Você está na página 1de 182

24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

Poder Judiciário
JUSTIÇA FEDERAL
Seção Judiciária de Santa Catarina
1ª Vara Federal de Chapecó
Rua Florianópolis, 901-D, Justiça Federal - Bairro: Jardim Itália - CEP: 89814-045 - Fone: (49)3361-1330 -
www.trf4.jus.br - Email: sccha01@jfsc.jus.br

AÇÃO PENAL Nº 5007342-52.2020.4.04.7202/SC


AUTOR: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
RÉU: NEUDI JOSE BURATTI
RÉU: LUIZ ALBERTO MIOTTO
RÉU: LAURO VALDECIR WALENDORFF
RÉU: GILMAR ACHILES MARMENTINI
RÉU: ALCIMAR DE OLIVEIRA
RÉU: AIRTON SENA MIOTTO
RÉU: ZENILDE TEREZINHA KARACEK
RÉU: PAULA NATANA COMACHIO
RÉU: LUIZ HENRIQUE MASETO ZANOVELLO
RÉU: JUCIELI LINCK MIOTTO
RÉU: EVERTON MEOTTI BURATTI
RÉU: ANA CLAUDIA BARIZON FONTANA DA LUZ

SENTENÇA

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 1/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, com base no Inquérito Policial n.


50024411220184047202, ofereceu denúncia em face de ALCIMAR DE OLIVEIRA,
brasileiro, solteiro, ex-prefeito municipal de São Domingos/SC, portador da CI/RG nº
2.426.841/SSP/SC, inscrito no CPF/MF sob o nº 716.149.829-53, residente e domiciliado à
Rua Osvaldo Aranha, 834 - São Domingos/SC, CEP 89835-000; NEUDI JOSÉ BURATTI,
brasileiro, sócio/administrador da empresa NEUDI JOSÉ BURATTI ME, portador da CI/RG
nº 2.693.556/SSP/SC, inscrito no CPF/MF sob o nº 789.838.439-34, residente na Rua São
Cristóvão, n. 12, bairro São Cristóvão, São Domingos/SC, CEP 89835-000; GILMAR
ACHILES MARMENTINI, brasileiro, solteiro, sócio/administrador da empresa GILMAR
ACHILES MARMENTINI ME portador da CI/RG nº 1.696.393-8, inscrito no CPF/MF sob o
nº 767.214.349-20, residente e domiciliado em Linha São Antônio, zona rural, São
Domingos/SC, CEP 89835-000; AIRTON SENA MIOTTO, brasileiro, solteiro, empresário,
portador da CI/RG nº 4524700/SSP/SC, inscrito no CPF sob nº 068.535.689-23, telefone (49)
9-9965-3217, residente na Linha Consoladora, S/nº, interior do município de São
Domingos/SC, CEP 89.835-000; LUIZ ALBERTO MIOTO, brasileiro, casado, empresário,
portador da CI/RG nº 4244354/SSP/SC, inscrito no CPF sob nº 005.394.019-94, telefone
(49)9- 9825-5807, residente na rua Dório Belário, Centro, Coronel Martins/SC, CEP 89.837-
000; LAURO VALDECIR WALENDORFF, brasileiro, separado, empresário, portador da
CI/RG nº 1127857/SSP/SC, inscrito no CPF sob nº 162.465.949- 72, atualmente em prisão
domiciliar, na rua Rua Sete de Setembro, 532, bairro São Cristóvão, São Domingos/SC –
fone (49) 9 9147-2197; ANA CLÁUDIA BARIZON FONTANA DA LUZ, brasileira,
casada, assistente administrativa, nascida em 15/03/1978, portadora da CI/RG nº
3.289.676/SSP/SC, inscrita no CPF/MF sob o nº 854.411.559-49, telefone (49) 9-9992-0257,
residente na Rua Vitório Fabiani, 207, bairro Veneza, Xanxerê/SC, CEP 89820-000; LUIZ
HENRIQUE MASETO ZANOVELLO, brasileiro, advogado, nascido em 05/07/1986, filho
de Celestina Maseto Zanovello, portador de CI/RG nº 4.988.088, inscrito no CPF sob nº
053.809.739-65, OAB/SC33076, residente na Rua Ernesto Beuter 1145, bairro Brasília, Apto
305, e/ou na Rua Dom Pedro II, 424, bairro São Francisco, telefone (49) 9 9152-0812,
município de São Lourenço do Oeste/SC, CEP 89.990-000; PAULA NATANA
COMACHIO, brasileira, servidora pública municipal, nascida em 13/09/1989, filha de
Rosângela dos Santos Comachio, portadora da CI/RG nº 5.075.947, inscrita no CPF sob
nº065.383.649-00, residente e domiciliada na Rua Brasil, 1152 – Casa, bairro Nossa Senhora
5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771
https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 2/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

Aparecida, São Domingos/SC, CEP 89.835-000, telefone (49) 3443-0406; EVERTON


MEOTTI BURATTI, brasileiro, sócio/administrador da empresa EVERTON M. BURATTI
ME, portador da CI/RG nº 5.227.886, inscrito no CPF/MF sob o nº 093.380.389-39, residente
e domiciliado na Rua São Cristóvão, n. 12, bairro São Cristóvão, São Domingos/SC, CEP
89835-000; JUCELI LINCK MIOTTO, brasileira, nascida em 31/08/1990, filha de Lurdes
Dolores Linck, inscrita no CPF sob nº 064.496.019-14, residente e domiciliada na Linha
Consoladora, interior do município de São Domingos/SC – CEP 89.835-000, telefone (49)
3345-0135, e ZENILDE TEREZINHA KARACEK, brasileira, nascida em 02/08/1963,
filha de Maria Eulina Santetti, inscrita no CPF sob nº 854.090.499-34, residente e
domiciliada Rua Idilio Comachio, S/N, Distrito de Marata, município de São Domingos/SC,
CEP 89.835-000, telefone (49) 3443-0489, imputando-lhes a prática das seguintes condutas
criminosas (evento 1, DENUNCIA2):

Ação Penal n. 5007342-52.2020.4.04.7202

I – INTRODUÇÃO – HISTÓRICO DOS FATOS

A presente denúncia tem origem no Inquérito Civil1 nº 1.33.002.000246/2015- 50, instaurado


a partir de representação do diretório municipal do Partido Progressista de São Domingos,
para apurar suposta participação de vereadores do município de São Domingos/SC em
processos licitatórios e subsequentes contratações para a realização do transporte escolar
naquele município, bem como possíveis irregularidades nesses certames (fls. 5-450 do
IC). Fundamenta-se, ainda, no Inquérito Policial (IPL) nº 011/2018-DPF/XAP/SC (autos nº
5002441-12.2018.404.7202), instaurado com o objetivo de investigar os fatos relacionados ao
Pregão Presencial nº 01/2014 a partir de notícia-crime encaminhada pela Controladoria-
Geral da União à Polícia Federal por meio do ofício nº
224/2017/PLANEJ/SC/Regional/SC/CGU, pelo qual o órgão controlador noticiou possíveis
ilícitos relacionados à licitações ocorridas no âmbito do Programa Nacional de Apoio ao
Transporte do Escolar (PNATE) em São Domingos/SC (evento 1, INQ1, pp. 2-7) e encaminhou
o Relatório nº 201701941 (evento 1, INQ4), que também foi juntado ao IC e que será
referenciado adiante. Abaixo, segue uma descrição das irregularidades encontradas em cada
um desses procedimentos. Cumpre destacar desde já, contudo, que, embora haja evidente
conexão entre todos os atos criminosos narrados nesta denúncia, o ajuizamento de uma única
ação penal em face de todos os envolvidos – ao menos nos parece – poderia prejudicar
sobremaneira a celeridade na tramitação do feito (em oposição ao que estabelece o art. 5º,
LXXVIII da Constituição Federal), além de não assegurar, na maior medida em que possível,

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 3/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

o exercício do direito constitucional à ampla defesa por parte dos requeridos (art. 5º, LV).
Além disso, verifica-se que os envolvidos não tiveram participação idêntica nas práticas
criminosas ora denunciadas, de modo que a instrução processual poderá ter andamento
diferenciado em relação aos dois grupos. Por fim, em relação aos investigados denunciados
na ação penal conexa, o Ministério Público Federal entende que o Acordo de Não Persecução
Penal previsto no art. 28-A do Código de Processo Penal mostra-se, em princípio, necessário
e suficiente à reprovação e prevenção do crime – o que não ocorre com os ora denunciados,
tendo em vista a reiteração delitiva. Dessa forma, estão sendo oferecidas nesta data duas
denúncias, que serão distribuídas por conexão, ambas descrevendo todos os atos criminosos –
de forma a não se perder o contexto em que praticados –, mas imputando, em cada uma delas,
as condutas criminosas relativas aos respectivos denunciados. Na primeira, foram agrupados
os envolvidos em atos criminosos reiterados, que resultaram em dano ao erário, em relação
aos quais não é o caso de oferecimento de Acordo de Não Persecução Penal (ANPP); na
segunda, os demais envolvidos, que também praticaram condutas que configuram ilícitos
criminais, mas em relação aos quais é possível o oferecimento de ANPP. Esta ação refere-se
ao primeiro grupo, abrangendo as pessoas físicas envolvidas em condutas que fraudaram e
frustaram, mediante ajuste e combinação, o caráter competitivo do procedimento licitatório,
tudo com o objetivo de obter, para si e para outrem, a vantagem decorrente da adjudicação do
objeto da licitação, mas a quem não oferece-se Acordo de Não Persecução Penal.1) Pregão
Presencial nº 01/2009 (Processo Licitatório nº 01/2009): Em 2009, o município de São
Domingos realizou o Pregão Presencial nº 01/2009 para atender ao transporte escolar (cópia
do procedimento no Anexo II, Vol. 1 e 2, do IC). Ao final do certame, foram contratadas,
dentre outras, as empresas GILMAR ACHILES MARMENTINI ME e NEUDI JOSÉ BURATTI
ME. O contrato sofreu diversos aditivos e permaneceu vigente até o fim do ano de 2013 (fls.
50-54 do IC e fls. 500-507, 516-523, 554, 558, 579-580, 591-592, 638-639, 653-654, 690-691
e 696-697 do Anexo II, Vol. 2, do IC). O Edital (fls. 2-17 do Anexo II, Vol. 1, do IC) previu, em
seu item 1.11, que o prazo de vigência do contrato decorrente daquele processo licitatório iria
até o final do exercício de 2009, podendo ser prorrogado, a critério da Administração, por
períodos sucessivos de 12 (doze) meses cada um (para os anos letivos de 2010, 2011 e 2012)
até no máximo de 36 (trinta e seis) meses de prorrogação. No entanto, os contratos foram
prorrogados até o ano letivo de 2013, conforme os Termos Aditivos nº 115 e nº 117, ambos de
15 de dezembro de 2012 (fls. 690-691 e 696- 697 do Anexo II, Vol. 2, do IC). Ainda no ano de
2012, NEUDI JOSÉ BURATTI e GILMAR ACHILES MARMENTINI, proprietários das
empresas citadas acima, disputaram as eleições municipais. NEUDI elegeu-se vereador e
GILMAR, segundo suplente de vereador, ambos pelo Partido dos Trabalhadores (PT).
Portanto, desde 01/01/2013, quando houve a diplomação, o então vereador NEUDI JOSÉ
BURATTI acumulou a atividade de vereança com a qualidade de contratado pela prefeitura do
município em que atuava como vereador (fls. 61-65 do Anexo I do IC). GILMAR ACHILES
MARMENTINI também exerceu o cargo de vereador durante a vigência do contrato (fls. 66-76
5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771
https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 4/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

do Anexo I do IC). O prefeito municipal da época, ALCIMAR DE OLIVEIRA (de apelido


“KIKO”), também filiado ao Partido dos Trabalhadores (PT), exercia seu segundo mandato
(2013-2016)2 . Abaixo, quadro ilustrativo dos processos licitatórios relacionados ao
transporte escolar no município: VISUALIZAÇÃO DOS EVENTOS NO TEMPO

Com relação ao Pregão Presencial n° 01/2009, que foi deflagrado antes das eleições de 2012
e, portanto, muito antes do início do mandato de NEUDI JOSÉ BURATTI e da suplência de
GILMAR ACHILES MARMENTINI, e pretendia contratar empresas de transporte escolar
para 21 trajetos no interior do município de São Domingos/SC, foi possível observar certa
proporcionalidade quanto à distribuição do objeto licitado entre as empresas participantes,
sobressaindo-se, no entanto, a empresa de NEUDI JOSÉ BURATTI, com 6 linhas (28,6%),
ainda assim, dentro de uma aparente normalidade (conforme Termo de Homologação e Termo
de Adjudicação, respectivamente, de fls. 452-457 e f. 458 do Anexo II, Vol. 2, do IC). Da
mesma forma, as propostas apresentadas pelos concorrentes continham valores quase sempre
abaixo do valor máximo do quilômetro estipulado pelo edital e esses valores ainda sofreram
significativa redução na fase de lances, evidenciando, em princípio, a existência de alguma
disputa pelas rotas entre as empresas participantes (Demonstrativo de Lances – fls. 411-436
do Anexo II, Vol. 2, do IC). Com exemplo, cita-se o trajeto da “linha 03”, que tinha como
valor máximo definido no edital a ser pago por quilômetro rodado a importância de R$ 1,60
(item 1.8 do edital – f. 05 do Anexo II, Vol. 1, do IC). As propostas constantes nos envelopes
das 8 empresas que concorreram por esta linha foram de R$1,58; R$1,52; R$1,50; R$1,48;

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 5/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

R$1,45; R$1,45; R$1,44; e R$1,40, sendo que, após a fase de lances, a linha foi contratada
por R$ 1,03 por quilômetro rodado (f. 415 do Anexo II, Vol. 1, do IC), uma redução de mais de
35% sobre o preço inicial definido pelo município de São Domingos. A “linha 03” foi
disputada por 4 empresas na fase de lances, que juntas apresentaram um total de 19 ofertas,
antes de o certame finalizar ao preço de R$ 1,03. Em média, o preço da menor proposta para
cada trajeto foi reduzido em 15% após a realização da fase de lances (fls. 501-502 do IC). 2)
Pregão Presencial nº 01/2014 (Processo Administrativo nº 01/2014): Finalizada a vigência
dos Contratos Administrativos resultantes do Pregão Presencial nº 01/2009, deu-se início a
novo processo licitatório com idêntico objeto – Pregão Presencial nº 01/2014 –, para
contratação para o ano de 2014 (cópia no Anexo II, Vol. 3, do IC). Como se verá adiante, a
partir deste momento, que é marcado pelo fim do Processo Licitatório nº 01/2009, nota-se a
existência de clara combinação prévia entre as empresas participantes dos certames com o
objetivo de atingir o ganho máximo em cada um dos itens licitados, em prejuízo aos interesses
da municipalidade. Assim, a segunda licitação (Procedimento Licitatório nº 01/2014, Pregão
Presencial nº 01/2014 – edital em fls. 05-17 do Anexo II, Vol. 3, do IC), realizada em 2014,
manteve-se vigente, com aditivos, até o fim de 2015 (contratos de fls. 171-175, 224-227, 249-
252 e 269-272, e termos aditivos de fls. 317-318, 320-321, 323-324 e 326-327, todos do Anexo
II, Vol. 3, do IC). Novamente as empresas NEUDI JOSÉ BURATTI ME e GILMAR ACHILES
MARMENTINI ME figuraram entre os vencedores do certame. Contudo, diferentemente do
ocorrido no procedimento licitatório n. 01/2009, desta vez, NEUDI e GILMAR estavam, desde
o princípio, na condição de vereador e segundo suplente, respectivamente, sendo que o último
assumiu a vereança em diversos períodos (fls. 66-76 do Anexo I do IC). NEUDI, aliás, tornou-
se presidente da Casa Legislativa de São Domingos a partir do ano de 2015. Ademais, nessa
licitação realizada em 2014, a abertura dos envelopes de propostas revelou uma conveniente
distribuição das rotas entre os participantes e, de forma curiosa, praticamente todas elas pelo
valor máximo proposto no edital. Das 14 rotas ofertadas, somente em uma houve dois
interessados, que são irmãos – AIRTON SENA MIOTTO e LUIZ ALBERTO MIOTO (conforme
documentos de fls. 69 e 78 do Anexo II, Vol. 3, do IC). Ainda assim, a redução obtida foi
irrisória nesse item, de apenas 1 centavo! (f. 107 do Anexo II, Vol. 3, do IC). Em todas as
demais rotas, houve proposta de apenas um licitante (conforme Ata da Sessão Pública e
Quadro Comparativo de Preços de fls. 96-109 do Anexo II, Vol. 3, do IC). Não bastasse essa
evidente distribuição de rotas entre os licitantes – com total complacência dos agentes
públicos envolvidos –, a Administração Municipal constatou, após a publicação do Processo
Licitatório 01/2014, redução considerável de alunos no trajeto da “linha 02”, autorizando a
utilização de veículo com menor capacidade – de 22 lugares para 15 lugares –, para realizar o
trajeto, sem adequação no valor do quilômetro rodado, nem mesmo no aditivo que alterou o
valor dos contratos para o ano seguinte (fls. 169-170 do Anexo II, Vol. 3, do IC). Cabe
destacar que a cláusula 1.2 do contrato Prefe. n. 008, de 10/02/2014 (f. 171 do Anexo IV, Vol.
2, do IC), firmado com a empresa de NEUDI JOSÉ BURATTI, é claro ao estabelecer que:
5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771
https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 6/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

“O Contratante, a bem do interesse público e considerando eventual aumento ou


diminuição no número de alunos da rede pública de ensino, poderá exigir da
Contratada a substituição do veículo utilizado no transporte escolar, a fim de melhor
atender a demanda de determinado trajeto, ficando a Contratada obrigada a aceitar
tais condições, sem prejuízo da manutenção do preço cobrado por quilômetro rodado.”

Cabe destacar que o trajeto nominado “linha 02” foi vencido por NEUDI JOSÉ BURATTI.
Inclusive, 7 das 14 rotas ofertadas foram vencidas por NEUDI JOSÉ BURATTI e 3 por
GILMAR ACHILES MARMENTINI. Abaixo, tabela que sintetiza as propostas ofertadas e as
propostas vencedoras, demonstrando de forma evidente o conluio entre os participantes:

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 7/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

Consequentemente, fica evidente a evolução das receitas das empresas citadas no período
compreendido pelos PL-01/2019 (ano de 2013 – último ano de vigência do PL 01/2009) e PL
01/2014 (anos de 2014 e 2015), a partir da consulta à aba de despesas por credor do Portal
de Transparência do município de São Domingos/SC3 :

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 8/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

Cabe registrar, ainda, que não foi realizada qualquer pesquisa de mercado, na fase interna do
Pregão Presencial nº 01/2014, a fim de estabelecer o valor máximo a ser pago pela
Administração. Os agentes públicos ouvidos em sede policial limitaram-se a afirmar que não
sabem se tal procedimento foi adotado nesta licitação, e que tal procedimento sempre era
realizado4 , especialmente por meio de contato telefônico com as empresas, mas sem trazer
qualquer comprovação neste sentido. Diante de todas essas irregularidades, cópia integral do
Inquérito Civil foi encaminhada ao órgão da Controladoria Geral da União (CGU) em Santa
Catarina para análise mais aprofundada dos documentos que o compõem. Em resposta, a
CGU encaminhou a Nota Técnica nº 281/2017/NAE/SC/Regional/SC (f. 512-524 do IC), que
aponta importantes constatações, relacionadas de forma resumida abaixo – nos pontos
relevantes para o caso:

a) o documento apresenta o posicionamento do TCU, no âmbito administrativo,


contrário à possibilidade de a Administração Pública contratar, ou mesmo firmar
convênio, com entidades dirigidas por vereadores e seus parentes até o segundo grau;
b) ocorrências no pregão presencial 001/2014: b.1) alteração, sem identificação de
motivação, dos jornais locais utilizados para publicidade do aviso de licitação, ainda
que o procedimento licitatório anterior tenha alcançado boa publicidade, tendo
apresentado maior número de licitantes. Sobre esse ponto, a Nota Técnica da CGU
ainda destaca que foi identificado um e-mail, enviado em 10/01/2014, por Ana Paula
Valendorff, da empresa Agn Contabilidade, para o Setor de Licitações da Prefeitura de
São Domingos, solicitando o envio do “Edital do transporte escolar para a empresa do
Neudi José Buratti” (f. 32 do Anexo II, Vol. 3 do IC). Considerando que o edital foi

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 9/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

publicado somente em 13/01/2014 (fls. 29-31 do Anexo II, Vol. 3 do IC), resta evidente
que NEUDI JOSÉ BURATTI teve conhecimento prévio da existência/conteúdo do edital
antes de sua publicação oficial, o que configura flagrante violação aos princípios da
moralidade e da impessoalidade e aos interesses da própria Administração Pública.
Salienta-se que a justificativa apresentada por PAULA NATANA CAMMACHIO em seu
depoimento à Polícia Federal (evento 9, INQ1, pp. 27/28 do IPL), segundo quem a
empresa de NEUDI teria sido contatada na pesquisa de preços realizada previamente à
licitação, de modo que teria tomado conhecimento da iminência da publicação do edital
desta forma, mas que o edital apenas teria sido efetivamente enviado após sua
publicação, não convence, já que NEUDI, em sentido contrário, declarou não ter
tomado conhecimento do mencionado edital previamente, e que a empresa de
contabilidade era quem o avisava acerca das licitações (evento 9, INQ1, p. 9); b.2) não
foi identificado no processo nenhuma pesquisa de preços elaborada pelo pregoeiro ou
pela comissão licitante que tenha embasado a definição dos valores previstos no edital.
Ademais, no item 6.3.3.4.4 do Relatório, a CGU traça um paralelo entre os preços
máximos previstos no Pregão Presencial nº 001/2009 e aqueles previstos no Pregão
Presencial nº 001/2014, evidenciando (conforme tabela de f. 522-v do IC) aumento do
valor do km rodado entre as duas licitações em percentual superior ao IPCA Geral ou
IGP-M para o período, em especial para o veículo de lotação máxima de 26
passageiros (cerca de 18% acima da inflação do período); b.3) similaridade entre as
propostas apresentadas por licitantes distintos. A CGU aponta “características
similares na qualidade de impressão (tonalidade, nitidez), nos espaçamentos, nos
conteúdos dos textos, no tipo e no tamanho de caracteres” entre as propostas
apresentadas por GILMAR AQUILES MARMENTINI ME e LAURO VALDECIR
WALENDORFF ME (fls. 86 e 88 do Anexo II, Vol. 3, do IC), conforme abaixo
reproduzido:

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 10/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

Da mesma forma, aponta que as propostas de AIRTON SENA MIOTTO ME e LUIZ ALBERTO
MIOTTO ME para o item 1 “continham muitas semelhanças entre si, com destaque para a
numeração e conteúdo da legenda do quadro contendo o valor da proposta, para o igual valor
unitário do km rodado (R$ 2,15), o conteúdo e o formato do endereçamento e a descrição do
objeto” (fls. 92 e 94 do Anexo II, Vol. 3, do IC), conforme se verifica nas reproduções abaixo:

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 11/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

Tais constatações denotam evidente troca de modelos de propostas entre empresas que seriam
hipoteticamente licitantes concorrentes no certame. b.4) as propostas apresentadas para todos
os itens foram no mesmo valor previsto no edital. Ademais, todos os licitantes venceram todos
os itens que ofertaram, sem redução de preço (à exceção da redução de 1 centavo na oferta de
LUIZ ALBERTO MIOTTO ME); b.5) existência de apenas um único item com mais de uma
proposta. Chama a atenção, assim, o comportamento da pregoeira, ANA CLÁUDIA BARIZON
FONTANA DA LUZ, que “considerou vantajosas para o município as demais propostas em
que nada foi diminuído diante do valor previsto no edital”. Com relação ao único item em que
houve redução do valor da proposta – de apenas 1 centavo! – a pregoeira registrou que
(Anexo II, Vol. 3, p. 103):

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 12/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

O licitante LUIZ ALBERTO MIOTTO – ME declarou que não possui condições de melhorar
ainda mais a proposta. O pregoeiro, face a essa manifestação, também por entender que as
propostas ofertadas na última rodada de lances são vantajosas para o município, declara
vencedor do item 9 deste Pregão Presencial o fornecedor LUIZ ALBERTO MIOTTO – ME
pelo valor de R$ 2,14 (dois reais e quatorze centavos). [negritei]

Semelhante manifestação da pregoeira consta para cada um dos demais itens licitados, em
que não houve qualquer redução dos valores ofertadas pelo único licitante em cada um desses
itens (Anexo II, Vol. 3, p. 101-104). Como resultado, em apenas um dos itens houve redução de
apenas R$ 0,01 (um centavo!!!). Ou seja, conforme conclusão da CGU: “cada licitante
escolheu as linhas que desejaria atuar, elaborou proposta com o mesmo preço previsto no
edital e venceu exatamente os itens ofertados, sem disputa, maximizando o preço”. Embora
nítida a falta de entusiasmo dos participantes em concorrer pelos itens ofertados, a pregoeira
considerou as propostas vantajosas à administração pública; b.6) não foram aplicadas as
penalidades previstas para a hipótese de descumprimento do prazo máximo estipulado para
assinatura do contrato, para o contrato PREFE nº 08, entre a prefeitura municipal e NEUDI
JOSÉ BURATTI ME; b.7) foi retirada no segundo certame a limitação quanto ao tempo
máximo de uso dos veículos para a prestação dos serviços, em detrimento da qualidade dos
serviços ofertados; b.8) quanto aos veículos apresentados por NEUDI JOSÉ BURATTI ME,
destacou a CGU apresentação de veículo fora do prazo e fora das especificações para a rota,
além de situação que poderia configurar subcontratação travestida de contrato de comodato
entre NEUDI JOSÉ BURATTI e NEODIMIR LUIZ BURATTI, que são irmãos; b.9) previsão
no edital de curto espaço de tempo entre a data de homologação do certame e a data limite
para assinatura do contrato (apenas 3 dias), o que pode ter afastado eventuais interessados.
Destaca a CGU, contudo, que a municipalidade

flexibilizou informal e indevidamente esse prazo para os vencedores de itens do pregão; b.10)
descumprimento da capacidade de lotação exigida para as linhas 2, 4 e 5, sem qualquer
justificativa para as duas últimas; b.11) foi identificado no próprio município de São
Domingos um contrato emergencial, de 02/2013, com valor abaixo daqueles estabelecidos nos
contratos correspondentes do pregão presencial 001/2014, podendo representar sobrepreço
dos valores estabelecidos no certame. Nessa contratação emergencial, a empresa contratada
sujeitou-se a prestar o serviço em regime emergencial pelo valor de R$ 1,79/km rodado no
período de fevereiro a abril de 2013, sugerindo que o valor de R$ 1,80 em janeiro de 2009 já
estaria superfaturado. Tal fato denota ainda maior gravidade diante da ausência de pesquisa
de mercado para definição dos preços de referência do edital; d.12) ausência de publicação de
errata do edital acerca da alteração da capacidade máxima de lotação de veículo (de 22 para
16 passageiros, mantendo o valor licitado). No caso da linha 2, o valor do km rodado deveria
então corresponder a R$ 2,15 em vez dos R$ 2,70 contratados; d.13) existência de vínculos de
5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771
https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 13/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

relacionamento entre participantes do processo licitatório, em destaque os responsáveis pelas


empresas AIRTON SENA MIOTO ME e LUIZ ALBERTO MIOTTO ME, irmãos e que
trabalharam juntos na empresa JL Miotto Transporte ME (CNPJ nº 17.208.378/0001-88), e o
motorista Carlos Gregório Cardoso, ex-servidor da prefeitura de São Domingos (entre 2012 e
2014), que esteve vinculado como servidor público não-efetivo na Secretaria de Estado da
Educação no ano de 2015; d.14) subcontratação de fato entre os irmãos NEODIMIR LUIZ
BURATTI e NEUDI JOSÉ BURATTI; d.15) infere-se dos apontamento elaborados pela CGU a
baixa diligência do pregoeiro na condução do Pregão Presencial 001/2014, no qual houve
desprezível redução dos valores iniciais das propostas (R$ 0,01 em somente uma das rotas) e
concorrência praticamente nula.

Questionada sobre diversos pontos destacados pela CGU, a Prefeitura Municipal de São
Domingos encaminhou esclarecimentos (fls. 534-536 do IC). Com relação à retirada da
restrição de ano de fabricação do veículo, afirmou que isso acabaria por reduzir
significativamente o número de participantes – ressalte-se, contudo, que essa redução de
licitantes ocorreu justamente nesse pregão, mas não no certame anterior, que continha essa
exigência. Sobre as pesquisas de preços, afirmou que elas teriam ocorrido “de maneira
informal”, por contato telefônico. Com relação às demais irregularidades, afirma, em geral,
que não teriam causado prejuízo ao erário nem violado normas do edital. Posteriormente, em
decorrência do 4º Ciclo do Programa de Fiscalização de Entes Federativos, a CGU realizou
fiscalização no município de São Domingos/SC, no período de 25 a 29 de setembro de 2017
(relatório juntado às fls. 543-555 do IC e no evento 1, INQ4, pp. 5-24, do IPL). Em que pese a
inspeção da CGU ter sido realizada durante a vigência do procedimento licitatório 08/2017,
foram selecionados, para exame, recursos no montante de R$ 229.060,38 do orçamento do
Governo Federal, no período de 01 de janeiro de 2014 a 31 de dezembro de 2016, para
execução do Programa Nacional de Apoio ao Transporte Escolar (PNATE) do município de
São Domingos. Nessa fiscalização, restou confirmada a existência de vínculos entre os
licitantes. Nesse sentido, a CGU aponta que as empresas AIRTON SENA MIOTTO EIRELI –
ME (CNPJ nº 08.446.332/0001-52), LUIZ ALBERTO MIOTTO – ME (CNPJ nº
04.885.124/0001-52) e JL MIOTTO – TRANSPORTE – ME (CNPJ n° 17.208.378/0001-88)
operam no mesmo endereço e possuem o mesmo contador. Ademais, AIRTON e LUIZ são
irmãos e a titular da terceira empresa é esposa de um deles. Ainda, destaca que AIRTON
consta como empregado da empresa da LUIZ ALBERTO em diversos períodos entre 2009 e
2015.

Sobre as alegações apresentadas pela Prefeitura à CGU, em que afirma não encontrar óbice
legal para a participação de empresas da mesma família em certame licitatório, o órgão de
controle aponta, primeiro, haver fortes indícios de acerto prévio das propostas. Ademais,
destaca que o entendimento do Tribunal de Contas da União indica haver, no mínimo, quebra
5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771
https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 14/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

de sigilo das propostas nessa situação (Acórdão nº 3088/2010 do Plenário da Corte). ANA
CLAUDIA BARIZON FONTANA DA LUZ, pregoeira do certame, foi ouvida durante a
apuração (fls. 575-577), tendo informado que os participantes alegaram que o valor do
quilômetro rodado pago pela prefeitura de São Domingos estaria muito abaixo do valor
praticado na região. Em sua oitiva em sede policial5 , afirmou que teria sido realizada
pesquisa de preços, mas não soube dizer o motivo pelo qual não há registro dessa pesquisa (f.
601). Contudo, foi elaborada planilha evolutiva de valores com o objetivo de avaliar a
situação6

Importante registrar que o valor inicialmente proposto pelo edital de 2009 para a rota 14 foi
de R$1,80 o km rodado e o lance vencedor foi de R$1,39 – o que denota, em princípio, efetiva
competição entre os licitantes daquele certame. Dessa forma, evidente o prejuízo ao erário
decorrente da nova contratação que, segundo os dados da planilha acima, seria ao menos
43,6% superior aos valores dos serviços que já estavam sendo prestados ao município,
inclusive por meio de uma contratação emergencial. Destaca-se, contudo, que as diligências
realizadas pela Polícia Federal nos autos do IPL mencionado não lograram trazer elementos
adicionais das práticas delitivas. Com efeito, verifica-se que elas restringiram-se à oitiva dos
próprios investigados LUIZ ALBERTO MIOTTO, AIRTON SENA MIOTTO, LAURO
VALDECIR WALENDORFF, NEUDI JOSÉ BURATTI e GILMAR ACHILES MARMENTINI
(Evento 9, INQ1, PP. 2-11), que limitaram-se a negar genericamente o ajuste e combinação de
preços entre os licitantes, e do então prefeito ALCIMAR GOMES (evento 9, INQ1, pp.. 12/13),
que negou participar diretamente das licitações. Destaca-se, ainda, a elaboração do Laudo
Pericial pelo Setor TécnicoCientífico (SETEC) da Polícia Federal (Evento 13, INQ1, p. 4-7).
Nesse documento, os peritos não apontam a ocorrência de superfaturamento, pois os valores
licitados estariam de acordo com os preços de mercado, obtidos a partir de pesquisas
realizadas no site do Tribunal de Contas do Estado e nos portais de transparência de alguns
municípios de Santa Catarina7 .

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 15/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

Contudo, tal conclusão não afasta o prejuízo causado ao erário pela ação, no mínimo culposa,
dos agentes públicos envolvidos, que não realizaram formalmente nenhuma pesquisa de
mercado a justificar os preços máximos estabelecidos no certame e, mais grave ainda,
ignoraram o próprio valor que já estava sendo pago pelo município para a prestação de
idêntico serviço – inclusive com prorrogações contratuais e reajustes segundo índices
inflacionários – e resolveram simplesmente majorar os valores até então praticados,
beneficiando as empresas, que escancaradamente dividiram os lotes entre si e forçaram a
contratação pelo preço máximo estabelecido no edital, relembrando, ainda, que algumas
dessas empresas – firmas individuais, na verdade – mantinham forte ligação políticopartidária
com o Governo Municipal. Aliás, todas essas circunstâncias denotam a intenção deliberada
desses agentes públicos em beneficiar essas empresas, a caracterizar o dolo de suas condutas.
Não restam dúvidas, portanto, acerca do prévio acertos entre os licitantes com relação às
propostas apresentadas no pregão – uma verdadeira “ação entre amigos” –, que contou com a
complacência e o favorecimento deliberado dos agentes públicos diretamente envolvidos – ou,
no mínimo, decorrente de culpa grave –, resultando em prejuízo à municipalidade e à União,
cujo cálculo do montante é apresentado mais adiante, além da prática criminosa descrita no
artigo 90 da Lei nº 8.666/93, que é objeto da presente denúncia. 3) Pregão Presencial nº
04/2016 (Processo Administrativo nº 06/2016): No início de fevereiro de 2016 foi lançado
outro processo licitatório, o Pregão Presencial nº 04/2016, para contratação de empresas
para realização do transporte escolar em São Domingos/SC (Anexo IV, Vol. 4, do IC). Havia
neste edital a previsão de que a fabricação dos veículos não poderia ser inferior ao ano de
2002. Ou seja, veículos com até 14 anos de uso poderiam participar, sendo que a
recomendação do FNDE é que os veículos tenham no máximo 7 anos de uso. Com relação à
empresa GILMAR ACHILES MARMENTINI ME, pertencente ao então suplente de vereador
GILMAR ACHILES MARMENTINI, essa empresa concorreu em apenas uma rota (rota 13), e
a venceu com proposta de apenas R$ 0,11 abaixo de sua proposta inicial e R$ 0,01 abaixo da
melhor proposta apresentada ainda na fase de abertura de envelopes. Não houve participação
da empresa NEUDI JOSÉ BURATTI ME, do vereador do município de São Domingos. No
entanto, seu filho, EVERTON MEOTTI BURATTI, titular da empresa EVERTON MEOTTI
BURATTI ME (CNPJ nº 24.130.629/0001-14), sagrou-se vencedor em 6 das 13 linhas
ofertadas pelo município, que, conforme descrito adiante, entendeu não haver vedação legal
para a contratação. Verifica-se que a empresa de EVERTON MEOTTI BURATI foi aberta em
05/02/2016 (conforme documento da JUCESC de f. 94, Anexo IV, Vol. 4), dois dias após o
lançamento do Edital. Essa empresa ainda apresentou como motorista Luiz Carlos
Marmentini (possível parente de GILMAR ACHILES MARMENTINI, proprietário de empresa
supostamente concorrente). A Pregoeira nomeada que presidiu a comissão de licitação a
partir deste momento foi PAULA NATANA COMACHIO, que possui o mesmo sobrenome da
atual prefeita do município de São Domingos (Elieze Camachio), eleita para o mandato 2017-

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 16/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

2020, cuja chapa partidária foi formada com GILMAR ACHILES MARMENTINI, como
viceprefeito. Abaixo, tabela com a representação das propostas apresentadas e propostas
vencedoras em cada uma das linhas:

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 17/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

Novamente, observam-se muitas semelhanças de forma e conteúdo entre as propostas


apresentadas por empresas que seriam, supostamente, concorrentes nesse certame. Abaixo, as
5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771
https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 18/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

propostas apresentadas pelos integrantes da família MIOTTO, cujas vinculações restaram


amplamente demonstradas acima (fls. 100-101, 108-109 e 111-112 do Anexo IV, Vol. 4, do IC):

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 19/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 20/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 21/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

Da mesma forma, verifica-se enorme semelhança também em relação às propostas


apresentadas pelos licitantes ZENILDE TEREZINHA KARACEK – ME, LAURO VALDECIR
WALENDORFF – ME (CNPJ 10.548.687/0001-58) e GILMAR ACHILES MARMENTINI –
ME (CNPJ 06.111.808/0001-22), conforme documentos de fls. 106, 114-115 e 117, também do
Anexo IV, Vol. 4, do IC:

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 22/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 23/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

Cabe ainda destacar que a empresa homônima de ZENILDE TEREZINHA KARACEK adotou
durante algum tempo a denominação ZENILDE TEREZINHA WALENDORFF (f. 58 do Anexo
IV, Vol. 4, do IC): [...] Ademais, pesquisa no sistema cadastral da Receita Federal revela que
ZENILDE e LAURO VALDECIR WALENDORFF possuem os mesmos endereço e telefone fixo
– a denotar possível vínculo conjugal: [...] Mais uma vez, tem-se evidência clara de troca de
modelos de propostas entre empresas que seriam hipoteticamente licitantes concorrentes no
certame, fatos que, somados aos demais elementos acima descritos, também não deixam
dúvidas com relação ao ajuste prévio entre empresas participantes, para divisão dos itens
licitados e, assim, frustrar e fraudar o caráter competitivo do procedimento licitatório, com o
objetivo de obter as vantagens decorrentes da adjudicação do objeto da licitação. Contudo,
uma análise do restante do andamento do pregão denota outras graves irregularidades, que
não apenas corroboram o ajuste prévio entre os licitantes, como o envolvimento de agentes

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 24/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

públicos nessas fraudes. Nesse sentido, verifica-se que o edital era muito claro, em seu item 11
– Das Condições para Contratação, ao estabelecer que, por ocasião da assinatura do
contrato8 , a licitante vencedora deveria comprovar o atendimento de diversos requisitos em
relação aos veículos e condutores que seriam empregados no serviço de transporte escolar
(itens 11.1.1 e 11.1.2 do edital), havendo previsão expressa de que “caso a empresa vencedora
não comprove o atendimento dos requisitos supra, deixando de apresentar os documentos por
ocasião da assinatura da ata [em verdade, contrato], esta será desclassificada, sendo
convocada a 2ª colocada para subscrever o aludido instrumento”. Contudo, em total afronta
ao regramento do certame, e sob a justificativa de que não haveria tempo hábil para
apresentação dessa documentação por parte das empresas, pois as aulas iniciariam em 22 de
fevereiro de 2016, a pregoeira PAULA NATANA COMACHIO exarou diversas manifestações,
datadas de 19/02/2016, autorizando as empresas vencedoras da licitação a procederem à
assinatura dos contratos nesse mesmo dia 19 e iniciarem a prestação dos serviços a partir do
dia 22 (Decisões da Pregoeira e Atas de Registro de Preços em fls. 281-339 do Anexo IV, Vol.
4, do IC). Todos os contratos foram assinados pelo então prefeito ALCIMAR DE OLIVEIRA,
pela pregoeira PAULA NATANA COMACHIO e pelo Assessor Jurídico LUIZ HENRIQUE
MASETO ZANOVELLO. Primeiro, cabe destacar que, por certo, era do conhecimento da
gestão municipal a data de início das aulas na rede pública quando da deflagração da
licitação, o que obsta qualquer alegação de pretensa emergência neste caso. Por outro lado,
verifica-se que essa nova licitação, realizada em 2016, provavelmente se deve a uma
recomendação expedida pelo Ministério Público estadual (Recomendação nº 16/2015, datada
de 14/12/2015 – 254-280 do Anexo IV, Vol. 4, do IC), na qual o Promotor de Justiça
recomenda ao Prefeito que “se abstenha de firmar ou manter contrato com vereador ou com
empresa que tenha em seu quadro societário vereador, ressaltando que a exceção relativa aos
contratos de cláusulas uniformes não incide nos contratos administrativos formados mediante
licitação”, bem como que NEUDI JOSÉ BURATTI e GILMAR ACHILES MARMENTINI
também se abstenham de firmar contrato com o município na mesma situação, destacando, em
relação a eles, que “a conduta de transferir de forma ficta para terceiros cotas de empresas de
sua propriedade caracteriza ato atentatório a fé pública (crime) e, se objetiva burlar a
vedação legal analisada, configura também ato de improbidade administrativa”. Evidente,
assim, a intenção do i. promotor em alertar aos destinatários da recomendação que qualquer
tentativa de continuidade na prestação dos serviços, por meio de interpostas empresas,
mediante o emprego de ardis, não descaracterizaria a ilicitude do fato, ao contrário,
agravaria a situação. No Parecer exarado pelo referido Assessor Jurídico (fls. 237-247 do
Anexo IV, Vol. 4, do IC), constata-se inicialmente uma flagrante impropriedade, ao afirmar
que “verifica-se nos autos que foi realizada pesquisa de preços de mercado junto às empresas
do ramo do objeto a ser licitado”, quando não há qualquer elemento nos autos de que essa
pesquisa sequer tenha sido realizada. Ademais, não vislumbrou o Assessor Jurídico qualquer
irregularidade nos flagrantes relacionamentos entre várias das empresas licitantes, conforme
5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771
https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 25/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

acima destacado – situação que, tratando-se de um pequeno município, deve tratar-se de fato
praticamente notório. Quanto à recomendação exarada pelo Ministério Público estadual,
afirma que as irregularidades teriam sido sanadas, pois, em relação a GILMAR ACHILES
MARMENTINI, este manifestou-se junto à Câmara de Vereadores, afirmando não possuir
interesse na nomeação como vereador para qual era suplente, afirmando o parecer, então, que
não mais haveria incompatibilidade. Com relação a NEUDI JOSÉ BURATTI também afirma
não haver irregularidade no novo pregão, haja vista que participara do certame apenas a
empresa de seu filho, EVERTON MEOTTI BURATTI ME, situação que não ensejaria qualquer
incompatibilidade, conforme decisões e pareceres que reproduz, que apontam não haver
vedação de contratação no caso de empresas de parentes de gestores públicos ou de agentes
políticos. Sob fundamentos similares, o então prefeito municipal ALCIMAR DE OLIVEIRA
homologou o certame (fls. 248-252 Anexo IV, Vol. 4, do IC). Contudo, analisando a
documentação extemporaneamente juntada aos autos (documentos posteriores à f. 339 do
Anexo IV, Vol. 4, do IC, todas elas não numeradas), percebe-se de forma evidente que a
participação do filho de NEUDI nesse novo certame tratase de ardil, para tentar dar ares de
legalidade ao pregão. Primeiro, cumpre relembrar que a empresa de EVERTON MEOTTI
BURATTI foi criada dois dias após o lançamento do edital do Pregão Presencial nº 04/2016.
Ademais, nos documentos extemporâneos apresentados por essa empresa, relativos à
regularidade dos veículos e motoristas para a prestação dos serviços (a partir da f. 374 do
Anexo IV, Vol. 4, do IC – todas não numeradas), verifica-se que 4 dos 6 veículos teriam sido
objeto de comodato com familiares ou empresas de familiares. Ou seja, 4 dos veículos
utilizados pela empresa recém-criada teriam sido cedidos gratuitamente por familiares. Além
disso, os dois outros veículos teriam sido adquiridos por EVERTON após a expedição da
recomendação do Ministério Público estadual. Comparando esses veículos com aqueles que
foram utilizados por NEUDI JOSÉ BURATTI na contratação anterior (Pregão nº 01/2014),
verifica-se que os veículos de placas AKS1791 e ATC5379, também objeto de comodatos com
seu irmão NEODIMIR, foram empregados por NEUDI na prestação dos serviços de
transporte escolar do contrato anterior (fls. 202-203, 215-216 do Anexo IV, Vol. 2, do IC). Por
outro lado, o veículo AOW1173 era de propriedade de NEUDI (f. 211 do Anexo IV, Vol. 2, do
IC) e também fora utilizado na prestação de serviços de transporte da contratação anterior.
De forma semelhante, o veículo de placas CVP6004, de propriedade da empresa de sua
esposa, IRES BRUSTOLIN MEOTTI BURATTI ME, e objeto de comodato com NEUDI,
também foi utilizado por NEUDI na contratação anterior (f. 189 do Anexo IV, Vol. 2, do IC).
Por fim, o veículo de placas DJE0376 também foi empregado por NEUDI na prestação de
serviços do contrato anterior (f. 196 do Anexo IV, Vol. 2, do IC)9 . O quadro abaixo resume
esses fatos:

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 26/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

Verifica-se, ainda, que ao menos Moacir Silverio e NEODIMIR LUIZ BURATTI, supostamente
contratados como motoristas por EVERTON, também prestaram serviços de motorista na
contratação anterior com NEUDI. Por outro lado, chama a atenção que os pretensos
contratos de comodato tenham sido firmados somente em 16/03/2016, quando as aulas
iniciaram no dia 22/02/2016 – motivo apresentado pelo município, aliás, para justificar a
assinatura dos contratos sem que fosse apresentada pelas empresas a respectiva
documentação sobre veículos e motoristas. Além disso, conforme demonstrado no tópico
seguinte, verifica-se que a empresa IRES BRUSTOLIN MEOTTI BURATTI ME (CNPJ
15.742.719/0001-75) é de propriedade de IRES BRUSTOLIN MEOTTI BURATTI, esposa de
NEUDI JOSÉ BURATTI e mãe de EVERTON MEOTTI BURATTI. Ademais, a sede da
pretensa empresa de EVERTON coincide exatamente com o endereço residencial de IRES, no
qual também estaria sediada sua empresa: Rua Major Azambuja, nº 12, bairro São Cristóvão,
em São Domingos/SC. Não restam dúvidas, portanto, da fraude perpetrada por NEUDI e seu
filho EVERTON, de forma a tentar ocultar a continuidade da irregular contratação mantida
com NEUDI, vereador do município de São Domingos, fraude ocorrida com total
complacência dos agentes públicos municipais envolvidos nessa licitação e subsequentes
contratações. 4) Pregão Presencial nº 004/2017: Em 2017 assumiu a nova prefeita, Elieze
Comachio, eleita pela coligação PT, PDT, PTB e PC do B, tendo como vice-prefeito o então
suplente a vereador GILMAR ACHILES MARMENTINI, proprietário da empresa de
transportes GILMAR ACHILES MARMENTINI ME. O primeiro processo licitatório realizado
no ano de 2017, o Pregão Presencial nº 002/2017 (Anexo IV, Vol. 6, do IC), que ofereceu 12
rotas, restou fracassado pela inabilitação de todas as empresas. Ainda assim, interessante
apresentar a tabela demonstrativa de como se daria o certame, caso não houvesse
impedimento por irregularidade na documentação das empresas:

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 27/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

Aliás, chama muito a atenção o conteúdo da Ata nº 2/2017, da pregoeira e equipe de apoio (f.
245-246 do Anexo IV, Vol. 6, do IC), onde se observa que todos os itens do pregão restaram
“fracassados”, porque TODAS as empresas foram inabilitadas, pois “nenhuma das licitantes
cumpriu com os requisitos editalícios”. Da leitura dessa ata se depreende que todas as
empresas deixaram de apresentar algum documento para a devida habilitação no certame, o
que chama muito a atenção, haja vista tratar-se de empresas que rotineiramente participavam
de certames dessa natureza, em especial junto ao município de São Domingos. Ademais, cabe
destacar que, mais uma vez, não consta no procedimento qualquer pesquisa de mercado para
balizar o preço de referência do certame. Como é possível observar, novamente parece ter
havido negociação prévia entre as empresas, que dividiram entre si os vários itens do certame.
Com o insucesso do Pregão Presencial nº 002/2017, houve a necessidade de lançamento de
novo processo licitatório, sendo aberto então o Pregão Presencial nº 004/2017 – Processo
Administrativo nº 08/2017 (cópia constante do Anexo IV, Vol. 5, do IC). Não muito diferente do
anterior pregão fracassado, inclusive com relação a valores, empresas interessadas e
“escolha” de rotas, esse novo pregão foi homologado com resultado conforme tabela abaixo:
5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771
https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 28/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

Enquanto no Pregão Presencial nº 002/2017 as rotas 03 e 05 permaneceram sem interessados,


no Pregão Presencial nº 004/2017 foram para as rotas 05 e 07 que não surgiram propostas.
Novamente, observa-se opção seletiva das rotas, com baixa concorrência entre os
participantes, além da apresentação de propostas muito próximas ao máximo oferecido no
edital. Neste processo licitatório a empresa EVERTON MEOTTI BURATTI ME sagrou-se
como a maior vencedora, firmando contrato em quase a metade das rotas oferecidas pelo
município, e, caso seja considerado o resultado do processo administrativo nº 08/2017 em
conjunto com o processo administrativo nº 33/2017 (Anexo IV, Vol. 3, do IC), que se deu em
decorrência da não apresentação de propostas em duas rotas do Pregão Presencial
nº 04/2017, a empresa do filho do vereador NEUDI JOSÉ BURATTI logrou êxito em 7 das 12
rotas oferecidas (quase 60%).

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 29/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

Importante destacar que a empresa IRES BRUSTOLIN MEOTTI BURATTI ME é de


propriedade de IRES BRUSTOLIN MEOTTI BURATTI, esposa de NEUDI JOSÉ BURATTI e
mãe de EVERTON MEOTTI BURATTI. Ademais, a sede da pretensa empresa de EVERTON
(atualmente MEOTTI TRANSPORTES EIRELI) coincide exatamente com o endereço
residencial de IRES, no qual também estaria sediada sua empresa: Rua Major Azambuja, nº
12, bairro São Cristóvão, em São Domingos/SC, conforme propostas de fls. 106-107 e 109-110
do Anexo IV, Vol. 5, do IC, e também as telas abaixo do sistema cadastral da Receita Federal:
[...] Além disso, mais uma vez também se verifica enorme similaridade no formato de
propostas entre licitantes pretensamente concorrentes. Como exemplo, as propostas das
empresas de AIRTON e LUIZ ALBERTO MIOTTO, abaixo reproduzidas (fls. 96 e 100 do
Anexo IV, Vol. 5, do IC):

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 30/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

Como se vê, é evidente o conluio entre diversos licitantes, e, em especial, entre NEUDI JOSÉ
BURATTI e GILMAR ACHILES MARMENTINI com a própria Administração Municipal, ao
menos nas licitações e contratações realizadas entre 2014 e 2016, que resultou no
defraudamento dos procedimentos licitatórios e, nas contratações de 2014 e 2015, ocorrência
de superfaturamento no transporte escolar no Município, com prejuízo direto à União
(transferência de recursos via Programa Nacional de Transporte Escolar – PNATE) – abaixo
detalhado –, incidindo na prática de atos criminosos contra a lisura das licitações, conforme
adiante demonstrado. Como resultado de todos esses procedimentos licitatórios viciados,
direcionados, previamente ajustado entre os participantes e com prejuízo ao erário –
justamente pela falta de verdadeira competição –, tem-se ainda as precárias condições em que
o transporte dos estudantes era realizado por essas empresas, conforme claramente evidencia
o Relatório de Auditoria nº 201701941 (fls. 551-v a 554-v). Nesse relatório, a CGU aponta,
primeiro, “impropriedades na realização do transporte de alunos em áreas rurais”, com o
“transporte de alunos em quantitativo acima do previsto para a capacidade do veículo” em
uma das linhas e falta de orientação aos estudantes sobre a obrigatoriedade de uso do cinto

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 31/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

de segurança. Ademais, e ainda mais grave, a CGU também aponta a utilização de veículos
em condições inadequadas, conforme claramente demonstram os trechos do relatório abaixo
reproduzidos: [...]

II – DOS CRIMES

a) Condutas relativas ao Pregão Presencial nº 01/2014 (Processo Administrativo nº


01/2014):

ALCIMAR DE OLIVEIRA, ANA CLÁUDIA BARIZON FONTANA DA LUZ10 , NEUDI


JOSÉ BURATTI, GILMAR ACHILES MARMENTINI, AIRTON SENA MIOTTO, LUIZ
ALBERTO MIOTTO e LAURO VALDECIR WALENDORFF, em janeiro de 2014
(homologação da licitação em 30/01/2014 – Vol. 3, Anexo II, f. 168, do IC), no município de
São Domingos, deliberadamente e em concurso de pessoas (art. 29 do Código Penal)
frustraram e fraudaram, mediante ajuste, combinação e outros expedientes, o caráter
competitivo do Pregão Presencial nº 01/2014, com o intuito de obter para si (pessoas físicas
representantes das empresas licitantes) e para outrem (as empresas licitantes envolvidas) as
vantagens decorrentes da adjudicação do objeto licitado. As condutas acima descritas se
amoldam perfeitamente ao tipo do artigo 90 da Lei nº 8.666/93: Art. 90. Frustrar ou fraudar,
mediante ajuste, combinação ou qualquer outro expediente, o caráter competitivo do
procedimento licitatório, com o intuito de obter, para si ou para outrem, vantagem decorrente
da adjudicação do objeto da licitação: Pena - detenção, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
As empresas NEUDI JOSÉ BURATTI ME e GILMAR ACHILES MARMENTINI ME figuraram
entre os vencedores do certame. Conforme demonstrado de forma detalhada acima, é
inequívoco que o caráter competitivo da mencionada licitação foi maculado pela ação dos ora
denunciados, já que houve o direcionamento do certame e conluio entre os participantes. Das
14 rotas ofertadas, somente em uma houve dois interessados, que são irmãos – AIRTON SENA
MIOTTO e LUIZ ALBERTO MIOTO. E dessas 14 rotas ofertadas, 7 foram vencidas por
NEUDI JOSÉ BURATTI, 3 por GILMAR ACHILES MARMENTINI, 2 por LAURO VALDECIR
WALENDORFF e 1 por LUIZ ALBERTO MIOTTO. Por outro lado, como decorrência desse
conluio e direcionamento (doloso) do certame – e também de diversas outras irregularidades,
como a inexistência de pesquisa de mercado e a evidente similaridade entre as propostas
apresentadas por licitantes que supostamente seriam concorrentes –, os valores dessa nova
contratação ficaram muito acima daqueles que já estavam sendo praticados com os mesmos
contratantes e acima também de contratação emergencial realizada no ano anterior. Cabe
destacar que, conforme acima demonstrado (tópico I.2), as propostas apresentadas para todos
os itens foram no mesmo valor previsto no edital. Ademais, todos os licitantes venceram todos
os itens que ofertaram, sem redução de preço – à exceção da redução de 1 centavo na oferta
de LUIZ ALBERTO MIOTTO ME. Tais fatos demonstram, sem margem para dúvidas11, que
5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771
https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 32/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

houve evidente combinação e ajuste prévio entre todos os licitantes que participaram do
certame, que direcionaram trechos específicos para cada empresa, conforme denotam, entre
outros elementos, a similaridade de propostas apresentadas por empresas que seriam
supostamente concorrentes e vínculos de parentesco e de endereços entre licitantes. Desta
forma, resta configurado o ajuste e a combinação entre os licitantes, que frustraram e
fraudaram o caráter competitivo da licitação com o intuito de obter as vantagens advindas da
adjudicação do objeto licitado. Assim, nessa flagrante atuação concertada, em conluio, por
parte de todas as empresas e pessoas que participaram do certame, que direcionaram trechos
específicos para cada empresa, resta evidenciada a participação também da pregoeira ANA
CLAUDIA BARIZON FONTANA DA LUZ, que, diante de todos esses claros elementos de
irregularidade, não adotou nenhuma medida para evitar a concretização desse procedimento
fraudulento e, assim, por meio de sua omissão, contribuiu para a fraude ao caráter
competitivo desta licitação, em benefício dos licitantes e em prejuízo da Administração
Pública. Ademais, tem-se a atuação direta (e dolosa) do então prefeito ALCIMAR DE
OLIVEIRA – que apresenta forte ligação político-partidária com os dois principais
beneficiados nesse procedimento fraudado – em todo o certame e subsequentes contratações e
prorrogações contratuais. Registre-se que, em relação a esse pregão, ALCIMAR DE
OLIVEIRA realizou pessoalmente a autorização de abertura do procedimento (f. 04 do anexo
II, volume III, do IC), a assinatura dos contratos (f. 175 e 272 do anexo II, volume III, do IC),
bem como a celebração dos aditivos contratuais (f. 317 a 370 do anexo II, volume III, do IC).
Tais fatos ensejaram dano ao erário municipal. Para obter o montante desse dano,
exclusivamente em relação ao Pregão nº 01/2014 e contratações respectivas (2014 e 2015),
empregou-se, no cálculo abaixo, metodologia semelhante àquela utilizada na tabela da f. 568-
v do IC, ou seja, comparou-se os valores pagos nos contratos resultantes do Pregão nº
01/2009, corrigidos ao longo dos anos, com os valores contratados e pagos no pregão
subsequente. Tal metodologia justifica-se, primeiro, porque aquela licitação foi uma das
poucas onde, em princípio, houve efetiva concorrência, tornando-se uma adequada referência
de valores; segundo, considerando que os contratos decorrentes dessa licitação foram
prorrogados diversas vezes, tendo sido os serviços prestados até 2013 naquele patamar de
valores, resta evidente que, houvesse o município promovido uma efetiva competição entre os
licitantes, numa licitação que apresentasse esses valores – atualizados para 2014 – como
preços de referência, certamente haveria empresas interessadas em prestar os serviços
Utilizou-se como referência os valores por “km” rodado, para cada tipo de veículo
(capacidade de 9 a 45 passageiros), pagos nos contratos de 2013 a 2015. Os valores de 2013
foram atualizados para os anos seguintes pelo INPC, por meio da Calculadora do Cidadão,
disponível no site do Banco Central12 . As tabelas abaixo apresentam essas informações e o
percentual final do dano ao erário (sobrepreço) para cada empresa, calculado a partir de uma
média ponderada, considerando as características dos contratos firmados com cada uma das
empresas (tipos de veículo e número de veículos de cada tipo) [...] Esse percentual ponderado
5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771
https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 33/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

por ano, então, foi aplicado ao valor recebido pelas empresas como pagamento pelos serviços
prestados, para, dessa forma, alcançar o valor do dano ao erário. Na tabela abaixo,
encontram-se os valores recebidos por cada uma das empresas, nos anos de 2014 e 2015, no
âmbito do PNATE – São Domingos/SC. Os dados relativo aos pagamentos encontram-se no
Anexo IV, Vol. 1, do IC, mas também estão disponibilizados no Portal de Transparência do
município, no link “Despesas por credor”: [...] Assim, chega-se ao valor originário do dano
ao erário, que perfaz o montante de R$ 474.743,40.

b) Condutas relativas ao Pregão Presencial nº 04/2016 (Processo Administrativo nº


06/2016):

ALCIMAR DE OLIVEIRA, PAULA NATANA COMACHIO, LUIZ HENRIQUE MASETO


ZANOVELLO, NEUDI JOSÉ BURATTI, EVERTON MEOTTI BURATTI, GILMAR
ACHILES MARMENTINI, AIRTON SENA MIOTTO, LUIZ ALBERTO MIOTTO, LAURO
VALDECIR WALENDORFF, ZENILDE TEREZINHA KARACEK e JUCELI LINCK
MIOTTO13, em fevereiro de 2016 (homologação da licitação em 19/02/2016 – Vol 4, Anexo
IV, fls. 248-252 do IC), no município de São Domingos deliberadamente e em concurso de
pessoas (art. 29 do Código Penal), frustraram e fraudaram, mediante ajuste, combinação e
outros expedientes, o caráter competitivo do Pregão Presencial nº 04/2016, com o intuito de
obter para si (pessoas físicas representantes das empresas licitantes) e para outrem (as
empresas licitantes envolvidas) as vantagens decorrentes da adjudicação do objeto licitado,
condutas que também se amoldam ao tipo do artigo 90 da Lei nº 8.666/93. Conforme
detalhadamente demonstrado tópico I.3 acima, é inequívoco que o caráter competitivo do
Pregão Presencial nº 04/2016 foi maculado pela ação dos ora denunciados, já que houve o
direcionamento do certame e o conluio entre os participantes. Desta vez, não houve
participação direta de NEUDI JOSÉ BURATTI ME, vereador do município de São Domingos.
No entanto, seu filho, EVERTON MEOTTI BURATTI, titular de empresa homônima, sagrou-se
vencedor em 6 das 13 linhas ofertadas pelo município. Conforme acima demonstrado, trata-se
de empresa criada exclusivamente para tentar dar ares de legalidade na perpetuação da
prestação dos serviços por aquele vereador do município, agora por intermédio de seu filho.
Além disso, novamente houve evidente combinação e ajuste prévio entre todos os licitantes que
participaram do certame – EVERTON MEOTTI BURATTI ME (representado por EVERTON
MEOTTI BURATTI), GILMAR ACHILES MARMENTINI ME (representada por GILMAR
ACHILES MARMENTINI), LAURO VALDECIR WANLENDORFF ME (representada por
LAURO VALLDECIR WALLENDORF), ZENILDE TEREZINHA KARACEK ME (representada
por ZENILDE TEREZINHA KARACEK), AIRTON SENA MIOTTO ME (representada por
AIRTON SENA MIOTTO) e JL MIOTTO TRANSPORTES ME (representado por JUCELI
LINCK MIOTTO), já que eles direcionaram trechos específicos para cada empresa, conforme
denotam, entre outros elementos, a similaridade de propostas apresentadas por empresas que
5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771
https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 34/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

seriam supostamente concorrentes e vínculos de parentesco e de endereços entre licitantes.


Essa evidente fraude era do perfeito conhecimento do então prefeito ALCIMAR DE
OLIVEIRA, que novamente atuou em todo o processo licitatório, desde a autorização à
celebração do contrato, bem como da pregoeira PAULA NATANA COMACHIO e do assessor
jurídico LUIZ HENRIQUE MASETO ZANOVELLO, que ignoraram todas as irregularidades
acima apontadas – que se mostravam não apenas evidentes no procedimento, mas
reiteradamente praticadas pelos envolvidos –, apresentando manifestações favoráveis à
continuidade desse certame repleto de vícios, denotando sua atuação dolosa para fraudar e
frustrar o caráter competitivo da licitação, mediante outros expedientes, com o objetivo de
obter para outrem as vantagens decorrentes da adjudicação do objeto licitado. Quanto a esse
pregão, ALCIMAR DE OLIVEIRA realizou pessoalmente a autorização de abertura do
procedimento (f. 03 do Anexo IV, Vol. 4, do IC) e a homologação do procedimento licitatório
(f. 252 do Anexo IV, Vol. 4, do IC) – em que pese houvesse recomendação do Ministério
Público estadual apontando a ilegalidade dos contratos firmados com vereadores, mesmo que
de forma dissimulada (f. 254 a 280 Anexo IV, Vol. 4, do IC) –, bem como procedeu à
assinatura dos contratos (f. 332 e 338 do Anexo IV, Vol. 4, do IC).

c) Condutas relativas ao Pregão Presencial nº 04/2017:

AIRTON SENA MIOTTO, LUIZ ALBERTO MIOTTO, JUCELI LINCK MIOTTO,


EVERTON MEOTTI BURATTI e IRES BRUSTOLIN MEOTTI BURATTI14 , entre janeiro
e 7 de fevereiro de 2017 (data de homologação da licitação – Vol 5, Anexo IV, f. 305 do IC), no
município de São Domingos, deliberadamente e em concurso de pessoas (art. 29 do Código
Penal), frustraram e fraudaram, mediante ajuste, combinação e outros expedientes, o caráter
competitivo do Pregão Presencial nº 04/2017, com o intuito de obter para si (pessoas físicas
representantes das empresas licitantes) e para outrem (as empresas licitantes envolvidas) as
vantagens decorrentes da adjudicação do objeto licitado, condutas que também se amoldam
ao tipo do artigo 90 da Lei nº 8.666/93. Após o fracasso do Pregão Presencial nº 02/20177, em
que todas as empresas licitantes foram inabilitadas – cabe registrar que já nesse procedimento
há indícios de que também ocorreu o ajuste entre os licitantes –, foi lançado o Edital de
Pregão Presencial nº 04/2017, com o mesmo objeto. Neste segundo edital, a empresa
EVERTON MEOTTI BURATTI ME, representada por EVERTON MEOTTI BURATTI, sagrou-
se vencedora em quase metade das rotas oferecidas. Novamente, identificou-se a participação
de pretensos licitantes com estreitos vínculos familiares e de endereço. Dessa forma, constata-
se que a empresa IRES BRUSTOLIN MEOTTI BURATTI ME é de propriedade de IRES
BRUSTOLIN MEOTTI BURATTI, esposa de NEUDI JOSÉ BURATTI e mãe de EVERTON
MEOTTI BURATTI. Ademais, verificouse que a sede da pretensa empresa de EVERTON
(atualmente MEOTTI TRANSPORTES EIRELI) coincide exatamente com o endereço
residencial de IRES, no qual também estaria sediada sua empresa). Por fim, mais uma vez
5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771
https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 35/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

tem-se a apresentação de propostas com formato extremamente similar entre empresas


supostamente concorrentes (AIRTON SENA MIOTTO ME e LUIZ ALBERTO MIOTTO ME,
conforme fls. 96 a 100 do Anexo IX, Vol. 5, do IC). Além disso, verifica-se novamente que os
licitantes apresentaram propostas com valores idênticos aos máximos previstos em edital e
que, em várias rotas, apenas um licitante apresentou proposta de preços (conforme fls. 6/7 do
Anexo IV, Vol. 5, do IC, onde estão cotados os valores máximos, e Ata da Sessão Pública do
Pregão Presencial – Edital de Pregão Presencial n º 4 – fls. 123-125 do Anexo IV, Vol. 5 do
IC). Todos estes elementos denotam, sem margem para dúvidas, que o procedimento de dividir
as rotas entre os licitantes, praticado nas licitações anteriores, repetiuse também no pregão
presencial nº 04/2017, na medida em que os licitantes também frustraram e fraudaram a
licitude deste procedimento licitatório, mediante ajuste prévio, com o objetivo de obter para si
as vantagens da adjudicação do objeto licitado.

Contudo, desta feita, não foram identificados elementos a apontar o envolvimento de agentes
públicos nos ilícitos praticados, devendo ser considerando, ainda, a início de uma nova gestão
no âmbito daquele município.

III – DOS PEDIDOS FINAIS

Em face do exposto, o Ministério Público Federal, por seu Procurador da República


signatário, denuncia a Vossa Excelência:

1. ALCIMAR DE OLIVEIRA, NEUDI JOSÉ BURATTI, GILMAR ACHILES MARMENTINI e


LAURO VALDECIR WALENDORFF como incursos no crime tipificado no art. 90, da Lei nº
8.666/93, por 2 vezes, na forma do art. 69 do CP; e

2. AIRTON SENA MIOTTO e LUIZ ALBERTO MIOTO como incursos no crime tipificado no
art. 90, da Lei nº 8.666/93, por 3 vezes, na forma do art. 69 do CP.

Após a autuação e o recebimento da denúncia, requer sejam os réus citados para apresentar
resposta à acusação, nos termos do artigo 396-A do Código de Processo Penal, e, confirmado
o recebimento da exordial acusatória (art. 399 do CPP), sejam eles intimados para a
audiência e os demais atos processuais, inclusive interrogatório e inquirição das testemunhas
abaixo arroladas, seguindo-se o rito processual previsto nos artigos 396 a 405 do Código de
Processo Penal até final condenação.

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 36/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

Requer-se, ainda, a condenação do ora denunciados à reparação integral do dano, nos termos
do art. 387, IV, do CPP e art. 91, I, do CP, em montante de, no mínimo, R$ 474.743,40,
atualizados monetariamente e acrescidos de juros de mora.

Autos n. 5007348-59.2020.4.04.7202

I – INTRODUÇÃO – HISTÓRICO DOS FATOS

A presente denúncia tem origem no Inquérito Civil1 nº 1.33.002.000246/2015- 50, instaurado


a partir de representação do diretório municipal do Partido Progressista de São Domingos,
para apurar suposta participação de vereadores do município de São Domingos/SC em
processos licitatórios e subsequentes contratações para a realização do transporte escolar
naquele município, bem como possíveis irregularidades nesses certames (fls. 5-450 do IC).

Fundamenta-se, ainda, no Inquérito Policial (IPL) nº 011/2018-DPF/XAP/SC (autos nº


5002441-12.2018.404.7202), instaurado com o objetivo de investigar os fatos relacionados ao
Pregão Presencial nº 01/2014 a partir de notícia-crime encaminhada pela Controladoria-
Geral da União à Polícia Federal por meio do ofício nº
224/2017/PLANEJ/SC/Regional/SC/CGU, pelo qual o órgão controlador noticiou possíveis
ilícitos relacionados à licitações ocorridas no âmbito do Programa Nacional de Apoio ao
Transporte do Escolar (PNATE) em São Domingos/SC (evento 1, INQ1, pp. 2-7) e encaminhou
o Relatório nº 201701941 (evento 1, INQ4), que também foi juntado ao IC e que será
referenciado adiante. Abaixo, segue uma descrição das irregularidades encontradas em cada
um desses procedimentos. Cumpre destacar desde já, contudo, que, embora haja evidente
conexão entre todos os atos criminosos narrados nesta denúncia, o ajuizamento de uma única
ação penal em face de todos os envolvidos – ao menos nos parece – poderia prejudicar
sobremaneira a celeridade na tramitação do feito (em oposição ao que estabelece o art. 5º,
LXXVIII da Constituição Federal), além de não assegurar, na maior medida em que possível,
o exercício do direito constitucional à ampla defesa por parte dos requeridos (art. 5º, LV).
Além disso, verifica-se que os envolvidos não tiveram participação idêntica nas práticas
criminosas ora denunciadas, de modo que a instrução processual poderá ter andamento
diferenciado em relação aos dois grupos. Ademais, em relação aos investigados ora
denunciados, o Ministério Público Federal entende que o Acordo de Não Persecução Penal
(ANPP) previsto no art. 28-A do Código de Processo Penal mostra-se, em princípio,
necessário e suficiente à reprovação e prevenção do crime – o que não ocorre, contudo, com
os denunciados na ação penal conexa, tendo em vista a reiteração delitiva (mais de 3 condutas

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 37/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

de fraude a licitação) e/ou o grave dano ao erário e à moralidade decorrentes de suas


condutas, bem como, em relação aos agentes públicos envolvidos, pela posição que ocupavam
na época dos fatos – prefeito e vereadores –, que lhes impunha justamente atuar no sentido de
evitar que tais práticas ilícitas ocorressem. Dessa forma, estão sendo oferecidas nesta data
denúncia e proposta de ANPP – acompanhada desta denúncia, em caso de impossibilidade de
acordo –, que serão distribuídas por conexão, ambas descrevendo todos os atos criminosos –
de forma a não se perder o contexto em que praticados –, mas envolvendo, cada uma delas, os
crimes relativas aos respectivos denunciados/investigados.

Na primeira denúncia, foram agrupados os envolvidos em atos criminosos reiterados, que


resultaram em grave dano ao erário e à moralidade, em relação aos quais não se mostra
cabível o oferecimento de Acordo de Não Persecução Penal (ANPP); na proposta e respectiva
denúncia, estão os demais envolvidos, que também praticaram condutas que configuram
ilícitos criminais, mas em relação aos quais é possível o oferecimento de ANPP. Esta denúncia
refere-se ao segundo grupo, abrangendo as pessoas físicas envolvidas em condutas que
fraudaram e frustraram, mediante ajuste e combinação, o caráter competitivo do
procedimento licitatório, tudo com o objetivo de obter, para si e para outrem, a vantagem
decorrente da adjudicação do objeto da licitação, mas em relação às quais é oferecido,
previamente ao seus recebimento, Acordo de Não Persecução Penal. 1) Pregão Presencial nº
01/2009 (Processo Licitatório nº 01/2009): Em 2009, o município de São Domingos realizou o
Pregão Presencial nº 01/2009 para atender ao transporte escolar (cópia do procedimento no
Anexo II, Vol. 1 e 2, do IC). Ao final do certame, foram contratadas, dentre outras, as
empresas GILMAR ACHILES MARMENTINI ME e NEUDI JOSÉ BURATTI ME. O contrato
sofreu diversos aditivos e permaneceu vigente até o fim do ano de 2013 (fls. 50-54 do IC e fls.
500-507, 516-523, 554, 558, 579-580, 591-592, 638-639, 653-654, 690-691 e 696-697 do
Anexo II, Vol. 2, do IC). O Edital (fls. 2-17 do Anexo II, Vol. 1, do IC) previu, em seu item 1.11,
que o prazo de vigência do contrato decorrente daquele processo licitatório iria até o final do
exercício de 2009, podendo ser prorrogado, a critério da Administração, por períodos
sucessivos de 12 (doze) meses cada um (para os anos letivos de 2010, 2011 e 2012) até no
máximo de 36 (trinta e seis) meses de prorrogação. No entanto, os contratos foram
prorrogados até o ano letivo de 2013, conforme os Termos Aditivos nº 115 e nº 117, ambos de
15 de dezembro de 2012 (fls. 690-691 e 696- 697 do Anexo II, Vol. 2, do IC).

Ainda no ano de 2012, NEUDI JOSÉ BURATTI e GILMAR ACHILES MARMENTINI,


proprietários das empresas citadas acima, disputaram as eleições municipais. NEUDI elegeu-
se vereador e GILMAR, segundo suplente de vereador, ambos pelo Partido dos Trabalhadores
(PT). Portanto, desde 01/01/2013, quando houve a diplomação, o então vereador NEUDI
JOSÉ BURATTI acumulou a atividade de vereança com a qualidade de contratado pela
prefeitura do município em que atuava como vereador (fls. 61-65 do Anexo I do IC). GILMAR
5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771
https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 38/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

ACHILES MARMENTINI também exerceu o cargo de vereador durante a vigência do contrato


(fls. 66-76 do Anexo I do IC). O prefeito municipal da época, ALCIMAR DE OLIVEIRA (de
apelido “KIKO”), também filiado ao Partido dos Trabalhadores (PT), exercia seu segundo
mandato (2013-2016)2 . Abaixo, quadro ilustrativo dos processos licitatórios relacionados ao
transporte escolar no município: [...]

Com relação ao Pregão Presencial n° 01/2009, que foi deflagrado antes das eleições de 2012
e, portanto, muito antes do início do mandato de NEUDI JOSÉ BURATTI e da suplência de
GILMAR ACHILES MARMENTINI, e pretendia contratar empresas de transporte escolar
para 21 trajetos no interior do município de São Domingos/SC, foi possível observar certa
proporcionalidade quanto à distribuição do objeto licitado entre as empresas participantes,
sobressaindo-se, no entanto, a empresa de NEUDI JOSÉ BURATTI, com 6 linhas (28,6%),
ainda assim, dentro de uma aparente normalidade (conforme Termo de Homologação e Termo
de Adjudicação, respectivamente, de fls. 452-457 e f. 458 do Anexo II, Vol. 2, do IC). Da
mesma forma, as propostas apresentadas pelos concorrentes continham valores quase sempre
abaixo do valor máximo do quilômetro estipulado pelo edital e esses valores ainda sofreram
significativa redução na fase de lances, evidenciando, em princípio, a existência de alguma
disputa pelas rotas entre as empresas participantes (Demonstrativo de Lances – fls. 411-436
do Anexo II, Vol. 2, do IC). Com exemplo, cita-se o trajeto da “linha 03”, que tinha como
valor máximo definido no edital a ser pago por quilômetro rodado a importância de R$ 1,60
(item 1.8 do edital – f. 05 do Anexo II, Vol. 1, do IC). As propostas constantes nos envelopes
das 8 empresas que concorreram por esta linha foram de R$1,58; R$1,52; R$1,50; R$1,48;
R$1,45; R$1,45; R$1,44; e R$1,40, sendo que, após a fase de lances, a linha foi contratada
por R$ 1,03 por quilômetro rodado (f. 415 do Anexo II, Vol. 1, do IC), uma redução de mais de
35% sobre o preço inicial definido pelo município de São Domingos. A “linha 03” foi
disputada por 4 empresas na fase de lances, que juntas apresentaram um total de 19 ofertas,
antes de o certame finalizar ao preço de R$ 1,03. Em média, o preço da menor proposta para
cada trajeto foi reduzido em 15% após a realização da fase de lances (fls. 501-502 do IC).

2) Pregão Presencial nº 01/2014 (Processo Administrativo nº 01/2014):

Finalizada a vigência dos Contratos Administrativos resultantes do Pregão Presencial nº


01/2009, deu-se início a novo processo licitatório com idêntico objeto – Pregão

Presencial nº 01/2014 –, para contratação para o ano de 2014 (cópia no Anexo II, Vol. 3, do
IC). Como se verá adiante, a partir deste momento, que é marcado pelo fim do Processo
Licitatório nº 01/2009, nota-se a existência de clara combinação prévia entre as empresas
participantes dos certames com o objetivo de atingir o ganho máximo em cada um dos itens
licitados, em prejuízo aos interesses da municipalidade. Assim, a segunda licitação
5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771
https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 39/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

(Procedimento Licitatório nº 01/2014, Pregão Presencial nº 01/2014 – edital em fls. 05-17 do


Anexo II, Vol. 3, do IC), realizada em 2014, manteve-se vigente, com aditivos, até o fim de
2015 (contratos de fls. 171-175, 224-227, 249- 252 e 269-272, e termos aditivos de fls. 317-
318, 320-321, 323-324 e 326-327, todos do Anexo II, Vol. 3, do IC). Novamente as empresas
NEUDI JOSÉ BURATTI ME e GILMAR ACHILES MARMENTINI ME figuraram entre os
vencedores do certame. Contudo, diferentemente do ocorrido no procedimento licitatório n.
01/2009, desta vez, NEUDI e GILMAR estavam, desde o princípio, na condição de vereador e
segundo suplente, respectivamente, sendo que o último assumiu a vereança em diversos
períodos (fls. 66-76 do Anexo I do IC). NEUDI, aliás, tornou-se presidente da Casa
Legislativa de São Domingos a partir do ano de 2015. Ademais, nessa licitação realizada em
2014, a abertura dos envelopes de propostas revelou uma conveniente distribuição das rotas
entre os participantes e, de forma curiosa, praticamente todas elas pelo valor máximo
proposto no edital. Das 14 rotas ofertadas, somente em uma houve dois interessados, que são
irmãos – AIRTON SENA MIOTTO e LUIZ ALBERTO MIOTO (conforme documentos de fls. 69
e 78 do Anexo II, Vol. 3, do IC). Ainda assim, a redução obtida foi irrisória nesse item, de
apenas 1 centavo! (f. 107 do Anexo II, Vol. 3, do IC). Em todas as demais rotas, houve
proposta de apenas um licitante (conforme Ata da Sessão Pública e Quadro Comparativo de
Preços de fls. 96-109 do Anexo II, Vol. 3, do IC). Não bastasse essa evidente distribuição de
rotas entre os licitantes – com total complacência dos agentes públicos envolvidos –, a
Administração Municipal constatou, após a publicação do Processo Licitatório 01/2014,
redução considerável de alunos no trajeto da “linha 02”, autorizando a utilização de veículo
com menor capacidade – de 22 lugares para 15 lugares –, para realizar o trajeto, sem
adequação no valor do quilômetro rodado, nem mesmo no aditivo que alterou o valor dos
contratos para o ano seguinte (fls. 169-170 do Anexo II, Vol. 3, do IC). Cabe destacar que a
cláusula 1.2 do contrato Prefe. n. 008, de 10/02/2014 (f. 171 do Anexo IV, Vol. 2, do IC),
firmado com a empresa de NEUDI JOSÉ BURATTI, é claro ao estabelecer que: “O
Contratante, a bem do interesse público e considerando eventual aumento ou diminuição no
número de alunos da rede pública de ensino, poderá exigir da Contratada a substituição do
veículo utilizado no transporte escolar, a fim de melhor atender a demanda de determinado
trajeto, ficando a Contratada obrigada a aceitar tais condições, sem prejuízo da manutenção
do preço cobrado por quilômetro rodado.” Cabe destacar que o trajeto nominado “linha 02”
foi vencido por NEUDI JOSÉ BURATTI. Inclusive, 7 das 14 rotas ofertadas foram vencidas
por NEUDI JOSÉ BURATTI e 3 por GILMAR ACHILES MARMENTINI. Abaixo, tabela que
sintetiza as propostas ofertadas e as propostas vencedoras, demonstrando de forma evidente o
conluio entre os participantes: [...] Consequentemente, fica evidente a evolução das receitas
das empresas citadas no período compreendido pelos PL-01/2019 (ano de 2013 – último ano
de vigência do PL 01/2009) e PL 01/2014 (anos de 2014 e 2015), a partir da consulta à aba de
despesas por credor do Portal de Transparência do município de São Domingos/SC3 :
[...]Cabe registrar, ainda, que não foi realizada qualquer pesquisa de mercado, na fase interna
5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771
https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 40/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

do Pregão Presencial nº 01/2014, a fim de estabelecer o valor máximo a ser pago pela
Administração. Os agentes públicos ouvidos em sede policial limitaram-se a afirmar que não
sabem se tal procedimento foi adotado nesta licitação, e que tal procedimento sempre era
realizado4 , especialmente por meio de contato telefônico com as empresas, mas sem trazer
qualquer comprovação neste sentido. Diante de todas essas irregularidades, cópia integral do
Inquérito Civil foi encaminhada ao órgão da Controladoria Geral da União (CGU) em Santa
Catarina para análise mais aprofundada dos documentos que o compõem. Em resposta, a
CGU encaminhou a Nota Técnica nº 281/2017/NAE/SC/Regional/SC (f. 512-524 do IC), que
aponta importantes constatações, relacionadas de forma resumida abaixo – nos pontos
relevantes para o caso: a) o documento apresenta o posicionamento do TCU, no âmbito
administrativo, contrário à possibilidade de a Administração Pública contratar, ou mesmo
firmar convênio, com entidades dirigidas por vereadores e seus parentes até o segundo grau;
b) ocorrências no pregão presencial 001/2014: [...] b.1) alteração, sem identificação de
motivação, dos jornais locais utilizados para publicidade do aviso de licitação, ainda que o
procedimento licitatório anterior tenha alcançado boa publicidade, tendo apresentado maior
número de licitantes. Sobre esse ponto, a Nota Técnica da CGU ainda destaca que foi
identificado um e-mail, enviado em 10/01/2014, por Ana Paula Valendorff, da empresa Agn
Contabilidade, para o Setor de Licitações da Prefeitura de São Domingos, solicitando o envio
do “Edital do transporte escolar para a empresa do Neudi José Buratti” (f. 32 do Anexo II,
Vol. 3 do IC). Considerando que o edital foi publicado somente em 13/01/2014 (fls. 29-31 do
Anexo II, Vol. 3 do IC), resta evidente que NEUDI JOSÉ BURATTI teve conhecimento prévio
da existência/conteúdo do edital antes de sua publicação oficial, o que configura flagrante
violação aos princípios da moralidade e da impessoalidade e aos interesses da própria
Administração Pública. Salienta-se que a justificativa apresentada por PAULA NATANA
CAMMACHIO em seu depoimento à Polícia Federal (evento 9, INQ1, pp. 27/28 do IPL),
segundo quem a empresa de NEUDI teria sido contatada na pesquisa de preços realizada
previamente à licitação, de modo que teria tomado conhecimento da iminência da publicação
do edital desta forma, mas que o edital apenas teria sido efetivamente enviado após sua
publicação, não convence, já que NEUDI, em sentido contrário, declarou não ter tomado
conhecimento do mencionado edital previamente, e que a empresa de contabilidade era quem
o avisava acerca das licitações (evento 9, INQ1, p. 9); b.2) não foi identificado no processo
nenhuma pesquisa de preços elaborada pelo pregoeiro ou pela comissão licitante que tenha
embasado a definição dos valores previstos no edital. Ademais, no item 6.3.3.4.4 do Relatório,
a CGU traça um paralelo entre os preços máximos previstos no Pregão Presencial nº
001/2009 e aqueles previstos no Pregão Presencial nº 001/2014, evidenciando (conforme
tabela de f. 522-v do IC) aumento do valor do km rodado entre as duas licitações em
percentual superior ao IPCA Geral ou IGP-M para o período, em especial para o veículo de
lotação máxima de 26 passageiros (cerca de 18% acima da inflação do período); b.3)
similaridade entre as propostas apresentadas por licitantes distintos. A CGU aponta
5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771
https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 41/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

“características similares na qualidade de impressão (tonalidade, nitidez), nos espaçamentos,


nos conteúdos dos textos, no tipo e no tamanho de caracteres” entre as propostas
apresentadas por GILMAR AQUILES MARMENTINI ME e LAURO VALDECIR
WALENDORFF ME (fls. 86 e 88 do Anexo II, Vol. 3, do IC), conforme abaixo reproduzido:
[...] Da mesma forma, aponta que as propostas de AIRTON SENA MIOTTO ME e LUIZ
ALBERTO MIOTTO ME para o item 1 “continham muitas semelhanças entre si, com destaque
para a numeração e conteúdo da legenda do quadro contendo o valor da proposta, para o
igual valor unitário do km rodado (R$ 2,15), o conteúdo e o formato do endereçamento e a
descrição do objeto” (fls. 92 e 94 do Anexo II, Vol. 3, do IC), conforme se verifica nas
reproduções abaixo: [...] Tais constatações denotam evidente troca de modelos de propostas
entre empresas que seriam hipoteticamente licitantes concorrentes no certame. b.4) as
propostas apresentadas para todos os itens foram no mesmo valor previsto no edital. Ademais,
todos os licitantes venceram todos os itens que ofertaram, sem redução de preço (à exceção da
redução de 1 centavo na oferta de LUIZ ALBERTO MIOTTO ME); b.5) existência de apenas
um único item com mais de uma proposta. Chama a atenção, assim, o comportamento da
pregoeira, ANA CLÁUDIA BARIZON FONTANA DA LUZ, que “considerou vantajosas para o
município as demais propostas em que nada foi diminuído diante do valor previsto no edital”.
Com relação ao único item em que houve redução do valor da proposta – de apenas 1
centavo! – a pregoeira registrou que (Anexo II, Vol. 3, p. 103): O licitante LUIZ ALBERTO
MIOTTO – ME declarou que não possui condições de melhorar ainda mais a proposta. O
pregoeiro, face a essa manifestação, também por entender que as propostas ofertadas na
última rodada de lances são vantajosas para o município, declara vencedor do item 9 deste
Pregão Presencial o fornecedor LUIZ ALBERTO MIOTTO – ME pelo valor de R$ 2,14 (dois
reais e quatorze centavos). [negritei] Semelhante manifestação da pregoeira consta para cada
um dos demais itens licitados, em que não houve qualquer redução dos valores ofertadas pelo
único licitante em cada um desses itens (Anexo II, Vol. 3, p. 101-104). Como resultado, em
apenas um dos itens houve redução de apenas R$ 0,01 (um centavo!!!). Ou seja, conforme
conclusão da CGU: “cada licitante escolheu as linhas que desejaria atuar, elaborou proposta
com o mesmo preço previsto no edital e venceu exatamente os itens ofertados, sem disputa,
maximizando o preço”. Embora nítida a falta de entusiasmo dos participantes em concorrer
pelos itens ofertados, a pregoeira considerou as propostas vantajosas à administração
pública; b.6) não foram aplicadas as penalidades previstas para a hipótese de
descumprimento do prazo máximo estipulado para assinatura do contrato, para o contrato
PREFE nº 08, entre a prefeitura municipal e NEUDI JOSÉ BURATTI ME; b.7) foi retirada no
segundo certame a limitação quanto ao tempo máximo de uso dos veículos para a prestação
dos serviços, em detrimento da qualidade dos serviços ofertados; b.8) quanto aos veículos
apresentados por NEUDI JOSÉ BURATTI ME, destacou a CGU apresentação de veículo fora
do prazo e fora das especificações para a rota, além de situação que poderia configurar
subcontratação travestida de contrato de comodato entre NEUDI JOSÉ BURATTI e
5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771
https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 42/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

NEODIMIR LUIZ BURATTI, que são irmãos; b.9) previsão no edital de curto espaço de tempo
entre a data de homologação do certame e a data limite para assinatura do contrato (apenas 3
dias), o que pode ter afastado eventuais interessados. Destaca a CGU, contudo, que a
municipalidade flexibilizou informal e indevidamente esse prazo para os vencedores de itens
do pregão; b.10) descumprimento da capacidade de lotação exigida para as linhas 2, 4 e 5,
sem qualquer justificativa para as duas últimas; b.11) foi identificado no próprio município de
São Domingos um contrato emergencial, de 02/2013, com valor abaixo daqueles estabelecidos
nos contratos correspondentes do pregão presencial 001/2014, podendo representar
sobrepreço dos valores estabelecidos no certame. Nessa contratação emergencial, a empresa
contratada sujeitou-se a prestar o serviço em regime emergencial pelo valor de R$ 1,79/km
rodado no período de fevereiro a abril de 2013, sugerindo que o valor de R$ 1,80 em janeiro
de 2009 já estaria superfaturado. Tal fato denota ainda maior gravidade diante da ausência
de pesquisa de mercado para definição dos preços de referência do edital; d.12) ausência de
publicação de errata do edital acerca da alteração da capacidade máxima de lotação de
veículo (de 22 para 16 passageiros, mantendo o valor licitado). No caso da linha 2, o valor do
km rodado deveria então corresponder a R$ 2,15 em vez dos R$ 2,70 contratados; d.13)
existência de vínculos de relacionamento entre participantes do processo licitatório, em
destaque os responsáveis pelas empresas AIRTON SENA MIOTO ME e LUIZ ALBERTO
MIOTTO ME, irmãos e que trabalharam juntos na empresa JL Miotto Transporte ME (CNPJ
nº 17.208.378/0001-88), e o motorista Carlos Gregório Cardoso, ex-servidor da prefeitura de
São Domingos (entre 2012 e 2014), que esteve vinculado como servidor público não-efetivo na
Secretaria de Estado da Educação no ano de 2015; d.14) subcontratação de fato entre os
irmãos NEODIMIR LUIZ BURATTI e NEUDI JOSÉ BURATTI; d.15) infere-se dos
apontamento elaborados pela CGU a baixa diligência do pregoeiro na condução do Pregão
Presencial 001/2014, no qual houve desprezível redução dos valores iniciais das propostas (R$
0,01 em somente uma das rotas) e concorrência praticamente nula.

Questionada sobre diversos pontos destacados pela CGU, a Prefeitura Municipal de São
Domingos encaminhou esclarecimentos (fls. 534-536 do IC). Com relação à retirada da
restrição de ano de fabricação do veículo, afirmou que isso acabaria por reduzir
significativamente o número de participantes – ressalte-se, contudo, que essa redução de
licitantes ocorreu justamente nesse pregão, mas não no certame anterior, que continha essa
exigência. Sobre as pesquisas de preços, afirmou que elas teriam ocorrido “de maneira
informal”, por contato telefônico. Com relação às demais irregularidades, afirma, em geral,
que não teriam causado prejuízo ao erário nem violado normas do edital. Posteriormente, em
decorrência do 4º Ciclo do Programa de Fiscalização de Entes Federativos, a CGU realizou
fiscalização no município de São Domingos/SC, no período de 25 a 29 de setembro de 2017
(relatório juntado às fls. 543-555 do IC e no evento 1, INQ4, pp. 5-24, do IPL). Em que pese a
inspeção da CGU ter sido realizada durante a vigência do procedimento licitatório 08/2017,
5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771
https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 43/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

foram selecionados, para exame, recursos no montante de R$ 229.060,38 do orçamento do


Governo Federal, no período de 01 de janeiro de 2014 a 31 de dezembro de 2016, para
execução do Programa Nacional de Apoio ao Transporte Escolar (PNATE) do município de
São Domingos. Nessa fiscalização, restou confirmada a existência de vínculos entre os
licitantes. Nesse sentido, a CGU aponta que as empresas AIRTON SENA MIOTTO EIRELI –
ME (CNPJ nº 08.446.332/0001-52), LUIZ ALBERTO MIOTTO – ME (CNPJ nº
04.885.124/0001-52) e JL MIOTTO – TRANSPORTE – ME (CNPJ n° 17.208.378/0001-88)
operam no mesmo endereço e possuem o mesmo contador. Ademais, AIRTON e LUIZ são
irmãos e a titular da terceira empresa é esposa de um deles. Ainda, destaca que AIRTON
consta como empregado da empresa da LUIZ ALBERTO em diversos períodos entre 2009 e
2015.

Sobre as alegações apresentadas pela Prefeitura à CGU, em que afirma não encontrar óbice
legal para a participação de empresas da mesma família em certame licitatório, o órgão de
controle aponta, primeiro, haver fortes indícios de acerto prévio das propostas. Ademais,
destaca que o entendimento do Tribunal de Contas da União indica haver, no mínimo, quebra
de sigilo das propostas nessa situação (Acórdão nº 3088/2010 do Plenário da Corte). ANA
CLAUDIA BARIZON FONTANA DA LUZ, pregoeira do certame, foi ouvida durante a
apuração (fls. 575-577), tendo informado que os participantes alegaram que o valor do
quilômetro rodado pago pela prefeitura de São Domingos estaria muito abaixo do valor
praticado na região. Em sua oitiva em sede policial5 , afirmou que teria sido realizada
pesquisa de preços, mas não soube dizer o motivo pelo qual não há registro dessa pesquisa (f.
601). Contudo, foi elaborada planilha evolutiva de valores com o objetivo de avaliar a
situação6 : [...]Importante registrar que o valor inicialmente proposto pelo edital de 2009
para a rota 14 foi de R$1,80 o km rodado e o lance vencedor foi de R$1,39 – o que denota, em
princípio, efetiva competição entre os licitantes daquele certame. Dessa forma, evidente o
prejuízo ao erário decorrente da nova contratação que, segundo os dados da planilha acima,
seria ao menos 43,6% superior aos valores dos serviços que já estavam sendo prestados ao
município, inclusive por meio de uma contratação emergencial. Destaca-se, contudo, que as
diligências realizadas pela Polícia Federal nos autos do IPL mencionado não lograram trazer
elementos adicionais das práticas delitivas. Com efeito, verifica-se que elas restringiram-se à
oitiva dos próprios investigados LUIZ ALBERTO MIOTTO, AIRTON SENA MIOTTO, LAURO
VALDECIR WALENDORFF, NEUDI JOSÉ BURATTI e GILMAR ACHILES MARMENTINI
(Evento 9, INQ1, PP. 2- 11), que limitaram-se a negar genericamente o ajuste e combinação
de preços entre os licitantes, e do então prefeito ALCIMAR GOMES (evento 9, INQ1, pp..
12/13), que negou participar diretamente das licitações. Destaca-se, ainda, a elaboração do
Laudo Pericial pelo Setor TécnicoCientífico (SETEC) da Polícia Federal (Evento 13, INQ1, p.
4-7). Nesse documento, os peritos não apontam a ocorrência de superfaturamento, pois os
valores licitados estariam de acordo com os preços de mercado, obtidos a partir de pesquisas
5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771
https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 44/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

realizadas no site do Tribunal de Contas do Estado e nos portais de transparência de alguns


municípios de Santa Catarina7 . Contudo, tal conclusão não afasta o prejuízo causado ao
erário pela ação, no mínimo culposa, dos agentes públicos envolvidos, que não realizaram
formalmente nenhuma pesquisa de mercado a justificar os preços máximos estabelecidos no
certame e, mais grave ainda, ignoraram o próprio valor que já estava sendo pago pelo
município para a prestação de idêntico serviço – inclusive com prorrogações contratuais e
reajustes segundo índices inflacionários – e resolveram simplesmente majorar os valores até
então praticados, beneficiando as empresas, que escancaradamente dividiram os lotes entre si
e forçaram a contratação pelo preço máximo estabelecido no edital, relembrando, ainda, que
algumas dessas empresas – firmas individuais, na verdade – mantinham forte ligação
políticopartidária com o Governo Municipal. Aliás, todas essas circunstâncias denotam a
intenção deliberada desses agentes públicos em beneficiar essas empresas, a caracterizar o
dolo de suas condutas. Não restam dúvidas, portanto, acerca do prévio acertos entre os
licitantes com relação às propostas apresentadas no pregão – uma verdadeira “ação entre
amigos” –, que contou com a complacência e o favorecimento deliberado dos agentes públicos
diretamente envolvidos – ou, no mínimo, decorrente de culpa grave –, resultando em prejuízo à
municipalidade e à União, cujo cálculo do montante é apresentado mais adiante, além da
prática criminosa descrita no artigo 90 da Lei nº 8.666/93, que é objeto da presente denúncia.
3) Pregão Presencial nº 04/2016 (Processo Administrativo nº 06/2016): No início de fevereiro
de 2016 foi lançado outro processo licitatório, o Pregão Presencial nº 04/2016, para
contratação de empresas para realização do transporte escolar em São Domingos/SC (Anexo
IV, Vol. 4, do IC). Havia neste edital a previsão de que a fabricação dos veículos não poderia
ser inferior ao ano de 2002. Ou seja, veículos com até 14 anos de uso poderiam participar,
sendo que a recomendação do FNDE é que os veículos tenham no máximo 7 anos de uso. Com
relação à empresa GILMAR ACHILES MARMENTINI ME, pertencente ao então suplente de
vereador GILMAR ACHILES MARMENTINI, essa empresa concorreu em apenas uma rota
(rota 13), e a venceu com proposta de apenas R$ 0,11 abaixo de sua proposta inicial e R$ 0,01
abaixo da melhor proposta apresentada ainda na fase de abertura de envelopes. Não houve
participação da empresa NEUDI JOSÉ BURATTI ME, do vereador do município de São
Domingos. No entanto, seu filho, EVERTON MEOTTI BURATTI, titular da empresa
EVERTON MEOTTI BURATTI ME (CNPJ nº 24.130.629/0001-14), sagrou-se vencedor em 6
das 13 linhas ofertadas pelo município, que, conforme descrito adiante, entendeu não haver
vedação legal para a contratação. Verifica-se que a empresa de EVERTON MEOTTI BURATI
foi aberta em 05/02/2016 (conforme documento da JUCESC de f. 94, Anexo IV, Vol. 4), dois
dias após o lançamento do Edital. Essa empresa ainda apresentou como motorista Luiz Carlos
Marmentini (possível parente de GILMAR ACHILES MARMENTINI, proprietário de empresa
supostamente concorrente). A Pregoeira nomeada que presidiu a comissão de licitação a
partir deste momento foi PAULA NATANA COMACHIO, que possui o mesmo sobrenome da
atual prefeita do município de São Domingos (Elieze Camachio), eleita para o mandato 2017-
5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771
https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 45/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

2020, cuja chapa partidária foi formada com GILMAR ACHILES MARMENTINI, como
viceprefeito. Abaixo, tabela com a representação das propostas apresentadas e propostas
vencedoras em cada uma das linhas: [...]

Novamente, observam-se muitas semelhanças de forma e conteúdo entre as propostas


apresentadas por empresas que seriam, supostamente, concorrentes nesse certame. Abaixo, as
propostas apresentadas pelos integrantes da família MIOTTO, cujas vinculações restaram
amplamente demonstradas acima (fls. 100-101, 108-109 e 111-112 do Anexo IV, Vol. 4, do IC):
[...]

Da mesma forma, verifica-se enorme semelhança também em relação às propostas


apresentadas pelos licitantes ZENILDE TEREZINHA KARACEK – ME, LAURO VALDECIR
WALENDORFF – ME (CNPJ 10.548.687/0001-58) e GILMAR ACHILES MARMENTINI –
ME (CNPJ 06.111.808/0001-22), conforme documentos de fls. 106, 114-115 e 117, também do
Anexo IV, Vol. 4, do IC: [...]

Cabe ainda destacar que a empresa homônima de ZENILDE TEREZINHA KARACEK adotou
durante algum tempo a denominação ZENILDE TEREZINHA WALENDORFF (f. 58 do Anexo
IV, Vol. 4, do IC) [...]

Ademais, pesquisa no sistema cadastral da Receita Federal revela que ZENILDE e LAURO
VALDECIR WALENDORFF possuem os mesmos endereço e telefone fixo – a denotar possível
vínculo conjugal [...].

Mais uma vez, tem-se evidência clara de troca de modelos de propostas entre empresas que
seriam hipoteticamente licitantes concorrentes no certame, fatos que, somados aos demais
elementos acima descritos, também não deixam dúvidas com relação ao ajuste prévio entre
empresas participantes, para divisão dos itens licitados e, assim, frustrar e fraudar o caráter
competitivo do procedimento licitatório, com o objetivo de obter as vantagens decorrentes da
adjudicação do objeto da licitação. Contudo, uma análise do restante do andamento do
pregão denota outras graves irregularidades, que não apenas corroboram o ajuste prévio
entre os licitantes, como o envolvimento de agentes públicos nessas fraudes. Nesse sentido,
verifica-se que o edital era muito claro, em seu item 11 – Das Condições para Contratação, ao
estabelecer que, por ocasião da assinatura do contrato8 , a licitante vencedora deveria
comprovar o atendimento de diversos requisitos em relação aos veículos e condutores que
seriam empregados no serviço de transporte escolar (itens 11.1.1 e 11.1.2 do edital), havendo
previsão expressa de que “caso a empresa vencedora não comprove o atendimento dos
requisitos supra, deixando de apresentar os documentos por ocasião da assinatura da ata [em

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 46/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

verdade, contrato], esta será desclassificada, sendo convocada a 2ª colocada para subscrever
o aludido instrumento”. Contudo, em total afronta ao regramento do certame, e sob a
justificativa de que não haveria tempo hábil para apresentação dessa documentação por parte
das empresas, pois as aulas iniciariam em 22 de fevereiro de 2016, a pregoeira PAULA
NATANA COMACHIO exarou diversas manifestações, datadas de 19/02/2016, autorizando as
empresas vencedoras da licitação a procederem à assinatura dos contratos nesse mesmo dia
19 e iniciarem a prestação dos serviços a partir do dia 22 (Decisões da Pregoeira e Atas de
Registro de Preços em fls. 281-339 do Anexo IV, Vol. 4, do IC). Todos os contratos foram
assinados pelo então prefeito ALCIMAR DE OLIVEIRA, pela pregoeira PAULA NATANA
COMACHIO e pelo Assessor Jurídico LUIZ HENRIQUE MASETO ZANOVELLO. Primeiro,
cabe destacar que, por certo, era do conhecimento da gestão municipal a data de início das
aulas na rede pública quando da deflagração da licitação, o que obsta qualquer alegação de
pretensa emergência neste caso. Por outro lado, verifica-se que essa nova licitação, realizada
em 2016, provavelmente se deve a uma recomendação expedida pelo Ministério Público
estadual (Recomendação nº 16/2015, datada de 14/12/2015 – 254-280 do Anexo IV, Vol. 4, do
IC), na qual o Promotor de Justiça recomenda ao Prefeito que “se abstenha de firmar ou
manter contrato com vereador ou com empresa que tenha em seu quadro societário vereador,
ressaltando que a exceção relativa aos contratos de cláusulas uniformes não incide nos
contratos administrativos formados mediante licitação”, bem como que NEUDI JOSÉ
BURATTI e GILMAR ACHILES MARMENTINI também se abstenham de firmar contrato com
o município na mesma situação, destacando, em relação a eles, que “a conduta de transferir
de forma ficta para terceiros cotas de empresas de sua propriedade caracteriza ato atentatório
a fé pública (crime) e, se objetiva burlar a vedação legal analisada, configura também ato de
improbidade administrativa”. Evidente, assim, a intenção do i. promotor em alertar aos
destinatários da recomendação que qualquer tentativa de continuidade na prestação dos
serviços, por meio de interpostas empresas, mediante o emprego de ardis, não
descaracterizaria a ilicitude do fato, ao contrário, agravaria a situação. No Parecer exarado
pelo referido Assessor Jurídico (fls. 237-247 do Anexo IV, Vol. 4, do IC), constata-se
inicialmente uma flagrante impropriedade, ao afirmar que “verifica-se nos autos que foi
realizada pesquisa de preços de mercado junto às empresas do ramo do objeto a ser licitado”,
quando não há qualquer elemento nos autos de que essa pesquisa sequer tenha sido realizada.
Ademais, não vislumbrou o Assessor Jurídico qualquer irregularidade nos flagrantes
relacionamentos entre várias das empresas licitantes, conforme acima destacado – situação
que, tratando-se de um pequeno município, deve tratar-se de fato praticamente notório.
Quanto à recomendação exarada pelo Ministério Público estadual, afirma que as
irregularidades teriam sido sanadas, pois, em relação a GILMAR ACHILES MARMENTINI,
este manifestou-se junto à Câmara de Vereadores, afirmando não possuir interesse na
nomeação como vereador para qual era suplente, afirmando o parecer, então, que não mais
haveria incompatibilidade. Com relação a NEUDI JOSÉ BURATTI também afirma não haver
5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771
https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 47/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

irregularidade no novo pregão, haja vista que participara do certame apenas a empresa de
seu filho, EVERTON MEOTTI BURATTI ME, situação que não ensejaria qualquer
incompatibilidade, conforme decisões e pareceres que reproduz, que apontam não haver
vedação de contratação no caso de empresas de parentes de gestores públicos ou de agentes
políticos. Sob fundamentos similares, o então prefeito municipal ALCIMAR DE OLIVEIRA
homologou o certame (fls. 248-252 Anexo IV, Vol. 4, do IC). Contudo, analisando a
documentação extemporaneamente juntada aos autos (documentos posteriores à f. 339 do
Anexo IV, Vol. 4, do IC, todas elas não numeradas), percebe-se de forma evidente que a
participação do filho de NEUDI nesse novo certame tratase de ardil, para tentar dar ares de
legalidade ao pregão. Primeiro, cumpre relembrar que a empresa de EVERTON MEOTTI
BURATTI foi criada dois dias após o lançamento do edital do Pregão Presencial nº 04/2016.
Ademais, nos documentos extemporâneos apresentados por essa empresa, relativos à
regularidade dos veículos e motoristas para a prestação dos serviços (a partir da f. 374 do
Anexo IV, Vol. 4, do IC – todas não numeradas), verifica-se que 4 dos 6 veículos teriam sido
objeto de comodato com familiares ou empresas de familiares. Ou seja, 4 dos veículos
utilizados pela empresa recém-criada teriam sido cedidos gratuitamente por familiares. Além
disso, os dois outros veículos teriam sido adquiridos por EVERTON após a expedição da
recomendação do Ministério Público estadual. Comparando esses veículos com aqueles que
foram utilizados por NEUDI JOSÉ BURATTI na contratação anterior (Pregão nº 01/2014),
verifica-se que os veículos de placas AKS1791 e ATC5379, também objeto de comodatos com
seu irmão NEODIMIR, foram empregados por NEUDI na prestação dos serviços de
transporte escolar do contrato anterior (fls. 202-203, 215-216 do Anexo IV, Vol. 2, do IC). Por
outro lado, o veículo AOW1173 era de propriedade de NEUDI (f. 211 do Anexo IV, Vol. 2, do
IC) e também fora utilizado na prestação de serviços de transporte da contratação anterior.
De forma semelhante, o veículo de placas CVP6004, de propriedade da empresa de sua
esposa, IRES BRUSTOLIN MEOTTI BURATTI ME, e objeto de comodato com NEUDI,
também foi utilizado por NEUDI na contratação anterior (f. 189 do Anexo IV, Vol. 2, do IC).
Por fim, o veículo de placas DJE0376 também foi empregado por NEUDI na prestação de
serviços do contrato anterior (f. 196 do Anexo IV, Vol. 2, do IC)9 . O quadro abaixo resume
esses fatos: [...]Verifica-se, ainda, que ao menos Moacir Silverio e NEODIMIR LUIZ
BURATTI, supostamente contratados como motoristas por EVERTON, também prestaram
serviços de motorista na contratação anterior com NEUDI. Por outro lado, chama a atenção
que os pretensos contratos de comodato tenham sido firmados somente em 16/03/2016,
quando as aulas iniciaram no dia 22/02/2016 – motivo apresentado pelo município, aliás,
para justificar a assinatura dos contratos sem que fosse apresentada pelas empresas a
respectiva documentação sobre veículos e motoristas. Além disso, conforme demonstrado no
tópico seguinte, verifica-se que a empresa IRES BRUSTOLIN MEOTTI BURATTI ME (CNPJ
15.742.719/0001-75) é de propriedade de IRES BRUSTOLIN MEOTTI BURATTI, esposa de
NEUDI JOSÉ BURATTI e mãe de EVERTON MEOTTI BURATTI. Ademais, a sede da
5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771
https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 48/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

pretensa empresa de EVERTON coincide exatamente com o endereço residencial de IRES, no


qual também estaria sediada sua empresa: Rua Major Azambuja, nº 12, bairro São Cristóvão,
em São Domingos/SC. Não restam dúvidas, portanto, da fraude perpetrada por NEUDI e seu
filho EVERTON, de forma a tentar ocultar a continuidade da irregular contratação mantida
com NEUDI, vereador do município de São Domingos, fraude ocorrida com total
complacência dos agentes públicos municipais envolvidos nessa licitação e subsequentes
contratações. 4) Pregão Presencial nº 004/2017: Em 2017 assumiu a nova prefeita, Elieze
Comachio, eleita pela coligação PT, PDT, PTB e PC do B, tendo como vice-prefeito o então
suplente a vereador GILMAR ACHILES MARMENTINI, proprietário da empresa de
transportes GILMAR ACHILES MARMENTINI ME. O primeiro processo licitatório realizado
no ano de 2017, o Pregão Presencial nº 002/2017 (Anexo IV, Vol. 6, do IC), que ofereceu 12
rotas, restou fracassado pela inabilitação de todas as empresas. Ainda assim, interessante
apresentar a tabela demonstrativa de como se daria o certame, caso não houvesse
impedimento por irregularidade na documentação das empresas: [...] Aliás, chama muito a
atenção o conteúdo da Ata nº 2/2017, da pregoeira e equipe de apoio (f. 245-246 do Anexo IV,
Vol. 6, do IC), onde se observa que todos os itens do pregão restaram “fracassados”, porque
TODAS as empresas foram inabilitadas, pois “nenhuma das licitantes cumpriu com os
requisitos editalícios”. Da leitura dessa ata se depreende que todas as empresas deixaram de
apresentar algum documento para a devida habilitação no certame, o que chama muito a
atenção, haja vista tratar-se de empresas que rotineiramente participavam de certames dessa
natureza, em especial junto ao município de São Domingos. Ademais, cabe destacar que, mais
uma vez, não consta no procedimento qualquer pesquisa de mercado para balizar o preço de
referência do certame. Como é possível observar, novamente parece ter havido negociação
prévia entre as empresas, que dividiram entre si os vários itens do certame. Com o insucesso
do Pregão Presencial nº 002/2017, houve a necessidade de lançamento de novo processo
licitatório, sendo aberto então o Pregão Presencial nº 004/2017 – Processo Administrativo nº
08/2017 (cópia constante do Anexo IV, Vol. 5, do IC). Não muito diferente do anterior pregão
fracassado, inclusive com relação a valores, empresas interessadas e “escolha” de rotas, esse
novo pregão foi homologado com resultado conforme tabela abaixo: [...]

Enquantono Pregão Presencial nº 002/2017 as rotas 03 e 05 permaneceram sem interessados,


no Pregão Presencial nº 004/2017 foram para as rotas 05 e 07 que não surgiram propostas.
Novamente, observa-se opção seletiva das rotas, com baixa concorrência entre os
participantes, além da apresentação de propostas muito próximas ao máximo oferecido no
edital. Neste processo licitatório a empresa EVERTON MEOTTI BURATTI ME sagrou-se
como a maior vencedora, firmando contrato em quase a metade das rotas oferecidas pelo
município, e, caso seja considerado o resultado do processo administrativo nº 08/2017 em
conjunto com o processo administrativo nº 33/2017 (Anexo IV, Vol. 3, do IC), que se deu em

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 49/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

decorrência da não apresentação de propostas em duas rotas do Pregão Presencial nº


04/2017, a empresa do filho do vereador NEUDI JOSÉ BURATTI logrou êxito em 7 das 12
rotas oferecidas (quase 60%). [...]

Importante destacar que a empresa IRES BRUSTOLIN MEOTTI BURATTI ME é de


propriedade de IRES BRUSTOLIN MEOTTI BURATTI, esposa de NEUDI JOSÉ BURATTI e
mãe de EVERTON MEOTTI BURATTI. Ademais, a sede da pretensa empresa de EVERTON
(atualmente MEOTTI TRANSPORTES EIRELI) coincide exatamente com o endereço
residencial de IRES, no qual também estaria sediada sua empresa: Rua Major Azambuja, nº
12, bairro São Cristóvão, em São Domingos/SC, conforme propostas de fls. 106-107 e 109-110
do Anexo IV, Vol. 5, do IC, e também as telas abaixo do sistema cadastral da Receita Federal:
[...]

Além disso, mais uma vez também se verifica enorme similaridade no formato de propostas
entre licitantes pretensamente concorrentes. Como exemplo, as propostas das empresas de
AIRTON e LUIZ ALBERTO MIOTTO, abaixo reproduzidas (fls. 96 e 100 do Anexo IV, Vol. 5,
do IC): [...] Como se vê, é evidente o conluio entre diversos licitantes, e, em especial, entre
NEUDI JOSÉ BURATTI e GILMAR ACHILES MARMENTINI com a própria Administração
Municipal, ao menos nas licitações e contratações realizadas entre 2014 e 2016, que resultou
no defraudamento dos procedimentos licitatórios e, nas contratações de 2014 e 2015,
ocorrência de superfaturamento no transporte escolar no Município, com prejuízo direto à
União (transferência de recursos via Programa Nacional de Transporte Escolar – PNATE) –
abaixo detalhado –, incidindo na prática de atos criminosos contra a lisura das licitações,
conforme adiante demonstrado. Como resultado de todos esses procedimentos licitatórios
viciados, direcionados, previamente ajustado entre os participantes e com prejuízo ao erário –
justamente pela falta de verdadeira competição –, tem-se ainda as precárias condições em que
o transporte dos estudantes era realizado por essas empresas, conforme claramente evidencia
o Relatório de Auditoria nº 201701941 (fls. 551-v a 554-v). Nesse relatório, a CGU aponta,
primeiro, “impropriedades na realização do transporte de alunos em áreas rurais”, com o
“transporte de alunos em quantitativo acima do previsto para a capacidade do veículo” em
uma das linhas e falta de orientação aos estudantes sobre a obrigatoriedade de uso do cinto
de segurança. Ademais, e ainda mais grave, a CGU também aponta a utilização de veículos
em condições inadequadas, conforme claramente demonstram os trechos do relatório abaixo
reproduzidos: [...]

II – DOS CRIMES

Condutas relativas ao Pregão Presencial nº 01/2014 (Processo Administrativo nº 01/2014):

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 50/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

ALCIMAR DE OLIVEIRA, ANA CLÁUDIA BARIZON FONTANA DA LUZ10, NEUDI JOSÉ


BURATTI, GILMAR ACHILES MARMENTINI, AIRTON SENA MIOTTO, LUIZ ALBERTO
MIOTTO e LAURO VALDECIR WALENDORFF, em janeiro de 2014 (homologação da
licitação em 30/01/2014 – Vol. 3, Anexo II, f. 168, do IC), no município de São Domingos,
deliberadamente e em concurso de pessoas (art. 29 do Código Penal) frustraram e fraudaram,
mediante ajuste, combinação e outros expedientes, o caráter competitivo do Pregão Presencial
nº 01/2014, com o intuito de obter para si (pessoas físicas representantes das empresas
licitantes) e para outrem (as empresas licitantes envolvidas) as vantagens decorrentes da
adjudicação do objeto licitado. As condutas acima descritas se amoldam perfeitamente ao tipo
do artigo 90 da Lei nº 8.666/93: Art. 90. Frustrar ou fraudar, mediante ajuste, combinação ou
qualquer outro expediente, o caráter competitivo do procedimento licitatório, com o intuito de
obter, para si ou para outrem, vantagem decorrente da adjudicação do objeto da licitação:
Pena - detenção, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. As empresas NEUDI JOSÉ BURATTI
ME e GILMAR ACHILES MARMENTINI ME figuraram entre os vencedores do certame.
Conforme demonstrado de forma detalhada acima, é inequívoco que o caráter competitivo da
mencionada licitação foi maculado pela ação dos ora denunciados, já que houve o
direcionamento do certame e conluio entre os participantes. Das 14 rotas ofertadas, somente
em uma houve dois interessados, que são irmãos – AIRTON SENA MIOTTO e LUIZ
ALBERTO MIOTO. E dessas 14 rotas ofertadas, 7 foram vencidas por NEUDI JOSÉ
BURATTI, 3 por GILMAR ACHILES MARMENTINI, 2 por LAURO VALDECIR
WALENDORFF e 1 por LUIZ ALBERTO MIOTTO. Por outro lado, como decorrência desse
conluio e direcionamento (doloso) do certame – e também de diversas outras irregularidades,
como a inexistência de pesquisa de mercado e a evidente similaridade entre as propostas
apresentadas por licitantes que supostamente seriam concorrentes –, os valores dessa nova
contratação ficaram muito acima daqueles que já estavam sendo praticados com os mesmos
contratantes e acima também de contratação emergencial realizada no ano anterior. Cabe
destacar que, conforme acima demonstrado (tópico I.2), as propostas apresentadas para todos
os itens foram no mesmo valor previsto no edital. Ademais, todos os licitantes venceram todos
os itens que ofertaram, sem redução de preço – à exceção da redução de 1 centavo na oferta
de LUIZ ALBERTO MIOTTO ME. Tais fatos demonstram, sem margem para dúvidas11, que
houve evidente combinação e ajuste prévio entre todos os licitantes que participaram do
certame, que direcionaram trechos específicos para cada empresa, conforme denotam, entre
outros elementos, a similaridade de propostas apresentadas por empresas que seriam
supostamente concorrentes e vínculos de parentesco e de endereços entre licitantes. Desta
forma, resta configurado o ajuste e a combinação entre os licitantes, que frustraram e
fraudaram o caráter competitivo da licitação com o intuito de obter as vantagens advindas da
adjudicação do objeto licitado. Assim, nessa flagrante atuação concertada, em conluio, por
parte de todas as empresas e pessoas que participaram do certame, que direcionaram trechos
específicos para cada empresa, resta evidenciada a participação também da pregoeira ANA
5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771
https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 51/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

CLAUDIA BARIZON FONTANA DA LUZ, que, diante de todos esses claros elementos de
irregularidade, não adotou nenhuma medida para evitar a concretização desse procedimento
fraudulento e, assim, por meio de sua omissão, contribuiu para a fraude ao caráter
competitivo desta licitação, em benefício dos licitantes e em prejuízo da Administração
Pública.

Ademais, tem-se a atuação direta (e dolosa) do então prefeito ALCIMAR DE OLIVEIRA – que
apresenta forte ligação político-partidária com os dois principais beneficiados nesse
procedimento fraudado – em todo o certame e subsequentes contratações e prorrogações
contratuais. Registre-se que, em relação a esse pregão, ALCIMAR DE OLIVEIRA realizou
pessoalmente a autorização de abertura do procedimento (f. 04 do anexo II, volume III, do
IC), a assinatura dos contratos (f. 175 e 272 do anexo II, volume III, do IC), bem como a
celebração dos aditivos contratuais (f. 317 a 370 do anexo II, volume III, do IC). Tais fatos
ensejaram dano ao erário municipal. Para obter o montante desse dano, exclusivamente em
relação ao Pregão nº 01/2014 e contratações respectivas (2014 e 2015), empregou-se, no
cálculo abaixo, metodologia semelhante àquela utilizada na tabela da f. 568-v do IC, ou seja,
comparou-se os valores pagos nos contratos resultantes do Pregão nº 01/2009, corrigidos ao
longo dos anos, com os valores contratados e pagos no pregão subsequente. Tal metodologia
justifica-se, primeiro, porque aquela licitação foi uma das poucas onde, em princípio, houve
efetiva concorrência, tornando-se uma adequada referência de valores; segundo,
considerando que os contratos decorrentes dessa licitação foram prorrogados diversas vezes,
tendo sido os serviços prestados até 2013 naquele patamar de valores, resta evidente que,
houvesse o município promovido uma efetiva competição entre os licitantes, numa licitação
que apresentasse esses valores – atualizados para 2014 – como preços de referência,
certamente haveria empresas interessadas em prestar os serviços Utilizou-se como referência
os valores por “km” rodado, para cada tipo de veículo (capacidade de 9 a 45 passageiros),
pagos nos contratos de 2013 a 2015. Os valores de 2013 foram atualizados para os anos
seguintes pelo INPC, por meio da Calculadora do Cidadão, disponível no site do Banco
Central12 . As tabelas abaixo apresentam essas informações e o percentual final do dano ao
erário (sobrepreço) para cada empresa, calculado a partir de uma média ponderada,
considerando as características dos contratos firmados com cada uma das empresas (tipos de
veículo e número de veículos de cada tipo): [...] Esse percentual ponderado por ano, então, foi
aplicado ao valor recebido pelas empresas como pagamento pelos serviços prestados, para,
dessa forma, alcançar o valor do dano ao erário. Na tabela abaixo, encontram-se os valores
recebidos por cada uma das empresas, nos anos de 2014 e 2015, no âmbito do PNATE – São
Domingos/SC. Os dados relativo aos pagamentos encontram-se no Anexo IV, Vol. 1, do IC,
mas também estão disponibilizados no Portal de Transparência do município, no link
“Despesas por credor”: [...] Assim, chega-se ao valor originário do dano ao erário, que
perfaz o montante de R$ 474.743,40.
5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771
https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 52/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

b) Condutas relativas ao Pregão Presencial nº 04/2016 (Processo Administrativo nº


06/2016):

ALCIMAR DE OLIVEIRA, PAULA NATANA COMACHIO, LUIZ HENRIQUE MASETO


ZANOVELLO, NEUDI JOSÉ BURATTI, EVERTON MEOTTI BURATTI, GILMAR ACHILES
MARMENTINI, AIRTON SENA MIOTTO, LUIZ ALBERTO MIOTTO, LAURO VALDECIR
WALENDORFF, ZENILDE TEREZINHA KARACEK e JUCELI LINCK MIOTTO13, em
fevereiro de 2016 (homologação da licitação em 19/02/2016 – Vol 4, Anexo IV, fls. 248-252 do
IC), no município de São Domingos, deliberadamente e em concurso de pessoas (art. 29 do
Código Penal), frustraram e fraudaram, mediante ajuste, combinação e outros expedientes, o
caráter competitivo do Pregão Presencial nº 04/2016, com o intuito de obter para si (pessoas
físicas representantes das empresas licitantes) e para outrem (as empresas licitantes
envolvidas) as vantagens decorrentes da adjudicação do objeto licitado, condutas que também
se amoldam ao tipo do artigo 90 da Lei nº 8.666/93. Conforme detalhadamente demonstrado
tópico I.3 acima, é inequívoco que o caráter competitivo do Pregão Presencial nº 04/2016 foi
maculado pela ação dos ora denunciados, já que houve o direcionamento do certame e o
conluio entre os participantes. Desta vez, não houve participação direta de NEUDI JOSÉ
BURATTI ME, vereador do município de São Domingos. No entanto, seu filho, EVERTON
MEOTTI BURATTI, titular de empresa homônima, sagrou-se vencedor em 6 das 13 linhas
ofertadas pelo município. Conforme acima demonstrado, trata-se de empresa criada
exclusivamente para tentar dar ares de legalidade na perpetuação da prestação dos serviços
por aquele vereador do município, agora por intermédio de seu filho. Além disso, novamente
houve evidente combinação e ajuste prévio entre todos os licitantes que participaram do
certame – EVERTON MEOTTI BURATTI ME (representado por EVERTON MEOTTI
BURATTI), GILMAR ACHILES MARMENTINI ME (representada por GILMAR ACHILES
MARMENTINI), LAURO VALDECIR WANLENDORFF ME (representada por LAURO
VALLDECIR WALLENDORF), ZENILDE TEREZINHA KARACEK ME (representada por
ZENILDE TEREZINHA KARACEK), AIRTON SENA MIOTTO ME (representada por AIRTON
SENA MIOTTO) e JL MIOTTO TRANSPORTES ME (representado por JUCELI LINCK
MIOTTO), já que eles direcionaram trechos específicos para cada empresa, conforme
denotam, entre outros elementos, a similaridade de propostas apresentadas por empresas que
seriam supostamente concorrentes e vínculos de parentesco e de endereços entre licitantes.
Essa evidente fraude era do perfeito conhecimento do então prefeito ALCIMAR DE
OLIVEIRA, que novamente atuou em todo o processo licitatório, desde a autorização à
celebração do contrato, bem como da pregoeira PAULA NATANA COMACHIO e do assessor
jurídico LUIZ HENRIQUE MASETO ZANOVELLO, que ignoraram todas as irregularidades
acima apontadas – que se mostravam não apenas evidentes no procedimento, mas
reiteradamente praticadas pelos envolvidos –, apresentando manifestações favoráveis à
continuidade desse certame repleto de vícios, denotando sua atuação dolosa para fraudar e
5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771
https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 53/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

frustrar o caráter competitivo da licitação, mediante outros expedientes, com o objetivo de


obter para outrem as vantagens decorrentes da adjudicação do objeto licitado. Quanto a esse
pregão, ALCIMAR DE OLIVEIRA realizou pessoalmente a autorização de abertura do
procedimento (f. 03 do Anexo IV, Vol. 4, do IC) e a homologação do procedimento licitatório
(f. 252 do Anexo IV, Vol. 4, do IC) – em que pese houvesse recomendação do Ministério
Público estadual apontando a ilegalidade dos contratos firmados com vereadores, mesmo que
de forma dissimulada (f. 254 a 280 Anexo IV, Vol. 4, do IC) –, bem como procedeu à
assinatura dos contratos (f. 332 e 338 do Anexo IV, Vol. 4, do IC).

c) Condutas relativas ao Pregão Presencial nº 04/2017:

AIRTON SENA MIOTTO, LUIZ ALBERTO MIOTTO, JUCELI LINCK MIOTTO, EVERTON
MEOTTI BURATTI e IRES BRUSTOLIN MEOTTI BURATTI14 , entre janeiro e 7 de fevereiro
de 2017 (data de homologação da licitação – Vol 5, Anexo IV, f. 305 do IC), no município de
São Domingos, deliberadamente e em concurso de pessoas (art. 29 do Código Penal),
frustraram e fraudaram, mediante ajuste, combinação e outros expedientes, o caráter
competitivo do Pregão Presencial nº 04/2017, com o intuito de obter para si (pessoas físicas
representantes das empresas licitantes) e para outrem (as empresas licitantes envolvidas) as
vantagens decorrentes da adjudicação do objeto licitado, condutas que também se amoldam
ao tipo do artigo 90 da Lei nº 8.666/93. Após o fracasso do Pregão Presencial nº 02/20177, em
que todas as empresas licitantes foram inabilitadas – cabe registrar que já nesse procedimento
há indícios de que também ocorreu o ajuste entre os licitantes –, foi lançado o Edital de
Pregão Presencial nº 04/2017, com o mesmo objeto. Neste segundo edital, a empresa
EVERTON MEOTTI BURATTI ME, representada por EVERTON MEOTTI BURATTI, sagrou-
se vencedora em quase metade das rotas oferecidas. Novamente, identificou-se a participação
de pretensos licitantes com estreitos vínculos familiares e de endereço. Dessa forma, constata-
se que a empresa IRES BRUSTOLIN MEOTTI BURATTI ME é de propriedade de IRES
BRUSTOLIN MEOTTI BURATTI, esposa de NEUDI JOSÉ BURATTI e mãe de EVERTON
MEOTTI BURATTI. Ademais, verificouse que a sede da pretensa empresa de EVERTON
(atualmente MEOTTI TRANSPORTES EIRELI) coincide exatamente com o endereço
residencial de IRES, no qual também estaria sediada sua empresa). Por fim, mais uma vez
tem-se a apresentação de propostas com formato extremamente similar entre empresas
supostamente concorrentes (AIRTON SENA MIOTTO ME e LUIZ ALBERTO MIOTTO ME,
conforme fls. 96 a 100 do Anexo IX, Vol. 5, do IC). Além disso, verifica-se novamente que os
licitantes apresentaram propostas com valores idênticos aos máximos previstos em edital e
que, em várias rotas, apenas um licitante apresentou proposta de preços (conforme fls. 6/7 do
Anexo IV, Vol. 5, do IC, onde estão cotados os valores máximos, e Ata da Sessão Pública do
Pregão Presencial – Edital de Pregão Presencial n º 4 – fls. 123-125 do Anexo IV, Vol. 5 do
IC). Todos estes elementos denotam, sem margem para dúvidas, que o procedimento de dividir
5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771
https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 54/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

as rotas entre os licitantes, praticado nas licitações anteriores, repetiuse também no pregão
presencial nº 04/2017, na medida em que os licitantes também frustraram e fraudaram a
licitude deste procedimento licitatório, mediante ajuste prévio, com o objetivo de obter para si
as vantagens da adjudicação do objeto licitado. Contudo, desta feita, não foram identificados
elementos a apontar o envolvimento de agentes públicos nos ilícitos praticados, devendo ser
considerando, ainda, a início de uma nova gestão no âmbito daquele município. III – DOS
PEDIDOS FINAIS Em face do exposto, o Ministério Público Federal, por seu Procurador da
República signatário, denuncia a Vossa Excelência: 1. ANA CLÁUDIA BARIZON FONTANA
DA LUZ, LUIZ HENRIQUE MASETO ZANOVELLO e PAULA NATANA COMACHIO como
incursos no crime tipificado no art. 90, da Lei nº 8.666/93, por 1 vez, na forma do art. 69 do
CP; e 2. EVERTON MEOTTI BURATTI, JUCELI LINCK MIOTTO e ZENILDE TEREZINHA
KARACEK como incursos no crime tipificado no art. 90, da Lei nº 8.666/93, por 2 vezes, na
forma do art. 69 do CP.

Requereu a condenação dos réus e arrolou uma testemunha. Pugnou, também,


pela condenação dos acusados à reparação, integral e de forma solidária, do dano causado ao
erário no montante de R$ 474.743,40, acrescido de atualização monetária e juros de mora.

A denúncia da Ação Penal n. 50073425220204047202 foi recebida em 19 de


outubro de 2020 (evento 6); a denúncia da Ação Penal n. 50073485920204047202 foi
recebida em 31 de maio de 2021 (evento 47 daqueles autos).

Na decisão do Evento 6 da Ação Penal n. 50073425220204047202 foi


observado pelo juízo o não cabimento de acordo de não persecução penal. Já, nos autos da
Ação Penal n. 50073485920204047202 nenhum dos acusados aceitou a proposta de ANPP.

Os acusados LUIZ ALBERTO MIOTTO, AIRTON SENA MIOTO, GILMAR


ACHILES MARMENTINI, ALCIMAR DE OLIVEIRA e ZENILDE TEREZINHA
KARACEK apresentaram resposta à acusação por meio de defensores constituídos,
oportunidade na qual impugnaram de maneira ampla, negando a prática das condutas
imputadas aos réus pela denúncia, bem como afirmando a inexistência de provas suficientes à
condenação. Por fim, arrolaram testemunhas (eventos 28 a 31, 52 e 72).

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 55/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

Os acusados LAURO VALDECIR WALENDORFF e NEUDI JOSÉ BURATTI


apresentaram respostas à acusação por meio de defensores dativos nomeados pelo
juízo (eventos 37, 53, 58 e 62).

No Evento 65 sobreveio decisão que determinou a reunião das Ações Penais


n. 5007342-52.2020.4.04.7202 e n. 5007348-59.2020.4.04.7202 para prosseguimento e
julgamento conjunto, sendo que o prosseguimento das ações penais foi determinado nestes
autos (50073425220204047202), com a determinação de inclusão dos réus ZENILDE
TEREZINHA KARACEK, PAULA NATANA COMACHIO, LUIZ HENRIQUE
MASETO ZANOVELLO, JUCIELI LINCK MIOTTO, EVERTON MEOTTI BURATTI e
ANA CLAUDIA BARIZON FONTANA DA LUZ no polo passivo como denunciados,
dando-se baixa na ação penal n. 5007348-59.2020.4.04.7202.

Os acusados LUIZ HENRIQUE MASETO ZANOVELLO, PAULA NATANA


CAMACHO, JUCIELI LINCK MIOTTO, ANA CLAUDIA BARIZON FONTANA DA LUZ
e EVERTON MEOTTI BURATTI apresenteram resposta à acusação ainda nos autos da Ação
Penal n. 5007348-59.2020.4.04.7202, por meio de defensores constituídos, negando a prática
das condutas imputadas aos réus pela denúncia, bem como afirmando a inexistência de
provas suficientes à condenação. Por fim, arrolaram testemunhas (eventos 83, 84, 89, 91, 93
daquele feito).

No evento 73 foi proferida decisão que afastou qualquer hipótese de absolvição


sumária, bem como designou datas para audiências de instrução e julgamento.

Declarada extinta a punibilidade de LAURO VALDECIR WALENDORFF em


virtude de seu óbito (eventos 101 e 138).

Atualizadas as certidões dos antecedentes criminais (eventos 180 e 185).

À data designada foi realizada audiência de instrução e julgamento, com a


oitiva de uma testemunha arrolada pela acusação e de treze testemunhas de defesa. Na
sequência os réus foram interrogados (eventos 193 a 221).

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 56/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

Na fase do artigo 402 o Ministério Público Federal requereu prazo para


juntada de extratos de consulta a sistemas a respeito de dados dos réus e pessoas jurídicas a
eles vinculadas, o que restou deferido pelo juízo, tendo sido juntado no Evento 228.

Em alegações finais o Ministério Público Federal disse ter sido suficientemente


comprovada a materialidade e autoria delitiva em relação a todos os acusados, à exceção de
ANA CLAUDIA BARIZON FONTANA DA LUZ, LUIZ HENRIQUE MASETO
ZANOVELLO e PAULA NATANA COMACHIO, em relação aos quais disse ter sido
constatada a inocorrência de dolo. Ressaltou a ocorrência de confusão entre as pessoas físicas
e pessoas jurídicas relacionadas à família MIOTTO, ao passo que as empresas AIRTON
SENA MIOTTO EIRELI/CNPJ nº 08.446.332/0001-52, LUIZ ALBERTO MIOTTO/CNPJ nº
04.885.124/0001-52 e JL MIOTTO TRANSPORTE/CNPJ n° 17.208.378/0001-88
funcionavam no mesmo endereço e também mantinham variação dos vínculos empregatícios
em contratações cruzadas, concluindo-se que as empresas eram administradas de maneira
conjunta e foram utilizadas para participar de forma orquestrada nas licitações, buscando
atribuir aparente ar de legalidade aos processos licitatórios no intuito de esconder a fraude ao
caráter competitivo dos certames. Em relação às empresas de NEUDI e EVERTON
BURATTI disse ter sido simulada a criação de uma empresa especificamente com o intuito
de ocultar a irregularidade na continuidade da contratação com o Município de São
Domingos, por NEUDI. Em relação a GILMAR MARMENTINI e ZENILDE KARACEK,
disse que também restaram devidamente comprovadas as ilicitudes praticadas, tendo sido
suficientemente demonstrado que os réus se uniram com a intenção de fraudar o caráter
competitivo das licitações, violando os editais, em prejuízo à Administração Pública.
Especificamente em relação aos agentes públicos discorreu acerca da responsabilidade penal
de ALCIMAR em face do qual pugnou pela condenação, requerendo, no entanto, a
absolvição, com fundamento no artigo 386, IV do CPP, dos acusados ANA CLÁUDIA
BARIZON FONTANA DA LUZ, LUIZ HENRIQUE MASETO ZANOVELLO e PAULA
NATANA COMACHIO. Discorreu acerca das irregularidades apontadas nos pregões
presenciais: i) ausência de pesquisa de preços; ii) a evolução dos preços; iii) propostas
apresentadas em formatos idênticos, sendo que a Administração não forneceu modelos de
apresentação; e, por fim iv) a retirada da exigência da idade máxima da frota a ser empregada
para o transporte escolar. Quanto à impossibilidade da contratação de vereadores, salientou
que mesmo após o Ministério Público ter recomendado que o Município observasse a
5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771
https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 57/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

impossibilidade de contratação direta, a referida orientação não surtiu o efeito esperado.


Destacou que NEUDI e GILMAR MARMENTINI foram contratados pelo pregão 01/2014
quando já exerciam cargo de vereança. Em relação ao pregão 04/2016 GILMAR foi
contratado após manifestar junto à Câmara de Vereadores que não possuía interesse na
nomeação como vereador (cargo do qual foi eleito suplente). Já NEUDI BURATTI utilizou-
se de interposta empresa, que criou em nome de seu filho para burlar a recomendação do
Ministério Público e a jurisprudência do TCU sobre a não contratação com vereadores. Em
síntese, requereu a condenação dos réus: a) ALCIMAR DE OLIVEIRA, NEUDI JOSÉ
BURATTI e GILMAR ACHILES MARMENTINI, pelo crime do artigo 90, da Lei n.
8.666/90, por 2 vezes, na forma do art. 69 do CP (relacionado aos Editais n. 01/2014 e
04/2016); b) AIRTON SENA MIOTTO e LUIZ ALBERTO MIOTTO, pelo crime do artigo
90, da Lei n. 8.666/90, na forma do art. 69 do CP, por 3 vezes (relacionado aos Editais n.
01/2014, n. 06/2016 e n. 04/2017; c) EVERTON MEOTTI BURATTI, JUCIELI LINCK
MIOTTO e ZENILDE TEREZINHA KARACEK pelo crime do artigo 90, da Lei n. 8.666/90,
na forma do art. 69 do CP, por 2 vezes (relacionado aos Editais n. 06/2016 e n. 04/2017).
Postulou pela condenação dos réus ALCIMAR DE OLIVEIRA, NEUDI JOSÉ
BURATTI, GILMAR ACHILES MARMENTINI, AIRTON SENA MIOTTO e LUIZ
ALBERTO MIOTO à reparação integral do dano causado ao erário, no montante mínimo de
R$ 474.743,40, atualizados monetariamente e acrescidos de juros de mora. E, por fim,
pugnou pela absolvição dos acusados ANA CLÁUDIA BARIZON FONTANA DA LUZ,
LUIZ HENRIQUE MASETO ZANOVELLO e PAULA NATANA COMACHIO, pela não
comprovação da existência do elemento subjetivo doloso, nos termos do art. 386, IV do CPP.
Diante do depoimento da testemunha JACIR MARMENTINI requereu a expedição de ofício
ao Ministério do Trabalho e à Receita Federal (evento 232).

Em alegações finais a defesa da acusada ANA CLÁUDIA BARIZON


FONTANA DA LUZ reiterou o pedido de absolvição, afirmando ter sido comprovado nos
autos que a ré não concorreu para a prática da infração penal narrada pela denúncia. Salientou
que a acusação não possuía atribuições ou poderes para estabelecer preços da licitação, bem
como que os atos decisórios envolvendo os processos licitatórios foram firmados pelo então
prefeito municipal, escapando, portanto, de suas atribuições na qualidade de pregoeira, pelas

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 58/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

quais apenas realizou o julgamento objetivo das propostas e lances, não agindo de modo a
frustrar o caráter competitivo do certame. Por fim, insistiu na necessidade de absolvição da
acusada com fundamento no artigo 386, IV, do CPP (evento 250).

Em alegações finais a defesa do acusado LUIZ HENRIQUE MASETO


ZANOVELLO defendeu a atipicidade da conduta do réu que tão somente emitiu parecer
opinativo no processo licitatório, tendo sido, ademais, suficientemente comprovado nos autos
que o acusado não praticou os fatos criminosos narrados pela denúncia, destacando inclusive
que o próprio Ministério Público Federal requereu a absolvição de LUIZ HENRIQUE.
Asseverou que o acusado passou a trabalhar para o Município de São Domingos apenas em
01/11/2014, quando então já se encontravam assinados os contratos decorrentes do processo
licitatório n. 01/2014. A única menção relacionada ao acusado é referente ao parecer emitido
em 19/02/2016, no qual este opinou pela regularidade do pregão n. 04/2016. Discorreu acerca
das responsabilidades e competências, bem como limites relativos ao cargo de assessor
jurídico. Disse que as provas produzidas nos autos sequer admitem atuação culposa. Por fim,
requereu a absolvição do réu por ausência de autoria e atipicidade da conduta (evento 251).

Em alegações finais a defesa do acusado GILMAR ACHILES


MARMENTINI asseverou que não foram produzidas provas suficientes à condenação do réu,
não tendo sido demonstrada pela acusação a participação de GILMAR nas fraudes
supostamente ocorridas. Além disso, também não foram produzidas provas acerca do alegado
prejuízo ao erário. Afirmou que a empresa GILMAR ACHILES MARMENTINI ME foi
constituída no ano de 2004, tendo prestado serviços de transporte escolar ao Município já
naquele ano. Afirma que quando da realização do processo licitatório de 2009 não se
verificavam óbices quanto à participação da empresa de GILMAR em licitações, sendo que a
necessidade de análise da vedação surgiu apenas após as eleições de 2012. Contudo,
GILMAR tomou posse como vereador e de forma transitória apenas em 26/02/2013, tendo
permanecido apenas até 06/05/2013. Com relação aos contratos celebrados em 2014, disse
que GILMAR não ocupava cargo de vereador na data da contratação, vindo somente a
exercê-lo de 10/03/2015 a 04/05/2015. Em relação aos processos licitatórios de 2017, quando
assumiu como vice-prefeito, a defesa afirma que o réu não participou dos procedimentos
licitatórios. Insistiu na inexistência de vedação legal para vereadores contratarem com a
administração pública por meio de procedimentos licitatórios, discorrendo acerca do referido
5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771
https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 59/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

assunto. Destacou a inexistência de prova de conluio e da própria fraude nas propostas.


Salientou que o Município sede das licitações é pequeno e, por isso, é comum que as
empresas sejam atendida pelos mesmos profissionais. Daí o mesmo contador ter organizado
os documentos da empresa do acusado e do acusado LAURO VALDECIR WALENDORFF.
Insistiu que no caso permanecem dúvidas acerca da autoria e da materialidade delitiva, não
tendo sido demonstrado de que maneira cada um dos acusados teria concorrido para a prática
do crime ou de que forma o alegado conluio foi perfectibilizado, deveria, portanto, ocorrer a
absolvição com base no in dubio pro reo. Asseverou que nas alegações finais a acusação
imputou ao réu GILMAR uma nova conduta, não descrita na denúncia, de
terceirização/subcontratação de serviços, sendo-lhe vedado tal possibilidade de alteração na
presente etapa processual. Do mesmo modo, vedado ao juízo a condenação do réu por fato
não descrito pela denúncia, sob pena de nulidade. Por fim, afirmou que a eventual
subcontratação dos serviços geraria apenas sanções administrativas, não criminais (evento
252).

Em alegações finais a defesa dos acusados AIRTON SENA MIOTTO, LUIZ


ALBERTO MIOTTO e JUCIELI LINCK MIOTTO disse não haver prova do dolo da prática
do delito imputados aos réus pela acusação. Argumentou que a acusação faz confusão entre
os acusados, os quais possuem parentesco entre si, bem como as empresas sediadas no
mesmo endereço, o que não implica, por si só, e de todo modo, a responsabilidade criminal
dos acusados. Assevera que o endereço dos réus é no interior do Município de São
Domingos, e não todos no mesmo local. Que o Ministério Público Federal não comprovou
que a sede das empresas dos acusados seja a mesma daquela indicada pela Controladoria
Geral da União. Que as testemunhas ouvidas foram uníssonas em afirmar que cada um dos
acusados AIRTON, LUIZ e JUCIELI gerenciava sua própria empresa, não existindo confusão
entre elas. Não há prova da existência do alegado conluio, muito menos da condição de
laranja de JUCIELI. Em relação aos preços praticados destacou que o próprio laudo pericial
da Polícia Federal aponta que os valores praticados no processo licitatório respeitou os preços
de mercado. Que o formato das propostas não comprova a existência da fraude. Inexiste
prova para participação de irmãos/parentes na mesma licitação. Também não há prova do
dolo específico para prática do crime da lei de licitações. Subsidiariamente, para o caso de
eventual condenação, requereu o reconhecimento da existência de crime continuado e não de
concurso material, da fixação das penas no mínimo legal e a fixação de regime aberto. Em
5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771
https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 60/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

relação à reparação do dano, disse não haver prova de superfaturamento e/ou não
recebimento dos serviços contratados, não sendo cabível a fixação de valor a título de
reparação (evento 253).

Em alegações finais a defesa de ALCIMAR DE OLIVEIRA inicialmente


afirmou que as acusações em face de ALCIMAR limitam-se aos anos de 2013 a 2016 e aos
editais/processos licitatórios n. 01/2014 e 04/2016, período no qual o acusado exerceu
mandato de Prefeito. Salientou que o Edital n. 04/2017 foi realizado durante a gestão
2017/2020 que teve Eliéze Comachio como então ocupante do cargo de prefeita. Ainda em
sede preliminar, aduziu a ocorrência de nulidade por cerceamento de defesa, tendo em vista a
inclusão de fatos relativos ao acusado GILMAR MARMENTINI, que não constaram na
denúncia e sem o respectivo aditamento. No mérito propriamente, asseverou que não existem
provas suficientes à condenação de ALCIMAR DE OLIVEIRA e que, pelo contrário, a prova
testemunhal produzida pela defesa logrou demonstrar a atuação correta e precisa do então
prefeito, que fiscalizou a execução dos contratos de prestação de serviços questionados,
zelando pelos preços pagos e pela correta execução dos serviços. Disse ter sido demonstrado
que o acusado não participou da fase externa das licitações ressaltando que no período de
15/01/2014 a 03/02/2014 estava em férias, sequer encontrando-se, portanto, no exercício do
cargo de prefeito à época do Edital n. 01/2014. A condenação com base apenas no exercício
do cargo de prefeito à época dos fatos não pode ser admitida. A própria Polícia Federal
concluiu pela inexistência de indícios de crime nos autos do inquérito policial de origem. Não
se admite presumir que o acusado tinha conhecimento das irregularidades apontadas apenas
porque homologou a licitação, especialmente considerando-se que os setores técnicos
responsáveis concluíram pela regularidade dos processos. Não há prova do alegado ajuste ou
combinação visando a fraude. As atribuições da autoridade competente para a abertura do
edital (no caso, do prefeito), são limitadas, sendo a maioria das demais atribuições de
responsabilidade da comissão de licitação e do pregoeiro. Mencionou a necessidade de
observação do princípio da segregação de funções, previsto no artigo 5º da Lei n. 14.133/21.
Salientou que à época não havia proibição para a Administração contratar com vereadores,
nos casos de contratos com cláusulas uniformes, caso do contrato administrativo precedido de
licitação, sendo que a mudança de entendimento, passando a vedar esse tipo de contratação, é
posterior, e não poderia retroagir, sob pena de causar insegurança jurídica. Insistiu no fato de
que a homologação do resultado do Edital n. 01/2014 não foi de responsabilidade do acusado,
5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771
https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 61/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

que estava em férias na ocasião. Afirmou ter sido realizada pesquisa de preços para embasar
o pregão n. 01/2014, conforme restou demonstrado pela prova testemunhal. Destacou que a
prova pericial produzida pela própria Polícia Federal concluiu pela inexistência de
superfaturamento e que os preços dos contratos firmados com a Administração estavam
abaixo da média de mercado regional. Impugnou os valores apresentados pela acusação. Em
relação à similaridade entre as propostas disse que eventual semelhança é justificada pelas
providências requeridas aos contadores das empresas. Asseverou que o Edital n. 01/2014
reduziu a idade máxima dos veículos permitidos de 19 para 12 anos e que quando da vistoria
realizada pela Controladoria Geral da União, em setembro de 2017, os veículos vistoriados já
eram os decorrentes da contratação da licitação do Edital n. 04/2017. Que a cotação de
apenas algumas linhas pelas empresas participantes é justificada pelo então contexto fático da
época. Que não existe vedação à participação em licitações de empresas cuja composição
social inclua parentes. Discorreu ainda acerca de outros pontos aduzidos pela acusação em
alegações finais. Defendeu, ainda, a regularidade do pregão n. 04/2016 e a inexistência de
danos ao erário. Finalizou aduzindo não ter sido demonstrado o dolo para a prática dos
delitos imputados ao acusado. Informou que o Inquérito Civil instaurado pelo Ministério
Público do Estado de Santa Catarina em relação ao Edital n. 04/2016 restou arquivado pela
ausência de constatação de lesão ao erário. Reiterou argumentos. Salientou que o Ministério
Público Federal ajuizou a Ação Civil de Improbidade n. 5007350-29.2020.4.04.7202 no bojo
da qual requereu a condenação do acusado, a título de reparação de danos, no valor de R$
679.897,80. Por fim, insistiu na necessidade de absolvição (evento 254).

Em alegações finais a defesa de EVERTON MEOTTI BURATTI disse que as


provas produzidas nos autos comprovam a inocência de EVERTON e que, por outro lado,
não há provas suficientes à condenação, motivo pelo qual o réu deve ser absolvido com base
no princípio da presunção de inocência. Para o caso de eventual condenação, requereu a
aplicação de pena mínima (evento 255).

Em alegações finais a defesa de NEURI JOSÉ BURATTI disse que não há


provas suficientes à condenação, motivo pelo qual o réu deve ser absolvido com base no
princípio da presunção de inocência. Destacou o teor da prova pericial afirmando que esta é
suficiente para afastar inclusive a alegação de enriquecimento ilícito. Do mesmo modo, não

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 62/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

há prova do cometimento de fraude, sequer havendo prova da materialidade dos delitos. Para
o caso de eventual condenação, requereu sejam considerados os antecedentes favoráveis do
acusado (evento 256).

Em alegações finais a defesa de PAULA NATANA COMACHIO reiterou o


pedido de absolvição apresentado pelo MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL em suas
alegações finais, afirmando que a ré não concorreu para a prática de qualquer infração penal
(evento 258).

Em alegações finais a defesa de ZENILDE TEREZINHA KARACEK afirmou


não ter sido demonstrada pela acusação a participação da acusada em atos que pudessem
prejudicar as licitações objeto da denúncia, impondo-se, desse modo, a absolvição da ré.
Asseverou ter sido acusada em razão da semelhança existente na documentação apresentada
por ela e seu ex esposo, divorciados no ano de 2016, justificando que a semelhança existente
ocorreu eu razão de a documentação exigida pelos editais ser organizada por empresas de
contabilidade. Salientou que a empresa contábil da denunciada e de seu ex-esposo era a
mesma, assim como a contabilidade do acusado GILMAR AQUILES MARMENTINI, a
Mayer Contabilidade. Insiste ter participado na concorrência de apenas uma linha e que
possuía apenas um veículo. Em relação ao edital do ano de 2017 disse ter sido desabilitada
por não cumprir os requisitos do edital. Asseverou que não mantinha vínculos com a empresa
de seu ex marido. Disse que o objetivo da denúncia inicial era atingir os dois vereadores que
teriam sido contratados pelo Município, por questões políticas e não pela existência de
irregularidades nos processos licitatórios. Insistiu na inexistência de provas suficientes à
condenação da ré que deve ser absolvida com base no princípio da inocência. Em relação ao
dano, disse que, do mesmo modo, não há prova do alegado dano ao erário (evento 263).

Solicitados pagamentos dos honorários dos defensores dativos, conforme


determinado no Evento 193 (eventos 264 a 267).

Após, vieram os autos conclusos para julgamento.

É o relatório.

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 63/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

FUNDAMENTAÇÃO

PRELIMINAR

a) Nulidade

A defesa do acusado ALCIMAR DE OLIVEIRA alega nulidade por


cerceamento de defesa, tendo em vista a inclusão de fatos relativos ao acusado GILMAR
MARMENTINI, que não constaram na denúncia e sem o respectivo aditamento. Eis o teor
das alegações (evento 254):

É assente na lei que fatos que não constaram da denúncia só podem ser agregados à ação
mediante aditamento, conforme se extrai do artigo 384 do Código de Processo Penal, que
prescreve: [...] Ocorre que sem aditamento da denúncia na resposta às diligências (Evento
229) ou mesmo nas alegações derradeiras, o Ministério Público Federal, no item 3.3 das
alegações finais, apresenta alegação de supostas “ilicitudes” relacionadas ao acusado
GILMAR MARMENTINI, consubstanciadas em terceirização dos serviços de transporte
escolar. Tratando-se de fatos desconhecidos e que não constaram da denúncia, é evidente o
prejuízo do acusado, na medida em que não teve oportunidade de produzir provas acerca das
referidas alegações. Ademais, não existe, seja na lei ou nos editais, vedação para a
subcontratação ou mesmo para contratação de terceiros como condutores dos veículos
empregados no transporte escolar, desde que os mesmos atendam às exigências editalícias
quanto à habilitação especial e participação em cursos e outras exigências específicas do
Código de Trânsito, ou seja, além de se tratar de fato apresentado somente nas alegações
finais e sem pedido de aditamento da denúncia, a eventual utilização de terceiros para a
condução de veículos da contratada não encontra óbice. Ante o exposto, o acusado requer a
nulidade da imputação, com fundamento no art. 564, IV, do CPP e art. 5º, LV, da Constituição
Federal.

Não há como acolher tal alegação.

O reconhecimento de nulidade no processo penal exige a comprovação


do efetivo prejuízo suportado pelo réu, não servindo a tanto simples questionamentos sobre a
ausência de determinada formalidade na sua execução.

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 64/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

A respeito, o artigo 563 do Código de Processo Penal consagra o princípio pás


de nullité sans grief: "Nenhum ato será declarado nulo, se da nulidade não
resultar prejuízo para a acusação ou para a defesa".

Ainda no mesmo sentido, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça: "a


jurisprudência do Supremo Tribunal Federal e desta Corte Superior é uníssona no sentido de
que, tanto nos casos de nulidade relativa quanto nos casos de nulidade absoluta, o
reconhecimento de vício que enseje a anulação de ato processual exige a efetiva
demonstração de prejuízo, devendo a parte prejudicada suscitá-lo na primeira
oportunidade de se manifestar nos autos, sob pena de preclusão" (STJ, HC 520.233, Sexta
Turma, Rel. Ministra Laurita Vaz, DJe 28-10-2019).

Inicialmente, deve ser observado que a nulidade alegada pela defesa do acusado
ALCIMAR DE OLIVEIRA sequer refere-se a tal réu, mas sim ao acusado GILMAR
MARMENTINI, de modo que eventual reconhecimento de nulidade no caso sequer
aproveitaria à defesa de ALCIMAR.

Não bastasse, destaco que as questões apontadas pelo Ministério Público


Federal nas alegações finais as quais surgiram no decorrer da instrução, trataram-se de
esclarecimentos e informações prestadas pelo próprio réu GILMAR em seu interrogatório,
fazendo parte de sua defesa, portanto, ao explicar acerca dos moldes nos quais o serviço de
transporte escolar foi prestado ao Município de São Domingos e, também, para esclarecer os
motivos pelos quais teria escolhido cada uma das linhas para as quais apresentou proposta.

O art. 384 do Código de Processo Penal (mutatio libelli) prevê o aditamento da


denúncia em consequência de prova existente nos autos de elemento ou circunstância da
infração penal não contida na acusação. No entanto, no caso em tela, surgiram provas da
existência de outros possíveis fatos, relacionados a subcontratação/contratação de terceiros
para prestação dos serviços adjudicados pela empresa do acusado GILMAR, e não
simplesmente novo elemento ou circunstância do crime de fraude à licitação descrito na
exordial acusatória.

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 65/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

Em tal contexto, tenho que os fatos relatados pelo próprio réu GILMAR em seu
interrogatório não alteram os fatos já relatados pela denúncia, nem mesmo a capitulação
jurídica já indicada, não havendo, portanto, motivo para reconhecimento da nulidade alegada
pela defesa.

MÉRITO

b) Aspectos Gerais

Os fatos descritos na inicial acusatória tratam da investigação criminal


relacionada ao Inquérito Civil n. 1.33.002.000246/2015-50, instaurado a partir de
representação perante o Ministério Público Federal pelo Partido Progressista de São
Domingos/SC.

Também foi instaurado o Inquérito Policial n. 5002441-12.2018.4.04.7202, a


partir de notícia crime encaminhada pela Controladoria Geral da União à Polícia Federal, por
meio do Ofício n. 224/2017/PLANEJ/SC/Regional/SC/CGU, pelo qual o órgão controlador
noticiou a ocorrência de possíveis ilícitos penais ocorridos no âmbito do Programa Nacional
de Apoio ao Transporte Escolar (PNATE) no Município de São Domingos/SC.

O Ministério Público Federal, inicialmente, promoveu o ajuizamento de duas


ações penais, justificando que, embora houvesse conexão entre os acusados, o ajuizamento de
uma única ação penal, em síntese, poderia gerar tumulto no processamento, tendo assim em
tal contexto oferecido duas denúncias.

Na sequência do andamento processual, no entanto, conforme já relatado na


presente sentença, restou determinada pelo juízo a reunião das Ações Penais n. 5007342-
52.2020.4.04.7202 e n. 5007348-59.2020.4.04.7202 para prosseguimento e julgamento
conjunto, sendo que o prosseguimento das ações penais foi determinado nestes autos
(50073425220204047202), com a inclusão dos réus ZENILDE TEREZINHA KARACEK,
PAULA NATANA COMACHIO, LUIZ HENRIQUE MASETO ZANOVELLO, JUCIELI

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 66/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

LINCK MIOTTO, EVERTON MEOTTI BURATTI e ANA CLAUDIA BARIZON


FONTANA DA LUZ no polo passivo como denunciados, dando-se baixa na ação penal
n. 5007348-59.2020.4.04.7202.

Assim, já considerando-se ambas as denúncias, são imputados aos réus os


seguintes fatos:

a) ALCIMAR DE OLIVEIRA, NEUDI JOSÉ BURATTI e GILMAR ACHILES


MARMENTINI, pelo crime do artigo 90, da Lei n. 8.666/90, por 2 vezes, na forma do art. 69
do CP (Editais n. 01/2014 e 04/2016);

b) AIRTON SENA MIOTTO e LUIZ ALBERTO MIOTTO, pelo crime do


artigo 90, da Lei n. 8.666/90, na forma do art. 69 do CP, por 3 vezes (Editais n. 01/2014, n.
04/2016 e n. 04/2017);

c) EVERTON MEOTTI BURATTI, JUCIELI LINCK MIOTTO e ZENILDE


TEREZINHA KARACEK pelo crime do artigo 90, da Lei n. 8.666/90, na forma do art. 69 do
CP, por 2 vezes (n. 04/2016 e n. 04/2017).

d) ANA CLÁUDIA BARIZON FONTANA DA LUZ, LUIZ HENRIQUE


MASETO ZANOVELLO e PAULA NATANA COMACHIO pelo crime do artigo 90, por
uma vez (n. 04/2016).

Por fim, postulou pela condenação dos réus ALCIMAR DE OLIVEIRA,


NEUDI JOSÉ BURATTI, GILMAR ACHILES MARMENTINI, AIRTON SENA MIOTTO e
LUIZ ALBERTO MIOTO à reparação integral do dano causado ao erário, no montante
mínimo de R$ 474.743,40 (quatrocentos e setenta e quatro mil setecentos e quarenta e três
reais e quarenta centavos), atualizados monetariamente e acrescidos de juros de mora.

Tendo em vista que os crimes imputados aos réus ocorreram em um mesmo


contexto fático, há uma estreita conexão entre os delitos do ponto de vista da análise das
provas quanto à própria existência, e também das respectivas autorias.

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 67/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

Assim, passo ao exame da tipicidade em apartado, porém dos fatos


propriamente ditos (autoria e dolo, com exceção da materialidade) de forma conjunta, a fim
de evitar desnecessária tautologia na fundamentação.

c) Tipicidade

c.1) Artigo 90 da Lei nº 8.666/93 (FATOS 1, 2 e 3)

O MPF ofereceu denúncia imputando aos réus a conduta descrita no artigo 90


da Lei n. 8.666/93.

No caso dos autos, os fatos são anteriores ao advento da Lei n. 14.133/2021,


que passou a estabelecer normas gerais de licitação e contratação para a Administração
Pública, inclusive no tocante à disposição criminal, revogando parte das disposições
anteriormente previstas pela Lei n. 8.666/90.

A conduta então prevista no artigo 90 da Lei n. 8.666/93 permaneceu típica,


estando atualmente prevista nos termos do artigo 337-F do Código Penal.

De todo modo, a imputação da prática de crime de fraude à licitação pública


correspondia ao tipo previsto no artigo 90 da Lei n. 8.666/93, na redação vigente à época do
fato e, portanto, aplicável no caso dos autos:

Lei n. 8.666/93

Art. 90. Frustrar ou fraudar, mediante ajuste, combinação ou qualquer outro expediente, o
caráter competitivo do procedimento licitatório, com o intuito de obter, para si ou para
outrem, vantagem decorrente da adjudicação do objeto da licitação:

Pena - detenção, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.

O tipo penal busca tutelar a moralidade e a probidade administrativas, a correta


gestão das finanças públicas e, principalmente, a manutenção do caráter competitivo e
igualitário do procedimento de licitação.

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 68/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

Quanto às ações que caracterizam a prática desse delito, transcrevo a lição de


BALTAZAR JUNIOR1:

Frustrar é fazer malograr, falhar, baldar, de modo que não se alcance o resultado pretendido
ou algo não saia como esperado.

Fraudar é enganar, iludir, defraudar ou obter vantagem por meio de fraude ou engano.

A frustração ou fraude poderão ocorrer por meio de ajuste, combinação ou qualquer outro
expediente.

Ajuste tem aqui o sentido de acordo, trato, ou pacto, sendo, na verdade, sinônimo de
combinação.

O exemplo poderá ser o ajuste de preços previamente à licitação, de modo a favorecer uma
determinada empresa, ou ainda a combinação de modo que uma empresa seja vencedora em
determinada licitação, mas perca em outra, sendo em ambas combinados os preços ou outras
condições previamente. Admite-se a interpretação analógica pois qualquer outro expediente,
ou seja, qualquer outro recurso ou meio assemelhado ao ajuste ou combinação, poderá dar
ensejo à incidência do tipo, como por exemplo, a revelação dos preços dos demais
concorrentes.

Exige-se, no entanto, que a combinação ou o expediente adotados representem frustração


do caráter competitivo do procedimento, ou seja, da possibilidade de que seja buscada a
proposta mais vantajosa para o poder público, de forma isonômica entre os participantes, o
que é da essência da própria idéia de procedimento licitatório.

Como já decidiu o Tribunal Regional Federal da 4ª Região, 'a fraude ou a


frustração será obtida mediante a utilização de qualquer expediente, tal como o ajuste ou a
combinação, sendo a enumeração do tipo meramente exemplificativa. Ou seja, qualquer
espécie de expediente poderá ser utilizada para a realização do tipo, desde que no utilizado
intuito de eliminar a competição ou promover uma ilusória competição entre participantes
da licitação por qualquer mecanismo, pouco importando ter havido ajuste ou combinação'
[...] O tipo penal em questão consiste na promoção de uma falsa ou insuficiente competição
entre participantes de uma licitação, visando à obtenção de alguma vantagem para si ou
para outrem, em detrimento dos interesses patrimoniais e éticos da Administração Pública,
5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771
https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 69/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

claramente evidenciada na espécie, porquanto a conduta adotada pelo réu restringiu


inegavelmente a competitividade do processo licitatório' (ACR 5003957-96.2016.4.04.7118,
7ª T., Relatora CLÁUDIA CRISTINA CRISTOFANI, juntado aos autos em 27/03/2019).

Vale observar que o crime é formal, dispensando a efetivação do dano ao erário


para sua consumação. Nesse sentido, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é
pacífica afirmando que 'o delito descrito no art. 90 da Lei n. 8.666/1993, é formal, bastando
para se consumar a demonstração de que a competição foi frustrada, independentemente de
demonstração de recebimento de vantagem indevida pelo agente e comprovação de dano ao
erário.' (HC 341.341/MG, Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, QUINTA TURMA,
julgado em 16/10/2018, DJe 30/10/2018).

Nesse mesmo sentido:

PENAL E PROCESSUAL PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO


ESPECIAL. FRAUDE À LICITAÇÃO. NULIDADES. SUSTENTAÇÃO ORAL. AUSÊNCIA DE
PERÍCIA GRAFOTÉCNICA. NÃO OCORRÊNCIA. AUSÊNCIA DE DOLO ESPECÍFICO.
DOSIMETRIA. PROPORCIONALIDADE COM A GRAVIDADE DO CASO. AGRAVO
DESPROVIDO. 1. "O julgamento monocrático pelo relator não implica em cerceamento de
defesa por eventual supressão do direito do patrono de realizar sustentação oral, sendo de
todo inviável a sustentação em sede de agravo regimental, nos termos do artigo 159 do
Regimento Interno desta Corte." (AgRg nos EDcl no REsp 1.716.971/SC, Rel. Ministra MARIA
THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 20/03/2018, DJe 27/03/2018). 2.
Nos termos do art. 400, § 3º, do CPP, as provas podem ser indeferidas pelo juiz quando
consideradas irrelevantes, impertinentes ou protelatórias. 3. A Corte local conclui que houve
atuação fraudulenta do Prefeito, indicando vários elementos que comprovam a tese. Súmula n.
7/STJ. 4. Ademais, "diversamente do que ocorre com o delito previsto no art. 89 da Lei n.
8.666/1993, o art. 90 desta lei não demanda a ocorrência de prejuízo econômico para o poder
público, haja vista que o dano se revela pela simples quebra do caráter competitivo entre os
licitantes interessados em contratar, ocasionada com a frustração ou com a fraude no
procedimento licitatório. De fato, a ideia de vinculação de prejuízo à Administração Pública é
irrelevante, na medida em que o crime pode se perfectibilizar mesmo que haja benefício
financeiro da Administração Pública." (REsp 1.484.415/DF, Rel. Ministro ROGÉRIO
SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 15/12/2015, DJe 22/02/2016). 5. Em regra, o
recurso especial "não se presta (...) à revisão da dosimetria da pena estabelecida pelas
instâncias ordinárias." (AgRg no REsp 1.217.998/SC, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA
TURMA, julgado em 02/02/2016, DJe 15/02/2016). Na hipótese dos autos, a pena está
5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771
https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 70/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

compatível com a gravidade e extensão do crime praticado. 6. Agravo regimental não provido.
(AgRg no REsp 1563167/SC, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em
23/08/2018, DJe 03/09/2018)

A propósito, dispõe a Súmula 645 do Superior Tribunal de Justiça: "O crime de


fraude à licitação é formal, e sua ​consumação prescinde da comprovação do prejuízo ou da
obtenção de vantagem".

Vale destacar, que é necessária, porém, a comprovação da frustração


do caráter competitivo da licitação, por meio de ajuste, combinação ou qualquer outra forma
hábil a impedir a competição entre os licitantes. (cf. TRF4, ACR 5002906-88.2018.4.04.7115,
OITAVA TURMA, Relatora GISELE LEMKE, juntado aos autos em 04/08/2022).

No tocante ao elemento subjetivo, o tipo penal do artigo 90 da Lei 8.666/93


exige a prova da presença do dolo específico, consistente no agir especial do agente de
fraudar o caráter competitivo da licitação; evidenciando-se o elemento volitivo na conduta do
agente que visa excluir da disputa participantes potenciais, restringindo a competitividade,
havendo ou não definição prévia sobre qual dos licitantes será o vencedor.

Assentadas tais premissas, percebe-se que, de modo induvidoso, a subsunção


dos fatos descritos nas iniciais acusatórias ao tipo penal capitulado pelo Ministério Público
Federal, o qual segue em vigência no ordenamento jurídico penal pátrio por meio do art. 337-
F do Código Penal (artigo 90, da Lei n. 8.666/93).

d) Materialidade dos Fatos 1, 2 e 3 (crimes relacionados aos Editais Pregão


Presencial n. 01/2014, n. 04/2016 e n. 04/2017 do Município de São Domingos/SC)

Assentadas as premissas quanto à tipicidade dos fatos narrados na denúncia,


passo à análise do contexto fático probatório acerca da ocorrência de fraude à licitação, bem
como quanto às respectivas autorias por parte dos denunciados NEUDI JOSÉ BURATTI,
EVERTON MIOTTO BURATTI, GILMAR AQUILES MARMENTINI, AIRTON SENA
MIOTTO, LUIZ ALBERTO MIOTTO, JUCIELI LINK MIOTTO, ZENILDE TEREZINHA
KARACK e ALCIMAR DE OLIVEIRA.

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 71/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

Como visto, considerando-se que os crimes narrados na denúncia teriam sido


cometidos em contextos similares, envolvendo as mesmas partes e modos de execução
entrelaçados e quase idênticos, serão eles analisados em conjunto sempre que possível.

Pois bem, a existência material dos fatos está comprovada pelos elementos do
Inquérito Civil n. 1.33.002.000246/2015-50, conduzido pelo Ministério Público Federal, bem
como pelos elementos dos autos do Inquérito Policial n. 50073425220204047202. Destacam-
se, dentre todos os documentos, especialmente os seguintes (evento 1, ANEXOS 23, 24,25,
26 35):

Pregão Presencial n. 01/2014

i) Autorização para abertura de licitação assinada pelo então prefeito


ALCIMAR DE OLIVEIRA (ANEXO23, p. 5); ii) Parecer contábil referente à existência de
recursos orçamentários para realização do procedimento licitatório Pregão Presencial n.
01/2014 (ANEXO23, p. 4); iii) Edital de Licitação n. 01/2014 - Pregão Presencial, da
Prefeitura Municipal de São Domingos/SC (ANEXO23, pp. 6/27); iv) cópia de email enviado
pela empresa AGN Contabilidade ao setor de licitações de São Domingos, solicitando cópia
do Edital do transporte escolar, datado de 10/01/2014 (ANEXO23, p. 33); v) proposta de
preço de GILMAR ACHILHES MARMENTINI ME (ANEXO23, p. 87); vi) proposta de
preço de LAURO VALDECIR WALENDORFF ME (ANEXO23, p. 89); vii) proposta de
preço de NEUDI JOSÉ BURATTI (ANEXO23, p. 91); viii) proposta de preço de
AIRTON SENA MIOTTO ME (ANEXO24, p. 1); ix) proposta de preço de LUIZ
ALBERTO MIOTTO ME (ANEXO24, p. 3); x) Ata da Sessão Pública do Pregão
Presencial (ANEXO24, p. 10/13); xi) quadro comparativo de preços/fornecedores por item
(ANEXO24, p. 14/18); xii) Ata da Pregoeira e equipe de apoio n. 01/2014 (ANEXO24, pp.
71/74); xiii) termo de homologação do processo licitatório n. 01/2014 (ANEXO24, p. 77);
xiv) Contrato Prefe n. 008, de 10 de fevereiro de 2014 (ANEXO24, pp. 80/86); xv) Contrato
Prefe n. 10, de 10 de fevereiro de 2014 (ANEXO25, p. 40/44); xvi) Contrato Prefe n. 009, de
10 de fevereiro de 2014 (ANEXO25, p. 66/70); xvii) Contrato Prefe n. 01, de 10 de fevereiro
de 2014 (ANEXO25, p. 86/87; e ANEXO26, pp. 1/3).

Pregão Presencial n. 04/2016 (Processo Licitatório n. 06/2016)

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 72/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

i) Autorização para abertura de licitação assinada pelo então prefeito


ALCIMAR DE OLIVEIRA (ANEXO35, p. 4); ii) Parecer contábil referente à existência de
recursos orçamentários para realização do procedimento licitatório Pregão Presencial n.
06/2016 (ANEXO35, p. 3); iii) Edital de Licitação n. 04/2016 - Pregão Presencial, da
Prefeitura Municipal de São Domingos/SC (ANEXO36, pp. 5/24); iv) proposta de preço de
LUIZ ALBERTO MIOTTO ME (ANEXO36, pp. 14/15); v) proposta de preço de
ZENILDE TEREZINHA KARACEK ME (ANEXO36, p. 20); vi) proposta de preço de
AIRTON SENA MIOTTO ME (ANEXO36, pp. 22/23); vii) proposta de preço de JL
MIOTTO TRANSPORTES ME (ANEXO36, pp. 25/26); viii) proposta de preço de
GILMAR ACHILES MARMENTINI ME (ANEXO36, p. 310; ix) proposta de preço de
EVERTON MEOTTI BURATTI ME (ANEXO36, pp. 33/34); x) quadro comprativo de
preços (ANEXO36, pp. 36/47 e pp. 59/64); xi) Ata da Sessão Pública do Pregão Presencial
(ANEXO 36, p. 48/53); xii) ata de registro de preços (ANEXO36, pp. 54/58); xiii) Ata da
Pregoeira e Equipe de Apoio n. 05/2016 (ANEXO37, pp. 42/43); xiv) Parecer Jurídico
(ANEXO37, pp. 52/62); xv) Termo de Homologação de Processo Licitatório assinado pelo
então prefeito ALCIMAR DE OLIVEIRA (ANEXO37, pp. 63/67; xvi) Recomendação n.
16/2015 do Ministério Público do Estado de Santa Catarina, datada de 14/12/2015
(ANEXO37, pp. 68/95); xvii) Decisão da Pregoeira (ANEXO38, pp. 1/2); xviii) Ata de
Registro de Preços n. 005/2016 (ANEXO38, pp. 3/28); xix) Contrato Prefe n. 004, de 20 de
fevereiro de 2016 (ANEXO38, pp. 34/38); xx) Contrato Prefe n. 006, de 20 de fevereiro de
2016 (ANEXO38, pp. 39/43); xxi) Contrato Prefe n. 003, de 20 de fevereiro de 2016
(ANEXO38, pp. 44/48); xxii) Contrato Prefe n. 002, de 20 de fevereiro de 2016 (ANEXO38,
pp. 49/53); xxiii) Contrato Prefe n. 007, de 20 de fevereiro de 2016 (ANEXO38, pp. 54/59);

Pregão Presencial n. 04/2017

i) Autorização para abertura de licitação (ANEXO41, pp. 5/6); ii) Parecer


contábil referente à existência de recursos orçamentários para realização do procedimento
licitatório Pregão Presencial n. 8/2017 (Edital n. 04/2017) (ANEXO41, p. 4); iii) Edital de
Licitação n. 4/2017 - Pregão Presencial Prefe da Prefeitura Municipal de São Domingos/SC
(ANEXO41, pp. 7/27); iv) proposta de preço de AIRTON SENA MIOTTO ME
(ANEXO42, p. 8/11); v) proposta de preço de JL MIOTTO TRANSPORTE ME
(ANEXO42, pp. 12); vi) proposta de preço de LUIZ ALBERTO MIOTTO ME
5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771
https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 73/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

(ANEXO42, p. 14); vii) proposta de preço de EVERTON MEOTTI BURATTI ME


(ANEXO42, pp. 20/21); viii) quadro comparativo de preços (ANEXO42, pp. 27/36 e 40/45);
ix) Ata da Sessão Pública do Pregão Presencial (ANEXO42, pp. 37/40); x) Ata da Pregoeira e
Equipe de Apoio n. 04/2017 (ANEXO 44, p. 66); xi) Termo de Homologação de Processo
Licitatório (ANEXO44, p. 71); xii) Contrato Prefe n. 004, de 08 de fevereiro de 2017
(ANEXO44, pp. 73 e ANEXO45, pp. 1/6); xiii) Contrato Prefe n. 006, de 08 de fevereiro de
2017 (ANEXO44, pp. 11/15); xiv) Contrato Prefe n. 007, de 08 de fevereiro de 2017
(ANEXO44, pp. 21/25); xv) Contrato Prefe n. 008, de 08 de fevereiro de 2017 (ANEXO44,
pp. 26/30).

e) Autoria e dolo em relação aos acusados NEUDI JOSÉ BURATTI,


EVERTON MIOTTO BURATTI, GILMAR AQUILES MARMENTINI, AIRTON
SENA MIOTTO, LUIZ ALBERTO MIOTTO, JUCIELI LINK MIOTTO, ZENILDE
TEREZINHA KARACK e ALCIMAR DE OLIVEIRA - Fatos 1, 2 e 3 (crimes
relacionados aos Editais Pregão Presencial n. 01/2014, n. 04/2016 e n. 04/2017 do
Município de São Domingos/SC)

Nas alegações finais o Ministério Público Federal sintetiza os fatos imputados


aos acusados NEUDI JOSÉ BURATTI, EVERTON MIOTTO BURATTI, GILMAR
AQUILES MARMENTINI, AIRTON SENA MIOTTO, LUIZ ALBERTO MIOTTO,
JUCIELI LINK MIOTTO, ZENILDE TEREZINHA KARACK e ALCIMAR DE
OLIVEIRA, da seguinte maneira (evento 232, pp. 30/33):

a) Condutas relativas ao Pregão Presencial nº 01/2014 (Processo Administrativo nº


01/2014):

ALCIMAR DE OLIVEIRA, NEUDI JOSÉ BURATTI, GILMAR ACHILES MARMENTINI,


AIRTON SENA MIOTTO, LUIZ ALBERTO MIOTTO e LAURO VALDECIR WALENDORFF,
em janeiro de 2014 (homologação da licitação em 30/01/2014, no município de São
Domingos, deliberadamente e em concurso de pessoas (art. 29 do Código Penal) frustraram e
fraudaram, mediante ajuste, combinação e outros expedientes, o caráter competitivo do
Pregão Presencial nº 01/2014, com o intuito de obter para si (pessoas físicas representantes
das empresas licitantes) e para outrem (as empresas licitantes envolvidas) as vantagens
decorrentes da adjudicação do objeto licitado. As condutas acima descritas se amoldam
perfeitamente ao tipo do artigo 90 da Lei nº 8.666/93. É inequívoco que o caráter competitivo

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 74/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

da mencionada licitação foi maculado pela ação dos ora denunciados, já que houve o
direcionamento do certame e conluio entre os participantes. Das 14 rotas ofertadas, somente
em uma houve dois interessados, que são irmãos – AIRTON SENA MIOTTO e LUIZ
ALBERTO MIOTO. E dessas 14 rotas ofertadas, 7 foram vencidas por NEUDI JOSÉ
BURATTI, 3 por GILMAR ACHILES MARMENTINI, 2 por LAURO VALDECIR
WALENDORFF e uma por LUIZ ALBERTO MIOTTO. Essa evidente fraude era do
perfeito conhecimento do então prefeito ALCIMAR DE OLIVEIRA, que atuou
deliberadamente em todo o processo licitatório, inclusive atrasando seu início, para que não
houvesse tempo hábil para impedir o prosseguimento da licitação fraudada. Destaque-se,
ainda, o claro vínculo entre o então prefeito e os vereadores do município – todos do mesmo
partido. Não são minimamente críveis as afirmações do ex-prefeito, de que, num pequeno
município, não manteria relações próximas com vereadores do seu próprio partido. Ainda,
tratando-se de município pequeno, mostra-se evidente que o gestor municipal tinha perfeito
conhecimento dos vínculos e relações de parentesco entre os integrantes dos vários grupos de
licitantes que fraudavam as licitações – inclusive pelos sobrenomes de todos eles –,
combinando preços e montando propostas. Ademais, o resultado do primeiro certame, por si
só, com apenas um licitante apresentando proposta em praticamente todos os itens e sempre
no valor máximo previsto no edital, já se mostrava muito claro sobre o total direcionamento e
fraude em curso na licitação, não havendo qualquer atuação do gestor maior do município
para barrar esses ilícitos. Por fim, mas não menos importante, a total chancela do então
prefeito à fraude praticada nos pregões seguintes, com a criação de simulada empresa por
parte do filho do vereador de seu partido e aliado político, visando continuar explorando,
irregularmente, o transporte escolar no município, reforça sobremaneira o dolo daquele
gestor público. Destaca-se, também, que, em razão desses conluios e fraudes e ausência de
competição, os valores dessa nova contratação ficaram muito acima daqueles que já estavam
sendo praticados com os mesmos contratantes e acima também de contratação emergencial
realizada no ano anterior, ensejando dano ao erário municipal.

b) Condutas relativas ao Pregão Presencial nº 04/2016 (Processo Administrativo nº


06/2016):

ALCIMAR DE OLIVEIRA, NEUDI JOSÉ BURATTI, EVERTON MEOTTI BURATTI, GILMAR


ACHILES MARMENTINI, AIRTON SENA MIOTTO, LUIZ ALBERTO MIOTTO, LAURO
VALDECIR WALENDORFF, ZENILDE TEREZINHA KARACEK e JUCIELI LINCK MIOTTO,
em fevereiro de 2016, no município de São Domingos, deliberadamente e em concurso de
pessoas (art. 29 do Código Penal), frustraram e fraudaram, mediante ajuste, combinação e
outros expedientes, o caráter competitivo do Pregão Presencial nº 04/2016, com o intuito de
obter para si (pessoas físicas representantes das empresas licitantes) e para outrem (as
empresas licitantes envolvidas) as vantagens decorrentes da adjudicação do objeto licitado,
5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771
https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 75/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

condutas que também se amoldam ao tipo do artigo 90 da Lei nº 8.666/93 É inequívoco que o
caráter competitivo da mencionada licitação também foi maculado pela ação dos ora
denunciados, já que houve o direcionamento do certame e conluio entre os participantes.
Desta vez, não houve participação direta de NEUDI JOSÉ BURATTI ME, vereador do
município de São Domingos. No entanto, seu filho, EVERTON MEOTTI BURATTI, titular de
empresa homônima, sagrou-se vencedor em 6 das 13 linhas ofertadas pelo município.
Conforme acima demonstrado, trata-se de empresa criada exclusivamente para tentar dar ares
de legalidade na perpetuação da prestação dos serviços por aquele vereador do município,
agora por intermédio de seu filho. Além disso, novamente houve evidente combinação e ajuste
prévio entre todos os licitantes que participaram do certame – EVERTON MEOTTI BURATTI
ME (representado por EVERTON MEOTTI BURATTI), GILMAR ACHILES MARMENTINI
ME (representada por GILMAR ACHILES MARMENTINI), LAURO VALDECIR
WANLENDORFF ME (representada por LAURO VALLDECIR WALLENDORF), ZENILDE
TEREZINHA KARACEK ME (representada por ZENILDE TEREZINHA KARACEK), AIRTON
SENA MIOTTO ME (representada por AIRTON SENA MIOTTO) e JL MIOTTO
TRANSPORTES ME (representado por JUCIELI LINCK MIOTTO), já que eles direcionaram
trechos específicos para cada empresa, conforme denotam, entre outros elementos, a
similaridade de propostas apresentadas por empresas que seriam supostamente concorrentes e
vínculos de parentesco e de endereços entre licitantes.

c) Condutas relativas ao Pregão Presencial nº 04/2017:

AIRTON SENA MIOTTO, LUIZ ALBERTO MIOTTO, JUCIELI LINCK MIOTTO e EVERTON
MEOTTI BURATTI, entre janeiro e 7 de fevereiro de 2017, no município de São Domingos,
deliberadamente e em concurso de pessoas (art. 29 do Código Penal), frustraram e
fraudaram, mediante ajuste, combinação e outros expedientes, o caráter competitivo do
Pregão Presencial nº 04/2017, com o intuito de obter para si (pessoas físicas representantes
das empresas licitantes) e para outrem (as empresas licitantes envolvidas) as vantagens
decorrentes da adjudicação do objeto licitado, condutas que também se amoldam ao tipo do
artigo 90 da Lei nº 8.666/93. Novamente, neste edital, a empresa EVERTON MEOTTI
BURATTI ME, representada por EVERTON MEOTTI BURATTI, sagrou-se vencedora em
quase metade das rotas oferecidas. Mais uma vez, também, identificou-se a participação de
pretensos licitantes com estreitos vínculos familiares e de endereço. Além disso, verifica-se
novamente que os licitantes apresentaram propostas com valores idênticos aos máximos
previstos em edital e que, em várias rotas, apenas um licitante apresentou proposta de preços.
Todos estes elementos denotam, sem margem para dúvidas, que o procedimento de dividir as
rotas entre os licitantes, praticado nas licitações anteriores, repetiu-se também no pregão

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 76/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

presencial nº 04/2017, na medida em que os licitantes também frustraram e fraudaram a


licitude deste procedimento licitatório, mediante ajuste prévio, com o objetivo de obter para si
as vantagens da adjudicação do objeto licitado.

Da análise atenta ao elenco probatório encartado nos autos, entendo que há


provas suficientes da autoria em relação aos réus NEUDI JOSÉ BURATTI, EVERTON
MIOTTO BURATTI, GILMAR AQUILES MARMENTINI, AIRTON SENA MIOTTO,
LUIZ ALBERTO MIOTTO, JUCIELI LINK MIOTTO, ZENILDE TEREZINHA
KARACK e ALCIMAR DE OLIVEIRA, em relação à prática do crime previsto no artigo 90
da Lei n. 8.666/93, referente aos procedimentos licitatórios n. 01/2014, 04/2016 e 04/2017,
sendo respectivamente:

a) ALCIMAR DE OLIVEIRA, NEUDI JOSÉ BURATTI e GILMAR


ACHILES MARMENTINI responsáveis pela prática do crime do artigo 90, da Lei n.
8.666/90, por 2 vezes, relacionados aos Editais n. 01/2014 e 04/2016;

b) AIRTON SENA MIOTTO e LUIZ ALBERTO MIOTTO, pelo crime do


artigo 90, da Lei n. 8.666/90, por 3 vezes, relacionados aos Editais n. 01/2014, n. 04/2016
e n. 04/2017;

c) EVERTON MEOTTI BURATTI e JUCIELI LINCK MIOTTO pelo


crime do artigo 90, da Lei n. 8.666/90, por 2 vezes, relacionado aos Editais n. 04/2016 e
n. 04/2017; e

d) ZENILDE TEREZINHA KARACEK pelo crime do artigo 90, da Lei n.


8.666/90, relacionado ao Edital n. 04/2016.

Dos documentos juntados aos autos extraem-se os Editais de Licitação n.


01/2014, n. 06/2016 e 04/2017, todos do Município de São Domingos/SC, realizados no
interesse da Secretaria Municipal da Educação de São Domingos/SC, na modalidade 'menor
preço por item', para 'prestação de serviços de transporte escolar de alunos da rede pública
(municipal e estadual) de ensino, residentes na zona rural do Município de São
Domingos' (evento 1, ANEXO23 pp. 6/27; ANEXO35, pp. 5/24 e ANEXO41, p. 7/27).

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 77/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

Conforme relatado pelo Ministério Público Federal na denúncia, de fato, na


licitação que antecedeu aos Editais n. 01/2014, n. 06/2016 e 04/2017, ocorrida no ano de
2009, é possível extrair, sem sombra de dúvida, a existência de efetiva concorrência entre os
participantes daquela licitação. Eis o resumo dos fatos relacionados ao Pregão n. 01/2009 que
NÃO É OBJETO da presente ação penal (evento 1, DENUNCIA2):

Em 2009, o município de São Domingos realizou o Pregão Presencial nº 01/2009 para atender
ao transporte escolar (cópia do procedimento no Anexo II, Vol. 1 e 2, do IC). Ao final do
certame, foram contratadas, dentre outras, as empresas GILMAR ACHILES MARMENTINI
ME e NEUDI JOSÉ BURATTI ME. O contrato sofreu diversos aditivos e permaneceu vigente
até o fim do ano de 2013 (fls. 50-54 do IC e fls. 500-507, 516-523, 554, 558, 579-580, 591-
592, 638-639, 653-654, 690-691 e 696-697 do Anexo II, Vol. 2, do IC).

O Edital (fls. 2-17 do Anexo II, Vol. 1, do IC) previu, em seu item 1.11, que o prazo de vigência
do contrato decorrente daquele processo licitatório iria até o final do exercício de 2009,
podendo ser prorrogado, a critério da Administração, por períodos sucessivos de 12 (doze)
meses cada um (para os anos letivos de 2010, 2011 e 2012) até no máximo de 36 (trinta e seis)
meses de prorrogação.

No entanto, os contratos foram prorrogados até o ano letivo de 2013, conforme os Termos
Aditivos nº 115 e nº 117, ambos de 15 de dezembro de 2012 (fls. 690-691 e 696- 697 do Anexo
II, Vol. 2, do IC).

Ainda no ano de 2012, NEUDI JOSÉ BURATTI e GILMAR ACHILES MARMENTINI,


proprietários das empresas citadas acima, disputaram as eleições municipais. NEUDI elegeu-
se vereador e GILMAR, segundo suplente de vereador, ambos pelo Partido dos Trabalhadores
(PT).

Portanto, desde 01/01/2013, quando houve a diplomação, o então vereador NEUDI JOSÉ
BURATTI acumulou a atividade de vereança com a qualidade de contratado pela prefeitura do
município em que atuava como vereador (fls. 61-65 do Anexo I do IC). GILMAR ACHILES
MARMENTINI também exerceu o cargo de vereador durante a vigência do contrato (fls. 66-76
do Anexo I do IC).

O prefeito municipal da época, ALCIMAR DE OLIVEIRA (de apelido “KIKO”), também


filiado ao Partido dos Trabalhadores (PT), exercia seu segundo mandato (2013-2016).

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 78/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

[...]

Com relação ao Pregão Presencial n° 01/2009, que foi deflagrado antes das eleições de 2012
e, portanto, muito antes do início do mandato de NEUDI JOSÉ BURATTI e da suplência de
GILMAR ACHILES MARMENTINI, e pretendia contratar empresas de transporte escolar
para 21 trajetos no interior do município de São Domingos/SC, foi possível observar certa
proporcionalidade quanto à distribuição do objeto licitado entre as empresas participantes,
sobressaindo-se, no entanto, a empresa de NEUDI JOSÉ BURATTI, com 6 linhas (28,6%),
ainda assim, dentro de uma aparente normalidade (conforme Termo de Homologação e Termo
de Adjudicação, respectivamente, de fls. 452-457 e f. 458 do Anexo II, Vol. 2, do IC).

Da mesma forma, as propostas apresentadas pelos concorrentes continham valores quase


sempre abaixo do valor máximo do quilômetro estipulado pelo edital e esses valores ainda
sofreram significativa redução na fase de lances, evidenciando, em princípio, a existência de
alguma disputa pelas rotas entre as empresas participantes (Demonstrativo de Lances – fls.
411-436 do Anexo II, Vol. 2, do IC).

Com exemplo, cita-se o trajeto da “linha 03”, que tinha como valor máximo definido no edital
a ser pago por quilômetro rodado a importância de R$ 1,60 (item 1.8 do edital – f. 05 do
Anexo II, Vol. 1, do IC). As propostas constantes nos envelopes das 8 empresas que
concorreram por esta linha foram de R$1,58; R$1,52; R$1,50; R$1,48; R$1,45; R$1,45;
R$1,44; e R$1,40, sendo que, após a fase de lances, a linha foi contratada por R$ 1,03 por
quilômetro rodado (f. 415 do Anexo II, Vol. 1, do IC), uma redução de mais de 35% sobre o
preço inicial definido pelo município de São Domingos.

A “linha 03” foi disputada por 4 empresas na fase de lances, que juntas apresentaram um
total de 19 ofertas, antes de o certame finalizar ao preço de R$ 1,03.

Em média, o preço da menor proposta para cada trajeto foi reduzido em 15% após a
realização da fase de lances (fls. 501-502 do IC).

O contexto extraído da síntese dos fatos relacionados ao processo licitatório


do transporte escolar de São Domingos no ano de 2009 reveste-se de suma importância e
merece destaque, tendo em vista que a sequência dos fatos relacionados às licitações do
transporte escolar, realizadas nos anos de 2014, 2016 e 2017 deixam evidente, acima de
dúvida razoável e com a certeza necessária exigida à condenação dos acusados NEUDI JOSÉ
BURATTI, EVERTON MIOTTO BURATTI, GILMAR AQUILES MARMENTINI,

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 79/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

AIRTON SENA MIOTTO, LUIZ ALBERTO MIOTTO, JUCIELI LINK MIOTTO,


ZENILDE TEREZINHA KARACK e ALCIMAR DE OLIVEIRA, de que frustraram,
mediante ajuste/combinação, o caráter competitivo das licitações realizadas pelo Município
nos anos de 2014, 2016, 2017 (nos editais acima já referidos), com o claro intuito de obter
para si e para outrem, vantagem decorrente da adjudicação do objeto da licitação.

Na realidade, nos anos de 2014, 2016 e 2017, o que se verificou dentre os


'concorrentes' NEUDI JOSÉ BURATTI, EVERTON MIOTTO BURATTI, GILMAR
AQUILES MARMENTINI, AIRTON SENA MIOTTO, LUIZ ALBERTO MIOTTO,
JUCIELI LINK MIOTTO e ZENILDE TEREZINHA KARACK foi um verdadeiro ajuste
entre tais participantes, de modo a garantir que cada qual satisfizesse seu interesse pessoal,
adjudicando como objeto da licitação cada um deles o item que era de seu exclusivo interesse
e pelo preço máximo estipulado pelo edital.

Da própria narrativa das testemunhas e dos acusados em seus respectivos


interrogatórios fica claro o descontentamento que as empresas que já prestavam serviços ao
Município alegaram suportar no decorrer da vigência dos contratos adjudicados no Edital n.
01/2009, afirmando categoricamente que os pedidos de reposição/reequilíbrio financeiros dos
contratos eram seguidamente negados pelo Município de São Domingos. Ao que tudo indica,
esse foi o motivo determinante para que todos os acusados (NEUDI JOSÉ BURATTI,
EVERTON MIOTTO BURATTI, GILMAR AQUILES MARMENTINI, AIRTON SENA
MIOTTO, LUIZ ALBERTO MIOTTO, JUCIELI LINK MIOTTO e ZENILDE TEREZINHA
KARACK) tenham decidido pela prática delituosa de combinar os valores que iriam
apresentar nas próximas licitações, cada um no item de seu próprio e exclusivo interesse, com
o claro e nítido interesse de burlar a alegada inexistência de aumento nos valores dos serviços
que seriam prestados ao Município.

No entanto, logicamente, tal atitude caracterizou, sem dúvida alguma, a prática


do delito então previsto no artigo 90 da Lei n. 8.666/93, extirpando e anulando qualquer
possibilidade de efetiva competição e concorrência nas licitações, em absoluto prejuízo ao
Município, tendo em vista que os preços praticados, ainda que não tenham sido

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 80/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

superfaturados, conforme apurado pelo Laudo Pericial da Polícia Federal durante as


investigações (IPL n. 50024411220184047202, evento 13, INQ1, pp. 4/7), deixaram de ser
reduzidos, conforme se espera e é o natural de um processo de licitação.

Da Nota Técnica elaborada pela Corregedoria Geral da União n.


281/2017/NAE/SC/Regional/SC, relacionada ao Edital do Pregão Presencial n.
01/2014 extrai-se o seguinte (evento 1, OUT8, p. 18):

1. Introdução

A presente Nota Técnica tem o propósito de atender a demandado MPF para indicação de
proce dimentos a adotar em diligências, com vistas a subsidiar posteriores analises do MPF
em casos acerca da matéria, em atenção à demanda externa de análise de processo sobre o
PNATE e o transporte escolar de São Domingos/SC, efetuada por meio do Ofício n°
794/2016/GAB2/PRM/CHAPECÓ/SC, relacionado ao Inquérito Civil-IC n° 1.33.002000246
/2015-50 [...]

6. Caso concreto. [...]

6.3.3 Ocorrências destacadas no Pregão Presencial 001/2014.

6.3.3.1 Publicidade do aviso de licitação.

Identificou-se a troca de e-mails com a empresa supracitada sobre o edital, iniciada 3 (três)
dias antes de sua publicação. A publicação no D.O. de SC ocorreu em 13/01/2014; no mesmo
dia, às 08:25, houve e-mail do Setor de Licitações para Ana Paula - Agn Contabilidade
(telefone 49- 3443-0324), em resposta a e-mail datado de 10/01/2014 (folha 32). Esse fato
indica que poderia haver conhecimento prévio do participante sobre o conteúdo do edital em
vias de ser lançado. Para os demais interessados constavam nos autos os documentos de
"Recibo", com a comprovação de retirada do edital (suas datas eram a partir de 13/01/2014 -
data da publicação).

No caso analisado, para o PP 001/2014 houve as seguintes publicações: - No Diário Oficial


de SC n° 19.735 (folha 29); - No DOM/SC 7 Edição n° 104 (folha 30); e - No site da
Prefeitura Municipal (folha 31).

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 81/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

No Pregão Presencial anterior, tinha havido publicação no Jornal "O Diário" e no Jornal "A
Notícia"(folhas 33 e 34 do PP 001/2009). No certame mais antigo, houve maior quantidade de
participantes e de vencedores de itens, inclusive teve itens vencidos por todos os quatro
vencedores de itens no PP 001/2014. Não foi identificada a motivação para a condução
diferente no certame mais recente.

6.3.3.2. Propostas e fase de lances

Identificou-se no Pregão Presencial n°001/2014: - Itens em seqüência vencidos por cada um


dos denunciados (fl. 81 do PPS-IV); - Para os outros dois vencedores, em conjunto, os itens
ficaram em seqüência Um deles venceu apenas 1 item, deixando o outro com os itens
intercalados.

Não se identificou no processo eventual pesquisa de preços elaborada pelo pregoeiro ou pela
co missão licitante que tenha embasado a definição dos valores previstos no edital.

Gilmar Achiles Marmentini ME (CNPJ n° 06.111.808/0001-22) apresentou proposta de preço


para 3 itens: 12, 13 e 14; Lauro Valdecir Walendorff ME (CNPJ n° 10.548.687/0001-58)
apresentou proposta de preço para 3 itens: 08, 10 e 11. As propostas apresentavam
características similares na qualidade de impressão (tonalidade, nitidez), nos espaçamentos,
nos conteúdos dos textos, no tipo e no tamanho de caracteres (folhas 86 e 88).

A terceira proposta, das 5 constantes dos autos, foi da empresa Neudi José Buratti ME (CNPJ
n° 05.657.874/0001-30), que ofertou preço para sete itens: 01, 02,03,04,05,06 e 07(folha 90).

Airton Sena Miotto ME (CNPJ n° 08.446.332/0001-06) apresentou proposta de preço para1


item: 09; e Luiz Alberto Miotto ME (CNPJ n° 04.885.124/0001 -52) apresentou proposta de
preço parao mesmo item: 09. Essas duas propostas continham muitas semelhanças entre si,
com destaque para a numeração e conteúdo da legenda do quadro contendo o valor da
proposta para o igual valor unitário do km rodado (R$ 2,15), o conteúdo e o formato do
endereçamento e a descrição do obje to (folhas 92 e 94).

As propostas escritas para todos os itens licitados foram no mesmo valor previsto no Edital
(folhas 5 a 6).

Gilmar Achiles Marmentini ME venceu emtodos os 3 itens que ofertou, semredução de preço.

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 82/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

Lauro Valdecir WalendorffME venceu emtodosos 3 itens que ofertou, sem reduçãode preço.
Neudi JoséBuratti ME venceu em todosos 7 itensque ofertou, sem redução de preço.

LuizAlbertoMiotto MEvenceu no único itemque ofertou, com redução de R$ 0,01.

O quadro comparativo depreços dalicitação, datado de23/01/2014 (folhas 96a 100), foi
assinado por Ana Claudia Barizon Fontana da Luz (CPF n° 854.411.559-49 - Pregoeira),
Paula Natana Comachio (CPF n° 065.383.649-00 - Membro da Comissão de Licitações),
Adriana Lúcia Pretto (CPF n° 017.554.689-46 - Membro da Comissão de Licitações), Odila
Girotto Elger (CPF n° 753.619.659-87 - Suplente da Comissão de Licitações).

Constou, ainda o nome de Lenize Klein Latreille (Suplenteda Comissão de Licitações), a qual
não assinou. Constatou-se que o único itemque tevemais de uma proposta foi o item9
(duaspropostas).

Segundo a Ata de SessãoPública do Pregão Presencial, Airton Sena Miotto ME desistiude


ofertar lances, não alterando sua propostainicial de R$ 2,15. Luiz Alberto Miotto ME ofertou
o lance de R$ 2,14 e, assim, venceu. A pregoeira registrou o seguinte: "O licitante
LUIZALBERTO MIOTTO - ME declarou que não possui condições de melhorar ainda mais
sua proposta. O pregoeiro, face a essa manifestação, tam bém por entender que as propostas
ofertadas na última rodada de lances são van tajosas para o município, declara vencedor do
item 9 deste Pregão Presencial o fornecedor LUIZ ALBERTO MIOTTO - ME pelo valor de R$
2,14 (dois reais e quatorzecentavos) ". A pregoeira também considerou vantajosas para o
município as demais propostas em que nada foi diminuído diante do valor previsto no edital.

O Constitucionalista e Administrativista Lucas Rocha Furtado, assim considera o pregão: "


[...] No pregão, os lances verbaissão apresentadospelos licitantesafim de redu zir a proposta
de menor preço até então apresentada, ao contrário do leilão, em que os licitantes são
convidadosa apresentarlances maiores. Essa distinção entre o pregão e o leilão está ligada ao
fato de que este últimodestina-se à alienação de bens; e o pregão, ao contrário, à contratação
de bens ou serviços comuns, o que justificao menorpreço. Essas particularidades do pregão
fazem com que ele seja a modalidade de licitação mais célere, além de ser a que maisfavorece
a redução de preços [grifo nosso]". [Fonte: FURTADO, Lucas Rocha Curso de Licitações e
Contratos Administrativos. _. ed. Be lo Horizonte: Fórum, 2007, p. 371].

Destaca-se que, no PP 001/2014, a única redução de preço foi de R$ 0,01 no preço do item 9.
So mente para esse item ocorreu mais de uma proposta (ambas em valor idêntico ao previsto
no edi tal), as quais foram apresentadas por empresas pertencentes a 2 (dois) irmãos, onde um

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 83/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

deles não realizou lance menor que sua proposta escrita.

Havia no edital a previsão do subitem 8.17, que não teve oportunidade de aplicação: "O
Pregoeiro, Oficial do Município poderá estipular o valor mínimo do lance e o tempo, para o
item ".

Pelo exposto, identificou-se que o certame não apresentou competitividade. Cada licitante
escolheu as linhas que desejaria atuar, elaborou proposta com o mesmo preço previsto no
edital e venceu exatamente os itens ofertados, sem disputa maximizando o preço.

[...]

633.4 Veículos para o transporte escolar.

633.4.1 Orientações dos normativos do PNATE sobre o tempo de uso dos veículos.

O Guia do Transporte Escolar, ao abordar os pré-requisitos do transporte, orienta: "Para que


o transporte dealunos seja mais seguro, o ideal é que os veículos dafrota tenham no máximo
sete anos de uso".

No Edital do PP 0001/2009 o subitem 1.13haviaexigência expressasobre o ano de fabricação


dos veículos: "Os veículos a serem utilizadosna prestação dos serviços do objeto deste Edital
não po derão apresentarano de fabricação inferior a 1990, sejam eles ônibus, micro-ônibus ou
peruas".

Contudo, no Edital do PP 0001/2014 não houve previsão relacionada ao ano de fabricação


dos ve ículos, deixando margem para a oferta de veículos sem limitação do tempo de uso, em
detrimento da qualidade dos serviços ofertados. No caso concreto, chegaram a ser
contratados serviços de ve ículos com 12 anos de uso.

A conclusão da Controladoria Geral da União no sentido de ter identificado


que o certame relacionado ao Edital n. 01/2014 não apresentou competitividade, e que
cada licitante escolheu as linhas que pretendia atuar elaborando proposta no preço
máximo do Edital, vencendo exatamente tais itens, conforme a proposta, sem qualquer
disputa e maximizando o preço, deve ser estendida aos demais Editais objeto da
denúncia: Edital n. 04/2016 e 04/2017, ao passo que as mesmas características e forma
de atuação dos acusados foram também perpetradas em relação a estes dois últimos
5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771
https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 84/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

processos de licitação, de modo a caracterizar a prática do delito previsto no artigo 90


em relação a todos os três editais, variando-se apenas os responsáveis diretos pela autoria
dos crimes, conforme já relacionado acima: a) ALCIMAR DE OLIVEIRA, NEUDI JOSÉ
BURATTI e GILMAR ACHILES MARMENTINI responsáveis pela prática do crime do
artigo 90, da Lei n. 8.666/90, por 2 vezes, relacionados aos Editais n. 01/2014 e
04/2016); b) AIRTON SENA MIOTTO e LUIZ ALBERTO MIOTTO, pelo crime do artigo
90, da Lei n. 8.666/90, por 3 vezes, relacionados aos Editais n. 01/2014, n. 04/2016 e n.
04/2017; c) EVERTON MEOTTI BURATTI e JUCIELI LINCK MIOTTO pelo crime do
artigo 90, da Lei n. 8.666/90, por 2 vezes, relacionado aos Editais n. 04/2016 e n. 04/2017; e
d) ZENILDE TEREZINHA KARACEK pelo crime do artigo 90, da Lei n. 8.666/90,
relacionado ao Edital n. 04/2016.

Na instrução em juízo, a testemunha Ivandro Bigolin, questionada pela


acusação, disse ter sido o responsável pela representação à época, na condição de
parlamentar/vereador. Disse que havia vedação no Regimento Interno da Câmara (artigo 288)
de contratação de vereadores para prestação de serviços ao Município. As informações
relatadas também estavam no portal da transparência. Questionado se o filho de NEUDIR
JOSÉ BURATTI tenha sido contratado pela prefeitura, disse que não sabia afirmar. Disse que
a denúncia utilizava apenas o regimento interno no que se refere aos vereadores não poder ter
contrato, não tendo outros questionamentos. Disse não saber se as empresas da família
MIOTTO funcionavam no mesmo local. Conhece a família MIOTTO, mas não consegue
distinguir quem é quem. Não conhece ZENILDE TEREZINHA. Questionada acerca das
imagens constantes da denúncia página 40, a testemunha disse desconhecer se os veículos
atuavam no Município. Afirmou ter sido vereador de 2013 a 2016. Questionado pela defesa
de GILMAR MARMENTINI, disse que ele não atuou na política em 2016. Questionado
acerca da 'Linha Consoladora' disse acreditar que aproximadamente 15 a 20 famílias residem
naquele local e que, como regra, as casas não são numeradas no interior. A testemunha
afirmou que à época pertencia ao partido político PP (11), e que GILMAR e NEUDIR eram
do PT. Não sabe dizer como funciona a parte técnica do processo licitatório. Questionada
pelo juízo, a testemunha disse que à época foi o partido quem elaborou a denúncia, que foi
assinada pelos vereadores (eventos 194 e 195, VIDEO1).

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 85/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

A testemunha Valdir Angelo Zanin, perito da Polícia Federal, foi responsável


pela elaboração do laudo pericial que concluiu pela inexistência de sobrepeço nos valores
contratados pelo Município de São Domingos. Quanto ao Laudo 383/2019, referente a este
processo, esclareceu que existem duas formas de superfaturamento: uma delas é pelo
sobrepreço quando os preços contratados estão muito acima dos valores de mercado; e a
outra forma é quando a empresa fatura, emite a nota fiscal, mas não entrega todo o serviço,
ou apenas parte dele. No caso deste laudo, a pesquisa de mercado concluiu que os valores
praticados estavam corretos, não havendo sobrepreço. Em relação ao controle do serviço ter
sido prestado ou não, isso não foi objeto da perícia, pela falta de dados. Disse que em geral os
preços eram ligeiramente abaixo dos valores da pesquisa em contrapartida aos Municípios da
região com características semelhantes. Disse que a amostragem é adequada pelas
características semelhantes dos serviços prestados (transporte escolar no interior). Reiterou as
conclusões alcançadas pelo laudo da perícia. Os valores foram extraídos da base de dados do
Tribunal de Contas do Estado de Santa Catarina, para onde os Municípios enviam os
processos licitatórios. Questionada pela acusação, a testemunha disse que seu foco foi nos
quesitos formulados, em relação aos preços. Quanto à licitação, não sabe dizer se houve
pesquisa de mercado para estabelecer preços de referência (evento 196, VIDEO1).

A testemunha Caciano Lazzaretti, que possui uma oficina mecânica, disse que
nunca trabalhou para o Município de São Domingos. Afirmou que cada um dos acusados
AIRTON, JUCIELI e LUIZ leva o seu ônibus para fazer serviços em sua mecânica, sendo
cada um deles responsável pelo pagamento de sua respectiva empresa. Questionada pela
acusação, a testemunha disse que atualmente as empresas ficam em Coronel Martins, não
sabendo dizer o endereço especificamente. Disse que não faz mais serviço para AIRTON,
apenas para o LUIZ e também para a JUCIELI, que possui a empresa JR ou JL MIOTTO. Só
sabe dizer a cidade, não sabendo dizer o endereço específico. Costuma receber os
pagamentos de maneira variada, para sua empresa. Que acredita que os serviços prestados
para a JL MIOTTO são posteriores a 2017, mais recentes (evento 197, VIDEO1).

A testemunha Jacir Marmentini disse ser motorista de ônibus e que trabalhou e


ainda trabalha na prefeitura de São Domingos. Disse que também trabalhou nas empresas de
AIRTON, LUIZ e JUCIELI. Que cada um pagava o salário respectivamente. Que AIRTON e
LUIZ moravam em casas separadas, não sabendo dizer quantas famílias moravam na Linha
5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771
https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 86/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

Consoladora à época de 2015. Acredita que umas 15 famílias. Que o endereço da empresa era
Linha Consoladora, sem número por ser interior. Nunca trabalhou para GILMAR
MARMENTINI e mora distante dele, não possuindo contato. Questionado pela acusação,
disse ter trabalhado para a JUCIELI e para o AIRTON (para o AIRTON sem carteria assinada
no período de 2021). Antes disso trabalhava para a JL, de 2017 a 2019. Antes ainda disso
trabalhou em 2009. Foi contratado pela JUCIELI. A sede da empresa JL Miotto é na Linha
Consoladora. Atualmente trabalha para a Prefeitura Municipal de São Domingos. (evento
197, VIDEO2).

A testemunha Valdir Dal Magro, contador na cidade de Quilombo/SC, disse ser


contador das empresas JL Miotto e de AIRTON MIOTTO, acredita que há mais de quatro
anos. Que são empresas distintas, ficam no mesmo Município/linha/comunidade, mas são
distintas. A contabilidade é separada e cada uma atua separadamente. Disse que a maioria das
empresas tem dificuldades em preencher documentos de licitação, sendo então que o seu
escritório auxlia. Disse que por vezes acontece que mais de uma empresa sua cliente,
participe da mesma licitação, sendo que os papéis e impressoras utilizados para todas as três
empresas são os mesmos. Atualmente possui aproximadamente 40 funcionários, prestando
assessoria para cerca de 800 empresas, contando com os MEI. Disse que o sigilo em seu
escritório é absoluto, não sendo repassados dados de uma empresa para outra, especialmente
sobre licitações. Disse que seu escritório foi criado em 2010, e que acredita que as empresas
da família MIOTTO já eram seus clientes. Não sabe dizer com certeza se auxiliou no
processo licitatório do transporte escolar do Município de São Domingos. Questionado
acerca das prospotas constantes da denúncia (página 13), a testemunha disse que acredita que
o modelo é retirado do site, sendo preenchidos os valores e a data. Questionada pela
acusação, a testemunha disse que não lembra ao certo, mas que presta serviços para as
empresas de AIRTON, LUIZ e JUCIELI MIOTTO. Disse que a sede destas empresas fica no
interior, não é na cidade. Que as empresas são distintas e cada uma tem o seu local, sendo
administradas separadamente. Ficam no interior e não possui número de identificação de
endereço. À época da licitação não lembra exatamente quantos funcionários possuía.
Geralmente o escritório auxilia na extração das certidões negativas e quais os demais
documentos necessários para a participação. Ainda têm empresas com dificuldades no

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 87/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

preenchimento da tomada de preços, mas não pode afirmar que seu escritório foi responsável
pela elaboração das propostas, pelo considerável período de tempo já decorrido desde então
(eventos 198 e 199, VIDEO1).

A testemunha Julcimar Frozza disse ser mecânico e que presta serviços para as
empresas de AIRTON, LUIZ e JUCIELI MIOTTO. Disse que cada motorista leva os seus
veículos, e que cada empresa paga o respectivo serviço. Disse que LUIZ e AIRTON não
moram na mesma casa, e pelo que sabe nunca moraram juntos. Questionada pela defesa de
ALCIMAR, a testemunha disse que o reajuste de peças ocorre conforme o aumento também
lhe é repassado, mas não sabe dar detalhes. Questionada pela acusação, a testemunha disse
que acredita prestar serviços para as empresas MIOTTO há seis anos. Prestava mais serviços
para a empresa de AIRTON, sendo que LUIZ apareceu depois de alguns meses. Quanto à
empresa de JUCIELI disse não lembrar. Disse que a empresa de AIRTON fica em São
Domingos e a empresa de JUCIELI em Coronel Martins, não tendo certeza (evento 200,
VIDEO1).

A testemunha Angelo Contti, corretor de seguros, disse que cada uma das
empresas de AIRTON, LUIZ e JUCIELI possui a sua respectiva empresa, de maneira
independente. AIRTON reside no interior, que não possui número de identificação nas casas.
Vários moradores moram na mesma linha, mas não é o mesmo local. Salvo engano, a
JUCIELI reside em Coronel Martins. Disse que não recorda se foi até a empresa JL em
Coronel Martins. A venda de seguros acontece muito por indicação. Que JUCIELI é
esposa/companheira de LUIZ e LUIZ e AIRTON são irmãos (evento 201, VIDEO1).

A testemunha Odila Girotto Elger disse que é servidora pública desde 1993 no
Município de São Domingos, atuando no setor de RH. Disse ter participado de várias
comissões de licitação. Que lembra de ter participado do pregão em 2016, no momento da
licitação. Nunca presenciou combinação entre os participantes. Nunca presenciou a assessoria
jurídica do Município orientando a comissão ou participando de reuniões com as empresas
participantes. Não sabe dizer sobre a pesquisa de preços porque não participava dessa parte.
Que também participou da equipe do Pregão de 2014 reafirmando que não ocorreu nenhuma
interferência também naquele processo de 2014. Na prática, apenas acompanhava, sendo que
a abertura das propostas era feita pela equipe, pregoeiro, assim como os documentos de

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 88/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

habilitação. Disse que o prefeito não participou da sessão pública, pelo que recorda. Não
lembra se ocorreu impugnação na etapa de habilitação das empresas. Nunca viu o Município
disponibilizando modelos para os interessados utilizarem em suas propostas. Conhece
NEURI BURATTI há bastante tempo e sabe que ele era motorista, não sabendo dizer se ainda
é. Que em Município pequeno sempre há disputa entre partidos de direita e esquerda. Que
não recorda se o edital vinha com modelo de proposta. Que a postura dos pregoeiros era
bastante rígida para manter a ordem durante o processo de licitação. Que não lembra em que
ano PAULA NATANA foi contratada. Que as pesquisas de preço partiam mais das
secretarias. Cumulava funções, então participava apenas do momento do pregão, em outras
etapas do processo de licitação não atuava. Não sabe dizer das outras etapas do processo de
licitação. Que sempre era pedido pelo pregoeiro para baixar os preços em prol do Município,
que foi solicitado, mas que os participantes afirmaram que o preço já era baixo. Que a
pregoeira ANA possuía outra função à época, junto à secretaria de Administração, tendo
participado como pregoeira apenas em substituição. O servidor à época responsável estava de
férias. Disse que ANA não era amiga dos participantes, apenas conhecia como os demais. Em
geral acredita que existem orçamentos/pesquisas de mercado nos processos licitatórios, não
lembrando se havia nesse caso específico. No geral, sabia que as licitações deveriam ter
pesquisa de preço. Em geral também afirma que havia disputa entre os licitantes pelo objeto
da licitação. Não sabe dizer especificamente acerca do Edital 2014. Que todos os pregoeiros
com quem participou atuavam para baixar os preços durante o pregão (eventos 202 e 203,
VIDEO1).

A testemunha Adriana Lúcia Pretto disse ser servidora pública há doze anos no
município de São Domingos. Atualmente trabalha na Secretaria de Educação e antes disso no
setor de compras do município. Disse que era membro da comissão de licitação e que
trabalhou no pregão de 2014 e no de 2016. Disse não ter participado da pesquisa de preços do
processo, tendo atuado apenas no momento da sessão. Disse que não foram concedidos
privilégios aos participantes e que não percebeu nenhuma combinação. Não lembra de
ter presenciado a assessoria jurídica participando da licitação ou orientando participantes.
Que não lembra se o prefeito ALCIMAR participou de alguma reunião da licitação ou da
sessão do pregão, nem se havia modelo de proposta disponibilizado pelo Município aos
participantes. Disse conhecer NEURI BURATTI há bastante tempo e que é uma pessoa bem
vista pela sociedade, de boa índole. Que a atuação do pregoeiro era rígida pela ordem durante
5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771
https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 89/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

a sessão. Que o processo de licitação chegava pronto ao setor, com origem na secretaria. Que
PAULA NATANA foi contratada em 2016. Que pelo que lembra o edital era elaborado pelo
setor de licitações. Não lembra se os vereadores acompanharam alguma licitação.
Questionada pela acusação, a testemunha disse que em geral havia disputa nas licitações
realizadas pelo Município. Que no caso de 2014 não recorda sobre não ter havido disputa
entre as linhas. Que as pregoeiras eram bastante insistentes na redução dos preços, mas nem
sempre a redução propriamente era obtida. Que NEUDI atualmente é motorista e EVERTON,
filho de NEUDIR, também atuava no transporte escolar à época de 2014, não sabendo dizer
se trabalhavam juntos (eventos 204 e 205, VIDEO1).

A testemunha Alyne Nayara Lammel disse ter sido servidora pública do


Município de São Domingos, entre 2014 e 2022, como agente administrativa no setor de
licitações e contratos. Acompanhou alguns processos de licitação do transporte escolar,
acredita que não em 2014, apenas em 2016, tendo em vista a data de sua nomeação. Não
recorda detalhes do procedimento, em razão do decurso do tempo. Nunca percebeu
combinação ou conluio durante a sessão. Nunca presenciou a assessoria jurídica participando
da licitação ou orientando participantes. Pelo que lembra o Município fornecia o modelo de
propostas no edital, assim como o modelo de contrato. Pelo que lembra os orçamentos do
transporte escolar eram formulados pela secretaria de educação, não sendo de competência do
setor de licitação. Que a pesquisa dos valores eram realizadas pelas secretarias. Disse que o
edital era de atribuição do pregoeiro, com o apoio da equipe do setor de licitações e da
assessoria jurídica, mediante parecer. Geralmente haviam mais de três participantes na
licitação. Não soube de nenhuma fraude ou combinação entre os participantes. Questionada
pela acusação, a testemunha disse recordar que eram várias as linhas escolares licitadas e que
era difícil ter apenas uma empresa em um único item, não impossível, mas menos frequente.
Que o corriqueiro era o pregoeiro tentar a redução de preço. Não tem certeza se
especificamente no edital de transporte escolar havia modelo de proposta. Disse que se
houvesse constaria do edital como anexo (eventos 206 e 207, VIDEO1).

A testemunha Iraci Ines Marmentini Walendorff disse não ser parente nem
próxima de GILMAR e de LAURO, apesar dos sobrenomes. Que é servidora pública do
Município de São Domingos desde 1983, atualmente possui cargo em comissão. Trabalhava
no setor da eduação, e possuía como função os programas do Governo Federal e da Secretaria
5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771
https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 90/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

de Educação. Não participava da comissão de licitação. Não auxiliou na pesquisa de preços


para a licitação. Participava da medição de quilometragem e do empenho. As medições eram
corretas e atualizadas para manter cada serviço atualizado (sendo caso de aumento ou de
diminuição do trajeto). Trabalhou na secretaria de educação desde 2009. Os alunos novos que
entravam ou os alunos que saíam geravam nova medição. No final do mês era realizada a
atualização do cálculo da metragem e emitido o empenho. Eventuais problemas com o
transporte eram levados para a Secretaria e resolvidos lá também. As empresas sempre
reclamavam do preço, afirmando que era baixo. Disse conhecer AIRTON, LUIZ e JUCIELI
MIOTTO e que eles têm empresas que prestam serviços de transporte escolar. Nunca ouviu
sobre fraude à licitação envolvendo tais pessoas. Não tem conhecimento, nem participou de
orçamentos sobre o preço do transporte escolar. Disse que todas as coisas que eram
compradas pela secretaria possuíam três orçamentos, mas quanto ao preço do transporte
nunca participou (evento 207, VIDEO2).

A testemunha Vinicius Augusto Andriolli disse ter sido assessor jurídico do


Município de São Domingos entre fevereiro de 2013 e julho de 2014. Que não era procurador
especificamente do setor de licitações, mas era o único advogado do Município à época,
acompanhando, portanto, praticamente todos os setores. A testemunha disse que sempre que
havia pedido de revisão de preço/tarifa, o pedido vinha para parecer jurídico. Do mesmo
modo, após a homologação da licitação também havia visto jurídico. A assessoria jurídica
conferia o edital, cláusulas eventualmente abusivas, e principalmente as publicações para se
ter a certeza da publicidade. Havendo impugnações, o setor jurídico também costumava dar
parecer, especialmente em casos mais complexos. Casos menos complexos já poderiam ser
resolvidos pelo pregoeiro. Não acompanhava as sessões porque não trabalhava no setor de
licitações. O parecer era elaborado a partir dos registros do processo. Não lembra se no caso
específico teve impugnação ou pedido específico de parecer. Em relação aos preços, disse
que a pesquisa era realizada pelo setor de licitações, as vezes talvez as secretarias também,
mas em geral era o próprio setor de licitações. A testemunha disse que o parecer jurídico não
analisava preços, apenas análise formal da legalidade, além disso o parecer final era
opinativo, não vinculando a decisão final do administrador. O volume de processos era
bastante grande, além do setor pessoal e o judicial também demandarem bastante.
Questionada pela acusação, a testemunha disse não recordar se no caso, especificamente,

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 91/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

foram solicitados orçamentos. Pontou que em determinadas áreas havia bastante dificuldade
na obtenção dos orçamentos, para formação dos preços, em razão do tamanho pequeno do
Município (evento 208, VIDEO1).

A testemunha Clovis Romildo Mazzuco era proprietário de um escritório de


contabilidade em São Domingos, não atuando mais no escritório desde janeiro de 2017. Disse
recordar que as empresas de AIRTON, LUIZ e JUCIELI foram seus clientes no escritório.
Que o escritório costumava prestar assessoria para empresas clientes participarem de
licitações. Pelo que lembra as empresas de AIRTON, LUIZ e JUCIELI realizavam
pagamentos individuais. Recorda que as empresas ficavam sediadas no interior, mas não sabe
precisar exatamente. Não sabe dizer se residiam juntos ou separados (na família MIOTTO).
O escritório tinha um modelo mais ou menos próprio para repassar às empresas que iriam
participar das licitações. O formulário já era adaptado para participação da licitação do
transporte escolar. Disse que o sigilo das empresas sempre foi garantido, independente se as
empresas eram de irmãos, por exemplo. Auxiliavam na documentação exigida pelo edital.
Cada cliente repassava em qual linha iria concorrer e o escritório providenciava as negativas,
as certidões e demais documentação. Após, era preenchido o preço da proposta para envio.
Questionada pela acusação, a testemunha disse acreditar que em 2014 prestava serviços para
as empresas, não lembra se para as três empresas, até porque uma das empresas transferiu a
responsabilidade contábil para outro escritório, em Quilombo. Quanto à localização das
empresas disse saber onde é, no sentido de Quilombo. Não sabe dizer onde os proprietários
residiam. A sede das empresas informadas ao escritório nunca foi checada pelo escritório.
Não sabe dizer se os veículos ficavam todos na sede ou estacionados na cidade. Pelo que
recorda, à época de 2014 a 2016 possuía em torno de 8/9 pessoas trabalhando em seu
escritório. Em relação ao formulário, disse que para cada tipo de processo de licitação, a
depender do objeto, era enquadrado de uma maneira diferente. Lembra que havia um
cabeçalho da empresa, na sequência as linhas que a empresa iria concorrer e depois os demais
detalhes (a exemplo do prazo de validade da proposta e que estava de acordo com os dados
do edital). Não lembra muitos detalhes em razão do tempo. Pelo que lembra, foi a empresa JL
MIOTTO que passou a contabilidade para um escritório de Quilombo. Sabe dizer que
ALTAIR e LUIZ eram irmãos e JUCIELI era companheira ou esposa do LUIZ (evento 208,
VIDEO2).

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 92/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

No interrogatório, ALCIMAR DE OLIVEIRA disse que, pelo que lembra, em


2009 foi realizado um processo licitatório para a contratação de transporte escolar e que
depois disso houve prorrogação até 2014, quando então teve novo processo licitatório.
Acredita que em 2014 tenha assinado a autorização de abertura e a homologação, porque no
decorrer da tramitação do processo de licitação saiu de férias. Como regra a solicitação de
abertura era do secretário da pasta. Que o Município era pequeno e um mesmo servidor
geralmente executava mais de uma atividade, atuando em alguma função de rotina da
prefeitura, além da comissão de licitação. O requerimento de abertura dos processos de
licitação normalmente vinha assinado pelo secretário da pasta. Questionado pelo juízo acerca
da definição das cláusulas do edital, e especialmente acerca dos valores de referência, o
acusado disse que o edital era montado pelo setor de licitações, que cuidava da construção do
edital. A definição do preço, quando era obra, por exemplo, buscavam junto à associação dos
Municípios, especialmente no início, quando ainda não tinham engenheiro contratado no
Município. Como regra, a orientação era buscar sempre o menor preço possível,
especialmente em razão do orçamento limitado do Município que era pequeno e tinha pouca
receita. No caso, imagina que a pesquisa de preços tenha sido feita pela secretaria de
educação em conjunto com o setor de licitação. Lembra de ter conversado na época, ao
despachar a abertura da licitação, que após pesquisa de preços na região, os valores do edital
foram fixados abaixo desse parâmetro. Disse que não ocorreu reequilíbrio financeiro dos
contratos, apenas atualização de preços e que havia muita reclamação do pessoal da secretaria
de educação, porque os preços eram muito abaixo dos valores da região. Acredita que o preço
era condizente com os valores de mercado e até mesmo abaixo disso. Disse não lembrar do
contrato temporário. Afirmou que a secretaria de educação era a responsável pela realização
das medições da linha, com bastante rigor, para que não ocorresse pagamento de serviços não
prestados. Disse que a diferença de valor obviamente decorre do tempo e da variação do
custo, sendo complicado atualizar o primeiro valor como parâmetro, já que na prática é
preciso considerar outros fatores. Disse que o cuidado não era apenas no transporte escolar,
mas em todos os setores. Quando assumiu, um dos principais problemas no Município era o
transporte escolar, porque havia muita estrada de chão, no interior, dificultando bastante a
organização da prestação do serviço. Disse que o Município adquiriu 11 ônibus para prestar o
serviço, sendo que do primeiro edital para o segundo, foram diminuídas de 21 linhas para 14
linhas apenas. Questionado pelo juízo acerca da pesquisa de mercado/preços em 2014, disse
que quem lhe repassou essa informação foi o setor de licitações, não lembra se era a PAULA.
5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771
https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 93/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

Afirmou que o setor de licitação foi quem definiu os preços da licitação. Pelo que lembra a
responsável pelo setor no período era a PAULA, não recordando exatamente se a ALINI
também era do setor à época. Questionado pelo juízo, disse que a prorrogação até 2013 foi
com base na lei de licitações, que admite a prorrogação por até 60 meses. Disse que
aproveitou até o limite dos 60 meses por conta do preço que permanecia bom. Em 2014 disse
ter sido realizada nova licitação em razão de que não havia mais espaço para prorrogação. Em
2016 a nova licitação foi realizada para atender uma recomendação do Ministério Público
Estadual para que o Município não contratasse serviços de empresas de vereadores.
Questionado pelo juízo acerca do filho do vereador NEUDI ter vencido várias linhas da
licitação de 2016, disse que à época essa situação veio a tona para discussão, sendo que
remetido o processo para o setor jurídico, o parecer foi no sentido de que as empresas eram
distintas e que, então, naquele momento entendeu que não existia problema. Disse ter seguido
a orientação do parecer jurídico, e que não orientou a forma como o parecer deveria ser. Que
o setor jurídico tinha a liberdade necessária de atuação. Questionado acerca das condições
dos veículos, disse que não chegou a fazer vistoria nos veículos, mas que o edital tinha
descrição das exigências mínimas e que durante a execução dos serviços as reclamações eram
realizadas perante a própria secretaria de educação, que costumava resolver as situações.
Afirmou que, salvo engano, as fotografias da denúncia (páginas 40/41) são do ano de 2017,
quando o acusado já não era mais prefeito. Pontou que à época, infelizmente, também havia
vandalismo por parte dos próprios estudantes, como se vê de um banco rasgado. Questionado
acerca da relação entre o acusado e NEUDI JOSÉ BURATTI e GILMAR AQUILES
MARMENTINI disse que são pessoas que conhece da comunidade e que não tinha nenhuma
relação, são pessoas do transporte escolar que participaram do processo licitatório de 2009 e
depois passaram a ter relação partidária, pois foram candidatos, em 2012, sendo que NEUDI
elegeu-se vereador e GILMAR ficou suplente. Não eram de frequentar a casa um do outro,
nem relação de amizade. Disse que NEUDI assumiu a presidência da câmara, salvo engano,
nos dois últimos anos e que não possuía influência sobre o Legislativo, tendo suportado
bastante oposição. Disse que teve inúmeras representações perante o Ministério Público.
Questionado acerca da origem da denúncia, disse não ter dúvida de que a denúncia tenha
ocorrido em razão de retaliações políticas. Disse que o então advogado concursado do
Município se elegeu vereador e permaneceu como advogado do Município, quando então o
Município notificou ele para optar e nenhuma atitude foi tomada pelo denunciante.
Posteriormente, depois inclusive de ter concorrido a prefeito, o denunciante retornou como
5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771
https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 94/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

assessor jurídico da câmara de vereadores, onde fez inúmeras denúncias e representações.


Insistiu dizendo que essa representação inicial também possui a mesma origem das demais,
de perseguição política. Questionado pelo juízo acerca da participação única de uma empresa
em cada linha especificamente, disse que o objetivo do Município sempre foi diminuição de
preço, mas os valores já eram apertados e que a comissão tentou diminuir o preço, mas não
conseguiu porque a alegação dos transportadores era de que o preço já era baixo. Afirmou
que a licitação do transporte escolar é muito importante, porque tem prazo para as aulas
iniciarem e, diante de um processo regular, não restou outra alternativa a não ser homologar o
procedimento. Questionado pela acusação acerca da pesquisa do preço de referência, o
acusado disse que ao ter despachado o pedido de autorização da licitação, lhe foi repassado
pelo setor de licitação que a pesquisa foi realizada pelo próprio setor. A servidora responsável
à época era a PAULA. Não sabe dizer se a prática era realizar a pesquisa por email. Em
relação ao contrato emergencial, disse não lembrar especificamente. Acredita que possa ter
sido feito por alguns meses, para cobrir a linha até que os ônibus do Município passassem a
operar, ou ainda para cobrir alguma demanda pontual, mas insistiu não ser comum fazer
contratos emergenciais. Em relação ao tempo de uso para os veículos, disse não lembrar da
regra específica. Disse que as empresas do Município participavam, mas como era um
Município pequeno, as empresas também eram, às vezes operando com apenas um veículo.
Em relação a EVERTON MIOTTI BURATTI, filho de NEUDI, disse que tinha conhecimento
de que eram pai e filho. Sabia que eles tinham duas atividades, do transporte escolar e do
transporte de leite/produtos agrícolas. Disse que o setor de licitações questionou o jurídico
sobre essa condição, mas que como eram duas empresas distintas, e que diante da existência
de controvérsia acerca da proibição ou não de vereadores contratarem com a Administração,
a empresa do filho de NEUDI foi aceita. Não havia uma vedação legal expressa para a
empresa do filho participar, então a licitação foi homologada. Não sabia que a empresa havia
sido criada apenas 2 dias depois do edital. Questionado pela defesa de AIRTON, LUIZ e
JUCIELI disse que a família MIOTTI residia à época na Linha Consoladora. Disse que já
esteve na casa deles, sendo que AIRTON, o mais novo, morava com os avós, e LUIZ morava
próximo, mas em outra propriedade. Disse que por ser interior, o endereço acaba sendo o
mesmo para todos, pois não possuem numeração. Assim, todas as propriedades possuem o
mesmo endereço. Negou que tenha ouvido acerca da existência de conluio entre os
licitantes. (eventos 209 a 214).

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 95/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

No interrogatório, ANA CLAUDIA BARIZON disse que atualmente é


secretária de administração na Prefeitura de Ipuaçu. Disse que apenas substituiu o pregoeiro
que estava de férias. Na época já trabalhava na secretaria de administração e cumulava as
funções. Praticamente participou apenas da sessão e analisou, dentro dos preços máximos
estipulados, as condições da licitação. Pediu que fossem dados lances quando então os
participantes falaram que não dariam lances porque os preços já eram muito baixos e quando
era solicitado reequilíbrio financeiro não era concedido. Foi escolhida porque na época
apenas a acusada e o FLAVIO possuíam curso para atuar como pregoeiro. Depois a PAULA
do próprio setor de licitações, fez a formação/curso e foi designada como pregoeira também.
Questionada acerca de uma única empresa ter se habilitado para cada uma das linhas, a
acusada disse ter ficado frustrada com a situação, mas não sentiu que poderia haver
irregularidade. Apenas sabia que já eram prestadores do serviço no Município. Disse que não
presenciou nenhuma conversa entre os participantes, acerca de combinação. Acerca da
semelhança na formatação/apresentação das propostas disse ter acreditado que os escritórios
de contabilidade que foram os responsáveis pela elaboração, confiando na ética dos
participantes. Acerca do termo que constou na ata sobre ser vantajoso para o Município, disse
que era um padrão que constava na ata e acabou ficando. Sobre a empresa dos irmãos, disse
ter feito um questionamento informal, pois pensou que após a sessão o processo seria
submetido ao setor jurídico. Mesmo não tendo considerado moral, acreditou que à época o
mais assertivo era tramitar o processo e posteriormente submeter ao setor jurídico, para não
prejudicar a licitação, especialmente considerando que o ano letivo estava próximo. Em
relação à pesquisa de preços, disse não ter participado, sabendo que a solicitação partia da
secretaria e que quando havia dificuldade para conseguir as cotações de preço, era solicitado
o apoio ao setor de licitações. Questionada pela defesa do acusado ALCIMAR acerca do
depoimento prestado à Polícia Federal sobre a pesquisa de preços ter sido realizada pelo setor
de licitações, disse que ficou sabendo apenas informalmente que a pesquisa de preços foi
realizada pelo setor de licitação, em auxílio à secretaria de educação. Quanto ao fato de as
empresas terem cotado um único item, salientou que, pelo que sabe, não havia outras
empresas no Município que realizavam esse tipo de transporte (evento 215).

No interrogatório, PAULA NATANA CAMACHO disse que é advogada, sendo


que trabalhou no setor de licitações do Município desde 2012, e a partir de 2014 como
pregoeira. Não era chefe do setor, inicialmente era auxiliar, depois disso o setor foi assumido
5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771
https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 96/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

pela ANA. Quando a ANA foi para a secretaria de administração, assumiu o setor em 2015.
Em 2014 eram a acusada, a ANA e a ALINI, que trabalhavam no setor. Questionada pelo
juízo em relação à licitação de 2014, por ter sido a pessoa que respondeu um email enviado
pelo escritório de contabilidade AGN solicitando o edital de licitação, chamando atenção que
à época o edital ainda não havia sido publicado, esclareceu o seguinte: que inicialmente as
pesquisas de preço eram realizadas por e-mail e que depois disso passaram a realizar as
pesquisas por telefone, porque os participantes começaram a reclamar que o preço constante
do edital estava inferior ao informado no orçamento. Assim, ligavam para outros Municípios
e escritórios de empresas para cotar preços, quando então as pessoas acabavam tendo
conhecimento de que o edital de licitação seria publicado. No entanto, disse ter esclarecido
no email ao escritório AGN que o edital apenas poderia ser disponibilizado após a devida
publicação. Disse que à época da licitação de 2014 entrou em contato com as empresas que já
prestavam serviços de transporte escolar para o Município desde 2009. Acredita que tenha
ligado para todas as empresas do Município, à época, para cotar os preços. Acerca da
contratação emergencial realizada em 2013, disse não recordar exatamente, mas acredita que
o contrato tenha sido feito em função de atualização das matrículas de alunos do estado, que
não estavam matriculados, tendo sido feito o contrato emergencial para anteder a esses
alunos. Acerca da informalidade da pesquisa de preços, disse que havia uma dificuldade
muito grande de obter prestadores e que como havia uma resistência em fornecer orçamentos,
acabaram por realizar a pesquisa de preços informalmente para garantir a sequência do
processo de licitação. Em relação ao elastecimento do prazo, disse que foi concedido em
função da natureza contínua da prestação do serviços, especialmente com a intenção de evitar
que o Município ficasse sem o transporte escolar. Em relação ao edital de 2016, disse que
tomou conhecimento acerca da recomendação do Ministério Público para evitar que
vereadores contratassem com o Município. Quando o filho de NEUDI ganhou a licitação,
disse que a assessoria jurídica foi questionada sobre o ponto, sendo que também ficou com
dúvida sobre a possibilidade do filho participar, mas que, como a vedação era específica
sobre o agente público e não sobre os familiares, o processo de licitação teve sequência.
Acerca da questão da consulta de preços informal, realizada em conjunto com a secretaria de
educação, disse que o processo ficou no limite da data da publicação exatamente porque não
estavam sendo obtidos os orçamentos. Salientou, ainda, que a execução do contrato era
rigorosamente realizada pela secretaria de educação. Que no momento da sessão da licitação
não havia como apurar eventual fraude praticada pela empresa de EVERTON, porque o
5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771
https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 97/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

vereador NEUDI não participava do contrato social. Além disso, a apresentação dos veículos
e motoristas ocorreu apenas após a assinatura do contrato e declaração de vencedores (evento
2016, VIDEO1).

No interrogatório, LUIZ HENRIQUE MASETO ZANOVELLO, assessor


jurídico do Município em 2016, disse que como regra o processo licitatório possui o parecer
prévio e o parecer final. Geralmente o parecer final vem montado no sistema beta e é de um
parágrafo aproximadamente, realizando apenas análise formal da legalidade. No caso
específico, a pregoeira PAULA e a própria Administração tiveram dúvidas em função da
recomendação do Ministério Público, quanto à proibição de vereadores contratarem com a
Administração. No caso, o acusado entendeu que, diante da ausência de outros elementos que
pudessem indicar fraude, a análise formal da condição da empresa pertencer ao filho de um
vereador não levou a conclusão de proibição, inclusive levando em conta um precedente do
Tribunal de Contas do Estado. Disse que havia liberdade para atuar no Município e que, de
todo modo, o poder decisório era do gestor. A função de assessor jurídico foi exercida de
junho/julho de 2014 até metade de 2017. Não era concursado e sim nomeado, porque o antigo
procurador, concursado, encontrava-se incompatível, daí a contratação de assessores
jurídicos. Questionado pela acusação, o acusado insistiu que na época do parecer não
havia elementos que pudessem indicar a fraude. Em relação ao ex-vereador GILMAR
MARMENTINI, salientou que para participar da licitação ele abriu mão da vereança (evento
216, VIDEO2).

No interrogatório, AIRTON SENA MIOTTO disse trabalhar no ramo de


transporte e na agricultura e que não possui nenhuma relação com a empresa JL Transporte.
Seu irmão LUIZ ALBERTO também trabalha no ramo de transporte. Atualmente possui
transporte escolar e também transporte rodoviário de cargas. À época de 2014/2016/2017
também trabalhava com transporte escolar. Na mesma época o seu irmão também trabalhava
com transporte escolar. Disse que se fosse necessário, concorria com o irmão, porque
trabalhavam no mesmo ramo. Questionado pelo juízo, disse que tinha a empresa dele e que
também trabalhou para o irmão, mas não diariamente. Na época o irmão tinha uma granja de
frangos, e ele e o acusado (AIRTON) cobria alguns horários que eram necessários para o
irmão. Disse que na época as prefeituras exigiam que os motoristas tivessem carteira
assinada. Afirmou que a combinação de preços nunca ocorreu entre a empresa dele, do irmão
5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771
https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 98/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

e também com as demais. A empresa de AIRTON no início teve uma contabilidade, depois
foi alterada para uma de maior qualidade. A empresa ficava sabendo da licitação pelo mural
da prefeitura e também pelo jornal Diário do Iguaçu, depois retirava o edital e levava para o
contador. Depois disso, o contador ligava somente para passar lá assinar, colocar os preços e
pegar os papéis para participar da licitação. Quanto à sede das empresas, disse não ficam no
mesmo local. Naquele período o acusado disse que residia com os avós. O irmão do acusado
residia em outro local, mas todos ficavam na mesma localidade, na Linha Consoladora.
Questionado pelo juízo acerca do estacionamento onde ficavam as empresas, disse que na
foto apresentada aparece a casa onde ele (o acusado) mora, sendo que utiliza o endereço
apenas para fins formais/de correspondência. Sua empresa não possui pátio, os seus veículos
ficam estacionados pela rua, fim de linha, ou postos de gasolina. Questionado acerca da
proposta no valor do edital, disse ter medo de perder, mas que sua intenção era
participar/começar a prestar serviço para o Município. Porém, disse que o valor estava muito
abaixo do praticado em outros Municípios. Disse que o preço apresentado entre a empresa
dele (o acusado) e o seu irmão foi coincidência. Negou que houve conversa para combinação
de valores. Disse que, salvo engano, a linha que ele participou partia da cidade, era uma linha
nova, e acreditou que teria mais vantagem em executar essa linha. Negou ter sido procurado
antes da licitação para pesquisa de preços. Questionado pela acusação, disse ter havido
equívoco da CGU ao considerar o pátio de sua casa como garagem de veículos, pois não
havia nenhum veículo estacionado no local. O endereço informado para a Receita Federal era
na Linha Consoladora sem número. Não recorda se o seu irmão LUIS ALBERTO também foi
seu funcionário, e disse não ter sido funcionário da JL MIOTTO. Disse que uma das sócias da
JL é a JUCIELI, mas não sabe se tem outros sócios. Disse que a empresa JL é sediada em
Coronel Martins, mas não tem certeza do local da sede em 2014, só sabia que era próximo da
propriedade de seu avó. JUCIELI é casada com o irmão do acusado LUIS e desde que
casaram residem juntos, não sabendo precisar qual o ano do casamento. Negou ter tido
contato com a assessoria jurídica do Município. (eventos 217 e 218, VIDEO1).

No interrogatório, LUIZ ALBERTO MIOTTO disse que à época dos fatos


trabalhava com transporte escolar, sendo que possuía dois ou três, além de linhas em outros
Municípios. É irmão de AIRTON, que também trabalhava no transporte e possuía empresa
própria. Questionado pelo juízo, o acusado disse que seu irmão AIRTON trabalhava quando
precisava substituir um motorista doente, algo assim, já que ele tinha tempo disponível.
5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771
https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 99/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

Como o Município exigia carteira assinada, ele assinou, mas o trabalho não era contínuo.
Enquanto isso o acusado precisava trabalhar na granja de sua propriedade. Disse que morava
próximo da propriedade de seu avô, onde AIRTON morava também. Que a sede das empresas
eram nas casas dos acusados, mas que eles não moravam juntos. Sobre a JL MIOTTO disse
não ser sócio, sendo que a empresa pertence à esposa do acusado. A sede da JL na época
também era na residência do casal. Questionado especificamente acerca de eventual
combinação entre os participantes da licitação, negou, dizendo que o preço do edital já era
muito baixo e que não havia como ofertar um preço menor porque acarretaria prejuízo. Disse
que se interessou apenas por uma linha por ser mais curta, plana e fácil de executar, mas que
São Domingos sempre teve um preço muito baixo, então preferiu executar serviços de
transporte em Municípios vizinhos. Negou que os licitantes conversaram entre si para
combinar os preços e as linhas. Disse ter sido procurado pela Prefeitura de São Domingos
para pesquisa de preço, mas que sempre, toda vez que foi procurado, o valor do orçamento
nunca chegou perto do publicado no edital, sempre abaixo. Questionado pela acusação, disse
que em 2016 possuía veículos sobrando e por isso decidiu participar de mais linhas. Que em
2016 o endereço da empresa de sua esposa ainda era no mesmo lugar (residência do casal),
mas eram independentes. Negou ter tido contato e/ou ter sido orientado pela assessoria
jurídica do Município de São Domingos durante a época que prestou serviços para a
prefeitura. (evento 218, VIDEO2).

No interrogatório, JUCIELI LINK MIOTTO disse que a empresa JL foi criada


em 2012 ou 2013, sendo que recebeu auxílio de seu pai para abrir a empresa. Não pretendia
atuar no mesmo ramo de seu esposo. Na época de 2016 possuía apenas um veículo, sendo
que caso ganhasse mais uma linha iria comprar mais veículos. No passado, sua empresa era
na Linha Consoladora no mesmo endereço onde residia com o marido (LUIZ ALBERTO),
atualmente não é mais nesse local. Disse que já foi empregada de AIRTON SENA MIOTTO,
não recordando a data, mas acredita que em 2009. Não recorda se foi empregada de LUIZ
ALBERTO MIOTTO. Disse que em 2018 trabalhou no posto de gasolina 'Pedra Branca Ltda',
executando serviços gerais/frentista. Trabalhava mais no período da tarde. Disse que
trabalhando apenas na empresa não conseguia suprir todas as necessidades, tendo por isso ido
trabalhar também como frentista. Negou ter sido orientada pela assessoria jurídica do
Município, ou que teve contato/combinação. (evento 219, VIDEO1).

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 100/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

No interrogatório, NEUDI JOSÉ BURATTI disse que começou a trabalhar com


transporte escolar em 2002, sendo que em 2009 possuía três veículos e em 2014 cinco
veículos, se não está enganado. O transporte era realizado por meio de pessoa jurídica, não
pessoa física. Disse que em 2009 a licitação tinha um pouco mais de participantes, mas em
virtude do preço ser bem abaixo da região, em 2014 apenas empresas do próprio Município é
que participaram, não havendo outros interessados. Pelo que recorda, em 2014 havia duas ou
três empresas apenas interessadas. Disse que em relação a cada participante concorrer apenas
em uma linha, os participantes procuravam participar cada um na sua linha, onde fosse mais
próximo, até para melhorar a margem do lucro na execução do serviço. Então, um
participante não concorria na linha do outro. Disse que como já possuía o veículo e
funcionário já comprometido com o trabalho, em 2009 procurou fazer um preço para ganhar
e que depois poderia ter também reajuste, o que não ocorreu. Questionado acerca do fato de
três dias antes da publicação do edital do tranporte, a contadora da empresa do acusado ter
solicitado cópia do edital para a prefeitura, disse não recordar. Disse que NEUDIMIR é irmão
do acusado e que ele emprestou veículos ao réu para ele poder trabalhar. Disse que o irmão
na época parou de fazer transporte e que então o acusado locou o transporte dele. Acredita
que em 2015 ou 2016 parou de trabalhar com o transporte, porque passou a se dedicar à
política. Disse que como entrou na política em 2012/2013, elegendo-se vereador, disse que
concluiu que a empresa poderia permanecer atuando prestando serviços ao Município. No
entanto, o promotor de São Domingos intimou para conversar sobre o contrato mantido com
o Município, quando então ele (o promotor) explicou que ele entendia que seria melhor o
acusado não manter o contrato com a prefeitura, o que foi acatado para que o réu pudesse ser
mantido no cargo de vereador. Em relação ao ano de 2016, disse que não participou da
licitação, que apenas seu filho participou. O acusado optou por permanecer no transporte de
leite enquanto seu filho, que já vinha também trabalhando no transporte, deu sequência no
transporte escolar. Disse que EVERTON sempre trabalhou com o acusado, acompanhando no
ramo do transporte. Disse que teve uma empresa de lavação de carros, na qual o filho
trabalhou, mas não lembra das datas. Antes da rescisão, disse que o filho cuidava da empresa
de leite e o acusado do transporte escolar. Depois da proibição de vereador contratar com o
Município, o acusado disse que ele ficou com a linha de leite e o filho passou a operar no
transporte escolar. O réu disse ter vendido os veículos para o filho. O acusado disse não

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 101/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

lembrar de ter sido contratado pelo filho para trabalhar. Disse ter 52 anos e que nasceu em
Xavantina, tendo mudado para São Domingos em 1992, tendo estudado até a 4ª série (evento
219, VIDEO2).

No interrogatório, EVERTON MEOTTI BURATTI disse que passou a atuar no


transporte escolar em 2016, tendo sido a única licitação que participou. Já na sequência não
tinha mais veículo. Não lembra por quanto tempo permaneceu, mas cumpriu o contrato da
licitação. Na época da licitação tinha 21/22 anos e tinha dinheiro guardado, do trabalho da
empresa do leite. Para comprar os carros disse ter feito empréstimo. Questionado pelo juízo
quanto aos veículos emprestados, o acusado confirmou que foram contratos de comodatos
com parentes. Disse que a entrada nos papéis para formação da empresa foi bem antes, mas
acabou ficando pronto apenas alguns dias antes do edital da licitação. Confirmou que
trabalhou para o pai NEUDI antes de montar a empresa para concorrer na licitação do
Município. Questionado pela acusação, disse ter feito empréstimo também para aquisição dos
veículos utilizados no transporte. Disse ter conseguido economizar porque não tinha
despesas, morava com os pais e não costumava gastar. Quando encerrou a empresa, os
veículos que eram seus foram vendidos. Salvo engano, um dos veículos ficou no Município e
o outro foi para o Paraná ​(evento 220, VIDEO1).

No interrogatório, ZENILDE TEREZINHA KARACEK disse que não operava


no transporte em 2014, apenas em 2016. Disse que na época se interessou em uma linha que
era próxima de sua casa e que LAURO era seu esposo, mas em 2014 se separou. Na época, a
acusada possuía uma kombi que comprou exclusivamente para participar da licitação do
transporte escolar. Questionada pela defesa, disse lembrar que a licitação exigia bastante
documento, mas que o contador organizava essa documentação para ela (a acusada). Disse
que o seu escritório de contabilidade era o mesmo que o contador da empresa de seu esposo e
que o contrato da prestação de serviços de transporte escolar foi cumprido até o final. Negou
ter havido combinação dos preços para participar da licitação. Que a inspeção do veículo era
feita em Chapecó/SC. Negou ter vínculos com partidos políticos na época (evento 220,
VIDEO2).

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 102/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

No interrogatório, GILMAR ACHILES MARMENTINI disse que desde 2016


não trabalha mais com transporte escolar. Disse que desde 2003/2004 possuía como atividade
principal o transporte escolar, porém depois tornou-se agente público e deixou de atuar no
transporte escolar. Disse que sempre teve apenas um veículo de transporte escolar, que foi
mudando ao longo dos anos conforme a demanda da linha, pelo número de alunos. Sempre
foi ele próprio o motorista do veículo. Disse que sempre atuou na mesma linha, que é
próxima de sua casa e do colégio, sendo que pelos horários das linhas conseguia trabalhar
também em outra atividade. Em 2014, quando ganhou outras duas linhas, terceirizou o
serviço. Disse que em sua cabeça, naquela situação, era feito um levantamento regional para
apurar o valor que viabilizasse a prestação do serviço. Disse que apesar de a comissão de
licitação fazer pesquisa de preço, os preços do edital não correspondiam ao custo mínimo de
serviço. E que por isso, considerando o valor que seria auferido com o serviço, seu interesse
restringia-se à linha mais próxima de sua residência. Quanto ao preço, disse que para que o
serviço fosse viável financeiramente o preço proposto era sempre o máximo. Disse que em
seu caso específico, como ele mesmo dirigia o veículo, o preço máximo era condizente com a
sua situação, já que a linha na qual operava era próxima de sua residência e permitia com que
mantivesse outra atividade laboral no decorrer do dia. Assim, o valor máximo era o mínimo
necessário para que o acusado pudesse operar. Em relação a 2009, disse que quando começou
a prestar o serviço para o Município, seu veículo já era quitado, porque adquirido em 2002 e
que o valor proposto para 2014 levou em consideração, além do combustível, também a
parcela do veículo que foi sendo trocado no decorrer do contrato. Quanto a 2014, disse ter
sido procurado pela comissão de licitação do Município para pesquisa de preços. Disse que
sua empresa sagrou-se vencedora em três linhas. Cada terceirizado era responsável por todos
os custos das linhas que operavam, inclusive os motoristas, sendo a empresa do acusado
quem mantinha o contrato com o Município. Em relação aos custos tributários, contábeis e
fiscais disse que seus honorários eram descontados e repassados aos terceiros. Destacou que
nas outras duas linhas os motoristas também eram os próprios donos dos veículos,
viabilizando a prestação do serviço. Disse que a questão do valor sempre foi uma briga
constante com o Município para que fosse aumentado. Questionado porque os terceirizados
não participaram diretamente da licitação, o acusado disse que são pessoas que não tinham
CNPJ e assim não poderiam participar e dar lance na linha. Disse que não auferiu ganho real
nas linhas terceirizadas, mas não havendo empresa que tivesse interesse naquelas linhas, estes
dois transportadores, na condição de residentes nas localidades da linha, aceitaram realizar o
5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771
https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 103/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

serviço dessa forma. O acusado, enquanto empresa, prontificou-se a utilizar seu próprio
CNPJ para executar o serviço nestas linhas, mediante terceirizados. Negou ter sido procurado
pelos demais licitantes para combinar valores. Salientou que em 2016 fez proposta para três
linhas, tendo perdido em duas e logrando-se vencedor em apenas uma, o que demonstra que
nunca ocorreu conluio.​​ Pelo que lembra, foi a empresa de um dos MIOTTOS que ganhou as
linhas que também eram de interesse do acusado e acabou perdendo.​​(evento 221, VIDEO1).

Muito embora durante toda a instrução processual os acusados NEUDI JOSÉ


BURATTI, EVERTON MIOTTO BURATTI, GILMAR AQUILES MARMENTINI,
AIRTON SENA MIOTTO, LUIZ ALBERTO MIOTTO, JUCIELI LINK MIOTTO e
ZENILDE TEREZINHA KARACK tenham afirmado ausência de relação entre si, resultou
evidente que, diante de propostas praticamente idênticas, cada uma direcionada para atender
apenas o interesse próprio do licitante proponente de cada item, o ajuste/conluio ocorreu,
denotando concerto de vontades ao atingimento do objetivo de não diminuir os preços
propostos nos tetos máximos dos Editais e permitir que cada qual vencesse no(s)
respectivo(s) item(ns) de interesse, em todos os procedimentos licitatórios.

A conclusão da prática de conluio/combinação entre os acusados, de modo a


garantir o atingimento de ganho máximo em cada um dos itens licitados, em absoluto
prejuízo aos interesses da Administração Pública resta definitivamente demonstrada pelo
acréscimo dos seguintes elementos de prova:

e.1) Absoluta identidade entre as propostas apresentadas por licitantes


distintos

A Controladoria Geral da União apontou que as características de semelhança


na qualidade de impressão (tonalidade/nitidez), nos espaçamentos, nos conteúdos dos
textos, no tipo e no tamanho de caracteres entre as propostas apresentadas por GILMAR
AQUILES MARMENTINI ME e LAURO VALDECIR WALENDORFF ME, da mesma
forma que as propostas apresentadas pelas empresas AIRTON SENA MIOTTO ME e LUIZ
ALBERTO MIOTTO ME continham muitas semelhanças entre si, com destaque para a

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 104/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

numeração e conteúdo da legenda do quadro contendo o valor da proposta, para o igual valor
unitário do km rodado, além do conteúdo e do formato do endereçamento e da descrição do
objeto.

Situação idêntica também é extraída das propostas apresentadas pelas empresas


LUIZ ALBERTO MOTTO ME, AIRTON SENA MIOTTO ME e JL MIOTTO ME,
GILMAR AQUILES MARMENTINI ME, LAURO VALDECIR WALENDORFF ME e
ZENILDE TEREZINHA KARACEK ME no Edital n. 04/2016.

Por fim, do mesmo modo, no Edital n. 04/2017.

Em síntese, trataram-se de propostas idênticas, alterando-se tão somente o item


de interesse de cada uma das empresas. A ver:

Edital n. 01/2014 (evento 1, ANEXO23, pp. 87/91; e ANEXO24, pp. 1/3):

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 105/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 106/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

Edital 04/2016 (ANEXO36, pp. 14/53):

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 107/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 108/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 109/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 110/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 111/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 112/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 113/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 114/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 115/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 116/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 117/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 118/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 119/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 120/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

Edital 04/2017(ANEXO42, pp. 8/21):

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 121/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 122/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 123/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 124/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 125/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 126/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 127/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 128/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

Ademais, os documentos de cada licitação 'quadro comparativo de preços' que


demonstram o fornecedor do serviço por item deixam ainda mais claro o fato de cada um dos
participantes ter apresentado proposta e consequentemente classificado-se exatamente para o
item de seu interesse (evento 1, ANEXO24, pp. 5/9; ANEXO36, pp. 36/41; e ANEXO42, pp.
27/37).

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 129/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

Assim, cada um dos acusados não representava ameaça de concorrência para o


outro, garantindo-se a adjudicação do serviço licitado exatamente conforme pretendido e no
preço máximo do Edital.

Não há dúvida de que a análise de tais documentos reforça a existência de


combinação entre os acusados, para favorecimento de suas respectivas empresas.

No ponto, de suma relevância destacar que é seguro extrair da instrução da


presente ação penal que o Município não forneceu modelos para apresentação das propostas
de preços pelos licitantes. As testemunhas ouvidas neste ponto deixaram claro que, pelo que
lembram, não havia modelo. Além disso, a semelhança entre as propostas ocorre entre grupos
de empresas. Conforme destacado pelo Ministério Público nas alegações finais (evento 232,
pp. 23/26):

No PP 01/2014, observou-se que as propostas apresentadas por GILMAR ACHILES


MARMENTINI e LAURO WALENDORFF (evento 1, ANEXO23, pp. 87 e 89) possuíam o
mesmo formato, da mesma maneira que as propostas apresentadas por AIRTON SENA
MIOTTO e LUIZ ALBERTO MIOTTO ME (evento 1, ANEXO24, pp. 1 e 3). Em relação ao PP
04/2016, as propostas apresentadas por todos os integrantes da família MIOTTO foram
idênticas entre si (evento 1, ANEXO36, pp. 14/15, 22/23 e 25/26), ao passo que as propostas
apresentadas por ZENILDE TEREZINHA KARACEK – ME, LAURO VALDECIR
WALENDORFF – ME e GILMAR ACHILES MARMENTINI – ME apresentaram enorme
semelhança (evento 1, ANEXO36, pp. 20, 28/29 e 31). Por fim, as propostas apresentadas por
AIRTON, JUCIELI e LUIZ ALBERTO MIOTTO no PP 04/2017 também guardam enorme
semelhança (evento 1, ANEXO42, pp. 8-10, 12 e 14). Apesar de referirem-se a procedimentos
licitatórios distintos, o MPF irá tratar dessas semelhanças de forma conjunta, uma vez que os
questionamentos feitos aos réus e às testemunhas por ocasião da audiência foram realizados
indistintamente. Primeiro, é necessário ressaltar que a administração municipal não forneceu
modelos de apresentação de propostas aos licitantes, e isso fica nítido até mesmo ao observar
as propostas apresentadas no mesmo procedimento licitatório: as propostas apresentadas por
GILMAR e LAURO ao PP 01/2014 são idênticas entre si, e as propostas apresentadas por
AIRTON e LUIZ MIOTTO no mesmo procedimento são idênticas entre si, mas, quando
comparados os mencionados grupos, observam-se notáveis diferenças, e a mesma situação –
grupos de propostas em formato idêntico – é observada nas propostas apresentadas aos outros
procedimentos. Ora, se fosse verdade que o município disponibilizaria uma espécie de modelo
para isso, é de se supor que todas as propostas idênticas apresentariam o mesmo modelo –
admitindo-se, por óbvio, que algumas empresas licitantes apresentassem em modelo próprio.
5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771
https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 130/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

Além disso, essa possibilidade foi afastada pelas testemunhas de defesa que trabalharam no
setor de licitação da prefeitura, que disseram, em sua maioria, não recordar de tal
procedimento. A única pessoa que confirmou categoricamente o fornecimento de modelo foi
Alyne Nayara Lammel, que trabalhou no setor de licitação entre 2014 e 2022, e afirmou que
os modelos de propostas eram disponibilizados por meio da inclusão no próprio edital
licitatório, e que era um modelo básico (evento 206, VÍDEO1, 4’40”; 7’25”). Em seguida
esclareceu que esses modelos eram incluídos nos demais editais, mas não tem certeza sobre os
editais de transporte escolar, e ainda que seria incluído na forma de anexo do edital, não
sendo disponibilizado para as empresas de modo informal (evento 207, VÍDEO1). Cabe
destacar que, analisando os editais em tela, em nenhum deles é encontrado qualquer anexo
contendo modelo de apresentação de propostas, reforçando que tal nunca ocorreu. Da mesma
forma, a alegação de que as propostas seriam idênticas por terem sido elaboradas pelo mesmo
escritório de contabilidade também não se sustenta. A testemunha Valdir Dal Magro,
proprietário o escritório de contabilidade CONTAMAIS, e que é contador das empresas dos
integrantes da família MIOTTO, tratou de argumentar que as empresas teriam dificuldade
para apresentar toda a documentação exigida para a participação em licitações, pelo que o
escritório auxiliaria inclusive no preenchimento das propostas, cabendo ao proprietário
apenas a definição do valor e o aporte da assinatura, e que acredita que foi utilizado modelo
disponível no site da prefeitura – o que, como já exposto, não ocorria. Segundo sua versão
inicial, cada empresa seria assessorada por um funcionário diferente da empresa, a fim de
resguardar o sigilo das propostas. Contudo, essa versão não se sustenta, uma vez que as
informações constantes da RAIS indicam que o escritório em questão possuía de 7 a 10
funcionários trabalhando de 2014 a 2016 (evento 228, ANEXO18), o que, obviamente,
impediria tal compartimentação das atividades. Inclusive, após questionamento do MPF, a
própria testemunha afirma que o escritório de contabilidade geralmente auxilia apenas na
obtenção das certidões negativas e demais documentos que precisassem apresentar na
licitação, e que eventualmente algum funcionário poderia auxiliar aquelas empresas que
tivessem dificuldades no preenchimento da proposta, mas não acontecia sempre (evento 199,
EVENTO1, 7’20”). Além disso, ao serem mostradas as propostas apresentadas pelas empresas
(p. 13 da denúncia), Valdir reconheceu que não teria condições de afirmar que as propostas
apresentadas teriam sido elaboradas por seu escritório. Salienta-se, contudo, que, mesmo que
tivessem sido elaboradas pelo escritório, resta evidente – em especial pelos fortes vínculos
pessoais – que isso em nada alteraria o evidente conluio entre os envolvidos, inclusive na
elaboração das propostas. O depoimento do contador Clóvis Romildo Mazzuco (evento 208,
VÍDEO2) é no mesmo sentido, de que o escritório de contabilidade teria um modelo próprio
para a apresentação de propostas em licitações com esse tipo de objeto, e que auxiliava na
obtenção dos documentos e preenchimento da proposta, resguardando o sigilo profissional.
Contudo, da mesma forma que o escritório anterior, trata-se de escritório de contabilidade
com poucos funcionários – de 9 a 13, nos anos de 2014 a 2016 – de modo que é totalmente
5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771
https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 131/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

improvável que cada empresa tenha sido assessorada por pessoas diferentes, especialmente
considerando que todo escritório de contabilidade funciona com funcionários divididos por
vários setores (contábil, pessoal/RH, fiscal etc.). Assim, com tão poucos funcionários, evidente
que, mesmo que tais propostas tivessem sido elaboradas pelos escritórios de contabilidade,
certamente não haveria a preservação de sigilo que se tentou inicialmente demonstrar. Ou
seja, a combinação e montagem conjunta de propostas pelos grupos de licitantes é muito
clara! Em conclusão, resta evidente que existiu conluio entre os supostos concorrentes, ao
ponto de grupos deles terem utilizado um modelo de apresentação de propostas idêntico.

Vale destacar também que não por poucas vezes os acusados NEUDI JOSE
BURATTI e GILMAR ACHILLES MARMENTINI, em seus interrogatórios em juízo
utilizaram expressões do tipo 'cada um com a sua linha; cada um ia na sua linha', referindo-
se que cada participante em perfeita coincidência optava por realizar proposta tão somente
nas linhas que lhe interessavam, justificando que cada um residia mais próximo e/ou já
possuía o hábito de executar tal trajeto.

Esse contexto de alegações reforça absolutamente ainda mais o dolo dos


acusados no cometimento do delito de fraude à licitação, já que os acusados partiam do
princípio de que as linhas do transporte escolar do Município já praticamente lhes pertencia,
especialmente em razão do tempo durante o qual já prestavam tal tipo de serviço para o
Município.

Do mesmo modo, o oferecimento de proposta de preço exatamente no limite do


valor estabelecido pelo Edital, nos interrogatórios, também foi atribuído à 'mera
coincidência'.

Em tal contexto de coincidências tão exatas e uniformes entre si, não há como
atribuir credibilidade às versões trazidas pelas defesas, bem como pelos próprios réus em
seus interrogatórios, de modo que o conjunto de provas produzido é suficiente para concluir
que os acusados, na condição de representantes das empresas licitantes, apresentaram suas
propostas com o objetivo claro de exterminar qualquer possibilidade de concorrência e de
diminuição de preços, direcionando cada item da licitação para um dos participantes,
conforme ajustado previamente, praticando, assim, o crime previsto no artigo 90 da Lei n.
8.666/93 - atualmente artigo 337-F do Código Penal.

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 132/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

Quanto à insistência dos acusados em seus interrogatórios no sentido de que


nunca existiu superfaturamento de preços, e/ou prejuízos à Administração, saliento que o tipo
penal em questão, previsto no no artigo 90 da Lei n. 8.666/93 - atualmente artigo 337-F do
Código Penal, não exige para sua caracterização efetivo prejuízo ao erário, já que o objeto
tutelado pelo tipo em questão é o próprio caráter competitivo do processo licitatório, o que
restou suficientemente provado ter sido prejudicado no caso dos autos.

Do mesmo modo, não se reveste de relevância à caracterização dos fatos


narrados pela denúncia como criminosos a evolução dos preços da forma indicada pelo
Ministério Público Federal, ao passo que de todo modo, é complexa, de fato, a formação do
preço do serviço.

Daí, inclusive, a conclusão da prova pericial produzida pela Polícia Federal não
ser determinante à caracterização da prática do delito imputado aos réus pela denúncia.

Nesse sentido, repiso o capítulo da tipicidade da presente sentença, no qual já se


observou que o delito em tela trata-se de crime formal, dispensando a efetivação do dano ao
erário para sua consumação. Nesse sentido: '[...] o delito descrito no art. 90 da Lei n.
8.666/1993, é formal, bastando para se consumar a demonstração de que a competição foi
frustrada, independentemente de demonstração de recebimento de vantagem indevida pelo
agente e comprovação de dano ao erário.' (HC 341.341/MG, Rel. Ministro JOEL ILAN
PACIORNIK, QUINTA TURMA, julgado em 16/10/2018, DJe 30/10/2018).

Nesse mesmo sentido:

PENAL E PROCESSUAL PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO


ESPECIAL. FRAUDE À LICITAÇÃO. NULIDADES. SUSTENTAÇÃO ORAL. AUSÊNCIA DE
PERÍCIA GRAFOTÉCNICA. NÃO OCORRÊNCIA. AUSÊNCIA DE DOLO ESPECÍFICO.
DOSIMETRIA. PROPORCIONALIDADE COM A GRAVIDADE DO CASO. AGRAVO
DESPROVIDO. 1. "O julgamento monocrático pelo relator não implica em cerceamento de
defesa por eventual supressão do direito do patrono de realizar sustentação oral, sendo de
todo inviável a sustentação em sede de agravo regimental, nos termos do artigo 159 do
Regimento Interno desta Corte." (AgRg nos EDcl no REsp 1.716.971/SC, Rel. Ministra MARIA
THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 20/03/2018, DJe 27/03/2018). 2.
Nos termos do art. 400, § 3º, do CPP, as provas podem ser indeferidas pelo juiz quando
5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771
https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 133/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

consideradas irrelevantes, impertinentes ou protelatórias. 3. A Corte local conclui que houve


atuação fraudulenta do Prefeito, indicando vários elementos que comprovam a tese. Súmula n.
7/STJ. 4. Ademais, "diversamente do que ocorre com o delito previsto no art. 89 da Lei n.
8.666/1993, o art. 90 desta lei não demanda a ocorrência de prejuízo econômico para o poder
público, haja vista que o dano se revela pela simples quebra do caráter competitivo entre os
licitantes interessados em contratar, ocasionada com a frustração ou com a fraude no
procedimento licitatório. De fato, a ideia de vinculação de prejuízo à Administração Pública é
irrelevante, na medida em que o crime pode se perfectibilizar mesmo que haja benefício
financeiro da Administração Pública." (REsp 1.484.415/DF, Rel. Ministro ROGÉRIO
SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 15/12/2015, DJe 22/02/2016). 5. Em regra, o
recurso especial "não se presta (...) à revisão da dosimetria da pena estabelecida pelas
instâncias ordinárias." (AgRg no REsp 1.217.998/SC, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA
TURMA, julgado em 02/02/2016, DJe 15/02/2016). Na hipótese dos autos, a pena está
compatível com a gravidade e extensão do crime praticado. 6. Agravo regimental não provido.
(AgRg no REsp 1563167/SC, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em
23/08/2018, DJe 03/09/2018)

O conluio para frustrar o caráter competitivo do procedimento licitatório não


necessariamente acarretará inexistência de prestação de serviço ou entrega de bem (TRF4,
ACR 5000163-40.2010.4.04.7001, OITAVA TURMA, Relator LEANDRO PAULSEN,
juntado aos autos em 21/08/2019).

Logo, as alegações defensivas no sentido de inexistência de qualquer dano e/ou


prejuízo ao erário não são suficientes para descaracterizar a prática do delituosa pelos
acusados.

e.2) Criação da pessoa jurídica EVERTON BURATTI ME

Não obstante a origem da representação pelo então vereador Ivandro Bigolin


tenha priorizado a questão da proibição de contratação de vereadores para prestação de
serviços ao Município de São Domingos (situação que então dizia respeito aos acusados
NEUDI JOSÉ BURATTI e GILMAR ACHILES MARMENTINI), o fato é que a proibição
por si só não caracterizaria o crime imputado aos réus pela denúncia.

Não se olvida de que assiste razão às defesas quando afirmam que inclusive tal
proibição de contratação era objeto de controvérsia na doutrina e na jurisprudência.
5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771
https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 134/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

No entanto, independente de tal condição, o fato é que está caracterizada a


prática dos delitos imputados aos réus NEUDI JOSÉ BURATTI, EVERTON MIOTTO
BURATTI, GILMAR AQUILES MARMENTINI, AIRTON SENA MIOTTO, LUIZ
ALBERTO MIOTTO, JUCIELI LINK MIOTTO e ZENILDE TEREZINHA KARACK pelo
conluio/ajuste para frustrar e fraudar o caráter competitivo das licitações do transporte
escolar, independente de terem sido ocupantes à época do cargo de vereador. Em síntese, para
a presente ação penal tal condição não guarda relevância. Em sentido oposto, contudo,
reveste-se de total relevância o fato de terem contratado com a Administração Pública da
forma na qual perfectibilizadas as licitações dos Editais n. 01/2014, 04/2016 e 04/2017.

Por outro lado, a condição de vereadores de NEUDI e de GILMAR esclarece e


permite melhor compreensão do contexto fático no qual ocorreram os delitos descritos pela
denúncia, bem como a relação que permite estabelecer a responsabilidade penal de
NEUDI JOSÉ BURATTI, inclusive pela prática criminosa em relação aos Editais n. 04/2016
e n. 04/2017, por intermédio da pessoa jurídica criada em nome de EVERTON MEOTTI
BURATTI ME. Explico.

A denúncia inicialmente já havia destacado que a empresa EVERTON MEOTTI


BURATTI ME foi criada dois dias após o lançamento do Edital n. 04/2016.

Ademais, a instrução não deixou dúvidas, tratando-se de fato incontroverso na


presente ação penal, que a licitação do Edital n. 04/2016 foi realizada tão somente em razão
de o Ministério Público Estadual ter recomendado ao Município de São Domingos que não
realizasse a contratação de empresas de titularidade de vereadores para prestação de serviços
para o Município (Recomendação n. 16/2015, de 14/12/2015 - evento 1, ANEXO37, pp.
69/95).

Além disso, no decorrer da instrução, tenho que não restou suficientemente


esclarecido pelas defesas dos acusados NEUDI e EVERTON BURATTI (pai e filho) a
regularidade da criação da empresa registrada em nome de EVERTON que passou a atuar
exatamente nas mesmas linhas de transporte que anteriormente eram operadas pela empresa
de seu genitor NEUDI, sendo que NEUDI deixou de fazê-lo contrariado, por motivos alheios

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 135/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

a sua própria vontade, quando notificado pelo Ministério Público Estadual, inclusive, acerca
da imoralidade da contratação de sua própria empresa pela Administração Pública, na
qualidade de ocupante de cargo de Vereador e de Presidente da Câmara.

Os elementos constantes dos documentos das pessoas jurídicas NEUDI JOSÉ


BURATTI ME e EVERTON MEOTTI BURATTI ME indicam a existência de confusão entre
as referidas empresas: i) NEUDI e EVERTON são pai e filho, tendo EVERTON pouco mais
de 20 anos à época dos fatos; ii) os veículos e os motoristas que permaneceram operando no
transporte escolar do Município, quando da adjudicação de parte do edital pela empresa de
EVERTON foram em sua maioria os veículos que já eram utilizados pela empresa de
NEUDI; iii) EVERTON figurou como empregado de seu pai NEUDI entre os anos de 2011 a
2015, em períodos intercalados, percebendo renda potencialmente baixa para justificar a
criação de sua própria empresa no ano de 2016, exatamente quando veio à tona a proibição de
seu pai permanecer contratando com o Município.

Mais uma vez o conjunto de elementos probatórios produzidos nos autos não
deixa dúvidas de que a empresa de EVERTON foi utilizada por NEUDI para viabilizar sua
permanência na prestação de serviços de transporte escolar ao Município mediante a prática
de ajuste de preços e de propostas com o objetivo de frustrar a competição dos editais de
licitação e adjudicar os serviços exatamente da maneira ajustada entre as empresas de
titularidade dos acusados na presente ação penal.

No entanto, verifico que a acusação limitou a imputação de NEUDI apenas aos


Editais n. 01/2014 e 04/2016, não sendo possível ampliar a imputação na presente etapa
processual, ao passo que não submetida ao debate entre as partes, devendo ser limitada,
portanto, aos Editais n. 04/2014 e n. 04/2016.

No ponto, vale acrescentar que poderiam as defesas ter facilmente trazido aos
autos provas contundentes da efetiva criação da empresa de EVERTON MEOTTI, a exemplo
dos contratos de financiamentos bancários que EVERTON disse ter contratado para a
aquisição de veículos pela sua empresa, em seu interrogatório. No entanto, nada foi juntado
aos autos.

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 136/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

Vale constar que tal ônus da prova, de fácil produção, competiria à defesa (CPP,
art. 156) - que simplesmente não o fez. A propósito, 'É ônus da defesa demonstrar de maneira
concreta a tese invocada em seu favor, bem como sua verossimilhança (CPP, art. 156). A
mera negativa de dolo e de participação do delito, dissociada do farto e
coeso conjunto probatório produzido nos autos demonstrando exatamente o contrário, impõe
a condenação do réu'. Nesse sentido: TRF4, ACR 5060767-57.2016.4.04.7000, SÉTIMA
TURMA, Relatora CLÁUDIA CRISTINA CRISTOFANI, juntado aos autos em 04/12/2019.

e.3) Confusão entre as empresas AIRTON SENA MIOTTO EIRELE ME,


LUIZ ALBERTO MIOTTO ME e JL MIOTTO TRANSPORTE ME

Por sua vez, quanto à alegada confusão entre as pessoas físicas e jurídicas
relacionadas às empresas AIRTON SENA MIOTTO EIRELE ME, LUIZ ALBERTO
MIOTTO ME e JL MIOTTO TRANSPORTE ME, pertencentes respectivamente aos
acusados AIRTON SENA MIOTO, LUIZ ALBERTO MIOTTO e JUCIELI LINCK
MIOTTO, necessário tecer as seguintes considerações.

É incontroverso nos autos que AIRTON SENA e LUIZ ALBERTO são irmãos e
que JUCIELI LINK é esposa de LUIZ.

Também restou incontroverso, porquanto reconhecido pelos réus em seus


interrogatórios que todas as três empresas (AIRTON SENA MIOTTO EIRELE ME, LUIZ
ALBERTO MIOTTO ME e JL MIOTTO TRANSPORTE ME), atuantes no ramo do
transporte escolar, foram constituídas utilizando-se para fins de cadastro e registro formal o
endereço residencial dos acusados, que eram todos os três vizinhos entre si e moradores do
interior de São Domingos, residentes na Linha Consoladora.

O simples olhar para as propostas apresentadas pelas empresas AIRTON SENA


MIOTTO EIRELE ME, LUIZ ALBERTO MIOTTO ME e JL MIOTTO TRANSPORTE ME,
conforme já indicado no item 'd.1', já demonstra a existência de identidade entre elas.

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 137/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

Ademais, restou constatado por visita in loco realizada pela Controladoria Geral
da União que as três empresas funcionavam no mesmo endereço, além de compartilhar o
mesmo estacionamento. A constatação foi objeto de registro fotográfico pela CGU (IPL
n. 50024411220184047202, evento 1, INQ4, pp. 12/13).

Outro ponto de suma relevância constatado pela Controladoria Geral da União


foi que AIRTON SENA constou como empregado da empresa de seu irmão LUIZ ALBERTO
em três períodos: 01/09/2009 a 28/09/2010; 01/04/2012 a 13/05/2013 e 01/08/2014 a
07/10/2015 (IPL n. 50024411220184047202, evento 1, INQ4, pp. 12/13).

No interrogatório em juízo, AIRTON SENA MIOTTO confirmou ser aquele


local, registrado em fotografia pela CGU, o imóvel de sua residência e que nas proximidades
também residem seu irmão LUIZ ALBERTO e a esposa JUCIELI.

Nos depoimentos em juízo, AIRTON SENA e LUIZ ALBERTO tentaram


justificar a contratação de AIRTON como empregado, alegando que, por vezes, AIRTON
prestava serviços de motorista para a empresa do irmão, de maneira eventual, mas que o
vínculo teria sido registrado em função da obrigatoriedade do Município.

Por sua vez, quanto aos preços e propostas idênticas, em síntese, as defesas de
AIRTON, LUIZ e JUCIELI afirmam que compartilhavam dos mesmos serviços de
contabilidade, sendo os contadores os responsáveis pela preparação da documentação, sendo
por tal motivo, de formatação semelhante. Quanto ao preço, aduziram que se tratou de mera
coincidência, negando o ajuste prévio.

As justificativas dadas pelas defesas para explicar a identidade das propostas e


dos preços apresentados nas licitações não merecem credibilidade, não tendo sido suficientes
para afastar a conclusão de que, de fato, a identidade nas propostas, nos preços no limite do
teto dos Editais e a inexistência de concorrência deu-se, na realidade, em decorrência do
ajuste perpetrado entre os acusados para frustrar a concorrência das licitações.

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 138/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

Vale destacar que os depoimentos das testemunhas arroladas pelas defesas de


AIRTON, LUIZ e JUCIELI foram todos evasivos, sem precisar o local de funcionamento das
respectivas empresas de cada um dos acusados.

No ponto, tenho que assiste razão à acusação quando afirma que a justificativa
de AIRTON SENA de que teria prestado serviços à empresa de seu irmão para substituir
motoristas, bem como em atenção à exigência do próprio Município, de anotação de CTPS,
também não pode ser acolhida, diante da existência de uma contratação cruzada, de forma
que a pessoa física de AIRTON foi contratada pela pessoa jurídica de titularidade de seu
irmão, LUIZ, inclusive em períodos coincidentes. Tal situação denota que as empresas eram
administradas de forma conjunta e que os irmãos atuavam indiscriminadamente como
motoristas de uma e de outra empresa.

Outrossim, merece também destaque que, não obstante JUCIELI ter afirmado
que não lembrava desse fato em seu interrogatório, a prova documental demonstra que LUIZ
ALBERTO também foi registrado como empregado da empresa JL MIOTTO
TRANSPORTES, de titularidade de JUCIELI, entre 2013 e 2014 (evento 228, ANEXO12).

JUCIELI, por sua vez, foi empregada das empresas AIRTON SENA EIRELI
nos anos de 2008 e 2009 e LUIZ ALBERTO MIOTTO nos anos de 2010 a 2015 (evento 228,
ANEXO9).

Seria no mínimo estranho JUCIELI não recordar de sua própria contratação


pela empresa de seu cunhado, por período tão significativo.

Tal contexto de vínculos empregatícios, somado à identidade das propostas


apresentadas pelas empresas da família MIOTTO, bem como à identidade de endereços não
deixa qualquer dúvida acerca da confusão existente entre as empresas e que, sem sombra de
dúvidas, participaram todos os três acusados do ajuste para estabelecer os preços e os itens de
participação das licitações dos Editais n. 01/2014, 04/2016 e 04/2017 do Município de São
Domingos, com a clara intenção de manterem-se atuantes no transporte escolar no qual já
vinham atuando há anos, e com a intenção de garantir tal prestação de serviços pelo preço
máximo que seria pago pela Prefeitura.

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 139/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

Note-se que, mais uma vez, poderiam os réus ter facilmente trazido aos autos as
notas fiscais/recibos de prestação de serviços aos veículos das empresas de AIRTON, de
LUIZ e de JUCILEI, conforme alegaram as testemunhas arroladas pela defesa, no sentido de
que os serviços de cada uma das empresas era contratado de maneira isolada. Nada disso veio
aos autos.

Vale constar que tal ônus da prova, de fácil produção, competiria à defesa (CPP,
art. 156) - que simplesmente não o fez. A propósito, 'É ônus da defesa demonstrar de maneira
concreta a tese invocada em seu favor, bem como sua verossimilhança (CPP, art. 156). A
mera negativa de dolo e de participação do delito, dissociada do farto e
coeso conjunto probatório produzido nos autos demonstrando exatamente o contrário, impõe
a condenação do réu'. Nesse sentido: TRF4, ACR 5060767-57.2016.4.04.7000, SÉTIMA
TURMA, Relatora CLÁUDIA CRISTINA CRISTOFANI, juntado aos autos em 04/12/2019.

e.4) Vínculo existente entre ZENILDE KARACEK e


LAURO WALLENDORF

Como visto, no interrogatório em juízo, ZENILDE confirmou ter sido casada


com LAURO, afirmando porém que o casal teria divorciado-se em 2014.

Também como já visto, as propostas apresentadas por ZENILDE e


LAURO no edital n. 04/2016 eram praticamente idênticas, assim como as propostas
apresentadas por GILMAR AQUILES MARMENTINI ME.

Outrossim, como bem destacado pelo Ministério Público Federal em alegações


finais (evento 232), ZENILDE mencionou no interrogatório em juízo que passou a atuar no
transporte escolar apenas no ano de 2016, como forma de obter renda extra (evento 220,
VIDEO2). No entanto, a pessoa jurídica ZENILDE KARACEK ME iniciou suas atividades
no transporte no ano de 2005 (evento 228, ANEXO16), possuindo empregado no ano de 2006
registrado como motorista de ônibus urbano.

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 140/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

Tal desencontro de informações, somado aos demais elementos já indicados na


presente sentença, permitem a conclusão indene de dúvidas de que ZENILDE também atuou
na combinação de preços e de itens entre os participantes da licitação do Edital n. 04/2016,
inclusive junto ao então ex-marido LAURO.

A punibilidade de LAURO VALDECIR WALENDORFF, contudo, foi extinta,


em razão da notícia de seu óbito.

Por fim, cumpre registrar que não obstante nas alegações finais o Ministério
Público Federal tenha requerido a condenação de ZENILDE TEREZINHA pela prática do
crime do artigo 90 da Lei n. 8.666/93 por duas vezes, observo que dos documentos juntados
aos autos é possível concluir que a ré participou tão somente do processo licitatório do Edital
n. 04/2016.

e.5) Autoria de ALCIMAR DE OLIVEIRA

Também não há dúvida quanto à autoria de ALCIMAR DE OLIVEIRA em


relação aos Editais n. 01/2014 e 04/2016.

Destaque-se que foi o acusado ALCIMAR DE OLIVEIRA - Prefeito Municipal


de São Domingos à época dos fatos - quem assinou a Autorização para Abertura de Processo
Administrativo de Licitação em ambos os processos, bem como o Termo de Adjudicação e
Homologação do Processo Licitatório n. 04/2016 (evento 1, ANEXO23, p. 5; ANEXO35, p.
4; eANEXO37, pp. 63/67).

Na condição de Chefe do Poder Executivo Municipal de São Domingos/SC, em


um Município com pouco mais de 9.000 habitantes à época dos fatos (IPL, evento 1, INQ4,
p. 2), é evidente que o réu ALCIMAR era quem tinha o domínio do fato, ou seja, foi quem
autorizou a deflagração e, ao assinar os documentos que adjudicaram e homologaram o
procedimento, conscientemente, ou, no mínimo, com dolo eventual, diante da evidência de
ajuste/combinação/conluio entre as empresas licitantes, que participaram cada uma delas
apenas na linha de seu estrito interesse e no preço máximo lançado pelo edital, chancelou
a participação dessas no certame para fraudarem o caráter competitivo da licitação.

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 141/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

Destaque-se que o Código Penal pátrio adota o conceito extensivo de autor,


prevalecendo, quanto à distinção entre autoria e participação, a teoria do domínio do fato
(objetivo-subjetiva), pela qual "a característica geral do autor é o domínio final sobre o
fato" (GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal. Parte Geral. 9. ed. Rio de Janeiro: Impetus,
2007. p. 434).

Segundo a Teoria do Domínio do Fato (desenvolvida, inicialmente, por Welzel e


aprimorada por Roxin), "autor é quem domina finalmente a realização do fato, isto é, decide,
em linhas gerais o "se" e "como" de sua realização. Esse conceito, apesar de vago, é o mais
apto para delimitar quem é o autor e quem é o partícipe, porque, por mais difícil que seja, às
vezes, precisar em cada caso quem domina realmente o acontecimento delitivo, é evidente
que só quem tenha a última palavra e decida se o delito deve ser ou não praticado deve ser
considerado autor" (CONDE, Francisco Muñoz. Teoria Geral do Delito. Trad. de Juarez
Tavares e Luiz Régis Prado. Porto Alegre: SAFe, 1988, p. 196-200).

Nesta ordem de ideias, impõe-se reconhecer que, no exercício do cargo de


Prefeito Municipal de São Domingos/SC, ALCIMAR DE OLIVEIRA estava ciente da
ilicitude que cometia, tendo concorrido diretamente para a consecução do esquema
fraudulento dos procedimentos licitatórios do transporte escolar do Município.

Reforçando a plena ciência do então prefeito ALCIMAR quanto à combinação e


ajustes pelos participantes das licitações, de modo a frustrar o caráter competitivo do
procedimento licitatório, salta aos olhos a constatação de que o Edital n. 01/2014
simplesmente deixou de estabelecer uma limitação para idade da frota dos veículos que iriam
prestar serviços de transporte ao Município.

Ora, tratando-se de um edital específico para a adjudicação de serviços de


transporte, não se olvida que é imprescindível o estabelecimento de uma data máxima de uso
para os veículos poderem prestar serviços à Administração, como forma de garantir inclusive
a eficiência na prestação desses serviços (Constituição Federal, artigo 37, caput).

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 142/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

Ocorre que restou suficientemente comprovado nos autos que o Edital n.


01/2014 deixou de estabelecer previsão relacionada ao ano de fabricação dos veículos,
abrindo espaço para que então veículos de até 12 (doze) anos de uso estivessem hábeis a
executar os serviços, quando a orientação do Governo Federal no ponto específico é de que
os veículos não tivessem mais de 7 (sete) anos de uso (evento 1, OUT8, p. 36).

No interrogatório em juízo, ALCIMAR DE OLIVEIRA questionado


especificamente sobre a data de uso dos veículos, não soube esclarecer, confirmando, no
entanto, que foram praticamente as mesmas empresas que seguiram prestando serviço de
transporte ao Município, como já vinham prestando (evento 213, VIDEO, 4'15").

Isso tudo, aliado ao fato de que o próprio prefeito reconheceu que eram poucos
os servidores atuantes no Município, que era pequeno, tenho que não restam dúvidas de que
ALCIMAR agiu, no mínimo, com dolo eventual ao confirmar os prestadores de serviço que
adjudicaram os itens sem qualquer indicativo de concorrência entre eles no decorrer dos
pregões n. 01/2014 e 04/2016.

Outrossim, em relação às alegações de afastamento pelas férias, tenho que o


curto período de afastamento do cargo pelo então prefeito, conforme alegado pela defesa de
15/01/2014 a 03/02/2014, não tem o condão de afastar as conclusões já alcançadas acerca de
sua responsabilidade criminal, especialmente considerando-se que o acusado foi o
responsável pela assinatura de todos os contratos resultantes da licitação do Edital n.
01/2014: i) Contrato Prefe n. 008, de 10 de fevereiro de 2014 (ANEXO24, pp. 80/86); ii)
Contrato Prefe n. 10, de 10 de fevereiro de 2014 (ANEXO25, p. 40/44); iii) Contrato Prefe n.
009, de 10 de fevereiro de 2014 (ANEXO25, p. 66/70); iv) Contrato Prefe n. 01, de 10 de
fevereiro de 2014 (ANEXO25, p. 86/87; e ANEXO26, pp. 1/3).

A robustez da prova produzida e encartada na presente ação penal não deixa


dúvidas quanto ao dolo dos réus NEUDI JOSÉ BURATTI, EVERTON MIOTTO BURATTI,
GILMAR AQUILES MARMENTINI, AIRTON SENA MIOTTO, LUIZ ALBERTO
MIOTTO, JUCIELI LINK MIOTTO, ZENILDE TEREZINHA KARACK e ALCIMAR DE
OLIVEIRA, porquanto a caracterização do ajuste e da combinação dos preços e das
propostas não permitem crer que tenham agido de boa-fé, inferindo-se, pelo contrário, que

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 143/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

atuaram em conluio para obtenção de vantagens para si e para outrem, decorrentes da


adjudicação do objeto da licitação especificamente pelo preço máximo do Edital, bem como
única e exclusivamente em item(ns) de interesse próprio. Ainda que assim não fosse, não há
como negar que, na melhor das hipóteses, a postura dos réus caracteriza dolo eventual.

Neste contexto, entendo que o conjunto de provas é suficiente para concluir que
empresas licitantes apresentaram suas propostas com o objetivo claro de aumentar os preços
dos serviços, anulando qualquer concorrência e direcionando cada item para um dos
participantes e deixando claro que os acusados todos arquitetaram a simulação de uma
concorrência que, na verdade, nunca existiu, caracterizando, sem sombra de dúvidas a prática
do delito do artigo 90 da Lei n. 8.666/93 (atual crime do art. 337-F do Código Penal).

A propósito, reconhecendo exatamente a prática do delito de fraude à licitação,


colaciono jurisprudência do Tribunal Regional Federal da 4ª Região em caso análogo:

DIREITO PENAL. VALIDADE DE PROVAS INDEPENDENTES DE MÍDIA DIGITAL


OBTIDA ILICITAMENTE. ESTELIONATO. PREJUÍZO ALHEIO NÃO COMPROVADO.
ABSOLVIÇÃO. FRAUDE AO CARÁTER COMPETITIVO DA LICITAÇÃO. ART. 90 DA LEI N.
8.666/93. ATUAL ART. 337-F DO CÓDIGO PENAL. CONDENAÇÃO. CIRCUNSTÂNCIAS
DO CRIME. LICITAÇÕES NA ÁREA DE EDUCAÇÃO. VETORIAL NEGATIVA. RECURSO
DA ACUSAÇÃO PARCIALMENTE PROVIDO. 1. Da análise do inquérito civil e da
representação criminal no âmbito do Ministério Público Estadual do Rio Grande do
Sul, infere-se que houve diligências apartadas do dispositivo de mídia digital
(pen drive) reputado ilícito, e as providências seguintes foram naturais em face do conteúdo
das informações prestadas pelo denunciante perante o Parquet estadual. 2. Ademais, não
houve utilização, de fato, do conteúdo do pen drive tanto no inquérito civil quanto no
procedimento criminal, ou mesmo na denúncia oferecida pelo MPF, pois em nenhum momento
foi usada ou mesmo mencionada a prova contida no dispositivo. 3. Assim, resta acolhido o
pedido do MPF para afastar a declaração de nulidade de toda a prova, reputando válidas
aquelas que aportaram aos autos de forma independente em razão das diligências
investigativas empreendidas na origem. 4. Comprovado nos autos que os réus, membros da
mesma família, intencionalmente uniram esforços para cometer diversas fraudes em
contratações realizadas pelo município de Alvorada, demonstrando-se, sem sombra de dúvida,
que se tratava de esquema arquitetado pelos réus para figurar formalmente como se
fossem concorrentes, tanto nas contratações diretas quanto nos procedimentos licitatórios,
simulando uma competição que, na verdade, não existia. 5. O "prejuízo alheio" como elemento

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 144/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

do art. 171 do CP deve ser patrimonial e objetivamente comprovado, e não apenas


vislumbrado pela ausência de lisura nas contratações das empresas dos réus. 6. No caso do
fato 01 da denúncia, não foi especificada em quais contratações o município foi prejudicado
nem qual foi a perda financeira ocasionada pela contratação direta dessas empresas, logo,
ausente o elemento normativo do tipo penal, a absolvição dos réus quanto ao crime de
estelionato é medida que se impõe. 7. Quanto aos fatos 2 e 3, o agir dos réus com vistas a
fraudar o caráter competitivo dos procedimentos licitatórios, com o intuito de obter, para si,
vantagem decorrente da adjudicação dos objetos dos certames, foi sobejamente comprovado,
pelo que devem ser condenados pela prática do crime previsto no art. 90 da Lei n. 8.666/1993
(atual art. 337-F do CP). 8. Na dosimetria, as circunstâncias dos crimes são graves, já que as
fraudes ocorreram em área extremamente sensível, qual seja, a educação pública, pelo que
não há como considerar que essa violação tem a mesma gravidade que qualquer outro
procedimento licitatório fraudulento, merecendo maior reprovação. 9. Recurso do MPF a que
se dá parcial provimento para afastar a aplicação da Teoria dos frutos da árvore envenenada,
reconhecendo a validade das provas independentes colhidas na investigação sem vinculação
àquela reputada ilícita na origem, e para condenar os réus pela prática do crime previsto no
art. 90 da Lei nº 8.666/1993 (atual art. 337-F do CP), por duas vezes (fatos 02 e 03), em
concurso material, mantendo-se a absolvição quanto ao estelionato (fato 1). (TRF4, ACR
5064012-96.2018.4.04.7100, SÉTIMA TURMA, Relator DANILO PEREIRA JUNIOR, juntado
aos autos em 25/05/2023).

f) Autoria/Dolo em relação aos acusados ANA CLAUDIA


BARIZON FONTANA DA LUZ, LUIZ HENRIQUE MASETO ZANOVELLO e
PAULA NATANA CAMACHIO

Em seus interrogatórios, os réus ANA CLAUDIA BARIZON FONTANA DA


LUZ, LUIZ HENRIQUE MASETO ZANOVELLO e PAULA NATANA CAMACHIO
negaram ter participado dos fatos, afirmando que atuaram em suas funções, conforme lhes foi
designado para tanto, praticando tão somente atos formais no decorrer dos processos
licitatórios (eventos 215 e 216).

Nos termos do artigo 29 do Código Penal, responde pela prática do


crime quem de qualquer modo concorre para sua prática.

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 145/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

No caso dos autos, a acusação inicialmente incluiu os acusados ANA


CLAUDIA BARIZON FONTANA DA LUZ, LUIZ HENRIQUE MASETO ZANOVELLO e
PAULA NATANA CAMACHIO na denúncia em razão de suas potenciais participações no
delito de fraude à licitação relacionado ao Edital n. 04/2016.

No entanto, na instrução, não restou suficientemente comprovado que os três


acusados tenham efetivamente atuado na prática delituosa de fraude ao procedimento
licitatório, restando, no mínimo, fortes dúvidas de que tenham, de fato, agido dolosamente
para a concretização dos delitos.

A propósito, de acordo com a síntese trazida aos autos nas alegações finais do
Ministério Público Federal, a absolvição de ANA CLAUDIA BARIZON FONTANA DA
LUZ, LUIZ HENRIQUE MASETO ZANOVELLO e PAULA NATANA CAMACHIO
também foi requerida pela acusação (evento 232):

Em adição a todo o apontado na inicial acusatória, a instrução, especialmente a audiência,


logrou demonstrar elementos adicionais de materialidade e autoria em relação aos réus, além
do elemento subjetivo dolo em relação a grande parte dos acusados.

Contudo, constatou-se inocorrência de dolo, mas sim de culpa – mesmo que grave –, em
relação aos agentes públicos ANA CLÁUDIA BARIZON FONTANA DA LUZ, LUIZ
HENRIQUE MASETO ZANOVELLO e PAULA NATANA COMACHIO. [...] Quanto à
participação dos agentes públicos, necessário fazer uma diferenciação. ALCIMAR, do que
todo o exposto nos autos, obviamente detinha conhecimento e poder sobre todo o conluio
estabelecido entre os licitantes, especialmente aqueles que eram vereadores do mesmo partido
pelo qual ALCIMAR foi prefeito. Ademais, ALCIMAR realizou pessoalmente a autorização de
abertura do procedimento, a assinatura dos contratos, bem como a celebração dos aditivos
contratuais. Especificamente quanto ao PP 04/2016, ALCIMAR DE OLIVEIRA realizou
pessoalmente a autorização de abertura do procedimento e a homologação do procedimento
licitatório, em que pese houvesse recomendação do Ministério Público estadual apontando a
ilegalidade dos contratos firmados com vereadores, mesmo que de forma dissimulada, bem
como procedeu à assinatura dos contratos. Além disso, era da Administração, na pessoa de
ALCIMAR, a decisão de, em todos os anos, criar verdadeira “urgência fabricada”, deixando a
publicação do edital de contratação de transporte escolar para momento em que já não seria
mais possível cancelar a licitação – o que causaria grave prejuízo aos estudantes atendidos.
Tal constatação, quanto à opção em postergar a publicação do edital com vistas a impedir

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 146/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

qualquer ação tendente a burlar o conluio entre os licitantes, pode ser extraída do depoimento
de ANA CLÁUDIA BARIZON, pregoeira na licitação de 2014, a qual respondeu
expressamente que, quanto às irregularidades apontadas pela CGU, especialmente o fato de
que, para cada linha se habilitou apenas 1 dos licitantes, ficou frustrada, mas como os
licitantes estavam atendendo ao preço máximo, e diante da iminência do início do ano letivo,
preferiu deixar os licitantes classificados e mandar o procedimento para análise da assessoria
jurídica (evento 215, VÍDEO1, 5’05”). PAULA NATANA, pregoeira no procedimento
licitatório de 2016, da mesma forma responde que, por ser o transporte público um serviço de
natureza contínua, em que não haveria prazo hábil para abrir nova licitação, a flexibilização
para entrega de documentos foi a forma encontrada para impedir que as crianças ficassem
sem transporte escolar (evento 216, VÍDEO1). Da mesma forma, os elementos colhidos em
audiência denotam que o assessor jurídico LUIZ também atuou – no mínimo – nos limites da
legalidade, ao afirmar que não vislumbrou nenhuma hipótese legal de impedimento de
participação de um licitante filho de vereador – em evidente e flagrante simulação –, da
mesma forma que não poderia impedir a participação de uma empresa pelo simples fato de se
realizar terceirização da prestação dos serviços. Contudo, de todo o quanto se extrai da
instrução processual, não se vislumbram elementos robustos o suficiente para imputar a eles o
elemento subjetivo dolo. Importa destacar que não se está dizendo que tais agentes não
tenham agido com culpa (grave) e com extrema negligência. Mas, dos seus interrogatórios e,
principalmente, diante da clara atuação de ALCIMAR visando criar uma constante situação
de urgência, para que não houvesse tempo hábil para maiores questionamentos acerca da
licitude e regularidade das situações identificadas pelos demais agentes públicos, e diante da
iminência do início do ano letivo, todos parece que acabaram optando por dar continuidade
ao procedimento licitatório, diante do risco . Assim, ao tempo em que mostra-se evidente o
dolo e o conluio de ALCIMAR na frustração do caráter competitivo das licitações, o mesmo
não se pode falar – ao menos com a certeza necessária a uma condenação criminal – dos
demais agentes públicos. Dessa forma, diante da ausência de elementos robustos de dolo em
relação a ANA CLÁUDIA BARIZON FONTANA DA LUZ, LUIZ HENRIQUE MASETO
ZANOVELLO e PAULA NATANA COMACHIO, o Ministério Público Federal requer a
absolvição, nos termos do art. 386, IV, do CPP.

Portanto, tenho que não havendo prova suficiente da efetiva participação na


fraude perpetrada, nem mesmo acerca do respectivo dolo por parte dos acusados ANA
CLAUDIA BARIZON FONTANA DA LUZ, LUIZ HENRIQUE MASETO ZANOVELLO e
PAULA NATANA CAMACHIO, devem ser absolvidos, com fundamento no art. 386, VII, do
Código de Processo Penal.

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 147/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

g) Ilicitude e culpabilidade em relação aos réus NEUDI JOSÉ BURATTI,


EVERTON MIOTTO BURATTI, GILMAR AQUILES MARMENTINI, AIRTON
SENA MIOTTO, LUIZ ALBERTO MIOTTO, JUCIELI LINK MIOTTO, ZENILDE
TEREZINHA KARACK e ALCIMAR DE OLIVEIRA. Teses defensivas. Conclusão.

As defesas dos réus descritos em epígrafe não sustentaram teses defensivas


relacionadas à exclusão da ilicitude, tampouco da culpabilidade.

Inexistem causas que excluam a ilicitude da conduta.

Para que haja a imposição de reprimenda penal cominada ao tipo, consequência


do crime praticado pelos réus, necessária a avaliação de sua culpabilidade, consubstanciada
na imputabilidade, potencial consciência da ilicitude e exigibilidade de conduta diversa.

A imputabilidade consiste na aferição da capacidade do réu de entender o


caráter ilícito do fato e de determinar-se de acordo com este entendimento. O agente deve ter
condições físicas, psicológicas, morais e mentais de saber que está realizando um ilícito penal
e também deve ter totais condições de controle sobre sua vontade.

A consciência da ilicitude, conforme entendimento doutrinário, não precisa ser


efetiva, bastando por si que seja potencial, ou seja, o suficiente para que haja a conclusão
certa de que o réu, ao praticar o crime, tinha possibilidade de saber que realizava algo errado
ou injusto, de acordo com o meio social que o cerca, as tradições e costumes locais, sua
formação cultural, seu nível intelectual, dentre outros.

No caso em apreço, os réus eram imputáveis, porque maiores de dezoito anos, e


mentalmente sadios. A despeito do conhecimento da ilicitude, optaram por agir em
contrariedade à lei.

Dessa forma, presentes os elementos configuradores do crime, a condenação se


impõe.

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 148/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

Ademais, toda a temática que envolve o presente caso concreto restou esgotada
na análise das provas existentes em relação à autoria e materialidade, extraindo-se de maneira
incontroversa da prova colhida que os réus beneficiavam-se mutuamente.

Assim, restou comprovada a prática de fraude à licitação perpetrada


por NEUDI JOSÉ BURATTI, EVERTON MIOTTO BURATTI, GILMAR AQUILES
MARMENTINI, AIRTON SENA MIOTTO, LUIZ ALBERTO MIOTTO, JUCIELI
LINK MIOTTO, ZENILDE TEREZINHA KARACK e ALCIMAR DE OLIVEIRA,
impondo-se assim a condenação dos réus pela prática do crime previsto nos artigos 90 da Lei
n. 8.666/93 (atual artigo 337-F do Código Penal) da seguinte maneira:

a) ALCIMAR DE OLIVEIRA, NEUDI JOSÉ BURATTI e GILMAR ACHILES


MARMENTINI: praticaram o crime do artigo 90, da Lei n. 8.666/90, por 2 vezes,
relacionados aos Editais n. 01/2014 e 04/2016;

b) AIRTON SENA MIOTTO e LUIZ ALBERTO MIOTTO: praticaram o crime


do artigo 90, da Lei n. 8.666/90, por 3 vezes, relacionados aos Editais n. 01/2014, n. 04/2016
e n. 04/2017;

c) EVERTON MEOTTI BURATTI e JUCIELI LINCK MIOTTO: praticaram o


crime do artigo 90, da Lei n. 8.666/90, por 2 vezes, relacionado aos Editais n. 04/2016 e n.
04/2017; e

d) ZENILDE TEREZINHA KARACEK: praticou o crime do artigo 90, da Lei


n. 8.666/90, relacionado ao Edital n. 04/2016.

FIXAÇÃO DA PENA

h) Dosimetria

Conforme já referido nesta sentença, a denúncia foi recebida com a capitulação


prevista no artigo 337-F do Código Penal em razão da Lei 14.133/21, mas com as penas
do artigo 90 da Lei n. 8.666/93, pois os fatos ocorreram antes da referida Lei de 2021.

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 149/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

A pena do art. 90, da Lei n. 8.666/93 é de detenção de 2 (dois) a 4 (quatro) anos,


e multa.

Art. 90. Frustrar ou fraudar, mediante ajuste, combinação ou qualquer outro expediente, o
caráter competitivo do procedimento licitatório, com o intuito de obter, para si ou para
outrem, vantagem decorrente da adjudicação do objeto da licitação:

Pena: detenção de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.

h.1) Réu AIRTON SENA MIOTTO

Quanto aos antecedentes, entendidos como sentença penal condenatória por


crime anterior transitada em julgado até a data do presente julgamento, conforme
jurisprudência tranquila do Tribunal Regional Federal da 4ª Região e do Superior Tribunal de
Justiça (Súmula n° 444 do STJ), não há registros (evento 180, CERTANTCRIM1 a 5).

Não constam nos autos elementos para valorar sua conduta social e inexistem
elementos suficientes para aferir a personalidade do réu. Segundo Fernando Capez, o
conceito de personalidade "pertence mais ao campo da psicologia e psiquiatria do que ao
direito, exigindo-se uma investigação dos antecedentes psíquicos e morais do agente" (Curso
de Direito Penal. Volume 1. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 455), pelo que restam
prejudicados tais vetores.

Os motivos do crime são comuns à espécie.

As circunstâncias e as consequências do crime são comuns ao delito.

Não há comportamento da vítima a ser analisado.

A culpabilidade, portanto, não se afasta do patamar mínimo.

Assim, fixo a pena-base em 2 (dois) anos de detenção.

2ª FASE: PENA PROVISÓRIA

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 150/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

Não incidem quaisquer circunstâncias atenuantes ou agravantes.

3ª FASE: PENA DEFINITIVA

Não existem causas de aumento ou de diminuição da pena, de modo que fixo


a pena em 2 (dois) anos de detenção.

Pena de multa

No que toca à pena de multa, tendo em vista o quantum da pena privativa de


liberdade fixado, fixo a multa, proporcionalmente, entre o mínimo e máximo de dias
previstos no art. 49, caput, do Código Penal, em 10 (dez) dias-multa.

Diante da informação prestada pelo réu, por ocasião do interrogatório em juízo


no sentido de que percebe renda mensal variável, de aproximadamente R$10.000,00/mês (dez
mil reais), fixo o valor do dia-multa em 1 (um) salário mínimo (eventos 217 e 218, VIDEO1).

​Concurso de crimes

​ ocorrência de crime único, a configuração da continuidade delitiva entre as


A
condutas ou a existência de concurso material de crimes é questão a ser analisada caso a
caso, a depender dos contornos da atividade criminosa, do modus operandi empregado,
do tempo transcorrido entre os atos, enfim, das particularidades de cada conduta e seus
desdobramentos no contexto da empreitada delitiva considerada em seu todo. (TRF4, ACR
5000928-97.2014.4.04.7121, SÉTIMA TURMA, Relator LUIZ CARLOS CANALLI,
juntado aos autos em 27/07/2021)

No caso concreto, tratando-se da atuação criminosa do réu em três processos


licitatórios diversos (Editais n. 01/2014, 04/2016 e 04/2017), com intervalo significativo de
tempo entre si, conclui-se que pela existência de concurso material.

Em consequência, as penas devem ser somadas, aplicando-se a regra


do concurso material prevista no art. 69 do CP.

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 151/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

Desse modo, as penas totalizam 6 (seis) anos de detenção e 30 (trinta) dias-


multa, no valor unitário de 1 salário mínimo.

Regime de cumprimento e substituição da pena privativa de liberdade

O Código Penal prevê, em seu art. 33, caput, que:

Art. 33 - A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semi-aberto ou aberto. A
de detenção, em regime semi-aberto, ou aberto, salvo necessidade de transferência a regime
fechado.

Conclui-se, portanto, que não é cabível o regime fechado para início de


cumprimento da pena de detenção, permitindo-se tão somente a regressão de regime para o
fechado no curso da execução penal, hipótese essa que não se confunde com a fixação do
regime inicial (TRF4, ACR 5008043-47.2019.4.04.7202, SÉTIMA TURMA, Relatora
CLÁUDIA CRISTINA CRISTOFANI, juntado aos autos em 11/11/2020).

Desta forma, o regime inicial de cumprimento da pena deve ser o semiaberto.

Substituição da pena privativa de liberdade

Para que o apenado faça jus ao benefício da substituição da pena, cabe analisar
os seguintes aspectos: a) se a pena privativa de liberdade aplicada não ultrapassa quatro anos
(art. 44, I, do CP); b) se o crime não foi cometido com violência ou grave ameaça à
pessoa; c) se os acusados não são reincidentes em crime doloso; e d) se a substituição é
socialmente recomendável.

No presente caso, tendo em vista que a pena aplicada extravasa o limite de 4


(quatro) anos, incabível a substituição da pena privativa de liberdade por restritivas de
direitos.

h.2) Réu ALCIMAR DE OLIVEIRA

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 152/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

Quanto aos antecedentes, entendidos como sentença penal condenatória por


crime anterior transitada em julgado até a data do presente julgamento, conforme
jurisprudência tranquila do Tribunal Regional Federal da 4ª Região e do Superior Tribunal de
Justiça (Súmula n° 444 do STJ), não há registros (evento 180, CERTANTCRIM6 a 10).

Não constam nos autos elementos para valorar sua conduta social e inexistem
elementos suficientes para aferir a personalidade do réu. Segundo Fernando Capez, o
conceito de personalidade "pertence mais ao campo da psicologia e psiquiatria do que ao
direito, exigindo-se uma investigação dos antecedentes psíquicos e morais do agente" (Curso
de Direito Penal. Volume 1. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 455), pelo que restam
prejudicados tais vetores.

Os motivos do crime são comuns à espécie.

As circunstâncias e as consequências do crime são comuns ao delito.

Não há comportamento da vítima a ser analisado.

A culpabilidade, portanto, não se afasta do patamar mínimo.

Assim, fixo a pena-base em 2 (dois) anos de detenção.

2ª FASE: PENA PROVISÓRIA

Não incidem quaisquer circunstâncias atenuantes ou agravantes.

3ª FASE: PENA DEFINITIVA

Não existem causas de aumento ou de diminuição da pena, de modo que fixo


a pena em 2 (dois) anos de detenção.

Pena de multa

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 153/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

No que toca à pena de multa, tendo em vista o quantum da pena privativa de


liberdade fixado, fixo a multa, proporcionalmente, entre o mínimo e máximo de dias
previstos no art. 49, caput, do Código Penal, em 10 (dez) dias-multa.

Diante da informação prestada pelo réu, por ocasião do interrogatório em juízo


no sentido de que percebe renda mensal variável, de aproximadamente R$40.000,00/mês
(quarenta mil reais) (evento 209, VIDEO1), fixo o valor do dia-multa em 2 (dois) salários
mínimos.

​Concurso de crimes

​ ocorrência de crime único, a configuração da continuidade delitiva entre as


A
condutas ou a existência de concurso material de crimes é questão a ser analisada caso a
caso, a depender dos contornos da atividade criminosa, do modus operandi empregado,
do tempo transcorrido entre os atos, enfim, das particularidades de cada conduta e seus
desdobramentos no contexto da empreitada delitiva considerada em seu todo. (TRF4, ACR
5000928-97.2014.4.04.7121, SÉTIMA TURMA, Relator LUIZ CARLOS CANALLI,
juntado aos autos em 27/07/2021)

No caso concreto, tratando-se da atuação criminosa do réu em dois processos


licitatórios diversos (Editais n. 01/2014 e 04/2016), com intervalo significativo de tempo
entre si, conclui-se que pela existência de concurso material.

Em consequência, as penas devem ser somadas, aplicando-se a regra


do concurso material prevista no art. 69 do CP.

Desse modo, as penas totalizam 4 (quatro) anos de detenção e 20 (vinte) dias-


multa, no valor unitário de 2 salários mínimos.

Regime de cumprimento e substituição da pena privativa de liberdade

O Código Penal prevê, em seu art. 33, caput, que:

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 154/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

Art. 33 - A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semi-aberto ou aberto. A
de detenção, em regime semi-aberto, ou aberto, salvo necessidade de transferência a regime
fechado.

Conclui-se, portanto, que não é cabível o regime fechado para início de


cumprimento da pena de detenção, permitindo-se tão somente a regressão de regime para o
fechado no curso da execução penal, hipótese essa que não se confunde com a fixação do
regime inicial (TRF4, ACR 5008043-47.2019.4.04.7202, SÉTIMA TURMA, Relatora
CLÁUDIA CRISTINA CRISTOFANI, juntado aos autos em 11/11/2020).

Desta forma, o regime inicial de cumprimento da pena deve ser o semiaberto.

Substituição da pena privativa de liberdade

Para que o apenado faça jus ao benefício da substituição da pena, cabe analisar
os seguintes aspectos: a) se a pena privativa de liberdade aplicada não ultrapassa quatro anos
(art. 44, I, do CP); b) se o crime não foi cometido com violência ou grave ameaça à
pessoa; c) se os acusados não são reincidentes em crime doloso; e d) se a substituição é
socialmente recomendável.

No caso, a condenação foi igual a 4 anos, não se trata de crime cometido com
violência ou grave ameaça, o réu não é reincidente e as circunstâncias judiciais são
favoráveis, destacando-se ainda que pela própria natureza do crime e ausência de gravidade
concreta do fato a prisão não se revela necessária, impondo-se a substituição.

Em razão disso substituo a pena privativa de liberdade aplicada por duas penas
restritivas de direitos (art. 44, § 2º, segunda parte, do CP). Considerando o teor da Súmula n.
132 do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, no sentido da preferência à prestação de
serviços à comunidade, porque melhor cumpre a finalidade de reeducação e ressocialização
do agente, substituo as penas da seguinte forma: (a) prestação de serviços à
comunidade (art. 43, IV, do CP), à razão de 1 hora de trabalho por dia de condenação, a ser
cumprida, preferencialmente, nos sábados, domingos e feriados, na conformidade do que
dispõe o artigo 46, §§ 1º, 2º e 3º, do CP; (b) pagamento de prestação pecuniária, no
montante de cinco salários mínimos (art. 45, §1º, CP).
5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771
https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 155/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

O desatendimento injustificado da pena restritiva determinará a sua conversão


em pena privativa de liberdade (prisão), nos termos do artigo 44, § 4.º, do Código Penal.

h.3) Réu EVERTON MEOTTI BURATTI

Quanto aos antecedentes, entendidos como sentença penal condenatória por


crime anterior transitada em julgado até a data do presente julgamento, conforme
jurisprudência tranquila do Tribunal Regional Federal da 4ª Região e do Superior Tribunal de
Justiça (Súmula n° 444 do STJ), não há registros (evento 180, CERTANTCRIM16 a 20).

Não constam nos autos elementos para valorar sua conduta social e inexistem
elementos suficientes para aferir a personalidade do réu. Segundo Fernando Capez, o
conceito de personalidade "pertence mais ao campo da psicologia e psiquiatria do que ao
direito, exigindo-se uma investigação dos antecedentes psíquicos e morais do agente" (Curso
de Direito Penal. Volume 1. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 455), pelo que restam
prejudicados tais vetores.

Os motivos do crime são comuns à espécie.

As circunstâncias e as consequências do crime são comuns ao delito.

Não há comportamento da vítima a ser analisado.

A culpabilidade, portanto, não se afasta do patamar mínimo.

Assim, fixo a pena-base em 2 (dois) anos de detenção.

2ª FASE: PENA PROVISÓRIA

Não incidem quaisquer circunstâncias atenuantes ou agravantes.

3ª FASE: PENA DEFINITIVA

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 156/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

Não existem causas de aumento ou de diminuição da pena, de modo que fixo


a pena em 2 (dois) anos de detenção.

Pena de multa

No que toca à pena de multa, tendo em vista o quantum da pena privativa de


liberdade fixado, fixo a multa, proporcionalmente, entre o mínimo e máximo de dias
previstos no art. 49, caput, do Código Penal, em 10 (dez) dias-multa.

Diante da informação prestada pelo réu, por ocasião do interrogatório em juízo


no sentido de que percebe renda mensal de R$3.000,00/mês (três mil reais) (evento 220,
VIDEO1), fixo o valor do dia-multa em 1/10 (um décimo) do salário mínimo.

​Concurso de crimes

​ ocorrência de crime único, a configuração da continuidade delitiva entre as


A
condutas ou a existência de concurso material de crimes é questão a ser analisada caso a
caso, a depender dos contornos da atividade criminosa, do modus operandi empregado,
do tempo transcorrido entre os atos, enfim, das particularidades de cada conduta e seus
desdobramentos no contexto da empreitada delitiva considerada em seu todo. (TRF4, ACR
5000928-97.2014.4.04.7121, SÉTIMA TURMA, Relator LUIZ CARLOS CANALLI,
juntado aos autos em 27/07/2021)

No caso concreto, tratando-se da atuação criminosa do réu em três processos


licitatórios diversos (Editais n. 04/2016 e 04/2017), com intervalo significativo de tempo
entre si, conclui-se que pela existência de concurso material.

Em consequência, as penas devem ser somadas, aplicando-se a regra


do concurso material prevista no art. 69 do CP.

Desse modo, as penas totalizam 4 (quatro) anos de detenção e 20 (vinte) dias-


multa, no valor unitário de 1/10 do salário mínimo.

Regime de cumprimento e substituição da pena privativa de liberdade


5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771
https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 157/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

O Código Penal prevê, em seu art. 33, caput, que:

Art. 33 - A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semi-aberto ou aberto. A
de detenção, em regime semi-aberto, ou aberto, salvo necessidade de transferência a regime
fechado.

Conclui-se, portanto, que não é cabível o regime fechado para início de


cumprimento da pena de detenção, permitindo-se tão somente a regressão de regime para o
fechado no curso da execução penal, hipótese essa que não se confunde com a fixação do
regime inicial (TRF4, ACR 5008043-47.2019.4.04.7202, SÉTIMA TURMA, Relatora
CLÁUDIA CRISTINA CRISTOFANI, juntado aos autos em 11/11/2020).

Desta forma, o regime inicial de cumprimento da pena deve ser o semiaberto.

Substituição da pena privativa de liberdade

Para que o apenado faça jus ao benefício da substituição da pena, cabe analisar
os seguintes aspectos: a) se a pena privativa de liberdade aplicada não ultrapassa quatro anos
(art. 44, I, do CP); b) se o crime não foi cometido com violência ou grave ameaça à
pessoa; c) se os acusados não são reincidentes em crime doloso; e d) se a substituição é
socialmente recomendável.

No caso, a condenação foi igual a 4 anos, não se trata de crime cometido com
violência ou grave ameaça, o réu não é reincidente e as circunstâncias judiciais são
favoráveis, destacando-se ainda que pela própria natureza do crime e ausência de gravidade
concreta do fato a prisão não se revela necessária, impondo-se a substituição.

Em razão disso substituo a pena privativa de liberdade aplicada por duas penas
restritivas de direitos (art. 44, § 2º, segunda parte, do CP). Considerando o teor da Súmula n.
132 do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, no sentido da preferência à prestação de
serviços à comunidade, porque melhor cumpre a finalidade de reeducação e ressocialização
do agente, substituo as penas da seguinte forma: (a) prestação de serviços à
comunidade (art. 43, IV, do CP), à razão de 1 hora de trabalho por dia de condenação, a ser

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 158/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

cumprida, preferencialmente, nos sábados, domingos e feriados, na conformidade do que


dispõe o artigo 46, §§ 1º, 2º e 3º, do CP; (b) pagamento de prestação pecuniária, no
montante de dois salários mínimos (art. 45, §1º, CP).

O desatendimento injustificado da pena restritiva determinará a sua conversão


em pena privativa de liberdade (prisão), nos termos do artigo 44, § 4.º, do Código Penal.

h.4) Réu GILMAR ACHILES MARMENTINI

Quanto aos antecedentes, entendidos como sentença penal condenatória por


crime anterior transitada em julgado até a data do presente julgamento, conforme
jurisprudência tranquila do Tribunal Regional Federal da 4ª Região e do Superior Tribunal de
Justiça (Súmula n° 444 do STJ), não há registros (evento 180, CERTANTCRIM21 a 25).

Não constam nos autos elementos para valorar sua conduta social e inexistem
elementos suficientes para aferir a personalidade do réu. Segundo Fernando Capez, o
conceito de personalidade "pertence mais ao campo da psicologia e psiquiatria do que ao
direito, exigindo-se uma investigação dos antecedentes psíquicos e morais do agente" (Curso
de Direito Penal. Volume 1. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 455), pelo que restam
prejudicados tais vetores.

Os motivos do crime são comuns à espécie.

As circunstâncias e as consequências do crime são comuns ao delito.

Não há comportamento da vítima a ser analisado.

A culpabilidade, portanto, não se afasta do patamar mínimo.

Assim, fixo a pena-base em 2 (dois) anos de detenção.

2ª FASE: PENA PROVISÓRIA

Não incidem quaisquer circunstâncias atenuantes ou agravantes.


5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771
https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 159/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

3ª FASE: PENA DEFINITIVA

Não existem causas de aumento ou de diminuição da pena, de modo que fixo


a pena em 2 (dois) anos de detenção.

Pena de multa

No que toca à pena de multa, tendo em vista o quantum da pena privativa de


liberdade fixado, fixo a multa, proporcionalmente, entre o mínimo e máximo de dias
previstos no art. 49, caput, do Código Penal, em 10 (dez) dias-multa.

Diante da informação prestada pelo réu, por ocasião do interrogatório em juízo


no sentido de que percebe renda mensal de R$2.000,00/mês (dois mil reais) (evento 217,
VIDEO1), fixo o valor do dia-multa em 1/20 (um vigésimo) do salário mínimo.

​Concurso de crimes

​ ocorrência de crime único, a configuração da continuidade delitiva entre as


A
condutas ou a existência de concurso material de crimes é questão a ser analisada caso a
caso, a depender dos contornos da atividade criminosa, do modus operandi empregado,
do tempo transcorrido entre os atos, enfim, das particularidades de cada conduta e seus
desdobramentos no contexto da empreitada delitiva considerada em seu todo. (TRF4, ACR
5000928-97.2014.4.04.7121, SÉTIMA TURMA, Relator LUIZ CARLOS CANALLI,
juntado aos autos em 27/07/2021)

No caso concreto, tratando-se da atuação criminosa do réu em dois processos


licitatórios diversos (Editais n. 01/2014 e 04/2016), com intervalo significativo de tempo
entre si, conclui-se que pela existência de concurso material.

Em consequência, as penas devem ser somadas, aplicando-se a regra


do concurso material prevista no art. 69 do CP.

Desse modo, as penas totalizam 4 (quatro) anos de detenção e 20 (vinte) dias-


multa, no valor unitário de 1/20 do salário mínimo.
5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771
https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 160/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

Regime de cumprimento e substituição da pena privativa de liberdade

O Código Penal prevê, em seu art. 33, caput, que:

Art. 33 - A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semi-aberto ou aberto. A
de detenção, em regime semi-aberto, ou aberto, salvo necessidade de transferência a regime
fechado.

Conclui-se, portanto, que não é cabível o regime fechado para início de


cumprimento da pena de detenção, permitindo-se tão somente a regressão de regime para o
fechado no curso da execução penal, hipótese essa que não se confunde com a fixação do
regime inicial (TRF4, ACR 5008043-47.2019.4.04.7202, SÉTIMA TURMA, Relatora
CLÁUDIA CRISTINA CRISTOFANI, juntado aos autos em 11/11/2020).

Desta forma, o regime inicial de cumprimento da pena deve ser o semiaberto.

Substituição da pena privativa de liberdade

Para que o apenado faça jus ao benefício da substituição da pena, cabe analisar
os seguintes aspectos: a) se a pena privativa de liberdade aplicada não ultrapassa quatro anos
(art. 44, I, do CP); b) se o crime não foi cometido com violência ou grave ameaça à
pessoa; c) se os acusados não são reincidentes em crime doloso; e d) se a substituição é
socialmente recomendável.

No caso, a condenação foi igual a 4 anos, não se trata de crime cometido com
violência ou grave ameaça, o réu não é reincidente e as circunstâncias judiciais são
favoráveis, destacando-se ainda que pela própria natureza do crime e ausência de gravidade
concreta do fato a prisão não se revela necessária, impondo-se a substituição.

Em razão disso substituo a pena privativa de liberdade aplicada por duas penas
restritivas de direitos (art. 44, § 2º, segunda parte, do CP). Considerando o teor da Súmula n.
132 do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, no sentido da preferência à prestação de
serviços à comunidade, porque melhor cumpre a finalidade de reeducação e ressocialização
do agente, substituo as penas da seguinte forma: (a) prestação de serviços à

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 161/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

comunidade (art. 43, IV, do CP), à razão de 1 hora de trabalho por dia de condenação, a ser
cumprida, preferencialmente, nos sábados, domingos e feriados, na conformidade do que
dispõe o artigo 46, §§ 1º, 2º e 3º, do CP; (b) pagamento de prestação pecuniária, no
montante de dois salários mínimos (art. 45, §1º, CP).

O desatendimento injustificado da pena restritiva determinará a sua conversão


em pena privativa de liberdade (prisão), nos termos do artigo 44, § 4.º, do Código Penal.

h.5) Ré JUCIELI LINK MIOTTO

Quanto aos antecedentes, entendidos como sentença penal condenatória por


crime anterior transitada em julgado até a data do presente julgamento, conforme
jurisprudência tranquila do Tribunal Regional Federal da 4ª Região e do Superior Tribunal de
Justiça (Súmula n° 444 do STJ), não há registros (evento 180, CERTANTCRIM26 a 30).

Não constam nos autos elementos para valorar sua conduta social e inexistem
elementos suficientes para aferir a personalidade da ré. Segundo Fernando Capez, o conceito
de personalidade "pertence mais ao campo da psicologia e psiquiatria do que ao direito,
exigindo-se uma investigação dos antecedentes psíquicos e morais do agente" (Curso de
Direito Penal. Volume 1. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 455), pelo que restam
prejudicados tais vetores.

Os motivos do crime são comuns à espécie.

As circunstâncias e as consequências do crime são comuns ao delito.

Não há comportamento da vítima a ser analisado.

A culpabilidade, portanto, não se afasta do patamar mínimo.

Assim, fixo a pena-base em 2 (dois) anos de detenção.

2ª FASE: PENA PROVISÓRIA

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 162/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

Não incidem quaisquer circunstâncias atenuantes ou agravantes.

3ª FASE: PENA DEFINITIVA

Não existem causas de aumento ou de diminuição da pena, de modo que fixo


a pena em 2 (dois) anos de detenção.

Pena de multa

No que toca à pena de multa, tendo em vista o quantum da pena privativa de


liberdade fixado, fixo a multa, proporcionalmente, entre o mínimo e máximo de dias
previstos no art. 49, caput, do Código Penal, em 10 (dez) dias-multa.

Diante da informação prestada pela ré, por ocasião do interrogatório em juízo


no sentido de que percebe renda mensal de R$2.400,00/mês (dois mil e quatrocentos
reais) (evento 219, VIDEO1), fixo o valor do dia-multa em 1/20 (um vigésimo) do salário
mínimo.

​Concurso de crimes

​ ocorrência de crime único, a configuração da continuidade delitiva entre as


A
condutas ou a existência de concurso material de crimes é questão a ser analisada caso a
caso, a depender dos contornos da atividade criminosa, do modus operandi empregado,
do tempo transcorrido entre os atos, enfim, das particularidades de cada conduta e seus
desdobramentos no contexto da empreitada delitiva considerada em seu todo. (TRF4, ACR
5000928-97.2014.4.04.7121, SÉTIMA TURMA, Relator LUIZ CARLOS CANALLI,
juntado aos autos em 27/07/2021)

No caso concreto, tratando-se da atuação criminosa da ré em dois processos


licitatórios diversos (Editais n. 04/2016 e 04/2017), com intervalo significativo de tempo
entre si, conclui-se que pela existência de concurso material.

Em consequência, as penas devem ser somadas, aplicando-se a regra


do concurso material prevista no art. 69 do CP.
5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771
https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 163/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

Desse modo, as penas totalizam 4 (quatro) anos de detenção e 20 (vinte) dias-


multa, no valor unitário de 1/20 do salário mínimo.​​

Regime de cumprimento e substituição da pena privativa de liberdade

O Código Penal prevê, em seu art. 33, caput, que:

Art. 33 - A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semi-aberto ou aberto. A
de detenção, em regime semi-aberto, ou aberto, salvo necessidade de transferência a regime
fechado.

Conclui-se, portanto, que não é cabível o regime fechado para início de


cumprimento da pena de detenção, permitindo-se tão somente a regressão de regime para o
fechado no curso da execução penal, hipótese essa que não se confunde com a fixação do
regime inicial (TRF4, ACR 5008043-47.2019.4.04.7202, SÉTIMA TURMA, Relatora
CLÁUDIA CRISTINA CRISTOFANI, juntado aos autos em 11/11/2020).

Desta forma, o regime inicial de cumprimento da pena deve ser o semiaberto.

Substituição da pena privativa de liberdade

Para que o apenado faça jus ao benefício da substituição da pena, cabe analisar
os seguintes aspectos: a) se a pena privativa de liberdade aplicada não ultrapassa quatro anos
(art. 44, I, do CP); b) se o crime não foi cometido com violência ou grave ameaça à
pessoa; c) se os acusados não são reincidentes em crime doloso; e d) se a substituição é
socialmente recomendável.

No caso, a condenação foi igual a 4 anos, não se trata de crime cometido com
violência ou grave ameaça, a ré não é reincidente e as circunstâncias judiciais são favoráveis,
destacando-se ainda que pela própria natureza do crime e ausência de gravidade concreta do
fato a prisão não se revela necessária, impondo-se a substituição.

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 164/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

Em razão disso substituo a pena privativa de liberdade aplicada por duas penas
restritivas de direitos (art. 44, § 2º, segunda parte, do CP). Considerando o teor da Súmula n.
132 do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, no sentido da preferência à prestação de
serviços à comunidade, porque melhor cumpre a finalidade de reeducação e ressocialização
do agente, substituo as penas da seguinte forma: (a) prestação de serviços à
comunidade (art. 43, IV, do CP), à razão de 1 hora de trabalho por dia de condenação, a ser
cumprida, preferencialmente, nos sábados, domingos e feriados, na conformidade do que
dispõe o artigo 46, §§ 1º, 2º e 3º, do CP; (b) pagamento de prestação pecuniária, no
montante de dois salários mínimos (art. 45, §1º, CP).

O desatendimento injustificado da pena restritiva determinará a sua conversão


em pena privativa de liberdade (prisão), nos termos do artigo 44, § 4.º, do Código Penal.

h.6) Réu LUIZ ALBERTO MIOTTO

Quanto aos antecedentes, entendidos como sentença penal condenatória por


crime anterior transitada em julgado até a data do presente julgamento, conforme
jurisprudência tranquila do Tribunal Regional Federal da 4ª Região e do Superior Tribunal de
Justiça (Súmula n° 444 do STJ), não há registros (evento 180, CERTANTCRIM31 a 36).

Não constam nos autos elementos para valorar sua conduta social e inexistem
elementos suficientes para aferir a personalidade do réu. Segundo Fernando Capez, o
conceito de personalidade "pertence mais ao campo da psicologia e psiquiatria do que ao
direito, exigindo-se uma investigação dos antecedentes psíquicos e morais do agente" (Curso
de Direito Penal. Volume 1. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 455), pelo que restam
prejudicados tais vetores.

Os motivos do crime são comuns à espécie.

As circunstâncias e as consequências do crime são comuns ao delito.

Não há comportamento da vítima a ser analisado.

A culpabilidade, portanto, não se afasta do patamar mínimo.


5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771
https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 165/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

Assim, fixo a pena-base em 2 (dois) anos de detenção.

2ª FASE: PENA PROVISÓRIA

Não incidem quaisquer circunstâncias atenuantes ou agravantes.

3ª FASE: PENA DEFINITIVA

Não existem causas de aumento ou de diminuição da pena, de modo que fixo


a pena em 2 (dois) anos de detenção.

Pena de multa

No que toca à pena de multa, tendo em vista o quantum da pena privativa de


liberdade fixado, fixo a multa, proporcionalmente, entre o mínimo e máximo de dias
previstos no art. 49, caput, do Código Penal, em 10 (dez) dias-multa.

Diante da informação prestada pelo réu, por ocasião do interrogatório em juízo


no sentido de que percebe renda mensal de um salário mínimo (evento 218, VIDEO2), fixo o
valor do dia-multa em 1/30 (um trigésimo) do salário mínimo.

​Concurso de crimes

​ ocorrência de crime único, a configuração da continuidade delitiva entre as


A
condutas ou a existência de concurso material de crimes é questão a ser analisada caso a
caso, a depender dos contornos da atividade criminosa, do modus operandi empregado,
do tempo transcorrido entre os atos, enfim, das particularidades de cada conduta e seus
desdobramentos no contexto da empreitada delitiva considerada em seu todo. (TRF4, ACR
5000928-97.2014.4.04.7121, SÉTIMA TURMA, Relator LUIZ CARLOS CANALLI,
juntado aos autos em 27/07/2021)

No caso concreto, tratando-se da atuação criminosa do réu em três processos


licitatórios diversos (Editais n. 01/2014, 04/2016 e 04/2017), com intervalo significativo de
tempo entre si, conclui-se que pela existência de concurso material.
5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771
https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 166/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

Em consequência, as penas devem ser somadas, aplicando-se a regra


do concurso material prevista no art. 69 do CP.

Desse modo, as penas totalizam 6 (seis) anos de detenção e 30 (trinta) dias-


multa, no valor unitário de 1/30 do salário mínimo.​​

Regime de cumprimento e substituição da pena privativa de liberdade

O Código Penal prevê, em seu art. 33, caput, que:

Art. 33 - A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semi-aberto ou aberto. A
de detenção, em regime semi-aberto, ou aberto, salvo necessidade de transferência a regime
fechado.

Conclui-se, portanto, que não é cabível o regime fechado para início de


cumprimento da pena de detenção, permitindo-se tão somente a regressão de regime para o
fechado no curso da execução penal, hipótese essa que não se confunde com a fixação do
regime inicial (TRF4, ACR 5008043-47.2019.4.04.7202, SÉTIMA TURMA, Relatora
CLÁUDIA CRISTINA CRISTOFANI, juntado aos autos em 11/11/2020).

Desta forma, o regime inicial de cumprimento da pena deve ser o semiaberto.

Substituição da pena privativa de liberdade

Para que o apenado faça jus ao benefício da substituição da pena, cabe analisar
os seguintes aspectos: a) se a pena privativa de liberdade aplicada não ultrapassa quatro anos
(art. 44, I, do CP); b) se o crime não foi cometido com violência ou grave ameaça à
pessoa; c) se os acusados não são reincidentes em crime doloso; e d) se a substituição é
socialmente recomendável.

No presente caso, tendo em vista que a pena aplicada extravasa o limite de 4


(quatro) anos, incabível a substituição da pena privativa de liberdade por restritivas de
direitos.

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 167/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

h.7) Réu NEUDI JOSÉ BURATTI

Quanto aos antecedentes, entendidos como sentença penal condenatória por


crime anterior transitada em julgado até a data do presente julgamento, conforme
jurisprudência tranquila do Tribunal Regional Federal da 4ª Região e do Superior Tribunal de
Justiça (Súmula n° 444 do STJ), não há registros (evento 180, CERTANTCRIM42 a 46).

Não constam nos autos elementos para valorar sua conduta social e inexistem
elementos suficientes para aferir a personalidade do réu. Segundo Fernando Capez, o
conceito de personalidade "pertence mais ao campo da psicologia e psiquiatria do que ao
direito, exigindo-se uma investigação dos antecedentes psíquicos e morais do agente" (Curso
de Direito Penal. Volume 1. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 455), pelo que restam
prejudicados tais vetores.

Os motivos do crime são comuns à espécie.

As circunstâncias e as consequências do crime são comuns ao delito.

Não há comportamento da vítima a ser analisado.

A culpabilidade, portanto, não se afasta do patamar mínimo.

Assim, fixo a pena-base em 2 (dois) anos de detenção.

2ª FASE: PENA PROVISÓRIA

Não incidem quaisquer circunstâncias atenuantes ou agravantes.

3ª FASE: PENA DEFINITIVA

Não existem causas de aumento ou de diminuição da pena, de modo que fixo


a pena em 2 (dois) anos de detenção.

Pena de multa
5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771
https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 168/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

No que toca à pena de multa, tendo em vista o quantum da pena privativa de


liberdade fixado, fixo a multa, proporcionalmente, entre o mínimo e máximo de dias
previstos no art. 49, caput, do Código Penal, em 10 (dez) dias-multa.

Diante da informação prestada pelo réu, por ocasião do interrogatório em juízo


no sentido de que percebe renda mensal de R$2.500,00 (dois mil e quinhentos reais) (evento
219, VIDEO2), fixo o valor do dia-multa em 1/20 (um vigésimo) do salário mínimo.

​Concurso de crimes

​ ocorrência de crime único, a configuração da continuidade delitiva entre as


A
condutas ou a existência de concurso material de crimes é questão a ser analisada caso a
caso, a depender dos contornos da atividade criminosa, do modus operandi empregado,
do tempo transcorrido entre os atos, enfim, das particularidades de cada conduta e seus
desdobramentos no contexto da empreitada delitiva considerada em seu todo. (TRF4, ACR
5000928-97.2014.4.04.7121, SÉTIMA TURMA, Relator LUIZ CARLOS CANALLI,
juntado aos autos em 27/07/2021)

No caso concreto, tratando-se da atuação criminosa do réu em três processos


licitatórios diversos (Editais n. 01/2014 e 04/2016), com intervalo significativo de tempo
entre si, conclui-se que pela existência de concurso material.

Em consequência, as penas devem ser somadas, aplicando-se a regra


do concurso material prevista no art. 69 do CP.

Desse modo, as penas totalizam 4 (quatro) anos de detenção e 20 (vinte) dias-


multa, no valor unitário de 1/20 do salário mínimo.​​

Regime de cumprimento e substituição da pena privativa de liberdade

O Código Penal prevê, em seu art. 33, caput, que:

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 169/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

Art. 33 - A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semi-aberto ou aberto. A
de detenção, em regime semi-aberto, ou aberto, salvo necessidade de transferência a regime
fechado.

Conclui-se, portanto, que não é cabível o regime fechado para início de


cumprimento da pena de detenção, permitindo-se tão somente a regressão de regime para o
fechado no curso da execução penal, hipótese essa que não se confunde com a fixação do
regime inicial (TRF4, ACR 5008043-47.2019.4.04.7202, SÉTIMA TURMA, Relatora
CLÁUDIA CRISTINA CRISTOFANI, juntado aos autos em 11/11/2020).

Desta forma, o regime inicial de cumprimento da pena deve ser o semiaberto.

Substituição da pena privativa de liberdade

Para que o apenado faça jus ao benefício da substituição da pena, cabe analisar
os seguintes aspectos: a) se a pena privativa de liberdade aplicada não ultrapassa quatro anos
(art. 44, I, do CP); b) se o crime não foi cometido com violência ou grave ameaça à
pessoa; c) se os acusados não são reincidentes em crime doloso; e d) se a substituição é
socialmente recomendável.

No caso, a condenação foi igual a 4 anos, não se trata de crime cometido com
violência ou grave ameaça, o réu não é reincidente e as circunstâncias judiciais são
favoráveis, destacando-se ainda que pela própria natureza do crime e ausência de gravidade
concreta do fato a prisão não se revela necessária, impondo-se a substituição.

Em razão disso substituo a pena privativa de liberdade aplicada por duas penas
restritivas de direitos (art. 44, § 2º, segunda parte, do CP). Considerando o teor da Súmula n.
132 do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, no sentido da preferência à prestação de
serviços à comunidade, porque melhor cumpre a finalidade de reeducação e ressocialização
do agente, substituo as penas da seguinte forma: (a) prestação de serviços à
comunidade (art. 43, IV, do CP), à razão de 1 hora de trabalho por dia de condenação, a ser
cumprida, preferencialmente, nos sábados, domingos e feriados, na conformidade do que
dispõe o artigo 46, §§ 1º, 2º e 3º, do CP; (b) pagamento de prestação pecuniária, no
montante de dois salários mínimos (art. 45, §1º, CP).
5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771
https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 170/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

O desatendimento injustificado da pena restritiva determinará a sua conversão


em pena privativa de liberdade (prisão), nos termos do artigo 44, § 4.º, do Código Penal.

h.8) Ré ZENILDE TEREZINHA KARACEK

Quanto aos antecedentes, entendidos como sentença penal condenatória por


crime anterior transitada em julgado até a data do presente julgamento, conforme
jurisprudência tranquila do Tribunal Regional Federal da 4ª Região e do Superior Tribunal de
Justiça (Súmula n° 444 do STJ), não há registros (evento 180, CERTANTCRIM52 a 56).

Não constam nos autos elementos para valorar sua conduta social e inexistem
elementos suficientes para aferir a personalidade da ré. Segundo Fernando Capez, o conceito
de personalidade "pertence mais ao campo da psicologia e psiquiatria do que ao direito,
exigindo-se uma investigação dos antecedentes psíquicos e morais do agente" (Curso de
Direito Penal. Volume 1. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 455), pelo que restam
prejudicados tais vetores.

Os motivos do crime são comuns à espécie.

As circunstâncias e as consequências do crime são comuns ao delito.

Não há comportamento da vítima a ser analisado.

A culpabilidade, portanto, não se afasta do patamar mínimo.

Assim, fixo a pena-base em 2 (dois) anos de detenção.

2ª FASE: PENA PROVISÓRIA

Não incidem quaisquer circunstâncias atenuantes ou agravantes.

3ª FASE: PENA DEFINITIVA

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 171/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

Não existem causas de aumento ou de diminuição da pena, de modo que fixo


a pena em 2 (dois) anos de detenção.

Pena de multa

No que toca à pena de multa, tendo em vista o quantum da pena privativa de


liberdade fixado, fixo a multa, proporcionalmente, entre o mínimo e máximo de dias
previstos no art. 49, caput, do Código Penal, em 10 (dez) dias-multa.

Diante da informação prestada pela ré, por ocasião do interrogatório em juízo,


no sentido de que percebe renda mensal de R$3.000,00/mês (três mil reais) (evento 220,
VIDEO2), fixo o valor do dia-multa em 1/10 (um décimo) do salário mínimo.

​Regime de cumprimento e substituição da pena privativa de liberdade

O Código Penal prevê, em seu art. 33, caput, que:

Art. 33 - A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semi-aberto ou aberto. A
de detenção, em regime semi-aberto, ou aberto, salvo necessidade de transferência a regime
fechado.

[...]

§ 2º - As penas privativas de liberdade deverão ser executadas em forma progressiva, segundo


o mérito do condenado, observados os seguintes critérios e ressalvadas as hipóteses de
transferência a regime mais rigoroso: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

a) o condenado a pena superior a 8 (oito) anos deverá começar a cumpri-la em regime


fechado;

b) o condenado não reincidente, cuja pena seja superior a 4 (quatro) anos e não exceda a
8 (oito), poderá, desde o princípio, cumpri-la em regime semi-aberto;

c) o condenado não reincidente, cuja pena seja igual ou inferior a 4 (quatro) anos,
poderá, desde o início, cumpri-la em regime aberto.

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 172/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

[...]

Conclui-se, portanto, que se mostra cabível o regime aberto para início de


cumprimento da pena de detenção em relação à ré, haja vista não ser reincidente e ser a pena
a que foi condenada menor do que quatro anos.

Desta forma, o regime inicial de cumprimento da pena deve ser o aberto.

Substituição da pena privativa de liberdade

Para que o apenado faça jus ao benefício da substituição da pena, cabe analisar
os seguintes aspectos: a) se a pena privativa de liberdade aplicada não ultrapassa quatro anos
(art. 44, I, do CP); b) se o crime não foi cometido com violência ou grave ameaça à
pessoa; c) se os acusados não são reincidentes em crime doloso; e d) se a substituição é
socialmente recomendável.

No caso, a condenação foi inferior a 4 anos, não se trata de crime cometido com
violência ou grave ameaça, o réu não é reincidente e as circunstâncias judiciais são
favoráveis, destacando-se ainda que pela própria natureza do crime e ausência de gravidade
concreta do fato a prisão não se revela necessária, impondo-se a substituição.

Em razão disso substituo a pena privativa de liberdade aplicada por duas penas
restritivas de direitos (art. 44, § 2º, segunda parte, do CP). Considerando o teor da Súmula n.
132 do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, no sentido da preferência à prestação de
serviços à comunidade, porque melhor cumpre a finalidade de reeducação e ressocialização
do agente, substituo as penas da seguinte forma: (a) prestação de serviços à
comunidade (art. 43, IV, do CP), à razão de 1 hora de trabalho por dia de condenação, a ser
cumprida, preferencialmente, nos sábados, domingos e feriados, na conformidade do que
dispõe o artigo 46, §§ 1º, 2º e 3º, do CP; (b) pagamento de prestação pecuniária, no
montante de um salário mínimo (art. 45, §1º, CP).

O desatendimento injustificado da pena restritiva determinará a sua conversão


em pena privativa de liberdade (prisão), nos termos do artigo 44, § 4.º, do Código Penal.

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 173/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

i) Reparação do Dano

Requer o Ministério Público Federal a condenação


à reparação dos danos provocados ao erário, bem como a fixação de valor mínimo para
reparação dos danos causados pela infração, com fundamento no art. 387, IV, do CPP.​​

A reparação integral do dano é um efeito da sentença condenatória. Porém, no


caso, o real prejuízo causado ao erário depende de instrução probatória, o que escapa da
competência penal, passando a pertencer à esfera cível.

Nota-se que, de uma lado a perícia da Polícia Federal concluiu que não existiu
superfaturamento nos preços dos serviços prestados no transporte escolar no Município de
São Domingos. Por outro lado, no entanto, não há como aferir apenas dos elementos tratados
na presente ação penal, qual teria sido o preço alcançado pelo Município, caso tivesse havido
efetiva concorrência nos processos licitatórios.

Em tal contexto, tenho como mais adequado, em casos como o presente, que se
busque a indenização pelos eventuais danos causados em razão das práticas criminosas em
Ação Civil Pública, onde poderá haverá amplo debate e análise acerca da caracterização ou
não de tais obrigações.

No ponto, cumpre registrar que há nos autos notícia do ajuizamento da


Ação Civil de Improbidade n. 5007350-29.2020.4.04.7202 no bojo da qual o Ministério
Público Federal requereu a condenação de parte dos acusados, a título de reparação de danos,
no valor de R$ 679.897,80.

Assim, rejeito o pedido de condenação dos réus ao pagamento de danos na


presente ação penal, remetendo tal discussão à esfera cível, competente para tanto.

DISPOSITIVO

Ante o exposto, JULGO PROCEDENTES, em parte, os pedidos da denúncia


para o fim de:

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 174/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

i) ABSOLVER os acusados ​ANA CLAUDIA BARIZON FONTANA DA


LUZ, LUIZ HENRIQUE MASETO ZANOVELLO e PAULA
NATANA CAMACHIO pela prática dos fatos descritos na denúncia quanto ao crime
previsto no artigo 90 da Lei n. 8.666/93, com fundamento no art. 386, inciso V, do Código de
Processo Penal.​​

Sem condenação ao pagamento de custas pelos réus​​ ANA CLAUDIA


BARIZON FONTANA DA LUZ, LUIZ HENRIQUE MASETO ZANOVELLO e PAULA
NATANA CAMACHIO (Lei nº 9.289/96, art. 4º, III).

Após o trânsito em julgado, cumpra-se o disposto no artigo 809, § 3º, do CPP,


altere-se a situação processual dos réus ​ ANA CLAUDIA BARIZON FONTANA DA
LUZ, LUIZ HENRIQUE MASETO ZANOVELLO e PAULA NATANA CAMACHIO
para absolvido, dê-se baixa definitiva e arquivem-se os autos.​​

ii) CONDENAR o réu AIRTON SENA MIOTTO pela prática do crime do


artigo 90 da Lei n. 8.666/93 c/c artigo 69 do Código Penal, à pena de 6 (seis) anos de
detenção e 30 (trinta) dias multa, no valor unitário de 1 (um) salário mínimo.

O regime inicial da pena privativa de liberdade deverá ser o semiaberto. ​

Incabível a substituição da pena, nos termos da fundamentação.

iii) CONDENAR o réu ALCIMAR DE OLIVEIRA pela prática do crime do


artigo 90 da Lei n. 8.666/93 c/c artigo 69 do Código Penal, à pena de 4 (quatro) anos de
detenção e 20 (vinte) dias multa, no valor unitário de 2 salários mínimos.

Substituo a pena privativa de liberdade aplicada por duas penas restritivas de


direito (art. 44, §2º, 2ª parte, do CP), consistentes na prestação de serviços à comunidade (CP,
art. 43, IV), à razão de 1 hora de trabalho por dia de condenação, a ser cumprida,
preferencialmente, nos sábados, domingos e feriados, a conformidade do que dispõe o artigo

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 175/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

46, §§ 1º, 2º e 3º, do CP, e prestação pecuniária (art. 45, §1º, CP) no montante de cinco
salários mínimos, a ser destinado a instituição pública ou privada com finalidade social, a ser
determinada no juízo da execução.​​

O regime inicial da pena privativa de liberdade, em caso de não


cumprimento das penas restritivas de direito, deverá ser o semiaberto. ​

iv) CONDENAR o réu EVERTON MEOTTI BURATTI pela prática do


crime do artigo 90 da Lei n. 8.666/93 c/c artigo 69 do Código Penal, à pena de 4 (quatro)
anos de detenção e 20 (vinte) dias multa, no valor unitário de 1/10 (um décimo) do
salário mínimo.

Substituo a pena privativa de liberdade aplicada por duas penas restritivas de


direito (art. 44, §2º, 2ª parte, do CP), consistentes na prestação de serviços à comunidade (CP,
art. 43, IV), à razão de 1 hora de trabalho por dia de condenação, a ser cumprida,
preferencialmente, nos sábados, domingos e feriados, a conformidade do que dispõe o artigo
46, §§ 1º, 2º e 3º, do CP, e prestação pecuniária (art. 45, §1º, CP) no montante de dois salários
mínimos, a ser destinado a instituição pública ou privada com finalidade social, a ser
determinada no juízo da execução.​​

O regime inicial da pena privativa de liberdade, em caso de não


cumprimento das penas restritivas de direito, deverá ser o semiaberto. ​

v) CONDENAR o réu GILMAR ACHILES MARMENTINI pela prática do


crime do artigo 90 da Lei n. 8.666/93 c/c artigo 69 do Código Penal, à pena de 4 (quatro)
anos de detenção e 20 (vinte) dias multa, no valor unitário de 1/20 (um vigésimo) do
salário mínimo.

Substituo a pena privativa de liberdade aplicada por duas penas restritivas de


direito (art. 44, §2º, 2ª parte, do CP), consistentes na prestação de serviços à comunidade (CP,
art. 43, IV), à razão de 1 hora de trabalho por dia de condenação, a ser cumprida,
preferencialmente, nos sábados, domingos e feriados, a conformidade do que dispõe o artigo

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 176/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

46, §§ 1º, 2º e 3º, do CP, e prestação pecuniária (art. 45, §1º, CP) no montante de dois salários
mínimos, a ser destinado a instituição pública ou privada com finalidade social, a ser
determinada no juízo da execução.​​

O regime inicial da pena privativa de liberdade, em caso de não


cumprimento das penas restritivas de direito, deverá ser o semiaberto. ​

vi) CONDENAR a ré JUCIELI LINK MIOTTO pela prática do crime do


artigo 90 da Lei n. 8.666/93 c/c artigo 69 do Código Penal, à pena de 4 (quatro) anos de
detenção e 20 (vinte) dias multa, no valor unitário de 1/20 (um vigésimo) do
salário mínimo.

Substituo a pena privativa de liberdade aplicada por duas penas restritivas de


direito (art. 44, §2º, 2ª parte, do CP), consistentes na prestação de serviços à comunidade (CP,
art. 43, IV), à razão de 1 hora de trabalho por dia de condenação, a ser cumprida,
preferencialmente, nos sábados, domingos e feriados, a conformidade do que dispõe o artigo
46, §§ 1º, 2º e 3º, do CP, e prestação pecuniária (art. 45, §1º, CP) no montante de dois salários
mínimos, a ser destinado a instituição pública ou privada com finalidade social, a ser
determinada no juízo da execução.​​

O regime inicial da pena privativa de liberdade, em caso de não


cumprimento das penas restritivas de direito, deverá ser o semiaberto.

vii) CONDENAR o réu LUIZ ALBERTO MIOTTO pela prática do crime do


artigo 90 da Lei n. 8.666/93 c/c artigo 69 do Código Penal, à pena de 6 (seis) anos de
detenção e 30 (trinta) dias multa, no valor unitário de 1/30 do salário mínimo.

Incabível a substituição da pena, nos termos da fundamentação.

O regime inicial da pena privativa de liberdade deverá ser o semiaberto.

viii) CONDENAR o réu NEUDI JOSÉ BURATTI pela prática do crime do


artigo 90 da Lei n. 8.666/93 c/c artigo 69 do Código Penal, à pena de 4 (quatro) anos de
detenção e 20 (vinte) dias multa, no valor unitário de 1/20 (um vigésimo) do
5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771
https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 177/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

salário mínimo.

Substituo a pena privativa de liberdade aplicada por duas penas restritivas de


direito (art. 44, §2º, 2ª parte, do CP), consistentes na prestação de serviços à comunidade (CP,
art. 43, IV), à razão de 1 hora de trabalho por dia de condenação, a ser cumprida,
preferencialmente, nos sábados, domingos e feriados, a conformidade do que dispõe o artigo
46, §§ 1º, 2º e 3º, do CP, e prestação pecuniária (art. 45, §1º, CP) no montante de dois salários
mínimos, a ser destinado a instituição pública ou privada com finalidade social, a ser
determinada no juízo da execução.​​

O regime inicial da pena privativa de liberdade, em caso de não


cumprimento das penas restritivas de direito, deverá ser o semiaberto.

ix) CONDENAR a ré ZENILDE TEREZINHA KARACEK pela prática do


crime do artigo 90 da Lei n. 8.666/93 c/c artigo 69 do Código Penal, à pena de 2 (dois)
anos de detenção e 10 (dez) dias multa, no valor unitário de 1/10 (um décimo) do
salário mínimo.

Substituo a pena privativa de liberdade aplicada por duas penas restritivas de


direito (art. 44, §2º, 2ª parte, do CP), consistentes na prestação de serviços à comunidade (CP,
art. 43, IV), à razão de 1 hora de trabalho por dia de condenação, a ser cumprida,
preferencialmente, nos sábados, domingos e feriados, a conformidade do que dispõe o artigo
46, §§ 1º, 2º e 3º, do CP, e prestação pecuniária (art. 45, §1º, CP) no montante de um
salário mínimo, a ser destinado a instituição pública ou privada com finalidade social, a ser
determinada no juízo da execução.​​

O regime inicial da pena privativa de liberdade, em caso de não


cumprimento das penas restritivas de direito, deverá ser o aberto.

Os réus poderão apelar em liberdade, se não estiverem presos por outro motivo,
ante a inexistência de fundamentação para imposição de prisão preventiva (CPP, art. 387, §
1º).

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 178/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

Deixo de fixar valor mínimo para reparação dos danos, nos termos da
fundamentação.

Condeno os réus NEUDI JOSÉ BURATTI, EVERTON MIOTTO BURATTI,


GILMAR AQUILES MARMENTINI, AIRTON SENA MIOTTO, LUIZ ALBERTO
MIOTTO, JUCIELI LINK MIOTTO, ZENILDE TEREZINHA KARACK e ALCIMAR DE
OLIVEIRA ao pagamento das custas processuais, pro rata.​​

Fixo os honorários do defensor dativo Dr. Fernando Henrique Pansera,


OAB/SC 29590, nomeado para atuar na defesa do acusado NEUDI JOSÉ BURATTI,​​ no
valor máximo da tabela atualmente vigente (Resolução n. 305, de 04/10/2014, do CJF), cuja
requisição e pagamento ocorrerão após o trânsito em julgado da sentença ou acórdão (art.
27).

Considerando o trabalho desenvolvido no feito, com a participação em


audiência de instrução e apresentação de alegações finais, fixo os honorários da defensora
dativa Dra. Natana de Camargo Pansera, OAB/SC 44801, nomeada para atuar na defesa do
réu EVERTON MEOTTI BURATTI em substituição do defensor anteriormente nomeado
(evento 193), em 2/3 do valor máximo previsto na Resolução nº 305/2014 do Conselho da
Justiça Federal, cuja requisição e pagamento ocorrerão após o trânsito em julgado da
sentença ou acórdão (art. 27)

Outrossim, verifico que os honorários dos defensores Dr. Denis Antonio


Snichelotto e Dr. Fernando Henrique Pansera (este último em relação à atuação na defesa
do acusado EVERTON MEOTTI BURATTI) já foram requisitados (eventos 264 e 265).

Não há bens apreendidos.

Não houve prestação de fiança no presente caso.

Caso interposta apelação:

a) intime-se o apelante para apresentação das respectivas razões, no prazo de


8 dias;
5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771
https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 179/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

b) com as respectivas razões ou caso estas já tenham sido apresentadas na


própria interposição, intime-se a parte contrária para apresentação das contrarrazões, no
prazo de 8 dias;

c) apresentadas as contrarrazões ou manifestado o desejo do apelante em


arrazoar na Superior Instância, remetam-se os autos ao Tribunal Regional Federal da 4ª
Região.

Não havendo apelação, certifique a Secretaria o trânsito em julgado.

Após o trânsito em julgado e mantida a condenação (Consolidação Normativa


1
da Corregedoria Regional da Justiça Federal da 4ª Região, artigos 340 e 341 ):

a) remetam-se os autos à contadoria para cálculo da multa (se houver) e custas


processuais, intimando-se, na sequência, os condenados para o seu pagamento, em 10 (dez)
dias, nos termos do artigo 360 da referida Consolidação Normativa;

b) oficie-se ao Tribunal Regional Eleitoral, para os fins do artigo 15, III, da


CF/88;

c) lance-se o nome do réu no rol dos culpados;

d) comunique-se a condenação à Polícia Federal;

e) modifique-se a situação de denunciado para a 'arquivado/condenado',


expedindo ficha individual de apenado, e, sendo o caso, distribua-se o processo de execução
penal, via SEEU;

f) cumpra-se o artigo 809, parágrafo 3º, do Código de Processo Penal;

g) requisite-se o pagamento dos honorários dos defensores nomeados por este


juízo (Resolução nº 305 do CJF, de 7 de outubro de 2014, art. 27);

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 180/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

h) Tratando-se de condenação ao cumprimento de pena em regime semiaberto


transitada em julgado, sem substituição, o Juízo de instrução excepcionalmente expedirá guia
de recolhimento consoante o Anexo I-A, encontrando-se o réu solto, providenciando a sua
inserção no Banco Nacional de Monitoramento de Prisões (BNMP) e distribuindo o
competente processo de execução penal, observando, no que couber, as demais providências
do artigo 340.

Sentença publicada e registrada eletronicamente, descabendo a sua publicação,


integral ou resumida, em jornal (CPP, art. 387, VI).

Diante do depoimento da testemunha JACIR MARMENTINI, oficie-se


ao Ministério do Trabalho e à Receita Federal, conforme requerido pelo Ministério Público
Federal no Evento 232.

Sentença publicada e registrada eletronicamente, descabendo a sua publicação,


integral ou resumida, em jornal (CPP, art. 387, VI).

Intimem-se os réus, na pessoa dos advogados constituídos, pois, em se tratando


de réus soltos, não se faz necessária a intimação pessoal (art. 392, inciso II, CPP; STJ: RHC
44.840/GO, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 05/08/2014, DJe
14/08/2014; RHC 66.996/RR, Rel. Ministro RIB

Intime-se os réus EVERTON MEOTTI BURATTI e NEUDI JOSÉ


BURATTI pessoalmente, por estarem assistidos de defensores dativos (CPP, art. 392, II).

Documento eletrônico assinado por PRISCILLA MIELKE WICKERT PIVA, Juíza Federal Substituta na
Titularidade Plena, na forma do artigo 1º, inciso III, da Lei 11.419, de 19 de dezembro de 2006 e Resolução TRF 4ª
Região nº 17, de 26 de março de 2010. A conferência da autenticidade do documento está disponível no endereço
eletrônico http://www.trf4.jus.br/trf4/processos/verifica.php, mediante o preenchimento do código verificador
720010418194v771 e do código CRC ca2610a5.

Informações adicionais da assinatura:


Signatário (a): PRISCILLA MIELKE WICKERT PIVA
Data e Hora: 19/10/2023, às 14:41:26

5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771


https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 181/182
24/10/2023 07:55 :: 720010418194 - eproc - ::

1. BALTAZAR JÚNIOR, José Paulo. Crimes Federais, 11ª ed. Saraiva, São Paulo, 2017, p. 890
1. Observe-se o disposto nos artigos 340 e 341 da Consolidação Normativa da Corregedoria Regional da Justiça Federal
da 4ª Região (respectivamente, o primeiro para as condenações ao cumprimento de pena em regime semiaberto, com
substituição da pena privativa de liberdade, bem como o segundo às condenações ao cumprimento de pena em regime
semiaberto transitada em julgado, sem substituição).
5007342-52.2020.4.04.7202 720010418194 .V771

https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=c8f83aa20333b2695d83b91fb99aacc9 182/182

Você também pode gostar