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Elementos do Recurso Contencioso

Os elementos do recurso contencioso são:

a)      Os sujeitos: são o recorrente, é a pessoa que interpõe o recurso contencioso,


impugnando o acto administrativo; os recorridos, são aqueles que têm interesse na manutenção
do acto recorrido; o Ministério Público; e o Tribunal.

b)      O Objecto: o objecto do recurso é um acto administrativo. Se se impõe um recurso


contencioso sem que haja acto administrativo, o recurso não tem objecto ou fica sem objecto.
Aquilo que se vai apurar no recurso é se o acto administrativo é válido ou inválido. Tal
apuramento faz-se em função da lei vigente no momento da prática do acto – e não em função
da lei que eventualmente esteja a vigorar no momento em que é proferida a sentença pelo
Tribunal.

c)      O pedido: o pedido do recurso é sempre a anulação ou declaração de nulidade ou


inexistência do acto recorrido

d)      A causa a pedir: é a invalidade do acto recorrido, as mais das vezes resultante da sua
ilegalidade. Os Tribunais Administrativos não podem substituir-se à Administração activa no
exercício da função administrativa: só podem exercer a função jurisdicional. Por isso não podem
modificar os actos administrativos, nem praticar outros actos administrativos em substituição
daqueles que reputem ilegais, nem sequer podem condenar a Administração a praticar este ou
aquele acto administrativo.

3. Principais Poderes dos Sujeitos sobre o Objecto do Processo

Poderes do Tribunal:

 Fazer prosseguir o recurso quando o acto seu objecto tenha sido revogado com eficácia
meramente extintiva (art. 48 LPTA);
 Determinar a apensação de processos (art. 39º LPTA).

Poderes do Ministério Público:

 Arguir vícios não invocados pelo recorrente (art. 27º-d LPTA);


 Requerer o prosseguimento do recurso, designadamente em caso de desistência do
recorrente (art. 27º-e LPTA);
 Suscitar questões que obstem ao conhecimento do objecto do recurso (art. 54º/1 LPTA).

Poderes do recorrente:

 Desistir;
 Pedir a ampliação ou a substituição do objecto do processo quando seja proferido acto
expresso na pendência de recurso de acto tácito (art. 51º/1 LPTA).

Poderes do órgão recorrido (art. 26º/1 LPTA).


4. O Direito ao Recurso Contencioso

Os particulares têm direito ao recurso contencioso. É um Direito Subjectivo público, que nenhum
Estado de Direito pode negar aos seus cidadãos (art. 268º/4 CRP). A garantia constitucional do
direito ao recurso contencioso abrange:

a)      A proibição de a lei ordinária declarar irrecorríveis certas categorias de actos definitivos e
executórios;

b)      A proibição de a lei ordinária reduzir a impugnabilidade de determinados actos a certos


vícios;

c)      A proibição de em lei retroactiva se excluir ou afastar, por qualquer forma, o direito ao
recurso.

A jurisprudência constitucional considera que o direito ao recurso contencioso é um Direito


fundamental, por ter natureza análoga à dos Direitos, Liberdades e Garantias consagrados na
Constituição, aplicando-se-lhe portanto o regime destes (art. 17º CRP).

Vista em: https://escola.mmo.co.mz/o-recurso-contencioso-de-anulacao/#ixzz5p636zLD3

I - OBJECTO DA ACÇÃO E PRESSUPOSTOS

Constitui objecto da presente acção o acto de resolução do contrato


administrativo celebrado entre a Autora e o Réu, proferido pelo Exmo. Sr.
Ministro da Defesa Nacional – que se junta – (Doc. Anexo 1) e se dá por
integralmente reproduzido, assim como os demais documentos referidos nesta
petição inicial.

A Autora tem legitimidade já que este despacho é lesivo dos seus direitos e
interesses legalmente protegidos – artigo 40.º, n.º 2, alínea a), do CPTA.

O Tribunal é competente por ser o do lugar do cumprimento do contrato, artigo


19º, do CPTA.

A autora foi notificada no dia 1 de Outubro de 2012, pelo que está em tempo,
segundo o artigo 58.º, n.º 2, alínea b), do CPTA.

II - DOS FACTOS

A empresa «Estamos nas Lonas, SA», doravante designada Autora, tem como
objecto social a fabricação e respectiva comercialização de bens e tecnologia
destinados ao uso militar;

A 8 de Abril de 2011, foi publicado em Diário da República, Parte L (Doc. Anexo


2), assim como no Jornal Oficial da U.E. (Doc. Anexo 3), o Anúncio de Concurso
Público para um contrato de aquisição de bens móveis, que tinha por objecto o
fornecimento de 260 veículos militares blindados, a celebrar com o Ministro da
Defesa, doravante designado Réu;

A empresa «Estamos nas Lonas» enviou a sua candidatura a 3 de Maio de 2011


(Doc. Anexo 4);


A 1 de Junho de 2011, o Réu enviou à Autora o despacho de adjudicação (Doc.
Anexo 5), tendo esta sido tomada com base nos critérios fixados no caderno de
encargos (Doc. Anexo 6);

 9º

Posteriormente, e no âmbito da actividade desenvolvida, a Autora celebrou com


o Réu um contrato de aquisição de bens móveis, celebrado a 1 de Setembro de
2011 (Doc. Anexo 7);

10º

No contrato mencionado no Art. 9º, a Autora comprometeu-se a fornecer 260


viaturas militares blindadas «Pãoduro» (Doc. Anexo 8);

11º

O preço convencionado foi no valor de 1.500.000€ (um milhão e quinhentos mil


euros) por viatura, tendo o contrato um preço global no valor de 390.000.000€
(trezentos e noventa milhões de euros);

12º

Foi igualmente acordado que o cumprimento do contrato seria fraccionado


em cinco prestações, sendo que a primeira prestação seria de 100 (cem)
viaturas, a segunda de 60 (sessenta) viaturas, a terceira de 20 (vinte) viaturas, a
quarta de 40 (quarenta) viaturas e a quinta de 40 (quarenta) viaturas;

13º
Aquando da entrega, ficaria o co-contratante público obrigado ao pagamento do
valor correspondente ao número de viaturas entregues;

14º

Acordou-se que o local de cumprimento de contrato seria na Direcção de


Aquisições do Exército, sediada na Av. Infante Santo, Nº 49, 1399 – 056, Lisboa;

15º

Ficou contratualmente estabelecido que a primeira prestação seria entregue a


30 de Dezembro de 2011;

16º

No dia 9 de Dezembro de 2011, a Autora, inclusive, comunicou ao Réu por carta


registada com aviso de recepção (Doc. Anexo 9) que já se encontrava em
condições de proceder à entrega da primeira prestação, de forma a garantir que
não haveria qualquer impedimento à recepção da mesma;

17º

À carta enviada ao Réu não se obteve qualquer resposta;

18º

A Autora dirigiu-se ao local acordado nesse mesmo dia, para proceder à entrega
das 100 (cem) viaturas, conforme previsto no contrato;

19º
Aquando da chegada ao local, ninguém se mostrou disponível para receber as
viaturas, tendo sido invocada uma convocatória interna de paralisação de
serviços (Doc. Anexo 10);

20º

Procedeu-se ainda a várias tentativas frustradas de contacto telefónico com o


Réu, enquanto se encontrava no local de cumprimento (Doc. Anexo 11);

21º

Tendo ainda sido comunicado à Autora que os serviços da Direcção de


Aquisições haviam informado o Réu da referida paralisação (Doc. Anexo 12);

22º

Não tendo sido possível efectuar a prestação no dia acordado, continuaram, nos
dias seguintes, os esforços da Autora para entrar em contacto com o Réu, de
forma a regularizar a situação (Doc. Anexo 11 e 13);

23º

A dia 2 de Janeiro de 2012, a Autora tomou conhecimento através dos meios de


comunicação social que o Réu se encontrava em viagem para o estrangeiro,
devido às celebrações do Ano Novo, desde dia 27 de Dezembro de 2011 (Doc.
Anexo 14);

24º
Coincidentemente, o período de ausência do Réu, de 27 de Dezembro de 2011,
a 3 de Janeiro de 2012, correspondia exactamente ao período da paralisação
convocada nos serviços do exército;

25º

No dia 5 de Janeiro de 2012, a Autora recebeu carta registada com aviso de


recepção (Doc. Anexo 15) do Réu, informando que já se poderia novamente
deslocar ao local acordado para proceder à entrega, sem mais nada
acrescentar;

26º

Nesse mesmo dia, procedeu-se à entrega das 100 (viaturas), cujo documento
comprovativo se encontra em anexo (Doc. Anexo 16);

27º

Foi efectuado o pagamento a 5 de Janeiro de 2012, no valor de 150.000.000€


(Doc. Anexo 17);

28º

No dia 7 de Janeiro de 2012, o Réu veio publicamente afirmar que “as


viaturas Pãoduro são do melhor que já vi” e que “a contribuição da Estamos nas
Lonas vai permitir que as Forças Armadas portuguesas possam desenvolver as
missões internacionais eficazmente, quem sabe melhor até que o exército dos
Estados Unidos” (Doc. Anexo 18);

29º

Ficou contratualmente estabelecido que a segunda prestação teria de ser


efectuada a 2 de Maio de 2012;
30º

A Autora, a dia 20 de Abril de 2012, tal como já tinha efectuado aquando da


primeira prestação, notificou o Réu, por via de carta registada com aviso de
recepção, de que as sessenta viaturas já se encontravam prontas a serem
entregues (Doc. Anexo 19);

31º

A propósito das comemorações do 25 de Abril, e tendo conhecimento de que


estas viaturas já se encontravam preparadas para entrega, uma facção
revolucionária das Forças Armadas tomou de assalto as instalações da Autora
(Doc. Anexo 20);

32º

Este assalto teve a duração de 48H (quarenta e oito horas);

33º

Esta facção encontrava-se altamente munida de artilharia, dificultando a


recuperação das instalações por parte das forças de segurança nacionais (Doc.
Anexo 21);

34º

Vários foram os danos causados por esta facção revolucionária, tendo as


viaturas ficado num estado que impossibilitou a sua entrega na data acordada
(Doc. Anexo 22);

35º
Na sequência destes acontecimentos, a Autora informou o Réu (Doc. Anexo 23)
de que não se encontrava em condições do cumprimento pontual da obrigação,
uma vez que a reparação das viaturas demoraria cerca de três meses;

36º

O Réu não apresentou qualquer resposta à informação mencionada no Art. 35º;

37º

Decorrido o tempo previsto para a reparação, a Autora informou o Réu de que já


se encontrava em condições de proceder à entrega das viaturas (Doc. Anexo
24);

38º

Na sequência desta informação, dia 2 de Agosto de 2012, o Réu respondeu


(Doc. Anexo 25) afirmando que a Autora poderia entregar as viaturas no local
acordado;

39º

A Autora procedeu à entrega no dia seguinte (3 de Agosto de 2012), tendo


recebido na mesma data o valor de 90.000.000€ (noventa milhões de euros) e
documento comprovativo da entrega (Doc. Anexo 26);

40º

Tendo em conta o complexo processo de construção das viaturas em causa e


por força do atraso causado pela situação inesperada invocada no Art. 31º, as
partes acordaram que o atraso de três meses se imporia a todas as outras
prestações contratuais;
41º

Na sequência de todos os acontecimentos até agora relatados, no dia 3 de


Setembro de 2012, o Réu pretendeu proceder à alteração unilateral do objecto
do contrato com fundamento em interesse público (Doc. Anexo 27);

42º

A alteração pretendida traduzia-se na substituição do objecto da prestação,


nomeadamente impor a construção de embarcações submersíveis em
detrimento das viaturas «PãoDuro» inicialmente acordadas;

43º

Tal alteração não foi aceite pela Autora na medida em que não tinha em conta
os seus interesses económico-financeiros assim como os laborais (Doc. Anexo
28);

44º

Os interesses económico-financeiros consubstanciavam-se na necessidade de


solicitar um novo financiamento para aquisição de material específico de
construção das embarcações submersíveis;

45º

Simultaneamente, a alteração proposta não tinha em conta toda a despesa


realizada até ao momento para aquisição de material de construção das viaturas
militares, ficando este acumulado em stock, sem qualquer outra utilidade;

46º
Quanto aos interesses laborais, esta alteração do objecto do contrato implicaria
a necessidade de contratação de profissionais qualificados para o efeito, ou
proceder a uma formação dos profissionais do quadro da empresa que
demoraria um extenso período, em que a empresa teria que estar inactiva, bem
como acarretaria elevados custos;

47º

Desta feita, o Réu tomou a decisão de resolver unilateralmente o contrato, com


fundamento em cumprimento deficiente, por a Autora não ter cumprido
pontualmente as suas obrigações (Doc. Anexo 1);

48º

Invoca ainda que terá que haver um redireccionamento do capital investido para
outras necessidades militares, alegando ter maior relevância a aposta no mar
como afirmação do poderio militar nacional na comunidade internacional (Doc.
Anexo 1);

49º

Invoca ainda a Autora que, por força desta inesperada atitude por parte do Réu,
se encontra agora com 20 viaturas militares blindadas em stock, prontas para
serem entregues, correspondentes à terceira prestação do contrato.

III - DO DIREITO

50º

O contrato acima mencionado deve ser qualificado, nos termos do artigo 437.º
do Código dos Contrato Públicos, doravante designado por CCP, como um
contrato de aquisição de bens móveis, tendo em especial atenção a figura da
aquisição de bens móveis a fabricar em momento posterior à celebração do
contrato, prevista e regulada pelos art. 439.º do CCP.

51º

Tendo em conta o art. 6.º do CCP, a Parte II do código é aplicável aos contratos
que abranjam prestações típicas de um dos contratos especiais elencados
nesse mesmo código.

52º

Qualificado como um contrato administrativo, há que estabelecer,


processualmente, que o contrato em causa está sujeito ao âmbito de jurisdição
dos tribunais administrativos, art. 4.º, n.º 1, alínea f), do Estatuto dos Tribunais
Administrativos e Fiscais, ETAF.

53º

Conforme o artigo 120.º do Código do Procedimento Administrativo, consideram-


se actos administrativos todas as decisões dos órgãos da Administração que ao
abrigo de normas de direito público visem produzir efeitos jurídicos numa
situação individual e concreta;

54º

No seguimento da melhor doutrina, somos levados a concluir que os actos


administrativos com eficácia externa e imediatamente lesivos praticados no
decurso dos procedimentos de execução dos contratos administrativos são, por
si só, destacáveis. Significa que mantém uma autonomia funcional em relação
ao contrato, com repercussões para efeitos de impugnabilidade.
55º

Tendo em conta o disposto no art. 51.º, n.º1, do Código de Processo dos


Tribunais Administrativos, doravante CPTA, estamos perante um acto
administrativo impugnável, uma vez que possui eficácia externa, lesando direitos
e interesses legalmente protegidos da Autora.

56º

O acto praticado pelo Exmo. Ministro assume a figura da resolução do


contrato, de destruição da relação contratual, operada por um dos contraentes
com base num facto ou ocorrência posterior à celebração do contrato.
Necessário que a resolução resulte da lei, assenta num poder vinculado,
obrigando o autor a alegar e a provar o fundamento que justifica a destruição
unilateral do contrato.

57º

A resolução unilateral do contrato é um acto administrativo, tal entendimento


decorre, expressamente, do art. 307.º, n.º 2, alínea d), do CCP,

58º

Face à resolução motivada pela inexecução definitiva do contrato imputável à


Autora, a melhor jurisprudência tem entendido que este exercício de poderes
sancionatórios é, perfeitamente, enquadrável na natureza jurídica de acto
administrativo, susceptível de impugnação nos termos gerais da impugnação
dos actos administrativos (Acs. STA 4/10/2000, Proc. 0461106 e STA, Pleno,
15/5/2002, Proc. 046106).
59º

Somente em caso de incumprimento definitivo do contrato pelo co-contratante, a


administração pode, unilateralmente, aplicar sanções (art. 302.º, alínea e), do
CCP), maxime, a resolução sancionatória. Exigindo a lei que a motivação seja
identificada perante a alínea a) do n.º 1 do art. 333.º, “ocorrência de
incumprimento definitivo do contrato por facto imputável ao co-contratante”.

60º

Vejamos o que se entende por incumprimento definitivo à luz das normas de


direito privado, pois o texto do art. 325.º, n.º 4, do CCP parece inculcar uma
remissão e aplicação das disposições do Código Civil, em matéria de mora e
incumprimento definitivo. Esta remissão tem alcance geral, aplicando-se
indistintamente a qualquer dos sujeitos contratuais, assim o regime do
incumprimento é aplicável quer à Administração, quer ao seu co-contraente.

61º

O não-cumprimento significa que a prestação debitória não foi realizada pelo


devedor, que a situação objectiva da não realização da prestação assim como a
insatisfação do credor encontram-se verificados. Importante, ainda, determinar a
quem é imputável a falta de cumprimento. Pois, se a causa da falta do
cumprimento não for imputável ao devedor, ora Autora, não podemos falar em
incumprimento definitivo imputável ao devedor (art. 798.º e ss do Código Civil)
mas sim em casos de impossibilidade do cumprimento não imputáveis ao
devedor (art. 790.º e ss, do CC).

62º
Perante a factualidade apresentada, facilmente, é de apurar que não houve
incumprimento definitivo imputável à Autora na execução do contrato. Ocorrendo
na primeira situação mora do credor, nos termos do art. 813.º, n.º 1 do CC e na
segunda uma impossibilidade temporária (art. 792.º, n.º 1 do CC).

Da mora do credor,

63º

“Só nos casos de não cumprimento imputável ao obrigado se pode


rigorosamente falar em falta de cumprimento. Dentro do núcleo genérico de
hipóteses de não-cumprimento não imputável ao devedor, interessa destacar
ainda, pelo regime especial a que estão sujeitos, os casos em que a falta de
cumprimento procede de causa imputável ao credor, como os casos de mora do
credor”, palavras do insigne mestre, o Prof. Antunes Varela, em Das Obrigações
em Geral, Vol. II, pág. 63, 7ª edição, Almedina.

64º

Por vezes, a realização da prestação, ou seja, a entrega das viaturas militares,


necessita da cooperação do credor. Quando mais não seja, para as receber, ou
até para dar ao devedor a necessária aprovação ou quitação (art. 787.º do CC).
Ora, diz-se que há mora do credor (mora credendi), sempre que a obrigação não
foi cumprida no momento próprio, por o credor, ora Réu, sem causa justificativa
ou não apresentando a mesma, não efectua as diligências necessárias para a
recepção da prestação.

65º
Bastante apenas que a não recepção da prestação devida seja imputável ao
credor em sentido naturalístico, não se exigindo a culpa do mesmo, prescindido
a lei da do elemento subjectivo de imputação. 

66º

Como efeito directo da mora do credor, o devedor vê a sua responsabilidade


atenuada face ao perecimento da coisa e excluída face à não realização
atempada da prestação, nos termos do art. 814.º do CC.

Da impossibilidade temporária,

67º

Pode resultar ainda de circunstâncias não imputáveis nem ao devedor, nem ao


credor que haja uma impossibilidade temporária de realização pontual da
prestação, como se prevê no art. 792.º, n.º1 do CC. Devido a um caso fortuito,
não previsível. 

68º

Como a causa não é imputável ao devedor, ora Autora, esta não responderá por
quaisquer danos; não consiste numa situação de incumprimento definitivo, pois
ainda está vinculado ao cumprimento da obrigação, visto
ser temporário ou transitório. Logo não é fundamento para estabelecer uma
situação de incumprimento definitivo.

69º
Acontece que o artigo 325.º, n.º 1 contém algumas disposições especificamente
aplicáveis ao incumprimento pelo co-contrante (Autora) da administração. 

70º

Mesmo admitindo, mas não concedendo, o possível incumprimento alegado pelo


Réu para operar à resolução seria, sempre, necessário, nos termos do artigo
referido no art. 47, que a administração estabelecesse um prazo admonitório
através de notificação. 

Da resolução por interesse público,

71º

Trata-se de um contrato que no âmbito subjectivo da vinculação pode ser


classificado como um contrato sinalagmático, onde as partes assumem
obrigações recíprocas, art. 327.º do CCP, pelo que uma vez celebrado o
contrato administrativo, as partes assumem o dever de cumprir o que foi
contratualmente estabelecido de forma pontual, arts. 325.º, n.º 1, do CCP e
406.º, n.º 1, do Código Civil, atendendo ao princípio pacta sunt servanda.

72º

Na execução do contrato administrativo impõe a lei o respeito pelo princípio da


boa-fé às partes, nos termos do art. 286.º do CCP assim como 762.º, n.º 1 do
Código Civil.
73º

De modo a assegurar uma efectiva consagração da boa-fé na execução do


contrato, há que observar o princípio da colaboração recíproca, que impõe às
partes que cooperem entre si no âmbito da execução do contrato. As partes
devem contribuir para uma completa e total transparência na troca de
informações, art. 289.º, do CCP.

74º

A administração está dotada de poderes de autoridade durante a fase de


execução do contrato, tal exigência e existência de poderes é imposta pela
necessidade de assegurar a efectiva primazia do interesse público, permitindo a
alteração, unilateralmente, do conteúdo contratual. Contudo há que
compatibilizar tal discricionariedade com a ideia de estabilidade inerente à
própria noção de contrato, respeitando o princípio pacta sunt servanda, assim
como os direitos e expectativas contratualmente adquiridas pelo co-contratante,
aqui a Autora

75º

O poder de modificação unilateral elencado nos arts. 302.º, alínea c), 311.º, n.º 2
e 312.º, todos do CCP, consiste na possibilidade de a administração, sem
necessidade de consentimento pelo co-contrante, de modificar o conteúdo e o
modo de execução das prestações, anteriormente, acordadas por razões de
interesse público.

76º

Este poder conferido à administração põe em causa a estabilidade contratual,


pelo que a lei limita o seu exercício. A actuação da administração tem que
respeitar, o princípio do núcleo essencial do contrato, art. 313.º, do CCP,
havendo que respeitar as prestações que individualizam do ponto de vista
material o objecto. Impedida está, também, a administração de alterar os
pressupostos financeiros na base dos quais o contrato foi celebrado, princípio
pelo equilíbrio financeiro do contrato. 

77º

Uma vez que a Autora não concordou com a proposta apresentada pelo Réu,
pois não estavam a ser respeitados os seus interesses. Aquele refugiou-se na
possibilidade legal de operar à resolução fundada em interesse público, devido à
natureza genérica da mesma, nos termos dos arts. 302.º, alínea d), 334.º, n.º 1,
ambos do CCP.

78º

A resolução unilateral do contrato fundada em interesse público exige que as


razões invocadas sejam devidamente fundamentadas, assim art. 334.º, n.º 1,
do CCP.

79º

De modo, a fornecer uma aproximada definição de interesse publico, com


consagração no art. 266.º, da Constituição República Portugal (CRP), importa
relembrar que é o motor e a finalidade de toda a actuação pela administração
pública. O interesse público é o seu único fim. Todavia, não pode prosseguir o
interesse público de forma arbitrária, tem de respeitar os interesses legalmente
protegidos dos particulares.

80º
“A Administração Pública visa a prossecução do interesse público, no respeito
pelo direitos e interesses legalmente protegidos dos cidadãos”, 

81º

“Só o interesse público definido por lei pode constituir motivo principalmente
determinante de qualquer acto da Administração. Assim, se um órgão da
Administração praticar um acto que não tenha por motivo principalmente
determinante o interesse público posto por lei a seu cargo, esse acto estará
viciado por desvio de poder, e por isso será um acto ilegal, como tal anulável
contenciosamente”, V. Maria João Estorninho, A fuga para o Direito Privado, pp.
171-172.

82º

Mesmo admitindo que a noção de interesse público deverá ser flácida e flexível,
i.e., de conteúdo variável, o que ontem foi considerado conforme o interesse
público pode hoje ser-lhe o contrário, temos que defender a necessidade de a
Administração tomar as decisões equilibradas (as que satisfaçam o interesse
público sem sacrifício intolerável dos interessados particulares conflituantes).

83º

Como corolário do princípio do respeito pelos direitos e interesses legalmente


protegidos dos particulares, o legislador ordinário impôs o dever de fundamentar
os actos administrativos que afectem directamente os interesses legalmente
protegidos dos particulares (art. 124º, CPA).

84º
A ofensa do direito subjectivo da Autora confere-lhe uma protecção imediata e
directa, de tal modo que pode exigir do Réu o respeito pelo mesmo. A Autora
assumiu uma posição de confiança na celebração do contrato. Os
comportamentos e atitudes do Réu frustram o interesse legítimo enquanto
credor.

IV – DO PEDIDO 

Pelas razões referidas, o despacho impugnado é ilegal pelo que deve ser
anulado.

Termos em que requer que seja anulado o despacho impugnado, retirando as


devidas e legais consequências.

Para tanto, requer-se a citação do Réu, na pessoa do Senhor Ministro, para


contestar, querendo, seguindo-se os demais termos.

Não se conhecem contra-interessados.

Pede deferimento.

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