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Direitos

Fundamentais
2022/2023
Semana 5

Benedita Menezes Queiroz


Sumário

— O mecanismo da queixa individual perante o TEDH (conclusão);


— Força vinculativa e execução de sentenças;
— A reforma do sistema da CEDH

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TEDH, M.S.S. v Bélgica e Grécia, Queixa no. 30696/09, 2011
220. O Tribunal considera o tratamento "desumano" quando foi
"premeditado, foi aplicado por horas seguidas e causou lesão corporal real
ou sofrimento físico ou mental intenso". (...).

O tratamento é considerado "degradante" quando humilha ou prejudica


um indivíduo, mostrando falta de respeito ou diminuindo sua dignidade
humana, ou desperta sentimentos de medo, angústia ou inferioridade
capazes de romper a resistência moral e física de um indivíduo (...) Pode ser
suficiente que a vítima seja humilhada aos seus próprios olhos, mesmo que
não seja aos olhos dos outros (...). Por último, embora a questão de saber
se o objetivo do tratamento fosse humilhar ou prejudicar a vítima seja um
fator a ser levado em consideração, a ausência de tal objetivo não pode
excluir conclusivamente a constatação de uma violação do artigo 3 (...).

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362. O requerente alegou que, devido às condições de detenção e condições de vida a que
os requerentes de asilo estavam sujeitos na Grécia, retornando-o a esse país e aplicando o
Regulamento de Dublim, as autoridades belgas tinham-no exposto a um tratamento
proibido pelo artigo 3. Convenção (...).

363. O Governo contestou essa alegação, assim como se recusou a aceitar uma violação do
artigo 3 por causa da expulsão do requerente e do risco resultante das deficiências no
procedimento de asilo (...).

366. No presente caso, o Tribunal já considerou as condições de detenção e condições de


vida do requerente na Grécia degradantes (...). Observa também que estes factos eram
bem conhecidos antes da transferência do requerente e eram livremente verificáveis a
partir de um grande número de fontes (...). Pretende também sublinhar que não se pode
considerar que o requerente não tenha informado as autoridades administrativas belgas
das razões pelas quais não pretendia ser transferido para a Grécia. O Tribunal estabeleceu
que o procedimento no Aliens Office não previa tais explicações e que as autoridades
belgas aplicaram sistematicamente o Regulamento de Dublin (…).

367. Com base nessas conclusões e nas obrigações que incumbem aos Estados, nos termos
do artigo 3 da Convenção, em termos de expulsão, o Tribunal considera que, transferindo o
requerente para a Grécia, as autoridades belgas o expuseram conscientemente a condições
de detenção e condições de vida que representavam degradantes tratamento.

368. Sendo assim, houve uma violação do artigo 3º da Convenção.

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Força vinculativa das sentenças

Artigo 46°

1. As Altas Partes Contratantes obrigam-se a respeitar as


sentenças definitivas do Tribunal nos litígios em que forem
partes.
Pacta sunt servanda

Artigos 42º e 44º CEDH


Responsabilidade internacional
do Estado por factos
internacionalmente ilícitos

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v Em caso de violação da CEDH, a sentença pode (mas não tem de) implicar a
adoção de medidas pela Alta Parte Contratante para lhe pôr fim:

a) Medidas gerais: indicação do TEDH de medida de alcance


geral(exemplo: medidas legislativas).

b) Medidas individuais: obrigação de restitutio in integrum - o TEDH pode


indicar qual a medida individual a ser implementada pelo Estado naquele
caso concreto.

- No entanto, os acórdãos têm carácter declaratório e, por isso, esta


referência é feita apenas faz a título excecional (artigo 46º nº 1 CEDH).

artigo 41º reparação razoável

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Execução das sentenças

2. A sentença definitiva do Tribunal será transmitida ao Comité de


Ministros, o qual velará pela sua execução.

3. Sempre que o Comité de Ministros considerar que a supervisão da


execução de uma sentença definitiva está a ser entravada por uma
dificuldade de interpretação dessa sentença, poderá dar conhecimento
ao Tribunal a fim que o mesmo se pronuncie sobre essa questão de
interpretação. A decisão de submeter a questão à apreciação do
tribunal será́ tomada por maioria de dois terços dos seus membros
titulares.

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Força vinculativa e execução das sentenças

4. Sempre que o Comité de Ministros considerar que uma Alta


Parte Contratante se recusa a respeitar uma sentença
definitiva num litigio em que esta seja parte, poderá, após
notificação dessa Parte e por decisão tomada por maioria de
dois terços dos seus membros titulares, submeter à apreciação
do Tribunal a questão sobre o cumprimento, por essa Parte, da
sua obrigação em conformidade com o n° 1.

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5. Se o Tribunal constatar que houve violação do nº 1,
devolverá o assunto ao Comité de Ministros para fins de
apreciação das medidas a tomar. Se o Tribunal constatar que
não houve violação do nº 1, devolverá o assunto ao Comité
de Ministros, o qual decidir-se-á pela conclusão da sua
apreciação.

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Execução de sentenças do TEDH

v As sentenças proferidas pelo TEDH não constituem título executivo no


território dos Estados parte. -> obrigação de fim mas, em princípio, há
liberdade de de meios para dar cumprimento à obrigação do artigo 46º n.1
CEDH;

v Supervisão da execução: cabe ao Comité de Ministros (órgão político do


Conselho da Europa). Composto pelos Ministros dos Negócios Estrangeiros
de cada Estado membro do Conselho da Europa (artigo 46º n.2 CEDH);

v O processo de execução é essencialmente dependente de pressão e


persuasão política;

v Exemplos de possíveis consequências da recusa de implementação de uma


decisão: publicação de uma lista dos casos pendentes no TEDH, em
situações extremas a exclusão do Conselho da Europa.

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v Protocolo 14 (relativamente à execução de sentenças):
a) Extensão dos poderes de supervisão do Comité de Ministros às resoluções
amigáveis (artigo 39º CEDH);

b) Competência do TEDH para se pronunciar sobre uma questão de interpretação


que entrave a supervisão da sentença definitiva (Artigo 46º nº 3 CEDH);

c) Competência do TEDH para constatar que a Alta Parte Contratante se recusa a


cumprir com a sentença definitiva nos termos do n.1. (Artigo 46ºs nº 4 e 5CEDH)

TEDH devolve o
assunto ao Comité
de Ministros.
⚠ O sistema de controlo da execução de
sentenças deixa de ser,
exclusivamente, político e passa a ser
também judicial com intervenção do TEDH.

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A reforma do sistema da CEDH

— Protocolos 11, 14, 15 e 16


- Judicialização definitiva do sistema da CEDH;

- Eficácia do sistema e reforço da subsidiariedade;

— Conferências de Alto Nível: Interlaken (2010); Izmir (2011);


Brighton (2012); Oslo (2014); Brussels (2015); Copenhagen
(2018)

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Protocolo 16 (opcional)

— Já entrou em vigor em 2018 mas não foi ratificado por Portugal;


— Amplia a competência consultiva do TEDH: Pareceres Consultivos

Artigo 1°

1. As mais altas instâncias de uma Alta Parte Contratante, conforme especificado no artigo 10,
podem solicitar ao Tribunal que emita pareceres consultivos sobre questões de princípio relativas à
interpretação ou aplicação dos direitos e liberdades definidos na Convenção ou nos seus protocolos.

2. O órgão jurisdicional requerente pode solicitar um parecer consultivo apenas no contexto de um


processo pendente perante ele.

3. O órgão jurisdicional requerente deve fundamentar o seu pedido e fornecer a base jurídica e fatual
pertinente relativa ao caso pendente.

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— O TEDH exerceu esta competência consultiva, pela primeira vez e a pedido
do Estado Francês, no caso sobre o reconhecimento no direito interno da
relação legal pai – filho entre uma criança nascida através de um acordo de
substituição gestacional no estrangeiro em abril de 2019:

’Numa situação em que, como no cenário delineado nas questões


colocadas pelo Tribunal de Cassação, uma criança nasceu no estrangeiro
através de um acordo de substituição gestacional e foi concebida
utilizando os gâmetas do pai pretendido e de um terceiro doador, e em
que a relação pai-filho legal com o pai pretendido foi reconhecida no
direito interno:’

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1. o direito da criança ao respeito pela vida privada na aceção do artigo 8º da
Convenção exige que o direito interno preveja a possibilidade de
reconhecimento de uma relação legal pai-filho com a mãe “pretendida”,
designada na certidão de nascimento legalmente estabelecida no estrangeiro
como a "mãe legal";

2. o direito da criança ao respeito pela vida privada, na acepção do artigo 8º da


Convenção, não exige que esse reconhecimento assuma a forma de inscrição no
registo de nascimentos, casamentos e mortes dos dados constantes da certidão
de nascimento legalmente estabelecida no estrangeiro; outro meio, como a
adopção da criança pela mãe “legal”, pode ser utilizado desde que o
procedimento previsto no direito interno garanta a sua aplicação rápida e
eficaz, em conformidade com o interesse superior da criança.

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