao defendente serão devidamente analisadas quando for enfrentado o mérito das
supostas irregularidades a ele atribuídas.
Assim, pelas análises acima delineadas, à luz dos entendimentos sedimentados pelo TCU,
pelo STF e por esta Corte de Contas, sugerimos que não seja acolhida a preliminar de
ilegitimidade passiva arguida pelo senhor Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva
(Procurador do Município).
[...]”

2.2 Análise meritória dos indícios de irregularidade

Ratifico integralmente o posicionamento da área técnica e do Ministério Público


Especial de Contas para tomar como razão de decidir a fundamentação exarada na e
na Instrução Técnica Conclusiva 6134/2017, abaixo transcrita:

“[...]
3 ANÁLISE DOS INDÍCIOS DE IRREGULARIDADES APONTADOS NO RAO 102/2014 e
ITI 565/2015

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3.1 Eventos. Contratação de artistas e de infraestrutura para shows e eventos


3.1.1 Processo 9369/2012
Pregão 134/2012 - Contrato: 423/12, de 25/06/2012.
Valor: R$ 18.580,02
Credor: Fest Show Eventos Ltda.-ME (Lotes 02 e 03) – CNPJ 10.458.157/0001-19.
Objeto: Locação, montagem e desmontagem de 20 banheiros químicos, 24 tendas e 6
toldos para evento “Forró Pontal/2012”.
- Contrato: 424/12, de 25/6/2012 Valor: R$ 149.700,00.
Credor: JP Locação de Estruturas Metálicas Ltda.- EPP (Lote 01) –09.145.268/0001-96.
Objeto: Locação, montagem e desmontagem de estrutura (palco, iluminação e sonorização)
para realização do evento “Forró Pontal/2012”.

3.1.1.1 Restrição ao caráter competitivo do certame . (subitem 5.1.1.1 do RAO)


Base legal: Arts. 3º, II e 9º da Lei 10.520/02 c/c o art. 3º, § 1º, inciso I, e Art.30, inciso I e IV,
ambos da Lei 8666/93.
Relatório de Auditoria:
Identificação dos responsáveis:
1- Guerino Luiz Zanon - Prefeito Municipal.
Conduta: Responsabilidade solidária prevista no art. 2º, § 4º da Lei Municipal nº
2.576/2005.
Nexo: Por não fiscalizar e revisar os atos praticados dos servidores, decorrentes da
delegação de competência, contribuiu para ocorrência da irregularidade.

2- Thiago Monteiro Bonatto - Pregoeiro Municipal.


Conduta: Incluir em edital cláusula restritiva a competição
Nexo: Ao permitir em edital de licitação cláusula editalícia com restrição da
competitividade do certame restringiu a participação de outros licitantes contribuindo
para ocorrência da irregularidade.
3- Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva – Procurador Chefe Administrativo.
Conduta: Opinar favoravelmente o edital de licitação não se manifestou sobre
cláusula editalícia com restrição da competitividade do certame.
Nexo: Ao opinar favoravelmente o edital de licitação não se manifestou sobre
cláusula editalícia com restrição da competitividade do certame contribuiu para
ocorrência da irregularidade.
4- Paulo Roberto Vieira Caldellas – Auditor Geral

Conduta: Parecer favorável ao edital de licitação.


Nexo: Ao dar parecer favorável ao edital de licitação, com cláusula editalícia restritiva
da competição restringiu a participação de outros licitantes contribuindo para
ocorrência da irregularidade.
Relato do indício de irregularidade:
A equipe técnica, ao analisar o Pregão Presencial 134/12, constatou, no item
7.2.5.2.2, a seguinte informação:

7.2.5 – QUALIFICAÇÃO TÉCNICA:


7.2.5.2 – Lote 01:
7.2.5.2.2 – Comprovante de registro ou inscrição do licitante perante a
respectiva entidade profissional, CREA – Conselho Regional de

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Engenharia e Arquitetura e CRA – Conselho Regional de Administração,


observada sua atuação.
A inscrição de pessoa jurídica perante o Conselho Regional de Administração – CRA
só terá caráter obrigatório quando ela for constituída com a finalidade de explorar a
profissão de administrador; seja praticando a atividade-fim privativa, seja prestando
esses serviços profissionais a terceiros, excluindo-se desse conceito a simples
“contratação e administração de pessoal”, pois estas são atividades comuns ao
funcionamento de toda e qualquer empresa que tenha empregados.

A atividade preponderante das empresas que prestam os serviços objeto do Pregão


134/12, é locação, montagem, desmontagem de palco, sonorização e iluminação,
devendo a responsabilidade pela execução do serviço estar a cargo de um
engenheiro civil, na forma do art. 7º da Lei 5.194, de 24 de dezembro de 1966:

Art. 7º As atividades e atribuições profissionais do engenheiro, do arquiteto e do


engenheiro-agrônomo consistem em:
a) desempenho de cargos, funções e comissões em entidades estatais,
paraestatais, autárquicas, de economia mista e privada;
b) planejamento ou projeto, em geral, de regiões, zonas, cidades, obras,
estruturas, transportes, explorações de recursos naturais e desenvolvimento da
produção industrial e agropecuária;
c) estudos, projetos, análises, avaliações, vistorias, perícias, pareceres e
divulgação técnica;
d) ensino, pesquisas, experimentação e ensaios;
e) fiscalização de obras e serviços técnicos;
f) direção de obras e serviços técnicos;
g) execução de obras e serviços técnicos;
h) produção técnica especializada, industrial ou agropecuária.
Parágrafo único. Os engenheiros, arquitetos e engenheiros- agrônomos poderão
exercer qualquer outra atividade que, por sua natureza, se inclua no âmbito de
suas profissões.

Ao se contratar empresa para executar serviços de montagem e desmontagem de


palco, legalmente deve ser exigido que um engenheiro civil com registro no CREA
seja responsável pelo serviço, ao invés de um Administrador de Empresa com
registro no CRA, vez que a atividade-fim do objeto refere-se a serviços de
engenharia.
Ainda assim, como qualquer empresa, as licitantes que possuam estrutura
administrativa organizada não se encontram obrigadas a registrar-se nos quadros do
Conselho Regional de Administração ou do Conselho Regional de Engenharia e
Arquitetura, caso não exerçam qualquer atividade-fim naquelas áreas. Basta apenas
apresentar documento que comprove que possui como prestador de serviços um
engenheiro devidamente registrado no CREA.
Nesse mesmo sentido é a jurisprudência dos Tribunais Regionais Federais de todo o
país, conforme exemplificam os precedentes abaixo transcritos:
ADMINISTRATIVO. EMBARGOS À EXECUÇÃO FISCAL. MULTA. AUSÊNCIA
DE REGISTRO NO CONSELHO REGIONAL DE ADMINISTRAÇÃO. EMPRESA
DE SEGURANÇA. ADMINISTRAÇÃO DE PESSOAL NÃO É ATIVIDADE
BÁSICA PARA OS EFEITOS DO ART. 1º DA LEI 6.829/80. 1) A embargante,
denominada “GP Guarda Patrimonial de São Paulo SC Ltda.”, é empresa de
segurança, cujo objeto social é a “prestação de serviços de vigilância, escolta
armada, segurança pessoal privada em estabelecimentos financeiros, indústrias,
empresas, comércio, serviços, residências, áreas em gerais e afins.” (fls. 9).
Resta evidente, portanto, que não tem como atividade fim a prestação de
serviços privativos da profissão de administrador. 2) A inscrição da pessoa
jurídica em conselho profissional só é obrigatória quando ela é constituída com a
finalidade de explorar a profissão, seja praticando atividade -fim privativa, seja
prestando serviços profissionais a terceiros (art. 1º da Lei 6.839/80), no que não
se insere, obviamente, a simples “administração de pessoa l”, que é atividade
imanente ao funcionamento de toda e qualquer empresa que tenha empregados .
3) Nego provimento ao recurso.

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(AC 200151015183272, Desembargador Federal POUL ERIK DYRLUND, TRF2 -


OITAVA TURMA ESPECIALIZADA, 19/08/2005). (grifos da equipe)

PROCESSUAL CIVIL. ATIVIDADE BÁSICA DA EMPRESA É PRESTAR


SERVIÇO DE
VIGILÂNCIA. DESNECESSÁRIO O REGISTRO NO CRA. DECISÃO
MONOCRÁTICA NEGOU SEGUIMENTO AO APELO. ART. 557 DO CPC.
AGRAVO INTERNO. A decisão ora hostilizada foi clara ao reconhecer que a
necessidade de registro de pessoa jurídica perante o Conselho de Administração
encontra-se atrelada à atividade básica da empresa, que, na hipótese dos autos,
é prestar serviços de vigilância junto a estabelecimentos financeiros, conforme
consta de seu estatuto social, o que afasta a necessidade de registro, pois não
tem por objetivo precípuo administrar. (…) Agravo interno não provido.
(TRF – 2ª Região - AMS 2002.02.01.033304-0 – Rel. Desembargador JOSE
ANTONIO LISBOA NEIVA – 6ª Turma Especializada – DJU 01/12/2008 – p.161).
(grifos da equipe)

Nesse pormenor, convém ressaltar que a própria exigência de vistos de Conselhos


Regionais em atestados tem sido contestada pela doutrina do Prof. Marçal Justen
Filho, uma vez que a única profissão cuja disciplina legal exige que o profissional
comunique seus serviços ao órgão fiscalizador é a de Engenharia:

Interpreta-se a regra sobre prova do exercício de atividades anteriores segundo a


disciplina legal para o exercício de profissão. Verifique-se que a engenharia é a
única profissão que exige que o sujeito comunique cada atuação à entidade
profissional. Nenhum médico, advogado, contador (etc.) está obrigado a
promover anotação de responsabilidade correspondente à existência de um
contrato e sua execução. Por decorrência, as entidades de fiscalização somente
podem confirmar se o sujeito está regularmente inscrito em seus quadros. Não
dispõem de qualquer informação acerca do efetivo exercício da profissão –
ressalvadas as hipóteses de punições e questões similares.

Logo, não há cabimento em subordinar a prova do exercício de um serviço (que


não caracterize atividade de engenharia) ao registro da declaração no órgão de
fiscalização 10”. (grifos da equipe)

Ademais, o Tribunal de Contas da União também se manifestou a respeito:


[...]

A supressão da obrigatoriedade de comprovação do registro das empresas licitantes


nos Conselhos Regionais de Engenharia e Arquitetura, além do Conselho Regional
de Administração, que consta do item 7.2.5.2.2 do edital, poderia aumentar a
competitividade do certame.

Desse modo, os agentes responsáveis infringiram o dispositivo legal indicado.

Justificativas:
1 – Guerino Luiz Zanon:
A defesa contesta o apontamento da equipe de auditoria. Primeiro, destaca que o Edital se
referiu ao comprovante de inscrição do licitante perante o CRA com uma ressalva:
observada sua atuação. Segundo, argumenta que a restrição ao caráter competitivo do
certame não pode ser imaterial, teórica, detectável enquanto conjectura.
Complementa, afirmando que houve ampla competitividade, configurada na participação
das seguintes empresas do ramo: JP Locações de Estruturas Metálicas Ltda. EPP; Souza
Ambiental Ltda. ME; e Fest Show Eventos Ltda. ME.
2 – Thiago Monteiro Bonatto (Pregoeiro Municipal):

10
JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à Lei de Licitações e Contratos Administrativos. 12. ed.
São Paulo: Dialética, 2010, p. 456- 458.

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Primeiramente, o defendente argumenta que não é cabível a responsabilização do


pregoeiro pela inclusão desse item no edital, uma vez que, a exigência consta do Termo de
Referência elaborado pelo então Secretário Municipal de Esportes e Cultura.
Afirma, também, que, a Minuta do Edital com todos os seus anexos, bem como, a minuta do
contrato, foi analisada e aprovada pela Procuradoria Administrativa do Município, sem
qualquer ressalva ou considerações.
Argumenta que o artigo 3º, inc. IV, da Lei 10.520/2002, ao definir as atribuições do
pregoeiro, abriu a possibilidade de outras não mencionadas. Assim, o defendente entende
que o pregoeiro pode praticar qualquer ato que seja indispensável para a boa condução da
licitação, na fase em que lhe compete atuar. Porém, não lhe competia alterar o Termo de
Referência, cujo dever é da autoridade responsável, conforme previsão do inciso I, do citado
dispositivo legal.
E complementa frisando que, a Lei estabeleceu expressamente as atribuições do pregoeiro
para agir na fase externa da licitação até a sua adjudicação, ou, conforme o caso, análise
de recursos. Mas, não para alterar procedimento praticado pela autoridade requisitante na
forma de lei.
Esclarece, ainda, que, provavelmente a exigência de registro no Conselho Regional de
Administração, que integrou o Termo de Referência e por consequência o Edital, ocorreu
em atendimento a sucessivas notificações do referido Conselho de Classe, que à época,
juntamente com o Ministério Público do Estado, recomendava tal exigência de habilitação,
para a contratação de qualquer empresa em cuja execução do contrato fosse necessária a
utilização de mão de obra. E esse seria o caso do Pregão 134/2012, cuja empresa que seria
contratada dependeria de pessoal para montagem de palco, operador de som, limpeza e
manutenção das instalações provisórias etc.
Conclui, assim, que tal exigência não teve o condão de frustrar a competitividade do
certame, mas, apenas, trazer segurança jurídica ao Município, em razão da polêmica
discussão à época sobre o assunto.
Informa, também, que nenhuma empresa representou perante este Tribunal de Contas,
Ministério Público, Poder Judiciário ou apresentou impugnação administrativa ao edital. Fato
que reforça a alegação de que não houve restrição à competitividade do certame, tampouco
a restrição a outros licitantes.
Alega que, na pior das hipóteses, estar-se-ia diante de um “erro involuntário”, mas não,
diante de um subterfúgio caracterizador de qualquer irregularidade.
Por fim, ressalta que não se pode punir alguém por suspeita de prejuízo em um certame. No
caso, tal restrição à participação, como aduzido pela auditoria, teria que estar comprovada,
ou pelo menos demonstrada de forma inequívoca. Pelo contrário, para o defendente, estaria
provado nos autos que as empresas do ramo dos serviços licitados participaram
efetivamente do certame, havendo, inclusive, lances que reduziram consideravelmente o
valor inicialmente orçado pelo Município.
3–Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva (Procurador Chefe Administrativo):
As alegações do defendente, idênticas àquelas apresentadas pelo Pregoeiro, Senhor
Thiago Monteiro Bonatto, podem, assim, ser sintetizadas:
a) Ausência de responsabilidade pela inclusão da cláusula que exigia o registro ou inscrição
no CRA, uma vez que, já constava do Termo de Referência elaborado pelo então
Secretário Municipal de Esportes e Cultura;
b) Sucessivas notificações do CRA – Conselho Regional de Administração, que à época,
juntamente com o Ministério Público do Estado, recomendava a inclusão nos editais de
licitação de cláusula exigindo tal registro dos licitantes; e
c) Ausência de representações perante este Tribunal de Contas, Ministério Público, Poder
Judiciário ou impugnações administrativas ao edital.

Também conclui que, na pior das hipóteses, estar-se-ia diante de um “erro involuntário”,
mas não, diante de um subterfúgio caracterizador de qualquer irregularidade. E ressalta que
não se pode punir alguém por suspeita de prejuízo em um certame. No caso, tal restrição à

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participação, como aduzido pela auditoria, teria que estar comprovada, ou pelo menos
demonstrada de forma inequívoca. Pelo contrário, para o defendente, estaria provado nos
autos que as empresas do ramo dos serviços licitados participaram efetivamente do
certame, havendo, inclusive, lances que reduziram consideravelmente o valor inicialmente
orçado pelo Município.
4 – Paulo Roberto Vieira Caldellas (Auditor Geral):
O defendente não traz alegações específicas para o questionamento da auditoria, registrado
no subitem 5.1.1.1 do relatório. Fez constar, apenas, resposta à realização da Etapa
Federada de Rodeio, uma das atrações da EXPOLINHARES 2012, objeto do subitem
5.1.2.1 do relatório.

Análise:
O artigo 30, inciso I, da Lei 8.666/93, define como uma das documentações relativas à
qualificação técnica o “registro ou inscrição na entidade profissional competente”. Entretanto,
essa exigência deve estar relacionada com o campo de atividade básica da empresa,
conforme mandamento expresso na Lei Federal 6.839/80, in verbis:
Art. 1º - O registro de empresas e a anotação dos profissionais legalmente
habilitados, delas encarregados, serão obrigatórios nas entidades competentes
para a fiscalização do exercício das diversas profissões, em razão da atividade
básica ou em relação àquela pela qual prestem serviços a terceiros. (gn)
Tal entendimento encontra-se devidamente amparado pelo Superior Tribunal de Justiça,
conforme termos da Ementa abaixo transcrita:

ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. EMPRESA DE FACTORING.


DESNECESSIDADE DE REGISTRO NO CONSELHO REGIONAL DE
ADMINISTRAÇÃO. ATIVIDADE BÁSICA. SÚMULA 7/STJ. PRECEDENTES.
COMPRA DE ATIVOS OU DIREITOS CREDITÓRIOS DECORRENTES DE
VENDAS MERCANTIS A PRAZO. 1. A obrigatoriedade da inscrição das
empresas em determinado Conselho profissional, é ditada pela "atividade básica
ou em relação àquela pela qual prestem serviços a terceiros"
independentemente do profissional que devam contratar para a realização da
tarefa. Precedentes: AgRg no REsp 1020819/SC, DJ 09.05.2008; AgRg no REsp
928.810/ES, DJ 19.11.2007; REsp 867.945/RS, DJ 22.03.2007. 2. O artigo 1º da
Lei nº 6.839/80, dispõe que o registro de tais empresas e a anotação dos
profissionais legalmente habilitados serão obrigatórios em razão da atividade
básica ou em relação àquela pela qual prestem serviços a terceiros, e não em
relação à atividades secundárias. (...). O Tribunal de origem assentou
que:"Como se vê, a empresa não tem como atividade principal nenhuma
daquelas constantes na Lei nº 4.769/65 que a obrigariam ao registro no
Conselho de Administração,"assertiva que impõe a não sujeição da recorrida à
inscrição no Conselho de Classe, ora recorrente, bem como a insindicabilidade
pelo E. STJ (Súmula 07). 10. Recurso especial parcialmente conhecido, e nesta
parte desprovido(STJ - REsp: 932978 SC 2007/0051518-3, Relator: Ministro
LUIZ FUX, Data de Julgamento: 06/11/2008, T1 - PRIMEIRA TURMA, Data de
Publicação: -->DJe 01/12/2008)

No mesmo sentido é a jurisprudência dos Tribunais Regionais Federais, como bem


exemplificam os precedentes abaixo transcritos:

ADMINISTRATIVO. EMBARGOS À EXECUÇÃO FISCAL. MULTA. AUSÊNCIA


DE REGISTRONO CONSELHO REGIONAL DE ADMINISTRAÇÃO.
EMPRESA DE SEGURANÇA.ADMINISTRAÇÃO DE PESSOAL NÃO É
ATIVIDADE BÁSICA PARA OS EFEITOS DO ART. 1ºDA LEI 6.829/80.1) A
embargante, denominada “GP Guarda Patrimonial de São Paulo SC Ltda.”, é
empresa de segurança, cujo objeto social é a “prestação de serviços de
vigilância, escolta armada, segurança pessoal privada em estabelecimentos

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financeiros, indústrias, empresas, comércio, serviços, residências, áreas em


gerais e afins.” (fls. 9). Resta evidente, portanto, que não tem como
atividade fim a prestação de serviços privativos da profissão de
administrador. 2) A inscrição da pessoa jurídica em conselho profissional
só é obrigatória quando ela é constituída com a finalidade de explorar a
profissão, seja praticando atividade fim privativa, seja prestando serviços
profissionais a terceiros (art. 1º da Lei 6.839/80), no que não se insere,
obviamente, a simples “administração de pessoal”, que é atividade imanente ao
funcionamento de toda e qualquer empresa que tenha empregados. 3) Nego
provimento ao recurso.(AC200151015183272, Desembargador Federal POUL
ERIK DYRLUND, TRF2 - OITAVA TURMAESPECIALIZA DA, 19/08/2005)”

PROCESSUAL CIVIL. ATIVIDADE BÁSICA DA EMPRESA É PRESTAR


SERVIÇO DE VIGILÂNCIA. DESNECESSÁRIO O REGISTRO NO CRA.
DECISÃO MONOCRÁTICA NEGOU SEGUIMENTO AO APELO. ART. 557
DO CPC. AGRAVO INTERNO.

A decisão ora hostilizada foi clara ao reconhecer que a necessidade de registro


de pessoa jurídica perante o Conselho de Administração encontra-se atrelada à
atividade básica da empresa, que, na hipótese dos autos, é prestar serviços de
vigilância junto a estabelecimentos financeiros, conforme consta de seu
estatuto social, o que afasta a necessidade de registro, pois não tem por
objetivo precípuo administrar. (…) Agravo interno não provido. (TRF – 2ª
Região - AMS 2002.02.01.033304-0 – Rel. Desembargador JOSE ANTONIO
LISBOA NEIVA – 6ª Turma Especializada – DJU 01/12/2008 – p.161).
Vejamos, então, como são definidas as atribuições dos profissionais pertencentes aos
Conselhos de Classe, citados na cláusula 7.2.5.2.2 do Pregão 134/2012 - Conselho
Regional de Engenharia e Agronomia (CREA) e Conselho Regional de Administração
(CRA):
O artigo 7º da Lei 5.194/66, que define as atividades e atribuições profissionais do
engenheiro, do arquiteto e do engenheiro-agrônomo, assim define:
[...]

Já o artigo 2º da Lei 4.769/65, que rege a profissão do Administrador, prevê:

Art. 2º - A atividade profissional de Administrador será exercida como profissão


liberal ou não, mediante:
a) pareceres, relatórios, planos, projetos, arbitragens, laudos, assessoria em
geral, chefia intermediária, direção superior;
b) pesquisas, estudos, análise, interpretação, planejamento, implantação,
coordenação e controles dos trabalhos nos campos da Administração, c omo
Administração e seleção de pessoal, organização e métodos, orçamentos,
administração de material, administração financeira, administração
mercadológica, administração de produção, relações industriais, bem como
outros campos em que esses se desdobrem ou aos quais sejam conexos
abaixo são pertinentes ao administrador:
Em análise ao Pregão 134/2012, não se vislumbra que o objeto licitado tenha alguma
correlação com as atividades típicas do Administrador elencadas no dispositivo legal acima
citado. Por outro lado, há total pertinência com atribuições que devem estar sob a
fiscalização de um engenheiro, a saber: locação, montagem e desmontagem de estruturas
metálicas, palco, sonorização e iluminação.
Dessa forma, a exigência de comprovação da responsabilidade técnica deve ser restrita às
exigências da inscrição da empresa na entidade de classe que irá fiscalizar os serviços por
ela executados, ou seja, o CREA.

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Em sede de defesa, os senhores Thiago Monteiro Bonatto (Pregoeiro) e Geraldo Tadeu


Scaramussa da Silva (Procurador) alegam que receberam sucessivas notificações do
Conselho Regional de Administração, que à época, juntamente com o Ministério Público do
Estado, recomendavam a exigência de registro no referido conselho, como condição de
qualificação técnica dos licitantes, cuja contração fosse a execução de serviços que
envolvesse a utilização de mão de obra. E esse seria o caso do Pregão 134/2012, cuja
contratada dependeria de pessoal para montagem de palco, operador de som, limpeza e
manutenção das instalações provisórias.
Acrescentam, ainda, que, não houve impugnações ao edital, tampouco alguma
representação perante ao Tribunal de Contas, Ministério Público ou Poder Judiciário.
Ademais, destacam a participação efetiva das empresas do ramo no certame (JP Locações
de Estruturas Metálicas Ltda. EPP; Souza Ambiental Ltda. ME; e Fest Show Eventos Ltda.
ME.), havendo, inclusive, lances que reduziram consideravelmente o valor incialmente
orçado pelo Município.
Contudo, essas alegações não são suficientes para afastar a irregularidade. Primeiro,
porque não foi comprovado que a inclusão da exigência de registro no CRA tenha partido de
notificações ou recomendações dessa entidade de classe ou do Ministério Público do
Estado. Segundo, porque o fato da participação de três empresas ou a ausência de
impugnações ao edital, não elide, por si só, o fato de que a exigência de registro no CRA
aqui em discussão frustrou o caráter competitivo da licitação, pois não se pode precisar
quantas propostas poderiam ter sido obtidas se tal regra não existisse.
A suposta existência de competição entre três licitantes não tem o condão de sanear
(posteriormente) a ilegalidade apontada e permitir a afirmação feita, porque o Sistema
jurídico-normativo não pode conviver com comportamentos e regras concretas que atentem
contra sua própria força diretiva.
Dessa forma, refutamos as alegações de defesa e passamos à análise da responsabilidade
dos agentes citados pela auditoria:
 Thiago Monteiro Bonatto (Pregoeiro Municipal):
Com relação às alegações apresentadas pelo defendente, senhor Thiago Monteiro Bonatto,
verifica-se que há contestação ao questionado pela auditoria, baseada no fato de que a
exigência de registro no CRA, como condição de qualificação técnica do licitante, constava
do Termo de Referência elaborado pelo Secretário Municipal de Esportes e Cultura.
Para o defendente, caberia ao pregoeiro atuar na fase externa da licitação até a sua
adjudicação, ou conforme o caso, na análise de eventuais recursos administrativos. Mas,
não poderia alterar procedimento praticado pela autoridade requisitante.
Afirma, também, que, a Minuta do Edital com todos os seus anexos, bem como, a minuta do
contrato, foi analisada e aprovada pela Procuradoria Administrativa do Município, sem
qualquer ressalva ou considerações.
Não cabe razão ao defendente, uma vez que o servidor público, na qualidade de pregoeiro,
não está desincumbido de realizar alterações no termo de referência que entender
necessárias. A ele cabia a condução do processo licitatório, necessitando, portanto, de
regras claras e não restritivas à competitividade do certame, principalmente, tratando-se de
tema já pacificado pelos tribunais pátrios, conforme já registrado nessa análise.
 Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva (Procurador Chefe Administrativo):
O Procurador do Município, senhor Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva, também se
insurge quanto à imputação de sua responsabilidade pela inclusão de cláusula no edital do
Pregão 134/2012, que exigia o registro de inscrição no CRA, como condição de qualificação
técnica dos licitantes, na fase de habilitação.
Com a mesma argumentação do pregoeiro, o defendente alega que o responsável pela
inclusão de tal regra foi o Secretário Municipal de Esporte e Cultura e Lazer.
Não cabe razão ao defendente, uma vez que, conforme expresso no parágrafo único do
artigo 38 da Lei 8.666/93, o assessor jurídico tem o dever de examinar e aprovar as minutas
de editais, contratos, acordos, convênios ou ajustes.

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O dispositivo legal trata do controle interno de legalidade dos atos da contratação, realizado
pela assessoria jurídica da Administração Pública contratante, cujo objetivo é avaliar a
compatibilidade dos atos administrativos produzidos no processo de contratação pública
com o sistema jurídico vigente.
Assim, diante de alguma ilegalidade, cabe ao assessor jurídico apontar as correções
necessárias para o devido prosseguimento da licitação, principalmente, quando se trata de
matéria já pacificada pelos tribunais pátrios.
 Paulo Roberto Vieira Caldellas (Auditor Geral):
A atividade exercida nos autos do procedimento licitatório pelo Auditor Geral do Município
de Linhares, senhor Paulo Roberto Vieira Caldellas, não foi relevante para a configuração
da irregularidade, pois não lhe competiu a elaboração do edital, a análise jurídica da minuta
correspondente, tampouco a condução do processo licitatório.
Compulsando os autos, nota-se que o Auditor Geral emitiu parecer favorável ao
prosseguimento do procedimento baseado no fato de que havia sido cumprido o trâmite
regular.
Sugere-se, assim, o afastamento da responsabilidade do senhor Paulo Roberto Vieira
Caldellas.
 Guerino Luiz Zanon:

Responsabilidade afastada na preliminar.


Ante o todo exposto, opina-se pela manutenção da irregularidade , sendo responsáveis
os senhores Thiago Monteiro Bonatto (Pregoeiro) e Geraldo Tadeu Scaramussa da
Silva (Procurador), uma vez que, ambos concorreram na imposição de condição restritiva
no certame ao admitirem cláusula que exigia indevidamente o registro ou inscrição dos
licitantes no Conselho Regional de Administração, como condição de qualificação técnica.

3.1.1.2 Ausência de planilhas de preços unitários. (subitem 5.1.1.2 do RAO)


Base legal: Arts. 3º, III, e 9º da Lei 10.520/02 c/c o art. 7º, § 2º, inciso II e art. 40, § 2º, inciso
II, da Lei 8.666/93.
Relatório de Auditoria:
Identificação dos responsáveis:
1- Guerino Luiz Zanon - Prefeito Municipal.
Conduta: Responsabilidade solidária prevista no art. 2º, § 4º da Lei Municipal nº
2.576/2005.
Nexo: Por não fiscalizar e revisar os atos praticados dos servidores, decorrentes da
delegação de competência, contribuiu para ocorrência da irregularidade.
2- José Jair Reali - Secretário Municipal de Esporte e Lazer.
Conduta: Não exigir planilhas de preços unitários da composição dos custos totais
para análise.
Nexo: Ao não exigir planilhas de preços unitários da composição dos custos totais
para análise, contribuiu para ocorrência da irregularidade, pois não houve clareza
mínima que possibilitasse ampla participação dos concorrentes e, consequentemente,
deixou de obter a contratação mais vantajosa para a Administração.
3- Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva – Procurador Municipal
Conduta: Opinar favorável ao prosseguimento da licitação, sem atentar para a
exigência legal quanto às planilhas de preços unitários.
Nexo: Ao opinar favoravelmente ao prosseguimento da licitação, sem atentar para a
exigência legal quanto às planilhas de preços unitários, contribuiu para ocorrência da
irregularidade, pois não houve clareza mínima que possibilitasse ampla participação

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dos concorrentes e, consequentemente, deixou de obter a contratação mais


vantajosa para a Administração.
4- Paulo Roberto Vieira Caldellas – Auditor Geral
Conduta: Dar parecer pelo prosseguimento licitatório, sem atentar para a exigência
legal quanto às planilhas de preços unitários.
Nexo: Ao dar parecer pelo prosseguimento licitatório, sem atentar para a exigência
legal quanto às planilhas de preços unitários, contribuiu para ocorrência da
irregularidade, pois não houve clareza mínima que possibilitasse ampla participação
dos concorrentes e, consequentemente, deixou de obter a contratação mais
vantajosa para a Administração.
5- Thiago Monteiro Bonatto – Pregoeiro
Conduta: Realizar licitação sem planilhas de preços unitários
Nexo: Ao realizar licitação, sem planilhas de preços unitários, acarretou a ausência
de clareza mínima que possibilitasse ampla participação dos concorrentes e,
consequentemente, deixou de obter a contratação mais vantajosa para a
Administração.
Relato do indício de irregularidade:
Os objetos contratados, através do Pregão Presencial 134/12 (Processo 9369/12) eram
compostos por 3 lotes, sendo que os lotes 02 e 03 foram desmembrados em itens,
dimensionados quantitativamente, com descrições técnicas necessárias e suficientes,
possibilitando ao licitante elaborar orçamento e apresentar proposta através de planilhas
expressando todos os custos unitários, conforme determinação legal (...). Entretanto, o
mesmo não ocorreu quanto ao lote 01, ainda que fosse possível o desmembramento de
cada item com a equivalente quantificação e custo unitário.
(...)

Ao descrever no lote 1 os itens que serão componentes do objeto especificado no contrato,


porém, sem detalhar o custo unitário, tal conduta impossibilita a verificação acerca da
adequação do valor contratado com o valor praticado em mercado.
Ademais, o Anexo III do Edital apresenta modelo de declaração que despreza a
necessidade de detalhamento dos custos, contrariando a exigência legal.
A inexistência das planilhas detalhadas impede a Administração Municipal de avaliar os
valores cobrados, efetivar a fiscalização da execução do objeto e, consequentemente,
efetivar a liquidação da despesa de forma inequívoca, o que desafia os princípios da
moralidade e publicidade que devem nortear a administração pública.
Pelo exposto, incorreram os agentes responsáveis em infringência ao dispositivo legal
indicado.
Justificativas:
1 – Guerino Luiz Zanon:
O defendente alega que os itens, que compuseram o lote 1 do Pregão 134/2012, deveriam
ser fornecidos em conjunto (como por exemplo, o aparelhamento e cabeamento de som),
sendo impraticável individualizar o valor de cada item. E complementa: É praxe na
Administração Pública o orçamento deste tipo de produto/serviço da forma como realizada
neste certame, justamente por ser impraticável maior descrição do que a já feita.
2 – José Jair Reali (Secretário Municipal de Esportes e Lazer):
O defendente alega que não era possível contratar empresas diferentes para fornecer os
diferentes itens que compunham o lote 1 do Pregão 134/2012, uma vez que se tratava de
uma responsabilidade única de fornecimento, indivisível.
Esclarece que o detalhamento feito foi a forma encontrada pela administração para a clara
especificação técnica do objeto, com as respectivas capacidades e potências dos

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equipamentos de som e iluminação necessárias para a realização do evento.


Alternativamente, argumenta que o TCU possui jurisprudência reiterada no sentido de que a
divulgação das planilhas orçamentárias no edital do pregão seria facultativa, devendo,
apenas, o valor orçado encontrar-se inserido nos autos do respectivo processo licitatório.
Para exemplificar, cita os Acórdãos exarados pelo Plenário do Egrégio Tribunal: 392/2011 e
214/2007.
Por fim, ressaltou que a formalidade do processo se deu rigorosamente na forma da Lei
10.520/2002, uma vez que, consta dos autos do Processo Administrativo do Pregão a
comprovação de que houve a busca de preços de mercado e a elaboração da planilha de
preços médios com base nesse orçamento.
3 – Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva (Procurador):
Preliminarmente o defendente alega que o detalhamento consta do Termo de Referência,
elaborado pela Secretaria requisitante, e tratava-se apenas, de uma forma encontrada pela
administração para a clara especificação técnica do objeto, com as respectivas capacidades e
potências dos equipamentos necessários para a realização do evento.
Esclarece que no lote 1 foram especificadas as descrições dos atributos mínimos necessários
dos equipamentos que deveriam estar disponíveis no palco em função da natureza própria do
objeto da contratação. E complementa: O que se buscou foi dar clareza ao objeto da licitação
sem deixar qualquer margem à dúvida, pois essas especificações, na forma da lei, não se
admitem complementação a posteriori, sob pena de nulidade do certame.
Afirma, ainda, que os serviços foram muito bem especificados e constaram das planilhas os
valores unitários de cada serviço contratado. O que não constavam eram os valores
fracionados de cada especificação e detalhamento do serviço.
Alternativamente, argumenta que não existe obrigação legal, no caso da modalidade pregão,
de haver as planilhas de preços unitários como anexos dos editais. Como fundamento, cita a
jurisprudência do TCU, que reiteradamente caminha no sentido da não obrigatoriedade da
divulgação das referidas planilhas.
Por fim, ressalta que a Lei regente do Pregão não traz expressa a obrigação de planilhas com
preços unitários, mas estabelece que deve constar os orçamentos. Nesse ponto, informa que
os orçamentos, bem como a planilha de preços médios, constam do processo administrativo
do Pregão 134/2012.
4 – Paulo Robert Vieira Caldellas (Auditor Geral):
O defendente alega que os itens do lote 1 tinham características técnicas e utilização
conjunta que tornavam impossíveis suas contratações com fornecedores diversos. E explica
que, a produção de som para um evento necessita de diversos equipamentos interligados
entre si, instalados em um palco, devendo ficar sob a responsabilidade de um único
contratado, pois o descumprimento contratual do fornecedor de parte dos itens acarretaria a
inviabilização do evento.
5 – Thiago Monteiro Bonatto (Pregoeiro):
Preliminarmente o defendente alega que o detalhamento consta do Termo de Referência,
elaborado pela Secretaria requisitante, e tratava-se apenas, de uma forma encontrada pela
administração para a clara especificação técnica do objeto, com as respectivas capacidades e
potências dos equipamentos necessários para a realização do evento.
Esclarece que no lote 1 foram especificadas as descrições dos atribut os mínimos necessários
dos equipamentos que deveriam estar disponíveis no palco em função da natureza própria do
objeto da contratação. E complementa: O que se buscou foi dar clareza ao objeto da licitação
sem deixar qualquer margem à dúvida, pois essas es pecificações, na forma da lei, não se
admitem complementação a posteriori, sob pena de nulidade do certame.
Afirma, ainda, que os serviços foram muito bem especificados e constaram das planilhas os
valores unitários de cada serviço contratado. O que não constavam eram os valores
fracionados de cada especificação e detalhamento do serviço.

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Alternativamente, argumenta que o entendimento do TCU, sobre as planilhas orçamentárias


nas licitações modalidade pregão, tem sido de forma reiterada, pela não aplicação dos
dispositivos da Lei 8.666/93.
Ressalta que, não está expressa na Lei regente do Pregão, a obrigação de divulgação das
planilhas com preços unitários. Mas, tão somente, o dever de constar os orçamentos nos
autos do processo administrativo.
Por fim, alega que apenas atuou na fase externa da licitação, iniciada após análise e
aprovação da minuta do edital pela Procuradoria. E que não haveria, nexo de causalidade
entre sua conduta com a suposta irregularidade aventada pela auditoria, por que, in verbis:
a) Primeiro, não compete ao pregoeiro elaborar as planilhas de preços unitários;
b) Segundo, as planilhas integram sim os autos, e, foram apresentadas pela
autoridade competente e aprovadas pelo órgão Jurídico, único órgão que teria
competência legal para aprovar os procedimentos da fase interna, ou, conforme
o caso, sugerir o seu saneamento quando não observadas às formalidades
legais;
c) Terceiro, a aprovação do órgão jurídico é vinculante;
d) Quarto, não existe qualquer prova nos autos de prejuízo à participação de
concorrentes, se tivesse havido prejuízo teria havido recurso, impugnação de
edital etc. Tampouco, existem indícios de prova de que a Administração deixado
de obter a contratação mais vantajosa. O contrato foi firmado e devidamente
cumprido e o evento foi realizado conforme as necessidades da administração; e
e) Quinto, a Lei especial que deve ser observada na instrução processual do
Pregão, não obriga a publicação no edital das planilhas com preços unitários,
apenas os orçamentos devem constar nos autos do processo administrativo e
estes efetivamente integram os autos.
Análise:
Analisando os documentos carreados aos autos pela equipe de auditoria (fls. 289 a 511),
verifica-se que o edital do Pregão 134/2012 estabeleceu como objeto a contratação de
empresa especializada em locação, montagem e desmontagem de estrutura física necessária
para a realização do evento musical, “Forró do Pontal 2012”, dividido em três lotes: O lote 1,
composto por um conjunto de equipamentos de som, iluminação e estruturas de palco; lote 2,
compreendendo o item sanitário químico; e o lote 3, abarcando materiais de cobertura
(tendas e toldos).
Para a equipe de auditoria, apenas os lotes 2 e 3 estavam claramente especificados, pois
foram dimensionados quantitativamente, com descrições técnicas necessárias e suficientes e
com a estimativa do preço unitário de cada item que compunha os lotes.
Em sede de defesa, os agentes responsáveis pela contratação alegam, em síntese, que era
impraticável individualizar cada item que formava o lote 1, uma vez que se tratava de uma
responsabilidade única de fornecimento. Assim, esse lote compreendia apenas um item.
Afirmam, também, que constava dos autos planilhas, elaboradas a partir dos orçamentos
coletados com empresas do ramo, contendo os preços unitários para cada item. No entanto,
embasados na jurisprudência do TCU, deixaram de incluí-las como anexo do edital.
Na peça contestatória, os defendentes argumentam, ainda, que o TCU possui jurisprudência
reiterada no sentido de que a divulgação das planilhas orçamentárias no edital do pregão
seria facultativa, face à ausência de previsão legal, devendo, apenas, o valor orçado
encontrar-se inserido nos autos do respectivo processo licitatório, cabendo aos gestores e
pregoeiros avaliarem a conveniência e oportunidade da divulgação.
Realmente, a jurisprudência maciça do TCU se inclina para esse entendimento, conforme se
pode verificar nos seguintes Acórdãos: 644/2006, 1925/2006, 114/2007 1784/2009 e
392/2011, 2080/2012, todos do Plenário.
Dessas decisões, destaca-se o Acórdão 392/2011, citado pelos defendentes, cujo trecho do
sumário transcreve-se a seguir:
(...)

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4. Nas modalidades licitatórias tradicionais, de acordo com o art. 40, § 2º, II, da
Lei n.º 8.666/93, o orçamento estimado deve figurar como anexo do edital,
contemplando o preço de referência e, se for o caso, o preço máximo que a
Administração se dispõe a pagar. No caso do pregão, a jurisprudência do TCU
é no sentido de que a divulgação do valor orçado e, se for o caso, do preço
máximo, caso este tenha sido fixado, é meramente facultativa.” (Rel. Min. José
Jorge, Acórdão nº 392/2011 – Plenário). (gn)
No entanto, esse não é o entendimento prevalecente na doutrina e em outros Tribunais.
11 12
Em sentido oposto ao TCU, NIEBUHR (2013, p. 275, apud MARTINS , 2014), assim,
defende a obrigatoriedade da divulgação do orçamento estimado:

Muitas entidades da Administração, também em equívoco, não anexam o


orçamento estimado ao edital, mas o deixam à disposição dos interessados
que, se quiserem, podem obter cópia dele. Enfatiza-se que isso também é
ilegal, porquanto o inciso II do § 2º do art. 40 da Lei n.8.666/93 exige que o
orçamento estimado seja verdadeiramente anexado ao edital. Ademais,
referido procedimento instauraria tratamento desigual, na medida em que
alguns interessados, conhecedores dos meandros da licitação, requereriam e
teriam acesso ao orçamento estimado, e outros, que não tenham se atentado a
isso, não teriam tomado conhecimento dele. Insista-se que para a Lei o
orçamento estimado é informação que deve constar do edital como anexo, tal
qual exige o inciso II do § 2º do art. 40 da Lei n. 8.666/93.
13 14
Também leciona sobre o tema, Marçal Justen Filho (2008, p. 512, apud MARTINS ,
2014), cujo trecho de sua obra transcreve-se:
Deve insistir acerca do descabimento de a Administração manter em segredo o
valor de orçamento ou preço máximo. Lembre-se que um Estado Democrático
de Direito envolve o princípio da transparência da atividade administrativa,
somente se admitindo sigilo em situações que ponham em risco interes ses
relevantes, transcendentes. No caso, o próprio art. 44, § 1º, explicitamente
proíbe que algum critério relevante para julgamento (inclusive classificação ou
desclassificação de propostas) seja mantido em segredo. Depois e como já
apontou anteriormente, a manutenção do segredo acerca do orçamento ou
preço máximo produz o enorme risco de reintrodução de práticas
extremamente nocivas, adotadas antes da Lei n. 8.666/93. É que, se algum
dos licitantes obtiver (ainda que indevidamente) informações acerca do
referido valor, poderá manipular o certame, formulando proposta próxima
ao mínimo admissível. O sigilo acerca de informação relevante, tal como o
orçamento ou preço máximo, é um incentivo a práticas reprováveis. Esse
simples risco bastaria para afastar qualquer justificativa para adotar essa
praxe. (grifo nosso).
Seguindo esta linha de interpretação da doutrina, o Tribunal de Contas do Estado de Minas
Gerais, já se manifestou pela obrigatoriedade da planilha de composição de preço como
anexo do edital do pregão. Como exemplo, transcreve-se Ementa da seguinte deliberação:

EMENTA: DENÚNCIA — PREFEITURA MUNICIPAL — PREGÃO


PRESENCIAL — FORNECIMENTO DE PNEUS E PRESTAÇÃO DE

11
NIEBUHR, Joel de Menezes. Licitação pública e contrato administrativo. 3. ed. rev., atual. e ampl. Belo
Horizonte: Fórum, 2013. 1.062 p. (Coleção Fórum Menezes Niebuhr).
12
MARTINS, Túlio César Pereira Machado. Do dever de anexar o orçamento estimado com quantitativos
e custos unitários ao edital do pregão. Revista TCEMG. Belo Horizonte, out. nov. dez., 2014. Disponível
em: http://revista.tce.mg.gov.br/content/upload/materia/2928.pdf Acesso em: 14 nov. 2017.
13
JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à lei de licitações e contratos administrativos . 12 ed. São Paulo:
Dialética, 2008. 943 p.
14
MARTINS, Túlio César Pereira Machado. Op. Cit.

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SERVIÇOS AFINS — EDITAL SEM PLANILHA DE PREÇOS — BOA-FÉ DO


GESTOR — ATO ANTIECONÔMICO NÃO VERIFICADO — EXPEDIÇÃO DE
RECOMENDAÇÃO — DIVULGAÇÃO DE PLANILHA DE PREÇOS —
PROCEDÊNCIA PARCIAL DA DENÚNCIA
A fim de ampliar a competitividade, produzir maior transparência no processo
licitatório e afastar o risco de contratação de serviços por preços inexequíveis
pela Administração Pública, faz-se necessária a divulgação das planilhas de
estimativa orçamentária e de preços máximos como anexo do edital de pregão
presencial. (MINAS GERAIS. Tribunal de Contas. Primeira Câmara. Denúncia
n. 863.003. Relator: cons. Sebastião Helvécio. Sessão de 17 dez. 2013).
Nota-se que o tema é bastante controverso, mas as posições contrárias ao TCU se baseiam
no forte argumento de que a divulgação, no edital, do valor orçado visa a garantir o princípio
da transparência e, consequentemente, assegurar a seleção do licitante que, em condições
de igualdade com os seus concorrentes, seja capaz de oferecer a proposta mais vantajosa.
Portanto a planilha de estimativa de preços é de fundamental importância para a
contratação pública, independentemente de qual modalidade licitatória seja escolhida, pois
é por intermédio dela que a Administração sabe quanto vai pagar ou qual a média no
mercado para os itens que pretende contratar.

Ademais, serve de parâmetro para elaboração das propostas pelos licitantes (cujo acesso
deve ser garantido através do edital da licitação) e para o julgamento das propostas pela
Administração, servindo de referência para análise da exequibilidade das propostas,
evitando ofertas excessivas ou inexequíveis.
Feitas essas considerações, passa-se a análise do caso concreto:
Para os defendentes, o que a equipe de auditoria identifica como itens, em verdade, seriam
as especificações técnicas e potências dos equipamentos que compunham o lote 1. Assim,
seria impraticável individualizar o valor, pois tratava-se de um conjunto (como por exemplo o
aparelhamento de som e seu cabeamento), que deveriam funcionar de forma interligada.
No entanto, não há como prosperar essa alegação, uma vez que o questionamento da
equipe de auditoria deve ser interpretado como ausência de preços unitários dos itens que
estão agrupados no lote 1, a saber: sonorização, iluminação, projetores multimídia, house
mix, stand e palco.

Compulsando os autos (fls. 307 a 320), encontramos as planilhas orçamentárias,


elaboradas com base em cotação de preços de mercado junto a empresas do ramo. No
entanto, esses documentos não foram preenchidos com os valores unitários de cada
agrupamento acima citado e tampouco publicados como anexo do edital.
Analisando o procedimento licitatório, verifica-se que a proposta vencedora do certame
também foi apresentada considerando o valor global do lote.
Pode-se admitir que os itens aglutinados no lote faziam parte de um conjunto de
equipamentos que deveria funcionar de forma integrada. Contudo, mesmo nas licitações
julgadas pelo preço global, deve-se apresentar os preços unitários, pois esses se constituem
em importantes instrumentos auxiliares na identificação de propostas inexequíveis, aqui
consideradas como aquelas que não contemplam todos os custos inerentes ao contrato, que
suprimem ou minimizam alguns itens constantes da planilha.
15 16
Nesse sentido, NIEBUHR (2013, apud, BERTOLI , 2015) destaca:

15
NIEBUHR, Joel de Menezes. Licitação Pública e Contrato Administrativo. 3ª ed. Belo Horizonte:
Fórum, 2013.
16
BERTOLI, Vagner. A obrigatoriedade da análise do preço unitário nas licitações de menor preço
global. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 20, n. 4299, 9 abr. 2015. Disponível
em: < https://jus.com.br/artigos/32436 >. Acesso em: 11 dez. 2017.

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A jurisprudência vem assentando entendimento de que as propostas devem ser


analisadas tanto sob a égide do preço global quanto do preço unitário. A
premissa é de que o preço global provém do unitário. Ele é a soma do unitário.
Se há problema no unitário, há problema no global, ainda que não sejam
aparentes. Aliás, a exigência da apresentação dos preços unitários mesmo em
licitação julgada pelo preço global presta-se justamente a este propósito,
permitir ampla e completa análise da aceitabilidade das propostas, sob todas
as suas vertentes, a fim de possibilitar à Administração a identificação e a
desclassificação de proposta defeituosa.
É importante, ainda, destacar que além do processo de contratação, a planilha estimativa de
preços unitários também se constitui em peça fundamental durante a execução do contrato,
visto que neste período pode haver necessidade de recomposição dos valores incialmente
pactuados, seja por solicitação do contratado, seja por alteração unilateral da
Administração, quando tal atitude for imprescindível e indispensável para se alcançar o
interesse público.
Nesse contexto, o TCU já se manifestou nos termos do Acórdão 253/2002, cujo trecho
transcreve-se:
[...], o fato de os processos licitatórios terem sido realizados em regime de
preço global não exclui a necessidade de controle dos preços de cada item. É
preciso ter em mente que, mesmo nas contratações por valor global, o preço
unitário servirá de base no caso de eventuais acréscimos contratuais,
admitidos nos limites estabelecidos no Estatuto das Licitações. Dessa forma,
se não houver a devida cautela com o controle de preços unitários, uma
proposta aparentemente vantajosa para a administração pode se tornar um
mau contrato.
Vê-se, portanto, que a exigência de detalhamento dos itens em planilhas de preços unitários
constitui uma medida importante no sentido de permitir a escolha da proposta mais
vantajosa para a Administração e/ou evitar que eventuais alterações contratuais possam
acarretar desequilíbrio nas condições originalmente pactuadas.
Isto posto, opina-se pela manutenção da irregularidade pela ausência de preços unitários
no procedimento licitatório, que culminou no Pregão Presencial 134/2012, sendo
responsáveis:
 José Jair Reali: responsável pelo Termo de Referência, onde não constava o
detalhamento em preços unitários de cada item que compunha o lote 1 do P regão
Presencial 134/2012;
 Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva: responsável pela análise e emissão de parecer
favorável ao prosseguimento do procedimento licitatório, sem atentar para a
obrigatoriedade das planilhas de preços unitários;
 Thiago Monteiro Bonatto: na qualidade de pregoeiro, não estava desincumbido de
realizar alterações no Termo de Referência, elaborado pela autoridade competente, que
entendesse necessárias. A ele cabia à condução do procedimento licitatório,
necessitando, portanto, de critérios de aceitabilidade de preços unitários e global
Sugere-se o afastamento da responsabilidade dos seguintes agentes:

 Guerino Luiz Zanon (Prefeito):


Responsabilidade afastada na preliminar.

 Paulo Roberto Vieira Caldellas (Auditor Geral):

A atividade exercida nos autos do procedimento licitatório pelo Auditor Geral do Município
de Linhares, senhor Paulo Roberto Vieira Caldellas, não foi relevante para a configuração
da irregularidade, pois não lhe competiu a elaboração do edital, a análise jurídica da minuta
correspondente, tampouco a condução do processo licitatório.

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Compulsando os autos, nota-se que o Auditor Geral apenas emitiu parecer favorável ao
prosseguimento do procedimento baseado no fato de que havia sido cumprido o trâmite
regular.

3.1.1.3 Omissão na fiscalização da execução contratual. (subitem 5.1.1.3 do RAO)


Base legal: Art. 73, II, “a” e “b” da Lei 8.666/93 c/c o art. 9º da Lei 10.520/02.
Relatório de Auditoria:
Identificação dos responsáveis:
1- Guerino Luiz Zanon - Prefeito Municipal.
Conduta: Responsabilidade solidária prevista no art. 2º, § 4º, da Lei Municipal
2.576/2005.
Nexo: Por não fiscalizar e revisar os atos praticados dos servidores, decorrentes da
delegação de competência, contribuiu para ocorrência da irregularidade.
2- José Jair Reali - Secretário Municipal de Esporte e Lazer.
Conduta: Responsável pela designação do agente responsável pelo
acompanhamento e fiscalização da execução do contrato.
Nexo: Ao não fiscalizar e revisar os atos praticados pelos servidores, em especial o
servidor especialmente designado para acompanhar e fiscalizar a execução
contratual, contribuiu para a infringência.
3- Aguinaldo Bernardo – Servidor designado gestor do contrato.
Conduta: Responsável pelo acompanhamento e fiscalização da execução do
contrato, deixou de emitir termo circunstanciado acerca do material recebido, bem
como relatório atestando a conformidade da execução com os termos do edital.
Nexo: Ao não fiscalizar a execução contratual, contribuiu para a infringência.
Relato do indício de irregularidade:
Não houve termo circunstanciado assinado pelo agente responsável por acompanhar
e fiscalizar a execução contratual, atestando o recebimento de todos os itens em
conformidade com o estabelecido em edital, conforme redação do art. 73, II, “a” e “b”,
da Lei 8.666/93:

Art. 73. Executado o contrato, o seu objeto será recebido:


(...)
II - em se tratando de compras ou de locação de equipamentos:
a) provisoriamente, para efeito de posterior verificação da conformidade do
material com a especificação;
b) definitivamente, após a verificação da qualidade e quantidade do material e
conseqüente aceitação.

Tal documento seria hábil a demonstrar o cumprimento das condições impostas pelo edital,
além de atestar a execução contratual e facilitar a liquidação da des pesa.
A omissão repercutiu em infringência ao dispositivo indicado, sendo passível de imputação
aos responsáveis.

Justificativas:
1 – Guerino Luiz Zanon:
A defesa alega que a inexistência de termo circunstanciado não configura, por si,
irregularidade. Afirma que a irregularidade não ocorreu, pois os materiais entregues foram
conferidos e somente aceitos porque cumpriam o que fora exigido.
Informa que a adequação dos produtos entregues ao que fora contratado fora atestada pelo
Secretário Municipal de Esportes e Lazer, senhor José Jair Reali, nos autos do processo

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administrativo (fls. 566), bem como pelo servidor Aguinaldo Bernardo, responsável direto pela
conferência dos referidos materiais/equipamentos (fls. 592).
2 – José Jair Reali (Secretário Municipal de Esportes e Lazer):
O defendente argumenta que teria havido um excessivo rigor ou mesmo um equívoco por
parte dos auditores, pois a obrigatoriedade de elaboração do termo circunstanciado restringe-
se aos casos de aquisição de equipamentos de grande vulto (art. 73, § 1º).
Frisa que a contratação, objeto do Pregão 134/2012, não se tratava de uma aquisição ou
mesmo locação de equipamentos de grande vulto ou com alguma complexidade, o que a
própria legislação considera ser passível o recebimento mediante recibo ou ateste, forma pela
qual a Secretaria procedeu (fls. 566, 580 e 592 do processo administrativo), devidamente
embasada por relatório fotográfico.
3 – Aguinaldo Bernardo (Servidor designado como gestor do contrato):
O defendente traz as mesmas alegações apresentadas pelo senhor José Jair Reali.

Análise:
Sobre a exigência de termo circunstanciado, como instrumento de fiscalização da execução
contratual, assim dispõe a Lei 8.666/93:
Art. 73. Executado o contrato, o seu objeto será recebido:
I - em se tratando de obras e serviços:
a) provisoriamente, pelo responsável por seu acompanhamento e fiscalização,
mediante termo circunstanciado, assinado pelas partes em até 15 (quinze) dias
da comunicação escrita do contratado;
b) definitivamente, por servidor ou comissão designada pela autoridade
competente, mediante termo circunstanciado, assinado pelas partes, após o
decurso do prazo de observação, ou vistoria que comprove a adequação do
objeto aos termos contratuais, observado o disposto no art. 69 desta Lei;
II - em se tratando de compras ou de locação de equipamentos :
a) provisoriamente, para efeito de posterior verificação da conformidade do
material com a especificação;
b) definitivamente, após a verificação da qualidade e quantidade do material e
conseqüente aceitação.
o
§ 1 Nos casos de aquisição de equipamentos de grande vulto, o recebimento
far-se-á mediante termo circunstanciado e, nos demais, mediante recibo. (gn)

Depreende-se do dispositivo legal que, o termo circunstanciado é um documento obrigatório


na tarefa de fiscalização da execução contratual de obras e serviços e aquisições de
equipamentos de grande vulto, ou seja, aquelas cujo valor estimado seja superior a 25
vezes o limite de R$1.500.000,00 (um milhão e quinhentos mil reais), conforme estabelec e o
artigo 6º, inciso V, c/c a alínea “c” do inciso I do artigo 23 da Lei 8.666/93.
Com os contratos 423/2012 e 424/2012, o Município de Linhares despendeu a quantia de
R$168.280,02 (cento e sessenta e oito mil, duzentos e oitenta reais e dois centavos) para a
locação de equipamentos e estruturas do evento festivo “Forró Pontal 2012”, a saber:
sonorização, iluminação, palco, banheiros químicos, toldos e tendas.
Infere-se, assim, que para a fiscalização desses contratos não se aplicava o termo
circunstanciado, uma vez que, não se referia a obra ou serviço de engenharia, embora
necessitasse da fiscalização de um engenheiro no que tange à montagem e desmontagem
das estruturas e equipamentos, e tampouco à aquisição de equipamentos de grande vulto.
Dessa forma, conforme estabelece o § 1º, inciso II do artigo 73, da Lei 8.666/93, a
confirmação da execução contratual se daria mediante recibo.
Analisando a documentação carreada aos autos pela equipe de auditoria (fls. 477 a 512)
observa-se que o próprio Secretário Municipal de Esporte e Lazer, senhor José Jair Real,
atestou a execução dos serviços (fls. 470 dos autos TC – fls. 566 do processo

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administrativo) e autorizou o pagamento conforme as notas fiscais emitidas pelas empresas


Fest Show Eventos Ltda. ME (contrato 423/2012) e JP Locações de Estrutura Metálicas
Ltda. EPP (contrato 424/2012).
Nos autos do processo administrativo (fls. 592), juntado aos autos do TC às fls. 489,
também consta declaração subscrita pelo fiscal dos referidos contratos, senhor Aguinaldo
Bernardo, atestando que os serviços de locação, montagem e desmontagem das estruturas
utilizadas no evento “Forró Pontal/2012”, foram executados de forma satisfatória. Como
comprovação, anexa relatório fotográfico (fls. 593 a 613 do processo administrativo e fls.
490 a 510 dos autos TC).
Logo, não se pode afirmar que houve omissão na fiscalização da execução contratual. Isto
posto, opina-se pelo acolhimento dos argumentos da defesa, afastando a
irregularidade.

3.1.1.4 Ausência de interesse público. (subitem 5.1.1.4 do RAO)


Base legal: Art. 37, “caput”, da Constituição da República Federativa do Brasil; e Art. 32,
caput, da Constituição Estadual.
Relatório de Auditoria:

Identificação dos responsáveis:


1- Guerino Luiz Zanon - Prefeito Municipal.
Conduta: Responsabilidade solidária prevista no art. 2º, § 4º, da Lei Municipal
2.576/2005.
Nexo: Por não fiscalizar e revisar os atos praticados dos servidores, decorrentes da
delegação de competência, contribuiu para ocorrência da irregularidade.
2- José Jair Reali - Secretário Municipal de Esporte e Lazer.
Conduta: Não justificar a necessidade da contratação de 24 tendas, sem informar de
que forma se daria a utilização/exploração dessas unidades (motivação).
Nexo: Ao não justificar a necessidade da contratação de 24 tendas, nem informar de
que forma se daria a utilização/exploração dessas unidades, contribuiu para
ocorrência da irregularidade (motivação).
3- Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva – Procurador Chefe Administrativo do
Município
Conduta: Opinar pela celebração do contrato sem manifestar-se contra a contratação
de 24 tendas sem que fosse informado o interesse público envolvido e de que forma
seriam exploradas.
Nexo: Ao opinar pela celebração do contrato sem manifestar-se contra a contratação
de 24 tendas sem interesse público, contribuiu para ocorrência da irregularidade.
4- Paulo Roberto Vieira Caldellas – Auditor Geral
Conduta: Parecer favorável pelo prosseguimento licitatório sem manifestar-se sobre
a contratação de 24 tendas sem que o interesse público estivesse demonstrado.
Nexo: Ao dar parecer favorável pelo prosseguimento licitatório sem manifestar-se
sobre a contratação de 24 tendas, sem que o interesse público estivesse
demonstrado, contribuiu para ocorrência da irregularidade.

Relato do indício de irregula ridade:


A Secretaria Municipal de Esporte e Lazer contratou a montagem e desmontagem de
24 (vinte e quatro) tendas sem qualquer demonstração do interesse público envolvido
na forma pela qual seriam exploradas.

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Ao analisar os autos verificou-se que as tendas foram exploradas comercialmente,


tendo ocorrido o aluguel dessas tendas a terceiros para que pudessem promover o
comércio no local do evento, com vendas de bebidas, lanches, salgados, doces, etc.
e, assim, auferindo lucros. Não há nos autos qualquer menç ão acerca do proveito
econômico resultante dos aluguéis das tendas para a municipalidade.
Partindo da premissa de que o evento é totalmente promovido e custeado pela
Prefeitura Municipal de Linhares, o fato de particulares lucrarem com o evento sem
qualquer contraprestação ao Erário afronta o princípio do interesse público, conforme
dispõem as Constituições Estadual e Federal.
O valor unitário da contratação das tendas foi de R$ 339,42 (trezentos e trinta e
nove reais e quarenta e dois centavos), totalizando R$ 8.146,08 (oito mil cento e
quarenta e seis reais e oito centavos), conforme Tabela 3.
Considerando que tal gasto não representou retorno econômico para a coletividade, o
valor total de R$ 8.146,08 ou 3.606,21 VRTE’s é passível de imputação de débito,
solidariamente, aos responsáveis, devendo retornar aos cofres públicos.
Justificativas:
1 – Guerino Luiz Zanon:
A defesa alega que a exploração das tendas reverteu-se em proveito do interesse público.
Contudo, devido ao curto espaço de tempo para obtenção de documentos, não foi possível
obter os comprovantes das cobranças dos valores pelo uso das tendas.
Argumenta, ainda, que é dever da Administração Pública promover o lazer e a cultura e,
portanto, é de interesse público primário atender à necessidade de alimentação dos
munícipes que participam de um evento de grande porte, não sendo possível realizá-lo sem
a alocação de tendas para esse fim.
2- José Jair Reali (Secretário Municipal de Esporte e Lazer):

O defendente alega que para o bom andamento do evento é necessário locação das
tendas, uma vez que, sua realização ocorre em local aberto, no Balneário Pontal do
Ipiranga, onde a presença da comunidade local é acentuada.

Acrescenta, ainda, que as tendas facilitam a atuação da fiscalização de posturas e também


do policiamento, na medida em que delimita o espaço da festa, além de estimular a
participação direta da comunidade, através da Associação de Moradores do Pontal do
Ipiranga.
Por fim, afirma que o recolhimento dos valores foi realizado, não tendo sido poss ível a
localização dos comprovantes.

3 – Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva (Procurador):


As alegações da defesa são as mesmas apresentadas pelo senhor José Jair Reali.
4 – Paulo Roberto Vieira Caldellas (Auditor Geral):
O defendente alega que, ao apontar ausência de interesse público na locação de tendas,
objeto do Pregão 134/2012, os auditores do TCEES estariam inovando com suposições
descabidas, uma vez que a licitação teve por objetivo selecionar empresa para realização
de evento patrocinado pela Secretaria Municipal de Esporte e Lazer, e não para instituir
atividades visando obtenção de receita para o Município.

E complementa:
Ao estabelecer no edital permissão da contratada auferir recursos com a
exploração de espaços como área de alimentação, o Munic ípio teve o escopo
exclusivo de redução dos custos de realização do evento, conjugado com a
real inviabilidade do Município exercer diretamente a comercialização e
cobrança de tais espaços, além de que esta remuneração visava permitir à
contratada cobrir custos adicionais intrínsecos a tais eventos.
Análise:

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Os auditores do Tribunal relatam que, a Secretaria Municipal de Esporte e Lazer contratou a


locação, montagem e desmontagem de 24 tendas, objeto do Pregão 134/2012, sem
qualquer demonstração do interesse público envolvido na forma pela qual seriam
exploradas.
Sustentam, ainda, que as tendas locadas foram exploradas comercialmente por terceiros.
Contudo não há registros acerca do proveito econômico resultante dos aluguéis desses
espaços pela municipalidade, o que também afrontaria o princípio do interesse público.
Em sede de defesa, os responsáveis alegam, em síntese, que a contratação estava
revestida de interesse público, uma vez que as tendas facilitariam a atuação da fiscalização
de posturas e também do policiamento, na medida em que delimitava o espaço da festa,
realizada em local aberto, além de estimular a participação direta da comunidade, através
da Associação de Moradores do Pontal do Ipiranga. Afirmam também que, o recolhimento
dos valores foi realizado, não tendo sido possível a localização dos comprovantes.
Justifica-se, assim, a necessidade da locação de tendas, mas não a forma como seriam
exploradas. Nesse sentido, mais esclarecedor foi o Senhor Paulo Roberto Vieira Caldellas,
à época Auditor Geral do Município, que em argumentos defensivos informou:
Ao estabelecer no edital permissão da contratada auferir recursos com a
exploração de espaços como área de alimentação, o Município teve o escopo
exclusivo de redução dos custos de realização do evento, conjugado com a
real inviabilidade do Município exercer diretamente a comercialização e
cobrança de tais espaços, além de que esta remuneração visava permitir à
contratada cobrir custos adicionais intrínsecos a tais eventos.

Contudo ao analisar os documentos carreados aos autos (fls. 289 a 511), verifica-se que foi
adjudicado à empresa Fest Show Eventos Ltda. ME, a montagem e desmontagem de 24
tendas, mediante locação, e não a exploração comercial dessas, como alegado pelo
defendente. No edital não há nenhuma cláusula que estabelecesse tal direito.

Também não pode prosperar a alegação de que a remuneração visava permitir à contratada
cobrir custos adicionais, uma vez que o evento era totalmente promovido e custeado pela
Prefeitura Municipal de Linhares.

Infere-se assim que, ao consignar tal afirmação em sede de defesa, o então Auditor Geral
do Município, acaba esclarecendo que foi concedido a um único particular o uso
remunerado de espaço público sem um prévio processo seletivo, que privilegiasse a
impessoalidade necessária ao alcance da finalidade pública da despesa, conforme
questionado pela equipe.
17
Nesse sentido, vale destacar a doutrina de Hely Lopes Meireles , para quem
impessoalidade e finalidade pública se confundem:

O princípio da impessoalidade, referido na Constituição/88 (art. 37, caput),


nada mais é que o clássico princípio da finalidade, o qual impõe ao
administrador público que só pratique o ato para o seu fim legal. E o fim legal é
unicamente aquele que a norma de Direito indica expressa ou virtualmente
como objetivo do ato, de forma impessoal.

(...)

O que o princípio da finalidade veda é a prática de ato administrativo sem


interesse público ou conveniência para a Administração, visando unicamente a
satisfazer interesses privados, por favoritismo ou perseguição dos agentes
governamentais, sob a forma de desvio de finalidade. (...)

17
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. São Paulo: Ed. Malheiros, 42ª ed., 2016,
pp. 97- 98.

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No caso sob análise, resta configurado que o gestor da Secretaria agiu com desvio da
finalidade pública, ao não definir previamente como as tendas locadas seriam exploradas,
deixando a cargo de um particular, exatamente o fornecedor dessas estruturas, à
comercialização desses espaços públicos temporários.

Isto posto, opina-se pela manutenção da irregularidade com a consequente imputação


de débito no valor R$8.146,08 (3.606,21 VRTE) pago pela locação das 24 tendas, sendo
responsável, o senhor José Jair Reali (Secretário Municipal de Esporte e Lazer), que
requereu a locação de tendas para atender ao evento Forró Pontal, mas não justificou a
forma como seriam explorados comercialmente os espaços.

Afasta-se a responsabilidade dos seguintes senhores:

 Guerino Luiz Zanon:


Responsabilidade afastada na preliminar.

 Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva (Procurador Chefe Administrativo do Município):

A atividade jurídica exercida nos autos do procedimento licitatório pelo Procurador, não foi
relevante para a configuração da irregularidade, pois não lhe competia a elaboração do
Termo de Referência, tampouco a definição prévia de como seriam exploradas
comercialmente as tendas, ato discricionário do responsável pela Secretaria requisitante.

 Paulo Roberto Vieira Caldellas (Auditor Geral):

A atividade exercida nos autos do procedimento licitatório pelo Auditor Geral do Município
de Linhares, senhor Paulo Roberto Vieira Caldellas, não foi relevante para a configuração
da irregularidade, pois não lhe competiu a elaboração do edital, a análise jurídica da minuta
correspondente, tampouco a condução do processo licitatório.
Compulsando os autos, nota-se que o Auditor Geral apenas emitiu parecer favorável ao
prosseguimento do procedimento, por entender que havia sido cumprido o trâmite regular.
Ademais, em sede de defesa, deixa claro que sequer conhecia as regras estabelecidas no
edital do procedimento licitatório, ao afirmar que nesse instrumento convocatório estava
estabelecida a permissão da contratada auferir recursos com a exploração comercial dos
espaços públicos temporários. Direito que não se constata no edital.

3.1.1.5 Liquidação irregular da despesa .(subitem 5.1.1.5 do RAO)


Base legal: Artigos 62 e 63 da Lei 4.302/64
Relatório de Auditoria:
Identificação dos responsáveis:
1- Guerino Luiz Zanon - Prefeito Municipal.
Conduta: Responsabilidade solidária prevista no art. 2º, § 4º, da Lei Municipal
2.576/2005.
Nexo: Por não fiscalizar e revisar os atos praticados dos servidores, decorrentes da
delegação de competência, contribuiu para ocorrência da irregularidade.

2- José Jair Reali - Secretário Municipal de Esporte e Lazer.


Conduta: Autorizar o pagamento em desconformidade legal.
Nexo: Ao autorizar o pagamento contribuiu para ocorrência da irregularidade.

3- Aguinaldo Bernardo – Fiscal dos Contratos


Conduta: Faltar com o dever funcional de fiscalizar os contratos.
Nexo: Ao faltar com o dever funcional de fiscalizar o contrato contribuiu com a
irregularidade na medida em que ocorreu o pagamento da despesa sem a devida
comprovação da execução de todos os serviços.

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Relato do indício de irregularidade:


A equipe constatou que a Prefeitura Municipal de Linhares contratou pelo Pregão
Presencial 134/12, empresas especializadas para locação, montagem, desmontagem
da estrutura necessária para a realização do evento “Forró Pontal 2012”, tendo sido
vencedoras as seguintes empresas (Quadro 5):

Quadro 5 – Empresas contratadas – lotes 01, 02 e 03

Empresa Objeto Contrato nº Valor em R$


Fest Show Eventos - Contratação de empresa especializada 423/12 18.580,02
ME para locação, montagem e
desmontagem da estrutura necessária
para o evento “Forró Pontal 2012”.
(sanitários químicos e tendas).
JP Locação de Contratação de empresa especializada 424/12 149.700,00
Estruturas Metálicas para locação, montagem e
Ltda - ME desmontagem da estrutura necessária
para o evento “Forró Pontal 2012”.
(estruturas metálicas, sonorização e
iluminação).

Apesar de haver nos autos comprovação da ocorrência do evento, conforme relatório


fotográfico, não há comprovação de que todos os serviços, tais como iluminação,
camarins, palcos e sonorização, foram de fato utilizados, o que justificaria o
pagamento total de R$ 149.700,00.

Ademais, havia previsão editalícia para que houvesse discriminação em nota fiscal,
conforme item 10.1.1.8:

10.1.1.8 Emitir, Nota Fiscal/Fatura discriminativa contendo os materiais a ser


entregue devidamente atestada por servidor credenciado, onde o
CONTRATANTE poderá deduzir do montante a pagar os valores
correspondentes as multas ou indenizações devidas pela CONTRATADA, de
acordo com os termos do edital, desde que não haja nenhum fato impeditivo.
Deverá ainda, ser anexada a comprovação da quitação com o INSS e FGTS, de
acordo com a legislação em vigor.

Não bastasse o exposto, o Estatuto Licitatório especifica o procedimento para o


recebimento dos objetos provenientes de obras, serviços, compras e locações, o que
serviria para confirmar a qualidade e quantidade do que se está recebendo, além de
subsidiar a fiscalização e acompanhamento da execução contratual pelo gestor
designado para esta finalidade, considerando que ao Administrador só é permitido
fazer o que está disposto em lei, sendo proibido inovar ou proceder conforme próprio
arbítrio.

Art. 73. Executado o contrato, o seu objeto será recebido:


I - em se tratando de obras e serviços:
a) provisoriamente, pelo responsável por seu acompanhamento e fiscalização,
mediante termo circunstanciado, assinado pelas partes em até 15 (quinze) dias
da comunicação escrita do contratado;
b) definitivamente, por servidor ou comissão designada pela autoridade
competente, mediante termo circunstanciado, assinado pelas partes, após o
decurso do prazo de observação, ou vistoria que comprove a adequação do
objeto aos termos contratuais, observado o disposto no art. 69 desta Lei;
II - em se tratando de compras ou de locação de equipamentos:
a) provisoriamente, para efeito de posterior verificação da conformidade do
material com a especificação;

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b) definitivamente, após a verificação da qualidade e quantidade do material e


conseqüente aceitação. [grifos nossos – g. n.]

Desta forma, foi constatada falha na liquidação da despesa, que não contém relatório
discriminado acerca dos itens contratados, bem como acerca do recebimento e
devolução dos objetos.

Justificativas:

1 – Guerino Luiz Zanon:

A defesa argumenta que as alegações apresentadas como resposta ao item 5.1.1.3 do


relatório (omissão na fiscalização da execução contratual) sanam também a suposta
irregularidade registrada no item 5.1.1.5.

Complementa, afirmando: “Os materiais e equipamentos entregues foram devidamente


conferidos e atestados pelo servidor responsável, tendo sido cumpridas as formalidades
legais para a liquidação da despesa e, mais importante, sem qualquer repercussão
negativa para o Poder Público”. (grifos da origem)

Por fim, destaca os relatórios fotográficos, acostados ao processo administrativo, como


prova cabal de que todos os serviços foram utilizados .

2 – José Jair Reali (Secretário Municipal de Esporte e Lazer):

Preliminarmente o defendente argumenta que a suposta irregularidade registrada no item


5.1.1.5 do relatório pode ser considerada consequência direta dos apontamentos relativos à
fiscalização da execução contratual, item 5.1.1.3 do relatório.

Sobre o relato da equipe de auditoria de que não havia comprovação da utilização de todos
os serviços de iluminação, camarins, palcos e sonorização, o defendente alega que é de
conhecimento público o fato de artistas de âmbito nacional, como alguns contratados para o
Forró Pontal 2012, simplesmente deixarem de se apresentar se algo estiver desconforme,
por ensejar quebra do instrumento contratual por justo motivo.

Sobre a comprovação da realização dos serviços contratados, mediante relatório


fotográfico, alega que é praticamente impossível ou até mesmo antieconômico fazer
registros que identifiquem o atendimento de todas as especificações listadas no termo de
referência. Esclarece que nesse documento havia descrição da potência de equipamentos
de som e luz, para os quais seriam necessárias fotos de plaquetas de indicação minúsculas
ou inscrições já desgastadas pelo uso.

Quanto à previsão editalícia para que houvesse discriminação do material/serviço


contratado em nota fiscal, afirma que a mesma foi atendida, pois havia no corpo desse
documento menção à autorização de fornecimento nº 510/2012, que discriminava e
especificava os equipamentos.

Por fim, alega que o fiscal do contrato, que teve acesso a tal autorização, teria avalizado a
execução contratual de acordo com que esse documento especificava.

3 – Aguinaldo Bernardo (Fiscal do contrato):


As alegações da defesa são as mesmas apresentadas pelo senhor José Jair Reali, o que
torna desnecessário aqui transcrevê-las.
Análise:
Analisando a documentação carreada aos autos pela equipe de auditoria (fls. 477 a 512)
observa-se que o próprio Secretário Municipal de Esporte e Lazer, senhor José Jair Real,
atestou a execução dos serviços (fls. 470 dos autos TC – fls. 566 do processo
administrativo) e autorizou o pagamento conforme as notas fiscais emitidas pelas empresas

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Fest Show Eventos Ltda. ME (contrato 423/2012) e JP Locações de Estrutura Metálicas


Ltda. EPP (contrato 424/2012).
Nos autos do processo administrativo (fls. 592), juntado aos autos do TC às fls. 489,
também consta declaração subscrita pelo fiscal dos referidos contratos, senhor Aguinaldo
Bernardo, atestando que os serviços de locação, montagem e desmontagem das estruturas
utilizadas no evento “Forró Pontal/2012”, foram executados de forma satisfatória. Como
comprovação anexou relatório fotográfico (fls. 593 a 613 do processo administrativo e fls.
490 a 510 dos autos TC).
Além desses atestes, é importante destacar que o evento realizado pelo Municípi o de
Linhares é de conhecimento público e notório, estando presente, sua divulgação, em jornais
de grande circulação do estado, matérias televisivas e diversas outras formas de
comprovação de que efetivamente ocorreram, como, por exemplo, via internet, conforme se
18
constata nos endereços pesquisados .
Dessa forma, uma eventual emissão de juízo favorável à ocorrência de liquidação irregular
de despesa, por não haver a comprovação de que todos os serviços contratados foram
realizados, estaria embasada tão somente na presunção da inexecução parcial do contrato.
Isto posto, opina-se pelo acolhimento dos argumentos da defesa, afastando a
irregularidade.
3.1.2 Processo 11.789/2012
Pregão 208/2012
- Contrato: 535/2012,
Valor: R$ 301.499,98
Credor: LS Locações, Serviços e Eventos Ltda. EPP – CNPJ 09.031.612/0001-16.
Objeto: Contratação de empresa especializada para locação, montagem e desmontagem de
estrutura para o evento “EXPOLINHARES 2012”.

- Contrato: 536/2012
Valor Unitário: R$ 483,00
Valor Total: R$ 57.960,00
Credor: Souza Ambiental Ltda. ME – CNPJ 12.608.482/0001-46
Objeto: Contratação de empresa especializada em locação, instalação e limpeza de 120
sanitários químicos.

3.1.2.1 Restrição ao caráter competitivo do certame . (subitem 5.1.2.1 do RAO)


Base legal: Artigos 3º, II, e 9º, da Lei 10.520/2002 c/c o artigo 3º, § 1º, I, da Lei 8.666/93.

Relatório de Auditoria:

Identificação dos responsáveis:


1- Guerino Luiz Zanon - Prefeito Municipal.
Conduta: Responsabilidade solidária prevista no art. 2º, § 4º, da Lei Municipal
2.576/2005.
Nexo: Por não fiscalizar e revisar os atos praticados dos servidores, decorrentes da
delegação de competência, contribuiu para ocorrência da irregularidade.

18
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=-8hv9b4AWv8
Disponível em: www.sitedelinhares.com.br/.../forro-pontal-2012-atrai-milhares-de-turistas-
a-paz-rein...
Disponível em: www.euagito.com.br/v9/?page=galeria&evento=4378

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2- José Jair Reali - Secretário Municipal de Esporte e Lazer.


Conduta: Permitir a inclusão em um único lote serviços que deveriam ser licitados
distintamente.
Nexo: Ao permitir a inclusão em um único lote serviços que deveriam ser licitados
distintamente, impossibilitou a participação de proposta mais vantajosa para a
Administração Pública, contribuindo para a irregularidade.

3- Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva – Procurador Chefe Administrativo do


Município
Conduta: Opinou favoravelmente ao edital não se manifestando que foram incluídos
em um único lote serviços que poderiam ser licitados separadamente.
Nexo: Ao opinar favoravelmente ao edital não se manifestando contra a inclusão em
um único lote serviços que poderiam ser licitados separadamente, contribuindo,
assim, para ocorrência da irregularidade.

4- Paulo Roberto Vieira Caldellas – Auditor Geral


Conduta: Emitir parecer favorável ao prosseguimento da licitação não mencionando
que foram incluídos em um único lote serviços que poderiam ser licitados
distintamente.
Nexo: Ao dar parecer favorável ao prosseguimento da licitação não mencionando que
foram incluídos em um único lote serviços que poderiam ser licitados distintamente,
contribuiu para ocorrência da irregularidade.

5- Thiago Monteiro Bonatto – Pregoeiro Oficial


Conduta: Elaborar edital com a inclusão em um único lote de serviços que deveriam
ser licitados distintamente.
Nexo: Ao incluir em um único lote serviços que deveriam ser licitados distintamente,
restringiu a ampla participação dos concorrentes e, consequentemente, deixou de
obter a contratação mais vantajosa para a Administração, contribuindo para
ocorrência de irregularidade.

Relato do indício de irregularidade:


No Termo de Referência estão consignados dois lotes: lote 01 – estrutura para
realização do evento EXPOLINHARES 2012; lote 02 – sanitários químicos.
Analisando a descrição dos lotes, verificou-se que o lote 01 é composto por vários
itens distintos e complexos, tais como a estrutura física dos palcos, iluminação,
telões, camarins, camarotes, sonorização e eletricidade.
A inclusão em um só lote dos referidos itens, torna-se obstáculo a participação de
outros licitantes, pois há empresas que só se dedicam à parte da estrutura física,
enquanto outras são especializadas em iluminação, outras em telões, outras em
estrutura para camarins, e outras em sonorização, o que poderia garantir uma maior
vantagem para a Administração Municipal no valor final da contratação.
Essa prática do município é contrária à Súmula 247 do Egrégio TCU, que determina o
seguinte:
É obrigatória a admissão da adjudicação por item e não por preço global,
nos editais das licitações para a contratação de obras, serviços, compras e
alienações, cujo objeto seja divisível, desde que não haja prejuízo para o
conjunto ou complexo ou perda de economia de escala, tendo em vista o
objetivo de propiciar a ampla participação de licitantes que, embora não
dispondo de capacidade para a execução, fornecimento ou aquisição da
totalidade do objeto, possam fazê-lo com relação a itens ou unidades
autônomas, devendo as exigências de habilitação adequar-se a essa
divisibilidade [g. n.].

Dessa forma, fica explícito que houve restrição à competitividade do certame, o que é
vedado pela legislação vigente.

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Justificativas:

1 – Guerino Luiz Zanon:


A defesa contesta a equipe de auditoria, argumentando que a mera afirmação da exi stência
de empresas que se dedicam a uma coisa ou outra jamais poderia sustentar o apontamento
de irregularidade, uma vez que a licitação contou com a participação das empresas que
rotineiramente se apresentam para disputa de objetos, como os que compunham o Pregão
208/2012.

Afirma, ainda, que os serviços, apontados pela área técnica como divisíveis, são partes de
um todo, tendo sido licitados como deveriam e como é de praxe ocorrer.

2 – José Jair Reali (Secretário Municipal de Esporte e Lazer):

Preliminarmente o defendente ressalta que o termo de referência, por ele elaborado, visou
tão somente à segurança dos presentes e à economicidade do evento para os cofres
públicos.

Alega que, embora os itens do lote 1 sugerissem uma possível separação quando de s ua
licitação, a sua ocorrência na forma apontada pelos auditores poderia relegar a segundo
plano a segurança dos presentes a medida que surgissem diversos ganhadores para
montar uma estrutura única.
Argumenta que a própria Súmula 247 do TCU permite que haja análise de conveniência e
discricionariedade na divisão do objeto, uma vez que ressalta a obrigatoriedade da
admissão da adjudicação por item e não por preço global, cujo objeto seja divisível, desde
que não haja prejuízo para o conjunto ou complexo ou perda de economia de escala.

Afirma que, a equipe de auditores deste Tribunal não analisou a conveniência do


parcelamento com foco na segurança dos presentes e eficácia na prestação dos serviços, e
até mesmo, na garantia da execução dos contratos.

Reforçando o argumento de que haveria prejuízo para o conjunto, o defendente aduz que
não tinha como montar camarins, camarotes sem que o palco também estivesse montado,
assim como, a eletricidade, a iluminação, sonorização, etc.

Ressalta, ainda, que a decisão de manter em único lote os serviços, questionados pela
auditoria, deu-se inclusive, para garantia da perfeita e tempestiva execução dos serviços
para a realização do evento. E completa alegando que, caso houvesse o parcelamento do
objeto da licitação, o descumprimento de um item isolado inviabilizaria totalmente a
execução do evento, tendo em vista que não haveria prazo hábil para uma nova
contratação, pois os serviços teriam que ser executados durante o evento.

Lembra que a lei permite e até exige o parcelamento do objeto da licitação, quando houver
viabilidade técnica e econômica para sua execução. Destaca, contudo, que acima dessas
análises deve o município zelar pelas consequências do parcelamento, pois apesar de
aparentemente haver a viabilidade técnica, em uma análise mais acurada do caso concreto,
o alto risco à segurança do evento foi fator decisivo na escolha por atribuir a
responsabilidade a uma única empresa, evitando, assim, transtornos inclusive com riscos de
prejudicar a realização do evento, o que por certo acarretaria prejuízo ao erário.

Cita o Acórdão TCU 732/2008, cujo entendimento foi no sentido de que o parcelamento ou
não do objeto da licitação deve ser auferido sempre no caso concreto. Segue trecho
transcrito:

“... a questão da viabilidade do fracionamento deve ser decidida com base em


cada caso, pois cada obra tem suas especificidades devendo o gestor decidir
analisando qual a solução mais adequada no caso concreto. “

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Destaca, ainda, Marçal Justen Filho, que em sua obra Comentários à Lei de Licitações e
Contratos Administrativos, Dialética, 8ª edição, p. 217, assim disserta:
Em segundo lugar, devem considerar-se em conjunto objetos que, embora
materialmente distintos e que não possam ser considerados como partes
integrantes de um único objeto, apresentem natureza semelhante e devam ser
executados no mesmo local, desde que tal execução possa fazer-se conjunta e
concomitantemente. Essa regra deriva da segunda parte do § 5º. Veja-se que a
solução foi reiterada no art. 24, inc. I. Ali também se determina que “obras e
serviços da mesma natureza e no mesmo local que possam ser realizadas
conjunta e concomitantemente” devem ter o valor somado.

Frisa que, com base no próprio TCU e na doutrina citada, a contratação completa dos
serviços contemplando estrutura física dos palcos, iluminação, camarins, telões, camarotes,
sonorização e eletricidade em lote único, trouxe mais vantagens e a segurança necessária
que se traduz em benefícios para a Administração, bem como para os munícipes, ao
mesmo tempo em que garantiu melhores condições para a realização do evento com
qualidade sem sofrer solução de continuidade.

Finaliza a peça de defesa, afirmando que não houve prejuízo ao processo ou mesmo ao
caráter competitivo da licitação, tanto que, não houve nenhum registro de impugnações ao
edital.

3 – Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva (Procurador Chefe Administrativo do


Município):
As alegações da defesa são as mesmas apresentadas pelo senhor José Jair Reali, o que
torna desnecessário aqui transcrevê-las.

4 – Paulo Roberto Vieira Caldellas (Auditor Geral):


Em síntese, o defendente alega que não houve nenhum indício de restrição à
competitividade, haja vista a inexistência de contestação durante a realização do certame. E
lembra que, tal procedimento é adotado há vários anos, sem ser considerado irregular pelo
TCEES.
5 – Thiago Monteiro Bonatto (Pregoeiro):
Preliminarmente o defendente ratifica a questão da não responsabilização do pregoeiro por
atos praticados na fase interna da licitação. Ressalta que, todo o objeto foi estabelecido no
Termo de Referência, elaborado pela autoridade competente e devidamente aprovado pelo
Órgão Jurídico da Administração Municipal, não restando ao Pregoeiro, permitir ou não a
distribuição dos lotes.
Na sequência apresenta as mesmas alegações das defesas dos senhores José Jair Reali e
Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva, o que torna desnecessário aqui transcrevê-las.
Análise:
Do exame da Lei 8.666/93, vê-se claramente que a divisão ou parcelamento do objeto do
certame licitatório é a regra geral. O artigo 15, Inciso IV, prevê que as compras, sempre que
possível, deverão ser subdivididas em tantas parcelas quantas necessárias, visando
economicidade. No mesmo sentido, o artigo 23, §1º, prescreve que as obras , serviços e
compras efetuadas pela Administração serão divididos em tantas parcelas quantas se
comprovarem técnica e economicamente viáveis, procedendo-se à licitação com vistas ao
melhor aproveitamento dos recursos disponíveis no mercado e à ampliação da
competitividade sem perda da economia de escala.
Na esteira desse entendimento, foi publicada a Súmula nº 247 do TCU, que assim
estabelece:

É obrigatória a admissão da adjudicação por item e não


por preço global, nos editais das licitações para a
contratação de obras, serviços, compras e alienações,

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cujo objeto seja divisível, desde que não haja


prejuízo para o conjunto ou complexo ou perda de
economia de escala, tendo em vista o objetivo de
propiciar a ampla participação de licitantes que,
embora não dispondo de capacidade para a exe cução,
fornecimento ou aquisição da totalidade do objeto,
possam fazê-lo com relação a itens ou unidades
autônomas, devendo as exigências de habilitação
adequar-se a essa divisibilidade.

Analisando os documentos carreados aos autos pela equipe de auditoria, (fls. 513 a 667)
verifica-se que a regra do parcelamento do objeto foi observada. O edital do Pregão
Presencial 208/2012 estabeleceu 2 lotes distintos, que englobavam: lote 1 – locação,
montagem e desmontagem da estrutura física do evento; e lote 2 – locação de banheiros
químicos.
No entanto, para a equipe de auditoria o lote 1 abrangia itens que não guardavam total
correlação em sua realização. Segundo a equipe, tratava-se de serviços distintos a serem
realizados por empresas de naturezas diversas e, portanto, deveriam ter sido parcelados. O
referido lote compreendia: estruturas de palcos, camarins, camarotes, telões, separadores
de público, instalações elétricas, sonorização e iluminação.
Para a equipe de auditoria, a inclusão em um único lote de todos esses itens obstava a
participação de outros licitantes, pois há empresas especializadas em iluminação, outras em
telões, outras em estrutura para camarins, e outras em sonorização, o que poderia garantir
uma maior vantagem para a Administração Municipal no valor final da contratação.
Para melhor compreensão da questão suscitada pela equipe de auditoria, foi efetuada
19
consulta ao CNPJ de 8 empresas do ramo de eventos, sediadas no Espírito Santo.
Com a pesquisa constatou-se que todas estão cadastradas com código de atividade
econômica relacionada a aluguel de palcos, coberturas e outras estruturas de uso
temporário; e 5 estão aptas também à realização de atividades de sonorização e de
iluminação.
Infere-se, assim, que o modelo do lote 1 do Pregão Presencial 208/2012 não deixava de
privilegiar a competividade do certame, uma vez que no ramo de eventos existem empresas
capazes de fornecer o conjunto dos itens licitados.
Isto posto, sugere-se o acolhimento dos argumentos da defesa, afastando a
irregularidade.

3.1.2.2 Ausência de planilhas de preços unitários. (subitem 5.1.2.2 do RAO)


Base legal: Arts. 3º, III, e 9º da Lei 10.520/02 c/c o art. 7º, § 2º, inciso II e art. 40, §2º, inciso
II da Lei 8.666/93.
Relatório de Auditoria:
Identificação dos responsáveis:
1- Guerino Luiz Zanon - Prefeito Municipal.

19
Empresas consultadas/ CNPJ:
AGR Serviços e Participações Ltda. – EPP – CNJP 03.662.748/0001-48
Cônica Assessoria e Suporte Técnico para Eventos Ltda. EPP – CNPJ 07.720.317/0001-41
Dadalto Eventos –CNPJ 00.375.260/0001-41
Mais Estrutura, Locação de Tendas e Brinquedos Eireli – EPP – CNPJ 02.352.322/0001-25
Mencer Vídeos Ltda. EPP – CNPJ 02.735.200/0001-18
Play City – CNPJ 00.546.072/0001-39
Ponto Com Produções e Serviços de Sonorização Ltda. ME – CNPJ 07.766.821/0001-82
Trilha Locação e Eventos Eirelli EPP – CNPJ 10.569.252/0001-90

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Conduta: Responsabilidade solidária prevista no art. 2º, § 4º, da Lei Municipal


2.576/2005.
Nexo: Por não fiscalizar e revisar os atos praticados dos servidores, decorrentes da
delegação de competência, contribuiu para ocorrência da irregularidade.

2- José Jair Reali - Secretário Municipal de Esporte e Lazer.


Conduta: Permitir a realização da licitação sem orçamento detalhado em planilhas de
forma a expressar seus custos unitários e a permitir a definição da composição do
valor total.
Nexo: Ao permitir a realização da licitação sem orçamento detalhado em planilhas, de
forma a expressar seus custos unitários, acarretou a ausência de clareza mínima que
possibilitasse ampla participação dos concorrentes e, consequentemente, deixou de
obter a contratação mais vantajosa para a Administração.

3- Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva – Procurador Municipal


Conduta: Opinou favoravelmente ao prosseguimento da licitação, sem atentar para a
exigência legal quanto às planilhas de preços unitários.
Nexo: Ao opinar favoravelmente ao prosseguimento da licitação, sem atentar para a
exigência legal quanto às planilhas de preços acarretou a ausência de clareza mínima
que possibilitasse ampla participação dos concorrentes e, consequentemente, deixou
de obter a contratação mais vantajosa para a Administração.

4- Paulo Roberto Vieira Caldellas – Auditor Geral


Conduta: Emitir parecer favorável ao prosseguimento da licitação, sem atentar para a
exigência legal quanto às planilhas de preços unitários.
Nexo: Ao dar parecer favorável ao prosseguimento da licitação, sem atentar para a
exigência legal quanto às planilhas de preços acarretou a ausência de clareza mínima
que possibilitasse ampla participação dos concorrentes e, consequentemente, deixou
de obter a contratação mais vantajosa para a Administração.

5- Thiago Monteiro Bonatto – Pregoeiro


Conduta: Realizar licitação sem orçamento detalhado em planilhas de forma a
expressar seus custos unitários e a permitir a indicação de previsão orçamentária
Nexo: Ao realizar licitação sem orçamento detalhado em planilhas de forma a
expressar seus custos unitários, acarretou a ausência de clareza mínima que
possibilitasse ampla participação dos concorrentes e, consequentemente, deixou de
obter a contratação mais vantajosa para a Administração.

Relato do indício de irregularidade:


Os objetos contratados pelo Pregão Presencial 208/12 (Processo 11.789/12)
compuseram apenas dois lotes, sendo o primeiro desmembrado em vários e distintos
itens, que não foram adequadamente dimensionados quantitativamente, com as
descrições técnicas necessárias e suficientes, de forma que possibilitasse a
elaboração de orçamento que expressasse todos os custos unitários, conforme
determina a Lei.
(...)
O objeto licitado envolve não somente a locação de palco, mas também os banheiros,
além de envolver montagem e desmontagem de outros equipamentos junto à
estrutura locada.
Dessa forma, deveria haver a informação descritiva acerca dos custos unitários da
estrutura, bem como dos outros equipamentos.
Embora o Anexo III do Edital apresente modelo de proposta comercial contendo
tabela para o detalhamento dos custos, conforme a exigência legal, a inexistência de

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tal detalhamento na proposta vencedora impediu a Administração Municipal de avaliar


os valores cobrados, efetivar a fiscalização da execução do objeto e,
consequentemente, efetivar a liquidação da despesa de forma inequívoca.
Tal ocorrência atenta contra os princípios da moralidade, publicidade, eficiência e
interesse público, que devem nortear a Administração Pública e, portanto, configura
irregularidade.

Justificativas:
1 – Guerino Luiz Zanon:
A defesa remete aos argumentos apresentados em resposta ao item 5.1.1.2, em razão da
similaridade dos indicativos de irregularidade tratados.
2 – José Jair Reali (Secretário Municipal de Esporte e Lazer):
Em síntese, o citado defende a efetiva existência, nos autos do processo administrativo
11.789/2012, dos orçamentos detalhados em planilhas com preços unitários e globais (fls.
18/44) e a planilha de apuração de preços médios (fls. 45/22). E argumenta que as
especificações de cada item foram apenas para expressar com clareza as necessidades da
administração
Alternativamente, argumenta que o TCU possui jurisprudência reiterada no sentido de que a
divulgação das planilhas orçamentárias no edital do pregão seria facultativa, devendo,
apenas, o valor orçado encontrar-se inserido nos autos do respectivo processo licitatório.
Por fim, assevera que não existe nos autos do processo nenhum indício de prova de que a
não especificação de valores em cada especificação dos itens licitados tenha impedido a
Administração Municipal de avaliar os valores cobrados, efetivar a fiscalização da execução
do objeto e, consequentemente, efetivar a liquidação da despesa de forma inequívoca.

3 – Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva (Procurador Municipal):

As alegações da defesa são as mesmas apresentadas pelo senhor José Jair Reali, o que
torna desnecessário aqui transcrevê-las.
4- Paulo Roberto Vieira Caldellas (Auditor Geral):
O defendente alega que os itens do lote 1 tinham características técnicas e utilização
conjunta que tornavam impossíveis suas contratações com fornecedores diversos. E explica
que, a produção de som para um evento necessita de diversos equipamentos interligados
entre si, instalados em um palco, devendo ficar sob a responsabilidade de um único
contratado, pois o descumprimento contratual do fornecedor de parte dos itens acarretaria a
inviabilização do evento.
5 – Thiago Monteiro Bonatto (Pregoeiro):
Preliminarmente o defendente ratifica a questão da inexistência de atribuição legal do
pregoeiro para atuar em fase preliminar da licitação, como a elaboração de orçamentos que
instruem o processo administrativo.
Na sequência apresenta as mesmas alegações das defesas dos senhores José Jair Reali e
Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva, o que torna desnecessário aqui transcrevê-las.
Análise:
Analisando o procedimento licitatório (fls. 636 a 645), verifica-se que consta como anexo ao
edital, a descrição detalhada dos itens que compunham o lote 1, que, assim, foram
agrupados: palcos, camarins, torres de palco, separadores de público, house mix, geradores
de energia 180 e 260 kva, sonorização, iluminação, camarotes, telões de multimídia e
fechamento em lambril.
A planilha de orçamento estimado desses itens consta do bojo do processo. Nessa peça,
além da discriminação de cada item, com suas especificações técnicas, dimensões e

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potências, verifica-se que foram apresentados preços para cada item, diferentemente do que
ocorreu com o processo 9369/2012 (Pregão 134/2012), analisado no subitem 3.1.1.2 nesta
peça conclusiva. No entanto, não consta como anexo do edital.
Assim, com base nos mesmos argumentos adotados na análise do subitem 3.1.1.2, quant o a
obrigatoriedade da publicação da planilha de orçamento estimado, opina-se pela
manutenção da irregularidade, sendo responsáveis:
 José Jair Reali: responsável pela homologação do procedimento licitatório, que não
privilegiou a transparência e a isonomia entre os licitantes ao deixar de publicar a planilha
de preços unitários de cada item que compunha o lote 1 do Pregão Presencial 208/2012;
 Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva: responsável pela análise e emissão de parecer
favorável ao prosseguimento do procedimento licitatório, sem alertar para a obrigatoriedade
da publicação das planilhas de preços unitários;
 Thiago Monteiro Bonatto: Na qualidade de pregoeiro, a ele cabia a condução do
procedimento licitatório, necessitando, portanto, de critérios de aceitabilidade de preços
unitários e global, devidamente divulgados aos licitantes.
Sugere-se o afastamento da responsabilidade dos seguintes senhores:

 Guerino Luiz Zanon (Prefeito):


Responsabilidade afastada na preliminar.

 Paulo Roberto Vieira Caldellas (Auditor Geral):


A atividade exercida nos autos do procedimento licitatório pelo Auditor Geral do Município
de Linhares, senhor Paulo Roberto Vieira Caldellas, não foi relevante para a configuração
da irregularidade, pois não lhe competiu a elaboração do edital, a análise jurídica da minuta
correspondente, tampouco a condução do processo licitatório.
Compulsando os autos, nota-se que o Auditor Geral emitiu parecer favorável ao
prosseguimento do procedimento baseado no fato de que havia sido cumprido o trâmi te
regular.

3.1.2.3 Omissão na fiscalização da execução contratual. (subitem 5.1.2.3 do RAO)


Base legal: Art. 73, II, “a” e “b” da Lei 8.666/93 c/c o art. 9º da Lei 10.520/02.
Relatório de Auditoria:

Identificação dos responsáveis:


1 - Guerino Luiz Zanon- Prefeito Municipal.
Conduta: Responsabilidade solidária prevista no art. 2º, § 4º, da Lei Municipal
2.576/2005.
Nexo: Por não fiscalizar e revisar os atos praticados dos servidores, decorrentes da
delegação de competência, contribuiu para ocorrência da irregularidade.
2- José Jair Reali - Secretário Municipal de Esporte e Lazer.
Conduta: Responsável pela designação do agente responsável pelo
acompanhamento e fiscalização da execução do contrato.
Nexo: Ao não fiscalizar e revisar os atos praticados pelos s ervidores, em especial o
servidor especialmente designado para acompanhar e fiscalizar a execução
contratual, contribuiu para a infringência.
3- Aguinaldo Bernardo – Servidor designado gestor do contrato.
Conduta: Responsável pelo acompanhamento e fiscalização da execução do
contrato, deixou de emitir termo circunstanciado acerca do material recebido, bem
como relatório atestando a conformidade da execução com os termos do edital.
Nexo: Ao não fiscalizar a execução contratual, contribuiu para a infringência.

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Relato do indício de irregularidade:

Não houve termo circunstanciado assinado pelo agente responsável por acompanhar
e fiscalizar a execução contratual, atestando o recebimento de todos os itens em
conformidade com o estabelecido em edital, conforme redação do art. 73, II, “a” e “b”,
da lei nº 8.666/93:
Art. 73. Executado o contrato, o seu objeto será recebido:
(...)
II - em se tratando de compras ou de locação de equipamentos:
a) provisoriamente, para efeito de posterior verificação da conformidade do
material com a especificação;
b) definitivamente, após a verificação da qualidade e quantidade do material e
consequente aceitação.
Tal documento seria hábil a demonstrar o cumprimento das condições impostas pelo
edital, além de atestar a execução contratual e facilitar a liquidação da despesa.
A omissão repercutiu em infringência ao dispositivo indicado, sendo passível de
imputação aos responsáveis.
Justificativas:
Guerino Luiz Zanon; José Jair Reali; e Aguinaldo Bernardo:
Repetem as argumentações apresentadas em resposta ao questionamento suscitado no
subitem 5.1.1.3 do relatório de auditoria, objeto da análise do subitem 3.1.1.3 desta peça
conclusiva, o que torna desnecessário aqui transcrevê-las.
Análise:
Sobre a exigência de termo circunstanciado, como instrumento de fiscalização da execução
contratual, assim dispõe a Lei 8.666/93:
Art. 73. Executado o contrato, o seu objeto será recebido:
I - em se tratando de obras e serviços:
a) provisoriamente, pelo responsável por seu acompanhamento e fiscalização,
mediante termo circunstanciado, assinado pelas partes em até 15 (quinze) dias
da comunicação escrita do contratado;
b) definitivamente, por servidor ou comissão designada pela autoridade
competente, mediante termo circunstanciado, assinado pelas partes, após o
decurso do prazo de observação, ou vistoria que comprove a adequação do
objeto aos termos contratuais, observado o disposto no art. 69 desta Lei;
II - em se tratando de compras ou de locação de equipamentos :
a) provisoriamente, para efeito de posterior verificação da conformidade do
material com a especificação;
b) definitivamente, após a verificação da qualidade e quantidade do material e
conseqüente aceitação.
o
§ 1 Nos casos de aquisição de equipamentos de grande vulto, o recebimento
far-se-á mediante termo circunstanciado e, nos demais, mediante recibo. (gn)
Depreende-se do dispositivo legal que, o termo circunstanciado é um documento obrigatório
na tarefa de fiscalização da execução contratual de obras e serviços e aquisições de
equipamentos de grande vulto, ou seja, aquelas cujo valor estimado seja superior a 25
vezes o limite de R$1.500.000,00 (um milhão e quinhentos mil reais), conforme estabelece o
artigo 6º, inciso V, c/c a alínea “c” do inciso I do artigo 23 da Lei 8.666/93.
Com os contratos 535/2012 e 536/2012, o Município de Linhares despendeu a quantia de
R$359.459,98 para a locação, montagem e desmontagem de equipamentos e estruturas
móveis para atender à realização do “ExpoLinhares 2012”, a saber: sonorização,
iluminação, palco, camarotes, camarins e banheiros químicos.
Infere-se, assim, que para a fiscalização desses contratos não se aplicava o termo
circunstanciado, uma vez que, não se referia à obra ou a serviço de engenharia, embora

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necessitasse da fiscalização de um engenheiro no que tange à montagem e desmontagem


das estruturas e equipamentos, e tampouco à aquisição de grande vulto.
Dessa forma, conforme estabelece o § 1º, inciso II do artigo 73, da Lei 8.666/93, a
confirmação da execução contratual se daria mediante recibo.
Analisando a documentação carreada aos autos pela equipe de auditoria (fls. 783 a 827)
observa-se que o próprio Secretário Municipal de Esporte e Lazer, senhor José Jair Reali,
atestou a execução dos serviços (fls. 789 dos autos TC – fls. 459 do processo
administrativo) e autorizou o pagamento, conforme as notas fiscais emitidas pelas empresas
LS Locações, Serviços e Eventos Ltda. EPP (contrato 535/2012) e Souza Ambiental Ltda.
ME (contrato 536/2012).
Nos autos do processo administrativo (fls. 804), juntado aos autos do TC às fls. 467,
também consta declaração subscrita pelo fiscal dos referidos contratos, senhor Aguinaldo
Bernardo, atestando que os serviços de locação, montagem e desmontagem das estruturas
utilizadas na “Expo Linhares/2012”, foram executados de forma satisfatória. Como
comprovação, anexa relatório fotográfico (fls. 468 a 826 do processo administrativo e fls.
805 a 826 dos autos TC).
Logo, não se pode afirmar que houve omissão na fiscalização da execução contratual. Isto
posto, opina-se pelo acolhimento dos argumentos da defesa, afastando a
irregularidade.

3.1.2.4 Ato antieconômico praticado: não demonstração de ingresso nos cofres


públicos da exploração econômica do evento. (subitem 5.1.2.4 do RAO)
Base legal: Art. 37, “caput” da Constituição da República Federativa do Brasil, c/c o art. 32,
“caput”, da Constituição Estadual.
Relatório de Auditoria:
Identificação dos responsáveis:
1- Guerino Luiz Zanon- Prefeito Municipal.
Conduta: Responsabilidade solidária prevista no art. 2º, § 4º, da Lei Municipal
2.576/2005.
Nexo: Por não fiscalizar e revisar os atos praticados pelos servidores, decorrentes da
delegação de competência, contribuiu para ocorrência da irregularidade.
2- José Jair Reali - Secretário Municipal de Esporte e Lazer.
Conduta: Não justificar a necessidade da contratação de 48 camarotes VIP, nem
saber informar de que forma se daria a utilização/exploração dessas unidades.
Nexo: Ao não justificar a necessidade da contratação de 48 camarotes VIP, nem
saber informar de que forma se daria a utilização/exploração dessas unidades,
contribuiu para ocorrência da irregularidade.
3- Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva – Procurador Chefe Administrativo do
Município.
Conduta: Opinar pela celebração do contrato sem manifestar-se contra a contratação
de 48 camarotes VIP sem interesse público.
Nexo: Ao Opinar pela celebração do contrato sem manifestar-se contra a contratação
de 48 camarotes VIP sem interesse público, contribuiu para ocorrência da
irregularidade.
4- Paulo Roberto Vieira Caldellas– Auditor Geral
Conduta: Parecer favorável pelo prosseguimento licitatório sem manifestar-se sobre
o interesse público na contratação de 48 camarotes VIP.
Nexo: Ao dar parecer favorável pelo prosseguimento licitatório sem manifestar-se
sobre o interesse público na contratação de 48 camarotes VIP, contribuiu para
ocorrência da irregularidade.

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Relato do indício de irregularidade:


A Secretaria Municipal de Esporte e Lazer contratou a montagem de 48 (quarenta e
oito) Camarotes VIP com mesas e cadeiras estilo rústico, balcão para bar, freezer,
geladeira, ornamentação com malhas tensionadas em todos os camarotes e hall de
entradas, conforme demonstrado no Pregão Presencial 208/12.
O valor correspondente à locação da estrutura dos 48 (quarenta e oito) camarotes
VIP foi estabelecido em R$ 46.865,28 (quarenta e seis mil oitocentos e sessenta e
cinco reais e vinte e oito centavos).
O montante expedido há de retornar aos cofres públicos por se tratar de valores
aplicados fora do alcance do interesse da coletividade, vez que notoriamente esses
camarotes são comercializados a um público específico e com melhor poder
aquisitivo, conforme documentação juntada aos presentes autos pela equipe (DOC.
02).
Registre-se que não há nos autos do Pregão Presencial 208/12 qualquer
demonstrativo do proveito econômico aos cofres municipais em decorrência da
exploração desses camarotes.
Dessa forma, o valor de R$ 46.865,28 (quarenta e seis mil oitocentos e sessenta e
cinco reais e vinte e oito centavos) ou 20.746,95 VRTE é passível de imputação de
débito, solidariamente, aos responsáveis.

Justificativas:
1- Guerino Luiz Zanon:

A defesa esclarece que os camarotes privativos eram parte dos camarotes existentes no
evento, pois foram contratadas também estruturas para uso da municipalidade a fim de
abrigar autoridades presentes.

Assevera, também, que a exploração dos camarotes privativos gerou proveito econômico
para os cofres municipais, conforme comprovam os documentos (anexados às fls. 5971 a
5984 dos autos TC) atestando o recebimento de taxas de cessão de uso das estruturas –
Processo Administrativo 15.451/2012.

2 – José Jair Reali:

Preliminarmente, o defendente alega que a Comissão de Festa, instaurada para realização


da Expo Linhares 2012, era a responsável pelo apontamento de quaisquer quantias
capazes de representar potenciais receitas. E que, por um lapso de procedimento, o
processo administrativo do recolhimento das receitas provenientes da venda de camarotes
VIP, processo nº 15.451/2012, não se encontrava anexado ao processo nº 11.789/2012.

Com cópia do referido processo, bem como do relatório expedido pela Secretaria de
Finanças (acostados às fls. 4460 a 4510 dos autos TC), comprova o recolhimento dos
valores.

3 – Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva:

O defendente traz as mesmas alegações apresentada pelo senhor José Jair Reali, o que
torna aqui desnecessárias transcrevê-las.

4 – Paulo Roberto Vieira Caldellas:

O defendente argumenta que a equipe de auditoria do TC estaria se embasado tão somente


em suposições extraídas da interpretação da expressão “camarotes/espaços empresariais”,
constantes do Termo de Referência.

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Informa que os camarotes pagos pela Prefeitura foram todos por ela utilizados para
atendimento de suas necessidades em recepcionar diversas autoridades.

Análise:

Os auditores do Tribunal relatam que, a Secretaria Municipal de Esporte e Lazer contratou a


locação, montagem e desmontagem de 48 camarotes VIP (que incluíam mesas, cadeiras de
estilo rústico, balcão para bar, freezer, geladeiras e ornamentação) sem qualquer
demonstração do interesse público envolvido na forma pela qual essas estruturas seriam
exploradas.
Sustentam, ainda, que não havia registros nos autos acerca do proveito econômico
resultante dos aluguéis desses espaços pela municipalidade.
Ante a não comprovação de que os recursos foram aplicados para o interesse da
coletividade, os auditores concluem ser passível de ressarcimento ao erário o valor de
R$46.865,28 (20.746,95 VRTE), correspondentes à locação das estruturas.
Em sede de defesa, os responsáveis alegam, em síntese, que os camarotes privativos eram
parte dos camarotes locados para o evento Expo Linhares, pois a contratação também
compreendia estruturas para uso da municipalidade, a fim de recepcionar diversas
autoridades.
Afirmam também que, a Comissão de Festa, instaurada para realização da Expo Linhares
2012, era a responsável pelo apontamento de quaisquer quantias capazes de representar
potenciais receitas. E que, por um lapso de procedimento, o processo administrativo do
recolhimento das receitas provenientes da venda de camarotes VIP, processo nº
15.451/2012, não se encontrava anexado ao processo nº 11.789/2012.
Analisando os documentos acostados às peças de defesa (fls. 4460 a 4510, 5971 a 5984,
dos autos TC), verifica-se que a Administração de fato auferiu recursos financeiros com a
cessão ao particular de espaço público para utilização dos camarotes do evento
EXPOLINHARES 2012, mediante cobrança de uma taxa no valor de R$3.600,00.
A defesa junta como comprovantes Documentos de Arrecadação Municipal – DAM, que
totalizaram R$21.600,00 auferidos com o recolhimento da referida taxa por 6 interessados,
sendo 3 pessoas físicas e 3 pessoas jurídicas.
Demonstra-se, assim, o ingresso nos cofres públicos com a exploração econômica do
evento. Não resta comprovado, no entanto, quantos camarotes foram cedidos aos
particulares e tampouco quantos foram reservados para recepcionar as autoridades
públicas.
Ademais, é importante ressaltar que, consta apenas expediente emitido pela Comissão
Especial de Organização da Expo Linhares (fls. 4462 dos autos TC), solicitando à Secretaria
Municipal de Esporte e Lazer, o encaminhamento da relação de interessados ao
Departamento de Administração Tributária do Município, para a emissão dos Documentos
de Arrecadação. Contudo, não se constata nos autos do processo administrativo e sequer
na peça de defesa, a comprovação de que tenha havido ampla publicidade e observância
aos princípios da impessoalidade e finalidade pública na cessão desses espaços públic os
provisórios aos particulares.
20
Nesse sentido, vale destacar a doutrina de Hely Lopes Meireles , para quem
impessoalidade e finalidade pública se confundem:

O princípio da impessoalidade, referido na Constituição/88 (art. 37, caput),


nada mais é que o clássico princípio da finalidade, o qual impõe ao
administrador público que só pratique o ato para o seu fim legal. E o fim legal é
unicamente aquele que a norma de Direito indica expressa ou virtualmente
como objetivo do ato, de forma impessoal.

O autor ainda complementa:

20
MEIRELLES, Hely Lopes, op.cit., loc. cit.

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O que o princípio da finalidade veda é a prática de ato administrativo sem


interesse público ou conveniência para a Administração, visando unicamente a
satisfazer interesses privados, por favoritismo ou perseguição dos agentes
governamentais, sob a forma de desvio de finalidade. (...)
Perfilhando esse entendimento, encontra-se também o doutrinador José dos Santos Carvalho
21
Filho , que ao tratar do princípio da impessoalidade, assim disserta:
reflete a aplicação do conhecido princípio da finalidade, sempre estampado na
obra dos tratadistas da matéria, segundo o qual o alvo a ser alcançado pela
Administração é somente o interesse público, e não se alcança o interesse
público se for perseguido o interesse particular, porquanto haverá nesse c aso
sempre uma atuação discriminatória.
Assim, mais do que auferir receita com a cessão dos 48 camarotes VIP, o gestor da
Secretaria de Esporte e Lazer do Município de Linhares deveria comprovar se o ato foi
revestido da impessoalidade, ou seja, se foi atendida a finalidade pública, em cumprimento
ao artigo 37, caput, da CRFB, c/c artigo 32, caput, da CE ES.

Concretamente, constatou-se que o gestor da Secretaria agiu com desvio da finalidade


pública, ao não definir previamente como 48 camarotes VIP seriam explorados e ao não
comprovar que tenha agido de forma impessoal na cessão desses espaços públicos
provisórios aos particulares.

Configura-se, portanto, o ato antieconômico, pois houve pagamento pela locação de


estruturas provisórias, cuja exploração não foi revestida de interesse público, causando,
assim, prejuízo ao erário.
Isto posto, opina-se pela manutenção da irregularidade com a consequente imputação
de débito no valor de R$46.865,28 (20.746,95 VRTE), sendo responsável, o senhor José
Jair Reali (Secretário Municipal de Esporte e Lazer), que requereu a locação dos
camarotes, conforme Termo de Referência, mas não justificou a forma como seriam
explorados comercialmente os camarotes VIPs. Ademais, não comprovou que tenha havido
ampla publicidade e observância ao princípio da impessoalidade na cessão desses espaços
públicos provisórios aos particulares.
Afasta-se a responsabilidade dos senhores:

 Guerino Luiz Zanon:


Responsabilidade afastada na preliminar.

 Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva (Procurador):

A atividade jurídica exercida nos autos do procedimento licitatório pelo Procurador, não foi
relevante para a configuração da irregularidade, pois não lhe competia a elaboração do
Termo de Referência, tampouco a definição prévia de como seriam exploradas
comercialmente os camarotes VIP, ato discricionário do responsável pela Secretaria
requisitante.

 Paulo Roberto Vieira Caldellas (Auditor Geral):

A atividade exercida nos autos do procedimento licitatório pelo Auditor Geral do Município
de Linhares, senhor Paulo Roberto Vieira Caldellas, não foi relevante para a configuração
da irregularidade, pois não lhe competiu a elaboração do edital, a análise jurídica da minuta
correspondente, tampouco a condução do processo licitatório.
Compulsando os autos, nota-se que o Auditor Geral apenas emitiu parecer favorável ao
prosseguimento do procedimento, por entender que havia sido cumprido o trâmite regular.

21
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. Rio de Janeiro: Editora Lumen
Juris, 23ª ed. 2012.

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3.1.3 Processo 13.137/2012


Pregão 213/2012
- Contrato: 540/2012,
Valor: R$ 49.000,00
Credor: Claudemir dos Anjos ME – CNPJ 01.668.991/0001-48
Objeto: Contratação de empresa especializada para executar serviços de show pirotécnico,
destinado a atender a “ExpoLinhares 2012”.

- Contrato: 541/2012
Valor: R$ 490.000,00
Credor: LS Locações, Serviços e Eventos Ltda. EPP – CNPJ 09.031.612/0001-16
Objeto: Contratação de empresa especializada para executar serviços de estrutura de
rodeio e praça de alimentação, destinados a atender a “ExpoLinhares 2012”.

3.1.3.1 Restrição ao caráter competitivo do certame. (subitem 5.1.3.1 do RAO)


Base legal: Art. 3º, II, e 9º da Lei 10.520/02, c/c o art. 3º, § 1º, inciso I, da Lei 8.666/93.
Relatório de Auditoria:
Identificação dos responsáveis:

1- Guerino Luiz Zanon- Prefeito Municipal.


Conduta: Responsabilidade solidária prevista no art. 2º, § 4º, da Lei Municipal
2.576/2005.
Nexo: Por não fiscalizar e revisar os atos praticados dos servidores, decorrentes da
delegação de competência, contribuiu para ocorrência da irregularidade.
2- José Jair Reali - Secretário Municipal de Esporte e Lazer.
Conduta: Permitir a inclusão em um único lote serviços que deveriam ser licitados
distintamente.
Nexo: Ao permitir a inclusão em um único lote serviços que deveriam ser licitados
distintamente, impossibilitou a participação de proposta mais vantajosa para a
Administração Pública, contribuindo para a irregularidade.
3- Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva – Procurador Chefe Administrativo do
Município
Conduta: Opinou favoravelmente ao edital, não se manifestando sobre a inclusão em
um único lote de serviços que deveriam ser licitados separadamente.
Nexo: Ao opinar favoravelmente ao edital não se manifestando contra a inclusão em
um único lote serviços que deveriam ser licitados separadamente, contribuiu, assim,
para ocorrência da irregularidade.
4- Paulo Roberto Vieira Caldellas– Auditor Geral
Conduta: Parecer favorável ao prosseguimento da licitação não mencionando que
foram incluídos em um único lote serviços que deveriam ser licitados distintamente.
Nexo: Ao dar parecer favorável ao prosseguimento da licitação, não mencionando
que foram incluídos em um único lote serviços que deveriam ser licitados
distintamente, contribuiu para ocorrência da irregularidade.
5- Thiago monteiro Bonatto – Pregoeiro Oficial
Conduta: Elaborar edital com a inclusão em um único lote de serviços que deveriam
ser licitados distintamente.

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Nexo: Ao incluir em um único lote serviços que poderiam ser licitados distintamente,
restringiu a ampla participação dos concorrentes e, consequentemente, deixou de
obter a contratação mais vantajosa para a Administração, contribuindo para
ocorrência de irregularidade.

Relato do indício de irregularidade:


A Secretaria Municipal de Esporte e Lazer incluiu, entre as atrações da
“EXPOLINHARES 2012”, a realização da Etapa Federada de Rodeio, praças de
eventos e alimentação, estruturas contratadas através do Pregão Presencial 213/12
(Proc. 13.137/12) (Doc. 03).
No Termo de Referência estão consignados três lotes: lote 01 – estrutura para
realização da etapa federada de rodeio; lote 02 – show pirotécnico e lote 03 – praças
de eventos e alimentação.
Analisando a descrição dos lotes, verificou-se que o lote 01 é composto por dois
objetos distintos, a estrutura física do rodeio e as prestações de serviços que
constituíram o show do rodeio propriamente dito:
Lote 01
a) Estrutura física - contendo toda infraestrutura para realização do rodeio
(montagens e desmontagens de stands, arquibancadas, camarotes, arena, telões,
sonorização, iluminação, etc.) e;
b) Estrutura animal – contendo a descrição dos animais, quantidade mínima de
pessoal, premiação, número de inscrição mínima de cowboys e atrações como desfile
de bandeira, sonorização e etc., próprios da realização do rodeio.
A inclusão em um só lote dos referidos itens, obsta a participação de outros licitantes,
posto que existem empresas que só se dedicam à parte da estrutura física, enquanto
outras são especializadas na realização do show de rodeio e outras na logística de
pessoas responsáveis pela realização do evento, haja vista que há objetos diferentes
envolvidos, como serviços, locação de materiais e locação de mão de obra.
Além disso, a exigência para que a licitante apresentasse concomitantemente
registros no CRA, CREA, FRES (Federação de Rodeio do Espírito Santo) e IDAF
(Instituto de Defesa Animal e Florestal), também é condição restritiva à competição,
vez que a inscrição no CRA seria desnecessária, pois apenas deve ser exigida da
empresa que presta serviços na área de administração de empresas, explorando a
profissão de administrador, seja praticando atividade fim privativa, seja prestando
serviços profissionais a terceiros, excluindo-se desse conceito a simples “contratação
e administração de pessoal”, pois estas são atividades comuns ao funcionamento de
toda e qualquer empresa que tenha empregados.
A atividade preponderante das empresas interessadas a prestarem os serviços objeto
do Pregão 213/2012, é locação, montagem e desmontagem de palco, sonorização e
iluminação, e quem deverá fiscalizar a execução do serviço deve ter formação em
engenharia civil, na forma da Lei Federal 5.194/66, para que possa ser responsável
pelos serviços:
Art. 7º As atividades e atribuições profissionais do engenheiro, do
arquiteto e do engenheiro-agrônomo consistem em:
a) desempenho de cargos, funções e comissões em entidades estatais,
paraestatais, autárquicas, de economia mista e privada;
b) planejamento ou projeto, em geral, de regiões, zonas, cidades, obras,
estruturas, transportes, explorações de recursos naturais e
desenvolvimento da produção industrial e agropecuária;
c) estudos, projetos, análises, avaliações, vistorias, perícias, pareceres e
divulgação técnica;
d) ensino, pesquisas, experimentação e ensaios;
e) fiscalização de obras e serviços técnicos;
f) direção de obras e serviços técnicos;

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g) execução de obras e serviços técnicos;


h) produção técnica especializada, industrial ou agropecuária.
Parágrafo único. Os engenheiros, arquitetos e engenheiros -agrônomos
poderão exercer qualquer outra atividade que, por sua natureza, se
inclua no âmbito de suas profissões.
Portanto, se a prefeitura deseja contratar uma empresa para executar serviços de
montagem e desmontagem de palco está obrigada legalmente a exigir que um engenheiro
civil com registro no Crea seja responsável pelo serviço, ao invés de um Administrador de
Empresa com registro no CRA, vez que a atividade-fim do objeto refere-se a serviços de
engenharia.
Nesse mesmo sentido é a jurisprudência dos Tribunais Regionais Federais de todo o país,
conforme exemplificam os precedentes abaixo transcritos:
ADMINISTRATIVO. EMBARGOS À EXECUÇÃO FISCAL. MULTA.
AUSÊNCIA DE REGISTRO NO CONSELHO REGIONAL DE
ADMINISTRAÇÃO. EMPRESA DE SEGURANÇA. ADMINISTRAÇÃO
DE PESSOAL NÃO É ATIVIDADE BÁSICA PARA OS EFEITOS DO
ART. 1º DA LEI 6.829/80. 1) A embargante, denominada “GP Guarda
Patrimonial de São Paulo SC Ltda.”, é empresa de segurança, cujo
objeto social é a “prestação de serviços de vigilância, escolta armada,
segurança pessoal privada em estabelecimentos financeiros, indústrias,
empresas, comércio, serviços, residências, áreas em gerais e afins.” (fls.
9). Resta evidente, portanto, que não tem como atividade fim a prestação
de serviços privativos da profissão de administrador. 2) A inscrição da
pessoa jurídica em conselho profissional só é obrigatória quando ela é
constituída com a finalidade de explorar a profissão, seja praticando
atividade fim privativa, seja prestando serviços profissionais a terceiros
(art. 1º da Lei 6.839/80), no que não se insere, obviamente, a simples
“administração de pessoal”, que é atividade imanente ao funcionamento
de toda e qualquer empresa que tenha empregados. 3) Nego provimento
ao recurso.
(AC 200151015183272, Desembargador Federal POUL ERIK
DYRLUND, TRF2 - OITAVA TURMA ESPECIALIZADA, 19/08/2005)

PROCESSUAL CIVIL. ATIVIDADE BÁSICA DA EMPRESA É PRES TAR


SERVIÇO DE VIGILÂNCIA. DESNECESSÁRIO O REGISTRO NO CRA.
DECISÃO MONOCRÁTICA NEGOU SEGUIMENTO AO APELO. ART.
557 DO CPC. AGRAVO INTERNO. A decisão ora hostilizada foi clara ao
reconhecer que a necessidade de registro de pessoa jurídica perante o
Conselho de Administração encontra-se atrelada à atividade básica da
empresa, que, na hipótese dos autos, é prestar serviços de vigilância
junto a estabelecimentos financeiros, conforme consta de seu estatuto
social, o que afasta a necessidade de registro, pois não tem por objetivo
precípuo administrar. (…) Agravo interno não provido.
(TRF – 2ª Região - AMS 2002.02.01.033304-0 – Rel. Desembargador
JOSE ANTONIO LISBOA NEIVA – 6ª Turma Especializada – DJU
01/12/2008 – p.161).
(...)
Ademais, o Tribunal de Contas da União também se manifestou a respeito:
REPRESENTAÇÃO. LICITAÇÃO. EXIGÊNCIA DE REGISTRO EM
CONSELHO REGIONAL DE ADMINISTRAÇÃO. EXIGÊNCIA DE
REGISTRO DE CIPA EM DRT. EXIGÊNCIA DE INSCRIÇÃO NO
PROGRAMA DE ALIMENTAÇÃO DO TRABALHADOR. VEDAÇÃO DE
SOMATÓRIO DE ATESTADOS DE DESEMPENHO ANTERIOR.
DESCABIMENTO DAS EXIGÊNCIAS DA VEDAÇÃO. PROCEDÊNCIA
PARCIAL. DETERMINAÇÕES.

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1. É inexigível em edital de licitação o registro de empresa prestadora de


serviços de vigilância e de portaria em Conselho Regional de
Administração.
2. É inexigível em edital de licitação o cadastramento de Comissão
Interna de Prevenção de Acidentes na Delegacia Regional do Trabalho.
3. É inexigível em edital de licitação a inscrição da empresa no Programa
de Alimentação do Trabalhador.
4. É inadmissível cláusula de edital que veda a comprovação de
desempenho anterior mediante somatório de atestados.
(Acórdão 2308/2007 – Plenário – TCU – Min. Rel. UBIRATAN AGUIAR.
Publicação na Ata 30/2007 - Segunda Câmara. Sessão 28/08/2007.
Aprovação 29/08/2007. DOU 30/08/2007)
[...]
9. Dispõe o inciso I do art. 30 da Lei nº 8.666/1993 que a
documentação relativa à qualificação técnica limitar-se-á: “I -
registro ou inscrição na entidade profissional competente;” (grifado).
10. No caso sob análise, verifica-se que as empresas de segurança e
vigilância não estão obrigadas, por lei, quando no desempenho de sua
atividade-fim, a realizar registro junto aos Conselhos Regionais de
Administração, não incidindo sobre elas, portanto, o comando do
dispositivo acima transcrito.
11. Corroborando com o acima afirmado, o próprio Conselho Regional de
Administração de São Paulo, respondendo indagação do Representante,
informou, em 23/3/1994, que as empresas de
Segurança e Vigilância que contenham em seus objetivos sociais tão-
somente essas atividades de Segurança e Vigilância não estão
obrigadas ao registro no mencionado Conselho de Administração (fl. 88).
12. No âmbito deste Tribunal, a despeito de deliberações em contrário
(v.g., Acórdão nº 235/2002 - Plenário), percebe-se um movimento
progressivo e consistente no sentido de considerar indevida tal exigência
quando o objeto a ser licitado for a prestação de serviços de segurança e
vigilância, conforme julgados mencionados no § 4º retro.
(Acórdão 2475/2007 – Plenário – TCU – Min. Rel. UBIRATAN AGUIAR.
Publicação na Ata 49/2007 – Plenário. Sessão 21/11/2007. Aprovação
22/11/2007). [g. n.]
Desta forma, caso não houvesse a exigência do item 7.2.5.2.2 do edital, no que se
refere à comprovação de registro da empresa licitante no Conselho Regional de
Administração, a competitividade do certame poderia ter sido maior.
Essa prática do município é contrária à Súmula 247 do Egrégio TCU, que determina o
seguinte:

É obrigatória a admissão da adjudicação por item e não por preço


global, nos editais das licitações para a contratação de obras, serviços,
compras e alienações, cujo objeto seja divisível, desde que não haja
prejuízo para o conjunto ou complexo ou perda de economia de escala,
tendo em vista o objetivo de propiciar a ampla participação d e
licitantes que, embora não dispondo de capacidade para a execução,
fornecimento ou aquisição da totalidade do objeto, possam fazê-lo com
relação a itens ou unidades autônomas, devendo as exigências de
habilitação adequar-se a essa divisibilidade. [g. n.]

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Dessa forma, fica patente que houve inclusão de condições que comprometeram e
restringiram o caráter competitivo da licitação, o que é terminantemente vedado pela
Lei 8.666/93.

Justificativas:

1 – Guerino Luiz Zanon:

A defesa argumenta que a equipe de auditoria se baseia apenas em tese para apontar a
irregularidade.

Afirma que, concretamente não houve restrição ao caráter competitivo da licitação, uma vez
que houve ampla participação de empresas do ramo, tendo os licitantes LS Locações,
Serviços e Eventos Ltda. – EPP, Claudemir dos Anjos ME, Porto Belo Promoções Ltda.,
disputado o objeto com resultado final vantajoso para o Município.
2 – José Jair Reali:

Preliminarmente, o defendente ratifica todos os argumentos apresentados em resposta ao


subitem 5.1.2.1 do Relatório de Auditoria (análise do Pregão 208/2012) e acrescenta que,
no caso do Pregão 213/2012, a complexidade era maior, pois, além da segurança das
pessoas, havia uma preocupação com a estrutura física compatível com os animais, em
regra bravios, e com a respectiva tropa, que faziam parte da Etapa Federada de Rodeio.

Justificando a inviabilidade da realização de um certame licitatório com lotes distintos (um


para estrutura física e outro que abarcasse a contratação de pessoal e animais envolvi dos
no rodeio), o defendente traz a seguinte assertiva:
O Município contratando com uma empresa a estrutura física e com outra a
estrutura animal e pessoal, a primeira contratada, no caso responsável pela
estrutura física, não iria conhecer a força e a bravura dos animais a serem
utilizados no evento. Tampouco, a segunda empresa supostamente contratada,
para a estrutura animal e pessoal, iria conhecer se a segurança da estrutura
física seria compatível com a bravura dos animais a serem utilizados no
espetáculo de Rodeio. Assim, qualquer deslize neste sentido poderia colocar
em risco a vida de todos os presentes, dos profissionais e trabalhadores no
evento e dos próprios animais.
Alega que aglutinou em um lote único, a estrutura física e a estrutura animal, para evitar
qualquer risco ou dano à vida, à saúde e segurança do público em geral e dos animais. E,
caso distribuísse os itens em dois lotes distintos poderia acarretar a suposta obrigação de
firmar dois contratos para execução do mesmo serviço “realização da Etapa Federada de
Rodeio”, consequentemente, estaria distribuindo a responsabilidade pela segurança do
público presente, dos profissionais, e, dos próprios animais, entre duas empresas.

Assim, lotes distintos, segundo o defendente, também comprometeriam o princípio da


economicidade, uma vez que, em caso de qualquer acidente, após arcar com os danos, o
Município deveria apurar a “culpa” para comprovar qual empresa seria enfim, a responsável
pelo ato.

Lembra que a lei permite e até exige o parcelamento do objeto da licitação, quando houver
viabilidade técnica e econômica para sua execução. Contudo, afirma que:
(...) acima dessas análises deve o município zelar pelas consequências desse
parcelamento, pois apesar de aparentemente haver a viabilidade técnic a para
tal parcelamento, em uma análise mais acurada, especialmente diante deste
caso concreto, do alto risco com a redução das garantias de segurança na
realização do optou-se por atribuir a responsabilidade a uma única empresa,
evitando assim transtornos e maiores riscos ao erário e à toda coletividade.
Ressalta, ainda, que a decisão de manter em único lote os serviços, questionados pela
auditoria, além de garantir a segurança dos espectadores, profissionais e animais, deu-se
inclusive, para garantia da perfeita e tempestiva execução dos serviços para a realização do

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evento. E completa alegando que, caso houvesse o parcelamento do objeto da licitação, o


descumprimento de um item isolado inviabilizaria totalmente a execução do evento, tendo
em vista que não haveria prazo hábil para uma nova contratação, pois os serviços teriam
que ser executados durante o evento.

Feitas essas justificativas, o defendente assevera que todos os dispositivos da lei de


licitações ou mesmo as definições do específico processo licitatório foram interpretados a
luz do princípio da isonomia e da competitividade, uma vez que, não houve restrição à
participação de qualquer interessado e selecionou-se a proposta mais vantajosa à
administração pública.

Frisa, ainda, que não houve prejuízo ao processo ou mesmo ao caráter competitivo da
licitação, tanto que, não houve nenhum registro de impugnações ao edital.

Para reforçar suas alegações, o defendente cita julgado do TCU, que em caso análogo,
indeferiu o questionamento quanto à restrição do caráter competitivo de certame licitatório,
por considerar que a reunião dos itens em um único lote, desde que devidamente justificada
pela área demandante, afasta a possibilidade de restrição à competitividade. (Acórdão
1.167/2012 – TC 000.431/2012-5 – TCU – Plenário – Relator: José Jorge).

Por fim, destaca que o entendimento do TCU tem sido o de que o parcelamento ou não do
objeto da licitação deve ser auferido sempre no caso concreto, perquirindo-se
essencialmente acerca da viabilidade técnica e econômica do parcelamento e da
divisibilidade do objeto.

3 – Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva:

O defendente ressalta que o Edital foi publicado na forma da lei, com a inteira observância
do Termo de Referência que instruiu a requisição da autoridade compet ente, com as
especificações do objeto da licitação e distribuição por lotes na forma definida pelo
Secretário da pasta, observada a conveniência administrativa que lhe competia.

Contestando à equipe de auditoria, argumenta que não basta o objeto ser tecni camente
divisível para que se obrigue a distribuição por lotes, uma vez que, deve ser analisada a
conveniência administrativa passando pelo filtro do interesse público, bem como, observar-
se a economicidade.

Feitas essas considerações iniciais, o defendente traz os mesmos argumentos e alegações


tecidas pelo senhor José Jair Reali, o que torna aqui desnecessário transcrevê-las.

4 – Paulo Roberto Vieira Caldellas:

O defendente afirma que os apontamentos da equipe de auditoria são desprovidos de


qualquer amparo lógico e legal, indicando total desconhecimento do que seja rodeio.

Argumenta que esse tipo de evento não permite dissociação do fornecimento da estrutura
física com os shows dos animais, considerando que requer a montagem de picadeiro,
equipamentos para contenção dos animais e outros detalhes exigidos. E complementa: Não
se trata de simples montagem de palco para apresentação de cantores e outros artistas,
serviços esses, que realmente têm inúmeros fornecedores.

Por fim, ressalta que não foi constatado nenhum indício de restrição à competitividade, haja
vista a inexistência de contestação durante a realização do certame.

4 – Thiago Monteiro Bonatto:

O defendente ratifica a questão da não responsabilização do pregoeiro por atos praticados


na fase interna da licitação. Ressalta que, todo o objeto foi estabelecido no Termo de
Referência, elaborado pela autoridade competente e devidamente aprovado pelo Órgão

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Jurídico da Administração Municipal, não restando ao Pregoeiro, permitir ou não a


distribuição dos lotes.

Contestando à equipe de auditoria, argumenta que não basta o objeto ser tecnicamente
divisível para que se obrigue a distribuição por lotes, uma vez que, deve ser analisada a
conveniência administrativa passando pelo filtro do interesse público, bem como, observar-
se a economicidade.

Feitas essas considerações iniciais, o defendente traz os mesmos argumentos e alegações


tecidas pelos senhores José Jair Reali e Geraldo Scaramussa da Silva, o que torna aqui
desnecessário transcrevê-las.

Análise:

A equipe de auditoria aponta como restrição ao caráter competitivo, a cláusula 7.2.5.2.2 do


edital do Pregão Presencial 213/2012, que exigia a comprovação de registro da empresa
licitante no Conselho Regional de Administração.

A questão também foi suscitada no subitem 5.1.1.1 do relatório e analisada no subitem


3.1.1.1 desta peça conclusiva. Na oportunidade, concluiu-se que estava configurada a
irregularidade.
Dessa forma, considerando que, no caso concreto, há total similaridade entre os referidos
subitens, aplica-se os mesmos fundamentos jurídicos já expostos para opinar pela
manutenção da irregularidade.
A equipe de auditoria sustenta, também, que o edital do Pregão Presencial 213/2012 teria
reunido no lote 1, diversos serviços extremamente díspares entre si, que poderiam ser
fornecidos por empresas de naturezas diversas, o que restringia a competitividade,
impedindo a obtenção do preço mais vantajoso para a Administração Pública.

Compulsando os autos (fls. 949 a 955), verifica-se que o lote 1 abrangia a estrutura e
organização da etapa de rodeio, assim discriminado:
a) Estrutura Física: contendo toda infraestrutura para realização do rodeio (montagens e
desmontagens de stands; arquibancadas; camarotes; arena; telões; sonorização;
iluminação, etc.); e

b) Competição Esportiva e Espetáculo: contendo a descrição e o quantitativo de animais


a serem utilizados (touros, bois e cavalos); quantitativo mínimo de pessoal necessário para
execução dos serviços (tropeiros, diretor de provas funcionais, fiscais de bretes, porteneiros,
salva-vidas de rodeio, laçador); e contratações de atrações artísticas (coreografias diversas,
acrobacias com motocicletas, cavalos adestrados, equipe de animação e socorro de arena).
A partir da análise da descrição detalhada desses itens, visualiza-se que, de fato, foram
reunidos em um único lote, serviços distintos que não guardam relação entre si, como, por
exemplo: montagem de arquibancadas e arena; fornecimento de animais; contratação de
fiscais de arena; e contratação de shows.
Tais agrupamentos não parecem apropriados, embora seja de certo modo compreensível
que a distribuição em itens resultaria em uma dificuldade maior para o controle da
execução.
Ademais, é importante destacar que a divisão ou parcelamento do certame licitatório é a
regra geral, como se pode constatar com a leitura da Lei 8.666/93.
O artigo 15, Inciso IV, prevê que as compras, sempre que possível, deverão ser
subdivididas em tantas parcelas quantas necessárias, visando economici dade. No mesmo
sentido, o artigo 23, §1º, recomenda o parcelamento do objeto, mediante sua subdivisão,
em tantos lotes quando for possível, nos casos em que não haja perda de economia de
escala, inviabilidade técnica ou que a licitação em lote único – ou em número reduzido de
lotes – acarrete óbice à ampla competitividade.

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É correto afirmar, portanto, que a regra é o parcelamento, porque amplia a competitividade


e contribui para a obtenção de menor preço ao possibilitar também a participação de
empresas que, embora inaptas em atender à Administração na totalidade do objeto licitado,
podem fazê-lo com relação a itens específicos.
Nesse sentido foi publicada a Súmula nº 247 do TCU, que assim estabelece:
É obrigatória a admissão da adjudicação por item e não por preço global, nos
editais das licitações para a contratação de obras, serviços, compras e
alienações, cujo objeto seja divisível, desde que não haja prejuízo para o
conjunto ou complexo ou perda de economia de escala, tendo em vista o
objetivo de propiciar a ampla participação de licitantes que, embora não
dispondo de capacidade para a execução, fornecimento ou aquisição da
totalidade do objeto, possam fazê-lo com relação a itens ou unidades
autônomas, devendo as exigências de habilitação adequar-se a essa
divisibilidade.
22
Sobre o tema preleciona Marçal Justen Filho :

O art. 23, §1°, impõe o fracionamento como obrigatório. A regra retrata a


vontade legislativa de ampliar a competitividade e o universo de possíveis
interessados. O fracionamento conduz à licitação e contratação de objetos de
menor dimensão quantitativa, qualitativa e econômica. Isso aumenta o número
de pessoas em condições de disputar a contratação, inclusive pela redução
dos requisitos de habilitação (que serão proporcionados à dimensão dos lotes).
Trata-se não apenas de realizar o princípio da isonomia, mas da própria
eficiência. A competição produz redução de preços e se supõe que a
Administração desembolsará menos, em montantes globais através da
realização de uma multiplicidade de contratos de valor inferior do que pela
pactuação de contratação única. (gn)
O parcelamento é regra, no entanto, vale ressalvar que a adjudicação por grupo ou lote não
é, em princípio, irregular, devendo a Administração, nesses casos, justificar de forma
fundamentada, no respectivo processo administrativo, a vantagem dessa opção. Nesse
sentido, encontram-se decisões do TCU, como os Acórdãos 343/2014 - Plenário e
5.134/2014 – Segunda Câmara.
Pode-se admitir, ainda, que a divisão em itens seja inviável, por representar prejuízo para o
conjunto ou complexo ou perda de economia de escala. Entretanto, deve haver certa
compatibilidade entre os itens aglutinados em um único lote, de modo a não restringir a
participação de empresas do ramo.
Concretamente, a restrição à competitividade ocorreu, uma vez que ao aglutinar em um
único lote a estrutura física e elementos necessários de um rodeio, que envolvem
competição esportiva e espetáculo, a Administração afastou do certame empresas do ramo
de eventos que poderiam, por exemplo, instalar as arquibancadas, camarotes e realizar as
atividades de sonorização e iluminação, serviços esses, que têm diversos fornecedores,
23
como já relatado no subitem 3.1.2.1 desta peça conclusiva .

22
JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à Lei de Licitações e Contratos Administrativos. 15. ed.
São Paulo: Dialética, 2012, p. 307.
23
CNPJ consultados:
AGR Serviços e Participações Ltda. – EPP – CNJP 03.662.748/0001-48
Cônica Assessoria e Suporte Técnico para Eventos Ltda. EPP – CNPJ 07.720.317/0001-41
Dadalto Eventos –CNPJ 00.375.260/0001-41
Mais Estrutura, Locação de Tendas e Brinquedos Eireli – EPP – CNPJ 02.352.322/0001-25
Mencer Vídeos Ltda. EPP – CNPJ 02.735.200/0001-18
Play City – CNPJ 00.546.072/0001-39
Ponto Com Produções e Serviços de Sonorização Ltda. ME – CNPJ 07.766.821/0001-82

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ACÓRDÃO T C-127/2020
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A defesa alega que não houve restrição ao caráter competitivo da licitação, porque teria
ocorrido ampla participação de empresas do ramo, tendo os licitantes LS Locações,
Serviços e Eventos Ltda. – EPP, Claudemir dos Anjos ME, Porto Belo Promoções Ltda.,
disputado o objeto com resultado final vantajoso para o Município.
De fato, examinando a condução do procedimento licitatório (fls. 1005 a 1006 dos autos TC)
verifica-se que houve disputa de lances para o lote 1 entre as empresas LS Locações e
Porto Belo Promoções. No entanto, apenas a primeira estaria apta a realizar conjuntamente
a infraestrutura e a parte esportiva/artística do rodeio, uma que se encontrava registrada
com as atividades econômicas de locação de estruturas provisórias (palco, arquibancadas,
etc.) e produção de espetáculos tipo rodeio, conforme se pode constatar com consulta ao
CNPJ 09.031.612/0001-16.
Isto posto, opina-se pela manutenção da irregularidade , sendo responsáveis, os
senhores:
 José Jair Reali (Secretário Municipal de Esporte e Lazer): Responsável pelo Termo
de Referência, que impunha condições restritivas ao caráter competitivo da licitação,
conforme os termos expostos na análise acima. Primeiro, pelo fato de estabelecer exigência
de qualificação técnica indevida, relacionada à obrigatoriedade de registro ou inscrição no
Conselho Regional de Administração. E por incluir em um único lote, serviços distintos,
incompatíveis, e sem justificativa fundamentada, restringido, assim, a participação de outras
empresas do ramo de eventos, especializadas em locação de estruturas temporárias,
sonorização e iluminação.
 Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva (Procurador):
Responsável, conforme mandamento do parágrafo único do artigo 38 da Lei 8.666/93, pela
análise e emissão de parecer favorável ao prosseguimento do procedimento licitatório, que
continha exigência de qualificação técnica indevida, relacionada à obrigatoriedade de
registro ou inscrição no Conselho Regional de Administração (matéria já pacificada pelos
tribunais pátrios – subitem 3.1.1.1 desta ITC).

O parecerista concorreu, também, para restrição ao caráter competitivo, uma vez que não
constava dos autos do procedimento licitatório justificativas fundamentadas para aglutinação
de itens distintos em lote único.

 Thiago Monteiro Bonatto (Pregoeiro):


Na qualidade de pregoeiro, não estava desincumbido de realizar alterações no Termo de
Referência, elaborado pela autoridade competente, que entendesse necessárias. A ele
cabia a condução do procedimento licitatório, necessitando, portanto, de regras claras e não
restritivas à competitividade do certame, principalmente, tratando-se de tema já pacificado
pelos tribunais pátrios, conforme já registrado nessa análise.

Sugere-se o afastamento da responsabilidade dos seguintes senhores:

 Guerino Luiz Zanon (Prefeito):


Responsabilidade afastada na preliminar.

 Paulo Roberto Vieira Caldellas (Auditor Geral):


A atividade exercida nos autos do procedimento licitatório pelo Auditor Geral do Município
de Linhares, senhor Paulo Roberto Vieira Caldellas, não foi relevante para a configuração
da irregularidade, pois não lhe competiu a elaboração do edital, a análise jurídica da minuta
correspondente, tampouco a condução do processo licitatório.
Compulsando os autos, nota-se que o Auditor Geral emitiu parecer favorável ao
prosseguimento do procedimento baseado no fato de que havia sido cumprido o trâmite
regular.

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3.1.3.2 Ausência de planilhas de preços unitários. (subitem 5.1.3.2 do RAO)


Base legal: Art. 3º, III, e 9º da Lei 10.520/02 c/c o art. 7º, § 2º, inciso II e art. 40, §2º, inciso II
da Lei 8.666/93.
Relatório de Auditoria:
Identificação dos responsáveis:
1- Guerino Luiz Zanon - Prefeito Municipal.
Conduta: Responsabilidade solidária prevista no art. 2º, § 4º, da Lei Municipal
2.576/2005.
Nexo: Por não fiscalizar e revisar os atos praticados dos servidores, decorrentes da
delegação de competência, contribuiu para ocorrência da irregularidade.
2- José Jair Reali - Secretário Municipal de Esporte e Lazer.
Conduta: Permitir a realização da licitação sem orçamento detalhado em planilhas de
forma a expressar seus custos unitários e a permitir a indicação de previsão
orçamentária
Nexo: Ao permitir a realização da licitação sem orçamento detalhado em planilhas de
forma a expressar seus custos unitários e a permitir a indicação de previsão
orçamentária acarretou a ausência de clareza mínima que possibilitasse ampla
participação dos concorrentes e, consequentemente, deixou de obter a contratação
mais vantajosa para a Administração.
3- Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva – Procurador Municipal
Conduta: Opinou favoravelmente ao prosseguimento da licitação, sem atentar para a
exigência legal quanto às planilhas de preços unitários.
Nexo: Ao opinar favoravelmente ao prosseguimento da licitação, sem atentar para a
exigência legal quanto às planilhas de preços acarretou a ausência de clareza mínima
que possibilitasse ampla participação dos concorrentes e, consequentemente, deixou
de obter a contratação mais vantajosa para a Administração.
4- Paulo Roberto Vieira Caldellas– Auditor Geral
Conduta: Emitir parecer favorável ao prosseguimento da licitação, sem atentar para a
exigência legal quanto às planilhas de preços unitários.
Nexo: Ao dar parecer favorável ao prosseguimento da licitação, sem atentar para a
exigência legal quanto às planilhas de preços acarretou a ausência de clareza mínima
que possibilitasse ampla participação dos concorrentes e, consequentemente, deixou
de obter a contratação mais vantajosa para a Administração.
5- Thiago Monteiro Bonatto – Pregoeiro
Conduta: Realizar licitação sem orçamento detalhado em planilhas de forma a
expressar seus custos unitários e a permitir a indicação de previsão orçamentária
Nexo: Ao realizar licitação sem orçamento detalhado em planilhas de forma a
expressar seus custos unitários, acarretou a ausência de clareza mínima que
possibilitasse ampla participação dos concorrentes e, consequentemente, deixou de
obter a contratação mais vantajosa para a Administração.

Relato do indício de irregularidade:


Os objetos contratados, através do Pregão Presencial 213/ 12 (Processo 13.137/12),
são compostos de lotes desmembrados em itens, dimensionados quantitativamente,
com descrições técnicas necessárias e suficientes, que possibilitariam ao licitante
elaborar um orçamento detalhado e apresentar sua proposta através de planilhas
expressando a composição de todos os custos unitários, conforme determinação
legal.

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O Anexo III do Edital apresenta modelo de proposta comercial considerando


quantitativo, valor unitário e valor total, reforçando a necessidade do detalhamento
dos custos, conforme a exigência legal. Porém, tal conformidade não foi exigida pelos
responsáveis.
A inexistência de planilhas com preços unitários impede a Administração Municipal de
avaliar os valores cobrados, efetivar a fiscalização da execução do objet o e,
consequentemente, efetivar a liquidação da despesa de forma inequívoca. Tal
inobservância atenta contra os princípios da moralidade e da publicidade que devem
nortear a Administração Pública.
(...)
Justificativas:

1 – Guerino Luiz Zanon:


Remete as justificativas apresentadas em resposta aos subitens 5.1.1.2 e 5.1.2.2 do
relatório de auditoria.

2 – José Jair Reali:

O defendente contesta a equipe, esclarecendo que o Anexo do Edital não trazia itens
isolados, mas apenas um item em cada lote, detalhado com as descrições dos atributos
mínimos necessários dos equipamentos, pessoal, animais, material etc. Assim, competia
aos concorrentes apresentar propostas em valores unitários e totais por item e não para
cada detalhamento do item.

Argumenta que tais descrições foram necessárias para que os interessados, a partir dessas
definições, pudessem formular propostas para cada item. E complementa: O que se buscou
foi dar clareza ao objeto da licitação sem deixar qualquer margem à dúvida, pois essas
especificações, na forma da lei, (...), não se admitem complementação a posteriori.
Afirma, ainda, que consta dos autos planilha com preços unitários e totais por item, elaborada
com base em orçamentos colhidos no mercado.
Por fim, argumenta que a jurisprudência do TCU caminha no sentido da não obrigatoriedade
da anexação do orçamento com preços unitários no edital do certame, quando se tratar de
licitação na modalidade pregão.
3 – Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva:

O defendente traz os mesmos argumentos e alegações da defesa do senhor José Jair


Reali, o que torna aqui desnecessário transcrevê-las.

4 – Paulo Roberto Vieira Caldellas:

O defendente argumenta que a Lei de regência da modalidade pregão, adotada no certame


analisado, não prevê a exigência de planilha de preços unitários para sua realização.

5 – Thiago Monteiro Bonatto:


O defendente ratifica a questão da não responsabilização do pregoeiro por atos praticados
na fase interna da licitação, aí incluída a elaboração do Termo de Referência e o respectivo
edital. Afirma que tudo na forma da Lei foi encaminhado ao Órgão Jurídico do Município
tendo, a Minuta do Edital, seus anexos e a Minuta do Contrato, recebido aprovação da
Procuradoria Jurídica, para a sua legal e necessária publicação, que inaugurou a fase
externa do certame, momento no qual passou a atuar como pregoeiro.
Afirma, também, que os orçamentos detalhados em planilhas com preços unitários e
globais, por item, estão inseridos nos autos do processo administrativo às fls. 21/38. E às
fls. 39/40 consta a planilha de apuração de preços médios, também apontando os valores
unitários e globais de cada item.

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Alega que como pregoeiro não poderia exigir dos concorrentes a especificação de valores
unitários e totais, em cada especificação do item que constituiu o lote, pois tal exigência iria
extrapolar os limites da lei e os concorrentes não estavam obrigados a fazê-lo.
Destaca que neste certame, cada lote foi constituído de apenas um item e este foi detalhado
minunciosamente no Termo de Referência que integra o edital, por opção da autoridade
competente para atender as necessidades da administração.
Esclarece que no Termo de Referência foram especificadas as descrições dos atributos
mínimos necessários dos equipamentos, pessoal, animais, material etc., que deveriam estar
disponíveis em cada local em função da natureza própria do objeto da contratação. Alega
que, tal descrição se fez necessária para que os interessados, a partir dessas definições,
pudessem formular sua proposta para cada item. E complementa: O que se buscou foi dar
clareza ao objeto da licitação sem deixar qualquer margem à dúvida, pois essas
especificações, na forma da lei, (...), não se admitem complementação a posteriori, sob
pena de nulidade do certame, (...).
Por fim, argumenta, assim como os demais citados, que a jurisprudência do TCU caminha no
sentido da não obrigatoriedade da anexação do orçamento com preços unitários no edital do
certame, quando se tratar de licitação na modalidade pregão.
Análise:
Analisando os documentos carreados aos autos pela equipe de auditoria (fls. 925 a 971),
verifica-se que o edital do Pregão 213/2012 estabeleceu como objeto a contratação de
serviços de estrutura de rodeio, praça de alimentação e show pirotécnico, destinados a
atender a EXPOLINHARES. Cada serviço correspondia a um lote.
A equipe de auditoria aponta que as propostas não foram apresentadas considerando os
valores unitários de cada item.
Para os defendentes, o que a equipe de auditoria identifica como itens, em verdade, seriam
as especificações técnicas dos equipamentos que compunham os lotes. Cada lote
correspondia apenas a um item e, assim, competia aos licitantes apresentar propostas para
o lote e não para o detalhamento.
No entanto, não há como prosperar essa alegação, uma vez que o questionamento da
equipe de auditoria deve ser interpretado como ausência de preços unitários de serviços e
locações de equipamentos e materiais diversos agrupados nos lotes.

Analisando a composição desses lotes, observa-se que apenas o lote 2 estava definido
com apenas um serviço, show pirotécnico. Nos demais, constavam um agrupamento de
serviços de montagem/desmontagem e locações diversas, que assim podem ser
identificados: lote 1 – stands, camarotes, iluminação cênica, sonorização, arquibancadas,
arena oficial de rodeio, bretes, querências, telões multimídia, equipamentos de foto célula;
animais; contratação de atrações artísticas (coreografias diversas, acrobacias com
motocicletas, cavalos adestrados, equipe de animação e socorro de arena) etc.; e lote 3 –
estruturas da praça de alimentação: tendas, toldos, stands, fechamentos em perfis de
alumínio.
Compulsando os autos (fls. 973 a 1004), encontramos as planilhas orçamentárias,
elaboradas com base em cotação de preços de mercado junto a empresas do ramo. No
entanto, esses documentos não foram preenchidos com os valores unitários para cada item
citado e tampouco publicados como anexo do edital.
Constata-se, também, que as propostas vencedoras foram preenchidas considerando
apenas o valor global dos lotes.
Assim, considerando os mesmos fundamentos expostos no subitem 3.1.1.2, opina-se pela
manutenção da irregularidade pela ausência de preços unitários no procedimento
licitatório, sendo responsáveis, os senhores:

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 José Jair Reali: responsável pelo Termo de Referência, onde não constava o
detalhamento em preços unitários de cada item que compunha os lotes 1 e 3 do Pregão
Presencial 213/2012;
 Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva: responsável pela análise e emissão de parecer
favorável ao prosseguimento do procedimento licitatório, sem alertar para a obrigatoriedade
das planilhas de preços unitários;
 Thiago Monteiro Bonatto: Na qualidade de pregoeiro, não estava desincumbido de
realizar alterações no Termo de Referência, elaborado pela autoridade competente, que
entendesse necessárias. A ele cabia a condução do procedimento licitatório, necessitando,
portanto, de critérios de aceitabilidade de preços unitários e global
Sugere-se o afastamento da responsabilidade dos seguintes senhores:

 Guerino Luiz Zanon (Prefeito):


Responsabilidade afastada na preliminar.

 Paulo Roberto Vieira Caldellas (Auditor Geral):

A atividade exercida nos autos do procedimento licitatório pelo Auditor Geral do Município
de Linhares, senhor Paulo Roberto Vieira Caldellas , não foi relevante para a configuração
da irregularidade, pois não lhe competiu a elaboração do edital, a análise jurídica da minuta
correspondente, tampouco a condução do processo licitatório.
Compulsando os autos, nota-se que o Auditor Geral emitiu parecer favorável ao
prosseguimento do procedimento baseado no fato de que havia sido cumprido o trâmite
regular.

3.1.3.3 Ausência de interesse público. (subitem 5.1.3.3 do RAO)


Base legal: Art. 32, caput da Constituição Estadual, c/c o art. 2º da Lei 9.784/99.

Relatório de Auditoria:
Identificação dos responsáveis:
1- Guerino Luiz Zanon – Prefeito Municipal.
Conduta: Responsabilidade solidária prevista no art. 2º, § 4º, da Lei Municipal
2.576/2005.
Nexo: Por não fiscalizar e revisar os atos praticados dos servidores, decorrentes da
delegação de competência, contribuiu para ocorrência da irregularidade.
2- José Jair Reali – Secretário Municipal de Esporte e Lazer.
Conduta: Permitir, e não justificar adequadamente que parte dos camarotes VIP,
pagos pelos cofres públicos, atenderam ao interesse particular do contratante, em
flagrante desrespeito ao interesse público.
Nexo: Ao permitir, e não justificar adequadamente que parte dos camarotes VIP,
pagos pelos cofres públicos, atenderam o interesse particular do contratant e,
contribuindo para a ocorrência da irregularidade em flagrante desrespeito ao
interesse público.
3- Paulo Roberto Vieira Caldellas - Auditor Geral.
Conduta: Parecer favorável ao prosseguimento do contrato, sem, contudo,
manifestar-se sobre a concessão de parte dos camarotes VIP, pagos pelos cofres
públicos, que atenderam o interesse particular do contratante.
Nexo: Ao dar parecer favorável ao prosseguimento do contrato, sem, contudo,
manifestar-se sobre a concessão de parte dos camarotes VIP, pagos pelos cofres
públicos, que atenderam o interesse particular do contratante, contribuiu para
ocorrência da irregularidade.

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Relato do indício de irregularidade:


A prefeitura municipal realizou o Pregão Presencial 213/2012, objetivando a contratação de
estrutura e organização de rodeio (Contrato 541/12) e show pirotécnico (Contrato 540/12),
para a realização do evento de comemoração ao aniversário de emancipação política de
Linhares/ES, denominado EXPOLINHARES, em 2012.
Entre os itens contratados, constam diversas te ndas para a área referente à praça de
alimentação, bem como estrutura para camarotes VIP (já mencionada no item 5.1.2.4).
O Termo de Referência informa a existência de 105 espaços reservados às tendas da
praça de eventos e de alimentação, bem como 9 stands, que abrigariam entidades
municipais, praça de alimentação e stand cultural. Entretanto, não há qualquer
menção acerca de quais entidades seriam beneficiadas e de que forma seriam
exploradas tais estruturas bem como a praça de alimentação. (grifos do subscritor desta
ITC)
É fato notório que esses espaços são explorados economicamente por terceiros, sem
proveito algum aos cofres municipais (DOC. 02). A exploração comercial desses espaços
afronta o princípio da indisponibilidade do interesse público, vez que o simples fato da
existência de uma praça de alimentação já denota a reserva de espaço onde só haverá
consumo de produtos mediante pagamento pecuniário, o que nem encontra previsão
editalícia ou contratual.
Conclui-se, por conseguinte, que o Contrato 541/2012, no que se refere à contratação de
estrutura e montagem de stands, tendas e praça de alimentação, não atendeu ao interesse
público, uma vez que houve o patrocínio integral do mesmo por parte do cofre municipal,
para que houvesse a exploração comercial de vários espaços do evento por particulares,
sem prova de qualquer retorno financeiro ao erário.
24
Tal situação enseja a imputação de débito no valor de R$ 431.092,00 (quatrocentos e
trinta e um mil e noventa e dois reais), ou 190.841,56 VRTE’s, solidariamente aos
responsáveis (já considerando o desconto referente ao valor das premiações do rodeio, que
perfizeram um total de R$58.908,00).
Justificativas:
1 – Guerino Luiz Zanon:
A defesa argumenta que o interesse público primário na promoção de cultura e lazer, jamais
poderia ser suprido sem atender a necessidade de alimentação de participantes do evento
EXPOLINHARES.
Afirma, ainda, que os espaços foram objeto de cessão onerosa pelo Município aos terceiros
interessados, o que gerou benefício econômico direto ao erário. Comprova, tal afirmação,
com cópias de Documentos de Arrecadação Municipal (DAM) anexados à peça
contestatória.
2 – José Jair Reali:
O defendente alega que a Comissão de Festa, instaurada para realização da ExpoLinhares
2012, era a responsável pelo apontamento de quaisquer quantias capazes de representar
potenciais receitas. E que, por um lapso de procedimento, o processo administrativo do
recolhimento das receitas provenientes da venda dos espaços da praça de alimentação e
eventos (tendas e stands), processo nº 15.451/2012, não se encontrava anexado ao
processo nº 13.137/2012.
Com cópia do referido processo, bem como do relatório expedido pela Secretaria de
Finanças pretende comprovar o recolhimento dos valores.

3 – Paulo Roberto Vieira Caldellas:

24
O Contrato 541/12 totalizou R$490.000,00, sendo R$431.092,00 para montagem de estruturas e
R$58.908,00 para premiação do rodeio.

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O defendente remete aos argumentos trazidos em resposta aos subitens 5.1.1.4 e 5.1.2.4
do relatório de auditoria (objeto da análise dos subitens 3.1.1.4 e 3.1.2.4 desta ITC).

Análise:
Os auditores do Tribunal relatam que a Secretaria Municipal de Esporte e Lazer contratou a
locação, montagem e desmontagem de 105 estruturas temporárias reservadas às tendas da
praça de eventos e de alimentação, bem como 9 stands publicitários/comerciais, que
abrigariam entidades municipais na EXPOLINHARES, objeto do Pregão Presencial
213/2012.
Registram, também, que não havia nos autos do procedimento licitatório qualquer menção
acerca de quais entidades seriam beneficiadas e de que forma seriam exploradas tais
estruturas.
Argumentam que, notoriamente esses espaços são explorados economicamente por
terceiros, sem proveito algum aos cofres municipais.
E concluem que, a exploração comercial desses espaços afronta o princípio da
indisponibilidade do interesse público, uma vez que o simples fato da existência de uma
praça de alimentação já denota a reserva de espaço onde só haverá consumo de produtos
mediante pagamento pecuniário, o que nem encontra previsão editalícia ou contratual.
Ante a não comprovação do interesse público, os auditores sustentam ser passível de
ressarcimento ao erário, R$431.092,00 (190.841,56 VRTE), valor correspondente a todo o
contrato 541/2012, excluindo a quantia reservada para premiação do rodeio, R$58.908,00.
Em sede de defesa, os responsáveis alegam, em síntese, que o interesse público primário
de promoção à cultura e lazer, jamais poderia ser suprido sem atender a necessidade de
alimentação de participantes e espectadores do evento.
Afirmam também que, a Comissão de Festa, instaurada para realização da
EXPOLINHARES 2012, era a responsável pelo apontamento de quaisquer quantias
capazes de representar potenciais receitas. E que, por um lapso de procedimento, o
processo administrativo do recolhimento das receitas provenientes da venda dos espaços
da praça de alimentação e eventos (tendas e stands), processo 15.451/2012, não se
encontrava anexado ao processo licitatório 13.137/2012.

Analisando os documentos acostados às peças de defesa (fls. 4473 a 4510 dos autos TC),
verifica-se que a Administração de fato auferiu recursos financeiros com a cessão ao
particular de espaço público reservado para exploração comercial e publicitária com tendas
e stands da praça de alimentação e eventos da EXPOLINHARES, mediante cobrança de
taxas nos valores de R$750,00; R$1.500,00; R$1.800,00; e R$2.500,00.
A defesa junta como comprovantes Documentos de Arrecadação Municipal – DAM, que
totalizaram R$45.350,00 auferidos com o recolhimento das referidas taxas por 28
interessados pelos espaços.
Demonstra-se, assim, o ingresso nos cofres públicos com a exploração econômica do
evento. Não resta comprovado, no entanto, se todas estruturas temporárias contratadas
(105 tendas e 9 stands) foram cedidas aos particulares e tampouco quantos stands teriam
sido de fato destinados às entidades beneficentes do município e à cultura, conforme previa
o Termo de Referência elaborado pelo Secretário Municipal de Esporte e Lazer, senhor
José Jair Reali (fls. 836 dos autos TC).
Ademais, é importante ressaltar que, consta apenas expediente emitido pela Comissão
Especial de Organização da EXPOLINHARES 2012 (fls. fls. 4477 a 4481 dos autos TC),
com o qual é solicitado à Secretaria Municipal de Esporte e Lazer, o encaminhamento da
relação de interessados ao Departamento de Administração Tributária do Município, para
emissão do DAM correspondente. Contudo, não se constata nos autos do processo
administrativo e sequer na peça de defesa, a comprovação de que tenha havido ampla
publicidade e observância aos princípios da impessoalidade e finalidade pública na cessão
desses espaços públicos provisórios aos particulares.

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25
Nesse sentido, vale destacar a doutrina de Hely Lopes Meireles , para quem
impessoalidade e finalidade pública se confundem:

O princípio da impessoalidade, referido na Constituição/88 (art. 37, caput), nada mais é que
o clássico princípio da finalidade, o qual impõe ao administrador público que só pratique o
ato para o seu fim legal. E o fim legal é unicamente aquele que a norma de Direito indica
expressa ou virtualmente como objetivo do ato, de forma impessoal.

O autor ainda complementa:

O que o princípio da finalidade veda é a prática de ato administrativo sem interesse público
ou conveniência para a Administração, visando unicamente a satisfazer interesses privados,
por favoritismo ou perseguição dos agentes governamentais, sob a forma de desvio de
finalidade. (...)
Perfilhando esse entendimento, encontra-se também o doutrinador José dos Santos
26
Carvalho Filho , que ao tratar do princípio da impessoalidade, assim disserta:
reflete a aplicação do conhecido princípio da finalidade, sempre estampado na obra dos
tratadistas da matéria, segundo o qual o alvo a ser alcançado pela Administração é somente
o interesse público, e não se alcança o interesse público se for perseguido o interesse
particular, porquanto haverá nesse caso sempre uma atuação discriminatória.
Assim, mais do que auferir receita com a cessão das tendas e stands a particulares, o
gestor da Secretaria de Esporte e Lazer do Município de Linhares deveria comprovar se o
ato foi revestido da impessoalidade, ou seja, se foi atendida a finalidade pública, em
cumprimento ao artigo 37, caput, da CRFB, c/c artigo 32, caput, da CE ES.

Concretamente, o gestor da Secretaria agiu com desvio da finalidade pública, ao não definir
previamente como 105 tendas e 9 stands locados seriam explorados e ao não comprovar
que tenha agido de forma impessoal na cessão desses espaços públicos provisórios aos
particulares.
Conclui-se, assim, que está configurada a ausência do interesse público (artigo 32, caput,
da CE ES) e o consequente dano ao erário.

Ressalva-se, no entanto, que, o débito a ser imputado ao responsável não corresponde ao


apontado no relatório de auditoria, uma vez que equivocadamente a equipe considerou a
quantia paga pelas estruturas físicas, animais e atrações artísticas do rodeio, que
compreendiam o lote 1, além das estruturas da praça de alimentação e eventos (tendas e
stands) – lote 3.
Dessa forma, opina-se pela manutenção da irregularidade com a imputação de débito
no valor de R$135.000,00 (59.763,60 VRTE), correspondente, apenas, ao pagamento pela
contratação de 105 tendas e 9 stands sem a comprovação do interesse público (lote 3),
sendo responsável o senhor José Jair Reali (Secretário Municipal de Esporte e Lazer à
época), por não justificar adequadamente a utilização das estruturas temporárias da praça
de alimentação e eventos da EXPOLINHARES 2012 e permitir que houvesse à cessão ao
particular sem comprovação de atendimento ao princípio da impessoalidade necessário
para o alcance do interesse público, questionado pela auditoria.
Afasta-se a responsabilidade do Prefeito, Procurador Municipal e Auditor Geral, pelas
razões abaixo expostas:
 Guerino Luiz Zanon (Prefeito):
Responsabilidade afastada na preliminar.

 Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva (Procurador Municipal):

25
MEIRELLES, Hely Lopes, op. cit., loc. cit.
26
CARVALHO FILHO, José dos Santos, op. cit., loc. cit.

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lc/fbc

A atividade jurídica exercida nos autos do procedimento licitatório pelo Procurador, não foi
relevante para a configuração da irregularidade, pois não lhe competia a elaboração do
Termo de Referência, tampouco a definição prévia de como seriam exploradas
comercialmente as tendas e stands, ato discricionário do responsável pela Secretaria
requisitante.
 Paulo Robero Vieira Caldellas (Auditor Geral):
A conduta do senhor Paulo Roberto Vieira Caldellas não foi relevante para a configuração
da irregularidade, uma vez que sua função era acompanhar a execução dos atos e apontar,
em caráter sugestivo, preventivo ou corretivamente, as ações a serem desempenhadas.
Além disso, destaca-se o caráter opinativo do Controle Interno, haja vista que o gestor pode
ou não atender à proposta que lhe seja indicada, sendo dele a responsabilidade e risco dos
atos praticados.
Nos autos do procedimento licitatório, o Auditor apenas se manifestou acerca do trâmite
processual relativo ao Pregão Presencial 213/2012.

3.1.3.4 Não comprovação da entrega da premiação. (subitem 5.1.3.4 do RAO)


Base legal: Artigos 62, caput, e 63, da Lei 4.320/64.
Relatório de Auditoria:
Identificação dos responsáveis:
1- Guerino Luiz Zanon - Prefeito Municipal.
Conduta: Responsabilidade solidária prevista no art. 2º, § 4º, da Lei Municipal 2.576/2005.
Nexo: Por não fiscalizar e revisar os atos praticados dos servidores, decorrentes da
delegação de competência, contribuiu para ocorrência da irregularidade.
2- José Jair Reali - Secretário Municipal de Esporte e Lazer.
Conduta: Responsável pela designação do agente responsável pelo acompanhamento e
fiscalização da execução do contrato.
Nexo: Ao não fiscalizar e revisar os atos praticados pelos servidores, em especial o servidor
especialmente designado para acompanhar e fiscalizar a execução contratual, contribuiu
para a infringência.

3- Aguinaldo Bernardo – Fiscal do Contrato.


Conduta: Não comprovou a entrega dos prêmios
Nexo: Por não ter comprovado a entrega dos prêmios, contribuiu para ocorrência da
irregularidade.
4- LS Locações, Serviços e Eventos Ltda. EPP – Contratada.
Conduta: Não comprovar a entrega dos prêmios aos ganhadores.
Nexo: Por não comprovar a entrega dos prêmios aos ganhadores contribuiu para ocorrência
da irregularidade.

Relato do indício de irregularidade:


No Lote 01 do Pregão Presencial 213/12, além da estrutura para a realização da Etapa
Federada Master de Rodeio, foram incluídos os prêmios a serem entregues aos
competidores, nas diversas modalidades da competição. Porém, nos autos não foram
encontradas evidências de que a premiação fora distribuída, nem a relação dos vencedores.
A liquidação da despesa relativa a esse quesito dar-se-ia mediante a apresentação do
regulamento da competição, da apuração dos vencedores e da comprovação da entrega
dos referidos prêmios que não constaram do processo analisado.

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Em virtude da não comprovação da entrega dos prêmios, a importância apurada pela


equipe de auditoria somou R$ 58.908,00 (cinquenta e oito mil, novecentos e oito reais,
Tabela 6), equivalentes a 26.078,18 VRTEs é passível de imputação de débito,
solidariamente aos responsáveis.
(...)
Justificativas:
1 – Guerino Luiz Zanon:
A fim de sanar a irregularidade apontada, a defesa apresenta relatório fotográfico da
premiação, com os respectivos vencedores (acostada às fls. 6505 a 6522).
2 – José Jair Reali:
O defendente reconhece que houve falha administrativa em não anexar aos autos o
relatório fotográfico comprobatório da entrega da premiação, bem como a relação dos
ganhadores.
3 – Aguinaldo Bernardo:
Repete a alegação do senhor José Jair Reali.
4 – LS Locações, Serviços e Eventos Ltda. EPP (Contratada):
O defendente alega, em síntese, que os prêmios foram entregues e os serviços
devidamente prestados, conforme os documentos anexos.
Argumenta, ainda, que se não há comprovação da entrega dos prêmios, tal situação deve
ser encarada como irregularidade documental, mas não que concretamente a empresa
tenha deixado de cumprir sua obrigação contratual. Pois, como comprova com relatório
fotográfico (fls. 3822 a 3832) a premiação dos vencedores foi executada.
Assim, conclui que, admitir a devolução de R$58.908,00 (valor dos prêmios) importa em
locupletamento ilícito do Município em detrimento do particular.
Análise:
Os auditores do Tribunal relatam que, o Lote 1 do Pregão Presencial 213/2012, além da
estrutura para a realização da Etapa Federada Master de Rodeio, contemplava os prêmios
que seriam entregues aos competidores nas diversas modalidades. Porém, nos autos não
foram encontradas evidências de que a premiação foi distribuída, tampouc o quais foram os
vencedores.
Em virtude da não comprovação da entrega da premiação, os auditores sustentam que é
passível o ressarcimento ao erário R$ 58.908,00 (26.078,18 VRTE), correspondente aos
seguintes prêmios:

Prova Prêmio Valor estimado


(R$)
01 Montaria em touros 01 veículo 1.0 básico, fabricação 22.792,00 (*)
nacional, zero km.
02 Montaria em cavalo 01 moto 125 CC, zero km. 5.558,00 (**)
03 Prova de três tambores 01 moto 125 CC, zero km. 5.558,00 (**)
04 Prova de laço em dupla R$ 25.000,00 25.000,00
58.908,00
Fonte: Tabela FIPE – consulta em 11/11/2013 – o valor de R$ 22.792,00 equivale a um veículo Fiat Uno
Mille 1.0 Fire/Flex/ECONOMY 2p 0KM.; Tabela FIPE MOTO – o valor de R$ 5.558,00 equivale a uma moto
Yamaha YBR 125 FACTOR Pro K 0KM.

Em sede de defesa, os responsáveis alegam que houve falha administrativa em não


comprovar nos autos a entrega da premiação. E a fim de sanar a irregularidade, trazem o
relatório fotográfico contendo registros dos ganhadores e seus respectivos prêmios.

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Compulsando os documentos trazidos pela defesa (fls. 3822 a 3832 e 6465 a 6483),
verifica-se que a irregularidade não mais se sustenta.
Dessa forma, uma eventual emissão de juízo favorável à ocorrência de dano ao erário por
liquidação irregular de despesa, estaria embasada tão somente na presunção.
Isto posto, opina-se pelo acolhimento dos argumentos da defesa, afastando o
ressarcimento ao erário, mantendo, contudo, a irregularidade relativa à infringência
aos artigos 62 e 63 da Lei Federal 4.320/64, sendo responsável o senhor José Jair Reali,
ordenador de despesa da Secretaria Municipal de Esporte e Lazer, responsável pela
liquidação e pagamento das despesas sem documentos que comprovassem a execução do
contrato.

3.1.3.5 Omissão na fiscalização da execução contratual. (subitem 5.1.3.5 do RAO)


Base legal: Art. 73, II, ‘a’ e ‘b’, da Lei 8.666/93 c/c o art. 9º da Lei 10.520/2002.
Relatório de auditoria:
Identificação dos responsáveis:
1- Guerino Luiz Zanon - Prefeito Municipal.
Conduta: Responsabilidade solidária prevista no art. 2º, § 4º, da Lei Municipal
2.576/2005.
Nexo: Por não fiscalizar e revisar os atos praticados dos servidores, decorrentes da
delegação de competência, contribuiu para ocorrência da irregularidade.
2- José Jair Reali - Secretário Municipal de Esporte e Lazer.
Conduta: Responsável pela designação do agente responsável pelo
acompanhamento e fiscalização da execução do contrato.
Nexo: Ao não fiscalizar e revisar os atos praticados pelos servidores, em especial o
servidor especialmente designado para acompanhar e fiscalizar a execução
contratual, contribuiu para a infringência.
3- Aguinaldo Bernardo – Servidor designado gestor do contrato.
Conduta: Responsável pelo acompanhamento e fiscalização da execução do
contrato, deixou de emitir termo circunstanciado acerca do material recebido, bem
como relatório atestando a conformidade da execução com os termos do edital.
Nexo: Ao não fiscalizar a execução contratual, contribuiu para a infringência.

Relato do indício de irregularidade:


Não houve termo circunstanciado assinado pelo agente responsável por acompanhar
e fiscalizar a execução contratual, atestando o recebimento de todos os itens em
conformidade com o estabelecido em edital, conforme redação do art. 73, II, “a” e “b”,
da lei nº 8.666/93:
Art. 73. Executado o contrato, o seu objeto será recebido:
(...)
II - em se tratando de compras ou de locação de equipamentos:
a) provisoriamente, para efeito de posterior verificação da conformidade
do material com a especificação;
b) definitivamente, após a verificação da qualidade e quantidade do
material e consequente aceitação.
Tal documento seria hábil a demonstrar o cumprimento das condições impostas pelo edital,
além de atestar a execução contratual e facilitar a liquidação da despesa.
A omissão repercutiu em infringência ao dispositivo indicado, sendo passível de imputação
aos responsáveis.
Justificativas:
Guerino Luiz Zanon; José Jair Reali; e Aguinaldo Bernardo:

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Repetem as argumentações apresentadas em resposta aos subitens 5.1.1.3 e 5.1.2.3 do


relatório de auditoria (analisados nos subitens 3.1.1.3 e 3.1.2.3 desta peça conclusiva), o
que torna desnecessário aqui transcrevê-las.
Anexa, também, cópia do processo 13.137/2012, c om a qual pretende comprovar que
houve o ateste da execução contratual pelo Secretário da pasta (fls. 5985 a 6425).
Análise:
Analisando a documentação carreada aos autos pela defesa (fls. 6408 a 6425) observa-se
que o próprio Secretário Municipal de Esporte e Lazer, senhor José Jair Reali, atestou a
execução dos serviços e autorizou o pagamento conforme as notas fiscais emitidas pelas
empresas Claudemir dos Anjos ME (contrato 540/2012 e LS Locações, Serviços e Eventos
Ltda. EPP (contrato 541/2012). Logo, não se pode afirmar que houve omissão na
fiscalização da execução contratual.
Isto posto, com base nos mesmos fundamentos expostos nos subitens 3.1.1.3 e 3.1.2.3,
opina-se pelo acolhimento dos argumentos da defesa, afastando a irregularidade.

3.1.4 – Processos de Inexigibilidade:


Os auditores constataram que a Prefeitura de Linhares contratou diversos shows artísticos
por meio de inexigibilidade de licitação. Para análise foram s elecionados os seguintes
processos: 9.020/12; 4.290/12; 8.501/12; 10.997/12; 14.717/12; e 15.114/12.
3.1.4.1 Inexistência de justificativa de preço. (subitem 5.1.4.1 do RAO)
Base legal: Art. 26, parágrafo único, inciso III, da Lei 8.666/93.
Relatório de Auditoria:
Identificação dos responsáveis:
1- Guerino Luiz Zanon - Prefeito Municipal.
Conduta: Responsabilidade solidária prevista no art. 2º, § 4º, da Lei Municipal 2.576/2005.
Nexo: Por não fiscalizar e revisar os atos praticados dos servidores, decorrentes da
delegação de competência, contribuiu para ocorrência da irregularidade.
2- José Jair Reali - Secretário Municipal de Esporte e Lazer.
Conduta: Homologou e autorizou o empenho da despesa sem que houvesse justificativa do
preço contratado.
Nexo: Ao homologar e autorizar o empenho da despesa sem que houvesse justificativa do
preço dos serviços descumpriu a Lei de Licitações.
3- Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva - Procurador Administrativo do Município.
Conduta: Opinar pelo prosseguimento da inexigibilidade sem s e manifestar sobre a
necessidade da justificativa do preço dos serviços.
Nexo: Ao opinar pelo prosseguimento da inexigibilidade de licitação, sem que houvesse
justificativa do preço, contribuiu para ocorrência da irregularidade.
4- Thiago Bruneli Pessoa - Presidente da CPL (esteve presente em todos os processos
do Quadro 08 acima);
Conduta: Opinou pelo prosseguimento dos processos de inexigibilidade sem que houvesse
a justificativa do preço.
Nexo: Ao opinar pelo prosseguimento dos processos de inexigibilidade, sem que houvesse
a justificativa do preço, contribuiu para a ocorrência da irregularidade.
5- Paulo Roberto Vieira Caldellas - Auditor Geral.
Conduta: Dar parecer favorável ao prosseguimento dos processos de inexigibilidade de
licitação sem que houvesse justificativa dos preços.
Nexo: Ao dar parecer favorável ao prosseguimento dos processos de inexigibilidade de
licitação sem que houvesse justificativa dos preços, contribuiu para ocorrência da
irregularidade.

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Relato do indício de irregularidade:


A Secretaria Municipal de Esporte e Lazer realizou contratação dos shows artísticos
relacionados acima (Quadro 08) através de processos de inexigibilidade. Porém, não
constam dos autos as justificativas dos preços contratados, deixando de atender as
exigências da Lei 8.666/93.
Não há nos autos evidências de que houve ampla pesquisa de modo a demonstrar que os
preços oferecidos nos orçamentos apresentados estavam de acordo com os praticados no
mercado, se estariam em conformidade com os preços praticados em outras
municipalidades da federação, até porque sem essa pesquisa os orçamentos apresentados
são insuficientes para justificarem os preços contratados.
A pesquisa de mercado presta-se a demonstrar que os preços indicados nas planilhas de
propostas são condizentes com os preços praticados no mercado usual, pois, se forem
diferentes, haverá então indícios de sobrepreço.
O Estatuto Licitatório dispõe acerca das condições para contratação direta por
inexigibilidade de licitação no art. 26, § único, senão vejamos:
Art. 26 – (...)
Parágrafo único - O processo de dispensa, de inexigibilidade ou de
retardamento, previsto neste artigo, será instruído, no que couber, com
os seguintes elementos:
I- caracterização da situação emergencial ou calamitosa que justifique a
dispensa,
quando for o caso;
II- razão da escolha do fornecedor ou executante;
III- justificativa do preço.
IV- documento de aprovação dos projetos de pesquisa aos quais os bens
serão alocados. [g. n.]
Do Acórdão 690/2005, da Segunda Câmara, do TCU, vem a explicação do que deve ser a
justificativa de preços na contratação por dispensa de licitação, aplicável no caso de
inexigibilidade:
Instrua os processos de contratação direta segundo os procedimentos
estabelecidos no artigo 26, parágrafo único, da Lei 8.666/1993, de modo
que sejam devidamente formalizados os elementos requeridos pelos
incisos I a III desse dispositivo por meio de expedientes específicos e
devidamente destacados no processo, caracterizando a motivação do
administrador para a prática dos atos e juntando-se justificativa de
preços que demonstre, item a item, a adequação dos preços
àqueles praticados no mercado local, assim como parecer jurídico
conclusivo que opine inclusive sobre a adequação dos preços
unitários propostos pela entidade sele cionada. [g. n.]
Dessa forma, os atos praticados pelos responsáveis estão em desconformidade com o
dispositivo legal indicado, representando irregularidade.
Justificativas:
1 – Guerino Luiz Zanon:
Preliminarmente, a defesa argumenta que os incisos I a IV do artigo 26 da Lei 8.666/93 não
são cabíveis em todos os casos de dispensa e inexigibilidade.
Cita Marçal Justen Filho, para quem “as hipóteses de contratação direta são bastante
heterogêneas entre si. Isso impede estabelecer regras padrões, aplicáveis a t odos os
casos”. (grifos da defesa)
Conclui que a justificativa de preço (inciso III) não é cabível em contratação de artista
consagrado pela opinião pública, já que a própria razão pela qual se admite a contratação
direta é justamente por ser a única opção de interesse da Administração. E complementa:
“Nenhum sentido faria, diante de uma única opção, comparar o preço com o cobrado por

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outros artistas, pois não se compara talento artístico/musical! Repita-se: a contratação direta
é possível justamente porque se afasta a comparação de mercado.” (grifos da defesa).
2 – José Jair Reali:
O defendente informa que a Procuradoria Administrativa do Município e a Comissão
Permanente de Licitação analisaram a documentação apresentada e opinaram pela
inexigibilidade de licitação para a contratação dos artistas requerida pela Secretária
Municipal de Esporte e Lazer.
Informa, ainda, que a referida Comissão teceu considerações acerca dos requisitos
parametrizados pelo legislador para autorizar a inexigibilidade de licitação nesse tipo de
contratação, concluindo que havia a comprovação da consagração dos artistas pela crítica
especializada ou pela população e a contratação ocorria diretamente com os profissionais
ou por intermédio de empresário exclusivo.
E com relação à justificativa de preço, destaca que a Comissão atestou: “[...] em face de
que os preços praticados pelas bandas estarem em conformidade com os preços praticados
em outros eventos [...]”.
Considerando essa informação, o defendente conclui que restava demonstrada a
justificativa de preço e alega que, em uma busca simples nas publicações de órgãos oficiais
se comprova a afirmação da Comissão.
Para corroborar com a defesa, o responsável traz cópias de publicações, contratos e
informes da internet (fls. 4521 a 4531 dos autos TC), pretendendo comprovar que os valores
contratados eram condizentes com o preço praticado pelo mercado à época das
contratações.
Por fim, ressalta que a equipe de auditoria do Tribunal não apontou qualquer inexecução
contratual, tampouco prejuízo ao erário ou comprovou a ocorrência de sobrepreço nos
contratos analisados.
3 – Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva:
Os argumentos defensivos são os mesmos que constam da peça apresentada pelo senhor
José Jair Reali, o que torna aqui desnecessário transcrevê-los.
4 – Thiago Bruneli Pessoa:
O defendente alega que as justificativas de preços constam das atas de reuniões da
Comissão Permanente de Licitação, acostadas aos autos dos processos administrativos de
nºs 9.020/2012, 4.290/2012, 8.501/2012 e 10.997/2012.
Quanto aos processos nºs 14.717/2012 e 15.114/2012, o defendente não se manifesta, pois
não integrava a Comissão Permanente de Licitação, quando da instrução desses autos.
Informa que após parecer da Procuradoria Administrativa do Município, opinando pela
legalidade da contratação direta, sem licitação prévia, a Comissão Permanente de Licitação
teceu comentários acerca dos requisitos parametrizados pelo legislador para autorizar a
contratação de artistas por inexigibilidade de licitação e concluiu que, estava comprovada a
consagração pela crítica especializada ou pela população e ocorria a contratação direta com
os artistas ou com seus empresários exclusivos.
E com relação à justificativa de preço, destaca que a Comissão atestou: “[...] em face de
que os preços praticados pelas bandas estarem em conformidade com os preços praticados
em outros eventos [...]”.
Complementa afirmando que, os preços cobrados pelos artistas contratados estavam
compatíveis com os valores praticados em outros eventos de natureza análoga, conforme
se pode comprovar em busca simples nas publicações de órgãos oficiais.
Alega, ainda, que, em muitos outros casos, a contratação dos mesmos artistas já ocorreu
em valor superior àquele praticado junto ao Município de Linhares, não tendo havido
qualquer dolo por parte do ora defendente, tampouco qualquer prejuízo ao Erário Municipal,
justificando assim a alegada e infundada ausência de justificativa de preços.

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Finalizando, ressalta que nos documentos citados encontra-se devidamente justificado o


valor cobrado e pago pela Municipalidade.

5 – Paulo Roberto Vieira Caldellas:


O defendente também remete às atas da Comissão Permanente de Licitação, acostados
aos processos de inexigibilidade, para afirmar que nelas constam as justificativas de preço
e, quando necessário, as pesquisas de preços.
Análise:
A defesa alega que a Comissão Permanente de Licitação teria atestado em atas (que
integram os processos de inexigibilidade) a conformidade dos preços propostos pelos
artistas com os preços praticados em outros eventos.
E para comprovar que não houve sobrepreço, os responsáveis colacionam à peça de
defesa, extratos resumidos de contratações de artistas em diversos municípios (fls. 4521 a
4531 dos autos TC).
Analisando os documentos carreados pela auditoria (fls. 1077 a 1406) verifica-se que tal
atesto era apenas declarativo, uma vez que não constavam dos processos de
inexigibilidade a justificativa de preço, fundamentada em coleta de preços, comparação com
os preços praticados pelos artistas em contratações similares ou qualquer outra providência
quanto à pesquisa de mercado, que evidenciasse no momento da instauração do processo
que o valor a ser pago ao artista fosse de fato aquilo que recebe regularmente por evento.
Nesse sentido, já recomendou o Plenário do TCU nos termos do Acórdão 819/2005, que a
título de justificativa de preços a Administração deve demonstrar que o fornecedor cobra
preço igual ou similar em eventos de mesmo porte. Vejamos:
[...] quando contratar a realização de cursos, palestras, apresentações, shows,
espetáculos ou eventos similares, demonstre, a título de justificativa de preços,
que o fornecedor cobra igual ou similar preço de outros com quem contrata
para evento de mesmo porte, ou apresente as devidas justificativas, de forma a
atender ao inc. III do parágrafo único do art. 26 da Lei 8.666/1993; (Acórdão
819/2005 – Plenário – 22/6/2005 – Relator Min. Marcos Bemquerer).
Cabe destacar que os processos de inexigibilidade de licitação devem ser instruídos, dentre
outros elementos, com a justificativa de preços, conforme previsão expressa no artigo 26,
parágrafo único, inciso III, da Lei de Licitações e Contratos, in verbis:
Art. 26. As dispensas previstas nos §§ 2º e 4º do art. 17 e no inciso III e
seguintes do art. 24, as situações de inexigibilidade referidas no art. 25,
necessariamente justificadas, e o retardamento previsto no final do parágrafo
único do art. 8o desta Lei deverão ser comunicados, dentro de 3 (três) dias, à
autoridade superior, para ratificação e publicação na imprensa oficial, no prazo
de 5 (cinco) dias, como condição para a eficácia dos atos.
Parágrafo único. O processo de dispensa, de inexigibilidade ou de
retardamento, previsto neste artigo, será instruído, no que couber, com os
seguintes elementos:
[...].
III - justificativa do preço;
O comando legal acima citado não se trata de uma “recomendação” ou “bom conselho” ao
administrador público, pelo contrário, é norma cogente, de observância obrigatória, não
podendo ser esquecida, como no caso ora analisado. Trata-se, portanto, de um requisito
formal essencial à instrução do processo de inexigibilidade.
Dessa forma, a apresentação, em sede de defesa, dos extratos resumidos de contratações
de artistas em diversos municípios, embora não se possa precisar se são eventos do
mesmo porte, até comprovam a inexistência de sobrepreço, no entanto, não são suficientes
para convalidar o ato viciado.

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Vale destacar que, a convalidação somente é possível se a forma não for essencial à
validade do ato. Segundo a doutrina a forma é requisito vinculado e imprescindível que,
quando, previsto em lei, deverá ser obedecido.
Isto posto, opina-se pela manutenção da irregularidade , tendo em vista que a justificativa
de preços é um requisito obrigatório nos termos do artigo 26, parágrafo único, inciso III, da
Lei 8.666/93. Ressaltando, ainda, que no caso de contratações de profissionais do setor
artístico é plenamente cabível tal procedimento, conforme recomendações já feitas pelo
TCU.
Como responsáveis solidários, mantem-se:
 José Jair Reali (Secretário Municipal de Esporte e Lazer):
Como Secretário da pasta requerente da contratação entrou em contato com artistas
renomados e juntou aos autos, as propostas orçamentárias destes profissionais. Contudo,
não justificou os preços.
 Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva:
O Procurador Municipal, senhor Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva , emitiu parecer
favorável à contratação de profissionais do setor artístico por inexigibilidade de licitação, no
termos do artigo 25, III, da Lei 8.666/93. Contudo, deixou de alertar quanto à
obrigatoriedade da instrução dos processos com a justificativa de preços (artigo 26,
parágrafo único, inciso III), requisito formal essencial.
 Thiago Bruneli Pessoa:
Embora não fosse atribuição da Comissão Permanente de Licitação, presidida pelo senhor
Thiago Bruneli Pessoa, a instrução do processo de inexigibilidade com a justificativa de
preços, tampouco a manifestação jurídica quanto ao cumprimento desse requisito
procedimental, sua conduta foi relevante para a configuração da irregularidade, pelo fato de
ter atestado a conformidade dos preços praticados com os preços de mercado, apenas de
forma declarativa, uma vez que não constava dos autos pesquisa de preços ou qualquer
outro meio que evidenciasse no momento da instauração do processo que os valores a
pagar aos artistas fossem de fato aquilo que recebem regularmente por evento ou
compatível com o mercado.
Sugere-se o afastamento da responsabilidade dos seguintes agentes:
 Guerino Luiz Zanon:
Responsabilidade afastada na preliminar
 Paulo Robero Vieira Caldellas (Auditor Geral):
A conduta do senhor Paulo Roberto Vieira Caldellas, não foi relevante para a configuração
da irregularidade, uma vez que sua função era acompanhar a execução dos atos e apontar,
em caráter sugestivo, preventivo ou corretivamente, as ações a serem desempenhadas.
Além disso, destaca-se o caráter opinativo do Controle Interno, haja vista que o gestor pode
ou não atender à proposta que lhe seja indicada, sendo dele a responsabilidade e risco dos
atos praticados.
Nos autos dos procedimentos de inexigibilidade, o Auditor apenas se manifestou acerca do
trâmite processual.

3.1.4.2 Ausência de cláusulas contratuais obrigatórias e liquidação inadequada das


despesas. (subitem 5.1.4.2 do RAO)
Base legal: Art. 55, c/c o art. 3º da Lei 8.666/93; e art. 62, c/c o art. 63 da Lei 4.320/64.
Relatório de Auditoria:
Identificação dos responsáveis:
1- José Jair Reali – Secretário Municipal de Esportes e Lazer;

Assinado digitalmente. Conferência em www.tce.es.gov.br Identificador: 3CF75-757FF-494D7


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Conduta: Ratificou o Parecer Jurídico, homologou e autorizou a contrataç ão por


inexigibilidade de licitação e assinou o contrato.
Nexo: a conduta do Sr. Secretário de Esportes e Lazer produziu uma relação jurídica
despida de cláusulas impostas por lei, prejudicando assim a adequada liquidação das
despesas.
2- Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva – Procurador Administrativo do Município;
Conduta: Na qualidade de Consultor Jurídico do Município, exarou parecer favorável
à contratação por inexigibilidade de licitação, sem ter observado que a minuta não
continha cláusulas que são impostas legalmente.
Nexo: O Parecer Jurídico exarado foi crucial para que o Secretário de Esportes e
Lazer assinasse o contrato despido das cláusulas imprescindíveis.

Relato do indício de irregularidade:


Os Contratos 208/12, 333/12, 408/12, 417/12, 526/12 e 544/12 contêm cláusulas
incompatíveis com o rol taxativo do art. 55 da Lei 8.666/93.
Foi identificado que os Contratos contêm cláusulas prevendo pagamentos em datas
anteriores à data da execução da obrigação, repercutindo contrariedade ao
dispositivo legal acerca da condição essencial para que os pagamentos sejam
efetuados, art. 62 da Lei 4.320/64.
Os Contratos previam apresentações artísticas nos dias 13/7, 17/8, 18/8, 19/8, 20/8 e
21/8/12, porém, previam que os pagamentos ocorressem em datas anteriores
àquelas, sem a comprovação do cumprimento das obrigações por parte das
contratadas, o que prejudicou a liquidação da despesa e fragilizou os atos de
ordenações dos pagamentos.
Verificou-se também que não estão presentes nos contratos as cláusulas referentes
ao reconhecimento dos direitos da Administração em caso de rescisão administrativa,
prevista no art. 77 da Lei 8.666/93, conforme determina o inciso IX do art. 55 do
mesmo diploma legal. Tais cláusulas ausentes nos contratos estabeleceriam o
Princípio da Supremacia do Interesse Público em face dos direitos do particular.
Todavia, apesar das disposições contratuais em contrário às determinações do art. 55
da Lei 8.666/93, foi constatado que os objetos contratuais foram cumpridos, ainda
que em momento posterior aos pagamentos.
Por constituírem condição de validade dos contratos com a Administração, tais
cláusulas não podem ser ignoradas ou violadas, pois é princípio comezinho do Direito
Administrativo que ao Ordenador de Despesas cabe apenas fazer o que é permiti do
por lei, não sendo admissível qualquer inovação ou supressão.
Em razão disso, conclui-se que as liquidações das despesas ocorreram sem as
formalidades impostas pelo art. 63 da Lei 4.320/64, uma vez que os pagamentos
ocorreram antes do direito adquirido pelo credor.
As estipulações de efeitos financeiros anteriores ao cumprimento das obrigações
contrariam o princípio da legalidade, previsto no artigo 3º da Lei 8.666/93.
A jurisprudência proveniente do TCU até permite a antecipação de pagamentos, no
entanto, apenas como exceção e desde que condicionada à exigência de garantias
reais apresentadas pelo contratado (o que não aconteceu nos casos ora analisados):
Quanto ao pagamento antecipado [...]. Em determinadas situações ele
pode ser aceito. Mas esta não é a regra. Originariamente o pagamento
feito pela Administração é devido somente após o cumprimento da
obrigação pelo particular [...]. Julgo mais adequado condicionar a
possibilidade de pagamento adiantado à existência de interesse
público devidamente demonstrado, previsão no edital e exigência de
garantias. [g. n.]

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(Acórdão TCU 1.442/2003 – Plenário, rel. Min. Marcos Vilaça)


No caso em análise, o pagamento operou-se de forma antecipada, sem
que houvesse previsão no edital e nem mesmo no contrato, além do que
não haviam sido exigidas garantias reais. Reportou-se aos julgados
do TCU que consideram irregular o pagamento antecipado, o que enseja
a aplicação de multa aos responsáveis, ainda que não se concretize o
dano ao erário. [g. n.]
(Acórdão 1614/2013-Plenário, TC 015.127/2009-0, relator Ministro
Walton Alencar Rodrigues).
Dessa forma, a equipe concluiu que houve infringência aos dispositivos de lei ora
imputados.
Justificativas:
1 – José Jair Reali:
Preliminarmente, o defendente alega que o pagamento antecipado foi realizado, por ser
uma medida usual de mercado, requerida pelos próprios profissionais do setor artístico
contratados.
Destaca que tal medida não trouxe qualquer prejuízo ao erário, uma vez que visou apenas
garantir a contratação de artistas para uma data específica, que não poderiam ser
simplesmente substituídos por outros.
Quanto à ausência de cláusulas referentes ao reconhecimento dos direitos da
Administração em caso de rescisão administrativa, o defendente argumenta que a
Supremacia do Interesse Público em face dos direitos do particular, como princípio peculiar
do regime jurídico administrativo, é inerente aos contratos administrativos, não sendo
imprescindível sua previsão contratual expressa para sua aplicação.
Lembra que o Estado possui certos benefícios sobre o particular, denominado pela doutrina
de cláusulas exorbitantes, previstas nos contratos administrativos de forma explícita ou
implícita. E essas cláusulas constituem verdadeiros princípios de direito público,
evidenciadas no artigo 58 da Lei 8.666/93 sob a nomenclatura de “prerrogativas ”.
E completa: São esses princípios que forma a estrutura do regime jurídico de direito público,
aplicável aos contratos administrativos por força do artigo 54 da Lei 8.666/93, que existe
independentemente de previsão expressa no edital ou no contrato administrativo.
Afirma que a ausência das referidas cláusulas não trouxe prejuízo aos contratos, sendo
apenas uma irregularidade de forma, seja porque não houve descumprimento capaz de
ensejar a rescisão unilateral, seja porque a Supremacia do Interesse Público sobre o
particular estaria garantida por Lei, independentemente de previsão contratual expressa.
Por fim, ressalta que houve prejuízo ao erário, tampouco conduta dolosa do gestor, ou seja,
intenção de prejudicar os contratados ou o interesse público.
2 – Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva:

Os argumentos do defendente são os mesmos do senhor Jair José Reali.

Análise:
De forma didática, a análise segue em dois tópicos:
1 – Ausência de Cláusula Obrigatória:
Descumprimento ao artigo 55, IX, da Lei 8.666/93
A auditoria constatou que os Contratos 208/12, 333/12, 408/12, 417/12, 526/12 e 544/12
não continham a cláusula obrigatória relacionada ao reconhecimento dos direitos da
Administração Pública, em caso de rescisão administrativa (art. 55, IX, da Lei 8.666/93).
Dessa forma, segundo a equipe, os agentes responsáveis deixavam de observar o Princípio
da Supremacia do Interesse Público em face dos direitos do particular.

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Contudo é preciso ressalvar que nem todas as hipóteses dos diversos incisos do artigo 55
são obrigatórias.
27
Segundo a doutrina de Marçal Justen Filho (2000, p. 478, apud FURTADO, 2013) , são
realmente obrigatórias as hipóteses compreendidas nos incisos I, II, III, IV e VI. As demais
são dispensáveis (porque sua ausência não impede a incidência de princípios e regras
gerais) ou são facultativas, devendo ser previstas de acordo com a natureza e as
peculiaridades de cada contrato.
A hipótese do inciso IX, portanto, estaria entre as cláusulas dispensáveis , uma vez que sua
ausência não impede a incidência do princípio da Supremacia do Interesse Público.
Perfilhando esse entendimento, encontramos também SUNFELD (1995, p. 225, apud,
28
MENDES) , para quem disposições, como o inciso IX, do artigo 55, incidem na relação
contratual independentemente da vontade das partes. Vejamos:

Segundo a lei, são necessárias a todo contrato as cláusulas


que: a) reconheçam, em favor da Administração, os direitos e poderes que
a lei, no art. 80, lhe atribui em caso de rescisão (art. 55 - IX); b) vinculem o
contrato ao edital de licitação ou, na hipótese de contratação direta, ao ato que
a autorizou, bem como à proposta formulada pelo contratado (art. 55 -
XI); c) indiquem a legislação aplicável (art. 55 - XII) e imponham às partes sua
observância (art. 61 - caput); d) imponham ao contratado o dever de manter
durante a execução do contrato, em compatibilidade com as obrigações por ele
assumidas, todas as condições de habilitação e qualificação exigidas na
licitação (art. 55 - XIII); e) determinem como foro de eleição o da sede da
Administração, salvo o disposto no art. 32 - § 6º. (art. 55 - §
2º.); f) reconheçam, em favor da Administração, os poderes de modificação e
rescisão unilateral, fiscalização da execução, aplicação de sansões e
requisição provisória de bens, pessoal e serviços (art. 58). A ausência de
referência a essas disposições no instrumento de contrato é de total
irrelevância. Por serem normas de ordem pública, cuja necessária aplicação
deriva de imposição legislativa, incidem na relação independentemente da
vontade das partes, que é impotente para modificá-las ou afastá-las. Pela
mesma razão, é inválida, devendo ser considerada como não escrita, a
cláusula que as afaste”. (Grifamos.) (SUNDFELD, Carlos Ari. Licitação e
contrato administrativo. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 1995. p. 225.)
Assim, considerando o posicionamento doutrinário, opina-se pelo afastamento da
irregularidade.

2 – Liquidação Inadequada das Despesas:


Descumprimento ao artigo 62, c/c o artigo 63 da Lei 4.320/64.
A equipe de auditoria destaca que os contratos 208/12, 333/12, 408/12, 417/12, 526/12 e
544/12 definiram apresentações artísticas nos dias 13/7, 17/8, 18/8, 19/8, 20/8 e 21/8/12,
porém, previam que os pagamentos ocorressem em datas anteriores àquelas , sem a
comprovação do cumprimento das obrigações por parte das contratadas, o que prejudicou a
liquidação da despesa e fragilizou os atos de ordenações dos pagamentos.
Em razão disso, conclui que as liquidações das despesas ocorreram sem as formalidades
impostas pelo art. 63 da Lei 4.320/64, uma vez que os pagamentos ocorreram antes do
direito adquirido pelo credor.
Como regra, a Administração deve realizar o pagamento somente após o cumprimento da
obrigação pelo particular contratado. Todavia, o Tribunal de Contas da União, há muito

27
FURTADO, Lucas Rocha. Curso de licitações e contratos administrativos. 5 ed. rev. atual. e ampl. –
Belo Horizonte: Fórum, 2013.
28
MENDES, Renato G. (Coord.). Licitação Anotada.com – Contratação Pública. Zênite. Disponível em:
http://www.leianotada.com . Acesso em: 27 nov. 2017.

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tempo, reconhece a possibilidade de a Administração, de forma excepcionalíssima, realizar


pagamentos antes da efetiva execução do objeto contratado. (p. ex. Acórdãos 134/95, 59/99
e 751/2011, todos do Plenário).
29
No entanto, como bem destaca Marçal Justen Filho , “o pagamento antecipado não pode
representar benesse injustificada da Administração para os particulares ”.
E por essa razão, a jurisprudência do TCU consolidou-se no sentido de que o pagamento
antecipado não é vedado pelo ordenamento jurídico, contudo, é admitido apenas em
situações excepcionais. A possibilidade de pagamento adiantado deve ser condicionada à
existência de interesse público devidamente demonstrado, previsão no edital e exigência de
garantias. (Acórdão 3614/2013 – Plenário)
Por oportuno, transcreve-se trecho do voto do Min. Benjamin Zymler, relator do processo
009.852/2015-8, parte do Acórdão 4143/2016 - 1ª Câmara, no qual é reforçada essa
jurisprudência:

11. Devo ainda destacar a ilegalidade da previsão contratual de pagamento


antecipado. Consoante o Acórdão 1.341/2010-Plenário, relatado pelo Ministro
Marcos Bemquerer Costa, são três os requisitos exigidos para a realização dos
pagamentos antecipados: i) previsão no ato convocatório; ii) existência, no
processo licitatório, de estudo fundamentado comprovando a real necessidade
e economicidade da medida; e iii) estabelecimento de garantias específicas e
suficientes, que resguardem a Administração dos riscos inerentes à operação,
fato que não foi observado pela Prefeitura de Colniza/MT.
Compulsando os autos (fls. 1077 a 1406), especificamente as cópias dos contratos
firmados, verifica-se que havia previsão de pagamento antecipado, ou seja, antes da
apresentação dos artistas. Por outro lado, não foram estabelecidas garantias específicas e
suficientes, de forma a resguardar a Administração dos riscos inerentes a não realização
dos shows.
Dessa forma, com base na jurisprudência do TCU, opina-se pela manutenção da
irregularidade, sendo responsáveis os senhores:
 José Jair Reali (Secretário Municipal de Esporte e Lazer):
O senhor José Jair Reali, na qualidade de autoridade competente, assinou os contratos com
os artistas, prevendo pagamento antecipado, sem atentar para a necessidade de
estabelecer as devidas garantias à Administração.
 Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva (Procurador Municipal):
Depreende-se dos autos (fls. 1077 a 1406), que as Minutas dos Contratos, prevendo o
pagamento antecipado, foram submetidas pelo Assessor Especial de Gestão, senhor
Thiago Brunelli Pessoa, ao senhor Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva , Procurador
Municipal, que emitiu parecer favorável sem nenhuma ressalva quanto à ausência das
devidas garantias.

3.2 – Licitações e Contratos diversos


3.2.1 Processo Fundo Municipal de Saúde - FMS 16.946/2012
Pregão Presencial 105/2012
Objeto: fornecimento de combustível
Credor: Auto Posto Floresta
Contrato FMS 152/2012
Valor Global: R$440.356,00
A equipe de auditoria constatou que a PML realizou procedimento licitatório na modalidade
Pregão Presencial (PP 105/12) para a aquisição de combustíveis (130.000 litros de

29
JUSTEN Filho, Marçal. Comentários à Lei de Licitações e contratos administrativos. 16 ed. rev., atual.
e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2014, p. 937.

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gasolina, 30.000 litros de óleo diesel e 40 unidades de óleo 2 tempos SAE30).


As notas fiscais e os relatórios de abastecimento não identificam os motoristas, não são
assinados ou rubricados. Tais relatórios, produzidos pela empresa contratada, são os
únicos registros do que se pode chamar de controle, apesar de não comprovar a efetiva
prestação dos serviços.

3.2.1.1 Ausência de acompanhamento e fiscalização da execução contratual. (subitem


5.2.1.1 do RAO)
Base legal: artigo 67 da Lei 8.666/93 c/c artigo 9° da Lei 10.520/2002.
Relatório de Auditoria:
Identificação dos responsáveis:
1- Guerino Luiz Zanon- Prefeito Municipal
Conduta: Responsabilidade solidária prevista no art. 2º, § 4º, da Lei Municipal
2.576/2005.
Nexo: Por não fiscalizar e revisar os atos praticados dos servidores, decorrentes da
delegação de competência, contribuiu para ocorrência da irregularidade.

2- Sônia Maria Dalmolin de Souza - Secretária Municipal de Saúde


Conduta: Omissão quanto à exigência do acompanhamento por parte do servidor
designado para a fiscalização da execução contratual.
Nexo: Dificultar o procedimento de liquidação das despesas.

3- Maria de Fátima Fiorino Biancardi- Secretária Municipal de Saúde


Conduta: Omissão quanto à exigência do acompanhamento por parte do servidor
designado para a fiscalização da execução contratual.
Nexo: Dificultar o procedimento de liquidação das despesas.

Relato do indício de irregularidade:


A equipe de auditoria constatou que os pagamentos realizados à empresa Auto Posto
Floresta foram liquidados de maneira irregular, devido à ausência da fiscalização pela
Administração, acerca da efetiva prestação dos serviços.
Conforme se observa dos relatórios de abastecimentos gerados pela própria
empresa, agregados por veículo, constam apenas a informação da placa do veículo,
da quilometragem no momento do abastecimento e o cálculo do consumo
(considerando a quilometragem anotada e a quantidade de combustível).
Os motoristas responsáveis pelo veículo e abastecimento não estão identificados, da
mesma forma que não assinam ou rubricam individualmente o abastecimento
realizado.
Constata-se, ainda, a ausência do atesto pelo responsável pela fiscalização, na nota
fiscal emitida pela empresa contratada; dos relatórios de controle da PML com as
quilometragens e consumo indicados; e a ausência do controle da utilização dos
veículos (motivo do uso, itinerário, motorista). No verso de algumas notas fiscais nota-
se apenas a rubrica do servidor designado responsável pela fiscalização, porém, sem
comentários acerca da execução contratual.
Ou seja, no caso em tela, a equipe entende que a execução contratual sem o devido
acompanhamento e fiscalização pela Administração repercutiu em deficiência na
liquidação das despesas, por falta de elementos legalmente exigidos. Todavia, os
controles nos abastecimentos por parte da empresa demonstram que houve a
entrega do objeto contratado.
Diante do exposto, os responsáveis arrolados infringiram o dispositivo legal indicado.

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Justificativas:
1 – Guerino Luiz Zanon:
A defesa contesta a afirmação da auditoria de que os relatórios de abastecimento eram
produzidos pela própria empresa, esclarecendo que esses documentos eram gerados por
sistema eletrônico (Autosystem – Gestão e Automação de Postos de Combustíveis), exigido
previamente no Edital, justamente para fins de controle pelo Município.
Explica que os relatórios eram gerados após a fiscalização por um servidor responsável por
atuar junto ao contrato (no caso da Secretaria Municipal de Saúde, Sr. Marcos Oliveira e, no
caso das demais Secretarias, Sr. Everaldo Marcarini).
Também contesta a auditoria que afirmou: “dos relatórios de abastecimento gerados pela
própria empresa, agregados por veículo, constam apenas a informação da placa do veículo,
da quilometragem no momento do abastecimento e do cálculo de consumo (considerando a
quilometragem anotada e a quantidade de combustível)”. Para a defesa, esses eram
justamente os dados necessários para a fiscalização contratual.
2 – Sônia Maria Dalmolin de Souza (Secretária Municipal de Saúde – exercício de 2012)
Preliminarmente, a defendente alega que o acompanhamento e fiscalização foram
realizados durante toda a execução do contrato diretamente pelo Setor de Transporte da
Secretaria Municipal de Saúde da Prefeitura Municipal de Linhares, por meio do servidor
efetivo da Secretaria de Estado da Saúde, cedido ao Município, senhor Marcos Antônio de
Oliveira.
Esclarece que os motoristas abasteciam os veículos com apresentação de requisição no
posto de combustível, na qual constava dados acerca da data, quilometragem, quantidade
em litros e valor. E segue, in verbis:
O motorista então assinava uma nota emitida pelo posto que refletia os dados
descritos na requisição. Após certo período o Posto de combustível emitia nota
fiscal que era apresentada à Secretaria gestora do contrato, juntamente com
um relatório informando a data, placa do veículo, KM, o número da respectiva
requisição, quantidade de litros, valor por litro e o valor total de cada
abastecimento constante na nota fiscal.
Munido de tais documentos, o servidor do Setor de Transporte da Secretaria
Municipal de Saúde designado a função e responsável pelo controle de
abastecimento e fiscalização do referido Contrato FMS 152/2012 realizava a
conferência dos dados informados pela empresa na nota fiscal com a 2ª via do
bloco de requisições que ficava nos veículos e, verificada a conformidade,
encaminhava a Nota Fiscal juntamente com o relatório dos serviços prestados
ao Coordenador do Setor de Transportes – Sr. Leones Transpadini, que após
conferência dos dados apresentados, atestava a execução.
Afirma que, embora não tenha sido nomeado formalmente um servidor como gestor do
contrato, esse fato não resultou em ineficiência do acompanhamento e fiscalização do
contrato, tampouco prejuízo ao erário, uma vez que houve atuação direta de controle e
fiscalização por servidor responsável e pelo Coordenador do Setor de Transportes da
Secretaria Municipal de Saúde.
Destaca, ainda, que o contrato foi integralmente cumprido, sem qualquer prejuízo aos cofres
públicos ou intenção de macular o interesse público, havendo sequer um indício de
irregularidade na sua execução.

3 – Maria de Fátima Fiorino Biancardi (Secretária Municipal de Saúde – exercício de


2013):
A defendente informa que durante o período de execução do contrato sob sua
responsabilidade (janeiro a março de 2013), a fiscalização da execução do Contrato

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105/2012 ficou a cargo do servidor Wanderson V. Fazolo, Diretor de Transportes da


Secretaria Municipal de Saúde.
Informa, também, que no CD (acostado à peça contestatória – fls. 4707 dos autos TC)
consta cópia integral do processo administrativo 016.946/2012 (licitação e pagamento) e
registros de controle da execução contratual. E detalha como ocorria o processo de
fiscalização. In verbis:
1- o motorista condutor do veículo conforme escala pré-estabelecida
detectava a necessidade de abastecimento do veículo;
2- diante disto o Diretor de Transportes da SEMUS Senhor Wanderson V.
Fazolo emitida uma autorização de abastecimento onde constava o veículo, a
placa e a quilometragem do mesmo;
3- de posse desta autorização o motorista então se dirigia à empresa
contratada – Auto Posto Floresta Ltda. – e abastecia o veículo e assinava o
cupom fiscal, ao contrário do que afirma a equipe de auditoria;
4- quinzenalmente a empresa contratada encaminhava a nota fiscal do
valor correspondente ao período, citando na mesma todos os cupons f iscais
que deram origem àquele valor e os encaminhando ao Diretor de Transporte da
SEMUS, devidamente acompanhado de Relatórios Consolidados e
Individualizados de consumo por veículo, sendo que os Relatórios
Individualizados eram gerados por Sistema Informatizado de Controle,
conforme previsto no contrato 152/2012 – páginas 244/257 da pasta 01 do CD
anexo – em sua Cláusula Terceira que diz:
Cláusula Terceira do Contrato 152/2012 – Das Obrigações da
Contratada:
Item 3.2.6. Disponibilizar para a Secretaria Municipal de Saúde
controle de combustíveis para dar suporte ao controle gerencial
com os requisitos mínimos abaixo discriminados:
3.2.6.1 – Garantia de que todo o combustível foi realmente
abastecido no veículo indicado;
3.2.6.2 – Assegurar que não possam ser abastecidos veículos
que não estejam cadastrados previamente na frota do
município de Linhares;
3.2.6.3 – Assegurar que um veículo cadastrado só esteja
abastecido com o combustível para o qual está
autorizado.
5- recebido às notas fiscais e os relatórios já mencionados, o então Diretor de
Transportes efetuava a conferência entre esses e os cupons fiscais
devidamente assinados pelos motoristas. Verificado que as notas fiscais e os
relatórios demonstravam a realidade dos fatos, esse então assinava os citados
relatórios – página 21 em diante da pasta 02 do CD em anexo - e me
encaminhava;
6- recebido os relatórios e as notas fiscais, a ora recorrente então fazia a
conferência dos valores e suas compatibilidades com o contrato, efetuava
despacho indicando a conta bancária que deveria pagar a despesa e efetuava
a liquidação na forma do art. 63 da Lei 4.320/64, página 450 da pasta 02 do CD
em anexo, e encaminhava para o Setor de Contabilidade para então processar
a liquidação da despesa – página 451/455 da pasta 02 do CD em anexo – no
Sistema Informatizado de Contabilidade do Município, que após isso
encaminhava o processo para pagamento.
Dessa forma, contesta a auditoria do Tribunal, afirmando que não houve deficiência na
liquidação da despesa e muito menos ausência de acompanhamento e fi scalização da
execução contratual.

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Assevera, ainda, que todos os relatórios de abastecimento estão assinados pelo Senhor
Wanderson V. Fazolo, conforme consta do CD anexo, a partir da página 21 da pasta 02.
Por fim, argumenta que não pode prosperar a alegação da equipe de que não existe ateste
por parte do responsável pela fiscalização na nota fiscal emitida pela empresa, pois,
conforme demonstram os documentos constantes do CD anexo, os relatórios consolidados
e individualizados que acompanham cada nota fiscal estão devidamente assinados pelo Sr.
Wanderson.
Análise:
O Tribunal de Contas do Estado do Espírito Santo, reiteradamente tem determinado aos
gestores públicos a adoção de um controle efetivo dos gastos com combustíveis, que
contenha: quantidade de combustível adquirido em cada abastecimento, gasto com
combustível por veículo, quilometragem de saída e chegada do veículo, requisições para
uso do veículo, dados do veículo abastecido, datas de abastecimento, identificação do
condutor, percurso realizado e a finalidade do trajeto. Nesse sentido, destacam-se os
seguintes Acórdãos (1067/2017 – 2ª Câmara; 664/2014 – 1ª Câmara; e 219/2014 –
Plenário).
Analisando os documentos carreados aos autos pela equipe de auditoria (fls. 1469 a 1811)
e pela defesa (CD anexo às fls. 4707) verifica-se que não havia na Prefeitura de Linhares,
controle contendo as seguintes informações: identificação do condutor, percurso realizado e
finalidade do trajeto. Contudo, não é correto afirmar que o acompanhamento e a fiscalização
da execução contratual não ocorriam ou que não eram efetivos, uma vez que havia um
controle implantado contendo grande parte das informações basilares requeridas para um
controle completo de combustível, na forma já delineada por este Tribunal de Contas.
Extraem-se dos documentos, notas fiscais atestadas pelo Diretor de Transportes da
Secretaria; relatórios de abastecimento assinados pelo Diretor, informando placa e modelo
do veículo, tipo de combustível, valor por litro, quantidade de litros, valor total pago; e
relatórios do Sistema Eletrônico de Controle, que evidenciam o consumo de combustíveis
por veículo, variação de quilometragem, quilometragem percorrida, média de quilometragem
por litro, preço por quilometro, quantitativo de litros adquiridos e valor total pago.

Ademais, a própria equipe de auditoria não traz evidências de gasto excessivo de


combustível ou abastecimento de veículos não pertencentes à frota do Município de
Linhares, consequências imediatas de um controle inadequado do gasto.
Assim sendo, opina-se pelo acolhimento dos argumentos da defesa, sugerindo o
afastamento da irregularidade e, por oportuno, que seja determinado à atual gestão do
Município de Linhares que designe formalmente um servidor para acompanhar a execução
dos contratos de fornecimento de combustíveis, com o propósito de dar pleno cumprimento
ao artigo 67 da Lei 8.666/93.

3.2.2 Processo 16.692/2012


Pregão Presencial 22/2012 para registro de preços
Objeto: Aquisição de material esportivo (camisas, calções e meias)
Credores: Malharia Cristimara e Luma Confecções.
Valor: R$268.920,00
A equipe de auditoria constatou que a PML realizou licitação na modalidade pregão
presencial para registrar preços visando a aquisição de até 4.000 conjuntos (“jogos”) de
vestimentas esportivas (camisa, calções e meiões) para times de futebol.

3.2.2.1 Liquidação e pagamento irregular da despesa. (subitem 5.2.2.1 do RAO)


Base legal: Artigos 62 e 63 da Lei 4.320/64.
Relatório de Auditoria:

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Identificação dos responsáveis:

1- Guerino Luiz Zanon, Prefeito Municipal e ordenador de despesas


Conduta: Autorizar pagamentos sem a devida comprovação de entrega dos materiais
adquiridos.
Nexo: Possibilitar pagamentos sem a devida comprovação de entrega dos materiais
adquiridos e o consequente dano ao erário.
2- José Jair Reali, Secretário de Esportes e Lazer
Conduta: Liquidar despesas sem a devida comprovação de entrega dos materiais
adquiridos.
Nexo: Possibilitar pagamentos sem a devida comprovação de entrega dos materiais
adquiridos e o consequente dano ao erário.
3- Cristmara Confecções, empresa
Conduta: Receber pagamentos sem a devida comprovação de entrega dos materiais
adquiridos.
Nexo: Possibilitar pagamentos sem a devida comprovação de entrega dos materiais
adquiridos e o consequente dano ao erário.
4- Luma Confecções, empresa
Conduta: Receber pagamentos sem a devida comprovação de entrega dos materiais
adquiridos.
Nexo: Possibilitar pagamentos sem a devida comprovação de entrega dos materiais
adquiridos e o consequente dano ao erário.

Relato do indício de irregularidade:


A equipe de auditoria constatou a ausência de comprovação da efetiva entrega dos
materiais adquiridos pela prefeitura de Linhares por meio do Pregão Presencial 22/12.
Teriam sido adquiridos 3.450 camisas e 3.450 calções da Malharia Cristimara e 2.400 meias
da Luma Confecções (conforme Ofício 868/2012/Semel, Anexo 5).
Em relação aos pagamentos à Malharia Cristimara (Tabela 7), a equipe apurou que foram
realizados tendo por base apenas as notas fiscais da empresa (nenhuma delas foi atestada
por servidor), sem relatórios de fiscalização e acompanhamento (“Cláusula Segunda - das
obrigações da contratante”, item 2.1, letra c da Minuta do Contrato), sem os relatórios de
“recebimento prévio” (conforme Cláusula 5.3 do Edital) e, ainda, sem registros no sistema
do almoxarifado da prefeitura.
Tabela 7: pagamentos à Malharia Cristimara, 2012 – DOC. 07-B
Nota Fiscal Qtdade NE OP Valor (R$)
Data (camisas e calções)
1.261 1.800 1197 5.084 99.000,00
02/04/12 1.800
1.452 1.200 2112 6.889 66.000,00
15/06/12 1.200
1.712 450 3367 14.186 24.750,00
17/10/12 450
3.450
Total 3.450 189.750,00

A equipe de auditoria não encontrou os registros de entrada de saída do material adquirido


(no total, 9.300 unidades de material esportivo), a identificação (nome, endereço) dos
beneficiados e as situações ou condições individuais que os tornaram aptos a receber
material adquirido com dinheiro público.
Em Ofício 868/2012/Semel (Anexo 5) enviado à equipe de auditoria, a prefeitura de
Linhares informou que:

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(...) constatou nos processos (...) que foram adquiridas 3.450 (...) unidades de
camisas, 3.450 (...) unidades de calções e 2.400 (...) unidades de meiões, sendo
que a atual administração ao assumir em 02 de janeiro de 2013 não encontrou
nenhum arquivo (de qualquer assunto) nos computadores da Secretaria tão
pouco qualquer tipo de documento que pudesse orientar a atual administração
referente ao que foi realizado anteriormente e a destinação final dos itens citados
acima nem de qualquer outro assunto, conforme fotos em anexo, ao contrário
achamos documentos destruídos.
Concluímos que com essas quantidades se considerarmos que uma equipe de
futebol composta por 18 atletas teríamos 191,6 equipes contempladas com camisas
e calções e 133,3 com meiões.
Se considerarmos equipes escolares com até 10 atletas teríamos 345 equipes
contempladas com camisas e calções e 240 com meiões, mas a atual administração
não conseguiu identificar qualquer documento que comprovasse a destinação
dessa quantidade de material esportivo.
[g.n.]
Em relação ao pagamento efetuado em favor da empresa Luma Confecções, a equipe de
auditoria não encontrou, no processo de pagamento, notas ou documentos fiscais
referentes aos materiais supostamente adquiridos.
Como a prefeitura informou (Ofício 868/2012/Semel) a aquisição de 240 meiões, ao preço
unitário de R$12,23 (total de R$29.352,00), a equipe identificou os pagamentos no sistema
Sisaud (Tabela 8):
Tabela 8: pagamentos à Luma Confecções, 2012 – DOC. 07-C
NE OP Valor (R$)
1.200/12 4004/12 22.014,00
2.110/12 6952/12 7.338,00
Total 29.352,00
A equipe de auditoria solicitou à PML os registros do almoxarifado referentes à
movimentação das mercadorias adquiridas, assim como a identificação dos beneficiados.
Em resposta, a PML informou (Anexo 5) não existir qualquer registro de entrada e saída das
referidas mercadorias e a identificação dos supostos beneficiados.
Não existe, portanto, no processo analisado e nos registros da prefeitura, qualquer
indicação ou informação acerca dos produtos adquiridos.
E não se trata de objeto de pequenas dimensões ou em pequenas quantidades, mas 9.300
peças de roupas (entre meiões, calções e camisas), o que exigiria amplo espaço para
armazenamento.
Por outro lado, a distribuição de tal quantidade de material também deveria necessitar de
recursos logísticos consideráveis – veículos de carga, pessoal para carregar e descarregar
e talvez até aparato de segurança para evitar tanto a possibilidade de desvios de material
quanto para organizar o evento em que ocorreria a entrega aos cidadãos beneficiados (pelo
menos 3.450 pessoas).
Todos os cuidados, no caso, deveriam ser redobrados, considerando que no ano de 2012
houve eleição em nível municipal e a aquisição de tal quantidade de material esportivo
poderia ser confundida com a campanha eleitoral.
Entretanto, não há uma só informação objetiva que possibilite a comprovação de que tais
materiais foram efetivamente entregues.
A equipe entende, portanto, que os valores pagos às empresas Cristmara Confecções e
Luma Confecções, são passíveis de ressarcimento.
Valor passível de ressarcimento: R$219.102,00 (96.995,00 VRTE), conforme Tabela 9,
sendo os responsáveis solidários:

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 Guerino Luiz Zanon, José Jair Reali e Malharia Cristimara: R$189.750,00 (84.001,06
VRTE)
 Guerino Luiz Zanon, José Jair Reali e Luma Confecções: R$29.352,00 (12.993,94
VRTE)
Tabela 9: Prefeitura de Linhares, aquisição de material esportivo
Autorização
Preço Nota Valor total Valor total
Processo de Produto Qtdade NE OP Liquidado por
unitário Fiscal R$ VRTE
fornecimento
camisa 450 32,04 14.418,00 6.382,75
16511/12 871/12 3367/12 14186/12 1.712 José Jair Reali
calção 450 22,96 10.332,00 4.573,91
camisa 1.800 32,04 57.672,00 25.531,01
4932/12 316/12 1197/12 5084/12 1.261 José Jair Reali
calção 1.800 22,96 41.328,00 18.295,63
camisa 1.200 32,04 38.448,00 17.020,67
10312/12 480/12 2112/12 6889/12 1.452 José Jair Reali
calção 1.200 22,96 27.552,00 12.197,09
camisa 3.450 110.538,00 48.934,44
Cristmara Confecções
calção 3.450 79.212,00 35.066,63
10313/12 481/12 meiões 600 12,23 2110/12 6952/12 163 José Jair Reali 7.338,00 3.248,48
4933/12 315/2012 meiões 1.800 12,23 1200/12 4004/12 157 José Jair Reali 22.014,00 9.745,45
Luma Confecções meiões 2.400 29.352,00 12.993,94
-
Total Cristmara Confecções 189.750,00 84.001,06
Total Luma Confecções 29.352,00 12.993,94
Total Geral 219.102,00 96.995,00

Justificativas:
1 – Guerino Luiz Zanon:
Preliminarmente, a defesa afirma que o fornecedor Luma Confecções emitiu as Notas
Fiscais 157 (2/4/2012) e 163 (19/6/2012), que foram devidamente confrontadas e conferidas
com os materiais entregues.

Quanto a não comprovação efetiva da entrega, a defesa destaca que por se tratar de
registro de preços, em que os materiais eram adquiridos à medida que havia demanda, os
produtos entregues foram distribuídos assim que recebidos, não ingressando no
almoxarifado.
Alega que, por esse motivo, a Ata de Registro de Preços previa que os materiais soli citados
deveriam ser entregues na Secretaria de Esporte e Lazer e não no Almoxarifado da
Prefeitura, que os redistribuiria às entidades e escolas municipais para participação em
torneios e campeonatos.
Para comprovar a inexistência de qualquer irregularidade, traz anexos à peça contestatória,
documentos que atestam recebimento dos materiais, subscritos pelos responsáveis pelas
escolas e entidades que receberam os uniformes esportivos (fls. 6529 a 6654 dos autos
TC), bem com relatório fotográfico das diversas equipes beneficiadas utilizando o material
nos torneios de que participaram (fls. 6630 a 6654 dos autos TC).
2 José Jair Reali:

O defendente anexa à peça contestatória, recibos de entrega de todos os materiais


esportivos adquiridos, com os respectivos destinatários (fls. 4532 a 4633 dos autos TC),
bem como fotos tiradas por ocasião da entrega (fls. 4634 a 4656 dos autos TC).
Anexa também, cópias das notas fiscais que comprovam a entrega dos materiais fornecidos
pela empresa Luma Confecções (fls. 4657 e 4658 dos autos TC).

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Quanto à questão da logística da distribuição do material, o defendente alega que a entrega


não se deu de uma única vez, sendo suficiente a utilização da estrutura existente na própria
Secretaria Municipal de Esporte e Lazer.

3 – Cristmara Confecções (empresa contratada):

A defesa lembra que, conforme previa a Ata de Registro de Preços Nº 01/2012, os materiais
seriam entregues na Secretaria de Esporte e Lazer, de acordo com a necessidade e a
solicitação dessa unidade administrativa.
Afirma que, a entrega do material esportivo foi efetuada de forma parcelada, a primeira
remessa em abril, a segunda em junho e a terceira, outubro, não sendo tudo de uma única
vez como alegou a equipe de auditoria.
Esclarece que, os itens 01 e 02 da referida Ata eram compostos por 4.000 peças para cada
item, sendo requisitada pela Secretaria Municipal, no período de vigência da Ata, a
quantidade de 3.450 (1.800 + 1.200 + 450), remanescendo 500 peças.
Identifica as Notas Fiscais Eletrônicas emitidas (NFe) e os s ervidores do Município, que
teriam sido responsáveis pelo recebimento dos materiais:

 A primeira remessa solicitada pela Secretaria seguiu com a NFe nº 001.261 – série
1, emitida em 2/4/2012, que correspondia a 1.800 camisas e 1.800 calções, sendo
recebida pelos servidores, Srª Paloma Sousa e Srº Aguinaldo Bernardo, Chefe de
Divisão de Lazer;
 A segunda remessa foi entregue conforme NFe nº 001.452– série 1, emitida em
15/6/2012, correspondente a 1.200 camisas e 1.200 calções, sendo recebido pela
servidora, Srª Aline Cutine, em 20/6/2012;
 A terceira remessa foi entregue conforme a NFe nº 001.712 – série 1, de
17/10/2012, sendo requisitada a quantidade de 450 camisas e 450 calções,
recebida pelo próprio Secretário, em 18/10/2012.

Esclarece que, as 1.800 camisas e 1800 calções, conforme relatório de fabricação, foram
distribuídas para 5 categorias (3 do futebol infantil, 1 do veterano e 1 da primeira divisão),
assim, descritas (trecho digitalizado da peça de defesa):

Esclarece que, as 1.200 camisas e 1.200 calções beneficiaram 3 divisões e escolas


municipais para as modalidades de futsal, voleibol, handebol, basquetebol (trecho
digitalizado da peça de defesa):

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Por fim, detalha a distribuição das 450 camisas e 450 calções, que beneficiou escolas
municipais, equipes municipais e projetos (trecho digitalizado da peça de defesa):

Com base nesses esclarecimentos, a defesa assevera que, o material foi entregue dentro
das especificações estabelecidas no edital e na forma que foi solicitada pela Secretaria
Municipal de Esporte e Lazer, de acordo com relatórios de fabricação (acostados aos autos
TC, fls. 4155 a 4164).
Argumenta ainda que, os canhotos picotados das notas fiscais, assinados por servidores da
Secretaria, representam para o fornecedor a prova de entrega das mercadorias contratadas.
E complementa:
‘A Nota fiscal é o documento hábil que deverá acompanhar o transporte de
mercadorias, emitida por contribuinte sempre que este promova a saída, ou a
transmissão da propriedade destas, quando não devam transitar pelo
estabelecimento transmitente.

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A Nota Fiscal, além das indicações necessárias, também deverá conter o


“canhoto”, em sua parte inferior, que será destacado ao entregar a mercadoria
descrita no documento fiscal.
O canhoto integra a Nota Fiscal, modelo 1 ou 1-A. Tendo por finalidade
documentar a efetiva transmissão de propriedade do bem enviado pelo
remetente ao destinatário, ele estará documentando o ato da entrega efetiva da
mercadoria.’
Para corroborar com as alegações feitas, a defesa junta cópia das notas fiscais referentes à
entrega dos materiais esportivos contratados com a empresa Malharia Cristmara Ltda.,
acompanhada dos respectivos canhotos assinados por servidores da Prefeitura Municipal
de Linhares (acostadas aos autos TC às fls. 4148 a 4154).
Alega que, o setor de almoxarifado não participou do fluxo de entrega e recebimento, uma
vez que o Edital e a Ata de Registro de Preços definiram que, os materiais esportivos
seriam entregues de forma parcelada na própria Secretaria Municipal de Esporte e Lazer.
Por fim, esclarece que, como os uniformes eram direcionados para cada evento,
respeitando as categorias, modalidades esportivas, projetos e escolas municipais, não havia
necessidade de armazenamento e muito menos um aparato logístico para entrega.
4 – Luma Confecções (empresa contratada):

A defesa informa que, a empesa Luma Confecções assinou a Ata de Registro de Preços nº
01/2012 com o Município de Linhares, em 16 de fevereiro de 2012, para fornecer de forma
parcelada e à medida que fosse solicitada, o material esportivo (meiões).
Afirma que, a entrega do material foi efetuada de forma parcelada, a primeira remessa em
abril, a segunda em junho, não sendo tudo de uma única vez como alegou a equipe de
auditoria.
Esclarece que, o item 03 da referida Ata era composto por 4.000 peças, sendo requisitado
pela Secretaria Municipal, no período de vigência da Ata, a quantidade de 2.400 (1.800 +
600), remanescendo 1.600 peças.
Identifica as Notas Fiscais Eletrônicas emitidas (NFe) e os servidores do Município, que
teriam sido responsáveis pelo recebimento dos materiais:
 NFe 000.157 – série 1, emitida em 2/4/2012, correspondente a entrega de 1.800
meiões, sendo atestada pelo Secretário Municipal de Esporte e Lazer, Sr. José Jair
Reali, em 3/4/2012;
 NFe 000.163 – série 1, emitida em 19/6/2012, correspondente a entrega de 600
meiões, sendo atestada pelo Secretário Municipal de Esporte e Lazer, Sr. José Jair
Reali, em 19/6/2012.

Esclarece que, as peças entregues pela empresa Luma Confecções serviram para
complementar os conjuntos de uniformes fornecidos pela Malharia Cristmara, conforme
relatórios de fabricação (acostados aos TC às fls. 4208 e 4209).
Assim detalha a distribuição do material (trechos digitalizados da peça de defesa):

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Com base nesses esclarecimentos, assevera que, o material foi entregue dentro das
especificações estabelecidas no edital e na forma que foi solicitada pela Secretaria
Municipal de Esporte e Lazer.

Quanto à inexistência de registros de entradas e saídas dos referidos materiais no


Almoxarifado, destaca que, a cláusula oitava da Ata de Registro de Preços 01/2012 definia
o prazo, a forma e local de entrega dos produtos:
8.1 Os materiais serão entregues de forma parcelada, de acordo com a
necessidade e a solicitação da secretaria, nas datas, horários e locais
indicados pela mesma, a partir do recebimento da ordem de fornecimento.
8.2 Os materiais serão entregues na Secretaria de Esporte e Lazer, situada na
Avenida Comendador Rafael, nº 1679, Centro, Linhares -ES. CEP 29.900-050,
telefone de contato: (27) 3372-2128, em dias úteis no horário de 08h às 16h.
Conclui, assim, que, o setor de almoxarifado não participou do fluxo de entrega e
recebimento, uma vez que o material era direcionado para cada evento, respeitando as
categorias, modalidades esportivas, projetos e escolas municipais. Não havia, portanto,
necessidade de armazenamento e muito menos um aparato logístico para entrega.
Análise:
A presente irregularidade trata da incorreta liquidação e pagamento de despesas, em
descumprimento aos preceitos estabelecidos nos artigos 62 e 63 da Lei Federal 4.320/64,
principalmente pela ausência de relatórios de fiscalização e acompanhamento, relatórios de
recebimento prévio e, ainda, registros de entrada e saída do almoxarifado da prefeitura,
bem como a identificação (nome e endereço) dos beneficiados.
Sobre os dispositivos legais, é importante destacar que o art. 63 da Lei n° 4320/64
estabelece a liquidação da despesa com base em documentos comprobatórios do crédito e

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o objetivo de verificar a origem e o objeto do que se deve pagar, além da importância exata.
Portanto, a fase de liquidação deve comportar a verificação in loco do cumprimento da
obrigação por parte do contratante.
A formalização das exigências contidas nos parágrafos do art. 63 deve ser feita de forma
que fique clarividente a verificação e a identificação do documento no qual o agente público
se embasou para efetivar a liquidação.
Dentre as formas existentes para cumprir tais aspectos, pode-se citar: laudos de medição,
atestado de conformidade, exame de procedência do material, confrontação do descrito na
nota de empenho com o material entregue e a especificação na nota fiscal de compra,
confrontação do descrito na nota de empenho com o serviço prestado e a especificação na
30
nota fiscal de serviço, dentre outros .
Entende-se ainda, a luz do princípio da razoabilidade, que a referida comprovação
poderia ser realizada por meio de outros documentos, ainda que não aqueles
formalmente impostos pela Lei Federal n° 4.320/64, desde que suficientes para
demonstrar a execução contratual.
Compulsando os autos (fls.1990 a 2056), constata-se total ausência de documentação
capaz de atestar a efetiva entrega dos materiais contratados com as empresas Malharia
Cristmara e Luma Confecções. Constam apenas notas de empenho, notas de pagamento e
notas fiscais desprovidas de atestos dos responsáveis pela Secretaria de Esporte e Lazer
do Município de Linhares, unidade administrativa contratante.
Nesse contexto, a equipe de auditoria entendeu que, em virtude do indicativo de liquidação
irregular de despesa e pagamentos, face à ausência da comprovação da entrega do
material contratado, deveriam os responsáveis legais promover o ressarcimento ao erário
do valor integralmente pago, sendo os contratados corresponsáveis pelo suposto dano
experimentado pelos cofres públicos.
Em sede defesa, os gestores públicos colacionam documentos que identificam as entidades
beneficiadas, bem como relatório fotográfico contendo registros de entrega e utilização do
material esportivo distribuído.
As sociedades empresárias citadas juntam à peça contestatória cópias das notas fiscais
emitidas com os respectivos canhotos, nos quais constam assinaturas e identificação dos
servidores municipais responsáveis pelo recebimento do material.
Ainda que a defesa não houvesse se manifestado, observa-se que não seria de bom alvitre
imputar o dever de ressarcimento integral dos valores pagos baseados no fato de que a
comprovação da entrega do material licitado teria se dado, unicamente, com base nas notas
fiscais emitidas pelas contratadas, sem constar os respectivos atestes da Secretaria
Municipal de Esporte e Lazer, relatórios de recebimento prévio e, ainda, sem registros no
sistema do almoxarifado da prefeitura, conforme assentado pela equipe de auditoria.
Isso porque, em processos de auditoria, o ônus de comprovar a ocorrência da ilegalidade
incumbe aos auditores, de forma que, diante das inconsistências verificadas nos processos
de pagamento, a equipe desta Corte de Contas poderia, por exemplo, ter ut ilizado a técnica
de auditoria da “indagação por escrito” com os partícipes das entidades beneficiadas, a fim
de comprovarem efetivamente o não cumprimento do objeto do Pregão Presencial 22/2012.
O Tribunal de Contas da União possui entendimento nesse sent ido, conforme excerto
extraído do voto do Ministro Relator Vital do Rêgo, proferido nos autos do Processo
030.778/2012-3:
Lembro que, na linha da jurisprudência deste Tribunal, em processos de
auditoria, o ônus da prova sobre falhas na execução do objeto cabe ao
TCU. Quaisquer ocorrências consideradas ilegais devem estar acompanhadas
de fundamentação que permita a identificação do dano, da ilegalidade e do
responsável por sua autoria ou, ao menos, da entidade ou empresa que tenha
contribuído para a prática do ato inquinado.(Acórdão 721/2016 Plenário.

30
CRUZ, Flávio... [et al]. Comentário à lei n° 4.320. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2006.

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Relator: Ministro Vital do Rêgo. Data da sessão de julgamento: 30/03/2016)


[g.n.]
Assim, considerando que a equipe de auditoria não trouxe evidências para sustentar sua
conclusão e baseando-se na jurisprudência acima transcrita, opina-se pelo afastamento da
imputação de ressarcimento ao erário, sob pena de enriquecimento ilícito por parte da
Administração Pública, mantendo, contudo a irregularidade relativa à infringência aos
artigos 62 e 63 da Lei Federal 4.320/64, sendo responsável o senhor José Jair Reali,
ordenador de despesa da Secretaria Municipal de Esporte e Lazer, responsável pela
liquidação e pagamento das despesas sem documentos, acostados aos respectivos
processos de pagamento, como o relatório de recebimento do material e atestes do fiscal do
contrato.
3.2.2.2 Sobrepreço e superfaturamento na aquisição de material esportivo. (subitem
5.2.2.2 do RAO)
Base legal: Artigo 3º da Lei 8.666/93 c/c artigo 9º da Lei 10.520/2002 e artigo 37 da
Constituição Federal.

Relatório de Auditoria:
Identificação dos responsáveis:
Guerino Luiz Zanon, Prefeito Municipal e ordenador de despesas
Conduta: Adquirir material esportivo (camisas, calções e meiões) com sobrepreço e
superfaturamento decorrente de preços excessivos face aos de mercado, em afronta ao
princípio da economicidade e ao art. artigo 43, inciso IV da Lei 8.666/93.
Nexo: O pagamento de despesas superfaturadas causou prejuíz o de R$76.752,00 ao
Erário.

Relato do indício de irregularidade:


A equipe de auditoria constatou que a prefeitura de Linhares adquiriu material esportivo
(camisas, calções e meiões) mediante Pregão Presencial 22/12 com sobrepreço e
pagamentos superfaturados, resultando em pagamento a maior da ordem de
R$76.752,00,correspondente a 53,9%, quando comparados com os preços de mercado
(vide Tabela 10, Tabela 11 e Tabela 12).
Conforme se observa às fls. 07 a 10 do Processo 16.692/11, a prefeitura de Linhares
anexou pesquisa de preços realizada (entre 26/10/11 a 07/12/11) por Thiago Brunelli
Pessoa (Assessor Especial de Gestão do Departamento de Compras, Licitação e Contratos)
para a aquisição de material esportivo, conforme Tabela 10.

Tabela 10: prefeitura de Linhares, pesquisa de preços de material esportivo


anexada ao Processo 16.692/11, Pregão Presencial 022/12

Material Aerton Jorge Zenibon Gol Sports Ind. Luciano de Souza Rosimeire da
Lote
(futebol) ME Confecções Rocha ME Vitória
Preço unit. Total Preço Total Preço Total Preço Total
Camisas Dry
1 35,90 143.600,00 32,00 128.000,00 32,90 131.600,00 39,00 156.000,00
Fit sem recorte
Calções Dry fit
1 25,90 103.600,00 25,00 100.000,00 23,90 95.600,00 23,90 95.600,00
sem recorte
2 Meia (“meião”) 16,20 64.800,00 15,00 60.000,00 14,90 59.600,00 10,00 40.000,00
Total 312.000,00 288.000,00 286.800,00 291.600,00

A equipe de auditoria realizou pesquisa de preços (Tabela 11, empresas Paulus Esportes e
com a própria vencedora do certame, Malharia Cristimara) dos produtos adquiridos, no
mercado de Linhares (em 15/10/13, quase dois anos depois) e constatou que os preços

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orçados previamente pela prefeitura eram superiores em 67,3% aos praticados no mercado
– as camisas foram cotadas com sobrepreço de 74,7%, os calções com sobrepreço de
64,5% e as meias (meiões) foram contados com sobrepreço de 55,8%.

Tabela 11: cotação de preços de material esportivo (camisas, calções e meiões)


realizada pela equipe de auditoria em 15/10/13, e comparação com os preços
vencedores do Pregão Presencial 022/12, Linhares

Material
Lote Paulus Esportes Cristmara Malharia Preços vencedores
(futebol)
Preço unit. Total Preço Total Preço Total
Camisas Dry
1 20,00 80.000,00 22,00 88.000,00 32,04 128.160,00
Fit sem recorte
Calções Dry fit
1 15,00 60.000,00 15,00 60.000,00 22,96 91.840,00
sem recorte
2 Meia (“meião”) 9,00 36.000,00 10,00 40.000,00 12,23 48.920,00
Total 176.000,00 188.000,00 268.920,00

Apesar de evidente disparidade dos preços orçados frente aos preços de mercado, a
prefeitura de Linhares processou e julgou o certame (em 10/02/12), tendo contratado as
empresa Malharia Cristimara (vencedora do lote 1 – camisas, R$32,04 e calções, R$22,96)
e Luma Confecções (vencedora do lote 2 – meiões, R$12,23).
Da estimativa inicial de aquisição de 4.000 unidades de cada um dos produtos licitados, a
prefeitura adquiriu e pagou 3.450 camisas e calções (Malharia Cristimara, no valor total de
R$189.750,00) e 2.400 meias (Confecções Luma, no valor de R$29.352,00), resultando no
superfaturamento de R$76.752,00 (conforme Tabela 9 e Tabela 12).

Tabela 12: superfaturamento constatado no pagamento de material esportivo


pela prefeitura de Linhares, Pregão Presencial 022/12

Produtos adquiridos e Menor preço


preço contratado/pago cotado pela equipe Sobrepreço Sobrepreço
(2011) (2013)
Preço Total Preço Total
Lote Material (R$) %
Qtdade (R$) (R$) (R$) (R$)
Camisas Dry
1 3.450 32,04 110.538,00 20,00 69.000,00 41.538,00 60,2
Fit sem recorte
Calções Dry fit
1 3.450 22,96 79.212,00 15,00 51.750,00 27.462,00 53,1
sem recorte
2 Meia (“meião”) 2.400 12,23 29.352,00 9,00 21.600,00 7.752,00 35,9
Total 219.102,00 142.350,00 76.752,00 53,9

Em razão dos fatos apurados, a equipe entende que os valores superfaturados são
passíveis de glosa e ressarcimento.
Ressarcimento: R$76.752,00 (33.977,60 VRTEs).
Para evitar a cobrança bis in idem, considerar que os valores aqui apontados em débito
estão incluídos no ressarcimento indicado no item 5.2.2.1, supra.
Justificativas:

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A defesa contesta a pesquisa de preços efetuada pela auditoria, que apontou sobrepreço e
consequentemente superfaturamento na aquisição de material esportivo efetuada mediante
a Ata de Registro de Preços 01/2012, oriunda do Pregão Presencial 22/2012.
Primeiro, alega que quando o Município de Linhares contratou as empresas, Malharia
Cristmara e Luma Confecções, não havia nenhuma evidente disparidade de preços.
Assim, argumenta que jamais se poderia atribuir ao Município, muito menos ao justificante,
enquanto responsável solidário, sem participação direta nos certames e contratações, a
suposta contratação com superfaturamento, pois foram cumpridas todas as etapas para
resguardar a Administração, com a necessária realização de coleta de preços para
elaboração do orçamento prévio. E afirma que não cabia ao Justificante “adivinhar” que em
outubro de 2013 (data da pesquisa efetuada pela auditoria) um orçamento de valor menor
seria apresentado e, portanto, que aquele obtido para o certame deveria ser descartado.
Segundo, argumenta que a comparação de preços efetuada pela equipe de auditoria deste
Tribunal não procede, pois sequer especifica os materiais de que são feitas as camisas,
calções e meiões, orçados com as empresas Paulus Esporte e Malharia Cristimara. E
completa: “Só seria possível cogitar a referida comparação de preços caso os produtos
fossem rigorosamente os mesmos, e não existe nenhuma prova disto nestes autos”.
Destaca que a auditoria deveria ter, no mínimo, comparado a composição dos tecidos das
camisas e calções orçados nas duas oportunidades.
Por fim, ressalta que se a Administração Pública tem a obrigação de coletar ao menos três
orçamentos (ou mais), por certo há que se pautar a auditoria deste Tribunal pela mesma
exigência. Sendo assim, a pesquisa de preços feita pela auditoria com apenas duas
empresas não comprova qualquer superfaturamento.
Análise:
Antes de adentrar no mérito da irregularidade suscitada pela auditoria, é importante
ressalvar que o Sr. Guerino Luiz Zanon, único citado, não pode ser responsabilizado,
conforme os argumentos expostos no subitem 2.2, que tratou da análise da ilegitimidade
passiva do agente público, face à existência no Município de Linhares de Lei de
desconcentração administrativa, que permite ao Prefeito deixar de atuar como ordenador de
despesas e gestor em contratações submetidas às Secretarias.
Sendo assim, apenas, em tese, o Prefeito poderia ser responsabilizado solidariamente por
culpa in elegendo ou por culpa in vigilando. Contudo, tais condições não foram
demonstradas nos autos no que tange a irregularidade apontada.
Feita essa importante ressalva, passa-se ao mérito:
Quando a questão é o planejamento das licitações, a jurisprudência dominante orienta que,
a Administração não deve limitar-se a obtenção de três propostas válidas de fornecedores
como único critério de aceitabilidade da pesquisa de preços, mas sim, envidar esforços no
sentido de se obter o maior número possível de cotações de fontes diversas que reflitam a
realidade do mercado, tais como: contratos anteriores do próprio órgão e de outros órgãos,
Sistemas de Referência de Preços e valores registrados em atas de registro de preços.
Esta ampliação da pesquisa de preços tem sido reiteradamente denominada pelo TCU de
“cesta de serviços aceitáveis”: Vale destacar os parágrafos 32 e 33 do voto do Ministro-
Relator Ubiratan Aguiar prolatado no Acórdão TCU 2.170/2007-Plenário que, com relação
aos conceitos de preço aceitável e cesta de preços, forneceu os seguintes esclarecimentos:
32. Esclareço que preço aceitável é aquele que não representa claro viés em
relação ao contexto do mercado, ou seja, abaixo do limite inferior ou acima do
maior valor constante da faixa identificada para o produto (ou serviço). Tal
consideração leva à conclusão de que as estimativas de preços prévias às
licitações, os valores a serem aceitos pelos gestores antes da adjudicação dos
objetos dos certames licitatórios, bem como na contratação e posteriores
alterações, por meio de aditivos, e mesmo os parâmetros utilizados pelos
órgãos de controle para caracterizar sobrepreço ou superfaturamento em
contratações da área de TI devem estar baseados em uma “cesta de preços

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aceitáveis”. A velocidade das mudanças tecnológicas do setor exige esse


cuidado especial.

33. Esse conjunto de preços ao qual me referi como “cesta de preços


aceitáveis” pode ser oriundo, por exemplo, de pesquisas junto a fornecedores,
valores adjudicados em licitações de órgãos públicos – inclusos aqueles
constantes no Comprasnet -, valores registrados em atas de SRP, entre outras
fontes disponíveis tanto para os gestores como para os órgãos de controle – a
exemplo de compras/contratações realizadas por corporações privadas em
condições idênticas ou semelhantes àquelas da Administração Pública -, desde
que, com relação a qualquer das fontes utilizadas, sejam expurgados os
valores que, manifestamente, não representem a realidade do mercado. (gn)
Infere-se, assim que, se não houver ampla pesquisa de mercado, não existe um referencial
adequado de preços. E como ficou assentado no citado Acórdão, a regra serve tanto para o
ente público, quanto para os parâmetros utilizados pelos órgãos de controle para
caracterizar sobrepreço ou superfaturamento.
Nesse sentido, a Segunda Câmara do Tribunal de Contas da União, acompanhando o Voto
do Ministro-Relator Ubiratan Aguiar, já havia se manifestado nos termos do Acórdão
525/2002, abaixo transcrito:
Sumário
Tomada de Contas. Constatação de superfaturamento em contrato de
manutenção e reparos. Citação e audiências. Acolhimento parcial das defesas
apresentadas. Falhas na apuração do sobrepreço. Caracterização de omissão
no controle e acompanhamento contratual e extrapolação de limites contratuais
fixados. Contas regulares da ex-Chefe do Serviço de Administração e da
empresa. Contas irregulares e multa para os demais responsáveis.

Voto
(...)
2.Analisando o processo, temos que, de fato, restou prejudicada a conclusão
de superfaturamento no contrato em exame. Primeiramente, assiste razão ao
Sr. Diretor quando afirma que a coleta dos preços de apenas uma empresa não
pode ser considerada, por si só, preço de mercado. Em segundo lugar, nas
faturas expedidas e cobradas do PAM, não foram especificados os modelos
das peças efetivamente pagas, e como existem diferenças acentuadas de
preços de acordo com o modelo e a marca utilizada, isso prejudicou a
comparação de preços e até a pesquisa dos preços de mercado pelo Controle
Interno.
(...)
5.Assim, resta ser acolhida a defesa apresentada pela empresa, por falta de
parâmetros mais consistentes para a constatação do superfaturamento, e a
defesa da então chefe do serviço de administração, uma vez que sua função
era a de atestar execução dos serviços, sendo que em momento algum foi
levantada a hipótese de pagamento por serviços não prestados. (gn)

Comparando o valor pago pela aquisição dos materiais esportivos (camisas, calções e
meiões) mediante a Ata de Registro de Preços 01/2012, oriunda do Pregão Presencial
22/2012, com orçamentos colhidos em duas empresas do município de Linhares (fls. 2066 a
2072), a equipe de auditoria, com base no menor preço, cotado pela empresa Paulus
Esportes, concluiu que houve superfaturamento da ordem de R$76.752,00, correspondente
a 53,9% (Tabela 12 do relatório de auditoria).

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Contudo, ainda que se possa ter encontrado preços, em 2013, inferiores à Ata de Registro
de Preços, firmada em 2012, não há como tal parâmetro se sustentar, por si só, de modo a
configurar o suposto sobrepreço e consequente superfaturamento, uma vez que a regra da
ampla pesquisa de preços, como dito alhures, serve tanto para o planejamento da licitação
quanto para os trabalhos dos órgãos de controle.
Destaca-se, ainda, que qualquer comparação deve ser feita em épocas próximas e levando-
se em conta as mesmas condições de mercado.
Além disso, analisando o edital do Pregão Presencial 22/2012, não há como se afirmar que
os itens cotados pelas empresas pesquisadas pela auditoria guardam total similitude com o
procedimento licitatório do Município de Linhares, uma vez que não trazem descrição
quanto à composição do material, tamanho, gramatura e estampas, o que torna frágil e
temerário tal parâmetro como único e suficiente para confirmar o
sobrepreço/superfaturamento.
Por tais razões, entendemos não poder se sustentar o indício de irregularidade do
sobrepreço/superfaturamento, baseando-se tal indicativo, tão somente, nos preços cotados
pelas duas empresas pesquisadas, motivo pelo qual sugerimos o afastamento do presente
indicativo de irregularidade.
3.2.3 Processo 14.089/2012
Pregão Presencial 218/2012
Contratos: 587; 588; 589; 590; 591; 592; 593; 594; 595; 596; 597; 598; 599; 600; 601; 602;
603; 604; 605; 606; 607; 608 e 609/2012.
Objeto: Aquisição de combustível (gasolina, álcool e óleo diesel) para atender a diversos
órgãos do Poder Executivo Municipal.
Credor: Posto Ouro Negro Ltda. CNPJ 02.468.894/0002-55
Valor: R$ 2.036.205,00 (estimativo global), sendo:
 522.000 L de Óleo Diesel: R$ 2,09 => R$ 1.092.025,00;
 12.000 L de Óleo Diesel S-50: R$ 2,10 => R$ 25.200,00;
 8.400 L de Álcool: R$ 2,44 => R$ 20.496,00;
 307.700 L de Gasolina: R$ 2,92 => R$ 898.484,00.

3.2.3.1 Ausência de fiscalização e controle insuficiente da execução contratual.


(subitem 5.2.3.1 do RAO)
Base legal: Artigos 66 e 67 da Lei 8.666/93 c/c o artigo 9º da Lei 10.520/2002.
Relatório de Auditoria:
Identificação dos responsáveis:
1- Guerino Luiz Zanon - Prefeito Municipal.
Conduta: Responsabilidade solidária prevista no art. 2º, § 4º da Lei Municipal nº
2.576/2005.
Nexo: Por não fiscalizar e revisar os atos praticados dos servidores, decorrentes da
delegação de competência, contribuiu para a ocorrência da irregularidade.
2- Antonio Roberte Bourguignon - Secretário Municipal de Agricultura, Aquicultura
e Abastecimento.
Conduta: Deixou de nomear um servidor para acompanhar e fiscalizar a execução
contratual.
Nexo: Resultou na execução contratual desprovida de um responsável pelo
acompanhamento e fiscalização, para que procedesse a anotações em registro
próprio no caso de eventualidades.

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3- João Cleber Bianchi – Secretário Municipal de Obras.


Conduta: Deixou de nomear um servidor para acompanhar e fiscalizar a ex ecução
contratual.
Nexo: Resultou na execução contratual desprovida de um responsável pelo
acompanhamento e fiscalização, para que procedesse a anotações em registro
próprio no caso de eventualidades.
4- Marleno Vendramine – Secretário Chefe do Gabinete do Prefeito.
Conduta: Deixou de nomear um servidor para acompanhar e fiscalizar a execução
contratual.
Nexo: Resultou na execução contratual desprovida de um responsável pelo
acompanhamento e fiscalização, para que procedesse a anotações em registro
próprio no caso de eventualidades.
5- Bruno Margotto Marianelli – Secretário Municipal de Planejamento.
Conduta: Deixou de nomear um servidor para acompanhar e fiscalizar a execução
contratual.
Nexo: Resultou na execução contratual desprovida de um responsável pelo
acompanhamento e fiscalização, para que procedesse a anotações em registro
próprio no caso de eventualidades.
6- José Carlos Pereira – Secretário Municipal de Finanças.
Conduta: Deixou de nomear um servidor para acompanhar e fiscalizar a execução
contratual.
Nexo: Resultou na execução contratual desprovida de um responsável pelo
acompanhamento e fiscalização, para que procedesse a anotações em registro
próprio no caso de eventualidades.

7- Márcio Pimentel Machado – Secretário Municipal de Administração e dos


Recursos Humanos.
Conduta: Deixou de nomear um servidor para acompanhar e fiscalizar a execução
contratual.
Nexo: Resultou na execução contratual desprovida de um responsável pelo
acompanhamento e fiscalização, para que procedesse a anotações em registro
próprio no caso de eventualidades.
8- Paulo Roberto Pitanga Medina – Secretário Municipal de Desenvolvimento
Econômico, Indústria e Comércio e Secretário Municipal de Turismo.
Conduta: Deixou de nomear um servidor para acompanhar e fiscalizar a execução
contratual.
Nexo: Resultou na execução contratual desprovida de um responsável pelo
acompanhamento e fiscalização, para que procedesse a anotações em registro
próprio no caso de eventualidades.
9- Lucas Scaramussa – Secretário Municipal de Meio Ambiente e Recursos Hídricos
Naturais.
Conduta: Deixou de nomear um servidor para acompanhar e fiscalizar a execução
contratual.
Nexo: Resultou na execução contratual desprovida de um responsável pelo
acompanhamento e fiscalização, para que procedesse a anotações em registro
próprio no caso de eventualidades.
10- Jussara Carvalho de Oliveira – Secretária Municipal de Comunicação Social.

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Conduta: Deixou de nomear um servidor para acompanhar e fiscalizar a execução


contratual.
Nexo: Resultou na execução contratual desprovida de um respons ável pelo
acompanhamento e fiscalização, para que procedesse a anotações em registro
próprio no caso de eventualidades.
11- José Jair Reali – Secretário Municipal de Esporte e Lazer.
Conduta: Deixou de nomear um servidor para acompanhar e fiscalizar a execução
contratual.
Nexo: Resultou na execução contratual desprovida de um responsável pelo
acompanhamento e fiscalização, para que procedesse a anotações em registro
próprio no caso de eventualidades.
12- Jones da Silva de Freitas Mattos – Secretário Municipal de Cidadania e
Segurança Pública.
Conduta: Deixou de nomear um servidor para acompanhar e fiscalizar a execução
contratual.
Nexo: Resultou na execução contratual desprovida de um responsável pelo
acompanhamento e fiscalização, para que procedesse a anotações em registro
próprio no caso de eventualidades.
13- Sérgio Gabriel Pessoti – Secretário Municipal de Serviços Urbanos.
Conduta: Deixou de nomear um servidor para acompanhar e fiscalizar a execução
contratual.
Nexo: Resultou na execução contratual desprovida de um responsável pelo
acompanhamento e fiscalização, para que procedesse a anotações em registro
próprio no caso de eventualidades.
14- Paula Cristina Calmon Jovita Mota – Secretária Municipal de Educação.
Conduta: Deixou de nomear um servidor para acompanhar e fiscalizar a execução
contratual.
Nexo: Resultou na execução contratual desprovida de um responsável pelo
acompanhamento e fiscalização, para que procedesse a anotações em registro
próprio no caso de eventualidades.
15- Antonio Bezerra Neto – Secretário Municipal de Cultura.
Conduta: Deixou de nomear um servidor para acompanhar e fiscalizar a execução
contratual.
Nexo: Resultou na execução contratual desprovida de um responsável pelo
acompanhamento e fiscalização, para que procedesse a anotações em registro
próprio no caso de eventualidades.
16- Ivan Salvador Filho – Secretário Municipal de Assistência Social.
Conduta: Deixou de nomear um servidor para acompanhar e fiscalizar a execução
contratual.
Nexo: Resultou na execução contratual desprovida de um responsável pelo
acompanhamento e fiscalização, para que procedesse a anotações em registro
próprio no caso de eventualidades.
Relato do indício de irregularidade:
O Estatuto Licitatório determina que os contratos administrativos deverão ter a execução
fiscalizada por um representante da Administração Pública, que deverá reduzir a termo em
registro próprio todas as ocorrências no decorrer da execução, conforme disciplinado no art.
67:

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Art. 67. A execução do contrato deverá ser acompanhada e fiscalizada


por um representante da Administração especialmente designado,
permitida a contratação de terceiros para assisti-lo e subsidiá-lo de
informações pertinentes a essa atribuição.
o
§ 1 O representante da Administração anotará em registro próprio todas
as ocorrências relacionadas com a execução do contrato, determinando
o que for necessário à regularização das faltas ou defeitos observados.
o
§ 2 As decisões e providências que ultrapassarem a competência do
representante deverão ser solicitadas a seus superiores em tempo hábil
para a adoção das medidas convenientes.
Tabela 13: Valores executados por secretaria.

Contratos Objeto Contratante Valor (R$)


Secr. Mun. Agr.
587/2012 Diesel Aquicultura e 83.600,00
603/2012 Gasolina Abastecimento. 26.280,00
588/2012 Alc/Gas 119.776,00
607/2012 Diesel Secr. Mun. Obras 522.500,00
Secr. Chefe Gabinete
589/2012 Gasolina Prefeito 15.768,00
Secr. Mun.
590/2012 Gasolina Planejamento 10.512,00
591/2012 Gasolina Secr. Mun. Finanças 14.600,00
Secr. Mun. Adm.
592/2012 Gasolina Recursos Humanos 58.400,00
Secr. Mun. Des.
593/2012 Gasolina Econ., Ind. e Com. 17.520,00
Secr. Mun. Meio
594/2012 Gasolina Ambiente e Rec. 14.600,00
604/2012 Diesel Hídricos Nat. 25.200,00
Secr. Mun.
595/2012 Gasolina Comunicação Social 5.840,00
Secr. Mun. Esporte e
596/2012 Gasolina Lazer 26.280,00
597/2012 Gasolina Secr. Mun. Turismo 10.512,00
598/2012 Gasolina Secr. Mun. Cidadania 46.720,00
605/2012 Diesel e Seg. Pública 1.045,00
599/2012 Gasolina Secr. Mun. Serviços 45.260,00
606/2012 Diesel Urbanos 229.900,00
600/2012 Gasolina 58.400,00
608/2012 Diesel Secr. Mun. Educação 45.980,00
601/2012 Gasolina Secr. Mun. Cultura 10.512,00
602/2012 Gasolina Secr. Mun. 438.000,00
609/2012 Diesel Assistência Social 209.000,00
TOTAL 2.126.725,00
FONTE: Processo nº 14.089/2012.
Em consonância com o regramento legal, o edital licitatório não estipulou diferente,
conforme se observa no item 8, subitem 8.1, do Termo de Referência, sendo certo que o
Edital vincula todos os atos a serem praticados pela Administração Pública:

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8 – DA EXECUÇÃO, FISCALIZAÇÃO E GESTÃO DO CONTRATO:


8.1 A execução do contrato deverá ser acompanhada e fiscalizada por
funcionário indicado por cada Secretaria, que funcionará como Gestor
do Contrato oriundo desta licitação. [g. n.]
O art. 66 da Lei nº 8.666/93 estabelece que o contrato deverá ser fielmente cumprido pelas
partes, conforme reforçado pela Cláusula Segunda, item 2.1, letra “c ” dos contratos
587/2012, 588/2012, 589/2012, 590/2012, 591/2012, 592/2012, 593/2012, 594/2012,
595/2012, 596/2012, 597/2012, 598/2012, 599/2012, 600/2012, 601/2012, 602/2012,
603/2012, 604/2012, 605/2012, 606/2012, 607/2012, 608/2012 e 609/2012:
CLÁUSULA SEGUNDA – DAS OBRIGAÇÕES DA CONTRATANTE:
2.1 A CONTRATANTE obriga-se a:
(...)
Promover, por meio do servidor designado pela Secretaria competente, o
acompanhamento e a fiscalização dos serviços, anotando em registro
próprio as falhas detectadas e comunicando as ocorrências de quaisquer
fatos que, a seu critério, exijam medidas corretivas por parte da
contratada;
Apesar de todos esses dispositivos exaltando a importância da existência de um servidor
responsável pelo acompanhamento da execução contratual, bem como pela fiscalização
contratual, os documentos juntados demonstram que não houve essa preocupação por
parte dos ordenadores de despesas, razão pela qual incorreram nas imputações elencadas.
Após questionamento acerca da existência de servidores nomeados para acompanharem a
execução contratual, o responsável pelo Controle Interno, Sr. Cassio Dias Lopes,
Controlador Geral do Município, encaminhou ofícios a todas as Secretarias Municipais, a fim
de obter tal informação mais apropriadamente.
Responderam aos ofícios afirmativamente quanto à existência de algum controle, os atuais
titulares da Secretaria Municipal de Educação; Secretaria Municipal de Desenvolvimento
Econômico, Indústria e Comércio; Secretaria Municipal de Planejamento; e Departamento
de Administração Tributária, encaminhando planilhas de controle ou apenas relatórios de
consumo de combustíveis juntamente com as respostas apresentadas.
Em contrapartida, os titulares da Secretaria Municipal de Agricultura, Aquicultura, Pecuária e
Abastecimento; Secretaria Municipal de Turismo; Secretaria Municipal de Cidadania e
Segurança Pública; Gabinete do Prefeito; Secretaria Municipal de Assistência Social;
Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Recursos Hídricos Naturais; e Secretaria
Municipal de Comunicação Social, informaram que não foram localizados quaisquer
relatórios de controle de abastecimentos de veículos.
O Secretário Municipal de Administração e Recursos Humanos informou que as
autorizações de abastecimentos de combustíveis eram conferidas com as notas de
fornecimento e confrontadas com os relatórios fornecidos pela empresa responsável pela
prestação do serviço, que ficam em anexo às notas fiscais, mas que não havia um relatório
de controle específico por parte daquela Secretaria Municipal.
O Diretor do Departamento de Apoio Administrativo e Transporte informou que todos os
veículos da Prefeitura Municipal de Linhares abastecem através de requisições, que são
apresentadas no posto de combustíveis pelos motoristas, que devem preencher os dados
do abastecimento (data, quilometragem, quantidade em litros e o valor), assinando outra
nota, que é emitida pelo posto de combustíveis com os mesmos dados e apresentada junto
com a nota fiscal a cada Secretaria, que deveria ter um servidor nomeado especialmente
para ser o responsável pela conferência e veracidade daquelas informações.
Dessa forma, conclui-se que houve um controle não padronizado por parte de quatro órgãos
municipais, conforme a seguir:

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- a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Indús tria e Comércio possuía


àquela época um controle de utilização dos veículos, onde eram registrados a data, o
motorista, o horário da utilização e a quilometragem rodada;
- a Secretaria Municipal de Educação possuía um controle de abastecimento, mas sem
especificar datas e quilometragens, apenas o total gasto no mês;
- a Secretaria Municipal de Planejamento possuía um controle de abastecimentos que
considerava datas, veículos, quilometragens respectivas e valores abastecidos, o qual era
confrontado com as requisições, relatórios gerenciais e relatórios resumidos, que eram
emitidos pelo posto de combustíveis;
- o Departamento de Administração Tributária possuía um controle resumido onde eram
registradas as datas, números das notas fiscais, quantitativo total abastecido e valor total
gasto, sendo que para cada veículo havia uma planilha de controle de utilização onde eram
registradas as datas, os motoristas, os destinos, horários e quilometragens de saída e
retorno.
Do exposto, a conclusão da equipe é de que, apesar de haver controle por parte de alguns
gestores, não há nos autos qualquer informação acerca dos servidores responsáveis pelo
acompanhamento e fiscalização da execução contratual, conforme preconizado no
dispositivo legal, razão pela qual houve infração de tal regramento pelos responsáveis
apontados.

Justificativas:
1 – Guerino Luiz Zanon:
A defesa afirma que havia controle do referido contrato em relação a todos os órgãos
apontados pela auditoria, feito pelo Sr. Everaldo Marcarini, servidor do Munic ípio, que tinha
a incumbência de fiscalizar os abastecimentos feitos por todas as Secretarias no Posto
contratado. E completa: “Adicionalmente, cada Secretaria poderia fazer um controle (repita-
se, adicional) interno à própria Secretaria. De toda sorte, feito ou não este controle
adicional, o fato é que já havia a fiscalização contratual por servidor designado pelo
Município, nos termos do contrato”.

Esclarece, ainda, que o servidor tinha a incumbência de acompanhar a fiscalização


contratual e os relatórios dos abastecimentos solicitados pelas Secretarias, emitidos pelo
Posto através de um sistema eletrônico denominado Autosystem.
2- Antônio Roberte Bourguignon; Marleno Vendramine; Bruno Margotto Marianelli;
Márcio Pimentel Machado; Paulo Roberto Pitanga Medina; Lucas Scaramussa;
Jussara Carvalho de Oliveira; Jones da Silva de Freitas Mattos; Sérgio Gabriel
Pessoti; Paula Cristina Calmon Jovita Mota; Antonio Bezerra Neto; e Ivan Salvador
Filho:
Os defendentes trazem as mesmas justificativas, que assim podem ser sintetizadas:
Alegam que, como gestores das Secretarias, foram responsáveis pelo acompanhamento e
fiscalização do abastecimento de combustíveis durante toda a execução do contrato.
Esclarecem como era feito o controle, detalhando a seguinte sistemática:
Os motoristas abasteciam os carros mediante requisição, que era apresentada
no posto de combustível, na qual constava dados acerca da data,
quilometragem, quantidade em litros e valor. O motorista então assinava um
nota emitida pelo posto que refletia os dados descritos na requisição. Após
certo período o Posto de Combustíveis emitia uma nota fiscal que era
apresentada à Secretaria gestora do contrato, juntamente com um relatório
informando a data, placa do veículo, KM, o número da respectiva requisição,
quantidade de litros, valor por litro e o valor total de cada abastecimento
constante na nota fiscal.

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Informam que, de posse dos documentos de controle, realizavam a conferência dos dados
descritos pela empresa nas notas fiscais com a 2ª via do bloco de requisições dos veículos
e, quando estava em conformidade, atestavam a execução do serviço.
Destacam, também, que não foram registradas eventualidades no período, uma vez que as
notas fiscais emitidas pela empresa eram condizentes com as requisições elaboradas pelos
motoristas.
Afirmam que, a conferência era feita pelos próprios Secretários, ora defendentes, porque
eles eram os ordenadores de despesas e as Secretarias possuíam poucos veículos, o que
não gerava um grande número de documentos a serem analisados.
Afirmam, também, que, o contrato foi integralmente executado e sequer houve um indício de
irregularidade em sua execução, uma vez que todos os abastecimentos descritos nas notas
fiscais emitidas pela empresa foram utilizados estritamente para o atendiment o ao interesse
público.
Por fim, argumentam que, embora não tenha sido nomeado formalmente um servidor como
gestor do contrato, esse fato não resultou em ineficiência do acompanhamento e
fiscalização do contrato, tampouco em prejuízo ao erário. E complementam afirmando que,
a própria auditoria apenas concluiu que não houve a nomeação do servidor, mas em
nenhum momento apontou indícios de falhas na execução contratual ou prejuízo aos cofres
do Município.
Dessa forma, para os defendentes, o descumprimento ao artigo 67 do Estatuto Licitatório
apontado pela auditoria, tratava apenas de uma irregularidade de forma.
3 - João Cleber Bianchi – Secretário Municipal de Obras:
O defendente alega que, o acompanhamento e a fiscalização dos abastecimentos de
combustíveis foram realizados durante toda a execução dos contratos, em cumprimento a
Cláusula Segunda, item 2.1, letra “c” e Cláusula Sexta, alínea 6.1, sendo este realizado por
servidor lotado na Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura, o Sr. Everaldo Marcari ni,
Diretor Administrativo.
Assevera que, as notas fiscais, atestadas pelo respectivo servidor, constam dos processos
de pagamentos.
Anexa à peça de defesa, expediente por ele subscrito, Ofício SEMOB nº 502/2011, no qual
informa à Secretaria Municipal de Recursos Humanos que o Senhor Everaldo Marcarini,
lotado na Secretaria Municipal de Obras, na função comissionada de Diretor do
Departamento de Apoio Administrativo, exercia atividades na manutenção preventiva e
corretiva da frota de todo Município, incluindo veículos e equipamentos pesados, bem como
todo apoio aos carros terceirizados com manutenções periódicas, boletins de ocorrência,
controle dos abastecimentos da frota (próprio e terceirizados).
Dessa forma, para o defendente fica evidente que havia fisc alização, não havendo prejuízo
a Administração.
Destaca que, foi exigido dos contratados a disponibilização ao Município de controle de
abastecimento de combustíveis para dar suporte de controle gerencial à Secretaria de
Obras, para possibilitar confrontar as informações existentes nas requisições/blocos de
abastecimentos.
Esclarece como era feito o controle, detalhando a seguinte sistemática:
Como procedimento, os blocos de requisições eram liberados pelo fiscal do
contrato e entregues aos motoristas que abasteciam os veículos com
apresentação de requisição nos postos de combustíveis na qual constava
dados acerca da data, quilometragem, quantidade em litros e valor. O motorista
então assinava nota fiscal emitida pelo posto.
Mensalmente quando do pagamento dos serviços, os postos de combustíveis
emitiam notas fiscais que eram apresentadas à Secretaria gestora do contrato,
juntamente com relatório informando a data, horário, placa do veículo, KM, o

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número da respectiva requisição, quantidade de litros, valor por litro e o valor


total de cada abastecimento constante na nota fiscal.
Munido de tais documentos o fiscal, Sr. Everaldo, realizava a conferência dos
dados informados pelas empresas contratadas nas notas fiscais com a 2ª via
do bloco de requisições que ficava nos veículos e, verificada a conformidade, o
fiscal atestava a execução dos serviços, cabendo ao ordenador, ora
justificante, somente a liquidação da despesa.
No que tange ao registro de ocorrências, o defendente esclarece que não foram detectadas
falhas que exigissem medidas corretivas, por isso não havia anotações sobre esse aspecto.
E completa, afirmando que as notas fiscais emitidas pelas empresas estavam em
conformidade com as segundas vias das requisições preenchidas pelos motoristas.
Por fim, argumenta que, embora não tenha nomeado formalmente o Sr. Everaldo Marcarini
para realizar a fiscalização do contrato, esse fato não resultou em ineficiência do
acompanhamento e fiscalização do contrato, tampouco em prejuízo ao erário. E lembra que,
a própria auditoria apenas concluiu que não houve a nomeação do servidor, mas em
nenhum momento apontou indícios de falhas na execução contratual ou prejuízo aos cofres
do Município.
Conclui, assim, que o subitem 5.2.3.1 do relatório de auditoria, em verdade, não se revela
uma típica infração ao artigo 67 do Estatuto Licitatório, e sim mera irregularidade formal
(não constar expressamente no bojo do instrumento contratual o nome do servidor que iria
acompanhar e fiscalizar o contrato), uma vez que houve atuação direta de controle e
fiscalização pelo Sr. Everaldo Marcarini, ainda que não haja documento oficializando a
nomeação do servidor especialmente para esse fim.
4 – José Carlos Pereira – Secretário Municipal de Finanças:
O defendente alega que, como gestor da Secretaria, foi responsável pelo acompanhamento
e fiscalização do abastecimento de combustíveis durante toda a execução do contrato.
Esclarece como era feito o controle, detalhando a mesma sistemática registrada nas peças
de defesa dos demais citados.
Destaca, também, que havia um controle de abastecimento dos veículos do Departamento
de Administração Tributária (como bem atestou a equipe de auditoria), que inclui planilha de
controle e utilização dos veículos e descrevia as datas, os motoristas, os destinos , horários
e quilometragens de saída e retorno, o que corrobora com a informação prestada aos
auditores de que houve acompanhamento e fiscalização durante a vigência do contrato.
No que tange a não nomeação formal de um servidor para fiscalização, argument a que esse
fato não resultou em ineficiência do acompanhamento e fiscalização do contrato, tampouco
em prejuízo ao erário. E lembra que, a própria auditoria apenas concluiu que não houve a
nomeação do servidor, mas em nenhum momento apontou indícios de falhas na execução
contratual ou prejuízo aos cofres do Município.
Conclui, assim, de igual modo aos demais citados, que, que o subitem 5.2.3.1 do relatório
de auditoria, em verdade, não se revela uma típica infração ao artigo 67 do Estatuto
Licitatório, e sim mera irregularidade formal, uma vez que o contrato foi integralmente
executado, sendo todos os abastecimentos, descritos nas notas fiscais emitidas, ocorridos
em atendimento ao interesse público.
5 – José Jair Reali – Secretário Municipal de Esporte e La zer:
O citado não apresentou argumentos defensivos para esse subitem.
Análise:
Verifica-se que há total similaridade com a questão analisada no subitem 3.2.1.1 desta ITC,
inclusive quanto às justificativas apresentadas pelos citados, o qual difere apenas em
relação às informações específicas, como: número de processos de pagamento, datas,
credores, secretarias e servidores responsáveis pela fiscalização.
Reiteram-se, assim, as considerações feitas no citado subitem como fundamentação para
acolher os argumentos dos defendentes, sugerindo o afastamento da irregularidade

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e, por oportuno, sugerir, também, que seja determinado à atual gestão do Município de
Linhares que designe formalmente um servidor para acompanhar a ex ecução dos contratos
de fornecimento de combustíveis, com o propósito de dar pleno cumprimento ao artigo 67
da Lei 8.666/93.

3.3 – Transferências a Entidades Privadas


3.3.1 Linhares Futebol Clube. (subitem 5.3.1 do RAO)
A auditoria abordou análise conjunta de convênios firmados entre a municipalidade e a
empresa Linhares Futebol Clube Ltda., desde o exercício de 2008, no que refere à
finalidade pública destes acordos. São eles os Convênios nº 18/08, 28/08, 19/09, 05/10,
36/10, 20/11 e o Convênio nº 02/2012.
Contudo, o relator deixou de proceder à citação dos responsáveis nestes autos pelos
convênios acima elencados, firmados em exercícios anteriores a 2012, haja vista a
competência diversa para relatar os processos do Município de Linhares nos exercícios de
2008 e 2009; por não serem estes convênios de trato contínuo; e também pela ausência de
previsão no Plano de Fiscalização nº 88/2013 referente a 2012.
Dessa forma, nestes autos, a análise conclusiva se restringirá tão somente no que se refere
ao Convênio nº 02/2012, cujas transferências ocorreram em 2012.
3.3.1.1 Ausência de previsão legal para transferir recursos para empresa com fins
lucrativos e ausência de justificativas, motivação e da demonstração do interesse
público. (subitem 5.3.1.2 do RAO)
Base legal: Princípios da legalidade, da justificativa, do interesse e da motivação pública.
Leis Municipais (LDO, Anexo 4) 2.789/08, 2.856/09, 2.972/10 e 3.077/11. Constituição
Federal, art. 37, caput. Constituição do Espírito Santo, art. 32 e art. 45, §2º. Lei 4.320/64,
art. 16, caput. Lei 101/00, art. 26 c/c Parecer em Consulta TCEES 002/2006 e Parecer em
Consulta TCEES 002/2007.
Relatório de Auditoria:
Identificação dos responsáveis:
1- Guerino Luiz Zanon, Prefeito Municipal
Conduta: Aprovar o repasse de recursos para entidade privada com fins lucrativos,
sem justificativas e motivação e sem a demonstração do interesse público para a
contratação.
Nexo: Possibilitou a contratação de serviços sem justificativas e sem demonstrar o
interesse público e, ainda, com potencialidade de causar dano ao erário.
2 - Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva, Procurador
Conduta: Emitir pareceres contrários à lei, desarrazoado e contrário aos fatos,
orientando no sentido da regularidade dos repasses de recursos para empresa
privada com fins lucrativos, sem justificativas e motivação e sem a demonstração do
interesse público para a contratação.
Nexo: O Parecer emitido pelo Procurador foi elemento essencial para convencer o
ordenador de despesas acerca da regularidade do ajuste firmado com empresa
privada com fins lucrativos, resultando em potencial dano ao erário.

Relato do indício de irregularidade:


Os repasses realizados ao Linhares Futebol Clube, desde 2008, estão fundamentados em
leis municipais autorizativas dos respectivos repasses (vide item “5.3.1.1- Incidente de
Inconstitucionalidade”) e foram formalizados por meio de um ajuste denominado “convênio”
(vide Apêndice 1).
Tal “convênio” inclui algumas informações gerais que são agregadas no que se denomina
“plano de trabalho” e refere-se a uma “prestação de contas”.

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Apesar da similaridade dos termos – convênio, plano de trabalho, metas e etapas – o ajuste
entre a prefeitura de Linhares e o Linhares Futebol Clube não pode ser considerado um
“verdadeiro” convênio, seja à luz da Lei 8.666/93 (art. 116), seja à luz da IN-STN 01/97, seja
à luz do Decreto Estadual 1.242R/03 (ou o mais recente, 2.737R/11), em especial porque
não apresenta informações mínimas, adequadas, detalhadas, organizadas acerca do objeto,
das metas e etapas, das fases, do cronograma de desembolso e dos resultados esperados
(vide Apêndice 1).
Mas, fundamentalmente, não demonstra o interesse público.
Logo, ausentes ou insuficientes os elementos básicos e iniciais do plano de trabalho, a
figura da “prestação de contas” perde o sentido, resultando apenas em um apanhado de
notas fiscais cuja notória característica é a somatória dos seus valores coincidir com os
valores repassados pela prefeitura: não há, sequer, a avaliação e aprovação (ou
reprovação), por parte da prefeitura, das “prestações de contas” apresentadas.
Entretanto, as prestações de contas dos convênios citados (números 18/08, 28/08, 19/09,
5/10, 36/10 e 2/12) não foram incluídas no escopo da desta auditoria. Em relação aos
demais aspectos – em especial: justificativas, demonstração do interesse público e previsão
legal para os repasses – a equipe constatou as seguintes irregularidades.
A começar pelo “objeto” (“identificação ou descrição do projeto”) dos convênios – “promover
o futebol profissional de nossa cidade” (nos três primeiros convênios, dois em 2008 e um
2009) e “apoio financeiro para pagamento da folha de pagamento, da alimentação etc.” (nos
demais convênios, dois em 2010 e um em 2012):
 Não apresenta ou possui interesse público, muito menos interesse comum ou
recíproco;
 Não informa ou expressa critérios objetivos;
 Não é definido de forma detalhada e com a indicação das unidades de custo e
valores respectivos, de forma que se pudesse, ao final, avaliar a correta aplicação
dos valores repassados frente ao que tinha sido planejado.
Conforme se observa no Apêndice 1, os três primeiros convênios não apresentam
“justificativas”. Os demais repetem, com maior ou menor precisão, a fórmula:
O presente convênio tem por objeto apoiar a participação do Linhares
Futebol Clube no Campeonato Capixaba de Futebol profissional. O
repasse será condicionado à apresentação de Plano de Aplicação de
Recursos e deverá ter sua aplicação comprovada por meio de Prestação
de Contas (...)
Como se observa, as “justificativas” não justificam os repasses: não justifica porque a
administração pública deve repassar os escassos recursos públicos para uma empresa com
fins lucrativos como o Linhares Futebol Clube; não justifica e não demonstra o interesse
público para tais repasses como, por exemplo, qual a vantagem para a sociedade ou para a
administração de tais repasses, quais os resultados a serem alcançados, como estes
resultados poderiam alterar, para melhor, a realidade da população, etc.
Em relação às “metas” – que deveriam detalhar os resultados esperados, a serem
alcançados ao final do convênio – observa-se que há confusão: os três primeiros ajustes
entendem as metas como:
[...] o presente convênio tem por objeto apoiar a participação do Linhares Futebol Clube no
Campeonato Capixaba de Futebol profissional. O repasse será condicionado à
apresentação de Plano de Aplicação de Recursos e deverá ter sua aplicação comprovada
por meio de Prestação de Contas [...]
Mas, como visto, estas “metas” são as “justificativas” para os dois últimos convênios (2010)
que, de qualquer forma, se caracterizam por não esclarecer ou detalhar objetivamente o que
se pretendia com os ajustes.
Na “etapa ou fase” de execução dos convênios, as informações contidas nos “planos de
trabalho” deveriam elencar possíveis áreas onde os recursos poderiam (ou não) ser
aplicados, mas resumiu-se a repetir informações contidas no “objeto”.
Não se encontra, ainda, nos convênios citados, o “cronograma de desembolso”.

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Ora, é fato inconteste que a liberação de recursos deve obedecer ao cronograma de


desembolso – e esse é o fundamento para a sua exigência – previsto no Plano de Trabalho
e guardar consonância com as metas e fases ou etapas de execução do objeto do
convênio, de modo a evitar o repasse em parcela única ou destoantes das próprias etapas
de execução.
Em suma, os “planos de trabalho” integrantes dos convênios analisados não devem ser
entendidos como tais e efetivamente falharam na tarefa de esclarecer, detalhar, definir,
informar e convencer não só sobre os objetivos, metas e resultados esperados, mas
fundamentalmente acerca do interesse público nos repasses da prefeitura para uma
empresa privada, Linhares Futebol Clube.
Poder-se-ia argumentar que tais repasses da prefeitura ao Linhares Futebol Clube tratam,
na verdade, de “patrocínio”. A equipe entende que também não é o caso, pois no caso de
“patrocínio” trata-se de um ajuste contratual entre a administração pública e o particular em
que aquela repassa recursos para este visando a divulgação da marca institucional ou
mesmo produtos e serviços (quando é o caso); quer dizer, constitui uma ação de
comunicação associada a uma contrapartida pelo particular.
Se não é possível identificar os repasses da prefeitura para o Linhares Futebol Clube com
as formas “convênio” e “patrocínio”, conforme argumentado – e, diga-se de passagem, em
nenhum dos processos tal preocupação foi aventada pelos agentes ou procuradoria –
revela-se tarefa impraticável fazê-lo.
Outros institutos poderiam ser elencados na tentativa definir os repasses realizados ao
Linhares Futebol Clube (empresa privada com fins lucrativos) – e, no caso, pode-se iniciar o
debate com a análise dos registros contábeis realizados pelo setor de contabilidade da
prefeitura de Linhares: em todos os anos, 2008 a 2011 (Notas de Empenho: 1.468/08,
3503/08, 1.844/09, 1.136/10 e 4.345/10), foram utilizados o elemento de despesa
“33.50.41.00”.
Conforme normativas da Secretaria de Tesouro Nacional (vide Portaria Interministerial STN
163/01), o primeiro dígito (3) do elemento de despesa trata da categoria econômica
“despesa corrente”, o segundo dígito (3) refere-se ao grupo de despesas “outras
despesas correntes”, os terceiro e quarto dígitos (50) tratam da modalidade de aplicação
“transferência a instituições privadas sem fins lucrativos”, seguido do elemento de despesas
“contribuições” (quinto e sexto dígitos, no caso 41).
“Despesas correntes” e “despesas de capital” conformam as formas de transferências
do setor público para entidades privadas na contabilidade pública.
Assim, “despesas correntes” podem ser na forma de “subvenção social” ou
“contribuição corrente”. Por seu turno, “despesas de capital” podem ocorrer na forma
“auxílio” ou “contribuição de capital”.
“Subvenção social”, conforme a Lei 4.320/64, art. 16, objetiva a “prestação de
serviços essenciais de assistência social, médica e educacional”, os quais não se
aplicam ao Linhares Futebol Clube. Ademais, no entendimento da equipe, a
subvenção social só se aplica às entidades sem fins lucrativos.
Por “contribuição corrente” (Lei 4.320/64, art. 12, §2º) entendemos tratar-se de
transferência de recursos correntes para entidades que exerçam atividades nas
demais áreas ou setores não abrangidos pela subvenção social.
A LRF (Lei 101/00, art. 26) tratou desta “contribuição corrente”:
Art. 26. A destinação de recursos para, direta ou indiretamente, cobrir
necessidades de pessoas físicas ou déficits de pessoas jurídicas
deverá ser autorizada por lei específica, atender às condições
estabelecidas na lei de diretrizes orçamentárias e est ar prevista no
orçamento ou em seus créditos adicionais.
Este art. 26 da LRF esclareceu as condições para realização das contribuições, mas criou
outro problema: o que quis dizer o legislador com “cobrir déficits de pessoas jurídicas” ou
“necessidades de pessoas físicas”?

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No caso, o Parecer em Consulta TCEES 002/2006 veio resolver dúvidas que poderiam
existir:
Deste modo, considerando o ordenamento pátrio aplicável ao presente
caso e a fundamentação exposta, é de se concluir que as expressões
“necessidades de pessoas físicas” e “déficits de pessoas jurídicas”,
contidas no caput do art. 26 da LRF, em face da ausência de delimitação
técnica contida na própria lei, devem ser interpretadas em seu sentido
comum, caracterizando-se como necessidades financeiras surgidas
anteriormente à intervenção do ente estatal.
(Nota dos auditores: cumpre observar que a revisão do Parecer em
Consulta 002/2006 promovida pelo Parecer em Consulta 015/2013 não
atinge a definição aqui posta, mas apenas “revogação do segundo ponto
de abordagem, que diz respeito a não obrigatoriedade de lei específica
para concessão de subvenção social destinadas a instituições públicas
ou privadas de caráter assistencial ou cultura, sem finalidade lucrativa”).
Argumentar no sentido de que o Parecer em Consulta TCEES 2/2007 teria disposição
contrária ao nosso argumento não deve prosperar, pois este informa, literalmente, que o
repasse de recursos para o fomento do esporte “deverá ainda ser observado o art. 26 da Lei
de Responsabilidade Fiscal”.
E, como visto, se dúvidas havia sobre os termos do art. 26 da LRF, o Parecer em Consulta
002/2006 já as tinha dirimido: os repasses devem atender a necessidades financeiras –
déficits – surgidas anteriormente à intervenção do ente estatal – não sendo possível em
caso de necessidades presentes ou futuras.
Sem esquecer que o Parecer em Consulta 2/2006 tratou de esclarecer os termos do art. 26
da LRF, que por sua vez referia-se às contribuições correntes (Lei 4.320/64, art. 12, art.
§2º).
Ressaltamos que, no caso dos repasses ao Linhares Futebol Clube, não se tratava de
atender a necessidades financeiras (déficits) surgidas anteriormente, mas, em todos os
casos, de “auxilio financeiro” para custear atividades genéricas presentes e futuras.
Ademais, o Parecer em Consulta 002/2007 exige que os repasses públicos para entidades
privadas visando o fomento do esporte devem:
 Observar o princípio da impessoalidade, o que no caso significa o uso de mecanismo de
seleção pública para eleger o beneficiado – em nenhum dos processos encontramos a
observância do princípio da impessoalidade – ao contrário, as leis municipais são exclusivas
para o Linhares Futebol Clube;
 Estabelecer critérios objetivos de concessão, critérios estes que não constam dos autos
dos processos;
 Estabelecer planos de aplicação dos recursos e prestação de contas: no caso, como já
demonstramos, os planos de trabalho componentes dos termos de convênios são meras
peças de ficção, absolutamente sem qualquer utilidade;
 Atender às condições estabelecidas na Lei de Diretrizes Orçamentárias e previsão na Lei
Orçamentária Anual ou, em seus créditos adicionais, dentro dos ditames da Lei Federal n.
4.320/64, relativamente à forma contábil e orçamentária, e à observância de compatibilidade
das atividades desenvolvidas pelos entes beneficiados.
Como demonstramos, os repasses foram contabilizados pelo Contador na modalidade de
aplicação “código 50” que se refere a “transferências a instituições privadas sem fins
lucrativos” (Portaria Interministerial STN 163/01). Mais ainda, em relação à Unidade
Gestora, em todos os convênios os recursos foram dotados na “Unidade Orçamentária 01-
Secretaria Municipal de Esporte e Lazer”, na “Função 27: Desporto e Lazer”, na “Subfunção
812: Desporto comunitário”, no “Programa 0014- Manutenção e revitalização das
atividades promotoras do esporte e lazer”, “Projeto/atividade 2.189: Apoio ao Linhares
Futebol Clube Ltda.”.

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Entretanto, é de fácil constatação que os repasses realizados ao Linhares Futebol Clube


não possuem qualquer identidade com a “Função 27: Desporto e Lazer”, e menos ainda
com a subfunção “desporto comunitário” e com o programa “manutenção e revitalização das
atividades promotoras do esporte e lazer” (vide Acórdão TCU 463/04), fundamentalmente
porque concede recursos públicos a entidade privada de fins lucrativos para participar do
campeonato estadual profissional.
Logo, os repasses ao Linhares Futebol Clube também não atenderam a estas exigências
legais.
Assim, em razão da ausência de fundamento legal e jurídico, associada à
insuficiência ou inadequação técnica dos respectivos planos de trabalho e à ausência
da demonstração do interesse público, a equipe concluiu que os repasses realizados
pela prefeitura de Linhares ao Linhares Futebol Clube foram ilegais e irregulares,
sendo passíveis de ressarcimento.
Há de se destacar, ainda, as ações dos Procuradores do município, Arlindo Melo (no ano de
2008) e Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva (2009 e 2010)
O Procurador Arlindo Melo emitiu Pareceres (idênticos, sem números, datados de 17/04 e
15/09/08, fls. 15-16 em ambos os processos) orientando no sentido da regularidade dos
repasses e opinando – em sentido contrário ao ordenamento jurídico – que o repasse
fosse realizado na rubrica contábil “contribuições” e que fosse utilizado o termo c onvenial
para regulamentar o ajuste.
Deve-se ressaltar que sequer havia nos autos do processo, cópia do estatuto social
(contrato social) da empresa beneficiada, fato que aparentemente passou despercebido ao
Procurador. Ou seja, o contrato de convênio foi firmado sem documento essencial.
De acordo com o Procurador:

Vem ao exame desta Procuradoria administrativa, o processo (...).


Como se percebe, o Executivo remeteu à Câmara Municipal Projeto de Lei que
redundou na Lei Municipal 2768/08 que autoriza o pagamento da despesa, norma
contida no artigo 1º, senão in verbis:
Art. 1º. Fica o Poder Executivo autorizado a apoiar financeiramente com a importância
de R$ (...) anualmente, ao Linhares Futebol Clube (...), mediante contribuições (...).
Ex positis, aparando no artigo 1º da Lei Municipal 2764/08, opino que seja repassado
ao Linhares Futebol Clube, devendo ser precedido de assinatura de convênio (...), a
importância de R$ (...) anualmente (...) [grifos nossos].

Os termos de Convênios (18/08 e 28/08) analisados pelo procurador municipal não contém
a identificação do objeto a ser executado, não contém as metas a serem atingidas, não
contém as etapas e fases de execução, não contém o adequado plano de aplicação dos
recursos e não contém a indicação conclusão das etapas e fases programadas.
Não há sequer a indicação do objeto a ser realizado pela entidade – que nos
convênios deve ser de interesse recíproco – e a avaliação de que tais serviços sejam
essenciais ou mesmo afeitos à administração pública municipal.
Não há qualquer indicação do resultado final ou do benefício esperado (a
reciprocidade pela concessão de recursos públicos) pela prefeitura para tais
repasses à entidade privada com fins lucrativos.
Afinal, a aplicação de recursos públicos por qualquer entidade pública deve ter por
primeiro e essencial objetivo atender a uma necessidade pública, nunca particular.
Em relação ao Procurador Municipal, Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva, a equipe
constatou que emitiu (de fato, replicou a partir do primeiro) cinco pareceres jurídicos
afirmando que todas as exigências para o repasse dos recursos ao Linhares Futebol Clube
haviam sido cumpridas.

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No caso dos Convênios firmados entre 2009 e 2011, observa-se que tanto o ordenador de
despesas quanto o Procurador da prefeitura tiveram várias oportunidades durante vários
anos para rever e reavaliar adequadamente os seus atos relativos aos convênios com o
Linhares Futebol Clube que, no entendimento da equipe, além de ilegal e sem interesse
público, causou dano ao erário.
Mas, ao contrário, em cada novo convênio, as ilegalidades e irregularidades eram repetidas,
em atos continuados, volitivos e intelectivos, com os mesmos falaciosos fundamentos
jurídicos.
Por exemplo, de acordo com o Procurador no Parecer emitido em 20/05/09:
Comparece o (...) Diretor do Departamento de Licitações (...), solicitando parecer
jurídico (...) visando a concessão de subvenção social auxílio financeiro no valor
de (...) para contribuições, detalhadas no Plano de trabalho (...)
(...)
Como é cediço a celebração de convênios, em razão de sua natureza, não depende
de instauração de certame licitatório como regra (...).
Portanto, seria inviável e incoerente a realização de processo licitatório, vez que o
Convenente e o Conveniado já estão previamente pactuados para o objeto comum a
que se propõe (...).
Além disso, não existe no verdadeiro convênio pretensão de lucro, e os recursos
financeiros utilizados servem para cobertura das despesas necessárias ao
cumprimento do acordo.
A celebração de convênio depende de prévia aprovação de competente plano de
trabalho proposto pela organização interessada, o qual deverá conter, no mínimo:
identificação do objeto a ser executado; metas a serem atingidas; etapas ou
fases de execução; plano de aplicação dos recursos financeiros; cronograma
de desembolso; previsão de início e fim da execução do objeto, bem assim da
conclusão das etapas ou fases programadas; etc.
Compulsando os autos é de se constatar que as exigências supracitadas foram
atendidas pelo Linhares Futebol Clube Ltda.
Por derradeiro, o art. 9º, da Lei 9.790/99 estipula que:
“Fica instituído o Termo de Parceria, assim considerado o instrumento passível de
ser firmado entre o Poder Público e as entidades qualificadas como Organização da
Sociedade Civil de Interesse Público (...) para o fomento e a execução das atividades
de interesse público previstas no art. 3º desta Lei.”
Assim sendo, despiciendo maiores considerações, por desnecessário, opino no
sentido de pugnar pelo deferimento do pedido do requerente, face às razões acima
elencadas.
(grifos nossos)
O Parecer emitido em 20/05/09 é quase idêntico aos outros três Pareceres emitidos
em 12/03/10, 22/12/10 e 28/03/11.
Vê-se, em tal redação do Procurador, incomum imprecisão ou confusão entre as
formas legais de repasse “subvenção social, auxilio e contribuições” e entre os tipos
contratuais existentes “convênio e termo de parceria”.
(...)
Não bastassem tais conclusões – desarrazoadas, contrárias às leis e aos fatos – o
Procurador se desvia de abordar o primordial elemento que sustenta qualquer ato
administrativo: a demonstração do interesse público, que não é encontrada em
nenhum dos termos de Convênios (n.º 019/09, 005/10, 036/10) analisados por ele.
Por todo o exposto, a equipe entende passíveis de ressarcimento os seguintes
valores (...)

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(...)
Responsáveis solidários: Guerino Luiz Zanon e Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva
(...)
 2012: 200.000,00 (88.538,67 VRTE)

Justificativas:
1 – Guerino Luiz Zanon:
A defesa argumenta que é flagrante o interesse público em promover o esporte mais
aclamado e assistido pelos brasileiros no âmbito municipal, pois é obrigação do Poder
Público fomentar a cultura e o desporto, como determina a própria Constituição Federal
(artigos 215 e 217).
Cita Jorge Ulisses Jacoby Fernandes, que faz o seguinte o comentário sobre o artigo 217 da
Constituição Fedral. In vebis:

“[...] há permissão no artigo 217, II, da Constituição que determina a


destinação de recursos públicos para promoção prioritária do desporto
educacional e, em casos específicos, para a do desporto de alto
rendimento, como é o caso do futebol." (...) Concluo, pois, que é possível
com a normatização existente conceder subvenções sociais aos clubes
de futebol, desde que sejam obedecidos os princípios constitucionais
administrativos, principalmente, a impessoalidade, e haja a devida
prestação de contas, pois há expressa previsão constitucional no artigo 217
(Revista de Direito Municipal, nº 18, Out/Dez de 2005, Editora Fórum: São
Paulo. p.63) (grifos da defesa)
Cita, também, a Lei 9.615/98 (“Lei Pelé”) que expressamente permite o repasse de recursos
públicos a entidades de prática desportiva participantes de competições profissionais, como
é o caso do Linhares Futebol Clube, independentemente da forma jurídica adotada. Nesse
sentido, transcreve o artigo 27 da referida lei:
Art. 27. As entidades de prática desportiva participantes de competições
profissionais e as entidades de administração de desporto ou ligas em que se
organizarem, independentemente da forma jurídica adotada , sujeitam os bens
o
particulares de seus dirigentes ao disposto no art. 50 da Lei n 10.406, de 10 de janeiro
de 2002, além das sanções e responsabilidades previstas no caput do art. 1.017 da Lei
o
n 10.406, de 10 de janeiro de 2002, na hipótese de aplicarem créditos ou bens sociais
da entidade desportiva em proveito próprio ou de terceiros.
(...)
§ 6º Sem prejuízo de outros requisitos previstos em lei, as entidades de que trata o
caput deste artigo somente poderão obter financiamento com recursos públicos
ou fazer jus a programas de recuperação econômico-financeiros se,
cumulativamente, atenderem às seguintes condições: (grifos da defesa)

Argumenta que é irrelevante se tratar ou não de entidade com fins lucrativos, pois, a verba
pública não foi revertida em lucro da entidade.
Afirma que o repasse foi inteiramente aplicado no objeto proposto (aquisição de materiais,
pagamento de diárias e inscrições e competições, salários dos atletas, etc.), conforme se
pode observar com as prestações de contas apresentadas pela entidade beneficiada
(processo administrativo 938/2012 – cópia juntada às fls. 6655 a 6810).
Esclarece que o Linhares Futebol Clube era o único time de futebol da cidade a participar do
campeonato estadual. Dessa forma, justifica que era desnecessário efetuar uma seleção
pública para eleger o beneficiado. E completa: o critério objetivo para a concessão do

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repasse era disputar o campeonato estadual de futebol e somente um time preenchia este
requisito.
Ressalta que o repasse das verbas para a referida entidade foi precedido de lei municipal;
apresentação e cumprimento de plano de trabalho; apresentação de prestação de contas e
aplicação integral do montante em inegável finalidade pública, qual seja, fomentar o
desporto no âmbito do Município.
Sendo assim, conclui que não existiu dano ao erário municipal, ainda que se reconheça
algum equívoco nas formalidades para o repasse (se convênio, subvenção, patrocínio),
como por exemplo, sobre o fato da contabilização no “código 50 – transferências a
instituições privadas sem fins lucrativos”.
Por fim, argumenta que os repasses efetuados ao Linhares Futebol Clube têm natureza de
subvenção social, uma vez que a legislação prevê esse tipo de transferência às áreas
médicas, educacional, como também na área social, no que tange à cultura e ao esporte,
independentemente da forma jurídica adotada.

2 – Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva:


O defendente argumenta que o parecer emitido na época foi com base nas Leis Municipais
descritas nos autos, que autorizavam os repasses ao Linhares Futebol Clube.
Ressalta que é público e notório que tais repasses sempre foram realizados pelos
administradores públicos por muitos anos, sem qualquer questionamento administrativo ou
judicial de inconstitucionalidade concernente às referidas leis.
Análise:
A equipe de auditoria argumenta que não havia justificativas, motivação e demonstração do
interesse público e, tampouco, previsão legal no ordenamento jurídico para transferir
recursos para entidade esportiva com fins lucrativos, o que acarretaria o ressarcimento ao
erário de todo o valor repassado, R$200.000,00, ao Linhares Futebol Clube, no exercício de
2012, mediante Convênio 2/2012.
Antes de adentrar na análise do caso concreto, é importante destacar que a existência de
interesse público na prática do esporte é inegável. E o futebol, esporte mais praticado no
país, é sem dúvida um fenômeno econômico, mas sobretudo social, uma vez que os clubes
são responsáveis não só pela formação de atletas na área esportiva, mas também pela
educação, moradia, alimentação, acompanhamento médico, dentre outros.
Ressalta-se ainda, que o futebol desempenha importante papel de inclusão social, pois
muitas vezes, evita a marginalização de milhares de jovens que não teriam oportunidade na
vida laboral.
Não diferentemente, entendeu o legislador constituinte de 1988, que materializou o direito
ao desporto no texto constitucional, solidificando-o como um direito social, ou seja, um
direito fundamental de segunda geração, hierarquicamente equiparado à educação e à
cultura em importância.
Assim, o fomento da prática desportiva, em todos os sentidos, que incluem o desporto de
alto rendimento, gênero do qual faz parte o futebol profissional, torna-se um dever do
Estado brasileiro em um compromisso deste para com o cidadão.
Conforme ressaltado no subitem 3.3.1.1, coube à legislação infraconstitucional (Lei Federal
9.615/98) expressamente permitir o repasse de verbas públicas a entidades desportivas
profissionais, independentemente da forma jurídica adotada (artigo 27, caput, § 6º).
31
Dessa forma, considerando a normatização existente, Jorge Ulisses Jacoby F ernandes
afirmou que é possível a concessão de subvenções sociais a clubes de futebol, desde que
obedecidos os princípios constitucionais administrativos, principalmente a impessoalidade,

31
Concessão de Subvenção Social a Clubes de Futebol. Revista Brasileira de Direito Municipal RBDM
Belo Horizonte, n.1 8, ano 6, Outubro / Dezembro 2005 Disponível em :
http://www.bidforum.com.br/bid/PDI0006.aspx?pdiCntd=33294 >. Acesso em: 5 dez. 2017.

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haja lei autorizativa específica, atender às condições estabelecidas na lei de diretrizes


orçamentárias, estar prevista no orçamento ou em seus créditos adicionais (artigo 26 da Lei
de Responsabilidade Fiscal) e a devida prestação de contas.
No mesmo sentido, encontra-se o Parecer Consulta 02/2007, deste TCE-ES, segundo o
qual a destinação de recursos públicos a entidades esportivas profissionais compõe o rol de
opções político-legislativas do Município. Segue transcrito o seguinte trecho:
“Pode a Administração Pública Municipal patrocinar, subvencionar, ou prestar
qualquer outro tipo de apoio financeiro a associações esportivas profissionais?”
(...) o princípio constitucional da impessoalidade aplicado à administração
pública deve aliar-se ao princípio da igualdade, tendo como premissa
inafastável, o interesse público. O postulado principiológico deve ser
compreendido a partir de premissas de precedência incondicionada ou
condicionada. (...) não vejo óbice ao fomento ao desporto amador ou
profissional, como opção político-legislativa do município, observado o princípio
da impessoalidade quando da edição do regramento, além de nele estabelecer
critérios objetivos de concessão, planos de aplicação dos recursos e, prestação
de contas.
(...) no caso de desporto profissional, como ora suscitado pelo consulente, além
da observância à Carta Federal e Estadual, para o seu fomento é imperativo
ser observada às normas insertas na Lei Federal nº. 9.615/98, alterada pelas
Leis 9.981/00, 10.264/01 e 10.672/03; Deverá ainda ser observado o art. 26 da
Lei de Responsabilidade Fiscal para a destinação de recursos a pessoas
físicas ou jurídicas, autorizando-se através de lei específica, além de atender
às condições estabelecidas na Lei de Diretrizes Orçamentárias e previsão na
Lei Orçamentária Anual ou, em seus créditos adicionais , dentro dos ditames da
Lei Federal n. 4.320/64, relativamente à forma contábil e orçamentária, e à
observância de compatibilidade das atividades desenvolvidas pelos entes
beneficiados, além da necessidade de apresentação das respectivas
prestações de contas. (gn)

Analisando os documentos carreados aos autos pela equipe de auditoria e pela defesa,
verifica-se que o Convênio 2/2012 foi firmado com o único clube profissional da cidade,
Linhares Futebol Clube, que participava da principal competição oficial da Federação
Capixaba de Futebol, no 1º semestre de 2012, o Campeonato Capixaba da 1ª divisão.
Portanto, não há que se questionar o descumprimento ao princípio da impessoalidade.
Verifica-se, por outro lado, que não foram estabelecidas na LDO do Município as condições
e exigências para as transferências de recursos a entidades privadas. No entanto, o referido
ajuste, em 2012, ocorreu sob a égide de uma Lei específica (Lei 3.147/2011), tornando o ato
ainda mais sólido, pois o processo legislativo que representa a aprovação da sociedade não
deixou de ser observado.
Destaca-se, ainda, que a referida lei condicionava o repasse do recurso à apresentação de
um plano de aplicação e exigia a devida prestação de contas.
Do plano de aplicação (acostado aos autos fls. 6659 a 6661), depreende-se que o repasse
tinha como objeto específico o apoio financeiro ao citado clube para atender a despesas
com a folha de pagamento, alimentação, transporte, hospedagem dos atletas, aluguel de
campo, aluguel de moradia dos atletas, aquisição de material esportivo e taxas junto à
Federação Capixaba de Futebol (borderôs e inscrições de atletas), para efetivar a
participação no Campeonato Capixaba de Futebol profissional da 1ª divisão no ano de
2012.
Sem pretender emitir juízo de valor quanto à regularidade da prestação de contas em sua
plenitude, tarefa que cabia ao órgão repassador ou à equipe deste Tribunal de Contas,
quando do trabalho de fiscalização, verifica-se que a entidade não deixou de aplicar os
recursos públicos em sua atividade principal, o futebol, uma vez que constam dos
documentos entregues à Prefeitura (acostados aos autos 6706 a 6810) notas fiscais e
recibos, tendo como pagador o Linhares Futebol Clube, relativos à aquisição de materiais

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esportivos (camisas, calções, meiões, bolas, etc.), à contratação de serviços de transporte,


à aquisição de alimentos e água mineral, a aluguéis de moradia dos atletas e a aluguéis de
campo para as partidas como mandante.
Infere-se, assim, que a concessão de recursos públicos ao Linhares Futebol Clube
obedeceu aos princípios da impessoalidade, transparência e publicidade, uma vez que foi
efetivada mediante lei autorizativa específica, que exigia o plano de aplicação de recursos,
bem como a devida prestação de contas.
Contata-se, também, que não há indício de que o recurso tenha sido aplicado pelo
beneficiário em objetivo diverso do Convênio firmado, qual seja, o apoio financeiro para o
departamento de futebol.
Isto posto, opina-se pelo afastamento da irregularidade, sugerindo o encaminhamento de
determinação à atual gestão do Município de Linhares para que faça constar no projeto de
Lei de Diretrizes Orçamentárias as condições e exigências para as transferências de
recursos a entidades públicas e privadas, em cumprimento aos artigos 4º, inciso I, alínea f; e
artigo 26, caput, da Lei de Responsabilidade Fiscal.

3.3.2 Associação Brasileira dos Municípios com Terminais Marítimos, Fluviais e


Terrestres para embarque e desembarque de petróleo e gás natural – ABRAMT
(Processo 572/2012). (subitem 5.3.2 do RAO)
A equipe de auditoria constatou que a Prefeitura de Linhares repassou recursos para a
Associação Brasileira dos Municípios com Terminais Marítimos, Fluviais e Terrestres para
Embarque e Desembarque de Petróleo e Gás Natural – ABRAMT, no ano de 2012, no valor
mensal de R$8.000,00, totalizando R$96.000,00.
Não há nos autos do Processo 572/12 qualquer informação sobre a entidade beneficiada, a
autorização legal, o motivo dos repasses, a justificativa para transferir recursos públicos à
entidade privada, pareceres técnicos ou jurídicos, termo contratual (ou convenial), prestação
de contas, notas ou documentos fiscais (próprias e/ou de terceiros).

Nos anos de 2010 e 2011 foram pagos, respectivamente, à ABRAMT os valores de


R$136.000,00 e R$96.000,00, conforme pesquisa no Sisaud.
Não há, ainda, informações sobre a entidade (contrato social, área ou objeto de atuação,
site, endereço, constituição societária, comprovação da regularidade fiscal, jurídica e legal
etc.), exceto o número do CNPJ (05.419.535/0001-15).
O Processo 572/12 (datado de 09/01/12) é formado apenas do Ofício do Secretário de
Finanças, José Carlos Pereira, solicitando o empenho no valor de R$96.000,00 em favor da
entidade (fls. 02), a Nota de Empenho 211/12 e respectivas Notas de Liquidação e
Pagamento.
Não há, sequer, a autorização do ordenador de despesas para a realização da transferência
à entidade privada.
Os repasses foram realizados no “Projeto/atividade 3.005-Apoio à Associações Estaduais e
Federais” e no “Elemento de despesa 333.50.41.00000-Contribuições ”.

3.3.2.1 Justificativas e motivação insuficientes e ausência da demonstração do


interesse público para a contratação, ausência de termo contratual (contrato verbal
com a administração) e ausência de prestação de contas dos recursos recebido s.
Ressarcimento. (subitem 5.3.2.1 do RAO)
Base legal: Princípios da legalidade, da justificativa, do interesse público, da motivação
pública – CF artigo 37, caput, e Constituição do Estado do Espírito Santo, art. 32; Lei
8.666/93, artigo 60, § único; CF, artigo 70, § único.
Relatório de Auditoria:

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Identificação dos responsáveis:


1- Guerino Luiz Zanon, Prefeito Municipal, ordenador de despesas
Conduta: Aprovar o repasse de recursos à entidade sem justificativas, sem a
demonstração do interesse público, sem firmar termo contratual (contrato verbal) e
omitir-se de exigir a prestação de contas dos recursos repassados.
Nexo: Causar dano ao erário.

2- ABRAMT, Associação recebedora de recursos públicos


Conduta: Receber recursos municipais sem justificativas, sem a demonstração do
interesse público, sem firmar termo contratual (contrato verbal) e sem a prestação de
contas dos recursos recebidos.
Nexo: Causar dano ao erário.
Relato do indício de irregularidade:
A equipe constatou que a Prefeitura de Linhares repassou à entidade Associação Brasileira
dos Municípios com Terminais Marítimos, Fluviais e Terrestres para Embarque e
Desembarque de Petróleo e Gás Natural (ABRAMT), em 2012, o valor de R$96.000,00
(Tabela 15).
Conforme exposto, o Processo 572/12 é formado apenas do Ofício do Secretário de
Finanças, José Carlos Pereira, solicitando o empenho no valor de R$96.000,00 em favor da
entidade (fls. 02), a Nota de Empenho 211/12 e respectivas Notas de Liquidação e
Pagamento.
A equipe entende que cabe ao beneficiário iniciar o processo de repasses na forma de
contribuição, elencando os motivos e justificativas – especialmente públicas – suficientes
para demonstrar ao ente repassador a vantagem do ajuste.
Em etapa subsequente, o ordenador de despesas deveria, cautelarmente, avaliar – com o
auxílio de pareceres técnicos e jurídicos – se a motivação e justificativas apresentadas,
além da própria condição (operacional, jurídica e legal) da beneficiária, são adequadas e
bastantes para merecer o repasse dos escassos recursos públic os.
E ainda que não haja a contraprestação direta em bens ou serviços, não ficam os
agentes desobrigados de firmar termo contratual e prestar contas dos recursos
públicos repassados na forma de contribuição – no caso, na forma de “mesada” de
R$8.000,00 por mês (vide Tabela 16):
Constituição Federal, art. 70. A fiscalização contábil, financeira, orçamentária,
operacional e patrimonial da União e das entidades da administração direta e indireta,
quanto à legalidade, legitimidade, economicidade, aplicação das subvenções e
renúncia de receitas, será exercida pelo Congresso Nacional, mediante controle
externo, e pelo sistema de controle interno de cada Poder.

Parágrafo único. Prestará contas qualquer pessoa física ou entidade


pública que utilize, arrecade, guarde, gerencie ou administre dinheiros,
bens e valores públicos ou pelos quais a União responda, ou que, em
nome desta, assuma obrigações de natureza pecuniária.

Acórdão TCU nº 1.928/2005. A omissão no dever de prestar contas


viola princípio fundamental da República, constitui ato de improbidade
administrativa e crime de responsabilidade e faz nascer à presunção de
desvio dos recursos.
No Processo em tela, não existe qualquer informação sobre a entidade beneficiada,
sobre os serviços ou trabalhos que realiza, sócios- proprietários e estrutura
funcionais, endereço ou números de telefone, papel timbrado ou carimbo.

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Também não existe qualquer referência à necessidade e à utilização dos recursos


recebidos da prefeitura de Linhares: não se tem qualquer ideia do destino de tais
recursos, se foram utilizados para o pagamento de pessoal, para a prestação de
serviços, para a intermediação de outros contratos e os respectivos custos relativos.
(...)
A equipe entende que a ausência de comprovação da correta e boa aplicaç ão de
recursos públicos, além da ausência de justificativas e motivação e da prestação de
contas são motivos para a glosa e o ressarcimento das despesas.
Valor passível de ressarcimento: R$96.000,00 (42.498,56 VRTEs)
Responsáveis solidários: Guerino Luiz Zanon e ABRAMT

Justificativas:
1 – Guerino Luiz Zanon:
A defesa alega que não se trata de uma contratação entre duas pessoas jurídicas
estranhas, pois o Município de Linhares é parte integrante, associado à ABRAMT, tendo,
portanto, o dever de contribuir com a entidade.
Nesse sentido, informa que foi editada Lei Municipal autorizando os repasses, formalizados
em processos administrativos.
Informa que, a ABRAMT agrega 23 municípios com um interesse comum, qual seja: manter
a distribuição desigual de royalties de petróleo e gás natural para os municípios que
possuam terminais de embarque e desembarque de tais produtos.
Alega que estes Municípios estão constantemente envolvidos em demanda judiciais
discutindo a forma de distribuição dos royalties de petróleo, sempre objeto de ataque pelos
municípios que não possuem terminais de embarque e desembarque e/ou Estados para
quem a distribuição desigual gera receita menor. Acrescenta, também, que os Municípios
associados têm interesse comum em aprimorar seus conhecimentos técnicos e jurídicos
sobre o assunto e em defender a correta interpretação da lei.

Esclarece, ainda, que a ABRAMT tem legitimidade para intervir na qualidade de terceiro
(amicus curiae ou assistente simples) para exercer defesa efetiva e sólida em prol dos
associados (dentre eles o Município de Linhares) na manutenção da distribuição de royalties
diferenciados. E completa: “Ou seja, a afirmação de que não haveria interesse público na
‘contratação’ da ABRAMT beira o absurdo, pois o Município de Linhares possui terminal de
gás natural e é público e notório seu interesse em manter a distribuição dos royalties de
forma diferenciada diante dos municípios não produtores”.
Por fim, pleiteia o afastamento da irregularidade por ausência de termo contratual e
ausência de prestação de contas, uma vez que se está diante de contribuições de um
associado para com Associação que representa o Município de Linhares. Sendo, ainda,
incontestável o interesse do Município em integrar a referida Associação e contribuir para
sua existência e funcionamento na defesa de seus interesses enquanto sede de terminal de
gás natural.

2 – ABRAMT:
A defesa lembra que a Câmara de Vereadores do Município de Linhares autorizou, através
das Leis 2.501/2005 e 2.908/2009, a associação do Munic ípio, bem como a contribuição
para a ABRAMT.
Informa que, a ABRAMT representa 23 Municípios em pleitos junto a Agência Nacional do
Petróleo (ANP), Petrobrás, STF e outros.
Destaca que, nos últimos anos, atuando em demandas judiciais em defesa da manutenção
dos critérios de distribuição dos royalties de interesse dos Municípios associados, derrubou

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mais de 50 liminares que haviam sido deferidas em favor de Municípios que não possuem
instalações de operações de embarque e desembarque de petróleo e gás natural.
Esclarece que, conforme estabelecido em Estatuto, a ABRAMT tem como objetivo
primordial defender os interesses dos associados e eventualmente de outros municípios que
se tornarem sedes de terminais marítimos, fluviais ou terrestres, para embarque e
desembarque de petróleo e gás natural e estejam inseridos no âmbito da Lei Federal
7.990/89, que criou compensação financeira ou participação na distribuição de royalties de
petróleo aos municípios que dispõem de terminais.
E para realizar seu objetivo, a defesa informa que a associação conta com equipe jurídica
que ingressa com todas as medidas judiciais necessárias, em nome de seus associados,
bem como seus assessores que estão sempre disponíveis para auxiliar a esclarecer
situações surgidas no mês a mês de distribuição dos royalties.
Informa, também, que acompanha o andamento na Câmara de todos os projetos de Lei
Complementar, cujas matérias sejam de interesse dos municípios afetados, além de apoiar
e defender o Poder regulador da ANP, para que os royalties sejam apenas distribuídos entre
os municípios inseridos na cadeia extrativa de petróleo e gás natural.
Colaciona algumas notícias veiculadas na internet, em portais de revistas especializadas em
gestão pública, das prefeituras e do STF, que destacam as atividades judiciais e
extrajudiciais desenvolvidas pela ABRAMT em favor dos Municípios associados (acostadas
aos autos TC às fls. 3936 a 3943).
Colaciona, também, alguns dos trabalhos que foram realizados:
 Ações diretas de inconstitucionalidade, nas quais a ABRAMT figura na qualidade de amicus
curiae e como autora: 4916; 4917; 4918; 4920; e 5038 (fls. 3845 a 3849 dos autos TC); e
 Processos movidos por municípios espalhados pelo Brasil na qualidade de Assistente
Simples da Agência Nacional do Petróleo, nas ações que foram interpostas face à nova lei
de distribuição de royalties (Lei 12.734/2012) (trâmite processual no TRF da 1ª Região
acostado aos autos TC às fls. 4042 a 4049).

Por fim, a defesa faz um relato extenso (fls. 3850 a 3854 dos autos TC) dos serviços
jurídicos prestados pela ABRAMT para o Município de Linhares, na tentativa de reverter a
perda de repasse de royalties pelo Município após a edição da Lei 12.734/2012.

Análise:
A equipe de auditoria questiona os repasses mensais de R$8.000,00 feitos no exercício de
2012 à ABRAMT, sobre o argumento de que não havia nos autos do Processo 572/2012
qualquer informação sobre a entidade beneficiada, a autorização legal, o motivo dos
repasses, a justificativa para transferir recursos públicos à entidade privada, pareceres
técnicos ou jurídicos, termo contratual (ou convenial), prestação de contas, notas ou
documentos fiscais (próprias e/ou de terceiros).
Antes de adentrar na análise do caso concreto, é importante tecer considerações sobre as
condições que conferem legitimidade da adesão dos municípios a associações
representativas, bem como sobre as contribuições financeiras efetivadas:
Preliminarmente, ressalta-se que não há óbice constitucional à participação dos municípios
em associações que os represente, uma vez que a Constituição Federal adotou o “livre
32
associativismo” (artigo 5º, inciso XVII ) e há muito se reconhece a aplicabilidade desse
princípio tanto para pessoas físicas quanto jurídicas. Nesse sentido, destaca-se o seguinte
trecho do voto do Ministro Celso de Melo na ADI 3.045:
(...) Revela-se importante assinalar, neste ponto, que a liberdade de associação
tem uma dimensão positiva, pois assegura a qualquer pessoa (física ou jurídica) o

32
Art. 5 (…)
(…)
XVII - é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar;

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direito de associar-se e de formar associações. (ADI 3.045, voto do Rel. Min. Celso
de Mello, julgado em 10.08.2005, Plenário, DJ 1.6.2007).
Infere-se, também, que, a adesão a associações não pode estar condicionada à edição de
uma lei específica, porque se trata de norma constitucional de eficácia plena, ou seja, que
dispensa a normatização infraconstitucional, tornando-se possível sua aplicação de maneira
direta, imediata e integral.
Contudo, a destinação de recursos públicos para as associações de municípios deve
obedecer ao disposto no art. 26 da Lei de Responsabilidade Fiscal – LRF, que assim
estabelece:
Art. 26. A destinação de recursos para, direta ou indiretamente, cobrir
necessidades de pessoas físicas ou déficits de pessoas jurídicas deverá ser
autorizada por lei específica, atender às condições estabelecidas na lei de
diretrizes orçamentárias e estar prevista no orçamento ou em seus créditos
adicionais.
Nesse sentido, o Tribunal de Contas do Estado de Santa Catarina já se manifestou nos
termos do seguinte Prejulgado:
Prejulgado nº 955
São legítimas as contribuições mensais dos Municípios para manutenção de
associações de municípios, desde que tais despesas sejam instituídas por lei e
estejam previstas pela Lei de Diretrizes Orçamentárias e pela respectiva Lei do
Orçamento, conforme as normas previstas pela Lei Federal nº 4.320/64 e na
Lei Complementar nº 101/00.
Dessa forma, quaisquer aportes de recursos a associações de municípios deverão ser
objeto de lei específica, atender as disposições da Lei de Diretrizes Orçamentárias, além de
estar previsto na Lei Orçamentária Anual.
Quanto à relação jurídica estabelecida entre os Municípios e suas associações
representativas, o Pleno do Tribunal de Contas do Estado do Mato Grosso, em resposta à
consulta formulada pelo presidente da Associação Mato Grossense dos Municípios
33
(Processo TC 9997-0/2015) , entendeu que o contrato não é o instrumento adequado para
a realização dos repasses dos municípios associados, mas sim o Termo de Filiação ou
instrumento equivalente, que contenha cláusulas objetivas estabelecendo normas para a
preservação e manutenção da relação, entre elas, o valor da contribuição, a forma e data do
repasse e a periodicidade.
Isso porque, conforme destacado pelo Relator do referido Processo, Conselheiro Valter
Albano, o art. 53 do Código Civil Brasileiro estabelece que as associações se constituem
pela união de pessoas (físicas ou jurídicas) para fins não econômicos, inexistindo entre os
associados, quaisquer direitos e obrigações recíprocos. Dessa forma os valores das
contribuições associativas têm caráter de colaboração.
No entanto, é importante ressaltar que, as associações têm o dever constitucional de
prestação de contas, como toda e qualquer entidade que utiliza, arrecada, guarda, gerencia
ou administra dinheiros, bens e valores públicos (artigo 70, parágrafo único, da CRFB).
34
Nesse sentido, o Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais, em resposta à consulta ,
entendeu que além de prestarem contas aos Municípios repassadores, os seus respectivos
responsáveis legais têm o dever de prestar contas ao Tribunal de Contas.
Transcreve-se trecho do Parecer exarado pelo Conselheiro Eduardo Carone Costa:
(...)

33
Resolução de Consulta 7/2015 - TP, do Tribunal de Contas do Estado do Mato Grosso, nos autos do
Processo TC 9997-0/2015, disponível em www.tce.mt.gov.br. Acesso em 8 de dezembro de 2017.
34
Consulta n. 731.118. Revista do Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais, abril/maio/junho 2009,
V. 71, número 2, ano XXVII, publicada em www.revista.tce.mg.gov.br. Acesso em 9 de dezembro de
2017.

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3ª questão: A transferência voluntária de recursos do Estado e da União para


as entidades associativas de Municípios implica prestação de contas da
utilização desses recursos?
A matéria abordada pelo consulente já foi apreciada por este Tribunal quando
da resposta à Consulta de n. 679.066, de minha relatoria, aprovada por
unanimidade na Sessão Plenária do dia 03/12/2003, quando se firmou o
entendimento da obrigatoriedade de as associações microrregionais prestarem
contas a este Tribunal. Nos termos do art. 70, parágrafo único, da Constituição
da República, prestará contas qualquer pessoa física ou entidade pública que
utilize, arrecade, guarde, gerencie ou administre dinheiros, bens e valores
públicos ou pelos quais a União responda, ou que, em nome desta, assuma
obrigações de natureza pecuniária.
Por sua vez, o inc. II do art. 71 também da vigente Carta Federal, combinado
com o art. 75, prevê a competência dos tribunais de contas para julgar as
contas dos administradores e demais responsáveis por dinheiros, bens e
valores públicos.
No mesmo sentido, estatui a Lei Complementar n. 33, de 28 de junho de 1994,
Lei Orgânica do Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais, no inc. V de
seu art. 2°:
Art. 2° O Tribunal de Contas tem jurisdição em todo o território do Estado,
sobre as pessoas e matérias sujeitas à sua competência, e abrange:
(...)
V — os responsáveis por entidades dotadas de personalidade jurídica de
direito privado que recebam contribuições ou subvenções do Poder Público
estadual ou municipal;
(...)
Nesse contexto, sendo as associações microrregionais mantidas com recursos
públicos, além de prestarem contas aos Municípios repassadores , os seus
respectivos responsáveis legais têm o dever de prestar contas ao Tribunal de
Contas, nos termos constitucionais e legais citados.
(grifos nossos)
Ressalva-se que, aqui o objeto de análise se restringirá à obrigação da ABRAMT de prestar
contas ao Município de Linhares, questão suscitada pela auditoria.
Feitas essas importantes considerações, voltamos à análise das transferências efetuadas
pelo Município de Linhares a referida Associação:
Analisando os documentos carreados aos autos pela defesa, verifica-se que a ABRAMT,
congrega 23 municípios espalhados por todo o país, tendo Linhares como um dos
responsáveis pela sua criação.
Trata-se de uma associação civil, constituindo-se em pessoa jurídica de direito privado, sem
fins econômicos, com autonomia administrativa e financeira, de duração indeterminada e
conforme expresso no artigo 6,º do seu Estatuto, tem os seguintes objetivos básicos:
Art. 6º - A ABRAMT tem como objetivos básicos:
I - Defender os interesses dos associados e eventualmente de outros
municípios que se tornarem sedes de terminais marítimos. fluviais ou terrestres
para embarque desembarque de petróleo e gás natural e dos municípios
afetados, por estas operações, desde que se tornem integrantes desta
Associação e estejam inseridos no espírito da legislação Federal vigente de
compensação financeira ou participação na distribuição dos royalties de
petróleo aos terminais.
II - Defender a efetiva participação da Associação, enquanto representante
destes municípios, nos assuntos que motivaram a criação da entidade.

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III- Promover encontros periódicos entre os municípios participantes, visando


não só a troca de experiências na aplicação dos recursos oriundos dos
royalties, bem como discussões para soluções de problemas comuns a todos
gerados em consequência da instalação e operação dos terminais marítimos
ou fluviais de petróleo e gás natural, nos municípios desta Associação.
IV - Apoiar todas as iniciativas de desenvolvimento de tecnologia que estejam
voltadas à proteção do meio ambiente.
V - Apoiar a Petrobrás como empresa brasileira, e em reconhecimento a tudo o
que já realizou para o País e o muito que ainda poderá fazê-lo como
instrumento de interesse dos próprios municípios.
VI - Reconhecer a Agência Nacional do Petróleo – como órgão com amplo
poder regulador nos termos estabelecidos na legislação e suas resoluções;
Vll - Colaborar com a ANP na condição de assistente simples nos processos
promovidos pelos municípios que buscam no poder judiciário o recebimento de
royalties.
Vlll -- Manter os associados informados sobre todos os assuntos de interesse e
distribuição de royalties.
A defesa esclarece, também, que a Associação desempenha um importante papel, por meio
de encontros técnicos, atividades judiciais e extrajudiciais, além de atuar em conjunto com a
Agência Nacional do Petróleo, na defesa dos municípios que fazem parte da cadeia
produtiva do petróleo.
Na peça contestatória, faz também um relato extenso (fls. 3850 a 3854 dos autos TC) dos
serviços jurídicos prestados diretamente ao Município de Linhares, na tentativa de reverter a
perda de repasse de royalties pelo Município após a edição da Lei 12.734/2012.

Nota-se que, por meio da Associação, os municípios buscam atingir interesses públicos
secundários da própria administração, e não primários da colet ividade.
35 36
Nesse sentido, sustenta Luis Roberto Barroso (2007, apud VIEGAS , 2011) que:
(...) o interesse público primário é a razão de ser do Estado e sintetiza-se nos
fins que cabe a ele promover: justiça, segurança e bem-estar social. Estes são
os interesses de toda a sociedade. O interesse público secundário é o da
pessoa jurídica de direito público que seja parte em uma determinada relação
jurídica – quer se trate da União, do Estado-membro, do Município ou das suas
autarquias. Em ampla medida, pode ser identificado como o interesse do
erário, que é o de maximizar a arrecadação e minimizar as despesas. Assinala
o autor que decorre dessa distinção a conformação constitucional das esferas
de atuação do Ministério Público e da Advocacia Pública. Ao primeiro cabe a
defesa do interesse público primário; à segunda, a do interesse público
secundário. Acrescenta ainda que, naturalmente, em nenhuma hipótese será
legítimo sacrificar o interesse público primário com o objetivo de satisfazer o
secundário. (grifos nossos)
Vê-se, portanto, que, ao contribuir mensalmente para a ABRAMT, na qualidade de
associado, os gestores do Município de Linhares estavam privilegiando o interesse do

35
BARROSO, Luis Roberto. Prefácio à obra Interesses Públicos versus Interesses Privados:
desconstruindo o principio de supremacia do interesse publico. 2ª tiragem. Editora Lúmen Júris. Rio de
Janeiro, 2007. p. XIII-XIV.
36
VIEGAS, Cláudia Mara de Almeida Rabelo. O princípio da supremacia do interesse público: Uma visão
crítica da sua devida conformação e aplicação. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XIV, n. 86, mar
2011.Disponível em: http://www.ambito-
juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=9092&revista_caderno=4 .
Acesso em 10 dez. 2017.

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erário, uma vez que as ações da Associação são no sentido de preservar ou reconquistar
uma importante fonte de receita, os royalties de petróleo.
Verifica-se, contudo, que, para estabelecer a relação jurídica com a Associação, o Município
de Linhares não firmou um Termo de Filiação ou instrumento equivalente, contendo
cláusulas objetivas que estabelecessem o valor da contribuição, a forma, a data do repasse,
a periodicidade, bem como o prazo e a definição dos documentos que deveriam ser
apresentados pela entidade beneficiada para prestação de contas.
Embora ausente a prestação de contas da entidade como processo administrativo da
Prefeitura, a defesa junta cópias de diversas atas de Assembleias Gerais Ordinárias (de
2005 a 2015), com registros de presença recorrente dos representantes do Município de
Linhares, na qual foram apreciadas e aprovadas prestações de contas da Diretoria da
ABRAMT, compostas por balanço anual e inventários financeiros e patrimoniais.
Verifica-se, também que, a contribuição mensal, no valor de R$8.000,00, efetuada durante o
exercício de 2012, ocorreu sob a égide de uma Lei específica (Lei 2.908/2009), tornando o
ato ainda mais sólido, pois o processo legislativo que representa a aprovação da sociedade
não deixou de ser observado.
Constata-se, por outro lado, que não foram estabelecidas na LDO do Município as
condições e exigências para as transferências de recursos a entidades privadas, como o
caso ora analisado. No entanto, a contribuição para a ABRAMT estava prevista no
orçamento de 2012 (Lei Orçamentária 3.150/2011), como contribuições a apoio a
Associações Estaduais e Federais (elemento de despesa – 333504100000 e atividade
3.005).
Ante o todo exposto, considerando que havia interesse público e legitimidade para a adesão
e contribuição financeira do Município de Linhares para com a ABRAMT, entende-se pelo
afastamento da irregularidade e, por oportuno, sugere-se o encaminhamento de
determinação a atual gestão do Município de Linhares para que formalize as adesões a
Associações, considerando:
a) Lei específica autorizando o repasse financeiro a Associações de Municípios, em
cumprimento ao artigo 26, caput, da LRF;
b) Condições e exigências para as transferências de recursos a entidades públicas e
privadas (dentre essas, as Associações), em cumprimento aos artigos 4º, inciso I,
alínea f; e artigo 26, caput, da LRF;
c) Termo de Filiação ou instrumento equivalente; e
d) Prestação de Contas da Associação beneficiada, como processo administrativo
autuado na Prefeitura de Linhares.

4 CONCLUSÃO / PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO

4.1 IRREGULARIDADES MANTIDAS


Levando em consideração as análises aqui procedidas e as motivações adotadas nestes autos, que
versam sobre a Auditoria realizada na Prefeitura Municipal de Linhares, tendo como referência os
atos de gestão praticados no exercício de 2012, sugere-se a manutenção das seguintes irregularidades
descritas no RAO 102/2014 e ITI 565/2015.
4.1.1 Processo 9369/2012:
4.1.1.1 Restrição ao caráter competitivo do certame . (subitem 5.1.1.1 do RAO)
Base legal: Arts. 3º, II e 9º da Lei 10.520/02 c/c o art. 3º, § 1º, inciso I, e Art.30, inciso I e IV, ambos da
Lei 8666/93.
Responsáveis: Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva e Thiago Monteiro Bonatto.
4.1.1.2 Ausência de planilhas de preços unitários. (subitem 5.1.1.2 do RAO)
Base legal: Arts. 3º, III, e 9º da Lei 10.520/02 c/c o art. 7º, § 2º, inciso II e art. 40, § 2º, inciso II, da Lei
8.666/93.

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Responsáveis: Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva, José Jair Reali e Thiago Monteiro Bonatto.
4.1.1.3 Ausência de interesse público. (subitem 5.1.1.4 do RAO)
Base legal: Art. 37, “caput”, da Constituição da República Federativa do Brasil; e Art. 32, caput, da
Constituição Estadual.
Responsável: José Jair Reali
4.1.2 Processo 11.789/2012:
4.1.2.1 Ausência de planilhas de preços unitários. (subitem 5.1.2.2 do RAO)
Base legal: Arts. 3º, III, e 9º da Lei 10.520/02 c/c o art. 7º, § 2º, inciso II e art. 40, §2º, inciso II da Lei
8.666/93.
Responsável: Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva, José Jair Reali e Thiago Monteiro Bonatto
4.1.2.2 - Ato antieconômico praticado: não demonstração de ingresso nos cofres públicos da
exploração econômica do evento. (subitem 5.1.2.4 do RAO)
Base legal: Art. 37, “caput” da Constituição da República Federativa do Brasil, c/c o art. 32, “caput”, da
Constituição Estadual.
Responsável: José Jair Reali
4.1.3 Processo 13.137/2012
4.1.3.1 Restrição ao caráter competitivo do certame. (subitem 5.1.3.1 do RAO)
Base legal: Art. 3º, II, e 9º da Lei 10.520/02, c/c o art. 3º, § 1º, inciso I, da Lei 8.666/93.
Responsável: Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva, José Jair Reali e Thiago Monteiro Bonatto.

4.1.3.2 Ausência de planilhas de preços unitários. (subitem 5.1.3.2 do RAO)


Base legal: Art. 3º, III, e 9º da Lei 10.520/02 c/c o art. 7º, § 2º, inciso II e art. 40, §2º, inciso II da Lei
8.666/93.
Responsáveis: Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva, José Jair Reali e Thiago M onteiro Bonatto.
4.1.3.3 Ausência de interesse público. (subitem 5.1.3.3 do RAO)
Base legal: Art. 32, caput da Constituição Estadual, c/c o art. 2º da Lei 9.784/99.
Responsável: José Jair Reali
4.1.3.4 Não comprovação da entrega da premiação. (subitem 5.1.3.4 do RAO)
Base legal: Artigos 62, caput, e 63, da Lei 4.320/64.
Responsável: José Jair Reali
4.1.4 Processos de Inexigibilidade (9.020/12; 4.290/12; 8.501/12; 10.997/12; 14.717/12; e 15.114/12):
4.1.4.1 Inexistência de justificativa de preço. (subitem 5.1.4.1 do RAO)
Base legal: Art. 26, parágrafo único, inciso III, da Lei 8.666/93.
Responsáveis: Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva, José Jair Reali, Thiago Bruneli Pessoa*
OBS:*O senhor Thiago Bruneli Pessoa não responde pelos processos 14.717/12 e 15.114/12
4.1.4.2 Ausência de cláusulas contratuais obrigatórias e liquidação inadequada das despesas*.
(subitem 5.1.4.2 do RAO)
Base legal: Art. 55, c/c o art. 3º da Lei 8.666/93; e art. 62, c/c o art. 63 da Lei 4.320/64.
Responsáveis: Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva e José Jair Reali
* Irregularidade mantida apenas quanto à liquidação inadequada das despesas

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4.1.5 Processo 16.692/2012:


4.1.5.1 Liquidação e pagamento irregular da despesa. (subitem 5.2.2.1 do RAO)
Base legal: Artigos 62 e 63 da Lei 4.320/64.
Responsável: José Jair Reali
37
4.2 Posto isso, e diante do preceituado no art. 319, § 1º, inciso IV, da Res. TC 261/2013 ,
conclui-se opinando por:
4.2.1 Rejeitar o incidente de inconstitucionalidade arguido pela auditoria (subitem
5.3.1.1 do relatório), conforme fundamentação exposta no subitem 2.1 desta Instrução
Técnica Conclusiva.
4.2.2 Acolher a preliminar de ilegitimidade passiva suscitada pela defesa do senhor
Guerino Luiz Zanon para figurar como responsável pelas irregularidades descritas no RAO
102/2014 e ITI 565/2015, conforme descrito no item 2.2 desta Instrução Técnica Conclusiva.
4.2.3 Rejeitar a preliminar de ilegitimidade passiva suscitada pelos senhores Paulo
Roberto Vieira Caldellas, Thiago Brunelli Pessoa, Thiago Monteiro Bonatto e Geraldo Tadeu
Scaramussa da Silva, conforme fundamentos expostos, respectivamente, nos itens 2.3 a 2.5
desta ITC.
4.2.4 Julgar irregulares as contas do senhor José Jair Reali –Secretário de Esportes e
Lazer do Município de Linhares –, pela prática de ato ilegal presentificado nos subitens
3.1.1.1, 3.1.1.2, 3.1.1.4, 3.1.2.2, 3.1.2.4, 3.1.3.1, 3.1.3.2, 3.1.3.3, 3.1.3.4, 3.1.4.1, 3.1.4.2 e
3.2.2.1, sugerindo a aplicação de multa , com amparo no artigo 135, II, da Lei
Complementar Estadual 612/2012 e em razão do cometimento de infração que causou
dano injustificado ao erário disposta nos subitens 3.1.1.4, 3.1.2.4 e 3.1.3.3, desta
Instrução Técnica Conclusiva, condenando-o ao ressarcimento do valor equivalente a
R$ 190.011,36 (cento e noventa mil, onze reais e trinta e seis centavos), equivalente a
84.116,76 VRTE ao erário municipal, com amparo no artigo 84, inciso III, alíneas “c”, “d” e
“e” da Lei Complementar 621/2012, opinando ainda, pela aplicação de multa
proporcional ao dano, conforme artigo 134 da LC 621/2012.
4.2.5 Rejeitar as razões de justificativas do senhor Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva –
Procurador Municipal, pela prática de ato ilegal presentificado nos subitens 3.1.1.1,
3.1.1.2, 3.1.2.2, 3.1.3.1, 3.1.3.2, 3.1.4.1, 3.1.4.2, desta Instrução Técnica Conclusiva,
sugerindo a aplicação de multa, com amparo no artigo 135, II, da Lei Complementar
Estadual 612/2012.
4.2.6 Rejeitar as razões de justificativas do senhor Thiago Monteiro Bonatto - Pregoeiro,
pela prática de ato ilegal presentificado nos subitens 3.1.1.1, 3.1.1.2, 3.1.2.2, 3.1.3.1 e
3.1.3.2 desta Instrução Técnica Conclusiva sugerindo a aplicação de multa , com amparo
no artigo 135, II, da Lei Complementar Estadual 612/2012.
4.2.7 Rejeitar as razões de justificativas do senhor Thiago Brunelli Pessoa – Presidente
da Comissão de Licitação –, pela prática de ato ilegal presentificado no subitem 3.1.4.1
desta Instrução Técnica Conclusiva sugerindo a aplicação de multa , com amparo no
artigo 135, II, da Lei Complementar Estadual 612/2012.
4.2.8 Acolher as razões de justificativas do senhor Paulo Roberto Vieira Caldellas –
Auditor Geral, em relação aos indicativos de irregularidades presentificados nos subitens
3.1.1.1, 3.1.1.2, 3.1.1.4, 3.1.2.1, 3.1.2.2, 3.1.2.4, 3.1.3.1, 3.1.3.2, 3.1.3.3, 3.1.4.1 desta
Instrução Técnica Conclusiva, conforme fundamentação exposta nos referidos tópicos.
4.2.9 Acolher as razões de justificativas do senhor Aguinaldo Bernardo, na qualidade de
Fiscal de Contrato, em relação aos indicativos de irregularidades presentificados nos

37
Art. 319. Na fase final da instrução dos processos, constitui formalidade essencial, além do exame da
unidade competente, a elaboração da instrução técnica conclusiva.
§ 1º A instrução técnica conclusiva conterá, necessariamente:
(...)
IV - a conclusão, com a proposta de encaminhamento.

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subitens 3.1.1.3, 3.1.1.5, 3.1.2.3, 3.1.3.4 e 3.1.3.5 desta Instrução Técnica Conclusiva,
conforme fundamentação exposta nos referidos tópicos.
4.2.10 Acolher as razões de justificativas das senhoras Maria de Fátima Fiorino Biancardi
e Sônia Maria Dalmolin de Souza, Secretárias Municipais, em relação ao indicativo de
irregularidade presentificado no subitem 3.2.1.1 desta Instrução Técnica Conclusiva,
conforme fundamentação exposta no referido tópico.
4.2.11 Acolher as razões de justificativas das senhoras: Jussara Carvalho de Oliveira e
Paula Cristina Calmon Jovita Mota; e dos senhores: Antonio Bezerra Neto, Antonio
Roberte Bourguignon, Bruno Margotto Marianelli, Ivan Salvador Filho, João Cleber Bianchi,
Jones da Silva de Freitas Mattos, José Carlos Pereira, Lucas Scaramuss a, Márcio Pimentel
Machado, Marleno Vendramine, Paulo Roberto Pitanga Medina e Sérgio Gabriel Pessotti.
Todos em relação ao indicativo de irregularidade presentificado no subitem 3.2.3.1 desta
Instrução Técnica Conclusiva, conforme fundamentação exposta no referido tópico.
4.2.12 Acolher as razões de justificativas da sociedade empresária LS LOCAÇÕES,
SERVIÇOS e EVENTOS LTDA. EPP, em relação ao indicativo de irregularidade
presentificado no subitem 3.1.3.4, desta Instrução Técnica Conclusiva, conforme
fundamentação exposta no referido tópico.
4.2.13 Acolher as razões de justificativas da sociedade empresária LUMA
CONFECÇÕES, em relação ao indicativo de irregularidade presentificado no subitem
3.2.2.1, desta Instrução Técnica Conclusiva, conforme fundamentaç ão exposta no referido
tópico.
4.2.14 Acolher as razões de justificativas da sociedade empresária MALHARIA
CRISTMARA, em relação ao indicativo de irregularidade presentificado no subitem 3.2.2.1,
desta Instrução Técnica Conclusiva, conforme fundamentação exposta no referido tópico.
4.2.15 Acolher as razões de justificativas da Associação Brasileira dos Municípios com
Terminais Marítimos, Fluviais e Terrestres para Embarque e Desembarque de Petróleo e
Gás Natural - ABRAMT, em relação ao indicativo de irregularidade presentificado no
subitem 3.3.2.1, desta Instrução Técnica Conclusiva, conforme fundamentação exposta no
referido tópico.
4.3 Sugere-se, por fim, a expedição das seguintes DETERMINAÇÕES à atual gestão da
Prefeitura Municipal de Linhares:

4.3.1 Que designe formalmente um servidor para acompanhar a execução dos contratos
de fornecimento de combustíveis, com o propósito de dar pleno cumprimento ao artigo
67 da Lei 8.666/93;
4.3.2 Que faça constar no projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias as condições e
exigências para as transferências de recursos a entidades públicas e privadas, em
cumprimento aos artigos 4º, inciso I, alínea f; e artigo 26, caput, da Lei de
Responsabilidade Fiscal;
4.3.3 Que formalize as adesões a Associações de Municípios, considerando:
a) Lei específica autorizando o repasse financeiro a Associações, em cumprimento ao
artigo 26, caput, da LRF;
b) Condições e exigências para as transferências de recursos a entidades públicas e
privadas (dentre essas, as Associações), em cumprimento aos artigos 4º, inciso I,
alínea f; e artigo 26, caput, da LRF;
c) Termo de Filiação ou instrumento equivalente; e
d) Prestação de Contas da Associação beneficiada, como processo administrativo
autuado na Prefeitura de Linhares.
Em 19 de dezembro de 2017.
[...]”

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Nos itens 3.1.3.4 e 3.2.2.1 da Instrução Técnica Conclusiva 6134/2017 entendeu a área
técnica que as alegações da defesa não afastam o relato do Relatório de Auditoria,
contudo, socorre-se da teoria do dano presumido para afastar o dano em alguns itens
que passo a discorrer.

1. Item 3.1.3.4 da Instrução Conclusiva - Não comprovação da entrega da


premiação. (subitem 5.1.3.4 do RAO) Base legal: Artigos 62, caput, e 63, da Lei
4.320/64.

A auditoria registra que “no Lote 01 do Pregão Presencial 213/12, além da estrutura
para a realização da Etapa Federada Master de Rodeio, foram incluídos os prêmios a
serem entregues aos competidores, nas diversas modalidades da competição. Porém,
nos autos não foram encontradas evidências de que a premiação fora distribuída, nem
a relação dos vencedores” sendo passível de imputação de débito no valor de
26.078,18 VRTE.

O subscritor da instrução conclusiva infere que “uma eventual emissão de juízo


favorável à ocorrência de dano ao erário por liquidação irregular de despesa, estaria
embasada tão somente na presunção”, acolhendo os argumentos da defesa, afastando
o ressarcimento ao erário, mantendo, contudo, a irregularidade relativa à infringência
aos artigos 62 e 63 da Lei Federal 4.320/64.

Não há como prosperar a fundamentação apresentada pela área técnica, e rechaço a


tese do dano presumido.

A argumentação que entendo pertinente para afastar o ressarcimento está na


documentação acostada aos autos às fls. 3822 a 3832 e 6465 a 6483, onde,
conforme a própria área técnica, traz o relatório fotográfico contendo registros dos
ganhadores e seus respectivos prêmios sendo entregues, comprovando a despesa e
afastando o ressarcimento.

2 item 3.2.2.1 Liquidação e pagamento irregular da despesa. (subitem 5.2.2.1 do


RAO). Base legal: Artigos 62 e 63 da Lei 4.320/64.

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A equipe de auditoria constatou a ausência de comprovação da efetiva entrega de


materiais adquiridos pela Prefeitura de Linhares por meio do Pregão Presencial
22/2012. Teriam sido adquiridos 3.450 camisas e 3.450 calções da Malharia Cristimara
e 2.400 meias da Luma Confecções, no valor de 96.995,00 VRTE.

“A equipe de auditoria não encontrou os registros de entrada de saída do material


adquirido (no total, 9.300 unidades de material esportivo), a identificação (nome,
endereço) dos beneficiados e as situações ou condições individuais que os tornaram
aptos a receber material adquirido com dinheiro público.”.

A defesa trouxe documentação que identificam as entidades beneficiadas, bem como


relatório fotográfico contendo registros de entrega e utilização do material esportivo
distribuído. As contratadas citadas juntam à peça contestatória cópias das notas fiscais
emitidas com os respectivos canhotos, nos quais constam assinaturas e identificação
dos servidores municipais responsáveis pelo recebimento do material.

A análise da instrução conclusiva registra que “ainda que a defesa não houvesse se
manifestado, observa-se que não seria de bom alvitre imputar o dever de
ressarcimento integral dos valores pagos baseados no fato de que a comprovação da
entrega do material licitado teria se dado, unicamente, com base nas notas fiscais
emitidas pelas contratadas”. E mais, alega que “... em processos de auditoria, o ônus
de comprovar a ocorrência da ilegalidade incumbe aos auditores...”. (g.n.)

Divirjo, mais uma vez, do argumento adotado na Instrução Técnica Conclusiva


6134/2017 para afastar o ressarcimento fundamentado no ônus da prova desta Corte.
Na verdade, a prestação de contas das despesas públicas é medida de ordem geral,
no sentido de ordem pública, que se deve aplicar ao raciocínio ao se tratar dessa
matéria.

O emprego de recursos públicos deve estar acompanhado da devida comprovação de


que os gastos atenderam aos critérios que regulam a despesa pública, submetendo-se
à regra legal do artigo 93 do Decreto-Lei nº 200/67, in verbis:

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“Artigo 93 - Quem quer que utilize dinheiros públicos terá de justificar seu
bom e regular emprego na conformidade das leis, regulamentos e normas
emanadas das autoridades administrativas competentes.”.

Como norma, o ônus de provar a legitimidade de suas contas cabe sempre ao agente
público responsável, não se forma presunção favorável à legitimidade dos atos daquele
que tem o dever de prestar contas.

O agente ao exercer função pública utiliza recursos que pertencem à sociedade e sua
posição será sempre a de quem deve prestar contas de seus atos e do emprego
correto dos recursos, sempre vinculados a uma finalidade pública, orientado pelo
interesse público, que tem supremacia sobre o privado

Nesse sentido, a jurisprudência do Tribunal de Contas da União:

“Em diversas assentadas, tem o TCU entendido que, não havendo a


possibilidade de comprovar a execução regular de um convênio, dadas as
inconsistências na prestação de contas e irregularidades na execução
financeira, atribui-se o débito total ao responsável. A posição da Corte de
Contas é absolutamente coerente com sua missão de julgar aqueles que
estão sujeitos ao dever constitucional de prestar contas, pois, do contrário,
em não sendo possível apurar a execução do objeto, o TCU presumisse que
tivesse sido executado regularmente, não haveria necessidade de controle
para aferir a regularidade das contas, e, portanto, poder-se-ia prescindir
dele” (Processo 425.130/1998-3)

De outra banda, entendo pelo afastamento do ressarcimento amparado tão


somente pela documentação comprobatória acostada pelos responsáveis.

Assim, ante todo o exposto, obedecidos todos os trâmites processuais e legais, tendo
em conta a fundamentação até aqui expendida, acompanho em parte o entendimento
da área técnica, contido na Instrução Técnica Conclusiva 6134/2017 e o Parecer
5130/2019 do Ministério Público de Contas, VOTO no sentido de que o Colegiado
aprove a seguinte deliberação que submeto à sua consideração.

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VISTOS, relatados e discutidos estes autos, ACORDAM os Conselheiros do Tribunal


de Contas do Estado do Espírito Santo, reunidos em Sessão do Plenário, ante as
razões expostas no voto do Conselheiro Sebastião Carlos Ranna de Macedo.

1 REJEITAR o incidente de inconstitucionalidade arguido pela auditoria (subitem


5.3.1.1 do relatório de auditoria), conforme fundamentação exposta no subitem 2.1.1 do
VOTO do Relator.

2 ACOLHER A PRELIMINAR de ilegitimidade passiva suscitada pela defesa do senhor


Guerino Luiz Zanon para figurar como responsável pelas irregularidades descritas no
RAO 102/2014 e ITI 565/2015, conforme descrito no item 2.2 da Instrução Técnica
Conclusiva 6134/2017;

3 NÃO ACOLHER A PRELIMINAR de ilegitimidade passiva suscitada pelos senhores


Paulo Roberto Vieira Caldellas, Thiago Brunelli Pessoa, Thiago Monteiro Bonatto
e Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva, conforme fundamentos expostos,
respectivamente, nos itens 2.3 a 2.5 da Instrução Técnica Conclusiva 6134/2017.

4 MANTER as irregularidades analisadas nos seguintes itens analisados na Instrução


Técnica Conclusiva 6134/2017, a saber:

4.1.1 Processo 9369/2012:

4.1.1.1 Restrição ao caráter competitivo do certame . (subitem 5.1.1.1 do RAO)


Base legal: Arts. 3º, II e 9º da Lei 10.520/02 c/c o art. 3º, § 1º, inciso I, e Art.30, inciso I e IV,
ambos da Lei 8666/93.
Responsáveis: Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva e Thiago Monteiro Bonatto.

4.1.1.2 Ausência de planilhas de preços unitários. (subitem 5.1.1.2 do RAO)


Base legal: Arts. 3º, III, e 9º da Lei 10.520/02 c/c o art. 7º, § 2º, inciso II e art. 40, § 2º, inciso II,
da Lei 8.666/93.
Responsáveis: Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva, José Jair Reali e Thiago Monteiro
Bonatto.

4.1.1.3 Ausência de interesse público. (subitem 5.1.1.4 do RAO)


Base legal: Art. 37, “caput”, da Constituição da República Federativa do Brasil; e Art. 32, caput,
da Constituição Estadual.
Ressarcimento: 3.606,21 VRTE
Responsável: José Jair Reali

4.1.2 Processo 11.789/2012:

4.1.2.1 Ausência de planilhas de preços unitários. (subitem 5.1.2.2 do RAO)


Base legal: Arts. 3º, III, e 9º da Lei 10.520/02 c/c o art. 7º, § 2º, inciso II e art. 40, §2º, inciso II
da Lei 8.666/93.

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Responsável: Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva, José Jair Reali e Thiago Monteiro Bonatto

4.1.2.2 - Ato antieconômico praticado: não demonstração de ingresso nos cofres


públicos da exploração econômica do evento. (subitem 5.1.2.4 do RAO)
Base legal: Art. 37, “caput” da Constituição da República Federativa do Brasil, c/c o art. 32,
“caput”, da Constituição Estadual.
Ressarcimento: 20.746,95 VRTE
Responsável: José Jair Reali

4.1.3 Processo 13.137/2012

4.1.3.1 Restrição ao caráter competitivo do certame. (subitem 5.1.3.1 do RAO)


Base legal: Art. 3º, II, e 9º da Lei 10.520/02, c/c o art. 3º, § 1º, inciso I, da Lei 8.666/93.
Responsável: Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva, José Jair Reali e Thiago Monteiro Bonatto.

4.1.3.2 Ausência de planilhas de preços unitários. (subitem 5.1.3.2 do RAO)


Base legal: Art. 3º, III, e 9º da Lei 10.520/02 c/c o art. 7º, § 2º, inciso II e art. 40, §2º, inciso II da
Lei 8.666/93.
Responsáveis: Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva, José Jair Reali e Thiago Monteiro
Bonatto.

4.1.3.3 Ausência de interesse público. (subitem 5.1.3.3 do RAO)


Base legal: Art. 32, caput da Constituição Estadual, c/c o art. 2º da Lei 9.784/99.
Ressarcimento: 59.763,60 VRTE
Responsável: José Jair Reali

4.1.3.4 Não comprovação da entrega da premiação. (subitem 5.1.3.4 do RAO)


Base legal: Artigos 62, caput, e 63, da Lei 4.320/64.
Responsável: José Jair Reali

4.1.4 Processos de Inexigibilidade (9.020/12; 4.290/12; 8.501/12; 10.997/12; 14.717/12; e


15.114/12):

4.1.4.1 Inexistência de justificativa de preço. (subitem 5.1.4.1 do RAO)


Base legal: Art. 26, parágrafo único, inciso III, da Lei 8.666/93.
Responsáveis: Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva, José Jair Reali, Thiago Bruneli Pessoa*
OBS:*O senhor Thiago Bruneli Pessoa não responde pelos processos 14.717/12 e 15.114/12

4.1.4.2 Liquidação inadequada das despesas. (subitem 5.1.4.2 do RAO)


Base legal: art. 62, c/c o art. 63 da Lei 4.320/64.
Responsáveis: Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva e José Jair Reali

4.1.5 Processo 16.692/2012:

4.1.5.1 Liquidação e pagamento irregular da despesa. (subitem 5.2.2.1 do RAO)


Base legal: Artigos 62 e 63 da Lei 4.320/64.
Responsável: José Jair Reali

5 ACOLHER as razões de justificativas do senhor Paulo Roberto Vieira Caldellas –


Auditor Geral, em relação aos indicativos de irregularidades indicadas nos subitens
3.1.1.1, 3.1.1.2, 3.1.1.4, 3.1.2.1, 3.1.2.2, 3.1.2.4, 3.1.3.1, 3.1.3.2, 3.1.3.3, 3.1.4.1 da
Instrução Técnica Conclusiva 6134/2017, conforme fundamentação exposta nos
referidos tópicos;

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6 ACOLHER as razões de justificativas do senhor Aguinaldo Bernardo, na qualidade


de Fiscal de Contrato, em relação aos indicativos de irregularidades indicadas nos
subitens 3.1.1.3, 3.1.1.5, 3.1.2.3, 3.1.3.4 e 3.1.3.5 da Instrução Técnica Conclusiva
6134/2017, conforme fundamentação exposta nos referidos tópicos;

7 ACOLHER as razões de justificativas das senhoras Maria de Fátima Fiorino


Biancardi e Sônia Maria Dalmolin de Souza, Secretárias Municipais, em relação ao
indicativo de irregularidade indicado no subitem 3.2.1.1 da Instrução Técnica
Conclusiva 6134/2017, conforme fundamentação exposta no referido tópico;

8 ACOLHER as razões de justificativas das senhoras: Jussara Carvalho de Oliveira e


Paula Cristina Calmon Jovita Mota; e dos senhores: Antonio Bezerra Neto, Antônio
Roberte Bourguignon, Bruno Margotto Marianelli, Ivan Salvador Filho, João
Cleber Bianchi, Jones da Silva de Freitas Mattos, José Carlos Pereira, Lucas
Scaramussa, Márcio Pimentel Machado, Marleno Vendramine, Paulo Roberto
Pitanga Medina e Sérgio Gabriel Pessotti. Todos em relação ao indicativo de
irregularidade indicado no subitem 3.2.3.1 da Instrução Técnica Conclusiva 6134/2017,
conforme fundamentação exposta no referido tópico;

9 ACOLHER as razões de justificativas da sociedade empresária LS LOCAÇÕES,


SERVIÇOS e EVENTOS LTDA. EPP em relação ao indicativo de irregularidade
indicado no subitem 3.1.3.4, da Instrução Técnica Conclusiva 6134/2017, conforme
fundamentação exposta no referido tópico;

10 ACOLHER as razões de justificativas da sociedade empresária LUMA


CONFECÇÕES, e da sociedade empresária MALHARIA CRISTMARA, e da
Associação Brasileira dos Municípios com Terminais Marítimos, Fluviais e
Terrestres para Embarque e Desembarque de Petróleo e Gás Natural – ABRAMT,
em relação ao indicativo de irregularidade indicado no subitem 3.2.2.1, da Instrução
Técnica Conclusiva 6134/2017, conforme fundamentação exposta no referido tópico;

11 EXTINGUIR o processo sem resolução de mérito em face aos senhores Guerino


Luiz Zanon, Paulo Roberto Vieira Caldellas, Aguinaldo Bernardo, Maria de Fátima
Fiorino Biancardi, Sônia Maria Dalmolin de Souza, Jussara Carvalho de Oliveira,
Paula Cristina Calmon Jovita Mota, Antonio Bezerra Neto, Antônio Roberte

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Bourguignon, Bruno Margotto Marianelli, Ivan Salvador Filho, João Cleber


Bianchi, Jones da Silva de Freitas Mattos, José Carlos Pereira, Lucas
Scaramussa, Márcio Pimentel Machado, Marleno Vendramine, Paulo Roberto
Pitanga Medina e Sérgio Gabriel Pessotti, LS LOCAÇÕES, SERVIÇOS e
EVENTOS LTDA. EPP, LUMA CONFECÇÕES, e da sociedade empresária
MALHARIA CRISTMARA, e da Associação Brasileira dos Municípios com
Terminais Marítimos, Fluviais e Terrestres para Embarque e Desembarque de
Petróleo e Gás Natural – ABRAMT, face a ausência de demonstração de nexo
causalidade entre sua conduta e a infração narrada no relatório de auditoria;

12 REJEITAR as razões de justificativas e JULGAR IRREGULARES as contas do


senhor José Jair Reali –Secretário de Esportes e Lazer do Município de Linhares –,
pela prática de ato ilegal indicada nos subitens 3.1.1.1, 3.1.1.2, 3.1.1.4, 3.1.2.2, 3.1.2.4,
3.1.3.1, 3.1.3.2, 3.1.3.3, 3.1.3.4, 3.1.4.1, 3.1.4.2 e 3.2.2.1, e em razão do cometimento
de infração que causou dano injustificado ao erário disposta nos subitens 3.1.1.4,
3.1.2.4 e 3.1.3.3, da Instrução Técnica Conclusiva 6134/2017, condenando-o ao
ressarcimento ao erário municipal no valor de 84.116,76 VRTE, com amparo no artigo
84, inciso III, alíneas “c”, “d” e “e” da Lei Complementar 621/2012,

12.1 APLICAR MULTA ao Sr. José Jair Reali proporcional ao dano no valor de
8.400,00 VRTE com base no art. 95 da LC 32/93 c/c art. 166, II, da Resolução TC
182/2002 e aplicando-lhe, também, multa de 500 VRTE para cada irregularidade,
sendo 6.000 VRTE, com amparo no art. 96, II, da LC 32/93, c/c art. 166, I da
Resolução TC 182/2002 legislação aplicável à época dos fatos;

13 REJEITAR as razões de justificativas do senhor Geraldo Tadeu Scaramussa da


Silva – Procurador Municipal, pela prática de ato ilegal indicada nos subitens 3.1.1.1,
3.1.1.2, 3.1.2.2, 3.1.3.1, 3.1.3.2, 3.1.4.1, 3.1.4.2, da Instrução Técnica Conclusiva
6134/2017, sugerindo a aplicação de multa, com amparo no artigo 135, II, da Lei
Complementar Estadual 612/2012,

13.1 APLICAR MULTA ao Sr. Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva de multa de


500 VRTE para cada irregularidade, sendo 3.500 VRTE com amparo no art. 96, II,
da LC 32/93, c/c art. 166, I da Resolução TC 182/2002 legislação aplicável à
época dos fatos;

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14 REJEITAR as razões de justificativas do senhor Thiago Monteiro Bonatto -


Pregoeiro, pela prática de ato ilegal indicada nos subitens 3.1.1.1, 3.1.1.2, 3.1.2.2,
3.1.3.1 e 3.1.3.2 da Instrução Técnica Conclusiva 6134/2017 sugerindo a aplicação de
multa, com amparo no artigo 135, II, da Lei Complementar Estadual 612/2012,

14.1 APLICAR MULTA ao Sr. Thiago Monteiro Bonatto de multa de 500 VRTE
para cada irregularidade, sendo 2.500 VRTE, com amparo no art. 96, II, da LC
32/93, c/c art. 166, I da Resolução TC 182/2002 legislação aplicável à época dos
fatos;

15 REJEITAR as razões de justificativas do senhor Thiago Brunelli Pessoa –


Presidente da Comissão de Licitação –, pela prática de ato ilegal indicada no subitem
3.1.4.1 da Instrução Técnica Conclusiva 6134/2017 sugerindo a aplicação de multa,
com amparo no artigo 135, II, da Lei Complementar Estadual 612/2012,

15.1 APLICAR MULTA ao Sr. Thiago Brunelli Pessoa de 500 VRTE, com
amparo no art. 96, II, da LC 32/93, c/c art. 166, I da Resolução TC 182/2002
legislação aplicável à época dos fatos;

16 DETERMINAR, em consideração aos termos do art. 71, §5°, da Lei Orgânica deste
TCEES, à atual gestão da Prefeitura Municipal de Linhares que:

16.1 Designe formalmente um servidor para acompanhar a execução dos


contratos de fornecimento de combustíveis, com o propósito de dar pleno
cumprimento ao artigo 67 da Lei 8.666/93;
16.2 Faça constar no projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias as
condições e exigências para as transferências de recursos a entidades
públicas e privadas, em cumprimento aos artigos 4º, inciso I, alínea f; e artigo
26, caput, da Lei de Responsabilidade Fiscal;
16.3 Formalize as adesões a Associações de Municípios, considerando:
a) Lei específica autorizando o repasse financeiro a Associações, em
cumprimento ao artigo 26, caput, da LRF;

b) Condições e exigências para as transferências de recursos a


entidades públicas e privadas (dentre essas, as Associações), em
cumprimento aos artigos 4º, inciso I, alínea f; e artigo 26, caput, da LRF;

c) Termo de Filiação ou instrumento equivalente; e

d) Prestação de Contas da Associação beneficiada, como processo


administrativo autuado na Prefeitura de Linhares.

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16.4 as subvenções concedidas a entidades esportivas profissionais sejam


concedidas de modo não habitual, somente em casos específicos
compatíveis com o interesse público, e após se priorizar o desporto
educacional.

17 ARQUIVAR os autos após transito em julgado.

SEBASTIÃO CARLOS RANNA DE MACEDO


Conselheiro Relator

VOTO VISTA
O CONSELHEIRO RODRIGO COELHO DO CARMO:

I. RELATÓRIO:

Cuidam os autos de Tomada de Constas Especial convertida em fiscalização realizada


na Prefeitura Municipal de Linhares, no exercício de 2012.

Após feita fiscalização, foram elaborados Relatório de Fiscalização 102/2014 e


Instrução Técnica Inicial 565/2015, com a sugestão para a citação dos responsáveis e
conversão dos autos em Tomada de Constas Especial.
Por meio da Decisão Preliminar foi determinada a citação dos responsáveis, para que,
no prazo de 30 dias, apresentassem justificativas que entendessem pertinentes acerca
dos achados.

Após apresentação das justificativas e juntada das mesmas, foi elaborada Instrução
Técnica Conclusiva ITC 6134/2017, entendendo pela manutenção das irregularidades,
5.1.1.1, 5.1.1.2, 5.1.1.4, 5.1.2.2, 5.1.2.4, 5.1.3.1, 5.1.3.2, 5.1.3.3, 5.1.3.4, 5.1.4.1,
5.1.4.2 e 5.2.2.1.

Em seguida, houve manifestação do Ministério Público de Contas, por meio de Parecer


Ministerial 5130/2019, anuindo ao entendimento técnico.

Na sequência, na 42ª Sessão Ordinária do Plenário, realizada em 03/12/2019, foi


apresentado o voto do Relator, no seguinte termos:

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1 REJEITAR o incidente de inconstitucionalidade arguido pela auditoria


(subitem 5.3.1.1 do relatório de auditoria), conforme fundamentação exposta no
subitem 2.1.1 do VOTO do Relator.
2 ACOLHER A PRELIMINAR de ilegitimidade passiva suscitada pela defesa
do senhor Guerino Luiz Zanon para figurar como responsável pelas
irregularidades descritas no RAO 102/2014 e ITI 565/2015, conforme descrito
no item 2.2 da Instrução Técnica Conclusiva 6134/2017;
3 NÃO ACOLHER A PRELIMINAR de ilegitimidade passiva suscitada pelos
senhores Paulo Roberto Vieira Caldellas, Thiago Brunelli Pessoa, Thiago
Monteiro Bonatto e Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva , conforme
fundamentos expostos, respectivamente, nos itens 2.3 a 2.5 da Instrução
Técnica Conclusiva 6134/2017.
4 MANTER as irregularidades analisadas nos seguintes itens analisados na
Instrução Técnica Conclusiva 6134/2017, a saber:
4.1.1 Processo 9369/2012:

4.1.1.1 Restrição ao caráter competitivo do certame . (subitem 5.1.1.1 do


RAO)
Base legal: Arts. 3º, II e 9º da Lei 10.520/02 c/c o art. 3º, § 1º, inciso I, e Art.30,
inciso I e IV, ambos da Lei 8666/93.
Responsáveis: Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva e Thiago Monteiro
Bonatto.

4.1.1.2 Ausência de planilhas de preços unitários. (subitem 5.1.1.2 do RAO)


Base legal: Arts. 3º, III, e 9º da Lei 10.520/02 c/c o art. 7º, § 2º, inciso II e art.
40, § 2º, inciso II, da Lei 8.666/93.
Responsáveis: Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva, José Jair Reali e Thiago
Monteiro Bonatto.

4.1.1.3 Ausência de interesse público. (subitem 5.1.1.4 do RAO)


Base legal: Art. 37, “caput”, da Constituição da República Federativa do Brasil;
e Art. 32, caput, da Constituição Estadual.
Ressarcimento: 3.606,21 VRTE
Responsável: José Jair Reali

4.1.2 Processo 11.789/2012:

4.1.2.1 Ausência de planilhas de preços unitários. (subitem 5.1.2.2 do RAO)


Base legal: Arts. 3º, III, e 9º da Lei 10.520/02 c/c o art. 7º, § 2º, inciso II e art.
40, §2º, inciso II da Lei 8.666/93.
Responsável: Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva, José Jair Reali e Thiago
Monteiro Bonatto

4.1.2.2 - Ato antieconômico praticado: não demonstração de ingresso nos


cofres públicos da exploração econômica do evento. (subitem 5.1.2.4 do
RAO)
Base legal: Art. 37, “caput” da Constituição da República Federativa do Brasil,
c/c o art. 32, “caput”, da Constituição Estadual.
Ressarcimento: 20.746,95 VRTE
Responsável: José Jair Reali

4.1.3 Processo 13.137/2012

4.1.3.1 Restrição ao caráter competitivo do certame. (subitem 5.1.3.1 do


RAO)
Base legal: Art. 3º, II, e 9º da Lei 10.520/02, c/c o art. 3º, § 1º, inciso I, da Lei
8.666/93.

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Responsável: Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva, José Jair Reali e Thiago


Monteiro Bonatto.

4.1.3.2 Ausência de planilhas de preços unitários. (subitem 5.1.3.2 do RAO)


Base legal: Art. 3º, III, e 9º da Lei 10.520/02 c/c o art. 7º, § 2º, inciso II e art. 40,
§2º, inciso II da Lei 8.666/93.
Responsáveis: Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva, José Jair Reali e Thiago
Monteiro Bonatto.

4.1.3.3 Ausência de interesse público. (subitem 5.1.3.3 do RAO)


Base legal: Art. 32, caput da Constituição Estadual, c/c o art. 2º da Lei
9.784/99.
Ressarcimento: 59.763,60 VRTE
Responsável: José Jair Reali

4.1.3.4 Não comprovação da entrega da premiação. (subitem 5.1.3.4 do


RAO)
Base legal: Artigos 62, caput, e 63, da Lei 4.320/64.
Responsável: José Jair Reali

4.1.4 Processos de Inexigibilidade (9.020/12; 4.290/12; 8.501/12; 10.997/12;


14.717/12; e 15.114/12):

4.1.4.1 Inexistência de justificativa de preço. (subitem 5.1.4.1 do RAO)


Base legal: Art. 26, parágrafo único, inciso III, da Lei 8.666/93.
Responsáveis: Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva, José Jair Reali, Thiago
Bruneli Pessoa*
OBS:*O senhor Thiago Bruneli Pessoa não responde pelos processos
14.717/12 e 15.114/12

4.1.4.2 Liquidação inadequada das despesas. (subitem 5.1.4.2 do RAO)


Base legal: art. 62, c/c o art. 63 da Lei 4.320/64.
Responsáveis: Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva e José Jair Reali

4.1.5 Processo 16.692/2012:

4.1.5.1 Liquidação e pagamento irregular da despesa. (subitem 5.2.2.1 do


RAO)
Base legal: Artigos 62 e 63 da Lei 4.320/64.
Responsável: José Jair Reali
5 ACOLHER as razões de justificativas do senhor Paulo Roberto Vieira
Caldellas – Auditor Geral, em relação aos indicativos de irregularidades
indicadas nos subitens 3.1.1.1, 3.1.1.2, 3.1.1.4, 3.1.2.1, 3.1.2.2, 3.1.2.4, 3.1.3.1,
3.1.3.2, 3.1.3.3, 3.1.4.1 da Instrução Técnica Conclusiva 6134/2017, conforme
fundamentação exposta nos referidos tópicos;
6 ACOLHER as razões de justificativas do senhor Aguinaldo Bernardo, na
qualidade de Fiscal de Contrato, em relação aos indicativos de irregularidades
indicadas nos subitens 3.1.1.3, 3.1.1.5, 3.1.2.3, 3.1.3.4 e 3.1.3.5 da Instrução
Técnica Conclusiva 6134/2017, conforme fundamentação exposta nos referidos
tópicos;
7 ACOLHER as razões de justificativas das senhoras Maria de Fátima Fiorino
Biancardi e Sônia Maria Dalmolin de Souza , Secretárias Municipais, em
relação ao indicativo de irregularidade indicado no subitem 3.2.1.1 da Instrução
Técnica Conclusiva 6134/2017, conforme fundamentação exposta no referido
tópico;
8 ACOLHER as razões de justificativas das senhoras: Jussara Carvalho de
Oliveira e Paula Cristina Calmon Jovita Mota ; e dos senhores: Antonio
Bezerra Neto, Antônio Roberte Bourguignon, Bruno Margotto Marianelli,
Ivan Salvador Filho, João Cleber Bianchi, Jones da Silva de Freitas
Mattos, José Carlos Pereira, Lucas Scaramussa, Márcio Pimentel

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Machado, Marleno Vendramine, Paulo Roberto Pitanga Medina e Sérgio


Gabriel Pessotti. Todos em relação ao indicativo de irregularidade indicado no
subitem 3.2.3.1 da Instrução Técnica Conclusiva 6134/2017, conforme
fundamentação exposta no referido tópico;
9 ACOLHER as razões de justificativas da sociedade empresária LS
LOCAÇÕES, SERVIÇOS e EVENTOS LTDA. EPP em relação ao indicativo de
irregularidade indicado no subitem 3.1.3.4, da Instrução Técnica Conclusiva
6134/2017, conforme fundamentação exposta no referido tópico;
10 ACOLHER as razões de justificativas da sociedade empresária LUMA
CONFECÇÕES, e da sociedade empresária MALHARIA CRISTMARA, e da
Associação Brasileira dos Municípios com Terminais Marítimos, Fluviais e
Terrestres para Embarque e Desembarque de Petróleo e Gás Natural –
ABRAMT, em relação ao indicativo de irregularidade indicado no subitem
3.2.2.1, da Instrução Técnica Conclusiva 6134/2017, conforme fundamentação
exposta no referido tópico;
11 EXTINGUIR o processo sem resolução de mérito em face aos senhores
Guerino Luiz Zanon, Paulo Roberto Vieira Caldellas, Aguinaldo Bernardo,
Maria de Fátima Fiorino Biancardi, Sônia Maria Dalmolin de Souza,
Jussara Carvalho de Oliveira, Paula Cristina Calmon Jovita Mota, Antonio
Bezerra Neto, Antônio Roberte Bourguignon, Bruno Margotto Marianelli,
Ivan Salvador Filho, João Cleber Bianchi, Jones da Silva de Freitas
Mattos, José Carlos Pereira, Lucas Scaramussa, Márcio Pimentel
Machado, Marleno Vendramine, Paulo Roberto Pitanga Medina e Sérgio
Gabriel Pessotti, LS LOCAÇÕES, SERVIÇOS e EVENTOS LTDA. EPP,
LUMA CONFECÇÕES, e da sociedade empresária MALHARIA
CRISTMARA, e da Associação Bra sileira dos Municípios com Terminais
Marítimos, Fluviais e Terrestres para Embarque e Desembarque de
Petróleo e Gás Natural – ABRAMT, face a ausência de demonstração de
nexo causalidade entre sua conduta e a infração narrada no relatório de
auditoria;
12 REJEITAR as razões de justificativas e JULGAR IRREGULARES as
contas do senhor José Jair Reali –Secretário de Esportes e Lazer do
Município de Linhares –, pela prática de ato ilegal indicada nos subitens
3.1.1.1, 3.1.1.2, 3.1.1.4, 3.1.2.2, 3.1.2.4, 3.1.3.1, 3.1.3.2, 3.1.3.3, 3.1.3.4,
3.1.4.1, 3.1.4.2 e 3.2.2.1, e em razão do cometimento de infração que causou
dano injustificado ao erário disposta nos subitens 3.1.1.4, 3.1.2.4 e 3.1.3.3, da
Instrução Técnica Conclusiva 6134/2017, condenando-o ao ressarcimento ao
erário municipal no valor de 84.116,76 VRTE, com amparo no artigo 84, inciso
III, alíneas “c”, “d” e “e” da Lei Complementar 621/2012,
12.1 APLICAR MULTA ao Sr. José Jair Reali proporcional ao dano no valor de
8.400,00 VRTE com base no art. 95 da LC 32/93 c/c art. 166, II, da Resolução
TC 182/2002 e aplicando-lhe, também, multa de 500 VRTE para cada
irregularidade, sendo 6.000 VRTE, com amparo no art. 96, II, da LC 32/93, c/c
art. 166, I da Resolução TC 182/2002 legislação aplicável à época dos fatos;
13 REJEITAR as razões de justificativas do senhor Geraldo Tadeu
Scaramussa da Silva – Procurador Municipal, pela prática de ato ilegal
indicada nos subitens 3.1.1.1, 3.1.1.2, 3.1.2.2, 3.1.3.1, 3.1.3.2, 3.1.4.1, 3.1.4.2,
da Instrução Técnica Conclusiva 6134/2017, sugerindo a aplicação de multa,
com amparo no artigo 135, II, da Lei Complementar Estadual 612/2012,
13.1 APLICAR MULTA ao Sr. Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva de multa
de 500 VRTE para cada irregularidade, sendo 3.500 VRTE com amparo no art.
96, II, da LC 32/93, c/c art. 166, I da Resolução TC 182/2002 legislação
aplicável à época dos fatos;
14 REJEITAR as razões de justificativas do senhor Thiago Monteiro Bonatto
- Pregoeiro, pela prática de ato ilegal indicada nos subitens 3.1.1.1, 3.1.1.2,
3.1.2.2, 3.1.3.1 e 3.1.3.2 da Instrução Técnica Conclusiva 6134/2017 sugerindo
a aplicação de multa, com amparo no artigo 135, II, da Lei Complementar
Estadual 612/2012,
14.1 APLICAR MULTA ao Sr. Thiago Monteiro Bonatto de multa de 500
VRTE para cada irregularidade, sendo 2.500 VRTE, com amparo no art. 96, II,

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da LC 32/93, c/c art. 166, I da Resolução TC 182/2002 legislação aplicável à


época dos fatos;
15 REJEITAR as razões de justificativas do senhor Thiago Brunelli Pessoa –
Presidente da Comissão de Licitação –, pela prática de ato ilegal indicada no
subitem 3.1.4.1 da Instrução Técnica Conclusiva 6134/2017 sugerindo a
aplicação de multa, com amparo no artigo 135, II, da Lei Complementar
Estadual 612/2012,
15.1 APLICAR MULTA ao Sr. Thiago Brunelli Pessoa de 500 VRTE, com
amparo no art. 96, II, da LC 32/93, c/c art. 166, I da Resolução TC 182/2002
legislação aplicável à época dos fatos;
16 DETERMINAR, em consideração aos termos do art. 71, §5°, da Lei
Orgânica deste TCEES, à atual gestão da Prefeitura Municipal de Linhares
que:
16.1 Designe formalmente um servidor para acompanhar a execução dos
contratos de fornecimento de combustíveis, com o propósito de dar pleno
cumprimento ao artigo 67 da Lei 8.666/93;
16.2 Faça constar no projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias as condições
e exigências para as transferências de recursos a entidades públicas e
privadas, em cumprimento aos artigos 4º, inciso I, alínea f; e artigo 26, caput,
da Lei de Responsabilidade Fiscal;
16.3 Formalize as adesões a Associações de Municípios, considerando:
a) Lei específica autorizando o repasse financeiro a Associações, em
cumprimento ao artigo 26, caput, da LRF;

b) Condições e exigências para as transferências de recursos a entidades


públicas e privadas (dentre essas, as Associações), em cumprimento aos
artigos 4º, inciso I, alínea f; e artigo 26, caput, da LRF;

c) Termo de Filiação ou instrumento equivalente; e

d) Prestação de Contas da Associação beneficiada, como processo


administrativo autuado na Prefeitura de Linhares.

16.4 as subvenções concedidas a entidades esportivas profissionais sejam


concedidas de modo não habitual, somente em casos específicos compatíveis
com o interesse público, e após se priorizar o desporto educacional.
17 ARQUIVAR os autos após transito em julgado.

Após os autos foram remetidos a este Conselheiro para análise. É o relatório.

II. PRELIMINAR

II.1 – Incidente de Inconstitucionalidade

Em sede de fiscalização se suscita o incidente da inconstitucionalidade das Leis


Municipais 2.764/08, 2.794/08, 2.833/09, 2.919/09, 3.002/10 e 3.147/11, que autorizam
o repasse de recursos financeiros ao Linhares Futebol Clube, nos exercícios
respectivos de 2008, 2009, 2010, 2011 e 2012.

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Já em sede de Instrução Técnica Conclusiva 6134/20017, se entende pela


executoriedade da referida legislação, entendimento esse adotado pelo Relator que em
suma argumentou que as legislações federais, estaduais e municipais estabelecem o
fomento à prática de esporte; que não há vício de natureza material nas normas
apontadas.

Sendo assim, acompanho entendimento técnico e do relator quanto ao referido


incidente fazendo o mesmo parte integrante do presente voto, e trazendo para tanto
um trecho de da instrução:

Vê-se que a citada decisão condiz com as previsões constitucionais, que, em nenhum
momento, vedam a destinação de recursos públicos a entidades profissionais.
O mesmo julgado também considerou que a Lei Municipal, prevendo o repasse de recursos
para entidade desportiva, deve obedecer aos princípios tanto da Constituição Federal,
quanto Estadual, sendo que esta deve ser pautada nos princípios daquela. Em razão disto,
será inconstitucional qualquer dispositivo legal, tanto municipal, quanto estadual, que
desobedeça aos princípios da Constituição Federal. Inconstitucionalidade esta que pode ser
declarada não por vício formal, mas por vício material.
No caso do Município de Linhares, não se verifica qualquer vício material que enseje a
inconstitucionalidade das Leis Municipais objurgadas, tanto pelo prisma da Constituição
Federal, quanto pela disposição contida na Constituição do Estado do Espírito Santo.
As Leis Municipais ora questionadas, tão somente, deram cumprimento a uma disposição
constitucional para dar efetividade ao dever do Estado de fomentar a prática desportiva.
Esses normativos contemplavam com recursos públicos o único clube profissional do
município de Linhares, em ato legislativo isento de vício formal e devidamente publicado,
com a finalidade específica de fomentar a participação do clube nas duas competições
oficiais da Federação Capixaba de Futebol, de grande relevância para o esporte estadual: o
Campeonato e a Copa Espírito Santo.
No entanto, impõe-se que tais transferências, permitidas nas referidas Leis, sejam
interpretadas conforme a Constituição Federal.
Isso porque, como já repetido, as Constituições Federal, Estadual, bem como a Lei
Orgânica do Município de Linhares não vedam a destinação de recursos públicos a
entidades desportivas profissionais. Contudo, a CF é clara ao estabelecer que a
transferência de recursos àqueles que desempenhem esporte de alto rendimento (gênero
de que o esporte profissional é espécie) deve acontecer em casos específicos, não
rotineiramente, após a priorização do desporto educativo. Nesse ponto, a LOM de Linhares
não é explícita, silenciando sobre a destinação somente ocorrer em casos específicos. Mais
que isso, o artigo 200 da LOM de Linhares prioriza não somente o desporto educacional,
mas também à promoção desportiva das associações desportivas locais.
No que tange às alegações relativas à forma de constituição da entidade esportiva
(sociedade empresária com fins lucrativos), aventadas no RAO 102/2014, cabe ainda
destacar que, diante do acima exposto, seu enfretamento torna-se despiciendo, na medida
em que a CF, CE-ES e LOM Linhares não vedam expressamente o repasse de recursos a
entidades profissionais, mesmo que tenham fins lucrativos. Dessa maneira, se cumpridos os
requisitos da CF (prioridade ao desporto educacional e transferência somente em casos
específicos), irrelevante a finalidade lucrativa da entidade para o fim de se declarar ou não a
inconstitucionalidades das leis do Município de Linhares, que autorizavam o repasse de
recursos financeiros ao Linhares Futebol Clube Ltda.

II.2 - Ilegitimidade Passiva do Sr. Guerino Luiz Zanon

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Acompanhando o entendimento técnico exposto na Instrução Técnica Conclusiva


6134/2017 e do relator reconheço a ilegitimidade do Sr. Guerino Luiz Zanon, então
Prefeito Municipal de Linhares, no exercício de 2012, posto reger o município pela
modelo de administração desconcentrada (Lei Municipal 2.576/2005).

Nesse contexto, o Prefeito deixou de atuar como ordenador de despesas e gestor em


contratações submetidas às Secretarias, não havendo a possibilidade de defender sua
responsabilidade solidária quando as irregularidades imputadas tenham se desenrolado sob
os plenos poderes legalmente conferidos aos Secretários e em razão dos atos de gestão
por eles praticados.
A desconcentração administrativa, portanto, trouxe a presunção relativa de
irresponsabilidade do Prefeito, haja vista que os Secretários Municipais são subordinados
hierarquicamente a ele e são pessoas de sua confiança e de sua livre nomeação e
exoneração. Pessoas que, na prática, não desfrutam da autonomia e da independência
funcionais inerentes aos servidores públicos efetivos.

II.3 - Ilegitimidade Passiva do Sr. Paulo Roberto Vieira Caldellas

Em sede de preliminar foi alegada ainda a ilegitimidade passiva do Sr. Paulo Roberto
Vieira Caldellas, Auditor Geral, baseada ausência de responsabilidade para atestar a
regular observância dos procedimentos legais pertinentes às licitações, embora tenha
opinado pelo prosseguimento de procedimentos instaurados pela Prefeitura; prescrição
dos fatos constantes do Relatório de Auditoria, uma vez que o prazo de julgamento das
contas, relativas ao exercício de 2012, extinguiu-se em 30/3/2015, conforme
regramento exposto no artigo 76 da LC 621/2012; ilegalidade da instauração da
tomada de contas especial.

Nesse sentido, acompanho o relator, bem como o entendimento exposto nas Instrução
Técnica Conclusiva 6134/2017:

Análise:
c) Ausência de responsabilidade para atestar a regular observância dos
procedimentos legais pertinentes às licitações, embora tenha opinado pelo
prosseguimento de procedimentos instaurados pela Prefeitura:

Sobre a primeira alegação, parece-nos haver invasão do mérito. A ilegitimidade passiva


estaria caracterizada, por exemplo, se fosse imputada irregularidade a outro responsável e,
equivocadamente, o justificante tivesse sido citado.
Os argumentos trazidos, em que pese sua validade, não tratam do tema legitimidade
processual, devendo ser abordados em análise de mérito. O justificante foi citado
validamente por irregularidades que foram a ele atribuídas, posto que era praxe
administrativa da Prefeitura de Linhares, a manifestação da auditoria geral nos processos

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licitatórios, conforme se pode constatar com os documentos carreados aos autos pela
equipe do TCEES. Assim se faz necessário analisar no mérito o nexo de causalidade da
conduta do agente com as supostas irregularidades aventadas pela auditoria.

d) Prescrição dos fatos constantes do Relatório de Auditoria, uma vez que o prazo de
julgamento das contas, relativas ao exercício de 2012, extinguiu -se em 30/3/2015,
conforme regramento exposto no artigo 76 da LC 621/2012:

O relatório da fiscalização procedida na Prefeitura de Linhares, posteriormente convertido


em Tomada de Contas Especial, analisou a regularidade dos atos de gestão praticados no
exercício de 2012. Portanto, não se aplica a regra do artigo 76 da LC 621/2012, citado pelo
defendente, posto que, o referido dispositivo refere-se a contas de governo.
Nesse sentido, vale trazer a distinção entre contas de Governo e contas de Gestão,
extraída de julgamento do Superior Tribunal de Justiça – ROMS 11060. Vejamos:
Contas de Governo:
“Demonstram o retrato da situação das finanças da unidade federativa (União,
Estados, Distrito Federal e Municípios). Revelam o cumprir do orçamento, dos
planos de governo, dos programas governamentais, demonstram os níveis de
endividamento, o atender aos limites de gasto mínimo e máximo previstos no
ordenamento para saúde, educação e gastos com pessoal. Consubstanciam -
se, enfim, nos Balanços Gerais prescritos pela Lei 4.320/64.”

Contas de Gestão:
“Referem-se aos atos de administração e gerência de recursos públicos
praticados pelos chefes, e demais responsáveis, de órgãos e entidades
públicas, tais como: admitir pessoal, aposentar, licitar, contratar, empenhar,
liquidar, pagar (assinar cheques ou ordens bancárias), inscrever em restos
a pagar, conceder adiantamentos, etc.; É julgamento essencialmente técnico,
ou seja, obedece a parâmetros de ordem técnico-jurídica, têm,
substancialmente, o objetivo de efetivar a reparação de dano ao patrimônio
público.” (gn)
Estes autos versam sobre a auditoria levada a efeito na Prefeitura Municipal de Linhares,
abrangendo atos de gestão praticados no exercício de 2012, em cumprimento ao Plano de
Fiscalização 88/2013. Dos trabalhos, resultou o Relatório de Auditoria RA -O 102/2014,
posteriormente convertido em Tomada de Contas Especial, por haver indícios de dano ao
erário. Trata-se, portanto, de contas de gestão.
b) Ilegalidade da instauração da tomada de contas especial.

O senhor Paulo Roberto Vieira Caldellas, ainda, sustenta preliminarmente, que não haveria
pressuposto legal que ensejasse a conversão deste processo (originariamente de natureza
fiscalizatória) em tomada de contas especial, uma vez que não haveria a configuração da
ocorrência de desfalque, desvio de bens ou outra irregularidade de que resulte dano ao
erário.

Da argumentação aduzida na peça contestatória denota-se que o defendente apega-se à


ideia de que a palavra “configurada”, presente na expressão “configurada a ocorrência de
desfalque, desvio de bens ou outra irregularidade de que resulte dano ao erário”,
38 39
expressada nos artigos 115, caput e 57, IV , da Lei 621/2012, teria o significado de “que
tenha dado ou tomado forma”. Sem razão o defendente, eis que os dicionários tradicionais
40
da língua portuguesa atribuem ao termo “configurado” a acepção de “ter semelhanças ou
características” tais que ensejam uma determinada classificação, dessa forma, a teor do

38
Art.115. Ao exercer a fiscalização, se configurada a ocorrência de desfalque, desvio de bens ou outra irregularidade de que
resulte dano ao erário, o Tribunal converterá o processo emtomada de contas especial e determinará a citação dos responsáveis ,
para, no prazo fixado no Regimento Interno, apresentar alegações de defesa e/ou recolher a importância devida.
39
Art. 57. Na fase de instrução, havendo indícios de irregularidade, cabe ao Tribunal de Contas ou ao Relator:
[...]
IV - converter, se for o caso, o processo em tomada de contas especial, se configurada a ocorrência de desfalque, desvio de bens
ou outra irregularidade de que resulte dano ao erário.
40
Vide os Dicionários Michaelis e Aurélio em suas versões disponíveis na rede mundial de computadores.

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significado do vocábulo “configurada”, não se exige um juízo de certeza quanto ao dano


experimentado pelo erário para que se autorize a conversão do processo de fiscalização em
tomada de contas especial não havendo equívoco desta Corte ao tomar a decisão de
conversão antes de findar-se a fase de instrução técnico-processual.

Também argumenta o defendente que descaberia a c onversão em tomada de contas


especial por não se encontrarem presentes os requisitos preconizados no art. 57, inciso IV,
da LC 621/2012. Eis o teor do dispositivo legal:

Art. 57. Na fase de instrução, havendo indícios de irregularidade, cabe ao


Tribunal de Contas ou ao Relator:
(...)
IV - converter, se for o caso, o processo em tomada de contas especial, se
configurada a ocorrência de desfalque, desvio de bens ou outra irregularidade
de que resulte dano ao erário.

Em que pesem os argumentos tecidos pelo ora defendente evidencia-se que o disposto no
art. 57 da LC 621/2012 se refere à fase de elaboração da Instrução Técnica Inicial que, por
sua vez, tem caráter meramente propositivo eis que o reconhecimento do dano e eventual
condenação são de competência exclusiva dos órgãos colegiados compostos de
Conselheiros ou Conselheiros em substituição desta Corte de Contas. Tratando-se de fase
processual propositiva tem-se que a “constatação”, referida no inciso I do § 1º do art. 317 do
RITCEES, se dá em tese, ou seja, na presença de indícios dos quais se possa inferir a
necessidade de condenação ao ressarcimento, oportunizando-se, por óbvio, amplo direito
de defesa para que se elida o indício de irregularidade que contém sugestão de
reconhecimento de dano e consequente imputação de ressarcimento à parte, do contrário
não haveria sentido quanto ao disposto no § 2º do mesmo artigo 317 que estabelece a
preferência pela conversão do processo em tomada de contas especial por ocasião da
determinação de citação, senão vejamos:
Art. 317. [...]
§2º A conversão em tomada de contas especial ocorrerá,
preferencialmente, por ocasião da determinação de citação do
responsável.
De se notar, ainda, que a mera conversão do processo de fiscalização em tomada de
contas especial não implica, automaticamente, no julgamento pela irregularidade das contas
das partes do processo, não havendo que se falar em prejuízos a sua esfera jurídica ou ao
seu direito de defesa, ao contrário, já que, em havendo conversão por ocasião da
determinação de citação, estar-se-á, quando da realização do ato citatório, dando ciência
inequívoca à parte de que em face dela existe um processo que poderá ensejar, além da
condenação às sanções previstas na LC 621/2012 e a imputação de ressarcimento, o
julgamento de suas contas com as consequentes implicações previstas na Lei
Complementar 135/2010 (Lei da Ficha Limpa) que podem repercutir em sua capacidade
eleitoral passiva.

Portanto, longe de se constituir em ofensa às garantias constitucionais, a conversão do feito


em tomada de contas especial proporciona à parte o conhecimento amplo das
consequências de um possível julgamento em seu desfavor estando em plena consonância
com os princípios do devido processo legal e da ampla defesa, consagrados na Constituição
da República.
Reforçando a ausência de prejuízo às partes em razão da conversão da natureza
processual do feito registre-se que a própria norma regimental deste TCEES prevê a
desconversão do processo de tomada de contas especial, caso em que retornará à
natureza de processo de fiscalização com os consectários que lhe são característicos
(possibilidade de aplicação das sanções previstas na LC 621/2012, bem como de expedição
de determinações e recomendações), senão vejamos:

Art. 329. A apreciação e julgamento dos processos sob a jurisdição do Tribunal


observarão as normas relativas aos ritos especiais previstos neste Regimento.

[...]

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§ 8ºOs processos de fiscalização convertidos em tomada de contas


especial em que, por ocasião do julgamento, for afastada a imputação de
ressarcimento de valores, subsistindo, no entanto, a irregularidade,
deverão ser desconvertidos para serem apreciados como processo de
fiscalização, apenas quanto aos responsáveis que se enquadrem nessa
hipótese. (Parágrafo acrescido pela Emenda Regimental nº 006, de 29.3.2016)
(g.n).

Conclusão:
Dessa forma, a vista das razões aqui expostas, opina-se pelo não acolhimento da
preliminar, resguardando-se a verificação acerca da responsabilidade quando da análise
do mérito do nexo de causalidade entre as supostas irregularidades aventadas pela
auditoria e a conduta do agente]

Neste contexto, acompanho a equipe técnica e relator no sentido de rejeitar a


preliminar apresentada pelo Sr. Paulo Roberto Vieira Caldellas, ressaltando que,
no mérito, analisarei se as condutas praticadas por ele possuem nexo de causalidade
entre o fato e o ato tido como irregular.

II.4 - Ilegitimidade Passiva do Srs. Thiago Bruneli Pessoa (Presidente da CPL) e


Thiago Monteiro Bonatto (Pregoeiro)

Em sede de defesa alega o Sr. Thiago Bruneli Pessoa (Presidente da CPL), que
apenas realizou os atos formais do processo de inexigibilidade, não exercendo
qualquer função decisória, alegando que sua responsabilidade seria à partir da
publicação do edital, não interferindo no prosseguimento do feito após aprovação do
órgão jurídico.

Já o Sr. Thiago Monteiro Bonatto (Pregoeiro) alega que não houve qualquer relato de
irregularidade ocorrida na fase externa da licitação, e nesse sentido, alega que a
responsabilidade do pregoeiro conforme preconiza a Lei 10.520/2002 se inicia na fase
externa, esclarecendo ainda que todos os atos do procedimento eram remetidos a
procuradoria.

Em sede de Instrução Técnica Conclusiva 6134/2017 foi suscitado entendimento do


TCU no acórdão 833/2008 em que se entende que “membros da Comissão de
Licitação, pregoeiros e suas equipes de apoio serão responsabilizados por atos
vinculados a fase externa do procedimento licitatório, que se inicia a partir da
publicação do edital e se encerra com a adjudicação do objeto da licitação. Contudo,

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poderão ser responsabilizados por atitude passiva diante de vícios óbvios na


fase preparatória da licitação, primordial para a boa e regular condução do
procedimento”.

Neste contexto, acompanho a equipe técnica e relator no sentido de rejeitar a


preliminar apresentada, ressaltando que, no mérito, analisarei se as condutas
praticadas por ele possuem nexo de causalidade entre o fato e o ato tido como
irregular.

II.5 Preliminar de Ilegitimidade passiva arguida pelo senhor Geraldo Tadeu


Scaramussa da Silva (parecerista jurídico)

Alega o Sr. Geraldo Tadeu Scaramussa que eventual responsabilização violaria a


Constituição Federa, isso porque, entende que procurador jurídico dos órgãos públicos
“não pode ser responsabilizado por seus pareceres, não tendo restado configurado de
sua parte, dolo, erro inescusável ou clara omissão quanto a dever de agir”.

Instrução Técnica Conclusiva 6134/2017 trouxe aos autos entendimento do STF e do


TCU. In verbis:

Em sentido análogo, o STF já havia decido, em 2002, que o advogado somente


será civilmente responsável pelos danos causados a seus clientes ou a
terceiros, se decorrentes de erro grave, inescusável, ou de ato ou omissão
praticado com culpa em sentido largo (MS 24073/DF, Rel. Min. Carlos Velloso,
Tribunal Pleno, DJ 06/11/2002).

Já o TCU, em uma interpretação mais específica, tem entendido que o


parecerista jurídico deve responder quando a peça que elaborou contenha
fundamentação absurda, desarrazoada ou claramente insuficiente e tenha
servido de fundamentação jurídica para a prática de ato irregular.

Certo que, quanto à responsabilização do parecerista jurídico, a maioria da


doutrina e jurisprudência, principalmente após as manifestações do STF nas
decisões MS 24.584 e MS 24.631 convergem para a possibilidade quando o
parecer é de natureza vinculante e, em se tratando de parecer opinativo,
quando há demonstração de erro grosseiro, má-fé ou culpa em sentido largo.

Neste contexto, acompanho a equipe técnica e relator no sentido de rejeitar a


preliminar apresentada, ressaltando que, apenas em análise de mérito, se faz possível
à apreciação das por ele praticadas.

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III. MÉRITO

III.1 – Contratação de artistas e de infraestrutura para shows e eventos (item 3.1


da ITC 6134/2017)

III.1.1 – Restrição ao caráter competitivo do certame (subitem 5.1.1.1 do RAO) –


Processo 9369/2012
Responsável: Guerino Luiz Zanon, Thiago Monteiro Bonatto, Geraldo Tadeu
Scaramussa da Silva, Paulo Roberto Vieira Caldellas.

Em sede de auditoria se entendeu pela restrição do caráter competitivo ao se exigir


como qualificação técnica CREA Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura e
CRA – Conselho Regional de Administração, quando o objeto a ser licitado em nada se
correlacionava as atividades que se exigem registro no CRA.

Em sede de defesa o Sr. Guerino Luiz Zanon aponta que o caráter restritivo apontado
em auditoria, não foi observado que o mesmo continha uma ressalva, qual seja, o
termo “observada a sua atuação”. Alegando ainda ao fim que o certame foi altamente
competitivo, visto a participação de três empresas (JP Locações de Estruturas
Metálicas Ltda. EPP; Souza Ambiental Ltda. ME; e Fest Show Eventos Ltda. ME).

Já o Sr. Thiago Monteiro Bonatto (pregoeiro municipal) alega que a irregularidade se


trata de fase interna da licitação, tendo sido constatado no termo de referência
elaborado pelo então Secretário Municipal de Esportes e Cultura. Alegando ainda que
toda a minuta do edital foi aprovada pela Procuradoria do município, sem que houvesse
qualquer ressalva.

Por fim esclarece que a referida previsão de registro no CRA, provavelmente ocorreu
em consequência das “sucessivas notificações do referido Conselho de Classe, que à
época, juntamente com o Ministério Público do Estado, recomendava tal exigência de
habilitação, para a contratação de qualquer empresa em cuja execução do
contrato fosse necessária a utilização de mão de obra. E esse seria o caso do

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Pregão 134/2012, cuja empresa que seria contratada dependeria de pessoal para
montagem de palco, operador de som, limpeza e manutenção das instalações
provisórias etc.”

A defesa do Sr. Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva, foi muito bem resumida pela
Instrução Técnica de Recurso, motivo pelo qual, me permito transcrever.

d) Ausência de responsabilidade pela inclusão da cláusula que exigia o registro ou


inscrição no CRA, uma vez que, já constava do Termo de Referência elaborado
pelo então Secretário Municipal de Esportes e Cultura;
e) Sucessivas notificações do CRA – Conselho Regional de Administração, que à
época, juntamente com o Ministério Público do Estado, recomendava a
inclusão nos editais de licitação de cláusula exigindo tal registro dos licitantes;
e
f) Ausência de representações perante este Tribunal de Contas, Ministério Público,
Poder Judiciário ou impugnações administrativas ao edital.

Também conclui que, na pior das hipóteses, estar-se-ia diante de um “erro


involuntário”, mas não, diante de um subterfúgio caracterizador de qualquer
irregularidade. E ressalta que não se pode punir alguém por suspeita de
prejuízo em um certame. No caso, tal restrição à participação, como aduzido
pela auditoria, teria que estar comprovada, ou pelo menos demonstrada de
forma inequívoca. Pelo contrário, para o defendente, estaria provado nos autos
que as empresas do ramo dos serviços licitados participaram efetivamente do
certame, havendo, inclusive, lances que reduziram consideravelmente o valor
inicialmente orçado pelo Município.

Por fim o Sr. Paulo Roberto Vieira Caldellas que não trouxe defesa específica quanto a
esse ponto.

Tal irregularidade foi apontada em sede de ITC por infringência direta ao Princípio da
Competitividade disposto no art. 37, XXI41 da Constituição Federal, bem como, art. 30, I
da Lei 8.666/9342, isso porque fez constar em seu edital item 7.2.5.2.2 cláusulas com
suposto caráter restritivo.

7.2.5 – QUALIFICAÇÃO TÉCNICA:


7.2.5.2 – Lote 01:

41
XXI - ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços, compras e alienações serão contratados mediante
processo de licitação pública que assegure igualdade de condições a todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam
obrigações de pagamento, mantidas as condições efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual somente permitirá as exigências
de qualificação técnica e econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações.
42
Art. 30. A documentação relativa à qualificação técnica limitar-se-á a:
I - registro ou inscrição na entidade profissional competente

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7.2.5.2.2 – Comprovante de registro ou inscrição do licitante perante a


respectiva entidade profissional, CREA – Conselho Regional de Engenharia e
Arquitetura e CRA – Conselho Regional de Administração, observada sua
atuação.

Em sede preliminar se faz necessária uma análise da própria irregularidade apontada,


para que posteriormente se observe a conduta de cada agente. Em sendo assim, pelo
arcabouço legal, restou evidenciado que é vedado aos agentes públicos, admitir,
prever, incluir, ou tolerar, nos atos de convocação, cláusula ou condições que
prometam, restrinjam ou frustrem o seu caráter competitivo.

Nas circunstâncias analisadas, de fato não é objeto do certame atividade que seja
típica de um Administrador e que justifique a inserção da exigência das empresas
licitantes com registro no órgão de classe – CRA, restando caracterizada como ilegal,
inserção de cláusula nesse sentido, vez que a atividade básica desenvolvida pela
empresa que determina em qual conselho profissional deve se vincular.

Ressalto meu entendimento nos autos do TC 2205/2019, em que tal previsão


caracteriza restrição ao caráter competitivo, pela sua capacidade de reduzir de forma
sensível o universo de propensos participantes.

No entanto, verifico aos autos que o certame foi bem sucedido e com a participação de
três empresas licitantes, quais sejam, JP Locações de Estruturas Metálicas Ltda. EPP;
Souza Ambiental Ltda. ME; e Fest Show Eventos Ltda. ME.

Nesse sentindo entendo que a clausula constante é restritiva, e assim, por manter a
irregularidade, como atenuante a mesma, mantenho-a sem o condão de macular as
contas, visto que restou comprovada a competitividade da licitação. Passo à análise da
conduta individualizada de cada agente:

Pois bem, quanto a defesa do Sr. Thiago Monteiro Bonatto, ressalto que já proferi
entendimento aos autos do TC 8859/2018, em que a responsabilização do pregoeiro é
decorrente da fase externa da licitação.

Pois bem, a Embargante não pode ser pena lizada pela inserção das
cláusulas tidas como restritivas, vez que somente tem competência para

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atuar em fase externa da licitação e ainda considerando que em fase interna


diligenciou ao órgão técnico e competente quanto ao teor da cláusula e não lhe
cabendo contestar a manifestação, que constava com aprovação inclusive a
assessoria jurídica.

Sendo assim, muito embora a Instrução Técnica Conclusiva entenda que ao caber ao
mesmo a condução do procedimento licitatório e assim, realizar alterações no termo de
referência. Ao meu sentir deve ser levado em consideração o fato de que todo o termo
de referência foi realizado pela Secretário Municipal de Esportes e Cultura, e ainda que
todo o procedimento teve o aval da procuradoria municipal.

Nesse sentido divirjo do nobre relator e afasto a responsabilidade do Sr. Thiago


Monteiro Bonatto.

No que tange ao Sr. Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva, vale ressaltar o mesmo que
exposto acima, já tendo demonstrado que a irregularidade se deu de maneira formal
aos autos.

Em sendo assim, conforme disposto no parágrafo único do art. 38 da Lei 8.666/93 o


assessor jurídico tem o dever de examinar e aprovar as minutas de editais, contratos,
acordos, convênios ou ajustes. Esse prévio exame é de suma importância, pois permite
o controle preventivo de ilegalidade, evitando relações prejudiciais ao interesse público.

Nessa linha de intelecção, cito jurisprudência do Supremo Tribunal Federal a respeito


da matéria:

O parecerista jurídico pode ser responsabilizado solidariamente com gestores


por irregularidades na aplicação de recursos públicos. O parecer jurídico
integra e motiva a decisão a ser adotada pelo ordenador de despesas.
Por meio de Pedido de Reexame, subprocurador administrativo do município
requereu a reforma de deliberação que o condenara ao pagamento de multa
em razão de irregularidades em procedimento licitatório envolvendo a aplicação
de recursos públicos federais no Programa Caminho da Escola e no Programa
Nacional de Apoio ao Transporte Escolar. Alegou o recorrente que não poderia
ser responsabilizado "pois apenas emitiu parecer jurídico, que seria ato
'meramente opinativo'”, e ainda que "não ordenou despesas, não gerenciou,
arrecadou, guardou ou administrou quaisquer bens ou valores públicos ”. Ao
examinar a matéria, a relatora anotou que "o entendimento deste Tribunal é de
que o parecerista jurídico pode ser responsabilizado solidariamente com
gestores por irregularidades na aplicação dos recursos públicos. O parecer
jurídico, via de regra acatado pelo ordenador de despesas, é peça com
fundamentação jurídica que integra e motiva a decisão a ser adotada". Citou

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precedente do STF que, "ao tratar da responsabilização de procurador de


autarquia por emissão de parecer técnico-jurídico, admitiu a responsabilidade
solidária do parecerista em conjunto com o gestor". Ademais,"a
responsabilização solidária do parecerista por dolo ou culpa decorre da própria
Lei 8.906/1994 (Estatuto da Advocacia), que, em seu art. 32, dispõe que o
‘advogado é responsável pelos atos que, no exercício profissional, praticar com
dolo ou culpa’". Por fim, observou que o parecer favorável emitido pelo
recorrente implicou prosseguimento de certame "marcado por total falta de
competitividade". O Tribunal, então, seguindo o voto da relatora, decidiu negar
provimento ao recurso. (Acórdão 825/2014-Plenário, TC 030.745/2011-0,
relatora Ministra Ana Arraes, 2.4.2014.) (g.n.).

Ainda sobre, embora a aprovação do ato pela assessoria jurídica não vincule o
Administrador a ponto de substitui-lo em seu juízo de valor, isso não significa que o
parecerista é absolutamente isento de responsabilidade sobre suas manifestações.

Nesse sentido mantenho a irregularidade no campo da ressalva, por entender o seu


caráter meramente formal, sem caracterização de prejuízo ao erário.

Quanto ao Sr. Paulo Roberto Vieira Caldellas acompanho o entendimento do relator e


da ITC 6134/2017 em que afastou a responsabilidade do mesmo por não restar
relevância nas atividades exercidas pelo mesmo para a configuração da irregularidade.

Isto posto, mantenho a irregularidade somente, quanto ao Sr. Geraldo Tadeu


Scaramussa da Silva (Procurador), e ainda assim, no campo da ressalva.

III.1.2 – Ausência de planilhas de preços unitários. (subitem 5.1.1.2 do RAO) –


Processo 9369/2012.

A irregularidade apontada em sede de auditoria, se trata dos objetos contratados no


lote 1, ao não constar detalhamento unitário do objeto do contrato, sendo assim tal
conduta impossibilitou a verificação da adequação do valor contratado com o valor de
mercado.

Em defesa o Sr. Guerino Luiz Zanon trouxe aos autos que os itens que compunham o
lote 1, deveriam ser fornecidos de forma conjunta, exemplificando o aparelhamento e
cabeamento de som), sendo impraticável individualizar além do realizado.

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Já o Sr. José Jair Reali, Secretário Municipal de Esportes e Lazer, esclarece que o
fornecimento se tratava de uma responsabilidade única e indivisível, não sendo
possível a contratação de empresas diferentes para a prestação do serviço.

Esclarece que aquela foi a melhor forma encontrada pela Administração para
especificação técnica do objeto necessária a realização do evento.

Esclarecendo ainda, que o procedimento licitatório obedeceu ao disposto na Lei


10.520/2002, ao constar em Processo Administrativo a realização de busca de preços
de mercado e a elaboração de planilha de preços médios.

O Sr. Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva, Procurador, traz a mesma defesa do item
anterior acrescendo que os serviços foram bem especificados e contam das planilhas
os valores unitários de cada serviço, não constando os valores fracionados de cada
especificação e detalhamento do serviço.

Já a defesa o Sr. Paulo Robert Vieira Caldellas e Sr. Thiago Monteiro Bonato foi muito
bem resumida pela equipe técnica e passo a transcrever:

4 – Paulo Robert Vieira Caldellas (Auditor Geral):


O defendente alega que os itens do lote 1 tinham características técnicas e utilização
conjunta que tornavam impossíveis suas contratações com fornecedores diversos. E explica
que, a produção de som para um evento necess ita de diversos equipamentos interligados
entre si, instalados em um palco, devendo ficar sob a responsabilidade de um único
contratado, pois o descumprimento contratual do fornecedor de parte dos itens acarretaria a
inviabilização do evento.

5 – Thiago Monteiro Bonatto (Pregoeiro):


Preliminarmente o defendente alega que o detalhamento consta do Termo de Referência,
elaborado pela Secretaria requisitante, e tratava-se apenas, de uma forma encontrada pela
administração para a clara especificação técnica do objeto, com as respectivas capacidades e
potências dos equipamentos necessários para a realização do evento.

Esclarece que no lote 1 foram especificadas as descrições dos atributos mínimos necessários
dos equipamentos que deveriam estar disponíveis no palco em função da natureza própria do
objeto da contratação. E complementa: O que se buscou foi dar clareza ao objeto da licitação
sem deixar qualquer margem à dúvida, pois essas especificações, na forma da lei, não se
admitem complementação a posteriori, sob pena de nulidade do certame.

Afirma, ainda, que os serviços foram muito bem especificados e constaram das planilhas os
valores unitários de cada serviço contratado. O que não constavam eram os valores

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fracionados de cada especificação e detalhamento do serviço.

Alternativamente, argumenta que o entendimento do TCU, sobre as planilhas orçamentárias


nas licitações modalidade pregão, tem sido de forma reiterada, pela não aplicação dos
dispositivos da Lei 8.666/93.

Ressalta que, não está expressa na Lei regente do Pregão, a obrigação de divulgação das
planilhas com preços unitários. Mas, tão somente, o dever de constar os orçamentos nos
autos do processo administrativo.

Por fim, alega que apenas atuou na fase externa da licitação, iniciada após análise e
aprovação da minuta do edital pela Procuradoria. E que não haveria, nexo de causalidade
entre sua conduta com a suposta irregularidade aventada pela auditoria, por que, in verbis:

f) Primeiro, não compete ao pregoeiro elaborar as planilhas de preços unitários ;


g) Segundo, as planilhas integram sim os autos, e, foram apresentadas pela
autoridade competente e aprovadas pelo órgão Jurídico, único órgão que teria
competência legal para aprovar os procedimentos da fase interna, ou, conforme
o caso, sugerir o seu saneamento quando não observadas às formalidades
legais;
h) Terceiro, a aprovação do órgão jurídico é vinculante;
i) Quarto, não existe qualquer prova nos autos de prejuízo à participação de
concorrentes, se tivesse havido prejuízo teria havido recurso, impugnação de
edital etc. Tampouco, existem indícios de prova de que a Administração deixado
de obter a contratação mais vantajosa. O contrato foi firmado e devidamente
cumprido e o evento foi realizado conforme as necessidades da administração; e
j) Quinto, a Lei especial que deve ser observada na instrução processual do
Pregão, não obriga a publicação no edital das planilhas com preços unitários,
apenas os orçamentos devem constar nos autos do processo administrativo e
estes efetivamente integram os autos.

Pois bem, em sede de Instrução Técnica Conclusiva restou claro que à ausência de
preços unitário se deu quanto ao agrupamento de itens, sonorização, iluminação,
projetores multimídia, house mix, stand e palco, tendo a Administração apresentado um
único valor para todos esses serviços.

Há que se considerar, que ainda que se admita a aglutinação em um único lote, em


nada impede, que seja elaborado o preço unitário, sendo assim, ainda que se opte pelo
julgamento em preço global, há a exigência de que os valores sejam preenchidos com
valores unitários.

Nesta esteira, vale apresentar posicionamento do renomado Administrativista, Ronny


Charles Lopes de Torres, in verbis:

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Em tese, a reunião de diferentes pretensões contratuais em um único certame


pode gerar perda da competitividade, pelo impedimento à participação de
empresas que atuem no mercado, com apenas parte do objeto contratual
ampliado. Por outro lado, algumas vezes, a reunião das pretensões
contratuais pode servir positivamente à Administração, pelo ganho em
economia de escala ou pela vantagem no gerenciamento contratual,
elementos que permitem o alcance de uma melhor proposta econômica.

Deste modo, superado o fato de ser possível a aglutinação em um único lote,


passamos a observar a falta de discriminação unitária dos serviços prestados.

Compulsando os autos (fls. 307 a 320), encontramos as planilhas orçamentárias,


elaboradas com base em cotação de preços de mercado junto a empresas do
ramo. No entanto, esses documentos não foram preenchidos com os valores
unitários de cada agrupamento acima citado e tampouco publicados como anexo
do edital.

Nesse sentido a equipe técnica entendeu pela mantença da irregularidade. Pois bem, é
previsto no artigo 40, X, da Lei 8666/93 que em momento de elaboração do edital há à
exigência de orçamento detalhado em planilhas que expressem a composição de
custos unitários, isso porque, permite que se verifique a adequação do preço estimado
àquele que é praticado no mercado, evitando desfalques aos cofres públicos.

Lado outro, não observo aos autos elementos que evidenciem um prejuízo ao erário,
ou qualquer outro tipo de prejuízo a municipalidade, observo ainda que constam aos
autos em instrução controvérsia quanto ao entendimento de juntada da planilha de
estimativa de preço, em sendo assim mantenho a irregularidade em face do Sr.
José Jair Reali e Sr. Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva, sem o condão de
macular as contas, sendo a mesma passível de recomendação.

No que tange ao Sr. Thiago Monteiro Bonatto, mantenho o entendimento exposto no


item III.1.1 do presente voto, em que, responsabilização do pregoeiro é decorrente da
fase externa da licitação.

Já quanto ao Sr. Paulo Roberto Vieira Caldellas, acompanho o entendimento do relator,


bem como da Instrução Técnica Conclusiva 6134/2017, nos seguintes termos:

 Paulo Roberto Vieira Caldellas (Auditor Geral):

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A atividade exercida nos autos do procedimento licitatório pelo Auditor Geral do Município
de Linhares, senhor Paulo Roberto Vieira Caldellas, não foi relevante para a configuração
da irregularidade, pois não lhe competiu a elaboração do edital, a análise jurídica da minuta
correspondente, tampouco a condução do processo licitatório.
Compulsando os autos, nota-se que o Auditor Geral apenas emitiu parecer favorável ao
prosseguimento do procedimento baseado no fato de que havia sido cumprido o trâmite
regular.

III.1.3 – Omissão na fiscalização da execução contratual. (subitem 5.1.1.3 do RAO)


– Processo 9369/2012.

Foi apontado em auditoria que não consta termo circunstanciado assinado pelo agente
responsável pela fiscalização “atestando o recebimento de todos os itens em
conformidade com o estabelecido em edital, conforme redação do art. 73, II, “a” e “b”,
da Lei 8.666/93”.

Em sede de defesa o Sr. Guerino Luiz Zanon alega que à ausência de termo
circunstanciado não configura irregularidade, pois os materiais foram entregues,
conferido e aceitos porque cumpriam o exigido.

Ao fim alega que o contratado fora atestado pelo Secretário Municipal de Esportes e
Lazer (Sr. José Jair Reali), bem como, pelo servidor responsável (Sr. Agnaldo
Bernardo).

Em defesa o Sr. José Jair Reali e Sr. Aguinaldo Bernardo afirmam que houve um
excessivo rigor por parte dos auditores, posto a obrigatoriedade de elaboração do
termo circunstanciado restringe-se aos casos de aquisição de equipamentos de grande
vulto (art. 73, § 1º).

Em sendo assim, esclarecem que a contratação do Pregão 134/2012, não se tratava de


uma aquisição ou mesmo locação de equipamentos de grande vulto ou como alguma
complexidade e que a lei permite que em tais casos seja o recebimento feito por meio
de ateste.

Acompanho o entendimento técnico e do relator em acolher os termos da defesa. In


verbis:

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Análise:
Sobre a exigência de termo circunstanciado, como instrumento de fiscalização da execução
contratual, assim dispõe a Lei 8.666/93:
Art. 73. Executado o contrato, o seu objeto será recebido:
I - em se tratando de obras e serviços:
a) provisoriamente, pelo responsável por seu acompanhamento e fiscalização,
mediante termo circunstanciado, assinado pelas partes em até 15 (quinze) dias
da comunicação escrita do contratado;
b) definitivamente, por servidor ou comissão designada pela autoridade
competente, mediante termo circunstanciado, assinado pelas partes, após o
decurso do prazo de observação, ou vistoria que comprove a adequação do
objeto aos termos contratuais, observado o disposto no art. 69 desta Lei;
II - em se tratando de compras ou de locação de equipamentos :
a) provisoriamente, para efeito de posterior verificação da conformidade do
material com a especificação;
b) definitivamente, após a verificação da qualidade e quantidade do material e
conseqüente aceitação.
o
§ 1 Nos casos de aquisição de equipamentos de grande vulto, o recebimento
far-se-á mediante termo circunstanciado e, nos demais, mediante recibo.(gn)

Depreende-se do dispositivo legal que, o termo circunstanciado é um documento obrigatório


na tarefa de fiscalização da execução contratual de obras e serviços e aquisições de
equipamentos de grande vulto, ou seja, aquelas cujo valor estimado seja superior a 25
vezes o limite de R$1.500.000,00 (um milhão e quinhentos mil reais), conforme estabelece o
artigo 6º, inciso V, c/c a alínea “c” do inciso I do artigo 23 da Lei 8.666/93.
Com os contratos 423/2012 e 424/2012, o Município de Linhares despendeu a quantia de
R$168.280,02 (cento e sessenta e oito mil, duzentos e oitenta reais e dois centavos) para a
locação de equipamentos e estruturas do evento festivo “Forró Pontal 2012”, a saber:
sonorização, iluminação, palco, banheiros químicos, toldos e tendas.
Infere-se, assim, que para a fiscalização desses contratos não se aplicava o termo
circunstanciado, uma vez que, não se referia a obra ou serviço de engenharia, embora
necessitasse da fiscalização de um engenheiro no que tange à montagem e desmontagem
das estruturas e equipamentos, e tampouco à aquisição de equipamentos de grande vulto.
Dessa forma, conforme estabelece o § 1º, inciso II do artigo 73, da Lei 8.666/93, a
confirmação da execução contratual se daria mediante recibo.
Analisando a documentação carreada aos autos pela equipe de auditoria (fls. 477 a 512)
observa-se que o próprio Secretário Municipal de Esporte e Lazer, senhor José Jair Real,
atestou a execução dos serviços (fls. 470 dos autos TC – fls. 566 do processo
administrativo) e autorizou o pagamento conforme as notas fiscais emitidas pelas empresas
Fest Show Eventos Ltda. ME (contrato 423/2012) e JP Locações de Estrutura Metálicas
Ltda. EPP (contrato 424/2012).
Nos autos do processo administrativo (fls. 592), juntado aos autos do TC às fls. 489,
também consta declaração subscrita pelo fiscal dos referidos contratos, senhor Aguinaldo
Bernardo, atestando que os serviços de locação, montagem e desmontagem das estruturas
utilizadas no evento “Forró Pontal/2012”, foram executados de forma satisfatória. Como
comprovação, anexa relatório fotográfico (fls. 593 a 613 do processo administrativo e fls.
490 a 510 dos autos TC).
Logo, não se pode afirmar que houve omissão na fiscalização da execução contratual. Isto
posto, opina-se pelo acolhimento dos argumentos da defesa, afastando a
irregularidade.

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III.1.4 – Ausência de interesse público. (subitem 5.1.1.4 do RAO) – Processo


9369/2012.

Em sede de auditoria ficou constatado que a montagem e desmontagem de 24 (vinte e


quatro) tendas sem qualquer demonstração de interesse público envolvido.

Ao analisar os autos verificou-se que as tendas foram exploradas


comercialmente, tendo ocorrido o aluguel dessas tendas a terceiros para que
pudessem promover o comércio no local do evento, com vendas de bebidas,
lanches, salgados, doces, etc. e, assim, auferindo lucros. Não há nos autos
qualquer menção acerca do proveito econômico resultante dos aluguéis das
tendas para a municipalidade.

Partindo da premissa de que o evento é totalmente promovido e custeado pela


Prefeitura Municipal de Linhares, o fato de particulares lucrarem com o evento
sem qualquer contraprestação ao Erário afronta o princípio do interesse
público, conforme dispõem as Constituições Estadual e Federal.
O valor unitário da contratação das tendas foi de R$ 339,42 (trezentos e trinta e
nove reais e quarenta e dois centavos), totalizando R$ 8.146,08 (oito mil cento
e quarenta e seis reais e oito centavos), conforme Tabela 3.

Considerando que tal gasto não representou retorno econômic o para a


coletividade, o valor total de R$ 8.146,08 ou 3.606,21 VRTE’s é passível de
imputação de débito, solidariamente, aos responsáveis, devendo retornar aos
cofres públicos.

Alega em defesa o Sr. Guerino Luiz Zanon, que a exploração de tendas se deu para o
interesse público, mas que o curto espaço de tempo não foi possível obter
documentação comprovante da alocação de tendas.

O Sr. José Jair Reali e Sr. Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva alegam que o para o
bom andamento do evento, que ocorre em local aberto é necessária tal locação, posto
a presença acentuada da população local. Afirma também que foi realizado o
recolhimento dos valores, mas não foi possível a localização dos comprovantes.

Já o Sr. Paulo Roberto Vieira Caldellas alega que a licitação teve por objetivo
selecionar empresas para evento patrocinado pela Secretária de Esporte e Lazer, e
não para instituir atividade obtendo receita ao município.

No mérito da presente irregularidade acompanho o relator, bem como a Instrução


Técnica Conclusiva 6134/2017, nos seguintes termos:

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Análise:
Os auditores do Tribunal relatam que, a Secretaria Municipal de Esporte e Lazer contratou a
locação, montagem e desmontagem de 24 tendas, objeto do Pregão 134/2012, sem
qualquer demonstração do interesse público envolvido na forma pela qual seriam
exploradas.

Sustentam, ainda, que as tendas locadas foram exploradas comercialmente por terceiros.
Contudo não há registros acerca do proveito econômico resultante dos aluguéis desses
espaços pela municipalidade, o que também afrontaria o princípio do interesse público.

Em sede de defesa, os responsáveis alegam, em síntese, que a contratação estava


revestida de interesse público, uma vez que as tendas facilitariam a atuação da fiscalização
de posturas e também do policiamento, na medida em que delimitava o espaço da festa,
realizada em local aberto, além de estimular a participação direta da comunidade, através
da Associação de Moradores do Pontal do Ipiranga. Afirmam também que, o recolhimento
dos valores foi realizado, não tendo sido possível a localização dos comprovantes.

Justifica-se, assim, a necessidade da locação de tendas, mas não a forma como seriam
exploradas. Nesse sentido, mais esclarecedor foi o Senhor Paulo Roberto Vieira Caldellas,
à época Auditor Geral do Município, que em argumentos defensivos informou:

Ao estabelecer no edital permissão da contratada auferir recursos com a


exploração de espaços como área de alimentação, o Município teve o escopo
exclusivo de redução dos custos de realização do evento, conjugado com a
real inviabilidade do Município exercer diretamente a comercialização e
cobrança de tais espaços, além de que esta remuneração visava permitir à
contratada cobrir custos adicionais intrínsecos a tais eventos.

Contudo ao analisar os documentos carreados aos autos (fls. 289 a 511), verifica-se que foi
adjudicado à empresa Fest Show Eventos Ltda. ME, a montagem e desmontagem de 24
tendas, mediante locação, e não a exploração comercial dessas, como alegado pelo
defendente. No edital não há nenhuma cláusula que estabelecesse tal direito.

Também não pode prosperar a alegação de que a remuneração visava permitir à contratada
cobrir custos adicionais, uma vez que o evento era totalmente promovido e custeado pela
Prefeitura Municipal de Linhares.

Infere-se assim que, ao consignar tal afirmação em sede de defesa, o então Auditor Geral
do Município, acaba esclarecendo que foi concedido a um único particular o uso
remunerado de espaço público sem um prévio processo seletivo, que privilegiasse a
impessoalidade necessária ao alcance da finalidade pública da despesa, conforme
questionado pela equipe.

43
Nesse sentido, vale destacar a doutrina de Hely Lopes Meireles , para quem
impessoalidade e finalidade pública se confundem:

O princípio da impessoalidade, referido na Constituição/88 (art. 37, caput),


nada mais é que o clássico princípio da finalidade, o qual impõe ao
administrador público que só pratique o ato para o seu fim legal. E o fim legal é

43
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. São Paulo: Ed. Malheiros, 42ª ed., 2016, pp. 97- 98.

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unicamente aquele que a norma de Direito indica expressa ou virtualmente


como objetivo do ato, de forma impessoal.

(...)

O que o princípio da finalidade veda é a prática de ato administrativo sem


interesse público ou conveniência para a Administração, visando unicamente a
satisfazer interesses privados, por favoritismo ou perseguição dos agentes
governamentais, sob a forma de desvio de finalidade. (...)

No caso sob análise, resta configurado que o gestor da Secretaria agiu com desvio da
finalidade pública, ao não definir previamente como as tendas locadas seriam exploradas,
deixando a cargo de um particular, exatamente o fornecedor dessas estruturas, à
comercialização desses espaços públicos temporários.

Isto posto, opina-se pela manutenção da irregularidade com a consequente imputação


de débito no valor R$8.146,08 (3.606,21 VRTE) pago pela locação das 24 tendas, sendo
responsável, o senhor José Jair Reali (Secretário Municipal de Esporte e Lazer), que
requereu a locação de tendas para atender ao evento Forró Pontal, mas não justificou a
forma como seriam explorados comercialmente os espaços.

Afasta-se a responsabilidade dos seguintes senhores:

 Guerino Luiz Zanon:


Responsabilidade afastada na preliminar.

 Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva (Procurador Chefe Administrativo do


Município):

A atividade jurídica exercida nos autos do procedimento licitatório pelo Procurador, não foi
relevante para a configuração da irregularidade, pois não lhe competia a elaboração do
Termo de Referência, tampouco a definição prévia de como seriam exploradas
comercialmente as tendas, ato discricionário do responsável pela Secretaria requisitante.

 Paulo Roberto Vieira Caldellas (Auditor Geral):

A atividade exercida nos autos do procedimento licitatório pelo Auditor Geral do Município
de Linhares, senhor Paulo Roberto Vieira Caldellas, não foi relevante para a configuração
da irregularidade, pois não lhe competiu a elaboração do edital, a análise jurídica da minuta
correspondente, tampouco a condução do processo licitatório.

Compulsando os autos, nota-se que o Auditor Geral apenas emitiu parecer favorável ao
prosseguimento do procedimento, por entender que havia sido cumprido o trâmite regular.

Ademais, em sede de defesa, deixa claro que sequer conhecia as regras estabelecidas no
edital do procedimento licitatório, ao afirmar que nes se instrumento convocatório estava
estabelecida a permissão da contratada auferir recursos com a exploração comercial dos
espaços públicos temporários. Direito que não se constata no edital.

III.1.5 – Liquidação irregular da despesa. (subitem 5.1.1.5 do RAO) – Processo


9369/2012.

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Em sede de auditoria se entendeu que não havia comprovação aos autos de que todos
os serviços foram prestados, serviços esses de iluminação, camarim, palcos e
sonorização, afim de que se justificasse o pagamento de R$149.700,00.

Na presente irregularidade acompanho integralmente o Relator, bem como a equipe


técnica na ITC 6134/2017. In verbis:

Justificativas:

1 – Guerino Luiz Zanon:

A defesa argumenta que as alegações apresentadas como resposta ao item 5.1.1.3 do


relatório (omissão na fiscalização da execução contratual) sanam também a suposta
irregularidade registrada no item 5.1.1.5.

Complementa, afirmando: “Os materiais e equipamentos entregues foram devidamente


conferidos e atestados pelo servidor responsável, tendo sido cumpridas as formalidades
legais para a liquidação da despesa e, mais importante, sem qualquer repercussão
negativa para o Poder Público”. (grifos da origem)

Por fim, destaca os relatórios fotográficos, acostados ao processo administrativo, como


prova cabal de que todos os serviços foram utilizados.

2 – José Jair Reali (Secretário Municipal de Esporte e Lazer):

Preliminarmente o defendente argumenta que a suposta irregularidade registrada no item


5.1.1.5 do relatório pode ser considerada consequência direta dos apontamentos relativos à
fiscalização da execução contratual, item 5.1.1.3 do relatório.

Sobre o relato da equipe de auditoria de que não havia comprovação da utilização de todos
os serviços de iluminação, camarins, palcos e sonorização, o defendente alega que é de
conhecimento público o fato de artistas de âmbito nacional, como alguns contratados para o
Forró Pontal 2012, simplesmente deixarem de se apresentar se algo estiver desconforme,
por ensejar quebra do instrumento contratual por justo motivo.

Sobre a comprovação da realização dos serviços contratados, mediante relatório


fotográfico, alega que é praticamente impossível ou até mesmo antieconômico fazer
registros que identifiquem o atendimento de todas as especificações listadas no termo de
referência. Esclarece que nesse documento havia descrição da potência de equipamentos
de som e luz, para os quais seriam necessárias fotos de plaquetas de indicação minúsculas
ou inscrições já desgastadas pelo uso.

Quanto à previsão editalícia para que houvesse discriminação do material/serviço


contratado em nota fiscal, afirma que a mesma foi atendida, pois havia no corpo desse
documento menção à autorização de fornecimento nº 510/2012, que discriminava e
especificava os equipamentos.

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Por fim, alega que o fiscal do contrato, que teve acesso a tal autorização, teria avalizado a
execução contratual de acordo com que esse documento especificava.

3 – Aguinaldo Bernardo (Fiscal do contrato):

As alegações da defesa são as mesmas apresentadas pelo senhor José Jair Reali, o que
torna desnecessário aqui transcrevê-las.

Análise:

Analisando a documentação carreada aos autos pela equipe de auditoria (fls. 477 a 512)
observa-se que o próprio Secretário Municipal de Esporte e Lazer, senhor José Jair Real,
atestou a execução dos serviços (fls. 470 dos autos TC – fls. 566 do processo
administrativo) e autorizou o pagamento conforme as notas fiscais emitidas pelas empresas
Fest Show Eventos Ltda. ME (contrato 423/2012) e JP Locações de Estrutura Metálicas
Ltda. EPP (contrato 424/2012).

Nos autos do processo administrativo (fls. 592), juntado aos autos do TC às fls. 489,
também consta declaração subscrita pelo fiscal dos referidos contratos, senhor Aguinaldo
Bernardo, atestando que os serviços de locação, montagem e desmontagem das estruturas
utilizadas no evento “Forró Pontal/2012”, foram executados de forma satisfatória. Como
comprovação anexou relatório fotográfico (fls. 593 a 613 do processo administrativo e fls.
490 a 510 dos autos TC).

Além desses atestes, é importante destacar que o evento realizado pelo Município de
Linhares é de conhecimento público e notório, estando presente, sua divulgação, em jornais
de grande circulação do estado, matérias televisivas e diversas outras formas de
comprovação de que efetivamente ocorreram, como, por exemplo, via internet, conforme se
44
constata nos endereços pesquisados .

Dessa forma, uma eventual emissão de juízo favorável à ocorrência de liquidação irregular
de despesa, por não haver a comprovação de que todos os serviços contratados foram
realizados, estaria embasada tão somente na presunção da inexecução parcial do contrato.
Isto posto, opina-se pelo acolhimento dos argumentos da defesa, afastando a
irregularidade.

III.1.6 – Restrição ao caráter competitivo do certame. (subitem 5.1.2.1 do RAO) –


Processo 11.789/2012.

Em sede de auditoria se entendeu que no lote 1, cujo objeto era a contratação de


estrutura para realização do evento EXPOLINHARES 2012, era composto por itens
distintos e complexos, tais com estrutura física dos palcos, iluminação, telões, camarim,
camarotes, sonorização e eletricidade.

44
Disponível em: https://w w w .youtube.com/w atch?v=-8hv9b4AWv8
Disponível em: w w w .sitedelinhares.com.br/.../forro-pontal-2012-atrai-milhares-de-turistas-a-paz-rein...
Disponível em: w w w .euagito.com.br/v9/?page=galeria&evento=4378

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E em assim sendo, entendeu que essa previsão em um único lote caracterizaria,


restrição ao caráter competitivo.

Assim como o item acima acompanho integralmente o entendimento exarado pelo


Relator, bem como pela equipe técnica na ITC 6134/2017.

Justificativas:

1 – Guerino Luiz Zanon:


A defesa contesta a equipe de auditoria, argumentando que a mera afirmação da existência
de empresas que se dedicam a uma coisa ou outra jamais poderia sustentar o apontamento
de irregularidade, uma vez que a licitação contou com a participação das empresas que
rotineiramente se apresentam para disputa de objetos, como os que compunham o Pregão
208/2012.

Afirma, ainda, que os serviços, apontados pela área técnica como divisíveis, são partes de
um todo, tendo sido licitados como deveriam e como é de praxe ocorrer.

2 – José Jair Reali (Secretário Municipal de Esporte e Lazer):

Preliminarmente o defendente ressalta que o termo de referência, por ele elaborado, visou
tão somente à segurança dos presentes e à economicidade do evento para os cofres
públicos.

Alega que, embora os itens do lote 1 sugerissem uma possível separação quando de sua
licitação, a sua ocorrência na forma apontada pelos auditores poderia relegar a segundo
plano a segurança dos presentes a medida que surgissem diversos ganhadores para
montar uma estrutura única.
Argumenta que a própria Súmula 247 do TCU permite que haja análise de conveniência e
discricionariedade na divisão do objeto, uma vez que ressalta a obrigatoriedade da
admissão da adjudicação por item e não por preço global, cujo objeto seja divisível, desde
que não haja prejuízo para o conjunto ou complexo ou perda de economia de escala.

Afirma que, a equipe de auditores deste Tribunal não analisou a conveniência do


parcelamento com foco na segurança dos presentes e eficácia na prestação dos serviços, e
até mesmo, na garantia da execução dos contratos.

Reforçando o argumento de que haveria prejuízo para o conjunto, o defendent e aduz que
não tinha como montar camarins, camarotes sem que o palco também estivesse montado,
assim como, a eletricidade, a iluminação, sonorização, etc.

Ressalta, ainda, que a decisão de manter em único lote os serviços, questionados pela
auditoria, deu-se inclusive, para garantia da perfeita e tempestiva execução dos serviços
para a realização do evento. E completa alegando que, caso houvesse o parcelamento do
objeto da licitação, o descumprimento de um item isolado inviabilizaria totalmente a
execução do evento, tendo em vista que não haveria prazo hábil para uma nova
contratação, pois os serviços teriam que ser executados durante o evento.

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Lembra que a lei permite e até exige o parcelamento do objeto da licitação, quando houver
viabilidade técnica e econômica para sua execução. Destaca, contudo, que acima dessas
análises deve o município zelar pelas consequências do parcelamento, pois apesar de
aparentemente haver a viabilidade técnica, em uma análise mais acurada do caso concreto,
o alto risco à segurança do evento foi fator decisivo na escolha por atribuir a
responsabilidade a uma única empresa, evitando, assim, transtornos inclusive com riscos de
prejudicar a realização do evento, o que por certo acarretaria prejuízo ao erário.

Cita o Acórdão TCU 732/2008, cujo entendimento foi no sentido de que o parcelamento ou
não do objeto da licitação deve ser auferido sempre no caso concreto. Segue trecho
transcrito:

“... a questão da viabilidade do fracionamento deve ser decidida com base em


cada caso, pois cada obra tem suas especificidades devendo o gestor decidir
analisando qual a solução mais adequada no caso concreto. “

Destaca, ainda, Marçal Justen Filho, que em sua obra Comentários à Lei de Licitações e
Contratos Administrativos, Dialética, 8ª edição, p. 217, assim disserta:
Em segundo lugar, devem considerar-se em conjunto objetos que, embora
materialmente distintos e que não possam ser considerados como partes
integrantes de um único objeto, apresentem natureza semelhante e devam ser
executados no mesmo local, desde que tal execução possa fazer-se conjunta e
concomitantemente. Essa regra deriva da segunda parte do § 5º. Veja-se que a
solução foi reiterada no art. 24, inc. I. Ali também se determina que “obras e
serviços da mesma natureza e no mesmo local que possam ser realizadas
conjunta e concomitantemente” devem ter o valor somado.

Frisa que, com base no próprio TCU e na doutrina citada, a contratação completa dos
serviços contemplando estrutura física dos palcos, iluminação, camarins, telões, camarotes,
sonorização e eletricidade em lote único, trouxe mais vantagens e a segurança necessária
que se traduz em benefícios para a Administração, bem como para os munícipes, ao
mesmo tempo em que garantiu melhores condições para a realização do evento com
qualidade sem sofrer solução de continuidade.

Finaliza a peça de defesa, afirmando que não houve prejuízo ao processo ou mesmo ao
caráter competitivo da licitação, tanto que, não houve nenhum registro de impugnações ao
edital.

3 – Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva (Procurador Chefe Administrativo do


Município):
As alegações da defesa são as mesmas apresentadas pelo senhor José Jair Reali, o que
torna desnecessário aqui transcrevê-las.

4 – Paulo Roberto Vieira Caldellas (Auditor Geral):


Em síntese, o defendente alega que não houve nenhum indício de restrição à
competitividade, haja vista a inexistência de contestação durante a realização do certame. E
lembra que, tal procedimento é adotado há vários anos, sem ser considerado irregular pelo
TCEES.

5 – Thiago Monteiro Bonatto (Pregoeiro):


Preliminarmente o defendente ratifica a questão da não responsabilização do pregoeiro por
atos praticados na fase interna da licitação. Ressalta que, todo o objeto foi estabelecido no

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Termo de Referência, elaborado pela autoridade competente e devidamente aprovado pelo


Órgão Jurídico da Administração Municipal, não restando ao Pregoeiro, permitir ou não a
distribuição dos lotes.
Na sequência apresenta as mesmas alegações das defesas dos senhores José Jair Reali e
Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva, o que torna desnecessário aqui transcrevê-las.

Análise:

Do exame da Lei 8.666/93, vê-se claramente que a divisão ou parcelamento do objeto do


certame licitatório é a regra geral. O artigo 15, Inciso IV, prevê que as compras, sempre que
possível, deverão ser subdivididas em tantas parcelas quantas necessárias, visando
economicidade. No mesmo sentido, o artigo 23, §1º, prescreve que as obras , serviços e
compras efetuadas pela Administração serão divididos em tantas parcelas quantas s e
comprovarem técnica e economicamente viáveis, procedendo-se à licitação com vistas ao
melhor aproveitamento dos recursos disponíveis no mercado e à ampliação da
competitividade sem perda da economia de escala.
Na esteira desse entendimento, foi publicada a Súmula nº 247 do TCU, que assim
estabelece:

É obrigatória a admissão da adjudicação por item e não por preço global,


nos editais das licitações para a contratação de obras, serviços, compras
e alienações, cujo objeto seja divisível, desde que não haja prejuízo para
o conjunto ou complexo ou perda de economia de escala, tendo em vista
o objetivo de propiciar a ampla participação de licitantes que, embora
não dispondo de capacidade para a execução, fornecimento ou
aquisição da totalidade do objeto, possam fazê-lo com relação a itens ou
unidades autônomas, devendo as exigências de habilitação adequar-se
a essa divisibilidade.
Analisando os documentos carreados aos autos pela equipe de auditoria, (fls. 513 a 667)
verifica-se que a regra do parcelamento do objeto foi observada. O edital do Pregão
Presencial 208/2012 estabeleceu 2 lotes distintos, que englobavam: lote 1 – locação,
montagem e desmontagem da estrutura física do evento; e lote 2 – locação de banheiros
químicos.

No entanto, para a equipe de auditoria o lote 1 abrangia itens que não guardavam total
correlação em sua realização. Segundo a equipe, tratava-se de serviços distintos a serem
realizados por empresas de naturezas diversas e, portanto, deveriam ter sido parcelados. O
referido lote compreendia: estruturas de palcos, camarins, camarotes, telões, separadores
de público, instalações elétricas, sonorização e iluminação.

Para a equipe de auditoria, a inclusão em um único lote de todos esses itens obstava a
participação de outros licitantes, pois há empresas especializadas em iluminação, outras em
telões, outras em estrutura para camarins, e outras em sonorização, o que poderia garantir
uma maior vantagem para a Administração Municipal no valor final da contratação.

Para melhor compreensão da questão suscitada pela equipe de auditoria, foi efetuada
45
consulta ao CNPJ de 8 empresas do ramo de eventos, sediadas no Espírito Santo.

45
Em presas consultadas/ CNPJ:
AGR Serviços e Participações Ltda. – EPP – CNJP 03.662.748/0001-48
Cônica Assessoria e Suporte Técnico para Eventos Ltda. EPP – CNPJ 07.720.317/0001-41
Dadalto Eventos –CNPJ 00.375.260/0001-41
Mais Estrutura, Locação de Tendas e Brinquedos Eireli – EPP – CNPJ 02.352.322/0001-25
Mencer Vídeos Ltda. EPP – CNPJ 02.735.200/0001-18
Play City – CNPJ 00.546.072/0001-39
Ponto Com Produções e Serviços de Sonorização Ltda. ME – CNPJ 07.766.821/0001-82
Trilha Locação e Eventos Eirelli EPP – CNPJ 10.569.252/0001-90

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Com a pesquisa constatou-se que todas estão cadastradas com código de atividade
econômica relacionada a aluguel de palcos, coberturas e outras estruturas de uso
temporário; e 5 estão aptas também à realização de atividades de sonorização e de
iluminação.
Infere-se, assim, que o modelo do lote 1 do Pregão Presencial 208/2012 não deixava de
privilegiar a competividade do certame, uma vez que no ramo de eventos existem empresas
capazes de fornecer o conjunto dos itens licitados.

Isto posto, sugere-se o acolhimento dos argumentos da defesa, afastando a


irregularidade.

III.1.7 – Ausência de planilhas de preços unitários. (subitem 5.1.2.2 do RAO) –


Processo 11.789/2012.

Em relatório de auditoria restou configurado que nos dois lotes apresentado (lote 01 –
estrutura para realização do evento EXPOLINHARES 2012; lote 02 – sanitários
químicos) não haviam informação descritiva acerca dos custos unitários da estrutura,
bem como do equipamento.
Em sede de defesa o Srs. José Jair Reali e Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva
alegam que consta no processo administrativo 11.789/2012 os orçamentos detalhados
em planilha com preços unitários e globais e a planilha de apuração preços médios,
respectivamente em fls. 18/44 e 45/22.

Alternativamente, argumenta que o TCU possui jurisprudência reiterada no


sentido de que a divulgação das planilhas orçamentárias no edital do pregão
seria facultativa, devendo, apenas, o valor orçado encontrar-se inserido nos
autos do respectivo processo licitatório.

Por fim, assevera que não existe nos autos do processo nenhum indício de
prova de que a não especificação de valores em cada especificação os itens
licitados tenham impedido a Administração Municipal de avaliar os valores
cobrados, efetivar a fiscalização da execução do objeto e, consequentemente,
efetivar a liquidação da despesa de forma inequívoca.

O Sr. Paulo Roberto Vieira Caldellas alega que os itens do lote 1 tinham características
que tornavam impossível sua contratação com fornecedores diversos. Alega ainda que
o evento necessitava de vários equipamentos interligados, devendo ficar sob a
responsabilidade de um único contratado, pois o descumprimento contratual do
fornecedor de parte dos itens acarretaria a inviabilização do evento.

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Já o Sr. Thiago Monteiro Bonatto apresenta defesa no sentido de que não há atribuição
legal do pregoeiro par atuar na fase preliminar da licitação.

No contexto do já exposto no item III.1.1, não observo aos autos elementos que
evidenciem um prejuízo ao erário, ou qualquer outro tipo de prejuízo a municipalidade,
observo ainda que constam aos autos em instrução controvérsia quanto ao
entendimento de juntada da planilha de estimativa de preço, tendo os responsáveis
seguindo orientação do TCU.

Por fim, em sede de ITC 6134/2017, restou evidenciado que contam aos autos
administrativos planilha de orçamento estimado, de forma unitária, deixando tão
somente de juntar ao processo licitatório por conta da divergência de entendimento
quanto a necessidade de sua publicação ou não. Em sendo assim mantenho a
irregularidade em face do Sr. José Jair Reali e Sr. Geraldo Tadeu Scaramussa da
Silva, sem o condão de macular as contas, expedindo uma recomendação, para
que em próximo procedimentos se torne público as planilhas de orçamento unitário.

III.1.8 – Omissão na fiscalização da execução contratual. (subitem 5.1.2.3 do RAO)


– Processo 11.789/2012.

Em relatório de auditoria restou configurado a não assinatura do termo circunstanciado


pelo agente responsável em acompanhar e fiscalizar a execução contratual.

Na presente irregularidade acompanho integralmente o entendimento exarado pelo


Relator, bem como pela equipe técnica na ITC 6134/2017.

Justificativas:
Guerino Luiz Zanon; José Jair Reali; e Aguinaldo Bernardo:
Repetem as argumentações apresentadas em resposta ao questionamento suscitado no
subitem 5.1.1.3 do relatório de auditoria, objeto da análise do subitem 3.1.1.3 desta peça
conclusiva, o que torna desnecessário aqui transcrevê-las.

Análise:

Sobre a exigência de termo circunstanciado, como instrumento de fiscalização da execução


contratual, assim dispõe a Lei 8.666/93:

Art. 73. Executado o contrato, o seu objeto será recebido:

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I - em se tratando de obras e serviços:


a) provisoriamente, pelo responsável por seu acompanhamento e fiscalização,
mediante termo circunstanciado, assinado pelas partes em até 15 (quinze) dias
da comunicação escrita do contratado;
b) definitivamente, por servidor ou comissão designada pela autoridade
competente, mediante termo circunstanciado, assinado pelas partes, após o
decurso do prazo de observação, ou vistoria que comprove a adequação do
objeto aos termos contratuais, observado o disposto no art. 69 desta Lei;
II - em se tratando de compras ou de locação de equipamentos :
a) provisoriamente, para efeito de posterior verificação da conformidade do
material com a especificação;
b) definitivamente, após a verificação da qualidade e quantidade do material e
conseqüente aceitação.
o
§ 1 Nos casos de aquisição de equipamentos de grande vulto, o recebimento
far-se-á mediante termo circunstanciado e, nos demais, mediante recibo. (gn)

Depreende-se do dispositivo legal que, o termo circunstanciado é um documento obrigatório


na tarefa de fiscalização da execução contratual de obras e serviços e aquisições de
equipamentos de grande vulto, ou seja, aquelas cujo valor estimado seja superior a 25
vezes o limite de R$1.500.000,00 (um milhão e quinhentos mil reais), conforme estabelece o
artigo 6º, inciso V, c/c a alínea “c” do inciso I do artigo 23 da Lei 8.666/93.

Com os contratos 535/2012 e 536/2012, o Município de Linhares despendeu a quantia de


R$359.459,98 para a locação, montagem e desmontagem de equipamentos e estruturas
móveis para atender à realização do “ExpoLinhares 2012”, a saber: sonorização,
iluminação, palco, camarotes, camarins e banheiros químicos.

Infere-se, assim, que para a fiscalização desses contratos não se aplicava o termo
circunstanciado, uma vez que, não se referia à obra ou a serviço de engenharia, embora
necessitasse da fiscalização de um engenheiro no que tange à montagem e desmontagem
das estruturas e equipamentos, e tampouco à aquisição de grande vulto.

Dessa forma, conforme estabelece o § 1º, inciso II do artigo 73, da Lei 8.666/93, a
confirmação da execução contratual se daria mediante recibo.

Analisando a documentação carreada aos autos pela equipe de auditoria (fls. 783 a 827)
observa-se que o próprio Secretário Municipal de Esporte e Lazer, senhor José Jair Reali,
atestou a execução dos serviços (fls. 789 dos autos TC – fls. 459 do processo
administrativo) e autorizou o pagamento, conforme as notas fiscais emitidas pelas empresas
LS Locações, Serviços e Eventos Ltda. EPP (contrato 535/2012) e Souza Ambiental Ltda.
ME (contrato 536/2012).

Nos autos do processo administrativo (fls. 804), juntado aos autos do TC às fls. 467,
também consta declaração subscrita pelo fiscal dos referidos contratos, senhor Aguinaldo
Bernardo, atestando que os serviços de locação, montagem e desmontagem das estruturas
utilizadas na “Expo Linhares/2012”, foram executados de forma satisfatória. Como
comprovação, anexa relatório fotográfico (fls. 468 a 826 do processo administrativo e fls.
805 a 826 dos autos TC).
Logo, não se pode afirmar que houve omissão na fiscalização da execução contratual. Isto
posto, opina-se pelo acolhimento dos argumentos da defesa, afastando a
irregularidade.

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III.1.9 – Ato antieconômico praticado: não demonstração de ingresso nos cofres


públicos da exploração econômica do evento. (subitem 5.1.2.4 do RAO) –
Processo 11.789/2012.

Em auditoria se constatou que a Secretaria Municipal de Esporte e Lazer contratou a


montagem de 48 (quarenta e oito) Camarotes VIP com mesas e cadeiras estilo rústico,
balcão para bar, freezer, geladeira, ornamentação com malhas tensionadas em todos
os camarotes e hall de entradas, conforme demonstrado no Pregão Presencial 208/12.

Registre-se que não há nos autos do Pregão Presencial 208/12 qualquer


demonstrativo do proveito econômico aos cofres municipais em decorrência da
exploração desses camarotes.

Dessa forma, o valor de R$ 46.865,28 (quarenta e seis mil oitocentos e


sessenta e cinco reais e vinte e oito centavos) ou 20.746,95 VRTE é passível
de imputação de débito, solidariamente, aos responsáveis.

Em defesa o Sr. Guerino Luiz Zanon alega que os camarotes privativos eram partes do
camarote já existente, criados para as autoridades presentes. Alega ainda que tal
exploração gerou proveito econômico para a Administração, conforme fls. 5971/5984
do Processo Administrativo 15.451/2012.

O Sr. José Jair Reali e Sr. Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva alega que a Comissão
de Festa instaurada para realização da EXPOLINHARES 2012 era a responsável pelo
apontamento de potenciais receitas. Alega ainda que o recolhimento das receitas se
encontra em anexo no Processo 15.451/2012, em fls. 4460/4510.

O Sr. Paulo Roberto Vieira Caldellas informa que “os camarotes pagos pela Prefeitura
foram todos por ela utilizados para atendimento de suas necessidades em recepcionar
diversas autoridades. ”

Pois bem, acompanho o Relator em seus fundamentos, onde restou caraterizado


afronta ao princípio da impessoalidade e finalidade pública.

Demonstra-se, assim, o ingresso nos cofres públicos com a exploração econômica do


evento. Não resta comprovado, no entanto, quantos camarotes foram cedidos aos
particulares e tampouco quantos foram reservados para recepcionar as autoridades
públicas.

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Ademais, é importante ressaltar que, consta apenas expediente emitido pela Comissão
Especial de Organização da Expo Linhares (fls. 4462 dos autos TC), solicitando à Secretaria
Municipal de Esporte e Lazer, o encaminhamento da relação de interessados ao
Departamento de Administração Tributária do Município, para a emissão dos Documentos
de Arrecadação. Contudo, não se constata nos autos do processo administrativo e sequer
na peça de defesa, a comprovação de que tenha havido ampla publicidade e observância
aos princípios da impessoalidade e finalidade pública na cessão desses espaços públicos
provisórios aos particulares.
46
Nesse sentido, vale destacar a doutrina de Hely Lopes Meireles , para quem
impessoalidade e finalidade pública se confundem:

O princípio da impessoalidade, referido na Constituição/88 (art. 37, caput),


nada mais é que o clássico princípio da finalidade, o qual impõe ao
administrador público que só pratique o ato para o seu fim legal. E o fim legal é
unicamente aquele que a norma de Direito indica expressa ou virt ualmente
como objetivo do ato, de forma impessoal.

O autor ainda complementa:

O que o princípio da finalidade veda é a prática de ato administrativo sem


interesse público ou conveniência para a Administração, visando unicamente a
satisfazer interesses privados, por favoritismo ou perseguição dos agentes
governamentais, sob a forma de desvio de finalidade. (...)

Perfilhando esse entendimento, encontra-se também o doutrinador José dos Santos Carvalho
47
Filho , que ao tratar do princípio da impessoalidade, assim disserta:
reflete a aplicação do conhecido princípio da finalidade, sempre estampado na
obra dos tratadistas da matéria, segundo o qual o alvo a ser alcançado pela
Administração é somente o interesse público, e não se alcança o interesse
público se for perseguido o interesse particular, porquanto haverá nesse caso
sempre uma atuação discriminatória.

Assim, mais do que auferir receita com a cessão dos 48 camarotes VIP, o gestor da
Secretaria de Esporte e Lazer do Município de Linhares deveria comprovar se o ato foi
revestido da impessoalidade, ou seja, se foi atendida a finalidade pública, em cumprimento
ao artigo 37, caput, da CRFB, c/c artigo 32, caput, da CE ES.

Concretamente, constatou-se que o gestor da Secretaria agiu com desvio da finalidade


pública, ao não definir previamente como 48 camarotes VIP seriam explorados e ao não
comprovar que tenha agido de forma impessoal na cessão desses espaços públicos
provisórios aos particulares.

Configura-se, portanto, o ato antieconômico, pois houve pagamento pela locação de


estruturas provisórias, cuja exploração não foi revestida de interesse público, causando,
assim, prejuízo ao erário.

46
MEIRELLES, Hely Lopes, op.cit., loc. cit.
47
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 23ª ed. 2012.

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Divirjo no entanto, quanto ao valor a ser imputado em ressarcimento, isso porque


restou comprovado que os referidos camarotes renderam ao Município o valor de
R$21.600,00 (vinte e um mil e seiscentos reais).

A grosso modo entender que se deve considerar apenas o valor gasto e não o
arrecadado, ao meu ver incidiria em uma prática de enriquecimento ilícito por parte da
Administração, afinal tal ganho foi decorrente da locação dos camarotes contratados.

Em sendo assim, mantenho a irregularidade em face do Sr. José Jair Reali (Secretário
Municipal de Esporte e Lazer), que requereu a locação dos camarotes, conforme
Termo de Referência, bem como o ressarcimento no valor de R$ 25.265,28.

Quanto aos demais responsáveis acompanho o Relator na integralidade.

Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva (Procurador):

A atividade jurídica exercida nos autos do procedimento licitatório pelo


Procurador, não foi relevante para a configuração da irregularidade, pois não
lhe competia a elaboração do Termo de Referência, tampouco a definição
prévia de como seriam exploradas comercialmente os camarotes VIP, ato
discricionário do responsável pela Secretaria requisitante.

Paulo Roberto Vieira Caldellas (Auditor Geral):

A atividade exercida nos autos do procedimento licitatório pelo Auditor Geral do


Município de Linhares, senhor Paulo Roberto Vieira Caldellas, não foi relevante
para a configuração da irregularidade, pois não lhe competiu a elaboração do
edital, a análise jurídica da minuta correspondente, tampouco a condução do
processo licitatório.
Compulsando os autos, nota-se que o Auditor Geral apenas emitiu parecer
favorável ao prosseguimento do procedimento, por entender que havia sido
cumprido o trâmite regular.

III.1.10 – Restrição ao caráter competitivo do certame. (subitem 5.1.3.1 do RAO) –


Processo 13.137/2012.

Em relatório de auditoria se constatou que o Lote I do pregão presencial 213/2012 foi


composto por objetos distintos “a estrutura física do rodeio e as prestações de serviços
que constituíram o show do rodeio propriamente dito”. Para além disso, verificou que
constava exigência de que as licitantes apresentassem registro no CRA, CREA , FRES

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(Federação de Rodeio do Espírito Santo) e IDAF (Instituto de Defesa Animal e


Florestal).

Tendo considerado desnecessária a inscrição da empresa no CRA, posto que o objeto


principal do pregão era a locação, montagem e desmontagem de palco, sonorização e
iluminação.

O Sr. Guerino Luiz Zanon afirma que não houve caráter restritivo da licitação, uma vez
que as empresas LS Locações, Serviços e Eventos Ltda. – EPP, Claudemir dos Anjos
ME, Porto Belo Promoções Ltda participaram do objeto.
O Sr. José Jair Reali reitera o alegado no item III.1.6 do presente voto e acrescenta a
inviabilidade da realização da licitação em lotes distintos em virtude da segurança de
todos os presentes, além de que estaria distribuindo responsabilidades.

Alega que dividir em lotes distintos, comprometeria o princípio da economicidade, “uma


vez que, em caso de qualquer acidente, após arcar com os danos, o Município deveria
apurar a “culpa” para comprovar qual empresa seria enfim, a responsável pelo ato.”

Frisa, ainda, que não houve prejuízo ao processo ou mesmo ao caráter


competitivo da licitação, tanto que, não houve nenhum registro de impugnações
ao edital.

Para reforçar suas alegações, o defendente cita julgado do TCU, que em caso
análogo, indeferiu o questionamento quanto à restrição do caráter competitivo
de certame licitatório, por considerar que a reunião dos itens em um único lote,
desde que devidamente justificada pela área demandante, afasta a
possibilidade de restrição à competitividade. (Acórdão 1.167/2012 – TC
000.431/2012-5 – TCU – Plenário – Relator: José Jorge).

Por fim, destaca que o entendimento do TCU tem sido o de que o


parcelamento ou não do objeto da licitação deve ser auferido sempre no caso
concreto, perquirindo-se essencialmente acerca da viabilidade técnica e
econômica do parcelamento e da divisibilidade do objeto.

A defesa dos Srs. Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva, Paulo Roberto Vieira Caldellas
e Thiago Monteiro Bonatto foi muito bem resumida pela equipe técnica, motivo pelo
qual passo a transcrever:

3 – Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva:

O defendente ressalta que o Edital foi publicado na forma da lei, com a inteira
observância do Termo de Referência que instruiu a requisição da autoridade

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competente, com as especificações do objeto da licitação e distribuição por


lotes na forma definida pelo Secretário da pasta, observada a conveniência
administrativa que lhe competia.

Contestando à equipe de auditoria, argumenta que não basta o objeto ser


tecnicamente divisível para que se obrigue a distribuição por lotes, uma vez
que, deve ser analisada a conveniência administrativa passando pelo filtro do
interesse público, bem como, observar-se a economicidade.

Feitas essas considerações iniciais, o defendente traz os mesmos argumentos


e alegações tecidas pelo senhor José Jair Reali, o que torna aqui
desnecessário transcrevê-las.

4 – Paulo Roberto Vieira Caldellas:

O defendente afirma que os apontamentos da equipe de auditoria são


desprovidos de qualquer amparo lógico e legal, indicando total
desconhecimento do que seja rodeio.

Argumenta que esse tipo de evento não permite dissociação do fornecimento


da estrutura física com os shows dos animais, considerando que requer a
montagem de picadeiro, equipamentos para contenção dos animais e outros
detalhes exigidos. E complementa: Não se trata de simples montagem de palco
para apresentação de cantores e outros artistas, serviços esses, que realmente
têm inúmeros fornecedores.

Por fim, ressalta que não foi constatado nenhum indício de restrição à
competitividade, haja vista a inexistência de contestação durante a realização
do certame.

4 – Thiago Monteiro Bonatto:

O defendente ratifica a questão da não responsabilização do pregoeiro por atos


praticados na fase interna da licitação. Ressalta que, todo o objeto foi
estabelecido no Termo de Referência, elaborado pela autoridade competente e
devidamente aprovado pelo Órgão Jurídico da Administração Municipal, não
restando ao Pregoeiro, permitir ou não a distribuição dos lotes.

Contestando à equipe de auditoria, argumenta que não basta o objeto ser


tecnicamente divisível para que se obrigue a distribuição por lotes, uma vez
que, deve ser analisada a conveniência administrativa passando pelo filtro do
interesse público, bem como, observar-se a economicidade.

Feitas essas considerações iniciais, o defendente traz os mesmos argumentos


e alegações tecidas pelos senhores José Jair Reali e Geraldo Scaramussa da
Silva, o que torna aqui desnecessário transcrevê-las.

Nas circunstância analisadas, de fato não é objeto do certame atividade que seja típica
de um Administrador e que justifique a inserção da exigência das empresas licitantes
serem registradas no CRA e nesse sentindo entendo por manter a irregularidade, ainda
que a considere uma irregularidade formal.

Resta no presente caso, a aglutinação de objetos em um único lote, irregularidade esta


que persiste, posto não observar similaridade nos objetos constantes no lote 1.

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c) Estrutura Física: contendo toda infraestrutura para realização do rodeio (montagens e


desmontagens de stands; arquibancadas; camarotes; arena; telões; sonorização;
iluminação, etc.); e

d) Competição Esportiva e Espetáculo: contendo a descrição e o quantitativo de animais


a serem utilizados (touros, bois e cavalos); quantitativo mínimo de pessoal necessário para
execução dos serviços (tropeiros, diretor de provas funcionais, fiscais de bretes, porteneiros,
salva-vidas de rodeio, laçador); e contratações de atrações artísticas (coreografias diversas,
acrobacias com motocicletas, cavalos adestrados, equipe de animaç ão e socorro de arena).

Em sendo assim, os objetos ali constates facilmente poderiam ser prestados por
empresas distintas, e que ao fim levaria a uma maior competitividade do certame.
Ressalto que agrava ainda mais a irregularidade quando se observa que das 03 (três)
empresas participantes, apenas uma estaria apta nos termos do edital.

Concretamente, a restrição à competitividade ocorreu, uma vez que ao aglutinar em um


único lote a estrutura física e elementos necessários de um rodeio, que envolvem
competição esportiva e espetáculo, a Administração afastou do certame empresas do ramo
de eventos que poderiam, por exemplo, instalar as arquibancadas, camarotes e realizar as
atividades de sonorização e iluminação, serviços esses, que têm diversos fornecedores,
48
como já relatado no subitem 3.1.2.1 desta peça conclusiva .

A defesa alega que não houve restrição ao caráter competitivo da licitação, porque teria
ocorrido ampla participação de empresas do ramo, tendo os licitantes LS Locações,
Serviços e Eventos Ltda. – EPP, Claudemir dos Anjos ME, Porto Belo Promoções Ltda.,
disputado o objeto com resultado final vantajoso para o Município.
De fato, examinando a condução do procedimento licitatório (fls. 1005 a 1006 dos autos TC)
verifica-se que houve disputa de lances para o lote 1 entre as empresas LS Locações e
Porto Belo Promoções. No entanto, apenas a primeira estaria apta a realizar conjuntamente
a infraestrutura e a parte esportiva/artística do rodeio, uma que se encontrava registrada
com as atividades econômicas de locação de estruturas provisórias (palco, arquibancadas,
etc.) e produção de espetáculos tipo rodeio, conforme se pode constatar com consulta ao
CNPJ 09.031.612/0001-16.

No que tange ao Sr. Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva, vale ressaltar o disposto no
parágrafo único do art. 38 da Lei 8.666/93, em que o assessor jurídico tem o dever de
examinar e aprovar as minutas de editais, contratos, acordos, convênios ou ajustes.

48
CNPJ consultados:
AGR Serviços e Participações Ltda. – EPP – CNJP 03.662.748/0001-48
Cônica Assessoria e Suporte Técnico para Eventos Ltda. EPP – CNPJ 07.720.317/0001-41
Dadalto Eventos –CNPJ 00.375.260/0001-41
Mais Estrutura, Locação de Tendas e Brinquedos Eireli – EPP – CNPJ 02.352.322/0001-25
Mencer Vídeos Ltda. EPP – CNPJ 02.735.200/0001-18
Play City – CNPJ 00.546.072/0001-39
Ponto Com Produções e Serviços de Sonorização Ltda. ME – CNPJ 07.766.821/0001-82

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Esse prévio exame é de suma importância, pois permite o controle preventivo de


ilegalidade, evitando relações prejudiciais ao interesse público.

Nessa linha de intelecção, cito jurisprudência do Supremo Tribunal Federal a respeito


da matéria:

O parecerista jurídico pode ser responsabilizado solidariamente com gestores


por irregularidades na aplicação de recursos públicos. O parecer jurídico
integra e motiva a decisão a ser adotada pelo ordenador de despesas.
Por meio de Pedido de Reexame, subprocurador administrativo do município
requereu a reforma de deliberação que o condenara ao pagamento de multa
em razão de irregularidades em procedimento licitatório envolvendo a aplicação
de recursos públicos federais no Programa Caminho da Escola e no Programa
Nacional de Apoio ao Transporte Escolar. Alegou o recorrente que não poderia
ser responsabilizado "pois apenas emitiu parecer jurídico, que seria ato
'meramente opinativo'”, e ainda que "não ordenou despesas, não gerenciou,
arrecadou, guardou ou administrou quaisquer bens ou valores públicos ”. Ao
examinar a matéria, a relatora anotou que "o entendimento deste Tribunal é de
que o parecerista jurídico pode ser responsabilizado solidariamente com
gestores por irregularidades na aplicação dos recursos públicos. O parecer
jurídico, via de regra acatado pelo ordenador de despesas, é peça com
fundamentação jurídica que integra e motiva a decisão a ser adotada". Citou
precedente do STF que, "ao tratar da responsabilização de procurador de
autarquia por emissão de parecer técnico-jurídico, admitiu a responsabilidade
solidária do parecerista em conjunto com o gestor". Ademais,"a
responsabilização solidária do parecerista por dolo ou culpa decorre da própria
Lei 8.906/1994 (Estatuto da Advocacia), que, em seu art. 32, dispõe que o
‘advogado é responsável pelos atos que, no exercício profissional, praticar com
dolo ou culpa’". Por fim, observou que o parecer favorável emitido pelo
recorrente implicou prosseguimento de certame "marcado por total falta de
competitividade". O Tribunal, então, seguindo o voto da relatora, decidiu negar
provimento ao recurso. (Acórdão 825/2014-Plenário, TC 030.745/2011-0,
relatora Ministra Ana Arraes, 2.4.2014.) (g.n.).

Ainda sobre, embora a aprovação do ato pela assessoria jurídica não vincule o
Administrador a ponto de substitui-lo em seu juízo de valor, isso não significa que o
parecerista é absolutamente isento de responsabilidade sobre suas manifestações.
Desta feita, mantenho a irregularidade quanto ao Sr. Geraldo Tadeu Scaramussa
da Silva, por entender que a presente irregularidade facilmente poderia ter sido
identificada pelo procurador e ressalvada em seu parecer.

Com mais razão, mantenho a irregularidade do Sr. José Jair Reali, acompanhando
o Relator, tendo sido o mesmo o responsável pela elaboração do termo de referência.

 José Jair Reali (Secretário Municipal de Esporte e Lazer): Responsável pelo Termo
de Referência, que impunha condições restritivas ao caráter competitivo da licitação,

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conforme os termos expostos na análise acima. Primeiro, pelo fato de estabelecer exigência
de qualificação técnica indevida, relacionada à obrigatoriedade de registro ou inscrição no
Conselho Regional de Administração. E por incluir em um único lote, serviços distintos,
incompatíveis, e sem justificativa fundamentada, restringido, assim, a part icipação de outras
empresas do ramo de eventos, especializadas em locação de estruturas temporárias,
sonorização e iluminação.
Pois bem, quanto a defesa do Sr. Thiago Monteiro Bonatto, mantenho o entendimento
aqui já exposto, em que de fato a responsabilização do pregoeiro é decorrente da fase
externa da licitação.

Pois bem, a Embargante não pode ser penalizada pela inserção das
cláusulas tidas como restritivas, vez que somente tem competência para
atuar em fase externa da licitação e ainda considerando que em fase interna
diligenciou ao órgão técnico e competente quanto ao teor da cláusula e não lhe
cabendo contestar a manifestação, que constava com aprovação inclusive a
assessoria jurídica.

Sendo assim, muito embora a Instrução Técnica Conclusiva entenda que ao caber ao
mesmo a condução do procedimento licitatório e assim, realizar alterações no termo de
referência. Ao meu sentir deve ser levado em consideração o fato de que todo o termo
de referência foi realizado pela Secretário Municipal de Esportes e Cultura, e ainda que
todo o procedimento teve o aval da procuradoria municipal.

Nesse sentido divirjo do nobre relator e afasto a responsabilidade do Sr. Thiago


Monteiro Bonatto.

Quanto ao Sr. Paulo Roberto Vieira Caldellas acompanho o Relator, isso posto, que
o próprio ressaltou que as condutas tomadas pelo auditor, não foram relevantes para a
irregularidade em sí. Motivo pelo qual afasto a presente irregularidade.

III.1.11 – Ausência de planilhas de preços unitários. (subitem 5.1.3.2 do RAO) –


Processo 13.137/2012.

Em sede de auditoria ficou constatado que ao Anexo III do edital constava modelo de
proposta comercial considerando o quantitativo, valor unitário e valor total, conforme a
exigência legal. No entanto o mesmo não foi exigido dos licitantes.

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Alega o Srs. José Jair Reali e Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva que o anexo no
edital não traz itens isolados, mas sim um item em cada lote, com descrições mínimas.

Assim, competia aos concorrentes apresentar propostas em valores unitários e totais por
item e não para cada detalhamento do item.

Argumenta que tais descrições foram necessárias para que os interessados, a partir dessas
definições, pudessem formular propostas para cada item. E complementa: O que se buscou
foi dar clareza ao objeto da licitação sem deixar qualquer margem à dúvida, pois essas
especificações, na forma da lei, (...), não se admitem complementação a posteriori.
Afirma, ainda, que consta dos autos planilha com preços unitários e totais por item, elaborada
com base em orçamentos colhidos no mercado.

Por fim, argumenta que a jurisprudência do TCU caminha no sentido da não obrigatoriedade
da anexação do orçamento com preços unitários no edital do certame, quando se tratar de
licitação na modalidade pregão.

O Sr. Thiago Monteiro Bonatto alega que não há que se falar em responsabilização na
fase interna da licitação para a figura do pregoeiro e ainda, que todo o procedimento
teve o aval da procuradoria do município.

Afirma, também, que os orçamentos detalhados em planilhas com preços unitários e


globais, por item, estão inseridos nos autos do processo administrativo às fls. 21/38. E às
fls. 39/40 consta a planilha de apuração de preços médios, também apontando os valores
unitários e globais de cada item.

Alega que como pregoeiro não poderia exigir dos concorrentes a especificação de valores
unitários e totais, em cada especificação do item que constituiu o lote, pois tal exigência iria
extrapolar os limites da lei e os concorrentes não estavam obrigados a fazê-lo.

Destaca que neste certame, cada lote foi constituído de apenas um item e este foi detalhado
minunciosamente no Termo de Referência que integra o edital, por opção da autoridade
competente para atender as necessidades da administração.

Esclarece que no Termo de Referência foram especificadas as descrições dos atributos


mínimos necessários dos equipamentos, pessoal, animais, material etc., que deveriam estar
disponíveis em cada local em função da natureza própria do objeto da contratação. Alega
que, tal descrição se fez necessária para que os interessados, a partir dessas definições,
pudessem formular sua proposta para cada item. E complementa: O que se buscou foi dar
clareza ao objeto da licitação sem deixar qualquer margem à dúvida, pois essas
especificações, na forma da lei, (...), não se admitem complementação a posteriori, sob
pena de nulidade do certame, (...).

Por fim, argumenta, assim como os demais citados, que a jurisprudência do TCU caminha no
sentido da não obrigatoriedade da anexação do orçamento com preços unitários no edital do
certame, quando se tratar de licitação na modalidade pregão.

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Já o Sr. Paulo Roberto Vieira Caldellas alega que a Lei do Pregão não prevê a
exigência de planilha de preços unitários para sua realização.

Nesse sentido a equipe técnica entendeu pela mantença da irregularidade. Pois bem,
de fato é previsto no artigo 40, X, da Lei 8666/93 que em momento de elaboração do
edital há à exigência de orçamento detalhado em planilhas que expressem a
composição de custos unitários, isso porque, permite que se verifique a adequação do
preço estimado àquele que é praticado no mercado, evitando desfalques aos cofres
públicos.

Lado outro, não observo aos autos elementos que evidenciem um prejuízo ao erário,
ou qualquer outro tipo de prejuízo a municipalidade, observo ainda que constam aos
autos em instrução controvérsia quanto ao entendimento de juntada da planilha de
estimativa de preço, em sendo assim mantenho a irregularidade em face do Sr.
José Jair Reali e Sr. Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva, sem o condão de
macular as contas, sendo a mesma tão somente passível de recomendação.

No que tange ao Sr. Thiago Monteiro Bonatto, mantenho o entendimento exposto no


item III.1.1 em que, no presente caso, a responsabilização do pregoeiro é decorrente
da fase externa da licitação.

Já quanto ao Sr. Paulo Roberto Vieira Caldellas, acompanho o entendimento do relator,


bem como da Instrução Técnica Conclusiva 6134/2017, nos seguintes termos:
 Paulo Roberto Vieira Caldellas (Auditor Geral):

A atividade exercida nos autos do procedimento licitatório pelo Auditor Geral do Município
de Linhares, senhor Paulo Roberto Vieira Caldellas, não foi relevante para a configuração
da irregularidade, pois não lhe competiu a elaboração do edital, a análise jurídica da minuta
correspondente, tampouco a condução do processo licitatório.
Compulsando os autos, nota-se que o Auditor Geral apenas emitiu parecer favorável ao
prosseguimento do procedimento baseado no fato de que havia sido cumprido o trâmite
regular.

III.1.12 – Ausência de interesse público. (subitem 5.1.3.3 do RAO) – Processo


13.137/2012.

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Em sede de auditoria restou configurada a irregularidade por ausência de interesse


público na contratação de tendas para área de alimentação, no termo de referência fez
constar 105 espaços reservados como tendas, bem como, 9 stands cultural.

Porém não há menção em como seriam exploradas tais estruturas, e ainda:

É fato notório que esses espaços são explorados economicamente por terceiros, sem
proveito algum aos cofres municipais (DOC. 02). A exploração comercial desses espaços
afronta o princípio da indisponibilidade do interesse público, vez que o simples fato da
existência de uma praça de alimentação já denota a reserva de espaço onde só haverá
consumo de produtos mediante pagamento pecuniário, o que nem encontra previsão
editalícia ou contratual.

Em defesa o Sr. Guerino Luiz Zanon alega que o interesse público primário a cultura e
lazer, não poderia ser suprido se não houvesse alimentação aos participantes do
evento. Alega ainda, que os espaços foram objeto de cessão onerosa, gerando
benefício ao econômico.

O Sr. José Jair Reali alega que a Comissão de Festa era responsável pelo
apontamento de quaisquer quantias capazes de representar potencial receita.
Aproveitando o momento para juntar aos autos comprovante de recolhimento de
valores.

Em sede de Instrução Técnica Conclusiva 6134/2017 foi possível observa a


comprovação de R$ 45.350,00 (quarenta e cinco trezentos e cinquenta reais) auferidos
com o recolhimento das referidas taxas por 28 interessados.
Pois bem, acompanho o Relator em seus fundamentos, onde restou caraterizado
afronta ao princípio da impessoalidade e finalidade pública.

Analisando os documentos acostados às peças de defesa (fls. 4473 a 4510 dos autos TC),
verifica-se que a Administração de fato auferiu recursos financeiros com a cessão ao
particular de espaço público reservado para exploração comercial e publicitária com tendas
e stands da praça de alimentação e eventos da EXPOLINHARES, mediante cobrança de
taxas nos valores de R$750,00; R$1.500,00; R$1.800,00; e R$2.500,00.

A defesa junta como comprovantes Documentos de Arrecadação Municipal – DAM, que


totalizaram R$45.350,00 auferidos com o recolhimento das referidas taxas por 28
interessados pelos espaços.

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Demonstra-se, assim, o ingresso nos cofres públicos com a exploração econômica do


evento. Não resta comprovado, no entanto, se todas estruturas temporárias contratadas
(105 tendas e 9 stands) foram cedidas aos particulares e tampouco quantos stands teriam
sido de fato destinados às entidades beneficentes do município e à cultura, conforme previa
o Termo de Referência elaborado pelo Secretário Municipal de Esporte e Lazer, senhor
José Jair Reali (fls. 836 dos autos TC).

Ademais, é importante ressaltar que, consta apenas ex pediente emitido pela Comissão
Especial de Organização da EXPOLINHARES 2012 (fls. fls. 4477 a 4481 dos autos TC),
com o qual é solicitado à Secretaria Municipal de Esporte e Lazer, o encaminhamento da
relação de interessados ao Departamento de Administração Tributária do Município, para
emissão do DAM correspondente. Contudo, não se constata nos autos do processo
administrativo e sequer na peça de defesa, a comprovação de que tenha havido ampla
publicidade e observância aos princípios da impessoalidade e finalidade pública na cessão
desses espaços públicos provisórios aos particulares.
49
Nesse sentido, vale destacar a doutrina de Hely Lopes Meireles , para quem
impessoalidade e finalidade pública se confundem:

O princípio da impessoalidade, referido na Constituição/88 (art. 37, caput), nada mais é que
o clássico princípio da finalidade, o qual impõe ao administrador público que só pratique o
ato para o seu fim legal. E o fim legal é unicamente aquele que a norma de Direito indica
expressa ou virtualmente como objetivo do ato, de forma impessoal.

O autor ainda complementa:

O que o princípio da finalidade veda é a prática de ato administrativo sem interesse público
ou conveniência para a Administração, visando unicamente a satisfazer interesses privados,
por favoritismo ou perseguição dos agentes governamentais, sob a forma de desvio de
finalidade. (...)
Perfilhando esse entendimento, encontra-se também o doutrinador José dos Santos
50
Carvalho Filho , que ao tratar do princípio da impessoalidade, assim disserta:
reflete a aplicação do conhecido princípio da finalidade, sempre estampado na obra dos
tratadistas da matéria, segundo o qual o alvo a ser alcançado pela Administração é somente
o interesse público, e não se alcança o interesse público se for perseguido o interesse
particular, porquanto haverá nesse caso sempre uma atuação discriminatória.

Assim, mais do que auferir receita com a cessão das tendas e stands a particulares, o
gestor da Secretaria de Esporte e Lazer do Município de Linhares deveria comprovar se o
ato foi revestido da impessoalidade, ou seja, se foi atendida a finalidade pública, em
cumprimento ao artigo 37, caput, da CRFB, c/c artigo 32, caput, da CE ES.

Concretamente, o gestor da Secretaria agiu com desvio da finalidade pública, ao não defi nir
previamente como 105 tendas e 9 stands locados seriam explorados e ao não comprovar
que tenha agido de forma impessoal na cessão desses espaços públicos provisórios aos
particulares.
Conclui-se, assim, que está configurada a ausência do interesse público (artigo 32, caput,
da CE ES) e o consequente dano ao erário.

49
MEIRELLES, Hely Lopes, op. cit., loc. cit.
50
CARVALHO FILHO, José dos Santos, op. cit., loc. cit.

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Ressalva-se, no entanto, que, o débito a ser imputado ao responsável não corresponde ao


apontado no relatório de auditoria, uma vez que equivocadamente a equipe considerou a
quantia paga pelas estruturas físicas, animais e atrações artísticas do rodeio, que
compreendiam o lote 1, além das estruturas da praça de alimentação e eventos (tendas e
stands) – lote 3.

Dessa forma, opina-se pela manutenção da irregularidade com a imputação de débito


no valor de R$135.000,00 (59.763,60 VRTE), correspondente, apenas, ao pagamento pela
contratação de 105 tendas e 9 stands sem a comprovação do interesse público (lote 3),
sendo responsável o senhor José Jair Reali (Secretário Municipal de Esporte e Lazer à
época), por não justificar adequadamente a utilização das estruturas temporárias da praça
de alimentação e eventos da EXPOLINHARES 2012 e permitir que houvesse à cessão ao
particular sem comprovação de atendimento ao princípio da impessoalidade necessário
para o alcance do interesse público, questionado pela auditoria.

Divirjo no entanto, quanto ao valor a ser imputado em ressarcimento, isso porque


restou comprovado que as referidas tendas renderam ao Município o valor de R$
45.350,00 (quarenta e cinco trezentos e cinquenta reais).

A grosso modo entender que se deve considerar apenas o valor gasto e não o
arreceado, ao meu ver incidiria em uma prática de enriquecimento ilícito por parte da
Administração, afinal tal ganho foi decorrente da locação das tendas contratadas.

Em sendo assim, mantenho a irregularidade em face do Sr. José Jair Reali (Secretário
Municipal de Esporte e Lazer), que requereu a locação das tendas, conforme Termo de
Referência, bem como o ressarcimento no valor de R$ 89.650,00 (oitenta e nove mil e
seiscentos e cinquenta reais).

III.1.13 – Não comprovação da entrega da premiação. (subitem 5.1.3.4 do RAO) –


Processo 13.137/2012.

Em sede de auditoria se entende que não há nos autos comprovação de que a


premiação prevista para Etapa Federada Master de Rodeio, prevista no lote 1, tenha
sido realizada, ou até mesmo a relação de vencedores.

Em virtude da não comprovação da entrega dos prêmios, a importância apurada pela


equipe de auditoria somou R$ 58.908,00 (cinquenta e oito mil, novecentos e oito reais,
Tabela 6), equivalentes a 26.078,18 VRTEs

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Na presente irregularidade acompanho integralmente o entendimento exarado pelo


Relator:

A auditoria registra que “no Lote 01 do Pregão Presencial 213/12, além da


estrutura para a realização da Etapa Federada Master de Rodeio, foram
incluídos os prêmios a serem entregues aos competidores, nas diversas
modalidades da competição. Porém, nos autos não foram encontradas
evidências de que a premiação fora distribuída, nem a relação dos vencedores”
sendo passível de imputação de débito no valor de 26.078,18 VRTE.

O subscritor da instrução conclusiva infere que “uma eventual emissão de juízo


favorável à ocorrência de dano ao erário por liquidação irregular de despesa,
estaria embasada tão somente na presunção”, acolhendo os argumentos da
defesa, afastando o ressarcimento ao erário, mantendo, contudo, a
irregularidade relativa à infringência aos artigos 62 e 63 da Lei Federal
4.320/64.
Não há como prosperar a fundamentação apresentada pela área técnica, e
rechaço a tese do dano presumido.

A argumentação que entendo pertinente para afastar o ressarcimento está na


documentação acostada aos autos às fls. 3822 a 3832 e 6465 a 6483, onde,
conforme a própria área técnica, traz o relatório fotográfico contendo regis tros
dos ganhadores e seus respectivos prêmios sendo entregues, comprovando a
despesa e afastando o ressarcimento.

III.1.14 – Omissão na fiscalização da execução contratual. (subitem 5.1.3.5 do


RAO) – Processo 13.137/2012.

Se entendeu em fase de auditoria que não havia termo circunstanciado pelo agente
responsável por acompanhar e fiscalizar a execução do contrato, não constando
documento hábil a demonstrar o cumprimento das condições impostas pelo edital.

Assim como o item acima acompanho integralmente o entendimento exarado pelo


Relator, bem como pela equipe técnica na ITC 6134/2017

Justificativas:
Guerino Luiz Zanon; José Jair Reali; e Aguinaldo Bernardo:
Repetem as argumentações apresentadas em resposta aos subitens 5.1.1.3 e 5.1.2.3 do
relatório de auditoria (analisados nos subitens 3.1.1.3 e 3.1.2.3 desta peça conclusiva), o
que torna desnecessário aqui transcrevê-las.
Anexa, também, cópia do processo 13.137/2012, com a qual pretende comprovar que
houve o ateste da execução contratual pelo Secretário da pasta (fls. 5985 a 6425).
Análise:
Analisando a documentação carreada aos autos pela defesa (fls. 6408 a 6425) observa-se
que o próprio Secretário Municipal de Esporte e Lazer, senhor José Jair Reali, atestou a

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execução dos serviços e autorizou o pagamento conforme as notas fiscais emitidas pelas
empresas Claudemir dos Anjos ME (contrato 540/2012 e LS Locações, Serviços e Eventos
Ltda. EPP (contrato 541/2012). Logo, não se pode afirmar que houve omissão na
fiscalização da execução contratual.

Isto posto, com base nos mesmos fundamentos expostos nos subitens 3.1.1.3 e 3.1.2.3,
opina-se pelo acolhimento dos argumentos da defesa, afastando a irregularidade.

III.1.15 – Processos de Inexigibilidade: 9.020/12; 4.290/12; 8.501/12; 10.997/12;


14.717/12; e 15.114/12.

III.1.15.1 – Inexistência de justificativa de preço. (subitem 5.1.4.1 do RAO)

Em sede de auditoria se entendeu que a Secretaria Municipal de Esporte e Lazer


realizou contratação de show artístico, por meio de processo de inexigibilidade. No
entanto não consta nos autos evidências de ampla pesquisa de preço afim de que se
observe o valor praticado no mercado.

Em defesa o Sr. Guerino Luiz Zanon alega que o previsto no art. I a IV não se aplica
em todos os casos de dispensa de licitação, isso porque “Nenhum sentido faria, diante
de uma única opção, comparar o preço com o cobrado por outros artistas, pois não se
compara talento artístico/musical! Repita-se: a contratação direta é possível justamente
porque se afasta a comparação de mercado.” “Nenhum sentido faria, diante de uma
única opção, comparar o preço com o cobrado por outros artistas, pois não se compara
talento artístico/musical! Repita-se: a contratação direta é possível justamente porque
se afasta a comparação de mercado.”

O Sr. José Jair Reali e Sr. Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva, alega que foi
analisado pela Procuradoria e pela Comissão Permanente de Licitação e que os
mesmo entenderam pela inexigibilidade da licitação:

Informa, ainda, que a referida Comissão teceu considerações acerca dos requisitos
parametrizados pelo legislador para autorizar a inexigibilidade de licitação nesse ti po de
contratação, concluindo que havia a comprovação da consagração dos artistas pela crítica
especializada ou pela população e a contratação ocorria diretamente com os profissionais
ou por intermédio de empresário exclusivo.
E com relação à justificativa de preço, destaca que a Comissão atestou: “[...] em face de
que os preços praticados pelas bandas estarem em conformidade com os preços praticados
em outros eventos [...]”.

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Considerando essa informação, o defendente conclui que restava demonstrada a


justificativa de preço e alega que, em uma busca simples nas publicações de órgãos oficiais
se comprova a afirmação da Comissão.

Ao fim alega ainda, que não restou nenhuma evidencia de inexecução contratual ou
prejuízo ao erário.

Já o Sr. Thiago Bruneli Pessoa , presidente da CPL, alega que as justificativas de


preço constam em atas de nº 9020/2012, 4290/2012, 8501/202 e 10.997/2012, quanto
aos demais processo alega que não integrava a CPL e portanto não se manifesta.

Informa que após parecer da Procuradoria Administrativa do Município, opinando pela


legalidade da contratação direta, sem licitação prévia, a Comissão Permanente de Licitação
teceu comentários acerca dos requisitos parametrizados pelo legislador para autorizar a
contratação de artistas por inexigibilidade de licitação e concluiu que, estava comprovada a
consagração pela crítica especializada ou pela população e ocorria a contratação direta com
os artistas ou com seus empresários exclusivos.
E com relação à justificativa de preço, destaca que a Comissão atestou: “[...] em face de
que os preços praticados pelas bandas estarem em conformidade com os preços praticados
em outros eventos [...]”.
Complementa afirmando que, os preços cobrados pelos artistas contratados estavam
compatíveis com os valores praticados em outros eventos de natureza análoga, conforme
se pode comprovar em busca simples nas publicações de órgãos oficiais.
Alega, ainda, que, em muitos outros casos, a contratação dos mesmos artistas já ocorreu
em valor superior àquele praticado junto ao Município de Linhares, não tendo havido
qualquer dolo por parte do ora defendente, tampouco qualquer prejuízo ao Erário Municipal,
justificando assim a alegada e infundada ausência de justificativa de preços.
Finalizando, ressalta que nos documentos citados encontra-se devidamente justificado o
valor cobrado e pago pela Municipalidade.

O Sr. Paulo Roberto Vieira Caldellas alega que nas atas da CPL constam as
justificativas de preço e, quando necessário as pesquisas de preço.

Conforme previsão expressa do art. 26, III se faz necessária justificativa do preço, em
sendo assim, tal justificativa é imprescindível como forma de demonstrar a correção do
negócio praticado.

No caso dos autos, a justificativa do preço, só foi realizada de forma posterior a


contratação. Esclareço que o vício ora apontado apresenta um caráter formal, vez que,
foi suficiente tais apresentações para que se afastaste possível sobrepreço.

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Ocorre, no entanto, que mesmo possuindo caráter formal, a irregularidade aconteceu e


não pode ser convalidada a posteriori. Portanto, entende-se que a justificativa de preço
torna-se indispensável para que a administração possa garantir maior segurança de
que os contratos firmados estão sendo realizados dentro de valores justos e
compatíveis com a realidade do mercado, motivo pelo qual mantenho a irregularidade
aos Srs. José Jair Reali, Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva e Thiago Bruneli
Pessoa em caráter formal e sem o condão de macular as contas.

Quanto ao Sr. Paulo Robero Vieira Caldellas acompanho entendimento do Relator, nos
seguintes termos:

A conduta do senhor Paulo Roberto Vieira Caldellas, não foi relevante para a configuração
da irregularidade, uma vez que sua função era acompanhar a execução dos atos e apontar,
em caráter sugestivo, preventivo ou corretivamente, as ações a serem desempenhadas.
Além disso, destaca-se o caráter opinativo do Controle Interno, haja vista que o gestor pode
ou não atender à proposta que lhe seja indicada, sendo dele a responsabilidade e risco dos
atos praticados.
Nos autos dos procedimentos de inexigibilidade, o Auditor apenas se manifestou acerca do
trâmite processual.

III.1.15.2 Ausência de cláusulas contratuais obrigatórias e liquidação inadequada


das despesas. (subitem 5.1.4.2 do RAO)

Em sede de auditoria restou caracterizado que nos contratos 208/12, 333/12, 417/12,
526/12 e 544/12, contém cláusulas com infração ao disposto no art. 55 da Lei 8666/93,
isso por haver previsões de pagamento em datas anteriores a execução do contrato.

Os Contratos previam apresentações artísticas nos dias 13/7, 17/8, 18/8, 19/8,
20/8 e 21/8/12, porém, previam que os pagamentos ocorressem em datas
anteriores àquelas, sem a comprovação do cumprimento das obrigações por
parte das contratadas, o que prejudicou a liquidação da despesa e fragilizou os
atos de ordenações dos pagamentos

Não estava presente também nos referidos contratos a clausula de rescisão


administrativa. Em razão do exposto se concluiu que as “liquidações das despesas
ocorreram sem as formalidades impostas pelo art. 63 da Lei 4.320/64, uma vez que os
pagamentos ocorreram antes do direito adquirido pelo credor”.

Alegam o Sr. José Jair Reali e Sr. Geraldo Tadeus Scaramussa da Silva que se trata
de medida usual de mercado, destacando que não ocorreu qualquer prejuízo ao erário.

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Quanto a falta de a cláusula de rescisão administrativa alega que a supremacia do


interesse público é inerente aos contratos administrativos, não sendo imprescindível a
sua previsão expressa.

Pois bem, quanto a ausência de cláusula obrigatória acompanho o entendimento do


Relator para o afastamento da irregularidade:

1 – Ausência de Cláusula Obrigatória:


Descumprimento ao artigo 55, IX, da Lei 8.666/93
A auditoria constatou que os Contratos 208/12, 333/12, 408/12, 417/12, 526/12 e 544/12
não continham a cláusula obrigatória relacionada ao reconhecimento dos direitos da
Administração Pública, em caso de rescisão administrativa (art. 55, IX, da Lei 8.666/93).
Dessa forma, segundo a equipe, os agentes responsáveis deixavam de observar o Princípio
da Supremacia do Interesse Público em face dos direitos do particular.
Contudo é preciso ressalvar que nem todas as hipóteses dos diversos incisos do artigo 55
são obrigatórias.
51
Segundo a doutrina de Marçal Justen Filho (2000, p. 478, apud FURTADO, 2013) , são
realmente obrigatórias as hipóteses compreendidas nos incisos I, II, III, IV e VI. As demais
são dispensáveis (porque sua ausência não impede a incidência de princípios e regras
gerais) ou são facultativas, devendo ser previstas de acordo com a natureza e as
peculiaridades de cada contrato.
A hipótese do inciso IX, portanto, estaria entre as cláusulas dispensáveis, uma vez que sua
ausência não impede a incidência do princípio da Supremacia do Interesse Público.
Perfilhando esse entendimento, encontramos também SUNFELD (1995, p. 225, apud,
52
MENDES) , para quem disposições, como o inciso IX, do artigo 55, incidem na relação
contratual independentemente da vontade das partes. Vejamos:

Segundo a lei, são necessárias a todo contrato as cláusulas


que: a) reconheçam, em favor da Administração, os direitos e poderes que
a lei, no art. 80, lhe atribui em caso de rescisão (art. 55 - IX); b) vinculem o
contrato ao edital de licitação ou, na hipótese de contratação direta, ao ato que
a autorizou, bem como à proposta formulada pelo contratado (art. 55 -
XI); c) indiquem a legislação aplicável (art. 55 - XII) e imponham às partes sua
observância (art. 61 - caput); d) imponham ao contratado o dever de manter
durante a execução do contrato, em compatibilidade com as obrigações por ele
assumidas, todas as condições de habilitação e qualificação exigidas na
licitação (art. 55 - XIII); e) determinem como foro de eleição o da sede da
Administração, salvo o disposto no art. 32 - § 6º. (art. 55 - §
2º.); f) reconheçam, em favor da Administração, os poderes de modificação e
rescisão unilateral, fiscalização da execução, aplicação de sansões e
requisição provisória de bens, pessoal e serviços (art. 58). A ausência de
referência a essas disposições no instrumento de contrato é de total
irrelevância. Por serem normas de ordem pública, cuja necessária aplicação
deriva de imposição legislativa, incidem na relação independentemente da

51
FURTADO, Lucas Rocha. Curso de licitações e contratos administrativos. 5 ed. rev. atual. e ampl. –
Belo Horizonte: Fórum, 2013.
52
MENDES, Renato G. (Coord.). Licitação Anotada.com – Contratação Pública. Zênite. Disponível em:
http://www.leianotada.com . Acesso em: 27 nov. 2017.

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vontade das partes, que é impotente para modificá-las ou afastá-las. Pela


mesma razão, é inválida, devendo ser considerada como não escrita, a
cláusula que as afaste”. (Grifamos.) (SUNDFELD, Carlos Ari. Licitação e
contrato administrativo. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 1995. p. 225.)
Assim, considerando o posicionamento doutrinário, opina-se pelo afastamento da
irregularidade.

Já quanto à liquidação irregular da despesa adoto os fundamentos do Relator para


manter a irregularidade.

3 – Liquidação Inadequada das Despesas:


Descumprimento ao artigo 62, c/c o artigo 63 da Lei 4.320/64.
A equipe de auditoria destaca que os contratos 208/12, 333/12, 408/12, 417/12, 526/12 e
544/12 definiram apresentações artísticas nos dias 13/7, 17/8, 18/8, 19/8, 20/8 e 21/8/12,
porém, previam que os pagamentos ocorressem em datas anteriores àquelas, sem a
comprovação do cumprimento das obrigações por parte das contratadas, o que prejudicou a
liquidação da despesa e fragilizou os atos de ordenações dos pagamentos.
Em razão disso, conclui que as liquidações das despesas ocorreram sem as formalidades
impostas pelo art. 63 da Lei 4.320/64, uma vez que os pagamentos ocorreram antes do
direito adquirido pelo credor.
Como regra, a Administração deve realizar o pagamento somente após o cumprimento da
obrigação pelo particular contratado. Todavia, o Tribunal de Contas da União, há muito
tempo, reconhece a possibilidade de a Administração, de forma excepcionalíssima, realizar
pagamentos antes da efetiva execução do objeto contratado. (p. ex. Acórdãos 134/95, 59/99
e 751/2011, todos do Plenário).
53
No entanto, como bem destaca Marçal Justen Filho , “o pagamento antecipado não pode
representar benesse injustificada da Administração para os particulares ”.
E por essa razão, a jurisprudência do TCU consolidou-se no sentido de que o pagamento
antecipado não é vedado pelo ordenamento jurídico, contudo, é admitido apenas em
situações excepcionais. A possibilidade de pagamento adiantado deve ser condicionada à
existência de interesse público devidamente demonstrado, previsão no edital e exigência de
garantias. (Acórdão 3614/2013 – Plenário)
Por oportuno, transcreve-se trecho do voto do Min. Benjamin Zymler, relator do processo
009.852/2015-8, parte do Acórdão 4143/2016 - 1ª Câmara, no qual é reforçada essa
jurisprudência:

11. Devo ainda destacar a ilegalidade da previsão contratual de pagamento


antecipado. Consoante o Acórdão 1.341/2010-Plenário, relatado pelo Ministro
Marcos Bemquerer Costa, são três os requisitos exigidos para a realização dos
pagamentos antecipados: i) previsão no ato convocatório; ii) existência, no
processo licitatório, de estudo fundamentado comprovando a real necessidade
e economicidade da medida; e iii) estabelecimento de garantias específicas e
suficientes, que resguardem a Administração dos riscos inerentes à operação,
fato que não foi observado pela Prefeitura de Colniza/MT.
Compulsando os autos (fls. 1077 a 1406), especificamente as cópias dos contratos
firmados, verifica-se que havia previsão de pagamento antecipado, ou seja, antes da
apresentação dos artistas. Por outro lado, não foram estabelecidas garantias específicas e

53
JUSTEN Filho, Marçal. Comentários à Lei de Licitações e contratos administrativos. 16 ed. rev., atual.
e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2014, p. 937.

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suficientes, de forma a resguardar a Administração dos riscos inerentes a não realização


dos shows.
Dessa forma, com base na jurisprudência do TCU, opina-se pela manutenção da
irregularidade, sendo responsáveis os senhores:
 José Jair Reali (Secretário Municipal de Esporte e Lazer):
O senhor José Jair Reali, na qualidade de autoridade competente, assinou os contratos com
os artistas, prevendo pagamento antecipado, sem atentar para a necessidade de
estabelecer as devidas garantias à Administração.
 Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva (Procurador Municipal):

Depreende-se dos autos (fls. 1077 a 1406), que as Minutas dos Contratos, prevendo o
pagamento antecipado, foram submetidas pelo Assessor Especial de Gestão, senhor
Thiago Brunelli Pessoa, ao senhor Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva , Procurador
Municipal, que emitiu parecer favorável sem nenhuma ressalva quanto à ausência das
devidas garantias.

Contudo mantenho-a sem o condão de macular as contas, tendo em vista não ter
sido identificado aos autos qualquer prejuízo a administração pela irregularidade ora
apontada. Aproveito o momento oportuno para expedir determinação para que a
Administração passe a observar os requisitos do art. 62 c/c art. 63 da Lei 4.320/64.

III.2 - Licitações e Contratos diversos

III.2.1 – Processo Fundo Municipal de Saúde - FMS 16.946/2012

III.2.1.1 – Ausência de acompanhamento e fiscalização da execução contratual.


(subitem 5.2.1.1 do RAO)

Acompanho o Relator e entendimento exarado na Instrução Técnica Conclusiva


6134/2017, nos seguintes termos:

Justificativas:
1 – Guerino Luiz Zanon:
A defesa contesta a afirmação da auditoria de que os relatórios de abastecimento eram
produzidos pela própria empresa, esclarecendo que esses documentos eram gerados por
sistema eletrônico (Autosystem – Gestão e Automação de Postos de Combustíveis), exigido
previamente no Edital, justamente para fins de controle pelo Município.
Explica que os relatórios eram gerados após a fiscalização por um servidor responsável por
atuar junto ao contrato (no caso da Secretaria Municipal de Saúde, Sr. Marcos Oliveira e, no
caso das demais Secretarias, Sr. Everaldo Marcarini).
Também contesta a auditoria que afirmou: “dos relatórios de abastecimento gerados pela
própria empresa, agregados por veículo, constam apenas a informação da placa do veículo,
da quilometragem no momento do abastecimento e do cálculo de consumo (considerando a
quilometragem anotada e a quantidade de combustível)”. Para a defesa, esses eram
justamente os dados necessários para a fiscalização contratual.
5 – Sônia Maria Dalmolin de Souza (Secretária Municipal de Saúde – exercício de 2012)

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Preliminarmente, a defendente alega que o acompanhamento e fiscalização foram


realizados durante toda a execução do contrato diretamente pelo Setor de Transporte da
Secretaria Municipal de Saúde da Prefeitura Municipal de Linhares, por meio do servidor
efetivo da Secretaria de Estado da Saúde, cedido ao Município, senhor Marcos Antôni o de
Oliveira.
Esclarece que os motoristas abasteciam os veículos com apresentação de requisição no
posto de combustível, na qual constava dados acerca da data, quilometragem, quantidade
em litros e valor. E segue, in verbis:
O motorista então assinava uma nota emitida pelo posto que refletia os dados
descritos na requisição. Após certo período o Posto de combustível emitia nota
fiscal que era apresentada à Secretaria gestora do contrato, juntamente com
um relatório informando a data, placa do veículo, KM, o número da respectiva
requisição, quantidade de litros, valor por litro e o valor total de cada
abastecimento constante na nota fiscal.
Munido de tais documentos, o servidor do Setor de Transporte da Secretaria
Municipal de Saúde designado a função e responsável pelo controle de
abastecimento e fiscalização do referido Contrato FMS 152/2012 realizava a
conferência dos dados informados pela empresa na nota fiscal com a 2ª via do
bloco de requisições que ficava nos veículos e, verificada a conformidade,
encaminhava a Nota Fiscal juntamente com o relatório dos serviços prestados
ao Coordenador do Setor de Transportes – Sr. Leones Transpadini, que após
conferência dos dados apresentados, atestava a execução.
Afirma que, embora não tenha sido nomeado formalmente um servidor como gestor do
contrato, esse fato não resultou em ineficiência do acompanhamento e fiscalização do
contrato, tampouco prejuízo ao erário, uma vez que houve atuação direta de controle e
fiscalização por servidor responsável e pelo Coordenador do Setor de Transportes da
Secretaria Municipal de Saúde.
Destaca, ainda, que o contrato foi integralmente cumprido, sem qualquer prejuízo aos cofres
públicos ou intenção de macular o interesse público, havendo sequer um indício de
irregularidade na sua execução.

6 – Maria de Fátima Fiorino Biancardi (Secretária Municipal de Saúde – exercício de 2013):


A defendente informa que durante o período de execução do contrato sob sua
responsabilidade (janeiro a março de 2013), a fiscalização da execução do Contrato
105/2012 ficou a cargo do servidor Wanderson V. Fazolo, Diretor de Transportes da
Secretaria Municipal de Saúde.
Informa, também, que no CD (acostado à peça contestatória – fls. 4707 dos autos TC)
consta cópia integral do processo administrativo 016.946/2012 (licitação e pagamento) e
registros de controle da execução contratual. E detalha como ocorria o processo de
fiscalização. In verbis:
5- o motorista condutor do veículo conforme escala pré-estabelecida detectava a
necessidade de abastecimento do veículo;
6- diante disto o Diretor de Transportes da SEMUS Senhor Wanderson V. Fazolo
emitida uma autorização de abastecimento onde constava o veículo, a placa e
a quilometragem do mesmo;
7- de posse desta autorização o motorista então se dirigia à empresa contratada –
Auto Posto Floresta Ltda. – e abastecia o veículo e assinava o cupom fiscal, ao
contrário do que afirma a equipe de auditoria;

8- quinzenalmente a empresa contratada encaminhava a nota fiscal do valor


correspondente ao período, citando na mesma todos os cupons fiscais que
deram origem àquele valor e os encaminhando ao Diretor de Transporte da

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SEMUS, devidamente acompanhado de Relatórios Consolidados e


Individualizados de consumo por veículo, sendo que os Relatórios
Individualizados eram gerados por Sistema Informatizado de Controle,
conforme previsto no contrato 152/2012 – páginas 244/257 da pasta 01 do CD
anexo – em sua Cláusula Terceira que diz:

Cláusula Terceira do Contrato 152/2012 – Das Obrigações da


Contratada:
Item 3.2.6. Disponibilizar para a Secretaria Municipal de Saúde
controle de combustíveis para dar suporte ao controle gerencial
com os requisitos mínimos abaixo discriminados:
6.2.6.1 – Garantia de que todo o combustível foi realmente
abastecido no veículo indicado;
6.2.6.2 – Assegurar que não possam ser abastecidos veículos
que não estejam cadastrados previamente na frota do
município de Linhares;
6.2.6.3 – Assegurar que um veículo cadastrado só esteja
abastecido com o combustível para o qual está
autorizado.
5- recebido às notas fiscais e os relatórios já mencionados, o então Diretor de
Transportes efetuava a conferência entre esses e os cupons fiscais
devidamente assinados pelos motoristas. Verificado que as notas fiscais e os
relatórios demonstravam a realidade dos fatos, esse então assinava os citados
relatórios – página 21 em diante da pasta 02 do CD em anexo - e me
encaminhava;
7- recebido os relatórios e as notas fiscais, a ora recorrente então fazia a
conferência dos valores e suas compatibilidades com o contrato, efetuava
despacho indicando a conta bancária que deveria pagar a despesa e efetuava
a liquidação na forma do art. 63 da Lei 4.320/64, página 450 da pasta 02 do CD
em anexo, e encaminhava para o Setor de Contabilidade para então processar
a liquidação da despesa – página 451/455 da pasta 02 do CD em anexo – no
Sistema Informatizado de Contabilidade do Município, que após isso
encaminhava o processo para pagamento.
Dessa forma, contesta a auditoria do Tribunal, afirmando que não houve deficiência na
liquidação da despesa e muito menos ausência de acompanhamento e fiscalização da
execução contratual.
Assevera, ainda, que todos os relatórios de abastecimento estão assinados pelo Senhor
Wanderson V. Fazolo, conforme consta do CD anexo, a partir da página 21 da pasta 02.
Por fim, argumenta que não pode prosperar a alegação da equipe de que não existe ateste
por parte do responsável pela fiscalização na nota fiscal emitida pela empresa, pois,
conforme demonstram os documentos constantes do CD anexo, os relatórios consolidados
e individualizados que acompanham cada nota fiscal estão devidamente assinados pelo Sr.
Wanderson.

Análise:
O Tribunal de Contas do Estado do Espírito Santo, reiteradamente tem determinado aos
gestores públicos a adoção de um controle efetivo dos gastos com combustíveis, que
contenha: quantidade de combustível adquirido em cada abastecimento, gasto com
combustível por veículo, quilometragem de saída e chegada do veículo, requisições para
uso do veículo, dados do veículo abastecido, datas de abastecimento, identificação do

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condutor, percurso realizado e a finalidade do trajeto. Nesse sentido, destacam-se os


seguintes Acórdãos (1067/2017 – 2ª Câmara; 664/2014 – 1ª Câmara; e 219/2014 –
Plenário).
Analisando os documentos carreados aos autos pela equipe de auditoria (fls. 1469 a 1811)
e pela defesa (CD anexo às fls. 4707) verifica-se que não havia na Prefeitura de Linhares,
controle contendo as seguintes informações: identificação do condutor, percurso realizado e
finalidade do trajeto. Contudo, não é correto afirmar que o acompanhamento e a fiscalização
da execução contratual não ocorriam ou que não eram efetivos, uma vez que havia um
controle implantado contendo grande parte das informações basilares requeridas para um
controle completo de combustível, na forma já delineada por este Tribunal de Contas.

Extraem-se dos documentos, notas fiscais atestadas pelo Diretor de Transportes da


Secretaria; relatórios de abastecimento assinados pelo Diretor, informando placa e modelo
do veículo, tipo de combustível, valor por litro, quantidade de litros, valor total pago; e
relatórios do Sistema Eletrônico de Controle, que evidenciam o consumo de combustíveis
por veículo, variação de quilometragem, quilometragem percorrida, média de quilometragem
por litro, preço por quilometro, quantitativo de litros adquiridos e valor total pago.

Ademais, a própria equipe de auditoria não traz evidências de gasto excessivo de


combustível ou abastecimento de veículos não pertencentes à frota do Município de
Linhares, consequências imediatas de um controle inadequado do gasto.

Assim sendo, opina-se pelo acolhimento dos argumentos da defesa, sugerindo o


afastamento da irregularidade e, por oportuno, que seja determinado à atual gestão do
Município de Linhares que designe formalmente um servidor para acompanhar a execução
dos contratos de fornecimento de combustíveis, com o propósito de dar pleno cumprimento
ao artigo 67 da Lei 8.666/93.

III.2.2 – Processo 16.692/2012

III.2.2.1 – Liquidação e pagamento irregular da despesa (subitem 5.2.2.1 do RAO)

Em relatório de auditório constatou-se à ausência de comprovação na entrega de


materiais adquiridos pela prefeitura de Linhares, “teriam sido adquiridos 3.450 camisas
e 3.450 calções da Malharia Cristimara e 2.400 meias da Luma Confecções (conforme
Ofício 868/2012/Semel, Anexo 5).”

A presente irregularidade trata da incorreta liquidação e pagamento de despesas, em


descumprimento aos preceitos estabelecidos nos artigos 62 e 63 da Lei Federal 4.320/64,
principalmente pela ausência de relatórios de fiscalização e acompanhamento, relatórios de
recebimento prévio e, ainda, registros de entrada e saída do almoxarifado da prefeitura,
bem como a identificação (nome e endereço) dos beneficiados.

Alega o Sr. Guerino Luiz Zanon que o fornecedor Luma Confecções emitiu notas fiscais
e que as mesmas foram devidamente conferidas quando do material entregue.

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Esclarece que por se tratar de registro de preço os materiais eram adquiridos conforme
a demanda, não ingressando no almoxarifado.

Para comprovar a inexistência de qualquer irregularidade, traz anexos à peç a contestatória,


documentos que atestam recebimento dos materiais, subscritos pelos responsáveis pelas
escolas e entidades que receberam os uniformes esportivos (fls. 6529 a 6654 dos autos
TC), bem com relatório fotográfico das diversas equipes beneficiadas utilizando o material
nos torneios de que participaram (fls. 6630 a 6654 dos autos TC).

O Sr. José Jair Reali juntou aos autos recibo da entrega dos materiais esportivos, e
também fotos tiradas no momento da entrega. Destacando que como a entrega não
ocorreu de uma única vez, foi possível usar a estrutura da própria secretaria.

Já a Cristmara Confecções, esclarece que era previsto na própria ate de registro de


preço 02/2012 que os materiais seriam entregues na Secretaria de Esporte e Lazer,
conforme necessidade administrativa.

Identifica as Notas Fiscais Eletrônicas emitidas (NFe) e os servidores do Município, que


teriam sido responsáveis pelo recebimento dos materiais:

 A primeira remessa solicitada pela Secretaria seguiu com a NFe nº 001.261 – série
1, emitida em 2/4/2012, que correspondia a 1.800 camisas e 1.800 calções, sendo
recebida pelos servidores, Srª Paloma Sousa e Srº Aguinaldo Bernardo, Chefe de
Divisão de Lazer;
 A segunda remessa foi entregue conforme NFe nº 001.452– série 1, emitida em
15/6/2012, correspondente a 1.200 camisas e 1.200 calções, sendo recebido pela
servidora, Srª Aline Cutine, em 20/6/2012;
 A terceira remessa foi entregue conforme a NFe nº 001.712 – série 1, de
17/10/2012, sendo requisitada a quantidade de 450 camisas e 450 calções,
recebida pelo próprio Secretário, em 18/10/2012.

Apresenta ainda canhoto de nota fiscal assinada pelo Servidor da Prefeitura Municipal
de Linhares, comprovando a entrega dos materiais.

A empresa Luma Confecções afirma que a entrega do material (meiões) foi realizada
de forma parcelada:
 NFe 000.157 – série 1, emitida em 2/4/2012, correspondente a entrega de 1.800
meiões, sendo atestada pelo Secretário Municipal de Esporte e Lazer, Sr. José Jair
Reali, em 3/4/2012;

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 NFe 000.163 – série 1, emitida em 19/6/2012, correspondente a entrega de 600


meiões, sendo atestada pelo Secretário Municipal de Esporte e Lazer, Sr. José Jair
Reali, em 19/6/2012.

No que tange a presente irregularidade acompanho o Relator e entendimento exarado


na Instrução Técnica Conclusiva 6134/2017, nos seguintes termos:

Análise:

A presente irregularidade trata da incorreta liquidação e pagamento de despesas, em


descumprimento aos preceitos estabelecidos nos artigos 62 e 63 da Lei Federal 4.320/64,
principalmente pela ausência de relatórios de fiscalização e acompanhamento, relatórios de
recebimento prévio e, ainda, registros de entrada e saída do almoxarifado da prefeitura,
bem como a identificação (nome e endereço) dos beneficiados.

Sobre os dispositivos legais, é importante destac ar que o art. 63 da Lei n° 4320/64


estabelece a liquidação da despesa com base em documentos comprobatórios do crédito e
o objetivo de verificar a origem e o objeto do que se deve pagar, além da importância exata.
Portanto, a fase de liquidação deve comportar a verificação in loco do cumprimento da
obrigação por parte do contratante.

A formalização das exigências contidas nos parágrafos do art. 63 deve ser feita de forma
que fique clarividente a verificação e a identificação do documento no qual o agente público
se embasou para efetivar a liquidação.

Dentre as formas existentes para cumprir tais aspectos, pode-se citar: laudos de medição,
atestado de conformidade, exame de procedência do material, confrontação do descrito na
nota de empenho com o material entregue e a especificação na nota fiscal de compra,
confrontação do descrito na nota de empenho com o serviço prestado e a especificação na
54
nota fiscal de serviço, dentre outros .

Entende-se ainda, a luz do princípio da razoabilidade, que a referida comprovação poderia


ser realizada por meio de outros documentos, ainda que não aqueles formalmente impostos
pela Lei Federal n° 4.320/64, desde que suficientes para demonstrar a execução contratual.
Compulsando os autos (fls.1990 a 2056), constata-se total ausência de documentação
capaz de atestar a efetiva entrega dos materiais contratados com as empresas Malharia
Cristmara e Luma Confecções. Constam apenas notas de empenho, notas de pagamento e
notas fiscais desprovidas de atestos dos responsáveis pela Secretaria de Esporte e Lazer
do Município de Linhares, unidade administrativa contratante.
Nesse contexto, a equipe de auditoria entendeu que, em virtude do indicativo de liquidação
irregular de despesa e pagamentos, face à ausência da comprovação da entrega do
material contratado, deveriam os responsáveis legais promover o ressarcimento ao erário
do valor integralmente pago, sendo os contratados corresponsáveis pelo suposto dano
experimentado pelos cofres públicos.
Em sede defesa, os gestores públicos colacionam documentos que identificam as entidades
beneficiadas, bem como relatório fotográfico contendo registros de entrega e utilização do
material esportivo distribuído.

54
CRUZ, Flávio... [et al]. Comentário à lei n° 4.320. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2006.

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As sociedades empresárias citadas juntam à peça contestatória cópias das notas fiscais
emitidas com os respectivos canhotos, nos quais constam assinaturas e identificação dos
servidores municipais responsáveis pelo recebimento do material.
Ainda que a defesa não houvesse se manifestado, observa-se que não seria de bom alvitre
imputar o dever de ressarcimento integral dos valores pagos baseados no fato de que a
comprovação da entrega do material licitado teria se dado, unicamente, com base nas notas
fiscais emitidas pelas contratadas, sem constar os respectivos atestes da Secretaria
Municipal de Esporte e Lazer, relatórios de recebimento prévio e, ainda, sem registros no
sistema do almoxarifado da prefeitura, conforme assentado pela equipe de auditoria.
Isso porque, em processos de auditoria, o ônus de comprovar a ocorrência da ilegalidade
incumbe aos auditores, de forma que, diante das inconsistências verificadas nos processos
de pagamento, a equipe desta Corte de Contas poderia, por exemplo, ter utilizado a técnica
de auditoria da “indagação por escrito” com os partícipes das entidades beneficiadas, a fim
de comprovarem efetivamente o não cumprimento do objeto do Pregão Presencial 22/2012.
O Tribunal de Contas da União possui entendimento nesse sentido, conforme excerto
extraído do voto do Ministro Relator Vital do Rêgo, proferido nos autos do Proces so
030.778/2012-3:
Lembro que, na linha da jurisprudência deste Tribunal, em processos de
auditoria, o ônus da prova sobre falhas na execução do objeto cabe ao
TCU. Quaisquer ocorrências consideradas ilegais devem estar acompanhadas
de fundamentação que permita a identificação do dano, da ilegalidade e do
responsável por sua autoria ou, ao menos, da entidade ou empresa que tenha
contribuído para a prática do ato inquinado.(Acórdão 721/2016 Plenário.
Relator: Ministro Vital do Rêgo. Data da sessão de julgamento: 30/03/2016)
[g.n.]
Assim, considerando que a equipe de auditoria não trouxe evidências para sustentar sua
conclusão e baseando-se na jurisprudência acima transcrita, opina-se pelo afastamento da
imputação de ressarcimento ao erário, sob pena de enriquecimento ilícito por parte da
Administração Pública, mantendo, contudo a irregularidade relativa à infringência aos
artigos 62 e 63 da Lei Federal 4.320/64, sendo responsável o senhor José Jair Reali,
ordenador de despesa da Secretaria Municipal de Esporte e Lazer, responsável pela
liquidação e pagamento das despesas sem documentos, acostados aos respectivos
processos de pagamento, como o relatório de recebimento do material e atestes do fiscal do
contrato.

III.2.2.2 – Sobrepreço e superfaturamento na aquisição de material esportivo.


(subitem 5.2.2.2 do RAO)

A equipe de auditoria entendeu que o material esportivo (camisas, calções e meiões)


adquirido no Pregão Presencial 22/2012 foi realizado com sobrepreço e pagamentos
superfaturados no montante de R$76.752,00.

A equipe de auditoria realizou pesquisa de preços (Tabela 11, empresas Paulus Esportes e
com a própria vencedora do certame, Malharia Cristimara) dos produtos adquiridos, no
mercado de Linhares (em 15/10/13, quase dois anos depois) e constatou que os preços
orçados previamente pela prefeitura eram superiores em 67,3% aos praticados no mercado
– as camisas foram cotadas com sobrepreço de 74,7%, os calções com sobrepreço de
64,5% e as meias (meiões) foram contados com sobrepreço de 55,8%.

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No que tange a presente irregularidade acompanho o Relator e entendimento exarado


na Instrução Técnica Conclusiva 6134/2017, nos seguintes termos:

Análise:

Antes de adentrar no mérito da irregularidade suscitada pela auditoria, é importante


ressalvar que o Sr. Guerino Luiz Zanon, único citado, não pode ser responsabilizado,
conforme os argumentos expostos no subitem 2.2, que tratou da análise da ilegitimidade
passiva do agente público, face à existência no Município de Linhares de Lei de
desconcentração administrativa, que permite ao Prefeito deixar de atuar como ordenador de
despesas e gestor em contratações submetidas às Secretarias.

Sendo assim, apenas, em tese, o Prefeito poderia ser responsabilizado solidariamente por
culpa in elegendo ou por culpa in vigilando. Contudo, tais condições não foram
demonstradas nos autos no que tange a irregularidade apontada.

Feita essa importante ressalva, passa-se ao mérito:

Quando a questão é o planejamento das licitações, a jurisprudência dominante orienta que,


a Administração não deve limitar-se a obtenção de três propostas válidas de fornecedores
como único critério de aceitabilidade da pesquisa de preços, mas sim, envidar esforços no
sentido de se obter o maior número possível de cotações de fontes diversas que reflitam a
realidade do mercado, tais como: contratos anteriores do próprio órgão e de outros órgãos,
Sistemas de Referência de Preços e valores registrados em atas de registro de preços.
Esta ampliação da pesquisa de preços tem sido reiteradamente denominada pelo TCU de
“cesta de serviços aceitáveis”: Vale destacar os parágrafos 32 e 33 do voto do Ministro-
Relator Ubiratan Aguiar prolatado no Acórdão TCU 2.170/2007-Plenário que, com relação
aos conceitos de preço aceitável e cesta de preços, forneceu os seguintes esclarecimentos:
32. Esclareço que preço aceitável é aquele que não representa claro viés em
relação ao contexto do mercado, ou seja, abaixo do limite inferior ou acima do
maior valor constante da faixa identificada para o produto (ou serviço). Tal
consideração leva à conclusão de que as estimativas de preços prévias às
licitações, os valores a serem aceitos pelos gestores antes da adjudicação dos
objetos dos certames licitatórios, bem como na contratação e posteriores
alterações, por meio de aditivos, e mesmo os parâmetros utilizados pelos
órgãos de controle para caracterizar sobrepreço ou superfaturamento em
contratações da área de TI devem estar baseados em uma “cesta de preços
aceitáveis”. A velocidade das mudanças tecnológicas do setor exige esse
cuidado especial.

33. Esse conjunto de preços ao qual me referi como “cesta de preços


aceitáveis” pode ser oriundo, por exemplo, de pesquisas junto a fornecedores,
valores adjudicados em licitações de órgãos públicos – inclusos aqueles
constantes no Comprasnet -, valores registrados em atas de SRP, entre outras
fontes disponíveis tanto para os gestores como para os órgãos de controle – a
exemplo de compras/contratações realizadas por corporações privadas em
condições idênticas ou semelhantes àquelas da Administração Pública -, desde

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que, com relação a qualquer das fontes utilizadas, sejam expurgados os


valores que, manifestamente, não representem a realidade do mercado. (gn)

Infere-se, assim que, se não houver ampla pesquisa de mercado, não existe um referencial
adequado de preços. E como ficou assentado no citado Acórdão, a regra serve tanto para o
ente público, quanto para os parâmetros utilizados pelos órgãos de controle para
caracterizar sobrepreço ou superfaturamento.
Nesse sentido, a Segunda Câmara do Tribunal de Contas da União, acompanhando o Voto
do Ministro-Relator Ubiratan Aguiar, já havia se manifestado nos termos do Acórdão
525/2002, abaixo transcrito:

Sumário

Tomada de Contas. Constatação de superfaturamento em contrato de


manutenção e reparos. Citação e audiências. Acolhimento parcial das defesas
apresentadas. Falhas na apuração do sobrepreço. Caracterização de omissão
no controle e acompanhamento contratual e extrapolação de limites contratuais
fixados. Contas regulares da ex-Chefe do Serviço de Administração e da
empresa. Contas irregulares e multa para os demais responsáveis.

Voto

(...)
2.Analisando o processo, temos que, de fato, restou prejudicada a conclusão
de superfaturamento no contrato em exame. Primeiramente, assiste razão ao
Sr. Diretor quando afirma que a coleta dos preços de apenas uma empresa não
pode ser considerada, por si só, preço de mercado. Em segundo lugar, nas
faturas expedidas e cobradas do PAM, não foram especificados os modelos
das peças efetivamente pagas, e como existem diferenças acentuadas de
preços de acordo com o modelo e a marca utilizada, isso prejudicou a
comparação de preços e até a pesquisa dos preços de mercado pelo Controle
Interno.

(...)
5.Assim, resta ser acolhida a defesa apresentada pela empresa, por falta de
parâmetros mais consistentes para a constatação do superfaturamento, e a
defesa da então chefe do serviço de administração, uma vez que sua função
era a de atestar execução dos serviços, sendo que em momento algum foi
levantada a hipótese de pagamento por serviços não prestados. (gn)

Comparando o valor pago pela aquisição dos materiais esportivos (camisas, calções e
meiões) mediante a Ata de Registro de Preços 01/2012, oriunda do Pregão Presencial
22/2012, com orçamentos colhidos em duas empresas do município de Linhares (fls. 2066 a
2072), a equipe de auditoria, com base no menor preço, cotado pela empresa Paulus
Esportes, concluiu que houve superfaturamento da ordem de R$76.752,00, correspondente
a 53,9% (Tabela 12 do relatório de auditoria).
Contudo, ainda que se possa ter encontrado preços, em 2013, inferiores à Ata de Registro
de Preços, firmada em 2012, não há como tal parâmetro se sustentar, por si só, de modo a
configurar o suposto sobrepreço e consequente superfaturamento, uma vez que a regra da
ampla pesquisa de preços, como dito alhures, serve tanto para o planejamento da licitação
quanto para os trabalhos dos órgãos de controle.

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Destaca-se, ainda, que qualquer comparação deve ser feita em épocas próximas e levando-
se em conta as mesmas condições de mercado.

Além disso, analisando o edital do Pregão Presencial 22/2012, não há como se afirmar que
os itens cotados pelas empresas pesquisadas pela auditoria guardam total similitude com o
procedimento licitatório do Município de Linhares, uma vez que não trazem descrição
quanto à composição do material, tamanho, gramatura e estampas, o que torna frágil e
temerário tal parâmetro como único e suficiente para confirmar o
sobrepreço/superfaturamento.
Por tais razões, entendemos não poder se sustentar o indício de irregularidade do
sobrepreço/superfaturamento, baseando-se tal indicativo, tão somente, nos preços cotados
pelas duas empresas pesquisadas, motivo pelo qual sugerimos o afastamento do presente
indicativo de irregularidade.

III.2.3 – Processo 14.089/2012

III.2.3.1 – Ausência de fiscalização e controle insuficiente da execução contratual.


(subitem 5.2.3.1 do RAO)

Em sede de auditoria se entendeu que embora identificado o controle por parte de


alguns gestores, não há nos autos a indicação do gestor responsável pelo
acompanhamento e fiscalização da execução contratual.

Em breve síntese acompanho o relator e equipe técnica na presente irregularidade:

Verifica-se que há total similaridade com a questão analisada no subitem 3.2.1.1 desta ITC,
inclusive quanto às justificativas apresentadas pelos citados, o qual difere apenas em
relação às informações específicas, como: número de processos de pagamento, datas,
credores, secretarias e servidores responsáveis pela fiscalização.
Reiteram-se, assim, as considerações feitas no citado subitem como fundamentação para
acolher os argumentos dos defendentes, sugerindo o afastamento da irregularidade
e, por oportuno, sugerir, também, que seja determinado à atual gestão do Município de
Linhares que designe formalmente um servidor para acompanhar a execução dos cont ratos
de fornecimento de combustíveis, com o propósito de dar pleno cumprimento ao artigo 67
da Lei 8.666/93.

III.2.4 – Transferências a Entidades Privadas

III.2.4.1 – Linhares Futebol Clube. (subitem 5.3.1 do RAO)

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III.2.4.1.1 – Ausência de previsão legal para transferir recursos para empresa com
fins lucrativos e ausência de justificativas, motivação e da demonstração do
interesse público. (subitem 5.3.1.2 do RAO).

Em sede de auditoria foram identificados repasses ao Linhares Futebol Clube desde o


ano de 2008, fundamentados em leis municipais autorizativas. A suposta irregularidade
é apontada por entender que ajuste firmado entre as partes não pode ser considerado
um convênio, pois, “não apresenta informações mínimas, adequadas, detalhadas,
organizadas acerca do objeto, das metas e etapas, das fases, do cronograma de
desembolso e dos resultados esperados” e, principalmente por não atender ao
interesse público.

No que tange a presente irregularidade, acompanho o entendimento exarado pelo


Relator e exposto na Instrução Técnica Conclusiva 6134/2017:

Análise:

A equipe de auditoria argumenta que não havia justificativas, motivação e demonstração do


interesse público e, tampouco, previsão legal no ordenamento jurídico para transferir
recursos para entidade esportiva com fins lucrativos, o que acarretaria o ressarcimento ao
erário de todo o valor repassado, R$200.000,00, ao Linhares Futebol Clube, no exercício de
2012, mediante Convênio 2/2012.

Antes de adentrar na análise do caso concreto, é importante destacar que a existência de


interesse público na prática do esporte é inegável. E o futebol, esporte mais praticado no
país, é sem dúvida um fenômeno econômico, mas sobretudo social, uma vez que os clubes
são responsáveis não só pela formação de atletas na área esportiva, mas também pela
educação, moradia, alimentação, acompanhamento médico, dentre outros.

Ressalta-se ainda, que o futebol desempenha importante papel de inclusão social, pois
muitas vezes, evita a marginalização de milhares de jovens que não teriam oportunidade na
vida laboral.

Não diferentemente, entendeu o legislador constituinte de 1988, que materializou o direito


ao desporto no texto constitucional, solidificando-o como um direito social, ou seja, um
direito fundamental de segunda geração, hierarquicamente equiparado à educação e à
cultura em importância.

Assim, o fomento da prática desportiva, em todos os sentidos, que incluem o desporto de


alto rendimento, gênero do qual faz parte o futebol profissional, torna-se um dever do
Estado brasileiro em um compromisso deste para com o cidadão.
Conforme ressaltado no subitem 3.3.1.1, coube à legislação infraconstitucional (Lei Federal
9.615/98) expressamente permitir o repasse de verbas públicas a entidades desportivas
profissionais, independentemente da forma jurídica adotada (artigo 27, caput, § 6º).

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55
Dessa forma, considerando a normatização existente, Jorge Ulisses Jacoby Fernandes
afirmou que é possível a concessão de subvenções sociais a clubes de futebol, desde que
obedecidos os princípios constitucionais administrativos, principalmente a impessoalidade,
haja lei autorizativa específica, atender às condições estabelecidas na lei de diretrizes
orçamentárias, estar prevista no orçamento ou em seus créditos adicionais (artigo 26 da Lei
de Responsabilidade Fiscal) e a devida prestação de contas.
No mesmo sentido, encontra-se o Parecer Consulta 02/2007, deste TCE-ES, segundo o
qual a destinação de recursos públicos a entidades esportivas profissionais compõe o rol de
opções político-legislativas do Município. Segue transcrito o seguinte trecho:

“Pode a Administração Pública Municipal patrocinar, subvencionar, ou prestar


qualquer outro tipo de apoio financeiro a associações esportivas profissionais?”
(...) o princípio constitucional da impessoalidade aplicado à administração
pública deve aliar-se ao princípio da igualdade, tendo como premissa
inafastável, o interesse público. O postulado principiológico deve ser
compreendido a partir de premissas de precedência incondicionada ou
condicionada. (...) não vejo óbice ao fomento ao desporto amador ou
profissional, como opção político-legislativa do município, observado o princípio
da impessoalidade quando da edição do regramento, além de nele estabelecer
critérios objetivos de concessão, planos de aplicação dos recursos e, prestação
de contas.

(...) no caso de desporto profissional, como ora suscitado pelo consulente, além
da observância à Carta Federal e Estadual, para o seu fomento é imperativo
ser observada às normas insertas na Lei Federal nº. 9.615/98, alterada pelas
Leis 9.981/00, 10.264/01 e 10.672/03; Deverá ainda ser observado o art. 26 da
Lei de Responsabilidade Fiscal para a destinação de recursos a pessoas
físicas ou jurídicas, autorizando-se através de lei específica, além de atender
às condições estabelecidas na Lei de Diretrizes Orçamentárias e previsão na
Lei Orçamentária Anual ou, em seus créditos adicionais , dentro dos ditames da
Lei Federal n. 4.320/64, relativamente à forma contábil e orçamentária, e à
observância de compatibilidade das atividades desenvolvidas pelos entes
beneficiados, além da necessidade de apresentação das respectivas
prestações de contas. (gn)

Analisando os documentos carreados aos autos pela equipe de auditoria e pela defesa,
verifica-se que o Convênio 2/2012 foi firmado com o único clube profissional da cidade,
Linhares Futebol Clube, que participava da principal competição oficial da Federação
Capixaba de Futebol, no 1º semestre de 2012, o Campeonato Capixaba da 1ª divisão.
Portanto, não há que se questionar o descumprimento ao princípio da impessoalidade.

Verifica-se, por outro lado, que não foram estabelecidas na LDO do Município as condições
e exigências para as transferências de recursos a entidades privadas. No entanto, o referido
ajuste, em 2012, ocorreu sob a égide de uma Lei específica (Lei 3.147/2011), tornando o ato
ainda mais sólido, pois o processo legislativo que representa a aprovação da sociedade não
deixou de ser observado.

Destaca-se, ainda, que a referida lei condicionava o repasse do recurso à apresentaç ão de


um plano de aplicação e exigia a devida prestação de contas.

55
Concessão de Subvenção Social a Clubes de Futebol. Revista Brasileira de Direito Municipal RBDM Belo Horizonte, n.1 8, ano
6, Outubro / Dezembro 2005 Disponível em : http://w w w .bidforum.com.br/bid/PDI0006.aspx?pdiCntd=33294>. Acesso em: 5 dez.
2017.

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Do plano de aplicação (acostado aos autos fls. 6659 a 6661), depreende-se que o repasse
tinha como objeto específico o apoio financeiro ao citado clube para atender a despesas
com a folha de pagamento, alimentação, transporte, hospedagem dos atletas, aluguel de
campo, aluguel de moradia dos atletas, aquisição de material esportivo e taxas junto à
Federação Capixaba de Futebol (borderôs e inscrições de atletas), para efetivar a
participação no Campeonato Capixaba de Futebol profissional da 1ª divisão no ano de
2012.

Sem pretender emitir juízo de valor quanto à regularidade da prestação de contas em sua
plenitude, tarefa que cabia ao órgão repassador ou à equipe deste Tribunal de Contas,
quando do trabalho de fiscalização, verifica-se que a entidade não deixou de aplicar os
recursos públicos em sua atividade principal, o futebol, uma vez que constam dos
documentos entregues à Prefeitura (acostados aos autos 6706 a 6810) notas fiscais e
recibos, tendo como pagador o Linhares Futebol Clube, relativos à aquisição de materiais
esportivos (camisas, calções, meiões, bolas, etc.), à contratação de serviços de transporte,
à aquisição de alimentos e água mineral, a aluguéis de moradia dos atletas e a aluguéis de
campo para as partidas como mandante.

Infere-se, assim, que a concessão de recursos públicos ao Linhares Futebol Clube


obedeceu aos princípios da impessoalidade, transparência e publicidade, uma vez que foi
efetivada mediante lei autorizativa específica, que exigia o plano de aplicação de recursos,
bem como a devida prestação de contas.

Contata-se, também, que não há indício de que o recurso tenha sido aplicado pelo
beneficiário em objetivo diverso do Convênio firmado, qual seja, o apoio financeiro para o
departamento de futebol.

Isto posto, opina-se pelo afastamento da irregularidade, sugerindo o encaminhamento de


determinação à atual gestão do Município de Linhares para que faça constar no projeto de
Lei de Diretrizes Orçamentárias as condições e exigências para as transferências de
recursos a entidades públicas e privadas, em cumprimento aos artigos 4º, inciso I, alínea f; e
artigo 26, caput, da Lei de Responsabilidade Fiscal.

III.2.4.2 – Associação Brasileira dos Municípios com Terminais Marítimos,


Fluviais e Terrestres para embarque e desembarque de petróleo e gás natural –
ABRAMT (Processo 572/2012). (subitem 5.3.2 do RAO)

III.2.4.2.1 – Justificativas e motivação insuficientes e ausência da demonstração


do interesse público para a contratação, ausência de termo contratual (contrato
verbal com a administração) e ausência de prestação de contas dos recursos
recebidos. Ressarcimento. (subitem 5.3.2.1 do RAO).

Em sede de auditoria ficou constatado um repasse à Associação Brasileira dos


Municípios com Terminais Marítimos, Fluviais e Terrestres para Embarque e
Desembarque de Petróleo e Gás Natural (ABRAMT), em 2012, o valor de R$96.000,00.

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Análise:
A equipe de auditoria questiona os repasses mensais de R$8.000,00 feitos no exercício de
2012 à ABRAMT, sobre o argumento de que não havia nos autos do Processo 572/2012
qualquer informação sobre a entidade beneficiada, a autorização legal, o motivo dos
repasses, a justificativa para transferir recursos públicos à entidade privada, pareceres
técnicos ou jurídicos, termo contratual (ou convenial), prestação de contas, notas ou
documentos fiscais (próprias e/ou de terceiros).

Antes de adentrar na análise do caso concreto, é importante tecer considerações sobre as


condições que conferem legitimidade da adesão dos municípios a associações
representativas, bem como sobre as contribuições financeiras efetivadas:

Preliminarmente, ressalta-se que não há óbice constitucional à participação dos municípios


em associações que os represente, uma vez que a Constituição Federal adotou o “livre
56
associativismo” (artigo 5º, inciso XVII ) e há muito se reconhece a aplicabilidade desse
princípio tanto para pessoas físicas quanto jurídicas. Nesse sentido, destaca-se o seguinte
trecho do voto do Ministro Celso de Melo na ADI 3.045:

(...) Revela-se importante assinalar, neste ponto, que a liberdade de associação


tem uma dimensão positiva, pois assegura a qualquer pessoa (física ou jurídica) o
direito de associar-se e de formar associações. (ADI 3.045, voto do Rel. Min. Celso
de Mello, julgado em 10.08.2005, Plenário, DJ 1.6.2007).
Infere-se, também, que, a adesão a associações não pode estar condicionada à edição de
uma lei específica, porque se trata de norma constitucional de eficácia plena, ou seja, que
dispensa a normatização infraconstitucional, tornando-se possível sua aplicação de maneira
direta, imediata e integral.

Contudo, a destinação de recursos públicos para as associações de municípios deve


obedecer ao disposto no art. 26 da Lei de Responsabilidade Fiscal – LRF, que assim
estabelece:

Art. 26. A destinação de recursos para, direta ou indiretamente, cobrir


necessidades de pessoas físicas ou déficits de pessoas jurídicas deverá ser
autorizada por lei específica, atender às condições estabelecidas na lei de
diretrizes orçamentárias e estar prevista no orçamento ou em seus créditos
adicionais.

Nesse sentido, o Tribunal de Contas do Estado de Santa Catarina já se manifestou nos


termos do seguinte Prejulgado:
Prejulgado nº 955

São legítimas as contribuições mensais dos Municípios para manutenção de


associações de municípios, desde que tais despesas sejam instituídas por lei e
estejam previstas pela Lei de Diretrizes Orçamentárias e pela respectiva Lei do
Orçamento, conforme as normas previstas pela Lei Federal nº 4.320/64 e na
Lei Complementar nº 101/00.

Dessa forma, quaisquer aportes de recursos a associações de municípios deverão ser


objeto de lei específica, atender as disposições da Lei de Diretrizes Orçamentárias, além de
estar previsto na Lei Orçamentária Anual.

56
Art. 5 (…)
(…)
XVII - é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar;

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Quanto à relação jurídica estabelecida entre os Municípios e suas associações


representativas, o Pleno do Tribunal de Contas do Estado do Mato Grosso, em resposta à
consulta formulada pelo presidente da Associação Mato Grossense dos Municípios
57
(Processo TC 9997-0/2015) , entendeu que o contrato não é o instrumento adequado para
a realização dos repasses dos municípios associados, mas sim o Termo de Filiação ou
instrumento equivalente, que contenha cláusulas objetivas estabelecendo normas para a
preservação e manutenção da relação, entre elas, o valor da contribuição, a forma e data do
repasse e a periodicidade.
Isso porque, conforme destacado pelo Relator do referido Processo, Conselheiro Valter
Albano, o art. 53 do Código Civil Brasileiro estabelece que as associações se constituem
pela união de pessoas (físicas ou jurídicas) para fins não econômicos, inexistindo entre os
associados, quaisquer direitos e obrigações recíprocos. Dessa forma os valores das
contribuições associativas têm caráter de colaboração.

No entanto, é importante ressaltar que, as associações têm o dever constitucional de


prestação de contas, como toda e qualquer entidade que utiliza, arrecada, guarda, gerencia
ou administra dinheiros, bens e valores públicos (artigo 70, parágrafo único, da CRFB).
58
Nesse sentido, o Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais, em resposta à consulta ,
entendeu que além de prestarem contas aos Municípios repassadores, os seus respectivos
responsáveis legais têm o dever de prestar contas ao Tribunal de Contas.
Transcreve-se trecho do Parecer exarado pelo Conselheiro Eduardo Carone Costa:

(...)

3ª questão: A transferência voluntária de recursos do Estado e da União para


as entidades associativas de Municípios implica prestação de contas da
utilização desses recursos?

A matéria abordada pelo consulente já foi apreciada por este Tribunal quando
da resposta à Consulta de n. 679.066, de minha relatoria, aprovada por
unanimidade na Sessão Plenária do dia 03/12/2003, quando se firmou o
entendimento da obrigatoriedade de as associações microrregionais prestarem
contas a este Tribunal. Nos termos do art. 70, parágrafo único, da Constituição
da República, prestará contas qualquer pessoa física ou entidade pública que
utilize, arrecade, guarde, gerencie ou administre dinheiros, bens e valores
públicos ou pelos quais a União responda, ou que, em nome desta, assuma
obrigações de natureza pecuniária.
Por sua vez, o inc. II do art. 71 também da vigente Carta Federal, combinado
com o art. 75, prevê a competência dos tribunais de contas para julgar as
contas dos administradores e demais responsáveis por dinheiros, bens e
valores públicos.

No mesmo sentido, estatui a Lei Complementar n. 33, de 28 de junho de 1994,


Lei Orgânica do Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais, no inc. V de
seu art. 2°:

Art. 2° O Tribunal de Contas tem jurisdição em todo o território do Estado,


sobre as pessoas e matérias sujeitas à sua competência, e abrange:

57
Resolução de Consulta 7/2015 - TP, do Tribunal de Contas do Estado do Mato Grosso, nos autos do Processo TC 9997-0/2015,
disponível em w w w .tce.mt.gov.br. Acesso em 8 de dezembro de 2017.
58
Consulta n. 731.118. Revista do Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais, abril/maio/junho 2009, V. 71, número 2, ano
XXVII, publicada em w w w .revista.tce.mg.gov.br. Acesso em 9 de dezembro de 2017.

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(...)

V — os responsáveis por entidades dotadas de personalidade jurídica de


direito privado que recebam contribuições ou subvenções do Poder Público
estadual ou municipal;

(...)

Nesse contexto, sendo as associações microrregionais mantidas com recursos


públicos, além de prestarem contas aos Municípios repassadores , os seus
respectivos responsáveis legais têm o dever de prestar contas ao Tribunal de
Contas, nos termos constitucionais e legais citados.

(grifos nossos)

Ressalva-se que, aqui o objeto de análise se restringirá à obrigação da ABRAMT de prestar


contas ao Município de Linhares, questão suscitada pela auditoria.

Feitas essas importantes considerações, voltamos à análise das transferências efetuadas


pelo Município de Linhares a referida Associação:
Analisando os documentos carreados aos autos pela defesa, verifica-se que a ABRAMT,
congrega 23 municípios espalhados por todo o país, tendo Linhares como um dos
responsáveis pela sua criação.
Trata-se de uma associação civil, constituindo-se em pessoa jurídica de direito privado, sem
fins econômicos, com autonomia administrativa e financeira, de duração indeterminada e
conforme expresso no artigo 6,º do seu Estatuto, tem os seguintes objetivos básicos:
Art. 6º - A ABRAMT tem como objetivos básicos:
I - Defender os interesses dos associados e eventualmente de outros
municípios que se tornarem sedes de terminais marítimos. fluviais ou
terrestres para embarque desembarque de petróleo e gás natural e dos
municípios afetados, por estas operações, desde que se tornem
integrantes desta Associação e estejam inseridos no espírito da
legislação Federal vigente de compensação financeira ou participação na
distribuição dos royalties de petróleo aos terminais.
II - Defender a efetiva participação da Associação, enquanto
representante destes municípios, nos assuntos que motivaram a criação
da entidade.
III- Promover encontros periódicos entre os municípios participantes,
visando não só a troca de experiências na aplicação dos recursos
oriundos dos royalties, bem como discussões para soluções de
problemas comuns a todos gerados em consequência da instalação e
operação dos terminais marítimos ou fluviais de petróleo e gás natural,
nos municípios desta Associação.
IV - Apoiar todas as iniciativas de desenvolvimento de tecnologia que
estejam voltadas à proteção do meio ambiente.
V - Apoiar a Petrobrás como empresa brasileira, e em reconhecimento a
tudo o que já realizou para o País e o muito que ainda poderá fazê-lo
como instrumento de interesse dos próprios municípios.
VI - Reconhecer a Agência Nacional do Petróleo – como órgão com
amplo poder regulador nos termos estabelecidos na legislação e suas
resoluções;
Vll - Colaborar com a ANP na condição de assistente simples nos
processos promovidos pelos municípios que buscam no poder judiciário
o recebimento de royalties.

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Vlll -- Manter os associados informados sobre todos os assuntos de


interesse e distribuição de royalties.
A defesa esclarece, também, que a Associação desempenha um importante papel, por meio
de encontros técnicos, atividades judiciais e extrajudiciais, além de atuar em conjunto com a
Agência Nacional do Petróleo, na defesa dos municípios que fazem parte da cadeia
produtiva do petróleo.

Na peça contestatória, faz também um relato extenso (fls. 3850 a 3854 dos autos TC) dos
serviços jurídicos prestados diretamente ao Município de Linhares, na tentativa de reverter a
perda de repasse de royalties pelo Município após a edição da Lei 12.734/2012.

Nota-se que, por meio da Associação, os municípios buscam atingir interesses públicos
secundários da própria administração, e não primários da coletividade.
59 60
Nesse sentido, sustenta Luis Roberto Barroso (2007, apud VIEGAS , 2011) que:

(...) o interesse público primário é a razão de ser do Estado e sintetiza-se nos


fins que cabe a ele promover: justiça, segurança e bem-estar social. Estes são
os interesses de toda a sociedade. O interesse público secundário é o da
pessoa jurídica de direito público que seja parte em uma determinada relação
jurídica – quer se trate da União, do Estado-membro, do Município ou das suas
autarquias. Em ampla medida, pode ser identificado como o interesse do
erário, que é o de maximizar a arrecadação e minimizar as despesas. Assinala
o autor que decorre dessa distinção a conformação constitucional das esferas
de atuação do Ministério Público e da Advocacia Pública. Ao primeiro cabe a
defesa do interesse público primário; à segunda, a do interesse público
secundário. Acrescenta ainda que, naturalmente, em nenhuma hipótese será
legítimo sacrificar o interesse público primário com o objetivo de satisfazer o
secundário. (grifos nossos)
Vê-se, portanto, que, ao contribuir mensalmente para a ABRAMT, na qualidade de
associado, os gestores do Município de Linhares estavam privilegiando o interesse do
erário, uma vez que as ações da Associação são no sentido de preservar ou reconquistar
uma importante fonte de receita, os royalties de petróleo.

Verifica-se, contudo, que, para estabelecer a relação jurídica com a Associação, o Município
de Linhares não firmou um Termo de Filiação ou instrumento equivalente, contendo
cláusulas objetivas que estabelecessem o valor da contribuição, a forma, a data do repasse,
a periodicidade, bem como o prazo e a definição dos documentos que deveriam ser
apresentados pela entidade beneficiada para prestação de contas.

Embora ausente a prestação de contas da entidade como processo admini strativo da


Prefeitura, a defesa junta cópias de diversas atas de Assembleias Gerais Ordinárias (de
2005 a 2015), com registros de presença recorrente dos representantes do Município de
Linhares, na qual foram apreciadas e aprovadas prestações de contas da Diretoria da
ABRAMT, compostas por balanço anual e inventários financeiros e patrimoniais.

Verifica-se, também que, a contribuição mensal, no valor de R$8.000,00, efetuada durante o


exercício de 2012, ocorreu sob a égide de uma Lei específica (Lei 2.908/ 2009), tornando o

59
BARROSO, Luis Roberto. Prefácio à obra Interesses Públicos versus Interesses Privados: desconstruindo o principio de
supremacia do interesse publico. 2ª tiragem. Editora Lúmen Júris. Rio de Janeiro, 2007. p. XIII-XIV.
60
VIEGAS, Cláudia Mara de Almeida Rabelo. O princípio da supremacia do interesse público: Uma visão crítica da sua devida
conformação e aplicação. In: Âm bito Jurídico, Rio Grande, XIV, n. 86, mar 2011.Disponível em: http://w w w .ambito-
juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=9092&revista_caderno=4. Acesso em 10 dez. 2017.

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ato ainda mais sólido, pois o processo legislativo que representa a aprovação da sociedade
não deixou de ser observado.

Constata-se, por outro lado, que não foram estabelecidas na LDO do Município as
condições e exigências para as transferências de recursos a entidades privadas, como o
caso ora analisado. No entanto, a contribuição para a ABRAMT estava prevista no
orçamento de 2012 (Lei Orçamentária 3.150/2011), como contribuições a apoio a
Associações Estaduais e Federais (elemento de des pesa – 333504100000 e atividade
3.005).
Ante o todo exposto, considerando que havia interesse público e legitimidade para a adesão
e contribuição financeira do Município de Linhares para com a ABRAMT, entende-se pelo
afastamento da irregularidade e, por oportuno, sugere-se o encaminhamento de
determinação a atual gestão do Município de Linhares para que formalize as adesões a
Associações, considerando:

e) Lei específica autorizando o repasse financeiro a Associações de Municípios, em


cumprimento ao artigo 26, caput, da LRF;
f) Condições e exigências para as transferências de recursos a entidades públicas e
privadas (dentre essas, as Associações), em cumprimento aos artigos 4º, inciso I,
alínea f; e artigo 26, caput, da LRF;
g) Termo de Filiação ou instrumento equivalente; e
h) Prestação de Contas da Associação beneficiada, como processo administrativo
autuado na Prefeitura de Linhares.

IV. CONCLUSÃO:
Assim, acompanhando parcialmente Manifestação Técnica e Ministerial, VOTO no
sentido de que o Plenário aprove a seguinte minuta de Acórdão que submeto à sua
consideração.

VISTOS, relatados e discutidos estes autos, ACORDAM os Conselheiros do Tribunal


de Contas do Estado do Espírito Santo, reunidos em Sessão do Plenário, ante as
razões expostas pelo relator, em:

1. Rejeitar o incidente de inconstitucionalidade arguido pela auditoria (subitem


5.3.1.1 do relatório de auditoria.

2. Declarar a ilegitimidade passiva do Sr. Guerino Luiz Zanon, Prefeito Municipal de


Linhares, nos termos do item II. 2 deste voto;

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3. Não acolher a preliminar de ilegitimidade passiva suscitada pelos senhores Paulo


Roberto Vieira Caldellas, Thiago Brunelli Pessoa, Thiago Monteiro Bonatto e
Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva, conforme fundamentos expostos no voto;

4. Acolher razões de justificativas do senhor Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva –


Procurador Municipal, nos subitens 5.1.1.4; 5.1.2.4; 5.3.1.1 e 5.1.2.1, do Relatório de
Auditoria;

5. Acolher parcialmente razões de justificativas do senhor Geraldo Tadeu


Scaramussa da Silva – Procurador Municipal, mantendo as irregularidades nos
subitens 5.1.1.1; 5.1.1.2; 5.1.2.2; 5.1.3.2; 5.1.4.1 e 5.1.4.2, do relatório de auditoria,
sem o condão de macular as contas;

6. Rejeitar razões de justificativas e julgar irregulares as contas do senhor Geraldo


Tadeu Scaramussa da Silva – Procurador Municipal, mantendo as irregularidades nos
subitens 5.1.3.1, do relatório de auditoria;

7. Acolher razões de justificativas do senhor Paulo Roberto Vieira Caldellas – Auditor


Geral, nos subitens 5.1.1.4; 5.1.2.4; 5.1.3.3; 5.1.1.1; 5.1.1.2; 5.1.2.1; 5.1.2.2; 5.1.3.1;
5.1.3.2; e 5.1.4.1, do relatório de auditoria;

8. Acolher razões de justificativas do senhor José Jair Reali – Secretario Municipal de


Esporte e Lazer, nos subitens 5.1.3.4; 5.1.1.3; 5.1.1.5; 5.1.2.1; 5.1.2.3 e 5.1.3.5, do
relatório de auditoria;

9. Acolher parcialmente as razões de justificativas do senhor José Jair Reali –


Secretario Municipal de Esporte e Lazer, nos subitens 5.1.2.4; 5.1.3.3; 5.2.2.1; 5.1.1.2;
5.1.2.2; 5.1.3.2; 5.1.4.1 e 5.1.4.2 do relatório de auditoria;

4.1.2.2 - Ato antieconômico praticado: não demonstração de ingresso nos


cofres públicos da exploração econômica do evento. (subitem 5.1.2.4 do
RAO)
Base legal: Art. 37, “caput” da Constituição da República Federativa do Brasil,
c/c o art. 32, “caput”, da Constituição Estadual.
Ressarcimento: R$ 25.265,28

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Responsável: José Jair Reali

4.1.3.3 Ausência de interesse público. (subitem 5.1.3.3 do RAO)


Base legal: Art. 32, caput da Constituição Estadual, c/c o art. 2º da Lei
9.784/99.
Ressarcimento: R$ 89.650,00
Responsável: José Jair Reali

10. Rejeitar as razões de justificativas e julgar irregulares as contas do senhor José


Jair Reali – Secretario Municipal de Esporte e Lazer, nos subitens 5.1.1.4 do relatório
de auditoria;
4.1.1.3 Ausência de interesse público. (subitem 5.1.1.4 do RAO)
Base legal: Art. 37, “caput”, da Constituição da República Federativa do Brasil;
e Art. 32, caput, da Constituição Estadual.
Ressarcimento: R$ 8.146,08
Responsável: José Jair Reali

11. Acolher razões de justificativas do senhor Aguinaldo Bernardo, nos subitens


5.1.3.4; 5.1.1.3; 5.1.1.5; 5.1.2.3; 5.1.3.5, do relatório de auditoria;

12. Acolher as razões de justificativas da sociedade empresária LS Locações,


Serviços e Eventos LTDA. EPP em relação ao indicativo de irregularidade indicado no
subitem 5.1.3.4, do relatório de auditoria, conforme fundamentação exposta no referido
tópico;

13. Acolher as razões de justificativas da sociedade empresária Luma Confecções, e


da sociedade empresária Malharia Cristmara, em relação ao indicativo de
irregularidade indicado no subitem 5.2.2.1;

14. Acolher e da Associação Brasileira dos Municípios com Terminais Marítimos,


Fluviais e Terrestres para Embarque e Desembarque de Petróleo e Gás Natural –
ABRAMT, em relação ao indicativo de irregularidade indicado no subitem 5.3.3.1, do
relatório de auditoria, conforme fundamentação exposta no referido tópico

Assinado digitalmente. Conferência em www.tce.es.gov.br Identificador: 3CF75-757FF-494D7


ACÓRDÃO T C-127/2020
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15. Acolher razões de justificativas do senhor Thiago Monteiro Bonatto – Pregoeiro


Municipal, nos subitens 5.1.1.1; 5.1.1.2; 5.1.2.1; 5.1.2.2; 5.1.3.1; 5.1.3.2, do relatório de
auditoria;

16. Acolher parcialmente razões de justificativas do senhor Thiago Bruneli Pessoa –


Presidente da CPL, no subitem 5.1.4.1, do relatório de auditoria;

17. Acolher razões de justificativas das Senhoras Sônia Maria Dalmolin de Souza e
Maria de Fátima Fiorino Biancardini – Secretárias Municipais de Saúde, no subitem
5.2.1.1, do relatório de auditoria;

18. Acolher as razões de justificativas das senhoras: Jussara Carvalho de Oliveira e


Paula Cristina Calmon Jovita Mota; e dos senhores: Antonio Bezerra Neto, Antônio
Roberte Bourguignon, Bruno Margotto Marianelli, Ivan Salvador Filho, João
Cleber Bianchi, Jones da Silva de Freitas Mattos, José Carlos Pereira, Lucas
Scaramussa, Márcio Pimentel Machado, Marleno Vendramine, Paulo Roberto
Pitanga Medina e Sérgio Gabriel Pessotti. Todos em relação ao indicativo de
irregularidade indicado no subitem 5.2.9.1 do relatório de auditoria, conforme
fundamentação exposta no referido tópico;

19. Determinar, em consideração aos termos do art. 71, §5°, da Lei Orgânica deste
TCEES, à atual gestão da Prefeitura Municipal de Linhares que:

19.1 Designe formalmente um servidor para acompanhar a execução


dos contratos de fornecimento de combustíveis, com o propósito de dar
pleno cumprimento ao artigo 67 da Lei 8.666/93;
19.2 Faça constar no projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias as
condições e exigências para as transferências de recursos a entidades
públicas e privadas, em cumprimento aos artigos 4º, inciso I, alínea f; e
artigo 26, caput, da Lei de Responsabilidade Fiscal;
19.3 Formalize as adesões a Associações de Municípios,
considerando:
a) Lei específica autorizando o repasse financeiro a Associações,
em cumprimento ao artigo 26, caput, da LRF;

Assinado digitalmente. Conferência em www.tce.es.gov.br Identificador: 3CF75-757FF-494D7


ACÓRDÃO T C-127/2020
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b) Condições e exigências para as transferências de recursos a


entidades públicas e privadas (dentre essas, as Associações), em
cumprimento aos artigos 4º, inciso I, alínea f; e artigo 26, caput,
da LRF;

c) Termo de Filiação ou instrumento equivalente; e

d) Prestação de Contas da Associação beneficiada, como


processo administrativo autuado na Prefeitura de Linhares.

19.4 Observe os requisitos do art. 62 c/c art. 63 da Lei 4.320/64;

20. Recomendar que em próximos procedimentos licitatórios, se observe a planilhas


de preços unitários.

21. Arquivar após trânsito em julgado


RODRIGO COELHO DO CARMO
Conselheiro

1. ACÓRDÃO TC-00127/2020-8

VISTOS, relatados e discutidos estes autos, ACORDAM os Conselheiros do Tribunal


de Contas do Estado do Espírito Santo, reunidos em Sessão do Plenário, ante as
razões expostas, em:

1.1. Rejeitar o incidente de inconstitucionalidade arguido pela auditoria (subitem


5.3.1.1 do relatório de auditoria.

1.2. Declarar a ilegitimidade passiva do Sr. Guerino Luiz Zanon, Prefeito Municipal
de Linhares, nos termos do item II. 2 deste voto;

1.3. Não acolher a preliminar de ilegitimidade passiva suscitada pelos senhores


Paulo Roberto Vieira Caldellas, Thiago Brunelli Pessoa, Thiago Monteiro Bonatto
e Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva, conforme fundamentos expostos no voto;

Assinado digitalmente. Conferência em www.tce.es.gov.br Identificador: 3CF75-757FF-494D7


ACÓRDÃO T C-127/2020
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1.4. Acolher razões de justificativas do senhor Geraldo Tadeu Scaramussa da Silva –


Procurador Municipal, nos subitens 5.1.1.4; 5.1.2.4; 5.3.1.1 e 5.1.2.1, do Relatório de
Auditoria;

1.5. Acolher parcialmente razões de justificativas do senhor Geraldo Tadeu


Scaramussa da Silva – Procurador Municipal, mantendo as irregularidades nos
subitens 5.1.1.1; 5.1.1.2; 5.1.2.2; 5.1.3.2; 5.1.4.1 e 5.1.4.2, do relatório de auditoria,
sem o condão de macular as contas;

1.6. Rejeitar razões de justificativas e julgar irregulares as contas do senhor Geraldo


Tadeu Scaramussa da Silva – Procurador Municipal, mantendo as irregularidades nos
subitens 5.1.3.1, do relatório de auditoria;

1.7. Acolher razões de justificativas do senhor Paulo Roberto Vieira Caldellas –


Auditor Geral, nos subitens 5.1.1.4; 5.1.2.4; 5.1.3.3; 5.1.1.1; 5.1.1.2; 5.1.2.1; 5.1.2.2;
5.1.3.1; 5.1.3.2; e 5.1.4.1, do relatório de auditoria;

1.8. Acolher razões de justificativas do senhor José Jair Reali – Secretario Municipal
de Esporte e Lazer, nos subitens 5.1.3.4; 5.1.1.3; 5.1.1.5; 5.1.2.1; 5.1.2.3 e 5.1.3.5, do
relatório de auditoria;

1.9. Acolher parcialmente as razões de justificativas do senhor José Jair Reali –


Secretario Municipal de Esporte e Lazer, nos subitens 5.1.2.4; 5.1.3.3; 5.2.2.1; 5.1.1.2;
5.1.2.2; 5.1.3.2; 5.1.4.1 e 5.1.4.2 do relatório de auditoria;

4.1.2.2 - Ato antieconômico praticado: não demonstração de ingresso nos


cofres públicos da exploração econômica do evento. (subitem 5.1.2.4 do
RAO)

Base legal: Art. 37, “caput” da Constituição da República Federativa do Brasil, c/c
o art. 32, “caput”, da Constituição Estadual.

Ressarcimento: R$ 25.265,28

Assinado digitalmente. Conferência em www.tce.es.gov.br Identificador: 3CF75-757FF-494D7


ACÓRDÃO T C-127/2020
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Responsável: José Jair Reali

4.1.3.3 Ausência de interesse público. (subitem 5.1.3.3 do RAO)

Base legal: Art. 32, caput da Constituição Estadual, c/c o art. 2º da Lei 9.784/99.

Ressarcimento: R$ 89.650,00

Responsável: José Jair Reali

1.10. Rejeitar as razões de justificativas e julgar irregulares as contas do senhor José


Jair Reali – Secretario Municipal de Esporte e Lazer, nos subitens 5.1.1.4 do relatório
de auditoria;

4.1.1.3 Ausência de interesse público. (subitem 5.1.1.4 do RAO)

Base legal: Art. 37, “caput”, da Constituição da República Federativa do Brasil; e


Art. 32, caput, da Constituição Estadual.

Ressarcimento: R$ 8.146,08

Responsável: José Jair Reali

1.11. Acolher razões de justificativas do senhor Aguinaldo Bernardo, nos subitens


5.1.3.4; 5.1.1.3; 5.1.1.5; 5.1.2.3; 5.1.3.5, do relatório de auditoria;

1.12. Acolher as razões de justificativas da sociedade empresária LS Locações,


Serviços e Eventos LTDA. EPP em relação ao indicativo de irregularidade indicado no
subitem 5.1.3.4, do relatório de auditoria, conforme fundamentação exposta no referido
tópico;

1.13. Acolher as razões de justificativas da sociedade empresária Luma Confecções,


e da sociedade empresária Malharia Cristmara, em relação ao indicativo de
irregularidade indicado no subitem 5.2.2.1;

1.14. Acolher e da Associação Brasileira dos Municípios com Terminais


Marítimos, Fluviais e Terrestres para Embarque e Desembarque de Petróleo e
Gás Natural – ABRAMT, em relação ao indicativo de irregularidade indicado no
subitem 5.3.3.1, do relatório de auditoria, conforme fundamentação exposta no referido
tópico

Assinado digitalmente. Conferência em www.tce.es.gov.br Identificador: 3CF75-757FF-494D7


ACÓRDÃO T C-127/2020
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1.15. Acolher razões de justificativas do senhor Thiago Monteiro Bonatto – Pregoeiro


Municipal, nos subitens 5.1.1.1; 5.1.1.2; 5.1.2.1; 5.1.2.2; 5.1.3.1; 5.1.3.2, do relatório de
auditoria;

1.16. Acolher parcialmente razões de justificativas do senhor Thiago Bruneli Pessoa –


Presidente da CPL, no subitem 5.1.4.1, do relatório de auditoria;

1.17. Acolher razões de justificativas das Senhoras Sônia Maria Dalmolin de Souza e
Maria de Fátima Fiorino Biancardini – Secretárias Municipais de Saúde, no subitem
5.2.1.1, do relatório de auditoria;

1.18. Acolher as razões de justificativas das senhoras: Jussara Carvalho de Oliveira


e Paula Cristina Calmon Jovita Mota; e dos senhores: Antonio Bezerra Neto,
Antônio Roberte Bourguignon, Bruno Margotto Marianelli, Ivan Salvador Filho,
João Cleber Bianchi, Jones da Silva de Freitas Mattos, José Carlos Pereira, Lucas
Scaramussa, Márcio Pimentel Machado, Marleno Vendramine, Paulo Roberto
Pitanga Medina e Sérgio Gabriel Pessotti. Todos em relação ao indicativo de
irregularidade indicado no subitem 5.2.9.1 do relatório de auditoria, conforme
fundamentação exposta no referido tópico;

1.19. Determinar, em consideração aos termos do art. 71, §5°, da Lei Orgânica deste
TCEES, à atual gestão da Prefeitura Municipal de Linhares que:

1.19.1. Designe formalmente um servidor para acompanhar a execução dos contratos


de fornecimento de combustíveis, com o propósito de dar pleno cumprimento ao artigo
67 da Lei 8.666/93;

1.19.2. Faça constar no projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias as condições e


exigências para as transferências de recursos a entidades públicas e privadas, em
cumprimento aos artigos 4º, inciso I, alínea f; e artigo 26, caput, da Lei de
Responsabilidade Fiscal;

1.19.3. Formalize as adesões a Associações de Municípios, considerando:

1.19.3.1. Lei específica autorizando o repasse financeiro a Associações, em


cumprimento ao artigo 26, caput, da LRF;

Assinado digitalmente. Conferência em www.tce.es.gov.br Identificador: 3CF75-757FF-494D7


ACÓRDÃO T C-127/2020
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1.19.3.2. Condições e exigências para as transferências de recursos a entidades


públicas e privadas (dentre essas, as Associações), em cumprimento aos artigos 4º,
inciso I, alínea f; e artigo 26, caput, da LRF;

1.19.3.3. Termo de Filiação ou instrumento equivalente; e

1.19.3.4. Prestação de Contas da Associação beneficiada, como processo


administrativo autuado na Prefeitura de Linhares.

1.19.4. Observe os requisitos do art. 62 c/c art. 63 da Lei 4.320/64;

1.20. Recomendar que em próximos procedimentos licitatórios, se observe a planilhas


de preços unitários.

1.21. Arquivar após trânsito em julgado

2. Por maioria, nos termos do voto vista do conselheiro Rodrigo Coelho do Carmo.
Parcialmente vencido o conselheiro Sebastião Carlos Ranna de Macedo que manteve
seu voto. Unânime, quanto à rejeição do Incidente de Inconstitucionalidade, com o voto
do conselheiro presidente.

3. Data da Sessão: 18/02/2020 – 4ª Sessão Ordinária do Plenário.

4. Especificação do quórum:

4.1. Conselheiros: Rodrigo Flávio Freire Farias Chamoun (presidente), Sebastião


Carlos Ranna de Macedo (relator), Domingos Augusto Taufner, Sérgio Manoel Nader
Borges, Rodrigo Coelho do Carmo e Luiz Carlos Ciciliotti da Cunha.

4.2. Conselheira substituta: Márcia Jaccoud Freitas (em substituição).

5. Ficam os responsáveis obrigados a comprovar perante o Tribunal o recolhimento do


débito e/ou da multa aplicada, no prazo de trinta dias, contados a partir da publicação
deste Acórdão, nos termos do art. 454, inciso I, do Regimento Interno deste Tribunal.
Quando cabível recurso, os prazos para interposição encontram-se previstos no Título
VIII do mesmo diploma normativo.

Assinado digitalmente. Conferência em www.tce.es.gov.br Identificador: 3CF75-757FF-494D7


ACÓRDÃO T C-127/2020
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CONSELHEIRO RODRIGO FLÁVIO FREIRE FARIAS CHAMOUN

Presidente

CONSELHEIRO SEBASTIÃO CARLOS RANNA DE MACEDO

Relator

CONSELHEIRO DOMINGOS AUGUSTO TAUFNER

CONSELHEIRO SÉRGIO MANOEL NADER BORGES

CONSELHEIRO RODRIGO COELHO DO CARMO

CONSELHEIRO LUIZ CARLOS CICILIOTTI DA CUNHA

CONSELHEIRA SUBSTITUTA MÁRCIA JACCOUD FREITAS

Em substituição

Fui presente:

LUIS HENRIQUE ANASTÁCIO DA SILVA

Procurador-geral

ODILSON SOUZA BARBOSA JUNIOR

Secretário-geral das sessões

Assinado digitalmente. Conferência em www.tce.es.gov.br Identificador: 3CF75-757FF-494D7

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