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Poder Judiciário
JUSTIÇA FEDERAL
Seção Judiciária de Santa Catarina
1ª Vara Federal de Chapecó
Rua Florianópolis, 901-D, Justiça Federal - Bairro: Jardim Itália - CEP: 89814-045 - Fone: (49)3361-1330 -
www.trf4.jus.br - Email: sccha01@jfsc.jus.br
SENTENÇA
o exercício do direito constitucional à ampla defesa por parte dos requeridos (art. 5º, LV).
Além disso, verifica-se que os envolvidos não tiveram participação idêntica nas práticas
criminosas ora denunciadas, de modo que a instrução processual poderá ter andamento
diferenciado em relação aos dois grupos. Por fim, em relação aos investigados denunciados
na ação penal conexa, o Ministério Público Federal entende que o Acordo de Não Persecução
Penal previsto no art. 28-A do Código de Processo Penal mostra-se, em princípio, necessário
e suficiente à reprovação e prevenção do crime – o que não ocorre com os ora denunciados,
tendo em vista a reiteração delitiva. Dessa forma, estão sendo oferecidas nesta data duas
denúncias, que serão distribuídas por conexão, ambas descrevendo todos os atos criminosos –
de forma a não se perder o contexto em que praticados –, mas imputando, em cada uma delas,
as condutas criminosas relativas aos respectivos denunciados. Na primeira, foram agrupados
os envolvidos em atos criminosos reiterados, que resultaram em dano ao erário, em relação
aos quais não é o caso de oferecimento de Acordo de Não Persecução Penal (ANPP); na
segunda, os demais envolvidos, que também praticaram condutas que configuram ilícitos
criminais, mas em relação aos quais é possível o oferecimento de ANPP. Esta ação refere-se
ao primeiro grupo, abrangendo as pessoas físicas envolvidas em condutas que fraudaram e
frustaram, mediante ajuste e combinação, o caráter competitivo do procedimento licitatório,
tudo com o objetivo de obter, para si e para outrem, a vantagem decorrente da adjudicação do
objeto da licitação, mas a quem não oferece-se Acordo de Não Persecução Penal.1) Pregão
Presencial nº 01/2009 (Processo Licitatório nº 01/2009): Em 2009, o município de São
Domingos realizou o Pregão Presencial nº 01/2009 para atender ao transporte escolar (cópia
do procedimento no Anexo II, Vol. 1 e 2, do IC). Ao final do certame, foram contratadas,
dentre outras, as empresas GILMAR ACHILES MARMENTINI ME e NEUDI JOSÉ BURATTI
ME. O contrato sofreu diversos aditivos e permaneceu vigente até o fim do ano de 2013 (fls.
50-54 do IC e fls. 500-507, 516-523, 554, 558, 579-580, 591-592, 638-639, 653-654, 690-691
e 696-697 do Anexo II, Vol. 2, do IC). O Edital (fls. 2-17 do Anexo II, Vol. 1, do IC) previu, em
seu item 1.11, que o prazo de vigência do contrato decorrente daquele processo licitatório iria
até o final do exercício de 2009, podendo ser prorrogado, a critério da Administração, por
períodos sucessivos de 12 (doze) meses cada um (para os anos letivos de 2010, 2011 e 2012)
até no máximo de 36 (trinta e seis) meses de prorrogação. No entanto, os contratos foram
prorrogados até o ano letivo de 2013, conforme os Termos Aditivos nº 115 e nº 117, ambos de
15 de dezembro de 2012 (fls. 690-691 e 696- 697 do Anexo II, Vol. 2, do IC). Ainda no ano de
2012, NEUDI JOSÉ BURATTI e GILMAR ACHILES MARMENTINI, proprietários das
empresas citadas acima, disputaram as eleições municipais. NEUDI elegeu-se vereador e
GILMAR, segundo suplente de vereador, ambos pelo Partido dos Trabalhadores (PT).
Portanto, desde 01/01/2013, quando houve a diplomação, o então vereador NEUDI JOSÉ
BURATTI acumulou a atividade de vereança com a qualidade de contratado pela prefeitura do
município em que atuava como vereador (fls. 61-65 do Anexo I do IC). GILMAR ACHILES
MARMENTINI também exerceu o cargo de vereador durante a vigência do contrato (fls. 66-76
5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771
https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 4/182
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Com relação ao Pregão Presencial n° 01/2009, que foi deflagrado antes das eleições de 2012
e, portanto, muito antes do início do mandato de NEUDI JOSÉ BURATTI e da suplência de
GILMAR ACHILES MARMENTINI, e pretendia contratar empresas de transporte escolar
para 21 trajetos no interior do município de São Domingos/SC, foi possível observar certa
proporcionalidade quanto à distribuição do objeto licitado entre as empresas participantes,
sobressaindo-se, no entanto, a empresa de NEUDI JOSÉ BURATTI, com 6 linhas (28,6%),
ainda assim, dentro de uma aparente normalidade (conforme Termo de Homologação e Termo
de Adjudicação, respectivamente, de fls. 452-457 e f. 458 do Anexo II, Vol. 2, do IC). Da
mesma forma, as propostas apresentadas pelos concorrentes continham valores quase sempre
abaixo do valor máximo do quilômetro estipulado pelo edital e esses valores ainda sofreram
significativa redução na fase de lances, evidenciando, em princípio, a existência de alguma
disputa pelas rotas entre as empresas participantes (Demonstrativo de Lances – fls. 411-436
do Anexo II, Vol. 2, do IC). Com exemplo, cita-se o trajeto da “linha 03”, que tinha como
valor máximo definido no edital a ser pago por quilômetro rodado a importância de R$ 1,60
(item 1.8 do edital – f. 05 do Anexo II, Vol. 1, do IC). As propostas constantes nos envelopes
das 8 empresas que concorreram por esta linha foram de R$1,58; R$1,52; R$1,50; R$1,48;
R$1,45; R$1,45; R$1,44; e R$1,40, sendo que, após a fase de lances, a linha foi contratada
por R$ 1,03 por quilômetro rodado (f. 415 do Anexo II, Vol. 1, do IC), uma redução de mais de
35% sobre o preço inicial definido pelo município de São Domingos. A “linha 03” foi
disputada por 4 empresas na fase de lances, que juntas apresentaram um total de 19 ofertas,
antes de o certame finalizar ao preço de R$ 1,03. Em média, o preço da menor proposta para
cada trajeto foi reduzido em 15% após a realização da fase de lances (fls. 501-502 do IC). 2)
Pregão Presencial nº 01/2014 (Processo Administrativo nº 01/2014): Finalizada a vigência
dos Contratos Administrativos resultantes do Pregão Presencial nº 01/2009, deu-se início a
novo processo licitatório com idêntico objeto – Pregão Presencial nº 01/2014 –, para
contratação para o ano de 2014 (cópia no Anexo II, Vol. 3, do IC). Como se verá adiante, a
partir deste momento, que é marcado pelo fim do Processo Licitatório nº 01/2009, nota-se a
existência de clara combinação prévia entre as empresas participantes dos certames com o
objetivo de atingir o ganho máximo em cada um dos itens licitados, em prejuízo aos interesses
da municipalidade. Assim, a segunda licitação (Procedimento Licitatório nº 01/2014, Pregão
Presencial nº 01/2014 – edital em fls. 05-17 do Anexo II, Vol. 3, do IC), realizada em 2014,
manteve-se vigente, com aditivos, até o fim de 2015 (contratos de fls. 171-175, 224-227, 249-
252 e 269-272, e termos aditivos de fls. 317-318, 320-321, 323-324 e 326-327, todos do Anexo
II, Vol. 3, do IC). Novamente as empresas NEUDI JOSÉ BURATTI ME e GILMAR ACHILES
MARMENTINI ME figuraram entre os vencedores do certame. Contudo, diferentemente do
ocorrido no procedimento licitatório n. 01/2009, desta vez, NEUDI e GILMAR estavam, desde
o princípio, na condição de vereador e segundo suplente, respectivamente, sendo que o último
assumiu a vereança em diversos períodos (fls. 66-76 do Anexo I do IC). NEUDI, aliás, tornou-
se presidente da Casa Legislativa de São Domingos a partir do ano de 2015. Ademais, nessa
licitação realizada em 2014, a abertura dos envelopes de propostas revelou uma conveniente
distribuição das rotas entre os participantes e, de forma curiosa, praticamente todas elas pelo
valor máximo proposto no edital. Das 14 rotas ofertadas, somente em uma houve dois
interessados, que são irmãos – AIRTON SENA MIOTTO e LUIZ ALBERTO MIOTO (conforme
documentos de fls. 69 e 78 do Anexo II, Vol. 3, do IC). Ainda assim, a redução obtida foi
irrisória nesse item, de apenas 1 centavo! (f. 107 do Anexo II, Vol. 3, do IC). Em todas as
demais rotas, houve proposta de apenas um licitante (conforme Ata da Sessão Pública e
Quadro Comparativo de Preços de fls. 96-109 do Anexo II, Vol. 3, do IC). Não bastasse essa
evidente distribuição de rotas entre os licitantes – com total complacência dos agentes
públicos envolvidos –, a Administração Municipal constatou, após a publicação do Processo
Licitatório 01/2014, redução considerável de alunos no trajeto da “linha 02”, autorizando a
utilização de veículo com menor capacidade – de 22 lugares para 15 lugares –, para realizar o
trajeto, sem adequação no valor do quilômetro rodado, nem mesmo no aditivo que alterou o
valor dos contratos para o ano seguinte (fls. 169-170 do Anexo II, Vol. 3, do IC). Cabe
destacar que a cláusula 1.2 do contrato Prefe. n. 008, de 10/02/2014 (f. 171 do Anexo IV, Vol.
2, do IC), firmado com a empresa de NEUDI JOSÉ BURATTI, é claro ao estabelecer que:
5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771
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Cabe destacar que o trajeto nominado “linha 02” foi vencido por NEUDI JOSÉ BURATTI.
Inclusive, 7 das 14 rotas ofertadas foram vencidas por NEUDI JOSÉ BURATTI e 3 por
GILMAR ACHILES MARMENTINI. Abaixo, tabela que sintetiza as propostas ofertadas e as
propostas vencedoras, demonstrando de forma evidente o conluio entre os participantes:
Consequentemente, fica evidente a evolução das receitas das empresas citadas no período
compreendido pelos PL-01/2019 (ano de 2013 – último ano de vigência do PL 01/2009) e PL
01/2014 (anos de 2014 e 2015), a partir da consulta à aba de despesas por credor do Portal
de Transparência do município de São Domingos/SC3 :
Cabe registrar, ainda, que não foi realizada qualquer pesquisa de mercado, na fase interna do
Pregão Presencial nº 01/2014, a fim de estabelecer o valor máximo a ser pago pela
Administração. Os agentes públicos ouvidos em sede policial limitaram-se a afirmar que não
sabem se tal procedimento foi adotado nesta licitação, e que tal procedimento sempre era
realizado4 , especialmente por meio de contato telefônico com as empresas, mas sem trazer
qualquer comprovação neste sentido. Diante de todas essas irregularidades, cópia integral do
Inquérito Civil foi encaminhada ao órgão da Controladoria Geral da União (CGU) em Santa
Catarina para análise mais aprofundada dos documentos que o compõem. Em resposta, a
CGU encaminhou a Nota Técnica nº 281/2017/NAE/SC/Regional/SC (f. 512-524 do IC), que
aponta importantes constatações, relacionadas de forma resumida abaixo – nos pontos
relevantes para o caso:
publicado somente em 13/01/2014 (fls. 29-31 do Anexo II, Vol. 3 do IC), resta evidente
que NEUDI JOSÉ BURATTI teve conhecimento prévio da existência/conteúdo do edital
antes de sua publicação oficial, o que configura flagrante violação aos princípios da
moralidade e da impessoalidade e aos interesses da própria Administração Pública.
Salienta-se que a justificativa apresentada por PAULA NATANA CAMMACHIO em seu
depoimento à Polícia Federal (evento 9, INQ1, pp. 27/28 do IPL), segundo quem a
empresa de NEUDI teria sido contatada na pesquisa de preços realizada previamente à
licitação, de modo que teria tomado conhecimento da iminência da publicação do edital
desta forma, mas que o edital apenas teria sido efetivamente enviado após sua
publicação, não convence, já que NEUDI, em sentido contrário, declarou não ter
tomado conhecimento do mencionado edital previamente, e que a empresa de
contabilidade era quem o avisava acerca das licitações (evento 9, INQ1, p. 9); b.2) não
foi identificado no processo nenhuma pesquisa de preços elaborada pelo pregoeiro ou
pela comissão licitante que tenha embasado a definição dos valores previstos no edital.
Ademais, no item 6.3.3.4.4 do Relatório, a CGU traça um paralelo entre os preços
máximos previstos no Pregão Presencial nº 001/2009 e aqueles previstos no Pregão
Presencial nº 001/2014, evidenciando (conforme tabela de f. 522-v do IC) aumento do
valor do km rodado entre as duas licitações em percentual superior ao IPCA Geral ou
IGP-M para o período, em especial para o veículo de lotação máxima de 26
passageiros (cerca de 18% acima da inflação do período); b.3) similaridade entre as
propostas apresentadas por licitantes distintos. A CGU aponta “características
similares na qualidade de impressão (tonalidade, nitidez), nos espaçamentos, nos
conteúdos dos textos, no tipo e no tamanho de caracteres” entre as propostas
apresentadas por GILMAR AQUILES MARMENTINI ME e LAURO VALDECIR
WALENDORFF ME (fls. 86 e 88 do Anexo II, Vol. 3, do IC), conforme abaixo
reproduzido:
Da mesma forma, aponta que as propostas de AIRTON SENA MIOTTO ME e LUIZ ALBERTO
MIOTTO ME para o item 1 “continham muitas semelhanças entre si, com destaque para a
numeração e conteúdo da legenda do quadro contendo o valor da proposta, para o igual valor
unitário do km rodado (R$ 2,15), o conteúdo e o formato do endereçamento e a descrição do
objeto” (fls. 92 e 94 do Anexo II, Vol. 3, do IC), conforme se verifica nas reproduções abaixo:
Tais constatações denotam evidente troca de modelos de propostas entre empresas que seriam
hipoteticamente licitantes concorrentes no certame. b.4) as propostas apresentadas para todos
os itens foram no mesmo valor previsto no edital. Ademais, todos os licitantes venceram todos
os itens que ofertaram, sem redução de preço (à exceção da redução de 1 centavo na oferta de
LUIZ ALBERTO MIOTTO ME); b.5) existência de apenas um único item com mais de uma
proposta. Chama a atenção, assim, o comportamento da pregoeira, ANA CLÁUDIA BARIZON
FONTANA DA LUZ, que “considerou vantajosas para o município as demais propostas em
que nada foi diminuído diante do valor previsto no edital”. Com relação ao único item em que
houve redução do valor da proposta – de apenas 1 centavo! – a pregoeira registrou que
(Anexo II, Vol. 3, p. 103):
O licitante LUIZ ALBERTO MIOTTO – ME declarou que não possui condições de melhorar
ainda mais a proposta. O pregoeiro, face a essa manifestação, também por entender que as
propostas ofertadas na última rodada de lances são vantajosas para o município, declara
vencedor do item 9 deste Pregão Presencial o fornecedor LUIZ ALBERTO MIOTTO – ME
pelo valor de R$ 2,14 (dois reais e quatorze centavos). [negritei]
Semelhante manifestação da pregoeira consta para cada um dos demais itens licitados, em
que não houve qualquer redução dos valores ofertadas pelo único licitante em cada um desses
itens (Anexo II, Vol. 3, p. 101-104). Como resultado, em apenas um dos itens houve redução de
apenas R$ 0,01 (um centavo!!!). Ou seja, conforme conclusão da CGU: “cada licitante
escolheu as linhas que desejaria atuar, elaborou proposta com o mesmo preço previsto no
edital e venceu exatamente os itens ofertados, sem disputa, maximizando o preço”. Embora
nítida a falta de entusiasmo dos participantes em concorrer pelos itens ofertados, a pregoeira
considerou as propostas vantajosas à administração pública; b.6) não foram aplicadas as
penalidades previstas para a hipótese de descumprimento do prazo máximo estipulado para
assinatura do contrato, para o contrato PREFE nº 08, entre a prefeitura municipal e NEUDI
JOSÉ BURATTI ME; b.7) foi retirada no segundo certame a limitação quanto ao tempo
máximo de uso dos veículos para a prestação dos serviços, em detrimento da qualidade dos
serviços ofertados; b.8) quanto aos veículos apresentados por NEUDI JOSÉ BURATTI ME,
destacou a CGU apresentação de veículo fora do prazo e fora das especificações para a rota,
além de situação que poderia configurar subcontratação travestida de contrato de comodato
entre NEUDI JOSÉ BURATTI e NEODIMIR LUIZ BURATTI, que são irmãos; b.9) previsão
no edital de curto espaço de tempo entre a data de homologação do certame e a data limite
para assinatura do contrato (apenas 3 dias), o que pode ter afastado eventuais interessados.
Destaca a CGU, contudo, que a municipalidade
flexibilizou informal e indevidamente esse prazo para os vencedores de itens do pregão; b.10)
descumprimento da capacidade de lotação exigida para as linhas 2, 4 e 5, sem qualquer
justificativa para as duas últimas; b.11) foi identificado no próprio município de São
Domingos um contrato emergencial, de 02/2013, com valor abaixo daqueles estabelecidos nos
contratos correspondentes do pregão presencial 001/2014, podendo representar sobrepreço
dos valores estabelecidos no certame. Nessa contratação emergencial, a empresa contratada
sujeitou-se a prestar o serviço em regime emergencial pelo valor de R$ 1,79/km rodado no
período de fevereiro a abril de 2013, sugerindo que o valor de R$ 1,80 em janeiro de 2009 já
estaria superfaturado. Tal fato denota ainda maior gravidade diante da ausência de pesquisa
de mercado para definição dos preços de referência do edital; d.12) ausência de publicação de
errata do edital acerca da alteração da capacidade máxima de lotação de veículo (de 22 para
16 passageiros, mantendo o valor licitado). No caso da linha 2, o valor do km rodado deveria
então corresponder a R$ 2,15 em vez dos R$ 2,70 contratados; d.13) existência de vínculos de
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Questionada sobre diversos pontos destacados pela CGU, a Prefeitura Municipal de São
Domingos encaminhou esclarecimentos (fls. 534-536 do IC). Com relação à retirada da
restrição de ano de fabricação do veículo, afirmou que isso acabaria por reduzir
significativamente o número de participantes – ressalte-se, contudo, que essa redução de
licitantes ocorreu justamente nesse pregão, mas não no certame anterior, que continha essa
exigência. Sobre as pesquisas de preços, afirmou que elas teriam ocorrido “de maneira
informal”, por contato telefônico. Com relação às demais irregularidades, afirma, em geral,
que não teriam causado prejuízo ao erário nem violado normas do edital. Posteriormente, em
decorrência do 4º Ciclo do Programa de Fiscalização de Entes Federativos, a CGU realizou
fiscalização no município de São Domingos/SC, no período de 25 a 29 de setembro de 2017
(relatório juntado às fls. 543-555 do IC e no evento 1, INQ4, pp. 5-24, do IPL). Em que pese a
inspeção da CGU ter sido realizada durante a vigência do procedimento licitatório 08/2017,
foram selecionados, para exame, recursos no montante de R$ 229.060,38 do orçamento do
Governo Federal, no período de 01 de janeiro de 2014 a 31 de dezembro de 2016, para
execução do Programa Nacional de Apoio ao Transporte Escolar (PNATE) do município de
São Domingos. Nessa fiscalização, restou confirmada a existência de vínculos entre os
licitantes. Nesse sentido, a CGU aponta que as empresas AIRTON SENA MIOTTO EIRELI –
ME (CNPJ nº 08.446.332/0001-52), LUIZ ALBERTO MIOTTO – ME (CNPJ nº
04.885.124/0001-52) e JL MIOTTO – TRANSPORTE – ME (CNPJ n° 17.208.378/0001-88)
operam no mesmo endereço e possuem o mesmo contador. Ademais, AIRTON e LUIZ são
irmãos e a titular da terceira empresa é esposa de um deles. Ainda, destaca que AIRTON
consta como empregado da empresa da LUIZ ALBERTO em diversos períodos entre 2009 e
2015.
Sobre as alegações apresentadas pela Prefeitura à CGU, em que afirma não encontrar óbice
legal para a participação de empresas da mesma família em certame licitatório, o órgão de
controle aponta, primeiro, haver fortes indícios de acerto prévio das propostas. Ademais,
destaca que o entendimento do Tribunal de Contas da União indica haver, no mínimo, quebra
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de sigilo das propostas nessa situação (Acórdão nº 3088/2010 do Plenário da Corte). ANA
CLAUDIA BARIZON FONTANA DA LUZ, pregoeira do certame, foi ouvida durante a
apuração (fls. 575-577), tendo informado que os participantes alegaram que o valor do
quilômetro rodado pago pela prefeitura de São Domingos estaria muito abaixo do valor
praticado na região. Em sua oitiva em sede policial5 , afirmou que teria sido realizada
pesquisa de preços, mas não soube dizer o motivo pelo qual não há registro dessa pesquisa (f.
601). Contudo, foi elaborada planilha evolutiva de valores com o objetivo de avaliar a
situação6
Importante registrar que o valor inicialmente proposto pelo edital de 2009 para a rota 14 foi
de R$1,80 o km rodado e o lance vencedor foi de R$1,39 – o que denota, em princípio, efetiva
competição entre os licitantes daquele certame. Dessa forma, evidente o prejuízo ao erário
decorrente da nova contratação que, segundo os dados da planilha acima, seria ao menos
43,6% superior aos valores dos serviços que já estavam sendo prestados ao município,
inclusive por meio de uma contratação emergencial. Destaca-se, contudo, que as diligências
realizadas pela Polícia Federal nos autos do IPL mencionado não lograram trazer elementos
adicionais das práticas delitivas. Com efeito, verifica-se que elas restringiram-se à oitiva dos
próprios investigados LUIZ ALBERTO MIOTTO, AIRTON SENA MIOTTO, LAURO
VALDECIR WALENDORFF, NEUDI JOSÉ BURATTI e GILMAR ACHILES MARMENTINI
(Evento 9, INQ1, PP. 2-11), que limitaram-se a negar genericamente o ajuste e combinação de
preços entre os licitantes, e do então prefeito ALCIMAR GOMES (evento 9, INQ1, pp.. 12/13),
que negou participar diretamente das licitações. Destaca-se, ainda, a elaboração do Laudo
Pericial pelo Setor TécnicoCientífico (SETEC) da Polícia Federal (Evento 13, INQ1, p. 4-7).
Nesse documento, os peritos não apontam a ocorrência de superfaturamento, pois os valores
licitados estariam de acordo com os preços de mercado, obtidos a partir de pesquisas
realizadas no site do Tribunal de Contas do Estado e nos portais de transparência de alguns
municípios de Santa Catarina7 .
Contudo, tal conclusão não afasta o prejuízo causado ao erário pela ação, no mínimo culposa,
dos agentes públicos envolvidos, que não realizaram formalmente nenhuma pesquisa de
mercado a justificar os preços máximos estabelecidos no certame e, mais grave ainda,
ignoraram o próprio valor que já estava sendo pago pelo município para a prestação de
idêntico serviço – inclusive com prorrogações contratuais e reajustes segundo índices
inflacionários – e resolveram simplesmente majorar os valores até então praticados,
beneficiando as empresas, que escancaradamente dividiram os lotes entre si e forçaram a
contratação pelo preço máximo estabelecido no edital, relembrando, ainda, que algumas
dessas empresas – firmas individuais, na verdade – mantinham forte ligação políticopartidária
com o Governo Municipal. Aliás, todas essas circunstâncias denotam a intenção deliberada
desses agentes públicos em beneficiar essas empresas, a caracterizar o dolo de suas condutas.
Não restam dúvidas, portanto, acerca do prévio acertos entre os licitantes com relação às
propostas apresentadas no pregão – uma verdadeira “ação entre amigos” –, que contou com a
complacência e o favorecimento deliberado dos agentes públicos diretamente envolvidos – ou,
no mínimo, decorrente de culpa grave –, resultando em prejuízo à municipalidade e à União,
cujo cálculo do montante é apresentado mais adiante, além da prática criminosa descrita no
artigo 90 da Lei nº 8.666/93, que é objeto da presente denúncia. 3) Pregão Presencial nº
04/2016 (Processo Administrativo nº 06/2016): No início de fevereiro de 2016 foi lançado
outro processo licitatório, o Pregão Presencial nº 04/2016, para contratação de empresas
para realização do transporte escolar em São Domingos/SC (Anexo IV, Vol. 4, do IC). Havia
neste edital a previsão de que a fabricação dos veículos não poderia ser inferior ao ano de
2002. Ou seja, veículos com até 14 anos de uso poderiam participar, sendo que a
recomendação do FNDE é que os veículos tenham no máximo 7 anos de uso. Com relação à
empresa GILMAR ACHILES MARMENTINI ME, pertencente ao então suplente de vereador
GILMAR ACHILES MARMENTINI, essa empresa concorreu em apenas uma rota (rota 13), e
a venceu com proposta de apenas R$ 0,11 abaixo de sua proposta inicial e R$ 0,01 abaixo da
melhor proposta apresentada ainda na fase de abertura de envelopes. Não houve participação
da empresa NEUDI JOSÉ BURATTI ME, do vereador do município de São Domingos. No
entanto, seu filho, EVERTON MEOTTI BURATTI, titular da empresa EVERTON MEOTTI
BURATTI ME (CNPJ nº 24.130.629/0001-14), sagrou-se vencedor em 6 das 13 linhas
ofertadas pelo município, que, conforme descrito adiante, entendeu não haver vedação legal
para a contratação. Verifica-se que a empresa de EVERTON MEOTTI BURATI foi aberta em
05/02/2016 (conforme documento da JUCESC de f. 94, Anexo IV, Vol. 4), dois dias após o
lançamento do Edital. Essa empresa ainda apresentou como motorista Luiz Carlos
Marmentini (possível parente de GILMAR ACHILES MARMENTINI, proprietário de empresa
supostamente concorrente). A Pregoeira nomeada que presidiu a comissão de licitação a
partir deste momento foi PAULA NATANA COMACHIO, que possui o mesmo sobrenome da
atual prefeita do município de São Domingos (Elieze Camachio), eleita para o mandato 2017-
2020, cuja chapa partidária foi formada com GILMAR ACHILES MARMENTINI, como
viceprefeito. Abaixo, tabela com a representação das propostas apresentadas e propostas
vencedoras em cada uma das linhas:
Cabe ainda destacar que a empresa homônima de ZENILDE TEREZINHA KARACEK adotou
durante algum tempo a denominação ZENILDE TEREZINHA WALENDORFF (f. 58 do Anexo
IV, Vol. 4, do IC): [...] Ademais, pesquisa no sistema cadastral da Receita Federal revela que
ZENILDE e LAURO VALDECIR WALENDORFF possuem os mesmos endereço e telefone fixo
– a denotar possível vínculo conjugal: [...] Mais uma vez, tem-se evidência clara de troca de
modelos de propostas entre empresas que seriam hipoteticamente licitantes concorrentes no
certame, fatos que, somados aos demais elementos acima descritos, também não deixam
dúvidas com relação ao ajuste prévio entre empresas participantes, para divisão dos itens
licitados e, assim, frustrar e fraudar o caráter competitivo do procedimento licitatório, com o
objetivo de obter as vantagens decorrentes da adjudicação do objeto da licitação. Contudo,
uma análise do restante do andamento do pregão denota outras graves irregularidades, que
não apenas corroboram o ajuste prévio entre os licitantes, como o envolvimento de agentes
públicos nessas fraudes. Nesse sentido, verifica-se que o edital era muito claro, em seu item 11
– Das Condições para Contratação, ao estabelecer que, por ocasião da assinatura do
contrato8 , a licitante vencedora deveria comprovar o atendimento de diversos requisitos em
relação aos veículos e condutores que seriam empregados no serviço de transporte escolar
(itens 11.1.1 e 11.1.2 do edital), havendo previsão expressa de que “caso a empresa vencedora
não comprove o atendimento dos requisitos supra, deixando de apresentar os documentos por
ocasião da assinatura da ata [em verdade, contrato], esta será desclassificada, sendo
convocada a 2ª colocada para subscrever o aludido instrumento”. Contudo, em total afronta
ao regramento do certame, e sob a justificativa de que não haveria tempo hábil para
apresentação dessa documentação por parte das empresas, pois as aulas iniciariam em 22 de
fevereiro de 2016, a pregoeira PAULA NATANA COMACHIO exarou diversas manifestações,
datadas de 19/02/2016, autorizando as empresas vencedoras da licitação a procederem à
assinatura dos contratos nesse mesmo dia 19 e iniciarem a prestação dos serviços a partir do
dia 22 (Decisões da Pregoeira e Atas de Registro de Preços em fls. 281-339 do Anexo IV, Vol.
4, do IC). Todos os contratos foram assinados pelo então prefeito ALCIMAR DE OLIVEIRA,
pela pregoeira PAULA NATANA COMACHIO e pelo Assessor Jurídico LUIZ HENRIQUE
MASETO ZANOVELLO. Primeiro, cabe destacar que, por certo, era do conhecimento da
gestão municipal a data de início das aulas na rede pública quando da deflagração da
licitação, o que obsta qualquer alegação de pretensa emergência neste caso. Por outro lado,
verifica-se que essa nova licitação, realizada em 2016, provavelmente se deve a uma
recomendação expedida pelo Ministério Público estadual (Recomendação nº 16/2015, datada
de 14/12/2015 – 254-280 do Anexo IV, Vol. 4, do IC), na qual o Promotor de Justiça
recomenda ao Prefeito que “se abstenha de firmar ou manter contrato com vereador ou com
empresa que tenha em seu quadro societário vereador, ressaltando que a exceção relativa aos
contratos de cláusulas uniformes não incide nos contratos administrativos formados mediante
licitação”, bem como que NEUDI JOSÉ BURATTI e GILMAR ACHILES MARMENTINI
também se abstenham de firmar contrato com o município na mesma situação, destacando, em
relação a eles, que “a conduta de transferir de forma ficta para terceiros cotas de empresas de
sua propriedade caracteriza ato atentatório a fé pública (crime) e, se objetiva burlar a
vedação legal analisada, configura também ato de improbidade administrativa”. Evidente,
assim, a intenção do i. promotor em alertar aos destinatários da recomendação que qualquer
tentativa de continuidade na prestação dos serviços, por meio de interpostas empresas,
mediante o emprego de ardis, não descaracterizaria a ilicitude do fato, ao contrário,
agravaria a situação. No Parecer exarado pelo referido Assessor Jurídico (fls. 237-247 do
Anexo IV, Vol. 4, do IC), constata-se inicialmente uma flagrante impropriedade, ao afirmar
que “verifica-se nos autos que foi realizada pesquisa de preços de mercado junto às empresas
do ramo do objeto a ser licitado”, quando não há qualquer elemento nos autos de que essa
pesquisa sequer tenha sido realizada. Ademais, não vislumbrou o Assessor Jurídico qualquer
irregularidade nos flagrantes relacionamentos entre várias das empresas licitantes, conforme
5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771
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acima destacado – situação que, tratando-se de um pequeno município, deve tratar-se de fato
praticamente notório. Quanto à recomendação exarada pelo Ministério Público estadual,
afirma que as irregularidades teriam sido sanadas, pois, em relação a GILMAR ACHILES
MARMENTINI, este manifestou-se junto à Câmara de Vereadores, afirmando não possuir
interesse na nomeação como vereador para qual era suplente, afirmando o parecer, então, que
não mais haveria incompatibilidade. Com relação a NEUDI JOSÉ BURATTI também afirma
não haver irregularidade no novo pregão, haja vista que participara do certame apenas a
empresa de seu filho, EVERTON MEOTTI BURATTI ME, situação que não ensejaria qualquer
incompatibilidade, conforme decisões e pareceres que reproduz, que apontam não haver
vedação de contratação no caso de empresas de parentes de gestores públicos ou de agentes
políticos. Sob fundamentos similares, o então prefeito municipal ALCIMAR DE OLIVEIRA
homologou o certame (fls. 248-252 Anexo IV, Vol. 4, do IC). Contudo, analisando a
documentação extemporaneamente juntada aos autos (documentos posteriores à f. 339 do
Anexo IV, Vol. 4, do IC, todas elas não numeradas), percebe-se de forma evidente que a
participação do filho de NEUDI nesse novo certame tratase de ardil, para tentar dar ares de
legalidade ao pregão. Primeiro, cumpre relembrar que a empresa de EVERTON MEOTTI
BURATTI foi criada dois dias após o lançamento do edital do Pregão Presencial nº 04/2016.
Ademais, nos documentos extemporâneos apresentados por essa empresa, relativos à
regularidade dos veículos e motoristas para a prestação dos serviços (a partir da f. 374 do
Anexo IV, Vol. 4, do IC – todas não numeradas), verifica-se que 4 dos 6 veículos teriam sido
objeto de comodato com familiares ou empresas de familiares. Ou seja, 4 dos veículos
utilizados pela empresa recém-criada teriam sido cedidos gratuitamente por familiares. Além
disso, os dois outros veículos teriam sido adquiridos por EVERTON após a expedição da
recomendação do Ministério Público estadual. Comparando esses veículos com aqueles que
foram utilizados por NEUDI JOSÉ BURATTI na contratação anterior (Pregão nº 01/2014),
verifica-se que os veículos de placas AKS1791 e ATC5379, também objeto de comodatos com
seu irmão NEODIMIR, foram empregados por NEUDI na prestação dos serviços de
transporte escolar do contrato anterior (fls. 202-203, 215-216 do Anexo IV, Vol. 2, do IC). Por
outro lado, o veículo AOW1173 era de propriedade de NEUDI (f. 211 do Anexo IV, Vol. 2, do
IC) e também fora utilizado na prestação de serviços de transporte da contratação anterior.
De forma semelhante, o veículo de placas CVP6004, de propriedade da empresa de sua
esposa, IRES BRUSTOLIN MEOTTI BURATTI ME, e objeto de comodato com NEUDI,
também foi utilizado por NEUDI na contratação anterior (f. 189 do Anexo IV, Vol. 2, do IC).
Por fim, o veículo de placas DJE0376 também foi empregado por NEUDI na prestação de
serviços do contrato anterior (f. 196 do Anexo IV, Vol. 2, do IC)9 . O quadro abaixo resume
esses fatos:
Verifica-se, ainda, que ao menos Moacir Silverio e NEODIMIR LUIZ BURATTI, supostamente
contratados como motoristas por EVERTON, também prestaram serviços de motorista na
contratação anterior com NEUDI. Por outro lado, chama a atenção que os pretensos
contratos de comodato tenham sido firmados somente em 16/03/2016, quando as aulas
iniciaram no dia 22/02/2016 – motivo apresentado pelo município, aliás, para justificar a
assinatura dos contratos sem que fosse apresentada pelas empresas a respectiva
documentação sobre veículos e motoristas. Além disso, conforme demonstrado no tópico
seguinte, verifica-se que a empresa IRES BRUSTOLIN MEOTTI BURATTI ME (CNPJ
15.742.719/0001-75) é de propriedade de IRES BRUSTOLIN MEOTTI BURATTI, esposa de
NEUDI JOSÉ BURATTI e mãe de EVERTON MEOTTI BURATTI. Ademais, a sede da
pretensa empresa de EVERTON coincide exatamente com o endereço residencial de IRES, no
qual também estaria sediada sua empresa: Rua Major Azambuja, nº 12, bairro São Cristóvão,
em São Domingos/SC. Não restam dúvidas, portanto, da fraude perpetrada por NEUDI e seu
filho EVERTON, de forma a tentar ocultar a continuidade da irregular contratação mantida
com NEUDI, vereador do município de São Domingos, fraude ocorrida com total
complacência dos agentes públicos municipais envolvidos nessa licitação e subsequentes
contratações. 4) Pregão Presencial nº 004/2017: Em 2017 assumiu a nova prefeita, Elieze
Comachio, eleita pela coligação PT, PDT, PTB e PC do B, tendo como vice-prefeito o então
suplente a vereador GILMAR ACHILES MARMENTINI, proprietário da empresa de
transportes GILMAR ACHILES MARMENTINI ME. O primeiro processo licitatório realizado
no ano de 2017, o Pregão Presencial nº 002/2017 (Anexo IV, Vol. 6, do IC), que ofereceu 12
rotas, restou fracassado pela inabilitação de todas as empresas. Ainda assim, interessante
apresentar a tabela demonstrativa de como se daria o certame, caso não houvesse
impedimento por irregularidade na documentação das empresas:
Aliás, chama muito a atenção o conteúdo da Ata nº 2/2017, da pregoeira e equipe de apoio (f.
245-246 do Anexo IV, Vol. 6, do IC), onde se observa que todos os itens do pregão restaram
“fracassados”, porque TODAS as empresas foram inabilitadas, pois “nenhuma das licitantes
cumpriu com os requisitos editalícios”. Da leitura dessa ata se depreende que todas as
empresas deixaram de apresentar algum documento para a devida habilitação no certame, o
que chama muito a atenção, haja vista tratar-se de empresas que rotineiramente participavam
de certames dessa natureza, em especial junto ao município de São Domingos. Ademais, cabe
destacar que, mais uma vez, não consta no procedimento qualquer pesquisa de mercado para
balizar o preço de referência do certame. Como é possível observar, novamente parece ter
havido negociação prévia entre as empresas, que dividiram entre si os vários itens do certame.
Com o insucesso do Pregão Presencial nº 002/2017, houve a necessidade de lançamento de
novo processo licitatório, sendo aberto então o Pregão Presencial nº 004/2017 – Processo
Administrativo nº 08/2017 (cópia constante do Anexo IV, Vol. 5, do IC). Não muito diferente do
anterior pregão fracassado, inclusive com relação a valores, empresas interessadas e
“escolha” de rotas, esse novo pregão foi homologado com resultado conforme tabela abaixo:
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Como se vê, é evidente o conluio entre diversos licitantes, e, em especial, entre NEUDI JOSÉ
BURATTI e GILMAR ACHILES MARMENTINI com a própria Administração Municipal, ao
menos nas licitações e contratações realizadas entre 2014 e 2016, que resultou no
defraudamento dos procedimentos licitatórios e, nas contratações de 2014 e 2015, ocorrência
de superfaturamento no transporte escolar no Município, com prejuízo direto à União
(transferência de recursos via Programa Nacional de Transporte Escolar – PNATE) – abaixo
detalhado –, incidindo na prática de atos criminosos contra a lisura das licitações, conforme
adiante demonstrado. Como resultado de todos esses procedimentos licitatórios viciados,
direcionados, previamente ajustado entre os participantes e com prejuízo ao erário –
justamente pela falta de verdadeira competição –, tem-se ainda as precárias condições em que
o transporte dos estudantes era realizado por essas empresas, conforme claramente evidencia
o Relatório de Auditoria nº 201701941 (fls. 551-v a 554-v). Nesse relatório, a CGU aponta,
primeiro, “impropriedades na realização do transporte de alunos em áreas rurais”, com o
“transporte de alunos em quantitativo acima do previsto para a capacidade do veículo” em
uma das linhas e falta de orientação aos estudantes sobre a obrigatoriedade de uso do cinto
de segurança. Ademais, e ainda mais grave, a CGU também aponta a utilização de veículos
em condições inadequadas, conforme claramente demonstram os trechos do relatório abaixo
reproduzidos: [...]
II – DOS CRIMES
houve evidente combinação e ajuste prévio entre todos os licitantes que participaram do
certame, que direcionaram trechos específicos para cada empresa, conforme denotam, entre
outros elementos, a similaridade de propostas apresentadas por empresas que seriam
supostamente concorrentes e vínculos de parentesco e de endereços entre licitantes. Desta
forma, resta configurado o ajuste e a combinação entre os licitantes, que frustraram e
fraudaram o caráter competitivo da licitação com o intuito de obter as vantagens advindas da
adjudicação do objeto licitado. Assim, nessa flagrante atuação concertada, em conluio, por
parte de todas as empresas e pessoas que participaram do certame, que direcionaram trechos
específicos para cada empresa, resta evidenciada a participação também da pregoeira ANA
CLAUDIA BARIZON FONTANA DA LUZ, que, diante de todos esses claros elementos de
irregularidade, não adotou nenhuma medida para evitar a concretização desse procedimento
fraudulento e, assim, por meio de sua omissão, contribuiu para a fraude ao caráter
competitivo desta licitação, em benefício dos licitantes e em prejuízo da Administração
Pública. Ademais, tem-se a atuação direta (e dolosa) do então prefeito ALCIMAR DE
OLIVEIRA – que apresenta forte ligação político-partidária com os dois principais
beneficiados nesse procedimento fraudado – em todo o certame e subsequentes contratações e
prorrogações contratuais. Registre-se que, em relação a esse pregão, ALCIMAR DE
OLIVEIRA realizou pessoalmente a autorização de abertura do procedimento (f. 04 do anexo
II, volume III, do IC), a assinatura dos contratos (f. 175 e 272 do anexo II, volume III, do IC),
bem como a celebração dos aditivos contratuais (f. 317 a 370 do anexo II, volume III, do IC).
Tais fatos ensejaram dano ao erário municipal. Para obter o montante desse dano,
exclusivamente em relação ao Pregão nº 01/2014 e contratações respectivas (2014 e 2015),
empregou-se, no cálculo abaixo, metodologia semelhante àquela utilizada na tabela da f. 568-
v do IC, ou seja, comparou-se os valores pagos nos contratos resultantes do Pregão nº
01/2009, corrigidos ao longo dos anos, com os valores contratados e pagos no pregão
subsequente. Tal metodologia justifica-se, primeiro, porque aquela licitação foi uma das
poucas onde, em princípio, houve efetiva concorrência, tornando-se uma adequada referência
de valores; segundo, considerando que os contratos decorrentes dessa licitação foram
prorrogados diversas vezes, tendo sido os serviços prestados até 2013 naquele patamar de
valores, resta evidente que, houvesse o município promovido uma efetiva competição entre os
licitantes, numa licitação que apresentasse esses valores – atualizados para 2014 – como
preços de referência, certamente haveria empresas interessadas em prestar os serviços
Utilizou-se como referência os valores por “km” rodado, para cada tipo de veículo
(capacidade de 9 a 45 passageiros), pagos nos contratos de 2013 a 2015. Os valores de 2013
foram atualizados para os anos seguintes pelo INPC, por meio da Calculadora do Cidadão,
disponível no site do Banco Central12 . As tabelas abaixo apresentam essas informações e o
percentual final do dano ao erário (sobrepreço) para cada empresa, calculado a partir de uma
média ponderada, considerando as características dos contratos firmados com cada uma das
empresas (tipos de veículo e número de veículos de cada tipo) [...] Esse percentual ponderado
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por ano, então, foi aplicado ao valor recebido pelas empresas como pagamento pelos serviços
prestados, para, dessa forma, alcançar o valor do dano ao erário. Na tabela abaixo,
encontram-se os valores recebidos por cada uma das empresas, nos anos de 2014 e 2015, no
âmbito do PNATE – São Domingos/SC. Os dados relativo aos pagamentos encontram-se no
Anexo IV, Vol. 1, do IC, mas também estão disponibilizados no Portal de Transparência do
município, no link “Despesas por credor”: [...] Assim, chega-se ao valor originário do dano
ao erário, que perfaz o montante de R$ 474.743,40.
Contudo, desta feita, não foram identificados elementos a apontar o envolvimento de agentes
públicos nos ilícitos praticados, devendo ser considerando, ainda, a início de uma nova gestão
no âmbito daquele município.
2. AIRTON SENA MIOTTO e LUIZ ALBERTO MIOTO como incursos no crime tipificado no
art. 90, da Lei nº 8.666/93, por 3 vezes, na forma do art. 69 do CP.
Após a autuação e o recebimento da denúncia, requer sejam os réus citados para apresentar
resposta à acusação, nos termos do artigo 396-A do Código de Processo Penal, e, confirmado
o recebimento da exordial acusatória (art. 399 do CPP), sejam eles intimados para a
audiência e os demais atos processuais, inclusive interrogatório e inquirição das testemunhas
abaixo arroladas, seguindo-se o rito processual previsto nos artigos 396 a 405 do Código de
Processo Penal até final condenação.
Requer-se, ainda, a condenação do ora denunciados à reparação integral do dano, nos termos
do art. 387, IV, do CPP e art. 91, I, do CP, em montante de, no mínimo, R$ 474.743,40,
atualizados monetariamente e acrescidos de juros de mora.
Autos n. 5007348-59.2020.4.04.7202
Com relação ao Pregão Presencial n° 01/2009, que foi deflagrado antes das eleições de 2012
e, portanto, muito antes do início do mandato de NEUDI JOSÉ BURATTI e da suplência de
GILMAR ACHILES MARMENTINI, e pretendia contratar empresas de transporte escolar
para 21 trajetos no interior do município de São Domingos/SC, foi possível observar certa
proporcionalidade quanto à distribuição do objeto licitado entre as empresas participantes,
sobressaindo-se, no entanto, a empresa de NEUDI JOSÉ BURATTI, com 6 linhas (28,6%),
ainda assim, dentro de uma aparente normalidade (conforme Termo de Homologação e Termo
de Adjudicação, respectivamente, de fls. 452-457 e f. 458 do Anexo II, Vol. 2, do IC). Da
mesma forma, as propostas apresentadas pelos concorrentes continham valores quase sempre
abaixo do valor máximo do quilômetro estipulado pelo edital e esses valores ainda sofreram
significativa redução na fase de lances, evidenciando, em princípio, a existência de alguma
disputa pelas rotas entre as empresas participantes (Demonstrativo de Lances – fls. 411-436
do Anexo II, Vol. 2, do IC). Com exemplo, cita-se o trajeto da “linha 03”, que tinha como
valor máximo definido no edital a ser pago por quilômetro rodado a importância de R$ 1,60
(item 1.8 do edital – f. 05 do Anexo II, Vol. 1, do IC). As propostas constantes nos envelopes
das 8 empresas que concorreram por esta linha foram de R$1,58; R$1,52; R$1,50; R$1,48;
R$1,45; R$1,45; R$1,44; e R$1,40, sendo que, após a fase de lances, a linha foi contratada
por R$ 1,03 por quilômetro rodado (f. 415 do Anexo II, Vol. 1, do IC), uma redução de mais de
35% sobre o preço inicial definido pelo município de São Domingos. A “linha 03” foi
disputada por 4 empresas na fase de lances, que juntas apresentaram um total de 19 ofertas,
antes de o certame finalizar ao preço de R$ 1,03. Em média, o preço da menor proposta para
cada trajeto foi reduzido em 15% após a realização da fase de lances (fls. 501-502 do IC).
Presencial nº 01/2014 –, para contratação para o ano de 2014 (cópia no Anexo II, Vol. 3, do
IC). Como se verá adiante, a partir deste momento, que é marcado pelo fim do Processo
Licitatório nº 01/2009, nota-se a existência de clara combinação prévia entre as empresas
participantes dos certames com o objetivo de atingir o ganho máximo em cada um dos itens
licitados, em prejuízo aos interesses da municipalidade. Assim, a segunda licitação
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do Pregão Presencial nº 01/2014, a fim de estabelecer o valor máximo a ser pago pela
Administração. Os agentes públicos ouvidos em sede policial limitaram-se a afirmar que não
sabem se tal procedimento foi adotado nesta licitação, e que tal procedimento sempre era
realizado4 , especialmente por meio de contato telefônico com as empresas, mas sem trazer
qualquer comprovação neste sentido. Diante de todas essas irregularidades, cópia integral do
Inquérito Civil foi encaminhada ao órgão da Controladoria Geral da União (CGU) em Santa
Catarina para análise mais aprofundada dos documentos que o compõem. Em resposta, a
CGU encaminhou a Nota Técnica nº 281/2017/NAE/SC/Regional/SC (f. 512-524 do IC), que
aponta importantes constatações, relacionadas de forma resumida abaixo – nos pontos
relevantes para o caso: a) o documento apresenta o posicionamento do TCU, no âmbito
administrativo, contrário à possibilidade de a Administração Pública contratar, ou mesmo
firmar convênio, com entidades dirigidas por vereadores e seus parentes até o segundo grau;
b) ocorrências no pregão presencial 001/2014: [...] b.1) alteração, sem identificação de
motivação, dos jornais locais utilizados para publicidade do aviso de licitação, ainda que o
procedimento licitatório anterior tenha alcançado boa publicidade, tendo apresentado maior
número de licitantes. Sobre esse ponto, a Nota Técnica da CGU ainda destaca que foi
identificado um e-mail, enviado em 10/01/2014, por Ana Paula Valendorff, da empresa Agn
Contabilidade, para o Setor de Licitações da Prefeitura de São Domingos, solicitando o envio
do “Edital do transporte escolar para a empresa do Neudi José Buratti” (f. 32 do Anexo II,
Vol. 3 do IC). Considerando que o edital foi publicado somente em 13/01/2014 (fls. 29-31 do
Anexo II, Vol. 3 do IC), resta evidente que NEUDI JOSÉ BURATTI teve conhecimento prévio
da existência/conteúdo do edital antes de sua publicação oficial, o que configura flagrante
violação aos princípios da moralidade e da impessoalidade e aos interesses da própria
Administração Pública. Salienta-se que a justificativa apresentada por PAULA NATANA
CAMMACHIO em seu depoimento à Polícia Federal (evento 9, INQ1, pp. 27/28 do IPL),
segundo quem a empresa de NEUDI teria sido contatada na pesquisa de preços realizada
previamente à licitação, de modo que teria tomado conhecimento da iminência da publicação
do edital desta forma, mas que o edital apenas teria sido efetivamente enviado após sua
publicação, não convence, já que NEUDI, em sentido contrário, declarou não ter tomado
conhecimento do mencionado edital previamente, e que a empresa de contabilidade era quem
o avisava acerca das licitações (evento 9, INQ1, p. 9); b.2) não foi identificado no processo
nenhuma pesquisa de preços elaborada pelo pregoeiro ou pela comissão licitante que tenha
embasado a definição dos valores previstos no edital. Ademais, no item 6.3.3.4.4 do Relatório,
a CGU traça um paralelo entre os preços máximos previstos no Pregão Presencial nº
001/2009 e aqueles previstos no Pregão Presencial nº 001/2014, evidenciando (conforme
tabela de f. 522-v do IC) aumento do valor do km rodado entre as duas licitações em
percentual superior ao IPCA Geral ou IGP-M para o período, em especial para o veículo de
lotação máxima de 26 passageiros (cerca de 18% acima da inflação do período); b.3)
similaridade entre as propostas apresentadas por licitantes distintos. A CGU aponta
5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771
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NEODIMIR LUIZ BURATTI, que são irmãos; b.9) previsão no edital de curto espaço de tempo
entre a data de homologação do certame e a data limite para assinatura do contrato (apenas 3
dias), o que pode ter afastado eventuais interessados. Destaca a CGU, contudo, que a
municipalidade flexibilizou informal e indevidamente esse prazo para os vencedores de itens
do pregão; b.10) descumprimento da capacidade de lotação exigida para as linhas 2, 4 e 5,
sem qualquer justificativa para as duas últimas; b.11) foi identificado no próprio município de
São Domingos um contrato emergencial, de 02/2013, com valor abaixo daqueles estabelecidos
nos contratos correspondentes do pregão presencial 001/2014, podendo representar
sobrepreço dos valores estabelecidos no certame. Nessa contratação emergencial, a empresa
contratada sujeitou-se a prestar o serviço em regime emergencial pelo valor de R$ 1,79/km
rodado no período de fevereiro a abril de 2013, sugerindo que o valor de R$ 1,80 em janeiro
de 2009 já estaria superfaturado. Tal fato denota ainda maior gravidade diante da ausência
de pesquisa de mercado para definição dos preços de referência do edital; d.12) ausência de
publicação de errata do edital acerca da alteração da capacidade máxima de lotação de
veículo (de 22 para 16 passageiros, mantendo o valor licitado). No caso da linha 2, o valor do
km rodado deveria então corresponder a R$ 2,15 em vez dos R$ 2,70 contratados; d.13)
existência de vínculos de relacionamento entre participantes do processo licitatório, em
destaque os responsáveis pelas empresas AIRTON SENA MIOTO ME e LUIZ ALBERTO
MIOTTO ME, irmãos e que trabalharam juntos na empresa JL Miotto Transporte ME (CNPJ
nº 17.208.378/0001-88), e o motorista Carlos Gregório Cardoso, ex-servidor da prefeitura de
São Domingos (entre 2012 e 2014), que esteve vinculado como servidor público não-efetivo na
Secretaria de Estado da Educação no ano de 2015; d.14) subcontratação de fato entre os
irmãos NEODIMIR LUIZ BURATTI e NEUDI JOSÉ BURATTI; d.15) infere-se dos
apontamento elaborados pela CGU a baixa diligência do pregoeiro na condução do Pregão
Presencial 001/2014, no qual houve desprezível redução dos valores iniciais das propostas (R$
0,01 em somente uma das rotas) e concorrência praticamente nula.
Questionada sobre diversos pontos destacados pela CGU, a Prefeitura Municipal de São
Domingos encaminhou esclarecimentos (fls. 534-536 do IC). Com relação à retirada da
restrição de ano de fabricação do veículo, afirmou que isso acabaria por reduzir
significativamente o número de participantes – ressalte-se, contudo, que essa redução de
licitantes ocorreu justamente nesse pregão, mas não no certame anterior, que continha essa
exigência. Sobre as pesquisas de preços, afirmou que elas teriam ocorrido “de maneira
informal”, por contato telefônico. Com relação às demais irregularidades, afirma, em geral,
que não teriam causado prejuízo ao erário nem violado normas do edital. Posteriormente, em
decorrência do 4º Ciclo do Programa de Fiscalização de Entes Federativos, a CGU realizou
fiscalização no município de São Domingos/SC, no período de 25 a 29 de setembro de 2017
(relatório juntado às fls. 543-555 do IC e no evento 1, INQ4, pp. 5-24, do IPL). Em que pese a
inspeção da CGU ter sido realizada durante a vigência do procedimento licitatório 08/2017,
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Sobre as alegações apresentadas pela Prefeitura à CGU, em que afirma não encontrar óbice
legal para a participação de empresas da mesma família em certame licitatório, o órgão de
controle aponta, primeiro, haver fortes indícios de acerto prévio das propostas. Ademais,
destaca que o entendimento do Tribunal de Contas da União indica haver, no mínimo, quebra
de sigilo das propostas nessa situação (Acórdão nº 3088/2010 do Plenário da Corte). ANA
CLAUDIA BARIZON FONTANA DA LUZ, pregoeira do certame, foi ouvida durante a
apuração (fls. 575-577), tendo informado que os participantes alegaram que o valor do
quilômetro rodado pago pela prefeitura de São Domingos estaria muito abaixo do valor
praticado na região. Em sua oitiva em sede policial5 , afirmou que teria sido realizada
pesquisa de preços, mas não soube dizer o motivo pelo qual não há registro dessa pesquisa (f.
601). Contudo, foi elaborada planilha evolutiva de valores com o objetivo de avaliar a
situação6 : [...]Importante registrar que o valor inicialmente proposto pelo edital de 2009
para a rota 14 foi de R$1,80 o km rodado e o lance vencedor foi de R$1,39 – o que denota, em
princípio, efetiva competição entre os licitantes daquele certame. Dessa forma, evidente o
prejuízo ao erário decorrente da nova contratação que, segundo os dados da planilha acima,
seria ao menos 43,6% superior aos valores dos serviços que já estavam sendo prestados ao
município, inclusive por meio de uma contratação emergencial. Destaca-se, contudo, que as
diligências realizadas pela Polícia Federal nos autos do IPL mencionado não lograram trazer
elementos adicionais das práticas delitivas. Com efeito, verifica-se que elas restringiram-se à
oitiva dos próprios investigados LUIZ ALBERTO MIOTTO, AIRTON SENA MIOTTO, LAURO
VALDECIR WALENDORFF, NEUDI JOSÉ BURATTI e GILMAR ACHILES MARMENTINI
(Evento 9, INQ1, PP. 2- 11), que limitaram-se a negar genericamente o ajuste e combinação
de preços entre os licitantes, e do então prefeito ALCIMAR GOMES (evento 9, INQ1, pp..
12/13), que negou participar diretamente das licitações. Destaca-se, ainda, a elaboração do
Laudo Pericial pelo Setor TécnicoCientífico (SETEC) da Polícia Federal (Evento 13, INQ1, p.
4-7). Nesse documento, os peritos não apontam a ocorrência de superfaturamento, pois os
valores licitados estariam de acordo com os preços de mercado, obtidos a partir de pesquisas
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2020, cuja chapa partidária foi formada com GILMAR ACHILES MARMENTINI, como
viceprefeito. Abaixo, tabela com a representação das propostas apresentadas e propostas
vencedoras em cada uma das linhas: [...]
Cabe ainda destacar que a empresa homônima de ZENILDE TEREZINHA KARACEK adotou
durante algum tempo a denominação ZENILDE TEREZINHA WALENDORFF (f. 58 do Anexo
IV, Vol. 4, do IC) [...]
Ademais, pesquisa no sistema cadastral da Receita Federal revela que ZENILDE e LAURO
VALDECIR WALENDORFF possuem os mesmos endereço e telefone fixo – a denotar possível
vínculo conjugal [...].
Mais uma vez, tem-se evidência clara de troca de modelos de propostas entre empresas que
seriam hipoteticamente licitantes concorrentes no certame, fatos que, somados aos demais
elementos acima descritos, também não deixam dúvidas com relação ao ajuste prévio entre
empresas participantes, para divisão dos itens licitados e, assim, frustrar e fraudar o caráter
competitivo do procedimento licitatório, com o objetivo de obter as vantagens decorrentes da
adjudicação do objeto da licitação. Contudo, uma análise do restante do andamento do
pregão denota outras graves irregularidades, que não apenas corroboram o ajuste prévio
entre os licitantes, como o envolvimento de agentes públicos nessas fraudes. Nesse sentido,
verifica-se que o edital era muito claro, em seu item 11 – Das Condições para Contratação, ao
estabelecer que, por ocasião da assinatura do contrato8 , a licitante vencedora deveria
comprovar o atendimento de diversos requisitos em relação aos veículos e condutores que
seriam empregados no serviço de transporte escolar (itens 11.1.1 e 11.1.2 do edital), havendo
previsão expressa de que “caso a empresa vencedora não comprove o atendimento dos
requisitos supra, deixando de apresentar os documentos por ocasião da assinatura da ata [em
verdade, contrato], esta será desclassificada, sendo convocada a 2ª colocada para subscrever
o aludido instrumento”. Contudo, em total afronta ao regramento do certame, e sob a
justificativa de que não haveria tempo hábil para apresentação dessa documentação por parte
das empresas, pois as aulas iniciariam em 22 de fevereiro de 2016, a pregoeira PAULA
NATANA COMACHIO exarou diversas manifestações, datadas de 19/02/2016, autorizando as
empresas vencedoras da licitação a procederem à assinatura dos contratos nesse mesmo dia
19 e iniciarem a prestação dos serviços a partir do dia 22 (Decisões da Pregoeira e Atas de
Registro de Preços em fls. 281-339 do Anexo IV, Vol. 4, do IC). Todos os contratos foram
assinados pelo então prefeito ALCIMAR DE OLIVEIRA, pela pregoeira PAULA NATANA
COMACHIO e pelo Assessor Jurídico LUIZ HENRIQUE MASETO ZANOVELLO. Primeiro,
cabe destacar que, por certo, era do conhecimento da gestão municipal a data de início das
aulas na rede pública quando da deflagração da licitação, o que obsta qualquer alegação de
pretensa emergência neste caso. Por outro lado, verifica-se que essa nova licitação, realizada
em 2016, provavelmente se deve a uma recomendação expedida pelo Ministério Público
estadual (Recomendação nº 16/2015, datada de 14/12/2015 – 254-280 do Anexo IV, Vol. 4, do
IC), na qual o Promotor de Justiça recomenda ao Prefeito que “se abstenha de firmar ou
manter contrato com vereador ou com empresa que tenha em seu quadro societário vereador,
ressaltando que a exceção relativa aos contratos de cláusulas uniformes não incide nos
contratos administrativos formados mediante licitação”, bem como que NEUDI JOSÉ
BURATTI e GILMAR ACHILES MARMENTINI também se abstenham de firmar contrato com
o município na mesma situação, destacando, em relação a eles, que “a conduta de transferir
de forma ficta para terceiros cotas de empresas de sua propriedade caracteriza ato atentatório
a fé pública (crime) e, se objetiva burlar a vedação legal analisada, configura também ato de
improbidade administrativa”. Evidente, assim, a intenção do i. promotor em alertar aos
destinatários da recomendação que qualquer tentativa de continuidade na prestação dos
serviços, por meio de interpostas empresas, mediante o emprego de ardis, não
descaracterizaria a ilicitude do fato, ao contrário, agravaria a situação. No Parecer exarado
pelo referido Assessor Jurídico (fls. 237-247 do Anexo IV, Vol. 4, do IC), constata-se
inicialmente uma flagrante impropriedade, ao afirmar que “verifica-se nos autos que foi
realizada pesquisa de preços de mercado junto às empresas do ramo do objeto a ser licitado”,
quando não há qualquer elemento nos autos de que essa pesquisa sequer tenha sido realizada.
Ademais, não vislumbrou o Assessor Jurídico qualquer irregularidade nos flagrantes
relacionamentos entre várias das empresas licitantes, conforme acima destacado – situação
que, tratando-se de um pequeno município, deve tratar-se de fato praticamente notório.
Quanto à recomendação exarada pelo Ministério Público estadual, afirma que as
irregularidades teriam sido sanadas, pois, em relação a GILMAR ACHILES MARMENTINI,
este manifestou-se junto à Câmara de Vereadores, afirmando não possuir interesse na
nomeação como vereador para qual era suplente, afirmando o parecer, então, que não mais
haveria incompatibilidade. Com relação a NEUDI JOSÉ BURATTI também afirma não haver
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irregularidade no novo pregão, haja vista que participara do certame apenas a empresa de
seu filho, EVERTON MEOTTI BURATTI ME, situação que não ensejaria qualquer
incompatibilidade, conforme decisões e pareceres que reproduz, que apontam não haver
vedação de contratação no caso de empresas de parentes de gestores públicos ou de agentes
políticos. Sob fundamentos similares, o então prefeito municipal ALCIMAR DE OLIVEIRA
homologou o certame (fls. 248-252 Anexo IV, Vol. 4, do IC). Contudo, analisando a
documentação extemporaneamente juntada aos autos (documentos posteriores à f. 339 do
Anexo IV, Vol. 4, do IC, todas elas não numeradas), percebe-se de forma evidente que a
participação do filho de NEUDI nesse novo certame tratase de ardil, para tentar dar ares de
legalidade ao pregão. Primeiro, cumpre relembrar que a empresa de EVERTON MEOTTI
BURATTI foi criada dois dias após o lançamento do edital do Pregão Presencial nº 04/2016.
Ademais, nos documentos extemporâneos apresentados por essa empresa, relativos à
regularidade dos veículos e motoristas para a prestação dos serviços (a partir da f. 374 do
Anexo IV, Vol. 4, do IC – todas não numeradas), verifica-se que 4 dos 6 veículos teriam sido
objeto de comodato com familiares ou empresas de familiares. Ou seja, 4 dos veículos
utilizados pela empresa recém-criada teriam sido cedidos gratuitamente por familiares. Além
disso, os dois outros veículos teriam sido adquiridos por EVERTON após a expedição da
recomendação do Ministério Público estadual. Comparando esses veículos com aqueles que
foram utilizados por NEUDI JOSÉ BURATTI na contratação anterior (Pregão nº 01/2014),
verifica-se que os veículos de placas AKS1791 e ATC5379, também objeto de comodatos com
seu irmão NEODIMIR, foram empregados por NEUDI na prestação dos serviços de
transporte escolar do contrato anterior (fls. 202-203, 215-216 do Anexo IV, Vol. 2, do IC). Por
outro lado, o veículo AOW1173 era de propriedade de NEUDI (f. 211 do Anexo IV, Vol. 2, do
IC) e também fora utilizado na prestação de serviços de transporte da contratação anterior.
De forma semelhante, o veículo de placas CVP6004, de propriedade da empresa de sua
esposa, IRES BRUSTOLIN MEOTTI BURATTI ME, e objeto de comodato com NEUDI,
também foi utilizado por NEUDI na contratação anterior (f. 189 do Anexo IV, Vol. 2, do IC).
Por fim, o veículo de placas DJE0376 também foi empregado por NEUDI na prestação de
serviços do contrato anterior (f. 196 do Anexo IV, Vol. 2, do IC)9 . O quadro abaixo resume
esses fatos: [...]Verifica-se, ainda, que ao menos Moacir Silverio e NEODIMIR LUIZ
BURATTI, supostamente contratados como motoristas por EVERTON, também prestaram
serviços de motorista na contratação anterior com NEUDI. Por outro lado, chama a atenção
que os pretensos contratos de comodato tenham sido firmados somente em 16/03/2016,
quando as aulas iniciaram no dia 22/02/2016 – motivo apresentado pelo município, aliás,
para justificar a assinatura dos contratos sem que fosse apresentada pelas empresas a
respectiva documentação sobre veículos e motoristas. Além disso, conforme demonstrado no
tópico seguinte, verifica-se que a empresa IRES BRUSTOLIN MEOTTI BURATTI ME (CNPJ
15.742.719/0001-75) é de propriedade de IRES BRUSTOLIN MEOTTI BURATTI, esposa de
NEUDI JOSÉ BURATTI e mãe de EVERTON MEOTTI BURATTI. Ademais, a sede da
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Além disso, mais uma vez também se verifica enorme similaridade no formato de propostas
entre licitantes pretensamente concorrentes. Como exemplo, as propostas das empresas de
AIRTON e LUIZ ALBERTO MIOTTO, abaixo reproduzidas (fls. 96 e 100 do Anexo IV, Vol. 5,
do IC): [...] Como se vê, é evidente o conluio entre diversos licitantes, e, em especial, entre
NEUDI JOSÉ BURATTI e GILMAR ACHILES MARMENTINI com a própria Administração
Municipal, ao menos nas licitações e contratações realizadas entre 2014 e 2016, que resultou
no defraudamento dos procedimentos licitatórios e, nas contratações de 2014 e 2015,
ocorrência de superfaturamento no transporte escolar no Município, com prejuízo direto à
União (transferência de recursos via Programa Nacional de Transporte Escolar – PNATE) –
abaixo detalhado –, incidindo na prática de atos criminosos contra a lisura das licitações,
conforme adiante demonstrado. Como resultado de todos esses procedimentos licitatórios
viciados, direcionados, previamente ajustado entre os participantes e com prejuízo ao erário –
justamente pela falta de verdadeira competição –, tem-se ainda as precárias condições em que
o transporte dos estudantes era realizado por essas empresas, conforme claramente evidencia
o Relatório de Auditoria nº 201701941 (fls. 551-v a 554-v). Nesse relatório, a CGU aponta,
primeiro, “impropriedades na realização do transporte de alunos em áreas rurais”, com o
“transporte de alunos em quantitativo acima do previsto para a capacidade do veículo” em
uma das linhas e falta de orientação aos estudantes sobre a obrigatoriedade de uso do cinto
de segurança. Ademais, e ainda mais grave, a CGU também aponta a utilização de veículos
em condições inadequadas, conforme claramente demonstram os trechos do relatório abaixo
reproduzidos: [...]
II – DOS CRIMES
CLAUDIA BARIZON FONTANA DA LUZ, que, diante de todos esses claros elementos de
irregularidade, não adotou nenhuma medida para evitar a concretização desse procedimento
fraudulento e, assim, por meio de sua omissão, contribuiu para a fraude ao caráter
competitivo desta licitação, em benefício dos licitantes e em prejuízo da Administração
Pública.
Ademais, tem-se a atuação direta (e dolosa) do então prefeito ALCIMAR DE OLIVEIRA – que
apresenta forte ligação político-partidária com os dois principais beneficiados nesse
procedimento fraudado – em todo o certame e subsequentes contratações e prorrogações
contratuais. Registre-se que, em relação a esse pregão, ALCIMAR DE OLIVEIRA realizou
pessoalmente a autorização de abertura do procedimento (f. 04 do anexo II, volume III, do
IC), a assinatura dos contratos (f. 175 e 272 do anexo II, volume III, do IC), bem como a
celebração dos aditivos contratuais (f. 317 a 370 do anexo II, volume III, do IC). Tais fatos
ensejaram dano ao erário municipal. Para obter o montante desse dano, exclusivamente em
relação ao Pregão nº 01/2014 e contratações respectivas (2014 e 2015), empregou-se, no
cálculo abaixo, metodologia semelhante àquela utilizada na tabela da f. 568-v do IC, ou seja,
comparou-se os valores pagos nos contratos resultantes do Pregão nº 01/2009, corrigidos ao
longo dos anos, com os valores contratados e pagos no pregão subsequente. Tal metodologia
justifica-se, primeiro, porque aquela licitação foi uma das poucas onde, em princípio, houve
efetiva concorrência, tornando-se uma adequada referência de valores; segundo,
considerando que os contratos decorrentes dessa licitação foram prorrogados diversas vezes,
tendo sido os serviços prestados até 2013 naquele patamar de valores, resta evidente que,
houvesse o município promovido uma efetiva competição entre os licitantes, numa licitação
que apresentasse esses valores – atualizados para 2014 – como preços de referência,
certamente haveria empresas interessadas em prestar os serviços Utilizou-se como referência
os valores por “km” rodado, para cada tipo de veículo (capacidade de 9 a 45 passageiros),
pagos nos contratos de 2013 a 2015. Os valores de 2013 foram atualizados para os anos
seguintes pelo INPC, por meio da Calculadora do Cidadão, disponível no site do Banco
Central12 . As tabelas abaixo apresentam essas informações e o percentual final do dano ao
erário (sobrepreço) para cada empresa, calculado a partir de uma média ponderada,
considerando as características dos contratos firmados com cada uma das empresas (tipos de
veículo e número de veículos de cada tipo): [...] Esse percentual ponderado por ano, então, foi
aplicado ao valor recebido pelas empresas como pagamento pelos serviços prestados, para,
dessa forma, alcançar o valor do dano ao erário. Na tabela abaixo, encontram-se os valores
recebidos por cada uma das empresas, nos anos de 2014 e 2015, no âmbito do PNATE – São
Domingos/SC. Os dados relativo aos pagamentos encontram-se no Anexo IV, Vol. 1, do IC,
mas também estão disponibilizados no Portal de Transparência do município, no link
“Despesas por credor”: [...] Assim, chega-se ao valor originário do dano ao erário, que
perfaz o montante de R$ 474.743,40.
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AIRTON SENA MIOTTO, LUIZ ALBERTO MIOTTO, JUCELI LINCK MIOTTO, EVERTON
MEOTTI BURATTI e IRES BRUSTOLIN MEOTTI BURATTI14 , entre janeiro e 7 de fevereiro
de 2017 (data de homologação da licitação – Vol 5, Anexo IV, f. 305 do IC), no município de
São Domingos, deliberadamente e em concurso de pessoas (art. 29 do Código Penal),
frustraram e fraudaram, mediante ajuste, combinação e outros expedientes, o caráter
competitivo do Pregão Presencial nº 04/2017, com o intuito de obter para si (pessoas físicas
representantes das empresas licitantes) e para outrem (as empresas licitantes envolvidas) as
vantagens decorrentes da adjudicação do objeto licitado, condutas que também se amoldam
ao tipo do artigo 90 da Lei nº 8.666/93. Após o fracasso do Pregão Presencial nº 02/20177, em
que todas as empresas licitantes foram inabilitadas – cabe registrar que já nesse procedimento
há indícios de que também ocorreu o ajuste entre os licitantes –, foi lançado o Edital de
Pregão Presencial nº 04/2017, com o mesmo objeto. Neste segundo edital, a empresa
EVERTON MEOTTI BURATTI ME, representada por EVERTON MEOTTI BURATTI, sagrou-
se vencedora em quase metade das rotas oferecidas. Novamente, identificou-se a participação
de pretensos licitantes com estreitos vínculos familiares e de endereço. Dessa forma, constata-
se que a empresa IRES BRUSTOLIN MEOTTI BURATTI ME é de propriedade de IRES
BRUSTOLIN MEOTTI BURATTI, esposa de NEUDI JOSÉ BURATTI e mãe de EVERTON
MEOTTI BURATTI. Ademais, verificouse que a sede da pretensa empresa de EVERTON
(atualmente MEOTTI TRANSPORTES EIRELI) coincide exatamente com o endereço
residencial de IRES, no qual também estaria sediada sua empresa). Por fim, mais uma vez
tem-se a apresentação de propostas com formato extremamente similar entre empresas
supostamente concorrentes (AIRTON SENA MIOTTO ME e LUIZ ALBERTO MIOTTO ME,
conforme fls. 96 a 100 do Anexo IX, Vol. 5, do IC). Além disso, verifica-se novamente que os
licitantes apresentaram propostas com valores idênticos aos máximos previstos em edital e
que, em várias rotas, apenas um licitante apresentou proposta de preços (conforme fls. 6/7 do
Anexo IV, Vol. 5, do IC, onde estão cotados os valores máximos, e Ata da Sessão Pública do
Pregão Presencial – Edital de Pregão Presencial n º 4 – fls. 123-125 do Anexo IV, Vol. 5 do
IC). Todos estes elementos denotam, sem margem para dúvidas, que o procedimento de dividir
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as rotas entre os licitantes, praticado nas licitações anteriores, repetiuse também no pregão
presencial nº 04/2017, na medida em que os licitantes também frustraram e fraudaram a
licitude deste procedimento licitatório, mediante ajuste prévio, com o objetivo de obter para si
as vantagens da adjudicação do objeto licitado. Contudo, desta feita, não foram identificados
elementos a apontar o envolvimento de agentes públicos nos ilícitos praticados, devendo ser
considerando, ainda, a início de uma nova gestão no âmbito daquele município. III – DOS
PEDIDOS FINAIS Em face do exposto, o Ministério Público Federal, por seu Procurador da
República signatário, denuncia a Vossa Excelência: 1. ANA CLÁUDIA BARIZON FONTANA
DA LUZ, LUIZ HENRIQUE MASETO ZANOVELLO e PAULA NATANA COMACHIO como
incursos no crime tipificado no art. 90, da Lei nº 8.666/93, por 1 vez, na forma do art. 69 do
CP; e 2. EVERTON MEOTTI BURATTI, JUCELI LINCK MIOTTO e ZENILDE TEREZINHA
KARACEK como incursos no crime tipificado no art. 90, da Lei nº 8.666/93, por 2 vezes, na
forma do art. 69 do CP.
quais apenas realizou o julgamento objetivo das propostas e lances, não agindo de modo a
frustrar o caráter competitivo do certame. Por fim, insistiu na necessidade de absolvição da
acusada com fundamento no artigo 386, IV, do CPP (evento 250).
relação à reparação do dano, disse não haver prova de superfaturamento e/ou não
recebimento dos serviços contratados, não sendo cabível a fixação de valor a título de
reparação (evento 253).
que estava em férias na ocasião. Afirmou ter sido realizada pesquisa de preços para embasar
o pregão n. 01/2014, conforme restou demonstrado pela prova testemunhal. Destacou que a
prova pericial produzida pela própria Polícia Federal concluiu pela inexistência de
superfaturamento e que os preços dos contratos firmados com a Administração estavam
abaixo da média de mercado regional. Impugnou os valores apresentados pela acusação. Em
relação à similaridade entre as propostas disse que eventual semelhança é justificada pelas
providências requeridas aos contadores das empresas. Asseverou que o Edital n. 01/2014
reduziu a idade máxima dos veículos permitidos de 19 para 12 anos e que quando da vistoria
realizada pela Controladoria Geral da União, em setembro de 2017, os veículos vistoriados já
eram os decorrentes da contratação da licitação do Edital n. 04/2017. Que a cotação de
apenas algumas linhas pelas empresas participantes é justificada pelo então contexto fático da
época. Que não existe vedação à participação em licitações de empresas cuja composição
social inclua parentes. Discorreu ainda acerca de outros pontos aduzidos pela acusação em
alegações finais. Defendeu, ainda, a regularidade do pregão n. 04/2016 e a inexistência de
danos ao erário. Finalizou aduzindo não ter sido demonstrado o dolo para a prática dos
delitos imputados ao acusado. Informou que o Inquérito Civil instaurado pelo Ministério
Público do Estado de Santa Catarina em relação ao Edital n. 04/2016 restou arquivado pela
ausência de constatação de lesão ao erário. Reiterou argumentos. Salientou que o Ministério
Público Federal ajuizou a Ação Civil de Improbidade n. 5007350-29.2020.4.04.7202 no bojo
da qual requereu a condenação do acusado, a título de reparação de danos, no valor de R$
679.897,80. Por fim, insistiu na necessidade de absolvição (evento 254).
há prova do cometimento de fraude, sequer havendo prova da materialidade dos delitos. Para
o caso de eventual condenação, requereu sejam considerados os antecedentes favoráveis do
acusado (evento 256).
É o relatório.
FUNDAMENTAÇÃO
PRELIMINAR
a) Nulidade
É assente na lei que fatos que não constaram da denúncia só podem ser agregados à ação
mediante aditamento, conforme se extrai do artigo 384 do Código de Processo Penal, que
prescreve: [...] Ocorre que sem aditamento da denúncia na resposta às diligências (Evento
229) ou mesmo nas alegações derradeiras, o Ministério Público Federal, no item 3.3 das
alegações finais, apresenta alegação de supostas “ilicitudes” relacionadas ao acusado
GILMAR MARMENTINI, consubstanciadas em terceirização dos serviços de transporte
escolar. Tratando-se de fatos desconhecidos e que não constaram da denúncia, é evidente o
prejuízo do acusado, na medida em que não teve oportunidade de produzir provas acerca das
referidas alegações. Ademais, não existe, seja na lei ou nos editais, vedação para a
subcontratação ou mesmo para contratação de terceiros como condutores dos veículos
empregados no transporte escolar, desde que os mesmos atendam às exigências editalícias
quanto à habilitação especial e participação em cursos e outras exigências específicas do
Código de Trânsito, ou seja, além de se tratar de fato apresentado somente nas alegações
finais e sem pedido de aditamento da denúncia, a eventual utilização de terceiros para a
condução de veículos da contratada não encontra óbice. Ante o exposto, o acusado requer a
nulidade da imputação, com fundamento no art. 564, IV, do CPP e art. 5º, LV, da Constituição
Federal.
Inicialmente, deve ser observado que a nulidade alegada pela defesa do acusado
ALCIMAR DE OLIVEIRA sequer refere-se a tal réu, mas sim ao acusado GILMAR
MARMENTINI, de modo que eventual reconhecimento de nulidade no caso sequer
aproveitaria à defesa de ALCIMAR.
Em tal contexto, tenho que os fatos relatados pelo próprio réu GILMAR em seu
interrogatório não alteram os fatos já relatados pela denúncia, nem mesmo a capitulação
jurídica já indicada, não havendo, portanto, motivo para reconhecimento da nulidade alegada
pela defesa.
MÉRITO
b) Aspectos Gerais
c) Tipicidade
Lei n. 8.666/93
Art. 90. Frustrar ou fraudar, mediante ajuste, combinação ou qualquer outro expediente, o
caráter competitivo do procedimento licitatório, com o intuito de obter, para si ou para
outrem, vantagem decorrente da adjudicação do objeto da licitação:
Frustrar é fazer malograr, falhar, baldar, de modo que não se alcance o resultado pretendido
ou algo não saia como esperado.
Fraudar é enganar, iludir, defraudar ou obter vantagem por meio de fraude ou engano.
A frustração ou fraude poderão ocorrer por meio de ajuste, combinação ou qualquer outro
expediente.
Ajuste tem aqui o sentido de acordo, trato, ou pacto, sendo, na verdade, sinônimo de
combinação.
O exemplo poderá ser o ajuste de preços previamente à licitação, de modo a favorecer uma
determinada empresa, ou ainda a combinação de modo que uma empresa seja vencedora em
determinada licitação, mas perca em outra, sendo em ambas combinados os preços ou outras
condições previamente. Admite-se a interpretação analógica pois qualquer outro expediente,
ou seja, qualquer outro recurso ou meio assemelhado ao ajuste ou combinação, poderá dar
ensejo à incidência do tipo, como por exemplo, a revelação dos preços dos demais
concorrentes.
compatível com a gravidade e extensão do crime praticado. 6. Agravo regimental não provido.
(AgRg no REsp 1563167/SC, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em
23/08/2018, DJe 03/09/2018)
Pois bem, a existência material dos fatos está comprovada pelos elementos do
Inquérito Civil n. 1.33.002.000246/2015-50, conduzido pelo Ministério Público Federal, bem
como pelos elementos dos autos do Inquérito Policial n. 50073425220204047202. Destacam-
se, dentre todos os documentos, especialmente os seguintes (evento 1, ANEXOS 23, 24,25,
26 35):
da mencionada licitação foi maculado pela ação dos ora denunciados, já que houve o
direcionamento do certame e conluio entre os participantes. Das 14 rotas ofertadas, somente
em uma houve dois interessados, que são irmãos – AIRTON SENA MIOTTO e LUIZ
ALBERTO MIOTO. E dessas 14 rotas ofertadas, 7 foram vencidas por NEUDI JOSÉ
BURATTI, 3 por GILMAR ACHILES MARMENTINI, 2 por LAURO VALDECIR
WALENDORFF e uma por LUIZ ALBERTO MIOTTO. Essa evidente fraude era do
perfeito conhecimento do então prefeito ALCIMAR DE OLIVEIRA, que atuou
deliberadamente em todo o processo licitatório, inclusive atrasando seu início, para que não
houvesse tempo hábil para impedir o prosseguimento da licitação fraudada. Destaque-se,
ainda, o claro vínculo entre o então prefeito e os vereadores do município – todos do mesmo
partido. Não são minimamente críveis as afirmações do ex-prefeito, de que, num pequeno
município, não manteria relações próximas com vereadores do seu próprio partido. Ainda,
tratando-se de município pequeno, mostra-se evidente que o gestor municipal tinha perfeito
conhecimento dos vínculos e relações de parentesco entre os integrantes dos vários grupos de
licitantes que fraudavam as licitações – inclusive pelos sobrenomes de todos eles –,
combinando preços e montando propostas. Ademais, o resultado do primeiro certame, por si
só, com apenas um licitante apresentando proposta em praticamente todos os itens e sempre
no valor máximo previsto no edital, já se mostrava muito claro sobre o total direcionamento e
fraude em curso na licitação, não havendo qualquer atuação do gestor maior do município
para barrar esses ilícitos. Por fim, mas não menos importante, a total chancela do então
prefeito à fraude praticada nos pregões seguintes, com a criação de simulada empresa por
parte do filho do vereador de seu partido e aliado político, visando continuar explorando,
irregularmente, o transporte escolar no município, reforça sobremaneira o dolo daquele
gestor público. Destaca-se, também, que, em razão desses conluios e fraudes e ausência de
competição, os valores dessa nova contratação ficaram muito acima daqueles que já estavam
sendo praticados com os mesmos contratantes e acima também de contratação emergencial
realizada no ano anterior, ensejando dano ao erário municipal.
condutas que também se amoldam ao tipo do artigo 90 da Lei nº 8.666/93 É inequívoco que o
caráter competitivo da mencionada licitação também foi maculado pela ação dos ora
denunciados, já que houve o direcionamento do certame e conluio entre os participantes.
Desta vez, não houve participação direta de NEUDI JOSÉ BURATTI ME, vereador do
município de São Domingos. No entanto, seu filho, EVERTON MEOTTI BURATTI, titular de
empresa homônima, sagrou-se vencedor em 6 das 13 linhas ofertadas pelo município.
Conforme acima demonstrado, trata-se de empresa criada exclusivamente para tentar dar ares
de legalidade na perpetuação da prestação dos serviços por aquele vereador do município,
agora por intermédio de seu filho. Além disso, novamente houve evidente combinação e ajuste
prévio entre todos os licitantes que participaram do certame – EVERTON MEOTTI BURATTI
ME (representado por EVERTON MEOTTI BURATTI), GILMAR ACHILES MARMENTINI
ME (representada por GILMAR ACHILES MARMENTINI), LAURO VALDECIR
WANLENDORFF ME (representada por LAURO VALLDECIR WALLENDORF), ZENILDE
TEREZINHA KARACEK ME (representada por ZENILDE TEREZINHA KARACEK), AIRTON
SENA MIOTTO ME (representada por AIRTON SENA MIOTTO) e JL MIOTTO
TRANSPORTES ME (representado por JUCIELI LINCK MIOTTO), já que eles direcionaram
trechos específicos para cada empresa, conforme denotam, entre outros elementos, a
similaridade de propostas apresentadas por empresas que seriam supostamente concorrentes e
vínculos de parentesco e de endereços entre licitantes.
AIRTON SENA MIOTTO, LUIZ ALBERTO MIOTTO, JUCIELI LINCK MIOTTO e EVERTON
MEOTTI BURATTI, entre janeiro e 7 de fevereiro de 2017, no município de São Domingos,
deliberadamente e em concurso de pessoas (art. 29 do Código Penal), frustraram e
fraudaram, mediante ajuste, combinação e outros expedientes, o caráter competitivo do
Pregão Presencial nº 04/2017, com o intuito de obter para si (pessoas físicas representantes
das empresas licitantes) e para outrem (as empresas licitantes envolvidas) as vantagens
decorrentes da adjudicação do objeto licitado, condutas que também se amoldam ao tipo do
artigo 90 da Lei nº 8.666/93. Novamente, neste edital, a empresa EVERTON MEOTTI
BURATTI ME, representada por EVERTON MEOTTI BURATTI, sagrou-se vencedora em
quase metade das rotas oferecidas. Mais uma vez, também, identificou-se a participação de
pretensos licitantes com estreitos vínculos familiares e de endereço. Além disso, verifica-se
novamente que os licitantes apresentaram propostas com valores idênticos aos máximos
previstos em edital e que, em várias rotas, apenas um licitante apresentou proposta de preços.
Todos estes elementos denotam, sem margem para dúvidas, que o procedimento de dividir as
rotas entre os licitantes, praticado nas licitações anteriores, repetiu-se também no pregão
Em 2009, o município de São Domingos realizou o Pregão Presencial nº 01/2009 para atender
ao transporte escolar (cópia do procedimento no Anexo II, Vol. 1 e 2, do IC). Ao final do
certame, foram contratadas, dentre outras, as empresas GILMAR ACHILES MARMENTINI
ME e NEUDI JOSÉ BURATTI ME. O contrato sofreu diversos aditivos e permaneceu vigente
até o fim do ano de 2013 (fls. 50-54 do IC e fls. 500-507, 516-523, 554, 558, 579-580, 591-
592, 638-639, 653-654, 690-691 e 696-697 do Anexo II, Vol. 2, do IC).
O Edital (fls. 2-17 do Anexo II, Vol. 1, do IC) previu, em seu item 1.11, que o prazo de vigência
do contrato decorrente daquele processo licitatório iria até o final do exercício de 2009,
podendo ser prorrogado, a critério da Administração, por períodos sucessivos de 12 (doze)
meses cada um (para os anos letivos de 2010, 2011 e 2012) até no máximo de 36 (trinta e seis)
meses de prorrogação.
No entanto, os contratos foram prorrogados até o ano letivo de 2013, conforme os Termos
Aditivos nº 115 e nº 117, ambos de 15 de dezembro de 2012 (fls. 690-691 e 696- 697 do Anexo
II, Vol. 2, do IC).
Portanto, desde 01/01/2013, quando houve a diplomação, o então vereador NEUDI JOSÉ
BURATTI acumulou a atividade de vereança com a qualidade de contratado pela prefeitura do
município em que atuava como vereador (fls. 61-65 do Anexo I do IC). GILMAR ACHILES
MARMENTINI também exerceu o cargo de vereador durante a vigência do contrato (fls. 66-76
do Anexo I do IC).
[...]
Com relação ao Pregão Presencial n° 01/2009, que foi deflagrado antes das eleições de 2012
e, portanto, muito antes do início do mandato de NEUDI JOSÉ BURATTI e da suplência de
GILMAR ACHILES MARMENTINI, e pretendia contratar empresas de transporte escolar
para 21 trajetos no interior do município de São Domingos/SC, foi possível observar certa
proporcionalidade quanto à distribuição do objeto licitado entre as empresas participantes,
sobressaindo-se, no entanto, a empresa de NEUDI JOSÉ BURATTI, com 6 linhas (28,6%),
ainda assim, dentro de uma aparente normalidade (conforme Termo de Homologação e Termo
de Adjudicação, respectivamente, de fls. 452-457 e f. 458 do Anexo II, Vol. 2, do IC).
Com exemplo, cita-se o trajeto da “linha 03”, que tinha como valor máximo definido no edital
a ser pago por quilômetro rodado a importância de R$ 1,60 (item 1.8 do edital – f. 05 do
Anexo II, Vol. 1, do IC). As propostas constantes nos envelopes das 8 empresas que
concorreram por esta linha foram de R$1,58; R$1,52; R$1,50; R$1,48; R$1,45; R$1,45;
R$1,44; e R$1,40, sendo que, após a fase de lances, a linha foi contratada por R$ 1,03 por
quilômetro rodado (f. 415 do Anexo II, Vol. 1, do IC), uma redução de mais de 35% sobre o
preço inicial definido pelo município de São Domingos.
A “linha 03” foi disputada por 4 empresas na fase de lances, que juntas apresentaram um
total de 19 ofertas, antes de o certame finalizar ao preço de R$ 1,03.
Em média, o preço da menor proposta para cada trajeto foi reduzido em 15% após a
realização da fase de lances (fls. 501-502 do IC).
1. Introdução
A presente Nota Técnica tem o propósito de atender a demandado MPF para indicação de
proce dimentos a adotar em diligências, com vistas a subsidiar posteriores analises do MPF
em casos acerca da matéria, em atenção à demanda externa de análise de processo sobre o
PNATE e o transporte escolar de São Domingos/SC, efetuada por meio do Ofício n°
794/2016/GAB2/PRM/CHAPECÓ/SC, relacionado ao Inquérito Civil-IC n° 1.33.002000246
/2015-50 [...]
Identificou-se a troca de e-mails com a empresa supracitada sobre o edital, iniciada 3 (três)
dias antes de sua publicação. A publicação no D.O. de SC ocorreu em 13/01/2014; no mesmo
dia, às 08:25, houve e-mail do Setor de Licitações para Ana Paula - Agn Contabilidade
(telefone 49- 3443-0324), em resposta a e-mail datado de 10/01/2014 (folha 32). Esse fato
indica que poderia haver conhecimento prévio do participante sobre o conteúdo do edital em
vias de ser lançado. Para os demais interessados constavam nos autos os documentos de
"Recibo", com a comprovação de retirada do edital (suas datas eram a partir de 13/01/2014 -
data da publicação).
No Pregão Presencial anterior, tinha havido publicação no Jornal "O Diário" e no Jornal "A
Notícia"(folhas 33 e 34 do PP 001/2009). No certame mais antigo, houve maior quantidade de
participantes e de vencedores de itens, inclusive teve itens vencidos por todos os quatro
vencedores de itens no PP 001/2014. Não foi identificada a motivação para a condução
diferente no certame mais recente.
Não se identificou no processo eventual pesquisa de preços elaborada pelo pregoeiro ou pela
co missão licitante que tenha embasado a definição dos valores previstos no edital.
A terceira proposta, das 5 constantes dos autos, foi da empresa Neudi José Buratti ME (CNPJ
n° 05.657.874/0001-30), que ofertou preço para sete itens: 01, 02,03,04,05,06 e 07(folha 90).
As propostas escritas para todos os itens licitados foram no mesmo valor previsto no Edital
(folhas 5 a 6).
Gilmar Achiles Marmentini ME venceu emtodos os 3 itens que ofertou, semredução de preço.
Lauro Valdecir WalendorffME venceu emtodosos 3 itens que ofertou, sem reduçãode preço.
Neudi JoséBuratti ME venceu em todosos 7 itensque ofertou, sem redução de preço.
O quadro comparativo depreços dalicitação, datado de23/01/2014 (folhas 96a 100), foi
assinado por Ana Claudia Barizon Fontana da Luz (CPF n° 854.411.559-49 - Pregoeira),
Paula Natana Comachio (CPF n° 065.383.649-00 - Membro da Comissão de Licitações),
Adriana Lúcia Pretto (CPF n° 017.554.689-46 - Membro da Comissão de Licitações), Odila
Girotto Elger (CPF n° 753.619.659-87 - Suplente da Comissão de Licitações).
Constou, ainda o nome de Lenize Klein Latreille (Suplenteda Comissão de Licitações), a qual
não assinou. Constatou-se que o único itemque tevemais de uma proposta foi o item9
(duaspropostas).
Destaca-se que, no PP 001/2014, a única redução de preço foi de R$ 0,01 no preço do item 9.
So mente para esse item ocorreu mais de uma proposta (ambas em valor idêntico ao previsto
no edi tal), as quais foram apresentadas por empresas pertencentes a 2 (dois) irmãos, onde um
Havia no edital a previsão do subitem 8.17, que não teve oportunidade de aplicação: "O
Pregoeiro, Oficial do Município poderá estipular o valor mínimo do lance e o tempo, para o
item ".
Pelo exposto, identificou-se que o certame não apresentou competitividade. Cada licitante
escolheu as linhas que desejaria atuar, elaborou proposta com o mesmo preço previsto no
edital e venceu exatamente os itens ofertados, sem disputa maximizando o preço.
[...]
633.4.1 Orientações dos normativos do PNATE sobre o tempo de uso dos veículos.
A testemunha Caciano Lazzaretti, que possui uma oficina mecânica, disse que
nunca trabalhou para o Município de São Domingos. Afirmou que cada um dos acusados
AIRTON, JUCIELI e LUIZ leva o seu ônibus para fazer serviços em sua mecânica, sendo
cada um deles responsável pelo pagamento de sua respectiva empresa. Questionada pela
acusação, a testemunha disse que atualmente as empresas ficam em Coronel Martins, não
sabendo dizer o endereço especificamente. Disse que não faz mais serviço para AIRTON,
apenas para o LUIZ e também para a JUCIELI, que possui a empresa JR ou JL MIOTTO. Só
sabe dizer a cidade, não sabendo dizer o endereço específico. Costuma receber os
pagamentos de maneira variada, para sua empresa. Que acredita que os serviços prestados
para a JL MIOTTO são posteriores a 2017, mais recentes (evento 197, VIDEO1).
Consoladora à época de 2015. Acredita que umas 15 famílias. Que o endereço da empresa era
Linha Consoladora, sem número por ser interior. Nunca trabalhou para GILMAR
MARMENTINI e mora distante dele, não possuindo contato. Questionado pela acusação,
disse ter trabalhado para a JUCIELI e para o AIRTON (para o AIRTON sem carteria assinada
no período de 2021). Antes disso trabalhava para a JL, de 2017 a 2019. Antes ainda disso
trabalhou em 2009. Foi contratado pela JUCIELI. A sede da empresa JL Miotto é na Linha
Consoladora. Atualmente trabalha para a Prefeitura Municipal de São Domingos. (evento
197, VIDEO2).
preenchimento da tomada de preços, mas não pode afirmar que seu escritório foi responsável
pela elaboração das propostas, pelo considerável período de tempo já decorrido desde então
(eventos 198 e 199, VIDEO1).
A testemunha Julcimar Frozza disse ser mecânico e que presta serviços para as
empresas de AIRTON, LUIZ e JUCIELI MIOTTO. Disse que cada motorista leva os seus
veículos, e que cada empresa paga o respectivo serviço. Disse que LUIZ e AIRTON não
moram na mesma casa, e pelo que sabe nunca moraram juntos. Questionada pela defesa de
ALCIMAR, a testemunha disse que o reajuste de peças ocorre conforme o aumento também
lhe é repassado, mas não sabe dar detalhes. Questionada pela acusação, a testemunha disse
que acredita prestar serviços para as empresas MIOTTO há seis anos. Prestava mais serviços
para a empresa de AIRTON, sendo que LUIZ apareceu depois de alguns meses. Quanto à
empresa de JUCIELI disse não lembrar. Disse que a empresa de AIRTON fica em São
Domingos e a empresa de JUCIELI em Coronel Martins, não tendo certeza (evento 200,
VIDEO1).
A testemunha Angelo Contti, corretor de seguros, disse que cada uma das
empresas de AIRTON, LUIZ e JUCIELI possui a sua respectiva empresa, de maneira
independente. AIRTON reside no interior, que não possui número de identificação nas casas.
Vários moradores moram na mesma linha, mas não é o mesmo local. Salvo engano, a
JUCIELI reside em Coronel Martins. Disse que não recorda se foi até a empresa JL em
Coronel Martins. A venda de seguros acontece muito por indicação. Que JUCIELI é
esposa/companheira de LUIZ e LUIZ e AIRTON são irmãos (evento 201, VIDEO1).
A testemunha Odila Girotto Elger disse que é servidora pública desde 1993 no
Município de São Domingos, atuando no setor de RH. Disse ter participado de várias
comissões de licitação. Que lembra de ter participado do pregão em 2016, no momento da
licitação. Nunca presenciou combinação entre os participantes. Nunca presenciou a assessoria
jurídica do Município orientando a comissão ou participando de reuniões com as empresas
participantes. Não sabe dizer sobre a pesquisa de preços porque não participava dessa parte.
Que também participou da equipe do Pregão de 2014 reafirmando que não ocorreu nenhuma
interferência também naquele processo de 2014. Na prática, apenas acompanhava, sendo que
a abertura das propostas era feita pela equipe, pregoeiro, assim como os documentos de
habilitação. Disse que o prefeito não participou da sessão pública, pelo que recorda. Não
lembra se ocorreu impugnação na etapa de habilitação das empresas. Nunca viu o Município
disponibilizando modelos para os interessados utilizarem em suas propostas. Conhece
NEURI BURATTI há bastante tempo e sabe que ele era motorista, não sabendo dizer se ainda
é. Que em Município pequeno sempre há disputa entre partidos de direita e esquerda. Que
não recorda se o edital vinha com modelo de proposta. Que a postura dos pregoeiros era
bastante rígida para manter a ordem durante o processo de licitação. Que não lembra em que
ano PAULA NATANA foi contratada. Que as pesquisas de preço partiam mais das
secretarias. Cumulava funções, então participava apenas do momento do pregão, em outras
etapas do processo de licitação não atuava. Não sabe dizer das outras etapas do processo de
licitação. Que sempre era pedido pelo pregoeiro para baixar os preços em prol do Município,
que foi solicitado, mas que os participantes afirmaram que o preço já era baixo. Que a
pregoeira ANA possuía outra função à época, junto à secretaria de Administração, tendo
participado como pregoeira apenas em substituição. O servidor à época responsável estava de
férias. Disse que ANA não era amiga dos participantes, apenas conhecia como os demais. Em
geral acredita que existem orçamentos/pesquisas de mercado nos processos licitatórios, não
lembrando se havia nesse caso específico. No geral, sabia que as licitações deveriam ter
pesquisa de preço. Em geral também afirma que havia disputa entre os licitantes pelo objeto
da licitação. Não sabe dizer especificamente acerca do Edital 2014. Que todos os pregoeiros
com quem participou atuavam para baixar os preços durante o pregão (eventos 202 e 203,
VIDEO1).
A testemunha Adriana Lúcia Pretto disse ser servidora pública há doze anos no
município de São Domingos. Atualmente trabalha na Secretaria de Educação e antes disso no
setor de compras do município. Disse que era membro da comissão de licitação e que
trabalhou no pregão de 2014 e no de 2016. Disse não ter participado da pesquisa de preços do
processo, tendo atuado apenas no momento da sessão. Disse que não foram concedidos
privilégios aos participantes e que não percebeu nenhuma combinação. Não lembra de
ter presenciado a assessoria jurídica participando da licitação ou orientando participantes.
Que não lembra se o prefeito ALCIMAR participou de alguma reunião da licitação ou da
sessão do pregão, nem se havia modelo de proposta disponibilizado pelo Município aos
participantes. Disse conhecer NEURI BURATTI há bastante tempo e que é uma pessoa bem
vista pela sociedade, de boa índole. Que a atuação do pregoeiro era rígida pela ordem durante
5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771
https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 89/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::
a sessão. Que o processo de licitação chegava pronto ao setor, com origem na secretaria. Que
PAULA NATANA foi contratada em 2016. Que pelo que lembra o edital era elaborado pelo
setor de licitações. Não lembra se os vereadores acompanharam alguma licitação.
Questionada pela acusação, a testemunha disse que em geral havia disputa nas licitações
realizadas pelo Município. Que no caso de 2014 não recorda sobre não ter havido disputa
entre as linhas. Que as pregoeiras eram bastante insistentes na redução dos preços, mas nem
sempre a redução propriamente era obtida. Que NEUDI atualmente é motorista e EVERTON,
filho de NEUDIR, também atuava no transporte escolar à época de 2014, não sabendo dizer
se trabalhavam juntos (eventos 204 e 205, VIDEO1).
A testemunha Iraci Ines Marmentini Walendorff disse não ser parente nem
próxima de GILMAR e de LAURO, apesar dos sobrenomes. Que é servidora pública do
Município de São Domingos desde 1983, atualmente possui cargo em comissão. Trabalhava
no setor da eduação, e possuía como função os programas do Governo Federal e da Secretaria
5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771
https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 90/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::
foram solicitados orçamentos. Pontou que em determinadas áreas havia bastante dificuldade
na obtenção dos orçamentos, para formação dos preços, em razão do tamanho pequeno do
Município (evento 208, VIDEO1).
Afirmou que o setor de licitação foi quem definiu os preços da licitação. Pelo que lembra a
responsável pelo setor no período era a PAULA, não recordando exatamente se a ALINI
também era do setor à época. Questionado pelo juízo, disse que a prorrogação até 2013 foi
com base na lei de licitações, que admite a prorrogação por até 60 meses. Disse que
aproveitou até o limite dos 60 meses por conta do preço que permanecia bom. Em 2014 disse
ter sido realizada nova licitação em razão de que não havia mais espaço para prorrogação. Em
2016 a nova licitação foi realizada para atender uma recomendação do Ministério Público
Estadual para que o Município não contratasse serviços de empresas de vereadores.
Questionado pelo juízo acerca do filho do vereador NEUDI ter vencido várias linhas da
licitação de 2016, disse que à época essa situação veio a tona para discussão, sendo que
remetido o processo para o setor jurídico, o parecer foi no sentido de que as empresas eram
distintas e que, então, naquele momento entendeu que não existia problema. Disse ter seguido
a orientação do parecer jurídico, e que não orientou a forma como o parecer deveria ser. Que
o setor jurídico tinha a liberdade necessária de atuação. Questionado acerca das condições
dos veículos, disse que não chegou a fazer vistoria nos veículos, mas que o edital tinha
descrição das exigências mínimas e que durante a execução dos serviços as reclamações eram
realizadas perante a própria secretaria de educação, que costumava resolver as situações.
Afirmou que, salvo engano, as fotografias da denúncia (páginas 40/41) são do ano de 2017,
quando o acusado já não era mais prefeito. Pontou que à época, infelizmente, também havia
vandalismo por parte dos próprios estudantes, como se vê de um banco rasgado. Questionado
acerca da relação entre o acusado e NEUDI JOSÉ BURATTI e GILMAR AQUILES
MARMENTINI disse que são pessoas que conhece da comunidade e que não tinha nenhuma
relação, são pessoas do transporte escolar que participaram do processo licitatório de 2009 e
depois passaram a ter relação partidária, pois foram candidatos, em 2012, sendo que NEUDI
elegeu-se vereador e GILMAR ficou suplente. Não eram de frequentar a casa um do outro,
nem relação de amizade. Disse que NEUDI assumiu a presidência da câmara, salvo engano,
nos dois últimos anos e que não possuía influência sobre o Legislativo, tendo suportado
bastante oposição. Disse que teve inúmeras representações perante o Ministério Público.
Questionado acerca da origem da denúncia, disse não ter dúvida de que a denúncia tenha
ocorrido em razão de retaliações políticas. Disse que o então advogado concursado do
Município se elegeu vereador e permaneceu como advogado do Município, quando então o
Município notificou ele para optar e nenhuma atitude foi tomada pelo denunciante.
Posteriormente, depois inclusive de ter concorrido a prefeito, o denunciante retornou como
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https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 94/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::
pela ANA. Quando a ANA foi para a secretaria de administração, assumiu o setor em 2015.
Em 2014 eram a acusada, a ANA e a ALINI, que trabalhavam no setor. Questionada pelo
juízo em relação à licitação de 2014, por ter sido a pessoa que respondeu um email enviado
pelo escritório de contabilidade AGN solicitando o edital de licitação, chamando atenção que
à época o edital ainda não havia sido publicado, esclareceu o seguinte: que inicialmente as
pesquisas de preço eram realizadas por e-mail e que depois disso passaram a realizar as
pesquisas por telefone, porque os participantes começaram a reclamar que o preço constante
do edital estava inferior ao informado no orçamento. Assim, ligavam para outros Municípios
e escritórios de empresas para cotar preços, quando então as pessoas acabavam tendo
conhecimento de que o edital de licitação seria publicado. No entanto, disse ter esclarecido
no email ao escritório AGN que o edital apenas poderia ser disponibilizado após a devida
publicação. Disse que à época da licitação de 2014 entrou em contato com as empresas que já
prestavam serviços de transporte escolar para o Município desde 2009. Acredita que tenha
ligado para todas as empresas do Município, à época, para cotar os preços. Acerca da
contratação emergencial realizada em 2013, disse não recordar exatamente, mas acredita que
o contrato tenha sido feito em função de atualização das matrículas de alunos do estado, que
não estavam matriculados, tendo sido feito o contrato emergencial para anteder a esses
alunos. Acerca da informalidade da pesquisa de preços, disse que havia uma dificuldade
muito grande de obter prestadores e que como havia uma resistência em fornecer orçamentos,
acabaram por realizar a pesquisa de preços informalmente para garantir a sequência do
processo de licitação. Em relação ao elastecimento do prazo, disse que foi concedido em
função da natureza contínua da prestação do serviços, especialmente com a intenção de evitar
que o Município ficasse sem o transporte escolar. Em relação ao edital de 2016, disse que
tomou conhecimento acerca da recomendação do Ministério Público para evitar que
vereadores contratassem com o Município. Quando o filho de NEUDI ganhou a licitação,
disse que a assessoria jurídica foi questionada sobre o ponto, sendo que também ficou com
dúvida sobre a possibilidade do filho participar, mas que, como a vedação era específica
sobre o agente público e não sobre os familiares, o processo de licitação teve sequência.
Acerca da questão da consulta de preços informal, realizada em conjunto com a secretaria de
educação, disse que o processo ficou no limite da data da publicação exatamente porque não
estavam sendo obtidos os orçamentos. Salientou, ainda, que a execução do contrato era
rigorosamente realizada pela secretaria de educação. Que no momento da sessão da licitação
não havia como apurar eventual fraude praticada pela empresa de EVERTON, porque o
5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771
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vereador NEUDI não participava do contrato social. Além disso, a apresentação dos veículos
e motoristas ocorreu apenas após a assinatura do contrato e declaração de vencedores (evento
2016, VIDEO1).
e também com as demais. A empresa de AIRTON no início teve uma contabilidade, depois
foi alterada para uma de maior qualidade. A empresa ficava sabendo da licitação pelo mural
da prefeitura e também pelo jornal Diário do Iguaçu, depois retirava o edital e levava para o
contador. Depois disso, o contador ligava somente para passar lá assinar, colocar os preços e
pegar os papéis para participar da licitação. Quanto à sede das empresas, disse não ficam no
mesmo local. Naquele período o acusado disse que residia com os avós. O irmão do acusado
residia em outro local, mas todos ficavam na mesma localidade, na Linha Consoladora.
Questionado pelo juízo acerca do estacionamento onde ficavam as empresas, disse que na
foto apresentada aparece a casa onde ele (o acusado) mora, sendo que utiliza o endereço
apenas para fins formais/de correspondência. Sua empresa não possui pátio, os seus veículos
ficam estacionados pela rua, fim de linha, ou postos de gasolina. Questionado acerca da
proposta no valor do edital, disse ter medo de perder, mas que sua intenção era
participar/começar a prestar serviço para o Município. Porém, disse que o valor estava muito
abaixo do praticado em outros Municípios. Disse que o preço apresentado entre a empresa
dele (o acusado) e o seu irmão foi coincidência. Negou que houve conversa para combinação
de valores. Disse que, salvo engano, a linha que ele participou partia da cidade, era uma linha
nova, e acreditou que teria mais vantagem em executar essa linha. Negou ter sido procurado
antes da licitação para pesquisa de preços. Questionado pela acusação, disse ter havido
equívoco da CGU ao considerar o pátio de sua casa como garagem de veículos, pois não
havia nenhum veículo estacionado no local. O endereço informado para a Receita Federal era
na Linha Consoladora sem número. Não recorda se o seu irmão LUIS ALBERTO também foi
seu funcionário, e disse não ter sido funcionário da JL MIOTTO. Disse que uma das sócias da
JL é a JUCIELI, mas não sabe se tem outros sócios. Disse que a empresa JL é sediada em
Coronel Martins, mas não tem certeza do local da sede em 2014, só sabia que era próximo da
propriedade de seu avó. JUCIELI é casada com o irmão do acusado LUIS e desde que
casaram residem juntos, não sabendo precisar qual o ano do casamento. Negou ter tido
contato com a assessoria jurídica do Município. (eventos 217 e 218, VIDEO1).
Como o Município exigia carteira assinada, ele assinou, mas o trabalho não era contínuo.
Enquanto isso o acusado precisava trabalhar na granja de sua propriedade. Disse que morava
próximo da propriedade de seu avô, onde AIRTON morava também. Que a sede das empresas
eram nas casas dos acusados, mas que eles não moravam juntos. Sobre a JL MIOTTO disse
não ser sócio, sendo que a empresa pertence à esposa do acusado. A sede da JL na época
também era na residência do casal. Questionado especificamente acerca de eventual
combinação entre os participantes da licitação, negou, dizendo que o preço do edital já era
muito baixo e que não havia como ofertar um preço menor porque acarretaria prejuízo. Disse
que se interessou apenas por uma linha por ser mais curta, plana e fácil de executar, mas que
São Domingos sempre teve um preço muito baixo, então preferiu executar serviços de
transporte em Municípios vizinhos. Negou que os licitantes conversaram entre si para
combinar os preços e as linhas. Disse ter sido procurado pela Prefeitura de São Domingos
para pesquisa de preço, mas que sempre, toda vez que foi procurado, o valor do orçamento
nunca chegou perto do publicado no edital, sempre abaixo. Questionado pela acusação, disse
que em 2016 possuía veículos sobrando e por isso decidiu participar de mais linhas. Que em
2016 o endereço da empresa de sua esposa ainda era no mesmo lugar (residência do casal),
mas eram independentes. Negou ter tido contato e/ou ter sido orientado pela assessoria
jurídica do Município de São Domingos durante a época que prestou serviços para a
prefeitura. (evento 218, VIDEO2).
lembrar de ter sido contratado pelo filho para trabalhar. Disse ter 52 anos e que nasceu em
Xavantina, tendo mudado para São Domingos em 1992, tendo estudado até a 4ª série (evento
219, VIDEO2).
serviço dessa forma. O acusado, enquanto empresa, prontificou-se a utilizar seu próprio
CNPJ para executar o serviço nestas linhas, mediante terceirizados. Negou ter sido procurado
pelos demais licitantes para combinar valores. Salientou que em 2016 fez proposta para três
linhas, tendo perdido em duas e logrando-se vencedor em apenas uma, o que demonstra que
nunca ocorreu conluio. Pelo que lembra, foi a empresa de um dos MIOTTOS que ganhou as
linhas que também eram de interesse do acusado e acabou perdendo.(evento 221, VIDEO1).
numeração e conteúdo da legenda do quadro contendo o valor da proposta, para o igual valor
unitário do km rodado, além do conteúdo e do formato do endereçamento e da descrição do
objeto.
Além disso, essa possibilidade foi afastada pelas testemunhas de defesa que trabalharam no
setor de licitação da prefeitura, que disseram, em sua maioria, não recordar de tal
procedimento. A única pessoa que confirmou categoricamente o fornecimento de modelo foi
Alyne Nayara Lammel, que trabalhou no setor de licitação entre 2014 e 2022, e afirmou que
os modelos de propostas eram disponibilizados por meio da inclusão no próprio edital
licitatório, e que era um modelo básico (evento 206, VÍDEO1, 4’40”; 7’25”). Em seguida
esclareceu que esses modelos eram incluídos nos demais editais, mas não tem certeza sobre os
editais de transporte escolar, e ainda que seria incluído na forma de anexo do edital, não
sendo disponibilizado para as empresas de modo informal (evento 207, VÍDEO1). Cabe
destacar que, analisando os editais em tela, em nenhum deles é encontrado qualquer anexo
contendo modelo de apresentação de propostas, reforçando que tal nunca ocorreu. Da mesma
forma, a alegação de que as propostas seriam idênticas por terem sido elaboradas pelo mesmo
escritório de contabilidade também não se sustenta. A testemunha Valdir Dal Magro,
proprietário o escritório de contabilidade CONTAMAIS, e que é contador das empresas dos
integrantes da família MIOTTO, tratou de argumentar que as empresas teriam dificuldade
para apresentar toda a documentação exigida para a participação em licitações, pelo que o
escritório auxiliaria inclusive no preenchimento das propostas, cabendo ao proprietário
apenas a definição do valor e o aporte da assinatura, e que acredita que foi utilizado modelo
disponível no site da prefeitura – o que, como já exposto, não ocorria. Segundo sua versão
inicial, cada empresa seria assessorada por um funcionário diferente da empresa, a fim de
resguardar o sigilo das propostas. Contudo, essa versão não se sustenta, uma vez que as
informações constantes da RAIS indicam que o escritório em questão possuía de 7 a 10
funcionários trabalhando de 2014 a 2016 (evento 228, ANEXO18), o que, obviamente,
impediria tal compartimentação das atividades. Inclusive, após questionamento do MPF, a
própria testemunha afirma que o escritório de contabilidade geralmente auxilia apenas na
obtenção das certidões negativas e demais documentos que precisassem apresentar na
licitação, e que eventualmente algum funcionário poderia auxiliar aquelas empresas que
tivessem dificuldades no preenchimento da proposta, mas não acontecia sempre (evento 199,
EVENTO1, 7’20”). Além disso, ao serem mostradas as propostas apresentadas pelas empresas
(p. 13 da denúncia), Valdir reconheceu que não teria condições de afirmar que as propostas
apresentadas teriam sido elaboradas por seu escritório. Salienta-se, contudo, que, mesmo que
tivessem sido elaboradas pelo escritório, resta evidente – em especial pelos fortes vínculos
pessoais – que isso em nada alteraria o evidente conluio entre os envolvidos, inclusive na
elaboração das propostas. O depoimento do contador Clóvis Romildo Mazzuco (evento 208,
VÍDEO2) é no mesmo sentido, de que o escritório de contabilidade teria um modelo próprio
para a apresentação de propostas em licitações com esse tipo de objeto, e que auxiliava na
obtenção dos documentos e preenchimento da proposta, resguardando o sigilo profissional.
Contudo, da mesma forma que o escritório anterior, trata-se de escritório de contabilidade
com poucos funcionários – de 9 a 13, nos anos de 2014 a 2016 – de modo que é totalmente
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improvável que cada empresa tenha sido assessorada por pessoas diferentes, especialmente
considerando que todo escritório de contabilidade funciona com funcionários divididos por
vários setores (contábil, pessoal/RH, fiscal etc.). Assim, com tão poucos funcionários, evidente
que, mesmo que tais propostas tivessem sido elaboradas pelos escritórios de contabilidade,
certamente não haveria a preservação de sigilo que se tentou inicialmente demonstrar. Ou
seja, a combinação e montagem conjunta de propostas pelos grupos de licitantes é muito
clara! Em conclusão, resta evidente que existiu conluio entre os supostos concorrentes, ao
ponto de grupos deles terem utilizado um modelo de apresentação de propostas idêntico.
Vale destacar também que não por poucas vezes os acusados NEUDI JOSE
BURATTI e GILMAR ACHILLES MARMENTINI, em seus interrogatórios em juízo
utilizaram expressões do tipo 'cada um com a sua linha; cada um ia na sua linha', referindo-
se que cada participante em perfeita coincidência optava por realizar proposta tão somente
nas linhas que lhe interessavam, justificando que cada um residia mais próximo e/ou já
possuía o hábito de executar tal trajeto.
Em tal contexto de coincidências tão exatas e uniformes entre si, não há como
atribuir credibilidade às versões trazidas pelas defesas, bem como pelos próprios réus em
seus interrogatórios, de modo que o conjunto de provas produzido é suficiente para concluir
que os acusados, na condição de representantes das empresas licitantes, apresentaram suas
propostas com o objetivo claro de exterminar qualquer possibilidade de concorrência e de
diminuição de preços, direcionando cada item da licitação para um dos participantes,
conforme ajustado previamente, praticando, assim, o crime previsto no artigo 90 da Lei n.
8.666/93 - atualmente artigo 337-F do Código Penal.
Daí, inclusive, a conclusão da prova pericial produzida pela Polícia Federal não
ser determinante à caracterização da prática do delito imputado aos réus pela denúncia.
Não se olvida de que assiste razão às defesas quando afirmam que inclusive tal
proibição de contratação era objeto de controvérsia na doutrina e na jurisprudência.
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a sua própria vontade, quando notificado pelo Ministério Público Estadual, inclusive, acerca
da imoralidade da contratação de sua própria empresa pela Administração Pública, na
qualidade de ocupante de cargo de Vereador e de Presidente da Câmara.
Mais uma vez o conjunto de elementos probatórios produzidos nos autos não
deixa dúvidas de que a empresa de EVERTON foi utilizada por NEUDI para viabilizar sua
permanência na prestação de serviços de transporte escolar ao Município mediante a prática
de ajuste de preços e de propostas com o objetivo de frustrar a competição dos editais de
licitação e adjudicar os serviços exatamente da maneira ajustada entre as empresas de
titularidade dos acusados na presente ação penal.
No ponto, vale acrescentar que poderiam as defesas ter facilmente trazido aos
autos provas contundentes da efetiva criação da empresa de EVERTON MEOTTI, a exemplo
dos contratos de financiamentos bancários que EVERTON disse ter contratado para a
aquisição de veículos pela sua empresa, em seu interrogatório. No entanto, nada foi juntado
aos autos.
Vale constar que tal ônus da prova, de fácil produção, competiria à defesa (CPP,
art. 156) - que simplesmente não o fez. A propósito, 'É ônus da defesa demonstrar de maneira
concreta a tese invocada em seu favor, bem como sua verossimilhança (CPP, art. 156). A
mera negativa de dolo e de participação do delito, dissociada do farto e
coeso conjunto probatório produzido nos autos demonstrando exatamente o contrário, impõe
a condenação do réu'. Nesse sentido: TRF4, ACR 5060767-57.2016.4.04.7000, SÉTIMA
TURMA, Relatora CLÁUDIA CRISTINA CRISTOFANI, juntado aos autos em 04/12/2019.
Por sua vez, quanto à alegada confusão entre as pessoas físicas e jurídicas
relacionadas às empresas AIRTON SENA MIOTTO EIRELE ME, LUIZ ALBERTO
MIOTTO ME e JL MIOTTO TRANSPORTE ME, pertencentes respectivamente aos
acusados AIRTON SENA MIOTO, LUIZ ALBERTO MIOTTO e JUCIELI LINCK
MIOTTO, necessário tecer as seguintes considerações.
É incontroverso nos autos que AIRTON SENA e LUIZ ALBERTO são irmãos e
que JUCIELI LINK é esposa de LUIZ.
Ademais, restou constatado por visita in loco realizada pela Controladoria Geral
da União que as três empresas funcionavam no mesmo endereço, além de compartilhar o
mesmo estacionamento. A constatação foi objeto de registro fotográfico pela CGU (IPL
n. 50024411220184047202, evento 1, INQ4, pp. 12/13).
Por sua vez, quanto aos preços e propostas idênticas, em síntese, as defesas de
AIRTON, LUIZ e JUCIELI afirmam que compartilhavam dos mesmos serviços de
contabilidade, sendo os contadores os responsáveis pela preparação da documentação, sendo
por tal motivo, de formatação semelhante. Quanto ao preço, aduziram que se tratou de mera
coincidência, negando o ajuste prévio.
No ponto, tenho que assiste razão à acusação quando afirma que a justificativa
de AIRTON SENA de que teria prestado serviços à empresa de seu irmão para substituir
motoristas, bem como em atenção à exigência do próprio Município, de anotação de CTPS,
também não pode ser acolhida, diante da existência de uma contratação cruzada, de forma
que a pessoa física de AIRTON foi contratada pela pessoa jurídica de titularidade de seu
irmão, LUIZ, inclusive em períodos coincidentes. Tal situação denota que as empresas eram
administradas de forma conjunta e que os irmãos atuavam indiscriminadamente como
motoristas de uma e de outra empresa.
Outrossim, merece também destaque que, não obstante JUCIELI ter afirmado
que não lembrava desse fato em seu interrogatório, a prova documental demonstra que LUIZ
ALBERTO também foi registrado como empregado da empresa JL MIOTTO
TRANSPORTES, de titularidade de JUCIELI, entre 2013 e 2014 (evento 228, ANEXO12).
JUCIELI, por sua vez, foi empregada das empresas AIRTON SENA EIRELI
nos anos de 2008 e 2009 e LUIZ ALBERTO MIOTTO nos anos de 2010 a 2015 (evento 228,
ANEXO9).
Note-se que, mais uma vez, poderiam os réus ter facilmente trazido aos autos as
notas fiscais/recibos de prestação de serviços aos veículos das empresas de AIRTON, de
LUIZ e de JUCILEI, conforme alegaram as testemunhas arroladas pela defesa, no sentido de
que os serviços de cada uma das empresas era contratado de maneira isolada. Nada disso veio
aos autos.
Vale constar que tal ônus da prova, de fácil produção, competiria à defesa (CPP,
art. 156) - que simplesmente não o fez. A propósito, 'É ônus da defesa demonstrar de maneira
concreta a tese invocada em seu favor, bem como sua verossimilhança (CPP, art. 156). A
mera negativa de dolo e de participação do delito, dissociada do farto e
coeso conjunto probatório produzido nos autos demonstrando exatamente o contrário, impõe
a condenação do réu'. Nesse sentido: TRF4, ACR 5060767-57.2016.4.04.7000, SÉTIMA
TURMA, Relatora CLÁUDIA CRISTINA CRISTOFANI, juntado aos autos em 04/12/2019.
Por fim, cumpre registrar que não obstante nas alegações finais o Ministério
Público Federal tenha requerido a condenação de ZENILDE TEREZINHA pela prática do
crime do artigo 90 da Lei n. 8.666/93 por duas vezes, observo que dos documentos juntados
aos autos é possível concluir que a ré participou tão somente do processo licitatório do Edital
n. 04/2016.
Isso tudo, aliado ao fato de que o próprio prefeito reconheceu que eram poucos
os servidores atuantes no Município, que era pequeno, tenho que não restam dúvidas de que
ALCIMAR agiu, no mínimo, com dolo eventual ao confirmar os prestadores de serviço que
adjudicaram os itens sem qualquer indicativo de concorrência entre eles no decorrer dos
pregões n. 01/2014 e 04/2016.
Neste contexto, entendo que o conjunto de provas é suficiente para concluir que
empresas licitantes apresentaram suas propostas com o objetivo claro de aumentar os preços
dos serviços, anulando qualquer concorrência e direcionando cada item para um dos
participantes e deixando claro que os acusados todos arquitetaram a simulação de uma
concorrência que, na verdade, nunca existiu, caracterizando, sem sombra de dúvidas a prática
do delito do artigo 90 da Lei n. 8.666/93 (atual crime do art. 337-F do Código Penal).
A propósito, de acordo com a síntese trazida aos autos nas alegações finais do
Ministério Público Federal, a absolvição de ANA CLAUDIA BARIZON FONTANA DA
LUZ, LUIZ HENRIQUE MASETO ZANOVELLO e PAULA NATANA CAMACHIO
também foi requerida pela acusação (evento 232):
Contudo, constatou-se inocorrência de dolo, mas sim de culpa – mesmo que grave –, em
relação aos agentes públicos ANA CLÁUDIA BARIZON FONTANA DA LUZ, LUIZ
HENRIQUE MASETO ZANOVELLO e PAULA NATANA COMACHIO. [...] Quanto à
participação dos agentes públicos, necessário fazer uma diferenciação. ALCIMAR, do que
todo o exposto nos autos, obviamente detinha conhecimento e poder sobre todo o conluio
estabelecido entre os licitantes, especialmente aqueles que eram vereadores do mesmo partido
pelo qual ALCIMAR foi prefeito. Ademais, ALCIMAR realizou pessoalmente a autorização de
abertura do procedimento, a assinatura dos contratos, bem como a celebração dos aditivos
contratuais. Especificamente quanto ao PP 04/2016, ALCIMAR DE OLIVEIRA realizou
pessoalmente a autorização de abertura do procedimento e a homologação do procedimento
licitatório, em que pese houvesse recomendação do Ministério Público estadual apontando a
ilegalidade dos contratos firmados com vereadores, mesmo que de forma dissimulada, bem
como procedeu à assinatura dos contratos. Além disso, era da Administração, na pessoa de
ALCIMAR, a decisão de, em todos os anos, criar verdadeira “urgência fabricada”, deixando a
publicação do edital de contratação de transporte escolar para momento em que já não seria
mais possível cancelar a licitação – o que causaria grave prejuízo aos estudantes atendidos.
Tal constatação, quanto à opção em postergar a publicação do edital com vistas a impedir
qualquer ação tendente a burlar o conluio entre os licitantes, pode ser extraída do depoimento
de ANA CLÁUDIA BARIZON, pregoeira na licitação de 2014, a qual respondeu
expressamente que, quanto às irregularidades apontadas pela CGU, especialmente o fato de
que, para cada linha se habilitou apenas 1 dos licitantes, ficou frustrada, mas como os
licitantes estavam atendendo ao preço máximo, e diante da iminência do início do ano letivo,
preferiu deixar os licitantes classificados e mandar o procedimento para análise da assessoria
jurídica (evento 215, VÍDEO1, 5’05”). PAULA NATANA, pregoeira no procedimento
licitatório de 2016, da mesma forma responde que, por ser o transporte público um serviço de
natureza contínua, em que não haveria prazo hábil para abrir nova licitação, a flexibilização
para entrega de documentos foi a forma encontrada para impedir que as crianças ficassem
sem transporte escolar (evento 216, VÍDEO1). Da mesma forma, os elementos colhidos em
audiência denotam que o assessor jurídico LUIZ também atuou – no mínimo – nos limites da
legalidade, ao afirmar que não vislumbrou nenhuma hipótese legal de impedimento de
participação de um licitante filho de vereador – em evidente e flagrante simulação –, da
mesma forma que não poderia impedir a participação de uma empresa pelo simples fato de se
realizar terceirização da prestação dos serviços. Contudo, de todo o quanto se extrai da
instrução processual, não se vislumbram elementos robustos o suficiente para imputar a eles o
elemento subjetivo dolo. Importa destacar que não se está dizendo que tais agentes não
tenham agido com culpa (grave) e com extrema negligência. Mas, dos seus interrogatórios e,
principalmente, diante da clara atuação de ALCIMAR visando criar uma constante situação
de urgência, para que não houvesse tempo hábil para maiores questionamentos acerca da
licitude e regularidade das situações identificadas pelos demais agentes públicos, e diante da
iminência do início do ano letivo, todos parece que acabaram optando por dar continuidade
ao procedimento licitatório, diante do risco . Assim, ao tempo em que mostra-se evidente o
dolo e o conluio de ALCIMAR na frustração do caráter competitivo das licitações, o mesmo
não se pode falar – ao menos com a certeza necessária a uma condenação criminal – dos
demais agentes públicos. Dessa forma, diante da ausência de elementos robustos de dolo em
relação a ANA CLÁUDIA BARIZON FONTANA DA LUZ, LUIZ HENRIQUE MASETO
ZANOVELLO e PAULA NATANA COMACHIO, o Ministério Público Federal requer a
absolvição, nos termos do art. 386, IV, do CPP.
Ademais, toda a temática que envolve o presente caso concreto restou esgotada
na análise das provas existentes em relação à autoria e materialidade, extraindo-se de maneira
incontroversa da prova colhida que os réus beneficiavam-se mutuamente.
FIXAÇÃO DA PENA
h) Dosimetria
Art. 90. Frustrar ou fraudar, mediante ajuste, combinação ou qualquer outro expediente, o
caráter competitivo do procedimento licitatório, com o intuito de obter, para si ou para
outrem, vantagem decorrente da adjudicação do objeto da licitação:
Não constam nos autos elementos para valorar sua conduta social e inexistem
elementos suficientes para aferir a personalidade do réu. Segundo Fernando Capez, o
conceito de personalidade "pertence mais ao campo da psicologia e psiquiatria do que ao
direito, exigindo-se uma investigação dos antecedentes psíquicos e morais do agente" (Curso
de Direito Penal. Volume 1. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 455), pelo que restam
prejudicados tais vetores.
Pena de multa
Concurso de crimes
Art. 33 - A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semi-aberto ou aberto. A
de detenção, em regime semi-aberto, ou aberto, salvo necessidade de transferência a regime
fechado.
Para que o apenado faça jus ao benefício da substituição da pena, cabe analisar
os seguintes aspectos: a) se a pena privativa de liberdade aplicada não ultrapassa quatro anos
(art. 44, I, do CP); b) se o crime não foi cometido com violência ou grave ameaça à
pessoa; c) se os acusados não são reincidentes em crime doloso; e d) se a substituição é
socialmente recomendável.
Não constam nos autos elementos para valorar sua conduta social e inexistem
elementos suficientes para aferir a personalidade do réu. Segundo Fernando Capez, o
conceito de personalidade "pertence mais ao campo da psicologia e psiquiatria do que ao
direito, exigindo-se uma investigação dos antecedentes psíquicos e morais do agente" (Curso
de Direito Penal. Volume 1. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 455), pelo que restam
prejudicados tais vetores.
Pena de multa
Concurso de crimes
Art. 33 - A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semi-aberto ou aberto. A
de detenção, em regime semi-aberto, ou aberto, salvo necessidade de transferência a regime
fechado.
Para que o apenado faça jus ao benefício da substituição da pena, cabe analisar
os seguintes aspectos: a) se a pena privativa de liberdade aplicada não ultrapassa quatro anos
(art. 44, I, do CP); b) se o crime não foi cometido com violência ou grave ameaça à
pessoa; c) se os acusados não são reincidentes em crime doloso; e d) se a substituição é
socialmente recomendável.
No caso, a condenação foi igual a 4 anos, não se trata de crime cometido com
violência ou grave ameaça, o réu não é reincidente e as circunstâncias judiciais são
favoráveis, destacando-se ainda que pela própria natureza do crime e ausência de gravidade
concreta do fato a prisão não se revela necessária, impondo-se a substituição.
Em razão disso substituo a pena privativa de liberdade aplicada por duas penas
restritivas de direitos (art. 44, § 2º, segunda parte, do CP). Considerando o teor da Súmula n.
132 do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, no sentido da preferência à prestação de
serviços à comunidade, porque melhor cumpre a finalidade de reeducação e ressocialização
do agente, substituo as penas da seguinte forma: (a) prestação de serviços à
comunidade (art. 43, IV, do CP), à razão de 1 hora de trabalho por dia de condenação, a ser
cumprida, preferencialmente, nos sábados, domingos e feriados, na conformidade do que
dispõe o artigo 46, §§ 1º, 2º e 3º, do CP; (b) pagamento de prestação pecuniária, no
montante de cinco salários mínimos (art. 45, §1º, CP).
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Não constam nos autos elementos para valorar sua conduta social e inexistem
elementos suficientes para aferir a personalidade do réu. Segundo Fernando Capez, o
conceito de personalidade "pertence mais ao campo da psicologia e psiquiatria do que ao
direito, exigindo-se uma investigação dos antecedentes psíquicos e morais do agente" (Curso
de Direito Penal. Volume 1. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 455), pelo que restam
prejudicados tais vetores.
Pena de multa
Concurso de crimes
Art. 33 - A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semi-aberto ou aberto. A
de detenção, em regime semi-aberto, ou aberto, salvo necessidade de transferência a regime
fechado.
Para que o apenado faça jus ao benefício da substituição da pena, cabe analisar
os seguintes aspectos: a) se a pena privativa de liberdade aplicada não ultrapassa quatro anos
(art. 44, I, do CP); b) se o crime não foi cometido com violência ou grave ameaça à
pessoa; c) se os acusados não são reincidentes em crime doloso; e d) se a substituição é
socialmente recomendável.
No caso, a condenação foi igual a 4 anos, não se trata de crime cometido com
violência ou grave ameaça, o réu não é reincidente e as circunstâncias judiciais são
favoráveis, destacando-se ainda que pela própria natureza do crime e ausência de gravidade
concreta do fato a prisão não se revela necessária, impondo-se a substituição.
Em razão disso substituo a pena privativa de liberdade aplicada por duas penas
restritivas de direitos (art. 44, § 2º, segunda parte, do CP). Considerando o teor da Súmula n.
132 do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, no sentido da preferência à prestação de
serviços à comunidade, porque melhor cumpre a finalidade de reeducação e ressocialização
do agente, substituo as penas da seguinte forma: (a) prestação de serviços à
comunidade (art. 43, IV, do CP), à razão de 1 hora de trabalho por dia de condenação, a ser
Não constam nos autos elementos para valorar sua conduta social e inexistem
elementos suficientes para aferir a personalidade do réu. Segundo Fernando Capez, o
conceito de personalidade "pertence mais ao campo da psicologia e psiquiatria do que ao
direito, exigindo-se uma investigação dos antecedentes psíquicos e morais do agente" (Curso
de Direito Penal. Volume 1. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 455), pelo que restam
prejudicados tais vetores.
Pena de multa
Concurso de crimes
Art. 33 - A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semi-aberto ou aberto. A
de detenção, em regime semi-aberto, ou aberto, salvo necessidade de transferência a regime
fechado.
Para que o apenado faça jus ao benefício da substituição da pena, cabe analisar
os seguintes aspectos: a) se a pena privativa de liberdade aplicada não ultrapassa quatro anos
(art. 44, I, do CP); b) se o crime não foi cometido com violência ou grave ameaça à
pessoa; c) se os acusados não são reincidentes em crime doloso; e d) se a substituição é
socialmente recomendável.
No caso, a condenação foi igual a 4 anos, não se trata de crime cometido com
violência ou grave ameaça, o réu não é reincidente e as circunstâncias judiciais são
favoráveis, destacando-se ainda que pela própria natureza do crime e ausência de gravidade
concreta do fato a prisão não se revela necessária, impondo-se a substituição.
Em razão disso substituo a pena privativa de liberdade aplicada por duas penas
restritivas de direitos (art. 44, § 2º, segunda parte, do CP). Considerando o teor da Súmula n.
132 do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, no sentido da preferência à prestação de
serviços à comunidade, porque melhor cumpre a finalidade de reeducação e ressocialização
do agente, substituo as penas da seguinte forma: (a) prestação de serviços à
comunidade (art. 43, IV, do CP), à razão de 1 hora de trabalho por dia de condenação, a ser
cumprida, preferencialmente, nos sábados, domingos e feriados, na conformidade do que
dispõe o artigo 46, §§ 1º, 2º e 3º, do CP; (b) pagamento de prestação pecuniária, no
montante de dois salários mínimos (art. 45, §1º, CP).
Não constam nos autos elementos para valorar sua conduta social e inexistem
elementos suficientes para aferir a personalidade da ré. Segundo Fernando Capez, o conceito
de personalidade "pertence mais ao campo da psicologia e psiquiatria do que ao direito,
exigindo-se uma investigação dos antecedentes psíquicos e morais do agente" (Curso de
Direito Penal. Volume 1. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 455), pelo que restam
prejudicados tais vetores.
Pena de multa
Concurso de crimes
Art. 33 - A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semi-aberto ou aberto. A
de detenção, em regime semi-aberto, ou aberto, salvo necessidade de transferência a regime
fechado.
Para que o apenado faça jus ao benefício da substituição da pena, cabe analisar
os seguintes aspectos: a) se a pena privativa de liberdade aplicada não ultrapassa quatro anos
(art. 44, I, do CP); b) se o crime não foi cometido com violência ou grave ameaça à
pessoa; c) se os acusados não são reincidentes em crime doloso; e d) se a substituição é
socialmente recomendável.
No caso, a condenação foi igual a 4 anos, não se trata de crime cometido com
violência ou grave ameaça, a ré não é reincidente e as circunstâncias judiciais são favoráveis,
destacando-se ainda que pela própria natureza do crime e ausência de gravidade concreta do
fato a prisão não se revela necessária, impondo-se a substituição.
Em razão disso substituo a pena privativa de liberdade aplicada por duas penas
restritivas de direitos (art. 44, § 2º, segunda parte, do CP). Considerando o teor da Súmula n.
132 do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, no sentido da preferência à prestação de
serviços à comunidade, porque melhor cumpre a finalidade de reeducação e ressocialização
do agente, substituo as penas da seguinte forma: (a) prestação de serviços à
comunidade (art. 43, IV, do CP), à razão de 1 hora de trabalho por dia de condenação, a ser
cumprida, preferencialmente, nos sábados, domingos e feriados, na conformidade do que
dispõe o artigo 46, §§ 1º, 2º e 3º, do CP; (b) pagamento de prestação pecuniária, no
montante de dois salários mínimos (art. 45, §1º, CP).
Não constam nos autos elementos para valorar sua conduta social e inexistem
elementos suficientes para aferir a personalidade do réu. Segundo Fernando Capez, o
conceito de personalidade "pertence mais ao campo da psicologia e psiquiatria do que ao
direito, exigindo-se uma investigação dos antecedentes psíquicos e morais do agente" (Curso
de Direito Penal. Volume 1. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 455), pelo que restam
prejudicados tais vetores.
Pena de multa
Concurso de crimes
Art. 33 - A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semi-aberto ou aberto. A
de detenção, em regime semi-aberto, ou aberto, salvo necessidade de transferência a regime
fechado.
Para que o apenado faça jus ao benefício da substituição da pena, cabe analisar
os seguintes aspectos: a) se a pena privativa de liberdade aplicada não ultrapassa quatro anos
(art. 44, I, do CP); b) se o crime não foi cometido com violência ou grave ameaça à
pessoa; c) se os acusados não são reincidentes em crime doloso; e d) se a substituição é
socialmente recomendável.
Não constam nos autos elementos para valorar sua conduta social e inexistem
elementos suficientes para aferir a personalidade do réu. Segundo Fernando Capez, o
conceito de personalidade "pertence mais ao campo da psicologia e psiquiatria do que ao
direito, exigindo-se uma investigação dos antecedentes psíquicos e morais do agente" (Curso
de Direito Penal. Volume 1. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 455), pelo que restam
prejudicados tais vetores.
Pena de multa
5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771
https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 168/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::
Concurso de crimes
Art. 33 - A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semi-aberto ou aberto. A
de detenção, em regime semi-aberto, ou aberto, salvo necessidade de transferência a regime
fechado.
Para que o apenado faça jus ao benefício da substituição da pena, cabe analisar
os seguintes aspectos: a) se a pena privativa de liberdade aplicada não ultrapassa quatro anos
(art. 44, I, do CP); b) se o crime não foi cometido com violência ou grave ameaça à
pessoa; c) se os acusados não são reincidentes em crime doloso; e d) se a substituição é
socialmente recomendável.
No caso, a condenação foi igual a 4 anos, não se trata de crime cometido com
violência ou grave ameaça, o réu não é reincidente e as circunstâncias judiciais são
favoráveis, destacando-se ainda que pela própria natureza do crime e ausência de gravidade
concreta do fato a prisão não se revela necessária, impondo-se a substituição.
Em razão disso substituo a pena privativa de liberdade aplicada por duas penas
restritivas de direitos (art. 44, § 2º, segunda parte, do CP). Considerando o teor da Súmula n.
132 do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, no sentido da preferência à prestação de
serviços à comunidade, porque melhor cumpre a finalidade de reeducação e ressocialização
do agente, substituo as penas da seguinte forma: (a) prestação de serviços à
comunidade (art. 43, IV, do CP), à razão de 1 hora de trabalho por dia de condenação, a ser
cumprida, preferencialmente, nos sábados, domingos e feriados, na conformidade do que
dispõe o artigo 46, §§ 1º, 2º e 3º, do CP; (b) pagamento de prestação pecuniária, no
montante de dois salários mínimos (art. 45, §1º, CP).
5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771
https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 170/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::
Não constam nos autos elementos para valorar sua conduta social e inexistem
elementos suficientes para aferir a personalidade da ré. Segundo Fernando Capez, o conceito
de personalidade "pertence mais ao campo da psicologia e psiquiatria do que ao direito,
exigindo-se uma investigação dos antecedentes psíquicos e morais do agente" (Curso de
Direito Penal. Volume 1. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 455), pelo que restam
prejudicados tais vetores.
Pena de multa
Art. 33 - A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semi-aberto ou aberto. A
de detenção, em regime semi-aberto, ou aberto, salvo necessidade de transferência a regime
fechado.
[...]
b) o condenado não reincidente, cuja pena seja superior a 4 (quatro) anos e não exceda a
8 (oito), poderá, desde o princípio, cumpri-la em regime semi-aberto;
c) o condenado não reincidente, cuja pena seja igual ou inferior a 4 (quatro) anos,
poderá, desde o início, cumpri-la em regime aberto.
[...]
Para que o apenado faça jus ao benefício da substituição da pena, cabe analisar
os seguintes aspectos: a) se a pena privativa de liberdade aplicada não ultrapassa quatro anos
(art. 44, I, do CP); b) se o crime não foi cometido com violência ou grave ameaça à
pessoa; c) se os acusados não são reincidentes em crime doloso; e d) se a substituição é
socialmente recomendável.
No caso, a condenação foi inferior a 4 anos, não se trata de crime cometido com
violência ou grave ameaça, o réu não é reincidente e as circunstâncias judiciais são
favoráveis, destacando-se ainda que pela própria natureza do crime e ausência de gravidade
concreta do fato a prisão não se revela necessária, impondo-se a substituição.
Em razão disso substituo a pena privativa de liberdade aplicada por duas penas
restritivas de direitos (art. 44, § 2º, segunda parte, do CP). Considerando o teor da Súmula n.
132 do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, no sentido da preferência à prestação de
serviços à comunidade, porque melhor cumpre a finalidade de reeducação e ressocialização
do agente, substituo as penas da seguinte forma: (a) prestação de serviços à
comunidade (art. 43, IV, do CP), à razão de 1 hora de trabalho por dia de condenação, a ser
cumprida, preferencialmente, nos sábados, domingos e feriados, na conformidade do que
dispõe o artigo 46, §§ 1º, 2º e 3º, do CP; (b) pagamento de prestação pecuniária, no
montante de um salário mínimo (art. 45, §1º, CP).
i) Reparação do Dano
Nota-se que, de uma lado a perícia da Polícia Federal concluiu que não existiu
superfaturamento nos preços dos serviços prestados no transporte escolar no Município de
São Domingos. Por outro lado, no entanto, não há como aferir apenas dos elementos tratados
na presente ação penal, qual teria sido o preço alcançado pelo Município, caso tivesse havido
efetiva concorrência nos processos licitatórios.
Em tal contexto, tenho como mais adequado, em casos como o presente, que se
busque a indenização pelos eventuais danos causados em razão das práticas criminosas em
Ação Civil Pública, onde poderá haverá amplo debate e análise acerca da caracterização ou
não de tais obrigações.
DISPOSITIVO
46, §§ 1º, 2º e 3º, do CP, e prestação pecuniária (art. 45, §1º, CP) no montante de cinco
salários mínimos, a ser destinado a instituição pública ou privada com finalidade social, a ser
determinada no juízo da execução.
46, §§ 1º, 2º e 3º, do CP, e prestação pecuniária (art. 45, §1º, CP) no montante de dois salários
mínimos, a ser destinado a instituição pública ou privada com finalidade social, a ser
determinada no juízo da execução.
salário mínimo.
Os réus poderão apelar em liberdade, se não estiverem presos por outro motivo,
ante a inexistência de fundamentação para imposição de prisão preventiva (CPP, art. 387, §
1º).
Deixo de fixar valor mínimo para reparação dos danos, nos termos da
fundamentação.
Documento eletrônico assinado por PRISCILLA MIELKE WICKERT PIVA, Juíza Federal Substituta na
Titularidade Plena, na forma do artigo 1º, inciso III, da Lei 11.419, de 19 de dezembro de 2006 e Resolução TRF 4ª
Região nº 17, de 26 de março de 2010. A conferência da autenticidade do documento está disponível no endereço
eletrônico http://www.trf4.jus.br/trf4/processos/verifica.php, mediante o preenchimento do código verificador
720010418194v771 e do código CRC ca2610a5.
1. BALTAZAR JÚNIOR, José Paulo. Crimes Federais, 11ª ed. Saraiva, São Paulo, 2017, p. 890
1. Observe-se o disposto nos artigos 340 e 341 da Consolidação Normativa da Corregedoria Regional da Justiça Federal
da 4ª Região (respectivamente, o primeiro para as condenações ao cumprimento de pena em regime semiaberto, com
substituição da pena privativa de liberdade, bem como o segundo às condenações ao cumprimento de pena em regime
semiaberto transitada em julgado, sem substituição).
5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771
https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 182/182