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TEMA: “CRIME ORGANIZADO – LEI 12.850/2013”.

Seminário de Direito Penal


SUMÁRIO

1. Introdução...............................................................................................04
2. Conceito de organização criminosa no ordenamento jurídico brasileiro.05
3. A revogação da Lei 9.0344/1995 e suas principais alterações...............06
4. Aplicação da pena e agravantes pela prática do crime de organização
criminosa.................................................................................................09
5. Investigação e meios de obtenção de provas na persecução
penal.........10
Introdução:

O presente trabalho desenvolve em seu conteúdo uma


explanação acerca da Lei 12.850/2013 elucidando o seu conteúdo e apontando
as principais mudanças acrescidas com o advento da revogação da Lei
9.034/95.

O tema crime organizado, e principalmente o seu combate


é priorizado em todo o mundo, no Brasil o assunto ganhou força quando aditou
a Lei 9.034/95, mais tarde revogada pela lei supramencionada. O principal
intento desta nova lei, além de corrigir vários defeitos da legislação anterior é
conceituar e estabelecer definitivamente como crime a “organização criminosa”.

Importa mencionar que o termo organização é bilateral,


estamos falando de uma organização da polícia na esfera inquisitória, e
também organização dos criminosos.

Nesta pesquisa percorreremos pelas formas de aplicação


da Lei, análise do conceito de organização criminosa e os mecanismos trazidos
pela legislação para combate-las.

Demonstraremos, como se dá a persecução penal, quais


os meios de provas genéricos, e os especiais trazidos por este diploma.
Decorrendo daí as formas de ação controlada e seus requisitos, a colaboração
premiada suas consequências, prós e contras pela adoção da medida,
infiltração de agentes, como se dá seu procedimento e os aspectos criminais
da atuação do agente.

Para corroborar no entendimento serão ilustrados casos


de operação policiais com ações organizadas, e de igual contorno ações
criminosas que se organizaram afim de cometer crimes.
Por fim, para reafirmar e fortalecer os dados examinados
apresentamos a posição da doutrina e da jurisprudência neste tocante.

1. Conceito de organização criminosa no


ordenamento jurídico brasileiro:

O conceito de organização criminosa encontra-se


estampado no Art. 1º, §1º da Lei 12.850/2013 dispondo o que segue:

“Art. 1o Esta Lei define organização criminosa e dispõe


sobre a investigação criminal, os meios de obtenção da
prova, infrações penais correlatas e o procedimento
criminal a ser aplicado.

§ 1o Considera-se organização criminosa a associação de


4 (quatro) ou mais pessoas estruturalmente ordenada e
caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que
informalmente, com objetivo de obter, direta ou
indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante
a prática de infrações penais cujas penas máximas sejam
superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter
transnacional”.

Diante disso, encontramos relevantes aspectos que nos


permitem difundir com clareza o que é necessário para compor uma
organização criminosa. E, principalmente que os requisitos apresentados são
cumulativos, ou seja, que não basta a existência extrínseca de um só dos
elementos. Senão, vejamos, é imperioso que haja a) associação de quatro ou
mais pessoas; b) estruturalmente ordenados, significando ao certo que é
necessária uma hierarquia; c) divisão de tarefas, os indivíduos devem respeitar
suas atribuições dentro da organização; d) obtenção de vantagem de qualquer
natureza, logo é preciso que a finalidade de tal organização seja a de
desenvolver atividade criminosa e obter vantagem ou proveito seja ele
econômico ou não; e) mediante a pratica de infrações cujas penas máximas
sejam superiores a 4 (quatro) anos, limitando essa valoração da pena em
virtude do impacto que tal conduta pode causar na sociedade. f) mediante a
prática de infrações penais de caráter transnacional, ocorrência de grande
valor, este tópico nos traz que caso o crime seja praticado além das fronteiras
do Brasil, ainda que não cumpra os critérios de pena máxima ou natureza do
tipo penal é possível caracterizar uma organização criminosa.

O principal desígnio desta lei, vai muito além de trazer


uma definição para organização criminosa, sobretudo visa determinar tipos
penais dela derivados e disciplinar a forma que ocorreram estas investigações
e a captação de provas.

1.1 Crime organizado transnacional:

Outrossim, no que toca a extensão legislativa e o caráter


transnacional, em seu Art. 1º §2º tem se que:

“ Essa Lei também se aplica:

I – As infrações penais previstas em tratados ou


convenção internacional quando, iniciada a execução no
País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no
estrangeiro ou reciprocamente;

II- Ás organizações terroristas, entendidas como aquelas


voltadas para a prática de atos de terrorismo legalmente
definidos”.

Estes preceitos ajustam se perfeitamente com as formas


de investigações disponibilizadas pela legislação com os institutos da
colaboração premiada, ação controlada, infiltração de agentes, captação de
provas e crimes contra a administração da justiça.
O tipo prevê condutas específicas, como por exemplo:
Promover, constituir, financiar, ou integrar pessoalmente ou na de interposta
pessoa, organização criminosa. Ressaltando que o sujeito ativo pode ser
qualquer pessoa, inclusive um menor de 18 anos. E o sujeito passivo a
qualquer pessoa, a sociedade em geral. Trata-se de crime formal, ou seja,
basta que os indivíduos cumpram os requisitos e se organizem afim de obter
vantagem que se consuma o delito. Não há que se falar na modalidade
tentada, uma vez que tal crime exige estabilidade de tempo para se configurar,
caso seja interrompida a conduta por circunstancias alheias a vontade dos
agentes pode-se configurar a associação criminosa Art. 288 do Código Penal.
Valendo a devida importância observar que o crime de organização criminosa é
tipo penal autônomo, que deve ser punido conjuntamente com o outro tipo
praticado, somando-se as penas.

Fato que merece destaque no que tange as infrações


penais é que esta lei permite uma aplicação por extensão, conforme disciplina
o Doutrinador Guilherme de Souza Nucci1:

“ São duas as possibilidades de extensão, valendo dizer


que os institutos da colaboração premiada, ação controlada, infiltração de
agentes, captação de provas e crimes contra a administração da justiça são
ajustáveis com perfeição.

A primeira delas diz respeito às infrações penais – crime


ou contravenção – previstas em tratados e convenções internacionais,
assumidos pelo Brasil, como ocorre com o tráfico de drogas e o de pessoas,
desde que tenham início em território nacional e atingindo o estrangeiro ou
reciprocamente.

Em face disso, o crime previsto no Art. 149-A do Código


Penal (tráfico de pessoas), ainda que cometido por um só agente, admite a
inserção no contexto da Lei 12.850/2013.

1
NUCCI, Guilherme de Souza. Organização Criminosa -3. Ed. Ver., atualizada. e ampliada – Rio de
Janeiro: Forense, 2017. Pag.19
A segunda concerne às organizações terroristas definidas
em lei, tratando-se, no caso, da Lei 13.260/2016. Em face da relevância
convém mencionar o previsto no Art. 5º da Lei 13.260/2016 amplia a
possibilidade de aplicação da lei para os casos de terrorismo, prevendo relevo
penal aos atos preparatórios ocorridos, com o propósito nítido de realizar esta
espécie de delito.

Em suma, todas as infrações penas subsumidas nas


hipóteses descritas na Lei 12.850/2013 passam a receber tanto os benefícios
quando o seu rigor”.

Nessa toada, entende-se que existe uma extensão da Lei


para abarcar crimes que não cumpra fielmente seus requisitos, porém diante
da gravidade das condutas merecem ser submetidos a rigidez das previsões
desta legislação.

2. A revogação da Lei 9.034/1995 e suas principais


alterações:

A lei 9.034/95 foi a primeira criação com o intento


específico do legislador em tratar da organização criminosa, tendo como
referências as legislações estrangeiras e suas formas de combate a esta
espécie de crimes.

Consoante o posicionamento do ilustre Eduardo Araújo da


Silva2, sobre a aplicação da antiga lei:

“O legislador procurou tutelar o fenômeno do crime


organizado. Todavia, além de abandonar a linha inicial do Projeto nº 3.519/89,
não seguiu nenhuma das correntes conceituais anteriormente anotadas e
tampouco buscou uma posição híbrida. Assim, não partiu de uma noção de
organização criminosa, não definiu o crime organizado através de seus
elementos essenciais, não arrolou condutas que constituiriam a criminalidade
organizada e nem procurou aglutinar essas orientações para delimitar a

2
Silva, Eduardo Arujo da. Organizações criminosas: Aspectos penais e processuais da lei nº 12.850/13 –
2. Ed. – São Paulo: Atlas,2015.
matéria. Optou apenas e tão somente, num primeiro momento, por equiparar a
organização criminosa às ações resultantes de quadrilha ou bando”.

No entanto, esta lei foi revogada anos mais tarde, em


decorrência de falhas e omissões que apresentava tal diploma.

Neste viés foi promulgada a Lei nº. 12.850/2013 que


revogou expressamente a lei anterior. A novel lei representou além de uma
evolução da legislação, um preenchimento de lacunas importantes, como por
exemplo a questão da fixação de um conceito para “organização criminosa”.
Todavia, essa menção merece atenção especial, tendo em vista que o conceito
de organização criminosa veio primariamente estampado em outra lei, que será
melhor analisada adiante, mas que cabe a este preceito uma prévia ressalva.

A lei 12.694/2012 foi a real introdutora do conceito para o


termo organização criminosa, presente em seu Art. 2º, quando disciplinava:

“Para os efeitos desta Lei, considera-se organização


criminosa a associação, de 3 (três) ou mais pessoas,
estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de
tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter,
direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza,
mediante a prática de crimes cuja pena máxima seja
igual ou superior a 4 (quatro) anos ou que sejam de
caráter transnacional”. (Grifo Nosso)

Tal artigo restou derrogado, no ano seguinte, com a


então Lei 12.850/2013, que atualizou este dispositivo, declarando, in verbis, em
seu Art. 1º, §1º:

“§ 1o Considera-se organização criminosa a associação


de 4 (quatro) ou mais pessoas estruturalmente
ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda
que informalmente, com objetivo de obter, direta ou
indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante
a prática de infrações penais cujas penas máximas sejam
superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter
transnacional”. (Grifo Nosso)

A inovação da lei fez alterações


salientes, principalmente no que tange ao conceito, pois, na vigência da lei
anterior a única maneira de se criminalizar qualquer conduta associativa era
por meio do artigo 288, do código penal, cujo o crime é definido por associação
criminosa. A novel legislação possibilita especializar o tipo com intento de punir
rigorosamente os integrantes da organização criminosa, facilitando a
diferenciação da organização criminosa para a associação, outrora
denominado quadrilha ou bando que teve sua redação alterada pelo advento
desta lei.

De igual sorte, potencializar os meios de investigação,


oferecendo espaço a todos os meios de colheita de provas supracitados.

E também tipificar outras condutas como: impedimento ou


embaraço da investigação, violação da identidade ou da imagem do
colaborador, falsa colaboração, quebra do sigilo das investigações, recusa de
informações às autoridades e violação de dados cadastrais.

3. Aplicação da pena e agravantes pela prática do


crime de organização criminosa:

A organização criminosa, é um tipo penal próprio, assim


sendo sua prática decorre de uma pena respectiva, ainda que seja necessária
a existência de um crime primário contíguo.

Para melhor esclarecer esta exposição, valemos se do


seguinte exemplo:

“Uma determinada organização de 5 indivíduos que se


unem afim de roubar veículos, cada um com sua atuação previamente
consignada, logrando êxito na empreitada e vindo a ser descobertos
posteriormente a consumação do delito”.
No momento da aplicação das penas para estes crimes,
será aplicada uma pena ao crime de roubo do Art.157 do Código Penal e outra
aplicada pelo crime de organização criminosa, que ao fim, serão somadas na
fase executória.

Neste diapasão, é válida a ressalva de que existem casos


que podem agravar a pena prevista na Lei 12.850/2013, com previsão
especificada, vejamos:

Art.2o Promover, constituir, financiar ou integrar,


pessoalmente ou por interposta pessoa, organização
criminosa: Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e
multa, sem prejuízo das penas correspondentes às
demais infrações penais praticadas. § 1 o  Nas mesmas
penas incorre quem impede ou, de qualquer forma,
embaraça a investigação de infração penal que envolva
organização criminosa.§ 2o  As penas aumentam-se até
a metade se na atuação da organização criminosa
houver emprego de arma de fogo.§ 3o  A pena é
agravada para quem exerce o comando, individual ou
coletivo, da organização criminosa, ainda que não
pratique pessoalmente atos de execução.§ 4 o  A pena
é aumentada de 1/6 (um sexto) a 2/3 (dois terços):I -
se há participação de criança ou adolescente; II - se
há concurso de funcionário público, valendo-se a
organização criminosa dessa condição para a prática

de infração penal; III - se o produto ou proveito da


infração penal destinar-se, no todo ou em parte, ao
exterior; IV - se a organização criminosa mantém
conexão com outras organizações criminosas
independentes; V- se as circunstâncias do fato
evidenciarem a transnacionalidade da organização.
In casu, está bastante claro o entendimento de que
apesar do crime de organização criminosa depender de outro para sua
constituição, suas condutas serão punidas separadamente.

4.Investigação e meios de obtenção de provas na


persecução penal:

A investigação é uma das partes mais importante para um


processo, especialmente nos casos que envolvam organizações criminosas,
pois sob a presidência da autoridade policial realizam-se atos ainda mais
amplos para apurar a obtenção de provas que embasem a autoria e a
materialidade delitiva, apoiadas na perspectiva de desvendar toda a “cadeia”
de organização criminosa.

Existem no processo penal as provas denominas


genéricas, ou seja, aplicadas a todos os tipos de processos, são elas:
testemunhal, documental, pericial, confissão, interrogatório, indício, acareação,
reconhecimento de pessoa ou coisa, busca e apreensão. E também, as
específicas que neste caso serão aplicadas com a finalidade de apurar a
organização criminosa.

As formas de obtenção de provas especializadas estão


expressamente descritas no Art. 3º da Lei 12.850/2013, dos quais passamos
analisar a partir daqui:

Art. 3o Em qualquer fase da persecução penal, serão


permitidos, sem prejuízo de outros já previstos em lei, os seguintes meios de
obtenção da prova:

I - Colaboração premiada: Tal instituto será estudado com


maior profundidade no tópico seguinte;

II - Captação ambiental de sinais eletromagnéticos,


ópticos ou acústicos: A captação ambiental consiste basicamente na colheita
por qualquer meio (gravação, foto, filmagem) de modo presencial, em local
certo, com contato pessoal do agente com os investigados. É basicamente uma
captação de conversa alheia. Consoante as determinações da legislação em
análise, só se faz necessária a autorização judicial quando esta captação
ocorrer em local privado, por exemplo dentro de uma residência (domicílio
inviolável), no mais, em locais públicos tal autorização é dispensada, sem que
haja qualquer afronta ao direito constitucional a intimidade.

III - Ação controlada: Trata-se de uma forma inteligente da


autoridade policial, retardar devidos atos, como por exemplo uma prisão em
flagrante com o intuito de aguardar o momento mais oportuno em que poderá
capturar mais agentes, ou obter mais provas e informações. Desde que
continuem supervisionando para que as medidas possam ser tomadas
posteriormente. Tal instituto está amparado pelo Art. 8º da Lei 12.850/2013.
Conforme disciplina a Doutrina do professor Guilherme Souza Nucci, a
natureza jurídica da ação controlada é um meio de prova caracterizado pela
busca e, eventualmente, pela apreensão. Vale mencionar que para a
realização da ação controlada, a autoridade policial deve comunicar o
magistrado e o ministério público, podendo o primeiro estabelecer limites para
atuação policial, porém não denegar, e o segundo requerer diligências que
achar pertinente.

IV-Acesso a registros de ligações telefônicas e


telemáticas, a dados cadastrais constantes de bancos de dados públicos ou
privados e a informações eleitorais ou comerciais: O Art.15º da referida lei,
prevê que o delegado de polícia e o ministério público terão acesso amplo aos
bancos de registro e ligações telefônicas, informações eleitorais, entre outras.
Com vistas a conseguir a qualificação pessoal dos acusados, sem constituir
meio de prova contra estes. Neste aspecto, inclusive as empresas de
transporte público deverão fornecer as informações quando requisitas, sobre
viagens marcadas, compra de passagens, etc. Mais adiante, no Art. 17ª refere-
se aos registros de ligações telefônicas, que precisam de autorização judicial
para serem fornecidos, visto que atingem a intimidade.

V-Interceptação de comunicações telefônicas e


telemáticas, nos termos da legislação específica: A interceptação telefônica é
um dos meios mais utilizados pelas autoridades policiais, e sem dúvida a mais
eficaz. Nesta modalidade um membro da polícia escuta conversa alheia, e as
transcreve para posteriormente utiliza-la como meio de prova. A constituição
Federal resguarda o sigilo das comunicações telefônicas, no entanto, por meio
de autorização judicial, bem como seguindo os preceitos estabelecidos pela
legislação específica Lei 9.296/1996 ele pode ser relativizado. Vale salientar
que quando um dos interlocutores grava conversa sigilosa, sem autorização da
outra pessoa, esta prova será considerada ilícita.

VI- Afastamento dos sigilos financeiro, bancário e fiscal,


nos termos da legislação específica: Tal forma de prova tem previsão
amparada pela Lei Complementar 105/2001. Esses sigilos só podem ser
quebrados com autorização judicial, pois são resguardados pela Constituição
Federal no âmbito da intimidade e vida privada.

VII- Infiltração, por policiais, em atividade de investigação,


na forma do art. 11: Este instituto será abordado posteriormente.

VIII- Cooperação entre instituições e órgãos federais,


distritais, estaduais e municipais na busca de provas e informações de
interesse da investigação ou da instrução criminal: Este inciso, é tratado
juntamente com os meios de prova, porém trata-se apenas do funcionamento
da máquina estatal, é apenas uma colaboração lógica que deve ocorrer.

§ 1o Havendo necessidade justificada de manter sigilo


sobre a capacidade investigatória, poderá ser dispensada
licitação para contratação de serviços técnicos
especializados, aquisição ou locação de equipamentos
destinados à polícia judiciária para o rastreamento e
obtenção de provas previstas nos incisos II e V. 

§ 2o No caso do § 1o, fica dispensada a publicação de que


trata o parágrafo único do art. 61 da Lei nº 8.666, de 21
de junho de 1993, devendo ser comunicado o órgão de
controle interno da realização da contratação.

5.Da Colaboração premiada:


A colaboração premiada tem previsão no art. 4° na Lei n°
12.850/13, e tem sido utilizada na competência criminal ao longo dos anos no
trato de criminalidade organizada. Essa colaboração, como meio de obtenção
de elementos de prova, tem por propósito promover a rápida apuração dos
ilícitos e assim trazer a aplicação de punições correspondentes em face de
condutas de difícil comprovação.
Para que um indivíduo seja beneficiário da colaboração
premiada ele precisa colaborar de forma voluntária e efetiva (art. 4°, caput).
Isso é verificado quando da colaboração resultar um dos efeitos previstos, tais
como: a identificação dos demais autores e partícipes, os crimes e respectivos,
a estrutura hierárquica dessa organização, e quando for o caso, a localização
de eventual vítima e prevenção de novos crimes.

“Art. 4° O juiz poderá, a requerimento das partes,


conceder o perdão judicial, reduzir em até 2/3 (dois
terços) a pena privativa de liberdade ou substituí-la por
restritiva de direitos daquele que tenha colaborado efetiva
e voluntariamente com a investigação e com o processo
criminal, desde que dessa colaboração advenha um ou
mais dos seguintes resultados:

I - a identificação dos demais coautores e partícipes da


organização criminosa e das infrações penais por eles
praticadas. II - A revelação da estrutura hierárquica e da
divisão de tarefas da organização criminosa; III - a
prevenção de infrações penais decorrentes das atividades
da organização criminosa. IV - A recuperação total ou
parcial do produto ou do proveito das infrações penais
praticadas pela organização criminosa; V - A localização
de eventual vítima com a sua integridade física
preservada”.

5.1. Do procedimento:
A colaboração pode ocorrer durante a fase de
investigação policial, durante a fase processual ou até depois da sentença. O
procedimento se inicia com a negociação entre as partes e passa pela
homologação do juiz, a verificação de seu cumprimento e finaliza com a
concessão do benefício. Portanto, a colaboração premiada é um acordo formal
que, depois de homologado, deve ser cumprido e resulta na concessão dos
prêmios previstos em lei. De acordo com o §8° o Juiz poderá recusar
homologação à proposta que não atender aos requisitos legais.

Vale ressaltar que, o juiz não pode participar das


negociações da colaboração premiada, apenas a homologa ou não, para
manter a parcialidade no julgamento. Apenas o colaborador, seu advogado, o
delegado de polícia e o representante do Ministério Público participam (art.6°).
Quando este acordo for negociado, ele deve ser formalizado contendo o relato
do colaborador bem como toda a descrição do caso, as condições da proposta
do Ministério Público e a declaração de aceitação do colaborador e de seu
defensor, as assinaturas de todos os participantes e a especificação de
medidas de proteção ao colaborador e sua família.

“Art. 6 da Lei 12.850/2013 traz que:

O termo de acordo da colaboração premiada deverá ser


feito por escrito e conter: I - o relato da colaboração e
seus possíveis resultados; II - as condições da proposta
do Ministério Público ou do delegado de polícia;
III - a declaração de aceitação do colaborador e de seu
defensor; IV - as assinaturas do representante do
Ministério Público ou do delegado de polícia, do
colaborador e de seu defensor; V - a especificação das
medidas de proteção ao colaborador e à sua família,
quando necessário”.

Um detalhe importante para mencionar é o caso de que o


depoimento do colaborador é equiparado com as testemunhas, ou seja, mesmo
sendo réu precisa renunciar seu direito ao silêncio e prestar compromisso legal
de dizer a verdade. Caso ele omita em algum ponto relevante do caso, o
acordo perde a validade e assim ele pode ser condenado normalmente, porque
não teve a boa-fé no cumprimento do acordo. Mas não poderá ser condenado
por crime de falso testemunho.

Ainda que a colaboração premiada seja um meio de


prova, a lei veda que a sentença condenatória seja baseada exclusivamente
nas declarações do colaborador. Ou seja, a palavra do colaborador não é
suficiente para fundamentar a condenação criminal de qualquer dos
investigados. O mesmo precisa oferecer outros elementos probatórios que
demonstrem que o que ele está dizendo é efetivamente verdade e mostrar
elementos que provem que ele tem ligação com os mesmos.

Art. 4º § 16, dispõe: “Nenhuma sentença condenatória


será proferida com fundamento apenas nas declarações de agente
colaborador”.

5.2. Dos direitos do colaborador:

Em seu artigo 5° da Lei 12.850/2013, discorre os direitos


do colaborador, que são eles:

“I - usufruir das medidas de proteção previstas na


legislação específica; II - ter nome, qualificação, imagem
e demais informações pessoais preservados; III - ser
conduzido, em juízo, separadamente dos demais
coautores e partícipes;IV - participar das audiências sem
contato visual com os outros acusados; V - não ter sua
identidade revelada pelos meios de comunicação, nem
ser fotografado ou filmado, sem sua prévia autorização
por escrito; VI - cumprir pena em estabelecimento penal
diverso dos demais corréus ou condenados”.

As medidas de proteção (inciso I) são previstas pela Lei


9.807/1999 9 (Lei de Proteção a Testemunhas e Vítimas), particularmente os
dispostos nos artigos 7°, 8°, 9°. Resumidamente, os programas compreendem,
em segurança na residência; escolta e segurança nos deslocamentos da
residência; transferência de residência ou acomodação provisória; preservação
da identidade, imagem e dados pessoais; ajuda financeira; suspensão
temporária de atividades; sigilo em relação aos atos praticados em virtude de
proteção consentida. Tais proteções são aplicadas isoladamente segundo a
gravidade de cada caso.

5.3. Dos benefícios do colaborador:

Obviamente, ao colaborador que se prontifica a oferecer


elementos probatórios relevantes a incriminação de outros envolvidos, é dado
alguns benefícios. Em ordenamentos jurídicos antigos, era constatado apenas
um único benefício, que era a redução de pena de um ano a dois terços.
Conforme os anos, esse quesito foi ampliado, e com a inserção da Lei
12.850/13 a colaboração premiada pode resultar em concessão dos seguintes
benefícios: redução de pena de até 2/3, substituição da pena privativa de
liberdade por pena restritiva de direitos e perdão judicial, com a consequente
extinção da punibilidade. Levando em consideração que, tais benefícios são
concedidos levando em conta a personalidade do colaborador, e a eficácia da
colaboração.

O Art. 4º da legislação em comento, evidencia:

“ O juiz poderá, a requerimento das partes, conceder o


perdão judicial, reduzir em até 2/3 (dois terços) a pena
privativa de liberdade ou substituí-la por restritiva de
direitos daquele que tenha colaborado efetiva e
voluntariamente com a investigação e com o processo
criminal, desde que dessa colaboração advenha um ou
mais dos seguintes resultados:

(...)

§ 1o Em qualquer caso, a concessão do benefício levará


em conta a personalidade do colaborador, a natureza, as
circunstâncias, a gravidade e a repercussão social do fato
criminoso e a eficácia da colaboração.§ 2 o  Considerando
a relevância da colaboração prestada, o Ministério
Público, a qualquer tempo, e o delegado de polícia, nos
autos do inquérito policial, com a manifestação do
Ministério Público, poderão requerer ou representar ao
juiz pela concessão de perdão judicial ao colaborador,
ainda que esse benefício não tenha sido previsto na
proposta inicial, aplicando-se, no que couber, o art. 28 do
Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de
Processo Penal)”.

É claro que, com esses benefícios alguns colaboradores


ficam “impunes” pelos seus crimes, ou recebem penas muito pequenas se for
comparar com a gravidade do delito. Mas é válido entender que muitas vezes
obter essas informações sem essa ajuda seria quase impossível. Então a
colaboração premiada é nada menos que um instrumento que o Estado dispõe
para conseguir fechar o “quebra-cabeça”.

5.4. Dos prós e contras:

Existem algumas questões e discussões acerca da


colaboração premiada, muitas são as vantagens e desvantagens da mesma.

São pontos negativos da colaboração premiada:

a) Oficializa-se por lei, a traição, forma antiética de


comportamento social. Ou seja, acreditam ser uma conduta que foge dos
padrões da ética. Obviamente essa crítica é baseada num pensamento moral,
que considera a relação com as pessoas mais importante do que a relação
ética que deveria existir entre o cidadão e o próprio Estado;
b) Pode ferir a proporcionalidade na aplicação da pena,
pois o delator recebe pena menor que os delatados, autores de condutas tão
graves quanto à dele;
c) O Estado não pode aquiescer em barganhar com a
criminalidade;
d) Há um estímulo a delações falsas e um incremento a
vinganças pessoais;

São pontos positivos da colaboração premiada:

(a) No universo criminoso, não se pode falar em ética ou


valores, dada a própria natureza da prática de condutas que rompes as
normas, ferindo bens jurídicos protegidos pelo Estado;
(b) Réus mais culpáveis devem receber penas mais
severas, ao colaborar com o Estado, demonstra menor culpabilidade, portanto
pode receber sanção menos grave;
(c) Ao que se fala de traição, devemos ter conhecimento
de que nesse caso a “traição” é feita com bons propósitos, agindo contra o
delito em favor do Estado Democrático de Direito;

Em razão do exposto, parece-nos que a colaboração


premiada é um mal necessário, pois o bem maior a ser tutelado é o Estado
Democrático de Direito. Não é preciso ressaltar que o crime organizado tem
ampla penetração nas entranhas estatais e possui condições de desestabilizar
qualquer democracia, sem que possa combate-lo, com eficiência,
desprezando-se a colaboração dos conhecedores do esquema, dispondo-se a
denunciar coatores e partícipes. Portanto, rejeitar a ideia da colaboração
premiada constituiria um autêntico prémio ao crime organizado e aos
delinquentes em geral, que, sem a menor ética, ofendem bens jurídicos
preciosos.

Apesar de todas as especulações acerca do assunto, a


mesma ainda continua sendo usada e trazendo inúmeras vantagens, pois é
uma ferramenta extremamente útil. É apenas ressaltado o cuidado e diligência
que precisam ter ao executar a mesma, para não acabar condenando inocente
erroneamente, já que muitas das vezes os colaboradores podem acabar
mentindo pela pressão ou apenas por querer se livrar do processo criminal.

6. Da Infiltração de agentes:
A infiltração de agentes, é um meio de prova estabelecido
pela Lei, e destina-se a garantir que agentes da polícia trabalhando em
investigações, possam se infiltrar sem que sejam percebidos dentro das
organizações criminosas, como integrantes. Salienta-se que para tanto
utilizam-se de documentos falsos, com o intento de observar a estruturação,
divisão de tarefas, a hierarquia como um todo.
Por razões obvias o agente infiltrado pode se utilizar da
ação controlada anteriormente explicada para que conquiste posteriormente
apreensão de todo o grupo.
Importa observar que o agente infiltrado além de exercer
a atividade de busca, futuramente acaba servindo como testemunha para
declarar tudo o que contemplou enquanto conhecia a estrutura.
Ademais, o agente está plenamente tutelado, caso seja
necessário que pratique eventuais crimes, justamente para que demonstre a
lealdade aos demais integrantes da organização. Esta conduta é tida pelo
ordenamento jurídico como uma excludente de ilicitude de seus atos, estando o
agente imunizado. Lembrando que esta proteção não está expressamente
prevista no código penal, mas encontra amparo no Art. 13, caput, da Lei
12.850/2013.
A legislação em comento traz os requisitos para infiltração
do agente, em seu artigo 10º:

Art. 10.  A infiltração de agentes de polícia em tarefas de


investigação, representada pelo delegado de polícia ou
requerida pelo Ministério Público, após manifestação
técnica do delegado de polícia quando solicitada no curso
de inquérito policial, será precedida de circunstanciada,
motivada e sigilosa autorização judicial, que estabelecerá
seus limites.

§ 1o Na hipótese de representação do delegado de


polícia, o juiz competente, antes de decidir, ouvirá o
Ministério Público.
§ 2o Será admitida a infiltração se houver indícios de
infração penal de que trata o art. 1 o e se a prova não
puder ser produzida por outros meios disponíveis.

§ 3o A infiltração será autorizada pelo prazo de até 6


(seis) meses, sem prejuízo de eventuais renovações,
desde que comprovada sua necessidade.

§ 4o Findo o prazo previsto no § 3o, o relatório


circunstanciado será apresentado ao juiz competente,
que imediatamente cientificará o Ministério Público.

§ 5o No curso do inquérito policial, o delegado de polícia


poderá determinar aos seus agentes, e o Ministério
Público poderá requisitar, a qualquer tempo, relatório da
atividade de infiltração.

Nesta mesma toada, disciplina os direitos do agente


infiltrado, estabelecidos no Art. 14 da legislação em observância:

“Art. 14.  São direitos do agente:

I - Recusar ou fazer cessar a atuação infiltrada;

II - Ter sua identidade alterada, aplicando-se, no que


couber, o disposto no art. 9o da Lei no 9.807, de 13 de
julho de 1999, bem como usufruir das medidas de
proteção a testemunhas;

III - Ter seu nome, sua qualificação, sua imagem, sua voz
e demais informações pessoais preservadas durante a
investigação e o processo criminal, salvo se houver
decisão judicial em contrário;

IV - Não ter sua identidade revelada, nem ser fotografado


ou filmado pelos meios de comunicação, sem sua prévia
autorização por escrito”.
O procedimento da infiltração do agente depende de
requerimento do ministério público ou representação do delegado de polícia
que deverão demonstrar a necessidade de tal medida.
São imprescindíveis quatro elementos que devem estar
presentes no requerimento:
a) Demonstração de indícios de autoria e materialidade;
b) Necessidade da medida;
c) Alcance das tarefas;
d) Nomes ou apelidos dos investigados;
e) Local da infiltração;

Neste tocante, dispõe o Art. 12, §1º da Lei 12.850/2013:

“Art. 12.  O pedido de infiltração será sigilosamente


distribuído, de forma a não conter informações que
possam indicar a operação a ser efetivada ou identificar o
agente que será infiltrado.

§ 1o As informações quanto à necessidade da operação


de infiltração serão dirigidas diretamente ao juiz
competente, que decidirá no prazo de 24 (vinte e quatro)
horas, após manifestação do Ministério Público na
hipótese de representação do delegado de polícia,
devendo-se adotar as medidas necessárias para o êxito
das investigações e a segurança do agente infiltrado”.

7. Crimes contra a administração da justiça no


combate à organização criminosa:

Inicialmente, devemos destacar que a Lei 12.850 de


2013, tipifica como crime as condutas que colocam em risco à administração
da justiça, ou seja, toda atividade desenvolvida no campo da persecução penal,
alguns aspectos do processo civil e do administrativo, portanto, o bem tutelado
por esta Lei é a administração da justiça.
As condutas supramencionadas, abrangem a revelação
de identidade do colaborador; delação caluniosa; quebra de sigilo e sonegação
de informações.

Para que haja o real entendimento das condutas


combatidas pela Lei, passaremos a explicar cada uma delas:

7.1. Quanto a revelação de identidade do colaborador:

Encontra previsão no Art. 18 da Lei em comento, que


assim dispõe:

“Art. 18.  Revelar a identidade, fotografar ou filmar o


colaborador, sem sua prévia autorização por escrito:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa”.

Este tipo de conduta ocorre na esfera da delação


premiada e configura-se por meio da revelação da identidade (informações
pessoais), fotografia ou filme da figura do delator, denominado de colaborador
ante a sua efetiva e voluntária colaboração com a investigação e com processo
criminal.

Para que seja efetiva a colaboração deverá resultar na


identificação dos demais coautores e partícipes da organização criminosa e
das infrações penais por eles praticadas; a revelação da estrutura hierárquica e
da divisão de tarefas da organização criminosa; a prevenção de infrações
penais decorrentes das atividades da organização criminosa; a recuperação
total ou parcial do produto ou do proveito das infrações penais praticadas pela
organização criminosa e a localização de eventual vítima com a sua
integridade física preservada, conforme art. 4º e incisos da Lei 12.850/2013.

Imperioso ressaltar que, para adquirir os direitos de


proteção ao colaborador, a delação deverá ser homologada pelo juiz, sendo
garantido ao delator que o pedido de homologação seja distribuído
sigilosamente, contendo apenas informações que não possam identificar o
colaborador e o seu objeto, conforme previsão do art. 7º da Lei 12.850/2013.
Além do colaborador, figura como sujeito passivo o
Estado, dado que ambos têm o interesse no sigilo da identidade.

Conforme se verifica na Lei em comento, não existe, para


esse crime, previsão a título de culpa, portanto, o crime apenas será punido por
dolo e poderá ser praticado por qualquer pessoa contra o delator e o Estado,
dado que ambos têm interesse na manutenção do sigilo.

Insta salientar que, o crime em comento apenas ocorrerá


se não houver autorização prévia e por escrito do delator, de forma que
havendo o consentimento nos termos citados, a conduta será atípica.

De maneira técnica o crime é definido como crime


comum, uma vez que pode ser cometido por qualquer pessoa; formal, dado
que não exige resultado material,

Além disso, o crime de revelação de identidade do


colaborador admite a forma tentada, uma vez que o delito possui iter criminis
fracionável.

7.2. Quanto a delação caluniosa:

Encontra previsão no Art. 19 da Lei em comento, que


assim dispõe:

“Art. 19.  Imputar falsamente, sob pretexto de


colaboração com a Justiça, a prática de infração penal a
pessoa que sabe ser inocente, ou revelar informações
sobre a estrutura de organização criminosa que sabe
inverídicas: Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos,
e multa”.

Este crime consiste na junção do crime de calúnia com a


conduta ilícita de levar essa calúnia ao conhecimento da autoridade pública, ou
seja, imputar à alguém a falsa da pratica de fato definido como crime, somado
a conduta ilícita de levar essa imputação falsa para a autoridade pública.
No caso da Lei em comento, o art. 19 prevê uma delação
caluniosa que tem como sujeito ativo a figura do delator.

Em outras palavras, é configurado crime de delação


caluniosa quando o delator/colaborador atribui a prática de crime para alguém
que ele sabe ser inocente.

O aludido crime, é semelhante àquele previsto no Art. 339


do código penal, todavia, diferencia-se quanto a configuração, dado que no
crime de denunciação caluniosa (art. 339 do CP) é necessário que a falsa
imputação dê ensejo a instauração de processo ou investigação.

A diferença supramencionada, justifica-se, pois, no crime


de delação caluniosa o autor (delator) já está envolvido em processo ou
investigação criminal, evitando assim o gasto público.

Além disso, crime de delação caluniosa, possui uma


segunda face, que se configura com a conduta de revelar informações falsas
sobre a estrutura de determinada organização criminosa, sendo que as duas
faces mencionadas são alternativas e quando ocorrerem no mesmo ato, será
considerado apenas um único delito.

Neste crime, existe pluralidade de sujeitos passivos,


sendo o primeiro o Estado e em seguida, a pessoa prejudicada pelo crime.

Ainda sobre a caracterização deste crime, cumpre


salientar que a imputação falsa da prática de crime, deve ser para pessoa
determinada, sendo assim, não se configura crime para o agente que imputar
genericamente a conduta criminosa para várias pessoas, sem que haja
qualquer especificação de conduta.

Para que seja configurado este crime, é necessário


aguardar o término da investigação criminal, não sendo admitido para
este crime a forma culposa, dado que é necessário a vontade do agente
de induzir o investigador a erro, prejudicando a administração da justiça.
Outra característica de grande relevância para
configuração do crime em comento é que o imputado seja realmente
prejudicado pela investigação ou processo, tendo em vista que se de fato tiver
cometido o crime, ainda que seja absolvido por excludente de ilicitude, não
haverá delação caluniosa.

Caberá a suspensão condicional do processo, dado que a


pena mínima para este crime é de um ano e poderá haver a substituição da
pena privativa de liberdade pela pena restritiva de direitos.

7.3. Quebra de sigilo:

Encontra previsão no Art. 20 da Lei em comento, que


assim dispõe:

“Art. 20.  Descumprir determinação de sigilo das


investigações que envolvam a ação controlada e a
infiltração de agentes: Pena - reclusão, de 1 (um) a 4
(quatro) anos, e multa”.

De maneira geral, este crime ocorre quando o agente


deixa de seguir uma determinação de sigilo sobre às investigações, desde que
estas envolvam ação controlada e infiltração de agentes.

O Sigilo pode ser determinado por ordem judicial ou por


comando legal, nos casos em que a lei determina que os procedimentos serão
sigilosos, como por exemplo o art. 12 da Lei 12.850/2013.

Figura como sujeito ativo deste crime o funcionário


público, responsável por desempenhar papéis oficiais desde a fase de
investigação, até o final do processo, ao passo que no polo passivo, encontra-
se o Estado.

Saliente-se que, o crime será configurado apenas com


relação a revelação de dados na fase de investigação, excluindo-se,
portanto, a fase processual.
Caberá a suspensão condicional do processo, dado que a
pena mínima para este crime é de um ano e poderá haver a substituição da
pena privativa de liberdade pela pena restritiva de direitos.

7.4. Sonegação de Informes:

Encontra previsão no Art. 21 da Lei em comento, que


assim dispõe:

“Art. 21.  Recusar ou omitir dados cadastrais, registros,


documentos e informações requisitadas pelo juiz,
Ministério Público ou delegado de polícia, no curso de
investigação ou do processo: Pena - reclusão, de 6 (seis)
meses a 2 (dois) anos, e multa”.

O crime de sonegação de informes, ocorre quando o


agente se recusa a entregar ou omite dados cadastrais, registros, documentos
ou informações que forem requisitadas pelo juiz, ministério público ou delegado
de polícia.

O Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa que deixe de


atender o requerimento da autoridade, ao passo que o sujeito passivo é o
Estado.

O mencionado delito é doloso, não havendo previsão na


forma culposa, devendo o Agente ter a intenção específica de prejudicar ou
obstruir a justiça, dado que nem toda a requisição deve ser cumprida, tendo em
vista, que algumas requisições podem ser feitas por autoridades
incompetentes, ou ainda, sejam ilegais.

Imperioso ressaltar que o crime é considerado de menor


potencial ofensivo, que no caso de condenação, poderá ocorrer a substituição
da pena privativa de liberdade pela pena restritiva de direitos.

O parágrafo único do aludido crime, prevê uma segunda


conduta que caracteriza o crime de sonegação de informes que consiste em
tomar posse, divulgar, tornar conhecido ou fazer uso dos dados cadastrais que
trata essa Lei.

Além de afetar a administração da justiça, o aludido crime


ofende a intimidade da pessoa ofendida pela revelação.

8. Conclusão:

Por todo este trabalho apresentado podemos entender


que ao longo dos anos, criminosos se organizam de maneira a cometer
diversos crimes. Para tal prática o ordenamento jurídico apresentou leis, a fim
de identificá-los, caracteriza-los, nomeá-los, e explica-los, facilitando o
entendimento para aqueles que a procuravam.
A Lei 9.034/1995 trouxe várias designações, porém, não foi
o suficiente. Em face disso, o conceito veio em sua totalidade na Lei 12.850/13,
trazendo consigo uma definição mais ampla, algo mais conceituado, extensivo.
Consequentemente várias das lacunas deixadas na lei anterior, por sua vez,
foram “sanadas”, de forma a facilitar o entendimento daqueles que a utilizavam.
A mesma não veio apenas liquidar a definição outrora não esclarecida, mas
sim, determinar tipos penais, bem como disciplinar a forma como acontecem
em suas investigações e a obtenção de provas.
A organização criminosa é um tipo penal próprio, sendo
assim, sua prática advém de uma pena respectiva, mesmo que a mesma
necessite a existência de um crime primário. Quando mencionamos que esta
veio não apenas para conceituar, mas trazer novas diretrizes pode citar como
exemplo, o meio de obtenção de provas, que se tornou motivo de discussão,
porém facilitou a investigação de crimes extremamente importantes e de difícil
esclarecimento.
Obviamente, nunca haverá algo exato acerca do crime
organizado, porém, já podemos identificar maiores avanços. Avanços esses
que nos definem com exatidão os componentes da “organização criminosa”,
tais como suas práticas e condutas, conforme estudado. Tais condutas,
Independentemente de sua tipificação, acontecem diariamente, sendo assim,
fácil distinção de outras ações sem esforço algum. Por tanto essa Lei,
classifica-os e tipifica-os possibilitando a aplicação de uma medida punitiva
proporcional à gravidade de cada ação, realizada por tais organização.

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