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Assistente Convidada
1.º Passo: Triagem dos factos. Estamos perante uma relação jurídica/situação, jurídica plurilocalizada?
Se estamos, isto significa que o litígio está em contacto com mais do que uma ordem jurídica.
2.º Passo: torna-se necessário verificar qual é a jurisdição competente para apreciar o litígio;
3.º Passo: e depois, determinar especificamente, dentro dessa jurisdição, qual é o tribunal competente para o
conhecimento do mérito da causa.
Concretizando:
1. No direito interno português, a competência internacional dos tribunais portugueses
está regulada nos artigos 59.º, 62.º, 63.º e 94.º do CPC.
1. 2. 3.
Âmbito objetivo Âmbito subjetivo Âmbito temporal
Este regulamento, aplica-se em Artigo 4.º n.º 1 (Regra geral do Artigo 66.º + 81.º do Reg.
matéria civil e comercial (artigo domicílio do réu) preceitua que
1.º, n.º1 do Reg.) as pessoas domiciliadas num O regulamento só se aplica às
Estado-Membro devem ser ações judiciais intentadas em 10
Não se aplica: demandadas, independentemente de janeiro de 2015 ou em data
da sua nacionalidade, nos posterior.
a) Ao estado e à capacidade tribunais desse Estado-Membro.
jurídica das pessoas Se o caso não fizer menção à
singulares; *Nota: para efeitos da aplicação data, presumem que p âmbito
b) Aos regimes de bens do do regulamento, é irrelevante a temporal está preenchido.
casamento; nacionalidade do réu, apenas
c) Falências (insolvências), revelando o local do domicílio.
concordatas, segurança
social; Exemplo: se o réu tiver nacionalidade
d) Arbitragem; canadiana, mas residir em Itália, o
e) Obrigações de alimentos; regulamento aplica-se, porque a
f) Testamento e sucessões; nacionalidade é irrelevante.
Âmbito subjetivo
Num caso de competência internacional é sempre necessária a análise de todos os critérios que
constam do Regulamento:
Ratio: “visa-se tutelar o interesse do réu, eximindo-o ao ónus de superar as dificuldades práticas
inerentes à condução da lide em país estrangeiro” (Cfr. MIGUEL TEIXEIRA DE SOUSA/DÁRIO MOURA
VICENTE, Comentário à Convenção de Bruxelas, Lex, 1994, p. 77)
2. Regras Especiais (que podem prevalecer sobre a regra geral): Artigo 5.º do Reg.
2.1 Artigo 5.º do Reg. → refere que as pessoas domiciliadas num Estado-Membro só podem
ser demandadas nos tribunais de outro Estado-Membro nos termos dos 7.º e ss do Reg.
2.2 Artigo 7.º do Reg. → se o litígio tem por objeto uma relação contratual, o artigo 7.º, n.º1,
al. a) estabelece que o réu pode ser demandado perante o tribunal do lugar onde foi ou deva
ser cumprida a obrigação em causa. Paralelamente o artigo 7.º, n.º, al.b) do Reg., preceitua
que, o lugar do cumprimento da obrigação em questão será:
3. Regras Excecionais que prevalecem acima de tudo: Artigo 24.º e 25.º do Reg.
“essa competência, porque é exclusiva, prevalece sobre a competência determinada pelos critérios
gerais e especiais (cf. artigo 4.º e 5.º do Reg.), e impede a celebração de um pacto de
jurisdição (2.ª parte, n.º 4, do artigo 25.º do Reg.).”
- MIGUEL TEIXEIRA DE SOUSA, A Competência Declarativa dos Tribunais Comuns, Lex, 1994, p. 73
Caso se intente uma ação noutro tribunal que não o exclusivamente competente à luz do artigo 24.º
do Reg. Consequência → o disposto no artigo 27.º do Reg.: o tribunal deve declarar-se
oficiosamente incompetente.
Requisitos Gerais
1. O pacto de jurisdição é um contrato celebrado entre as partes, pelo que deve respeitar todos os
requisitos exigidos quanto à formação do contrato. O pacto de jurisdição exige, tal como um
contrato substantivo, uma proposta e uma aceitação.
2. O pacto de jurisdição confere competência exclusiva aos tribunais;
3. A convenção deve determinar o tribunal ou os tribunais competentes para a aplicação da causa |
art. 25/1/1ªparte do Reg.
3.2 PACTOS DE JURISDIÇÃO – EM ESPECIAL
(ARTIGO 25.º REG.)
Efeitos
1. O pacto de jurisdição produz um efeito atributivo e um efeito derrogatório;
2. O pacto atribui em princípio (cf. art. 25º) competência exclusiva ao tribunal
designado;
3. Como consequência desta competência exclusiva do tribunal escolhido, nenhum
outro tribunal permanece competente para a apreciação da ação – o
tribunal no qual a causa foi proposta em violação do pacto de jurisdição
deve declarar-se oficiosamente incompetente – i) quando o demandado for
domiciliado no território de um Estado – Membro e ii) não comparecer em
juízo.
4. Efeitos substantivos: O pacto de jurisdição é vinculativo para as partes, em
certos casos essa convenção também pode ser vinculativa para terceiros – como
por exemplo o portador de um conhecimento de carga | TJ – Ac. 19.06.1984.
“Não basta uma aceitação ou adesão tácita; exige-se certeza e clareza no estabelecimento do
acordo de vontades entre as partes, acordo que deve ser escrito, ou sendo verbal, a sua confirmação
por escrito – a existência de um documento escrito (de teor constitutivo ou confirmativo), nos precisos
termos constantes da alínea a) do nº 1 do art. 25º, assume a natureza de formalidade ad substantiam.”
(Cfr. Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 13-nov.-2018 (Relator CABRAL TAVARES), Processo
n.º 6919/16.0T8PRT.G1.S1)
Caso Prático
Imaginem que António e Giovanni celebram um contrato de compra e venda sobre o objeto X em
Berlim. Nesse mesmo contrato as partes acordaram que “se existir um litígio derivado do incumprimento
do contrato, os tribunais portugueses seriam os internacionalmente competentes” (pacto de jurisdição).
Passados dois meses, António não entrega o objeto X a Giovanni.
Giovanni intenta uma ação num tribunal alemão, e António apresenta a sua contestação sem nunca se
pronunciar sobre a incompetência internacional desse tribunal alemão.
Isto significa que António compareceu (à luz do ordenamento jurídico português significa que contestou), e que
não arguiu a incompetência do tribunal quando o poderia ter feito, o que significa que este consente na
atribuição da competência internacional aos tribunais alemães, daí dizer-se que estamos perante um pacto de jurisdição
tácito.
Regime:
1. Se a parte comparecer em juízo e não arguir a competência do tribunal esse tornar-se competente para
conhecer do litígio, excepto se houver outro tribunal com uma competência exclusiva para apreciar a causa.
“O Regulamento (UE) n.º 1215/2012 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 12 de Dezembro de 2012, prevê no
artigo 26.º uma situação de extensão de competência por via da qual, excepto se se tratar de uma situação
de competência exclusiva do artigo 24.º, é competente o tribunal de um Estado - Membro no qual o requerido compareça
sem arguir a incompetência.”