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Bandido bom é bandido morto

É fácil perceber que se trata de uma ideia equivocada, incompatível


com os princípios de um Estado Democrático de Direito.

A afirmação importa em negar a todos os indivíduos que praticam


infrações penais a condição de pessoa humana, negando-lhes os direitos fundamentais
previstos na Constituição Federal, sobretudo o direito à vida.

O simples fato de um indivíduo cometer uma infração penal não


autoriza o Estado a suprimir sua vida. Essa providência se mostra ilegítima,
representando a própria negação da dignidade da pessoa humana e seu correlato direito
à vida.

Não se contesta que os autores de infrações penais devem sofrer as


consequências jurídicas de seus comportamentos. Entretanto, tais consequências devem
ser aplicadas com observância do devido processo legal, e em respeito à ordem
normativa vigente.

No Brasil, em regra, é vedada a pena de morte, salvo para alguns


crimes militares praticados em tempo de guerra declarada.

Assim as penas que podem ser impostas aos autores de


comportamentos criminosos são apenas aquelas autorizadas pela Constituição Federal.
Desse modo, afora as exceções mencionadas, não é possível que se imponha aos
condenados pela prática de alguma infração penal a pena de morte, suprimindo seu
direito mais importante.

Se essa medida é vedada, em regra, até mesmo nas instâncias formais


de controle do delito (órgãos do Estado), o que dizer então do assassinato punitivo
levado a efeito pelos meios informais de controle da criminalidade, como, por ex., pela
atuação abusiva e criminosa de agentes policiais (grupos de extermínio) ou por
populares na brutal prática do linchamento.
Essa visão de que os criminosos devem ser exterminados, a bem da
segurança coletiva, é fruto de uma visão passional do problema da criminalidade.
Decorre da ignorância de parcela da sociedade, que supõe ingenuamente que o
complexo tema do controle social de condutas desviadas pode ser resolvido com
medidas simples e atrasadas. É sabido que a violência apenas gera mais violência.

Já se disse, e com acerto, que a melhor política criminal é uma boa


política social. Políticas públicas fortes e consistentes, principalmente na área da
educação e saúde, são mais eficazes no controle da criminalidade que a imposição de
penas cruéis, especialmente a de morte.

A pena criminal não é, e nem pode ser, instrumento de vingança,


visando um fim puramente retributivo. O Estado não tem o direito de vingar-se diante
de uma infração penal. O único fim legítimo da pena é a prevenção dos delitos, dando-
se primazia à prevenção especial, alcançada através da ressocialização do condenado.

Desse modo, bandido bom não é bandido morto, pois todos os


cidadãos, mesmo aqueles que cometeram crimes, têm direito à vida. Assim, aos autores
de delitos devem ser aplicadas as sanções penais previstas no ordenamento jurídico, e
com observâncias das garantias constitucionais e legais existentes.

Todos os direitos do preso que não sejam afetados pela sanção penal
imposta devem ser preservados. Como, entre nós, em regra, a sanção penal mais
gravosa é a privação da liberdade de locomoção, o condenado mantém íntegros todos os
direitos não atingidos pela privação da liberdade, incluindo o direito à vida, o mais
importante deles.

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