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d) A causa a pedir: é a invalidade do acto recorrido, as mais das vezes resultante da sua
ilegalidade. Os Tribunais Administrativos não podem substituir-se à Administração activa no
exercício da função administrativa: só podem exercer a função jurisdicional. Por isso não podem
modificar os actos administrativos, nem praticar outros actos administrativos em substituição
daqueles que reputem ilegais, nem sequer podem condenar a Administração a praticar este ou
aquele acto administrativo.
Poderes do Tribunal:
Fazer prosseguir o recurso quando o acto seu objecto tenha sido revogado com eficácia
meramente extintiva (art. 48 LPTA);
Determinar a apensação de processos (art. 39º LPTA).
Poderes do recorrente:
Desistir;
Pedir a ampliação ou a substituição do objecto do processo quando seja proferido acto
expresso na pendência de recurso de acto tácito (art. 51º/1 LPTA).
Os particulares têm direito ao recurso contencioso. É um Direito Subjectivo público, que nenhum
Estado de Direito pode negar aos seus cidadãos (art. 268º/4 CRP). A garantia constitucional do
direito ao recurso contencioso abrange:
a) A proibição de a lei ordinária declarar irrecorríveis certas categorias de actos definitivos e
executórios;
c) A proibição de em lei retroactiva se excluir ou afastar, por qualquer forma, o direito ao
recurso.
Vista em: https://escola.mmo.co.mz/o-recurso-contencioso-de-anulacao/#ixzz5p636zLD3
1º
2º
A Autora tem legitimidade já que este despacho é lesivo dos seus direitos e
interesses legalmente protegidos – artigo 40.º, n.º 2, alínea a), do CPTA.
3º
4º
A autora foi notificada no dia 1 de Outubro de 2012, pelo que está em tempo,
segundo o artigo 58.º, n.º 2, alínea b), do CPTA.
II - DOS FACTOS
5º
A empresa «Estamos nas Lonas, SA», doravante designada Autora, tem como
objecto social a fabricação e respectiva comercialização de bens e tecnologia
destinados ao uso militar;
6º
7º
8º
A 1 de Junho de 2011, o Réu enviou à Autora o despacho de adjudicação (Doc.
Anexo 5), tendo esta sido tomada com base nos critérios fixados no caderno de
encargos (Doc. Anexo 6);
9º
10º
11º
12º
13º
Aquando da entrega, ficaria o co-contratante público obrigado ao pagamento do
valor correspondente ao número de viaturas entregues;
14º
15º
16º
17º
18º
A Autora dirigiu-se ao local acordado nesse mesmo dia, para proceder à entrega
das 100 (cem) viaturas, conforme previsto no contrato;
19º
Aquando da chegada ao local, ninguém se mostrou disponível para receber as
viaturas, tendo sido invocada uma convocatória interna de paralisação de
serviços (Doc. Anexo 10);
20º
21º
22º
Não tendo sido possível efectuar a prestação no dia acordado, continuaram, nos
dias seguintes, os esforços da Autora para entrar em contacto com o Réu, de
forma a regularizar a situação (Doc. Anexo 11 e 13);
23º
24º
Coincidentemente, o período de ausência do Réu, de 27 de Dezembro de 2011,
a 3 de Janeiro de 2012, correspondia exactamente ao período da paralisação
convocada nos serviços do exército;
25º
26º
Nesse mesmo dia, procedeu-se à entrega das 100 (viaturas), cujo documento
comprovativo se encontra em anexo (Doc. Anexo 16);
27º
28º
29º
31º
32º
33º
34º
35º
Na sequência destes acontecimentos, a Autora informou o Réu (Doc. Anexo 23)
de que não se encontrava em condições do cumprimento pontual da obrigação,
uma vez que a reparação das viaturas demoraria cerca de três meses;
36º
37º
38º
39º
40º
42º
43º
Tal alteração não foi aceite pela Autora na medida em que não tinha em conta
os seus interesses económico-financeiros assim como os laborais (Doc. Anexo
28);
44º
45º
46º
Quanto aos interesses laborais, esta alteração do objecto do contrato implicaria
a necessidade de contratação de profissionais qualificados para o efeito, ou
proceder a uma formação dos profissionais do quadro da empresa que
demoraria um extenso período, em que a empresa teria que estar inactiva, bem
como acarretaria elevados custos;
47º
48º
Invoca ainda que terá que haver um redireccionamento do capital investido para
outras necessidades militares, alegando ter maior relevância a aposta no mar
como afirmação do poderio militar nacional na comunidade internacional (Doc.
Anexo 1);
49º
Invoca ainda a Autora que, por força desta inesperada atitude por parte do Réu,
se encontra agora com 20 viaturas militares blindadas em stock, prontas para
serem entregues, correspondentes à terceira prestação do contrato.
III - DO DIREITO
50º
O contrato acima mencionado deve ser qualificado, nos termos do artigo 437.º
do Código dos Contrato Públicos, doravante designado por CCP, como um
contrato de aquisição de bens móveis, tendo em especial atenção a figura da
aquisição de bens móveis a fabricar em momento posterior à celebração do
contrato, prevista e regulada pelos art. 439.º do CCP.
51º
Tendo em conta o art. 6.º do CCP, a Parte II do código é aplicável aos contratos
que abranjam prestações típicas de um dos contratos especiais elencados
nesse mesmo código.
52º
53º
54º
56º
57º
58º
60º
61º
62º
Perante a factualidade apresentada, facilmente, é de apurar que não houve
incumprimento definitivo imputável à Autora na execução do contrato. Ocorrendo
na primeira situação mora do credor, nos termos do art. 813.º, n.º 1 do CC e na
segunda uma impossibilidade temporária (art. 792.º, n.º 1 do CC).
Da mora do credor,
63º
64º
65º
Bastante apenas que a não recepção da prestação devida seja imputável ao
credor em sentido naturalístico, não se exigindo a culpa do mesmo, prescindido
a lei da do elemento subjectivo de imputação.
66º
Da impossibilidade temporária,
67º
68º
Como a causa não é imputável ao devedor, ora Autora, esta não responderá por
quaisquer danos; não consiste numa situação de incumprimento definitivo, pois
ainda está vinculado ao cumprimento da obrigação, visto
ser temporário ou transitório. Logo não é fundamento para estabelecer uma
situação de incumprimento definitivo.
69º
Acontece que o artigo 325.º, n.º 1 contém algumas disposições especificamente
aplicáveis ao incumprimento pelo co-contrante (Autora) da administração.
70º
71º
72º
74º
75º
O poder de modificação unilateral elencado nos arts. 302.º, alínea c), 311.º, n.º 2
e 312.º, todos do CCP, consiste na possibilidade de a administração, sem
necessidade de consentimento pelo co-contrante, de modificar o conteúdo e o
modo de execução das prestações, anteriormente, acordadas por razões de
interesse público.
76º
77º
Uma vez que a Autora não concordou com a proposta apresentada pelo Réu,
pois não estavam a ser respeitados os seus interesses. Aquele refugiou-se na
possibilidade legal de operar à resolução fundada em interesse público, devido à
natureza genérica da mesma, nos termos dos arts. 302.º, alínea d), 334.º, n.º 1,
ambos do CCP.
78º
79º
80º
“A Administração Pública visa a prossecução do interesse público, no respeito
pelo direitos e interesses legalmente protegidos dos cidadãos”,
81º
“Só o interesse público definido por lei pode constituir motivo principalmente
determinante de qualquer acto da Administração. Assim, se um órgão da
Administração praticar um acto que não tenha por motivo principalmente
determinante o interesse público posto por lei a seu cargo, esse acto estará
viciado por desvio de poder, e por isso será um acto ilegal, como tal anulável
contenciosamente”, V. Maria João Estorninho, A fuga para o Direito Privado, pp.
171-172.
82º
Mesmo admitindo que a noção de interesse público deverá ser flácida e flexível,
i.e., de conteúdo variável, o que ontem foi considerado conforme o interesse
público pode hoje ser-lhe o contrário, temos que defender a necessidade de a
Administração tomar as decisões equilibradas (as que satisfaçam o interesse
público sem sacrifício intolerável dos interessados particulares conflituantes).
83º
84º
A ofensa do direito subjectivo da Autora confere-lhe uma protecção imediata e
directa, de tal modo que pode exigir do Réu o respeito pelo mesmo. A Autora
assumiu uma posição de confiança na celebração do contrato. Os
comportamentos e atitudes do Réu frustram o interesse legítimo enquanto
credor.
IV – DO PEDIDO
Pelas razões referidas, o despacho impugnado é ilegal pelo que deve ser
anulado.
Pede deferimento.