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Prefeitura da Estância Turística de Tupã

Estado de São Paulo.


Secretaria Municipal de Assuntos Jurídicos
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA _____ VARA CIVEL

DA COMARCA DE TUPÃ – ESTADO DE SÃO PAULO

DISTRIBUIÇÃO POR DEPENDÊNCIA


AO PROCESSO Nº 1005054-90.2022.8.26.0637

O MUNICÍPIO DE TUPÃ, pessoa jurídica de direito


público interno inscrita no CNPJ/MF sob nº 44.573.087/0001/61, com sede
administrativa sito na Praça da Bandeira nº 800, Paço Municipal, CEP 17600-
800, através do procurador jurídico in fine firmado, vem mui respeitosamente
perante Vossa Excelência propor a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA COM
PEDIDO LIMINAR, com lastro na Lei nº 7.347/85, em face dos requeridos
abaixo qualificados pelos seguintes motivos de fato e de direito:

DOS REQUERIDOS

1DOC 2372/2021
Área B - M. 61.746 e 1DOC 2384/2021 Área C - M. 61.174

ADEMILSON CARLOS PEREIRA PINTO, brasileiro, cabeleireiro, portador da


cédula de identidade R.G. nº 24.277.456-8 SSP/SP, inscrito no CPF/MF sob
nº 257.387.998-44, casado com SILVANA CÁUDIA PEREIRA, brasileira, do
lar, portadora da cédula de identidade R.G. nº 30.729.261-7 SSP/SP, inscrita
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no CPF sob nº 292.430.008-88, sob o regime da comunhão parcial de bens,


depois da Lei 6515/77, residentes e domiciliados na Rua Caetés nº 683,
nesta cidade de Tupã/SP, na qualidade de proprietário das matrículas 61.746
e 61.174 do CRI de Tupã/SP.

1DOC 2380/2021
Área D - M. 60.692

CARLOS ALBERTO DA SILVA GAROSO, brasileiro, corretor de seguros,


portador da cédula de identidade R.G. nº 25.659.477- SSP/SP, inscrito no
CPF/MF sob nº 267.738.008-03, casado com INGRID CAROLINE PAVAN
GAROSO, brasileira, empresária, portadora da cédula de identidade R.G. nº
40.395.682- SSP/SP, inscrita no CPF/MF sob nº 315.180.088-28, casados
pelo regime da comunhão parcial de bens na vigência da Lei 6515/77,
residentes e domiciliados na Rua Parecis nº 373, centro desta cidade de
Tupã/SP, na qualidade de proprietário da Matrícula 60.692 do CRI de
Tupã/SP.

1DOC 2371/2021
Área E - M. 59.995

JULIO CÉSAR GUTIERRES BLANCO, brasileiro, policial militar, portador do


R.G. nº 27.083.271-3 SSP/SP, inscrito no CPF/MF sob nº 138.271.608-71,
casado com EVELINE BATISTA RODRIGUES, brasileira, professora,
portadora da cédula de identidade R.G. nº 33.076.275-8 SSP/SP e CPF/MF
303.808.018-76 sob o regime da comunhão parcial de bens na vigência da
Lei 6.515/77, residentes e domiciliados na Rua Ernesto Martins Silva nº 84,
Vila Tupã Mirim I, nesta cidade de Tupã/SP, CEP17.603-090, na qualidade
de titular da matrícula 59.995 do CRI de Tupã/SP.

1DOC 2386/2021
Área F - M. 63.563 - VILSON PEREIRA PINTO, brasileiro,
advogado, portador do RG nº 24.276.780-1 SSP/SP e do CPF nº
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188.083.328-02, casado pelo regime da separação absoluta de bens


conforme escritura de pacto antenupcial registrada sob nº 32.851 com
Janete Gonçalves, brasileira, farmacêutica, RG 29.720.975-9 SSP/SP e
CPF/MF 285.396.768-93, domiciliados na Rua Caetés, n. 678, Centro, CEP
17601-150, Tupã/SP; e, MARCOS DE AMORIM COSTA, brasileiro, solteiro,
maior, corretor de imóveis, portador da cédula de identidade R.G. nº
20.095.042 SSP/SP, inscrito no CPF sob nº 078.960.208-31, residente e
domiciliado na Rua Francisco Turra nº 87, Vila Santa Terezinha, Tupã/SP,
todos na qualidade de proprietário originário da área e titulares da matrícula
63.563 do CRI local.
1DOC 2368/2021
Área H – M. 61.049

VANDERLEI GARCIA RODRIGUES, brasileiro, policial militar, portador do


R.G. nº 20.092.835 SSP/SP, inscrito no CPF/MF 083.816.798-50, casado
com MARIA ROSA VALÉRIO RODRIGUES, brasileira, cabelereira, portadora
do RG nº 29.406.185 X SSP/SP, inscrita no CPF/MF sob nº 264.376.226-22,
residentes e domiciliados na Rua Caingangs nº 1646, Tupã/SP, na qualidade
de titular da matrícula 61.049 do CRI local.
1DOC 2375/2021
Área I - M. 60.927

ANDERSON AVELLANEDA LUZ, brasileiro, militar, portador do R.G. nº


29.221.830-8 SSP/SP, inscrito no CPF sob nº 297.720.788-05, casado com
VANIA CALDEIRA LUZ, brasileira, militar, portadora da cédula de identidade
RG 34.545.565-4 SSP/SPCPF 297.774.588-27, residentes e domiciliados na
Avenida Luiz Gonzaga Junqueira de Andrade nº 517, Tupã/SP, na qualidade
de titular da matrícula 60.927 do CRI local.

DA DISTRIBUIÇÃO POR DEPENDÊNCIA

A presente ação civil pública versa quanto


loteamento ilegal anexo ao analisado no processo nº 1005054-
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90.2022.8.26.0637, que tramita perante a primeira vara cível da comarca de
Tupã/SP, constituindo um único todo, onde a provável solução jurídica
englobará todas as áreas, de forma que, com lastro no artigo 286, inciso I do
Código de Processo Civil, requer seja deferida a distribuição por dependência.

I) INTRÓITO FÁTICO.

O Município de Tupã, por décadas, possuía regular


qualidade urbanística, sem nenhuma favela, com acesso a água tratada em
todos os bairros da cidade, mais de 98% de coleta e tratamento de esgoto
domiciliar, vias de circulação com bom índice de qualidade, enfim, uma cidade
com ótimo padrão urbanístico que garantia saúde e qualidade de vida aos
cidadãos.

Ocorre que nos últimos anos especuladores vem


degradando o meio ambiente e dilacerando a ordem urbanística. Uma visitação
aos cantos da cidade é motivo de angustia ante os focos de crescimentos
desordenados, centenas de casas sem esgoto, contaminando o solo sem
qualquer restrição; a distribuição de água sem tratamento, muitas vezes de
poços não licenciados, acesso aos lotes através de vielas de pouco mais de 5
ou 6 metros, colocando a vida dos moradores em risco posto que inacessíveis
aos caminhões de bombeiro no caso de incêndio; nenhuma edificação com
projeto de construção decorrendo em risco de acidentes; os lixos domésticos
são acumulados posto que sequer há acesso para os caminhões de coleta e
limpeza urbana, enfim, a periferia da cidade está se transformando em uma
grande favela de ocupação irregular e sem qualquer cumprimento da lei de
parcelamento de solo.
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Ainda há tempo de solucionar o problema, mas a
gravidade já é preocupante à qualquer profissional da área que sair em
diligência, pois é iminente a irreversibilidade.

Algumas pessoas estão enriquecendo às custas de


difundir o desmando urbanístico, às custas da degradação do meio ambiente
com o despejo de esgoto irregular e abertura de lotes sem direcionamento das
águas pluviais em inevitável abertura de erosões, enfim, a sociedade irá pagar
um preço alto para garantir o enriquecimento de poucos.

Tal notícia de grave degradação ao meio ambiente,


na acepção lato do termo, deve ser compelida pelo Poder Judiciário, motivo
pelo qual se impulsiona na esperança de reverter os males e garantir o mínimo
de qualidade para as futuras gerações.

Visando a recuperação das áreas caóticas que estão


se formando somente o afã sagrado do judiciário com sua força estatal pode
proteger a sociedade.

II- DOS FATOS

A área objeto do parcelamento de solo ilegal está


localizada em frente ao Parque Industrial III desta cidade de Tupã, em zona
EXCLUSIVAMENTE EMPRESARIAL, com acesso através da RODOVIA
JOÃO RIBEIRO DE BARROS – ESTRADA DO SABIÁ, com coordenadas
aproximadas 21°57'35.1"S 50°28'53.0"W, implantado sem coleta e
afastamento de esgoto, água distribuída sem tratamento, vias públicas estreitas
e sem concordância urbanística, sem sistema de coleta de lixo, enfim,
causando terrível dano ambiental. Vejamos:
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Merece constar que o loteamento irregular que


integra a presente matrícula imobiliária não foi realizado isoladamente,
sugerindo que o antigo proprietário tenha projetado o loteamento
irregular e perpetrado através da transferência da fração mínima
permitida por lei para nome dos demais requeridos, que consolidaram a
ilegalidade em nome próprio.

Destaca-se que a ocupação urbana das


matrículas 61.746; 61.174, 60.692 e 59.995 são nítidas, enquanto das
matrículas 63.563; 61049 e 60.927 permanecem rurais, de forma que para
estas últimas matrículas a presente ação limita-se a obrigação de não
alienar frações das matrículas e manter o uso rural ou empresarial.

Entretanto, todas os proprietários daquele


núcleo irregular devem integrar a presente ação como litisconsortes
simples, posto o interesse na causa, especialmente considerando a
necessidade de solução integrada das questões urbanísticas.

Vejamos o croqui do loteamento, subdividido pelas


matrículas:
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Data vênia, a venda de 20.000m² para consolidar o


loteamento irregular não pode ser admitida, pois tenta lançar um manto de
legalidade sobre a conduta típica e antijurídica do art. 50, I e II da Lei Federal
nº 6.766/79.

Merece destaque que no local já foram edificados


muitos imóveis e, em breve, se tornará irreversível.

É nítido que os requeridos VILSON PEREIRA PINTO;


ADEMILSON CARLOS PEREIRA PINTO e MARCOS DE AMORIM COSTA, após
aquisição da área rural total passaram a alienar áreas menores,
individualizadas e na forma de lotes previamente demarcados, inclusive com
ponto de água a promissários-compradores, tudo recentemente, ou seja, muito
posterior há 22/12/2016 conforme art. 9º, § 2º da Lei Federal 13.465/17, pelo
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que sem possibilidade de regularização pela REURB, conforme comprovam os
laudos anexos.

Para tanto os referidos requeridos celebraram


contratos preliminares com promissários-compradores e realizaram
propagandas para venda.

Assim, nesse imóvel, os requeridos por meio


de promessas de venda e demarcação de lotes, deram início a um
loteamento, para fins urbanos (chácaras de recreio), não aprovado
pelo Município, Estado e INCRA e não registrado no competente
Cartório de Registro de Imóveis, ou seja, agindo, desse modo, em
desacordo com a Lei 6.766/79 (arts. 3º, "caput", 12, 18, 37 e 53).

Decidiram, portanto, realizar um loteamento,


sem a autorização, licença ou anuência dos órgãos públicos
competentes (Prefeitura Municipal, INCRA, Cetesb, Secretaria Estadual
da Habitação), necessária por força da Lei de Parcelamento de Solo.

As fotografias dos relatórios de fiscalização


comprovam o loteamento irregular, vejamos as cópias:
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São nítidas as graves ofensas ao meio ambiente,


especialmente propiciando erosões pela total extração da cobertura vegetal do
solo; pelas edificações sem projetos ou acompanhamento técnico; pelo
adensamento populacional sem interligação do esgoto nas redes da SABESP,
tudo denotando a figura típica e antijurídica da Lei de Parcelamento de Solo.

Essas práticas lesam os adquirentes sob o enfoque


urbanístico e registrário, quer porque o Poder Público não aparelha tais
assentamentos ilícitos com equipamentos urbanos e comunitários, diante da
ausência de chancela oficial, quer porque pelas NORMAS DE SERVIÇO DA
CORREGEDORIA GERAL DA JUSTIÇA, reza que “É vedado o registro de
alienação voluntária de frações ideais com localização, numeração e metragem
certas, ou a formação de condomínio voluntário, que implique fraude ou
qualquer outra hipótese de descumprimento da legislação de parcelamento do
solo urbano, de condomínios edilícios e do Estatuto da Terra. A vedação não
se aplica à hipótese de sucessão causa mortis. (166 - Alterado pelo Provimento
CG Nº 37/2013 e Renumerado pelo Provimento CG Nº 56/2019) -
PROVIMENTO Nº 58/89 CORREGEDORIA GERAL DA JUSTIÇA - SÃO
PAULO - N O R M A S D E S E R V I Ç O CARTÓRIOS EXTRAJUDICIAIS
TOMO II, XX, 166)

É evidente pela situação física do local que lá foi


implantado um loteamento de chácaras de receio.

O mestre DIÓGENES GASPARINI, bem esclarece a


matéria:
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“O fim urbano, destarte, contrapõe-se ao rural,
caracterizado essencialmente pelo exercício de
atividades agrícolas, pastoris, extrativas ou
agroindustriais, consoante disposto no art. 4º, I e II,
do Estatuto da Terra. A essas atividades, em
conjunto, ou em particular, não se amoldam os fins
de parcelamentos denominados “chácaras ou sítios
de recreio”. Com efeito, qual dessas finalidades com
êxito comercial ou industrial e de modo
predominante encontram-se nesses “sítios ou
chácaras de recreio”? Seguramente nenhuma, e
mesmo que se tivesse uma criação de aves
domésticas ou um pomar, a finalidade mais se
aproximaria do recreativo do que do econômico,
mais do urbano do que do rural. Não chegaria,
sequer, a caracterizar uma atividade ruricular de
subsistência. Esses parcelamentos, com lotes
relativamente grandes (5.000m2), destinam-se a
proprietários de altas posses. As edificações
possuem todas as características senão de luxo, de
conforto, e os equipamentos comunitários (áreas de
uso público) e urbanos (rede de energia elétrica,
telefone, água, esgoto) são os encontráveis nos
loteamentos comuns. Desses, em regra, só se
diferenciam pelo nome, sem que isso lhes dê status
diverso ou lhes atribua outro regime jurídico. Seu fim
é urbano, e a própria designação (“chácara ou sítio
de recreio”) por si só indica esse fim. É local de
recreação, de divertimento, de folguedos, de lazer.
O local e a implantação do plano de parcelamento
têm em vista esses objetivos, que se distanciam do
fim rural.
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Possuindo os “chacreamentos” fins urbanos, hão de


reger-se integralmente pela Lei Federal nº 6.766/79, que dispõe sobre o
parcelamento do solo urbano, complementada, no que couber, pelas
legislações estadual e federal, conforme, respectivamente, preceituam o art. 1º
e seu parágrafo único. A finalidade urbana desses parcelamentos é notória.

A legislação específica inviabiliza a divisão do


imóvel rural em dimensão inferior ao módulo de 20.000m², ainda que para as
hipóteses de desmembramento rural, partilha judicial ou amigável, sendo que o
E. Conselho Superior da Magistratura já decidiu que o loteamento destinado a
chácaras de recreio não está dispensado dos requisitos registrários da
legislação de parcelamento urbano.

Destarte, o parcelamento de imóvel rural, para fins


urbanos, deve ser precedido da anuência do INCRA (art. 53, da Lei nº
6.766/79), para alteração do uso do solo (rural para urbano).

De resto, pelos motivos que serão a seguir


indicados, esse empreendimento não pode, nem mesmo em tese, ser objeto de
aprovação ou registro, o que inviabiliza sua execução e, bem assim, a
alienação de lotes que o integram, como adiante se demonstrará.

FUNDAMENTOS JURÍDICOS

Impossibilidade, Na Espécie, De Aprovação, Registro E Implantação Do


Loteamento - Consequente Ilegalidade Da Alienação Dos Lotes

De acordo com o sistema instituído pela Lei


6.766/79, o parcelamento do solo para fins urbanos pressupõe que a gleba
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dividenda se situe em zona urbana ou de expansão urbana (art. 3º,
"caput"), SENDO NO CASO DOS AUTOS UMA ÁREA RURAL SITUADA EM
ZONA URBANA DE USO EXCLUSIVAMENTE EMPRESARIAL.

Defronte ao loteamento irregular está implantado


o Parque Industrial III, sendo que a zona do loteamento irregular integra a
Zona Empresarial do município, conforme regulamentado pelo Plano
Diretor de Desenvolvimento Sustentável do Município, aprovado nos
rigorosos termos do Estatuto da Cidade – Lei Federal nº 10.257 de 10 de
julho de 2001.

O licenciamento pela CETESB das indústrias do


Parque Industrial considera o zoneamento urbano, posto que toda
atividade gera impactos ambientais, ainda que controlados. É esperado
que exista certa poluição sonora nos parques industriais, poeira sendo
levantada pelos caminhões que circulam e toda poluição nos índices
permitidos inevitáveis às atividades fabris. Por consequência não pode
ser permitido habitações naquela região, sob pena de aniquilar o
zoneamento urbano e as aptidões geográficas de cada área.

Por sua vez admitir que chácaras de recreio


sejam implantadas as margens da rodovia SP 294 sem que seja feito pelo
loteador um trevo de acesso aprovado pelas autoridades pertinentes é
deferir a morte por acidente de trânsito. Isto agravado pelo fato das festas
nestas chácaras serem acompanhadas de bebidas alcoólicas, decorrendo
certamente em elevando risco no atravessar da rodovia.

Como efeito de toda ilegalidade e altíssimo risco


aos futuros moradores e até mesmo aos usuários inocentes da SP294 que
podem morrer pela interceptação da frente de seus veículos na saída
irregular dos veículos daquele loteamento, é que o afã do judiciário deve
impor seu poder.
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Nesta seara foi consultado o Conselho Municipal


de Desenvolvimento Sustentável o qual decidiu pela impossibilidade de
alteração do zoneamento, vejamos a conclusão:

“  Sr Secretário,

Em resposta ao Despacho 6, venho informar que conforme


deliberação do Conselho Municipal de
Desenvolvimento  Sustentável, informo que o mesmo se
manifestou contrário à edição de lei que altere
os regramentos e diretrizes determinados  no Plano Diretor,
aprovados anteriormente em audiências públicas,
especialmente em relação a criação de setor misto ou
residencial em área definida como exclusivamente
empresarial, que inclusive, em seu entorno já possui
empreendimentos industriais.

Esse parecer encontra-se  embasado pela deliberação


constante na ata da reunião realizada no dia 04/04 disponível
na Secretaria de Planejamento e Infraestrutura.

Atenciosamente,

_
Amanda Alves Do Prado Tulim
Arquiteta e Urbanista - CAU A58637-4”

Pois bem, o fato é que o loteamento está irregular e


não pode continuar sendo comercializado.

Ademais, sem preterição dos pressupostos já


referidos, todo parcelamento urbano, para ser regular, percorre, normalmente,
várias etapas, indicadas na Lei 6.766/79: passa do momento preliminar de
fixação de diretrizes para a aprovação (arts. 6º e 12); desta, para o registro
especial na competente circunscrição imobiliária (art. 18, "caput" e incisos); e,
por fim, para a execução das pertinentes obras de infraestrutura (as quais, no
entanto, desde que previamente aprovadas, podem preceder a fase.
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Prestigiando a necessidade de licença oficial, a Lei


6.766/79 proíbe que o parcelamento se inicie sem a autorização dos órgãos
públicos (art. 12). E essa norma, que submete o parcelamento à aprovação e
ao registro, é de ordem pública, motivo pelo qual seu descumprimento importa
grave ofensa à comunidade, a ponto de configurar, em tese, delito contra a
Administração Pública (art. 50, I, e parágrafo único, I), de natureza formal,
caracterizado pela simples potencialidade de dano, perigo esse abstrato e
presumido pela lei com a mera prática da conduta incriminada (cf. RUY
ROSADO DE AGUIAR JÚNIOR, "Normas penais sobre o parcelamento do solo
urbano", "in" "Direito do Urbanismo - Uma Visão Sócio-Jurídica", coordenação
de Álvaro Pessoa, IBAM/SP, 1981, págs. 212 e 214; JORGE MEDEIROS DA
SILVA, "Direito Penal Especial", Ed. Revista dos Tribunais, 1981, pág. 68;
ARNALDO RIZZARDO, "Promessa de Compra e Venda e Parcelamento do
Solo Urbano", Ed. Revista dos Tribunais, 1983, 2ª ed., pág. 170; RT 637/243)

Em verdade, a modificação ou a criação de áreas


urbanas é, por natureza, uma função pública, atribuída, essencialmente, ao
Município. Por isso se sustenta, na doutrina, que o particular, quando realiza
um parcelamento urbano, está "em nome próprio, no interesse próprio e às
próprias custas e riscos (...), exercendo uma atividade que pertence ao poder
público municipal, qual seja a de oferecer condições de habitabilidade à
população urbana" (cf. JOSÉ AFONSO DA SILVA, "Direito Urbanístico
Brasileiro", Ed. Revista dos Tribunais, 1981, págs. 376 e 562-563; em sentido
semelhante: EDUARDO GARCÍA DE ENTERRÍA e LUCIANO PAREJO
ALFONSO, "Lecciones de Derecho Urbanistico", Editorial Civitas, Madrid, 1981,
2ª ed., págs. 113/115 e 172/174; REGINA HELENA COSTA, "Princípios de
Direito Urbanístico na Constituição de 1988", "in" "Temas de Direito Urbanístico
- 2", Editora Revista dos Tribunais, 1991, págs. 118/127; EURICO DE
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ANDRADE AZEVEDO, "O Projeto de Lei de Desenvolvimento Urbano", in
"Revista do Advogado", nº 18, julho/85, págs. 36/37).

Por essa razão, o parcelador, antes de iniciar o


empreendimento, deve submetê-lo ao Poder Público, ao qual cabe subordiná-lo
à satisfação dos padrões de desenvolvimento urbano definidos pela legislação
de regência, dentre os quais figuram, no mínimo, os indicados no art. 4º da Lei
6.766/79.

Em última análise, o sistema instituído por esse


diploma está impregnado pela ideia de que o parcelamento do solo, por se
assentar na exploração do domínio, deve subordinar-se, como aquele direito, à
sua função social.

Bem a propósito, comentando a noção de


propriedade que anima a atual Constituição, JOSÉ AFONSO DA SILVA
salienta que "o constituinte desejou inserir, na estrutura mesma da concepção
e do conceito de propriedade, um elemento de transformação positiva que a
ponha ao serviço do desenvolvimento social (...), de tal sorte que a propriedade
não se concebe senão como função social" (cf. "Curso de Direito Constitucional
Positivo", 8ª ed., Malheiros Editores, 1992, pág. 247).

Em harmonia com esse princípio (que constitui o


fundamento da atribuição, do reconhecimento e da garantia da propriedade), a
supremacia geral que o Estado exerce em seu território sobre todas as
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pessoas, bens e atividades habilita-o a múltiplas modalidades de intervenção,
como as que se contêm no poder de polícia. Deste derivam aquelas limitações
de ordem pública para o uso das faculdades inerentes ao domínio e para o
exercício das atividades econômicas, que se condicionam, portanto, à
satisfação das necessidades vitais da coletividade (cf. JOSÉ AFONSO DA
SILVA, "Curso de Direito Constitucional Positivo", págs. 246 e 256; HELY
LOPES MEIRELLES, "Direito Administrativo Brasileiro", 17ª ed., Malheiros
Editores, 1992, págs. 117-119 e 537-540).

Nesse sentido, a Constituição Federal estatui:

"art. 182, caput - A política de desenvolvimento


urbano, executada pelo Poder Público municipal,
conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por
objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das
funções sociais da cidade e garantir o bem estar de
seus habitantes. (...)

§ 2º - A propriedade urbana cumpre sua função


social quando atende às exigências fundamentais de
ordenação da cidade expressas no plano diretor."

Para atender a esse escopo e fiscalizar o respeito às


normas urbanísticas, a Administração deve examinar, previamente, os projetos
de parcelamento do solo com finalidade urbana.

No caso em análise, ciente da impossibilidade de


obter a licença municipal, os requeridos não se preocuparam em consultar o
Poder Público sobre a viabilidade do parcelamento que conceberam. Assim,
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sem a menor cautela, deram início a um loteamento clandestino, com o qual a
comunidade não pode conviver. De resto, por seu principal vício (localização
em zona empresarial), esse empreendimento não comporta regularização.

Repete-se, aqui, a situação verberada por JOSÉ


AFONSO DA SILVA:

"O loteamento clandestino constitui, hoje, uma das


pragas mais daninhas do urbanismo brasileiro.
Loteadores parcelam terrenos, de que, não raro, não
têm título de domínio, por isso não conseguem
aprovação do plano, quando se dignaram a
apresenta-lo à Prefeitura, pois o comum é que
sequer se preocupem com essa providência, que é
onerosa, inclusive por demandar a transferência de
áreas dos logradouros públicos e outras do domínio
público. Feito o loteamento, nessas condições
põem-se os lotes à venda, geralmente para pessoas
de rendas modestas, que, de uma hora para outra,
perdem seus terrenos e a casa que nele ergueram,
também clandestinamente, porque não tinham
documento que lhes permitissem obter a competente
licença para edificar no lote.

"Praticam-se dois crimes de uma vez, um, aos


adquirentes de lotes, e outro, aos princípios
urbanísticos, porque tais loteamentos não recebem o
mínimo de urbanificação que convenha ao traçado
geral da cidade. Tais loteadores não são
urbanificadores, mas especuladores inescrupulosos,
que carecem de corretivos drásticos. Eles criam
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áreas habitadas, praticamente sem serem
habitáveis, por falta de condicionamento urbanístico,
as quais se transformam num quisto urbano de difícil
solução, dada a questão social que nelas
geralmente se envolvem." (cf. "Direito Urbanístico
Brasileiro", Ed. Revista dos Tribunais, 1981, pág.
394)

No caso, não tendo havido aprovação, também era


logicamente impossível o registro do loteamento, que, realmente, não se
efetivou nem pode se efetivar. Bem por isso, nos exatos termos do art. 37, da
Lei 6.766/79, as promessas de venda dos lotes, feitas pelos requeridos, são
ilegais e vêm gerando, para eles, vantagens indevidas.

A respeito desse tema, NARCISO ORLANDI NETO


esclarece:

"O registro do parcelamento tem inúmeros efeitos,


mas seus objetivos são bastante claros: destina-se,
precipuamente, a proteger os interesses dos futuros
adquirentes dos lotes." (cf. "Os Loteamentos
Irregulares e sua Regularização", "in" "Revista do
Advogado", nº 18, pág. 8).

Aliás, a fase registrária é, propriamente, a ocasião


em que o parcelamento ingressa no mundo jurídico. Até a realização do
registro, a gleba dividenda permanece intacta, não se podendo falar na
existência de quadras e lotes, cuja constituição só ocorre com a fragmentação
do imóvel originário, por ele efetivada (cf. DARCY BESSONE, "Da compra e
venda: promessa & reserva de domínio", 3ª ed., São Paulo, Saraiva, 1988,
pág. 86; SÉRGIO A. FRAZÃO DO COUTO, "Manual Teórico e Prático do
Prefeitura da Estância Turística de Tupã
Estado de São Paulo.
Secretaria Municipal de Assuntos Jurídicos
Parcelamento Urbano", Rio de Janeiro, Ed. Forense, 1981, pág. 175;
NARCISO ORLANDI NETO, ob. e loc. cit.).

Na espécie, como já se salientou, não há aprovação


e registro do loteamento e, consequentemente, os requeridos não podem
realizar reservas, vendas ou negócios jurídicos reveladores da intenção de
venda dos lotes.

Ilegal o loteamento - e inviável sua regularização -


os contratos existentes são nulos de pleno direito, sendo impossível seu
cumprimento pelos promitentes vendedores. Estes, ainda que o queiram, não
estão habilitados a transmitirem os domínios, juridicamente inexistentes. Não
se pode tolerar, portanto, que prossigam com as cobranças de prestações,
conduta para a qual não dispõe de justo título.

Assim, em apertada síntese, o empreendimento


efetivado pelos requeridos se afigura irregular, à luz do ordenamento jurídico
Pátrio pelos seguintes motivos: a) a área em testilha é ZONA EMPRESARIAL
e jamais poderá alcançar a condição de chácara de lazer, considerando a
sua localização; b) não há prévio projeto aprovado pelo Município,
tampouco registro do loteamento, exigindo a lei que a propaganda e
alienação de lotes somente poderão ocorrer após tais providências.

Da Incidência Do Código De Defesa Do Consumidor

O parcelamento do solo é uma atividade complexa,


da qual derivam múltiplos efeitos. Um deles está na transformação que opera
na fisionomia física e jurídica da gleba. De fato, com o registro especial,
previsto no art. 18 da Lei 6.766/79, o imóvel primitivo se extingue, ou, pelo
menos, se altera, resultando de sua fragmentação outros imóveis, com
característicos próprios. As unidades, assim constituídas, por serem objeto de
interesse em relação de consumo e estarem destinadas a satisfazer a
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necessidade de moradia ou lazer dos adquirentes, são produtos, na definição
do art. 3º, § 1º, da Lei 8.078/90. Consequentemente, é fornecedor quem,
desenvolvendo atividade mercantil ou civil, os oferece ao mercado (lei citada,
art. 3º, "caput" e § 1º) e consumidor toda pessoa que os adquire ou utiliza,
como destinatário final (idem, art. 2º, "caput").

Na espécie, houve comercialização dos lotes e, por


isso, entre os parceladores e os adquirentes formaram-se uma típica relação
de consumo, como tal regida pelo Código de Defesa do Consumidor.

Dentre os direitos básicos do consumidor figuram a


proteção contra práticas abusivas e a efetiva reparação de seus prejuízos,
decorrentes das relações de consumo (art. 6º, IV e VI, do C.D.C.).

Analisando o conceito de prática abusiva, que


considera, por natureza, "fluido e flexível", ANTÔNIO HERMAN DE
VASCONCELLOS E BENJAMIN assim o interpreta:

"As práticas abusivas não estão regradas apenas


pelo art. 39. Diversamente, espalham-se por todo o
Código. Desse modo, são práticas abusivas a
colocação no mercado de produto ou serviço com
alto grau de nocividade ou periculosidade (art. 10), a
comercialização de produtos e serviços impróprios
(arts. 18, § 6º, e 20, § 2º)...".

"Tampouco limitam-se ao Código de Defesa do


Consumidor. Como decorrência da norma do art. 7º,
"caput", são também práticas abusivas outros
comportamentos empresariais que afetem o
consumidor diretamente, mesmo que previstos em
legislação diversa do Código." (cf. "Código brasileiro
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de defesa do consumidor comentado pelos autores
do anteprojeto", Rio de Janeiro, Forense
Universitária, 1992, pág. 218).

Compreendida nessa acepção ampla, que o Código


de Defesa do Consumidor consagrou, é, sem dúvida, abusiva a prática de
colocar no mercado de consumo produtos juridicamente inexistentes e
inadequados aos fins a que se destinam. E esses vícios, no caso em
análise, são nítidos:

A- os lotes, que só se constituem através do


registro do loteamento, reputam-se inexistentes sem essa formalidade (cf.
DARCY BESSONE, ob. e loc. cit.), configurando crime sua colocação no
mercado de consumo antes de cumprido aquele requisito (Lei 6.766/79,
arts. 37 e 50, I e par. único, I);

B - as restrições urbanísticas e registrárias que


recaem sobre a gleba dividenda e impossibilidade de regularização do
parcelamento impedem a fruição dos lotes segundo as faculdades
próprias dos direitos reais (usar, gozar e dispor: art. 1.228, do Código
Civil), frustrando, notadamente, a possibilidade de edificação de moradias
de lazer pelos consumidores, o que, em última análise, os inutiliza.

Para sanear o mercado e propiciar um equilíbrio de


forças, o Código de Defesa do Consumidor instituiu alguns princípios de ordem
pública, que devem nortear as relações de consumo. Um deles é o "princípio
da proteção da confiança", em que se inspira a garantia legal de adequação do
produto às legítimas expectativas que o seu fornecimento incute nos
consumidores (cf. arts. 18, 24, 25 e 51, I).

Trata-se de garantia imperativa e de resultado,


inerente ao produto, que impõe ao fornecedor a obrigação de entregá-lo ao
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consumo livre de defeitos e apto ao funcionamento segundo os fins que dele
razoavelmente se esperam (cf. CLÁUDIA LIMA MARQUES, "Contratos no
Código de Defesa do Consumidor: o novo regime das relações contratuais",
São Paulo, Ed. Revista dos Tribunais, 1992, págs. 199/202).

Por força dessa garantia, os fornecedores de


produtos respondem solidariamente pelos vícios de qualidade que os tornem
impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam, reputando-se nula
de pleno direito qualquer estipulação contratual que impossibilite, exonere ou
atenue essa responsabilidade legal (cf. arts. 24, 25, 51, I).

Em excelente monografia, CLÁUDIA LIMA


MARQUES explica o critério adotado, a respeito, pelo Código de Defesa do
Consumidor:

"No sistema do CDC, da tradicional responsabilidade


assente na culpa passa-se à presunção legal desta
e conclui-se com a imposição de uma
responsabilidade legal. O novo regime de vícios no
CDC caracteriza-se como um regime de
responsabilidade legal do fornecedor, tanto daquele
que possui um vínculo contratual com o consumidor,
quanto daquele cujo vínculo contratual é apenas
com a cadeia de fornecedores.(...) "Isto significa que
ao fornecedor, no mercado de consumo, a lei impõe
um dever de qualidade dos produtos e serviços que
presta. Descumprido este dever surgirão efeitos
contratuais (inadimplemento contratual ou ônus de
suportar os efeitos da garantia por vício) e
extracontratuais (obrigação de substituir o bem
viciado, mesmo que não haja vínculo contratual, de
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reparar os danos causados pelo produto ou serviço
defeituoso).(...)

"Realmente, a responsabilidade do fornecedor em


seus aspectos contratuais e extracontratuais,
presente nas normas do CDC (arts. 12 a 27), está
objetivada, isto é, concentrada no produto ou no
serviço prestado, concentrada na existência de um
defeito (falha na segurança) ou na existência de um
vício (falha na adequação, na prestabilidade).
Observando a evolução do direito comparado há
toda uma evidência de que o legislador brasileiro se
inspirou na ideia de garantia implícita do sistema da
common law (implied warranty). Assim, o produto ou
serviço prestado trariam em si uma garantia de
adequação para o seu uso e, até mesmo, uma
garantia referente à segurança que deles se espera.
Há efetivamente um novo dever de qualidade
instituído pelo sistema do CDC, um novo dever
anexo à atividade dos fornecedores.

"Trata-se, como afirmamos anteriormente, de uma


responsabilidade legal. O dever anexo de qualidade,
qualidade-adequação, e seu reflexo, o vício por
inadequação do produto ou do serviço, substituem
no sistema do CDC, com largas melhoras, a noção
de vício redibitório." (...)

"Evitar tal vício na qualidade do produto é dever


legal de todos os fornecedores da cadeia de
produção, responsáveis pela introdução do produto
no mercado de consumo. A responsabilidade nasce
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com a simples violação do dever legal, não sendo
seu pressuposto a culpa do fornecedor ou de seu
preposto (negligência, imperícia, imprudência), não
importando, por isso, a ciência, o conhecimento ou
não do vício pelo fornecedor responsabilizando (art.
23 do CDC)." (cf. ob. cit., págs. 182-191).

Considerando que, no caso, não é possível sanar o


vício que macula o produto nem se justifica mero abatimento do preço, a
reparação dos danos pode realizar-se por dois modos alternativos. Em primeiro
lugar, pela substituição do bem por outro da mesma espécie, em perfeitas
condições de uso. Por fim, pela restituição imediata da quantia paga,
monetariamente atualizada, sem prejuízo das perdas e danos individualmente
sofridos pelos consumidores (C.D.C., art. 18, § 1º, I e II).

In casu assenta-se no instituto da responsabilidade


civil, segundo o qual "aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência,
ou imprudência, violar direito, ou causar prejuízo a outrem, fica obrigado a
reparar o dano" (Código Civil, art. 186).

Por terem objeto ilícito - alienação de lotes sem


prévio registro do loteamento -, os contratos que os requeridos celebraram com
os consumidores são nulos (Código Civil, art. 166, II), inexistindo, no caso, a
singular possibilidade de sua convalidação, reservada pela Lei 6.766/79, com
exclusividade, aos loteamentos suscetíveis de regularização, categoria em que
não se insere a espécie de que se trata.

Aliás, não se trata, no caso, de um ilícito qualquer,


pois, por esse modo reprovável e atingindo o patrimônio de terceiros de boa-fé,
ocorreu, em tese um delito (Lei 6.766/79, art. 50, I, e parágrafo único, I).
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Posta a questão sob o prisma da tipicidade penal, é
claro que os agentes desse delito são pessoalmente obrigados à composição
dos danos que deles advieram, precisamente porque praticaram. Pouco
importa que ainda não tenham sido condenados, pois os campos de ação da lei
penal e da lei civil são distintos e as respectivas responsabilidades, em
princípio, independentes (Código Civil, art. 935).

Nem seria razoável dispensar os fornecedores da


reparação dos danos, quando é certo que, embora tenham auferido parcelas
do preço, estão impedidos de cumprir a contraprestação a que se obrigaram.
Houve, em verdade, típico enriquecimento sem causa, a justificar correlata
indenização.

DA MEDIDA LIMINAR

Tudo posto, considerando todo o conteúdo fático e


as provas que embasam a presente ação, não é plausível que se mantenha a
situação de grave risco ambiental e urbanístico acima delineado.

O art. 12 da Lei nº 7.347/85, autoriza a concessão


de liminar com ou sem justificação prévia.

E a Lei nº 8.078/90 dispõe:

“Art. 83:- Para defesa dos direitos e interesses


protegidos por este Código são admissíveis todas as
espécies de ações capazes de propiciar sua
adequada e efetiva tutela”.

“Art. 84:- Na ação que tenha por objeto o


cumprimento da obrigação de fazer ou não fazer,
o Juiz concederá a tutela específica da obrigação
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ou determinará providências que assegurem o
resultado prático equivalente ao adimplemento.

§ 5º - Para a tutela específica ou para a obtenção


do resultado prático equivalente, poderá o juiz
determinar as medidas necessárias, tais como
busca e apreensão, remoção de coisas e
pessoas, desfazimento de obra, impedimento de
atividade nociva além de requisição de força
policial” (g.n.).

O Código de Processo Civil, também sobre a tutela


provisória de urgência, estabelece:

“Art. 300. A tutela de urgência será concedida


quando houver elementos que evidenciem a
probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco
ao resultado útil do processo”

In casu, tem espaço, igualmente, o instituto da tutela


inibitória e da remoção do ilícito, escorados no art. 5º, XXXV, da Carta Magna,
que assim prevê:
“XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder
Judiciário lesão ou ameaça a direito” (grifei).

No dizer de LUIZ GUILHERME MARINONI, “A ação


inibitória se funda no próprio direito material. Se várias situações de direito
substancial, diante de sua natureza, são absolutamente invioláveis, é evidente
a necessidade de se admitir uma ação de conhecimento preventiva. Do
contrário, as normas que proclamam direitos, ou objetivam proteger bens
fundamentais, não teriam qualquer significação prática, pois poderiam ser
violadas a qualquer momento, restando somente o ressarcimento do dano”
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Tais regras processuais são aplicáveis a qualquer


ação civil pública que tenha por objeto a defesa de interesse difuso, coletivo ou
individual homogêneo (artigo 21, da Lei da Ação Civil Pública, com a redação
dada pelo artigo 117, do Código de Defesa do Consumidor).

Insta trazer à baila os ensinamentos do renomado


doutrinador Humberto Theodoro Junior:

“Mais além desses requisitos gerais, em se tratando


de medidas extraordinárias, é natural que as
medidas cautelares se subordinem também a
condições extraordinárias, ou específicas.
(...)
Esses requisitos, aliás, já se acham consagrados
uniformemente pela doutrina e costumam ser
sintetizados nos conceitos do fumus boni iuris e do
periculum in mora.
(...)
No caso das medidas preventivas, a necessidade
que configura o requisito do interesse, corresponde
a impossibilidade de obter a eficácia da tutela
jurisdicional definitiva por seus próprios meios, dado
o tempo reclamado pelo processo e dada a
iminência de dano jurídico antes do provimento.”

No caso, o fumus boni juris está patenteado pelos


dispositivos legais já citados, contrários à execução de loteamentos sem
autorização dos órgãos públicos e à realização de alienações, promessas de
venda ou reservas de lotes antes de seu registro.
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Por outro lado, não é razoável exigir-se que a
comunidade e os adquirentes dos lotes fiquem expostos, até o provimento
jurisdicional definitivo, aos efeitos deletérios já mencionados, dos quais
decorrem sérios riscos quantos aos resultados úteis da presente demanda
(periculum in mora).

Com efeito, se prosseguirem os atos de venda, e se


não houver ampla divulgação da ilegalidade do loteamento, a recomposição do
estado primitivo da gleba e a indenização dos danos urbanísticos serão de
difícil reparação, com previsível comprometimento do padrão de
desenvolvimento urbano.

Ademais, tendo havido diversas promessas de


venda, é intuitivo que os promitentes-compradores, se não forem avisados
sobre a impossibilidade de fazê-lo, em breve edificarão nas unidades
integrantes do loteamento clandestino, com a probabilidade de se criar uma
situação social praticamente irreversível, causada pela desordenada ocupação
do solo.

Essas constantes alienações de lotes, a despeito de


disposição legal em contrário, tornam iminente o perigo de ocupação da área,
imprestável, contudo, ao aproveitamento ali projetado. Deve-se impedir,
portanto, a continuidade do empreendimento, por meio de provimento cautelar
"inaudita altera pars", independentemente de prévia justificação, de sorte a
resguardar a eficácia da ordem, se concedida ao final.

Pelos mesmos motivos, justifica-se ordem liminar,


para que os requeridos, sem prejuízo da exibição dos instrumentos em que
manifestaram intenção de venda, relacionem todos os lotes alienados e
respectivos adquirentes, os contratos já quitados e a forma e local de
pagamento das prestações vencidas e vincendas. Esses dados probatórios
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interessam à demanda, pois permitem a identificação das pessoas que
sofreram danos, decorrentes do fornecimento dos produtos viciados. Com a
determinação dos consumidores lesados, o autor estará apto a orientá-los,
inclusive acerca de sua facultativa intervenção como litisconsortes, tornando
efetiva a comunicação por edital prevista no art. 94 do Código de Defesa do
Consumidor, de cujo cumprimento, entretanto, não se pode prescindir.

PEDIDOS

Diante do exposto, sem prejuízo das penas do crime


de desobediência (art. 330 do Código Penal) e sob cominação de multa de 10
(dez) salários mínimos devidos por qualquer ato praticado em desacordo à
ordem judicial, REQUER a concessão de MEDIDA LIMINAR, "inaudita altera
pars" e sem justificação prévia, para determinar aos requeridos:

I) obrigações de fazer, para cumprimento no


prazo de 15 dias, consistentes em:

a) exibir os respectivos instrumentos e apresentar


em Juízo relação de todos os lotes alienados e respectivos adquirentes, com
indicação dos contratos já quitados, bem como da forma e local de pagamento
das prestações vencidas e vincendas;

b) colocar e manter aviso (por placa ou faixa de no


mínimo 5m²), na entrada do imóvel parcelado e de modo bem visível aos
transeuntes, informando que o loteamento projetado não pode ser executado,
por ser ilegal, indicando o número do presente processo judicial.

II) obrigações de não fazer, consistentes em se


abster de:
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a) realizar vendas, promessas de venda, reservas ou


quaisquer negócios jurídicos que manifestem intenção de vender lotes do
referido loteamento, bem como fazer a respectiva publicidade;

b) receber prestações, vencidas e vincendas,


previstas nos contratos já celebrados e relativas aos lotes do parcelamento
irregular;

c) praticar atos de parcelamento material


(loteamento ou desmembramento) no imóvel adrede descrito, inclusive serviços
de terraplanagem, topografia, abertura de vias de circulação e demarcação de
quadras e lotes ou qualquer construção.

III) Postula, outrossim, pela a citação dos


requeridos para resposta no prazo legal, advertindo-os de que, não sendo
contestada a ação, ficarão sujeitos aos efeitos da revelia;

IV) Requer a publicação do edital de que trata o


art. 94 do Código de Defesa do Consumidor;

V) Clama ao final, pela procedência da ação,


condenando os requeridos na obrigação de não fazer, consistentes na
abstenção das condutas de parcelamento e modificação da área, devendo
mantê-la preservada até final do processo, sem qualquer intervenção; e,
nas obrigações de fazer, consistentes na prática dos seguintes
comportamentos:
1 - restaurar o estado primitivo do imóvel,
retirando do local todos os vestígios de obras e parcelamento,
notadamente marcos de quadras, lotes, alambrados, muros e vias de
circulação e restabelecer a vegetação nativa;
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2 - substituir os lotes negociados por outros
imóveis, regulares e em perfeitas condições de uso urbano ou restituir
imediatamente as quantias pagas, com atualização monetária, e indenizar
as perdas e danos sofridos pelos consumidores.

VI- Requer seja fixada multa diária de 10 (dez)


salários mínimos devida por qualquer ato praticado em desacordo à
ordem judicial, destinada ao poder público municipal.

VII - Requer seja expedido ofício para Eixo SP


Concessionária de Rodovias S.A., sito na SP 310 Rodovia Washington
Luís, s/n, km 216+800, pista Sul - CEP 13530-000 Itirapina-SP / Cx. Postal:
1040 CEP 13566-970 - São Carlos-SP, telefone  0800 170 8998, e-mail
atendimento@eixosp.com.br para manifestar sofre a situação de risco no
acesso ao loteamento (RODOVIA JOÃO RIBEIRO DE BARROS –
ESTRADA DO SABIÁ, com coordenadas aproximadas 21°57'36.4"S
50°28'54.6"W) e qual o orçamento para implantação de trevo ou
dispositivo que garanta a segurança dos usuários da rodovia, com o fito
de condenar os loteadores na obrigação da implantação do equipamento
de segurança.

VIII- Protesta pela produção de todas as provas


admitidas em Direito, notadamente documentos, depoimento pessoal dos réus,
sob pena de confissão, oitiva de testemunhas, realização de perícias e
inspeções judiciais;

IX - Requer a condenação dos requeridos nas


verbas de sucumbência, custas processuais e demais ônus processuais.
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Atribui à causa o valor de R$ 11.960.000,00 (onze
milhões, novecentos e sessenta mil reais), equivalente ao valor da unidade de
R$ 130.000,00 multiplicado pelas 92 unidades existentes.

Data e assinatura digitais.

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