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Aula prática de dia 20-05-22 de Processo Penal (Ana Pais)

Alteração dos factos e alteração jurídica

Vinculação temática do tribunal – definição de um objeto de um processo,


primeiramente definido pela acusação, mas pode resultar do despacho de pronuncia nos casos
em que há instrução.
O objeto do processo vai vincular o tribunal, vai vincular os factos submetidos à sua
apreciação.
Princípio da investigação – o nosso juiz tem este poder dever de investigação limitado
ao objeto do processo (limite que existe ao princípio da investigação). À partida, o tribunal
não pode conhecer factos fora do objeto do processo.
Há factos novos ou os factos são os mesmos e o tribunal é que tem uma diferente
posição jurídica sobre eles?

Guião:

1- É uma alteração de factos ou uma alteração da qualificação jurídica dos factos? À


partida, o juiz, com base nos mesmos factos, pode reconduzir aquele caso a uma
outra qualificação jurídica, ele pode discordar do MP e do juiz de instrução. Tem é
de dar um prazo para a defesa do arguido. Coisa diferente, é a alteração dos factos
– o arguido defendeu-se do factos pelos quais foi acusado ou pronunciado, não
podemos agora a meio do jogo mudar o que lhe foi imputado.

2- Se decidirmos que a alteração foi dos factos- decidir se essa alteração dos factos é
ou não substancial (art. 1º alínea f).

3- Esta temos sempre de responder, quer seja uma alteração de factos, quer seja
uma alteração da qualificação jurídica dos factos. Em que fase é que se verifica?
Pode ser nos seguintes momentos processuais: ou no final do inquérito, ou no
inquérito, ou na fase de julgamento.

Só depois de respondermos a estas 3 questões é que conseguimos chegar à norma que


nos dá a solução ao caso.

Alteração da qualificação jurídica (não pode ser no final do inquérito):

Instrução- 303º nº5


Julgamento- 358º nº3

Alteração dos factos substancial:

Final do inquérito- se o crime é publico ou semipublico- 284º nº1; Se o assistente deduzir


acusação por outros factos- art. 311º nº2 alínea b); Crime particular- 285º nº4 e 311º nº2 b)
Instrução- 303º nº3 e nº4 e 309º
Julgamento- art. 359º nº 1, 2, 3 e 4 e art. 379º nº1 alínea b)

Alteração não substancial:

Final do inquérito- art. 284º nº1 e 285º nº4


Instrução- 303º nº1
Julgamento- 385º nº1 e 2 e art. 379º nº1 alínea b)

1ª Hipótese: Alteração da qualificação jurídica dos factos na fase do julgamento- art. 358º nº3
2ª Hipótese: Alteração dos factos substancial na fase do julgamento: art. 359º nº 1, 2, 3 e 4 e
art. 379º nº1 b)
3 Hipótese- Alteração dos factos não substancial na fase do julgamento- 385º nº1 e 2 e art.
379º nº1 alínea b)

Caso prático:

1. Alteração dos factos substancial (art. 1º alínea f) na fase de julgamento – art. 359º nº1,
2, 3 e 4 e 379º nº1 b). Se houver este acordo, há aqui uma entorse a um principio do
processo penal- o principio da acusação. O MP acusa e o o juiz julga dentro dos limites
do objeto do processo. O juiz está a julgar algo que não está contido no que foi
investigado e acusado pelo MP, em nome da celeridade e economia processual.
Quando não há esse acordo, a estância não se extingue. Neste caso, os factos não são
autonomizáveis, logo, ele vai ser punido pelo crime de furto simples (203º do CP). Os
factos não são autonomizáveis e não podem ser considerados pelo tribunal- ideia de
impunidade – sacrifico da descoberta da verdade material e realização da justiça e da
pacificação jurídica, para salvaguardar as garantias de defesa do arguido.

Recursos

Competência do tribunal de 1ª instância

Que tipos de tribunais existem no nosso sistema? Tribunal singular (1 juiz), coletivo (3
juizes) e de júri (3 juizes e 4 jurados).

Critério da gravidade do crime (mas há mais critérios- ex. Critério da natureza do


crime):
Tribunal singular:
- tem competência residual;
- julga crimes cuja pena máxima seja igual ou inferior a 5;
- MAS art. 16º nº3 e 4º- à partida seria competente o tribunal coletivo nos termos do
art. 14º nº2 b), mas no entanto será o tribunal singular a julgar. Isto vai depender da visão do
MP a acusar, apesar da moldura ser superior a 5 anos. Ex. Art. 204º nº2 (crime punível até 8
anos), mas o MP quando acusa mas considera que em concreto, não deve ser aplicada uma
pena não superior a 5 anos, deve dizer que o tribunal competente é o tribunal singular. Qual é
a consequência disto para o juiz? Não pode condenar o arguido numa pena superior a 5. O MP
está a limitar o juiz, por funcionamento deste art. 16º nº4.

Tribunal coletivo:
- crimes puníveis com pena de prisão superior a 5 anos

Tribunal de júri:
- só intervém a requerimento;
- crimes puníveis com pena de prisão superior a 8 anos (art. 13º nº2)

1ª situação- Tribunal singular – art. 16º nº1 e nº2 b)


2ª situação- Moldura de 1 a 8- tribunal coletivo (fundamento legal- art. 14º nº2 b) ou art. 16º
nº3, se o MP entender que deve ser o singular e lançar mão deste artigo).

3ª situação- Moldura de 8 a 16. Pode ser coletivo (art. 14º nº2 alínea a) e b). E pode ser de júri,
art. 13º nº2 e 3.

4ª situação- 3 crimes de furto simples, a pena máxima abstratamente aplicável é 9, logo seria
em principio competente o tribunal coletivo ao abrigo do art. 14º nº2 b). Art. 16º nº3- MP
pode remeter para o tribunal singular. E o tribunal de júri? MJA- nesta situação não é possível,
a norma do art. 13º não tem a referência idêntica ao do art. 14º nº2 b), em caso de concurso
de infrações- o legislador não quis que o júri interviesse quando a pena máxima é superior a 8
resulta do concurso (claro que se um dos crimes tiver máxima superior a 8, nesse caso já
pode).

Definida a competência do tribunal de 1ª instância, vamos avançar para a matéria dos


recursos. Tribunal a quo- tribunal recorrido; Tribunal de recurso- tribunal ad quem
Temos recursos ordinários (interpostos antes do transito em julgado) e recursos
extraordinários são interpostos depois do transito em julgado. Os recursos ordinários podem
ser de apelação (tribunal pode conhecer matéria de facto e de matéria de direito), ou de
revista (o tribunal superior só conhece matéria de direito), dentro deste há uma subespécie,
recurso de revista alargado ou ampliada (o tribunal só pode conhecer matéria de direito mas
estando em causa os vícios previstos no art. 410º nº2 pode em relação a eles conhecer matéria
de facto- vícios do texto da decisão). Recursos extraordinários são o recurso de fixação da
jurisprudência (art. 437º e ss., decisões de 2 tribunais superiores- TR e STJ- com jurisprudência
diferente) e o recurso de revisão (art. 449º e ss., depois do transito em julgado da decisão há
algo que se descobre que põe em causa a justiça daquela decisão material- estamos a por em
causa a terceira finalidade do processo penal que é a pacificação social, em nome da
descoberta da verdade e da realização da justiça).

Princípios inerentes aos recursos:


Princípio da recorribilidade (art. 399º)- é possível recorrer sempre, a menos que a lei
diga o contrário. Art. 310º- irrecorribilidade da decisão de pronuncia depois de uma acusação
do MP. Art. 400º.
Princípio do duplo grau de recurso- triplo grau de jurisdição, se não se dispuser em
contrário, há recurso em 2 vezes. Apesar de ser este o principio, há tantos exceções, que se
torna complicado entre nós afirmar que haja entre nós este princípio. Exceções
paradigmáticas:
1- todas as irrecorribilidades do art. 400º que implicam a decisão da relação- alíneas
c), d), e) e f)
2- Recurso per saltum, diretamente da 1ª instância para o Supremo- art. 432º nº1
alínea c)

Princípio da proibição da reformatio in pejus (reforma para pior) - epígrafe do art.


409º, significa que o tribunal de recurso não pode modificar a decisão recorrida em sentido
desfavorável ao arguido, mas não pode apenas em 3 situações descritas nesse artigo. Recurso
interposto pelo arguido, pelo MP em exclusivo interesse do arguido ou interposto pelo MP e
arguido no exclusivo interesse deste. Porque é que isto é assim? Porque é que isto não vale
quando é o assistente a recorrer ou o MP a recorrer no exclusivo interesse do arguido? Porque
este principio serve como uma garantia de defesa do arguido, porque se ele não tiver esta
garantia, pode ter receio de recorrer por ver a sua situação agravada (lógica das orais de
melhoria).
Art. 409º nº2- pode agravar o quantitativo diário da multa, porquê? Porque a situação
económico-financeira pode melhorar ou piorar. E o quantitativo diário baseia-se na situação
económico financeira no último momento processualmente possível.

Sistema atual de recursos: temos que saber previamente qual é o tribunal recorrido:

Tribunal singular- o recurso é sempre para o TR (arts. 427º e 432º). Recurso de


apelação ou de revista? Depende, se ele recorre em matéria de facto e de direito é de
apelação, se só recorrer em matéria de direito é de revista.
Tribunal coletivo ou de júri- temos que distinguir se o recurso é em matéria de facto ou
de direito. Se recorre em matéria de facto, o tribunal competente é o TR, sendo um recurso de
apelação. Se for um recurso exclusivamente em matéria de direito, é de revista. Se art. 432º
nº1 alínea c), ou seja, se a pena concretamente aplicada foi superior a 5 anos, o recurso e para
o STJ (recurso per saltum- exceção ao duplo grau). Se a pena concretamente aplicada foi
inferior a 5 anos, o recurso é para a Relação.

Caso prático

1. Primeiro temos que definir qual foi o tribunal competente em primeira instância. O
que interessa aqui é a pena abstratamente aplicável! Aqui é até 3 anos- tribunal
singular (art. 16º nº2 b). A sentença é recorrível? Um grau de recurso há sempre. Qual
é o tribunal competente para conhecer o recurso? Tribunal da relação (art. 427º e
432º a contrario sensu- remissão para o art. 11º e 12º). Art. 12º nº3. Que tipo de
recurso foi interposto? Não sabemos. Temos que pôr as 2 hipóteses. O recurso é
ordinário. Podia ser um recurso de apelação se versasse sobre matéria de facto e de
direito e seria de revista se versasse apenas sobre matéria de direito. Mas o recurso é
para a Relação. E depois? Pode recorrer para o STJ? Pode haver duplo grau de recurso?
Quando isso é possível, esse recurso é exclusivamente em matéria de direito (art.
434º). Art. 400º alíneas c) e ss- qualquer que fosse a decisão da Relação, nunca haveria
lugar a recurso para o Supremo. Porquê? Alínea e), ele não poderia condenar mais do
que 3 anos. Temos uma decisão condenatória em 1ª instância, e a TR condena com os
mesmos fundamentos- decisões no mesmo sentido, dupla conforme condenatória. E
se a Relação absolvesse? Porque é que este acordão também seria irrecorrivel? Alínea
d). Mesmo que a Relação absolva, não há recurso para o STJ.

2. Sabendo que Manuel foi condenado numa pena de prisão de 2 anos e recorreu da
respetiva sentença. Diga se o tribunal de recurso poderia modificar a sanção constante
da decisão recorrida?

Princípio da proibição da reformatio in pejus (art. 409º nº1). Qual é o sentido deste artigo?
O tribunal de recurso só não pode modificar a sanção constante da decisão recorrida quando
for em prejuízo do arguido e também so não pode quando se verificar uma daquelas 3
situações. Vamos imaginar, que para além dele, recorre também o assistente, aqui já não se
aplica o 409º nº1. Devemos explicar também o nº2. Mas ele não foi condenado em pena de
multa. Se tivesse sido condenado em pena de multa o tribunal superior não podia alterar os
dias em sentido desfavorável, mas podia sempre alterar o quantitativo diário.

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