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Esquema Competencia Internacional

Processo civil I (Universidade de Lisboa)

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Joana Costa Lopes


Assistente Convidada

§ Esquema - Competência Internacional


Direito Processual Civil I

Noção: a competência é a medida de jurisdição de um tribunal. O tribunal é competente


para o julgamento de certa causa quando os critérios determinativos da competência lhe
atribuem a medida de jurisdição que é a suficiente e a adequada para essa apreciação1.

Competência Internacional – Vertente prática

1.º Passo: Triagem dos factos. Estamos perante uma relação jurídica/situação, jurídica plurilocalizada?
Se estamos, isto significa que o litígio está em contacto com mais do que uma ordem jurídica.

2.º Passo: torna-se necessário verificar qual é a jurisdição competente para apreciar o litígio;

3.º Passo: e depois, determinar especificamente, dentro dessa jurisdição, qual é o tribunal competente para o
conhecimento do mérito da causa.

Concretizando:
1. No direito interno português, a competência internacional dos tribunais portugueses
está regulada nos artigos 59.º, 62.º, 63.º e 94.º do CPC.

2. No entanto, a competência internacional encontra-se igualmente estabelecida em


regulamentos europeus os quais prevalecem sobre as normas de direito interno nos
termos do n.º 4 do artigo 8.º da CRP.

3. A competência judiciária, o reconhecimento e a execução de decisões encontra-se


no Regulamento (EU) n.º 1215/2012 do Parlamento Europeu e do Conselho de 12
de dezembro de 2012.

4. Para se saber se o Regulamento 1215/2012 é aplicável ao caso concreto, é necessário


analisar os seus âmbitos objetivo, subjetivo e temporal.
1 Cfr. MIGUEL TEIXEIRA DE SOUSA, A Competência Declarativa dos Tribunais Comuns, Lex, Lisboa, 1994, p. 31

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Regulamento 1215/2012 – Âmbito de aplicação

1. 2. 3.
Âmbito objetivo Âmbito subjetivo Âmbito temporal

Este regulamento, aplica-se em Artigo 4.º n.º 1 (Regra geral do Artigo 66.º + 81.º do Reg.
matéria civil e comercial (artigo domicílio do réu) preceitua que
1.º, n.º1 do Reg.) as pessoas domiciliadas num O regulamento só se aplica às
Estado-Membro devem ser ações judiciais intentadas em 10
Não se aplica: demandadas, independentemente de janeiro de 2015 ou em data
da sua nacionalidade, nos posterior.
a) Ao estado e à capacidade tribunais desse Estado-Membro.
jurídica das pessoas Se o caso não fizer menção à
singulares; *Nota: para efeitos da aplicação data, presumem que p âmbito
b) Aos regimes de bens do do regulamento, é irrelevante a temporal está preenchido.
casamento; nacionalidade do réu, apenas
c) Falências (insolvências), revelando o local do domicílio.
concordatas, segurança
social; Exemplo: se o réu tiver nacionalidade
d) Arbitragem; canadiana, mas residir em Itália, o
e) Obrigações de alimentos; regulamento aplica-se, porque a
f) Testamento e sucessões; nacionalidade é irrelevante.

Âmbito subjetivo
Num caso de competência internacional é sempre necessária a análise de todos os critérios que
constam do Regulamento:

1. Regra Geral: Domicílio do réu – n.º 1 do artigo 4.º do Reg.

Ratio: “visa-se tutelar o interesse do réu, eximindo-o ao ónus de superar as dificuldades práticas
inerentes à condução da lide em país estrangeiro” (Cfr. MIGUEL TEIXEIRA DE SOUSA/DÁRIO MOURA
VICENTE, Comentário à Convenção de Bruxelas, Lex, 1994, p. 77)

2. Regras Especiais (que podem prevalecer sobre a regra geral): Artigo 5.º do Reg.

2.1 Artigo 5.º do Reg. → refere que as pessoas domiciliadas num Estado-Membro só podem
ser demandadas nos tribunais de outro Estado-Membro nos termos dos 7.º e ss do Reg.

2.2 Artigo 7.º do Reg. → se o litígio tem por objeto uma relação contratual, o artigo 7.º, n.º1,
al. a) estabelece que o réu pode ser demandado perante o tribunal do lugar onde foi ou deva
ser cumprida a obrigação em causa. Paralelamente o artigo 7.º, n.º, al.b) do Reg., preceitua
que, o lugar do cumprimento da obrigação em questão será:

a) No caso de venda de bens: o lugar no Estado-Membro onde os bens foram ou devam


ser entregues, ou onde
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b) No caso da prestação de serviços: o lugar no Estado-membro onde, nos termos do


contrato, os serviços foram ou devam ser prestados. Ex. Contrato entre A e B, onde A se obriga
a pintar a casa de B situada em Lisboa (contrato de prestação de serviços), se A não cumprir os
tribunais competentes à luz do artigo 7.º 1 alíneas a) e b) serão os tribunais portugueses, porque
o serviço (pintura da casa) devia ter sido prestada em Lisboa, onde se situa a casa de B.

MTS em relação ao artigo 7.º: refere que tem uma dupla-função:

a) Competência internacional: Fixa a competência internacional dos tribunais (jurisdição


competente); (2.º Passo)
b) Competência territorial: Dentro da jurisdição competente indica a competência territorial
(prevista nos artigos 70 e ss do CPC).

3. Regras Excecionais que prevalecem acima de tudo: Artigo 24.º e 25.º do Reg.

3.1 Competência exclusiva (cf. artigo 24.º do Reg.):

“essa competência, porque é exclusiva, prevalece sobre a competência determinada pelos critérios
gerais e especiais (cf. artigo 4.º e 5.º do Reg.), e impede a celebração de um pacto de
jurisdição (2.ª parte, n.º 4, do artigo 25.º do Reg.).”

- MIGUEL TEIXEIRA DE SOUSA, A Competência Declarativa dos Tribunais Comuns, Lex, 1994, p. 73

As principais situações em que se verifica aquela competência exclusiva são as seguintes:

a) Matéria de direitos reais sobre imóveis; e matéria de arrendamento de imóveis; (1)


b) Matéria de validade, nulidade e dissolução das sociedades; (2)
c) Matéria de validade de inscrições em registos públicos; (3)
d) Matéria de registo ou validade de patentes, marcas, desenhos e modelos e outros direitos
análogos sujeitos a depósito ou a registo; (4)
e) Matéria de execução de decisões (5);

Caso se intente uma ação noutro tribunal que não o exclusivamente competente à luz do artigo 24.º
do Reg. Consequência → o disposto no artigo 27.º do Reg.: o tribunal deve declarar-se
oficiosamente incompetente.

3.2 Pactos de Jurisdição (cf. artigo 25.º do Reg.)

Requisitos Gerais

1. O pacto de jurisdição é um contrato celebrado entre as partes, pelo que deve respeitar todos os
requisitos exigidos quanto à formação do contrato. O pacto de jurisdição exige, tal como um
contrato substantivo, uma proposta e uma aceitação.
2. O pacto de jurisdição confere competência exclusiva aos tribunais;
3. A convenção deve determinar o tribunal ou os tribunais competentes para a aplicação da causa |
art. 25/1/1ªparte do Reg.

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3.2 PACTOS DE JURISDIÇÃO – EM ESPECIAL


(ARTIGO 25.º REG.)

Efeitos
1. O pacto de jurisdição produz um efeito atributivo e um efeito derrogatório;
2. O pacto atribui em princípio (cf. art. 25º) competência exclusiva ao tribunal
designado;
3. Como consequência desta competência exclusiva do tribunal escolhido, nenhum
outro tribunal permanece competente para a apreciação da ação – o
tribunal no qual a causa foi proposta em violação do pacto de jurisdição
deve declarar-se oficiosamente incompetente – i) quando o demandado for
domiciliado no território de um Estado – Membro e ii) não comparecer em
juízo.
4. Efeitos substantivos: O pacto de jurisdição é vinculativo para as partes, em
certos casos essa convenção também pode ser vinculativa para terceiros – como
por exemplo o portador de um conhecimento de carga | TJ – Ac. 19.06.1984.

Condições de admissibilidade (n.º 2, n.º 4 do artigo 25.º do Reg.):

1. Requisitos formais (exigência da forma escrita – alínea a) do n.º2):

“Não basta uma aceitação ou adesão tácita; exige-se certeza e clareza no estabelecimento do
acordo de vontades entre as partes, acordo que deve ser escrito, ou sendo verbal, a sua confirmação
por escrito – a existência de um documento escrito (de teor constitutivo ou confirmativo), nos precisos
termos constantes da alínea a) do nº 1 do art. 25º, assume a natureza de formalidade ad substantiam.”

“Compreender-se-á que, facultando o Regulamento a derrogação dos critérios gerais aí enunciados em


matéria de competência e, em homenagem ao princípio da autonomia da vontade das partes,
concedendo a estas o primado na escolha da jurisdição (com exclusão dos casos imperativamente
regulados nos arts. 24º e 27º), em função da celebração entre elas de um pacto, autonomizando-o e
reforçando a sua proteção jurídica, nos termos dos arts. 25º, nºs. 1 e 5 e 31º, nºs. 2 e 3, tal pacto,
pela relevância que lhe é assinalada, deva ser clara e inequivocamente comprovado.”

(Cfr. Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 13-nov.-2018 (Relator CABRAL TAVARES), Processo
n.º 6919/16.0T8PRT.G1.S1)

2. Requisitos materiais (n.º 4 do artigo 25.º)

Os pactos de jurisdição não produzem efeitos se:

i) Forem contrários ao disposto nos artigos 15.º, 19.º, ou 23.º do Reg.;


ii) E se tiverem como objetivo afastar a competência exclusiva que consta do
artigo 24.º do Reg.

3. Artigo 25.º, n.º 5 do Reg.: A nulidade do contrato não impede o funcionamento da


cláusula atributiva de competência. Cf. Acórdão do Tribunal de Justiça de
03/07/1997 | Benincasa vs. Dentalkit – como a invalidade do negócio não implica a invalidade
do pacto é no tribunal designado que deve ser apreciada a invalidade daquele negócio.

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3.3 PACTO DE JURISDIÇÃO TÁCITO


(ARTIGO 26º DO REG.)

Quando é que se aplica?

Caso Prático

Imaginem que António e Giovanni celebram um contrato de compra e venda sobre o objeto X em
Berlim. Nesse mesmo contrato as partes acordaram que “se existir um litígio derivado do incumprimento
do contrato, os tribunais portugueses seriam os internacionalmente competentes” (pacto de jurisdição).
Passados dois meses, António não entrega o objeto X a Giovanni.
Giovanni intenta uma ação num tribunal alemão, e António apresenta a sua contestação sem nunca se
pronunciar sobre a incompetência internacional desse tribunal alemão.

Isto significa que António compareceu (à luz do ordenamento jurídico português significa que contestou), e que
não arguiu a incompetência do tribunal quando o poderia ter feito, o que significa que este consente na
atribuição da competência internacional aos tribunais alemães, daí dizer-se que estamos perante um pacto de jurisdição
tácito.

Regime:

1. Se a parte comparecer em juízo e não arguir a competência do tribunal esse tornar-se competente para
conhecer do litígio, excepto se houver outro tribunal com uma competência exclusiva para apreciar a causa.

2. O regime vale igualmente quando a incompetência do tribunal resultar de um pacto de jurisdição;

3. O referido efeito de atribuição de competência não se produz se o réu comparecer (comparecer,


significa no ordenamento jurídico português contestar) em juízo para arguir a incompetência do
tribunal ou se houver um outro tribunal exclusivamente competente.

4. Acórdão do Tribunal da Relação do Porto de 23-fev.-2017 (Relator ARISTIDES RODRIGUES DE


ALMEIDA), Processo n.º 159312/15.4YIPRT.P1:

“O Regulamento (UE) n.º 1215/2012 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 12 de Dezembro de 2012, prevê no
artigo 26.º uma situação de extensão de competência por via da qual, excepto se se tratar de uma situação
de competência exclusiva do artigo 24.º, é competente o tribunal de um Estado - Membro no qual o requerido compareça
sem arguir a incompetência.”

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