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1º Juizado
MM. Juiz:
1. DA INVESTIGAÇÃO POLICIAL
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Ministério Público do Rio Grande do Sul
Promotoria de Justiça Criminal de Porto Alegre
[...]
b – processar e decidir as medidas criminais, de qualquer natureza,
cautelares e/ou incidentais, relacionadas aos delitos previstos nas
Leis nº 12.850/13 (organização criminosa) e/ou 9.613/98 (“lavagem”
ou ocultação de bens, direitos e valores), incluídos os eventuais
crimes conexos.”
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“Grosso modo, são 3 (três) os requisitos fixados pelo art. 1°, § 1°, da
Lei n° 12.850/13, para o reconhecimento da organização criminosa:
a) Associação de 4 (quatro) ou mais pessoas: esta associação de
4 (quatro) ou mais pessoas deve apresentar estabilidade ou
permanência, características relevantes para sua configuração, que
diferenciam esta figura delituosa do concurso eventual de agentes a
que se refere o art. 29 do CP, dotado de natureza efêmera e
passageira. Com efeito, apesar de não haver menção expressa no
art. 2° da Lei n° 12.850/13, o ideal é concluir que a estabilidade e a
permanência funcionam como elementares implícitas do crime de
organização criminosa, porquanto não se pode admitir que uma
simples coparticipação criminosa ou um eventual e efêmero acordo
de vontades para a prática de determinado crime tenha o condão de
tipificar tal delito. Eventual agente infiltrado não pode ser levado em
consideração como integrante do grupo para complementar o número
legal mínimo de 4 (quatro) integrantes necessários para a tipificação
do crime de organização criminosa;
b) Estrutura ordenada que se caracteriza pela divisão de tarefas,
ainda que informalmente: geralmente, as organizações criminosas
se caracterizam pela hierarquia estrutural, planejamento empresarial,
uso de meios tecnológicos avançados, recrutamento de pessoas,
divisão funcional das atividades, conexão estrutural ou funcional com
o poder público ou com agente do poder público, oferta de prestações
sociais, divisão territorial das atividades ilícitas, alto poder de
intimidação, alta capacitação para a prática de fraude, conexão local,
regional, nacional ou internacional com outras organizações. Essa
compartimentalização das atividades, expressada na elementar
"divisão de tarefas", reforça o sentido de estruturação empresarial
que norteia o crime organizado. A divisão direcionada de tarefas
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LIMA, Renato Brasileiro de. Legislação criminal especial comentada. 8. ed. Salvador:
JusPODIVM, 2020, p. 774-775.
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MENDRONI, Marcelo Batlouni. Crime Organizado - Aspectos Gerais e Mecanismos Legais.
7. ed. São Paulo: Atlas, 2020 [versão online].
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MINGARDI, Guaracy. O Estado e o crime organizado. São Paulo: IBCCrim, 1998, p. 82.
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ZIEGLER, Jean. Os senhores do crime: as novas máfias contra a democracia. Rio de Janeiro:
Record, 2003, p. 55.
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Nesse sentido, Guilherme de Souza Nucci (Leis penais e processuais penais comentadas. 8.
Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014, v.2, p. 713) sustenta : “exige-se um conjunto de pessoas
estabelecida de maneira ordenada, significando alguma forma de hierarquia (superiores e
subordinados), com objetivos comuns, no cenário da ilicitude. Não se concebe uma
organização criminosa sem existir um escalonamento, permitindo ascensão no âmbito
interno, com chefia e chefiados. O crime organizado é uma autêntica empresa criminal”.
(grifo nosso)
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MENDRONI, Marcelo Batlouni. Crime organizado: aspectos gerais e mecanismos legais. 6.
ed. São Paulo: Atlas, 2016, p. 10)
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d. Apenamento
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e. Caráter Transnacional
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Código Penal (art. 288 do Estatuto Repressivo). Com isso, tem-se a necessária
análise do tipo penal em questão.
Da análise do art. 288 do Código Penal, faz-se possível
perceber que, para a subsunção ao delito de associação criminosa, afigura-
se essencial a existência de três ou mais pessoas reunidas, com estabilidade
e permanência, para o fim específico da prática de crimes em geral (não
necessariamente todos do mesmo tipo penal). Porém, para a prática desses
crimes, também, é possível (diferentemente da organização criminosa) – sem
que haja a desnaturação do preenchimento dos elementos do tipo – a
existência de certo arranjo de tarefas dos associados, simplificadamente, assim
como o comando de um líder (o que sequer se verificou no caso em apreço).
Portanto, no caso vertente, de acordo com os elementos
contidos no inquérito policial, verificou-se mera conjugação de desígnios e
união de vontades para a prática de crimes contra o patrimônio, sem qualquer
divisão hierárquica entre seus agentes.
Demonstra-se o acima argumentado no seguinte cotejo
analítico entre os tipos penais abstratos citados e o instituto do concurso de
agentes:
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Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida
de sua culpabilidade.
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Art. 288. Associarem-se 3 (três) ou mais pessoas, para o fim específico de cometer crimes:(...)
Art. 288-A. Constituir, organizar, integrar, manter ou custear organização paramilitar, milícia particular,
grupo ou esquadrão com a finalidade de praticar qualquer dos crimes previstos neste Código: (...)
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Art. 35. Associarem-se duas ou mais pessoas para o fim de praticar, reiteradamente ou não, qualquer
dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1º, e 34 desta Lei
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Art. 1º (...) § 1º Considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou mais pessoas
estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo
de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais
cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional. (...)
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3. DO PEDIDO
Raquel Isotton,
Promotora de Justiça.
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