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MINISTÉRIO PÚBLICO DO RIO GRANDE DO SUL

PROMOTORIA DE JUSTIÇA ESPECIALIZADA CRIMINAL DE PORTO ALEGRE

EXMA. SRA. DRA. JUÍZA DE DIREITO DA VARA JUDICIAL DA COMARCA DE


ENCRUZILHADA DO SUL/RS:

Processo 5000905-51.2022.8.21.0045

O MINISTÉRIO PÚBLICO, por seu agente signatário, com


atribuições na Promotoria Especializada Criminal de Porto Alegre e este, por sua
vez, com atribuições em todo o Estado do Rio Grande do Sul, com base no
Procedimento Investigatório Criminal nº 00830.000.008/2022, vem ante Vossa
Excelência requerer AUTORIZAÇÃO JUDICIAL DE QUEBRA E PRORROGAÇÃO
DE SIGILO TELEFÔNICO COM A CONSEQUENTE INTERCEPTAÇÃO
TELEFÔNICA, bem como a expedição de MANDADOS DE BUSCA E APREENSÃO
(rol de endereços indicados ao final do pedido), de MANDADO DE BUSCA
PESSOAL e, por conseguinte, aplicação de MEDIDAS CAUTELARES DIVERSAS
DA PRISÃO ao investigado abaixo relacionado:

ANDERSON FONTOURA, brasileiro, servidor público municipal,


nascido em 18/04/1978, portador do RG nº 1056636441 e do CPF nº
938.822.620-87, com endereço residencial na Rua Coronel Peixoto,
300, Encruzilhada do Sul/RS e com endereço profissional na Secretaria
de Saúde e Meio Ambiente do município de Encruzilhada do Sul,
situada na Praça Ozi Teixeira, 46, Centro, Encruzilhada do Sul/RS.

I – DOS FATOS:

Conforme referido nos pedidos anteriores, em decorrência do


Ofício nº 10/2022, remetido pela Prefeitura Municipal de Encruzilhada do Sul a esta
Promotoria de Justiça Especializada Criminal, foi instaurado o presente procedimento
investigatório criminal para apurar possível organização criminosa voltada à prática
do crime de corrupção passiva, praticado, supostamente, por servidor municipal da
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Prefeitura Municipal de Encruzilhada do Sul/RS, lotado no Departamento Municipal


de Saúde e Meio Ambiente, ANDERSON FONTOURA (vulgo “MELÃO”), em
conluio, provavelmente, com outros servidores públicos (estaduais e/ou municipais)1,
os quais estariam, em tese, e em razão de suas funções, solicitando, para si e para
outrem, vantagem indevida, a fim de não aplicar multa pertinente a suas atividades
fiscalizadoras, cujo valor arrecadado seria, ao final, repartido entre eles.

De acordo com o Relatório Inicial de Investigação, o qual


embasou o primeiro pedido de interceptação formulado nos autos do processo em
tela, constou que:

“(...)

A presente notícia é oriunda da Prefeitura Municipal de Encruzilhada


do Sul, na qual um produtor rural da localidade de Moinho do Corvo, interior do município de
Encruzilhada do Sul/RS, denominado WALTER MATIAS MILDNER (RG: 8023481016 – CPF:
470355360-00), conhecido pela alcunha de WALTER ALEMÃO, narrou, em síntese, que, em
razão de corte irregular de árvores de espécie nativa em sua propriedade, recebeu uma
“visita” do fiscal ambiental do município, de nome ANDERSON FONTOURA, alcunha
“MELÃO”, que, na ocasião, verificando a ocorrência de prática ambiental indevida, disse-lhe
que lhe aplicaria uma multa e, para não aplicá-la, bastaria que o produtor rural lhe fizesse o
pagamento da quantia de R$ 12.000,00 (doze mil reais). Diante da negativa de WALTER, o
referido fiscal ANDERSON FONTOURA passou a fazer contatos telefônicos para cobrar-lhe o
valor exigido, referindo, inclusive, que o dinheiro seria dividido entre os colegas e que “caso
não pagasse ele com certeza se complicaria muito.”

Assim, o Sr. WALTER reportou-se à DALVI SOARES DE FREITAS,


Secretário de Planejamento e Desenvolvimento Econômico do Município de Encruzilhada do
Sul e informou o ocorrido, bem como forneceu prints de tela do celular no qual consta sua
conversa através aplicativo de mensagens WhatsApp com aquele que ele aduz ser o fiscal
ambiental ANDERSON FONTOURA, alcunha “ANDERSON MELÃO”.

Print da Denúcia

1
Ainda não identificados até o momento.
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Com base nesse extrato de conversa do aplicativo WhatsApp


verificou-se que o terminal utilizado para a exigência do pagamento foi o de nº (51) 9856-
9982, como veremos posteriormente na qualificação do investigado, sendo, também, o
mesmo telefone fornecido no cadastro da CNH de ANDERSON FONTOURA.

Além disso, ao final das mensagens constata-se, inclusive, ter sido


fornecido os dados da conta do investigado ANDERSON, a fim de viabilizar eventual depósito
(Banco SICREDI – Ag. 0155 – C/C: 43372-1 – Anderson Fontoura - CPF 938. 822.620-87).

(...)”

Excelência, importante relembrar que o levantamento


realizado pelo Relatório Inicial de Investigação fala por si só, apontando que o
investigado ANDERSON FONTOURA, vulgo “MELÃO” exerce, de fato, o cargo de
Agente Sanitário Ambiental na Prefeitura Municipal de Encruzilhada do Sul, razão
pela qual, de acordo com as conversas de WhatsApp acostadas ao procedimento,
em conluio com outros servidores, estaria solicitando do agricultor WALTER MATIAS
MILDNER o depósito de uma quantia em dinheiro em sua conta do SICREDI (Ag.
0155 – Conta 43372-1 – Anderson Fontoura – CPF 938.822.620-87)2 ou,
alternativamente, o pagamento da mesma quantia, em mãos, a ser deixada em uma
farmácia ao lado da lotérica, para, possivelmente, deixar de autuá-lo em uma
infração ambiental.

A propósito, verifica-se, entretanto, que o Sr. WALTER, na


data de 13/01/2022, recebeu uma advertência “de que a supressão de vegetação
nativa deve ser previamente autorizada pelo órgão ambiental competente.”
conforme cópia do documento Advertência nº 001/2022 (acostado ao expediente).

Tais fatos, Excelência, são corroborados pelas informações


que inauguraram o expediente, bem como pelo depoimento de WALTER MATIAS

2
Consoante informação lançada no Relatório de Investigação nº 07, graças à quebra de sigilo bancário decretada
judicialmente foi possível confirmar que os dados bancários do SICREDI fornecidos por ANDERSON FONTOURA ao
produtor rural WALTER MILDNER são efetivamente do investigado.

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MILDNER, prestado ao Ministério Público na data de 23/02/2022, conforme


Degravação-Documento nº 05/2022 já acostada ao feito, cujos trechos importantes
destacam-se novamente a seguir:

(...)

SR. WALTER: Tá. Então, o Anderson veio nos visitar. No primeiro momento, eu não estava
nessa propriedade, eu tava numa outra propriedade, trabalhando, e ele teve em contato com
o meu empregado, que na hora passou o meu celular pro Melão, mas lá onde eu tava
trabalhando ele não conseguia me acessar…
DR. MAURO: Quando foi isso?
SR. WALTER: Eu tenho que olhar o meu… eu posso lhe informar…
DR. MAURO: Mais ou menos.
SR. WALTER: Isso foi o mês passado.
DR. MAURO: Então foi em janeiro de dois mil e vinte e dois.
SR. WALTER: Isso, isso.
DR. MAURO: Tá.
SR. WALTER: Daí veio ele e uma viatura do Estado junto, vieram com duas viaturas,
uma da prefeitura e outra de um pessoal superior lá, que vem numa camionetona
branca. Foi isso que meu empregado falou. Daí, nesse mesmo dia, de noite, ele teve na
minha casa, mas ele chegou muito cedo, daí ele teve com uma viatura vermelha, com
carro particular dele, teve lá na minha propriedade, só que eu não tava em casa, eu não
tinha vindo ainda daquela tarefa que antes ele tentou me acessar. Daí, de manhã cedo, no
outro dia, ele me ligou, daí eu disse: “meu amigo, pode vim comigo, eu te espero no portão lá,
e a gente marca um horário”, se não me engano era tipo dez horas ou… eu vou ter que olhar
em casa pra te afirmar bem certinho, mas lá pelas dez horas, ou uma hora… nós marcamos
uma hora, ele veio lá, a gente entrou dentro da área, eu mostrei pra ele, daí ele me disse:
“Walter, eu tenho uma denúncia aqui. Eu tô recebendo isso de uma escala superior,
que tu tá estragando, mas isso não procede, eu não vou seguir adiante, só tem um
detalhe, eu tenho que falar com meus superiores.” Daí, ele, na minha presença, ligou
pra uma pessoa, falou com essa pessoa no telefone, que nós conseguimos provar, se
for o caso, é só olhar a data, que eu recebi um laudo dele no outro dia, que eu fui na
prefeitura no terceiro dia da visita deles, né. Primeiro dia ele não me achou, o segundo
a gente marcou [no campo], e o terceiro eu fui no gabinete, foi aonde ele me pediu os
doze mil e me deu o laudo aquele de infração.

(...)

SR. WALTER: Tá, daí ele ligou pra esse superior, e falou: “olha, aqui acho que exageraram
um pouco e tal, mas ele não tem nada de documentação dessa faxina”. Daí ele disse: “olha,
eu preciso ver alguma coisa aqui”. Daí eu disse: “ó…” como um colega meu já tinha me
falado que ele… na… na noite, eu liguei pra um senhor de lá, porque eu sou novo ali em
Encruzilhada, e eu liguei pra um amigo meu e pedi: “ô, fulano, me diz algum coisa, tu sabe
sobra alguma… alguma… como é que funciona com a fiscalização?” Diz ele: “pode ir
quieto, com dinheiro, que o cara é corrupto”. Daí, quando eu entrei lá, no campo,
esperei ele na porteira, eu já sabia que ele ia me pedir dinheiro, já tinha isso no meu
subconsciente, e quando ele começou a conversar eu disse: “pô, mas me ajuda, Melão,
fala com os teus superiores lá e me ajuda, segura isso aí pra nós não gerar uma
tempestade”. E daí ele disse: “é, nós temos que dividir em quatro, são três na viatura e
mais o meu gabinete”. Daí eu disse: “tá, mas eu tô apertado, eu não tenho de onde tirar
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agora, eu não ganhei financiamento”, eu sou agricultor novo ali em Encruzilhada, a


gente não ganha ainda, tem que plantar dois anos pra ganhar financiamento. “E aí, eu
preciso que tu me dê uma mão”. Daí ele disse: “não tem problema, tu vai me pagando
como tu pode, que eu só… lembra de um detalhe, nós temos que dividir em quatro. Eu
vou ligar pro meu superior lá pra ver se eles aceitam”. Daí ele fez essa ligação pra esse
pessoal da viatura…
DR. MAURO: Ele falou na tua frente com ele?
SR. WALTER: Sim.
DR. MAURO: Sobre o dinheiro?
SR. WALTER: Sim, sobre o dinheiro. Só não chegamos a estipular valor neste momento.
DR. MAURO: Mas ele falava com a outra pessoa…
SR. WALTER: Sim…
DR. MAURO: …sobre dinheiro?
SR. WALTER: No viva-voz, [até abriu…]
DR. MAURO: E tu ouviu a outra pessoa conversando?
SR. WALTER: Ouvi.
DR. MAURO: Que que a outra pessoa dizia?
SR. WALTER: “Não, então tu ajeita aí no teu gabinete, mas não esquece que nós somos em
quatro, tararã…”
DR. MAURO: A outra pessoa dizia isso?
SR. WALTER: Isso, que tinha que dividir entre eles.
DR. MAURO: Tu não tem ideia de quem seria esta outra pessoa, se era fiscal do Estado, se
era colega…
SR. WALTER: Sim, sim, sim, porque a camionete é aquela que vem adesivada, do Estado.
Sabe as branca, grande, aquelas, que não é daí… pelo menos lá na minha região, é Lajeado
que atende Colinas, Roca Sales, os municípios…
DR. MAURO: Não era da polícia, não era (fala sobreposta)…
SR. WALTER: Não, não…
DR. MAURO: …ambiental?
SR. WALTER: Não, era da FEPAM, a camionete…
DR. MAURO: Era da FEPAM?
SR. WALTER: …que tava lá. Só que eu não sei se é de Santa Cruz ou de Lajeado, porque
isso eu não tive acesso.
DR. MAURO: Tinha o adesivo FEPAM?
SR. WALTER: Sim, aquela… eu acho que é umas Renault que eles andam, ou aquelas
Nissan, é umas quadradona grande, assim. E aí eu tava… daí que eu comecei a negociar
com ele e vim enrolando ele até agora, porque eu não dei nenhum real pra ele e ele continua
me pedindo.
DR. MAURO: E essas mensagens que vocês trocam, são mensagens do Whatsapp…
SR. WALTER: Do Whats.
DR. MAURO: …são mensagens de voz?
SR. WALTER: Do Whatsapp, outras… pra… tem… ele me indicou pra mim levar dinheiro na
farmácia, pra mim depositar na conta dele, ele me se…
DR. MAURO: Nada disso fizeste?
SR. WALTER: Nada, eu não botei nenhum pila.

(...)

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DR. MAURO: Tá? Continuando, então, então até agora, não pagou nada pra ele?
SR. WALTER: Nada. Venho conversando com ele… assim, ele entrou em férias, voltou de
férias e a gente conversando e ele me pedindo dinheiro, tanto que semana passada ele
me ligou pedindo mil reais por mensagem, me mandou, tá gravado. Eu mandei de volta
pra ele dizendo que eu não tenho condições no momento, que depois da colheita a gente vai
acertar tudo, e a colheita é daqui a noventa dias, mais ou menos. Então, ali dá uns de
noventa a cem dias, e agora nessa (fala sobreposta)…
(...)
SR. WALTER: Não conhecia ele sem pelo apelido porque ele é conhecido lá com todos… por
exemplo, eu tenho colegas que vieram da região ali que (fala sobreposta)…
DR. MAURO: Eu tenho uma foto dele aqui, nós já fizemos uma pesquisa dele, eu vou lhe
mostrar a foto ver se o senhor confere se é ele mesmo.
SR. WALTER: Tanto que tem um caminhão que se acidentou há pouco tempo aí, que
eles capotaram, ele precisou… precisavam desse dinheiro pra arrumar esse caminhão,
era a desculpa que ele tava me dando, tinha que ser meio urgente.
(...)
SR. WALTER: Tá, e daí, depois que ele me fez o laudo, ele me ligou, ele me mandou
mensagem me avisando: “ó, o pessoal lá de cima não vai ficar, vai ficar aqui na minha
mesa, só que se tu não pode pagar agora, tu vai acertando conforme tu tem
condições”, né. Daí que eu venho conversando com ele agora, desde então, desde a
autuação, né, que eu tenho lá a autuação que ele me deu, o termo, né, que eu fui buscar na
prefeitura, no gabinete dele.
DR. MAURO: Tá. Sabe de algumas outras atuações desse fiscal, de quem que ele já
cobrou essa propina?
SR. WALTER: Sim, eu… agora que essa conversa… porque como eu não conheço o
lugar, sem querer me direcionei a comerciantes antigos, plantadores antigos de
Encruzilhada, tanto pra conhecer localidades, saber onde tu compra isso, onde é que
tu defende com aquilo, que… maquinário, outras coisas mais, e trocando informação,
fichinha que agricultor troca com agricultor, né. Então, a maioria do pessoal tem ele, já
vê ele, tanto que a dica me deram, tá, tem outros investidores, de outros lugares que
vieram e que já pagaram ele, inclusive se… eu pedi, acho que até consigo mais gente
pra me ajudar se…
DR. MAURO: Se possível, se o senhor conseguir contato com alguém que se disponha a nos
confirmar idênticas situações aí, seria importante pra investigação.
SR. WALTER: Sim.
DR. MAURO: Tá?
SR. WALTER: Não posso lhe prometer, mas eu vou bater em alguns ombros aí, pedir uma
mão pra não ficar sozinho, né. Não sei se vão…
DR. MAURO: Houve alguma ameaça?
SR. WALTER: Não, tudo numa… ele é muito calmo, sereno, o senhor vai olhar que ele não
levanta a voz nas ligações… ouvir, né, não olhar, ele não é um cara que diz: “ó, tu faz isso ou
aquilo.” Não, tudo na santa paz, uma educação assim…
DR. MAURO: Então ele pediu só os doze mil, mil reais por hectare…
SR. WALTER: Isso.
DR. MAURO: … pra não autuar, não fazer a multa.
(...)
DR. MAURO: Tá, esse carro vermelho que o senhor…
SR. WALTER: É particular dele, agora eu já descobri. É uma das camionetes que ele tem.
DR. MAURO: Esse carro vermelho que o senhor disse que ele foi lá, não lembra que
carro era?
SR. WALTER: Era um Toro.
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DR. MAURO: Uma Toro.


SR. WALTER: Uma Fiat Toro.
DR. MAURO: Uma Toro vermelha. Então é um carro da FEPAM, identificado…
SR. WALTER: Não… Ah tá, sim.
DR. MAURO: Um carro da FEPAM, identificado, e ele tava com que carro?
SR. WALTER: Na primeira visita, ele foi com um motorista da prefeitura, com uma
viatura da prefeitura.
DR. MAURO: Identificada a prefeitura?
SR. WALTER: Isso, era… chegou… assim, eu vou usar o termo de casal, mas não… nada…
é que chegou motorista e ele quando encontraram o meu funcionário lá, daí meu funcionário
disse: “ó, o Walter tá numa outra área, tá aqui o telefone, o senhor liga pra ele, de noite ele tá
em casa, nós moramos logo ali”, porque eu não tô muito longe, uma área da outra, assim,
quatro quilômetros e meio, cinco no máximo. Daí, de noite ele foi na minha casa e eu não
estava, não tinha chegado ainda da minha tarefa, daí o meu empregado disse: “ó, liga
amanhã de manhã, ou ele te liga”. Daí, eu, de manhã liguei, e a gente marcou, agora eu tô
lembrado, marcamos pra, se não me engano, as duas horas, duas horas da tarde. Daí ele
veio me visitar lá no campo com o carro dele, já não veio com o carro da prefeitura, não veio
[com motorista].
DR. MAURO: Tá, mas então o senhor não viu essa viatura da FEPAM, foi só seu funcionário
que viu?
SR. WALTER: Sim, e essa viatura da FEPAM também teve no meu pátio.
DR. MAURO: Ah, teve na sua casa?
SR. WALTER: Também.
DR. MAURO: Nessas quatorze horas desse dia?
SR. WALTER: É… não, no dia anterior que…
DR. MAURO: Tá, mas o senhor não viu? A viatura da FEPAM, o senhor não viu?
SR. WALTER: Não, não.
DR. MAURO: Só lhe contaram.
(...)
SR. WALTER: Isso, eu acho que eles me… a história começa: ele me visita na terça e eu
não tô, na quarta a gente conversa na lavoura e na quinta eu vou às dez lá na prefeitura
buscar o laudo, esse. Eu acho que vai bater, é essas as datas. Eu tenho o laudo lá que
ele fez, é um talão que…
DR. MAURO: Tá, ele lhe passou esses dados de conta, do banco Sicredi, agência,
número da conta, nome dele…
SR. WALTER: Sim.
DR. MAURO: …CPF dele pra depositar?
SR. WALTER: Isso aí.
DR. MAURO: Tá, isso é uma conta particular dele?
SR. WALTER: Sim, eu não depositei, eu não se é…
DR. MAURO: Não era conta do município pra pagar multa, nada?
SR. WALTER: Nada, nada, nada.
DR. MAURO: Era conta particular dele.
SR. WALTER: Particular dele.
DR. MAURO: Existem algumas coisa que eu lhe pergunto que parecem óbvias, mas eu
preciso perguntar o óbvio, tá.
SR. WALTER: Tudo certo. Tudo certo. E daí ele também me orientou: “caso, se tu não
queira depositar, tu pode botar num envelope e largar lá na farmácia”.
DR. MAURO: Uhum. Por que na farmácia?
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SR. WALTER: Eu acho que tem [alguém de segurança dele], lá, que é tipo aquilo que eu
comentei, que quando tu entra no gabinete dele, ele dá uma olhada assim e continua a falar
contigo, dá outra olhada, todo mundo (ininteligível).
DR. MAURO: Então tem alguém na farmácia que participa do esquema.
SR. WALTER: Isso aí.
DR. MAURO: Que farmácia é?
SR. WALTER: É a primeira do lado… tá escrito no coisa, ali na… na farmácia do lado da
prefeitura, ali na…
DR. MAURO: Lembra que farmácia é, se é Panvel, se é São João se é…?
SR. WALTER: Ah, eu tenho que olhar, de cabeça eu não sei, sei que é uma farmácia bem do
lado, ele disse: “tu pode largar na farmácia lá”.
DR. MAURO: Tem alguma outra farmácia por perto que possa confundir ou não?
SR. WALTER: Não, acho que não, não.
DR. MAURO: Farmácia ao lado da prefeitura.
(...)
DR. MAURO: Após o encerramento da gravação o senhor me fez um comentário que eu
reputo importante colocarmos no seu depoimento. O senhor me referiu que esse dinheiro,
doze mil, seria pra pagar um acidente com um caminhão dele. Que história é essa de
caminhão? O que o senhor conhece sobre caminhões dele?
SR. WALTER: Bom, doutor, o que acontece, assim, é que como no início eu tava
totalmente… tô numa terra distante, eu tô desamparado, tô sozinho diante de uma
autoridade. Eu cheguei a pensar bobagem, sabe, daí tu começa a correr atrás, pede pra
um, pra outro, e daí que eu comecei a descobrir que ele tem caminhão na mão do
genro, que tem caminhão na mão do primo, que são deles, ele que pagou, tanto que os
doze mil ele precisava pra reformar um caminhão que o genro dele pegou no sono e
bateu.
DR. MAURO: Quem é o genro? Sabe o nome dele?
SR. WALTER: Não, mas é casado com a filha do Melão e do…
DR. MAURO: Do Melão.
SR. WALTER: …do melão. Eu só esqueço o nome dele.
DR. MAURO: Anderson.
SR. WALTER: Do Anderson, doutor, e daí nessa de que o cara fica meio…
DR. MAURO: Quantos caminhões ele teria?
SR. WALTER: Se eu não me engano são dois caminhões e três camionetes. As
camionete, tudo camionete do ano, coisa do dinheiro, coisa assim, cara, que eu já não
tenho.
DR. MAURO: Estão com os genros também?
SR. WALTER: Com a família.
DR. MAURO: Com a família.
SR. WALTER: É, diz que tem apartamento em fora, alguma coisa no litoral, tudo no
nome de familiar. Isso é o que as… os que não gostam dele me contaram, assim, um
sabe de uma coisa, outro de outra, que eu fui coletando e catando essa informação
porque eu pensei que teria que talvez chegar nele e fazer o jogo contrário, né, chegar e dizer:
“pô, cara, se tu quiser me apertar, vou te dedurar que tu tá fazendo isso, isso, isso”, mas
como agora eu estou amparado, eu desisti da ideia. Até então eu tava bem sozinho,
desesperado, doutor. (...)”

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Dessa forma, tendo em vista a peculiaridade da presente


investigação, bem como a tamanha gravidade dos fatos, foi autorizada a
interceptação do telefone nº (51) 99856.9982 (Operadora VIVO), utilizado por
ANDERSON FONTOURA que, até o presente momento, se estendeu por 06 (seis)
períodos, ensejando a confecção dos Relatórios de Investigação já acostados ao
presente feito e, por seu turno, do consistente Relatório de Investigação nº 07 (em
anexo), cujos trechos importantes seguem abaixo, a fim de evitar tautologia:

“(...)

QUEBRA DE SIGILO TELEMÁTICO

Através de analise da QST, não se logrou êxito na captação de mensagens


pertinentes ao objeto aqui investigado.

QUEBRA SIGILO BANCÁRIO

Quanto a QSB ainda não podemos abordar nesse relatório haja vista o atraso na
resposta por parte de algumas instituições bancárias, motivo pelo qual será analisado em
relatório próprio.

Entretanto, desde já podemos inferir que os dados bancários do Banco


Cooperativo SICREDI S/A fornecidos pelo investigado ao produtor rural WALTER MILDNER a
fim de que esse efetuasse o depósito, pertencem, verdadeiramente, ao investigado
ANDERSON FONTOURA, conforme consta na denúncia por ocasião da troca de mensagens
entre ambos.

(...)

DOS PERÍODOS DE QUEBRA DE SIGILO TELEFONICO

No decorrer de 06 (seis) períodos (90 dias) de interceptações telefônicas


(descritos abaixo), podemos inferir que o servidor municipal ora investigado, em algumas
ocasiões, exigiu para si e para outrem vantagem financeira indevida.

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1º Período
Número Início Fim Of. Jud. Operadora
51-998569982 24/05/2022 07/06/2022 10019359102 VIVO

2º Período
Número Início Fim Of. Jud. Operadora
51-998569982 04/07/2022 18/07/2022 10021366941 VIVO

3º Período
Número Início Fim Of. Jud. Operadora
51-998569982 15/08/2022 29/08/2022 10023640465 VIVO

4º Período
Número Início Fim Of. Jud. Operadora
51-998569982 31/10/2022 14/11/2022 10027777559 VIVO

5º Período
Número Início Fim Of. Jud. Operadora
51-998569982 29/11/2022 13/12/2022 10029511953 VIVO

6º Período
Número Início Fim Of. Jud. Operadora
51-998569982 13/01/2023 27/01/2023 10030792741 VIVO

Todos os períodos de interceptação foram efetivados com êxito, indicando sinal


ativo, com ligações recebidas e efetuadas, sendo que, inclusive, em grande parte das
ligações observa-se que os interlocutores mencionam que irão dar continuidade no assunto
através do aplicativo WHATSAPP.

Nesse ensejo, reprisaremos trechos de interceptações telefônicas outrora


degravados em relatórios pretéritos na sua íntegra.

3
No primeiro período de interceptação, , no dia 25/05/2022 às 17h16min55seg, o
investigado ANDERSON FONTOURA liga para o terminal (51) 99127.9729 e conversa com
homem o qual chama de MARQUINHOS.

O INVESTIGADO diz estar vendendo "UNS TROÇOS" e pede para


MARQUINHOS fazer umas contas e ver a “QUANTO TÁ”, se referindo provavelmente, ao
montante da dívida. Pede para MARQUINHOS que lhe mande o PIX, pois ele está devendo já
faz uns 03 (três) meses e depois manda uns “TROCO”.

3
Degravação completa no Relatório 02. – Degravação N.° 27/2022.

12

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ANDERSON: [E aí é] tu que pergunta, né. O… faz o seguinte,


Marquinhos, o… tô vendendo uns troços aí, me diz… faz uma conta
4
aí, quanto é que tá e me manda no Zap .

Essa ligação vem a corroborar com a afirmativa de que o investigado solicita que
sejam enviadas mensagens pelo Aplicativo, aplicativo esse que, ainda hoje, temos a
impossibilidade de interceptação.

5
Em 13jul2022 às 10h14min59s o investigado recebe ligação telefônica da
esposa, que indaga “NADA AINDA MEU AMOR” e, posteriormente, o ALVO acrescenta “ELE
TÁ ESPERANDO O DINHEIRO AMOR, CONSEGUIR O DINHEIRO”.

BERENICE: Nada ainda, meu amor?


ANDERSON: Ainda não, amor, mas (ininteligível) [a Receita de
novo aí].
BERENICE: Tá, mas o que (ininteligível) esperando?
ANDERSON: Ele tá esperando o dinheiro, amor, conseguir o
dinheiro, amor.
BERENICE: (Fala sobreposta) eu preciso pagar…
ANDERSON: Mas eu falei pra ele que nem que seja menos.
BERENICE: Sim, eu preciso pagar o seguro.
ANDERSON: Tá, eu sei, amor, eu disse pra ele.

Em 16jul2022 às 16h58min34s, o investigado recebe ligação do terminal (51)


99750-4739 cadastrado em nome de ANGELA MARIA PIRES DA SILVA BICA - CPF:
429.231.900-68, moradora da Rua Atanagildo Florisbal, 243, Vila Paraíso, Encruzilhada do
Sul. Nesse áudio interceptado a interlocutora menciona “QUARTA-FEIRA EU TENHO QUE
DAR UM DINHEIRO PROS PIÁ...” e o investigado responde “SÓ PRA MIM ME
ORGANIZAR”.

No início da transcrição do diálogo é possível constatar que o investigado e a


interlocutora estavam trocando mensagens na noite anterior, provavelmente através do
WhatsApp.

ANGELA: Pois é, ontem eu dei boa noite, no final eu fiquei sem


bateria (fala sobreposta).

4
Gíria popular que se refere ao Aplicativo WhatsApp.
5
Ligação degravada em sua integra no Relatório 03- Degravação N.° 65/2022.
13

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ANDERSON: Ah não, eu… eu… eu… eu vi só hoje a sua


mensagem.
ANGELA: É, aí, depois, o senhor me… me deu (ininteligível) eu só
visualizei, não… até parece que… não é que eu tivesse esquecido,
eu tava com pressa e agora eu tô de novo, (ininteligível)
mensagem…

Na sequência, percebe-se que o assunto trata-se de dinheiro que a interlocutora


precisa entregar ao investigado:

ANDERSON: Eu só… eu só… eu só pergunto pra mim me


organizar também, né.
ANGELA: Tá. Ãham.
ANDERSON: Só por isso.
ANGELA: Assim, ó, quarta-feira eu tenho ideia de lhe dar um
dinheiro (ininteligível).
ANDERSON: Não… é… não… tá, não, só pra mim me organizar.

Em 26ago22, às 17h32min14s, o investigado liga para o terminal (51) 9992-


44878, cadastrado em nome de ANTONIO ROLVEI SOARES SOARES, residente na Av. São
Cristovão, 236, Loteamento da Paróquia, Encruzilhada do Sul.

6
Nessa ligação , percebe-se que ANDERSON FONTOURA visa obter vantagem
financeira através de informação inverídica repassada ao produtor de carvão do município de
Encruzilhada do Sul/RS.

ANDERSON: “... a patrulha ambiental estava atrás de ti hoje por


causa dos fornos...”.

e complementa:

“... tu tinha que fazer pelo menos o cadastro a licença que é mais
cara dá pra dar um prazo, entendeu...”, “... assim tinha que ser meio
rápido esse cadastro ai, por que o quê que acontece esse é um
cadastro que faz na Secretaria de Agricultura do Estado, eu até
posso fazer pra ti não tem problema, o problema é que uma taxa
que não é muito barata, vai dar uns 1.100...”.

6
Ligação transcrita integral no Relatório 04.
14

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O produtor indaga quando precisa dar esse valor e ANDERSON responde:

“... isso que te pergunto, isso é na, não adianta, isso ai é na, é
quando tu protocola os documentos, entendeu? Quando tu manda
pra eles os documentos tem que manda a cópia dos troços já
entendeu, era isso ai que eu ia te perguntar, fazer o serviço eu faço
pra ti não tem problema...”. “... essa é a taxa do cadastro na licença
tu vai gastar mais depois pode te preparar ai para uns 3, 4. Mais ai
tem tempo pra ti fazer entendeu? Um ano se for, tem um decreto da
prefeitura que dá um ano para fazer...”

O produtor diz que o problema é arrumar o dinheiro e ANDERSON diz:

“... o problema é esse ai, por isso te liguei mais cedo, o que tranca
tudo sempre é isso ai... assim ó, o quê que acontece uns, uns, 300
ai eu consigo te, né? Se tu conseguir o resto pra amanhã eu
consigo te dar um apoio por uns dias pra não dar essa zebra ai... tu
arrumando ai uns 800, 800 e pouco já dá prá, o resto eu consigo
completar pra ti por uns 15 ou 20 dias...”

Entretanto, conforme descrito em relatório pretérito, verificou-se junto à


Secretaria de Agricultura do Estado, Secção de Florestas Plantadas, que não há incidência
de taxas para cadastro da atividade de produção de carvão vegetal em fornos, incluindo a
destinação dos resíduos, cabendo essa taxa ao município por ocasião da emissão de Licença
Ambiental, uma vez que essa atividade causa impacto ambiental local.

Nessa seara, com o intuito de corroborar e esclarecer a informação quanto a


cobranças de taxas por parte do ente estatal pertinente à produção de carvão vegetal para
produtor pessoa física foi feito contato com o Sr. FABRICIO RIBEIRO AZOLIN, Engenheiro
Agrônomo, Chefe da Seção de Cadastro de Florestas Plantas da Secretaria de Agricultura do
Estado.

7
Em sua entrevista o Sr. FABRICIO, após breve relato sobre o histórico do
cadastro florestal do Estado, foi enfático ao afirmar que “NÃO EXISTE PAGAMENTO DE
TAXA”.

7
Entrevista gravada realizada em 25jan2013 nas dependências da Promotoria de Justiça Especializada.

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Assim, fica evidente que o INVESTIGADO, ao informar ao produtor de carvão da


existência de uma taxa (que na verdade não há), está cometendo, em tese, o delito de
estelionato, na medida em que, mediante ardil, induz o produtor ao pagamento de uma taxa
que inexiste, com o nítido intuito de obter vantagem ilícita.

8
Em 14nov22, o investigado liga para o terminal (51) 98051.1591, cadastrado
para DAGOBERTO SILVA ABREU, endereço na Rua Demétrio Ribeiro, 408, Centro
Histórico, Porto Alegre/RS.

Em tal ligação, o investigado ANDERSON menciona ter enviado uma


mensagem (provavelmente via WhatsApp) relacionando determinado fato até o momento
desconhecido.

ANDERSON: [Dado], assim, ó, o que que eu te mandei hoje, a


mensagem aí? Te lembra aquela lida lá da…

9
Em 07dez22, às 11h39min42s, o investigado recebe ligação telefônica do
terminal (54) 991331821, cadastrado em nome de RAFAEL CERVINI, com endereço da
empresa junto a Receita Federal – Pessoa Jurídica na Rua José Fuga, 334, Centro,
Marau/RS.

Nessa ligação o assunto margeia quanto a uma averiguação realizada pela


FEPAM ou PATRAM (Patrulha Ambiental da Brigada Militar) em propriedade de RAFAEL, na
qual RAFAEL teria, de forma ilegal, desmatado área de preservação.

ANDERSON: De hectare, assim, o que tu acha que tu tirou lá?


RAFAEL: Mas olha, eu acho que tem uns dez eu acho [retirado].
ANDERSON: Tá. Assim, ó, eu vou… eu vou tirar saber hoje,
durante o dia aí, tá. Tu…
RAFAEL: Uhum.
ANDERSON: …o que que a… o que que… pra ti… pra ti entender o
que que acontece: vamos tentar já… alguém tá lá, tá, vamos tentar
puxar pra cá. Tá?
RAFAEL: Uhum.
ANDERSON: E aí…
RAFAEL: Uhum.
ANDERSON: …[que aí corre] comigo. Não sei se tem mais alguém
ouvindo aí ou tá só tu? Não sei qual é a situação.

8
Transcrição na integra no relatório 05 - Degravação N.° 112/2022.
9
Transcrição completa no Relatório 06 - Degravação N.° 114/2022.
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RAFAEL: Como?
ANDERSON: Tá só tu aí …
RAFAEL: Não.
ANDERSON: …ou tem mais alguém ouvindo aí (ininteligível)?
RAFAEL: Não, eu já te liguei no normal pra falar com… nem te
mandei mensagem, que eu sei como é que é.
ANDERSON: Tá tranquilo.
RAFAEL: A gente fala mesma língua, né.
ANDERSON: É, sim. Mas assim, ó…
RAFAEL: Então, por isso que eu já te liguei [pra evitar mensagem].
ANDERSON: …vamo… eu vou… vou tirar saber aqui. Tá? O que
que é, qual é a situação e vamo tentar puxar pra cá, que aí corre
através da prefeitura…
ANDERSON: Eu vou tentar puxar pra cá, vou ver como é que é,
daqui a pouco a gente faz um auto de infração anterior daqui. Tá me
nome de… lá tem CAR? Tem CAR lá, a área?
RAFAEL: Sim, ãham.

No dia seguinte, 08dez2022 ANDERSON torna a ligar para RAFAEL, sendo


incisivo na exigência de vantagem financeira para si e outros servidores ainda não
identificados.

ANDERSON: Tu… falei com o pessoal lá, viu, eu acho que


conseguimo.
RAFAEL: Ãham.
ANDERSON: Acho que conseguimo. Eu não sei o que que tu… eu
não falei valores. O que que tu acha assim que nós conseguia
resolver hoje? Se tem como…
RAFAEL: Cara, quando menos… quanto menos melhor. Tu sabe
que não é fácil, viu.
ANDERSON: Não, não, isso aí não é, não tem…
RAFAEL: Tu sabe que não… então, eu, pra mim, vou te falar,
quanto menos melhor, né.
ANDERSON: Tá. Não, isso aí… isso aí… mas daí eu preciso que tu
me diga assim um… um…
RAFAEL: Não, não, não.
ANDERSON: …[um parâmetro]. O que que é o…
RAFAEL: (Fala sobreposta).
ANDERSON: O que que tu acha que tu… assim…
RAFAEL: Não, não…
ANDERSON: …de… de zero a… de zero a cinco, o que que tu
acha que tu consegue chegar?
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RAFAEL: Olha… olha, Anderson, é uma coisa que a gente não


tem… não tá preparado no momento pra (fala sobreposta).
ANDERSON: O que que acontece assim, ó? Essa turma… essa
turma… essa turma lá, se dizer assim… nós oferecer quinhentos,
não adianta. Entendeu?
RAFAEL: Uhum, Uhum.
ANDERSON: Então, assim, ó, coisa de quinhentos, mil pila, são
três, quatro, mais (ininteligível) pessoal da rua, vai…
RAFAEL: Uhum.
ANDERSON: Tu entendeu?
RAFAEL: Uhum.
ANDERSON: [O que tá em campo] vai… né, alguma coisinha (fala
sobreposta)…
RAFAEL: Uhum.
ANDERSON: Então não adianta, por isso que eu te pergunto assim,
ó, se zero a cinco, o que que tu acha que tu consegue botar a mão
em seguida? Se tem como.
RAFAEL: Uhum.
ANDERSON: Se não dá também, tu me diz: “Ó, Melão, não dá…
não dá nada, né…

Na sequência da conversa perdura a negociata e pressão para o pagamento dos


valores indevidos aos servidores:

ANDERSON: Só que assim, ó, isso é uma coisa que a gente…


como é que eu vou te dizer? Não dá pra… como é que eu vou te
explicar? Negociar assim, né, ficar tanto, aí vem uma
contraproposta, vem tanto. Por isso que a gente já dá uma coisa
assim, mais ou menos… Tu acha que dois e meio? Tu acha que…
que tá… que consegue?

Assim segue a barganha com RAFAEL em torno do ajuste de valores (entre


R$2.000,00 e R$2.500,00), sendo que combinam que ANDERSON fará contato
(provavelmente com os demais servidores) e tornará a fazer contato através do aplicativo
WhatsApp, ao que RAFAEL concorda e combina que a mensagem será sem texto, apenas
com o numero do PIX e o valor.

ANDERSON: A situação é difícil pra todo mundo.


RAFAEL: Se tu conseguir uns dois, melhor, e se tiver que ser dois e
meio…

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ANDERSON: Tá, eu vou… eu vou fazer contato e aí te retorno. Tá?


Eu vou te…
RAFAEL: Uhum.
ANDERSON: …mandar no Zap ali, daí. Tá? Te mandar no Zap, que
ali…
RAFAEL: (Fala sobreposta).
ANDERSON: …eu… direto, assim, né…
RAFAEL: [Tá, eu mando sim].
ANDERSON: …[sem texto]. Tá ok?
RAFAEL: Me manda [o Pix] e o valor e deu, não precisa nem falar o
que que é.
ANDERSON: Tá ok.
RAFAEL: Pix tal e valor tal.

DO PERIODO DE INTERCEPTAÇÃO ATUAL (6º PERÍODO)

Assim, após reproduzir algumas ligações anteriores, passa-se ao período atual


de interceptação.

Oportuno destacar que nesse período o investigado encontra-se em gozo de


férias e locou um imóvel no município litorâneo de Arroio do Sal/RS até dia 30 de janeiro, fato
esse que ocasionou a significativa redução nas interceptações.

Na interceptação telefônica do dia 20jan2023, às 11h43min00seg o investigado


ANDERSON recebe ligação do terminal (51)99700.2346, o qual, conforme cadastro junto à
operadora de telefonia móvel VIVO pertence a LUIS CARLOS DE FREITAS SOARES, CPF:
382.832.390-15, residente Rua João dos Passos, 128 bairro Alto Alegre, Encruzilhada do
Sul/RS.

(...)

Através de pesquisas ao SCI/RS, consta o cadastro do interlocutor LUIS


CARLOS, vulgo “MANCHA”, sendo que o número do terminal cadastrado no banco de dados
do DETRAN/RS vem a ser o mesmo usado na conversa com o INVESTIGADO.

(...)

Na aludida ligação telefônica, o INVESTIGADO avisa o interlocutor que chegou


nova denuncia referente aos fornos perto da ponte. Avisa que a PATRULHA AMBIENTAL
está na região e que, se por acaso flagrarem os fornos acesos poderá haver situação de
flagrância.
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Nesse ínterim, aproximadamente aos 3 minutos o interlocutor diz para o


investigado:

LUIS: Tinha que dar uma olhada (ininteligível), mas não adianta,
(ininteligível) até nós… nós regularizar eu vou te dando por semana
aí, (ininteligível) não sobra dinheiro cara (fala sobreposta)…

10
Na transcrição abaixo, em sua íntegra, percebe-se que LUIS CARLOS
possivelmente não possua licenciamento para a atividade de produção de carvão, entretanto,
fica subentendido em suas palavras: “... até nós regularizar eu vou te dando por
semana...” que há um acerto entre ambos para continuar o funcionamento sem alvará.

Telefone: 51-998569982
Data: 20/01/2023 Hora inicial: 11h43min00seg
Interlocutor: 51-997002346
ANDERSON: Alô.
LUIS: Oi. Fala, Melão, (fala sobreposta)…
ANDERSON: O… chegou a… agora chegou outro aqui, tá.
LUIS: Ãham.
ANDERSON: O (ininteligível).
LUIS: Mas aquele do Ministério Público eles não me notificaram em nada, Melão. Como é que eu vou…
ANDERSON: Não… é… é… não, mas vai… vai… a Patran teve aí, né.
LUIS: Mas não…
ANDERSON: Deixou uma notificação pra Michele, tem cópia dos documentos ali…
LUIS: Mas não… tem nome de ninguém.
ANDERSON: …do procedimento deles.
LUIS: Mas não tem nome.
ANDERSON: Acho que tá no nome da tua esposa, eu acho, né.
LUIS: Não, ela só recebeu…
ANDERSON: Isso.
LUIS: …um papel, mas não… mas…
ANDERSON: E aí… e aí, depois acho que tinha que ir lá, alguma…
LUIS: Eu já liguei mil vezes pra lá, Melão, aquilo tá… ninguém atende telefone lá naquilo lá.
ANDERSON: Não, daqui a pouco, outra hora, eu te consigo as cópia aí. Tá?
LUIS: Ãham.
ANDERSON: (Ininteligível) ficar por dentro.
LUIS: Ãham.
ANDERSON: E agora chegou uma do… agora de manhã teve uma pessoa ali…
LUIS: Ãham.
ANDERSON: …eu não tava, eu tô de férias, tô vindo só apagar uns incêndio ali…

10
Transcrição efetivada por técnico de áudio do Ministério Publico/RS - Degravação N.° 04/2023.
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LUIS: Ãham.
ANDERSON: …e aí falou com o pessoal ali e aí agora chegou por escrito…
LUIS: Ãham.
ANDERSON: …[cara], da ouvidoria ali, do [forno antes da ponte] (fala sobreposta)…
LUIS: Tá, e o que que tem que fazer (fala sobreposta)…
ANDERSON: E tem gente passando mal.
LUIS: Mas que passando mal (fala sobreposta)…
ANDERSON: Sim.
LUIS: …né, (fala sobreposta)…
ANDERSON: Não, o negócio que ali agora mudou as regras de novo, meu.
LUIS: Ãham.
ANDERSON: Ali tu não vai conseguir licenciar.
LUIS: Nem (ininteligível)
ANDERSON: Ali, ass… talvez, talvez, talvez quatro. Entendeu?
LUIS: Ãham.
ANDERSON: Mas é… mas a princípio, pelas distâncias ali, tá.
LUIS: (Ininteligível).
ANDERSON: Nós tinha que dar uma olhada com bastante calma. Tu tá aí embaixo hoje?
LUIS: Não, eu… eu [vou chegando] na cidade…
ANDERSON: Tá.
LUIS: …de tarde eu vou tá aí. De tarde eu vou tá.
ANDERSON: Tá, e me diz uma coisa, qual é a situação pra tu… é que a patrulha ambiental tá aí de novo. Entendeu?
Aí vai agravar muito o teu caso.
LUIS: Ãham.
ANDERSON: Com certeza essa denúncia foi pra lá também de novo.
LUIS: (Ininteligível).
ANDERSON: Se os caras chegam a ir ali, tá queimando, bah, aí… aí capaz… aí capaz de dar até flagrante.
Entendeu?
LUIS: Porque eu acho que tá queimando, né, meu.
ANDERSON: É por isso que eu te liguei.
LUIS: Mas eu acho que eu des… eu acho que eu desdobro (ininteligível), porque na verdade eu não recebi, eu vou
dizer que não fui eu, eu vou dizer que era outro que tava lá, que eu era o dono do campo. [Vê se tu confirma] o que
que tu acha: eu vou dizer que eu tinha arrendado pra outro, que o… a minha mulher [recebeu porque era dona do
campo], ela não disse que era meu [os fornos] que era eu que tava queimando.
ANDERSON: Sim.
LUIS: Entendeu? Eu vou dizer que era cara lá (ininteligível) tinha arrendado (ininteligível) agora que eu tava, né,
porque… e na verdade, eu fui… tchê, eu liguei umas dez vez, sinceramente, pra eles ir lá, ninguém atende aquele
telefone em Rio Pardo, Melão.
ANDERSON: É.
LUIS: Pode tentar pra tu ver uma coisa. Não, sério mesmo, eu liguei, eu ia lá pra falar, porque é melhor pra falar,
né.
ANDERSON: Sim, sim, sim.
LUIS: Tá, e o que que nóis temo que fazer, Melão? Que que tu acha? E no fim não te procurei, pois um aperto, sem
dinheiro, né, uma merda sempre, né.
ANDERSON: Cara, tem que olhar bem certinho ali as distâncias, as coisas, e botar uma chaminé muito boa, umas
coisas ali pra não… por causa da fumaça, né, e no máximo quatro, né, porque…
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LUIS: …(fala sobreposta) cinco (fala sobreposta)…


ANDERSON: …não, eu te liguei pelo seguinte, veio meio pesado o troço agora ali, e a PATRAN tá aí de manhã hoje,
eles tão desde ontem aí.
LUIS: (Fala sobreposta).
ANDERSON: Eles têm vindo três, quatro vez por semana, então provavelmente vai chegar pra eles também e…
LUIS: Ãham.
ANDERSON: …e provavelmente eles vão ali.
LUIS: E naqueles outra lá em cima, (fala sobreposta).
ANDERSON: Ah, aquele lá é o mais longe do povo, né. Tem que ver, tem que estudar bem o caso dos dois com
bastante calma, né, pra ti regularizar os dois, né.
LUIS: Tinha que dar uma olhada (ininteligível), mas não adianta, (ininteligível) até nós… nós regularizar eu vou te
dando por semana aí, (ininteligível) não sobra dinheiro cara (fala sobreposta)…
ANDERSON: Ah não, é complicado, é complicado. O… mas daí…
LUIS: Dá uma olhada.
ANDERSON: …[o que é interessante] tu dar uma segurada nesse aí de baixo, aí, porque aí já tá num ponto de…
LUIS: Não, o que eu…
ANDERSON: …vai… vai agravar bastante, viu, tá.
LUIS: Não, o que que eu vou fazer? (Ininteligível) tomara que eles não cheguem hoje, [que na próxima] semana fica
pronto.
ANDERSON: Tu ainda tem quanto dias queimando ali?
LUIS: Dois dias, queima. E aí tu tinha que olhar (fala sobreposta)…
ANDERSON: E como é… e como é que tá a fumaça, (ininteligível)?
LUIS: Bem pouquinha. Bem pouquinha, meu. Os caras [são pavoroso], (ininteligível) olho grande, né, eles veem e
acham que o cara tá rico, né, porque eles veem movimento, né.
ANDERSON: Ãham.
LUIS: É… é só de murrinha, vou te dizer, não prejudica ninguém, não tem nenhum…
ANDERSON: Não, ali tem uma turma agora ali que tá terrível, aqueles… aqueles dá… (ininteligível) ali do pessoal lá
de André da Rocha, ali onde era da… da… no alto ali que vai descer, quase em frente à América ali, à esquerda, onde
são as lavouras de milhos ali, onde (ininteligível) planta ali, os cara bota… já tem multa de… de trezentos mil ali, mas
os caras (falha no áudio) trator, botaram o trator pra (ininteligível) essa semana já… mesma hora a patrulha
ambiental teve lá, isso que não tá…
LUIS: (Fala sobreposta).
ANDERSON: (Fala sobreposta) é uma turma de outro lado do [Passo] ali, não sei bem quem é.
LUIS: Mas (ininteligível) (falha no áudio), mas só tem o polaco ali e aquele (ininteligível) parente.
ANDERSON: Pois é, essa… essa pessoa que teve aqui eu não tava olhando, a senhora disse que mora do outro lado,
disse pro guri ali.
LUIS: (Ininteligível).
ANDERSON: O cara que mora do ou… é uma senhora que mora do outro lado do Passo, eu não sei quem é.
LUIS: Dever ser (fala sobreposta)…
ANDERSON: (Fala sobreposta) disse que mora no alto do outro lado do Passo, não sei quem é.
LUIS: Não adianta, né. Heim, Melão, tu tinha que dar uma olhada no que que nós podia fazer, ou quem sabe só
licenciava aquele lá em cima, então, deixava ali parado. Que que tu acha?
ANDERSON: Pois é, eu acho mais fácil tu conseguir lá em cima do que ali embaixo, tá.
LUIS: E o… e aí, quando é que tu podia dar uma olhada, Melão, pra nós ver?
ANDERSON: Não sei. Tu vai tá aí hoje?
LUIS: Vou, de tarde eu vou tá, depois do meio-dia eu tô lá. Tô chegando, eu não tô em Encruzilhada ainda, eu tô
pas… (falha no áudio) (ininteligível).
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ANDERSON: Não, aí nós vamo… agora de tarde nós se falemo ali.


LUIS: Então tá.
ANDERSON: Tá?
LUIS: Tá. Te aguardo, então.
ANDERSON: Feito.
LUIS: Feito, um abraço.
(Final da transcrição).

11
Em 25jan2023 às 17h26min24s o INVESTIGADO recebe nova ligação do
12
terminal 54-991331821, pertencente a RAFAEL CERVINI, o qual afirma ter sido informado
pela empresa de vigilância privada, responsável pelo monitoramento da sua propriedade em
13
Encruzilhada do Sul, que pessoas se identificando como sendo da PATRAM estavam
perguntando os dados do proprietário da propriedade com a finalidade de atualização do
14
CAR .

O investigado ANDERSON FONTOURA diz que eles (PATRAM) estão buscando


quem é o proprietário e não só para atualizar o CAR. Menciona que trocou a turma da
PATRAM e voltar na propriedade acha que não irão. E RAFAEL diz que o SD LUCAS foi
quem esteve no local.

No curso do diálogo RAFAEL indaga o ANDERSON “... e aquele combinado


nosso lá com eles de ter puxado para vocês...”.

Então ANDERSON responde: “... trocou o comando agora né? Nós tinha feito
aquilo ali tava combinado né...”

ANDERSON orienta RAFAEL a ligar e dizer que a propriedade é de sua mãe (de
RAFAEL) e que ele já foi autuado pela Prefeitura. Diz que irá fazer um documento à noite
para enviar para eles (PATRAM) pela manhã, com os dados do proprietário e que a Prefeitura
de Encruzilhada do Sul já tomou as providências.

Telefone: (51) 998569982 – ANDERSON FONTOURA


Data: 25/01/2023 Hora inicial: 17h26min24s

Interlocutor: (54) 991331821 - RAFAEL CERVINI


RAFAEL: Boa tarde, Anderson.
ANDERSON: Boa tarde, Rafael. Tudo bem?
RAFAEL: Como é que tá?

11
Áudio abaixo transcrito em sua integra por técnico de áudio do Ministério Publico. - Degravação N.° 08/2023.
12
Qualificação no relatório 06. Ainda nesse mesmo relatório constam ligações negociando para evitar multa.
13
Patrulha Ambiental da Brigada Militar.
14
Cadastro Ambiental Rural.
23

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ANDERSON: Tudo joia.


RAFAEL: Cem por cento?
ANDERSON: Tudo bem. Peliando.
RAFAEL: Peliando?
ANDERSON: Só um minutinho, só um minutinho que eu vou estacionar aqui, Rafael.
RAFAEL: Ah tá.
ANDERSON: Tá? Bem ligeirinho. Aí, feito. Alô.
RAFAEL: Olha só.
ANDERSON: Diga.
RAFAEL: Me ligou agora o pessoal do monitoramento das câmera lá de Encruzilhada…
ANDERSON: Sim.
RAFAEL: …que (ininteligível) alarme, que o… eles têm uma plaquinha deles, que é (ininteligível), e um pessoal da
PATRAM, ligou pra eles, tá, pedindo quem que era o proprietário da terra. E daí eles falaram que eles não podem…
eles não podem fornecer os dados, né…
ANDERSON: Sim, ãham.
RAFAEL: …que é por segurança, né, por ele disse: “Como é que eu vou saber que é o pessoal da PATRAM”, né.
ANDERSON: Claro, claro.
RAFAEL: Daí, tu quer orientação, né, (ininteligível) (fala sobreposta)…
ANDERSON: Sim, sim.
RAFAEL: E daí eles me ligaram, e daí diz ele: “Só… mas se você tiver deixar seus da… seu contato, [pede] pros cara
te ligar de volta”. Daí, quando eles falaram assim, o cara disse: “Não, ótimo, diz pra ele me ligar, que é só pra
atualizar o cadastro rural, só pra atualizar o CAR, que tá em nome de [Ricário]”.
ANDERSON: Ãham.
RAFAEL: Só que na verdade o [Ricário] é o antigo proprietário, né.
ANDERSON: Isso, isso.
RAFAEL: É só pra atualizar, mas claro, não é pra isso, né.
ANDERSON: É, eles querem…
RAFAEL: (Fala sobreposta).
ANDERSON: …é… é que aí eles vão… eles querem pra fazer autuação nesse nome, né, eles querem saber quem é,
né, mas não é só pra atualizar o CAR, né, eles tão procurando…
RAFAEL: Sim, sim, sim.
ANDERSON: …quem é. Trocou a turma essa semana, viu. Voltar lá, eu acho que eles não vão voltar, tá, mas trocou
o comando essa semana, por ali, então é por isso que eu não…
RAFAEL: Ãham.
ANDERSON: …te liguei ainda pra te dizer: “Ó, vem fazer o resto”, nem nada, pra até nós ter uma posição mais
firme, tá.
RAFAEL: Mas eu… mas eu acho que eles tavam lá, viu, hoje.
ANDERSON: Ah, tavam lá? (falha no áudio)
RAFAEL: Eu acho que sim, pelo que eu entendi.
ANDERSON: Ah tá.
RAFAEL: Pelo que eu entendi, sim.
ANDERSON: Ah, eles tiveram de novo e viram agora nas câmera, então, o contato [das] câmera ali, tá, tá.
RAFAEL: Isso, isso, eles viram a plaquinha (fala sobreposta)…
ANDERSON: Tá, te entendi.
RAFAEL: …agora, agora, agora. Agora, agora, pelo que eu entendi.
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ANDERSON: Ah bom. Então…


RAFAEL: É um tal de soldado Lucas. Não sei se tu conhece.
ANDERSON: Lucas. Não, deve ser da turma nova, aí. Mas assim, ó, Rafael, faz o seguinte, ó, se tu… daqui a pouco
passa o nome da tua mãe, né, se tu quer que seja no nome dela. Eu tô em Nova Hartz agora, senão até ia atrás
desse pessoal aí.
RAFAEL: (Fala sobreposta).
ANDERSON: (Fala sobreposta). Pois é, eles vão até… até achar, né, o proprietário, coisa e tal, ou daqui a pouco…
senão daqui a pouco eles… deixa eu ver.
RAFAEL: Mas e aquele combinado nosso lá com eles pra te puxado pra você ali?
ANDERSON: Isso, isso. Não, é que é como eu te disse, trocou o comando agora, né, nós tinha feito aquilo ali, tava…
tava… tava… tava combinado, né, e aí agora trocou o comando, por isso que eu te disse agora que achava que eles
não iam mais, né, porque aquela turma não… não… não… não ia mais voltar. Como tro…
RAFAEL: Mas mesmo…
ANDERSON: …trocou o co…
RAFAEL: …mas mesmo assim, se o comando antigo passou pra [resolver pela cidade] que nem nós tinha
combinado, né.
ANDERSON: É… sim… não, é, mas aí a gente não sabe o que que… como é que foi passado, né, por isso que eu te
digo, né. Faz… o… o… eles te disseram pra ligar ou que que… como é que foi mesmo que eu não te entendi?
RAFAEL: Pra… pra mim ligar pra eles, pra mim ligar pra eles.
ANDERSON: Pra ti ligar pra eles?
RAFAEL: Isso.
ANDERSON: Tá ok. Deixa eu ver aqui.
RAFAEL: Tá, mas quer dar uma pensada e me responder amanhã?
ANDERSON: Cara, é, assim, o que que acontece? Nós tinha… como… seguindo aquelas no nome da tua mãe, nós
tinha que dizer que é dela, né, e tu dizer que já foi autuado pela prefeitura, ligar e dizer isso, né, que aí a prefeitura
vai dizer: “Ó, os cara já… já… nós autuamos ele, né”. Mas… mas faz o seguinte, vamos… eles te avisaram agora,
agora?
RAFAEL: Agora, agora.
ANDERSON: Então deixa eu botar a minha cabeça no lugar aqui, e daqui a pouco eu faço um documento daqui, de
noite, mesmo, hoje, pra daqui a pouco já enviar pra eles de manhã. Tá ok?
RAFAEL: Sim.
ANDERSON: E deixa eu… até pra mim conseguir ligar pra lá pra ver como é… o… me ligaram ontem, dizendo que
tinham trocado o comando ali, e algumas [guarnições]. Entendeu?
RAFAEL: Uhum.
ANDERSON: E aí eu não sei bem como é que tá ainda. Deixa eu botar a minha cabeça no lugar aqui, mas acho que
é isso aí que nós vamos fazer. Nós já tinha avisado né, pela… nós já tinha enviado [e coisa], mas daí vamos enviar a
documentação pra… dizendo que o proprietário é tal e tal, e que foi autuado o proprietário tal e tal, a prefeitura
informando que já autuou o proprietário fulano de tal naqueles alerta ali, de novo, nós já tinha feito, vamos fazer de
novo. Tá?
RAFAEL: Estranho, né.
ANDERSON: Estranho… estranho, é bastante estranho porque era uma coisa que tava mais ou menos morta, que
nem diz o outro. Tu entendeu? Então é… é… de repente é por causa dessa troca aí, não sei bem. Tá? Mas deixa…
mas aí se falamo cedo de novo. Tá? (Ininteligível).
RAFAEL: Sim. Não, daí eu não faço contato ainda com ele ou já faço? Espero?
ANDERSON: Cara, acho que… aquela vez tu fez contato e eles não responderam, né?
RAFAEL: Não, eles não responderam…
ANDERSON: Tu mandou… (fala sobreposta)…
RAFAEL: …(fala sobreposta) outra pessoa, era outra pessoa.
ANDERSON: Pois é. E era a PATRAM mesmo, era a brigada?
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RAFAEL: (Ininteligível), o cara se identificou como PATRAM pro…


ANDERSON: Ah não, então é, (ininteligível) pro cara da segurança. Não, então é.
RAFAEL: [Pro cara da segurança, né].
ANDERSON: Deixa eu… tá, espe… es… es… espera até de manhã (falha no áudio) atualizar coisa essa hora não vão,
né, não vão atualizar nada essa hora.
RAFAEL: É, não, acho que não.
ANDERSON: Até… é… e até a segurança conseguir falar contigo, eles não ficaram esperando nada lá, né?
RAFAEL: Não, na verdade o cara…
ANDERSON: Ligou pra eles…
RAFAEL: …(fala sobreposta). É, o cara da segurança falou que ia retornar amanhã pra (ininteligível) conseguir falar
comigo, né.
ANDERSON: Pra ver se conseguia falar contigo. Aí eles disseram que era só pra…
RAFAEL: [É, foi o que ele disse].
ANDERSON: Sim.
RAFAEL: Porque daí ele disse: “Não, amanhã eu te retorno”, só que lá eles não devem tá, porque lá não pega celular
[agora, agora]…
ANDERSON: É, não…
RAFAEL: …só se eles subirem [na parte de cima].
ANDERSON: Não, eles já tiveram lá e já, na passada pela cidade, ligaram pro cara da segurança. É, provavelmente.
Então assim, ó, vamos… se falamos de manhã cedo e aí nós… eu penso com calma agora, e vou fazer umas ligação
aqui…
RAFAEL: Claro.
ANDERSON: …e aí de manhã cedo eu te passo aí. Tá?
RAFAEL: Positivo. Positivo.
ANDERSON: Ok? Certo então.
RAFAEL: Positivo. Obrigado, (ininteligível).
ANDERSON: Certo. Feito.
RAFAEL: Até mais. Tchau, tchau.
(Final da transcrição).

No dia seguinte, 26jan2023 às 14h21min31s ANDERSON liga para o terminal


(51) 99707.0681 cadastrado na operadora de telefonia móvel VIVO em nome de RODRIGO
BLUMBERG AZAMBUJA – CPF: 917.001.320-91, endereço Rua Maria da Conceição
Machado, 169, Centro, Encruzilhada do Sul.

(...)

Conforme pesquisa ao portal transparência do município de Encruzilhada do


Sul/RS, RODRIGO é servidor ativo na função de Biólogo, com lotação na Secretaria de
15
Saúde e Meio Ambiente do município .

15
https://encruzilhada-
portais.govcloud.com.br/pronimtb/index.asp?acao=4&item=3&visao=2&Matricula=7846&cdPessoa=447&Vinculo=1&
SeqContrato=1
26

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Nessa ligação ANDERSON ingada o interlocutor RODRIGO se ele está no


departamento e RODRIGO responde que SIM. Então ANDERSON pede que mande três (03)
16
números de ofícios pelo “... ZAP...” pois precisa enviar “... umas coisas ao Ministério
Publico...” .

Essa interceptação provavelmente tenha ligação com a conversa acima


mencionada, na qual ANDERSON diz a RAFAEL que irá fazer um documento (da Prefeitura)
informando já terem sido tomadas as providências de autuação com o proprietário daquela
propriedade em questão.

Telefone: (51)998569982 – ANDERSON FONTOURA


Data: 26/01/2023 Hora inicial: 14h21min31s
Interlocutor: (51)997070681 - RODRIGO BLUMBERG AZAMBUJA
RODRIGO: Fala , amigo meu (fala sobreposta).
ANDERSON: (Fala sobreposta). Tudo tranquilo? Tá no departamento?
RODRIGO: Tô sim.
ANDERSON: Tu me manda três número de ofício aí no ZAP.
RODRIGO: Claro.
ANDERSON: Tem que mandar umas coisas pro Ministério Público aí…
RODRIGO: Pode deixar que eu te mando.
ANDERSON: …que tá a PATRAM (falha no áudio) alerta que a gente olhou aí pra não dar…
RODRIGO: Tá beleza.
ANDERSON: (Falha no áudio) se consegue pegar uns trocos. Feito.
RODRIGO: Feito.
ANDERSON: Eles vão botar ali na FEPAM antes de nós…
RODRIGO: Ãham.
ANDERSON: …avisar eles.
RODRIGO: Um abraço.
ANDERSON: Feito, então, valeu.
(Final da transcrição).

Assim, diante de todo o exposto e com o objetivo de dar continuidade à


investigação criminal, angariando maiores elementos que apontem de forma irrefutável a
elucidação das práticas delitivas e, na busca da identificação dos demais servidores de
compõem a ORCRIM, mencionados pelo investigado ANDERSON FONTOURA (vulgo
“MELÃO”) SUGERE-SE a continuidade da INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA e da AÇÃO

16
Deriva da fonética da palavra inglesa WhatsApp, aplicativo de mensagens instantâneas.
27

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CONTROLADA, EXPEDIÇÃO DE MANDADOS DE BUSCA E APREENSÃO e


AFASTAMENTO DA FUNÇÃO PUBLICA do INVESTIGADO ANDERSON FONTOURA.

(...)”

Ora Excelência, os elementos são contundentes e


expressivos, pois conforme depreende-se do conteúdo das ligações já mencionadas
em pedidos anteriores, bem como das recentes, referentes ao último período de
quebra, tem sido corriqueira e duvidosa a conduta profissional adotada pelo
investigado ANDERSON FONTOURA, posto que, no exercício do cargo de servidor
público municipal, não raras vezes solicita, dolosamente, o pagamento de valores a
produtores rurais para agilizar alguma documentação de natureza ambiental, fazer
ou deixar de fazer alguma coisa, o que configuraria, em tese, o delito de corrupção
passiva17, ou, ainda, mediante ardil, obtém vantagem ilícita ao induzir os produtores
de carvão em erro, consistente na solicitação de pagamento de uma “taxa” que, na
verdade, inexiste.

Aliás, no tocante à questão da operação do carvão, segundo


o relato do Engenheiro Agrônomo Fabrício Ribeiro Azolin, lotado na Secretaria de
Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul, no setor de cadastro florestal não
consta mais taxa de produtor de carvão. Por pertinente, destacam-se trechos do
depoimento extraído da Degravação-Documento nº 09/2023 (em anexo):

“(...)

DR. MAURO: Nós temos uma situação pontual de um trabalho nosso aonde um produtor procura um fiscal
ambiental municipal e diz pra ele que teve a propriedade visitada por policiais da FEPAM que disseram que há
uma irregularidade lá na produção de carvão. Então esse fiscal municipal se prontifica, mediante ao recebimento
do valor, pagamento da taxa, de providenciar o cadastro junto à secretaria. Como funciona isso? Tem taxa? Existe
taxa? Qual é o valor da taxa?
SR. FABRICIO: O cadastro florestal, ele, não consta mais taxa de produtor de carvão, taxa para o
Fundeflor. A taxa do Fundeflor existiu até dois mil e dezoito, quando a lei de taxas do Fundeflor, que está
dentro da lei de taxa geral do Estado do Rio Grande do Sul, tinha um entendimento que um dos itens lá era
17
Art. 317: Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes
de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem: Pena – reclusão, de 2
(dois) a 12 (doze) anos, e multa.
28

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pra consumo de lenha. O produtor do carvão, ele, é um consumidor de lenha, porém, nós classificamos
ele como produtor de carvão, não como consumidor de lenha para produzir carvão.
DR. MAURO: Aí deixa de existir a taxa.

SR. FABRICIO: Não, a taxa, ela, deixou de existir porque nenhuma pessoa física, depois que nós alteramos a lei
de taxas, foi… pra não dizer uma palavra… foi difícil, né, lá na assembleia legislativa, um processo pra alterar lei
de taxas no Estado não é fácil. Conseguimos a alteração, e aí todas as pessoas físicas, consumidores de
lenha para secagem de grãos e produtores de carvão passaram a ser isentas de taxas, porém, vinculados
ao cadastro florestal. Então, o cadastro florestal, ele, está num escopo hoje de administração da secretaria da
Agricultura, mas ele começou no online em dois mil e vinte e um, na verdade na metade de vinte e um, depois de
dois anos de projeto dentro da PROCERGS. Na metade de vinte e um a gente começou o recadastramento, só
que o vinte e um terminou rápido, e veio um longo vinte e dois que já passou, e nesse processo nós estamos
pedindo ajuda às instituições, à FETAG, no caso o Sindicado de Trabalhadores Rurais, às prefeituras, agora, em
breve, na [Famus], para que a gente consiga fazer um casamento dos produtores florestais com os licenciamentos
ambientais dos produtores de carvão. Detalhe, os fornos foram considerados atividades de impacto local, aí saiu
da FEPAM e foi pro âmbito municipal. O que que a prefeitura é responsável, órgão de meio ambiente
municipal? Responsável pelo licenciamento ambiental da localização dos fornos, e também das
quantidades de fornos, ou seja, tu pode ter dois fornos, quatro fornos, tantos fornos. Então existe alguns
limites, o cara pode botar quarenta fornos no lado da… do perímetro urbano. Então, isso aí, a prefeitura… cada
um cuida de si, né, do seu ambiente. Então a municipalização foi bem boa, mas levou o produtor a buscar apoio lá
na prefeitura pra obter o licenciamento, e isso é um processo que está concorrendo ainda. Então hoje, a gente
sabe que tem muitos produtores de carvão, entregam pros embaladores, os que embalam em embalagens de
cinco quilos, três quilos, e acabam comercializando, mas o produtor, às vezes, não tem a licença ambiental. As
vez não tem a licença e nem o cadastro, as vez só tem o cadastro, a maioria só tem o cadastro porque o
cadastro é mais antigo, e nós temos lá, dois mil e duzentos cadastros feitos no sistema, pessoas físicas.
Detectamos que alguns já faleceram, são cadastros antigos, outros já passaram pros filhos, aquele… vamos dizer
assim, a… a responsabilidade pelos fornos, né, vamos dizer assim. Então tem todos os casos, e agora, então,
estamos no projeto do online tratando esse tema através da plataforma que permite que o produtor de carvão com
o atendente administrador cadastrado, como eu falei, pode ser vinculado a uma instituição, pode ser o próprio
produtor, porém ele vai precisar de ajuda de alguém pra proceder no online, porque a gente sabe que esse
pessoal da agricultura as vez não tem acesso a esse sistema de informação. Então estamos com essa questão.

(...)

DR. MAURO: Certo. Vamos reproduzir, então, uma conversa que nós captamos na interceptação telefônica pra
colocar como uma situação mais proximamente. Vê se nos dá uma ideia se existe ou não existe a possibilidade de
este fiscal municipal ter cobrado a taxa (ininteligível)…

SR. FABRICIO: Sim.

DR. MAURO: …e pelos valor também falados.

(Reprodução do áudio)

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(...)

ANDERSON: Essa... essa terra é tua, tu alugo pra ele trabalhar?


INTERLOCUTOR: Não, eu só aluguei os forno pra ele queimar carvão.
ANDERSON: Isso foi só pra ele trabalhar?
INTERLOCUTOR: Isso.
ANDERSON: Pra ele... Tá. Isso, assim ó, tinha que ser meio rápido esse... esse cadastro aí, tá? Porque...
INTERLOCUTOR: Tá, o que eu tenho eu fazer, Melão?
ANDERSON: O que que acontece? Isso aí é um cadastro que faz é... é na Secretaria de Agricultura do
Estado, tá. Eu até posso fazer pra ti…
INTERLOCUTOR: Ãham.
ANDERSON: …não tem problema, problema é que tem uma taxa que não é muito barata, por ano, é da... vai da
uns mil e cem. Mas quantos forno são? Depende de quantos forno... quanto de lenha tu gasta.
INTERLOCUTOR: Eu tenho sete forno.
ANDERSON: Sete. Quantos metro cada um?
INTERLOCUTOR: Ah, na base de dez metro cada um.
ANDERSON: Tu queima, por semana, mais ou menos, ou por quinzena?
INTERLOCUTOR: É, que aí vai por mês aí, acho que uns oitenta... uns cem metro por mês.
ANDERSON: Por mês vai dar mil e duzentos metros por ano. É da pra botar na taxa mínima que da uns mil e
cem, mil e cento e vinte. Tá?
INTERLOCUTOR: Ãham.
ANDERSON: Por isso eu te liguei de manhã, meio agoniado, mas aí eu consegui... fazer eles esperar. Entendeu?
Eu não sei qual é a situação. Se tu consegue o...
INTERLOCUTOR: Tá melão, esses... esses mil e cem eu tenho que dar quando?
ANDERSON: Isso que eu te pergunto, que isso aí não adianta, isso aí é na... é na... quando tu protocola os
documento. Entendeu?
INTERLOCUTOR: Ãham.
ANDERSON: Quando tu manda pra eles os documentos tem que mandar as foto dos troço já (ininteligível).
INTERLOCUTOR: Ãham.
ANDERSON: É isso aí que eu ia te perguntar, fazer o serviço eu faço pra ti, não tem problema, não tem.
INTERLOCUTOR: Ta melão... tá, mas... tu disse que eu tinha que faze o cadastro primeiro.
ANDERSON: É esse... não, é esse aí...esse é a taxa... esse é o cadastro, o valor do cadastro, a licença tu
vai gastar mais depois. Pode prepara ai pra uns três, quatro, mas aí tem... tem tempo pra tu fazer.
Entendeu? É no ano, se for né… (ininteligível) decreto da prefeitura aí, que dá um ano pra fazer, tá? Aí (fala
sobreposta)…
INTERLOCUTOR: Mas esse... mas esse aluguel é só por cinco mês, Melão.
ANDERSON: Tá, não, tu que sabe tá? Só pra te avisar, que ai...
INTERLOCUTOR: Tá, mas, Melão, quando é que eu tenho que fazer, segunda-feira?

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ANDERSON: Cara, assim ó, eu fique de mandar pra eles segunda... segunda de manhã, mas assim, por isso que
te liguei mais cedo, daqui a pouco o cara fazia, se tivesse condições né, o cara fazia hoje e segunda tava
liberado...
INTERLOCUTOR: Ãham.
ANDERSON: Que é tudo... é tudo mais ou menos online, entendeu?
INTERLOCUTOR: Ãham.
ANDERSON: E aí... por isso que eu te liguei (ininteligível), te mandei... até te liguei umas quanta vezes, depois
que eu me lembrei de te deixar um recado no Whats, mais tarde. E aí eu não sei, mas daí depende de ti, tu vê aí,
se não dá, não dá. Isso aí é não é coisa que assim, [quando o cara]…
INTERLOCUTOR: Eu vou ter que dar um jeito, meu, Deus o livre os home...
ANDERSON: Porque o... o que aconteceu? (Ininteligível) isso dá mais ou menos uma multa de... de quatro...
cinco por forno, tá?
INTERLOCUTOR: Ãham. Ãham,.
ANDERSON: Quatro conto. E a… é um… como é que eu vou te dizer, aí além disso tem um processo na
Justiça, né, pra cadeia não vai, mas… (ininteligível) um processinho tem (fala sobreposta)…Então assim, o
que que eu...
INTERLOCUTOR: Não, não, não, segunda… segunda eu te procuro aí, Melão.
ANDERSON: Tá ok. Que que acontece assim, só vou te deixar bem claro, aí tu vê o que que tu faz, né. Eu
combinei com eles de mandar segunda, na hora (ininteligível), o cara meio assim, mandar segunda na
primeira hora, isso é tudo mais ou menos online eu consigo fazer de casa final de semana, tá? Eu vou sair
amanhã… eu vou sair amanhã acho que umas duas da tarde. Eu não sei qual é (ininteligível) esse dinheiro
não é pouco, né, o cara (ininteligível), né. Bem clara pra tu vê o que tu faz. Se tu conseguir me... me... me
trazer teus documento e o valor da taxa até amanhã tipo onze hora eu consigo deixa pronto antes de sair,
tá? Ai segunda (ininteligível) isso roda fim de semana, na primeira hora segunda eu consigo imprimir e
mandar pra eles [digitado]. Tá? Aí tu... se não… se nós fizer segunda, vai… isso vai dá lá terça de tarde,
né, entendeu, ou quarta, e aí perigo é da uma.. tô te deixando a situação bem clara, ai tu vê o que que tu
vai fazer, tá?
INTERLOCUTOR: Tá, tá bom. Problema é arruma o dinheiro,(fala sobreposta)…
ANDERSON: Pois é, o pobrema é que aí... por isso que eu te liguei mais cedo, entendeu? Porque tranca
tudo isso (ininteligível), né? Assim, ó, o que que acontece? Uns... uns... uns trezentos aí eu consigo te…
né? Se tu conseguir o resto pra amanhã, eu consigo te da uma...te da um apoio (ininteligível) pra não da
essa zebra aí. Tá?
INTERLOCUTOR: Tá, tá.
ANDERSON: Tipo tu arrumando ai uns mil e cem, uns oitocentos, oitocentos e pouco já dá, o resto eu
consigo completar pra ti durante uns quinze, vinte dia aí. Tá?
INTERLOCUTOR: Tá bom, Melão. Tá bom.
ANDERSON: Ai tu vê o que tu vai fazer, faz o seguinte ó, só assim, ó, só me... quando é que tu me avisa? Tu
acha que não vai dar? Senão vai dar também já fico desimpedido.

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INTERLOCUTOR: Não, eu acho que vai dar sim, só tenho que conseguir o dinheiro, mas eu tenho um jeito
de conseguir.
ANDERSON: Tá.
INTERLOCUTOR: Mas eu te mando... uma mensagem hoje de noite
ANDERSON: Isso que eu ia te dizer, só me avisa que eu já vou montando as coisa tudo aqui...
INTERLOCUTOR: Tá.
ANDERSON: No... no computador, aí se tu me dizer “ó vai dar”, que aí eu já vou montando hoje de noite
mesmo, deixo tudo prontinho já e ai amanhã é só nós ajeitar isso aí, tá?
INTERLOCUTOR: Tá bom, Melão. Beleza. (
ANDERSON: Beleza então. Feito, abraço.
INTERLOCUTOR: Outro, tchau.
(Fim da reprodução do áudio)
(...)
DR. MAURO: Não existe pagamento?
SR. FABRICIO: Não existe pagamento de taxas ao Estado nem a servidores.
DR. MAURO: Mas pela conversa a gente depreende ele pediu pra pagamento da taxa, de uma taxa, e não
pra serviço.
SR. FABRICIO: Parece, parece. Parece que ele tá dizendo que tem uma taxa de mil e cem.
DR. MAURO: Isso, e que ela variaria de acordo com a produção.
(...)”

Nessa ótica, considerando os sólidos esclarecimentos


prestados pelo Engenheiro Agrônomo, não resta dúvida de que o investigado
ANDERSON FONTOURA, valendo-se da prerrogativa de seu cargo público, estaria
cometendo, dessa forma, o delito de estelionato, previsto no artigo 171 do Código
penal, que assim dispõe: “Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em
prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou
qualquer outro meio fraudulento: Pena – reclusão, de um a cinco anos, e multa.”

Excelência, os fatos são graves e merecem redobrada


atenção, tendo em vista que, ao longo do tempo, o investigado ANDERSON
FONTOURA, servidor público municipal, tem evidenciado, através de suas condutas,
por reiteradas vezes, nítido propósito de beneficiar-se, pecuniariamente, para agir ou
deixar de agir em prol da Administração Pública, como no caso, por exemplo, da
cobrança de valores a fim de não aplicar multa pertinente a suas atividades
fiscalizadoras, como aduzido no pedido inicial, ou, ainda, interferindo na
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Administração Municipal para facilitar o desfecho de uma questão administrativa a


fim de evitar a aplicação de multa a conhecido seu, conforme áudio já declinado na
presente investigação. E, por fim, se não bastasse, exigindo o pagamento de uma
taxa inexistente no caso dos produtores de carvão.

Nesse passo, tais circunstâncias, somadas às referidas nos


relatórios de investigação anteriores, continuam deixando vastos índicos e suspeitas
duvidosas acerca do agir do investigado e servidor público municipal ANDERSON
FONTOURA, pois tudo leva a crer, conforme exaustivamente mencionado ao longo
dos vários pedidos judiciais, que o investigado esteja solicitando vantagem indevida
pecuniária em razão do exercício de seu cargo, qual seja, fiscal municipal ambiental
de Encruzilhada do Sul ou, ainda, obtendo vantagem indevida, mediante ardil,
induzindo alguém em erro.

E mais, até o presente momento os indícios colacionados são


robustos e merecem atenção, necessitando, portanto, prosseguimento da
investigação, de maneira a apontar com maior clareza os atos praticados pelo
investigado.

Diante de todo o exposto, nada mais prudente do que dar


seguimento à investigação com o intuito de apurar-se o efetivo vínculo entre o
Agente Sanitário Ambiental e eventuais colegas servidores da Prefeitura Municipal
de Encruzilhada do Sul/RS e/ou servidores públicos estaduais (eventualmente até
mesmo da FEPAM), na solicitação de vantagem indevida para evitar a aplicação de
multa por infração ambiental ou até mesmo beneficiando amigos com favores
inadequados a um servidor público. Por essa razão, imprescindível a continuação da
interceptação telefônica para monitorar as conversas do investigado ANDERSON
FONTOURA, a fim de que transações, contatos telefônicos estabelecidos, contas de
emails, dentre outros, possam vir à tona para auxiliar a perfeita elucidação dos fatos.

Por isso, as interceptações telefônicas, como ferramentas


indispensáveis para a coleta de provas, continuam tornando-se imprescindíveis no
caso em tela, na medida em que proporcionarão averiguar o planejamento criminoso
existente entre as pessoas ligadas à administração municipal de Encruzilhada do Sul
com servidores de outras esferas/órgãos/entes, bem como a vinculação dos mesmos
33

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nas atividades ilícitas ou eventuais ajustes mantidos para as negociações, inclusive


para a destruição ou ocultação de provas relacionadas à identidade de eventuais
colaboradores e/ou beneficiários.

Desnecessário discorrer, ainda, sobre a gravidade destes


delitos, que são espelho de uma verdadeira afronta às regras e princípios
constitucionais da Administração Pública (legalidade, impessoalidade, igualdade
entre os concorrentes, moralidade, publicidade e eficiência), tendo em vista que o
conteúdo trazido à baila demonstra que o investigado ANDERSON FONTOURA, em
tese, utiliza-se de seu cargo Agente Sanitário Ambiental para a prática de infrações
penais graves, provavelmente em conluio com outros comparsas, ora solicitando, por
ocasião das inspeções ambientais, o pagamento de valores indevidos para livrar os
agricultores da aplicação de multa, ora facilitando e agindo de maneira a burlar os
trâmites adotados pela Administração Pública, em prejuízo dos cofres públicos.

Em resumo, a interceptação telefônica continua sendo


indispensável para apuração dessas ações delitivas, pois a comprovação dos fatos
criminosos apenas pela via documental é extremamente dificultosa, uma vez que
aqueles que se propõem a perpetrar esse tipo de ilícito agem de forma profissional,
de modo ardiloso, cuidando para que, do ponto de vista formal, tudo esteja
aparentemente perfeito e regular “no papel”.

II – DA NECESSIDADE DAS INTERCEPTAÇÕES


TELEFÔNICAS:

De acordo com a Lei nº 9.296/96, que regulamentou a parte


final do inciso XII do artigo 5º, da Constituição Federal, a interceptação de
comunicações telefônicas, de qualquer natureza, para prova em investigação
criminal e em instrução processual penal, dependerá de ordem do Juiz competente
da ação principal, sob segredo de justiça.

Como pressupostos objetivos para o deferimento da medida,


dispõe, a contrário sensu, o artigo 2º desta lei:

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Art. 2º - Não será admitida a interceptação de comunicações


telefônicas quando ocorrer qualquer das seguintes hipóteses:
I – não houver indícios razoáveis da autoria ou participação em
infração penal;
II – a prova puder ser feita por outros meios disponíveis;
III – o fato investigado constituir infração penal punida, no máximo,
com pena de detenção;
Parágrafo único. Em qualquer hipótese deve ser descrita com
clareza a situação objeto da investigação, inclusive com a indicação
e qualificação dos investigados, salvo impossibilidade manifesta,
devidamente justificada.

Ainda, no parágrafo único do artigo 1° do referido diploma


legal, consta que: “O disposto nesta Lei aplica-se à interceptação do fluxo de
comunicações em sistemas de informática e telemática”18.

A par disso, percebe-se que, na hipótese, estão presentes os


pressupostos autorizadores para a interceptação, pois os indícios até então colhidos,
com a possível indicação do modus operandi dos investigados e os e-mails que
utilizam, constituem-se em indícios razoáveis para tanto.

A medida, assim, é necessária e indispensável para a


apuração das condutas delituosas e gravíssimas que envolvem a presente
investigação, especialmente porque atentam contra moralidade e legalidade
administrativa.

Por fim, cumpre esclarecer que, desde maio de 1995, conta


o Ministério Público com a chamada ação controlada, ferramenta legal instituída
pela Lei nº 12.850/2013 que, em seu artigo 8º, dispõe sobre a utilização de meios
operacionais para a prevenção e repressão de ações praticadas por organizações
criminosas.

III - DA NECESSIDADE DE APLICAÇÃO DE MEDIDAS


CAUTELARES DIVERSAS DA PRISÃO:

18
Art. 1º A interceptação de comunicações telefônicas, de qualquer natureza, para prova em investigação criminal e
em instrução processual penal, observará o disposto nesta Lei e dependerá de ordem do juiz competente da ação
principal, sob segredo de justiça.
Parágrafo único. O disposto nesta Lei aplica-se à interceptação do fluxo de comunicações em sistemas de
informática e telemática.

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Nesse diapasão, considerando todos os contundentes


elementos angariados ao caderno investigativo, não resta dúvida de que necessária,
no caso sub examine, a imposição de medidas cautelares diversas da prisão ao
investigado ANDERSON FONTOURA.

Desnecessário discorrer, aliás, sobre a gravidade destes


delitos, que são espelho de uma verdadeira afronta à moralidade administrativa e,
secundariamente, ao patrimônio do particular constrangido pelo ato criminoso do
agente. Dessa forma, objetiva-se, precipuamente, manter a investigação e evitar-se a
prática de novas infrações penais, na medida em que os atos delituosos vêm se
acumulando e perpetuando ao longo do tempo.

Dessa forma, o Ministério Público, por seu agente signatário,


diante das considerações feitas, nos termos do inciso II, IV e VI, do artigo 319 do
Código de Processo Penal, requer a decretação de medidas alternativas diversas da
prisão ao investigado ANDERSON FONTOURA:

a) proibição de acesso ou frequência às dependências da


Prefeitura Municipal de Encruzilhada do Sul e suas Secretarias;
b) proibição de ausentar-se da Comarca por período maior
que 08 (oito) dias;
c) comparecimento bimestral em juízo, a fim de informar e
justificar suas atividades;
d) suspensão/proibição do exercício de função pública ou de
atividade de natureza econômica ou financeira quando houver justo receio de sua
utilização para a prática de infrações penais.

IV – DOS DEMAIS PEDIDOS:

A) DA INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA:

Ante o exposto, o Ministério Público requer:

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1. O DEFERIMENTO DE AUTORIZAÇÃO JUDICIAL PARA PRORROGAÇÃO


DA INTERCEPTAÇÃO DAS COMUNICAÇÕES TELEFÔNICAS e de seus
respectivos números de serial e/ou IMEI, pelo prazo de 15 dias, a contar da efetiva
interceptação, renovável por igual período caso seja necessário, com posterior
entrega, em Juízo, de relatório circunstanciado, do telefone abaixo relacionado:

a) (51) 99856.9982 (Operadora VIVO), utilizado por ANDERSON FONTOURA;

2. seja deferida a efetivação da medida através do Sistema Guardião/MP-RS;

3. sejam expedidos os respectivos mandados individualmente por operadora, de


forma a preservar o sigilo das informações e angariar celeridade à implementação
das medidas investigatórias, esclarecendo que eventuais informações solicitadas
pelas empresas telefonia, em função da respectiva determinação judicial, deverão
ser repassadas à Administração do Sistema Guardião/MP-RS, estabelecida na Rua
Andrade Neves nº 106, 9º andar, Centro, nesta Capital e que nos alvarás
autorizatórios às Operadoras de telefonia, contenham expressamente os nomes
dos agentes responsáveis pela operação, quais sejam: Mauro Lucio da Cunha
Rockenbach, Juarez do Amaral Pinto, Leonardo Presotto Gomes, Rosalino Ely
Silveira Duarte Júnior, Marcelo Brum da Costa, Thaís Menezes Pacheco,
Caroline de Souza Frota,Sandra Regina Bock da Luz, Felipe Altenhofen Dias e
Alexsandro Rogério Pereira Cabral (conforme Itens “11” e “12”);

4. seja determinado às operadoras de telefonia que:

a – enviem eletronicamente, para o link de dados e de sinais


do Sistema Guardião/MP-RS, a sinalização de áudio das chamadas telefônicas, bem
como a identificação do telefone interceptado, do interlocutor, do horário inicial e final
das chamadas, seu tempo de duração e a localização geográfica da Estação
Rádio Base utilizada pelo telefone interceptado e de seu interlocutor, em tempo
real;

b – enviem eletronicamente a identificação e gravação das


SMS (“short messages service”) e MMS (mensagens multimídias) eventualmente
transmitidas ou recebidas pelo telefone interceptado;
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c – enviem eletronicamente os dados e endereços de internet


(WAP, GPRS, WEB) eventualmente acessados pelo respectivo terminal telefônico
interceptado.

5. seja determinado às operadoras de telefonia que vinculem o Administrador do


Sistema Guardião do Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul e os demais
autorizados ao Sistema VIGIA;

6. seja determinado às operadoras de telefonia a programação e a


disponibilização da localização do alvo em tempo real, caso já disponha desse
serviço;

7. seja determinado às operadoras de telefonia que forneçam ao Administrador


do Sistema Guardião/MP-RS, via telefone, fax ou e-mail e sempre que solicitado, a
fim de atender ao princípio da oportunidade, inerente às atividades de investigação:

a – os dados cadastrais dos telefones interceptados, dos


interlocutores e dos números que figurem nas conversas interceptadas e de seus
respectivos IMEI ou SIM Card, via portal, com senhas a serem disponibilizadas pelas
operados, no intuito de tornar mais ágil e rápida a investigação;

b – as informações sobre a existência ou não de números de


telefones habilitados em nome de pessoas que figurem nos diálogos interceptados,
quer pelo nome, CPF e/ou RG, e em caso positivo que as operadoras de telefonia
forneçam tais números;

c – a informação do endereço das Estações Rádio Base -


ERB utilizadas pelo telefone interceptado e seu interlocutor, seu endereço de
instalação e a posição geográfica ocupada através das coordenadas geográficas -
latitude e longitude, e o respectivo azimute, em tempo real;

d – o fornecimento das alterações cadastrais do telefone


interceptado e de seus interlocutores decorrentes das vendas, cessões e/ou
alterações por conta da portabilidade;
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e – o envio da listagem das chamadas originadas e recebidas


do período interceptado a serem encaminhadas para o endereço eletrônico
sigint@mp.rs.gov.br , devendo o referido arquivo ser compactado com o programa
“WINZIP” ou similar, no formato “TXT” com tabulação “DOC”, ou planilha eletrônica
“EXCEL”, salientando que os campos dos números dos telefones de chamadas
originadas e recebidas devam conter, obrigatoriamente, o código DDD e, além disso,
o endereço das ERBs do telefone interceptado e de seu respectivo interlocutor;

f – informem, no caso do terminal telefônico estar direcionado


para outro telefone (através do SIGA-ME), o número do destino com seu respectivo
cadastro;

g – comuniquem, no caso do terminal estar com algum tipo de


bloqueio, o motivo no momento da interceptação;

h – procedam ao credenciamento da interceptação com o


envio de senha específica para uso exclusivo dos integrantes do Núcleo de
Inteligência do Ministério Público, para o endereço eletrônico sigint@mp.rs.gov.br, a
fim de viabilizar as medidas acima apontadas.

8. seja autorizado a não transcrição das conversas íntimas e as que não digam
respeito ao objeto da investigação;

9. sejam autorizados os Técnicos de Áudio, deste Órgão, a degravarem os


diálogos pertinentes à presente investigação, caso necessário;

10. como de praxe em feitos desta natureza, sejam os ofícios entregues


diretamente ao Ministério Público quando de sua intimação, através do email
9pjec@mprs.mp.rs, para imediato encaminhamento ao Administrador do
Sistema Guardião/MP-RS e às respectivas operadoras de telefonia, a fim de
agilizar todo o procedimento de quebra, propiciando-se, assim, que os desvios
de áudios cheguem ao conhecimento dos policiais desta Força-Tarefa com
bastante rapidez e celeridade, uma vez que, via Correios, possível prejuízo

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poderá advir à presente investigação, ante a demora no envio e recebimento


dos ofícios pelas mencionadas operadoras;

11. seja autorizado, em observância ao disposto no art. 10, inciso VI, da


Resolução n.º 59, de 09 de agosto de 2008, do Conselho Nacional de Justiça, e no
art. 4º, inciso IV, da Resolução n.º 36, de 06 de abril de 2009, do Conselho Nacional
do Ministério Público, que o signatário, Mauro Lucio da Cunha Rockenbach
(rockenbach@mprs.mp.br), e os Policiais Adidos ao Ministério Público, Juarez do
Amaral Pinto (juarez-pinto@pc.rs.gov.br), Leonardo Presotto Gomes
(lpresottog@mprs.mp.br), Rosalino Ely Silveira Duarte Júnior (rosalino@mprs.mp.br)
e Marcelo Brum da Costa (marcelocosta@mprs.mp.br) tenham acesso às
informações relativas às interceptações telefônicas;

12. seja autorizado, da mesma forma, que os servidores do Ministério Público


Caroline de Souza Frota (matrícula 3594866), Thaís Menezes Pacheco (matrícula
14958970), Sandra Regina Bock da Luz (matrícula 14961490), Felipe Altenhofen
Dias (matrícula 14965313), Alexsandro Rogério Pereira Cabral (matrícula
14972425) tenham pleno acesso a todo expediente investigatório;

13. seja autorizado o uso do instituto da ação controlada pelos investigantes,


nos termos do art. 8º, da Lei 12.850/2013; e

14. requer, ainda, que sejam expedidos alvarás judiciais para todas as
operadoras de telefonia, em razão da portabilidade e da necessidade de que
as operadoras forneçam os dados cadastrais dos interlocutores que
mantenham contato com os investigados.

B) DA EXPEDIÇÃO DE MANDADOS DE BUSCA E


APREENSÃO E MANDADO DE BUSCA PESSOAL:

1º) Considerando que o Ministério Público já está com uma


operação articulada para ser desvendada em breve, requer, com fundamento no
artigo 240, § 1 °, alíneas “c”, “d”, “e”, “f” e “h”, do Código de Processo Penal, sejam
expedidos MANDADOS DE BUSCA E APREENSÃO, de forma individualizada,19

19
Um para cada endereço e um para cada investigado, no caso das buscas pessoais.
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para os endereços apontados a seguir20, pelo prazo de 60 (sessenta) dias (em razão
da necessidade de organizar-se a operação e a efetivação das medidas), de maneira que
sejam apreendidos celulares, computadores, notebooks, netbooks, laptops,
tablets, smartphones, bem como arquivos eletrônicos de qualquer espécie,
armazenados em todo o tipo de mídia (HD, disquetes, CD, DVD, pendrive, etc.),
além de quaisquer outros papéis, documentos, anotações, planilhas e objetos
que possam ter relação com as condutas delituosas supostamente praticadas
pelo(s) investigado(s).

a) RUA CORONEL PEIXOTO, 300, ENCRUZILHADA DO


SUL/RS, residência de ANDERSON FONTOURA;

b) PRAÇA OZI TEIXEIRA, 46, CENTRO, ENCRUZILHADA


DO SUL/RS (sala ou ambiente de trabalho da SECRETARIA
DA SAÚDE E MEIO AMBIENTE DO MUNICÍPIO DE
ENCRUZILHADA DO SUL/RS);

2º) Em relação aos HDs dos computadores, dos notebooks,


HDs externos, aparelhos celulares, smartphones, tablets, celulares e toda e qualquer
mídia física ou eletrônica apreendida, requer seja autorizado o afastamento do
sigilo dos dados e senhas constantes em tais equipamentos, com a
autorização para o acesso e a extração de todo o conteúdo existente para
efeito de cópia e/ou espelhamento, inclusive contatos, vídeos, fotografias,
arquivos de áudio e vídeo, documentos, planilhas e mensagens eletrônicas
armazenadas, remetidas e recebidas por aplicativos como Facebook, Telegram,
Instagram, WhatsApp, Telegram e similares, além de SMS e e-mails;

3º) Requer, ainda, seja autorizado o afastamento do sigilo dos


dados do investigado ANDERSON FONTOURA, em relação às condutas em
apuração, encontrados em arquivos armazenados em dispositivos físicos ou na
nuvem (Google Drive, iCloud, Dropbox, OneDrive etc.);

20
Conforme Relatório, em anexo.
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4º) Requer, outrossim, sejam autorizadas, caso necessário, a


reprodução (emulação) do sistema operacional do(s) dispositivo(s) móvel(is)
apreendido(s) e a solicitação e utilização de código de confirmação de instalação do
aplicativo WhatsApp;

5º) Requer seja autorizado que a extração e a análise sejam


realizadas por setor técnico do Ministério Público e/ou de órgão com tal atribuição;

6º) Requer, ainda, com base nos artigos 240 e 244, do Código
de Processo Penal, seja expedido MANDADO DE BUSCA PESSOAL, também por
idêntico prazo não inferior a 60 (sessenta) dias (a fim de propiciar o necessário
planejamento), visando à apreensão de celulares, notebooks, netbooks, tablets, iPod,
smartphones, computadores, bem como arquivos eletrônicos de qualquer espécie,
armazenados em todo o tipo de mídia (HDs, disquetes, pendrive, cartões de
memórias, etc.), além de quaisquer outros papéis, documentos, anotações, planilhas
e objetos que possam ter relação com as condutas delituosas supostamente
praticadas pelo investigado ANDERSON FONTOURA e que o mesmo esteja
levando consigo ou em veículo que esteja pilotando ou tripulando, para a
hipótese de não estar nos endereços para os quais foram expedidos mandados de
busca e apreensão e/ou estar ocultando objetos no próprio corpo ou em veículo por
ele utilizado.

Em caso de deferimento dos pedidos de busca e


apreensão e busca pessoal, postula, ainda, que os respectivos mandados
sejam enviados para o email da 9ª Promotoria de Justiça Especializada
Criminal de Porto Alegre, qual seja, 9pjec@mprs.mp.br.

C) DAS MEDIDAS CAUTELARES DIVERSAS DA PRISÃO:

Por derradeiro, o Ministério Público, nos termos do inciso II, IV


e VI, do artigo 319 do Código de Processo Penal, requer a decretação das seguintes
medidas alternativas diversas da prisão ao investigado ANDERSON FONTOURA:

a) proibição de acesso ou frequência às dependências da


Prefeitura Municipal de Encruzilhada do Sul e suas Secretarias;
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b) proibição de ausentar-se da Comarca por período maior


que 08 (oito) dias;
c) comparecimento bimestral em juízo, a fim de informar e
justificar suas atividades;
d) suspensão/proibição do exercício de função pública ou
de atividade de natureza econômica ou financeira quando houver justo receio
de sua utilização para a prática de infrações penais.

Porto Alegre, 6 de fevereiro de 2023.

Mauro Lucio da Cunha Rockenbach,


Promotor de Justiça.

Documento assinado digitalmente por (verificado em 09/02/2023 11:54:06):

Nome: Mauro Lucio da Cunha Rockenbach


Data: 07/02/2023 15:46:01 GMT-03:00

__________________________________________________________________________

Documento eletrônico assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2/2001 de 24/08/2001,


que institui a infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. A conferência de
autenticidade do documento está disponível no endereço eletrônico:
"http://www.mprs.mp.br/autenticacao/documento"
informando a chave 000023055511@SIN e o CRC 19.4552.3033.

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