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Disciplina: Legislação Especial Esquematizada

Tema: Lei de Organizações Criminosas


Lei nº 12.850/2013

Prof. Diego Pureza

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Lei nº 12.850/2013

LEI nº 12.850/2013
ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS

1. Considerações iniciais

A Lei nº 12.850/13 possui 5 objetos, a saber:

Define
organização
criminosa

Dispõe sobre
Trata do
a investigação
procedimento
criminal das
criminal a ser
organizações
aplicado Objetos da Lei criminosas
nº 12.850/13

Trata de
Tipifica crimes
meios
correlatos às
especiais de
organizações
obtenção de
criminosas
prova

2. Definição de organização criminosa e alcance da Lei nº 12.850/13

A definição de organização criminosa está prevista no §1º, do art. 1º da Lei nº 12.850/13 que
assim prescreve:

Art. 1º. [...]


§ 1º Considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou mais
pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda
que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de
qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas penas máximas
sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional.

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Podemos destacar as seguintes características da definição de organização criminosa:

► Crime de concurso necessário (plurissubjetivo):

► Estrutura ordenada e com divisão de tarefas:

► Finalidade:

Por fim, não podemos confundir o conceito de organização criminosa, ora objeto de nosso
estudo, com o crime de associação criminosa tipificado no art. 288 do Código Penal, valendo
destacar as respectivas diferenças:

Organização criminosa Associação criminosa


(Art. 1º, §1º, da Lei nº 12.850/13) (Art. 288 do Código Penal)
Exige a associação de, no mínimo, 4 pessoa. Exige a associação de, no mínimo, 3 pessoa.
Possui o fim de praticar infrações penais cujas Possui o fim específico de praticar qualquer
penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) crime.
anos, ou que sejam de caráter transnacional.
Exige organização estruturalmente ordenada Não há a exigência de divisão de tarefas entre
e a divisão de tarefas entre seus membros. seus membros.
Exige-se o objetivo de obtenção de vantagem Não há nenhuma finalidade específica além
de qualquer natureza, seja de forma direta ou do cometimento de crimes.
indireta.

Vale destacar que a lei em estudo também se aplica:

► às infrações penais previstas em tratado ou convenção internacional quando, iniciada a


execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente;

► às organizações terroristas, entendidas como aquelas voltadas para a prática dos atos de
terrorismo legalmente definidos.

3. Crime de organização criminosa

Conforme adiantado no tópico anterior, com o advento da Lei nº 12.850/13 a simples formação
de uma organização criminosa, nos moldes previstos no §1º, do art. 1º, já configura crime:
denominado de crime organizado por natureza.

3.1. Crime organizado por natureza

Tipificação legal:

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Art. 2º Promover, constituir, financiar ou integrar, pessoalmente ou por interposta


pessoa, organização criminosa:
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa, sem prejuízo das penas
correspondentes às demais infrações penais praticadas.

Bem jurídico tutelado: é crime que visa proteger a paz pública.

Sujeitos: em relação ao sujeito ativo, estamos diante de crime comum na medida em que
qualquer pessoa pode promover, constituir, financiar ou integrar organização criminosa (com
exceção do agente infiltrado, que não poderá ser computado).

► ATENÇÃO!
Considerando se tratar de crime plurissubjetivo (de concurso necessário), a contagem de 4
(quatro) ou mais pessoas para fins de configuração do crime de organização criminosa considera
até mesmo eventual membro inimputável (menoridade, anomalia mental, etc.), na medida em
que a lei fala em “pessoas” e não em “criminosos”.

Como sujeito passivo figura a coletividade (crime vago).

Conduta: estamos diante de tipo misto alternativo (ou de conteúdo variado), com 4 (quatro)
ações nucleares: (a) promover; (b) constituir; (c) financiar; (d) integrar.

O agente deverá praticar qualquer dos verbos acima conjugando com os demais elementos do
conceito de organização criminosa previstos no §1º, do art. 1º, da Lei nº 12.850/13, já
estudados.

Voluntariedade: o delito só é punido na modalidade dolosa, não havendo previsão legal de


modalidade culposa.

Consumação e tentativa: é crime formal, consumando-se com a mera associação de 4 (quatro)


ou mais pessoas para a prática de infrações penais cujas penas máximas sejam superiores a 4
(quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional, independentemente da prática das
respectivas infrações penais.

É crime de perigo abstrato, na medida em que o risco contra a paz pública é presumido a partir
da formação da organização criminosa.

Sendo exigida a efetiva formação da organização criminosa para fins de consumação, o delito
em estudo é incompatível com a tentativa.

► LEMBRETE IMPORTANTE!
Será considerado hediondo o crime de organização criminosa, quando direcionado à prática de
crime hediondo ou equiparado, nos termos do art. 1º, parágrafo único, inciso V, da Lei nº
8.072/90.

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Concurso de crimes: caso outros crimes sejam praticados pelos membros da organização
criminosa, incidirá as regras do concurso material de crimes (art. 69 do Código Penal), por força
do preceito secundário do crime em estudo. Isso porque o crime de organização criminosa é
independente e autônomo, com bem jurídico próprio, não sendo, portanto, absorvido por
qualquer outro delito.

3.2. Obstrução ou embaraço de investigação de infração penal envolvendo organização


criminosa

Tipificação legal:

Art. 2º. [...]


§ 1º Nas mesmas penas incorre quem impede ou, de qualquer forma, embaraça a
investigação de infração penal que envolva organização criminosa.

Bem jurídico tutelado: nesta modalidade equiparada tutela-se a administração da justiça

Sujeitos: é crime comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa. Diversamente do que
ocorre com a modalidade prevista no caput, o crime em estudo é monossubjetivo (de concurso
eventual), podendo ser praticado por uma única pessoa.

Já em relação ao sujeito passivo, estamos diante de crime vago, figurando a coletividade.

Conduta: impedir significa embarreirar, interromper, obstar, enquanto em embaralhar significa


dificultar, atrapalhar a investigação de infração penal que envolva organização criminosa.

► ATENÇÃO!
É perceptível o erro legislativo ao criminalizar apenas os comportamentos que possam consistir
em impedimentos ou embaraços a investigações de infração penal que envolva organização
criminosa, tendo deixado de fora os casos envolvendo o mesmo comportamento em processo
judicial. Nesse sentido, a doutrina sempre se inclinou no sentido de inadmitir a prática do crime
em estudo no âmbito do processo, por configurar analogia in malam partem (violação do
princípio da legalidade). Ocorre que a 5ª Turma do STJ decidiu recentemente por incluir o
processo penal como âmbito de alcance do crime em estudo com base exclusivamente no
princípio da razoabilidade (STJ, 5ª Turma, HC nº 487.962/SC, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, j.
28/05/2019, DJe 07/06/2019).

Voluntariedade: é crime punido apenas na modalidade dolosa.

Consumação e tentativa: em relação ao verbo impedir, consuma-se com a efetiva cessação da


investigação (crime material), admitindo-se a tentativa.

Já em relação ao verbo embaraçar, trata-se de crime formal consumando-se com a prática de


qualquer ato que venha a causar alguma dificuldade sobre a investigação, independe temente

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de sua efetiva interrupção. Nesta modalidade, apesar de difícil configuração, admite-se a


tentativa.

3.3. Causas de aumento de pena e agravante

Segundo o §3º, do art. 2º, da lei em estudo, a pena deverá ser agravada (segunda fase da
dosimetria da pena) para quem exerce o comando, individual ou coletivo, da organização
criminosa, ainda que não pratique pessoalmente atos de execução.

O dispositivo acima refere-se ao chamado autor de escritório (ou autor intelectual), sendo o
sujeito que, com o domínio organizacional do fato criminoso, planeja, organiza ou dirige a
atividade à ser praticada pelos demais membros da organização.

Já os §§ 2º e 4º do mesmo dispositivo apontam causas de aumento de pena (terceira fase da


dosimetria da pena):

Aumento de até a metade Aumento 1/6 (um sexto) a 2/3 (dois terços)
(Art. 2º, §2º, da Lei nº 12.850/13) (Art. 2º, §4º, da Lei nº 12.850/13)
Se na atuação da organização criminosa Se há participação de criança ou adolescente.
houver emprego de arma de fogo. Se há concurso de funcionário público,
Abrange arma de fogo de uso permitido, de valendo-se a organização criminosa dessa
uso restrito ou proibido. condição para a prática de infração penal.
Para incidir o aumento, será necessário que Se o produto ou proveito da infração penal
ao menos um membro da organização destinar-se, no todo ou em parte, ao exterior.
criminosa atue empregando efetivamente Se a organização criminosa mantém conexão
arma de fogo (ainda que mediante o mero com outras organizações criminosas
porte ostensivo, capaz de intimidar alguém). independentes.
Se as circunstâncias do fato evidenciarem a
transnacionalidade da organização.

3.4. Afastamento cautelar de servidor público de suas funções

Como medida cautelar, o legislador permitiu ao juiz a determinação do afastamento do


funcionário público do cargo, emprego ou função, caso presente indícios suficientes de que o
funcionário integra organização criminosa e quando a medida se fizer necessária à investigação
ou instrução processual.

3.5. Efeitos da condenação

Nos termos do §6º, do art. 2º, da Lei das Organizações Criminosas, a condenação com trânsito
em julgado acarretará ao funcionário público a perda do cargo, função, emprego ou mandato

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eletivo e a interdição para o exercício de função ou cargo público pelo prazo de 8 (oito) anos
subsequentes ao cumprimento da pena.

Para fins de concurso público, vale destacarmos as diferenças entre os efeitos da condenação
do funcionário público por crime de organização criminosa com os efeitos previstos na Lei de
Tortura e Lei de Abuso de Autoridade (ambos os temas já detalhados em Capítulos próprios):

Organização criminosa Tortura Abuso de Autoridade


(Art. 2º, §6º, Lei 12.850/13) (Art. 1º, §5º, Lei 9.455/97) (Art. 4º, II e III, Lei 13.869/19)
► Perda do cargo, função, ► Perda do cargo, função ► Perda do cargo, do
emprego ou mandato ou emprego público; mandato ou da função pública;
eletivo;
► Interdição para o exercício ► Interdição para seu ► Inabilitação para o exercício
de função ou cargo público exercício pelo dobro do de cargo, mandato ou função
pelo prazo de 8 (oito) anos prazo da pena aplicada. pública, pelo período de 1 (um)
subsequentes ao a 5 (cinco) anos.
cumprimento da pena.
Efeitos automáticos da Efeitos automáticos da São condicionados à
condenação transitada em condenação transitada em ocorrência de reincidência em
julgado. julgado. crime de abuso de autoridade
e não são automáticos,
devendo ser declarados
motivadamente na sentença.

3.6. Investigação de policiais envolvidos com organizações criminosas

Como desdobramento lógico do controle externo das atividades policiais pelo Ministério Público
previsto no artigo 129, inciso VII, da Constituição Federal, o §7º, do art. 2º, da Lei das
Organizações Criminosas determina que se houver indícios de participação de policial nos
crimes previstos na Lei nº 12.850/13, a Corregedoria de Polícia instaurará inquérito policial e
comunicará ao Ministério Público, que designará membro para acompanhar o feito até a sua
conclusão.

3.7. Início do cumprimento da pena para as lideranças de organizações criminosas armadas

O Pacote Anticrime acrescentou o §8º no art. 1º da Lei das Organizações Criminosas para fazer
constar que “as lideranças de organizações criminosas armadas ou que tenham armas à
disposição deverão iniciar o cumprimento da pena em estabelecimentos penais de segurança
máxima”.

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3.8. Vedação de benefícios aos condenados por integrar organização criminosa ou pela
prática de crime por meio de organização criminosa quando mantido o vínculo associativo

Segundo o §9º do art. 2º da Lei nº 12.850/13, o condenado por integrar organização criminosa
ou por crime praticado por meio de organização criminosa, desde que presentes elementos
probatórios que indiquem a manutenção do vínculo associativo:

► Não poderá progredir de regime de cumprimento de pena;

► Não poderá obter livramento condicional;

► Não poderá obter outros benefícios prisionais.

4. Investigação e meios de obtenção de prova

Diante da robustez, do poderio bélico, de estratégias cada vez mais hábeis e do poder financeiro
das organizações criminosas, os meios tradicionais de investigação e de obtenção de prova há
muito tempo já não eram suficientes para elucidações eficientes.

Buscando conferir evolução e modernidade ao sistema de justiça criminal, a Lei nº 12.850/13


apresenta técnicas especiais de investigação e meios de obtenção de prova especiais em seu art.
3º.

Segundo o mencionado dispositivo, em qualquer fase da persecução penal, serão permitidos,


sem prejuízo de outros já previstos em lei, os seguintes meios de obtenção da prova:

I - colaboração premiada;

II - captação ambiental de sinais eletromagnéticos, ópticos ou acústicos;

III - ação controlada;

IV - acesso a registros de ligações telefônicas e telemáticas, a dados cadastrais constantes de


bancos de dados públicos ou privados e a informações eleitorais ou comerciais;

V - interceptação de comunicações telefônicas e telemáticas, nos termos da legislação


específica;

VI - afastamento dos sigilos financeiro, bancário e fiscal, nos termos da já estudada Lei nº
9.296/96;

VII - infiltração, por policiais, em atividade de investigação;

VIII - cooperação entre instituições e órgãos federais, distritais, estaduais e municipais na


busca de provas e informações de interesse da investigação ou da instrução criminal.

► ATENÇÃO!

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Havendo necessidade justificada de manter sigilo sobre a capacidade investigatória, poderá ser
dispensada licitação para contratação de serviços técnicos especializados, aquisição ou locação
de equipamentos destinados à polícia judiciária para o rastreamento e obtenção de provas
previstas nos itens II e V acima. Em tais hipóteses, diante do sigilo necessário, fica dispensada a
publicação os nomes das partes e os de seus representantes, a finalidade, o ato que autorizou a
sua lavratura, o número do processo da licitação, da dispensa ou da inexigibilidade, a sujeição
dos contratantes às normas da Lei nº 8.666/93 e às cláusulas contratuais, devendo ser
comunicado o órgão de controle interno da realização da contratação.

Diante da riqueza de detalhes e da enorme importância para fins de concursos públicos, os


meios de obtenção de prova serão estudados a seguir em tópicos próprios.

5. Colaboração premiada

5.1. Conceito e natureza jurídica

Colaboração premiada consiste em meio de obtenção de prova sendo concretizado por meio
de um acordo formulado entre o investigado ou acusado com o Estado, visando a obtenção de
benefícios capazes de abrandar ou afastar a punibilidade criminal em troca de informações e
resultados que interessarem à persecução penal.

Em relação à natureza jurídica do instituto, art. 3-A da Lei das Organizações Criminosas,
acrescentado pelo Pacote Anticrime:

Art. 3º-A. O acordo de colaboração premiada é negócio jurídico processual e meio


de obtenção de prova, que pressupõe utilidade e interesse públicos.

5.2. Proposta e formalização do acordo de colaboração premiada

Eis o passo a passo, com as respectivas garantias e peculiaridades, do pré-acordo de colaboração


premiada:

1ª etapa: o início das negociações começa com o recebimento da proposta para formalização
de acordo de colaboração. É etapa que já ostenta caráter de confidencialidade (sigiloso), até
futuro levantamento de sigilo por decisão judicial.

► ATENÇÃO!

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Diante do caráter sigiloso, o funcionário público que vier a fornecer à terceiros as informações
constantes da proposta, responderá pelo crime de violação de sigilo funcional previsto no artigo
325 do Código Penal, além de configurar quebra da confiança e da boa-fé para fins de acordo.

A proposta de colaboração premiada deve estar instruída com procuração do interessado com
poderes específicos para iniciar o procedimento de colaboração e suas tratativas, ou firmada
pessoalmente pela parte que pretende a colaboração e seu advogado ou defensor público.

► IMPORTANTE!
Nenhuma tratativa sobre colaboração premiada deve ser realizada sem a presença de advogado
constituído ou defensor público.

Com a obrigatoriedade de defesa técnica, pode ocorrer conflito de interesses entre o


investigado e o advogado. A título de exemplo, imagine a hipótese de um advogado representar
quatro acusados por crime de organização criminosa em concurso com outras infrações penais.
Ao surgir a possibilidade de colaboração premiada naturalmente haverá uma divisão de
interesses entre os réus.

Nesse caso, o celebrante deverá solicitar a presença de outro advogado ou a participação de


defensor público. O mesmo raciocínio se aplica no caso de colaborador hipossuficiente.

Naturalmente, a proposta de acordo de colaboração premiada poderá ser sumariamente


indeferida (casos de propostas absurdas ou desprovidas de base legal, por exemplo), com a
devida justificativa, devendo o interessado ser cientificando.

2ª etapa: na hipótese de não ser sumariamente indeferida, as partes deverão firmar Termo de
Confidencialidade para prosseguimento das tratativas, o que vinculará os órgãos envolvidos na
negociação e impedirá o indeferimento posterior sem justa causa.

Perceba que nesta etapa imporá sobre as autoridades uma espécie de pré-compromisso de
acordo, já que não houve indeferimento sumário. Assim, apenas mediante justa causa o acordo
não será celebrado (hipótese em que, por exemplo, o colaborador recua no fornecimento das
informações prometida).

► IMPORTANTE!
O recebimento de proposta de colaboração para análise ou o Termo de Confidencialidade não
implica, por si só, a suspensão da investigação, ressalvado acordo em contrário quanto à
propositura de medidas processuais penais cautelares e assecuratórias, bem como medidas
processuais cíveis admitidas pela legislação processual civil em vigor.

Quando houver necessidade de identificação ou complementação de seu objeto, dos fatos


narrados, sua definição jurídica, relevância, utilidade e interesse público o acordo de
colaboração premiada poderá ser precedido de instrução.

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3ª etapa: os termos de recebimento de proposta de colaboração e de confidencialidade serão


elaborados pelo celebrante (geralmente pelo Ministério Público) e assinados por ele, pelo
colaborador e pelo advogado ou defensor público com poderes específicos.

► ATENÇÃO!
Em nome do dever de lealdade e da boa-fé que recai sobre os órgãos de persecução, na hipótese
de não ser celebrado o acordo por iniciativa do celebrante, esse não poderá se valer de
nenhuma das informações ou provas apresentadas pelo colaborador, de boa-fé, para qualquer
outra finalidade.

No acordo de colaboração premiada, o colaborador deve narrar todos os fatos ilícitos para os
quais concorreu e que tenham relação direta com os fatos investigados.

Recai sobre a defesa a incumbência de instruir a proposta de colaboração e os anexos com os


fatos adequadamente descritos, com todas as suas circunstâncias, indicando as provas e os
elementos de corroboração.

5.3. Prêmios, condições e procedimento

A autoridade competente para a homologação do acordo de colaboração premiada é o juiz que


poderá, a requerimento das partes, conceder algum (ou alguns) dos benefícios previstos no art.
4º da Lei nº 12.850/13 ao colaborador.

O juiz não participará das negociações realizadas entre as partes para a formalização do acordo
de colaboração.

Isso porque as negociações são realizadas entre:

(a) o delegado de polícia, o investigado e o defensor, com a manifestação do Ministério Público


(na fase policial);

(b) ou, conforme o caso, entre o Ministério Público e o investigado ou acusado e seu defensor
(na fase policial ou na fase processual).

O registro das tratativas e dos atos de colaboração deverá ser feito pelos meios ou recursos de
gravação magnética, estenotipia, digital ou técnica similar, inclusive audiovisual, destinados a
obter maior fidelidade das informações, garantindo-se a disponibilização de cópia do material
ao colaborador.

A análise do magistrado para fins de homologação recai, portanto, sobre os aspectos formais
do termo de colaboração premiada firmado entre as partes.

Eis os prêmios previstos na Lei das Organizações Criminosas para o colaborador:

► Perdão judicial: é, sem dúvida, o maior prêmio previsto na legislação especial, funcionando
como causa extintiva da punibilidade do colaborador.

Nos termos do §2º do art. 4º da Lei das Organizações Criminosas:

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“Considerando a relevância da colaboração prestada, o Ministério Público, a


qualquer tempo, e o delegado de polícia, nos autos do inquérito policial, com a
manifestação do Ministério Público, poderão requerer ou representar ao juiz pela
concessão de perdão judicial ao colaborador, ainda que esse benefício não tenha
sido previsto na proposta inicial, aplicando-se, no que couber, o art. 28 do Decreto-
Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo Penal)”.

► Diminuição de pena: a pena privativa de liberdade poderá ser reduzida em até 2/3 (dois
terços). Ao menos em regra, é benefício que ocorre em casos de celebração de acordo até a
sentença.

► Substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos: as penas restritivas


de direitos (e respectivos requisitos) estão previstas nos artigos 43 e 44 do Código Penal.

► Não oferecimento da denúncia: em regra, os prêmios pressupõe condenação definitiva do


colaborador. Ocorre que dentre as exceções, temos a possibilidade de o Ministério Público
deixar de oferecer a peça acusatória contra o investigado colaborador (hipótese denominada de
acordo de imunidade).

Segundo o §4º, do art. 4º, da Lei nº 12.850/13, o Ministério Público “poderá deixar de oferecer
denúncia se a proposta de acordo de colaboração referir-se a infração de cuja existência não
tenha prévio conhecimento e o colaborador: I - não for o líder da organização criminosa; II - for
o primeiro a prestar efetiva colaboração nos termos deste artigo”.

Perceba que é hipótese excepcionalíssima, permitida apenas ao primeiro colaborador do caso,


não líder da organização criminosa, e referindo-se à infração penal que não seja de
conhecimento das autoridades competentes.

► ATENÇÃO!
Considera-se existente o conhecimento prévio da infração quando o Ministério Público ou a
autoridade policial competente tenha instaurado inquérito ou procedimento investigatório para
apuração dos fatos apresentados pelo colaborador.

No período das tratativas do acordo poder-se-ia extrapolar os prazos previstos em lei para a
conclusão do inquérito policial ou mesmo para a oferta da denúncia. Justamente por isso, o
prazo para oferecimento de denúncia ou o processo, relativos ao colaborador, poderá ser
suspenso por até 6 (seis) meses, prorrogáveis por igual período, até que sejam cumpridas as
medidas de colaboração, suspendendo-se o respectivo prazo prescricional.

► Progressão de regime: com base na inteligência do §7º-A do art. 4º da Lei nº 12.850/13, o


juiz deverá efetuar em sentença a dosimetria da pena e, só então, homologar o prêmio de
progressão de regime (hipótese denominada pela doutrina de “substituição premial”).

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Ainda em sentença, o juiz deverá consignar que em caso de descumprimento do acordo


homologado haverá a reconversão da pena aplicada.

Em contrapartida, para fazer jus à algum prémio, o investigado ou acusado deverá colaborar de
forma efetiva e voluntária com a investigação e com o processo criminal, desde que dessa
colaboração advenha um ou mais dos seguintes resultados:

► Identificação dos demais coautores e partícipes da organização criminosa e das infrações


penais por eles praticadas: diante da expressão “demais coautores e partícipes” fica claro que
só poderá figurar como colaborador um investigado ou acusado integrante de organização
criminosa.

Qualquer outra pessoa não investigada ou não acusada que venha apontar alguém como autor
ou partícipe de crimes funcionará, portanto, como mera testemunha.

► Revelação da estrutura hierárquica e da divisão de tarefas da organização criminosa:


conforme estudamos no início deste Capítulo, a estrutura ordenada e a divisão de tarefas são
elementos necessários para a caracterização de uma organização criminosa, daí o interesse do
legislador em elencar a revelação de tais elementos como resultado a ser apresentado pelo
colaborador.

► Prevenção de infrações penais decorrentes das atividades da organização criminosa: a


finalidade é evitar que a organização criminosa continue delinquindo.

À evidência, as infrações penais que devem ser evitadas são aquelas cujas penas máximas sejam
superiores a 4 (quatro) anos.

► Recuperação total ou parcial do produto ou do proveito das infrações penais praticadas


pela organização criminosa: o resultado imediatamente percebido pelos criminosos configura
o produto da infração penal, enquanto que as vantagens percebidas de forma mediata
configuram proveitos das infrações penais praticadas pelos membros da organização criminosa.

► Localização de eventual vítima com a sua integridade física preservada: quando o caso
envolver vítima privada de sua liberdade, a concessão de prêmio ao colaborador estará
condicionada à localização da vítima com a sua integridade física preservada.

Assim, caso o cadáver da vítima seja localizado a partir das informações prestadas pelo
colaborador, eventual concessão de prêmio estará inviabilizada.

► IMPORTANTE!
O acordo de colaboração premiada pressupõe que o colaborador cesse o envolvimento em
conduta ilícita relacionada ao objeto da colaboração, sob pena de rescisão.

Por fim, após realizado o acordo entre as partes, os seus termos, as declarações do colaborador
e cópia da investigação serão remetidos ao juiz, para análise, devendo o magistrado ouvir
sigilosamente o colaborador, acompanhado de seu defensor, oportunidade em que analisará
os seguintes aspectos na homologação:

(a) Regularidade e legalidade;

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(b) A adequação dos benefícios pactuados;

(c) A adequação dos resultados da colaboração aos resultados mínimos exigidos;

(d) Voluntariedade da manifestação de vontade, especialmente nos casos em que o colaborador


está ou esteve sob efeito de medidas cautelares;

Dessa forma, o juiz poderá recusar a homologação da proposta que não atender aos requisitos
legais. Nesse caso, deverá devolver às partes os termos do acordo para as adequações
necessárias.

► IMPORTANTE!
São nulas de pleno direito as previsões de renúncia ao direito de impugnar a decisão
homologatória. Dessa forma, o colaborador poderá impugnar a decisão judicial homologatória
do acordo de colaboração caso demonstre a existência de algum vício de legalidade não
observado pelo magistrado ou com a leniência deste.

Ainda nesta fase as informações prestadas pelo colaborador deverão ser tratadas com o máximo
de cautela possível. Além disso, por vezes limitam-se a meros elementos informativos (caso em
que ainda não foram confrontadas ou confirmadas de forma técnica ou submetidas ao
contraditório e a ampla defesa dos demais envolvidos, não tendo alcançado, portanto, o status
de prova).

Seguindo esse raciocínio (e também visando assegurar a boa-fé durante o procedimento de


homologação), o Pacote Anticrime impôs aos Poder Judiciário limites na utilização das
informações prestadas pelo colaborador, a saber:

Art. 4º.
[...]
§ 16. Nenhuma das seguintes medidas será decretada ou proferida com
fundamento apenas nas declarações do colaborador:
I - medidas cautelares reais ou pessoais;
II - recebimento de denúncia ou queixa-crime;
III - sentença condenatória.

Após a homologação do acordo de colaboração premiada novas situações podem surgir, seja no
sentido de possibilitar ao colaborador a apresentação de resultados além do pactuado
(viabilizando, dessa forma, melhores prêmios), seja no sentido de surgir a impossibilidade de
apresentação de informação ou resultado preteritamente pactuado.

Nesse sendo, depois homologado o acordo, o colaborador poderá, sempre acompanhado pelo
seu defensor, ser ouvido pelo membro do Ministério Público ou pelo delegado de polícia
responsável pelas investigações.

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E em caso de arrependimento do colaborador?

Imagine a hipótese de o acordo ser homologado, o colaborador apresentar algumas informações


prometidas que, a princípio, o incriminam e, antes de continuar, se arrepende e recua em
relação à proposta. Nesse caso, estando o Ministério Público ciente de informações que
comprometem o investigado ou acusado, poderia utilizá-las mesmo após a retratação da
colaboração?

Eis o teor do §10 do art. 4º da Lei nº 12.850/13:

§ 10. As partes podem retratar-se da proposta, caso em que as provas


autoincriminatórias produzidas pelo colaborador não poderão ser utilizadas
exclusivamente em seu desfavor.

E quanto aos acusados delatados?

O Pacote Anticrime, visando concretizar os princípios do contraditório e da ampla defesa diante


de delações premiadas apresentadas no curso do processo, incluiu o §10-A no art. 4º da Lei em
estudo para constar que “em todas as fases do processo, deve-se garantir ao réu delatado a
oportunidade de manifestar-se após o decurso do prazo concedido ao réu que o delatou”.

Ao final, em sentença os termos do acordo homologado (e a sua eficácia) deverão ser


apreciados.

Mas os compromissos do colaborador com o Estado não param por aí. Ainda que beneficiado
por perdão judicial ou não denunciado, o colaborador poderá ser ouvido em juízo a
requerimento das partes ou por iniciativa da autoridade judicial.

Por fim, cumpre frisar que o acordo homologado poderá ser rescindido em caso de omissão
dolosa sobre os fatos objeto da colaboração.

5.4. Direitos do colaborador

A presença de um colaborador disposto a trair os companheiros de crime já é algo que foge à


regra.

Não é surpresa para ninguém que no submundo da criminalidade o sujeito que resolve apontar
o dedo para os demais não costuma ter vida longa (e quando vive de alguma forma acaba
sofrendo consequências e retaliações severas promovidas pelas organizações criminosas).

► IMPORTANTE!
O ato de celebrar acordo de colaboração premiada, por si só, já representa a subtração de um
direito do colaborador: um dos pressupostos da colaboração premiada, conforme estudamos, é
a confissão do colaborador reconhecendo os crimes que praticou. Durante o acordo, em cada

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depoimento que prestar, o colaborador renunciará ao direito ao silêncio (sempre na presença


de seu defensor) e, dessa forma, estará sujeito ao compromisso de dizer a verdade.

De nada adiantaria o interesse do Estado em alcançar informações e resultados importantes


para a persecução penal se não ofertasse direitos ao colaborador com o objetivo de protege-lo.

Sem direitos, haveria uma insegurança ainda maior. Dessa forma, a colaboração premiada seria
um mero enfeite na legislação penal especial.

O artigo 5º da Lei das Organizações Criminosas outorga diversos direitos ao colaborador, visando
tornar a relação jurídica mais segura.

Antes de analisarmos o mencionado dispositivo, cumpre frisar que um dos direitos do


colaborador é a obrigatoriedade de defesa técnica em todos os atos da negociação,
confirmação e execução da colaboração, devendo ser assistido por defensor em todas as fases
do acordo de colaboração premiada.

Além do direito de ser assistido por defensor em todas as etapas do acordo, são direitos do
colaborador:

► Usufruir das medidas de proteção previstas na legislação específica: trata-se dos


mecanismos de proteção previstos na Lei nº 9.807/99.

► Ter nome, qualificação, imagem e demais informações pessoais preservados;

► Ser conduzido, em juízo, separadamente dos demais coautores e partícipes;

► Participar das audiências sem contato visual com os outros acusados;

► Não ter sua identidade revelada pelos meios de comunicação, nem ser fotografado ou
filmado, sem sua prévia autorização por escrito;

► Cumprir pena ou prisão cautelar em estabelecimento penal diverso dos demais corréus ou
condenados;

5.5. Termo de acordo de colaboração premiada

O art. 6º da Lei nº 12.850/13 apresenta as características e os requisitos formais do termo de


colaboração premiada.

São exigências que conferem maior segurança jurídica tanto para o colaborador quanto para as
autoridades participantes (Ministério Público ou delegado de polícia).

A forma é a escrita, não se admitindo o acordo meramente verbal. Dessa forma, afasta-se a
fragilidade de acordos informais que gerariam mera expectativa ao colaborador em relação aos
prêmios e direitos.

O termo de acordo da colaboração premiada deverá conter:

► o relato da colaboração e seus possíveis resultados;

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► as condições da proposta do Ministério Público ou do delegado de polícia;

► a declaração de aceitação do colaborador e de seu defensor;

► as assinaturas do representante do Ministério Público ou do delegado de polícia, do


colaborador e de seu defensor;

► a especificação das medidas de proteção ao colaborador e à sua família, quando necessário.

5.6. Tramitação do pedido de homologação do acordo em sigilo

Conforme já estudado, o colaborador possui o direito, dentre outros, de não ter o seu nome,
qualificação, imagem e outras informações pessoais divulgadas.

O sigilo também interessa aos órgãos persecutórios, na medida em que a publicidade poderá
significar o fracasso no avanço das investigações e a inocuização da persecução penal, já que os
demais investigados ou corréus seriam alertados temerariamente.

Por tais razões, o pedido de homologação do acordo será sigilosamente distribuído, contendo
apenas informações que não possam identificar o colaborador e o seu objeto.

Assim, o juiz terá o prazo de 48 (quarenta e oito) horas para decidir sobre o pedido de
homologação do acordo de colaboração premiada (§1º, do art. 7º, da Lei nº 12.850/13).

O sigilo do acordo de colaboração premiada e dos depoimentos do colaborador serão


mantidos até o início da ação penal, incidindo a publicidade a partir do recebimento da peça
acusatória.

Todavia, a publicidade não poderá ser capaz de prejudicar os direitos do colaborador (direito de
preservação da própria identidade e informações pessoais, por exemplo), daí a importância de
novamente destacar que a publicidade recai apenas sobre o teor do acordo e dos depoimentos.

► ATENÇÃO!
A publicidade a partir do início da ação penal é efeito automático. Dessa forma, é vedado ao
magistrado decidir pela publicidade do acordo de colaboração e dos depoimentos do
colaborador em qualquer hipótese. Essa vedação foi acrescida pelo Pacote Anticrime visando
especialmente evitar que o juiz funcione como um “alimentador da curiosidade pública e da
imprensa”.

6. Ação controlada

Durante investigações de organizações criminosas pode acontecer de ser mais interessante não
efetuar a prisão em flagrante de criminosos, visto que o monitoramento dos criminosos podem
conduzir as autoridades ao encontro de outros criminosos, dos líderes da organizações, dos
produtos e proventos dos crimes, etc.

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A partir dessa necessidade surge a ação controlada como especial técnica de investigação.

Também chamado por parte da doutrina de flagrante retardado, flagrante prorrogado,


flagrante postergado ou flagrante diferido, a ação controlada é definida no art. 8º da Lei nº
12.850/13 consistindo no retardamento (atraso, demora proposital) da “intervenção policial
ou administrativa relativa à ação praticada por organização criminosa ou a ela vinculada,
desde que mantida sob observação e acompanhamento para que a medida legal se concretize
no momento mais eficaz à formação de provas e obtenção de informações”.

Não confunda:

Ação controlada Flagrante esperado


O sujeito ativo já se encontra em flagrante O sujeito ativo ainda não está praticando o
delito. crime (iminência de crime).
A intervenção policial ou administrativa é A atuação policial se mantem na expectativa
retardada visando ser concretizada em de vislumbrar efetivamente a prática de
momento mais eficaz à formação de provas e crime, para só então intervir efetuando a
obtenção de informações. prisão em flagrante.
Permitida apenas em casos especiais Permitida em qualquer caso em que se
autorizados pela legislação (como no caso da admite a prisão em flagrante delito.
Lei das Organizações Criminosas).

6.1. Desnecessidade de autorização judicial prévia

Não há a necessidade de prévia autorização judicial para viabilizar a ação controlada. Nos
termos do §1º do art. 8º da Lei nº 12.850/13, o retardamento da intervenção policial ou
administrativa será apenas comunicado de forma prévia ao juiz.

Qual seria o motivo da exigência legal de prévia comunicação ao juiz competente?

O motivo decorre da possibilidade de o juiz competente, se for o caso, estabelecer limites para
a concretização da ação controlada, bem como para comunicar ao Ministério Público do feito.

Os limites possivelmente impostos pelo juiz podem ser de duas espécies:

► Limites temporais: via de regra, o juiz poderá impor um prazo máximo para a realização da
ação controlada, visando evitar que se estenda por tempo indeterminado. Terminado o prazo,
a autoridade policial estará obrigada a efetuar a prisão em flagrante.

► Limites funcionais: poderá a autoridade judicial determinar a pronta intervenção da


autoridade policial em casos específicos, tais como nos casos de crimes instantâneos (crimes
que se consumam em um único instante, não havendo razão para o retardamento da
intervenção policial) e em casos de progressão criminosa (hipótese em que o atraso na
intervenção policial permitirá ofensas ainda mais graves sobre o bem jurídico tutelado).

Visando preservar o sigilo necessário, a comunicação ao juiz será sigilosamente distribuída de


forma a não conter informações que possam indicar a operação a ser efetuada.

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Até o encerramento da diligência, o acesso aos autos será restrito ao juiz, ao Ministério Público
e ao delegado de polícia, como forma de garantir o êxito das investigações.

Por fim, findada a diligência, a autoridade responsável pela ação controlada (geralmente o
delegado de polícia) deverá elaborar auto circunstanciado acerca da ação controlada.

6.2. Ação controlada e o crime organizado transnacional

Pode acontecer de as autoridades perceberam, por meio das investigações, estarem diante de
crime organizado transnacional.

É cada vez mais comum organizações criminosas estenderam os seus tentáculos para além da
fronteira nacional (assim como organizações criminosas estrangeiras buscarem expandir os seus
negócios para dentro do território brasileiro).

Em tais casos, se a ação controlada envolver transposição de fronteiras, o retardamento da


intervenção policial ou administrativa somente poderá ocorrer com a cooperação das
autoridades dos países que figurem como provável itinerário ou destino do investigado, de
modo a reduzir os riscos de fuga e extravio do produto, objeto, instrumento ou proveito do
crime.

O motivo é simples: diante do dever em se respeitar a soberania dos demais países, as


autoridades brasileiras não poderão prosseguir com o monitoramento dos criminosos em país
estrangeiro sem a autorização das autoridades competentes do respectivo país.

A conclusão é de que, caso seja negada a cooperação das autoridades dos países que figurem
como provável itinerário ou destino do investigado, a intervenção policial ou administrativa
deverá ocorrer imediatamente, evitando fugas indevidas para o estrangeiro.

7. Infiltração de agentes

A infiltração de agentes policiais em organizações criminosas é mais uma técnica especial de


investigação detalhada pela Lei nº 12.850/13 - também prevista em outras leis a exemplo da já
estudada Lei de Drogas (art. 53, inciso I, da Lei nº 11.343/06).

O agente de polícia judiciária é infiltrado disfarçadamente em uma organização criminosa se


passando por um de seus membros (obviamente ocultando a sua verdadeira identidade), com a
finalidade de identificar o maior volume de provas e elementos de informação possíveis sobre a
organização criminosa.

Como ponto de partida para o estudo do tema, podemos destacar as seguintes características
da técnica especial de infiltração de agentes:

► Apenas integrante de polícia judiciária poderá ser infiltrado em organização criminosa;

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► O agente policial age de forma dissimulada, escondendo a sua verdadeira identidade,


passando a agir como um criminoso com o objetivo de ganhar a confiança dos membros da
organização criminosa;

► É medida que depende de prévia autorização judicial;

► A inserção do agente infiltrado na organização criminosa deve ocorrer de maneira estável (e


não de forma esporádica);

► Finalidade específica de reunir elementos de informação e identificar fontes de provas de


crimes de maior gravidade.

7.1. Requisitos para a infiltração

A infiltração de agentes policiais exige o preenchimento de requisitos legais sob pena de


acarretar a nulidade das provas eventualmente obtidas. São requisitos:

► Representação do Delegado de Polícia (ouvido o MP) ou requerimento do Ministério


Público (com manifestação técnica do delegado);

► Autorização prévia da autoridade judicial competente;

► Periculum in mora e fumus comissi delicti;

► Excepcionalidade da infiltração;

► Concordância do agente de polícia;

7.2. Duração da infiltração

Segundo o teor do §3º do art. 10 da Lei nº 12.850/13, a infiltração será autorizada pelo prazo
de até 6 (seis) meses, sem prejuízo de eventuais renovações, desde que comprovada sua
necessidade.

7.3. Infiltração policial virtual (eletrônica ou cibernética)

Visando investigar e combater a atuação de organizações criminosas que atuam no submundo


da internet, o Pacote Anticrime acrescentou os artigos 10-A, 10-B e 10-C introduzindo a figura
da infiltração policial virtual.

Considerando quem em grande parte a infiltração virtual se assemelha à infiltração pessoal do


agente policial, destacaremos abaixo os aspectos diferenciais da infiltração cibernética, evitando
repetições desnecessárias.

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► Prazo limite: a infiltração policial virtual será autorizada pelo prazo de até 6 (seis) meses, sem
prejuízo de eventuais renovações, mediante ordem judicial fundamentada e comprovada a
necessidade.

Porém, diversamente do que ocorre com a infiltração pessoal do agente policial, nesta
modalidade o total do prazo (somatória do prazo original com todas as renovações) não
poderá exceder a 720 (setecentos e vinte) dias.

► Imunidade do agente virtualmente infiltrado: não comete crime o policial que oculta a sua
identidade para, por meio da internet, colher indícios de autoria e materialidade dos crimes
previstos no art. 1º da Lei das Organizações Criminosas.

► CUIDADO!
O agente policial infiltrado que deixar de observar a estrita finalidade da investigação
responderá pelos excessos praticados.

Vale destacar que o agente pessoalmente infiltrado, via de regra, também não será punido pela
prática de crime no curso da investigação enquanto infiltrado, desde inexigível conduta diversa
– tema que aprofundaremos adiante.

7.4. Procedimento cabível para o pedido de infiltração

Procedimento: infiltração de agentes

Delegado de Polícia Ministério Público

Peça técnica: Representação Peça técnica: Requerimento

Durante a fase policial e


Só durante a fase policial
processual

Deve contar com a oitiva do Deve contar com parecer


MP técnico do delegado

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► IMPORTANTE!
O juiz jamais poderá determinar a infiltração de agentes policiais de ofício, sob pena de violar o
sistema acusatório e o princípio constitucional da imparcialidade do julgador.

As mencionadas peças técnicas com o pedido não poderão ser apresentadas verbalmente
(apenas por escrito), e deverão conter:

► Demonstração da necessidade da medida;

► Alcance das tarefas dos agentes;

► Quando possível, os nomes ou apelidos das pessoas investigadas e o local da infiltração;

► Dados de conexão ou cadastrais;

Os órgãos de registro e cadastro público poderão incluir nos bancos de dados próprios, mediante
procedimento sigiloso e requisição da autoridade judicial, as informações necessárias à
efetividade da identidade fictícia criada, nos casos de infiltração de agentes na internet.

► IMPORTANTE!
No curso do inquérito policial, o delegado de polícia poderá determinar aos seus agentes, e o
Ministério Público poderá requisitar, a qualquer tempo, relatório da atividade de infiltração. A
finalidade é não apenas ter ciência do avanço das investigações, mas, também, saber se o agente
policial continua em segurança e se continua íntegro com os propósitos da medida. Todavia,
diante das pressões em se estar me uma organização criminosa, nem sempre o agente infiltrado
terá disponibilidade para responder a determinação ou requisição e, naturalmente, a não
resposta por justa causa afastará qualquer possibilidade de punição do agente infiltrado.

7.5. Segredo de justiça

Nos termos do artigo 12 da Lei das Organizações Criminosas, o pedido de infiltração será
sigilosamente distribuído, de forma a não conter informações que possam indicar a operação a
ser efetivada ou identificar o agente que será infiltrado.

As informações quanto à necessidade da operação de infiltração serão dirigidas diretamente


ao juiz competente, que decidirá no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, após manifestação do
Ministério Público na hipótese de representação do delegado de polícia, devendo-se adotar as
medidas necessárias para o êxito das investigações e a segurança do agente infiltrado.

Findada a operação, os autos contendo as informações produzidas deverão acompanhar a


denúncia do Ministério Público.

Com o oferecimento da peça acusatória será necessária a observância dos princípios do


contraditório e da ampla defesa. Nesse caso, questiona-se: a identidade do agente policial
deverá ser revelada à defesa dos investigados ou acusados?

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A resposta só pode ser negativa. A defesa terá acesso somente às informações da operação de
infiltração, assegurando-se a preservação da identidade do agente.

► IMPORTANTE!
Se surgir indícios seguros de que o agente infiltrado sofre risco iminente, a operação será
sustada mediante requisição do Ministério Público ou pelo delegado de polícia, dando-se
imediata ciência ao Ministério Público e à autoridade judicial.

7.6. Responsabilidade penal do agente infiltrado

Como deve ser encarado, para fins penais, os crimes eventualmente praticados pelo agente
infiltrado durante as operações?

Temos duas possibilidades:

► Crimes praticados como medida necessária para a manutenção do sigilo: se o agente


infiltrado precisar praticar crimes como forma de manter o sigilo de sua identidade e das
operações, estaremos diante de hipótese de inexigibilidade de conduta diversa, com a
consequente exclusão da culpabilidade, ou seja, nesse caso o agente não será punido.

► Crimes praticados sem necessidade ou de forma excessiva: se o agente policial vier a praticar
crimes sem qualquer necessidade ou de forma excessiva deverá ser responsabilizado
penalmente.

7.7. Direitos e proteção do agente infiltrado

Visando dar segurança jurídica aos trabalhos e proteção do agente policial infiltrado, a Lei das
Organizações Criminosas apresenta um rol de direitos do agente.

São direitos do agente:

► recusar ou fazer cessar a atuação infiltrada;

► ter sua identidade alterada, aplicando-se, no que couber, o disposto no art. 9º da Lei nº
9.807/1999, bem como usufruir das medidas de proteção a testemunhas;

► ter seu nome, sua qualificação, sua imagem, sua voz e demais informações pessoais
preservadas durante a investigação e o processo criminal, salvo se houver decisão judicial em
contrário;

► não ter sua identidade revelada, nem ser fotografado ou filmado pelos meios de
comunicação, sem sua prévia autorização por escrito.

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8. Acesso a Registros, Dados Cadastrais, Documentos e Informações

Com o objetivo de munir de informações as autoridades persecutórias, o artigo 15 da Lei das


Organizações Criminosas confere o livre acesso ao delegado de polícia e ao Ministério Público,
independentemente de autorização judicial, apenas aos dados cadastrais do investigado (ou
seja, apenas na fase policial) que informem exclusivamente:

(a) a qualificação pessoal;

(b) a filiação;

(c) o endereço.

► ATENÇÃO!
As informações acima serão extraídas da Justiça Eleitoral, empresas telefônicas, instituições
financeiras, provedores de internet e administradoras de cartão de crédito.

Além disso, objetivando a obtenção de elementos acerca da localização de membro de


organização criminosa, ou mesmo dos países, estados e municípios por ele percorrido durante
período determinado, as empresas de transporte possibilitarão, pelo prazo de 5 (cinco) anos,
acesso direto e permanente do juiz, do Ministério Público ou do delegado de polícia aos
bancos de dados de reservas e registro de viagens.

No mesmo sentido, munir o delegado de polícia e o Ministério Público de informações acerca


dos contatos telefônicos de membros de organizações criminosas, as concessionárias de
telefonia fixa ou móvel manterão, pelo prazo de 5 (cinco) anos, à disposição das autoridades
persecutórias (delegado e MP), registros de identificação dos números dos terminais de origem
e de destino das ligações telefônicas internacionais, interurbanas e locais.

9. Crimes ocorridos na investigação e na obtenção da prova

A Lei nº 12.850/13 tipificou 4 (quatro) crimes que podem ser praticados durante as investigações
ou mesmo durante a obtenção de provas, merecendo abordagens individualizadas:

9.1. Revelação de identidade do colaborador

Tipificação legal:

Art. 18. Revelar a identidade, fotografar ou filmar o colaborador, sem sua prévia
autorização por escrito:

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Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.

9.2. Colaboração caluniosa e fraudulenta

Tipificação legal:

Art. 19. Imputar falsamente, sob pretexto de colaboração com a Justiça, a prática
de infração penal a pessoa que sabe ser inocente, ou revelar informações sobre a
estrutura de organização criminosa que sabe inverídicas:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

9.3. Violação de sigilo das investigações relativas à ação controlada e infiltração de agentes

Tipificação legal:

Art. 20. Descumprir determinação de sigilo das investigações que envolvam a ação
controlada e a infiltração de agentes:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

9.4. Sonegação de informações requisitadas

Tipificação legal:

Art. 21. Recusar ou omitir dados cadastrais, registros, documentos e informações


requisitadas pelo juiz, Ministério Público ou delegado de polícia, no curso de
investigação ou do processo:
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.
Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem, de forma indevida, se apossa,
propala, divulga ou faz uso dos dados cadastrais de que trata esta Lei.

10. Procedimento cabível

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Segundo o art. 22 da Lei das Organizações Criminosas, os crimes previstos na Lei nº 12.850/13 e
as infrações penais conexas serão apurados mediante procedimento ordinário previsto no
Código de Processo Penal.

Perceba que trata-se de exceção, em alguns casos, da aplicação do art. 394, §1º, do Código de
Processo Penal.

Ocorre que, diante da citada redação do art. 22 da lei em estudo, todos os crimes tipificados na
Lei das Organizações Criminosas serão submetidos ao procedimento comum ordinário.

► ATENÇÃO!
Diante de ausência de vedação legal, em que pese o crime previsto no art. 21 da Lei nº 12.850/13
se sujeitar ao procedimento ordinário, não haverá nenhum óbice para o reconhecimento e
aplicação dos benefícios previstos na Lei nº 9.099/95, por se tratar de infração penal de menor
potencial ofensivo.

Outra importante exceção prevista na lei em estudo está prevista no parágrafo único do art. 22,
in verbis:

Art. 22. [...]


Parágrafo único. A instrução criminal deverá ser encerrada em prazo razoável, o
qual não poderá exceder a 120 (cento e vinte) dias quando o réu estiver preso,
prorrogáveis em até igual período, por decisão fundamentada, devidamente
motivada pela complexidade da causa ou por fato procrastinatório atribuível ao
réu.

Para a contagem do prazo o termo inicial deve ser a data da prisão do acusado (pode ser prisão
em flagrante, preventiva ou temporária).

11. Sigilo das investigações

Em diversas oportunidades destacamos a exigência do sigilo nas investigações de organizações


criminosas (colaboração premiada em curso; infiltração de agente policial; ação controlada;
etc.).

O art. 23 da Lei das Organizações Criminosas destaca outros fundamentos suficientes para a
decretação do sigilo nas investigações:

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Art. 23. O sigilo da investigação poderá ser decretado pela autoridade judicial
competente, para garantia da celeridade e da eficácia das diligências
investigatórias, assegurando-se ao defensor, no interesse do representado, amplo
acesso aos elementos de prova que digam respeito ao exercício do direito de defesa,
devidamente precedido de autorização judicial, ressalvados os referentes às
diligências em andamento.
Parágrafo único. Determinado o depoimento do investigado, seu defensor terá
assegurada a prévia vista dos autos, ainda que classificados como sigilosos, no
prazo mínimo de 3 (três) dias que antecedem ao ato, podendo ser ampliado, a
critério da autoridade responsável pela investigação.

Diego Luiz Victório Pureza

Advogado.

Professor de Criminologia, Direito Penal e Legislação Penal Especial em diversos cursos


preparatórios para concursos públicos.

Pós-graduado em Ciências Criminai.

Pós-graduado em Docência do Ensino Superior

Pós-graduado em Combate e Controle da Corrupção: Desvios de Recursos Públicos.

Palestrante e autor de diversos artigos jurídicos.

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