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Estudo

comparativo
entre o Código
Penal Brasileiro e
o Código Penal
Argentino

Faculdade Cenecista Alberto Torres - Curso de Direito

(1º Período)

Direito Penal

Professor: Juliano Ferreira de Souza

Aluno: Lucas Rangel Cosme da Silva


O Código Penal Brasileiro
Entre as sociedades tradicionais do Brasil (aquelas que aqui viviam antes da
chegada dos europeus), o Direito Penal, baseado no costume, era exercido pelo
cacique ou pelo pajé. É difícil analisar a sociedade e os costumes indígenas, uma
vez que são povos e culturas muito diferentes da maioria da população. A pena
de morte existia e as penas corporais e a responsabilidade penal eram iguais
para todos, ou seja, não havia diferença entre uma criança e um senhor de 70
anos, por exemplo.
Quando os portugueses chegaram ao que hoje é o Brasil, trouxeram consigo
todo o sistema jurídico penal de seu país de origem e, portanto, o Sistema Penal
Brasileiro veio aos moldes do Direito Português, sendo que a utilização do termo
“Sistema Normativo” delimitou o conjunto de normas que foram utilizadas no
Brasil a partir da colonização.
O primeiro Código Penal Brasileiro é datado de 1830, nominado Código Criminal
do Império. Este já era dividido em duas partes, sendo que uma era conhecida
como forma geral e outra como forma especial (muito semelhante ao nosso
atual código, não?).
O Código Criminal do Império vigorou durante sessenta anos, sendo substituído
em 1890, após a proclamação da República Brasileira.
Vale lembrar que, em 1822, foi declarada independência do Brasil e, em 1889,
proclamada a República dos Estados Unidos do Brasil; note que os códigos
entraram em vigor em datas próximas às destes acontecimentos marcantes de
nossa história.
O último – e atual – Código Penal Brasileiro é de 1940 (que entrou em vigor
juntamente com o Código de Processo Penal e a Lei de Contravenções Penais) e
sofreu reforma na parte geral (aquela que estabelece regras e princípios para
aplicação do Direito Penal) em 1984.
A parte especial (que os prevê os crimes e comina as penas) sofreu alterações
ao longo dos anos, sendo complementada, sobretudo, por leis penais esparsas,
fora do Código Penal (Lei 8.137/1990, por exemplo, que trata dos crimes contra
a ordem econômica, tributária e contra as relações de consumo).
Desta maneira, podemos concluir que este dispositivo, o Código Penal, é um
elemento imprescindível para a garantia da ordem pública e social, de modo que
taxa as condutas humanas consideradas ilícitas e comina suas respectivas
sanções. Em outras palavras, podemos dizer que sua finalidade é, portanto,
salvaguardar a estabilidade jurídica e proteger os cidadãos que dele são
beneficiários.

Código Penal Argentino:


Diferente, atual e moderno.
Resumo: O presente ensaio tem por objetivo analisar o Código Penal Argentino,
a Lei 11.179/84, sem nenhuma intenção de esgotar o tema, mas procurando
apontar as normas gerais de aplicação e os tipos penais existentes, e ao final
propor algumas mudanças na legislação brasileira de forma a aprimorar nosso
sistema penal, sem arrogância e sem sentimentos revanchistas.
Assim, de início, pode-se afirmar que o Direito Penal da Nação Argentina tem
como reitor o Código penal e suas leis esparsas.
O Código penal possui 306 artigos, sendo dividido em dois Livros. O Livro I possui
normas gerais de aplicabilidade em toda legislação penal, se não houver
disposição em contrário, art. 4º, adotando o princípio da especialidade.
As normas gerais estão distribuídas em 78 artigos, dispostas em 13 (treze)
títulos.
Passamos a alinhavar algumas normas de aplicação, que têm grandes
repercussões na vida do povo argentino.
O Título II, artigo 5º e SS do CP prevê as penas aplicáveis ao agente em conflito
com a lei, sendo reclusão perpétua e temporal, prisão perpétua e temporal,
pena de multa e inabilitação.
Mulheres e menores cumprirão pena em estabelecimentos especiais. Mulheres
honestas, maiores de 60 anos e valetudinários, condenados a pena não superior
a 6 meses, poderão cumprir suas penas em regime domiciliar.
O trabalho do condenado é obrigatório e o produto do trabalho será destinado
à indenização dos danos e prejuízos causados, à prestação de alimentos segundo
o Código Civil, a custear os gastos da prisão e a formação de fundo próprio.
O artigo 13 prevê casos de concessão de liberdade provisória, por resolução
judicial, com o benefício concedido aos que preencherem as condições objetivas
e subjetivas previstas nos itens 1º a 6º do citado artigo, sendo que em caso de
revogação, o beneficiário não poderá obtê-lo novamente, nem será concedido
aos reincidentes.
A imputabilidade é prevista no artigo 34, sendo que o código relaciona os casos
não puníveis, como insuficiência das faculdades mentais, estado de
inconsciência, erro, ignorância, força física irresistível, cumprimento de um
dever, legítimo exercício de um direito, autoridade e cargo, obediência devida,
legítima defesa própria ou de terceiros, estado de necessidade ou para evitar
um mal maior.
A responsabilidade penal começa aos 16 anos de idade, com algumas limitações
de alguns casos, para os compreendidos entre 16 e 18 anos, como nos delitos
de ação privada e para aqueles cuja pena privativa de liberdade não exceda a 2
anos, com multa ou inabilitação, cumprida a medida imposta pela justiça
competente em institutos especializados.
Se a situação alcançar a maioridade, cumprirá o restante da condenação em
estabelecimentos para adultos, conforme previsto no artigo 6º da Lei 22.278/80,
que dispõe sobre o regime penal da menoridade.
O artigo 41 do estatuto repressivo prevê uma causa de aumento de pena na
ordem de 1/3 para todos os delitos previstos no Código, quando praticados com
violência ou intimidação contra pessoas, emprego de arma de fogo, cometidos
com intervenção de menores de 18 anos, com a ressalva da não aplicação da
causa quando essas circunstâncias qualificarem o delito.
O instituto da tentativa vem previsto nos artigos 42, 43 e 44, onde aquele
determinado a cometer algum delito, começa a execução, mas não se consuma
por circunstâncias alheias a sua vontade, respondendo pela pena do delito
consumado com redução de 1/3 a ½. Não há previsão de pena para quem
desiste voluntariamente na prática do delito. A pena para a tentativa nos delitos
de reclusão perpétua será de 15 a 20 anos, e a de prisão perpétua será de 10 a
15 anos.
A temática do crime impossível possui disposição diferente de alguns países,
sendo a pena diminuída em da ½ e permite a redução ao mínimo legal ou até
mesmo eximir-se dela, segundo o grau de periculosidade revelado pelo
delinquente.
A participação criminal tem previsão no artigo 45 a 49 do Código Penal.
O instituto da reincidência vem previsto nos artigos 50, 51, 52 e 53 do Código
Penal, não dando lugar à reincidência os delitos políticos, os elencados
exclusivamente no Código Penal Militar, os anistiados e os cometidos por
menores de 18 anos.
As causas de extinção de punibilidade e da ação têm conteúdo no artigo 59 do
Código Penal, em quatro casos, sendo morte do imputado, anistia, prescrição e
renúncia nos crime de ação privada. A prescrição pode ser da ação e da pena. A
prescrição da ação nos crimes de reclusão ou prisão perpétua se dá em 15 anos,
a pena de multa em 2 anos e a pena de inabilitação em 01 ano.
A prescrição da pena de reclusão ou prisão perpétua se dá em 20 anos, a
reclusão ou prisão temporal prescreve pelo tempo igual a condenação.
O legislador argentino previu os casos puníveis com reclusão ou prisão perpétua
e a título exemplificativo, citamos o homicídio qualificado, artigo 80, crime
sexual com resultado morte, artigo 124, delitos contra a liberdade individual,
artigo 142 – bis, extorsão com resultado morte, artigo 170, traição, artigo 214,
além de outras hipóteses.
Aqui apenas algumas linhas acerca do direito penal argentino, uma legislação
avançada, moderna e que tem servido de modelo para alguns países, como o
Brasil que tem se espelhado na legislação argentina para modernizar a sua.
E neste contexto, importante salientar que normas como a legislação do menor,
tratamento do crime impossível, modelo de prisão perpétua para casos
gravíssimos e outras normas regentes bem que poderiam ser copiadas pelo
legislador brasileiro para o enfrentamento ao crime organizado e a manutenção
da própria estrutura estatal, violência desenfreada que tem causado a indústria
do medo na sociedade que não mais acredita em soluções em curto prazo.
A função do Direito Penal no
Estado Democrático de Direito
De acordo com os ensinamentos de Zaffaroni, os Estados de Direito nada são
além da contenção dos Estados de Polícia, ou policialescos, conseguida
gradualmente através de sucessivas contendas contra os poderes absolutos e
afeitos às lógicas punitivistas.
Neste contexto e, ao longo da história, constata-se que os Estados de Direito
Parlamentares surgiram como resultado inexorável das lutas contra os poderes
absolutos, culminando no estabelecimento da figura do monarca; nos sistemas
presidencialistas, um presidente, chefe do executivo federal, substitui o
monarca, tendo suas atribuições e atuações limitadas pela Constituição e pelo
parlamento, que representa o legislativo.
Nesta senda, pode-se definir um Estado Democrático de Direito, a grosso modo,
como aquele em que todos se submetem, da mesma forma, perante a lei,
funcionando como verdadeiro "farol do poder jurídico e elemento orientador
dos contornos democráticos".
Zaffaroni ainda afirma que há uma dialética constante entre o Estado de Direito
e o Estado de Polícia. Este seria carregado no interior daquele, sempre
pulsionando e forçando as barreiras democráticas, de modo a desestabilizá-las,
instaurando um caos absolutista e punitivista. Nesta senda:
“Quanto maior é a contenção do Estado de Direito, mais próximo se estará do
modelo ideal, e vice-versa, mas nunca se chegará ao modelo ideal porque para
isso seria preciso afogar definitivamente o Estado de Polícia e isso implicaria
uma redução radical - ou uma abolição - do próprio poder punitivo.”
Mas como conter o Estado de Polícia, de modo a tutelar as garantias penais e
preservar a higidez do Estado de Direito? Para isso surge o Direito Penal para
desempenhar uma função essencial: a planificação da doutrina e da
jurisprudência, bem como o treinamento de juristas e operadores do direito, no
sentido de otimizar a redução do poder punitivo.
Note-se que em nenhum momento pretende-se abolir o direito penal ou o jus
puniendi estatal em si, já que tais supressões, da mesma forma, culminariam no
caos social. Todavia, o que se pretende, com o Direito Penal de garantias, é o
encapsulamento das pulsões absolutistas e vingativas, humanizando os
tratamentos penal e processual penal, de modo a sufocar o Estado
eminentemente policialesco. É como pensa Zaffaroni:
“O direito penal deve sempre caminhar para o ideal do estado de direito;
quando deixa de fazê-lo, o estado de polícia avança. Trata-se de uma dialética
que nunca para, de um movimento constante, de avanços e retrocessos. Na
medida em que o direito penal, como programador do poder jurídico de
contenção do estado de polícia, deixe de cumprir essa função - isto é, na medida
em que legitime o tratamento de algumas pessoas como inimigos- renuncia ao
princípio do estado de direito e, com isso, abre o espaço para o avanço do poder
punitivo sobre os cidadãos e, consequentemente, para o estado de polícia.”

Referências:
GUERRA, João Pedro . A função do Direito Penal no Estado Democrático de Direito:: os impactos do senso comum e das
"ilusões éticas". Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 20 , n. 4530, 26 nov. 2015 .

CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal, volume 1, parte geral, 15ª edição, Editora Saraiva, São Paulo, 2011.

D’Oliveira, Heron Renato Fernandes. A história do direito penal brasileiro, Período Científico Projeção, Direito e Sociedade,
v.5, n.2, 2014.

Fadel, Francisco Ubirajara Camargo. Breve História do Direito Penal e da Evolução da Pena, Revista Eletrônica Jurídica –
REJUR, Paraná, 2012.

Juristas Leigos – Direito Penal e Processual Penal © 2002 – AATR-BA

NADER, Paulo. Introdução ao Estudo do Direito, 36ª edição revisada e atualizada, Editora Forense, Rio de Janei ro, 2014.

NEVES, Marília Castro. Código Criminal Brasileiro Do Século XIX: O Brasil entre o Moderno e o Arcaico, Centro Universitário
de Brasília – UniCEUB, Brasília, 2014.

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