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06 DE JANEIRO DE 2023
Lalo, cidadão mexicano com domicílio em Paris, intentou uma ação contra Xavier, cidadão brasileiro
com domicílio no Porto, peticionando a condenação de Xavier no cumprimento de um contrato de
compra e venda de um veículo automóvel.
Nos termos do contrato de compra e venda celebrado entre as partes no Porto, Lalo pagaria a Xavier
€20.000,00 pelo automóvel através de transferência bancária para a conta de Xavier sita no balcão
dos TTC do Porto, e Xavier entregaria o automóvel a Lalo no domicílio deste, no prazo máximo de 5
dias.
3. Considere que a petição inicial dá entrada no Tribunal português competente, sendo subscrita
por Rodrigues Fernandes, advogado, que protesta juntar procuração forense e assina a
referida petição com a menção “O Advogado em gestão de negócios”. Dois dias depois,
Rodrigues Fernandes junta procuração forense assinada por Lalo, apenas conferindo ao
mandatário poderes gerais de representação em juízo. Quid juris? (3 valores)
Obrigatoriedade do patrocínio judiciário – art. 40.º, n.º 1, al. a), do CPC, se valor do automóvel
superior a €5.000,00.
Patrocínio judiciário exercido por Rodrigues Fernandes em gestão de negócios – art. 49.º, n.º
1, do CPC.
Procuração forense junta aos autos a posteriori deve incluir a ratificação, por Lalo, dos atos
praticados pelo mandatário em juízo – art. 49.º, n.º 2, do CPC.
Suprimento – juiz notifica Lalo para proceder à ratificação dos atos praticados pelo advogado,
art. 49.º, n.º 3, do CPC.
Na falta de suprimento – condenação do advogado em custas e em eventual dano causado às
partes na ação, art. 49.º, n.º 3, do CPC.
4. Imagine que, na pendência da causa e na sequência de doença mental prolongada, Xavier vem
a ser sujeito a um processo de maior acompanhado. A respetiva sentença fixa um regime geral
de representação de Xavier, declarando-o incapaz, entre outras coisas, de celebrar negócios
jurídicos de disposição do seu património. O que deve fazer o juiz da ação intentada por Lalo?
(3 valores)
Xavier tem personalidade judiciária (por ter personalidade jurídica – artigos 11.º, n.º 2, do CPC
e 66.º, n.º 1, do CC) mas com a sentença de acompanhamento de maior deixa de ter uma
determinada medida de capacidade jurídica e, logo, de capacidade judiciária, i.e. de
suscetibilidade de estar por si em juízo (artigos 15.º do CPC e 67.º do CC).
Juiz deve promover oficiosamente o suprimento da incapacidade judiciária superveniente de
Xavier, ordenando a citação do acompanhante de Xavier, para que intervenha no processo,
nomeadamente ratificando atos já praticados por Xavier após a sentença de maior
acompanhado – arts. 27.º, n.º 1 e 28.º, do CPC.
Na falta de suprimento – art. 27.º, n.º 2, 2.ª parte, do CPC.
O vício da incapacidade judiciária ficou, em qualquer caso, sanado com a citação (como se vê
do art. 27º, n.º 1, do CPC), pelo que um eventual comportamento omissivo do acompanhante
não determinaria a absolvição de X da instância. Fazer referência à diversidade de regimes de
sanação do vício, consoante este atinja o autor ou o réu.
27 DE JANEIRO DE 2023
Abel, que reside habitualmente no Rio de Janeiro, tem uma moradia de férias em Faro.
Uma vez que o seu amigo Bento, que reside habitualmente em São Paulo, veio tirar uma
pós-graduação de 6 meses na Universidade do Algarve, emprestou-lhe essa mesma
moradia por este período, com a condição de tratar das flores e árvores plantados no
jardim da casa.
Bento, porém, aproveitou a oportunidade para arrendar a moradia a Carlos, tendo Abel
verificado, quando foi de férias para Faro, que a moradia se encontrava muito danificada,
ascendendo o prejuízo a 20.000 euros.
Recusando-se Bento a pagar os estragos, Abel demanda-o no Juízo Central Cível de Faro,
pedindo a sua condenação no pagamento dos 20.000 euros.
Com a contestação, Bento apresenta um documento escrito, assinado por si e por Abel,
no qual ambos se comprometem a, em caso de litígio referente à casa de Faro, demandar
a contraparte num tribunal de Lisboa, local aonde Bento muitas vezes se deslocava, por
aqui ter vários negócios.
Alega Bento, igualmente, que o autor dos estragos foi Carlos, razão pela qual era Carlos
que devia ter sido demandado.
Alega, finalmente, que Abel é casado com Diana no regime da comunhão de adquiridos,
devendo esta, portanto, ter dado o seu consentimento para a proposição da ação.
I.
1. Indique: i) o tipo de ação a propor; ii) o pedido e a respetiva causa de pedir; iii) o
valor da ação; iv) a forma de processo. (2 valores)
1
2. Andreia pergunta-lhe se pode demandar a sociedade Four à Pain, Lda. no
Tribunal Judicial do Funchal ou se tem de propor a ação nos Tribunais Franceses.
Qual a sua resposta? (5 valores)
2
4. Suponha que na sua contestação a Four à Pain, Lda. alega que celebrou um
contrato de compra e venda e prestação de serviços que cumpriu integralmente.
Em face desta argumentação, a Ré é parte legítima? (3 valores)
5. Suponha agora que Andreia sai do seu escritório tão esclarecida que decide
pleitear por si. Pode fazê-lo? Caso responda negativamente, quais as
consequências da falta de constituição de mandatário? (2 valores)
II.
3
Comente a seguinte afirmação, constante do sumário de um acórdão de um tribunal
superior português (TRC, 3-5-2021, proc. 1250/20):
FIM
4
Direito Processual Civil I (Noite)
Regente: Prof. Doutora Isabel Alexandre
Exame – Época Normal
07 de janeiro de 2021 | Duração da prova: 1h30
Tópicos de Correção
1
Direito Processual Civil I (Noite)
Regente: Prof. Doutora Isabel Alexandre
Exame – Época Normal
07 de janeiro de 2021 | Duração da prova: 1h30
• O patrocínio judiciário nesta ação seria obrigatório, nos termos do art. 40.º/1/a) CPC.
Justificação;
• Não era suficiente a presença de um advogado estagiário para que este pressuposto se
considerasse preenchido (arts. 40.º/2 e 42.º). Visto que o A. não constituiu advogado,
falta um pressuposto processual, o que consubstancia uma exceção dilatória de
conhecimento oficioso (arts. 577.º/h) e 578.º);
• O juiz não tinha razão. Descrição de qual deveria ter sido o comportamento a adotar
(art. 41.º).
2
Direito Processual Civil I (Noite)
Regente: Prof. Doutora Isabel Alexandre
Exame – Época Normal
07 de janeiro de 2021 | Duração da prova: 1h30
4. Concorda com a decisão do juiz de considerar que a ação poderia ser proposta apenas
contra R., não sendo necessária a presença de D.? (5 v.)
• A indemnização constitui uma dívida incomunicável, nos termos do art. 1692.º/b) CC,
pois não se preenche a parte final desta norma;
• Assim, nos termos do art. 1696.º/1, só responderão por esta dívida os seus bens próprios
e a sua meação nos bens comuns;
• Se a ação de condenação ao pagamento da indemnização for procedente, o A. poderá
requerer apenas a execução destes bens. Assim, a ação não está compreendida em
nenhuma das partes do n.º 3 do art. 34.º, em especial na 2.ª, que seria a mais plausível;
• Em suma, o tribunal decidiu bem, pois não há litisconsórcio necessário. A resposta deve
ser acompanhada de uma explicação adequada dos conceitos.
5. Concorda com o motivo pelo qual o juiz acabou por absolver R. da instância? (2 v.)
• Embora o tribunal considere provado que não foi R. quem causou o dano, da forma como
o A. configurou a relação material controvertida, R. era parte legítima (30.º/3);
• Explicação da forma como se verifica a legitimidade singular;
• Se fica provado que não foi R. quem destruiu o veículo, a mesma deveria ser absolvida
do pedido, e não da instância, como aconteceria se fosse parte ilegítima.
3
EXAME DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL I TAN
II
Explicação dos princípios da gestão processual, no sentido das decisões que sejam
tomadas quanto a aspectos formais deverem ser fundamentadas de forma clara e
inequívoca, garantindo o exercício dos direitos das partes, como seja o direito ao
contraditório (art. 3.º do CPC).
Indicar que o modo como é feita a gestão do processo pode afectar, em última análise,
o direito de acesso à Justiça, consagrado no art. 20.º CRP, que deve garantir que as
partes têm acesso aos actos judiciais, e ao exercício dos seus direitos substantivos e
processuais.
Ação declarativa com natureza mista: tem como finalidade resolver o contrato de compra
e venda celebrado com a HF (constitutiva), bem como a condenação da mesma no
pagamento de uma indemnização (condenatória) – art. 10.º, n.ºs 1 e 2 als. b) e c), do
CPC;
Pedido: resolução do contrato de compra e venda; condenação no pagamento de uma
indemnização pelos prejuízos decorrentes do incumprimento do contrato – art. 798.º e ss
do CC;
Causa de pedir: pedido de resolução – contrato de compra e venda (celebração) e o seu
incumprimento definitivo; pedido indemnizatório – causa de pedir complexa que envolve
os factos que ditam o preenchimento dos pressupostos da responsabilidade civil
contratual (facto ilícito e culposo, ligado a um dano que causalmente ocasionou) – art.
5.º, n.º 1 do CPC;
Forma de processo comum (art. 546.º do CPC), que segue forma única (art. 548.º do
CPC). Deve ser ponderada a aplicação dos regimes previstos no DL n.º 269/98, de 01/09,
mas afastada pelo facto de o objeto da ação se encontrar fora do escopo deste tipo de
procedimento/processo especiais (art. 1.º do diploma preambular).
b) A ação foi proposta no Tribunal competente? Quid iuris em caso negativo? (4,5
valores)
Uma cláusula contratual com uma redação nos termos descritos configuraria um pacto
de jurisdição, que atribuiria competência exclusiva aos Tribunais de Chicago;
Analisar os requisitos de validade do pacto ao abrigo do CPC (e não do Regulamento,
uma vez que o Tribunal eleito não é o Tribunal de um Estado-Membro);
Em princípio, o pacto seria válido, assim retirando a competência aos Tribunais
portugueses;
Em caso de violação, verificar-se-ia uma incompetência absoluta, decorrente da violação
de um pacto atributivo de jurisdição que, contudo, não seria de conhecimento oficioso;
caso a ré não arguisse a exceção, a mesma não poderia ser conhecida pelo Tribunal.
e) Suponha que, distribuído o processo, o juiz se apercebe que ele próprio tem uma
ação contra a Happy Furniture, LLC, na qual se discute uma situação semelhante
à de Alexandre. O que deve fazer? (2,5 valores)
I.
A Pastéis, Docinhos e Companhia, Lda., proprietária da loja do R/C Esq. do prédio sito
na Praça Luís de Camões, n.º 10, Lisboa, instaurou em 30 de abril de 2019 uma ação
contra a Administração do Condomínio Camões, representada pela Gestcondominum,
Lda. e contra todos os Condóminos, cuja citação se requer, dado o seu elevado número,
na pessoa do Administrador, ao abrigo do artigo 1433.º, n.º 6, do CC, peticionando ser
nula, inválida, ineficaz ou de nenhum efeito a convocatória e as deliberações da
Assembleia Geral do Condomínio de 10 de janeiro de 2019, por violação do disposto,
entre outros, dos artigos 1432.º e 1433.º, n.º 4, do CC.
1
1. Considerando a pretensão da Autora Pastéis, Docinhos e Companhia, Lda.,
indique o tipo de ação, a forma de processo, o pedido e a causa de pedir. (3
valores)
Ação declarativa constitutiva (anulação de deliberação social) – artigo 10.º,
n.ºs 1, 2 e 3, alínea c), do CPC.
Forma de processo comum, porquanto ao caso não é aplicável qualquer
processo especial, nomeadamente os constantes dos artigos 878.º e ss. do CPC
ou do DL 269/98.
Pedido – corresponde ao efeito jurídico que se pretende obter (artigo 581.º,
n.º 3, do CPC), in casu, a anulação da deliberação tomada pela Assembleia
Geral do Condomínio de 10 de janeiro de 2019.
Causa de pedir (artigos 5.º, n.º 1 e 581.º, n.º 4, do CPC) – factos de que decorre
a ilegalidade da deliberação (por falta de verificação dos requisitos legais de
validade da convocatória de uma assembleia geral).
1
Artigo 1437.º
Representação do condomínio em juízo
1 — O condomínio é sempre representado em juízo pelo seu administrador, devendo demandar e ser
demandado em nome daquele.
2 — O administrador age em juízo no exercício das funções que lhe competem, como representante da
universalidade dos condóminos ou quando expressamente mandatado pela assembleia de condóminos.
3 — A apresentação pelo administrador de queixas-crime relacionadas com as partes comuns não carece
de autorização da assembleia de condóminos.
2
alínea e) do CPC, 1433.º, n.º 6, do CC (como réu), n.º 6 e 1437.º, n.ºs 1 e 2, do
CC (como autor ou réu).
Distinção entre:
a) A legitimidade processual passiva (artigo 30.º do CPC), enquanto interesse
em contradizer a ação (titularidade de um direito + interesse na
procedência ou improcedência da ação) – que será do próprio condomínio
ou dos condóminos que votaram favoravelmente a deliberação (neste
ponto há divergência doutrinária e jurisprudencial); e
b) A representação judiciária – que cabe ao administrador do Condomínio,
caso a ação seja proposta contra o Condomínio. A parte processual é o
representado (o Condomínio ou os condóminos) e não o representante (o
Administrador).
Na ação de anulação da deliberação da Assembleia do Condomínio está em
causa o que foi decidido pelo órgão colegial e que a todos os condóminos
vincula, pelo que o litígio ocorre entre o condómino e o Condomínio.
Por isso, a representação judiciária do lado passivo cabe ao Administrador do
Condomínio (ou à pessoa que a assembleia designar para esse efeito).
O segmento “condóminos contra quem são propostas as ações”, constante do
n.º 6 do art. 1433.º do CC deve interpretar-se como reportando-se ao
Condomínio.
A ilegitimidade passiva do Administrador do Condomínio e dos Condóminos
(individualmente) é uma exceção dilatória cuja verificação importa a
absolvição dos Réus da instância declarativa (artigos 576.º, n.ºs 1 e 2 e 577.º,
alínea e), do CPC).
Cabe porém equacionar a possibilidade de o juiz convidar a Autora a corrigir o
vício, admitindo a substituição da Gestcondominium e dos condóminos pelo
Réu Condomínio Camões, em exercício do seu poder-dever de gestão
processual (artigo 6.º, n.º 2, e 590.º, n.º 2, alínea a), ambos do CPC). Não
poderia, porém, o juiz, por tal importar violação do princípio dispositivo,
determinar tal substituição, sem o impulso da Autora.
3
(Para casos semelhantes resolvidos na jurisprudência, vide o acórdão do
Tribunal da Relação de Lisboa de 15 de julho de 2021 (processo n.º
3054/19.2T8FNC.L1-6, Ana Calafate e jurisprudência aí citada).
3. Suponha que o proprietário de uma das frações autónomas é o João, com 17
anos de idade, que a herdara de sua avó. Citado para a ação, João resolveu
elaborar a contestação por si próprio, dizendo singelamente que quem
participava nas Assembleias de Condomínio eram os seus pais.
3.1. O que deve o juiz fazer? (2,5 valores)
A exceção é feita para ações respeitantes a atos jurídicos que o menor pode
praticar por si próprio (artigo 127.º do CC), o que não sucede no caso concreto.
Assim, João deveria estar representado na ação pelos seus pais, sendo estes
citados para a ação de anulação da deliberação da Assembleia de Condóminos,
nos termos do artigo 16.º do CPC.
4. Imagine agora que a Pastéis, Docinhos e Companhia, Lda., com sede no Porto,
entra em litígio com a European Gourmet, Gmbh, com sede em Friburgo,
Alemanha, a propósito da área de logradouro que cabe a cada uma na
exploração das lojas dos R/C Esq. e Dto. Decide então intentar uma ação contra
a European Gourmet, para delimitação do espaço do logradouro que cabe ao uso
exclusivo de cada uma. Está porém na dúvida se deve propor a ação nos
Tribunais Portugueses ou nos Tribunais Alemães. Quid juris? (4 valores)
O litígio é plurilocalizado, apresentando elementos de conexão com Portugal e
com a Alemanha. Sendo ambos Estados-Membros da União Europeia, há que
verificar a aplicação do Regulamento 1215/2012.
a) Cabe no seu âmbito material de aplicação – matéria civil, não excluída pelo
artigo 1.º do Regulamento.
b) Âmbito temporal verificado – ação posterior a 10 de janeiro de 2015 (artigo
81.º do Regulamento.
c) O litígio que opõe as partes refere-se à delimitação de uma parte comum
afeta ao seu uso exclusivo, sendo por isso referente ao conteúdo do direito
de propriedade sobre um imóvel. O artigo 24.º, n.º 1, do Regulamento
atribui aos Tribunais do Estado-Membro onde se situa o imóvel
competência exclusiva para o julgamento de litígios relativos a direitos
reais sobre imóveis. Por isso, são internacionalmente competentes os
Tribunais Portugueses.
d) Internamente:
a. Em razão da matéria (I) são competentes os Tribunais judiciais, por
o litígio não estar legalmente atribuído a outra ordem jurisdicional,
5
nomeadamente aos Tribunais Administrativos (artigos 64.º do CPC
e 40.º e 80.º da LOSJ).
b. Em razão da hierarquia, são competentes os Tribunais de Primeira
Instância (artigos 67.º a 69.º do CPC e 42.º, 79.º e 80.º da LOSJ).
c. Em razão do território, é competente o Tribunal da situação do
imóvel, nos termos do artigo 70.º, n.º 1, do CPC e 43.º, n.ºs 3 e 5, da
LOSJ). Estando o imóvel sito em Lisboa, é competente o Tribunal
Judicial da Comarca de Lisboa.
d. Dentro da Comarca de Lisboa, por exclusão da competência dos
Tribunais de competência alargada e de outros juízos de
competência especializada, será competente para a ação um Juízo
Central Cível (se valor da ação > €50.000,00) ou um Juízo Local Cível
(se valor ≤ €50.000,00), nos termos dos artigos 81.º, 83.º 41.º e 117.º
da LOSJ.
e. Em conclusão, é competente para a ação o Juízo (Central ou Local)
Cível do Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa.
II.
6
- Pelo que, apesar do concreto preenchimento dos pressupostos objetivos exigidos para
a utilização do procedimento de injunção – cumprimento de obrigação pecuniária
emergente de contrato, concretamente contrato de empreitada/gestão de obra;
obrigação pecuniária de valor inferior a 15.000,00 €, estando em causa concretamente
o valor de 10.866,18 € – a complexidade das questões apreciandas podem ilegitimar o
uso, por parte do Requerente, do procedimento de injunção.
Não são por isso adequados a decidir litígios em que possam estar em causa
indemnizações pelo incumprimento ou pelo cumprimento defeituoso, com profusa
produção probatória ou pedidos reconvencionais.
7
Enquadrando-se o litígio no âmbito material delimitado pelo DL n.º 269/98, o
problema não é de utilização indevida do procedimento ou processo, não se
verificando por isso erro na forma.
FIM
8
EXAME DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL I TAN
Questão 1
Não tendo a herança em causa sido aceite, trata-se de uma herança jacente (art. 2046.º
do CC).
Extensão da personalidade no caso da herança jacente, de acordo com o art. 12.º al. a)
do CPC.
A falta de personalidade judiciária não é sanável (excepto no caso previsto no art. 14.º
do CPC) razão pela qual daria origem a uma excepção dilatória e à consequente
absolvição do R. da instância
Questão 2
Não tendo sido constituído Advogado, o juiz deve notificar a parte para o fazer, nos
termos do art. 41.º, sob pena de se considerar verificada uma excepção dilatória, e
consequentemente o Réu ser absolvido da instância.
Questão 3
Em razão da hierarquia, são competentes os Tribunais de 1.ª Instância (arts. 67.º a 69.º
do CPC e arts. 42.º, 79.º e 80.º da LOSJ)
Em razão do território, é competente o Tribunal do domicílio do Réu (art. 71.º do CPC),
atenta a relação contratual existente e as obrigações daí decorrentes (contrato de
arrendamento).
Questão 4
Atendendo a que a acção foi proposta contra a Herança, Ricardo não era parte no
processo, e, nessa medida, não se colocava qualquer problema de capacidade judiciária
neste âmbito.
Questão 5
O Tribunal, por estar delimitado pelo princípio do dispositivo nos seus poderes de
cognição e decisão, não pode proferir uma sentença em objecto diverso daquele que
lhe fora pedido, nem em quantidade superior, sob pena de nulidade (arts. 609.º, n.º 1 e
615.º, n.º 1 al. e) do CPCP), razão pela qual a sentença é nula e recorrível (art. 615.º, n.º
4 do CPC).
II
COINCIDÊNCIAS – RECURSO
No contrato de compra e venda, as partes incluíram a seguinte cláusula: para todos os litígios
emergentes do presente contrato, são competentes os Tribunais Judiciais da Comarca do Porto,
Portugal.
A 2 de fevereiro de 2019, tendo Marcus pago o preço mas não tendo recebido as chaves do imóvel,
intentou no Juízo Central Cível do Tribunal Judicial da Comarca de Braga uma ação contra a
Imotrusting, S.A., na qual peticionou a entrega do imóvel objeto do contrato de compra e venda.
1. Indique: (i) o tipo de ação proposta; (ii) o pedido e a respetiva causa de pedir; (iii) o valor da ação;
(iv) a forma de processo. (4 valores)
Forma de processo comum (546.º do CPC), porquanto ao caso não é aplicável qualquer processo
especial, nomeadamente os constantes dos artigos 878.º e ss. do CPC ou do DL 269/98.
Pedido – corresponde ao efeito jurídico que se pretende obter (artigo 581.º, n.º 3, do CPC), in casu, a
entrega do imóvel.
Causa de pedir (artigos 5.º, n.º 1 e 581.º, n.º 4, do CPC) – factos de que decorre o direito real de
propriedade e a obrigação de entrega do imóvel, em especial, a celebração do contrato de compra e
venda.
Valor – o da coisa, 1 milhão de euros (artigos 296.º, n.º 1 e 302.º, n.º 1, do CPC).
2. O Juízo Central Cível do Tribunal Judicial da Comarca de Braga é competente para dirimir o presente
litígio? (7 valores)
Competência internacional:
Existe um pacto de jurisdição, que atribui competência aos Tribunais Portugueses (Porto), nos termos
do art. 94.º, n.º 1, do CPC.
O litígio tem conexão com mais de uma ordem jurídica e os pressupostos no n.º 3 do art. 94.º do CPC
estão aparentemente preenchidos. Nomeadamente, o litígio diz respeito a direito disponível, justifica-
se pelo domicílio de uma das partes, pessoa singular, se situar em Portugal, não estão em causa regras
que atribuam competência exclusiva aos Tribunais Portugueses e o pacto reveste a forma escrita,
mencionando expressamente a atribuição de competência aos Tribunais portugueses.
Competência interna:
A cláusula introduzida pelas partes no contrato de compra e venda não é apenas um pacto de
jurisdição, mas também um pacto de atribuição de competência (interna) aos Tribunais da Comarca
do Porto.
O pacto de competência pode afastar a competência em razão do território, nos termos do art. 94.º,
n.º 1, 2.ª parte, do CPC. Não é aplicável a 3.ª parte do n.º 1, do art. 94.º, ainda que se trate de um
litígio sobre um imóvel, pois quanto a esse ponto o pacto de jurisdição consumiu o pacto de
competência.
O pacto encontra-se reduzido a escrito e inserido no próprio contrato de compra e venda, pelo que é
formalmente válido (art. 94.º, n.º 2, do CPC).
Sendo o pacto válido, o Tribunal Judicial da Comarca de Braga é incompetente para julgar a causa.
Trata-se de uma incompetência relativa (art. 102.º do CPC), dependente de arguição pela Ré (art.
103.º, n.º 1, do CPC), que tem como consequência a remessa do procesos para o Tribunal competente
(art. 105.º, n.º 3, do CPC).
3. O que deve o juiz fazer se, em anexo à contestação da Imotrusting, S.A., subscrita pelo Dr. Albino
Xavier, estiver uma procuração forense assinada pelo sócio-gerente da Ré, concedendo poderes
forenses gerais à sociedade de advogados ZYX e Associados – Sociedade de Advogados, RL, da qual o
Dr. Albino Xavier é associado? (3 valores)
A procuração forense tem subjacente um contrato de mandato forense celebrado entre a Imotrusting
e a ZYX. A procuração confere ao representante (ZYX) o poder de agir em juízo em nome do
representado (Imotrusting) (art. 262.º do CC).
Nos termos do art. 43.º do CPC, o mandato judicial pode ser conferido por instrumento público ou por
documento particular, nos termos do Código do Notariado e legislação especial, ou por declaração
verbal da parte no auto de qualquer diligência que se pratique no processo.
Tendo o mandato com representação sido regularmente concedido, por meio de procuração escrita,
por quem vincula a Ré (o seu sócio-gerente), e sendo o Dr. Albino Xavier associado da sociedade
mandatada, não se verifica qualquer irregularidade do mandato. Assim, o juiz deve mandar prosseguir
os autos.
4. A exceção de ilegitimidade de Marcus, deduzida pela Ré, deve ser julgada procedente? Porquê? (5
valores)
Análise da existência de um litisconsórcio legal – legitimidade conjugal ativa (art. 34.º, n.º 1, do CPC).
A ilegitimidade plural é uma exceção dilatória (art. 577.º, e), do CPC) que pode ser suprida nos termos
do art. 316.º, n.º 1, do CPC, através do chamamento de Anabela (a convite do juiz ou por iniciativa das
partes). Na ausência de suprimento, a ilegitimidade origina a absolvição da Imotrust da instância (art.
576.º, n.º 2, CPC).
Analisar o art. 13.º CPC e concluir que nem o n.º 1 nem o n.º 2 estão
preenchidos. Aplicar o art. 14.º e referir que o vício só estaria sanado caso
houvesse ratificação ou repetição do processado pela adm. principal; se não,
absolvição do réu da instância.
Referir que segundo o art. 40/1 a) CPC (conjugado com os arts 301/1, 629/1,
44/1 LOSJ) era obrigatório constituir advogado. Referir o art. 41º CPC e dizer
que, não sendo constituído advogado no prazo assinado pelo juiz, ficaria sem
efeito a defesa (solução idêntica à aplicação do regime da revelia).
Referir e explicar o art. 30/3 CPC e dizer que, tendo A sido identificado na p.i.
como vendedor, o problema não era de legitimidade processual, mas de mérito,
devendo A ser absolvido do pedido e não da instância, caso se concluísse que
era um mero intermediário.
I
Considere a seguinte hipótese:
Numa excursão que realizou ao Dubai, Abel, residente em Ponta Delgada, conheceu uma
senhora simpatiquíssima, Bruna, residente no Canadá, que já há muito tempo emigrara
de Portugal e sofria com saudades do País.
Generoso por natureza, Abel entregou-lhe as chaves de uma casa que possuía em
Albufeira, onde Bruna se viria a instalar dois meses depois.
Em breve Bruna organizou festas nesta casa, a qual se encontrava parcialmente
destruída quando Abel aí se deslocou.
Desgostoso por Bruna se recusar a pagar os prejuízos, que ascendiam a 50.000 euros,
Abel demandou-a em Santarém, no Tribunal da Concorrência, Regulação e Supervisão,
pedindo a sua condenação neste montante. Com a petição inicial juntou um documento
escrito, assinado por si e por Bruna, no qual ambos manifestavam a vontade de que a
ação decorresse neste Tribunal.
II
Comente a seguinte afirmação (cotação: 2 valores):
“Em processo civil, o juiz pode qualificar livremente os factos alegados pelas partes, mas
não pode considerar factos não alegados pelas partes. Dois princípios fundamentais do
direito processual civil conduzem a estas consequências.”
Analisar a consagração legal dos princípios da oficiosidade e da disponibilidade privada,
distinguindo o primeiro do princípio do inquisitório em matéria de factos. Referir a
particularidade da vigência, nos processos de jurisdição voluntária, do princípio do
inquisitório em matéria de factos.
Direito Processual Civil I – Turno Noite
Regência: Professora Doutora Isabel Alexandre - 13.04.2021 – Duração: 90 min.
Tópicos de correção
1- Os restantes membros do grupo também celebraram o contrato e não estão presentes na ação;
- Indicar que todos os membros do grupo têm interesse em demandar enquanto sujeitos da relação material
controvertida como configurada pelo A., nos termos do art. 30.º/1 e 3.
- Afastar a existência de litisconsórcio necessário legal, convencional, e natural justificando.
- Concluir que o litisconsórcio é voluntário, pelo que não existe qualquer ilegitimidade que levasse à
absolvição do Réu da instância.
- Explicar que A. só pode exigir 1/4 do crédito, pelo que se aplica a parte final do art. 32.º/1, só devendo o
juiz conhecer da sua quota-parte.
3- O Tribunal é incompetente;
- Conflito ser plurilocalizado;
- Referir o primado do Direito da EU;
- Afastar a aplicabilidade do Regulamento n.º 1215/2012, pois embora se preencham os âmbitos material e
temporal, não se verifica o âmbito espacial, por o réu não ter domicílio num EM e não se verificar nenhum
dos casos dos arts. 18.º/1, 21.º/2, 24.º e 25.º.
- Afastar a aplicabilidade dos arts. 63.º e 94.º CPC, que prevalecem sobre o art. 62.º.
- Analisar o art. 62.º, e concluir pela aplicação da sua alínea b) - (o contrato foi celebrado em Portugal).
- Concluir pela competência dos tribunais judiciais, de primeira instância.
- Concluir que a competência em razão do território seria aferida pelo art. 80.º/3, - os tribunais do lugar
do domicílio do autor.
- Afastar, quanto à matéria, a competência dos tribunais de competência territorial alargada.
- Concluir que quer pelo valor da causa quer pela forma de processo, seria o juízo local cível competente.
- Identificar uma incompetência relativa em razão do valor, que conduziria à remessa para o tribunal
competente (art. 105.º/3).
II
Suponha agoramque o Juiz considera procedente a excepção invocada em I, 2 e decide absolver o
Réu da instância.
Todavia, o Juiz não dá a A. a oportunidade de se pronunciar quanto às excepções invocadas. Quid
iuris?
Tópicos de Correcção:
1. a) Constituição obrigatória de advogado (arts. 40.º, n.º 1 al. a) e 629.º, n.º 1 do C.P.C.).
b) Notificação com prazo certo para a constituição de advogado, sob pena de abolvição
da instância atendendo a que a falta é do A.
b) O juízo central cível era incompetente em razão do valor (art. 117.º LOSJ a contrario)
- calcular, a este propósito, o valor da causa -, o que leva à remessa do processo para o
Tribunal competente (arts. 102.º, 104.º, n.º 2 e 105.º, n.º 3 do C.P.C.), que seria o juízo
local cível ou o juízo de competência genérica (art. 130º/1 LOSJ).
3. a) Conflito plurilocalizado.
b) Referência ao primado do Direito da União Europeia.
c) Existe a possibilidade de sanação nos termos dos arts. 27.º, n.ºs 1 e 2 e 28.º, n.º 2 do
C.P.C.).
II
b) Aplicação do art. 34.º, n.º 3 1.ª parte do C.P.C.: litisconsórcio necessário passivo por
o facto ter sido praticado por ambos os cônjuges.
c) Possibilidade de sanação através da intervenção principal provocada nos termos do
art. 316.º do C.P.C., sob pena de absolvição da instância enquanto consequência jurídica
da excepção dilatória decorrente da ilegitimidade processual. Referir também o regime
do art. 261º/1. Referir que o juiz não pode ordenar oficiosamente a intervenção do cônjuge
em falta, pois tal afrontaria uma das vertentes do princípio dispositivo.