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01/04/2020

NOÇOES DE DIREITO PENAL


PROF. FRANCISCO SANNINI

LEI 12.850/13 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS

Evolução Legislativa:
1-) Lei nº 9.034/95;
2-) Convenção de Palermo (Dec. 5.015/04);
3-) Lei nº 12.694/12;
4-) Lei nº 12.850/13.

CONCEITO DE ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA


Art.1º, § 1o Considera-se organização criminosa a associação de 4
(quatro) ou mais pessoas estruturalmente ordenada e
caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente,
com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de
qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas
penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam
de caráter transnacional.
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Elementos constitutivos da organização criminosa:


1. Pessoal: mínimo de 04 pessoas.
2. Estrutural: estruturada + divisão de tarefas (fungibilidade dos
agentes).
3. Finalístico/Teleológico: obtenção de vantagem proveniente de
infração com pena máxima superior a 04 anos ou de caráter
transnacional.

Crime de Participação em Organização Criminosa


Art. 2o Promover, constituir, financiar ou integrar,
pessoalmente ou por interposta pessoa, organização
criminosa: Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e
multa, sem prejuízo das penas correspondentes às demais
infrações penais praticadas.
OBS: Crime organizado por natureza X crime organizado
por extensão.

Obstrução à Persecução Penal


Art.2º, § 1o Nas mesmas penas incorre quem impede ou, de
qualquer forma, embaraça a investigação de infração penal
que envolva organização criminosa.
Questão: E se a conduta impedir ou embaraçar a instrução
processual? Caracteriza o crime?
R: STJ, 5ª Turma, HC 487.962/SC, Rel. Min. Joel Ilan
Paciornik
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Art.2º, § 2o As penas aumentam-se até a metade se na


atuação da organização criminosa houver emprego de
arma de fogo.
§ 3o A pena é agravada para quem exerce o comando,
individual ou coletivo, da organização criminosa, ainda que
não pratique pessoalmente atos de execução.

Causas de Aumento de Pena (art.2º, §4º LOC):


I - se há participação de criança ou adolescente;
II - se há concurso de funcionário público, valendo-se a organização
criminosa dessa condição para a prática de infração penal;
OBS-1: Se houver indícios suficientes de que o funcionário público
integra organização criminosa, poderá o juiz determinar seu
afastamento cautelar do cargo, emprego ou função, sem prejuízo da
remuneração, quando a medida se fizer necessária à investigação
ou instrução processual (art.2º, §5º).

OBS-2: A condenação com trânsito em julgado acarretará ao


funcionário público a perda do cargo, função, emprego ou mandato
eletivo e a interdição para o exercício de função ou cargo público
pelo prazo de 8 (oito) anos subsequentes ao cumprimento da pena
(art.2º, §6º).
OBS-3: Se houver indícios de participação de policial nos crimes de
que trata esta Lei, a Corregedoria de Polícia instaurará inquérito
policial e comunicará ao Ministério Público, que designará membro
para acompanhar o feito até a sua conclusão (art.2º, §7º).
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III - se o produto ou proveito da infração penal destinar-se,


no todo ou em parte, ao exterior;
IV - se a organização criminosa mantém conexão com
outras organizações criminosas independentes;
V - se as circunstâncias do fato evidenciarem a
transnacionalidade da organização.

§ 8º As lideranças de organizações criminosas armadas ou que


tenham armas à disposição deverão iniciar o cumprimento da pena
em estabelecimentos penais de segurança máxima.
§ 9º O condenado expressamente em sentença por integrar
organização criminosa ou por crime praticado por meio de
organização criminosa não poderá progredir de regime de
cumprimento de pena ou obter livramento condicional ou outros
benefícios prisionais se houver elementos probatórios que indiquem
a manutenção do vínculo associativo. (Lei n.13.964/19)

LAVAGEM DE CAPITAIS (LEI 9.613/98)

Origem histórica da expressão: surgiu nos EUA na década de 1920,


quando criminosos passaram a se valer de lavanderias para despistar
a origem ilícita do dinheiro proveniente da venda ilegal de drogas e
bebidas.
Direito Internacional: Convenção das Nações Unidas contra o Tráfico
de Entorpecentes; Convenção de Mérida e Convenção de Palermo.
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Conceito: Trata-se do conjunto de atos praticados com o objetivo


de conferir aparência lícita a bens, direitos e valores provenientes
de uma infração penal.
Geração de Leis da Lavagem de Capitais:
1ª) Apenas o tráfico de drogas era considerado infração
antecedente;
2ª) Adota um rol taxativo de crimes;
3ª) Qualquer infração penal pode figurar como antecedente (Lei
12.683/12).

Infração Penal Produtora: é aquela capaz de gerar bens,


direitos ou valores passíveis de mascaramento (ex: roubo,
tráfico de drogas etc).
Acessoriedade da Lavagem de Capitais: trata-se de crime
parasitário, ou seja, atrelado à infração penal antecedente,
bastando, para a sua caracterização, a comprovação de um
fato típico e ilícito.

Art.2º, §1º, Lei 9.613/98: “A denúncia será instruída com


indícios suficientes da existência da infração penal
antecedente, sendo puníveis os fatos previstos nesta Lei,
ainda que desconhecido ou isento de pena o autor, ou
extinta a punibilidade da infração penal antecedente”.
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Fases da Lavagem de Capitais:


1ª) Colocação (Placement): é a introdução do dinheiro ilícito
no sistema financeiro, dificultando a identificação da sua
origem;
2ª) Dissimulação (Layering): nesta fase são realizadas
transações com a finalidade de impedir o rastreamento e
encobrir a origem ilícita dos valores (ex: envio do dinheiro já
convertido em moeda estrangeira para o exterior via cabo).

3ª) Integração (Integration): já com a aparência lícita, os


bens ou valores são formalmente incorporados ao sistema
econômico;
4ª) Reciclagem: trata-se do processo de “apagamento” de
todos os indícios anteriores à lavagem de capitais.
OBS: A consumação do crime de “lavagem de capitais”
independe da concretização de todas as fases acima
expostas.

Bem Jurídico Tutelado: prevalece que o crime de lavagem de


capitais tutela a ordem econômico-financeira.
Exaurimento X Lavagem de Capitais: a simples utilização do
produto ou proveito da infração penal antecedente não caracteriza
a lavagem de capitais, mas mero exaurimento.
Teoria da Cegueira Deliberada: se caracteriza quando o agente
tem o conhecimento da elevada possibilidade de que os bens,
direitos e valores sejam de origem ilícita e, ainda, assim, atua de
modo indiferente.
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CRIMES LICITATÓRIOS (LEI 8.666/93)


Licitação: trata-se de procedimento administrativo cuja finalidade
é proporcionar oportunidades idênticas a todos que tenham
interesse em contratar com a Adm. Pública, selecionando a
proposta que melhor atenda ao interesse público.
Objeto Jurídico: moralidade administrativa.
Competência: em regra, da Justiça Estadual, salvo que envolver
bens ou interesses da União, quando a competência será da
Justiça Federal.

OBSERVAÇÃO:

STJ: “Compete à Justiça Castrense processar e julgar os


crimes licitatórios praticados por militar contra patrimônio
sujeito à administração militar (art. 9º do Código Penal
Militar - CPM)” - RHC 83586/RJ.

Art. 89. Dispensar ou inexigir licitação fora das hipóteses previstas


em lei, ou deixar de observar as formalidades pertinentes à
dispensa ou à inexigibilidade:
Pena - detenção, de 3 (três) a 5 (cinco) anos, e multa.
Parágrafo único. Na mesma pena incorre aquele que, tendo
comprovadamente concorrido para a consumação da ilegalidade,
beneficiou-se da dispensa ou inexigibilidade ilegal, para celebrar
contrato com o Poder Público.
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STJ: “Para a configuração do delito tipificado no art. 89 da Lei n.


8.666/1993, é indispensável a comprovação do dolo específico do
agente em causar dano ao erário, bem como do prejuízo à
administração pública” (RHC 108813/SP)
OBS: O STF entende que não é imprescindível a caracterização do
prejuízo à Administração Pública, por se tratar de crime formal
(STF, AP 580/16).

STJ: “O art. 89 da Lei n. 8.666/1993 revogou o inciso XI do art. 1º


do Decreto-Lei n. 201/1967, devendo, portanto, ser aplicado às
condutas típicas praticadas por prefeitos após sua vigência.”(HC
121.708/RJ)
STJ: “A condição de agente político (cargo de prefeito) é elementar
do tipo penal descrito no caput do art. 89 da Lei n. 8.666/1993,
não podendo, portanto, ser sopesada como circunstância judicial
desfavorável”. (HC 163.204/PB)

Art. 90. Frustrar ou fraudar, mediante ajuste, combinação ou qualquer


outro expediente, o caráter competitivo do procedimento licitatório, com o
intuito de obter, para si ou para outrem, vantagem decorrente da
adjudicação do objeto da licitação.
Pena - detenção, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
STJ: “O crime do art. 90 da Lei n. 8.666/1993 é formal e prescinde da
existência de prejuízo ao erário, haja vista que o dano se revela pela simples
quebra do caráter competitivo entre os licitantes interessados em contratar,
causada pela frustração ou pela fraude no procedimento licitatório” (HC
341.341/MG).
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OBSERVAÇÃO:

STJ: “O crime previsto no art. 90 da Lei n. 8.666/1993 classifica-se


como comum, não se exigindo do sujeito ativo nenhuma
característica específica, podendo ser praticado por qualquer
pessoa que participe do certame” (HC 218.663/RJ).

Crimes Contra a Ordem Tributária (Lei nº 8.137/90)

Competência: varia de acordo com o tributo em questão,


podendo ser da Justiça Federal ou Estadual.
Súmula 122, STJ: “Compete à Justiça Federal o processo e
julgamento dos crimes conexos de competência federal e
estadual, não se aplicando a regra do art.78, II, a, do CPP”.

Art. 1º, Lei 8.137/90: “Constitui crime contra a ordem


tributária suprimir ou reduzir tributo, ou contribuição social e
qualquer acessório, mediante as seguintes condutas:”
OBS: O prévio exaurimento da instância administrativa
constitui justa causa e condição objetiva de punibilidade em
relação aos crimes definidos no art.1º, da Lei 8.137/90.
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Súmula Vinculante nº24: “Não se tipifica crime material


contra ordem tributária, previsto no artigo 1º, incisos I a IV,
da Lei 8.137/90, antes do lançamento definitivo do tributo.”
OBS: É cabível a aplicação do princípio da insignificância aos
crimes contra a ordem tributária (Informativo nº739, do STF).

Pagamento do tributo X extinção da punibilidade: De


acordo com a jurisprudência do STF, o pagamento do tributo
extingue a punibilidade do crime contra a ordem tributária
(art.1º e 2º, da Lei 8.137/90), uma vez realizado, a qualquer
tempo. OBS: Há posicionamento no STF entendendo que o
pagamento direto do débito poderia gerar a extinção da
punibilidade até após o trânsito em julgado (STF, HC
116.828/SP, Rel. Min. Dias Toffoli).

Questão: Qual a consequência do parcelamento do débito


tributário?
R: O parcelamento realizado antes do trânsito em julgado
da sentença penal condenatória suspende a pretensão
punitiva e extingue a punibilidade dos crimes tributários
(Informativo 582, STF).
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CRIMES AMBIENTAIS (LEI 9.605/98)

Considerações Gerais:
1-) Inobservância do postulado da proporcionalidade;
2-) Administrativização do Direito Penal (Populismo Penal);
3-) Responsabilização da Pessoa Jurídica sem uma teoria do
crime própria.

Concurso de Pessoas e Omissão Penalmente Relevante:

Art. 2º Quem, de qualquer forma, concorre para a prática dos


crimes previstos nesta Lei, incide nas penas a estes cominadas, na
medida da sua culpabilidade, bem como o diretor, o administrador,
o membro de conselho e de órgão técnico, o auditor, o gerente, o
preposto ou mandatário de pessoa jurídica, que, sabendo da
conduta criminosa de outrem, deixar de impedir a sua prática,
quando podia agir para evitá-la.

Questão: É possível a responsabilização penal da pessoa


jurídica?
Art. 225, §3º, da CF: As condutas e atividades consideradas
lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas
físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas,
independentemente da obrigação de reparar os danos
causados.
01/04/2020

Art. 3º, Lei 9.605/98: As pessoas jurídicas serão responsabilizadas


administrativa, civil e penalmente conforme o disposto nesta Lei,
nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu
representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no
interesse ou benefício da sua entidade.
Parágrafo único. A responsabilidade das pessoas jurídicas não
exclui a das pessoas físicas, autoras, co-autoras ou partícipes do
mesmo fato.

Teorias sobre a Responsabilidade Penal da PJ:


a-) Teoria da Ficção;
b-) Teoria da Realidade.
OBS: A maioria da doutrina critica a responsabilidade penal
da pessoa jurídica, sustentando, em linhas gerais, que a CR
admite apenas a responsabilização administrativa.

Sistema da Dupla Imputação: Somente é possível responsabilizar a


PJ se ela for denunciada em coautoria com pessoa física, que tenha
agido com elemento subjetivo próprio.
OBS: Conforme orientação da Primeira Turma do STF, “O art. 225, §
3º, da Constituição Federal não condiciona a responsabilização
penal da pessoa jurídica por crimes ambientais à simultânea
persecução penal da pessoa física em tese responsável no âmbito
da empresa. A norma constitucional não impõe a necessária dupla
imputação” (RE 548.181, Primeira Turma, DJe 29/10/2014).
01/04/2020

Questão: A responsabilização penal por crime ambiental


depende do encerramento do processo administrativo?
STJ: HC 160.525/RJ - O MP não precisa aguardar a conclusão
do processo administrativo junto ao IBAMA para deflagrar a
respectiva ação penal. Isso porque as esferas administrativas
e penal são independentes. Eventual termo de ajustamento
de conduta não impede a persecução penal, repercutindo
apenas na dosimetria da pena.

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