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EMENDATIO E

MUTATIO LIBELLI
P R O F. M E . E N I O W A L C Á C E R
CONCEITUAÇÃO

Instrumentos processuais para fazer valer o princípio da


correlação e consubstanciação no processo.
Correlação – lógica entre o pedido condenatório (tipo
incidente) da petição inicial e a decisão final
Consubstanciação – lógica entre o fato penal
contraditado (dialética processual) e a sentença penal
DECORRÊNCIA
Uma pessoa não poderá ser condenada por fatos que não
foram debatidos no processo, bem como uma sentença não
pode ser dada de forma diversa ao pedido inicial.

A sentença final dá procedência (condena) ou


improcedência (absolve) ao pedido condenatório,
não podendo extrapolar os limites da causa
debatida.
INCIDÊNCIA

A questão incide sobre o fato processual no qual se


funda o debate ou sobre a sua adequação a um tipo
penal incriminador.
• Quando incide sobre o fato – deve ser a nova questão
debatida, permitindo o contraditório (“mutatio libelli”)
• Quando incide sobre a subsunção – pode dar o juiz
definição diversa (“emendatio libelli”)
“ E M E N D AT I O L I B E L L I ”
TOPOGRAFIA

• Regra geral de incidência – art. 383 do CPP

• Regra especial no Júri (1º etapa) – art. 418 do CPP


CONCEITUAÇÃO

Refere-se ao princípio da correlação, incidindo quando o juiz


dá definição jurídica diversa, ou seja, refere-se à
subsunção do pedido e dos debates à um tipo penal
incriminador diverso do pedido inicial.

Trata-se de uma readequação da subsunção realizada no


pedido inicial, sem modificar os fatos descritos.
JURISPRUDÊNCIA CORRELATA
Para que a causa de aumento de pena seja reconhecida pelo julgador é
necessário que ela tenha sido narrada na denúncia ou queixa.
Se na peça acusatória estiver narrada a circunstância que configura a
causa de aumento de pena, não é indispensável que o MP (ou o
querelante) requeira a condenação com base no dispositivo
legal no qual está prevista a causa de aumento.
(STF. 1º Turma. HC 120.587/SP e RHC 119.962/SP, Rel Min. Luiz Fux,
julgados em 20/05/2014 – info 747) (STF. 2º Turma 123.733/AL, Rel. Min.
Gilmar Mendes, julgado em 16/09/2014 – info 759)
MOMENTO PARA APLICAÇÃO
Aplica-se na sentença penal, como regra, mesmo que a
divergência de subsunção se der no recebimento da inicial,
quando:
1. a mudança da definição do crime não importar na
modificação da competência. ex. narrado crime de
homicídio em concurso com furto e dada definição de
latrocínio.
2. a mudança não repercutir na aplicação de algum benefício ao
réu. Ex: narrado estelionato e dada definição de furto
mediante fraude.
QUANDO REPERCUTIR NA
COMPETÊNCIA (ART. 383, §2º CPP)
• Deve se fazer a reclassificação da conduta no momento do
art. 395 do CPP (recebimento/rejeição da inicial)
• Os autos serão remetidos ao juízo competente para
apreciação já da petição inicial
• Pode redundar em conflito negativo de competência, caso
a ser resolvido pelo órgão judicial comum superior.
QUANDO REPERCUTIR EM DIREITO
(ART. 383 §1º CPP)
• Deve se aplicar o “emendatio” anterior à sentença e após a
instrução e julgamento, possibilitando ao MP, por exemplo,
manifestação sobre o direito (ex: suspensão condicional do
processo)
• Se o direito se der no momento inicial deve ser feito no
momento do 395 do CPP (exemplo: acordo de não
persecução)
Ex: réu acusado pela conduta do art. 155 §4º, II do CP, ao fim o juiz
entende que a conduta é considerada estelionato do art. 171 do CP
USO EM 2º GRAU (RECURSOS)

Há a possibilidade, desde que não ocorra a reformatio in pejus.


(STJ, HC 879.984/SC / STF, HC 134872 – 9/10/208)
NO ÂMBITO DO JÚRI
• PREVISTA NO 418 DO CPP – ALTERAÇÃO CORRETIVA
DO PEDIDO INICIAL, UTILIZADO NA 1º ETAPA DO JÚRI,
NA DECISÃO DE PRONÚNCIA.

• O RECONHECIMENTO NÃO IMPÕE PENA, MAS LIMITA


AS TESES DE ACUSAÇÃO QUE SERÃO USADAS NA 2ª
ETAPA.
“ M U TAT I O L I B E L L I ”
TOPOGRAFIA

• Regra geral de incidência – art. 384 do CPP

• Regra especial no Júri (1º etapa) – art. 411, §3º do


CPP (remete ao procedimento do art. 384)
CONCEITUAÇÃO

Refere-se ao princípio da consubstanciação, incidindo na


alteração do fato processual no qual se fundaram os debates
(contraditório).

Trata-se de uma modificação, no curso do processo, do


conjunto probatório, desconhecida na inicial, que altera
em consequência a subsunção do fato.
EXEMPLO ILUSTRATIVO

Um exemplo seria o caso de uma pessoa denunciada por


furto, exatamente o que havia sido descrito na inicial.
Contudo, uma das testemunhas demonstrou que o caso se
tratou de roubo, pois o acusado havia ameaçado a vítima,
que assustada com a ação, não quis falar da ameaça quando
compareceu à delegacia para ser ouvida.
MOMENTO PARA APLICAÇÃO
Aplica-se após a Audiência de Instrução e Julgamento, por
meio de despacho do juiz, que deve usar termos sóbrios,
sem juízo de valor.

Ex: caso, hipoteticamente, leve-se em consideração


determinada circunstância para dar nova definição jurídica
ao fato, abra-se vista ao Ministério Público para manifestar-
se e, querendo, promova o aditamento da peça acusatória
PROCEDIMENTO
1. Verificação de novos elementos carreados na
instrução processual – verifica-se, após o início do
processo (depois do recebimento da inicial), por fatos
novos, a modificação da capitulação jurídica do fato;

Obs: No Júri após a instrução no “Judicium accusatione”.


PROCEDIMENTO
2. Entendimento quanto ao aditamento da denúncia
– o entendimento sobre o aditamento deve ser do MP
(só o MP pode propor a mutatio) já que aditar é
modificar a sua peça acusatória, deve ser feito após o
encerramento da instrução probatória, no prazo máximo
de 5 dias. Neste sentido, duas possibilidades podem
surgir:
PROCEDIMENTO
2.1 - Não aditamento pelo MP – caso em que, usando
analogamente o art. 28 do CPP, deverá o juiz submeter tal
decisão ao PGJ (art. 384 §1º do CPP);
2.2 – Aditamento pelo MP –
a. Apresenta-se o aditamento arrolando-se até 3
testemunhas
b. Intima-se a defesa para, em 5 dias, responder ao
aditamento, arrolando até 3 testemunhas
PROCEDIMENTO
3. Designação de dia e hora para audiência
4. Recebido o aditamento, após oitiva das testemunhas,
interrogatório e debates sentenciando o caso.
OUTRAS QUESTÕES
• Se do aditamento modificar-se a competência, declarar-se-
á incompetente e remeterá ao juízo que o seja;

• É possível o aditamento privado subsidiário do público no


caso de inércia do MP (equivalente ao art. 29 do CPP)
USO EM 2º GRAU (RECURSOS)

Diferentemente do “emendatio” não pode ser utilizado em 2º grau:

SÚMULA 453 STF


Não se aplicam à segunda instância o art. 384 e parágrafo único do
Código de Processo Penal, que possibilitam dar nova definição
jurídica ao fato delituoso, em virtude de circunstância elementar não
contida, explícita ou implicitamente, na denúncia ou queixa.

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