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Sebenta Prática de DUE II da Comissão de Curso de quarto ano da FDUP – Mariana Cruz e Sílvia Moreira
a) Qual o tribunal competente? Artigo 256.º, n.º 1 TFUE e artigo 51.º, al. a) do Estatuto. É
o TJ
A disposição fundamental para a repartição de competências entre o Tribunal de Justiça e o
Tribunal Geral é o art. 256º do TFUE – é neste artigo que encontramos as atribuições que estão
acometidas ao Tribunal Geral, que devemos sempre articular com o art. 51º a) do ETJUE (sempre
que tivermos uma questão sobre as competências devemos fazer a articulação entre o art. 19º
do TUE, o art. 256º do TFUE e o art. 50º e 51º do ETJUE) e, neste caso, tratando-se de um Estado-
Membro que pretende impugnar a validade de uma diretiva, nos termos do art. 114º, devemos
saber qual o Tribunal competente. Não se encontra esta disposição nas competências do TG,
porque os recursos de anulação interpostos por Estados-Membros só são da competência do TG
quando digam respeito a auxílios de Estado, matérias de dumping e a atos de execução, portanto
atos que não são atos legislativos de base, como acontece com uma diretiva adotada nos termos
do art. 114º, que é ato legislativo de base.
Com a exceção destas matérias, o recurso de anulação interposto por um Estado-Membro é da
competência do Tribunal de Justiça.
d) Poderá o processo ser julgado pelo Tribunal pleno? Artigo 16.º, § 5 Estatuto. Sim, se
considerar tratar-se de uma causa de excecional importância, depois de ouvido o
advogado-geral
Pode ser julgado pelo Tribunal Pleno. A decisão será do Presidente, depois de ouvido o
Advogado-Geral, se considerar que é uma causa de excecional importância – se se levantam
questões muito importantes que não foram já objeto de algum tipo de apreciação previamente.
O Pleno do Tribunal de Justiça tem 27 juízes (um por cada Estado-Membro).
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e) Como é determinado quem será o AG? Artigo 16.º, n.º 1 do RPTJ, É designado pelo 1.º
AG.
É designado pelo Primeiro Advogado-Geral, a atribuição de processos é uma das suas
competências, e esse é nomeado anualmente.
Temos de articular aqui quer o art. 256º quer o ETJUE. O art. 256º n.3 TFUE prevê que o Tribunal
Geral pode ser competente para julgar questões em sede de reenvio que forem determinadas
pelo Estatuto. Sendo que até ao momento o Estatuto não prevê nenhuma matéria nas quais o
TG pode ser competente para apreciar em matéria de reenvio, isso significa que esta norma do
TFUE não foi regulamentada e tal significa que só o Tribunal de Justiça é competente para o
reenvio para já (contudo, já há uma proposta do ano passado feita pelo TJ no sentido de vir a
admitir o reenvio para o TG).
a) Um juiz do TG, indicado pelo Estado M, faleceu 2 anos após o início de funções.
Explique o processo de substituição. Artigo 5.º, 1.º § Estatuto; Artigo 7.º Estatuto; Artigo
19.º, n.º 2 TUE; artigo 255.º TFUE. Será substituído pelo tempo restante do mandato (4
anos – artigo 253.º TFUE) e a personalidade indicada pelo Estado será objeto do parecer
do Comité 255.º TFUE.
Tudo isto está regulado no ETJUE. A nomeação dos juízes está sempre sujeita a um parecer do
Comité do art. 255º, e isso também vale em caso de substituição por morte. Este parecer não é
vinculativo, a decisão é por consenso dos representantes dos Governos dos Estados.
a) O Estado P, além de indicar uma personalidade para o lugar de juiz, decide igualmente
indicar um nome para AG no TG. Quid iuris? Artigo 254.º, § 1 TFUE; Artigo 48.º TG (a
contrario) e 49.º Estatuto. Não há AG no TG.
Um juiz pode exercer funções de Advogado-Geral, mas não existe esse membro, logo não será
nomeada nenhuma personalidade para Advogado-Geral porque o Tribunal Geral não tem nos
seus membros o AG.
A resposta encontra-se pelo art. 256º TFUE a contrario, porque deste artigo retiramos as
competências do Tribunal Geral. Como não encontramos aqui competência para esta matéria,
será uma competência do TJ.
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O art. 256º n.3 do TFUE diz que o Tribunal Geral será competente para apreciar em termos
prejudiciais determinadas matérias que o Estatuto indicará, mas esta é uma norma imperfeita,
porque remete para regulamentação complementar que estaria no ETJUE, mas o Estatuto não
foi até hoje modificado para indicar matérias em que o TG seja competente. Por esta razão, é
competente o Tribunal de Justiça, não só por força do art. 256º, mas porque só por si ele não é
suficiente e seria necessário que o Estatuto previsse estas matérias e ele não o faz, logo a
competência pertence ao Tribunal de Justiça.
É importante referir que já há uma proposta da parte do TJUE para que seja adotado um ato
(porque implicaria uma alteração do Estatuto) para prever matérias em que o TG passe a ter
competência sempre prejudicial, nomeadamente em matérias de propriedade intelectual, por
exemplo.
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O Tribunal Constitucional português invoca a Teoria do Ato Claro, desenvolvida a partir das
jurisdições superiores francesas, e que veio também a ser depois reconhecida e acolhida na
jurisprudência Clift, com contornos mais precisos, nomeadamente a necessidade de pensar
sobre a clareza, tendo presente que estamos perante uma ordem jurídica constituída por atos
que fazem fé em 24 línguas. Por isso, aquilo que para um Estado pode parecer um conceito claro,
pode não o ser realmente, porque, se na sua língua tem um sentido já bastante consolidado e
que é efetivamente claro, pensando que ele está a ser utilizado num contexto multinacional, isso
não é necessariamente verdade noutros espaços jurídicos, tendo presente ainda que os
conceitos utilizados no Direito da união têm sempre um sentido específico, que resulta da sua
própria integração sistemática.
Não pode fazer-se valer o sentido que o mesmo conceito tem numa ordem jurídica em particular,
porque pode o sentido ser necessariamente diferente, tendo em conta a realidade da União
Europeia (e não de cada Estado em particular). Nestas circunstâncias, o TJ admite que há atos
claros, mas há que pensar se eles serão claros tendo em conta estas circunstâncias, o que torna
mais complexa esta conclusão.
Por outro lado, veio dizer, interpretando o conceito nesta perspetiva, que há que considerar que
o ato só é claro se efetivamente não puder ter sentidos diversos, se for unívoco, tendo em
conta toda esta diversidade multinacional. Assim, a doutrina acabou por dizer que é uma teoria,
de certo modo, do ato evidente e não do ato claro.
Qual é o interesse da teoria do ato claro? Ela dispensará um Tribunal que, à luz do art. 267º,
estaria obrigado a fazer o reenvio (porque das suas decisões já não há recurso) de o fazer –
porque o ato é claro já não terá de fazer o reenvio, fá-la-á sozinho. Assim corrige a letra do art.
267º.
O Tribunal Constitucional português levanta ainda dúvidas sobre a validade de uma Diretiva, e
aqui devemos ter presente uma outra dimensão – tratando-se de uma questão que diz respeito
à validade, e se o tribunal se inclinar para a invalidade, ao contrário do que resulta da letra do
art. 267º, o reenvio é sempre obrigatório (apesar de aqui o ser sempre, porque estamos perante
um Tribunal do qual não haveria recurso). Isto resulta da jurisprudência Foto-Frost.
No reenvio em que a questão é de validade e em que o juiz entenda ver argumentos relevantes
que conduzirão à conclusão da invalidade, então o reenvio, independentemente de haver ou não
recurso, é sempre obrigatório, nunca é uma faculdade para o juiz.
1. Certeza jurídica, dado que essa pronúncia do Tribunal nacional nunca teria efeitos para
além do ato concreto e, por isso, até que a questão fosse objeto de pronuncia pelo TJ,
ela causaria incerteza sobre se aquela norma é ou não inválida.
2. Unidade, porque poderíamos confrontar-nos com soluções diversas para situações
semelhantes – afeta a unidade do sistema jurídico, porque teríamos uma norma a
produzir efeitos num Estado-Membro e sem os produzir noutro
3. Põe ainda em causa o princípio da igualdade – situações idênticas poderiam ter
tratamento diferenciado no mesmo quadro normativo vigente até que a situação fosse
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ultrapassada com uma pronuncia do TJ. Tendo em conta toda esta extensão, esta
situação tornar-se-ia mais difícil.
O Tribunal de Justiça invoca ainda razões de ordem formal – o facto de o Tratado, a partir do art.
19º e do art. 263º atribuir ao TJ a competência para o contencioso de legalidade, para a
apreciação da validade das normas do Direito da União. O tribunal retira daqui através de um
argumento sistemático que, se se reservou esta competência à instituição TJUE, não faria
sentido reconhecer que outros tribunais também a tenham, ainda que com efeitos mais
limitados, apenas no caso que tivessem perante sim – jurisprudência Foto-Frost.
Isto está relacionado com a questão do órgão jurisdicional e saber se o Provedor de Justiça
poderia ser qualificado como tal.
O Provedor de Justiça não tem como competência a resolução de litígios de acordo com o Direito
e o provedor de justiça não tem essa função jurisdicional, portanto os requisitos da
jurisprudência Vaassens-Göbbels não se encontram na totalidade cumpridos. Tendencialmente,
estes requisitos são cumulativos e a ausência de um já iria afetar essa faculdade, mas a verdade
é que o Tribunal tem tido, em algumas situações, jurisprudência mais flexível (a propósito da
arbitragem ou das agências regulatórias, por exemplo).
É essencial:
1. Que haja uma situação de tipo litigioso, mesmo que não seja entre partes, mas sim, por
exemplo, entre um particular e a própria entidade em casa
2. Que tenha uma jurisdição de tipo obrigatório, que não está inteiramente na disposição
das partes
3. E que seja determinada pela lei, isto é, essa competência está legalmente determinada.
Mesmo sendo um juiz tributário, deduzindo-se por isso que seria um tribunal de que haveria
recurso, dado que ele se inclinava para a invalidade da norma por contradizer a Carta dos Direitos
Fundamentais, ele estava obrigado a fazer o reenvio, não podia ter imediatamente desaplicado
a lei portuguesa que aplicava a diretiva.
Do ponto de vista do Direito da União, ele teria de fazer o reenvio, mas poderia, caso se
verificassem determinados requisitos, suspender a aplicação do ato, que seria a decisão de
aplicar a coima, aguardando pela decisão do reenvio e levantando depois a decisão ou não, de
acordo com a decisão do TJ.
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O juiz não poderia efetivamente ter adotado aquela decisão, não fazendo o reenvio, mas poderia
ter acautelado a situação através de uma medida provisória e suspensão do ato, verificando-se
estes requisitos.
Se se trata de uma questão de validade e a decisão é de manter uma decisão que se considerou
inválida, mais uma vez, independentemente de haver ou não recurso, de acordo com a
jurisprudência Foto-Frost, estaria sempre obrigado a fazer o reenvio.
Relativamente ao comentário sobre o recurso de revista, está relacionado com o tipo de recurso.
Falamos de recurso ordinário e esta questão tem a ver com quando é que é admissível o recurso
– no entendimento da AT, o recurso de revista previsto na legislação portuguesa não
corresponderá a uma faculdade de recurso ordinário, porque ele fica sujeito à admissibilidade
pelo tribunal que está sujeito àquelas condições. Um recurso ordinário (por exemplo o recurso
de apelação) está à disposição de uma parte na medida em que ela é vencida, por isso, não está
sujeito a uma apreciação de qualquer condição, que não é o que acontece aqui.
Neste caso, o recurso de revista só é admitido quando estiver em causa a apreciação de uma
questão que, pela sua relevância, tenha importância fundamental ou seja claramente necessário
para uma melhor aplicação do Direito. De outra forma, não se verificando estes requisitos, o
tribunal não é obrigado a receber a revista, pode recusá-la.
Então, será que há ou não recurso? Qual é o entendimento do tribunal nesta situação?
Numa situação em que o recurso esteja sujeito a condições de admissibilidade a definir pelo
tribunal superior, é uma situação em que se pode considerar que há recurso ou que na verdade
não o há? O entendimento do TJ é de que, apesar de haver condições e não ser um recurso que
esteja na disposição apenas da parte, apesar de estar sujeito a condições apreciadas pelo
tribunal superior, que pode não admitir o recurso, o Tribunal de Justiça considera que há recurso
(se não fosse uma questão de validade, não havia reenvio obrigatório), desde que entre aquelas
condições esteja a questão do reenvio, o que significa que o tribunal superior terá sempre que
admitir o recurso nestas circunstâncias.
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A revista só é admitida quando incidir sobre uma questão de excecional importância, então o
Tribunal defende que, apesar de o recurso estar sujeito a esta condição, considera-se que há
recurso, e portanto o reenvio só será facultativo, desde que entre essas condições se considere
a questão de reenvio, o facto de haver uma questão de reenvio. Se assim for, há que considerar
que, na verdade, o reenvio não seria obrigatório se fosse uma questão de interpretação, porque
o tribunal superior terá necessariamente que admitir o recurso de revista, porque entre as
questões relevantes que ele tem de considerar que se verificam, deve incluir-se o facto de haver
uma questão de reenvio.
Será de admitir que o recurso existe, tornando o reenvio facultativo, na medida em que a questão
prejudicial seja considerada pelo tribunal superior uma das questões que justifica o recurso. Se
a jurisprudência do Tribunal Superior for no sentido de que, havendo questões prejudiciais, isso
não é considerado como uma questão de relevância jurídica ou social ou claramente necessária
para a melhor aplicação do Direito, então nesse caso a conclusão é contrária – como o recurso
de revista está sujeito a essa apreciação superior, que não considera as questões de reenvio,
então não há recurso e, se não há recurso, o tribunal inferior é obrigado a fazer o reenvio no
caso do reenvio de interpretação.
Idêntica questão foi suscitada junto do Tribunal Constitucional belga, que procedeu ao reenvio,
em que salientou a excecional importância das questões suscitadas.
Devemos guiar-nos pelo art. 16º do ETJUE. Em princípio, todos os processos são atribuídos a
secções de 3 ou de 5 juízes (art. 16º ETJUE). Podem ser atribuídos, contudo, à Grande Secção a
pedido do Estado (quando este seja parte) e pode ser atribuído ao Pleno nas situações previstas
nas disposições contidas no artigo, que dizem respeito à apreciação da idoneidade do provedor
de justiça, membros de comissão, do tribunal, etc., e depois ainda também quando o tribunal
considere que são questões de excecional importância.
Esta qualificação feita por este tribunal, se for acolhida pelo TJ, pode conduzir a que o processo
de reenvio vá correr não perante uma secção, mas perante o Pleno, e isso ficará à discrição do
tribunal que irá decidir sobre isso.
g) Se tiver sido proferido o acórdão de reenvio neste caso, tal pode ter alguma relevância
na decisão sobre o reenvio a tomar pelos tribunais portugueses?
Aplicamos aqui a Teoria do Ato Aclarado – havendo uma coincidência das questões, se já houve
um reenvio que colocou idênticas questões e o TJ já se pronunciou, isso dispensará o reenvio de
outro tribunal nacional, mesmo que a isso estivesse obrigado. O tribunal nacional está sim
obrigado a aplicar a orientação que foi definida pelo Tribunal.
Por isso é que os acórdãos do TJ, embora tenham do ponto de vista formal alcance apenas no
caso concreto, na verdade acabam por ter indiretamente efeito erga omnes, porque a pronúncia
do TJ num caso permite e obriga a que os tribunais não se afastem daquela jurisprudência em
todos os casos futuros. Para se afastarem, deverão fazer reenvio (no caso dos tribunais
nacionais). Isto tem a ver com o facto de se tratar de jurisprudência prejudicial, em que fazem a
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interpretação do Direito, não aplicando o Direito ao caso. A aplicação ao caso só tem efeitos
naquele caso, mas a interpretação que é prévia e sempre com um alcance abstrato, essa torna-
se vinculativa para todos os tribunais.
(…)
(…)
4 - O ganho sujeito a IRS é constituído: a) Pela diferença entre o valor da realização e o valor
de aquisição, nos casos previstos nas alíneas a) (…) do n.º 1;
(…)
“A” vendeu um imóvel onde habitava e com o produto da venda adquiriu, 6 meses depois, uma
casa em Sanxenxo, na Galiza, onde passou a viver.
Com base numa Circular do Diretor Geral, a AT recusou a aplicação do n.º 5 com o fundamento
de que tal disposição só é aplicável quando o imóvel adquirido se situa no território português.
“A” considera que essa decisão é contrária ao DUE, nomeadamente à liberdade de circulação
de que goza enquanto cidadão da UE. Não pretende, no entanto, recorrer ao tribunal
português para a sua impugnação, dados os “elevados custos processuais”; pretende antes
que a Comissão Europeia “leve o Estado português ao Tribunal de Justiça”.
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A tem o direito de apresentar a denúncia junto da Comissão Europeia contra o Estado português,
mas não tem efetivamente o direito de exigir que a Comissão acione o Estado, a CE tem essa
liberdade, esse juízo de oportunidade – fá-lo-á ou não, se assim o entender. A Comissão
responde sempre às denúncias e, por isso, a denúncia terá sempre de ser identificada, não pode
ser anónima, para que ela possa dar resposta ao particular em causa.
A denuncia pode ser ou não feita através de um formulário, mas tem de ser feita de forma escrita.
Tem de ser nominal, com identificação da pessoa e de elementos que permitam depois
estabelecer o contacto – a identidade, o endereço e o contacto para facilitar a resposta. É
relevante aqui o art. 20º n.2 d) do TFUE.
Tendo em conta que a Comissão já fez a notificação para cumprir e já recebeu a resposta do
Estado Português, poderá esta situação ser considerada ainda? Globalmente, podemos dizer que
estamos perante uma discriminação em função da nacionalidade, mas temos aqui fundamentos
distintos – é adequado que a Comissão faça uma notificação para cumprir complementar para
enquadrar os novos factos.
Assim, isto poderá ser incluído no procedimento através de uma notificação complementar,
indicando ao Estado quais os elementos que considera relevantes e contrários ao DUE,
caracterizando-os a eles e aos fundamentos em que baseia o seu entendimento, dando ao
Estado a oportunidade de apresentar novas observações.
Aqui, efetivamente, não tinha ocorrido parecer fundamentado, logo não tinha de haver parecer
fundamentado complementar e, quando o fizer, o parecer fundamentado já deverá incluir as
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duas situações. Por contrário, se já tivesse havido parecer fundamentado da notificação anterior,
deveria haver não só notificação complementar, como também parecer fundamentado
complementar.
Não tendo ficado satisfeita com as observações apresentadas por Portugal, a Comissão, em
20/10/2017, dirige ao EM um “parecer fundamentado”, no qual era dado um prazo de 15 dias
para comunicar à Comissão as medidas adotadas para eliminar o incumprimento.
A Comissão pode fazê-lo, fá-lo-á quando a situação for menos complexa (por exemplo, se se
tratar de simplesmente revogar legislação discriminatória), mas não é obrigada a fazê-lo. O
princípio da cooperação leal exige que a Comissão preste informações ao Estado que ele
necessitaria de ter, mas não obriga a Comissão a indicar ao Estado que medidas deve adotar, até
porque, se a Comissão estivesse obrigada a fazê-lo, isso contraria o princípio da autonomia dos
Estados – os Estados têm autonomia para regular o que diz respeito ao seu direito interno e
funcionamento dos seus órgãos, adotando as medidas que considerar mais adequadas (apesar
de poderem depois estar sujeitas a escrutínio se se revelarem inadequadas).
Não, porque a Comissão não pode invocar novos fundamentos que alarguem o âmbito da ação.
O objeto da ação está delimitado no parecer fundamentado e a Comissão teria oportunidade de
fazer um parecer fundamentado complementar após a notificação para cumprir, e só aí poderia
invocar isto.
h) Se a situação a que se refere a al. d) não tivesse sido incluída na fase pré-contenciosa
podia ser incluída na petição?
Aqui há um novo fundamento e uma nova situação jurídica a ser invocada. Os factos da primeira
situação consistem no tratamento que a legislação portuguesa dava à tributação proveniente de
rendimentos derivados de vendas de imóveis – esta é a situação de facto para efeitos da nossa
ação. Se falarmos da tributação sobre os fundos de investimento, temos uma nova situação
jurídica, e não apenas um novo fundamento. Portanto, não, a petição não poderia trazer uma
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nova situação de facto, não podendo ampliar o âmbito da ação. O processo pré-contencioso visa
conseguir que a situação seja perfeitamente abrangida porque, através da troca de informações,
a Comissão obtém informações que lhe permitem perceber corretamente a situação, de modo
a delimitá-la. Toda esta complexidade permitirá que a situação seja perfeitamente escrutinada e
que daí não resultem insuficiências.
A Comissão dispõe de um poder para definir se e quanto intenta a ação, é um juízo que não
pertence ao Tribunal, exceto se aquele período prolongado de tempo puder pôr em causa os
direitos de defesa do Estado. Essa competência da Comissão está configurada com esse juízo de
oportunidade, pelo que só é um abuso de direito se, efetivamente, o decurso daquele prazo
puser em causa a capacidade daquele Estado para se defender, porque o direito da Comissão
tem esta configuração.
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A Diretiva 2019/999, entrou em vigor em 25/12/2019, dirige-se a todos os EM, prevê um prazo
de implementação de 18 meses. Determina que os atos nacionais de transposição devem
indicar que transpõem a diretiva.
O regime especial aqui é logo o da primeira ação, não é necessária uma segunda ação.
Que situações de incumprimento cabem no regime especial do art. 260º n.3? A falta de
comunicação de medidas de transposição de uma diretiva adotada, de acordo com o processo
legislativo ordinário (isto é variável, vai estar previsto na disposição do tratado com base na qual
é adotada a diretiva).
O processo legislativo ordinário é um procedimento que implica que os autores do ato sejam
simultaneamente o Parlamento Europeu e o Conselho e, sendo uma diretiva, é uma diretiva que
se dirige a todos os Estados Membros. Quando o facto imputado ao Estado é alegadamente a
ausência de medidas de transposição de uma diretiva, o prazo previsto para que seja uma
diretiva adotada de acordo com o processo legislativo ordinário, a Comissão nessa ação vai além
de pedir ao Tribunal a condenação do Estado (natureza declarativa condenatória), declarando o
incumprimento, pode também requerer ao Tribunal que condene o Estado (natureza
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sancionatória) ao pagamento de uma quantia pecuniária fixa e/ou uma quantia pecuniária
compulsória, é uma ação só.
Quando se trate de outro tipo de incumprimentos, onde se inclui a errada aplicação da diretiva,
ou de medidas de implementação da diretiva que a comissão considere incorretas, insuficientes,
inapropriadas, então já não é possível usar este regime, já se aplica o regime comum do art.
251º, com uma primeira ação simplesmente para declarar o incumprimento e condenar o Estado
a corrigir a situação e, depois, uma segunda ação eventual, se o Estado não o fizer.
Esta ação especial do art. 260º n.3 apenas serve para a falta de medidas de transposição.
Se a ação já entrou, podemos deduzir que já decorreu o prazo que o parecer fundamentado
tinha fixado, pelo que a situação estaria consolidada para este efeito. Contudo, a ação não
perdeu o seu objeto, o incumprimento verificou-se e é esse incumprimento que será declarado
pelo Tribunal – essa declaração é importante desde logo porque pode haver efeitos relevantes
para terceiros e não só, isso vem permitir, de algum modo, consolidar o Direito, esclarecendo o
que é que constitui uma situação de incumprimento.
Pode, essa será uma via possível – se considerar que as medidas de implementação da diretiva
são corretas, por exemplo, pode desistir da ação. Contudo, não é obrigada a fazê-lo. No tal juízo
de oportunidade poderá fazer sentido desistir da ação.
d) Pode o Tribunal condenar o Estado português numa sanção pecuniária fixa superior à
indicada pela Comissão?
Não pode, esta é a ação especial em que o Tribunal não tem plena jurisdição, está limitado ao
pedido da Comissão.
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Na sequência do pedido da BMG, o Comité dos Medicamentos para Uso Humano da Agência
Europeia de Medicamentos (EMA) emitiu o seu parecer em 21 de dezembro de 2020
recomendando uma autorização condicional de introdução no mercado. A Comissão Europeia,
na sequência deste parecer, adotou no mesmo dia a decisão de execução C(2020) 9780,
concedendo uma autorização condicional de introdução no mercado, em conformidade com o
Regulamento n.º 726/2004, para o medicamento para uso humano CRA.
De acordo com o artigo 4.º da Decisão C(2020) 9780 a BMG é a destinatária dessa Decisão.
1) A Comissão alega que a petição deu entrada fora de prazo. Quid iuris?
O prazo é de 2 meses, nos termos do art. 263º do TFUE, ao qual pode acrescer o prazo de dilação
de 10 dias, nos termos do artigo 51º do RPTJ e artigo 60º do RPTG. Para sabermos que
disposição aplicar temos de saber qual o tribunal competente. Neste caso, o tribunal competente
é o Tribunal Geral pois é um particular que interpõe o recurso e, deste modo, o fundamento
para a dilação é o artigo 60º do RPTG.
A partir de quando é que se conta o prazo? Para este efeito, como é um ato que não é publicado
e não lhes foi notificado, conta-se a partir da data de conhecimento, que aqui é 29 de dezembro.
Como acrescentamos os 10 dias, o prazo vai além de 4 de março, pelo que o pedido não é
extemporâneo. Se fosse a BMG a interpor o recurso, ela tinha sido notificada dia 21 e aí já
teríamos recurso extemporâneo. A comissão não tem, portanto, razão.
Nota: aqui não se punha questão dos 14 dias porque não se tratava de ato publicado.
2) A EMA alega que o recurso contra si deve ser considerado inadmissível, pois o Parecer
que emitiu não é um ato recorrível, por não ser obrigatório e ser apenas um ato
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Para serem atos impugnáveis, têm de ser atos jurídicos que produzam efeitos jurídicos
vinculativos na esfera de terceiros, apesar de poderem ser individuais ou de alcance geral – à
partida, o parecer não é desde logo isso, porque a natureza do parecer não é alterada pelo
argumento da EMA.
O parecer podia ser obrigatório no sentido de vincular o ato adotado pela Comissão Europeia –
ainda que o ato fosse vinculativo para a Comissão, continuava a ser preparatório, não produzindo
efeitos jurídicos junto de terceiros e, por isso, não era recorrível.
Os recorrentes não são destinatários, mas este também não é um ato de tipo regulamentar,
porque é dirigido a uma entidade. Sendo um ato dirigido a outrem, afetará direta
individualmente os filhos dos A, B e C? Só isso é que justificará o recurso de anulação.
Quando falamos de afetação, falamos de afetação na esfera jurídica dos envolvidos e teremos
de estar a falar de um regime jurídico que seja obrigatório, que incide na esfera jurídica do
particular e a modifica diretamente – uma vacina que está ao dispor das pessoas, mas que não
é obrigatória não modifica por si só a esfera jurídica dos particulares, não lhes retira direitos nem
cria privações e nesse sentido não há afetação direta.
Basta que um dos requisitos esteja em falta que já não há legitimidade em recorrer. Não há
afetação individual, porque a categoria de pessoas abrangidas é definida de modo tipológico, e,
portanto, não há nenhum aspeto distintivo que permita salientá-las e colocá-las sobre o âmbito
da diretiva que seja próprio daqueles A, B e C – seria preciso que o regime já fosse determinado
conhecendo os destinatários, tendo em conta aquelas pessoas.
O Tratado fala primeiro da afetação direta e depois da afetação individual – o Tribunal começa
sempre pelo modo oposto, sempre que haja um ato geral ou dirigido a outrem, vai ver primeiro
se afeta individualmente o outro, e só havendo esta afetação individual, vai depois averiguar a
afetação direta.
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Quando ao défice de avaliação benefício/risco tal como determinado pelo regulamento: aqui
temos uma violação da norma jurídica aplicável, porque a decisão tem de respeitar o
regulamento no qual se baseia e, por isso, se escolher este fundamento e efetivamente se
concluísse que a avaliação não tinha sido adequada ou revelava que o custo era superior ao
benefício, então haveria violação do regulamento que é a base jurídica para esta decisão.
Quanto ao direito a tutela jurisdicional efetiva, há uma violação do artigo 47º da CDF: temos
uma violação do tratado, em que aqui se inclui uma violação da Carta dos Direitos Fundamentais.
Aqui, o Estado é um recorrente privilegiado, pelo que terá sempre legitimidade para interpor
este recurso, mesmo em decisão dirigida a outrem, e não tem de justificar nenhum interesse
em agir, se o autonomizarmos como pressuposto processual autónomo.
II
«1. Os pedidos de acesso a quaisquer documentos devem ser prontamente tratados. […]
«1. Os pedidos confirmativos devem ser prontamente tratados. No prazo de 15 dias úteis a
contar da data de registo do pedido, a instituição concederá acesso ao documento solicitado e
facultará, dentro do mesmo prazo, o acesso ao mesmo nos termos do artigo 10.° ou, mediante
resposta por escrito, indicará os motivos pelos quais recusa total ou parcialmente o acesso. No
caso de a instituição recusar total ou parcialmente o acesso, deve informar o requerente das
vias de recurso possíveis, ou seja, a interposição de recurso judicial contra a instituição e/ou a
apresentação de queixa ao Provedor de Justiça Europeu, nos termos previstos,
respectivamente, nos artigos [263.° TFUE] e [228.° TFUE].
(…)
3. A falta de resposta da instituição no prazo prescrito será considerada como uma resposta
negativa e dá ao requerente o direito de interpor recurso judicial contra a instituição e/ou
apresentar queixa ao Provedor de Justiça Europeu, nos termos das disposições pertinentes do
Tratado [FUE].»
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Sebenta Prática de DUE II da Comissão de Curso de quarto ano da FDUP – Mariana Cruz e Sílvia Moreira
A solicitou acesso aos documentos constantes de estudos contratados pela Comissão para a
adoção de um Regulamento que proíbe a utilização em alimentos para humanos de um
determinado composto químico, a adotar segundo os termos previstos no artigo 294.º TFUE.
Não recebeu resposta ao seu pedido.
Em 25 de setembro de 2021 foi publicado o referido Regulamento. Este prevê que os EM devem
adotar sanções efetivas e dissuasoras para a violação do regulamento.
Há um prazo de 2 meses e uma dilação de distância de 10 dias, mas entre eles temos de
contabilizar o prazo de 14 dias, nos termos do artigo 45º do ETJUE, porque estamos perante um
ato publicado. Este prazo é contado a partir da data de publicação do regulamento (25 de
setembro) pois este é um dos atos obrigatoriamente publicados.
É verdade que A será o único a quem o regulamento se vai aplicar, mas isso não é suficiente para
que o afete direta e individualmente, é necessário que o regime tenha sido elaborado
considerando as circunstâncias específicas daquele sujeito em causa. Não é pelo facto de só se
aplicar a uma pessoa que aquele regime é individual, porque isso pode simplesmente ter a ver
com a realidade daquele setor económico. Não basta ser único, é necessário que regime esteja
modelado pelas características daquele sujeito, sob pena de não serem individualmente
afetados nestes termos.
Imagine-se que era um ato de natureza regulamentar – aí já não era necessário que o afetasse
individualmente, mas apenas diretamente, e aí já teria legitimidade para recorrer. Contudo, aqui
não era o caso.
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Sebenta Prática de DUE II da Comissão de Curso de quarto ano da FDUP – Mariana Cruz e Sílvia Moreira
Qual o momento relevante para o recurso de anulação para determinar o interesse processual?
O facto de a Comissão, entretanto, ter praticado o ato não é suficiente para poder dar lugar à
extinção da ação por falta de interesse em agir. O momento relevante é o momento de
interposição do recurso de anulação.
E se a Comissão tivesse revogado o ato contra o qual tinha sido interposto um recurso de
anulação? Decaía o pedido de anulação, porque já não faria sentido. Contudo, isto não significa
que o processo em si se extinguisse.
Se o Tribunal de Justiça considera que o ato é inexistente, daí decorrerá que não produzirá efeitos
jurídicos, e nesse sentido, se o Estado não executou esse ato, porventura está numa situação em
que não há incumprimento, porque ele não estará obrigado a executar um ato que não é valido.
Admitindo que é de conhecimento oficioso, o juiz tirará daí consequências, independentemente
de se admitir ou não que o Estado invoque a exceção de ilegalidade.
Após a invasão militar da Rússia na Ucrânia, o Conselho, com base no artigo 29.º do TUE,
adotou uma Decisão com o teor seguinte:
Considerando o seguinte:
(…)
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Sebenta Prática de DUE II da Comissão de Curso de quarto ano da FDUP – Mariana Cruz e Sílvia Moreira
7. A fim de justificar e apoiar a agressão contra a Ucrânia, a Federação da Rússia tem vindo a
desenvolver de forma contínua e concertada ações de propaganda dirigidas à sociedade civil
da União e dos países vizinhos, distorcendo e manipulando gravemente os factos.
9. Esses meios de comunicação social são essenciais e decisivos pelo destaque e apoio que dão
à agressão contra a Ucrânia e à desestabilização dos países vizinhos da Ucrânia.
12. São necessárias novas ações por parte da União para dar execução a determinadas
medidas
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Sebenta Prática de DUE II da Comissão de Curso de quarto ano da FDUP – Mariana Cruz e Sílvia Moreira
(…)
Artigo 4.º - G
«1. É proibido aos operadores difundir ou permitir, facilitar ou de outro modo contribuir para
a radiodifusão de quaisquer conteúdos pelas pessoas coletivas, entidades ou organismos
enumerados no anexo IX, nomeadamente através da sua transmissão ou distribuição por
quaisquer meios como cabo, satélite, IP-TV, fornecedores de serviços Internet, plataformas ou
aplicações de partilha de vídeos na Internet, quer novos, quer pré-instalados.
«ANEXO IX
LISTA DAS PESSOAS COLETIVAS, ENTIDADES OU ORGANISMOS A QUE SE REFERE O ARTIGO 4.o-
G
RT — Russia Today UK
Sputnik
Artigo 5.º
A sociedade por ações Russia Today France interpôs contra o Conselho um recurso de anulação
da referida Decisão, junto do TG, com os seguintes fundamentos:
“a) manifesto erro de apreciação dos factos que estão na base da decisão;
e) desvio de poder, pois “esta decisão, ao contrário do que é dito no respetivo preâmbulo, não
é a proteção de direitos fundamentais, mas, sim, fazer uma guerra económica à Rússia”.”
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Sebenta Prática de DUE II da Comissão de Curso de quarto ano da FDUP – Mariana Cruz e Sílvia Moreira
“i) o recurso deverá ser considerado inadmissível, pois a Russia Today France não é
destinatária da Decisão e são necessárias medidas de execução a nível nacional;
Estamos perante um recurso de anulação e, por isso, teríamos de ver o art. 263º.
Falamos de uma decisão do Conselho, adotada nos termos do art. 29º do TUE – o Tribunal é
competente para apreciar da validade desta decisão? O art. 29º serve o âmbito da PESC e, de
acordo com o art. 24º, a regra geral é a ausência de competência do Tribunal de Justiça, o TJ não
tem jurisdição, logo poderíamos ter uma situação de aparente incompetência do Tribunal.
Contudo, o próprio art. 24º prevê uma exceção que diz respeito à tutela do art. 40º, que divide
as competências entre o TUE e o TFUE, mas fala também de determinadas decisões que afetem
diretamente pessoas coletivas ou individuais e que não necessitem de medidas de execução.
Portanto, o TJ terá competência se este requisito se verificar, remetendo-se para o art. 275º do
TFUE, que volta a prever a competência do Tribunal de Justiça para este tipo de decisões, que
afetem diretamente pessoas singulares ou coletivas. É uma decisão no âmbito da PESC, mas
temos de ver se se cumprem os requisitos do art. 275º, desde logo porque o Conselho disse que
o recurso deverá ser considerado inadmissível, porque a Russia Today não era destinatária da
decisão.
Esta é uma das decisões que não tem destinatário, nem é um ato regulamentar ou legislativo,
pelo que o fundamento para este recurso tem de ser o art. 275º e não o 263º, parte final. Estão
preenchidos estes requisitos? Será esta uma dessas determinadas decisões? A afetação direta
será impedir que estas entidades possam emitir através da radiodifusão – há afetação direta? O
regime jurídico que se pretende instituir (o bloqueio do sinal) está ou não definido pela própria
decisão? Poderemos dizer que o regime está suficientemente determinado aqui? Parece que
sim. Aqui há dimensão de execução operacional, que será cortar o sinal e, por outro lado, há
também a suspensa das licenças de radiodifusão, e aqui já são medidas jurídicas. Temos um ato
jurídico de suspensão dessas licenças, mas não deixa de ser um ato vinculado, não havendo
marfem de apreciação por parte dessas autoridades. De facto, não há necessidade de medidas
de execução que tenham uma dimensão substancial, e não medidas de execução jurídicas,
vinculadas, em que não há uma escolha de alternativas do ponto de vista jurídico, e não vale
para medidas meramente operacionais.
Sendo esta uma decisão no âmbito da PESC, do art. 275º, não temos a preocupação de saber se
é ou não ato regulamentar, porque o regime não está instituído desta forma. De qualquer forma,
se isto não fosse uma decisão da PESC, mas sim uma decisão ou um ato no âmbito do TFUE em
que a questão se teria de equacionar, era fácil de ver a afetação individual, porque estavam
indicadas as entidades.
Quanto aos fundamentos, interessa aqui o art. 263º, porque o art. 275º remete para este artigo:
relativamente ao desvio de poder, temos a alínea e); a violação de Tratados (que inclui aqui a
Carta), está clara nas alíneas c) e d); há violação de formalidades essenciais quando se refere a
fundamentação contraditória e insuficiente; quanto ao manifesto erro de apreciação e factos
que estão na base da decisão, temos uma violação do bloco de normatividade, do direito, porque
a apreciação dos factos é dimensão de interpretação do direito e também de aplicação das
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Sebenta Prática de DUE II da Comissão de Curso de quarto ano da FDUP – Mariana Cruz e Sílvia Moreira
normas, que passa pela interpretação do dispositivo normativo e pela aplicação aos factos, pela
sua qualificação jurídica – por isso, reconduz-se à violação dos tratados e normas aplicáveis.
II
A apreciação desta desconformidade só poderá ser feita através de uma ação por
incumprimento, porque aquela desconformidade será imputável ao Estado e pode comportar
um incumprimento das regras do Direito da União Europeia. A haver a apreciação da validade e
da desconformidade do Decreto Regulamentar com o Direito da União, não é uma competência
que possa ser do TJ do ponto de vista do controlo da validade desse ato, mas pode sim ser objeto
de uma ação por incumprimento em que o objeto é a ação por incumprimento.
Quanto à ação por incumprimento, a Comissão não avança – pode aqui o Estado fazer um recurso
de anulação ou pode interpor um recurso de omissão? Obviamente, não haverá possibilidade de
fazer uso do recurso de anulação; por sua vez, o recurso de omissão pela ausência de ação por
incumprimento não existe, porque esta é uma faculdade discricionária da Comissão Europeia –
tem juízo de oportunidade, não podendo exigir-se que avance para a frente. Contudo, aquele e-
mail em que o funcionário da CE informa a empresa de que não irão avançar para a ação em
incumprimento poderia em si ser um ato impugnável e, desse modo, poderia haver recurso de
anulação desta comunicação? Será este um dos atos impugnáveis nos termos do 263.º do TFUE?
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Sebenta Prática de DUE II da Comissão de Curso de quarto ano da FDUP – Mariana Cruz e Sílvia Moreira
Este ato enquadrar-se-ia aí. Esta comunicação não produz efeitos jurídico nenhuns e, por isso,
não é um ato que se pode considerar produtor de efeitos jurídicos na esfera jurídica de qualquer
entidade e, assim, seria um ato impugnável.
Em suma, a empresa aqui não terá qualquer via contenciosa junto do TJ para procurar acautelar
algum interesse que ela tenha sobre a situação. Poderá ter ou não junto do tribunal nacional
consoante o ordenamento jurídico interno.
A “Ar Fresco”, em 31/03/2022, interpõe um recurso, nos termos do artigo 163.º TFUE, em que
requer a anulação do Regulamento adotado em 10/02/2022 e da missiva recebida em
31/01/2022. Alega que é destinatário deste último ato e direta e individualmente afetado pelo
Regulamento, pois é o único produtor europeu daquele tipo de aparelhos e o regime foi
instituído depois da troca de correspondência.
Temos aqui dois atos: o próprio regulamento e depois a missiva do funcionário em que declara
que entende que os aparelhos que a empresa produz não são herméticos.
Em relação ao regulamento, poderá a Ar Fresco impugná-lo? Será ele um ato impugnável? Este
é um ato passível de ser impugnado.
Questão seguinte é saber se pode ser impugnado por este sujeito – temos de verificar se alguma
das três hipóteses está verificada: não é um ato de que seja destinatário, porque o Regulamento
é um ato de alcance geral e não tem destinatários determinados. Ainda assim, será que este ato,
fruto do seu conteúdo e circunstâncias será ato que afeta direta e individualmente? A troca de
correspondência poderá ser relevante para este efeito. Há afetação direta, pois aquele ato de
per si modifica a situação jurídica, interferindo com direitos e obrigações, com o estatuto jurídico
daquela entidade em causa – poderá admitir-se que sim pois identificam-se aparelhos que
tenham de ser certificados, não necessitando de regulamentação complementar.
Será que há afetação individual? Ele é o único produtor daquele tipo de aparelhos, mas isso é
determinante? Naquele momento não há mais ninguém que seja afetado. Ele é único produtor
na Europa, mas poderá não ser no mundo e se os outros o fizerem também estarão sujeitos a
este regulamento, na medida em que desenvolva atividade no espaço territorial da UE passa,
também a estar abrangido.
Relativamente à troca de correspondência onde se diz que aqueles ares-condicionados não são
herméticos, será que isso poderá ter como consequência considerar que o regulamento foi
modelado, condicionado por aquela realidade em particular, pelo facto deste funcionário da
Comissão declarar que eles seriam não herméticos. Será que a escolha do regime em causa, a
opção legislativa está modelada por uma constatação destas? A troca de contactos ao longo do
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Sebenta Prática de DUE II da Comissão de Curso de quarto ano da FDUP – Mariana Cruz e Sílvia Moreira
procedimento decisório têm sobretudo a ver com decisões nas quais as condições de produção
é determinante do conteúdo da decisão em si (exemplo: medidas anti-dumping – perante a
suspeita de que produtos provindos de países terceiros são introduzidos no mercado europeu a
baixo do custo permite à EU iniciar um processo anti-dumping que vai nivelar o preço daquele
bem com aquilo que será o valor normal do mercado, colocando os restantes produtores em
condições de equiparação; estas medidas são ajustadas a essa realidade, à informação que
aqueles produtores trouxeram e aí vão ser condicionados pela informação e irá afetá-los
diretamente quando colocam no mercado europeu aqueles bens).
Não basta informação genérica, tem de haver informação de elementos específico daquelas
entidades que condicionam objetivamente um regime que venha a ser instituído. Não é pelo
facto de se concluir que aquela empresa produz ares-condicionados de certa forma que o regime
jurídico é determinado, porque aqui houve uma escolha que é legítima do ponto de vista da
política. Só poderíamos pensar que assim não seria se houvesse algum regulamento que nos
permitisse concluir que só aqueles AC pelas suas características iriam determinar aquele regime
jurídico. Ato apesar de parecer geral tinha de ter conteúdo individual. Sendo assim, aqui este
ato não afeta individualmente a empresa.
Aqui não seria um ato de natureza regulamentar (ato secundário) porque vem substituir um
regulamento de base. Caso fosse, bastaria a afetação direta.
Quanto à missiva, será esta um ato impugnável? Não. Poderia pensar-se que era, desde logo, um
ato preparatório, interlocutório, se no decurso de procedimento integrasse o processo decisório,
mas isso nem era certo. Além do mais, dela não resulta qualquer tipo de efeitos jurídicos. Se
dessa missiva houvesse depois uma consequência direta, uma decisão que resultasse dessa
qualificação, isso seria diferente, mas ainda assim seria sempre um ato preparatório e, por isso,
não é um ato passível de impugnação.
O contrato cessou em 24 de janeiro de 2018 e não foi renovado. A Comissão, entretanto, lançou
um concurso internacional para a utilização e desenvolvimento de um programa informático
de tradução a partir do programa anteriormente utilizado.
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Sebenta Prática de DUE II da Comissão de Curso de quarto ano da FDUP – Mariana Cruz e Sílvia Moreira
A “X” invoca que a Comissão divulgou a terceiros, no lançamento desse concurso, know-how e
informação respeitante ao código-fonte que são da titularidade exclusiva da “X” e que a
Comissão não poderia transmitir a terceiros sem autorização, o que configura contrafação, um
facto gerador de responsabilidade extracontratual em todos os EM. Para fundamentar esta
posição invoca a Convenção de Berna sobre a propriedade intelectual, de que são parte todos
os EM, o artigo 339.º TFUE e diretivas da UE.
Com esses fundamentos a “X” intenta uma ação de responsabilidade extracontratual no TG.
Alega que esse facto lhe provocou sérios prejuízos. Em primeiro lugar, a não renovação do
contrato obrigou-a a despedir trabalhadores a quem teve de indemnizar. Em segundo lugar,
os lucros cessantes calculados a partir do valor do contrato que foi celebrado com uma
empresa terceira na sequência do concurso ou, subsidiariamente, o valor anual de uma licença
de utilização. Em terceiro lugar, os prejuízos decorrentes da perda total de valor dos ativos
incorpóreos constituídos pelo código-fonte e pelo know-how, cujo valor assenta no segredo,
violado pela Comissão. Segundo a “X”, tal comprova-se pela sua depreciação bolsista. Em
quarto lugar, invoca danos morais resultantes da existência deste litígio que afetam a sua
apreciação no mercado, seja para clientes, seja para investidores, dada a importância da EU
como cliente.
A Comissão alega que o TG não é competente, pois o pedido da “X” diz respeito à execução
contratual.
Alega ainda que o referido programa informático foi objeto de desenvolvimentos feitos pela
Comissão, pelo que os direitos sobre o programa desenvolvido não poderiam ser exclusivos da
“X”. Dois relatórios de peritos não permitiram concluir que esses desenvolvimentos tivessem
modificado o código-fonte e o know-how a ele associado, mas antes modificações que
decorrem dele.
A Comissão alega que a “X” não apresentou prova da titularidade dos direitos de autor. A “X”
alega que no direito dos EM e na diretiva há uma inversão do ónus da prova a favor da pessoa
que figura na obra. Acresce que no contrato que celebrou com a “X” a Comissão reconheceu
esse direito.
A Comissão afirma que a perda de valor dos ativos referidos se deve, sim, à sua obsolescência
em face de novas soluções surgidas no mercado.
Neste caso, o Tribunal Geral não seria competente se fosse uma questão de responsabilidade
contratual, porque o contrato determinava que quem seria competente era o foro do
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Sebenta Prática de DUE II da Comissão de Curso de quarto ano da FDUP – Mariana Cruz e Sílvia Moreira
De acordo com estas informações, temos uma questão de RE para a qual o Tribunal Geral será
competente.
As questões aqui levantadas são de RE ou não? Além de a violação constituir um ilícito, tem de
ter suficiente caracterização no sentido de corresponder ao que esteja tipificado como uma
violação de direito.
Como é que a Convenção de Berna é relevante? A Convenção de Berna diz que todos os Estados-
Membros são parte – a UE pode não ser parte, mas quando todos os EM são parte, esta torna-
se uma fonte de princípios gerais de Direito comuns aos Estados-Membros pelo facto de ser
convenção de que todos eles são parte, nos termos do artigo 6º do TUE, não sendo necessário
que a UE seja diretamente parte. Para além da convenção, temos tratados, diretivas e princípios
gerais comuns aos Estados-Membros (nomeadamente, fala-se em todos os EM que a utilização
do código-fonte é considerado contrafação).
O dever de indenização também existe de acordo com os princípios gerais comuns aos Estados-
Membros – é isso que vemos no art. 340º, que determina que a responsabilidade extracontratual
da UE é definida de acordo com os princípios gerais comuns aos Estados-Membros também. Nós
não encontramos diretamente no Direito da União os critérios que determinam a
responsabilidade extracontratual da UE – tem por isso de haver um ato lesivo, ilícito, dano e nexo
de causalidade (não tem de haver culpa), sendo que a responsabilidade extracontratual da União
é objetiva, não sendo necessário que haja um juízo de censura, seja por dolo ou negligência. Este
conjunto de elementos decore dos princípios comuns aos EM.
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Sebenta Prática de DUE II da Comissão de Curso de quarto ano da FDUP – Mariana Cruz e Sílvia Moreira
Esta ação tem natureza compensatória – aquilo que ela fundamentalmente se destina a obter
para o autor será a compensação através de uma indemnização, a reparação do dano, que pode
ser pensada no sentido da reconstituição natural (na medida em que isso seja possível), ou por
equivalente (através da indemnização), ou compensação propriamente dita quando se trate de
danos morais.
Podem ser abrangidos aqui danos materiais ou patrimoniais e também danos morais, danos que
sejam emergentes e também danos cessantes (mas aqui com alguma cautela). Relativamente a
lucros cessantes, é necessário que haja uma relação direta entre esses lucros cessantes e o facto
lesivo. Aquilo que a empresa refere relativamente, por exemplo, à desvalorização bolsista, é algo
que não é suficientemente determinado – esta poderá ser algo que decorra deste conflito, mas
não necessariamente, porque pode haver outros fatores presentes, e o Tribunal, sempre que
isso aconteceu, tem defendido sempre no sentido de não os considerar como danos passíveis de
compensação ou indemnização por parte da UE, portanto não abrangidos por esta tutela.
A empresa diz que teve despedir trabalhadores – isto claramente que não decorre das
circunstâncias, aqui nem sequer há nexo de causalidade entre o facto imputado e os danos,
porque a renovação poderia sempre não acontecer. A empresa não poderia ter tutela quanto a
estes encargos pois renovação do contrato podia não ter lugar de qualquer modo. Este pedido
não é imputável à comissão. Quanto à desvalorização bolsista, também não, por falta de relação
direta no sentido de ser imediata e previsível. Quanto a não ter renovação do contrato isto não
era devido e por isso lucros cessantes não poderiam ser abrangidos.
A Comissão invoca que aqueles ativos estariam já obsoletos e, nessa medida, esta pretensão de
compensação por utilização de código fonte calculado no valor da licença já não teria cabimento,
pois se o ativo em si não tem valor tecnológico de utilização, então não haveria licença que
razoavelmente pudesse ser utilizada em relação a esse código fonte.
Provando-se que a Comissão utilizou o código fonte, seria um elemento relevante para calcular
o seu valor saber o valor da licença, só que a Comissão alega que aquele código-fonte está
obsoleto – do ponto de vista processual, está aqui em jogo a prova do valor do dano, a empresa
apresenta um elemento de prova e a Comissão está a fazer contraprova, é neste jogo que o juiz
terá de apreciar. Daqui resulta que não é possível determinar por estes dois meios o valor do
dano em causa, porque se, por um lado, a licença seria um meio para comprovar determinado
valor, por outro lado, se há uma contraprova e esta se fizer no sentido de determinar que o
código-fonte em causa é obsoleto, isto acaba por contrariar a prova apresentada anteriormente,
a empresa não consegue comprovar um valor que aquele uso abusivo contrafação tem.
A Comissão alega que, como o programa foi objeto de desenvolvimentos, o seu valor não era
resultado exclusivo do trabalho da empresa, mas também da própria Comissão, pelo que
respetivo valor teria de ser distribuído. Temos mais uma vez a relação entre prova e contraprova
– a CE vem alegar um facto, dizendo que desenvolveram o código-fonte e contribuíram para esse
valor e, sendo assim, esse valor para efeitos de responsabilidade terá de ser excluindo esse
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Sebenta Prática de DUE II da Comissão de Curso de quarto ano da FDUP – Mariana Cruz e Sílvia Moreira
contributo. Entretanto, os peritos afirmam que esses conhecimentos não são autonomizáveis, e
por isso temos um elemento que vem contrariar a prova feita pela CE.
Quanto à prova de titularidade dos direitos de autor, afirma que há uma inversão do ónus da
prova – se numa obra figura um nome, presume-se até prova em contrário que aquela entidade
é autor. A Comissão estava a por em causa o facto de a empresa poder invocar direitos sobre a
obra, porque não apresentava provas de que era autora – havendo inversão do ónus da prova, a
empresa não tem de apresentar essa prova, mas antes a Comissão tem é de provar que a
empresa não é autora.
Diz-se que a CE, ao celebrar o contrato e através das relações contratuais, terá reconhecido que
a empresa era a titular de direito de autor, logo temos aqui um ato da própria Comissão que
reconhece aquele facto, pondo esse causa a alegação feita por si.
A indemnização não pode ter em conta os custos dos encargos com o despedimentos dos
trabalhadores, não pode também ser calculada com base na depreciação do valor bolsista da
empresa, tem possibilidade ou não de calcular os danos resultantes a partir do valor de uma
licença de utilização do programa informático, mas isto só poderá ser uma base para
indemnização na medida em que não se fala prova que aquele programa já é obsoleto, sob pena
de o valor de licença já não ser adequado. Quando se referem os lucros cessantes calculados a
partir do valor do contrato celebrado com a empresa terceira na sequência do concurso, também
não é adequado, ainda que pudesse ser considerada se se concluísse que o código-fonte foi
determinante para esse mesmo valor.
Pode o Tribunal decretar que a Comissão cesse a transmissão de quaisquer informações sobre o
programa informático? A reparação do dano era uma reconstituição da situação que existiria, e
ela far-se-á por equivalente para os danos que já ocorreram e não podem ser eliminados, mas
também se faz no sentido de impedir a continuação do dano, que é o que sucederá se a Comissão
continuar a transmitir. Se esta transmissão for ilícita, a continuação da transmissão será com
certeza algo que seria a continuação de um ato ilícito e da decorrente responsabilidade. Por isso,
esta injunção também pode ser requerida e decretada pelo Tribunal. O mesmo se diz
relativamente à apreensão e destruição de documentos que contenham essa informação,
também integra a reparação desse dano.
Por fim, quanto à publicação do acórdão, também é possível, na medida em que isto acautela
danos morais que a empresa invoca, fazendo parte das medidas injuntivas que o Tribunal pode
decretar. Além de a indemnização ser para danos patrimoniais ou morais, pode o Tribunal
também decretar medidas injuntivas, seja em forma de ação ou omissão.
II
Em 15/10/2014, a Comissão adotou a Decisão C(2014) 7465 final, relativa a um processo nos
termos do artigo 102.o TFUE, na qual declarou que a “DC” cometeu uma infração única e
continuada do artigo 102.º TFEU (abuso de posição dominante), entre 12 de agosto de 2005 a
31 de dezembro de 2010, e condenou-a ao pagamento de uma coima no valor de 35 000 000
€, pagamento que deve ser efetuado no prazo de 3 meses e que vence juros de mora após esse
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Sebenta Prática de DUE II da Comissão de Curso de quarto ano da FDUP – Mariana Cruz e Sílvia Moreira
prazo à taxa aplicada pelo Banco Central Europeu às suas principais operações de
refinanciamento no primeiro dia do mês em que a presente decisão foi adotada, acrescida de
3,5 pontos percentuais.
Imaginando que foi notificada a 15/10, o recurso doi interposto a tempo. Aqui, foi interposto a
meio do prazo, porque contando dois meses mais dez dias de dilação da distância, colocaria o
fim do prazo no dia 25 de dezembro.
Temos, desde logo, um recurso de anulação. Quando a Comissão responde através do ofício,
elimina-se a possibilidade de haver aí um recurso por omissão. Contudo, aqui a Comissão
Europeia respondeu, ao rejeitar, e por isso aí dessa mesma decisão de rejeição pode interpor
recurso de anulação, que foi o que a DC fez. Aquele ofício constitui uma decisão da Comissão,
produz efeitos jurídicos na esfera do destinatário em causa, e agora ele poderá ser objeto de um
recurso de anulação e não por omissão. Quanto ao prazo, o ofício é de junho e a ação é interposta
em fevereiro, passados seis meses, pelo que o prazo de dois meses não estaria cumprido.
O objeto do recurso de anulação não tem de ser o mesmo objeto do pedido da decisão. O
fundamento para a anulação da decisão não é aspeto referente à decisão em si, mas usa sim a
exceção de ilegalidade. Aqui o recurso de anulação tem como objeto o facto de que aquele ofício
padece de uma invalidade, mas padece de uma invalidade porque se baseia num regulamento
de 2012 que a DC entende que é inválido – o fundamento de invalidade decorre de invalidade
de um regulamento que está na base daquela decisão e é exercido por via da exceção de
ilegalidade, que está enxertada no recurso de anulação porque, se regulamento for inválido, a
decisão do ofício cujo conteúdo é configurado conforme o regulamento será também invalida.
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Sebenta Prática de DUE II da Comissão de Curso de quarto ano da FDUP – Mariana Cruz e Sílvia Moreira
Há aqui ainda uma ação de responsabilidade associada a este mesmo recurso de anulação. É um
pedido de responsabilidade de tipo extracontratual.
Quanto ao lucro que podia ter pedido: o Tribunal admite que possa haver danos emergentes
sobre a forma de lucros cessantes que possam ser ressarcidos, mas tem de haver efetivamente
ali uma suficiente conexão com o facto lesivo que está na base do ressarcimento – a rendibilidade
média dos investimentos efetuados não é um critério admitido, teria de precisar o investimento
e teria de conseguir precisar a rendibilidade que seria expectável num quadro de negócio
normal.
Quanto ao pagamento de juros de mora, o Tribunal admite que, se quantia era devida em 2014
e só foi devolvida em 2019, naquele período de 5 anos os juros de mora serão calculados com
base na taxa de referência do BCE. Assim, o primeiro pedido não era admissível, mas o segundo
pedido era.
O ofício não poderia ser anulado porque já tinha sido ultrapassado o prazo, mas poderia ser
invocada a exceção de ilegalidade. Contudo, ela obriga a que o autor não tenha tido
oportunidade de recorrer, sendo pensada sobretudo para atos dos quais o autor não pode
recorrer, que são atos de natureza geral ou dirigidos a outrem, o que não é o caso do ofício.
Nesse sentido, não podia haver exceção de ilegalidade.
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Sebenta Prática de DUE II da Comissão de Curso de quarto ano da FDUP – Mariana Cruz e Sílvia Moreira
Europeia da Energia Atómica. Esta Decisão foi publicada no JO L, de 31/01/2020. Nos termos
do artigo 1.º desta decisão, o acordo sobre a saída foi aprovado em nome da União e da
Comunidade Europeia da Energia Atómica. O acordo sobre a saída entrou em vigor em 1 de
fevereiro de 2020.
Em 30/3/2020, H., cidadão britânico residente em França, interpôs recurso de anulação, nos
termos do artigo 263º TFUE, da Decisão do Conselho, através de uma petição que entrou na
Secretaria do TJ, através do e-curia.
Se virmos o artigo 51º, prevê-se que essa procuração tem de ser acrescentada ao articulado,
pois é o documento através do qual se confere o mandato. Se não o for, será fixado prazo para
ser acrescentada. Quanto ao prazo, ele é fixado pelo Tribunal, não há qualquer determinação.
Se o documento não for junto, qual a consequência? A extinção da instância. Se for junto, o
processo seguirá o seu curso normal. Sendo este um prazo fixado pelo Tribunal, ele tem uma
especificidade – pode ser prorrogado.
Se quer que seja apreciado antes do mérito da causa (isto acaba por ser um excerto processual
de causa, porque é apresentado requerimento separado, é notificado à outra parte para que o
demandante se pronuncie sobre essa questão, e depois há a decisão do Tribunal, podendo haver
até alegações orais para este efeito). Depois da decisão do Tribunal, se for acolhida a exceção, o
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processo irá extinguir-se, caso contrário o processo seguirá o seu curso para a apreciação do
mérito da causa. Ainda assim, o Tribunal pode decidir não apreciar logo e remeter a questão
para apreciação final, juntamente com mérito da causa.
O Conselho alega que H não tem legitimidade – a legitimidade e o interesse processual acabam
por estar aqui de alguma forma associados. Sendo um particular, para que possa, nos termos do
art. 263º, interpor recurso de anulação da decisão em causa, é necessário que seja destinatário
ou, quando não é destinatário, que esse ato lhe diga direta e individualmente respeito e, se e
tratar de ato regulamentar, que lhe diga diretamente respeito e não necessite de atos
complementares de execução.
O que é significa afetação individual e afetação direta? Poderemos considerar que a decisão é
um ato regulamentar?
Quanto à questão de haver ou não afetação direta no caso, aqui faz sentido a lógica que tribunal
utiliza. Há afetação individual? Não há, e isso permite ao Tribunal excluir a necessidade de aferir
da afetação direta. Mesmo que se associe e se entenda que a decisão e o acordo formem um
ato jurídico unitário, porque produção dos respetivos efeitos só faz sentido se os dois forem
articulados em conjunto, mas são atos que tem um alcance geral, ainda que não sejam atos
legislativos, tendo produção de efeitos jurídicos geral – não há afetação individual.
Poderia haver afetação direta pelo facto de o estatuto de cidadania da UE ser retirado àquelas
pessoas, havendo uma modificação jurídica que advém daí. A questão é que, para se poder
aplicar a última parte do art. 263º §4, é necessário que se pudesse considerar que aqueles atos
são atos regulamentar, e o acordo não é um ato e natureza regulamentar – um ato regulamentar
é um ato de 2º grau, complementar e o acordo equivale, na esfera do Direito Internacional e das
relações internacionais, a um ato legislativo.
Em relação à situação dos cidadãos britânicos, entendeu-se que não se verificava a situação por
eles alegada – a razão nesta matéria terá a ver com o facto de o quadro com base no qual o TJUE
se baseou nos outros acórdãos fosse o Direito Internacional e o facto de o estatuto jurídico e os
interesses em causa derivarem do Direito Internacional e, neste caso em particular, derivarem
do direito interno dos lesados, porque a cidadania da UE que é perdida pelas pessoas britânicas
não é perdida por força direta do acordo e da decisão, mas é perdida indiretamente pelo facto
de o Estado deixar de ser Estado-Membro. Nenhuma disposição do acordo retira o estatuto da
cidadania da UE, este é retirado pelo facto de o Estado deixar de ser Estado-Membro. Por outro
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Sebenta Prática de DUE II da Comissão de Curso de quarto ano da FDUP – Mariana Cruz e Sílvia Moreira
lado, os direitos que o Tribunal reconheceu à Frente Polisário resultavam diretamente do Direito
internacional, em que os atos em causa produziam efeitos diretamente.
Ainda assim, esta decisão causava algum desconforto porque, de qualquer forma, ainda assim
não deixava de ser o próprio Direito Internacional a determinar o seu estatuto, e isto acontecia
no quadro de outros acórdãos, esta lógica repetia-se – nestas matérias estamos longe de ter um
rigor absoluto e o Tribunal é condicionado por razões de natureza vária presentes neste contexto.
A professora admite que os britânicos pudessem ter legitimidade se tivessem usado a mesma
lógica utilizada no acórdão da Frente Polisário.
De acordo com art. 40º n.1, a Comissão, como interveniente privilegiado, pode intervir em
qualquer processo, não tendo de comprovar qualquer interesse. Há um requerimento para
intervenção, onde têm de ser incluídas as razões, tem de ser identificado o processo, etc., ainda
que neste caso, como é um requerente privilegiado, não tem de comprovar essas razões e tem
de indicar que a intervenção é sempre em apoio uma das partes, tem de ser sempre indicando
no requerimento em apoio de que parte é requerida a intervenção.
Sendo que o objeto não pode ser modificado na sua extensão, ainda assim podem ser
apresentados fundamentos novos. O interveniente também pode produzir prova, carregando
prova diferente que ele tenha na sua disposição ou que ele requeira que seja produzida no
processo.
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Sebenta Prática de DUE II da Comissão de Curso de quarto ano da FDUP – Mariana Cruz e Sílvia Moreira
que respeita aos residentes em EM da EU. Quid iuris? Artigo 40.º, § 2 ETJUE; artigo
143.º, n.º 2, al. e) RPTG.
A associação terá de comprovar o seu interesse na causa e no resultado da causa. Em que medida
é que a associação tem aqui efetivamente um interesse? Devemos ver isto em paralelo com
outras situações, nomeadamente quando falamos no recurso de anulação e na possibilidade de
haver um recurso interposto por uma entidade representativa de vários sujeitos – a lógica é a
mesma, isto é, a associação pode intervir na medida em que os seus associados também
pudessem. A associação terá interesse na medida em que seus associados teriam interesse e
podiam eles intervir diretamente, ou indiretamente através da associação.
Nos processos de reenvio, a intervenção de terceiros é regida pelo direito nacional, a lógica do
Tribuna tem sido essa – se no processo principal o pretenso interveniente foi interveniente, o
Tribunal já o pode admitir, mas se não for interveniente a nível nacional então não o admite, faz
depender a intervenção no processo de reenvio numa intervenção prévia no processo nacional.
O debate está em saber se não devia ser admitida a intervenção independentemente da
intervenção a nível nacional, porque a nível nacional há regimes variados nesta área, e a questão
que se coloca pode transcender o Estado. A lógica por detrás desta posição do Tribunal baseia-
se no facto de, como o processo de reenvio se destinar a dar uma resposta para o processo de
um particular, então num ponto de vista formal não será admitido um interveniente que não
aqueles que estejam presentes no processo nacional, para além daqueles que o próprio Tratado
prevê que podem intervir e apresentar observações (Estados e Instituições).
Na medida em que estamos a falar de uma associação de cidadãos, sem interesses autónomos,
esta poderá intervir na exata medida em que seus membros pudessem intervir, servindo aqui de
alguma forma de intermediário; de outro modo não poderia intervir. Aqui seria de admitir a sua
intervenção, tendo em conta que ela representa pessoas que, por sua vez, poderiam ser
intervenientes, tendo em conta os seus interesses na resolução da causa.
Ela pretendia a anulação total – pode fazê-lo? Não, porque isso seria alargar o pedido (H tinha
requerido apenas a anulação parcial).
f) O Conselho alega que esta entidade não tem personalidade jurídica e não deve ser
admitida a sua intervenção. Quid iuris? Direito nacional.
Estas questões relativas à personalidade e à capacidade são regidas pelo direito que rege o
estatuto daquela entidade, que aqui será o direito nacional. Poderá ser Direito Internacional se
for uma entidade constituída nos termos do DI, com capacidade judiciária que resulte do DI.
g) Em 7/4/2020, J., cidadão britânico, interpôs recurso de anulação, nos termos do artigo
263º TFUE, através de uma petição que entrou na Secretaria do TG, através do e-curia,
invocando que a Decisão é um ato regulamentar que o afeta diretamente e não
necessita de medidas de execução. Pronuncie-se sobre esta alegação. Artigo 263º TFUE
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Sebenta Prática de DUE II da Comissão de Curso de quarto ano da FDUP – Mariana Cruz e Sílvia Moreira
h) J. pretende que o seu nome não seja divulgado. Será possível? Artigo 66º RPTG
Não só é possível, como até será obrigatório. Pode requerer-se esta anonimização
i) Sabendo que os dois processos têm idêntico objeto e pedido, que consequência
processual pode ter lugar? Artigo 68º RPTG.
A apensação de processos é um incidente da instância que pode ter lugar a todo tempo. Tanto
pode ser requerida como pode ser determinada oficiosamente e pode ter lugar na fase escrita
como na fase oral (e aí a apensação é para efeitos da audiência de alegações). Pode haver
apensação porque os processos têm o mesmo objeto e natureza, são ambos recursos de
anulação.
j) Poderá a contestação não ser notificada aos Autores? Artigo 105º RPTG
Há, no entanto, circunstâncias que podem justificar que se afaste o contraditório. Uma delas é
a prevista no art. 105º do RPTG e está relacionada com a proteção de interesses públicos, que
dizem respeito à segurança do Estado ou da própria UE. Aqui é o próprio Tribunal que vai
sintetizar e selecionar aquilo que são os elementos necessários e que podem e devem ser dados
à outra parte, não transmitindo o articulado – há várias formas de realizar isto, pode ser um
articulado truncado, com partes obscurecidas, como pode ser, no limite, a não transmissão do
articulado e aí a outra parte não chega a conhecer o articulado em causa, apenas vai conhecer a
informação transmitida pelo Tribunal que lhe permitirá apresentar a sua posição (em
circunstâncias excecionais).
k) Se não tiver sido requerida a condenação da outra parte nas despesas qual é a
consequência? Artigos 133.º e 134.º, n.º 1 RPTG.
A regra é que quem perde paga, mas isso tem de ser requerido. Se não for pedido, cada parte
assume as suas próprias despesas. Mesmo com esse pedido, ainda assim o Tribunal pode
modificar ou mitigar esta responsabilidade, nomeadamente pode imputar à parte vencedora
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Sebenta Prática de DUE II da Comissão de Curso de quarto ano da FDUP – Mariana Cruz e Sílvia Moreira
algumas despesas, por exemplo se fez incorrer outra parte em despesas vexatórias. Os Estados
e Instituições da UE quando são intervenientes suportam as suas próprias despesas, mas não o
fazem quando são partes e ganham, tendo requerido que a outra parte pague.
a) Qual a consequência processual nos processos junto do tribunal nacional? Artigo 23.º,
§ 1 ETJUE; n.º 25 das Recomendações
c) Que requisitos devem preencher os pedidos do tribunal nacional? Artigo 94.º RPTJ; n.ºs
8 a 10, 14 a 20; 21, 23 e 24 e Anexo das Recomendações
Não há nenhum formalismo específico, em regra, mas há um conjunto de indicações que devem
estar preenchidas.
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Sebenta Prática de DUE II da Comissão de Curso de quarto ano da FDUP – Mariana Cruz e Sílvia Moreira
É um ofício dirigido e obviamente terá de ser escrito na língua do processo nacional. Há, no
entanto, um conjunto de indicações que devem estar preenchidas para que o Tribunal se possa
pronunciar – isto não significa que, faltando, haja consequência no sentido de não ser admitido
o reenvio, porque o tribunal nacional pode ser chamado ao TJ para prestar informações que lhe
permitam depois decidir. Também pode o TJ recusar o reenvio se o pedido for formulado em
termos tais que não permitam de todo compreender a questão.
Tem de haver uma indicação sumária das questões de facto, das questões de direito, do direito
europeu considerado relevante e de que modo é relevante e ainda do direito nacional relevante
para o caso, para que TJ possa compreender todo contexto jurídico. Estes elementos deverão ser
indicados de modo sumário, claro, preciso – a extensão do pedido do reenvio é de 10 páginas.
Tem de ser acompanhado também de um resumo até 3 páginas das questões de facto, jurídicas.
As questões propriamente feitas ao Tribunal devem ser autonomizadas, estando presentes no
pedido de modo autonomizado. Tem de acompanhar também a copia dos autos para que o TJ
se possa inteirar do processo. Deve também ser dada informação respeitantes às partes no
processo principal, para elas poderem ser notificadas para apresentar observações.
Em princípio deverão ser apensados no tribunal nacional. Se os processos que suscitam aquelas
questões têm um objeto idêntico e levantam questões idênticas, o tribunal nacional deve
apensá-los a nível nacional antes de fazer o reenvio. Pode acontecer que haja questões idêntica
com objetos idênticos vindos de EM diferentes, e aí não pode haver apensação. Se estivermos
no TJ com dois processos de reenvio em curso com objeto semelhante, o TJ poderá apensá-los
em qualquer momento, e pode fazê-lo a partir das observações das partes, mas fá-lo-á
sobretudo em termos oficiosos. As observações não dão lugar a contraditório, pelo que não é
muito relevante que as partes saibam dos outros processos.
É a língua do processo nacional, que no caso será o polaco. Isso não significa que não possam
ser apresentadas observações em outras línguas, nomeadamente porque há participantes com
estatuto privilegiado, como é o caso dos EM – estes apresentam observações na sua própria
língua e na fase oral têm também o direito de intervir na sua própria língua.
Quais são as consequências da determinação da língua do processo? Ela vale desde logo para as
Instituições, porque essas intervêm e litigam na língua do processo. Há um conjunto alargado de
exceções, mas a regra geral será que a língua do processo é a do tribunal nacional.
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Sebenta Prática de DUE II da Comissão de Curso de quarto ano da FDUP – Mariana Cruz e Sílvia Moreira
Podem fazer as tais observações e as condições em que as podem fazer estão previstas nas
disposições referidas. O prazo para apresentar observações é 2 meses + 10 dias contados a partir
da notificação do Tribunal.
g) Pode ser aplicada a tramitação urgente? Artigo 23.º - A ETJUE; artigo 107.º RPTJ.
A matéria de segurança e justiça está prevista no TFUE a partir do art. 67º. Só se aplica a
tramitação urgente quando em causa estejam disposições ou atos de direito derivado cuja base
jurídica sejam disposições integradas neste artigo, caso contrario não se pode aplicar tramitação
urgente (contudo, pode ser aplicada tramitação acelerada)
h) Vários juízes polacos pretendem intervir no processo de reenvio. Poderá ser admitida
a sua intervenção? Artigo 40.º, § 2 ETJUE (interpretação de “causas submetidas ao TJ”).
O art. 40º rege a intervenção e, neste quadro, faz referência a entidades que podem intervir nas
causas submetidas ao TJ. Isto remete, numa interpretação restritiva, apenas para as ações e
recursos, porque só essas é que são causas submetidas ao TJ, já que no reenvio a causa está
submetida ao tribunal nacional (sendo que intervenção do TJ é no sentido de colaboração com
juiz nacional). Neste sentido, a interpretação restritiva que é feita é que nas ações e recursos há
intervenção, nos reenvios só há participação dos intervenientes quando sejam intervenientes no
processo nacional, e aí são equiparados às partes, podendo apresentar igualmente observações.
Há controvérsia em torno disto, porque há um entendimento de que deveria haver um
alargamento da intervenção também no reenvio, independentemente de se ser ou não
interveniente a nível nacional, porque as questões podem ter uma transcendência maior.
j) Considere que as questões prejudiciais são idênticas a outras que já foram objeto de
pronúncia pelo TJ. Que consequências podem ter lugar? Artigo 20.º, § 4 ETJUE; Artigo
99.º RPTJ; Artigo 31.º das Recomendações.
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Sebenta Prática de DUE II da Comissão de Curso de quarto ano da FDUP – Mariana Cruz e Sílvia Moreira
O que poderia ter acontecido era o tribunal nacional de cuja decisão não houvesse recurso a
nível nacional poder utilizar a teoria do ato aclarado e dispensar o reenvio, que seria obrigatório
nos termos do art. 267º. Contudo, aqui essa fase já passou e a consequência é a deliberação do
Tribunal poder ser feita por despacho fundamentado a qualquer momento do processo. Isso
significa que podem nem ter lugar as observações pelas partes. Se o Tribunal puder concluir que
simplesmente das questões colocadas, da exposição de factos e do Direito colocados pelo
tribunal nacional, se só pelo pedido de reenvio for capaz de dar essa resposta, poderá fazê-lo
desde logo, sem sequer haver possibilidade de apresentar observações. Ou então, pode ter lugar
depois de apresentadas essas observações, e isso significa que não haverá desde logo fase oral.
Este despacho é irrecorrível.
O Tribunal (ou o Presidente ou uma secção) pode decidir por despacho fundamentado sem que
o curso processual normal prossiga – portanto, se, olhando para o caso, se conclui que é uma
questão completamente idêntica a um caso já decidido, então vai logo al adotar a decisão através
de despacho fundamentado, remetendo o tribunal nacional para a tal decisão anterior que é
idêntica. O tribunal nacional vai ter de olhar para essa jurisprudência e articulá-la com o
despacho fundamentado.
Isto pode também acontecer a posteriori, após as observações das partes terem sido
apresentadas, dizendo que não é preciso fase oral pois o tribunal pode não estar suficientemente
informado no momento o reenvio e depois, com as posições defendidas e informações prestadas
nas observações, pode chegar ao final deste período e concluir que não é necessária fase oral.
k) O processo foi remetido a uma secção de que faz parte um juiz polaco. Uma das partes
no processo nacional entende que “esse juiz não tem, por esse facto, condições para
julgar”; a Polónia acrescenta que esse magistrado deu um parecer a uma associação
de magistrados contra a reforma judiciária polaca, pelo que “há uma fundada suspeita
sobre a sua isenção”. Artigos 2.º, 18.º e 17.º ETJUE; artigo 31.º RPTJ
A primeira alegação feita tem algum fundamento para que possa levar ao afastamento do juiz?
O art. 18º do ETJUE aplica-se aqui com as devidas adaptações, e a nacionalidade do juiz não
pode ser fundamento para o seu afastamento e para que não participe na tomada de decisões.
Já a segunda alegação, em que o juiz deu um parecer, pronunciando-se num sentido sobre a
questão controversa, aqui já estamos perante uma situação que justifique que ele não tome
parte da decisão porque já sabemos que há orientação que ele já manifestação sobre questões
em apreciação.
A regra é que há audiência de alegações e, portanto, há uma fase escrita e uma fase oral. Pode
não haver fase de alegações se o Tribunal entender que está suficientemente esclarecido, mas
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Sebenta Prática de DUE II da Comissão de Curso de quarto ano da FDUP – Mariana Cruz e Sílvia Moreira
as partes podem solicitar que ela tenha lugar. Ainda assim, o Tribunal pode não aceder a esse
pedido e manter o entendimento de que não é necessária fase oral, audiência de alegações.
Se o Tribunal entender que não é necessária a audiência, mas uma das partes ou interessados,
que será o caso do Estado, que não participou na fase escrita, requer que haja audiência de
alegações, aí o Tribunal tem de aceitar para permitir que os interessados possam trazer ao
Tribunal a sua posição, os seus entendimentos.
Esta é uma situação especifica do reenvio. Isto não é aplicável aos recursos e às ações, porque
nas ações há sempre fase escrita, a não ser em regimes especiais em que há incidentes da
instância como intervenção de terceiros ou admissibilidade, etc.
m) Além da violação do artigo 47.º, haverá valores da EU que estão em risco na situação
descrita? Artigo 2.º TUE.
Isto leva-nos para a análise dos vários acórdãos que fizemos relativamente à Polónia e que tem
a ver com a tutela do Estado de Direito.
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Sebenta Prática de DUE II da Comissão de Curso de quarto ano da FDUP – Mariana Cruz e Sílvia Moreira
Em 20.12.2019, foi adotada pela Polónia a Lei que Altera a Lei Orgânica dos Tribunais Comuns,
a Lei do Supremo Tribunal e alguns outros atos), a seguir «Lei de Alteração». Esta lei modificou
a Lei dos Tribunais Comuns, a Lei do Supremo Tribunal e a Lei dos Tribunais Administrativos e
por força do seu artigo 8.º os tribunais nacionais estão proibidos de fiscalizar o cumprimento
dos requisitos da União Europeia relativos a um tribunal independente e imparcial,
previamente estabelecido por lei, sob pena de infração disciplinar e penal. O seu artigo 10.º
atribuiu à «Secção de Fiscalização Extraordinária e dos Assuntos Públicos» do Supremo
Tribunal a competência exclusiva para examinar as acusações e as questões jurídicas
relacionadas com a falta de independência de um órgão jurisdicional ou de um juiz.
A Comissão Europeia considera que a Lei de Alteração viola o direito da União e depois de uma
troca de informações informal envia, em 29.06.2020, uma notificação para cumprir em que
refere que ao adotar a Lei de Alteração a Polónia não cumpre as obrigações impostas pelos
artigos 19.º, n.º 1, § 2 do TUE, conjugado com o artigo 47.º da CDF. O governo polaco
respondeu por carta de 29 de junho de 2020 na qual contestava qualquer violação do direito
da União. Entretanto, os serviços da Comissão tiveram conhecimento de que eram já
numerosos os processos disciplinares e até penais em curso na Secção de Fiscalização
Extraordinária e dos Assuntos Públicos.
n) Poderão esses processos ser integrados na ação por incumprimento? Notificação para
cumprir complementar.
Aqui teremos de integrá-los numa notificação complementar e não num parecer fundamentado
que precise algo já referido antes. Quando falamos do que diz respeito a um conjunto de
processo, estamos a falar de novos factos, que eventualmente têm ainda uma conexão com os
anteriores, mas são factos distintos porque efetivamente aqui já terá de haver uma notificação
complementar, para que eles possam depois ser integrados no parecer fundamentado. Ainda
que estando relacionados, eles não são simplesmente um desenvolvimento da medida nacional
anteriormente indicada. É necessária a notificação complementar porque o Estado já respondeu
à outra notificação, já se pronunciou, mas é legítimo pensar que em relação àqueles factos, o
Estado tem necessidade de conhecer exatamente quais são esses factos e terá com certeza algo
a dizer (porque se poderá concluir que, ainda assim, aqueles processos não se baseiam naquela
disposição, por exemplo). Pode haver um conjunto de elementos de facto e de Direito que devem
ser trazidos ao procedimento porque podem ser relevantes para que se conclua que não
correspondem a um comportamento inadimplente. O Estado deve ter a oportunidade de
conhecer esses novos factos imputados e de poder responder à notifi5cação complementar –
isto significa que ao Estado terá de ser dado um novo prazo para poder apresentar suas
observações antes do Parecer fundamentado.
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Sebenta Prática de DUE II da Comissão de Curso de quarto ano da FDUP – Mariana Cruz e Sílvia Moreira
É o Tribunal de Justiça. Esta é uma das matérias que não encontramos no art. 256º n.1 que refere
a competência do TG.
A regra é que a língua é indicada pelo demandante. Quando o demandado é um Estado, a língua
é a língua oficial do Estado. Se o Estado tiver mais do que 1 língua oficial, o demandante pode
escolher qual delas utilizar.
Através do incidente de intervenção de terceiros. Os Estados são privilegiados e, por isso, não
tem de comprovar nenhum interesse. A ASJP é um interveniente não privilegiados e por isso só
poderá intervir se tiver interesse no resultado da causa. Contudo, trata-se de uma ação entre
um Estado e uma Instituição, e isso significa que não pode haver intervenção de particulares,
sejam pessoas individuais ou coletivas – art. 40º §2 ETJUE. Logo, a ASJP não pode intervir.
Se o pedido de intervenção for admitido, o interveniente tem 1 mês após a notificação dessa
admissão para vir apresentar um articulado de intervenção, em que vai apresentar a sua posição
(no pedido de intervenção, ele terá logo de indicar em apoio de que parte quer intervir). No
articulado de intervenção, tem de assumir sua posição, podendo apresentar fundamentos,
argumentos próprios, provas. O seu apoio é sempre sobre o pedido da parte que apoia, não
podendo ir além do pedido da parte que ela apoia. Pode ficar aquém, apoiando o pedido apenas
parcialmente, mas não pode é vir apresentar um pedido novo ou diferente daquele que a parte
apresentou.
Se porventura o processo se extinguir (por exemplo por desistência da parte que é apoiada pelo
interveniente, por resolução amigável da parte), aquela intervenção decai, não procede
também, pois é acessória e dependente do sucesso da parte que apoia.
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Sebenta Prática de DUE II da Comissão de Curso de quarto ano da FDUP – Mariana Cruz e Sílvia Moreira
Aqui é pedida a suspensão da execução da lei nacional. Estamos a falar das medidas provisórias
do art. 279º – o art. 178º é também uma medida provisória, mas é só respeitante a atos da
União, porque os atos da União que vigoram produzem os seus efeitos até que sejam anulados.
Uma das medidas provisória que podem ser solicitadas ao Tribunal, de acordo com o art. 279º,
é a suspensão da execução do ato da Comissão ou de outra instituição da União e a base jurídica
para isso é o art. 278º em articulação com o art. 299º. Quando estejamos a falar da suspensão
de atos nacionais, esta é uma medida de tipo injuntivo, porque a suspensão de um ato da União
produz efeitos pela simples decisão do Tribunal. Se for pedida a suspensão de uma decisão da
Comissão, se o Tribunal decretar essa medida, com a notificação deste despacho, aquela medida
deixa de produzir efeitos temporariamente até que haja decisão final ou que a questão seja
levantada por força do próprio ato do Tribunal.
Quando falamos deste pedido em questão, em que o Tribunal faz uma injunção ao Estado para
que ele suspenda a lei nacional, isto é uma simples injunção, não acontecendo
automaticamente. Se o Estado cumprir, o efeito é o mesmo, mas o Estado pode não cumprir e
violar o DUE.
Aqui pede-se uma segunda medida provisória: uma sanção pecuniária compulsória, que o
Tribunal decretará por cada dia que a Polonia não cumprir a outra medida.
r) Quando termina o prazo para a apresentação da contestação? Artigo 124.º, n.º 1 RPTJ;
artigo 51.º RPTJ; contagem: artigo 49.º, als. a), b) e d) e n.º 2 RPTJ.
2 meses + dilação de distância de 10 dias, sendo que não conta o dia a quo (art. 49º RPTJ). O
prazo de 2 meses acaba a 15 de junho; mais 10 dias de dilação distância, o prazo termina às
23:59 de 25 de junho
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Sebenta Prática de DUE II da Comissão de Curso de quarto ano da FDUP – Mariana Cruz e Sílvia Moreira
Será idêntico para responder ao pedido de medidas provisórias? Artigo 160.º, n.º 4
RPTJ; artigo 52.º RPTJ.
O prazo é fixado pelo Tribunal e não será tão extenso, pois isso não se justifica. Não há qualquer
determinação nos normativos sobre o prazo, por isso ele será quele que o Tribunal fixar, a que
acresce sempre o prazo de dilação de distância. Excecionalmente, pode ser prorrogado, se
houver razões fundadas para isso.
Pode agora a Comissão trazer estes novos fundamentos contra o Estado? Não podem trazer
novos fundamentos na petição, a não ser que sejam novos fundamento que fossem decorrentes
simplesmente de uma explicitação ou desenvolvimento de um fundamento já anteriormente
expresso.
A tramitação acelerada está prevista em relação a qualquer tipo de processo quando haja razoes
que, de alguma forma, justifiquem uma decisão mais breve. Neste caso, a tramitação acelerada
não foi deferida.
O que é que sucede na tramitação celebrada que exige cautela e que, porventura, numa situação
como esta pode levar à recusa? Com a tramitação acelerada há a redução dos prazos para
apresentação dos articulados, que pode ir até 15 dias – o Tribunal passa a fixar o prazo para
apresentar articulados, que podem ser apenas prazos de 15 dias.
Isto pode pôr em causa a tutela e jurisdição efetiva, o direito à defesa, porque a tramitação
acelerada, visto que suprime porventura articulados e reduz os prazos processuais, coloca as
partes numa situação mais precária para poderem de modo refletido apresentar e organizar a
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Sebenta Prática de DUE II da Comissão de Curso de quarto ano da FDUP – Mariana Cruz e Sílvia Moreira
sua defesa. Quando em causa estão questão desta natureza, relacionadas com princípios
fundamentais, a falta deste tempo, a ausência do curso normal do processo pode ser negativa.
Neste caso, o Tribunal entendeu ser inadequado conceder a tramitação acelerada, até porque
aquilo que poderiam ser os perigos relativamente à situação de um atraso no processo,
poderiam ser mitigados pela via da suspensão da execução dos atos nacionais, o que significa
que aquelas situações que podiam eventualmente consolidar-se e que produzem efeitos
negativos para as partes podem ser prevenidas através da adoção de medidas provisórias.
Ainda assim, poderia haver razões para a tramitação acelerada – a ideia de dissipar dúvidas sobre
princípios constitucionais.
a) Indique os requisitos que deve preencher o ato de reenvio. Artigo 94.º RPTJ; n.ºs 14 a
20 e Anexo das Recomendações.
O tribunal nacional aqui deve apresentar a sua orientação ao TJ, indicando as partes, as questões
de facto, o direito nacional relevante e apresentando ainda questões prejudiciais
autonomizadas. Deve ter uma dimensão máxima de 10 páginas e uma súmula de 3 páginas que
servirá para publicação. Também será enviada cópia dos autos.
A língua do tribunal nacional, que no caso é neerlandês. Pode porventura um dos participantes
requerer que seja utilizada outra língua se estes não entenderem neerlandês.
d) A Polónia pretende “declarar ao Tribunal que os MDE devem ser executados”. Poderá
fazê-lo? Em caso afirmativo, está obrigada a utilizar a língua do processo? Artigo 23.º,
§ 1 e 2; artigo 96.º RPTJ. Artigo 38.º, n.º 4 RPTJ.
Depois da entrada do pedido de reenvio no TJ há uma notificação a todos os EM, que lhes
permite apresentar observações no prazo de 2 meses. Portanto, a Polónia é um dos interessados
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do art. 23º ETJUE e, nos termos do art. 96º, poderá apresentar essas observações. Está obrigado
a utilizar a língua do processo? Não, os Estados podem sempre apresentar suas observações na
sua própria língua e o Tribunal tratará da tradução.
e) Após a receção do pedido que trâmites processuais ocorrem? Artigo 20.º ETJUE; artigo
23.º. § 1 e 2 ETJUE; 98.º RPTJ; artigo 57.º RPTJ; artigo 59.º RPTJ; artigos 61.º e 62.º RPTJ;
artigos 63.º a 75.º RPTJ (eventual); artigo 76.º RPTJ (em especial os n.ºs 2 e 3); artigo
82.º RPTJ; artigo 86.º RPTJ; artigo 99.º RPTJ (n.º 31 das Recomendações).
Notificação aos EM, a todas as partes do processo e às instituições. Depois temos uma situação
em que podem ser apresentadas as observações; findas as observações, termina a fase escrita
do processo e depois pode ou não ter lugar fase oral, consoante o Tribunal entender que as
questões estão suficientemente esclarecidas ou não – caso tenha lugar a fase oral, nela se
incluem as alegações.
Finda a fase escrita, temos medidas de organização do processo – cabe ao juiz relator propor no
seu relatório as medidas de organização do processo e pode ou não haver lugar a instrução, para
se produzir a prova (habitualmente, nos reenvios esta fase não existe).
Se um dos interessados do art. 23º não participou com participações escritas, poderá apresentar
um pedido para apresentar alegações orais. Encerrada a audiência de alegações, depois se
houver lugar a conclusões do AG, há a apresentação pública das conclusões do AG. Depois temos
a decisão por despacho ou acórdão do Tribunal.
A representação em princípio é obrigatória, mas pode não ter lugar no caso do reenvio quando
nos processos nacionais a representação daquela situação não seja obrigatória. Se ele puder
estar em juízo no processo nacional sem necessitar de constituir advogado, poderá também
apresentar observações escritas e assiná-las ele próprio sem necessidade de mandatar.
Não – retiramos isso porque todos apresentam observações e não há referência que em relação
a elas haja direitos de reposta, apesar de não haver nenhuma disposição que o preveja. Este não
é um processo de partes, um processo contraditório e por isso não pode haver resposta às
observações.
h) X e Y estão detidos, pelo que o juiz nacional pretende que o TJ que se pronuncie com a
máxima brevidade. Haverá alguma via processual para tal? Em caso afirmativo que
consequências processuais decorrem? Artigo 23.º-A ETJUE; artigos 107.º a 113.º RPTJ.
Pode ser submetida a tramitação processual urgente, porque é um caso integrado no espaço de
segurança e justiça e estão preenchidas as condições previstas para este efeito (é o caso mais
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Sebenta Prática de DUE II da Comissão de Curso de quarto ano da FDUP – Mariana Cruz e Sílvia Moreira
exemplar destas condições) – estamos perante pessoas que estão detidas e impõe-se que a
decisão seja tomada no espaço de tempo mais breve possível.
Uma das consequências que disto decorre é a possibilidade de os prazos serem reduzidos, mas
pode ir ao ponto de se limitar o número de partes autorizadas a apresentar observações escritas
e omitir a apresentação de observações (podendo haver omissão completa da fase escrita). O
magistrado irá marcar imediatamente, logo que possível, a data da audiência, da fase oral, haja
ou não observações escritas. O tribunal nacional deve colaborar com o Tribunal, dando logo a
indicação da orientação da decisão que o TJ deve dar em relação às questões.
i) A questão formulada é similar a outras questões já respondidas pelo TJ. Que relevo
terá esta hipótese? Artigo 99.º RPTJ.
O tribunal pode responder em qualquer momento por despacho fundamentado. Pode até nem
haver lugar a observações – se pensarmos que estamos numa situação de tramitação urgente,
fará todo o sentido haver uma supressão de fase escrita. Neste caso, se a situação é igual, até
pode ser suprimida a fase oral, porque o Tribunal da Secção pode decidir através de despacho
fundamentado logo com a apresentação do pedido do reenvio.
II
No mesmo dia 9/5/2011, considerando que algumas medidas se integram no âmbito do TFUE,
foi adotado o Regulamento (UE) 442/2011. Tem um conteúdo semelhante à Decisão, incluindo
o anexo. Regularmente, o Conselho revê regularmente esse elenco através de regulamentos
de execução. Esses atos têm sido objeto de sucessivos atos modificativos e de execução.
O nome de H.G. foi incluído no anexo da Decisão de execução (PESC) 2017/1245, publicada em
25/7/2017. Foi igualmente incluído no Regulamento de execução (UE) 2017/1241, publicado
na mesma data.
Em 05/9/2017, H.G. interpôs recurso contra o Conselho em que solicita a anulação dos dois
atos na parte que lhe diz respeito.
a) Que documentos devem ser juntos com a petição? Artigo 21.º ETJUE; artigo 78.º. n.ºs
1, 4 e 5 RPTG; artigo 51.º, n.ºs 2 e 3 RPTG.
Deve juntar cópia dos atos objeto de recurso – a cópia quer da decisão quer do regulamento
objeto de recurso. Terá de juntar a procuração que confere mandato ao representante. Se fosse
uma pessoa coletiva, teria de entregar ainda o documento que comprovasse a sua respetiva
existência e que diga quem pode vinculá-la. Se não forem entregues, o processo poderá ser
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objeto de regularização num convite feito pelo Secretário num prazo definido. Se não forem
regularizados, pode haver lugar a inadmissibilidade de petição e dar-se extinção da instância.
b) A petição tem 100 páginas. Qual a consequência? N.ºs 105 e 109 das Disposições
práticas de execução do RPTG.
Aqui, como estamos perante o TG, podemos ter no máximo 50 páginas. Nas disposições práticas
de execução do regulamento, estão previstas as consequências: se exceder em 40%, pode ser
obrigatoriamente regularizada, ou pode não ser obrigatória a regularização, e aí o Tribunal
decide se a impõe ou não.
c) H.G. pretende que o Tribunal suspenda de imediato a eficácia dos respetivos atos em
relação à sua pessoa. Quid iuris? Artigo 278.º e 299.º TFUE; artigo 156.º, n.ºs 1, 4 e 5 e
ss RPTG.
Temos uma medida provisória – o fundamento normativo de base é o art. 278º do TFUE e as
condições a preencher são idênticas: boa aparência do direito; periculum in mora; ponderação
de interesses.
Estamos aqui num processo do TG e por isso pode haver lugar a nomeação de um Advogado-
Geral, isto é, que um dos juízes seja nomeado para desempenhar as funções que desempenha
um AG no TJ – apresentar uma conclusões imparciais em que se pronuncia sobre o caso questões
de facto e de direito), apresentando depois uma posição, de modo a ajudar o Tribunal a
compreender melhor o caso e as consequências ou o alcance das questões.
Estamos a falar de um prazo de 2 meses com 10 dias de dilação de distância – terminaria dia 15
de dezembro. Se fosse num feriado, terminava no dia a seguir.
Deverá apresentar um requerimento autónomo, e isto é um incidente que vai dar lugar a um
excerto processual prévio. Quando isto acontece, vai haver uma notificação à outra parte,
seguida de uma resposta que não é replica, sendo sim uma resposta especificamente àquele
articulado. A diferença é que é um processo que não tem prazos definidos, o prazo é fixado pelo
Tribunal. Pode ter lugar ainda uma fase oral específica para este efeito, se o Tribunal assim o
entender, apenas para questão de apreciação da questão da inadmissibilidade. Tudo isto é
definido pelo Tribunal.
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Sebenta Prática de DUE II da Comissão de Curso de quarto ano da FDUP – Mariana Cruz e Sílvia Moreira
Em relação à decisão, esta é uma decisão da PESC e não tem destinatários. O TJ tem competência
de acordo com o art. 275º TFUE. A decisão da PESC não tem destinatários e, assim seno, pode
ser objeto de recurso de anulação na medida em que o art. 275º prevê que se o ato previr
medidas restritivas sobre pessoas singulares que o afetem diretamente, essas pessoas singulares
poderão impugnar esse mesmo ato, que é o que acontece aqui.
Esta modificação tem lugar depois de apresentada a petição e o Autor pretende na réplica
acrescentar ao pedido anterior esta modificação, para que o recurso de anulação também
abranja esta modificação.
Há uma alteração superveniente e aqui sim poderá haver uma modificação parcial do pedido
(modificação por exemplo de diretiva). Nesta circunstância, tendo havido esta modificação já
depois da petição, a réplica pode contes estes elementos, pode introduzi-los, porque eles são
elementos de direito supervenientes, que só ocorreram após a apresentação da petição – são
supervenientes e por isso a parte pode vir a introduzi-los aqui. A própria utilidade da lide
depende da inclusão destes dois atos. A réplica aqui fará todo sentido.
As provas devem ser apresentadas imediatamente nos articulados iniciais. Quando a parte
invoca os factos na petição, tem imediatamente de apresentar as provas, indicar as testemunhas
que irão ser elementos de prova para esses factos. Assim, em princípio não poderá indicar as
testemunhas neste momento, só o poderá fazer se houver razão justificada para o atraso, por
exemplo, o facto de aquelas pessoas só terem tido conhecimento daquele facto em momento
posterior e não havia razões objetivas para conhecer isso antes. Tirando estes casos, toda a prova
tem de ser produzida nos articulados iniciais.
Poderá ser ouvido por carta rogatória enviada para o Ministro de Justiça, que a remete para a
autoridade judiciária, que irá ouvir essas testemunhas. O TJ elabora as questões e o juiz nacional
interroga testemunha, remetendo depois para TJ o resultado.
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Nunca é obrigatória, portanto o Tribunal pode oficiosamente decidir que não tem lugar esta
fase, se entender que dispõe de todos elementos de facto e de direito, sem que haja necessidade
de haver audiência de alegações. Obviamente que as partes podem requerer que haja fase oral,
mas ainda que o requeiram, o Tribunal não é obrigado a aceder ao pedido, mas terá de
fundamentar essa recusa.
Poderá ter lugar à porta fechada? Artigo 31.º ETJUE; artigo 109.º RPTG .
O princípio é o da publicidade, mas poderão haver razões que justifiquem que tenha lugar à
porta fechada.
j) O governo da Síria pretende intervir em apoio de H.G. Poderá fazê-lo? Artigo 40.º, § 2
ETJUE; artigos 142.º a 145.º RPTG.
Aqui temos uma intervenção de terceiro. Poderíamos fazer um paralelo com aquilo que vimos
a propósito do recurso e das pessoas coletivas – entre as pessoas coletivas encontram-se pessoas
coletivas públicas, sejam infranacionais ou entidades sujeitos de Direito Internacional, como é o
caso de um Estado. Estas entidades sujeitos de DI integram-se na categoria dos intervenientes
não privilegiados e, por isso, temos uma pessoa coletiva pública de DI e ela tem comprovar o
interesse na causa, obedecendo às mesmas condições que se impõe para pessoas coletivas
privadas ou indivíduos.
«1. No decurso dos dois meses seguintes ao final de cada trimestre, os Estados‑Membros
beneficiários informarão a Comissão, fazendo referência a todas as comunicações
anteriormente feitas em aplicação do disposto no artigo 3°, dos processos instaurados na
sequência das irregularidades comunicadas, bem como das alterações significativas
verificadas nesses processos […]
2. Sempre que um Estado‑Membro beneficiário considere que não se pode efetuar ou esperar
a recuperação de um montante informará a Comissão, numa comunicação especial, do
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montante não recuperado e das razões pelas quais esse montante deve ficar, na sua opinião,
a cargo da Comunidade ou do Estado‑Membro […]»
«Artigo 1°
1. A contribuição máxima de 7 778 535 euros atribuída a título do Fundo ao projeto n.°
2015/10/61/017 pela Decisão C (2015) 3281 de 18.12.2015 é suprimida devido às
irregularidades constatadas no exame do projeto em questão.
2. Um montante indevido de 6 222 828 euros será recuperado por reembolso. As modalidades
do reembolso serão precisadas numa nota de débito que será endereçada ao Estado-Membro
pelo gestor. Será libertado um saldo de autorização de 1 555 707 euros.
Artigo 2°
Portugal toma todas as medidas adequadas para informar o beneficiário final afetado pela
presente decisão.
Artigo 3°
Por ofício recebido pelo requerente em 25.09.2022, a Gestora nacional para o Fundo
notificou-lhe a decisão, esclarecendo que devia proceder, de acordo com a mesma, ao
reembolso integral da contribuição do Fundo, no montante equivalente às quantias já pagas,
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ou seja, de 6 222 828 EUR, no prazo de 30 dias. No direito português, este ato é considerado
como meramente declarativo e é insuscetível de recurso judicial.
Obviamente não preenche o requisito – isto não é a afetação que permita considera que a sua
situação jurídica seja afetada pela decisão. Não estão preenchidos os requisitos que permitem a
intervenção de terceiros.
Ninguém põe em questão que a Câmara fosse individualmente afetada, pois afetava
individualmente, visto que os fundos eram alocados para um projeto cuja execução era
responsabilidade da Câmara de Gondomar.
A questão surge em torno da afetação direta: a Câmara diz que é diretamente afetada porque o
Governo português na verdade limitou-se a ordenar aquilo que a decisão previa, o reembolso
dos fundos. Além do mais, esse ato não é passível de recurso, portanto a Câmara afirma que não
tem possibilidade de impugnar esse ato – levanta-se a questão da tutela jurisdicional efetiva, do
direito à defesa por parte da Câmara.
Por outro lado, a Comissão diz que não, porque o regulamento estabelece sim que a
responsabilidade final é do Estado e a decisão não determinava que o Estado tinha de obrigar a
Câmara a devolver, o Estado português tinha, de acordo com o entendimento da Comissão,
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alguma margem de apreciação sobre o modo como aquela recuperação dos fundos em causa
teria lugar e que não teria necessariamente de passar pelo reembolso.
Se é assim, não há uma afetação direta, porque a decisão nem sequer nomeia a Câmara de
Gondomar. Esta é uma decisão dirigida a outrem e por isso teria de afetar direta e
individualmente a Câmara de Gondomar, o que a Comissão nega – a Câmara é sim obrigada pelo
Estado nas condições que este determina, sendo que a decisão não determina que o Estado
obrigue ao reembolso. Esta decisão e o regulamento, apesar de tudo, dão uma indicação de que
o Estado tem obrigação de obter essa recuperação, o que torna esta decisão do Tribunal
duvidosa. A Comissão considerou que não havia afetação direta, atendendo-se muito a um
entendimento quase literal. O Tribunal veio entender que o recurso era inadmissível porque não
havia afetação direta.
g) Poderá a decisão sobre a suspensão da execução ser decidida por uma formação de
juiz singular? Justifique.
Artigo 14.º, n.º 3 e 29.º, n.º 1, al. b) e n.º 3 RPTG
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