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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO MUNICÍPIO DE PAU DOS FERROS

EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(ÍZA) FEDERAL DA 12ª VARA FEDERAL DA


SEÇÃO JUDICIÁRIA DO RIO GRANDE DO NORTE,

IC n. 1.28.300.000071/2013-14

O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, pela procuradora da República signatária,


no exercício de suas atribuições constitucionais e legais, especialmente aquelas inscritas no art. 129,
I, da Constituição Federal; no art. 6º, V, da Lei Complementar n.º 75/93, e no art. 24, caput, do
Código de Processo Penal, vem, à presença de Vossa Excelência, oferecer

DENÚNCIA
em face de

FRANCISCO JUSTINO DO NASCIMENTO, brasileiro, sócio-


administrador da empresa Servcon Construções, Comércio e Serviços Ltda,
CPF 033.889.914-64, RG 2438445-SSP/PB, nascido em 29.11.1964, filho
de Francisca Inez do Nascimento e Justino Raimundo do Nascimento, com
endereço na Rua Maestro Esmerindo Cabrino da Silva, n. 91, Bairro dos
Remédios, Cajazeiras-PB, CEP 58900-000;

Av. Getúlio Vargas, n. 1911, Centro, Pau dos Ferros/RN, CEP 59900-000
Telefone: (84) 3351-3600 – e-mail prrn-paudosferros@mpf.mp.br

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GERALDO MARCOLINO DA SILVA, brasileiro, sócio e engenheiro da


empresa Servcon Construções, Comércio e Serviços Ltda, CPF
086.518.504-25, filho de Honorina Maria de Sousa e Arnaud Marcolino da
Silva, com endereço na Rua Cel. Guimarães, 105, Térreo, Centro,
Cajazeiras-PB, CEP 58900-000;

ROBERTO BANDEIRA DE MELO BARBOSA, brasileiro, sócio-


administrador e engenheiro da empresa Construtora Comarth Ltda, CPF
161.868.503-15, nascido em 01.02.1957, filho de Maria Bandeira de Melo
Barbosa e Pedro Baina Barbosa, com endereço na Rua Arsénio Araruna, s/n,
Térreo, Centro, Cajazeiras-PB, CEP 58900-000;

FRANCISCO VANDI DUARTE, brasileiro, presidente da comissão


permanente de licitação; CPF 970.444.904-68, nascido em 22.02.1973, filho
de Francisca Lopes Duarte e José Francisco Duarte, com endereço na Rua
dos Coqueiros, São Luiz, s/n, Encanto-RN, CEP 59905-000;

JOSÉ FERNANDES DE OLIVEIRA JÚNIOR, brasileiro, ex-engenheiro


fiscal do Município de Água Nova-RN, CPF 251.057.364-00, nascido em
16.07.1961, filho de Ana Maria Fernandes e José Fernandes de Oliveira,
com endereço na Rua Rubens Saldanha, 77, José Pinheiro, Campina
Grande-PB, CEP 58407-545;

ILIENE MARIA FERREIRA DE CARVALHO RIBEIRO, brasileiro,


ex-prefeita do Município de Água Nova-RN, CPF 812.985.364-72, nascida

Av. Getúlio Vargas, n. 1911, Centro, Pau dos Ferros/RN, CEP 59900-000
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em 09.08.1966, filha de Maria Ferreira de Carvalho, com endereço na Rua


13 de maio, 260, Centro, Água Nova-RN, CEP 59995-000;

FRANCISCO IROMAR DE CARVALHO, brasileiro, ex-secretário de


finanças do Município de Água Nova-RN, CPF 143.878.164-49, nascido em
06.08.1957, filho de Maria Ferreira de Carvalho e Francisco Ferreira de
Carvalho, com endereço na Rua Nova, n. 13, Centro, Água Nova-RN, Cep
59995-000;

OSÉAS PINHEIRO, brasileiro, ex-secretário de obras do Município de


Água Nova-RN, CPF 912.829.348-72, nascido em 21.09.1957, filho de
Floriza Pinheiro e Francisco Batista Rego, com endereço na Rua 15 de
Novembro, 01, Centro, Água Nova-RN, CEP 59995-000;

pelo cometimento dos atos criminosos a seguir delineados.

I – CONTEXTUALIZAÇÃO DOS FATOS

Entre os dias 21.10.2012 e 09.11.2012, a Controladoria Geral da União empreendeu


vistoria no Município de Água Nova-RN, em decorrência da 37ª Etapa do Programa de Fiscalização
a partir de Sorteios Públicos, cujo relatório apontou a existência de diversas irregularidades naquela
municipalidade.

Entre elas, identificou-se fraudes e desvios na construção de uma Unidade Básica de


Saúde, subsidiado com recursos do Fundo Nacional de Saúde, e objeto da contratação
operacionalizada pela forjada Tomada de Preço n. 001/2011, autuada pela Prefeitura Municipal, e

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que culminou na contratação da empresa Servcon Construções, Comércio e Serviços Ltda. Em


decorrência da fiscalização empreendida, a CGU identificou fortes indícios das seguintes práticas
ilícitas: 1) fraude na realização da Tomada de Preços nº 001/2011; 2) pagamentos indevidos por
serviços não executados na obra de reforma e ampliação da Unidade Básica de Saúde, no montante
de R$ 112.730,61; 3) da execução da obra por pedreiros do Município e não pela própria empresa
contratada.

Neste contexto, é oportuno registrar que a Servcon Construções, Comércio e


Serviços Ltda foi revelada como “empresa fantasma”, no âmbito da conhecida “Operação
Andaime”, desenvolvida, em conjunto, pelo Ministério Público Federal, Polícia Federal e
Controladoria Geral da União, no Município de Sousa/PB, que desarticulou uma organização
criminosa especializada em fraudar licitações em obras e serviços de engenharia executados por 16
prefeituras do Alto Sertão da Paraíba.

Depois de denúncia oferecida pelo Ministério Público Federal (MPF) em Sousa (PB),
a Justiça condenou 13 pessoas envolvidas na Operação Andaime – “núcleo de Cajazeiras”, pelos
crimes de organização criminosa, fraude à licitação, superfaturamento de preços, desvio de recursos
públicos e lavagem de dinheiro, dentre os quais, o denunciado FRANCISCO JUSTINO DO
NASCIMENTO, a uma pena de 48 anos e 6 meses (reduzida para 16 anos e 2 meses em
decorrência do acordo de colaboração premiada), conforme sentença proferida na Ação Penal nº
0000478-39.2015.4.05.8202.

Os fatos apurados e comprovados no IC nº 1.28.300.000071/2013-14, em anexo,


demonstram que as práticas criminosas engendradas por FRANCISCO JUSTINO DO
NASCIMENTO não ficaram restritas ao território paraibano, tendo sido replicadas nos municípios
do sertão potiguar, como no presente caso ocorrido no Município de Água Nova, por ocasião da
realização da Tomada de Preços nº 001/2011, que, conforme se verá adiante, não se passou de uma
licitação forjada para instrumentalizar um esquema ilícito de desvio de verbas públicas.

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Para o sucesso da empreitada criminosa, FRANCISCO JUSTINO DO


NASCIMENTO contou com a coautoria efetiva de agentes públicos do Município de Água-RN,
bem como particulares que contribuíram para a montagem do procedimento licitatório, assim como
para o desvio de recursos públicos federais.

II – DO FATOS IMPUTADOS NA PRESENTE DENÚNCIA

II.1. Da Fraude Licitatória à Tomada de Preço n. 001/2011

Em 20 de outubro de 2011, a Prefeitura Municipal de Água Nova-RN instaurou a


Tomada de Preço n. 001/2011, com autorização da prefeita ILIENE MARIA FERREIRA DE
CARVALHO RIBEIRO (fl. 94 da TP n. 001/2011), para contratação dos serviços de execução da
reforma de uma Unidade Básica de Saúde, mediante recursos oriundos do Fundo Nacional de
Saúde.

O projeto foi orçado em R$ 192.850,72 (cento e noventa e dois mil, oitocentos e


cinquenta reais e setenta e dois centavos), nos termos da planilha de fl. 04-10 e da Anotação Técnica
de Responsabilidade de fl. 76, ambos da TP n. 001/2011, pelo engenheiro fiscal do município JOSÉ
FERNANDES DE OLIVEIRA JÚNIOR.

Passa-se, então, à análise dos dados que demonstram a montagem Tomada de Preço
n. 001/2011 e, por via de consequência, da prática do crime capitulado no art. 90 da Lei nº 8.666/93.

O edital do certame foi lançado no dia 24.10.2011, e publicado no Diário Oficial da


União somente em 14.11.2011, pelo demandado FRANCISCO VANDI DUARTE, presidente da
comissão permanente de licitação, que deixou de observar com zelo e diligências aspectos formais
da licitação em tela, o que inevitavelmente favoreceu a contratação da construtora Servcon, como
se passa a explicar.

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Primeiramente, é de se estranhar o fato de que houveram apenas duas empresas


interessadas em participar do certame licitatório, que possuía um valor expressivo, em torno de R$
200.000,00 (duzentos mil reais), em uma região com escasso grau de investimento na área da
construção civil. Somente a Servcon Construções, Comércio e Serviços Ltda , representada por
FRANCISCO JUSTINO DO NASCIMENTO, e a Construtora Comarth Ltda – cujo sócio-
administrador e representante na licitação em referência foi o denunciado ROBERTO BANDEIRA
DE MELO BARBOSA –, ambas sediadas no interior da Paraíba, adquiriram o edital do certame,
conforme comprovantes de fls. 270-273 da TP n. 001/2011.

Analisando os respectivos comprovantes de pagamentos do valor de aquisição do


edital, observa-se que as transações foram realizadas no mesmo dia (24.11.2011) e no mesmo
momento, o que já denota um indício de conluio fraudulento. A empresa Servcon Construções
realizou depósito referente ao edital às 13:57:49, enquanto que a empresa Comarth efetuou o
depósito às 13:57:46, ou seja, houve apenas uma diferença de três segundos entre os pagamentos,
indicando que ambos os depósitos foram realizados pelo mesmo indivíduo e que havia prévio
arranjo entre elas.

Esse fato, comum em situações de fraude à licitações, passou, estranhamente,


despercebido, pelo presidente da Comissão Permanente de Licitação FRANCISCO VANDI
DUARTE, que tinha expertise e condições intelectuais suficientes para identificar esse tipo de
artimanha, até por que foi ele quem emitiu o recibo do pagamento (fls. 298 e 369 do arquivo TP n.
001-2011). Entretanto, nada fez em razão da armação mantida com os demais demandados.

Outro fato, indicado pela Controladoria Geral da União, na fl. 09 do IC


1.28.300.000071/2013-14, que demonstra indícios de fraude consiste na ausência de diferenças
significantes entre as planilhas de preços apresentadas pela Construtora Comarth Ltda – com a
assinatura do engenheiro e sócio ROBERTO BANDEIRA DE MELO BARBOSA – e o original
do projeto básico da Tomada de Preço 001-2011. De forma muito incomum, a proposta de preço

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apresentada pela Construtora Comarth Ltda foi de apenas R$ 0,03 (três centavos) a menor que o
valor da planilha do projeto básico (fls. 10 e 446 da TP n. 001/2011), ou seja, sem qualquer
condições de competitividade.

Uma empresa que realmente deseja disputar uma licitação, de caráter concorrencial,
jamais apresentaria uma proposta como a ofertada pela Construtora Comarth Ltda, a menos que
tivesse com o intento de beneficiar, propositalmente, a sua única adversária no certame, como
ocorreu no caso em tela.

Ademais, examinando as planilhas orçamentárias apresentadas pelas duas empresas


licitantes, a Controladoria Geral da União identificou coincidências – como erros de grafias – que
corroboram com a tese de conluio aqui exposta.

Às fls. 08-12 do IC 1.28.300.000071/2013-14, a CGU elencou todos os erros


constatados em ambas as planilhas orçamentárias e que indicam que elas foram formuladas pela
mesma pessoa. Dois exemplos podem ser grifados: i) no item 0703/7.3, a palavra “telhados” foi
grafado nas duas planilhas como “telahdos”; ii) no item 0905/9.5, “natural” foi digitado como
“natura” (fls. 422-423 e 431-432 da TP n. 001/2011).

Além dessa coincidência, em diligência empreendida na sede da Construtora


Comarth Ltda, no município de Bonito de Santa Fé-PB, constatou-se que se trata de um imóvel na
zona rural, sem qualquer placa indicativa ou publicitária da empresa. Encontrou-se apenas
resquícios de materiais de construção e uma carroça, segundo relatório de fls. 143-144 do IC n.
1.28.300.000071/2013-14.

Diante disso, verifica-se que a Construtora Comarth Ltda, representada no ato pelo
sócio-administrador ROBERTO BANDEIRA DE MELO BARBOSA, fora utilizada apenas para
dar aparente legalidade ao processo licitatório em comento.

Quanto à Servcon Construções, Comércio e Serviços Ltda, representada pelo

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denunciado FRANCISCO JUSTINO DO NASCIMENTO, observou-se que a mesma somente


registrou um único empregado, durante todos os seus anos de funcionamento, conforme informação
constante nas fls. 181 e 303v do IC 1.28.300.000071/2013. Ou seja, a Servcon Construções,
Comércio e Serviços Ltda nunca possuiu nenhuma estrutura de mão de obra para realizar os
serviços para os quais fora contratada.

Impende destacar que tal fato se revelava suficiente para que a referida deixasse de
ser habilitada na licitação em referência, de acordo com os termos do item “f” do edital de
divulgação (fl. 147 da TP n. 001/2011). Porém, isso sequer foi questionado pela comissão de
licitação, sobretudo pelo presidente FRANCISCO VANDI DUARTE, caracterizando, mais uma
vez, uma omissão dolosa no cumprimento de suas funções, o que indica conluio fraudulento com os
demais denunciados.

Ora, é deveras contraditório que uma empresa que havia participado de várias
licitações na região não possuía empregados registrados. A título de informação, conforme dados
disponíveis no Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Norte (Anexo II – Licitações
Servcon TCE-RN), entre 2011-2015, a Construtora Servcon participou de 44 licitações no Estado,
movimentando mais de R$ 7.000.000,00 (sete milhões de reais).

No Estado da Paraíba, onde estava sediada, atuando de forma mais ostensiva,


segundo dados extraídos do sistema Sagres do Tribunal de Contas daquela unidade federativa, a
Servcon Construções, Comércio e Serviços Ltda recebeu mais de R$ 17.000.000,00 (dezessete
milhões de reais) de prefeituras municipais (Anexo III – Licitações Paraíba – TCE-PB).

A despeito de movimentar quantias superlativas de recursos públicos, a empresa


registrou apenas um empregado, no ano de 2014 (fls. 181 e 303v do IC 1.28.300.000071/2013-14).

Outro indício constatado foi que a Servcon Construções, Comércio e Serviços Ltda
não apresentou suas receitas na Declaração de Informações Econômico-fiscais da Pessoa Jurídica

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(DIPJ) nos anos-calendário de 2010, 2011, 2012, chegando a informar que nos anos de 2010 e 2012
estava inativa, como se percebe dos dados obtidos por meio do Dossiê Integrado encaminhado pela
Receita Federal (fls. 48, 61 e 62 do Anexo I – Extratos Bancários e DIPJ), em cumprimento à
decisão judicial que afastou sigilo bancário e fiscal da empresa Servcon e do réu FRANCISCO
JUSTINO DO NASCIMENTO (Quebra de Sigilo Bancário e Fiscal n. 0800024-
36.2014.4.05.8404).

Já em relação a FRANCISCO JUSTINO DO NASCIMENTO, os dados fiscais


revelam que ele também não declarou na DIPF o suposto lucro auferido de suas empresas
milionárias, limitando-se a declarar, a partir do ano-calendário de 2009, renda de pouco mais de mil
reais por mês – exceto no exercício de 2013, quando informou não possuir renda alguma (fls. 07,
12, 15, 18 do Anexo I – Extratos Bancários e DIPJ).

Em complemento, o acesso aos extratos bancários da referida empresa revelam


também que ela possui como credores quase exclusivamente órgãos públicos, especificamente
prefeituras do sertão da Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte. Curiosamente, trata-se de empresa
que não presta qualquer serviço de engenharia a particulares, configurando outra tipologia
característica de empresas “fantasmas”.

Ademais, as análises das contas bancárias mantidas pelas empresas Servcon e Tec
Nova também indicam movimentações financeiras atípicas, característica de empresas “fantasmas”,
conforme tipologia estabelecida pelo COAF em publicação oficial1.

Efetivamente, no que se refere à Servcon Construções, Comércio e Serviços Ltda,


suas contas bancárias, às quais o MPF teve acesso a partir de decisão judicial referida, apresentam
sempre o mesmo comportamento de movimentação configurado como “recebimento de recursos

1COAF, II Coletânea de Casos Brasileiros de Lavagem de Dinheiro, 2014, pág. 13 e 39. Disponível em:
[http://www.fazenda.gov.br/centrais-de-conteudos/publicacoes/casos-
casos/arquivos/casosecasos_2edicao_agosto2014.pdf/view]

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com imediata realização de saques em espécie”, consoante extrato de fls. 65 e seguintes do arquivo
Anexo I – Extratos Bnacários e DIPJ.

Quando da realização dos pagamentos da obra da UBS de Água Nova, que se deu
por meio de cinco medições (fls. 95, 106, 117 e 128 do arquivo Pagamentos), restou demonstrado
que FRANCISCO JUSTINO DO NASCIMENTO sempre realizava saques em espécie
imediatamente à efetuação da transferência bancária operacionalizada pela Prefeitura de Água Nova
(fls. 99, 105, 107, 112 e 114 do arquivo Anexo I – Extratos Bancários e DIPJ). Este fato será melhor
exposto no item seguinte, no qual se explanará sobre a ocorrência de desvios dos valores recebidos
pela Servcon na fase da execução contratual.

Por fim, ainda no que se refere ao procedimento licitatório da TP nº 001/2011,


registra-se que a planilha orçamentária da proposta da construtora Servcon Construções, Comércio
e Serviços Ltda foi assinada pelo engenheiro GERALDO MARCOLINO DA SILVA, responsável
técnico da empresa, o que justifica sua inclusão no polo passivo desta demanda, indicando a sua
participação na montagem da licitação forjada.

Ademais, consta nos autos da TP n. 001-2011 declaração de suposta visita ao


canteiro de obras, que teria sido realizada por GERALDO MARCOLINO DA SILVA. Tal
declaração foi emitida pelo presidente da Comissão Permanente de Licitação FRANCISCO
VANDI DUARTE para instrução do processo habilitatório da Servcon (fls. 341-342 do arquivo TP
n. 001-2011), em desrespeito ao disposto nas alíneas “l” e “m” do item 4.4.4 do edital, que exigia o
acompanhamento da visita pelo engenheiro fiscal da Prefeitura de Água Nova, e não pelo presidente
da comissão permanente de licitação, o que, mais uma vez, evidencia a participação deste último no
arranjo denunciado.

Malgrado todas essas irregularidades, a então prefeita ILIENE MARIA


FERREIRA DE CARVALHO RIBEIRO homologou o resultado da Tomada de Preço n.

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001/2011, e contratou a empresa Servcon Construções, Comércio e Serviços Ltda pelo valor de R$
191.982,98 (cento e noventa e um mil, novecentos e oitenta e dois reais e noventa e oito centavos),
consoante termo de fl. 450 da TP n. 001/2011.

Desta feita, concorreram para a prática do crime titulado no art. 90 da Lei n. 8.666/93
ILIENE MARIA FERREIRA DE CARVALHO RIBEIRO, enquanto ex-prefeita municipal de
Água Nova-RN; FRANCISCO VANDI DUARTE, presidente da comissão permanente de licitação
na época; FRANCISCO JUSTINO DO NASCIMENTO, sócio-administrador da empresa
Servcon Construções, Comércio e Serviços Ltda; GERALDO MARCOLINO DA SILVA, sócio e
engenheiro da empresa Servcon Construções, Comércio e Serviços Ltda e ROBERTO
BANDEIRA DE MELO BARBOSA, sócio-administrador e engenheiro da empresa Construtora
Comarth Ltda.

II.2. Do Desvio de Verbas

Na sequência das ilegalidades, após a fraude licitatória, verifica-se que


FRANCISCO JUSTINO DO NASCIMENTO, apropriou-se e desviou rendas públicas, em
proveito próprio e alheio, em decorrência de: a) pagamentos indevidos pelos serviços não
executados na obra de reforma e ampliação da Unidade Básica de Saúde, no montante de R$
112.730, 61 (cento e doze mil, setecentos e trinta reais e sessenta e um centavos); b) realização das
obras por funcionário da própria prefeitura e não pela Servcon Construções, Comércio e Serviços
Ltda, empresa formalmente contratada; c) apropriação de valores pela Servcon Construções,
Comércio e Serviços Ltda que, supostamente, deveriam ser descontados como encargos sociais, mas
que, ante a inocorrência da prestação dos serviços por trabalhadores da empresa, foi destinado
apenas ao caixa da mesma.

Contou-se, para êxito do ilícito, com a concorrência da então prefeita ILIENE

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MARIA FERREIRA DE CARVALHO RIBEIRO, do secretário de finanças FRANCISCO


IROMAR DE CARVALHO, do secretário de obras OSÉAS PINHEIRO, e do engenheiro fiscal
do município de Água Nova-RN JOSÉ FERNANDES DE OLIVEIRA JÚNIOR, que
contribuíram determinantemente com os desvios em proveito de terceiros e inclusive próprios.

Segundo relatório de fiscalização realizado pela Controladoria Geral da União (pg.


12 do IC n. 1.28.300.000071/2013-14), apesar de ter havido o pagamento da 5ª e última medição da
obra de reforma e ampliação da Unidade Básica de Saúde do Município, em favor da Servcon
Construções, Comércio e Serviços Ltda, totalizando o dispêndio de R$ 191.982,28 (cento e noventa
e um mil, novecentos e oitenta e dois reais e vinte e oito centavos), foi constatado que foram pagos
R$ 112.730,61 (cento e doze mil, setecentos e trinta reais e sessenta e um centavos) por serviços
não executados. A CGU identificou os seguintes serviços que não foram realizados, apesar de terem
sido pagos:

• Fachada do prédio localizado na rua principal da cidade de Água Nova, evidenciando que a
obra estava inconclusa.

• Pagamento de R$ 32.099,43 (trinta e dois mil, noventa e nove reais e quarenta e três
centavos) por esquadrias, portas e janelas de vidro não instaladas.

• Pagamentos de R$ 27.054,96 (vinte e sete mil, cinquenta e quatro reais e noventa e seis
centavos) pelo piso não executado.

• Pagamento de R$ 20.961,12 (vinte mil, novecentos e sessenta e um reais e doze centavos)


por cobertura e pintura não realizadas.

• Pagamento de R$ 18.981,22 (dezoito mil, novecentos e oitenta e um reais e vinte e dois


centavos, por aparelhos sanitários, metais e instalações hidrossanitárias não realizadas.

• Instalações elétricas no valor de R$ 13.633,88 (treze mil, seiscentos e trinta e três reais e
oitenta e oito centavos).

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Todas essas evidências foram catalogadas no relatório da CGU (fls.08/20 ao IC n.


1.28.300.000071/2013-14), mediante registros fotográficos e vídeos da inspeção da obra, bem como
através da análise das notas fiscais e recibos emitidos pela empresa Servcon Construções Comércio
e Serviços Ltda.

Ademais, no mesmo relatório, consta a informação de que a Unidade de Saúde, que


foi objeto da obra aqui referida, localizava-se na frente da Secretaria de Saúde e a menos de 500
metros de distância da Prefeitura, sendo que apesar de estar visivelmente inacabada, à época da
fiscalização da CGU, já havia sido autorizado, pela prefeita ILIENE MARIA FERREIRA DE
CARVALHO RIBEIRO, o pagamento da 5ª e última medição, conforme Nota Fiscal nº 14,
emitida em 20.08.12.

Em razão da inspeção realizada pela CGU, em meados de 2012, além dos


pagamentos por serviços não executados, também foi possível constatar que a obra não estava
sendo realizada pela Servcon Construções Comércio e Serviços Ltda, vencedora da licitação, mas
sim pelos pedreiros da própria Prefeitura, que sequer conheciam o representante da construtora,
como se atestou no relatório de fl. 19 do IC n. 1.28.300.000071/2013-14.

A partir das diligências in loco, os técnicos da CGU consignaram que (fl. 19 do IC n.


1.28.300.000071/2013-14):

O Senhor de iniciais A.F.P.2, em entrevista concedida à equipe da CGU no


dia 26/10/2012, afirmou que a obra da Unidade Básica de Saúde de Água
Nova estava sendo executada por ele e sua equipe de pedreiros e serventes.
O entrevistado afirma saber que uma empresa foi contratada pela
Prefeitura para execução da obra, mas não conhece seus proprietários.

2 Referência a Antônio Fernandes Pinto, pedreiro localizado no canteiro de obras e arrolado como testemunha.

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Sobre a relação com a empresa formalmente contratada, afirmou: “Eu não


conheço o dono da firma.”. Indagado sobre quem o contratou para
executar a obra, respondeu que foi o Secretário Municipal de Finanças,
Francisco Iromar: “Eu trabalho diretamente com Iromar. Ele lá que resolve
com a firma.”. Questionado a respeito de quem fornecia o material
necessário à obra, informou que “Neto Gato é quem fornece o material. Eu
só faço a mão-de-obra”. Neto Gato é o apelido de Oséas Pinheiro,
Secretário Municipal de Obras. Quanto aos pagamentos pelos serviços por
ele prestados, o senhor Antônio afirmou: “Eu recebo da mão de Iromar.”.
Perguntado se teria executado outras obras no município, foi taxativo:
“Quase tudo que tem aqui fui eu que fiz.”.

Desta feita, observa-se que a obra em referência não foi executada pela Servcon
Construções, Comércio e Serviços Ltda, mas por servidores da própria Prefeitura Municipal de
Água Nova-RN, especificamente por FRANCISCO IROMAR DE CARVALHO, que “era quem
resolvia com a firma”, e pelo secretário de obras OSÉAS PINHEIRO, conhecido como “Nego
Gato”, responsável pelo material de construção, nos termos do depoimento da testemunha Antônio
Fernandes Pinto, colhido pelos fiscais da CGU e juntado aos autos por meio do sistema Aljava.

Conforme o áudio anexado ao referido relatório, também se constata que a


participação do engenheiro fiscal da prefeitura JOSÉ FERNANDES DE OLIVEIRA JÚNIOR,
neste crime, particularmente, não se deu apenas de forma omissiva. De acordo com a testemunha,
ele tinha um papel ativo no intento criminoso:

CGU – O senhor foi contratado por quem para fazer essas obras?

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Depoente – rapaz, isso é uma firma de Natal. Eu não conheço o dono da


firma. Através de Dr. Júnior, que é quem fiscaliza as obras aqui e Iromar…

CGU – Iromar lá da Prefeitura?

Depoente: É. Então, eu trabalho diretamente com Iromar. Ele lá que resolve


com a firma.

Conclui-se, portanto, que JOSÉ FERNANDES DE OLIVEIRA JÚNIOR tinha


total conhecimento das ilicitudes em tela, pois era responsável pelo acompanhamento da obra e por
atestar as medições, sendo sua participação decisiva para o sucesso dos desvios. Ressalte-se que, na
ocasião da vistoria realizada pela CGU, já se tinha pago à Servcon Construções, Comércio e
Serviços Ltda toda a soma prevista para conclusão da obra, com fundamento nas cinco medições
atestadas e emitidas por JOSÉ FERNANDES DE OLIVEIRA JÚNIOR.

Mesmo assim, conforme já dito acima, a inspeção realizada pela CGU constatou que
a construção estava inacabada, totalizando cerca de R$ 112.730,61 (cento e doze mil, setecentos e
trinta reais e sessenta e um centavos) por serviços pagos, mas não executados, o que caracteriza,
nitidamente, pagamento antecipado, em favorecimento à empresa contratada e aos reais executores,
que, segundo os elementos colhidos nos autos do IC nº, se tratavam, na verdade de JOSÉ
FERNANDES DE OLIVEIRA JÚNIOR, FRANCISCO IROMAR DE CARVALHO e OSÉAS
PINHEIRO.

Destaca-se, nesse passo, a participação, igualmente decisiva, da então prefeita


ILIENE MARIA FERREIRA DE CARVALHO RIBEIRO, que, ciente de todas essas
ocorrências, autorizava os pagamentos, juntamente com FRANCISCO IROMAR DE
CARVALHO (fls. 04, 24, 48, 75 e 99 do arquivo Anexo IV – Pagamentos).

Outro dado importante que aponta para a subcontratação ilegal das obras é que, como

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relatado no tópico anterior, quando da realização dos pagamentos da obra da UBS de Água Nova,
que se deu por meio de cinco medições (fls. 95, 106, 117 e 128 do arquivo Pagamentos),
FRANCISCO JUSTINO DO NASCIMENTO sempre realizava saques imediatamente à
efetuação da transferência bancária operacionalizada pela Prefeitura de Água Nova (fls. 99, 105,
107, 112 e 114 do arquivo Anexo I – Extratos Bancários e DIPJ).

O montante sacado em espécie, sem dúvida, tinha por destino os servidores


elencados responsáveis pela execução da obra, após FRANCISCO JUSTINO DO
NASCIMENTO subtrair aquilo que lhe era devido. Por óbvio, evitava-se fazer transações
bancárias para que nada ficasse registrado pelas entidades financeiras e não fossem detectadas
movimentações atípicas por órgãos de controle, como o antigo COAF.

Por fim, também se verificou a apropriação de rendas públicas que, supostamente,


deveriam ser descontadas como encargos sociais no ato do pagamento das medições, mas que, ante
não prestação dos serviços pela Servcon Construções, Comércio e Serviços Ltda, foram destinadas
apenas ao caixa da mesma.

Acrescente-se que, no ano (2012) em que ocorreram os pagamentos (fl. 62 do Anexo


I – Extratos Bancários e DIPJ), a empresa “em tese” executora informou à Receita Federal que
estava inativa. Isso permite concluir que os recolhimentos não foram realizados em face do caráter
“fantasma” da Servcon Construções, Comércio e Serviços Ltda. Registre-se, ainda, que não há
documentação referente à matrícula do cadastro específico do INSS da obra (CEI), nem guias de
recolhimento do FGTS e informações à previdência social da empresa contratada, identificando os
profissionais vinculadores à obra durante o seu período de execução.

Manuseando os processos administrativos que autorizaram a liberação das verbas,


percebe-se os tributos sociais devidos, e que constavam originariamente na composição da planilha
orçamentária apresentada quando do processo licitatório, somente foram descontados na primeira

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medição, conforme se constata das fls. 5-6 do arquivo Anexo IV – Pagamentos, o que evidencia o
ajuste com os agentes públicos para favorecimento da empresa contratada, nos demais pagamentos
realizados, no afã de não realizar os recolhimentos legais e se apropriar de tais valores.

Diante desse quadro, fica nítido os indícios de que os custos relativos aos encargos
sociais, embutidos na composição unitária de preço de cada um dos serviços que compõe a planilha
orçamentária contratada pela Prefeitura de Água Nova-RN, deixaram de ser recolhidos em proveito
da construtora e dos reais executores da obra, que se apropriaram de tais valores.

Ou seja, apesar da empresa Servcon Construções vencer o processo licitatório, a obra


foi executada diretamente por particulares, não havendo custos com pagamentos dos respectivos
encargos de mão de obra, já que os funcionários trabalhavam na informalidade, e não tinham
vínculo com a empresa, mas sim com os verdadeiros executores (JOSÉ FERNANDES DE
OLIVEIRA JÚNIOR, FRANCISCO IROMAR DE CARVALHO e OSÉAS PINHEIRO).

Ressalta-se, por fim, que a obra da UBS somente veio ser concluída no ano posterior,
no mandato da prefeita sucessora Iomária Rafaela Lima, filha de FRANCISCO IROMAR DE
CARVALHO, não sendo improvável que o desvio de recursos descortinados no âmbito do IC n.
1.28.300.000071/2013-14 tenha servido para beneficiar a sua campanha eleitoral.

Assim, FRANCISCO JUSTINO DO NASCIMENTO, ILIENE MARIA


FERREIRA DE CARVALHO RIBEIRO, FRANCISCO IROMAR DE CARVALHO, OSÉAS
PINHEIRO e JOSÉ FERNANDES DE OLIVEIRA JÚNIOR praticaram o fato típico previsto
no art. 1º, I, do Decreto-Lei n. 201/1967, consistente em apropriar-se de bens ou rendas públicas, ou
desviá-los em proveito próprio ou alheio.

III – IMPUTAÇÕES

Dessa forma, os denunciados cometeram os seguintes delitos:

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a) ILIENE MARIA FERREIRA DE CARVALHO RIBEIRO: art. 90 da Lei n.


8.666/93 (Fraude à Licitação); art. 1º, I, Dl. 201/67 (Desvio de verbas públicas).

b) FRANCISCO JUSTINO DO NASCIMENTO: art. 90 da Lei n. 8.666/93


(Fraude à Licitação); art. 1º, I, Dl. 201/67 (Desvio de verbas públicas);

c) GERALDO MARCOLINO DA SILVA: art. 90 da Lei n. 8.666/93 (Fraude à


Licitação).

d) ROBERTO BANDEIRA DE MELO BARBOSA: art. 90 da Lei n. 8.666/93


(Fraude à Licitação).

e) JOSÉ FERNANDES DE OLIVEIRA JÚNIOR: art. 1º, I, Dl. 201/67 (Desvio de


verbas públicas);

f) FRANCISCO IROMAR DE CARVALHO: art. 1º, I, Dl. 201/67 (Desvio de


verbas públicas);

g) OSÉAS PINHEIRO: art. 1º, I, Dl. 201/67 (Desvio de verbas públicas);

h) FRANCISCO VANDI DUARTE: art. 90 da Lei n. 8.666/93 (Fraude à Licitação).

IV – DOS PEDIDOS

À luz de todo o exposto, requer o MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL:

(a) que seja recebida a presente Denúncia, procedendo-se à citação dos


denunciados para que ofereçam resposta à acusação, nos termos do Código de Processo Penal;

(b) não se tratando de caso de absolvição sumária, que seja designada audiência
de instrução e julgamento, com a oitiva das testemunhas abaixo indicadas;

(c) por fim, comprovadas a materialidade e a autoria delitivas, que seja acatada a

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pretensão punitiva ora deduzida, com a prolação de sentença condenatória.

Pau dos Ferros/RN, data da validação eletrônica.

assinado digitalmente
RENATA MUNIZ EVANGELISTA JUREMA
Procuradora da República

ROL DE TESTEMUNHAS
1. Antônio Fernandes Pinto, CPF 654.078.224-15, filho de Terezinha Fernandes Pessoa e João
Dantas Pinto, com endereço na Rua Mariana Guilhermina da Conceição, n. 237, Centro, Água
Nova-RN, CEP 59995-000.

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Processo: 0800373-63.2019.4.05.8404
Assinado eletronicamente por:
RENATA MUNIZ EVANGELISTA JUREMA - Gestor 19112712195731900000006282900
Data e hora da assinatura: 27/11/2019 15:49:40
Identificador: 4058404.6266101
Para conferência da autenticidade do documento: https://pje.jfrn.jus.br/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam 19/19

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