Você está na página 1de 35

O PROCEDIMENTO LEGAL PARA EFETIVAÇÃO DO ACORDO DE

COLABORAÇÃO PREMIADA

Esmar Custódio Vêncio Filho1


Mario Hitoshi Kuroda Júnior2
RESUMO

O presente trabalho teve como objetivo principal analisar o procedimento para elaboração do
acordo de colaboração premiada segundo as regras previstas na Lei n° 12.850/2013,
detalhando o modo que deve se dar seu processamento, bem como as questões inerentes à
matéria. A metodologia utilizada no presente artigo foi de natureza aplicada, caracterizada
pela natureza exploratória, na qual se adotou o procedimento da pesquisa bibliográfica da
doutrina nacional. Constata-se a legitimidade da integração do instituto ao sistema jurídico
brasileiro com o reconhecimento de sua legitimidade pela jurisprudência das Cortes
Superiores.

Palavras-chave: Colaboração premiada; crime organizado; procedimento de elaboração.

ABSTRACT

The main objective of this work was to analyze the procedure for the elaboration of the
collaboration agreement awarded in accordance with the rules established by Law No.
12.850 / 2013, detailing the way in which it should be processed, as well as the issues inherent
in the matter. The methodology used in this article was of an applied nature, characterized by
the exploratory nature, in which the procedure of the bibliographical research of the national
doctrine was adopted. The legitimacy of the Institute's integration into the Brazilian legal
system is recognized, with the recognition of its legitimacy by the jurisprudence of the
Superior Courts.

Keywords: Award-winning collaboration; organized crime; preparation procedure.

Sumário: Introdução. 1 Histórico. 2 Colaboração premiada no direito brasileiro. 3 Aspectos


procedimentais da Lei n° 12.850/2013. 3.1 Conceito e natureza jurídica da colaboração
premiada. 3.2 O procedimento per se. 3.3 Espontaneidade, estímulo e eficácia da colaboração.
3.4 Do procedimento de negociação dos termos do acordo. 3.5 Legitimidade, intervenção
judicial e momento da celebração do acordo de colaboração premiada. 3.6 Prêmios. 3.7
direitos do colaborador. Conclusão. Referências bibliográficas. Apêndice.

1
MESTRE pelo Mestrado Profissional Interdisciplinar em Prestação Jurisdicional e Direitos Humanos
pela Escola Superior da Magistratura Tocantinense, Brasil (2017); GRADUADO em Direito pela
Pontifícia Universidade Católica de Goiás (1991); Juiz de Direito do Tribunal de Justiça do Estado do
Tocantins, Brasil; Aluno da Pós-Graduação Lato Sensu em Estado de Direito e Combate à Corrupção.
2
GRADUADO em Direito pela Universidade Federal do Tocantins (2010); Assessor de
Desembargador no Tribunal de Justiça do Estado do Tocantins; Aluno da Pós-Graduação Lato Sensu
em Estado de Direito e Combate à Corrupção.
INTRODUÇÃO

É possível verificar, no curso da história, os benefícios que a concessão de incentivos


aos acusados de delitos podem trazer para persecução penal, em especial, de crimes de
lavagem de dinheiro, corrupção e organização criminosa.
No curso da história, como será visto no desenvolvimento do presente trabalho, é
possível verificar que os legisladores vêm tentando combater os crimes de lavagem de
dinheiro, corrupção e organização criminosa por meio da concessão de benefícios e incentivos
aos agentes delitivos.
No Brasil, a matéria foi regulada pela Lei n° 12.850, de 2013, denominada Lei de
Combate às Organizações Criminosas, que detalha os requisitos e as premiações oferecidas
aos agentes criminosos que querem ajudar o Estado na investigação de determinados delitos,
as quais podem se concretizar na diminuição da pena, alteração do regime de seu
cumprimento ou mesmo, em casos especialíssimos, em isenção da sanção penal.
Desde a vigência da Lei n° 12.850, de 2013, a sociedade brasileira tem tomado
conhecimento de diversos crimes praticados no âmbito da Administração Pública, envolvendo
incontáveis agentes políticos, órgãos públicos e empresas da iniciativa privada, delitos estes
que apenas alcançaram evidência em razão dos acordos de colaboração realizados.
Em que pese a matéria ser abordada diariamente nos jornais deste país, ressalte-se que
a colaboração premiada possui um procedimento legal dotado de inúmeros detalhes que
escapam do interesse midiático, mas que merecem um estudo mais particularizado sob a
perspectiva acadêmica, a ser realizado no presente trabalho.

1 HISTÓRICO

A colaboração premiada, em regra, se verifica quando uma pessoa em investigação,


figurando como acusada ou indiciada, reconhece a prática de um crime e expõe que para o
cometimento do mesmo contou com a participação/coautoria de uma ou mais pessoas.
A colaboração premiada é um instituto de persecução criminal que tem como
fundamento o oferecimento de benefícios a agentes delitivos no intuito do Estado obter
determinado fim.

2
Todavia, aqui já cabe tecer uma diferenciação entre delação premiada e colaboração
premiada. A colaboração premiada, conforme previsão expressa do artigo 4º da Lei nº
12.850/2013, depende da obtenção de algum dos seguintes resultados:
I - a identificação dos demais coautores e partícipes da organização
criminosa e das infrações penais por eles praticadas;
II - a revelação da estrutura hierárquica e da divisão de tarefas da
organização criminosa;
III - a prevenção de infrações penais decorrentes das atividades da
organização criminosa;
IV - a recuperação total ou parcial do produto ou do proveito das infrações
penais praticadas pela organização criminosa;
V - a localização de eventual vítima com a sua integridade física preservada.

A delação premiada, por sua vez, materializa-se especificamente quando uma pessoa
indiciada ou acusada do cometimento de alguma infração, além de assumi-la, atribui a terceiro
ou terceiros a participação ou coautoria. Em tese e desde que harmônica com demais
elementos probatórios, a delação premiada possui natureza jurídica de fonte de prova. Nesse
sentido, afirma Márcio André Lopes Cavalcante:
A delação premiada ocorre quando o investigado ou acusado colabora com
as autoridades delatando os comparsas, ou seja, apontando as outras pessoas
que também praticaram as infrações penais. Desse modo, como já dito, a
delação é uma forma de exercer a colaboração premiada. (2015, online)

Em síntese, na colaboração premiada não é necessário, para a concessão das benesses


legais, que haja, efetivamente, a delação de outras pessoas.
Certo é que a indicação de outros envolvidos na organização criminosa, não raras
vezes, é consequência lógica do próprio instituto da colaboração premiada, especialmente se
considerarmos a intenção da lei de combate ao crime organizado.
No entanto, não há óbice para a concessão do benefício previsto na Lei 12.850/2013
ao colaborador que não indispensavelmente seja delator, exigindo-se, apenas, a justaposição
legalmente estabelecida.
Há doutrinadores que entendem que delação e colaboração são sinônimos, sendo, na
prática, irrelevante a diferenciação terminológica, razão pela qual didaticamente poderiam ser
utilizadas indistintamente.
Cunha e Pinto, afirmam que:
O instituto da colaboração premiada, ainda que contando com nomenclatura
diversa, sempre foi objeto de análise pela doutrina, tratado que é como
“delação premiada (ou premial)”, “chamamento de corréu”, “confissão
3
delatória” ou, segundo os mais críticos, “extorsão premiada” etc. (2013, p.
34).

No entanto, para Renato Brasileiro:


O imputado, no curso da persecutio criminis, pode assumir a culpa sem
incriminar terceiros, fornecendo, por exemplo, informações acerca da
localização do produto do crime, caso que é tido como mero colaborador.
(2015, p. 525)

Portanto, após esta breve e necessária conceituação, a seguir destacam-se legislações


pertinentes ao instituto, neste trabalho tratado como colaboração premiada. Destaque-se que,
antes do advento da Lei n° 12.850/2013, as referidas normas se resumiam a prever a
existência do instituto e por não regulamentarem o procedimento de sua concessão, tal tarefa
ficava ao alvedrio das interpretações judiciais e jurisprudenciais.
Desde a Idade Média há indicativos do uso de meios assemelhados à delação
premiada, nos quais se buscava a identificação de partícipes ou coautores, livrando o delator
ou amenizando sua penalização. No período da Inquisição, a perseguição aos não católicos
oportunizou inúmeras atrocidades, dentre elas a confissão conseguida pela tortura ou
recompensa, mesmo que a autoria não fosse esclarecida.
Convém destacar, também, que apesar de ter origem na common law, não há óbice
para que ocorra a aplicação do instituto em comento pelo ordenamento jurídico de países de
origem romano-germânica, com fundamento no civil law, como o Brasil, por exemplo. Nesses
casos, ocorre a interdisciplinaridade do Direito, que deve ser realizada atentando-se às
peculiaridades de cada sistema. É o que destaca Diogo Malan apud Sérgio Rodas:
Tratando-se de um instituto que é originário da família jurídica da common
law — portanto, de uma família jurídica diversa da nossa romano-germânica
— esse cuidado na importação da colaboração premiada deveria ter sido
redobrado. (2017, online)

Certo é que, contemporaneamente, vários países possuem uma figura correspondente


à colaboração premiada.
O sistema italiano ficou bem conhecido quando, na década de 70, foi bastante
utilizado para combater o terrorismo e, posteriormente, na década de 90, mostrou-se
instrumento eficaz para apurar crimes de corrupção e outros praticados pela máfia.
A chamada Operação Mãos Limpas (Operazioni Mani Pulite), coordenada pelo
Procurador Antonio Di Pietro, produziu grandes mudanças na vida política da Itália. Para
4
Guidi (2006), o uso da delação foi substancial para que a investigação avançasse, revelando
envolvimento de políticos, empresários, membros da igreja e magistrados. Ao mencionar
sobre a delação premiada no sistema italiano, Leal expõe:
No direito italiano, as origens históricas do fenômeno dos “colaboradores da
Justiça” é de difícil identificação; porém sua adoção foi incentivada nos anos
70 para o combate dos atos de terrorismo, sobretudo a extorsão mediante
sequestro, culminando por atingir seu estágio atual de prestígio nos anos 80,
quando se mostrou extremamente eficaz nos processos instaurados para a
apuração da criminalidade mafiosa. O denominado pentitismo do tipo
mafioso permitiu às autoridades uma visão concreta sobre a capacidade
operativa das Máfias, determinando a ampliação de sua previsão legislativa e
a criação de uma estrutura administrativa para sua gestão operativa e
logística (Setor de Colaboradores da Justiça). O sucesso do instituto ensejou,
até mesmo, uma inflação de arrependidos buscando os benefícios legais,
gerando o perigo de sua concessão a indivíduos que não gozavam do papel
apregoado perante as organizações criminosas. (2011, p. 40 apud Silva,
2003, p. 79).

Percebe-se que a legislação italiana definia a delação premiada em uma espécie de


simbiose com a colaboração, já que não somente se referia à indicação de partícipes,
coautores e outros envolvidos com atividades criminosas, mas também de informações
bastante que possibilitassem a descoberta e solução de outros crimes, localização de vítimas,
recuperação de bens entre outros.
Diferentemente do sistema italiano, o norte americano é baseado especialmente no
plea bargaining. Dentro dessa sistemática, uma vez que o Ministério Público comanda a
coleta do material probatório e encarrega-se da acusação, surgindo a oportunidade de se
firmar um acordo com o agente criminoso, o órgão conta com autonomia de negociação e
decide sobre o prosseguimento ou não da acusação.
Este sistema demonstrou ser eficiente sendo responsável pela solução de 80 a 95%
dos crimes cometidos na America do Norte e sua principal diferença para o sistema brasileiro
é que, após realizado o plea bargain, não se faz necessário a instauração de processo.
No direito alemão, denomina-se a colaboração premiada como Kronzeugenregelung.
Nesse sistema o colaborador se aproveita da delação quando, voluntariamente, impede a
continuidade delitiva de uma organização criminosa ou a denuncia. Com a delação o
colaborador pode ganhar a diminuição ou inaplicabilidade da pena e, até mesmo, o
arquivamento da investigação.

5
Em que pese haver relativa dificuldade de saber se a origem do instituto no Brasil
tomou por base o sistema norte americano do plea bargaining ou o italiano, é preciso
reconhecer que o instituto é mais uma forma de combate ao crime organizado, dotados de
características e regras próprias, fundado na ideia de retribuição. Nos dizeres de Rodrigues
Júnior:
A institucionalização desse estímulo, em norma ou negócio jurídico,
estabelece uma nova proposição jurídica além das existentes. A prestação
tem seu “prêmio” em liberar o devedor. A não prestação importa a “pena” de
exigir de seu patrimônio, ou, excepcionalmente, de sua liberdade
ambulatória, o ressarcimento. A conduta sobrenormal necessita de um
suporte jurídico a sancioná-la, prestigiando-a sob a forma de uma vantagem.
(2006, p. 287).

Em nossa justiça criminal, a colaboração premiada ganhou destaque após a edição da


Lei n° 12.850, de 2 de agosto de 2013, vez que permitiu crescente atuação, especialmente do
Ministério Público, na persecução dos crimes praticados por organizações criminosas, em
especial os de corrupção.
No Brasil, a evolução histórica conduziu a confissão a um meio relativo de prova,
impossibilitando a condenação única e exclusivamente amparada nela, permitindo-se seu uso
apenas se esta estiver em consonância com outros meios de provas. Tal norma impede que a
confissão seja conseguida a qualquer custo, especialmente por meio de tortura.
Convém destacar que a colaboração premiada não se assemelha à tortura inquisitiva,
tendo em vista que não é conseguida pelo uso da força física ou psicológica, configurando
uma clara opção do confessor, o qual também será seu beneficiário.
Nesse sentido, a colaboração premiada, assim como outros meios de provas, não
representa a incapacidade do Estado na persecução penal, mas sim um facilitador desta com
claro respaldo na política criminal.

2 COLABORAÇÃO PREMIADA NO DIREITO BRASILEIRO

A colaboração premiada, mesmo que não configurada nos moldes de hoje, já havia
sido mencionada nas Ordenações Filipinas, segundo a qual seria concedido o perdão àquele
que, delatando outros culpados da prática de crimes, conseguia por meio de provas conduzi-
los à prisão:
- Como se perdoará aos malfeitores que derem outros à prisão
6
Qualquer pessoa, que der à prisão cada hum dos culpados, e participantes em
fazer moeda falsa, ou em cercear, ou per qualquer artifício mingoar, ou
corromper a verdadeira (...); tanto que assi der à prisão os ditos malfeitores,
ou cada hum delles, e lhes provar, ou forem provados cada hum dos ditos
delictos, se esse, que o assi deu à prisão, participante em cada hum dos ditos
meleficios, em que he culpado aquelle, que he preso, havemos por bem que,
sendo igual na culpa, seja perdoado livremente, postoque não tenha perdão
da parte. 1. E além do sobredito perdão, qie assi outorgamos, nos praz, que
sendo o malfeitor, que assi foi dado à prisão, salteador de caminhos, que
aquelle, que o descobrir, e der á prisão, e lho provar, haja de Nos trinta
cruzados de mercê”. (original com itálico) (1595, Livro V, Título CXVI).

Exemplo histórico da aplicação da delação premiada se deu na Inconfidência


Mineira, quando Joaquim Silvério dos Reis conseguiu o perdão de suas dívidas com Portugal
mediante a delação de seus confrades, dentre eles, Joaquim José da Silva Xavier, o
Tiradentes, que foi enforcado acusado da prática de crime de lesa majestade.
Após as Ordenações Filipinas, somente em 1986, com a Lei n° 7.492, é que nosso
sistema legal tratou a colaboração premiada, na forma de confissão, com a consequente
redução da pena:
Art. 25. São penalmente responsáveis, nos termos desta lei, o controlador e
os administradores de instituição financeira, assim considerados os diretores,
gerentes (Vetado).
[...]
§ 2º Nos crimes previstos nesta Lei, cometidos em quadrilha ou co-autoria, o
co-autor ou partícipe que através de confissão espontânea revelar à
autoridade policial ou judicial toda a trama delituosa terá a sua pena reduzida
de um a dois terços. (Incluído pela Lei nº 9.080, de 19.7.1995)

Já a Lei nº 8.072, de 25 de julho de 1990, conhecida como Lei de Crimes Hediondos,


estabeleceu a redução de pena àquele que denunciar o bando ou quadrilha, possibilitando sua
dissolução, nos seguintes termos:
Art. 8º Será de três a seis anos de reclusão a pena prevista no art. 288 do
Código Penal, quando se tratar de crimes hediondos, prática da tortura,
tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins ou terrorismo.
Parágrafo único. O participante e o associado que denunciar à autoridade o
bando ou quadrilha, possibilitando seu desmantelamento, terá a pena
reduzida de um a dois terços.

No mesmo caminho trilhou a Lei nº 8.137, de 27 de dezembro de 1990, ao tratar dos


crimes contra a ordem tributária, econômica e relações de consumo. Segundo seu art. 16,
parágrafo único, acrescido pela Lei nº 9.080/1995, o agente que praticou o crime em coautoria
mas confessou espontaneamente a trama delituosa será beneficiado com a redução de pena:
7
Art. 16. Qualquer pessoa poderá provocar a iniciativa do Ministério Público
nos crimes descritos nesta lei, fornecendo-lhe por escrito informações sobre
o fato e a autoria, bem como indicando o tempo, o lugar e os elementos de
convicção.
Parágrafo único. Nos crimes previstos nesta Lei, cometidos em quadrilha ou
co-autoria, o co-autor ou partícipe que através de confissão espontânea
revelar à autoridade policial ou judicial toda a trama delituosa terá a sua pena
reduzida de um a dois terços.

Posteriormente, a Lei nº 9.269, de 2 de abril de 1996, acrescentou ao § 4º do artigo


159 do Código Penal, a possibilidade de redução da pena ao concorrente na prática de crime
de sequestro, caso o agente denuncie o crime facilitando a liberação do sequestrado:
Art. 159 - Seqüestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem,
qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate: Vide Lei nº 8.072,
de 25.7.90 (Vide Lei nº 10.446, de 2002)
Pena - reclusão, de oito a quinze anos. (Redação dada pela Lei nº 8.072, de
25.7.1990)
§ 4º - Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que o denunciar à
autoridade, facilitando a libertação do seqüestrado, terá sua pena reduzida de
um a dois terços. (Redação dada pela Lei nº 9.269, de 1996)

A Lei 9.613, de 3 de março de 1998, que dispõe sobre os crimes de lavagem ou


ocultação de bens, direitos e valores, prevenção da utilização do sistema financeiro para
ilícitos previstos na própria lei, foi profundamente alterada pela Lei nº 12.683, de 9 de julho
de 2012, especialmente seu art. 2º, § 5º, estabelecendo que:
§ 5o A pena poderá ser reduzida de um a dois terços e ser cumprida em
regime aberto ou semiaberto, facultando-se ao juiz deixar de aplicá-la ou
substituí-la, a qualquer tempo, por pena restritiva de direitos, se o autor,
coautor ou partícipe colaborar espontaneamente com as autoridades,
prestando esclarecimentos que conduzam à apuração das infrações penais, à
identificação dos autores, coautores e partícipes, ou à localização dos bens,
direitos ou valores objeto do crime.

Tendo em vista o crescente arcabouço normativo da colaboração premiada, surgiu a


necessidade de se dar proteção ao colaborador e sua família, considerando que, mesmo que as
consequências de sua delação tenham se dado em razão de suas ações, o Estado se aproveitou
das informações para agilizar e ampliar a persecução penal, possibilitando não somente uma
maior pacificação social e cumprimento da lei penal, mas também preservar a não ocorrência
de novos crimes e eventuais reposições dos cofres públicos.

8
Nesse sentido, a Lei n° 9.807, de 13 de julho de 1999 estabeleceu, dentre outras
coisas, a determinação de proteção ao colaborador voluntário que tenha efetivamente
contribuído para a investigação policial e persecução penal, assim dispondo em seu artigo 15:
Art. 15. Serão aplicadas em benefício do colaborador, na prisão ou fora dela,
medidas especiais de segurança e proteção a sua integridade física,
considerando ameaça ou coação eventual ou efetiva.

A referida lei avançou consideravelmente em relação ao que sistema legal já


existente, o qual dava à colaboração o prêmio, quase em sua totalidade, de redução da pena a
ser aplicada e/ou benefício de regime de cumprimento de pena. A Lei n° 9.807/99, além de
criar um programa para a proteção de vítimas e testemunhas, inseriu um capítulo destinado
especialmente à proteção aos réus colaboradores.
Além da proteção, a norma também estabeleceu a possibilidade de concessão do
perdão judicial e consequente extinção de punibilidade àquele que, atendendo a requisitos,
especialmente de ordem subjetiva, tenha voluntariamente colaborado efetivamente para a
persecução penal, conseguindo-se a identificação de coautores, partícipes, localização de
vítimas e recuperação do produto do crime.
Já se referindo à proteção do colaborador o artigo 15 do mesmo diploma legal prevê
que:
Art. 15. Serão aplicadas em benefício do colaborador, na prisão ou fora dela,
medidas especiais de segurança e proteção a sua integridade física,
considerando ameaça ou coação eventual ou efetiva.
§ 1o Estando sob prisão temporária, preventiva ou em decorrência de
flagrante delito, o colaborador será custodiado em dependência separada dos
demais presos.
§ 2o Durante a instrução criminal, poderá o juiz competente determinar em
favor do colaborador qualquer das medidas previstas no art. 8o desta Lei.
§ 3o No caso de cumprimento da pena em regime fechado, poderá o juiz
criminal determinar medidas especiais que proporcionem a segurança do
colaborador em relação aos demais apenados.

Ao indiciado ou acusado pelos crimes previstos na Lei 11.343, de 23 de agosto de


2006, estabeleceu-se a possibilidade de redução da pena de um a dois terços, caso a
colaboração tenha se dado voluntariamente e resultado na identificação de coautores,
partícipes e recuperação do produto do crime.
Na evolução da colaboração premiada, o legislador fez incluir em nosso sistema
normativo a Lei n ° 12.529, de 30 de novembro de 2011, prevendo, de forma mais apurada,

9
programa de leniência especialmente direcionado às pessoas jurídicas autoras de infrações à
ordem econômica, desde que a colaboração tenha efetivamente auxiliado nas investigações e
no processo administrativo e que tenha resultado na identificação de outros envolvidos e
comprovação da infração investigada, premiando-as com a redução da pena imposta. O artigo
86 da referida lei assim estabeleceu o acordo de leniência:
Art. 86. O Cade, por intermédio da Superintendência-Geral, poderá celebrar
acordo de leniência, com a extinção da ação punitiva da administração
pública ou a redução de 1 (um) a 2/3 (dois terços) da penalidade aplicável,
nos termos deste artigo, com pessoas físicas e jurídicas que forem autoras de
infração à ordem econômica, desde que colaborem efetivamente com as
investigações e o processo administrativo e que dessa colaboração resulte:
I - a identificação dos demais envolvidos na infração; e
II - a obtenção de informações e documentos que comprovem a infração
noticiada ou sob investigação.
[...]
§ 3o O acordo de leniência firmado com o Cade, por intermédio da
Superintendência-Geral, estipulará as condições necessárias para assegurar a
efetividade da colaboração e o resultado útil do processo.
§ 4o Compete ao Tribunal, por ocasião do julgamento do processo
administrativo, verificado o cumprimento do acordo:
I - decretar a extinção da ação punitiva da administração pública em favor do
infrator, nas hipóteses em que a proposta de acordo tiver sido apresentada à
Superintendência-Geral sem que essa tivesse conhecimento prévio da
infração noticiada; ou
II - nas demais hipóteses, reduzir de 1 (um) a 2/3 (dois terços) as penas
aplicáveis, observado o disposto no art. 45 desta Lei, devendo ainda
considerar na gradação da pena a efetividade da colaboração prestada e a
boa-fé do infrator no cumprimento do acordo de leniência.
[...]
§ 12. Em caso de descumprimento do acordo de leniência, o beneficiário
ficará impedido de celebrar novo acordo de leniência pelo prazo de 3 (três)
anos, contado da data de seu julgamento.

Finalmente, a Lei 12.850, de 2 de agosto de 2013, que revogou a Lei 9.034, de 3 de


maio de 1995, além de definir organização criminosa dispôs ainda sobre a investigação
criminal, os meios de obtenção da prova, infrações penais correlatas e o procedimento
criminal.
A referida lei enumera a colaboração premiada como meio de obtenção de provas na
investigação dos crimes praticados por organizações criminosas sendo que, assim como
ocorreu com a Lei n° 9.807/99, além de possibilitar a redução da pena privativa de liberdade
ou substituí-la, autoriza a concessão do perdão judicial desde que da colaboração advenha
algum ou alguns dos resultados previstos.
Neste sentido foi inserido o artigo 4º:
10
Art. 4o O juiz poderá, a requerimento das partes, conceder o perdão judicial,
reduzir em até 2/3 (dois terços) a pena privativa de liberdade ou substituí-la
por restritiva de direitos daquele que tenha colaborado efetiva e
voluntariamente com a investigação e com o processo criminal, desde que
dessa colaboração advenha um ou mais dos seguintes resultados:
I - a identificação dos demais coautores e partícipes da organização
criminosa e das infrações penais por eles praticadas;
II - a revelação da estrutura hierárquica e da divisão de tarefas da
organização criminosa;
III - a prevenção de infrações penais decorrentes das atividades da
organização criminosa;
IV - a recuperação total ou parcial do produto ou do proveito das infrações
penais praticadas pela organização criminosa;
V - a localização de eventual vítima com a sua integridade física preservada.

Portanto, após demonstrado todo o histórico, tanto da legislação estrangeira, mas


principalmente na brasileira, vê-se que o instituto da delação/colaboração premiada evoluiu
bastante, no sentido de facilitar a solução de crimes e identificação de autoria, especialmente
de delitos cometidos por organizações criminosas, os quais têm um alcance muito maior do
que aqueles cometidos individualmente.

3 ASPECTOS PROCEDIMENTAIS DA LEI N° 12.850/2013

Como já mencionado, a colaboração premiada, assim como em outros países, foi


inserida no nosso sistema legal com a expectativa de ser um meio mais efetivo de combate ao
crime organizado. Desde a edição da Lei n° 12.850/2013, a colaboração premiada que era
tratada de forma esparsa pela legislação, passou a ter também aplicação específica em
determinados crimes, especialmente aqueles praticados por organizações criminosas.

3.1 Conceito e natureza jurídica da colaboração premiada

O Ministro Og Fernandes do STJ, no HC 107.916-RJ, conceituou a colaboração


premiada como sendo um “ato do acusado que, admitindo a participação no delito, fornece às
autoridades elementos capazes de facilitar a resolução do crime” (2008).
Conceituando colaboração premiada, Renato Brasileiro Lima entende que:
Não se pode confundir a colaboração premiada com os prêmios legais dela
decorrentes. A colaboração premiada funciona como importante técnica
especial de investigação, enfim, um meio de obtenção de prova. Por força
dela, o investigado (ou acusado) presta auxílio aos órgãos oficiais de
11
persecução penal na obtenção de fontes materiais de prova. Por exemplo, se
o acusado resolve colaborar com as investigações em um crime de lavagem
de capitais, contribuindo para a localização dos bens, direitos ou valores
objeto do crime, e se essas informações efetivamente levam à apreensão ou
sequestro de tais bens, a colaboração terá funcionado como meio de
obtenção de prova, e a apreensão como meio de prova. LIMA, 2014, p. 746)

Já diante das considerações feitas anteriormente, especialmente a respeito da tênue


distinção entre delação premiada e colaboração premiada, o conceito desta última é quase que
absolutamente literal, permitindo-nos compreendê-la como técnica especial de investigação,
através da qual, o autor, coator ou partícipe da infração penal, além de confessar sua ligação
com o fato delituoso, proporciona aos órgãos persecutórios, informações úteis para os fins
almejados pela lei, recebendo, em contrapartida, algum benefício legal.
Quanto à natureza jurídica da colaboração premiada, segundo o Ministro Edson
Fachin, relator da Petição 7.074, ajuizada no Supremo Tribunal Federal, a colaboração
premiada é um autêntico negócio jurídico processual, gerido por normas de direito público,
consequentemente delimitando o âmbito da negociação especialmente no que se refere aos
benefícios que serão disponibilizados ao cooperador.
Acrescenta o Ministro Fachin que o ajuste do negócio colaborativo é manejado de
forma a se chegar a um acordo, com concessões recíprocas, mediante as limitações e
permissões legais, atribuindo ao ato veracidade e consistência não somente às declarações do
colaborador, mas ao próprio acordo firmado (2017, online).

3.2 O procedimento per se

A Lei 12.850, de 2 de agosto de 2013, conceitua organização criminosa e dispõe


sobre a investigação criminal, os meios de obtenção de provas, infrações correlatas,
procedimento criminal, bem como prevê o processamento da colaboração premiada. É o que
se denota dos seus artigos 1º e 2º. Cita-se:
Art. 1o Esta Lei define organização criminosa e dispõe sobre a investigação
criminal, os meios de obtenção da prova, infrações penais correlatas e o
procedimento criminal a ser aplicado.
§ 1o Considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou mais
pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas,
ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente,
vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas
penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter
transnacional.
12
§ 2o Esta Lei se aplica também:
I - às infrações penais previstas em tratado ou convenção internacional
quando, iniciada a execução no País, o resultado tenha ou devesse ter
ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente;
II - às organizações terroristas internacionais, reconhecidas segundo as
normas de direito internacional, por foro do qual o Brasil faça parte, cujos
atos de suporte ao terrorismo, bem como os atos preparatórios ou de
execução de atos terroristas, ocorram ou possam ocorrer em território
nacional.
II - às organizações terroristas, entendidas como aquelas voltadas para a
prática dos atos de terrorismo legalmente definidos. (Redação dada pela lei
nº 13.260, de 2016)
Art. 2o Promover, constituir, financiar ou integrar, pessoalmente ou por
interposta pessoa, organização criminosa:
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa, sem prejuízo das penas
correspondentes às demais infrações penais praticadas.
§ 1o Nas mesmas penas incorre quem impede ou, de qualquer forma,
embaraça a investigação de infração penal que envolva organização
criminosa.
§ 2o As penas aumentam-se até a metade se na atuação da organização
criminosa houver emprego de arma de fogo.
§ 3o A pena é agravada para quem exerce o comando, individual ou coletivo,
da organização criminosa, ainda que não pratique pessoalmente atos de
execução.
§ 4o A pena é aumentada de 1/6 (um sexto) a 2/3 (dois terços):
I - se há participação de criança ou adolescente;
II - se há concurso de funcionário público, valendo-se a organização
criminosa dessa condição para a prática de infração penal;
III - se o produto ou proveito da infração penal destinar-se, no todo ou em
parte, ao exterior;
IV - se a organização criminosa mantém conexão com outras organizações
criminosas independentes;
V - se as circunstâncias do fato evidenciarem a transnacionalidade da
organização.
§ 5o Se houver indícios suficientes de que o funcionário público integra
organização criminosa, poderá o juiz determinar seu afastamento cautelar do
cargo, emprego ou função, sem prejuízo da remuneração, quando a medida
se fizer necessária à investigação ou instrução processual.
§ 6o A condenação com trânsito em julgado acarretará ao funcionário
público a perda do cargo, função, emprego ou mandato eletivo e a interdição
para o exercício de função ou cargo público pelo prazo de 8 (oito) anos
subsequentes ao cumprimento da pena.
§ 7o Se houver indícios de participação de policial nos crimes de que trata
esta Lei, a Corregedoria de Polícia instaurará inquérito policial e comunicará
ao Ministério Público, que designará membro para acompanhar o feito até a
sua conclusão. (BRASIL, 2013).

O artigo 3º, inciso I da lei prevê que “Em qualquer fase da persecução penal, serão
permitidos, sem prejuízo de outros já previstos em lei, os seguintes meios de obtenção da
prova: I - colaboração premiada.” De se ver, portanto, a colaboração premiada pode ser
13
instaurada em qualquer momento do processo ou até mesmo antes dele, como instrumento
para se colecionar material probatório. Isso porque a persecução penal, que se inicia até
mesmo antes do inquérito policial, instrução processual, fase recursal até o advento do trânsito
em julgado e execução da pena.
Tem-se que não há dúvidas da aplicação da colaboração na fase de execução de
sentença já transitada em julgado. Essa é a interpretação que se pode extrair do § 5º do artigo
4° do citado diploma legal, o qual estabelece que “Se a colaboração for posterior à sentença, a
pena poderá ser reduzida até a metade ou será admitida a progressão de regime ainda que
ausentes os requisitos objetivos”. Nesses termos, afirma o Ministro Gilson Dipp:
A questão é saber se a execução da pena pode ser compreendida na noção de
persecução penal. Aparentemente, a resposta é positiva dado que mesmo
nessa fase são inúmeras as possibilidades de reexame da condenação, seja
por revisão criminal (art. 621 CPP) em sentido estrito; seja por unificação de
penas; seja por incidentes de execução para apreciação de regime, de favores
ou reprimendas decorrentes da própria condenação (art. 66, I, II e III Lei nº
7210/84); ou pela possibilidade sempre presente de análise de toda matéria
de fato e de direito por meio de habeas-corpus que a jurisprudência admite
nas mais variadas circunstâncias, inclusive depois do trânsito em julgado da
sentença condenatória. (...) De acordo com a lei, a delação premiada, assim,
mantém com a pena uma relação lógica necessária, sobrevivendo aquela
apenas enquanto esta tiver oportunidade real. Acaso extinta ou cumpria a
pena, a delação não tem mais sentido lógico ou técnico. (DIPP, 2016)

Mesmo que a lei não preveja a forma de se materializar o acordo da delação


premiada, por lógica, deve ser elaborado por escrito, na forma contratual, com intuito de dar
efetividade aos termos, garantindo-se os benefícios prometidos ao colaborador ou as
penalidades a serem suportadas.
Não existe um padrão valorativo da colaboração. Destarte, à medida de seu resultado,
caberá à autoridade policial e Ministério Público verificarem a efetividade da delação para a
escolha das benesses a serem oferecidas.
Neste momento já urge a necessidade de mencionar que o relato da colaboração e as
condições do acordo mencionados nos incisos I e II, do artigo 6º da Lei 12.850/2013, são
elementos absolutamente distintos. O primeiro configura um termo de acordo no qual estarão
inseridos a exigência de cumprimento da proposta, a aplicação das penas, sua redução,
substituição, perdão judicial ou não aplicação, enquanto que este último é a proposta das
autoridades competentes para iniciar o incidente de colaboração premiada. Portanto, a

14
proposta mencionada no inciso II é o momento inicial do acordo, sendo o relato a
consolidação este.
Os resultados a que se refere o inciso I, do artigo 6º, encontram-se enumerados nos
incisos do artigo 4º. Cita-se: I - a identificação dos demais coautores e partícipes da
organização criminosa e das infrações penais por eles praticadas; II – a revelação da estrutura
hierárquica e da divisão de tarefas da organização criminosa; III - a prevenção de infrações
penais decorrentes das atividades da organização criminosa; IV - a recuperação total ou
parcial do produto ou do proveito das infrações penais praticadas pela organização criminosa;
V – a localização de eventual vítima com a sua integridade física preservada.
A colaboração deverá possibilitar a identificação de coautores e partícipes da
organização criminosa e das infrações praticadas (art. 4º, I). Tem-se que o dispositivo legal
não exige, para sua validade, a identificação de todos os demais envolvidos, ficando a cargo
das autoridades, Ministério Público, Polícia e juiz avaliarem a prestabilidade da colaboração
quanto a este particular.
Como mencionado, a colaboração premiada é firmada nos moldes de um contrato e,
em sendo assim, no transcorrer das negociações as autoridades envolvidas certamente deverão
ter sensibilidade suficiente para conduzir o termo de modo a dar-lhe maior eficiência.
Ressalta-se que o relato entre as condutas do colaborador e demais envolvidos, assim
como as adequações típicas em nosso ordenamento jurídico, são essenciais, uma vez que
poderão influenciar no foro legal, com eventual concurso de jurisdição entre os crimes
perpetrados, especialmente considerando a natureza dos crimes e dos autores dos crimes
mencionados pela Lei n° 12.850/2013.
A revelação da estrutura hierárquica e da divisão de tarefas da organização criminosa
mencionadas no inciso II, do artigo 4º, são fundamentais para atendimento da finalidade da
lei, já que a inexistência de organização criminosa retira por completo a razão lógica e causa
legal justificadora da colaboração premiada e suas consequências, a serem negociadas em
favor do colaborador.
A prevenção de infrações penais decorrentes das atividades da organização
criminosa, prevista no inciso III, do artigo 4º, diferente dos demais resultados previstos no
referido dispositivo, não se reveste tanto de preceito condicionante para a validade do acordo
e sua homologação, considerando que esta prevenção independe da vontade do colaborador,

15
mas do simples relato das técnicas e métodos utilizados o que, com a denúncia, poderá gerar
efeitos preventivos genéricos ou especiais.
Já a recuperação total ou parcial do produto ou do proveito das infrações penais
praticadas pela organização criminosa, como estipulado no inciso IV, do artigo 4º, apresenta-
se como sendo um dos mais importantes objetivos do acordo. Mesmo que em algumas
situações o colaborador não consiga possibilitar esta recuperação, seus relatos, ao menos,
devem desencadear medidas que a viabilizem.
Por fim, a lei autoriza a concessão das benesses no caso da localização de eventual
vítima com a sua integridade física preservada (art. 4º, inciso V), cujas ocorrências se dão, por
exemplo, no crime tipificado no artigo 148 (sequestro e cárcere privado) do Código Penal
Brasileiro, assim como outros enumerados como crimes contra a liberdade individual além
dos delitos contra a pessoa.

3.3 Espontaneidade, estímulo e eficácia da colaboração

A Lei n° 12.850/2013 considera, para fins da concessão dos prêmios advindos da


colaboração, somente a voluntariedade do ato, mesmo que a iniciativa pelo acordo não tenha
sido do colaborador desde que garantida sua livre vontade sem constrangimentos. A
motivação do agente que adere à colaboração é irrelevante, mesmo que originada do medo das
consequências legais, do arrependimento ou até mesmo da intenção de obter alguma
vantagem.
A respeito da desnecessidade da espontaneidade, afirma Lima:
Ato espontâneo é aquele cuja intenção de praticá-lo nasce exclusivamente da
vontade do agente, sem qualquer interferência alheia - deve preponderar a
vontade de colaborar com as autoridades estatais. Apesar de alguns
dispositivos legais fazerem referência à necessidade de a cooperação ser
espontânea (v.g., art. 1°, §5°, da Lei n° 9.613/98), prevalece o entendimento
de que a espontaneidade não é condição sine qua non para a aplicação dos
prêmios legais inerentes à colaboração premiada. (2014, p. 739)

Para que o colaborador se aproveite de todos os benefícios legais, a colaboração deve


ser relevante e objetivamente eficaz, não sendo suficiente sua mera confissão sem qualquer
proveito ou resultado como os enumerados nos incisos do artigo 4º. Da colaboração deve
advir algum resultado prático proveitoso o qual dificilmente teria sido alcançado sem a
mesma.
16
Neste sentido, ressalta-se que, se a colaboração foi efetivada na fase extrajudicial, de
nada aproveitará ao colaborador caso altere a versão dos fatos ou se retrate em Juízo. Sobre
esse assunto o Superior Tribunal de Justiça se posicionou com o seguinte entendimento:
Não obstante tenha havido inicial colaboração perante a autoridade policial,
as informações prestadas pelo Paciente perdem relevância, na medida em
que não contribuíram, de fato, para a responsabilização dos agentes
criminosos. O magistrado singular não pôde sequer delas se utilizar para
fundamentar a condenação, uma vez que o Paciente se retratou em juízo. Sua
pretensa colaboração, afinal, não logrou alcançar a utilidade que se pretende
com o instituto da delação premiada, a ponto de justificar a incidência da
causa de diminuição de pena. (2010, HC n° 120.545)

Portanto, provada a eficácia da colaboração, o colaborador usufruirá, segundo cada


caso, dos prêmios legais previstos. Nesta hipótese a discricionariedade do juiz não alcança a
não concessão do prêmio, mas sim qual será concedido, observado o grau de participação do
colaborador no crime, a gravidade deste, a extensão de seus efeitos e a pertinência das
informações. Nesse sentido, o artigo 4º, § 1º da Lei 12.850/2013, o magistrado considerará a
personalidade do colaborador, a natureza, as circunstâncias, a gravidade e a repercussão social
do fato criminosos e a eficácia da colaboração.

3.4 Do procedimento de negociação dos termos do acordo

Como já mencionado, a colaboração premiada já era manejada sem haver, no


entanto, normativa que regulamentasse seu procedimento. As colaborações eram feitas
verbalmente ou, quando formalizadas, tinham suas aplicações de acordo com o próprio Juízo
processante, havendo, no entanto, algumas construções jurisprudenciais sobre o tema, mas
basicamente voltadas à observância das garantias constitucionais e procedimentais.
Com o advento da Lei n° 12.850/2013, a supracitada lacuna normativa e a relativa
fragilidade das colaborações já não mais persistem. O diploma legal tratou expressamente
sobre o procedimento da colaboração, seu momento, eficácia, efeitos entre vários outros
temas marginais importantes, como a necessidade de se lavrar o acordo entre a acusação e a
defesa/colaborador, conferindo maior segurança e estabilidade à própria colaboração e
especialmente ao colaborador, que passa a ter uma garantia inicial em relação aos prêmios e
benefícios obtidos.

17
Segundo estabelece o artigo 6º da lei em comento o acordo deverá conter
determinados elementos essenciais. São eles:
1. O relato da colaboração e seus possíveis resultados. Voltado a verificar a
relevância das informações prestadas pelo colaborador, o relato as sintetisa
sendo que sua eficácia objetiva serão analisadas e confirmadas pelo juiz
quando da prolação da sentença.
2. As condições da proposta do Ministério Publico ou do delegado de
polícia. Já que vários são os prêmios legais disponíveis ao colaborador, o
benefício ou benefícios pretendidos por ele deverão constar do acordo para
verificar se as informações prestadas levaram à algum resultado do artigo 4º.
3. A declaração de aceitação do colaborador e de seu defensor. Esta
condição lógica advém não somente do texto legal, mas do imperativo
constitucional. A aquiescência livre e voluntária do colaborador, assistido
por profissional capacitado, certamente confere ao acordo legitimidade.
4. As assinaturas do representante do Ministério Público ou do delegado de
polícia, do colaborador e de seu defensor. Aqui se trata mais de uma
formalidade essencial ao ato cuja inobservância conduz à inexistência
jurídica do acordo.
5. A especificação das medidas de proteção ao colaborador e à sua família,
quando necessário. Como já mencionado, além dos prêmios disponibilizados
ao colaborador, este ainda conta com algumas garantias de natureza pessoal.
Uma delas são as medidas de proteção conferidas pela Lei 9.807/99.

3.5 Legitimidade, intervenção judicial e momento da celebração do acordo de colaboração


premiada

A depender do momento, tanto a autoridade policial quanto o membro do Ministério


Público possuem legitimidade para firmarem com o colaborador e seu defensor o acordo de
colaboração premiada. É o que se denota dos §§ 2º e 6° do artigo 4º da Lei 12.850/2013:
§ 2o Considerando a relevância da colaboração prestada, o Ministério
Público, a qualquer tempo, e o delegado de polícia, nos autos do inquérito
policial, com a manifestação do Ministério Público, poderão requerer ou
representar ao juiz pela concessão de perdão judicial ao colaborador, ainda
que esse benefício não tenha sido previsto na proposta inicial, aplicando-se,
no que couber, o art. 28 do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941
(Código de Processo Penal).

§ 6o O juiz não participará das negociações realizadas entre as partes para a


formalização do acordo de colaboração, que ocorrerá entre o delegado de
polícia, o investigado e o defensor, com a manifestação do Ministério
Público, ou, conforme o caso, entre o Ministério Público e o investigado ou
acusado e seu defensor.

18
Em que pese a literalidade do dispositivo normativo citado, algumas vozes da
doutrina divergem quanto à possibilidade da autoridade policial firmar termos de colaboração
premiada. A título de exemplo, afirma Edson Araújo da Silva:
A lei é inconstitucional ao conferir tal poder ao delegado de polícia, via
acordo com o colaborador, ainda que preveja a necessidade de parecer do
Ministério Público e de homologação judicial, pois não pode dispor de
atividade que não lhe pertence, ou seja, a atividade judicial de busca da
imposição penal em processo-crime, vinculando o entendimento do órgão
responsável pela acusação. (2016, online)

Em sentido contrário, Francisco Sannini Neto e Henrique Hoffmann Monteiro de


Castro afirmam que se esse argumento encontrasse amparo no ordenamento jurídico
brasileiro, poucos atos poderiam ser conduzidos pela autoridade policial, no processo penal.
In verbis:
Ora, se nenhuma providência probatória pudesse ser tomada sem a consulta
do titular da ação penal, então nem o inquérito policial poderia ser instaurado
pelo delegado de polícia, que também não poderia requisitar perícia, ouvir
testemunhas, apreender objetos, etc. Se prevalecesse esse entendimento, a
própria existência do inquérito policial perderia sentido. (2016, online)

Em verdade, é assente na doutrina que a autoridade policial detém legitimidade para


transacionar com o colaborador os termos do acordo, quando as investigações se encontram
na fase de inquérito policial. A título de exemplo, cita-se Márcio Adriano Anselmo, Delegado
de Polícia Federal:
Considerando que o delegado de polícia preside a investigação criminal feita
por meio do inquérito policial (Lei 12.830/2012), nada mais coerente que o
mesmo detenha legitimidade para celebrar acordos de colaboração no bojo
da investigação. Ademais, é na fase de investigação o momento mais
propício para que a colaboração premiada ocorra e para que os fatos possam
ser completamente esclarecidos, notadamente mediante a conjugação de
outros meios de obtenção de prova, cuja participação da autoridade que
preside a investigação é fundamental. (2016, online)

No entanto, ressalve-se que apesar do reconhecimento da legitimidade da autoridade


policial para firmar os supracitados acordos, por expressa previsão legal, qual seja, do art. 4°,
§6° da Lei n° 12.850/2013, verifica-se ser necessária a manifestação do Ministério Público, o
que se dá em razão da sua atividade fiscalizadora e especialmente de sua condição de dominus
litis da persecução penal.

19
Na prática, o que se tem observado é um trabalho conjunto entre a polícia judiciária e
o Ministério Público quando da elaboração dos acordos de colaboração premiada, justamente
para viabilizar a persecução penal em face dos coautores e partícipes indicados, bem como a
recuperação de recursos, prevenção de crimes entre outros.
Seguindo nosso sistema acusatório, a Lei n° 12.850/2013 excluiu o juiz das
negociações do acordo de colaboração (art. 4º, § 6º): “O juiz não participará das negociações
realizadas entre as partes para a formalização do acordo de colaboração, que ocorrerá entre o
delegado de polícia, o investigado e o defensor, com a manifestação do Ministério Público,
ou, conforme o caso, entre o Ministério Público e o investigado ou acusado e seu defensor”.
Sobre esse ponto, pode-se entender haver conflito com o dispositivo do §8º, também
do artigo 4º tendo em vista que este preceitua que “O juiz poderá recusar homologação à
proposta que não atender aos requisitos legais, ou adequá-la ao caso concreto.”. Esta
adequação pelo magistrado poderia levar a crer que a este fosse permitido alterar as cláusulas
do acordado em expressa afronta ao próprio dispositivo citado no parágrafo anterior e ao
sistema acusatório.
Porém, nota-se que o magistrado não poderá imiscuir-se nas tratativas do acordo
celebrado, limitando-se à verificação de sua constitucionalidade e respaldo legal, sem, no
entanto, alterar os termos da proposta, garantindo a imparcialidade do Juízo e do sistema
acusatório, rejeitando ou não a respectiva homologação por discordar com os prêmios legais
fixados, possibilitando às partes, acusação e defesa, adequarem o acordado, caso possível.
O Ministro Gilson Dipp delimita bem a atuação do juiz:
[...] o juízo de adequação passa necessariamente pela apreciação dos termos
da delação premiada e mesmo sendo o magistrado criterioso ao máximo terá
de acomodá-lo aos contornos da delação por meio de razões não
estritamente formais, exceto se a essa clausula legal se emprestar a noção
limitativa da estrita legalidade, isto é, da adequação do acordo apenas aos
estritos limites da forma legal sem qualquer cogitação de interpretação ou
avaliação, o que, a despeito de possível, na prática dificilmente acontece.
(2016, online)

Quanto ao momento para a celebração do acordo de colaboração premiada, como já


citado, tal transação não se dá somente na fase extrajudicial ou inquisitiva e preparatória de
futura ação penal, o que lhe seria mais típico, mas também poderá ocorrer tanto na fase
processual como após o trânsito em julgado de eventual sentença condenatória.

20
É o entendimento do Procurador da República Américo Bedê Freire Júnior, segundo
o qual a colaboração, neste caso em particular, poderá ser provocada na fase executória por
simples petição do interessado:
Inicialmente, é de se frisar pelo cabimento dos benefícios da delação
premiada inclusive durante o processo de execução. Tal afirmação decorre
da interpretação teleológica das normas instituidoras da delação premiada,
afinal o objetivo precípuo do benefício para o Estado subsiste após a
condenação do delator. Ademais, não tendo o legislador expressamente
proibido a delação premiada na fase de execução, não caberia ao interprete
reduzir o alcance e eficácia do instituto. [...] Ante o exposto, entendo que é
cabível delação premiada após o trânsito em julgado e de que o meio
processual adequado para requerer o benefício é simples petição para o juiz
da vara de execuções penais. (2005, online)

A própria legislação, no caso a Lei n° 9.613/1998, alterada pela Lei n° 12.683/2012,


prevê textualmente em seu artigo 1º, § 5º que “A pena poderá ser reduzida de um a dois terços
e ser cumprida em regime aberto ou semiaberto, facultando-se ao juiz deixar de aplicá-la ou
substituí-la, a qualquer tempo, por pena restritiva de direitos, se o autor, coautor ou partícipe
colaborar espontaneamente com as autoridades, prestando esclarecimentos que conduzam à
apuração das infrações penais, à identificação dos autores, coautores e partícipes, ou à
localização dos bens, direitos ou valores objeto do crime”.
Impende ressaltar que esta possibilidade legal logicamente alcança outros crimes, em
especial os mencionados pela Lei n° 12.850/2013. Tal posição se justifica porque além da
possibilidade de celebração do acordo de colaboração premiada a qualquer tempo estar
prevista apenas nas Leis de Lavagem de Capitais e de Organizações Criminosas, parece não
haver qualquer óbice à extensão desse benefício aos demais crimes por uma questão de
isonomia. Deveras, não há qualquer fundamento razoável de discriminação capaz de justificar
a inviabilidade de celebração de acordos de colaboração premiada após a sentença
condenatória irrecorrível em relação a outros delitos, desde que, obviamente, aferida a
eficácia objetiva das informações prestadas pelo colaborador.
Portanto, firmada esta ideia de que o acordo pode ser firmado em qualquer momento,
é preciso discutir o meio pelo qual deve ser requerido. Como acima já mencionado na citação
de Freire Júnior, a proposta de acordo de colaboração poderia se dar por mera petição. No
entanto, há posições divergentes que entendem que a revisão criminal seria o meio adequado.
Como defendido por JESUS:

21
A análise dos dispositivos referentes à "delação premiada" indica, em uma
primeira análise, que o benefício somente poderia ser aplicado até a fase da
sentença. Não se pode excluir, todavia, a possibilidade de concessão do
prêmio após o trânsito em julgado, mediante revisão criminal. Uma das
hipóteses de rescisão de coisa julgada no crime é a descoberta de nova prova
de "inocência do condenado ou de circunstância que determine ou autorize
diminuição especial de pena" (art. 621, III, do CPP). Parece-nos sustentável,
portanto, que uma colaboração posterior ao trânsito em julgado seja
beneficiada com os prêmios relativos à "delação premiada". (2005, online)

Neste caminhar, a revisão criminal seria a forma adequada para a proposta de acordo
de colaboração premiada a qual, da mesma forma, deverá observar todos os requisitos e
formalidades legais ressalvando qualquer incompatibilidade deste instrumento com as
garantias constitucionais como, por exemplo, que eventuais coautores ou partícipes indicados
pelo colaborador já não tenham sido definitivamente absolvidos, pois retiraria a eficácia da
colaboração frente à impossibilidade da revisão criminal pro societate.
Sobre o tema acrescenta JESUS:
Será preciso, ademais, que esses concorrentes não tenham sido absolvidos
definitivamente no processo originário, uma vez que, nessa hipótese,
formada a coisa julgada material, a colaboração, ainda que sincera, jamais
seria eficaz, diante da impossibilidade de revisão criminal pro societate.
(2005, online)

3.6 Prêmios

Nos dispositivos legais anteriores à Lei 12.850/2013, somente a diminuição de pena


era o prêmio previsto para a colaboração. O aumento dos benefícios a serem oferecidos
começou a partir da Lei n° 9.613/1998, com a alteração realizada pela Lei n° 12.683/2012,
que possibilitou não somente a redução da pena, mas, principalmente, o cumprimento da pena
em regime aberto.
O artigo 1º, §5º da Lei n° 9.613/1998 estabeleceu três benefícios diferentes a serem
concedidos ao colaborador como a diminuição da pena e fixação do regime aberto ou
semiaberto, a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos e o perdão
judicial como causa extintiva da punibilidade.
Nesta esteira de prêmios, a Lei n° 12.850/2013 ampliou consideravelmente os
benefícios, os quais seguem:
Redução da pena. A lei prevê o limite máximo de redução da pena como
faz no caput do artigo 4º ( O juiz poderá, a requerimento das partes,
22
conceder o perdão judicial, reduzir em até 2/3 (dois terços) a pena privativa
de liberdade ou substituí-la por restritiva de direitos daquele que tenha
colaborado efetiva e voluntariamente com a investigação e com o processo
criminal, desde que dessa colaboração advenha um ou mais dos seguintes
resultados.) e em seu § 5º (Se a colaboração for posterior à sentença, a pena
poderá ser reduzida até a metade ou será admitida a progressão de regime
ainda que ausentes os requisitos objetivos.), mas não estipula o limite
mínimo o que poderia conduzir ao desestímulo já que a diminuição poderia
ser ínfima. Neste caso, LIMA entende que “[...] parece-nos que deve ser
utilizado como parâmetro o menor quantum de diminuição de pena previsto
no Código Penal e na Legislação Especial, que é de 1/6 (um sexto).” (2014,
p. 743)
Substituição da pena privativas de liberdade por restritiva de direito.
Prevista no caput do artigo 4º da lei em comento, não houve remissão quanto
aos requisitos exigidos no artigo 44 do Código Penal, o que nos leva a crer
que a referida substituição se dará sem observância do referido artigo.
Perdão judicial e extinção da punibilidade. A autoridade policial e o
Ministério Público poderão, quando da apresentação judicial da proposta e
diante da relevância da colaboração prestada, pleitear o perdão judicial ao
colaborador, aplicando, no que couber, a regra do artigo 28 do Código de
Processo Penal.
Suspensão do prazo para oferecimento da denúncia ou do processo pelo
prazo de 6 (seis) meses suspendendo-se o prazo prescricional. Esta
previsão foi inserida em razão da própria natureza das infrações a serem
apuradas em colaboração premiada, as quais, não raras vezes, demandam
tempo especialmente para alcançar suas consequências, como a localização
de produto de crime ou recuperação dos bens. Daí o motivo desta suspensão.
Ressalta-se que esta suspensão se dá tão somente em relação ao colaborador
e não aos coautores e partícipes por ele indicados.
Não oferecimento da denúncia. Hipótese prevista no § 4º do artigo 4º,
permite ao Ministério Público, nas mesmas hipóteses do caput do artigo
retro mencionado, deixar de oferecer denúncia caso o colaborador não seja
líder da organização criminosa e for o primeiro a prestar efetiva colaboração.
Se trata pois, de mais um dispositivo de incentivo à colaboração premiada,
excepcionando o princípio da obrigatoriedade da ação penal, resultando n
extinção da punibilidade nos moldes do artigo 87 , parágrafo único da Lei
12.529/11, já que a própria Lei de Organizações Criminosas a este respeito
não se refira.
Causa de progressão de regime. (artigo 4º, § 5º) Aqui surge uma discussão
doutrinária a respeito da aplicação deste prêmio, se possível a todos os tipos
de crimes ou exclusivamente aos de organização criminosa (art. 2º, caput).
Para LIMA, “[...] se o agente souber que eventual prêmio legal ficará restrito
ao crime de organização criminosa, dificilmente terá interesse em celebrar o
acordo de colaboração premiada. (2014, p. 745). Portanto, prevalece a
interpretação de que este prêmio pode ser aplicado a qualquer tipo de crime e
não somente aos de organização criminosa.

Todos estes prêmios possuem natureza personalíssima, não se comunicando aos


coautores e partícipes indicados pelo colaborador, sendo que, para a concessão dos mesmos,
ainda se faz necessária a análise da prestabilidade das informações assim como as condições
23
pessoais do colaborador, a natureza, circunstâncias, gravidade, extensão e repercussão social
do crime cometido. Como mencionado pelo juiz Sérgio Moro:
O método a ser empregado para permitir a escalada da investigação e da
persecução na hierarquia da atividade criminosa. Faz-se um acordo com um
criminoso pequeno para obter prova contra o grande criminoso ou com um
grande criminoso para lograr prova contra vários outros grandes criminosos.
(2010, p. 111 apud LIMA, 2014, p. 748)

3.7 Direitos do colaborador

O artigo 5º enumera alguns direitos do colaborador como: I - usufruir das medidas de


proteção previstas na legislação específica; II - ter nome, qualificação, imagem e demais
informações pessoais preservados; III - ser conduzido, em juízo, separadamente dos demais
coautores e partícipes; IV - participar das audiências sem contato visual com os outros
acusados; V - não ter sua identidade revelada pelos meios de comunicação, nem ser
fotografado ou filmado, sem sua prévia autorização por escrito; VI - cumprir pena em
estabelecimento penal diverso dos demais corréus ou condenados.
Essas garantias devem ser ajustadas antes de iniciar a colaboração, uma vez que são
dos relatos do colaborador que advirá a necessidade de observância dos direitos mencionados.
Ademais, é importante garantir o sigilo da colaboração, pois no caso desta não vir a ser
homologada, as declarações e tudo que fora produzido ou que conste do acordo perdem
relevância processual.
Como mencionado anteriormente, a colaboração premiada configura-se um negócio
jurídico, firmado via contrato entre a autoridade estatal e o colaborador para posterior
homologação. Além do relato do colaborador, o termo deverá, da mesma forma, conter as
condições propostas pelo Ministério Público ou autoridade policial, como estipulado no artigo
6º, inciso II da Lei n° 12.850/2013, delimitando a colaboração, sua voluntariedade e
efetividade, sem omissões, sob pena das informações omitidas perecerem de valor judicial
impossibilitando, ainda, sua revelação posterior à homologação.
A declaração de aceitação pelo colaborador e seu defensor (art. 6º, inciso III) afigura-
se como componente essencial para que a colaboração premiada seja considerada válida.
Para Renato Brasileiro Lima:
Em todos os atos de negociação, confirmação e execução da colaboração, o
colaborador deverá estar assistido por defensor. Por consequência, para se
emprestar validade ao acordo de colaboração premiada, e até mesmo para se
24
aferir sua voluntariedade, condição sine qua non para sua homologação (Lei
n° 12.850/2013, art. 4o, §7°), faz-se necessária não apenas a declaração de
aceitação do colaborador, mas também a anuência de seu defensor. Na
hipótese de o colaborador ser estrangeiro incapaz de se comunicar na língua
pátria, deverá ser nomeado tradutor, nos termos do art. 236 do CPP. (2014,
p. 750)

No mesmo sentido de essencialidade, a assinatura das partes envolvidas e seus


representantes deve constar do acordo, dando firmeza e legalidade ao acordado (artigo 6º,
inciso IV). Este ato é personalíssimo em relação ao colaborador e não admite mandatário para
esta finalidade específica.
Finalmente, em seu inciso V, o artigo 6º sugere a especificação das medidas de
proteção ao colaborador e à sua família. Já esta cláusula não é cogente e somente comporá o
acordo caso haja necessidade e decidido pelo respectivo Conselho Deliberativo como previsto
no artigo 6º da Lei 9.807/99.

4 QUESTÕES CONTROVERSAS

Em razão da novidade que o instituto da colaboração premiada representa no


ordenamento jurídico brasileiro, algumas questões sobre o instituto são discutidas.
Discute-se a constitucionalidade da colaboração premiada. No entanto, o debate
revela-se mais agarrado a dilações doutrinárias, o que não retira da colaboração sua eficácia
legal e jurídica, remetendo a um consectário constitucional.
Antes mesmo de adentrar na discussão a respeito da constitucionalidade da
colaboração premiada, importante mencionar que esta questão surge a partir da contraposição
da pessoa humana em face do interesse do Estado. Para o Estado, a persecução penal em
especial, é ato de império, oposto, de ofício, a todos os administrados, obrigando, inclusive, a
própria administração. A ação penal pública incondicionada conduz o Estado, através de seus
órgãos persecutórios, à identificação de autores de crimes/atos infracionais,
independentemente da vontade da vítima ou do próprio Estado.
Acontece que, mesmo em sistemas legais avançados, a colaboração premiada se
mostrou uma forma de produção de prova e, consequentemente, de persecução penal, com
especial e até mesmo essencial auxilio dos próprios autores e partícipes de crimes. Ora, como
já dito em linhas volvidas, isto não é nenhuma novidade, já que a confissão, somada a outros

25
elementos probatórios, já era há muito usada como forma de solução de crimes e identificação
de criminosos.
Não é nenhum demérito para o Poder Público em se utilizar da delação premiada
para desvendar autorias e crimes e evitar o cometimento de outros, mesmo porque a quase
totalidade das colaborações exigem, que sejam harmonizadas com outros elementos
probatórios que garantam a aplicação dos benefícios legais do instituto, assim como a
persecução dos coautores e partícipes apontados, a produção de provas periciais,
testemunhais, interceptações entre outras.
O que se argumenta é que, considerando que a Constituição Federal de 1988
estabelece que é função do Estado proteger os bens jurídicos elencados especialmente em seu
artigo 5º, não poderia violentá-los através de um sistema daninho que estimula a deslealdade,
caracterizando a colaboração premiada como conduta antiética e imoral.
Sobre o assunto, Freire Júnior assim se manifestou:
(...) a condenação criminal de alguém, no Brasil, está condicionada à
demonstração, por meio de provas colhidas em contraditório, de que o
condenado é penalmente responsável pela infração. Assim dispõe o artigo 5º,
inciso LV, da Constituição e agir de outro modo significa negar vigência ao
texto constitucional. No entanto, a norma penal ordinária atribui eficácia de
extinção da punibilidade à conduta processual do indiciado ou acusado que
servir não só como fonte de provas, mas com o verdadeiro meio de provas.
(2016, p. 41 apud Geraldo Prado).

No entanto, essas posições são minoritárias e perdem força frente às argumentações


doutrinárias em sentido contrário e, em especial, diante das interpretações jurisprudenciais.
O Ministro Gilson Dipp, ao discorrer sobre o instituto correlato da delação premiada,
já na vigência da Lei 12.850/2013, ensina que não há qualquer inconstitucionalidade do
referido instituto, citando especialmente as garantias constitucionais do contraditório e ampla
defesa, sendo que o sistema da delação não produz prova em si mesma, mas sim elementos
para sua produção o que excluiria a alegada inconstitucionalidade. Nesse sentido assim se
pronuncia:
Argui-se violação de garantias constitucionais ao entregar o delator
informações sobre outras pessoas propondo prova sem o devido processo
legal, sem contraditório e ampla defesa. A tese é insustentável. É que a
delação premiada não produz esse efeito sendo ferramenta processual
destinada apenas à produção de elementos para a produção da prova e não
ela mesma. Além disso, os elementos apurados na delação premiada – em
face de terceiros -- poderão eles próprios ser discutidos e apreciados no juízo
respectivo à luz das garantias constitucionais. Com respeito às infrações,
26
obviamente não se exigirá capitulação exata ou precisa senão a descrição
das condutas relacionadas com os participes ou coautores, principalmente
com relação a datas e locais para permitir a definição de competência e
prescrição, por exemplo. A descrição da relação entre o agente e a conduta é
de extrema importância e deve ser claramente relatada, não só entre autores
mas também entre coautores, de modo a definir tanto a própria condição
fundamental de organização, quadrilha ou bando, quanto para evidenciar, se
for o caso, a necessidade de unidade de processo e julgamento,
particularmente se 28 existirem coautores detentores de foro especial,
podendo resultar daí concurso de jurisdição entre as infrações praticadas. De
tal sorte, o relato observará na medida do possível os detalhes que auxiliem a
equação dessa relevante e decisiva circunstância de natureza processual.
(2016, p. 22).

Portanto, percebe-se que não se sustentam qualquer alegação de


inconstitucionalidade do instituto da colaboração premiada, tendo se integrado ao sistema
jurídico brasileiro de forma legítima.
Outra das singularidades apresentadas em alguns dos recentes acordos de delação
premiada firmados no Brasil é a previsão de início de cumprimento da pena antes mesmo do
seu estabelecimento em sentença. Em alguns casos, prevê-se o cumprimento da sanção até
mesmo antes do oferecimento da denúncia.
A título de exemplo, segue notícia publicada no site da Revista Consultor Jurídico,
no qual detalha-se a colaboração premiada assinada pelos ex-executivos da empreiteira
Odebrecht:
Ao firmar acordos de delação premiada com ex-executivos da empreiteira
Odebrecht, o Ministério Público Federal incluiu cláusula exigindo que
cumprissem pena logo depois que o trato fosse homologado. Como, dentre
os 77 delatores, só 5 já foram condenados, 72 podem ter as penas iniciadas
antes de sentença, sendo que dezenas ainda nem foram denunciados. (2017,
online)

Em nota publicada no portal eletrônico da Folha de São Paulo, o professor Gustavo


Badaró destaca que “Existem pessoas que não foram sequer investigadas e vão cumprir pena
sem inquérito, sem denúncia e sem sentença”. Destarte, questiona a legalidade do acordo
citado:
Para o professor, a homologação deveria ter observado a voluntariedade, a
legalidade e a regularidade do acordo assinado entre delatores e
procuradores, como prevê a lei. “Um acordo assim não deveria ter sido
homologado”, diz Badaró. (2017, online)

27
A razão da irresignação da doutrina é que por meio da delação premiada o Ministério
Público vem firmando acordos nos quais se estabelecem reduções, isenções de pena ou
mesmo obrigação de cumprimento da sanção, antes do Judiciário manifestar-se, o que
representaria em indevida intervenção no poder-dever atribuído constitucionalmente a este
órgão, criando-se um sistema paralelo à ordem jurídica, com regras alheias ao processo penal.
Nesse sentido, J. J. Gomes Canotilho:
O problema – um problema central da colaboração premiada – é que a
investigação e a instrução do processo penal colaborativamente conformado
acabam por se transformar num sistema autopoiético que se reproduz a ele
próprio tendencialmente à margem dos princípios estruturantes da ordem
jurídico-constitucional: separação de poderes, distribuição de competências,
observância da legalidade, do princípio da isonomia, criação de privilégios e
imunidades desrazoáveis, do princípio da conexão ou conectividade da prova
e do crime, obtenção de meios de prova e valoração dos meios de prova. No
caminho, perde-se o rasto à “reserva de juiz”, à “reserva do ministério
público”, à “reserva judicial de execução da sentença” e à distinção entre
prisão preventiva da natureza cautelar e prisão preventiva – pena. (2017,
online)

Tal problema enseja outra questão: O juiz se vincula aos termos do acordo de
colaboração premiada?
A doutrina entende que não. Segundo Valber Melo e Felipe Maia, "a toda evidencia,
salta aos olhos a impossibilidade de o magistrado 'desomologar' o acordo outrora por ele
mesmo homologado, isto porque a lei não lhe conferiu tal faculdade" (2016, online).
Guilherme Nucci resume que ao magistrado, "Há dois caminhos: a) homologar o
acordo, que produzirá todos os seus jurídicos efeitos, previstos na Lei 12.850/2013; b)
indeferir a homologação, porque não atende aos requisitos legais" (2015, p. 68).
Tal entendimento é assente na jurisprudência. A maioria dos ministros do Supremo
Tribunal Federal, ao julgar a Petição de nº 7.074, em 22 de junho de 2017, votou a favor da
preservação, no momento da homologação pelo juiz responsável, dos benefícios negociados
com os colaboradores pelo Ministério Público.
Em que pese o acórdão do julgamento ainda não ter sido publicado, a notoriedade do
processo fez com que a mídia nacional registrasse as posições dos ministros. No caso, havia o
acerto de que o Ministério Público não processaria criminalmente os colaboradores que
reconheceram sua participação em diversos crimes, com base no art. 4º, § 4º, da Lei de
Organização Criminosa.

28
O ministro Edson Fachin, por exemplo, defendeu a impossibilidade de revisão dos
termos negociados pelo órgão acusador e homologados pelo relator. A seu ver, "O acordo
homologado, verificado quanto à legalidade, regularidade e espontaneidade, gera vinculação
condicionada ao cumprimento dos deveres assumidos na colaboração" (2017, online).
O ministro destacou, ainda, que a revisão do acordo iria de encontro ao princípio da
segurança jurídica. Segundo, os colaboradores não seriam motivados a colaborar, pois, com a
possibilidade revisão, “A mensagem que se passa é o Ministério Público ao acordar, pode,
mas não muito. O MP pode acordar, mas não cumprir”, (2017, online).
Em consonância com Facchin, o ministro Alexandre de Moraes afirmou que mesmo
que o juiz não concorde, o Poder Judiciário não poderia substituir o “acordo de vontades”
firmado entre o Ministério Público e o delator, desde que a escolha dos benefícios seja lícita
com escolhas legalmente e moralmente previstas. (2017, online).
No mesmo sentido, Luís Roberto Barroso:
A partir do momento em que o Estado homologa a colaboração premiada,
atestando a sua validade, ela só poderá ser infirmada, ser descumprida, se o
colaborador não honrar aquilo que se obrigou a fazer. Do contrário, daríamos
chancela para que o Estado pudesse se comportar de forma desleal,
beneficiando-se das informações e não cumprindo a sua parte no ajustado.
(2017, online).

CONCLUSÃO

Como visto no presente trabalho, a edição da Lei n° 12.850/2013 permitiu o


oferecimento pelo Estado de diversos benefícios ao agente que opte por fazer um acordo de
colaboração premiada.
Acompanhando as notícias veiculadas na imprensa, constata-se a notória presença do
referido instituto no ordenamento jurídico brasileiro, razão qual é preciso reconhecê-lo como
um importante instrumento para apuração de infrações penais, em especial aquelas ligadas às
organizações criminosas.
Considerando a contemporaneidade do instituto, ao menos no Brasil, não se pode
olvidar que os acordos elaborados com base na citada lei sejam realizados com cautela,
apurando-se tecnicamente as informações prestadas, a fim de garantir que o colaborador não
se beneficie em detrimento de um inocente.

29
Convém destacar ainda que apesar de parte da doutrina jurídica tecer críticas a
respeito do instituto, a jurisprudência das Cortes Superiores vem ratificando seu uso,
estabelecendo aos poucos os limites legais de sua aplicação. Constata-se que a finalidade
primordial que justifica seu uso é a busca pela solução de crimes, o que, em ultima análise, é o
verdadeiro interesse social da edição das leis criminais.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AMORIM, Felipe. STF decide que acordo de delação só pode ser revisado em caso de
ilegalidade. Uol notícias Política. Disponível em:
<https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2017/06/29/stf-decide-sobre-
acordos-de-delacao-premiada.htm>. Acesso em: 01 out. 2017.

ARAÚJO DA SILVA, Eduardo. Da inconstitucionalidade da proposta do delegado de


polícia para fins de acordo de delação premiada – Lei n°12.850. Disponível
em: <www.apmp.com.br >. Acesso em: 01 mar. 2016.

BERMÚDEZ, Ana Carla. Delação premiada existe desde a Idade Média e foi usada na
Inconfidência Mineira. Uol notícias Política. Disponível em:
<https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2017/05/21/delacao-premiada-
existe-desde-a-idade-media-saiba-mais-sobre-o-conceito.htm>. Acesso em: 12 out. 2017.

BRASIL. Lei nº 7.492, de 16 de Junho de 1986. Define os crimes contra o sistema


financeiro nacional, e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L7492.htm >. Acesso em: 03 de Out. 2017.

______. Lei nº 8.072, de 25 de Julho de 1990.. Dispõe sobre os crimes hediondos, nos
termos do art. 5º, inciso XLIII, da Constituição Federal, e determina outras providências.
. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8072.htm >. Acesso em: 03
out. 2017.

______. Lei nº 9.269, de 2 de abril de 1996. Dá nova redação ao § 4º do art. 159 do


Código Penal. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9269.htm#art1>. Acesso em: 03 out. 2017.

______. Lei nº 8.137, de 27 de dezembro de 1990. Define crimes contra a ordem


tributária, econômica e contra as relações de consumo, e dá outras providências.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8137.htm>. Acesso em: 03
out. 2017.

______. Lei nº 9.613, de 3 de Março de 1998. Dispõe sobre os crimes de "lavagem" ou


ocultação de bens, direitos e valores; a prevenção da utilização do sistema financeiro para
os ilícitos previstos nesta Lei; cria o Conselho de Controle de Atividades Financeiras -

30
COAF, e dá outras providências. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9613.htm>. Acesso em: 03 out. 2017.

______. Lei 9.807, de 13 de Julho de 1999. Estabelece normas para a organização e a


manutenção de programas especiais de proteção a vítimas e a testemunhas ameaçadas,
institui o Programa Federal de Assistencia a Vítimas e a Testemunhas Ameaçadas e
dispõe sobre a proteção de acusados ou condenados que tenham voluntariamente prestado
efetiva colaboração à investigação policial e ao processo criminal. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9807.htm>. Acesso em: 03 out. 2017.

______. Lei 11.343, de 23 de Agosto de 2006. Institui o Sistema Nacional de Políticas


Públicas sobre Drogas - Sisnad; prescreve medidas para prevenção do uso indevido,
atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas; estabelece normas para
repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas; define crimes e dá
outras providências.. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-
2006/2006/lei/l11343.htm>. Acesso em: 04 out. 2017.

______. Lei 12.529, de 30 de Novembro de 2011. Estrutura o Sistema Brasileiro de


Defesa da Concorrência; dispõe sobre a prevenção e repressão às infrações contra a
ordem econômica; altera a Lei n o 8.137, de 27 de dezembro de 1990, o Decreto-Lei n o
3.689, de 3 de outubro de 1941 - Código de Processo Penal, e a Lei n o 7.347, de 24 de
julho de 1985; revoga dispositivos da Lei n o 8.884, de 11 de junho de 1994, e a Lei n o
9.781, de 19 de janeiro de 1999; e dá outras providências.Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/Lei/L12529.htm>. Acesso em:
04 out. 2017.

______. Lei 12.850, de 02 de Agosto de 2013. Define organização criminosa e dispõe


sobre a investigação criminal, os meios de obtenção da prova, infrações penais correlatas
e o procedimento criminal; altera o Decreto-Lei n o 2.848, de 7 de dezembro de 1940
(Código Penal); revoga a Lei n o 9.034, de 3 de maio de 1995; e dá outras providências..
Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/lei/l12850.htm>. Acesso em:
04 out. 2017.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Iniciado julgamento sobre limites de relator em


homologação de colaboração premiada. Notícias STF. 21 de junho de 2017.
Disponível em <http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo
=347305>. Acesso em: 12 out. 2017.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Acórdão no Habeas Corpus 107.916 – RJ.


Relator FERNANDES, Og. Publicado no DJ de 20.10.2008. Disponível em:
<https://ww2.stj.jus.br/processo/pesquisa/?
tipoPesquisa=tipoPesquisaNumeroRegistro&termo=200801220761&totalRegistrosPorPa
gina=40&aplicacao=processos.ea>. Acesso em: 04 out 2017.

_______. Superior Tribunal de Justiça. Acórdão no Habeas Corpus 120454 – RJ.


Relatora Ministra Laurita Vaz. Publicado no DJ de 22.03.2010. Disponível em:
31
<http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/doc.jsp?
livre=120454&b=ACOR&p=true&l=10&i=4>. Acesso em: 14 out 2017.

CALGARO, Fernanda. RAMALHO, Renan. Maioria do STF vota por preservar benefício
negociado em acordo de delação premiada. G1 Política. Disponível em:
<https://g1.globo.com/politica/noticia/maioria-do-stf-vota-por-preservar-beneficio-
negociado-em-acordo-de-delacao-premiada.ghtml>. Acesso em: 01 out. 2017.

CANOTILHO, J. J. Gomes. Colaboração premiada: reflexões críticas sobre os acordos


fundantes da operação lava jato. Revista Brasileira de Ciências Criminais, Rio de
Janeiro, p. 133-171, jul. 2017.

CASTRO, Henrique Hoffmann Monteiro de. SANNINI, Francisco. Delegado de polícia


tem legitimidade para celebrar colaboração premiada. Revista Consultor Jurídico.
Disponível em: <https://www.conjur.com.br/2016-mar-04/delegado-legitimidade-
celebrar-colaboracao-premiada#_ftnref3>. Acesso em: 24 set. 2017.

CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Colaboração premiada. Disponível em:


<http://www.dizerodireito.com.br/2015/09/colaboracao-premiada.html>. Acesso em: 03.
nov. 2017.

CUNHA, Rogério Sanches e PINTO, Ronaldo Batista. Crime Organizado: comentários


à nova lei sobre o Crime Organizado – lei 12.850/2013. Salvador: Juspodivm. 2013. p. 34
apud BROETO, Filipe Maia, 2015. Disponível em
<https://filipemaiabroetonunes16.jusbrasil.com.br/artigos/258937847/colaboracao-
premiada-ou-delacao-premiada-afinal-ha-diferenca >. Acesso em: 04 out. 2017.

DIAS, Pamella e SILVA, Erik Rodrigues. Origem da delação premiada e suas influências
no ordenamento jurídico brasileiro. Jusbrasil. Disponível em: <https://rafael-
paranagua.jusbrasil.com.br/artigos/112140126/origem-da-delacao-premiada-e-suas-
influencias-no-ordenamento-juridico-brasileiro>. Acesso em: 12 out. 2017.

DIPP, Gilson. A delação ou colaboração premiada: uma análise do instituto pela


interpretação da lei. Brasília: IDP/EDB, 2015.

FREIRE JUNIOR, Américo Bedê. Qual o meio processual para requerer a delação
premiada após o trânsito em julgado da sentença penal condenatória? Disponível em
<https://jus.com.br/artigos/7638/qual-o-meio-processual-para-requerer-a-delacao-
premiada-apos-o-transito-em-julgado-da-sentenca-penal-condenatoria>. Acesso em: 14
out. 2017.

GUIDI, José Alexandre Marson. Delação Premiada: no combate ao crime organizado. 1.


ed. São José do Rio Preto: Lemos E Cruz, 2006.

HAYASHI, Francisco. Entenda a "delação premiada". Jusbrasil. Disponível em:


<https://franciscohayashi.jusbrasil.com.br/artigos/138209424/entenda-a-delacao-
premiada>. Acesso em: 12 out. 2017.

32
JESUS, Damásio Evangelista de. Estágio atual da "delação premiada" no Direito
Penal brasileiro. Disponível em <https://jus.com.br/artigos/7551/estagio-atual-da-
delacao-premiada-no-direito-penal-brasileiro>. Acesso em: 16 out. 2017.

LEAL, Celso Costa Lima Verde. Aspectos Procedimentais da Delação Premiada e a


Nova Lei de Lavagem de Dinheiro. Capacitar. Apud SILVA, Eduardo Araújo da. Crime
organizado: procedimento probatório. São Paulo: Atlas, 2003, p. 79.

LIMA, Renato Brasileiro de. Legislação penal especial comentada. 3. ed. Salvador:
JusPodivm, 2015.

LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. Vol. único. 2. ed. Salvador:
Juspodivm, 2014.

MAIA, Filipe. MELO, Valber. É possível cancelar um acordo de delação premiada já


homologado?. Canal Ciências Criminais. Disponível em:
<https://canalcienciascriminais.com.br/e-possivel-cancelar-um-acordo-de-delacao-
premiada-ja-homologado/>. Acesso em: 01 out. 2017.

MORO, Sérgio. Crime de Lavagem de Dinheiro. 2010. São Paulo: Editora Saraiva.
Apud LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. Vol. Único. 2ª ed.
Salvador: Juspodivm. 2014.

NUCCI, Guilherme de Souza. Organização criminosa. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense,


2015.

NUNES, Wálter. Delatores da Odebrecht cumprirão pena sem condenação. Folha de São
Paulo. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/poder/2017/03/1863736-delatores-
da-odebrecht-cumprirao-pena-sem-condenacao.shtml>. Acesso em: 12 out. 2017.

PORTUGAL. Ordenações Filipinas. Livro V. Título VI. Crime de Lesa Majestade.


Disponível em: <http://www.ci.uc.pt/ihti/proj/filipinas/l5p1153.htm>. Acesso em: 04 out.
2017.

RODAS, Sérgio. No sistema brasileiro, delação premiada é como uma cuíca numa
orquestra sinfônica. Disponível em: <https://www.conjur.com.br/2017-jun-25/entrevista-
diogo-malan-criminalista-professor-ufrj-uerj>. Acesso em: 03. nov. 2017.

RODRIGUES JUNIOR, Otavio Luiz. Considerações sobre a coação como elemento


acidental da estrutura da norma jurídica: a idéia de pena e sanção premial . Arquivos
do Ministério da Justiça. Brasília, ano 51, nº 190, jul/dez 2006.

SOUKI, Hassan. Organização criminosa. Breves apontamentos sobre a lei


12850/13. Migalhas. Disponível em: <http://www.migalhas.com.br/
dePeso/16,MI192555,71043-Organizacao+criminosa+Breves+apontamentos+sobre+a+lei
+1285013>. Acesso em: 12 out. 2017.

33
COSTA, Marcos Dangelo da. Delação premiada. Monografias e teses. Disponível em:
<http://www.conteudojuridico.com.br/monografia-tcc-tese,delacao-
premiada,22109.html#_ftn10>. Acesso em: 12 out. 2017

REVISTA CONSULTOR JURÍDICO. Acordo de delação da Odebrecht prevê pena


inclusive antes de denúncia. Disponível em:
<https://www.conjur.com.br/2017-mar-05/acordo-delacao-odebrecht-preve-pena-antes-
denuncia>. Acesso em: 12 out. 2017.

APÊNDICE A – Fluxograma do procedimento de elaboração do acordo de colaboração


premiada conforme a Lei n° 12.850/2013

Apresentação da proposta de acordo


Negociações entre MP ou pelo MP ou delegado (em qualquer
delegado e colaborador e defesa fase, inclusive na execução penal
(sem participação do juiz – art. ( art 4º, § 7º e art. 6º)
4º, § 6º)

Distribuição sigilosa (art. 7º, caput) Retratação pelas partes (art. 4º, §
10º - somente antes da
homologação)

Analise judicial em 48 horas


(legalidade e voluntariedade - art 4º,
§ 7º e art. 7º, § 1º)

Homologação (art 4º, § 8º e 9º) Não homologação (art 4º, § 8º)

Efeitos antes da sentença: perdão judicial, Posterior à sentença: redução da


redução da pena em até dois terços ou pena até a metade ou progressão
substituição da pena privativa de liberdade de regime
por restritiva de direitos, suspensão do
prazo de apresentação da denúncia (6
meses) ou do processo e suspensão do
prazo prescricional 34
35

Você também pode gostar