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LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE

- Proposta de conteúdo programático a ser desenvolvido:


1) Crime organizado: Lei nº 12.850/2013;
2) Abuso de autoridade: Lei nº 13.869/2019;

3) Crimes hediondos: Lei nº 8.072/1990;


4) Tráfico de Drogas: Lei nº 11.343/2006;
5) Estatuto do Desarmamento: Lei nº 10.826/2003;

6) Tortura: Lei nº 9.455/1997;


7) Racismo: Lei nº 7.716/1989;
8) Crimes de trânsito: Lei nº 9.503/1997;

9) Crimes de lavagem de dinheiro ou ocultação de bens: Lei nº 9.613/1998;


11) Crimes contra o sistema financeiro nacional: Lei nº 7.492/1986;
12) Lei Maria da Penha: Lei nº 11.340/2006;

13) Lei Antiterrorismo: Lei nº 13.260/2016.


14) Lei das Contravenções Penais: Lei nº 3.688/1941.

LEI DE COMBATE AO CRIME ORGANIZADO – LEI 12.850/13


- A primeira lei que tratou sobre criminalidade organizada no Brasil foi a Lei
9.034/95, mas que não trouxe, no seu âmbito, a definição de crime organizado e
a tipificação dessa conduta. Houve um esforço doutrinário e jurisprudencial para
aceitar a definição trazida pela Convenção de Palermo (tratado internacional que
visa a repressão ao crime organizado), mas o Supremo Tribunal Federal decidiu
que a definição de crime organizado deve se dar por meio de lei interna, e não
por meio de decreto (o decreto que ratificou o tratado na ordem jurídica
brasileira).

- Surgiu então a Lei 12.694/12, que deu um conceito jurídico interno de crime
organizado. Mas essa lei foi, ao menos nesse ponto, tacitamente revogada pela
Lei 12.850/13, que é a legislação atual sobre crime organizado e que, não só
trouxe um conceito de crime organizado, como tipificou essa conduta, como
veremos.

Art. 1º Esta Lei define organização criminosa e dispõe sobre a


investigação criminal, os meios de obtenção da prova, infrações
penais correlatas e o procedimento criminal a ser aplicado.
§ 1º Considera-se organização criminosa a associação de 4
(quatro) ou mais pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada
pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de
obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza,
mediante a prática de infrações penais cujas penas máximas sejam
superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter
transnacional.

§ 2º Esta Lei se aplica também:


I - às infrações penais previstas em tratado ou convenção
internacional quando, iniciada a execução no País, o resultado tenha
ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente; (ex.:
tráfico internacional de pessoas para fim de exploração sexual – 231,
CP)

II - às organizações terroristas, entendidas como aquelas voltadas


para a prática dos atos de terrorismo legalmente definidos. (Redação
dada pela lei nº 13.260, de 2016)
- A Lei 12.850/13 não apenas previu um conceito de organização criminosa,
como também tipificou de modo autônomo a conduta daqueles que a integram:
Art. 2º Promover, constituir, financiar ou integrar, pessoalmente ou por
interposta pessoa, organização criminosa:
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa, sem prejuízo das
penas correspondentes às demais infrações penais praticadas.

§ 1º Nas mesmas penas incorre quem impede ou, de qualquer forma,


embaraça a investigação de infração penal que envolva organização
criminosa.

§ 2º As penas aumentam-se até a metade se na atuação da


organização criminosa houver emprego de arma de fogo.

§ 3º A pena é agravada para quem exerce o comando, individual ou


coletivo, da organização criminosa, ainda que não pratique
pessoalmente atos de execução.

§ 4º A pena é aumentada de 1/6 (um sexto) a 2/3 (dois terços):


I - se há participação de criança ou adolescente;
II - se há concurso de funcionário público, valendo-se a organização
criminosa dessa condição para a prática de infração penal;
III - se o produto ou proveito da infração penal destinar-se, no todo ou
em parte, ao exterior;
IV - se a organização criminosa mantém conexão com outras
organizações criminosas independentes;
V - se as circunstâncias do fato evidenciarem a transnacionalidade da
organização.

§ 5º Se houver indícios suficientes de que o funcionário público integra


organização criminosa, poderá o juiz determinar seu afastamento
cautelar do cargo, emprego ou função, sem prejuízo da
remuneração, quando a medida se fizer necessária à investigação ou
instrução processual.
§ 6º A condenação com trânsito em julgado acarretará ao
funcionário público a perda do cargo, função, emprego ou mandato
eletivo e a interdição para o exercício de função ou cargo público
pelo prazo de 8 (oito) anos subsequentes ao cumprimento da
pena.
§ 7º Se houver indícios de participação de policial nos crimes de que
trata esta Lei, a Corregedoria de Polícia instaurará inquérito policial e
comunicará ao Ministério Público, que designará membro para
acompanhar o feito até a sua conclusão.
§ 8º As lideranças de organizações criminosas armadas ou que
tenham armas à disposição deverão iniciar o cumprimento da pena
em estabelecimentos penais de segurança máxima. (Incluído pela
Lei nº 13.964, de 2019)

§ 9º O condenado expressamente em sentença por integrar


organização criminosa ou por crime praticado por meio de
organização criminosa não poderá progredir de regime de
cumprimento de pena ou obter livramento condicional ou outros
benefícios prisionais se houver elementos probatórios que indiquem
a manutenção do vínculo associativo. (Incluído pela Lei nº 13.964, de
2019)

Da investigação e dos meios de obtenção da prova


- O artigo 3º da Lei 12.850/13 traz um rol de meios de obtenção de prova
específicos, voltados para a apuração e esclarecimento dos crimes abrangidos
pela Lei:
Art. 3º Em qualquer fase da persecução penal, serão permitidos, sem
prejuízo de outros já previstos em lei, os seguintes meios de
obtenção da prova:
I - colaboração premiada;
II - captação ambiental de sinais eletromagnéticos, ópticos ou
acústicos;
III - ação controlada;
IV - acesso a registros de ligações telefônicas e telemáticas, a dados
cadastrais constantes de bancos de dados públicos ou privados e a
informações eleitorais ou comerciais;
V - interceptação de comunicações telefônicas e telemáticas, nos
termos da legislação específica;
VI - afastamento dos sigilos financeiro, bancário e fiscal, nos termos
da legislação específica;

VII - infiltração, por policiais, em atividade de investigação, na forma


do art. 11;
VIII - cooperação entre instituições e órgãos federais, distritais,
estaduais e municipais na busca de provas e informações de
interesse da investigação ou da instrução criminal.
§ 1º Havendo necessidade justificada de manter sigilo sobre a
capacidade investigatória, poderá ser dispensada licitação para
contratação de serviços técnicos especializados, aquisição ou
locação de equipamentos destinados à polícia judiciária para o
rastreamento e obtenção de provas previstas nos incisos II e V.
(Incluído pela Lei nº 13.097, de 2015)
§ 2º No caso do § 1º, fica dispensada a publicação de que trata o
parágrafo único do art. 61 da Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993,
devendo ser comunicado o órgão de controle interno da realização da
contratação. (Incluído pela Lei nº 13.097, de 2015)

COLABORAÇÃO PREMIADA

- A colaboração premiada tem origem no direito estadunidense, como uma das


manifestações do sistema de justiça penal consensual, no que se chama, por
lá, de plea bargain. A colaboração premiada é, assim, fruto do collaboration
agreement do direito americano, servindo como um mecanismo muito utilizado,
em terras estrangeiras, para a obtenção de informações sobre grupos criminosos
organizados, como as máfias.

- A Lei 12.850/13 traz uma normativa central e aprofundada sobre esse instituto
da colaboração premiada. Contudo, a ideia de colaboração premiada não é nova
no direito brasileiro, existindo em vários diplomas normativos, como será visto.
- O artigo 8º, parágrafo único, da Lei 8.072/90 (Lei de Crimes Hediondos),
prevê, com relação ao atual crime de associação criminosa (artigo 288, do
Código Penal), que caso o participante ou associado denuncie à autoridade o
“bando ou quadrilha”, permitindo o seu desmantelamento, terá a sua pena
reduzida de um a dois terços.
- Esse benefício foi levado pela mesma lei ao Código Penal com relação ao
crime de extorsão mediante sequestro, no artigo 159, § 4º, que, com a redação
dada pela Lei 9.269/96, prevê que “se o crime é cometido em concurso, o
concorrente que o denunciar à autoridade, facilitando a libertação do
sequestrado, terá sua pena reduzida de um a dois terços”.

- A revogada Lei 9.034/95 (antiga Lei das Organizações Criminosas)


igualmente previa, em seu artigo 6º, minorante para a colaboração espontânea
do agente, que produzisse por resultado o esclarecimento dos crimes praticados
por tais grupos.
- Além do mais, a Lei 9.613/98 (Lei de Lavagem de Capitais), no artigo 6º,
juntamente com a Lei 9.807/99 (Lei de Proteção de Vítimas e Testemunhas),
nos artigos 13 e 14, trouxeram ampliação de benefícios para quando houvesse
colaboração premiada, permitindo inclusive perdão judicial ou cumprimento de
pena em regime semiaberto ou aberto.

- Tais previsões se expandiram para a Lei 11.343/06 (Lei de Tóxicos), em seu


artigo 41, bem como para a Lei 12.529/11 (Lei do Sistema Brasileiro de Defesa
da Concorrência), no artigo 87, com suas previsões específicas.

- Mas é somente com a edição da Lei 12.850/13, a nova Lei de Combate às


Organizações Criminosas, que o instituto da colaboração premiada ganhou a
sistematização que lhe faltava, fazendo com que ganhasse a sua atual
importância no contexto jurídico-penal brasileiro. E essa normatização foi ainda
aprofundada pela Lei do Pacote Anticrime (Lei 13.964/19), como estudaremos.

- A doutrina especializada aponta que Lei de Combate às Organizações


Criminosas estabeleceu um verdadeiro “microssistema” da colaboração
premiada, uma vez que poderia ser utilizado o seu regramento de modo supletivo
com relação às demais disposições existentes sobre o assunto no ordenamento
jurídico.
Art. 3º-A. O acordo de colaboração premiada é negócio jurídico
processual e meio de obtenção de prova, que pressupõe utilidade
e interesse públicos. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
- Com o novel artigo 3º-A, da Lei 12.850/13, é visível a positivação do
entendimento do Supremo Tribunal Federal a respeito da colaboração premiada,
como se extrai do HC 127.483/PR, de Relatoria do Ministro Dias Toffoli, julgado
em 27/08/15, cuja ementa vem no seguinte sentido: “A colaboração premiada é
um negócio jurídico processual, uma vez que, além de ser qualificada
expressamente pela lei como “meio de obtenção de prova”, seu objeto é a
cooperação do imputado para a investigação e para o processo criminal,
atividade de natureza processual, ainda que se agregue a esse negócio jurídico
o efeito substancial (de direito material) concernente à sanção premial a ser
atribuída a essa colaboração.”

Art. 3º-B. O recebimento da proposta para formalização de acordo de


colaboração demarca o início das negociações e constitui também
marco de confidencialidade, configurando violação de sigilo e
quebra da confiança e da boa-fé a divulgação de tais tratativas iniciais
ou de documento que as formalize, até o levantamento de sigilo por
decisão judicial. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 1º A proposta de acordo de colaboração premiada poderá ser
sumariamente indeferida, com a devida justificativa, cientificando-se
o interessado. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 2º Caso não haja indeferimento sumário, as partes deverão firmar
Termo de Confidencialidade para prosseguimento das tratativas, o
que vinculará os órgãos envolvidos na negociação e impedirá o
indeferimento posterior sem justa causa. (Incluído pela Lei nº 13.964,
de 2019)
§ 3º O recebimento de proposta de colaboração para análise ou o
Termo de Confidencialidade não implica, por si só, a suspensão da
investigação, ressalvado acordo em contrário quanto à propositura
de medidas processuais penais cautelares e assecuratórias, bem
como medidas processuais cíveis admitidas pela legislação
processual civil em vigor. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 4º O acordo de colaboração premiada poderá ser precedido de
instrução, quando houver necessidade de identificação ou
complementação de seu objeto, dos fatos narrados, sua definição
jurídica, relevância, utilidade e interesse público. (Incluído pela Lei nº
13.964, de 2019)
§ 5º Os termos de recebimento de proposta de colaboração e de
confidencialidade serão elaborados pelo celebrante e assinados por
ele, pelo colaborador e pelo advogado ou defensor público com
poderes específicos. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 6º Na hipótese de não ser celebrado o acordo por iniciativa do
celebrante, esse não poderá se valer de nenhuma das
informações ou provas apresentadas pelo colaborador, de boa-
fé, para qualquer outra finalidade. (Incluído pela Lei nº 13.964, de
2019)
Art. 3º-C. A proposta de colaboração premiada deve estar instruída
com procuração do interessado com poderes específicos para iniciar
o procedimento de colaboração e suas tratativas, ou firmada
pessoalmente pela parte que pretende a colaboração e seu advogado
ou defensor público. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 1º Nenhuma tratativa sobre colaboração premiada deve ser
realizada sem a presença de advogado constituído ou defensor
público. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 2º Em caso de eventual conflito de interesses, ou de colaborador
hipossuficiente, o celebrante deverá solicitar a presença de outro
advogado ou a participação de defensor público. (Incluído pela Lei nº
13.964, de 2019)
§ 3º No acordo de colaboração premiada, o colaborador deve narrar
todos os fatos ilícitos para os quais concorreu e que tenham relação
direta com os fatos investigados. (Incluído pela Lei nº 13.964, de
2019)
§ 4º Incumbe à defesa instruir a proposta de colaboração e os anexos
com os fatos adequadamente descritos, com todas as suas
circunstâncias, indicando as provas e os elementos de corroboração.
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
-
- A colaboração premiada, diferentemente dos benefícios legais da Lei do
Juizado Especial Criminal, é um negócio jurídico processual PUNITIVO, e não
despenalizador, pois busca tornar mais efetiva a persecução penal com relação
às organizações criminosas.

- Segundo a doutrina especializada, o termo mais adequado para se referir a


esse instituto, ao menos no âmbito da Lei 12.850/13, é colaboração premiada.
Isso porque representa um gênero, que comporta, dentre as suas espécies, o
chamamento de corréu e a delação premiada:
Art. 4º O juiz poderá, a requerimento das partes, conceder o perdão
judicial, reduzir em até 2/3 (dois terços) a pena privativa de
liberdade ou substituí-la por restritiva de direitos daquele que
tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a investigação e
com o processo criminal, desde que dessa colaboração advenha um
ou mais dos seguintes resultados:
I - a identificação dos demais coautores e partícipes da organização
criminosa e das infrações penais por eles praticadas; (delação
premiada ou chamamento de corréu)
II - a revelação da estrutura hierárquica e da divisão de tarefas da
organização criminosa; (delação premiada)
III - a prevenção de infrações penais decorrentes das atividades da
organização criminosa; (colaboração para prevenção)
IV - a recuperação total ou parcial do produto ou do proveito das
infrações penais praticadas pela organização criminosa;
(colaboração para recuperação)
V - a localização de eventual vítima com a sua integridade física
preservada. (colaboração para libertação)
- Fica evidente, embora não seja unanimidade em doutrina, que é mais coerente
entender colaboração premiada como um conjunto que reúne, em seu âmbito,
formas de colaboração e de delação, sendo a própria expressão “delação
premiada” muito mais restrita na sua utilização.

Art. 3º-B. O recebimento da proposta para formalização de acordo de


colaboração demarca o início das negociações e constitui também
marco de confidencialidade, configurando violação de sigilo e
quebra da confiança e da boa-fé a divulgação de tais tratativas iniciais
ou de documento que as formalize, até o levantamento de sigilo por
decisão judicial. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 1º A proposta de acordo de colaboração premiada poderá ser


sumariamente indeferida, com a devida justificativa, cientificando-se
o interessado. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 2º Caso não haja indeferimento sumário, as partes deverão firmar
Termo de Confidencialidade para prosseguimento das tratativas, o
que vinculará os órgãos envolvidos na negociação e impedirá o
indeferimento posterior sem justa causa. (Incluído pela Lei nº 13.964,
de 2019)
§ 3º O recebimento de proposta de colaboração para análise ou o
Termo de Confidencialidade não implica, por si só, a suspensão da
investigação, ressalvado acordo em contrário quanto à propositura
de medidas processuais penais cautelares e assecuratórias, bem
como medidas processuais cíveis admitidas pela legislação
processual civil em vigor. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 4º O acordo de colaboração premiada poderá ser precedido de
instrução, quando houver necessidade de identificação ou
complementação de seu objeto, dos fatos narrados, sua definição
jurídica, relevância, utilidade e interesse público. (Incluído pela Lei nº
13.964, de 2019)

§ 5º Os termos de recebimento de proposta de colaboração e de


confidencialidade serão elaborados pelo celebrante e assinados por
ele, pelo colaborador e pelo advogado ou defensor público com
poderes específicos. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 6º Na hipótese de não ser celebrado o acordo por iniciativa do
celebrante, esse não poderá se valer de nenhuma das
informações ou provas apresentadas pelo colaborador, de boa-
fé, para qualquer outra finalidade. (Incluído pela Lei nº 13.964, de
2019)

Art. 3º-C. A proposta de colaboração premiada deve estar instruída


com procuração do interessado com poderes específicos para iniciar
o procedimento de colaboração e suas tratativas, ou firmada
pessoalmente pela parte que pretende a colaboração e seu advogado
ou defensor público. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 1º Nenhuma tratativa sobre colaboração premiada deve ser


realizada sem a presença de advogado constituído ou defensor
público. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 2º Em caso de eventual conflito de interesses, ou de colaborador


hipossuficiente, o celebrante deverá solicitar a presença de outro
advogado ou a participação de defensor público. (Incluído pela Lei nº
13.964, de 2019)
§ 3º No acordo de colaboração premiada, o colaborador deve narrar
todos os fatos ilícitos para os quais concorreu e que tenham
relação direta com os fatos investigados. (Incluído pela Lei nº
13.964, de 2019)
§ 4º Incumbe à defesa instruir a proposta de colaboração e os anexos
com os fatos adequadamente descritos, com todas as suas
circunstâncias, indicando as provas e os elementos de corroboração.
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
- Os artigos 3º-A a 3º-C são fruto da prática jurisprudencial sobre a colaboração
premiada, entendendo por bem o legislador fixar, em lei, certos pontos básicos
sobre tal instrumento.
- Adentrando, então, no âmago do instituto, como o faz o citado art. 4º, da Lei
das Organizações Criminosas, é imprescindível notar que, para que haja a
celebração de acordo de colaboração premiada, é preciso que:
a) a colaboração premiada atinja um dos resultados previstos em lei (incisos I a
V, do art. 4º);
b) a colaboração deve ser efetiva (realmente permitir que os resultados sejam
alcançados) e voluntária (não precisa ser espontânea – pode ser provocada, mas
deve ser decorrência da vontade do colaborador, e não ser obtida sob pressão
de qualquer gênero);
c) se a colaboração se prestar aos seus fins, é possível, a depender do grau de
efetividade da sua utilização, a obtenção, pelo colaborar, de algum dos
benefícios legais: (i) perdão judicial; (ii) redução da pena privativa de liberdade
em até 2/3; ou (iii) substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de
direitos.
d) conforme afirma o §1º, do art. 4º, da Lei 12.850/13: “a concessão do benefício
levará em conta a personalidade do colaborador, a natureza, as circunstâncias,
a gravidade e a repercussão social do fato criminoso e a eficácia da
colaboração”.

OBS.: Além dos benefícios previstos no caput do art. 4º, o §4º desse mesmo
dispositivo estabelece que será possível: (i) deixar de oferecer a denúncia; (ii) se
a infração revelada pelo colaborar for desconhecida; (iii) e se o colaborador não
for chefe da organização criminosa e for o primeiro a prestar efetiva colaboração.
OBS.: Art. 4º, §5º: Se a colaboração for posterior à sentença, a pena poderá
ser reduzida até a metade ou será admitida a progressão de regime ainda
que ausentes os requisitos objetivos.
- Aponta a doutrina que, para a colaboração premiada possuir eficácia
probatória, aquilo que for delatado ou informado pelo colaborador deve ter
credibilidade objetiva, através da regra da corroboração: quer dizer, somente
terá valor a colaboração premiada se as alegações do colaborar encontrarem
respaldo no lastro probatório já produzido.
OBS.: Art. 4º, §3º: O prazo para oferecimento de denúncia ou o processo,
relativos ao colaborador, poderá ser suspenso por até 6 (seis) meses,
prorrogáveis por igual período, até que sejam cumpridas as medidas de
colaboração, suspendendo-se o respectivo prazo prescricional.

- Dispõe o §7º, do art. 4º, o seguinte:


§ 7º Realizado o acordo na forma do § 6º (homologado o acordo pelo
juiz – juiz não participa da negociação) deste artigo, serão remetidos
ao juiz, para análise, o respectivo termo, as declarações do
colaborador e cópia da investigação, devendo o juiz ouvir
sigilosamente o colaborador, acompanhado de seu defensor,
oportunidade em que analisará os seguintes aspectos na
homologação: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
I - regularidade e legalidade; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
II - adequação dos benefícios pactuados àqueles previstos no caput
e nos §§ 4º e 5º deste artigo, sendo nulas as cláusulas que violem o
critério de definição do regime inicial de cumprimento de pena do art.
33 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código
Penal), as regras de cada um dos regimes previstos no Código Penal
e na Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984 (Lei de Execução Penal) e
os requisitos de progressão de regime não abrangidos pelo § 5º deste
artigo; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
III - adequação dos resultados da colaboração aos resultados
mínimos exigidos nos incisos I, II, III, IV e V do caput deste artigo;
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
IV - voluntariedade da manifestação de vontade, especialmente
nos casos em que o colaborador está ou esteve sob efeito de medidas
cautelares. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
- E o regramento do acordo de colaboração premiada continua na legislação.

LEI DE CRIMES HEDIONDOS (LEI 8.072/90)


Conceito de crime hediondo
- No Direito Penal Brasileiro, levando em consideração o quanto disposto no art.
5º, XLIII, da Constituição Federal, é de atribuição da legislação a definição de
quais crimes serão considerados como hediondos e, por consequência,
merecedores de maior repressão estatal nos termos que estudaremos. Trata-se
da adoção do sistema legal para a definição de quais crimes são hediondos.
- Nesse sistema, não se admite a extensão do rol para prever condutas que não
estejam expressamente no elenco de crimes hediondos. É, portanto, um rol
taxativo, que encontra a sua previsão no art. 1º, da Lei 8.072/90. Esse rol, com
o tempo, foi sendo revisto e modificado, o que, infelizmente, acabou por gerar
algumas inconsistências em termos de coerência.
Art. 1º São considerados hediondos os seguintes crimes, todos
tipificados no Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 -
Código Penal, consumados ou tentados: (Redação dada pela Lei nº
8.930, de 1994)
I - homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo
de extermínio, ainda que cometido por um só agente, e homicídio
qualificado (art. 121, § 2º, incisos I, II, III, IV, V, VI, VII e VIII); (Redação
dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
I-A – lesão corporal dolosa de natureza gravíssima (art. 129, § 2º) e
lesão corporal seguida de morte (art. 129, § 3º), quando praticadas
contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da
Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força
Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em
decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente
consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição; (Incluído
pela Lei nº 13.142, de 2015)
II - roubo: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
a) circunstanciado pela restrição de liberdade da vítima (art. 157, § 2º,
inciso V); (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
b) circunstanciado pelo emprego de arma de fogo (art. 157, § 2º-A,
inciso I) ou pelo emprego de arma de fogo de uso proibido ou restrito
(art. 157, § 2º-B); (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
c) qualificado pelo resultado lesão corporal grave ou morte (art. 157,
§ 3º); (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
III - extorsão qualificada pela restrição da liberdade da vítima,
ocorrência de lesão corporal ou morte (art. 158, § 3º); (Redação dada
pela Lei nº 13.964, de 2019)
IV - extorsão mediante sequestro e na forma qualificada (art. 159,
caput, e §§ 1º, 2º e 3º); (Inciso incluído pela Lei nº 8.930, de 1994)
V - estupro (art. 213, caput e §§ 1º e 2º); (Redação dada pela Lei nº
12.015, de 2009)
VI - estupro de vulnerável (art. 217-A, caput e §§ 1º, 2º, 3º e 4º);
(Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)
VII - epidemia com resultado morte (art. 267, § 1º). (Inciso incluído
pela Lei nº 8.930, de 1994)
VII-A – (VETADO) (Inciso incluído pela Lei nº 9.695, de 1998)
VII-B - falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto
destinado a fins terapêuticos ou medicinais (art. 273, caput e § 1º, §
1º-A e § 1º-B, com a redação dada pela Lei no 9.677, de 2 de julho de
1998). (Inciso incluído pela Lei nº 9.695, de 1998)
VIII - favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração
sexual de criança ou adolescente ou de vulnerável (art. 218-B, caput,
e §§ 1º e 2º). (Incluído pela Lei nº 12.978, de 2014)
IX - furto qualificado pelo emprego de explosivo ou de artefato análogo
que cause perigo comum (art. 155, § 4º-A). (Incluído pela Lei nº
13.964, de 2019)
Parágrafo único. Consideram-se também hediondos, tentados ou
consumados: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
I - o crime de genocídio, previsto nos arts. 1º, 2º e 3º da Lei nº 2.889,
de 1º de outubro de 1956; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
II - o crime de posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso proibido,
previsto no art. 16 da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003;
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
III - o crime de comércio ilegal de armas de fogo, previsto no art. 17
da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003; (Incluído pela Lei nº
13.964, de 2019)
IV - o crime de tráfico internacional de arma de fogo, acessório ou
munição, previsto no art. 18 da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de
2003; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
V - o crime de organização criminosa, quando direcionado à prática
de crime hediondo ou equiparado. (Incluído pela Lei nº 13.964, de
2019)

OBS.: Lei do Genocídio (Lei 2.889/56): A Lei de Genocídio é fruto da


preocupação mundial do pós-2ª Guerra Mundial. Trata-se de legislação inspirada
na Convenção para a Prevenção e Castigo ao Crime de Genocídio, editada pela
ONU em 1948 e ratificada pelo Brasil em 1952. Assim, surge a Lei 2.889/56.

Art. 1º Quem, com a intenção de destruir, no todo ou em parte, grupo


nacional, étnico, racial ou religioso, como tal:
a) matar membros do grupo;
b) causar lesão grave à integridade física ou mental de membros do
grupo;
c) submeter intencionalmente o grupo a condições de existência
capazes de ocasionar-lhe a destruição física total ou parcial;
d) adotar medidas destinadas a impedir os nascimentos no seio do
grupo;
e) efetuar a transferência forçada de crianças do grupo para outro
grupo;

Será punido:
Com as penas do art. 121, § 2º, do Código Penal, no caso da letra a
(reclusão, de 12 a 30 anos);

Com as penas do art. 129, § 2º, no caso da letra b (reclusão, de 2 a 8


anos);
Com as penas do art. 270, no caso da letra c (reclusão, de 10 a 15
anos);
Com as penas do art. 125, no caso da letra d (reclusão, de 3 a 10
anos);
Com as penas do art. 148, no caso da letra e (reclusão, de 1 a 3 anos);
- A doutrina aponta que esse artigo 1º é uma norma penal em branco às
avessas, pois o que precisa de complementação não é o preceito primário
(descrição da conduta criminosa), e sim o preceito secundário (a previsão da
sanção penal).
- Trata-se de dispositivo que reproduz integralmente o texto da Convenção
internacional, e que acaba por pecar na forma desorganizada e pouco precisa
da fixação da reprimenda estatal.
- É indispensável, para a configuração do crime de genocídio do art. 1º, a
presença do elemento subjetivo específico do tipo (dolo específico), consistente
na finalidade de destruir, no todo ou em parte, grupo nacional, étnico, racial ou
religioso. Não se exige que a conduta necessariamente atinja um número
elevado de pessoas.
OBS.: Lei do Genocídio (Lei 2.889/56): A Lei de Genocídio é fruto da
preocupação mundial do pós-2ª Guerra Mundial. Trata-se de legislação inspirada
na Convenção para a Prevenção e Castigo ao Crime de Genocídio, editada pela
ONU em 1948 e ratificada pelo Brasil em 1952. Assim, surge a Lei 2.889/56.

Art. 1º Quem, com a intenção de destruir, no todo ou em parte, grupo


nacional, étnico, racial ou religioso, como tal:

a) matar membros do grupo;


b) causar lesão grave à integridade física ou mental de membros do
grupo;

c) submeter intencionalmente o grupo a condições de existência


capazes de ocasionar-lhe a destruição física total ou parcial;
d) adotar medidas destinadas a impedir os nascimentos no seio do
grupo;
e) efetuar a transferência forçada de crianças do grupo para outro
grupo;

Será punido:
Com as penas do art. 121, § 2º, do Código Penal, no caso da letra a
(reclusão, de 12 a 30 anos);

Com as penas do art. 129, § 2º, no caso da letra b (reclusão, de 2 a 8


anos);
Com as penas do art. 270, no caso da letra c (reclusão, de 10 a 15
anos);
Com as penas do art. 125, no caso da letra d (reclusão, de 3 a 10
anos);

Com as penas do art. 148, no caso da letra e (reclusão, de 1 a 3 anos);


- A doutrina aponta que esse artigo 1º é uma norma penal em branco às
avessas, pois o que precisa de complementação não é o preceito primário
(descrição da conduta criminosa), e sim o preceito secundário (a previsão da
sanção penal).

- Trata-se de dispositivo que reproduz integralmente o texto da Convenção


internacional, e que acaba por pecar na forma desorganizada e pouco precisa
da fixação da reprimenda estatal.

- É indispensável, para a configuração do crime de genocídio do art. 1º, a


presença do elemento subjetivo específico do tipo (dolo específico), consistente
na finalidade de destruir, no todo ou em parte, grupo nacional, étnico, racial ou
religioso. Não se exige que a conduta necessariamente atinja um número
elevado de pessoas.
Lei de Genocídio (Lei 2.889/56)
Art. 2º Associarem-se mais de 3 (três) pessoas para prática dos
crimes mencionados no artigo anterior: (Vide Lei nº 7.960, de 1989)
Pena: Metade da cominada aos crimes ali previstos.

Lei de Crimes Hediondos (Lei 8.072/90)


Art. 8º Será de três a seis anos de reclusão a pena prevista no art.
288 do Código Penal (crime de associação criminosa), quando se
tratar de crimes hediondos, prática da tortura, tráfico ilícito de
entorpecentes e drogas afins ou terrorismo.
Parágrafo único. O participante e o associado que denunciar à
autoridade o bando ou quadrilha, possibilitando seu
desmantelamento, terá a pena reduzida de um a dois terços.
- O art. 2º, da Lei de Genocídio, foi revogado tacitamente pelo art. 8º, da Lei de
Crimes Hediondos, uma vez que esse último dispositivo regula a matéria
referente à associação criminosa para a prática de crimes hediondos, o que
abrange a prática do genocídio, e dá um tratamento jurídico diferente. Portanto,
perde a sua vigência o art. 2º da Lei de Genocídio.
Art. 3º Incitar, direta e publicamente alguém a cometer qualquer dos
crimes de que trata o art. 1º: (Vide Lei nº 7.960, de 1989)

Pena: Metade das penas ali cominadas.


§ 1º A pena pelo crime de incitação será a mesma de crime incitado,
se este se consumar.

§ 2º A pena será aumentada de 1/3 (um terço), quando a incitação for


cometida pela imprensa.

- Trata-se modalidade especial de incitação ao crime.


Art. 4º A pena será agravada de 1/3 (um terço), no caso dos arts. 1º,
2º e 3º, quando cometido o crime por governante ou funcionário
público.
Art. 5º Será punida com 2/3 (dois terços) das respectivas penas a
tentativa dos crimes definidos nesta lei.

Art. 6º Os crimes de que trata esta lei não serão considerados crimes
políticos para efeitos de extradição.
OBS.: Os crimes do Estatuto do Desarmamento que são considerados
hediondos serão vistos logo à frente (arts. 16, 17 e 18, do Estatuto).
OBS.: O crime de organização criminosa, previsto na Lei 12.850/13, também
será considerado hediondo quando a organização se voltar à prática de
hediondos e equiparados.
ATENÇÃO: Crimes hediondos são os da Lei 8.072/90, em seu art. 1º, caput e
parágrafo único. Crimes equiparados a hediondo são os previstos na
Constituição Federal e no art. 2º da Lei 8.072/90, sendo eles: tráfico de drogas,
tortura e terrorismo, cujas leis estudaremos na sequência.

CARACTERÍSTICAS DOS CRIMES HEDIONDOS


1) Vedação a anistia, graça e indulto
- Os crimes hediondos e equiparados são insuscetíveis de obtenção dos
benefícios de anistia (“perdão” pelo Poder Legislativo, concedido a fatos, através
de lei formal) e da graça ou do indulto (“perdão” pelo Poder Executivo, concedido
a pessoas, através de decreto). Trata-se de disposição já prevista no âmbito da
própria Constituição Federal, no art. 5º, inciso XLIII.
2) Vedação da fiança
- Em sua redação original, o art. 2º, II, da Lei 8.072/90, previa a vedação à fiança,
junto com a vedação à concessão de liberdade provisória. Entretanto, é firme o
entendimento do STF de que não se pode restringir a concessão da liberdade
provisória abstratamente pela lei, postura essa tida como inconstitucional. Dessa
forma, a Lei 11.464/07 alterou a redação da Lei de Crimes Hediondos, extirpando
tal vedação. Permanece, portanto, só a vedação à fiança.
3) Regime inicial de cumprimento de pena

- A Lei 11.464/07 modificou a redação do §1º do art. 2º da Lei 8.072/90, abolindo


o regime integralmente fechado. A alteração ocorreu para amoldar o texto legal
ao entendimento pacífico do STF no sentido de que o regime fechado, do início
ao fim, violava uma série de garantias constitucionais, destacando-se a
individualização da pena, a dignidade da pessoa humana, a proporcionalidade,
a isonomia, etc.
- Note-se, no entanto, que mesmo a regra do regime inicialmente fechado
abstratamente imposto a todos os autores de crimes hediondos e equiparados
foi considerada inconstitucional pelo STF (HC 111.840/ES – 27/06/12).
4) Progressão de regime
- Antigamente, previa-se no §2º, do art. 2º, da Lei de Crimes Hediondos os
critérios temporais diferenciados de 2/5 e 3/5 do cumprimento da pena para a
progressão de regime aos condenados por crimes hediondos. Contudo, com o
advento da Lei 13.964/19 (Lei Anticrime), os percentuais para a progressão de
regime são os do art. 112, da Lei de Execução Penal (Lei 7.210/84):
Art. 112. A pena privativa de liberdade será executada em forma progressiva
com a transferência para regime menos rigoroso, a ser determinada pelo
juiz, quando o preso tiver cumprido ao menos: (Redação dada pela Lei nº
13.964, de 2019)
I - 16% (dezesseis por cento) da pena, se o apenado for primário e o crime
tiver sido cometido sem violência à pessoa ou grave ameaça; (Incluído pela
Lei nº 13.964, de 2019)
II - 20% (vinte por cento) da pena, se o apenado for reincidente em crime
cometido sem violência à pessoa ou grave ameaça; (Incluído pela Lei nº
13.964, de 2019)
III - 25% (vinte e cinco por cento) da pena, se o apenado for primário e o
crime tiver sido cometido com violência à pessoa ou grave ameaça;
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
IV - 30% (trinta por cento) da pena, se o apenado for reincidente em crime
cometido com violência à pessoa ou grave ameaça; (Incluído pela Lei nº
13.964, de 2019)
V - 40% (quarenta por cento) da pena, se o apenado for condenado pela
prática de crime hediondo ou equiparado, se for primário; (Incluído
pela Lei nº 13.964, de 2019)
VI - 50% (cinquenta por cento) da pena, se o apenado for: (Incluído pela
Lei nº 13.964, de 2019)
a) condenado pela prática de crime hediondo ou equiparado, com
resultado morte, se for primário, vedado o livramento condicional;
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
b) condenado por exercer o comando, individual ou coletivo, de
organização criminosa estruturada para a prática de crime hediondo
ou equiparado; ou (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
c) condenado pela prática do crime de constituição de milícia privada;
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
VII - 60% (sessenta por cento) da pena, se o apenado for reincidente na
prática de crime hediondo ou equiparado; (Incluído pela Lei nº 13.964,
de 2019)
VIII - 70% (setenta por cento) da pena, se o apenado for reincidente em
crime hediondo ou equiparado com resultado morte, vedado o
livramento condicional. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

5) Recurso do réu em liberdade

- Trata-se de restrição não mais existente hoje na ordem jurídica brasileira,


embora continue prevista no §3º, do art. 2º, da Lei de Crimes Hediondos. Isso
porque não há, hoje, restrição ao conhecimento do recurso do condenado só
pelo fato de ele não ter se recolhido à prisão. A regra de ficar preso no curso do
processo, incluindo-se no curso da tramitação de recursos, é a da necessidade
ou não de prisão preventiva. Não há mais prisão decorrente da condenação, por
si só.

6) Presídios de segurança máxima


Art. 3º - “A União manterá estabelecimentos penais, de segurança
máxima, destinados ao cumprimento de penas impostas a
condenados de alta periculosidade, cuja permanência em presídios
estaduais ponha em risco a ordem ou incolumidade pública.”

- O funcionamento dos presídios federais é guiado pela Lei 11.671/08. Antes da


Lei Anticrime, somente a União tinha competência para construir e manter
presídios dessa natureza, reinando o rigor máximo na execução da pena. Com
a Lei 13.964/19, foi alterada a Lei 11.671/08, sendo que agora Estados e
Distrito Federal estão autorizados a construir estabelecimentos penais de
segurança máxima ou adaptar os já existentes, aos quais será aplicável, no
que couber, as disposições daquela lei.

ESTATUTO DO DESARMAMENTO (Lei 10.826/03)

Breves referências histórico-legislativas


1) Código Criminal do Império (1830): delito de utilização de arma ofensivas,
com pena de prisão de 15 a 60 dias. Nesse período, não se dá destaque, na
repressão penal, à utilização de arma de fogo. A preocupação é, em geral, com
as “armas ofensivas”, que eram definidas como tais pelas Câmaras Municipais,
e cuja autorização de uso era concedida pelo Juiz de Paz.

2) Código Penal de 1890: previsão de duas condutas, punidas como


contravenções penais: artigos 376 (fabricação ilegal de armas de fogo) e 377
(uso de armas ofensivas sem licença da autoridade policial). Percebe-se que,
com esse regramento, a autoridade competente para a concessão de licença de
uso passou a ser a autoridade policial. Entretanto, a repressão a essas condutas
é baixa.
3) Código Penal de 1940 e Lei de Contravenções Penais (Decreto-lei
3688/41): o Código Penal não trouxe qualquer previsão de crime sobre o
assunto, ficando tal tema relegado à previsão de duas simples contravenções
penais, nos artigos 18 (comércio e fabricação ilegal de armas de fogo) e 19
(“trazer consigo arma fora de casa ou de dependência desta, sem licença da
autoridade”). Percebe-se que a repressão penal continua baixa, pois as condutas
são vistas apenas como contravenções penais. Além disso, nota-se a atipicidade
da manutenção de armas dentro da residência.
4) Lei 9.437/97: início da criminalização de arma de fogo. Conforme art. 10 de
tal lei, a posse e o porte de arma de fogo, sem autorização da autoridade
competente, passam a ser considerado crime, e não simples contravenção. Essa
lei vem em atendimento ao 9º Congresso da ONU sobre Prevenção do Crime
Tratamento do Delinquente, realizada em 1995.
5) Lei 10.826/03: conhecida também como Estatuto do Desarmamento, que
contribui com uma melhor sistematização da punição penal referente aos crimes
de arma de fogo, além de burocratizar a obtenção de armas de fogo pela
população em geral. Muito embora o objetivo da lei fosse o de proibir o comércio
de armas de fogo em geral, de modo absoluto, isso nunca se deu, em virtude do
referendo popular, convocado com base no art. 35 dessa lei, que permitiu à
população brasileira decidir a respeito.

Aspectos gerais do Estatuto do Desarmamento


- O Estatuto do Desarmamento encontra-se dividido em 6 capítulos: I – Do
Sistema Nacional de Armas (SISNARM); II – Do Registro; III – Do Porte; IV –
Dos Crimes e Das Penas; V – Disposições Gerais; VI – Disposições Finais.
- Trata-se de lei hoje regulamentada por três disposições executivas: Decretos
9.845/19, 9.846/19 e 9.847/19.
- Para o Estatuto do Desarmamento, existem dois sistemas diferentes para o
registro de armas de fogo:
a) Compete ao SINARM (Sistema Nacional de Armas): identificar as
características e a propriedade de armas de fogo, mediante cadastro; cadastrar
as armas de fogo produzidas, importadas e vendidas no país; cadastrar as
autorizações de porte de arma de fogo e as renovações expedidas pela Polícia
Federal; cadastrar as transferências de propriedade, extravio, furto, roubo e
outras ocorrências; etc.
b) Compete ao SIGMA (Sistema de Gerenciamento Militar de Armas): manter
o cadastro nacional de armas de fogo importadas, produzidas e comercializadas
no País que não estejam entre as previstas com registro no SINARM,
englobando o cadastro das armas de fogo institucionais (registros próprios), das
Forças Armadas, das polícias militares e corpos de bombeiros militares, da ABIN,
do Gabinete de Segurança Institucional do Presidente da República, dentre
outras.
OBS.: Não confundir as expressões cadastro e registro. A primeira corresponde
à informação, ao sistema, das características e peculiaridades da arma de fogo
que está sendo comercializada em território nacional (ex.: pistola X, marca Y,
calibre Z). Já o registro corresponde à vinculação entre uma arma específica com
o seu proprietário (ex.: pistola X, numeração Y, é propriedade do Fulano, de CPF
Z).
- A Lei 13.964/19 criou, ainda, no artigo 34-A, o “Banco Nacional de Perfis
Balísticos”, com o objetivo de cadastrar armas de fogo e armazenar
características de classe e individualizadoras de projéteis e estojos de munição
deflagrados por armas de fogo, a ser gerido pela unidade oficial de perícia
criminal.
Aspectos gerais do Estatuto do Desarmamento
- O Estatuto do Desarmamento encontra-se dividido em 6 capítulos: I – Do
Sistema Nacional de Armas (SISNARM); II – Do Registro; III – Do Porte; IV –
Dos Crimes e Das Penas; V – Disposições Gerais; VI – Disposições Finais.
- Trata-se de lei hoje regulamentada pelo Decreto 10.030, de 30/09/19, com as
alterações do Decreto 10.627, de 12/02/21.
- Para o Estatuto do Desarmamento, existem dois sistemas diferentes para o
registro de armas de fogo:
a) Compete ao SINARM (Sistema Nacional de Armas): identificar as
características e a propriedade de armas de fogo, mediante cadastro; cadastrar
as armas de fogo produzidas, importadas e vendidas no país; cadastrar as
autorizações de porte de arma de fogo e as renovações expedidas pela Polícia
Federal; cadastrar as transferências de propriedade, extravio, furto, roubo e
outras ocorrências; etc.
b) Compete ao SIGMA (Sistema de Gerenciamento Militar de Armas): manter
o cadastro nacional de armas de fogo importadas, produzidas e comercializadas
no País que não estejam entre as previstas com registro no SINARM,
englobando o cadastro das armas de fogo institucionais (registros próprios), das
Forças Armadas, das polícias militares e corpos de bombeiros militares, da ABIN,
do Gabinete de Segurança Institucional do Presidente da República, dentre
outras.
OBS.: Não confundir as expressões cadastro e registro. A primeira corresponde
à informação, ao sistema, das características e peculiaridades da arma de fogo
que está sendo comercializada em território nacional (ex.: pistola X, marca Y,
calibre Z). Já o registro corresponde à vinculação entre uma arma específica com
o seu proprietário (ex.: pistola X, numeração Y, é propriedade do Fulano, de CPF
Z).
- A Lei 13.964/19 criou, ainda, no artigo 34-A, o “Banco Nacional de Perfis
Balísticos”, com o objetivo de cadastrar armas de fogo e armazenar
características de classe e individualizadoras de projéteis e estojos de munição
deflagrados por armas de fogo, a ser gerido pela unidade oficial de perícia
criminal.

Aspectos gerais dos tipos penais do Estatuto do Desarmamento


- O Estatuto do Desarmamento avançou, em termos técnicos, com relação à
legislação anterior, prevendo a incriminação das condutas relacionadas a arma
de fogo em vários tipos penais (arts. 12 a 18), e não mais em apenas um artigo.
- O aspecto penal dessa legislação leva em consideração não o caráter
inerentemente perigoso das armas de fogo; se assim o fizesse, em qualquer
situação, ter arma de fogo seria crime. O intuito do legislador, em verdade, foi
considerar criminosa, por ser perigosa à incolumidade pública, a posse ou o
porte de arma de fogo sem o atendimento dos requisitos legais ou
regulamentares, que servem como controle do Estado sobre o uso de arma de
fogo.
- Dessa forma, podemos dizer que os crimes do Estatuto são crimes de perigo
abstrato (não demandam a comprovação do perigo), e são também normas
penais em branco, remetendo-se os conceitos de arma de fogo, munição e
acessórios à regulamentação infralegal.

Regime atual das armas de fogo: Decreto 10.030/19, com redação dada pelo
Decreto 10.627/21
1) Arma de fogo
- Arma de fogo é aquela “que arremessa projéteis empregando a força expansiva
dos gases gerados pela combustão de um propelente confinado em uma
câmara, normalmente solidária a um cano, que tem a função de dar continuidade
à combusta do propelente, além de direção e estabilidade ao projétil” (Decreto
10.030/19). Por isso, estão excluídas as armas de gás comprimido ou pressão,
bem como as armas brancas.
- As armas de fogo podem ser de três tipos: a) de uso permitido; b) de uso
restrito; ou c) de uso proibido.
1.1) Arma de fogo de uso permitido
- Arma de fogo de uso permitido - as armas de fogo semiautomáticas ou de
repetição que sejam:
a) de porte, cujo calibre nominal, com a utilização de munição comum,
não atinja, na saída do cano de prova, energia cinética superior a mil
e duzentas libras-pé ou mil seiscentos e vinte joules;
b) portáteis de alma lisa; ou
c) portáteis de alma raiada, cujo calibre nominal, com a utilização de
munição comum, não atinja, na saída do cano de prova, energia
cinética superior a mil e duzentas libras-pé ou mil seiscentos e vinte
joules;
1.2) Arma de fogo de uso restrito
- Arma de fogo de uso restrito - as armas de fogo automáticas, de qualquer tipo
de calibre, e as semiautomáticas ou de repetição que sejam:
a) não portáteis;
b) de porte, cujo calibre nominal, com a utilização de munição comum,
atinja, na saída do cano de prova, energia cinética superior a mil e
duzentas libras-pé ou mil seiscentos e vinte joules; ou
c) portáteis de alma raiada, cujo calibre nominal, com a utilização de
munição comum, atinja, na saída do cano de prova, energia cinética
superior a mil e duzentas libras-pé ou mil seiscentos e vinte joules;
1.3) Arma de fogo de uso proibido
- São aquelas que não podem ser utilizadas em hipótese alguma. É o caso de
tanques de guerra, granadas, canhões, por exemplo. Nem mesmo o Exército
pode autorizar o particular a ter. São elas:
a) as armas de fogo classificadas como de uso proibido em acordos
ou tratados internacionais dos quais a República Federativa do Brasil
seja signatária; e
b) as armas de fogo dissimuladas, com aparência de objetos
inofensivos.
2) Munição
- Munição é o cartucho completo ou seus componentes, incluídos o estojo, a
espoleta, a carga propulsora, o projétil e a bucha utilizados em armas de fogo.
2.1) Munição de uso permitido
- Não há definição normativa, mas pode-se concluir, por exclusão, que se trata
de qualquer munição que não seja considerada restrita ou proibida, podendo ser
disparada por arma de uso permitido
2.2) Munição de uso restrito
- Munição de uso restrito - as munições que:
a) atinjam, na saída do cano de prova de armas de fogo de porte ou
de armas de fogo portáteis de alma raiada, energia cinética superior
a mil e duzentas libras-pé ou mil seiscentos e vinte joules;
b) sejam traçantes, perfurantes ou fumígenas;
c) sejam granadas de obuseiro, de canhão, de morteiro, de mão ou
de bocal; ou
d) sejam rojões, foguetes, mísseis ou bombas de qualquer natureza;
2.3) Munição de uso proibido
- Munição de uso proibido - as munições que sejam assim definidas em acordo
ou tratado internacional de que a República Federativa do Brasil seja signatária
e as munições incendiárias ou químicas.
- De se notar uma coisa: nem sempre uma arma de fogo proibida terá uma
correspondente munição de uso proibido. De fato, uma arma de fogo dissimulada
como um objeto inofensivo será considerada proibida, mas não sua munição:
uma arma construída como uma caneta pode disparar projéteis de calibre .22 e
será considerada de uso proibido, mas a munição continuará de uso permitido.
3) Acessório
- Acessório é o artefato que, acoplado a uma arma, possibilita a melhoria do
desempenho do atirador, a modificação de um efeito secundário do tiro ou a
modificação do aspecto visual da arma.
- Dentre os acessórios de uso restrito, estão aqueles que tenham como objetivo
a supressão ou o abrandamento do estampido, ou ainda a modificação das
condições de emprego da arma, conforme regulamentação (ex.: mira a laser,
mira óptica). O que não for de uso restrito será visto como de uso permitido.

Tipos penais
Posse irregular de arma de fogo de uso permitido
Art. 12. Possuir ou manter sob sua guarda arma de fogo, acessório ou
munição, de uso permitido, em desacordo com determinação legal ou
regulamentar, no interior de sua residência ou dependência desta,
ou, ainda no seu local de trabalho, desde que seja o titular ou o
responsável legal do estabelecimento ou empresa:
Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.

OBS.: Com a vigência do Estatuto do Desarmamento (Lei 10.826), aos


23/12/2003, previu-se inicialmente, para o art. 12, que essa conduta de posse
irregular de arma de fogo de uso permitido não seria punida nos 180 dias iniciais
dessa vigência. Era a concessão de uma oportunidade de regularização das
armas de fogo que as pessoas tinham em casa: ou entregava à Polícia Federal,
ou registrava corretamente a arma. Em virtude uma sucessão de leis e medidas
provisórias, o prazo inicial acabou se prorrogando até 01/12/2009. Esse período
(de 23/12/2003 a 01/12/2009) é aquilo que a maioria da doutrina convencionou
chamar de situação de atipicidade temporária, como manifestação de uma
vacatio legis indireta; para outra porção doutrinária, era, na verdade, uma
abolitio criminis temporária.
- Trata-se da criminalização da POSSE irregular/ilegal, ou seja, da conduta de
ter ou manter sob a sua guarda arma de fogo, acessório ou munição, de uso
permitido, no interior da residência (a própria casa) ou dependência desta
(adjacências), ou no local de trabalho (no estabelecimento comercial), mas,
nesse último caso, só se for o titular ou responsável legal (dono/gerente/etc.).
- Para a jurisprudência, o simples fato de o registro estar com a validade vencida,
sem ter sido renovado, não configura o crime do art. 12. Isso é simples infração
administrativa.

Omissão de cautela
Art. 13. Deixar de observar as cautelas necessárias para impedir que
menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa portadora de deficiência mental
se apodere de arma de fogo que esteja sob sua posse ou que seja de
sua propriedade:
Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos, e multa.
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorrem o proprietário ou diretor
responsável de empresa de segurança e transporte de valores que
deixarem de registrar ocorrência policial e de comunicar à Polícia
Federal perda, furto, roubo ou outras formas de extravio de arma de
fogo, acessório ou munição que estejam sob sua guarda, nas
primeiras 24 (vinte quatro) horas depois de ocorrido o fato.

- Trata-se de crime omissivo próprio, em que há a previsão, no caput, de uma


conduta culposa, envolvendo o descumprimento do dever de cuidado objetivo de
alguém que, tendo arma de fogo em casa, não toma as devidas precauções de
guardar a arma em um “lugar seguro”, ou seja, em um compartimento, não
facilmente acessível, e que tenha alguma espécie de obstáculo externo para
evitar que a arma entre na posse de menor ou de pessoa com deficiência mental
(ex.: cofre, gaveta ou cômodo trancados, etc).
- Caso a conduta seja dolosa, o crime é, em verdade, o do art. 16, §1º, V, pois
envolveria o intencionalmente entregar a arma para um menor de idade, ou
assumir o risco do menor pegar a arma que está exposta.
- No parágrafo único, a omissão de cautela envolve duplo comportamento: não
registrar o boletim de ocorrência nem comunicar o extravio à polícia federal em
24 horas do evento.

Porte ilegal de arma de fogo de uso permitido


Art. 14. Portar, deter, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito,
transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter,
empregar, manter sob guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou
munição, de uso permitido, sem autorização e em desacordo com
determinação legal ou regulamentar:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
Parágrafo único. O crime previsto neste artigo é inafiançável, salvo
quando a arma de fogo estiver registrada em nome do agente. (Vide
Adin 3.112-1 – inconstitucional, por violação ao princípio da
proporcionalidade)

OBS.: A vacatio legis indireta (atipicidade penal temporária) não se aplica, de


acordo com a jurisprudência, para o crime do art. 14, do Estatuto; sua aplicação
é apenas para o art. 12, em termos de arma de fogo de uso permitido. Ou seja,
essa vacatio legis indireta é para POSSE, e não para PORTE.
- Muito embora o nome jurídico do crime seja “porte ilegal”, a conduta de portar
(trazer consigo) é apenas uma das treze incriminadas. Atenção que o “portar”
pode abranger não apenas o trazer a arma junto ao corpo (ex.: por baixo do
paletó, no tornozelo, na cintura), como também em proximidades (ex.: no chão
do carro, no porta-luvas do carro, no arreio do animal, etc.).
OBS.: Quanto ao verbo “empregar”, que significa “usar”, o tipo penal não
abrange a conduta do disparo de arma de fogo, figura essa que tem tipificação
autônoma no art. 15.
- A regra, no Brasil, é a proibição do porte de arma de fogo. Quando se compra
uma arma, ela deve ser registrada na Polícia Federal, e esse registro concede
apenas a posse da arma de fogo. Ou seja, ela pode ser mantida na casa da
pessoa, ou em suas adjacências, ou no local de trabalho, caso seja a
responsável legal. Para obter o porte da arma de fogo, é imprescindível o
preenchimento de uma série de requisitos (ex.: ter 25 anos no mínimo; ter
ocupação lícita e residência certa; ter o registro da arma de fogo; comprovar a
necessidade do porte da arma de fogo, pelo risco da profissão ou por estar sendo
ameaçado; dentre outros). Somente em alguns casos excepcionais é que a
própria lei confere o porte a algumas autoridades, como militares, policiais e
membros de carreiras públicas (magistratura, Ministério Público, auditores
fiscais, etc).
Disparo de arma de fogo
Art. 15. Disparar arma de fogo ou acionar munição em lugar habitado
ou em suas adjacências, em via pública ou em direção a ela,
desde que essa conduta não tenha como finalidade a prática de outro
crime:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. Parágrafo
único. O crime previsto neste artigo é inafiançável. (Vide Adin 3.112-
1 – inconstitucional, por violação ao princípio da proporcionalidade)

- O art. 15 representa tipo penal subsidiário, com subsidiariedade expressa:


somente haverá a punição por tal crime se não couber a responsabilização por
outra conduta.
- O crime se consuma independentemente do sujeito ter a posse ou o porte da
arma de fogo.

Posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito


Art. 16. Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber, ter em
depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar,
remeter, empregar, manter sob sua guarda ou ocultar arma de fogo,
acessório ou munição de uso restrito, sem autorização e em
desacordo com determinação legal ou regulamentar: (Redação dada
pela Lei nº 13.964, de 2019)
Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.
§ 1º Nas mesmas penas incorre quem: (Redação dada pela Lei nº
13.964, de 2019)
I – suprimir ou alterar marca, numeração ou qualquer sinal de
identificação de arma de fogo ou artefato;
II – modificar as características de arma de fogo, de forma a torná-la
equivalente a arma de fogo de uso proibido ou restrito ou para fins de
dificultar ou de qualquer modo induzir a erro autoridade policial, perito
ou juiz;
III – possuir, detiver, fabricar ou empregar artefato explosivo ou
incendiário, sem autorização ou em desacordo com determinação
legal ou regulamentar; (Já o crime da lei anterior provocou a
derrogação do art. 253, CP, que trata de conduta similar; portanto,
permanece tacitamente revogado no que for contrário; da mesma
forma, atentar para eventual conflito com a Lei Antiterrorismo, ante a
finalidade especial exigida no art. 2º, §1º, I, da Lei 13.260/16)
IV – portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer arma de fogo com
numeração, marca ou qualquer outro sinal de identificação raspado,
suprimido ou adulterado;
V – vender, entregar ou fornecer, ainda que gratuitamente, arma de
fogo, acessório, munição ou explosivo a criança ou adolescente; e
(aqui, nesse caso, só fará diferença a idade do recebedor se a arma
de fogo for de uso permitido e com sinal identificador intacto; se arma
de uso proibido, aplica-se o §2º com pena majorada; se de uso
restrito, o caput do art. 16)
VI – produzir, recarregar ou reciclar, sem autorização legal, ou
adulterar, de qualquer forma, munição ou explosivo.
§ 2º Se as condutas descritas no caput e no § 1º deste artigo
envolverem arma de fogo de uso proibido, a pena é de reclusão, de
4 (quatro) a 12 (doze) anos. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

OBS.: O legislador prorrogou a vacatio legis indireta para posse de arma de fogo
de uso restrito tão somente até 23/06/2005. Portanto, o período de atipicidade
temporária para esse crime é menor do que o do crime do art. 12, do Estatuto.
- A Lei Anticrime acabou por desdobrar as condutas de posse e porte de arma
de fogo de uso restrito e de uso proibido, deixando para o caput do art. 16 a
primeira conduta, e colocando como qualificadora a segunda conduta, no §2º do
mesmo art. 16. Quer dizer: porte e posse de arma de fogo de uso proibido é
tratado como qualificadora, em termos de pena, com relação a posse e porte de
arma de fogo de uso restrito.
- O §2º, do art. 16, é crime hediondo, já que dispõe sobre a posse e o porte de
arma de fogo de uso proibido (redação dada pela Lei Anticrime, ao inciso II do
parágrafo único do art. 1º da Lei 8.072/90).

Comércio ilegal de arma de fogo


Art. 17. Adquirir, alugar, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em
depósito, desmontar, montar, remontar, adulterar, vender, expor à
venda, ou de qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou alheio, no
exercício de atividade comercial ou industrial, arma de fogo,
acessório ou munição, sem autorização ou em desacordo com
determinação legal ou regulamentar:
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos, e multa. (Redação dada
pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 1º Equipara-se à atividade comercial ou industrial, para efeito deste
artigo, qualquer forma de prestação de serviços, fabricação ou
comércio irregular ou clandestino, inclusive o exercido em residência.
(Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 2º Incorre na mesma pena quem vende ou entrega arma de fogo,
acessório ou munição, sem autorização ou em desacordo com a
determinação legal ou regulamentar, a agente policial disfarçado,
quando presentes elementos probatórios razoáveis de conduta
criminal preexistente. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

- Trata-se de crime hediondo (Inciso III, do parágrafo único, do art. 1º, da Lei de
Crimes Hediondos).
- Esse crime pressupõe reiteração de comportamentos ligados aos seus núcleos
do tipo. Quer dizer: pressupõe habitualidade na realização dessas condutas.
Caso contrário, responderá ou pelo artigo 14, ou pelo 16, caput, ou pelo 16, §2º
(nesses últimos, considera-se o ato isolado, sem reiteração). É a ideia de
“atividade”.
- §2º:

Tráfico internacional de arma de fogo


Art. 18. Importar, exportar, favorecer a entrada ou saída do território
nacional, a qualquer título, de arma de fogo, acessório ou munição,
sem autorização da autoridade competente:
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 16 (dezesseis) anos, e multa. (Redação
dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem vende ou entrega
arma de fogo, acessório ou munição, em operação de importação,
sem autorização da autoridade competente, a agente policial
disfarçado, quando presentes elementos probatórios razoáveis de
conduta criminal preexistente. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

- Trata-se de crime hediondo (Inciso IV, do parágrafo único, do art. 1º, da Lei de
Crimes Hediondos).
Comércio ilegal de arma de fogo
Art. 17. Adquirir, alugar, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em
depósito, desmontar, montar, remontar, adulterar, vender, expor à
venda, ou de qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou alheio, no
exercício de atividade comercial ou industrial, arma de fogo,
acessório ou munição, sem autorização ou em desacordo com
determinação legal ou regulamentar:
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos, e multa. (Redação dada
pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 1º Equipara-se à atividade comercial ou industrial, para efeito deste
artigo, qualquer forma de prestação de serviços, fabricação ou
comércio irregular ou clandestino, inclusive o exercido em residência.
(Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 2º Incorre na mesma pena quem vende ou entrega arma de fogo,
acessório ou munição, sem autorização ou em desacordo com a
determinação legal ou regulamentar, a agente policial disfarçado,
quando presentes elementos probatórios razoáveis de conduta
criminal preexistente. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

- Trata-se de crime hediondo (Inciso III, do parágrafo único, do art. 1º, da Lei de
Crimes Hediondos).
- Esse crime pressupõe reiteração de comportamentos ligados aos seus núcleos
do tipo. Quer dizer: pressupõe habitualidade na realização dessas condutas.
Caso contrário, responderá ou pelo artigo 14, ou pelo 16, caput, ou pelo 16, §2º
(nesses últimos, considera-se o ato isolado, sem reiteração). É a ideia de
“atividade”.

Tráfico internacional de arma de fogo


Art. 18. Importar, exportar, favorecer a entrada ou saída do território
nacional, a qualquer título, de arma de fogo, acessório ou munição,
sem autorização da autoridade competente:
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 16 (dezesseis) anos, e multa. (Redação
dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem vende ou entrega
arma de fogo, acessório ou munição, em operação de importação,
sem autorização da autoridade competente, a agente policial
disfarçado, quando presentes elementos probatórios razoáveis de
conduta criminal preexistente. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

- Trata-se de crime hediondo (Inciso IV, do parágrafo único, do art. 1º, da Lei de
Crimes Hediondos).
Art. 19. Nos crimes previstos nos arts. 17 e 18, a pena é aumentada
da metade se a arma de fogo, acessório ou munição forem de uso
proibido ou restrito.
Art. 20. Nos crimes previstos nos arts. 14, 15, 16, 17 e 18, a pena é
aumentada da metade se: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de
2019)
I - forem praticados por integrante dos órgãos e empresas referidas
nos arts. 6º, 7º e 8º desta Lei; ou (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
II - o agente for reincidente específico em crimes dessa natureza.
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
Art. 21. Os crimes previstos nos arts. 16, 17 e 18 são insuscetíveis de
liberdade provisória. (Vide Adin 3.112-1)
LEI DE TORTURA (LEI 9.455/97)

- A preocupação mundial com relação à proibição da tortura ganhou intensidade


após a Segunda Guerra Mundial, com o objetivo de se evitar que os excessos
praticados nesse período voltassem a ser cometidos. Era a valorização da ideia
do ser humano como finalidade em si mesmo, e não como meio, como
instrumento para a obtenção de outros fins. Nesse contexto, são criados tratados
internacionais, demonstrando essa preocupação.
- A Constituição Federal brasileira de 1988 traz essa mesma preocupação, não
apenas advinda da Segunda Guerra Mundial, como também fruto do processo
de redemocratização pós Ditadura Militar. Nesse sentido, a CF/88 traz vários
dispositivos que proíbem, direta ou indiretamente, a tortura: a) o artigo 1º, inciso
III, que estabelece a dignidade da pessoa humana como fundamento da
República; b) o artigo 3º, inciso II, que coloca a prevalência dos direitos
humanos como princípio de Direito Internacional Público; c) o artigo 5º, nos
incisos III (ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou
degradante), XLVII (não haverá penas: de morte, salvo em caso de guerra
declarada, nos termos do art. 84, XIX; de caráter perpétuo; de trabalhos
forçados; de banimento; cruéis) e XLIX (é assegurado aos presos o respeito à
integridade física e moral).
- Contudo, só tivemos uma lei de tortura, propriamente dita, para tipificar essa
conduta vista pela Constituição como um crime equiparado aos hediondos, em
7 de abril de 1997, após a tragédia ocorrida na Favela Naval, em Diadema/SP,
que ganhou a repercussão da mídia nacional e internacional. Isso levou ao
“desengavetamento” de um dos projetos de lei que estavam em tramitação, que
culminou com a edição da Lei 9.455/97, com seus apenas 4 artigos.

OBS.: Aponta a doutrina o caráter bifronte da tipificação legal da tortura pela Lei
9.455/97. Isso quer dizer que a legislação brasileira não limita o sujeito ativo do
crime de tortura à autoridade pública; tanto o particular como o agente estatal
podem ser autores dos crimes dessa lei. Essa uma disposição que contrasta com
os tratados internacionais, que costumam trazer a proibição da tortura referente
aos agentes do poder público, e não quanto aos particulares.

OBS.: A doutrina processual penal discute sobre a possibilidade ou não da


utilização da tortura, utilizando a Teoria do Cenário da Bomba Relógio (ticking
bomb scenario theory), de criação estadunidense, e que visa a indagar quais são
os limites do próprio direito fundamental a não ser torturado. Nesse contexto,
num debate muito mais amplo que o simplesmente jurídico, chegam-se a duas
posições: a) o direito de não ser torturado é um direito fundamental absoluto, não
comportando qualquer tipo de exceção, já que se fundamenta nas próprias bases
do Estado Democrático de Direito, que é o valor dignidade da pessoa humana.
Assim, não existe situação possível de autorizar a tortura. Ademais, questiona-
se a própria eficácia desse meio ilícito como fonte de informações seguras; b) é
possível excepcionar a vedação à tortura em situações extremas, dado que o
mal produzido pela tortura seria menor do que o mal produzido pela atuação
criminosa que se quer combater. Por tal razão, a atuação da autoridade pública
que tortura o criminoso estaria amparada por uma “legítima defesa de terceiro”.
A questão que se coloca é se essa autorização para torturar deveria ser
concedida previamente (“mandado judicial de tortura”) ou se seria uma
justificativa posterior, por parte da autoridade pública.

Art. 1º Constitui crime de tortura:


I - constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça,
causando-lhe sofrimento físico ou mental:
a) com o fim de obter informação, declaração ou confissão da
vítima ou de terceira pessoa;
b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa;
c) em razão de discriminação racial ou religiosa;
II - submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com
emprego de violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento
físico ou mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou medida
de caráter preventivo.
Pena - reclusão, de dois a oito anos.
§ 1º Na mesma pena incorre quem submete pessoa presa ou
sujeita a medida de segurança a sofrimento físico ou mental, por
intermédio da prática de ato não previsto em lei ou não resultante de
medida legal. (crime próprio – só a autoridade pública)
§ 2º Aquele que se omite em face dessas condutas, quando tinha
o dever de evitá-las ou apurá-las, incorre na pena de detenção de
um a quatro anos. (crime omissivo)
§ 3º Se resulta lesão corporal de natureza grave ou gravíssima, a
pena é de reclusão de quatro a dez anos; se resulta morte, a reclusão
é de oito a dezesseis anos.
§ 4º Aumenta-se a pena de um sexto até um terço:
I - se o crime é cometido por agente público;
II – se o crime é cometido contra criança, gestante, portador de
deficiência, adolescente ou maior de 60 (sessenta) anos; (Redação
dada pela Lei nº 10.741, de 2003)
III - se o crime é cometido mediante sequestro.
§ 5º A condenação acarretará a perda do cargo, função ou emprego
público e a interdição para seu exercício pelo dobro do prazo da
pena aplicada. (efeito automático da condenação)
§ 6º O crime de tortura é inafiançável e insuscetível de graça ou
anistia.
§ 7º O condenado por crime previsto nesta Lei, salvo a hipótese do §
2º, iniciará o cumprimento da pena em regime fechado.
Art. 2º O disposto nesta Lei aplica-se ainda quando o crime não tenha
sido cometido em território nacional, sendo a vítima brasileira ou
encontrando-se o agente em local sob jurisdição brasileira.
Art. 3º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Art. 4º Revoga-se o art. 233 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 -
Estatuto da Criança e do Adolescente.
LEI ANTITERRORISMO – LEI 13.260/16

- A palavra terrorismo vem do latim terrer (que significa “tremer”), e foi


consagrada, com o significado que se conhece hoje, pela sua utilização durante
a Revolução Francesa, notadamente por influência de Robespierre, que
instaurou o regime do “Terror” nesse país.
- Entretanto, a ideia de terrorismo como ação política de dominação e controle
social, conhecida como a primeira fase do terrorismo, não surge com a
Revolução Francesa, mas sim com uma seita ligada ao Islamismo, na Pérsia, no
Século XI (a mesma seita que deu origem à expressão “assassino”).
- Já no Século XX, muda-se a concepção do terrorismo, bem como as suas
características fundamentais. O mundo vivia o contexto de Guerra Fria, com a
polarização dos países, divididos entre o “mundo socialista” e o “mundo
capitalista”. Nesse contexto, o terrorismo passa a ser utilizado como mecanismo
de desestabilização institucional, voltado à derrubada dos governos totalitários
que foram instituídos ante essa polarização. É o surgimento do terrorismo que
ataca aleatoriamente, sem que seja possível prever o próximo ataque, e que
busca atingir “vítimas sem rosto” (quer dizer, pouco importa quem será atingido).
- Desse contexto de terrorismo contrário à ordem estabelecida, deriva uma nova
visão de terrorismo, que é a do Século XXI: o terrorismo fundamentalista,
notadamente com bases religiosas, xenófobas ou preconceituosas. É o caso do
fundamentalismo islâmico, por exemplo, que levou ao atentado às Torres
Gêmeas de 11 de setembro de 2001.
- A Lei Antiterrorismo, no Brasil, só foi editada em 16 de março de 2016, após
preocupações com a revogação do Estatuto do Estrangeiro, que viria a ser
substituído pela Lei de Migração (de 2017), e que tinha como uma de suas
alterações a impossibilidade de se extraditar estrangeiro para o seu país de
origem se o fato que ele tivesse praticado não fosse típico no Brasil. Como o
nosso país não tinha a tipificação do terrorismo, foi necessário realizá-la, para
evitar que o Brasil se tornasse um “polo” de terrorismo no mundo.
- Os crimes de terrorismo, previstos nessa Lei 13.260/16 (Lei Antiterrorismo) são
equiparados a hediondos, conforme disposição constitucional. Vale lembrar,
também, que o repúdio ao terrorismo é uma das diretrizes da política externa
brasileira (art. 4º, VIII, CF/88).

Conceito de terrorismo

- Inicialmente, os doutrinadores buscam enxergar na Lei de Segurança Nacional


(Lei 7.170/83) a existência de um conceito de terrorismo, diante da redação do
seu artigo 20:

Art. 20. Devastar, saquear, extorquir, roubar, sequestrar, manter em


cárcere privado, incendiar, depredar, provocar explosão, praticar
atentado pessoal ou atos de terrorismo, por inconformismo político
ou para obtenção de fundos destinados à manutenção de
organizações políticas clandestinas ou subversivas.

- Entretanto, para o Supremo Tribunal Federal, diante da vagueza do tipo penal,


sem detalhar no que consiste, efetivamente, um “ato de terrorismo”, não existia
no Brasil a tipificação penal dessa conduta.
- Ante a fixação desse entendimento jurisprudencial, e na iminência da
substituição do Estatuto do Estrangeiro pela Lei de Migração, criou-se a Lei
13.260/16, que trouxe, em seu âmbito, a adequada tipificação (e conceituação)
do que seja terrorismo:

Art. 2º O terrorismo consiste na prática por um ou mais indivíduos dos


atos previstos neste artigo, por razões de xenofobia, discriminação
ou preconceito de raça, cor, etnia e religião, quando cometidos
com a finalidade de provocar terror social ou generalizado, expondo a
perigo pessoa, patrimônio, a paz pública ou a incolumidade pública.

- Diante do texto legal, é indispensável compreender com exatidão o alcance do


conceito de terrorismo, desdobrando-se tal conceituação em 4 aspectos
diferentes:

a) Sujeito ativo
- Para o art. 2º, da Lei Antiterrorismo, os atos de terrorismo podem ser praticados
tanto por grupos como por indivíduos isolados, que são denominados “lobos
solitários” (lone wolves) ou “ratos solitários” (lone rats). Dessa forma, pode-se
dizer que o crime é unissubjetivo (não necessita de ser praticado por mais de
uma pessoa; alguém sozinho basta) e de concurso eventual (admite-se a
prática do crime por mais de uma pessoa, em concurso de agentes).

b) Finalidade especial
- A conceituação legal exige que o ato, para ser classificado como ato terrorista,
deve vir motivado por razões de xenofobia, discriminação ou preconceito de
raça, cor, etnia ou religião. É a ideia do terrorismo em sua dimensão mais
moderna, o terrorismo fundamentalista, esquecendo-se das demais noções de
terrorismo.
- A crítica que se faz a essa exigência de finalidade especial é que ela torna
muito mais difícil o enquadramento típico em alguma figura criminosa que a Lei
Antiterrorismo tenha previsto; ela perde muito de sua aplicação prática, dado que
os crimes trágicos praticados no Brasil dificilmente são motivados por tais
circunstâncias.
- Como esse elemento faz parte do próprio conceito de ato terrorista, haverá de
ser provada a motivação. Se ela não estiver presente, o fato não se enquadrará
como crime de terrorismo, mas poderá, obviamente, ser considerado como outro
tipo penal.

c) Modo de atuação
- O terrorismo é praticado através de atos que busquem provocar terror social ou
generalizado. É a ideia da “vítima sem rosto” (faceless victims). O objetivo desse
modo de atuação é provocar a intimidação massiva, através de escolha aleatória
de vítimas, de constante perspectiva de novos ataques e a ampla divulgação dos
ataques nos meios de comunicação, contribuindo para espalhar o medo.
d) Exposição a perigo do bem jurídico
- Os atos de terrorismo visando a colocar em risco de dano os bens jurídicos
pessoa, patrimônio, paz pública ou incolumidade pública. Dessa forma, pode-se
dizer que a ideia do ato terrorista é, num primeiro momento, a simples colocação
em risco, independentemente do efetivo dano provocado pelo comportamento.
A ideia é a de aterrorizar, de colocar como possível que esses bens jurídicos
venham a ser prejudicados, atacados.

- Após o caput descrever em que consiste o próprio terrorismo, o §1º traz quais
são as formas de execução do terrorismo, ou seja, quais são os atos de
terrorismo, pelos quais o sujeito responderá criminalmente:

§ 1º São atos de terrorismo:


I - usar ou ameaçar usar, transportar, guardar, portar ou trazer consigo
explosivos, gases tóxicos, venenos, conteúdos biológicos, químicos,
nucleares ou outros meios capazes de causar danos ou promover
destruição em massa;
II – (VETADO);
III - (VETADO);
IV - sabotar o funcionamento ou apoderar-se, com violência, grave
ameaça a pessoa ou servindo-se de mecanismos cibernéticos, do
controle total ou parcial, ainda que de modo temporário, de meio de
comunicação ou de transporte, de portos, aeroportos, estações
ferroviárias ou rodoviárias, hospitais, casas de saúde, escolas,
estádios esportivos, instalações públicas ou locais onde funcionem
serviços públicos essenciais, instalações de geração ou transmissão
de energia, instalações militares, instalações de exploração, refino e
processamento de petróleo e gás e instituições bancárias e sua rede
de atendimento;
V - atentar contra a vida ou a integridade física de pessoa:
Pena - reclusão, de doze a trinta anos, além das sanções
correspondentes à ameaça ou à violência.
§ 2º O disposto neste artigo não se aplica à conduta individual ou
coletiva de pessoas em manifestações políticas, movimentos sociais,
sindicais, religiosos, de classe ou de categoria profissional,
direcionados por propósitos sociais ou reivindicatórios, visando a
contestar, criticar, protestar ou apoiar, com o objetivo de defender
direitos, garantias e liberdades constitucionais, sem prejuízo da
tipificação penal contida em lei. (causa legal de exclusão da
tipicidade)

Demais disposições da Lei Antiterrorismo

Art. 3º Promover, constituir, integrar ou prestar auxílio, pessoalmente


ou por interposta pessoa, a organização terrorista:
Pena - reclusão, de cinco a oito anos, e multa.
§ 1º (VETADO).
§ 2º (VETADO).

- Trata-se do tipo penal relacionado àquele que integra ou auxilia uma


associação criminosa ou organização criminosa voltada à prática de atos
terroristas.
- Portanto, entende-se a organização terrorista como aquele agrupamento
criminoso, seja associação, seja organização criminosas, que é destinada à
prática de atos terroristas, nos termos do art. 2º, em seu §1º, nos incisos
vigentes.
- A responsabilidade penal é autônoma com relação à prática dos atos terroristas
por si só; caso alguém que integre uma organização terrorista venha a praticar
atos de terrorismo, responderá por ambos os crimes.

Art. 4º (VETADO)

Art. 5º Realizar atos preparatórios de terrorismo com o propósito


inequívoco de consumar tal delito:
Pena - a correspondente ao delito consumado (12 a 30 anos),
diminuída de um quarto até a metade.
§ 1º Incorre nas mesmas penas o agente que, com o propósito de
praticar atos de terrorismo:
I - recrutar, organizar, transportar ou municiar indivíduos que viajem
para país distinto daquele de sua residência ou nacionalidade; ou
(mercenários ou combatentes terroristas estrangeiros)
II - fornecer ou receber treinamento em país distinto daquele de sua
residência ou nacionalidade. (treinamento para terrorismo)
§ 2º Nas hipóteses do § 1º, quando a conduta não envolver
treinamento ou viagem para país distinto daquele de sua residência
ou nacionalidade, a pena será a correspondente ao delito
consumado (12 a 30 anos), diminuída de metade a dois terços.

Art. 6º Receber, prover, oferecer, obter, guardar, manter em depósito,


solicitar, investir, de qualquer modo, direta ou indiretamente, recursos,
ativos, bens, direitos, valores ou serviços de qualquer natureza, para
o planejamento, a preparação ou a execução dos crimes previstos
nesta Lei: (financiamento de organização terrorista)
Pena - reclusão, de quinze a trinta anos.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem oferecer ou receber,
obtiver, guardar, mantiver em depósito, solicitar, investir ou de
qualquer modo contribuir para a obtenção de ativo, bem ou recurso
financeiro, com a finalidade de financiar, total ou parcialmente,
pessoa, grupo de pessoas, associação, entidade, organização
criminosa que tenha como atividade principal ou secundária, mesmo
em caráter eventual, a prática dos crimes previstos nesta Lei.

Art. 7º Salvo quando for elementar da prática de qualquer crime


previsto nesta Lei, se de algum deles resultar lesão corporal grave,
aumenta-se a pena de um terço, se resultar morte, aumenta-se a
pena da metade.

Art. 8º (VETADO).

Art. 9º (VETADO).

Art. 10. Mesmo antes de iniciada a execução do crime de terrorismo,


na hipótese do art. 5º (atos preparatórios) desta Lei, aplicam-se as
disposições do art. 15 (arrependimento eficaz) do Decreto-Lei nº
2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal.

Art. 11. Para todos os efeitos legais, considera-se que os crimes


previstos nesta Lei são praticados contra o interesse da União,
cabendo à Polícia Federal a investigação criminal, em sede de
inquérito policial, e à Justiça Federal o seu processamento e
julgamento, nos termos do inciso IV do art. 109 da Constituição
Federal.
Parágrafo único. (VETADO).

Art. 12. O juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público ou


mediante representação do delegado de polícia, ouvido o Ministério
Público em vinte e quatro horas, havendo indícios suficientes de crime
previsto nesta Lei, poderá decretar, no curso da investigação ou da
ação penal, medidas assecuratórias de bens, direitos ou valores
do investigado ou acusado, ou existentes em nome de interpostas
pessoas, que sejam instrumento, produto ou proveito dos crimes
previstos nesta Lei.
§ 1º Proceder-se-á à alienação antecipada para preservação do valor
dos bens sempre que estiverem sujeitos a qualquer grau de
deterioração ou depreciação, ou quando houver dificuldade para sua
manutenção.
§ 2º O juiz determinará a liberação, total ou parcial, dos bens, direitos
e valores quando comprovada a licitude de sua origem e destinação,
mantendo-se a constrição dos bens, direitos e valores necessários e
suficientes à reparação dos danos e ao pagamento de prestações
pecuniárias, multas e custas decorrentes da infração penal.
§ 3º Nenhum pedido de liberação será conhecido sem o
comparecimento pessoal do acusado ou de interposta pessoa a que
se refere o caput deste artigo, podendo o juiz determinar a prática de
atos necessários à conservação de bens, direitos ou valores, sem
prejuízo do disposto no § 1º.
§ 4º Poderão ser decretadas medidas assecuratórias sobre bens,
direitos ou valores para reparação do dano decorrente da infração
penal antecedente ou da prevista nesta Lei ou para pagamento de
prestação pecuniária, multa e custas.

Art. 13. Quando as circunstâncias o aconselharem, o juiz, ouvido o


Ministério Público, nomeará pessoa física ou jurídica qualificada para
a administração dos bens, direitos ou valores sujeitos a medidas
assecuratórias, mediante termo de compromisso.

Art. 14. A pessoa responsável pela administração dos bens:


I - fará jus a uma remuneração, fixada pelo juiz, que será satisfeita
preferencialmente com o produto dos bens objeto da administração;
II - prestará, por determinação judicial, informações periódicas da
situação dos bens sob sua administração, bem como explicações e
detalhamentos sobre investimentos e reinvestimentos realizados.
Parágrafo único. Os atos relativos à administração dos bens serão
levados ao conhecimento do Ministério Público, que requererá o que
entender cabível.

Art. 15. O juiz determinará, na hipótese de existência de tratado ou


convenção internacional e por solicitação de autoridade
estrangeira competente, medidas assecuratórias sobre bens,
direitos ou valores oriundos de crimes descritos nesta Lei praticados
no estrangeiro.
§ 1º Aplica-se o disposto neste artigo, independentemente de tratado
ou convenção internacional, quando houver reciprocidade do governo
do país da autoridade solicitante.
§ 2º Na falta de tratado ou convenção, os bens, direitos ou valores
sujeitos a medidas assecuratórias por solicitação de autoridade
estrangeira competente ou os recursos provenientes da sua alienação
serão repartidos entre o Estado requerente e o Brasil, na proporção
de metade, ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-fé.

Art. 16. Aplicam-se as disposições da Lei nº 12.850, de 2 agosto de


2013 (Lei das Organizações Criminosas), para a investigação,
processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei.

- Trata-se de disposição importante, que determina a aplicação de todos os


meios de obtenção de provas, previstos para o combate às organizações
criminosas, também para o combate aos atos de terrorismo e seus atos
preparatórios. Quer dizer: é possível a colaboração premiada, a infiltração de
agentes policiais, a ação controlada policial, dentre outros.

Art. 17. Aplicam-se as disposições da Lei nº 8.072, de 25 de julho de


1990 (Lei dos Crimes Hediondos), aos crimes previstos nesta Lei.

- É o reconhecimento legal do caráter de crime equiparado a hediondo de todas


as disposições típicas previstas na Lei Antiterrorismo.
LEI DE DROGAS (LEI 11.343/06)

TÍTULO I - DISPOSIÇÕES PRELIMINARES


Art. 1º Esta Lei institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre
Drogas - Sisnad; prescreve medidas para prevenção do uso indevido,
atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas;
estabelece normas para repressão à produção não autorizada e ao
tráfico ilícito de drogas e define crimes.
Parágrafo único. Para fins desta Lei, consideram-se como drogas as
substâncias ou os produtos capazes de causar dependência, assim
especificados em lei ou relacionados em listas atualizadas
periodicamente pelo Poder Executivo da União.

- A definição de droga é uma norma penal em branco, dependendo da


complementação de seu conteúdo por um outro ato normativo. De acordo com
o art. 66, da Lei de Drogas, esse ato normativo é a Portaria nº 344/98, elaborada
pela Secretaria de Vigilância Sanitária, no âmbito do Ministério da Saúde
(SVS/MS). Percebe-se, portanto, que somente se chega à conceituação de
drogas quando se conjugam esses dois elementos: substância ou produto que
cause dependência + constar da lista elaborada pelo Poder Executivo.

Art. 2º Ficam proibidas, em todo o território nacional, as drogas, bem


como o plantio, a cultura, a colheita e a exploração de vegetais e
substratos dos quais possam ser extraídas ou produzidas drogas,
ressalvada a hipótese de autorização legal ou regulamentar, bem
como o que estabelece a Convenção de Viena, das Nações Unidas,
sobre Substâncias Psicotrópicas, de 1971, a respeito de plantas de
uso estritamente ritualístico-religioso.
Parágrafo único. Pode a União autorizar o plantio, a cultura e a
colheita dos vegetais referidos no caput deste artigo, exclusivamente
para fins medicinais ou científicos, em local e prazo predeterminados,
mediante fiscalização, respeitadas as ressalvas supramencionadas.

- Caso uma substância seja, então, considerada como droga, ela somente
poderá ser utilizada, transportada, comercializada, produzida e etc. se houver
previsão legal ou regulamentar do seu uso. Ex.: talidomida. Também se admite
a utilização dessas substâncias quando vinculadas a rituais religiosos. Ex.: chá
do Santo Daime – ayahuasca. Caso se deseja utilizar outras substâncias, sem
que se tenha tal autorização legal ou regulamentar, é indispensável a obtenção
prévia de autorização judicial (ex.: maconha para fins medicinais).

CRIMES DA LEI DE DROGAS


CAPÍTULO III - DOS CRIMES E DAS PENAS
Art. 27. As penas previstas neste Capítulo poderão ser aplicadas
isolada ou cumulativamente, bem como substituídas a qualquer
tempo, ouvidos o Ministério Público e o defensor.

- Esse Capítulo III está inserido, no âmbito da Lei de Drogas, na parte relativa à
prevenção ao consumo indevido de substâncias psicotrópicas e na recuperação
e reinserção social dos usuários e dependentes dessas substâncias. Percebe-
se, portanto, que o usuário é aquele que faz a utilização eventual da droga, com
fins recreativos, enquanto que o dependente é aquele que se vale da droga com
maior constância, passando a sofrer dos males físicos e psicológicos
provenientes da abstinência.
- Dentre os modelos existentes para o enfrentamento da questão das drogas
(modelo norte-americano, da tolerância zero e da abstinência; modelo europeu
da redução de danos; modelo liberal radical; e modelo de justiça terapêutica), a
Lei 11.343/06 mais se aproxima do último desses modelos, uma vez que buscou
despenalizar, de forma moderada, a conduta relacionada ao usuário e ao
dependente (porte de drogas para uso próprio – art. 28), sem, contudo, deixar
de considerar tal postura como sendo criminosa. É uma preocupação com o
usuário e com o dependente, mas ainda vinculada ao aspecto penalizador.

Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou


trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou
em desacordo com determinação legal ou regulamentar será
submetido às seguintes penas:
I - advertência sobre os efeitos das drogas;
II - prestação de serviços à comunidade;
III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso
educativo.
§ 1º Às mesmas medidas submete-se quem, para seu consumo
pessoal, semeia, cultiva ou colhe plantas destinadas à preparação de
pequena quantidade de substância ou produto capaz de causar
dependência física ou psíquica.
§ 2º Para determinar se a droga destinava-se a consumo pessoal, o
juiz atenderá à natureza e à quantidade da substância apreendida,
ao local e às condições em que se desenvolveu a ação, às
circunstâncias sociais e pessoais, bem como à conduta e aos
antecedentes do agente.
§ 3º As penas previstas nos incisos II e III do caput deste artigo serão
aplicadas pelo prazo máximo de 5 (cinco) meses.
§ 4º Em caso de reincidência, as penas previstas nos incisos II e III
do caput deste artigo serão aplicadas pelo prazo máximo de 10 (dez)
meses. (reincidência específica)
§ 5º A prestação de serviços à comunidade será cumprida em
programas comunitários, entidades educacionais ou assistenciais,
hospitais, estabelecimentos congêneres, públicos ou privados sem
fins lucrativos, que se ocupem, preferencialmente, da prevenção do
consumo ou da recuperação de usuários e dependentes de drogas.
§ 6º Para garantia do cumprimento das medidas educativas a que se
refere o caput, nos incisos I, II e III, a que injustificadamente se
recuse o agente, poderá o juiz submetê-lo, sucessivamente a:
I - admoestação verbal;
II - multa.
§ 7º O juiz determinará ao Poder Público que coloque à disposição do
infrator, gratuitamente, estabelecimento de saúde, preferencialmente
ambulatorial, para tratamento especializado.

- Atenção! O tipo penal não pune o consumir/ingerir/inalar drogas. Essas


posturas são violadoras da própria saúde, e, por força do princípio da alteridade,
o Direito Penal não se preocupa com autolesões. As condutas punidas no art.
28, da Lei de Drogas, envolvem o porte de drogas para consumo próprio.
- Muito embora não tenha havido a descriminalização do comportamento, o
Superior Tribunal de Justiça tem abrandado as consequências penais do
cometimento desse crime. Por tal razão, desde 2018, no julgamento do HC
453.437/SP, o STJ resolveu afastar a reincidência em virtude de condenação
anterior pelo crime de porte de drogas para consumo próprio.

Art. 29. Na imposição da medida educativa a que se refere o inciso II


do § 6º do art. 28 (multa), o juiz, atendendo à reprovabilidade da
conduta, fixará o número de dias-multa, em quantidade nunca
inferior a 40 (quarenta) nem superior a 100 (cem), atribuindo depois
a cada um, segundo a capacidade econômica do agente, o valor de
um trinta avos até 3 (três) vezes o valor do maior salário mínimo.
Parágrafo único. Os valores decorrentes da imposição da multa a que
se refere o § 6º do art. 28 serão creditados à conta do Fundo
Nacional Antidrogas.
Art. 30. Prescrevem em 2 (dois) anos a imposição e a execução das
penas, observado, no tocante à interrupção do prazo, o disposto nos
arts. 107 e seguintes do Código Penal.

TÍTULO IV - DA REPRESSÃO À PRODUÇÃO NÃO AUTORIZADA E AO


TRÁFICO ILÍCITO DE DROGAS

CAPÍTULO I - DISPOSIÇÕES GERAIS


Art. 31. É indispensável a licença prévia da autoridade competente
(Ministério da Saúde – Decreto 5.912/06) para produzir, extrair,
fabricar, transformar, preparar, possuir, manter em depósito, importar,
exportar, reexportar, remeter, transportar, expor, oferecer, vender,
comprar, trocar, ceder ou adquirir, para qualquer fim, drogas ou
matéria-prima destinada à sua preparação, observadas as demais
exigências legais.
Art. 32. As plantações ilícitas serão imediatamente destruídas pelo
delegado de polícia na forma do art. 50-A, que recolherá quantidade
suficiente para exame pericial, de tudo lavrando auto de
levantamento das condições encontradas, com a delimitação do local,
asseguradas as medidas necessárias para a preservação da prova.
(Redação dada pela Lei nº 12.961, de 2014)
§ 1º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 12.961, de 2014)
§ 2º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 12.961, de 2014)
§ 3º Em caso de ser utilizada a queimada para destruir a plantação,
observar-se-á, além das cautelas necessárias à proteção ao meio
ambiente, o disposto no Decreto nº 2.661, de 8 de julho de 1998, no
que couber, dispensada a autorização prévia do órgão próprio do
Sistema Nacional do Meio Ambiente - Sisnama.
§ 4º As glebas cultivadas com plantações ilícitas serão expropriadas,
conforme o disposto no art. 243 da Constituição Federal, de acordo
com a legislação em vigor. (desapropriação-confisco ou sanção)

CAPÍTULO II - DOS CRIMES


CAPÍTULO II - DOS CRIMES

Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar,


adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar,
trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou
fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em
desacordo com determinação legal ou regulamentar:
Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500
(quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa.
[...]

- Esse artigo 33 é o chamado “tráfico de drogas”. O bem jurídico tutelado pelo


tipo penal é a saúde da coletividade. O crime é de perigo abstrato, uma vez que
há a presunção legal de colocação em risco da saúde da sociedade quando
substâncias entorpecentes circulam fora das hipóteses autorizadas em lei ou em
regulamentos (norma penal em branco).
- Apesar do grande número de núcleos do tipo (verbos/condutas), o tipo penal é
misto alternativo. Quer dizer: a prática, num mesmo contexto, de mais de um
dos verbos previstos significa a punição por crime único, servindo o maior
número de verbos praticados para aumentar a pena na análise da dosimetria.
- Circunstâncias indicativas do tráfico: para se concluir pela prática do crime
de tráfico, não basta, em princípio a quantidade ou a qualidade da droga
apreendida. Deve-se atentar, ainda, para outros fatores, tais como o local e as
condições em que se desenvolveu a ação criminosa, as circunstâncias da
prisão, a conduta, a qualificação e os antecedentes do agente (art. 52, I).
OBS.: Súmula 630 STJ: “A incidência da atenuante da confissão espontânea no
crime de tráfico ilícito de entorpecentes exige o reconhecimento da traficância
pelo acusado, não bastando a mera admissão da posse ou propriedade para uso
próprio”.
OBS.: O art. 243 do ECA é subsidiário (“vender, fornecer ainda que
gratuitamente, ministrar ou entregar, de qualquer forma, a criança ou
adolescente, sem justa causa, produtos cujos componentes possam causar
dependência física ou psíquica, ainda que por utilização indevida”), quando a
pessoa for menor de 18 anos, já que deve ser substância não considerada como
droga (se for droga, será tráfico com causa de aumento de pena – art. 33 c/c
art. 40, VI, ambos da Lei 11.343/06).

§ 1º Nas mesmas penas incorre quem: (figuras equiparadas)


I - importa, exporta, remete, produz, fabrica, adquire, vende, expõe à
venda, oferece, fornece, tem em depósito, transporta, traz consigo ou
guarda, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo
com determinação legal ou regulamentar, matéria-prima, insumo ou
produto químico destinado à preparação de drogas;
- Pode ser qualquer substância tida como matéria-prima para a fabricação de
drogas, ainda que a substância, por si só, não sirva apenas para essa finalidade
(ex.: acetona, na produção de cocaína).
OBS.: de acordo com a jurisprudência do STJ, a semente da maconha não se
encaixa nem como matéria-prima para a preparação de drogas, nem como droga
por si mesma, já que não possui o princípio ativo THC (tetrahidrocanabiol), que
é a substância vedada pela Portaria 344 SVS/MS. Assim, importar ou estar na
posse dessas sementes é fato atípico para fins de tráfico de drogas.

II - semeia, cultiva ou faz a colheita, sem autorização ou em desacordo


com determinação legal ou regulamentar, de plantas que se
constituam em matéria-prima para a preparação de drogas;
III - utiliza local ou bem de qualquer natureza de que tem a
propriedade, posse, administração, guarda ou vigilância, ou consente
que outrem dele se utilize, ainda que gratuitamente, sem autorização
ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, para o
tráfico ilícito de drogas.
IV - vende ou entrega drogas ou matéria-prima, insumo ou produto
químico destinado à preparação de drogas, sem autorização ou em
desacordo com a determinação legal ou regulamentar, a agente
policial disfarçado, quando presentes elementos probatórios
razoáveis de conduta criminal preexistente. (Incluído pela Lei nº
13.964, de 2019)

§ 2º Induzir, instigar ou auxiliar alguém ao uso indevido de droga:


(Vide ADI nº 4.274)
Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa de 100 (cem) a
300 (trezentos) dias-multa.
- Para a configuração desse tipo penal, é indispensável que o incentivo
psicológico seja dirigido a determinada pessoa, já que o incentivo genérico, para
pessoas indeterminadas, configurará apologia ao crime (art. 287, CP). Caso,
porém, esteja-se em um contexto de movimento social pedindo a liberação das
drogas (ex.: Marcha para a Maconha), essa conduta é lícita, fazendo parte da
dinâmica da democracia e da liberdade de manifestação do pensamento.

§ 3º Oferecer droga, eventualmente e sem objetivo de lucro, a


pessoa de seu relacionamento, para juntos a consumirem:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e pagamento de
700 (setecentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa, sem prejuízo
das penas previstas no art. 28.

§ 4º Nos delitos definidos no caput e no § 1º deste artigo, as penas


poderão ser reduzidas de um sexto a dois terços, vedada a
conversão em penas restritivas de direitos, desde que o agente seja
primário, de bons antecedentes, não se dedique às atividades
criminosas nem integre organização criminosa. (Vide Resolução
nº 5, de 2012)

- O §4º, do art. 33, é o chamado tráfico de drogas privilegiado. De acordo com


alteração legislativa advinda do Pacote Anticrime, essa figura penal
expressamente deixou de ser considerada como crime equiparado ao hediondo.
Os tipos do caput e do §1º são equiparados a hediondo, mas os dos §§2º a 4º
não o são.
- Para se obter o benefício do tráfico privilegiado, é indispensável a presença de
quatro requisitos cumulativos: primário; bons antecedentes; não se dedicar a
atividades criminosas; não integrar organização criminosa. O resultado será a
aplicação do benefício de redução de pena, no montante de 1/6 a 2/3.

Art. 34. Fabricar, adquirir, utilizar, transportar, oferecer, vender,


distribuir, entregar a qualquer título, possuir, guardar ou fornecer,
ainda que gratuitamente, maquinário, aparelho, instrumento ou
qualquer objeto destinado à fabricação, preparação, produção ou
transformação de drogas, sem autorização ou em desacordo com
determinação legal ou regulamentar:
Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e pagamento de 1.200
(mil e duzentos) a 2.000 (dois mil) dias-multa.

- O crime em questão diz respeito aos objetos, como máquinas e aparelhos, que
são utilizados na preparação das drogas, tenham eles a finalidade específica de
produzirem drogas, ou que sejam utilizados nessa produção.

Art. 35. Associarem-se duas ou mais pessoas para o fim de praticar,


reiteradamente ou não, qualquer dos crimes previstos nos arts. 33,
caput e § 1º, e 34 desta Lei:
Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e pagamento de 700
(setecentos) a 1.200 (mil e duzentos) dias-multa.
Parágrafo único. Nas mesmas penas do caput deste artigo incorre
quem se associa para a prática reiterada do crime definido no art.
36 desta Lei.

- Diferentemente dos crimes de associação e organização criminosa, o crime de


associação para o tráfico exige apenas a presença de no mínimo duas pessoas
para a sua configuração. Essas pessoas devem estar reunidas para a prática
dos crimes previstos no art. 33, caput e §1º, e artigo 34, da Lei de Drogas. Mas
também se aplica o crime do art. 35 para aqueles que se associam para cometer
o crime do art. 36 (financiamento do tráfico de drogas).
Art. 36. Financiar ou custear a prática de qualquer dos crimes
previstos nos arts. 33, caput e § 1º, e 34 desta Lei:
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 20 (vinte) anos, e pagamento de 1.500
(mil e quinhentos) a 4.000 (quatro mil) dias-multa.

- A inclusão desse tipo penal é uma novidade da Lei 11.343/06, que optou por
punir mais severamente a conduta daquele que, com habitualidade, custeio as
práticas relacionadas ao tráfico de drogas.
- Esse custeio abrange qualquer espécie de financiamento das atividades dos
traficantes, seja através de valores em espécie (dinheiro), seja através da
entrega de bens.
- A punição pelo artigo 36, como vimos, ocorre quando a conduta de financiar é
habitual. Caso o financiamento seja isolado ou ocasional, o criminoso
responderá pelo crime de tráfico de drogas, com causa de aumento de pena (art.
40, VII, da Lei de Drogas).

Art. 37. Colaborar, como informante, com grupo, organização ou


associação destinados à prática de qualquer dos crimes previstos nos
arts. 33, caput e § 1º, e 34 desta Lei:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e pagamento de 300
(trezentos) a 700 (setecentos) dias-multa.

- O artigo 37 é o crime do informante, daquele que, sem participar da associação


ou da organização criminosa, contribui para as suas atividades através da
prestação de informações, muitas vezes informações privilegiadas (ex.: policial
que recebem pagamentos para dar detalhes de operações).
- Contudo, se ficar demonstrado que o informante, na verdade, faz parte da
própria estrutura do grupo criminoso, responderá pelo delito associativo, e não
pelo art. 37.

Art. 38. Prescrever ou ministrar, culposamente, drogas, sem que


delas necessite o paciente, ou fazê-lo em doses excessivas ou em
desacordo com determinação legal ou regulamentar:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e pagamento de
50 (cinquenta) a 200 (duzentos) dias-multa.
Parágrafo único. O juiz comunicará a condenação ao Conselho
Federal da categoria profissional a que pertença o agente.

- A lei prescreve duas condutas típicas: a) prescrever (receitar); e b) ministrar


(aplicar). Essas condutas típicas são feitas de forma culposa, através de
negligência, imprudência ou imperícia.
- Nesse contexto, o profissional da área da saúde irá prescrever ou ministrar sem
que o paciente realmente precise da utilização de substância entorpecente, ou
então prescreverá ou ministrará contrariando as regulamentações para a
aplicação correta (ex.: dosagem excessiva).

Art. 39. Conduzir embarcação ou aeronave após o consumo de


drogas, expondo a dano potencial a incolumidade de outrem:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, além da
apreensão do veículo, cassação da habilitação respectiva ou
proibição de obtê-la, pelo mesmo prazo da pena privativa de liberdade
aplicada, e pagamento de 200 (duzentos) a 400 (quatrocentos) dias-
multa.
Parágrafo único. As penas de prisão e multa, aplicadas
cumulativamente com as demais, serão de 4 (quatro) a 6 (seis) anos
e de 400 (quatrocentos) a 600 (seiscentos) dias-multa, se o veículo
referido no caput deste artigo for de transporte coletivo de
passageiros.

- O artigo 39, da Lei de Drogas, pune a conduta do sujeito que consome drogas
e conduz embarcação (navio, jet-ski, etc.) ou aeronave (avião a jato, monomotor,
etc.), colocando em risco a integridade física de outras pessoas em geral.
- Caso o condutor esteja dirigindo veículo automotor, o crime será o do art. 306,
do Código de Trânsito Brasileiro:

Art. 306. Conduzir veículo automotor com capacidade psicomotora


alterada em razão da influência de álcool ou de outra substância
psicoativa que determine dependência: (Redação dada pela Lei nº
12.760, de 2012)
Penas - detenção, de seis meses a três anos, multa e suspensão ou
proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo
automotor.
§ 1º As condutas previstas no caput serão constatadas por: (Incluído
pela Lei nº 12.760, de 2012)
I - concentração igual ou superior a 6 decigramas de álcool por litro
de sangue ou igual ou superior a 0,3 miligrama de álcool por litro de
ar alveolar; ou (Incluído pela Lei nº 12.760, de 2012)
II - sinais que indiquem, na forma disciplinada pelo Contran, alteração
da capacidade psicomotora. (Incluído pela Lei nº 12.760, de 2012)
§ 2º A verificação do disposto neste artigo poderá ser obtida mediante
teste de alcoolemia ou toxicológico, exame clínico, perícia, vídeo,
prova testemunhal ou outros meios de prova em direito admitidos,
observado o direito à contraprova. (Redação dada pela Lei nº 12.971,
de 2014)
§ 3º O Contran disporá sobre a equivalência entre os distintos testes
de alcoolemia ou toxicológicos para efeito de caracterização do crime
tipificado neste artigo. (Redação dada pela Lei nº 12.971, de 2014)
§ 4º Poderá ser empregado qualquer aparelho homologado pelo
Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia - INMETRO
- para se determinar o previsto no caput. (Incluído pela Lei nº 13.840,
de 2019)

Causas de aumento de pena

Art. 40. As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta Lei são


aumentadas de um sexto a dois terços, se:
I - a natureza, a procedência da substância ou do produto apreendido
e as circunstâncias do fato evidenciarem a transnacionalidade do
delito;
II - o agente praticar o crime prevalecendo-se de função pública ou no
desempenho de missão de educação, poder familiar, guarda ou
vigilância;
III - a infração tiver sido cometida nas dependências ou imediações
de estabelecimentos prisionais, de ensino ou hospitalares, de sedes
de entidades estudantis, sociais, culturais, recreativas, esportivas, ou
beneficentes, de locais de trabalho coletivo, de recintos onde se
realizem espetáculos ou diversões de qualquer natureza, de serviços
de tratamento de dependentes de drogas ou de reinserção social, de
unidades militares ou policiais ou em transportes públicos;
IV - o crime tiver sido praticado com violência, grave ameaça,
emprego de arma de fogo, ou qualquer processo de intimidação difusa
ou coletiva;
V - caracterizado o tráfico entre Estados da Federação ou entre estes
e o Distrito Federal;
VI - sua prática envolver ou visar a atingir criança ou adolescente
ou a quem tenha, por qualquer motivo, diminuída ou suprimida a
capacidade de entendimento e determinação;
VII - o agente financiar ou custear a prática do crime.

Art. 41. O indiciado ou acusado que colaborar voluntariamente com


a investigação policial e o processo criminal na identificação dos
demais coautores ou partícipes do crime e na recuperação total ou
parcial do produto do crime, no caso de condenação, terá pena
reduzida de um terço a dois terços.

Art. 42. O juiz, na fixação das penas, considerará, com


preponderância sobre o previsto no art. 59 do Código Penal, a
natureza e a quantidade da substância ou do produto, a
personalidade e a conduta social do agente.

Art. 43. Na fixação da multa a que se referem os arts. 33 a 39 desta


Lei, o juiz, atendendo ao que dispõe o art. 42 desta Lei, determinará
o número de dias-multa, atribuindo a cada um, segundo as
condições econômicas dos acusados, valor não inferior a um trinta
avos nem superior a 5 (cinco) vezes o maior salário-mínimo.
Parágrafo único. As multas, que em caso de concurso de crimes serão
impostas sempre cumulativamente, podem ser aumentadas até o
décuplo se, em virtude da situação econômica do acusado,
considerá-las o juiz ineficazes, ainda que aplicadas no máximo.

Art. 44. Os crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1º, e 34 a 37 desta
Lei são inafiançáveis e insuscetíveis de sursis, graça, indulto,
anistia e liberdade provisória, vedada a conversão de suas penas em
restritivas de direitos.
Parágrafo único. Nos crimes previstos no caput deste artigo, dar-se-á
o livramento condicional após o cumprimento de dois terços da pena,
vedada sua concessão ao reincidente específico.

- Os crimes previstos nos artigos 33, caput e §1º, e 34 a 37 são os considerados


equiparados a hediondos.

Art. 45. É isento de pena o agente que, em razão da dependência,


ou sob o efeito, proveniente de caso fortuito ou força maior, de droga,
era, ao tempo da ação ou da omissão, qualquer que tenha sido a
infração penal praticada, inteiramente incapaz de entender o caráter
ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
Parágrafo único. Quando absolver o agente, reconhecendo, por força
pericial, que este apresentava, à época do fato previsto neste artigo,
as condições referidas no caput deste artigo, poderá determinar o juiz,
na sentença, o seu encaminhamento para tratamento médico
adequado.

- O art. 45, caput, da Lei n. 11.343/2006 prevê três hipóteses de


inimputabilidade:
1) Quando o réu, em razão de dependência, era, ao tempo da ação ou da
omissão criminosa, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou
de determinar-se de acordo com tal entendimento.
2) Se o réu, por estar sob o efeito de droga, proveniente de caso fortuito, era,
ao tempo da ação ou omissão criminosa, inteiramente incapaz de entender o
caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com tal entendimento. Existe
caso fortuito, por exemplo, quando a pessoa ingere acidentalmente uma
substância entorpecente.
3) Quando o réu, por estar sob o efeito de droga, proveniente de força maior,
era, ao tempo da ação ou omissão criminosa, inteiramente incapaz de entender
o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com tal entendimento.
Ocorre força maior, por exemplo, quando a pessoa é forçada mediante violência
ou grave ameaça a ingerir a substância entorpecente.
- A inimputabilidade, portanto, pressupõe que o agente não tenha capacidade
de entendimento ou autodeterminação no momento da prática do ilícito penal.
- Nas três hipóteses, comprovada pericialmente a inimputabilidade, o réu ficará
isento de pena, qualquer que tenha sido o crime por ele cometido — da própria
Lei de Drogas ou não.
- Nos termos do art. 45, caput, da Lei n. 11.343/2006, o juiz deverá absolver o
réu e, se for ele dependente, submetê-lo a tratamento médico. Em tal caso,
temos a chamada absolvição imprópria.

Art. 46. As penas podem ser reduzidas de um terço a dois terços se,
por força das circunstâncias previstas no art. 45 desta Lei, o agente
não possuía, ao tempo da ação ou da omissão, a plena capacidade
de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo
com esse entendimento.

Art. 47. Na sentença condenatória, o juiz, com base em avaliação que


ateste a necessidade de encaminhamento do agente para tratamento,
realizada por profissional de saúde com competência específica na
forma da lei, determinará que a tal se proceda, observado o disposto
no art. 26 desta Lei.

- Nos termos da lei, os semi-imputáveis não são isentos de pena e, portanto,


devem ser condenados. Haverá, entretanto, uma redução de um a dois terços
do montante da reprimenda. Se o sentenciado for dependente, deverá também
ser submetido a tratamento no local em que tiver de cumprir a pena imposta
(art. 47).
OBS.: O tratamento dos dependentes é feito com base nas seguintes regras:
a) o inimputável em razão de dependência deve ser absolvido, e o juiz, na
sentença, deve encaminhá-lo para tratamento médico de recuperação (art. 45,
parágrafo único);
b) a pessoa condenada pela prática de qualquer infração penal que seja
dependente e esteja cumprindo pena privativa de liberdade ou medida de
segurança, deve ter assegurado o tratamento no próprio sistema
penitenciário (art. 26);
c) o condenado dependente que esteja cumprindo pena fora do sistema
prisional deverá ser submetido a tratamento por profissional da saúde com
competência específica na forma da lei (art. 47);
d) ao usuário de droga, o juiz determinará ao Poder Público que coloque à sua
disposição, gratuitamente, estabelecimento de saúde, preferencialmente
ambulatorial, para tratamento especializado (art. 28, § 7º).

OBS.: Exame de dependência: A realização do exame de dependência


toxicológica deve ser determinada pelo juiz se o réu se declarar dependente ou
quando houver indícios nesse sentido. A instauração desse incidente não
suspende o andamento da ação penal, mas, se houver dois ou mais réus, e o
exame de dependência for determinado apenas em relação a um, o juiz
desmembrará o processo. Determinado o exame pelo juiz, as partes poderão
apresentar quesitos. Dependendo das conclusões dos peritos, poderá ser o réu
considerado imputável, inimputável ou semi-imputável.

ASPECTOS PROCESSUAIS DA LEI DE DROGAS

- A Lei n. 11.343/2006 prevê um procedimento especial para apurar os crimes


descritos em seus arts. 33 a 39, procedimento este que será analisado em
seguida. O art. 48, entretanto, ressalva que, nas omissões, aplica-se
subsidiariamente o Código de Processo Penal.
OBS.: Para os crimes previstos no art. 33, § 3º (oferta de droga para pessoa de
seu relacionamento para consumo conjunto), e no art. 38 (prescrição ou
administração culposa de droga), deverá ser adotado integralmente o rito da Lei
n. 9.099/95, já que esses delitos se enquadram no conceito de infração de menor
potencial ofensivo, pois suas penas máximas não excedem dois anos. O crime
de porte para consumo próprio (art. 28), conforme já estudado, segue também
as regras da Lei n. 9.099/95.

Fase policial
- O art. 50 estabelece que, ocorrendo prisão em flagrante, a autoridade policial
fará, imediatamente, comunicação ao juiz competente, remetendo-lhe cópia do
auto lavrado, do qual será dada vista ao órgão do Ministério Público, em vinte e
quatro horas.
- O Ministério Público e o juiz devem analisar se o auto está formalmente em
ordem e se o caso era mesmo de flagrante delito, pois, do contrário, a prisão
deverá ser relaxada. A necessidade de comunicação da prisão decorre da regra
do art. 5º, LXII, da Constituição Federal.
- Para a lavratura do auto de prisão e estabelecimento da materialidade, dispõe
o art. 50, § 1º, que é suficiente o laudo de constatação da natureza e da
quantidade da droga, firmado por perito oficial ou, na falta deste, por pessoa
idônea.
- Estando o indiciado preso, o inquérito deverá ser concluído em trinta dias.
Se estiver solto, o prazo será de noventa dias (art. 51). Esses prazos, porém,
podem ser duplicados pelo juiz, ouvido o Ministério Público, mediante pedido
justificado da autoridade policial (arts. 51, parágrafo único, e 52, II).
- Findos os prazos, a autoridade policial deve encaminhar o inquérito ao juízo.
Para tanto, elaborará “relatório”, narrando sumariamente os fatos e justificando
as razões que a levaram à classificação do delito, indicando a quantidade e a
natureza da substância ou do produto apreendido, o local e as condições em que
se desenvolveu a ação criminosa, as circunstâncias da prisão, a conduta, a
qualificação e os antecedentes do agente (art. 52, I), ou requererá a devolução
dos autos para a realização de diligências necessárias.
- Estabelece o art. 52, parágrafo único, que a remessa do inquérito a juízo far-
se-á sem prejuízo de diligências complementares:
I — necessárias ou úteis à plena elucidação do fato, cujo resultado deverá ser
encaminhado ao juízo competente até três dias antes da audiência de instrução
e julgamento;
II — necessárias ou úteis à indicação dos bens, direitos e valores de que seja
titular o agente, ou que figurem em seu nome, cujo resultado deverá ser
encaminhado ao juízo competente até três dias antes da audiência de instrução
e julgamento.
- Já o art. 53 dispõe que, em qualquer fase da persecução criminal relativa aos
crimes previstos na Lei, são permitidos, além dos previstos em lei, mediante
autorização judicial e ouvido o Ministério Público, os seguintes procedimentos
investigatórios:
I — infiltração por agentes de polícia, em tarefas de investigação, constituída
pelos órgãos especializados pertinentes;
II — não atuação policial sobre os portadores de drogas, seus precursores
químicos ou outros produtos utilizados em sua produção, que se encontrem no
território brasileiro, com a finalidade de identificar e responsabilizar maior
número de integrantes de operações de tráfico e distribuição, sem prejuízo
da ação penal cabível (entrega vigiada). Nesta hipótese, a autorização será
concedida desde que sejam conhecidos o itinerário provável e a identificação
dos agentes do delito ou de colaboradores (art. 53, parágrafo único).

Da instrução criminal
Da instrução criminal
- De acordo com o art. 54, sendo recebidos em juízo os autos de inquérito policial,
de investigação feita por Comissão Parlamentar de Inquérito, ou peças de
informação, dar-se-á vista ao Ministério Público para, no prazo de dez dias,
adotar uma das seguintes medidas:
I — requerer o arquivamento;
II — requisitar as diligências que entender necessárias;
III — oferecer denúncia.
- Por sua vez, se o Órgão do Ministério Público se convencer da existência de
indícios de autoria e de materialidade, deverá oferecer denúncia. Na denúncia,
poderão ser arroladas até cinco testemunhas, independentemente de o crime
ser punido com reclusão ou detenção, devendo também o Ministério Público
requerer as diligências necessárias (art. 54, III).
- Em juízo, o procedimento deverá observar as seguintes fases:
a) defesa prévia;
b) recebimento da denúncia;
c) citação;
d) audiência para oitiva de testemunhas, interrogatório e debates orais;
e) sentença.
- Com efeito, nos termos do art. 55, caput, oferecida a denúncia, o juiz ordenará
a notificação do acusado para oferecer defesa prévia, por escrito, no prazo de
dez dias. Nessa defesa, o denunciado poderá arguir preliminares (prescrição,
por exemplo) e exceções, além de invocar todos os argumentos que entenda
pertinentes no sentido de convencer o juiz a não receber a denúncia. Para tanto,
poderá oferecer documentos e justificações. É nessa defesa que o denunciado
deve elencar as provas que pretende produzir, antes e depois de eventual
recebimento da denúncia, e arrolar até cinco testemunhas.
- As exceções a que a lei se refere são aquelas previstas nos arts. 95 a 113 do
Código de Processo Penal (suspeição ou impedimento, incompetência do juízo,
litispendência, ilegitimidade de parte e de coisa julgada) e, nos termos do art. 55,
§ 2º, da Lei n. 11.343/2006, serão processadas em apartado.
- Caso o denunciado não apresente a defesa prévia, o juiz nomeará defensor
para oferecê-la, fixando, para tanto, mais dez dias de prazo e abrindo, no ato
de nomeação, vista dos autos ao defensor (art. 55, § 3º).
- Apresentada a defesa, o juiz, no prazo de cinco dias, terá de tomar uma das
seguintes decisões: a) receber a denúncia; b) rejeitá-la; c) determinar a
realização de diligências que entenda imprescindíveis. Nesta última hipótese, o
juiz fixará prazo máximo de dez dias para a realização das diligências, exames
ou perícias determinadas e, em seguida, terá mais cinco dias para decidir se
recebe ou rejeita a denúncia.
- Recebida a denúncia, o juiz designará dia e hora para a audiência de
instrução e julgamento, ordenará a citação pessoal do acusado, a intimação
do Ministério Público e do assistente (se for o caso), e requisitará os laudos
periciais faltantes (art. 56, caput). Embora a Lei não mencione expressamente,
é evidente que também deverá ser intimado o defensor do acusado, bem como
determinada sua requisição, caso esteja preso.
- Tratando-se dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1º, e 34 a 37, o juiz,
ao receber a denúncia, poderá decretar o afastamento cautelar do denunciado
de suas atividades, se for funcionário público, comunicando a decisão ao
órgão onde atua o réu (art. 56, § 1º). Esse dispositivo se aplica, por exemplo, se
o acusado for policial.
- Se o réu for citado pessoalmente e não comparecer na audiência, será
decretada sua revelia, de modo que ele não será mais intimado para os demais
atos processuais (art. 367 do CPP). Caso compareça, será devidamente
interrogado.
- Se o réu não for encontrado para citação pessoal, o juiz determinará a citação
por edital; nesse caso, se o réu não comparecer ao interrogatório designado nem
nomear defensor, o juiz decretará a suspensão do processo e do prazo
prescricional, nos termos do art. 366 do Código de Processo Penal, que se aplica
subsidiariamente à Lei de Drogas (art. 48). Essa hipótese só ocorrerá, na prática,
se o réu estiver solto, e, por tal razão, o juiz analisará se a decretação da prisão
preventiva se mostra necessária.
- A audiência de instrução e julgamento deverá ser realizada dentro do prazo de
trinta dias, a contar do despacho em que foi recebida a denúncia, salvo se tiver
sido determinada a realização de perícia para verificar eventual dependência de
drogas do acusado, hipótese em que deverá ser realizada no prazo de noventa
dias.
- Na audiência, o juiz ouvirá inicialmente as testemunhas, primeiro as de
acusação e depois as de defesa.
- O depoimento de policiais (militares ou civis) tem o mesmo valor que em
qualquer outro processo penal (furto, roubo, porte de arma etc.), devendo ser
aferido pela harmonia com os demais depoimentos, pela firmeza com que foi
prestado etc. Nada obsta a condenação fundada apenas em depoimento de
policiais, uma vez que é extremamente comum que as testemunhas civis não
queiram ser mencionadas na ocorrência policial por temerem depor contra
traficantes. É óbvio, todavia, que o juiz não poderá aceitar depoimentos
completamente contraditórios de policiais como fundamento para eventual
condenação.
- Ouvidas as testemunhas, o juiz interrogará o acusado. De acordo com o art. 57
da Lei de Drogas o interrogatório deveria ser feito antes da oitiva das
testemunhas, mas o Plenário do Supremo Tribunal Federal, no julgamento
do HC 127.900, em março de 2016, decidiu que o interrogatório deve ser feito
após a oitiva das testemunhas:
A Lei n. 11.719/08 adequou o sistema acusatório democrático,
integrando-o de forma mais harmoniosa aos preceitos constitucionais
da Carta de República de 1988, assegurando-se maior efetividade a
seus princípios, notadamente, os do contraditório e da ampla defesa
(art. 5º, inciso LV) (...) Ordem denegada, com a fixação da seguinte
orientação: a norma inscrita no art. 400 do Código de Processo
Penal comum aplica-se, a partir da publicação da ata do presente
julgamento, aos processos penais militares, aos processos
penais eleitorais e a todos os procedimentos penais regidos por
legislação especial incidindo somente naquelas ações penais cuja
instrução não se tenha encerrado (STF — HC 127.900, Rel. Min. Dias
Toffoli, Tribunal Pleno, julgado em 03/03/2016, processo eletrônico
DJe-161, divulg. 02/08/2016, public. 03/08/2016).

- Em razão de tal decisão do Plenário da Corte Suprema, pode-se afirmar que o


interrogatório nos crimes da Lei de Drogas deve ser feito após a oitiva das
testemunhas. A decisão do Plenário do Supremo Tribunal deixa claro que só
haverá nulidade na realização do interrogatório no início da instrução se o ato
processual tiver sido realizado após 03/08/2016 (data da publicação do acórdão).
- O interrogatório deve ser feito na forma estabelecida no Código de Processo
Penal. Deverá o magistrado, ainda, indagar ao réu acerca de eventual
dependência de drogas, caso o incidente não tenha sido anteriormente
instaurado.
- Essa providência deve ser tomada qualquer que seja o crime, já que a lei não
faz distinção. Se o réu se declarar dependente e existirem indícios nesse sentido,
o juiz deverá determinar a realização de exame para verificar a dependência do
acusado. Aliás, mesmo que o acusado não se declare dependente, o juiz deverá
determinar o exame se, diante das provas colhidas ou de outras evidências,
perceber que ele é viciado.
- O rito desta lei especial não prevê a substituição dos debates orais pela entrega
de memoriais (breves alegações finais por escrito, apresentadas no prazo de
cinco dias). Contudo, tal providência é extremamente comum no dia a dia
forense, uma vez que os tribunais não têm reconhecido qualquer nulidade nessa
atitude.
- Na sentença, além das fases indispensáveis — relatório, fundamentação e
dispositivo —, o juiz também deverá:
a) analisar a decretação da perda do cargo ou função pública (art. 92, I, do
CP), se o crime tiver sido cometido com abuso da função pública e a pena for
superior a um ano;
b) decretar a perda de veículos, embarcações ou aeronaves, bem como de
maquinismos, utensílios, instrumentos e objetos de qualquer natureza
utilizados para a prática do crime (art. 63);
c) decretar a perda de bens ou valores considerados produtos ou proveito
do crime;
d) fixar o regime inicial de cumprimento da pena e analisar a possibilidade de
substituir a pena privativa de liberdade por sanção de outra natureza (restritiva
de direitos, multa);
e) verificar a possibilidade de o réu apelar em liberdade, ou a necessidade de
decretar-lhe a prisão.
LEI MARIA DA PENHA – LEI 11.340/06 (Lei da Violência Doméstica e
Familiar contra a Mulher)

- Ao criar mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a


mulher, a Lei 11.340/2006, denominada popularmente “Lei Maria da Penha”,
veio com a missão de proporcionar instrumentos adequados para enfrentar um
problema que aflige grande parte das mulheres no Brasil e no mundo, que é a
violência de gênero.
- A violência de gênero é uma das formas mais preocupantes de violência, já
que, na maioria das vezes, ocorre no âmbito familiar, local onde deveriam
imperar o respeito e o afeto mútuos.
- Maria da Penha Fernandes, biofarmacêutica residente em Fortaleza, Ceará,
no ano de 1983, foi vítima de tentativa de homicídio provocada pelo seu marido,
à época, professor da Faculdade de Economia, Marco Antonio H. Ponto Viveiros,
tendo recebido um tiro nas costas, que a deixou paraplégica. Condenado em
duas ocasiões, o réu não chegou a ser preso, o que gerou indignação na vítima,
que procurou auxílio de organismos internacionais, culminando com a
condenação do Estado Brasileiro, em 2001, pela Organização dos Estados
Americanos (OEA), por negligência e omissão em relação à violência
doméstica, recomendando a tomada de providências a respeito do caso.
- Tornou-se o Brasil, também, signatário da Convenção sobre a Eliminação de
Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres (promulgada pelo
Decreto n. 4.377/2002) e da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir
e Erradicar a Violência contra a Mulher (Convenção de Belém do Pará – 1994
– promulgada pelo Decreto n. 1.973/96), o que culminou, tendo em conta
também o caso Maria da Penha, com a criação da Lei n. 11.340/2006, batizada
de “Lei Maria da Penha”.
- A Constituição Federal de 1988, além de estabelecer que a família pode ser
constituída por outras entidades além do casamento (CF, art. 226), equiparou,
no Capítulo VII, homens e mulheres em direitos e obrigações (princípio da
isonomia), estabelecendo como paradigma o princípio da dignidade da pessoa
humana.
- Era necessário, portanto, que proteção especial, sob o prisma do princípio da
isonomia material, fosse dispensado à mulher em situação de violência
doméstica e familiar, coroando o legislador a tutela dos vulneráveis com a
edição da Lei n. 11.340/2006 – Lei da Violência Doméstica e Familiar contra a
Mulher, manifestação de justiça social, levando em conta a situação de
vulnerabilidade da mulher no seio familiar.

Violência doméstica e familiar contra a mulher


- É indispensável analisar a violência doméstica e familiar contra a mulher a partir
da conjugação de alguns artigos da Lei 11.340/06:

Art. 5º Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e


familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no
gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou
psicológico e dano moral ou patrimonial:
I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço
de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar,
inclusive as esporadicamente agregadas;
II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada
por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por
laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa;
III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva
ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de
coabitação.
Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo
independem de orientação sexual.

Art. 6º A violência doméstica e familiar contra a mulher constitui uma


das formas de violação dos direitos humanos.

- Para bem compreender a aplicabilidade da Lei 11.340/06, é indispensável


examinar os seguintes pontos: a) deve haver alguma espécie de violência (art.
7º, que detalha os tipos de violência descritos no art. 5º - violência física,
psicológica, sexual, patrimonial ou moral); b) a violência deve ter sido praticada
no âmbito da unidade doméstica, da família ou em qualquer relação íntima de
afeto (pouco importa se hetero ou homossexual); c) a violência deve ter sido
praticada contra a mulher.
- Sem a presença desses três elementos, não se pode falar na aplicação da Lei
Maria da Penha.
- Detalhando as noções sobre os tipos de violência, indispensável a leitura do
art. 7º:

Art. 7º São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher,


entre outras:
I - a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda
sua integridade ou saúde corporal;
II - a violência psicológica1, entendida como qualquer conduta que
lhe cause dano emocional e diminuição da autoestima ou que lhe

1
Violência psicológica contra a mulher (Incluído pela Lei nº 14.188, de 2021)
Art. 147-B. Causar dano emocional à mulher que a prejudique e perturbe seu pleno
desenvolvimento ou que vise a degradar ou a controlar suas ações, comportamentos,
crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação,
prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar
ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões,
mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação,
isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto,
chantagem, violação de sua intimidade, ridicularização, exploração e
limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause
prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação; (Redação
dada pela Lei nº 13.772, de 2018)
III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a
constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual
não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da
força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a
sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método
contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou
à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou
manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos
sexuais e reprodutivos;
IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que
configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus
objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens,
valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a
satisfazer suas necessidades;
V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que
configure calúnia, difamação ou injúria.

- Os tipos de violências aparecem, não raro, relacionados com diversos tipos


penais. Contudo, por evidente, não se exige que haja a condenação com trânsito
em julgado do agressor por esses tipos penais para que a violência esteja
caracterizada. A presença da violência, nesses termos, é um dos fatos que
justifica a aplicação da Lei 11.340/06.
- E, por fim, é indispensável que a vítima seja mulher. Com relação à definição
de “mulher”, muita polêmica já se instaurou a respeito do transexual. Hoje já é
voz corrente na doutrina que é preciso considerar o transexual (tenha ou não
feito a cirurgia de transgenitalização – cirurgia de mudança de sexo), uma vez
que o direito brasileiro permite a alteração do gênero, no Registro Civil,
independentemente desse procedimento.
OBS.: a vítima precisa ser mulher, mas o agressor pode ser homem ou mulher
indistintamente.

isolamento, chantagem, ridicularização, limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro


meio que cause prejuízo à sua saúde psicológica e autodeterminação: (Incluído pela Lei
nº 14.188, de 2021)
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa, se a conduta não constitui
crime mais grave. (Incluído pela Lei nº 14.188, de 2021)
MEDIDAS DE PROTEÇÃO

Políticas públicas preventivas

- A Lei da Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, em seu art. 8º,


estabeleceu diretrizes sobre as políticas públicas para evitar a ocorrência de
violência doméstica e familiar contra a mulher:

Art. 8º A política pública que visa coibir a violência doméstica e


familiar contra a mulher far-se-á por meio de um conjunto articulado
de ações da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios
e de ações não-governamentais, tendo por diretrizes:
I - a integração operacional do Poder Judiciário, do Ministério
Público e da Defensoria Pública com as áreas de segurança pública,
assistência social, saúde, educação, trabalho e habitação;
II - a promoção de estudos e pesquisas, estatísticas e outras
informações relevantes, com a perspectiva de gênero e de raça ou
etnia, concernentes às causas, às consequências e à frequência da
violência doméstica e familiar contra a mulher, para a sistematização
de dados, a serem unificados nacionalmente, e a avaliação periódica
dos resultados das medidas adotadas;
III - o respeito, nos meios de comunicação social, dos valores éticos
e sociais da pessoa e da família, de forma a coibir os papéis
estereotipados que legitimem ou exacerbem a violência doméstica e
familiar, de acordo com o estabelecido no inciso III do art. 1º , no inciso
IV do art. 3º e no inciso IV do art. 221 da Constituição Federal;
IV - a implementação de atendimento policial especializado para as
mulheres, em particular nas Delegacias de Atendimento à Mulher;
V - a promoção e a realização de campanhas educativas de
prevenção da violência doméstica e familiar contra a mulher, voltadas
ao público escolar e à sociedade em geral, e a difusão desta Lei e dos
instrumentos de proteção aos direitos humanos das mulheres;
VI - a celebração de convênios, protocolos, ajustes, termos ou
outros instrumentos de promoção de parceria entre órgãos
governamentais ou entre estes e entidades não-governamentais,
tendo por objetivo a implementação de programas de erradicação da
violência doméstica e familiar contra a mulher;
VII - a capacitação permanente das Polícias Civil e Militar, da
Guarda Municipal, do Corpo de Bombeiros e dos profissionais
pertencentes aos órgãos e às áreas enunciados no inciso I quanto às
questões de gênero e de raça ou etnia;
VIII - a promoção de programas educacionais que disseminem
valores éticos de irrestrito respeito à dignidade da pessoa humana
com a perspectiva de gênero e de raça ou etnia;
IX - o destaque, nos currículos escolares de todos os níveis de ensino,
para os conteúdos relativos aos direitos humanos, à equidade de
gênero e de raça ou etnia e ao problema da violência doméstica e
familiar contra a mulher.

- Destaca-se que as medidas acima citadas são preventivas da violência


doméstica e familiar, na dimensão de políticas públicas preventivas, tratando
a lei também, conforme se verá, das medidas administrativas gerais repressivas,
quando encontrar-se a mulher em situação concreta de violência.

Medidas administrativas gerais reagentes/repressivas

- As medidas administrativas gerais reagentes ou repressivas fixadas pela lei,


nos casos em que se encontre a mulher em situação concreta de violência
doméstica, serão prestadas de forma articulada e conforme os princípios e as
diretrizes previstas na Lei Orgânica da Assistência Social, no Sistema Único de
Saúde, no Sistema Único de Segurança Pública, entre outras normas e políticas
públicas, inclusive emergencialmente, quando for o caso.
- No âmbito das medidas administrativas gerais reagentes emergenciais, poderá
o juiz (art. 9º):

a) determinar, por prazo certo, a inclusão da mulher em situação de


violência doméstica e familiar no cadastro de programas assistenciais
do governo federal, estadual e municipal;
b) assegurar à mulher, para a preservação de sua integridade física e
psicológica, o acesso prioritário à remoção, quando servidora pública
integrante da administração direta ou indireta;
c) assegurar à mulher, para a preservação de sua integridade física e
psicológica, a manutenção do vínculo trabalhista, quando necessário
o afastamento do local de trabalho, por até 6 meses.

Medidas de natureza policial

- É necessário que a mulher submetida a situação de violência doméstica e


familiar tenha pronto e eficaz atendimento em sede policial, já que, na maioria
dos casos, são as delegacias de polícia que primeiro têm contato com os casos
concretos:
Art. 10. Na hipótese da iminência ou da prática de violência
doméstica e familiar contra a mulher, a autoridade policial que tomar
conhecimento da ocorrência adotará, de imediato, as providências
legais cabíveis.
Parágrafo único. Aplica-se o disposto no caput deste artigo ao
descumprimento de medida protetiva de urgência deferida.

Art. 10-A. É direito da mulher em situação de violência doméstica e


familiar o atendimento policial e pericial especializado,
ininterrupto e prestado por servidores - preferencialmente do
sexo feminino - previamente capacitados. (Incluído pela Lei nº
13.505, de 2017)
§ 1º A inquirição de mulher em situação de violência doméstica e
familiar ou de testemunha de violência doméstica, quando se tratar de
crime contra a mulher, obedecerá às seguintes diretrizes: (Incluído
pela Lei nº 13.505, de 2017)
I - salvaguarda da integridade física, psíquica e emocional da
depoente, considerada a sua condição peculiar de pessoa em
situação de violência doméstica e familiar; (Incluído pela Lei nº
13.505, de 2017)
II - garantia de que, em nenhuma hipótese, a mulher em situação de
violência doméstica e familiar, familiares e testemunhas terão contato
direto com investigados ou suspeitos e pessoas a eles relacionadas;
(Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017)
III - não revitimização da depoente, evitando sucessivas inquirições
sobre o mesmo fato nos âmbitos criminal, cível e administrativo, bem
como questionamentos sobre a vida privada. (Incluído pela Lei nº
13.505, de 2017)
§ 2º Na inquirição de mulher em situação de violência doméstica e
familiar ou de testemunha de delitos de que trata esta Lei, adotar-se-
á, preferencialmente, o seguinte procedimento: (Incluído pela Lei nº
13.505, de 2017)
I - a inquirição será feita em recinto especialmente projetado para
esse fim, o qual conterá os equipamentos próprios e adequados à
idade da mulher em situação de violência doméstica e familiar ou
testemunha e ao tipo e à gravidade da violência sofrida; (Incluído pela
Lei nº 13.505, de 2017)
II - quando for o caso, a inquirição será intermediada por
profissional especializado em violência doméstica e familiar
designado pela autoridade judiciária ou policial; (Incluído pela Lei nº
13.505, de 2017)
III - o depoimento será registrado em meio eletrônico ou
magnético, devendo a degravação e a mídia integrar o inquérito.
(Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017)
Art. 11. No atendimento à mulher em situação de violência
doméstica e familiar, a autoridade policial deverá, entre outras
providências:
I - garantir proteção policial, quando necessário, comunicando de
imediato ao Ministério Público e ao Poder Judiciário;
II - encaminhar a ofendida ao hospital ou posto de saúde e ao Instituto
Médico Legal;
III - fornecer transporte para a ofendida e seus dependentes para
abrigo ou local seguro, quando houver risco de vida;
IV - se necessário, acompanhar a ofendida para assegurar a retirada
de seus pertences do local da ocorrência ou do domicílio familiar;
V - informar à ofendida os direitos a ela conferidos nesta Lei e os
serviços disponíveis, inclusive os de assistência judiciária para o
eventual ajuizamento perante o juízo competente da ação de
separação judicial, de divórcio, de anulação de casamento ou de
dissolução de união estável. (Redação dada pela Lei nº 13.894, de
2019)

Art. 12. Em todos os casos de violência doméstica e familiar contra a


mulher, feito o registro da ocorrência, deverá a autoridade policial
adotar, de imediato, os seguintes procedimentos, sem prejuízo
daqueles previstos no Código de Processo Penal:
I - ouvir a ofendida, lavrar o boletim de ocorrência e tomar a
representação a termo, se apresentada;
II - colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato
e de suas circunstâncias;
III - remeter, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, expediente
apartado ao juiz com o pedido da ofendida, para a concessão de
medidas protetivas de urgência;
IV - determinar que se proceda ao exame de corpo de delito da
ofendida e requisitar outros exames periciais necessários;
V - ouvir o agressor e as testemunhas;
VI - ordenar a identificação do agressor e fazer juntar aos autos sua
folha de antecedentes criminais, indicando a existência de mandado
de prisão ou registro de outras ocorrências policiais contra ele;
VI-A - verificar se o agressor possui registro de porte ou posse de
arma de fogo e, na hipótese de existência, juntar aos autos essa
informação, bem como notificar a ocorrência à instituição responsável
pela concessão do registro ou da emissão do porte, nos termos da Lei
nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003 (Estatuto do Desarmamento);
(Incluído pela Lei nº 13.880, de 2019)
VII - remeter, no prazo legal, os autos do inquérito policial ao juiz e ao
Ministério Público.
§ 1º O pedido da ofendida será tomado a termo pela autoridade
policial e deverá conter:
I - qualificação da ofendida e do agressor;
II - nome e idade dos dependentes;
III - descrição sucinta do fato e das medidas protetivas solicitadas pela
ofendida.
IV - informação sobre a condição de a ofendida ser pessoa com
deficiência e se da violência sofrida resultou deficiência ou
agravamento de deficiência preexistente. (Incluído pela Lei nº 13.836,
de 2019)
§ 2º A autoridade policial deverá anexar ao documento referido no §
1º o boletim de ocorrência e cópia de todos os documentos
disponíveis em posse da ofendida.
§ 3º Serão admitidos como meios de prova os laudos ou prontuários
médicos fornecidos por hospitais e postos de saúde.

Art. 12-A. Os Estados e o Distrito Federal, na formulação de suas


políticas e planos de atendimento à mulher em situação de violência
doméstica e familiar, darão prioridade, no âmbito da Polícia Civil, à
criação de Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher
(Deams), de Núcleos Investigativos de Feminicídio e de equipes
especializadas para o atendimento e a investigação das
violências graves contra a mulher.

Art. 12-B. (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017)


§ 1º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017)
§ 2º (VETADO. (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017)
§ 3º A autoridade policial poderá requisitar os serviços públicos
necessários à defesa da mulher em situação de violência doméstica
e familiar e de seus dependentes. (Incluído pela Lei nº 13.505, de
2017)

Art. 12-C. Verificada a existência de risco atual ou iminente à vida


ou à integridade física ou psicológica da mulher em situação de
violência doméstica e familiar, ou de seus dependentes, o agressor
será imediatamente afastado do lar, domicílio ou local de
convivência com a ofendida: (Redação dada pela Lei nº 14.188, de
2021)
I - pela autoridade judicial; (Incluído pela Lei nº 13.827, de 2019)
II - pelo delegado de polícia, quando o Município não for sede de
comarca; ou (Incluído pela Lei nº 13.827, de 2019)
III - pelo policial, quando o Município não for sede de comarca e não
houver delegado disponível no momento da denúncia. (Incluído pela
Lei nº 13.827, de 2019)
§ 1º Nas hipóteses dos incisos II e III do caput deste artigo, o juiz
será comunicado no prazo máximo de 24 (vinte e quatro) horas e
decidirá, em igual prazo, sobre a manutenção ou a revogação da
medida aplicada, devendo dar ciência ao Ministério Público
concomitantemente. (Incluído pela Lei nº 13.827, de 2019)
§ 2º Nos casos de risco à integridade física da ofendida ou à
efetividade da medida protetiva de urgência, não será concedida
liberdade provisória ao preso. (Incluído pela Lei nº 13.827, de 2019)

Medidas de natureza judicial

- Estabeleceu a lei de violência doméstica e familiar contra a mulher diversas


medidas protetivas de urgência, a serem tomadas pelo juiz, tão logo receba o
expediente com o pedido da ofendida.
- Recebido, portanto, o expediente com o pedido da ofendida, deve o juiz, no
prazo de 48 horas, segundo dispõe o art. 18 da lei:

Art. 18. Recebido o expediente com o pedido da ofendida, caberá ao


juiz, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas:
I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas
protetivas de urgência;
II - determinar o encaminhamento da ofendida ao órgão de assistência
judiciária, quando for o caso, inclusive para o ajuizamento da ação de
separação judicial, de divórcio, de anulação de casamento ou de
dissolução de união estável perante o juízo competente; (Redação
dada pela Lei nº 13.894, de 2019)
III - comunicar ao Ministério Público para que adote as providências
cabíveis.
IV - determinar a apreensão imediata de arma de fogo sob a posse do
agressor. (Incluído pela Lei nº 13.880, de 2019)

Art. 19. As medidas protetivas de urgência poderão ser


concedidas pelo juiz, a requerimento do Ministério Público ou a
pedido da ofendida.
§ 1º As medidas protetivas de urgência poderão ser concedidas
de imediato, independentemente de audiência das partes e de
manifestação do Ministério Público, devendo este ser prontamente
comunicado.
§ 2º As medidas protetivas de urgência serão aplicadas isolada ou
cumulativamente, e poderão ser substituídas a qualquer tempo
por outras de maior eficácia, sempre que os direitos reconhecidos
nesta Lei forem ameaçados ou violados.
§ 3º Poderá o juiz, a requerimento do Ministério Público ou a pedido
da ofendida, conceder novas medidas protetivas de urgência ou
rever aquelas já concedidas, se entender necessário à proteção da
ofendida, de seus familiares e de seu patrimônio, ouvido o Ministério
Público.

Art. 20. Em qualquer fase do inquérito policial ou da instrução criminal,


caberá a prisão preventiva do agressor, decretada pelo juiz, de
ofício, a requerimento do Ministério Público ou mediante
representação da autoridade policial.
Parágrafo único. O juiz poderá revogar a prisão preventiva se, no
curso do processo, verificar a falta de motivo para que subsista, bem
como de novo decretá-la, se sobrevierem razões que a justifiquem.

Art. 21. A ofendida deverá ser notificada dos atos processuais


relativos ao agressor, especialmente dos pertinentes ao ingresso e
à saída da prisão, sem prejuízo da intimação do advogado constituído
ou do defensor público.
Parágrafo único. A ofendida não poderá entregar intimação ou
notificação ao agressor.

Medidas protetivas de urgência que obrigam o agressor

- O artigo 22 trata das medidas que podem ser aplicadas ao responsável pela
agressão contra a mulher:

Art. 22. Constatada a prática de violência doméstica e familiar contra


a mulher, nos termos desta Lei, o juiz poderá aplicar, de imediato,
ao agressor, em conjunto ou separadamente, as seguintes medidas
protetivas de urgência, entre outras:
I - suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com
comunicação ao órgão competente, nos termos da Lei nº 10.826, de
22 de dezembro de 2003;
II - afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a
ofendida;
III - proibição de determinadas condutas, entre as quais:
a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas,
fixando o limite mínimo de distância entre estes e o agressor;
b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por
qualquer meio de comunicação;
c) frequentação de determinados lugares a fim de preservar a
integridade física e psicológica da ofendida;
IV - restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores,
ouvida a equipe de atendimento multidisciplinar ou serviço similar;
V - prestação de alimentos provisionais ou provisórios.
VI – comparecimento do agressor a programas de recuperação e
reeducação; e (Incluído pela Lei nº 13.984, de 2020)
VII – acompanhamento psicossocial do agressor, por meio de
atendimento individual e/ou em grupo de apoio. (Incluído pela Lei nº
13.984, de 2020)
§ 1º As medidas referidas neste artigo não impedem a aplicação de
outras previstas na legislação em vigor, sempre que a segurança
da ofendida ou as circunstâncias o exigirem, devendo a providência
ser comunicada ao Ministério Público.
§ 2º Na hipótese de aplicação do inciso I, encontrando-se o agressor
nas condições mencionadas no caput e incisos do art. 6º da Lei nº
10.826, de 22 de dezembro de 2003, o juiz comunicará ao respectivo
órgão, corporação ou instituição as medidas protetivas de urgência
concedidas e determinará a restrição do porte de armas, ficando o
superior imediato do agressor responsável pelo cumprimento da
determinação judicial, sob pena de incorrer nos crimes de
prevaricação ou de desobediência, conforme o caso.
§ 3º Para garantir a efetividade das medidas protetivas de urgência,
poderá o juiz requisitar, a qualquer momento, auxílio da força
policial.
§ 4º Aplica-se às hipóteses previstas neste artigo, no que couber, o
disposto no caput e nos §§ 5º e 6º do art. 461 da Lei no 5.869, de 11
de janeiro de 1973 (Código de Processo Civil).

Medidas protetivas de urgência à ofendida

- Arrolou a lei, no âmbito das medidas protetivas de urgência, outras que dizem
respeito especificamente à integridade física e ao patrimônio da ofendida e de
seus dependentes.
- Assim, segundo dispõe o art. 23:

Art. 23. Poderá o juiz, quando necessário, sem prejuízo de outras


medidas:
I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou
comunitário de proteção ou de atendimento;
II - determinar a recondução da ofendida e a de seus dependentes ao
respectivo domicílio, após afastamento do agressor;
III - determinar o afastamento da ofendida do lar, sem prejuízo dos
direitos relativos a bens, guarda dos filhos e alimentos;
IV - determinar a separação de corpos.
V - determinar a matrícula dos dependentes da ofendida em
instituição de educação básica mais próxima do seu domicílio, ou a
transferência deles para essa instituição, independentemente da
existência de vaga. (Incluído pela Lei nº 13.882, de 2019)

Art. 24. Para a proteção patrimonial dos bens da sociedade


conjugal ou daqueles de propriedade particular da mulher, o juiz
poderá determinar, liminarmente, as seguintes medidas, entre outras:
I - restituição de bens indevidamente subtraídos pelo agressor à
ofendida;
II - proibição temporária para a celebração de atos e contratos de
compra, venda e locação de propriedade em comum, salvo expressa
autorização judicial;
III - suspensão das procurações conferidas pela ofendida ao agressor;
IV - prestação de caução provisória, mediante depósito judicial, por
perdas e danos materiais decorrentes da prática de violência
doméstica e familiar contra a ofendida.
Parágrafo único. Deverá o juiz oficiar ao cartório competente para os
fins previstos nos incisos II e III deste artigo.

Aspectos penais

Descumprimento de Medidas Protetivas de Urgência


Art. 24-A. Descumprir decisão judicial que defere medidas protetivas
de urgência previstas nesta Lei: (Incluído pela Lei nº 13.641, de 2018)
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos. (Incluído pela Lei
nº 13.641, de 2018)
§ 1º A configuração do crime independe da competência civil ou
criminal do juiz que deferiu as medidas. (Incluído pela Lei nº 13.641,
de 2018)
§ 2º Na hipótese de prisão em flagrante, apenas a autoridade
judicial poderá conceder fiança. (Incluído pela Lei nº 13.641, de
2018)
§ 3º O disposto neste artigo não exclui a aplicação de outras
sanções cabíveis. (Incluído pela Lei nº 13.641, de 2018)

- Trata-se de disposição penal inovadora, que veio suprir lacuna existente. No


conflito com a causa de aumento de pena do feminicídio (art. 121, §7º, IV), não
se aplica o art. 24-A da Lei Maria da Penha:

Art. 121. Matar alguém:


[...]
§ 7º A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a
metade se o crime for praticado: (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
[...]
IV - em descumprimento das medidas protetivas de urgência
previstas nos incisos I, II e III do caput do art. 22 da Lei nº 11.340,
de 7 de agosto de 2006. (Incluído pela Lei nº 13.771, de 2018)

Violência doméstica e familiar contra a mulher e a Lei n. 9.099/95

- Previu expressamente o art. 41 da Lei n. 11.340/2006 a impossibilidade de


aplicação da Lei n. 9.099/95, em sua integralidade, aos casos de violência
doméstica e familiar contra a mulher, estabelecendo, por consequência, que os
crimes que a envolvem não são de menor potencial ofensivo.
- Nesse sentido, estabelece a Súmula 536 do STJ: “A suspensão condicional
do processo e a transação penal não se aplicam na hipótese de delitos sujeitos
ao rito da Lei Maria da Penha”.
- Nada impede, também, a prisão em flagrante do agressor no caso de crime que
envolva violência doméstica e familiar contra a mulher, ainda que seja de lesão
corporal de natureza leve, já que não mais é possível a lavratura de termo
circunstanciado, pela inaplicabilidade dos preceitos da Lei n. 9.099/95.

Juizados de violência doméstica e familiar contra a mulher

-
Juizados de violência doméstica e familiar contra a mulher

- A Lei Maria da Penha, com base no princípio da especialização da jurisdição,


previu, no seu artigo 14, a possibilidade de criação de um Juizado de Violência
Doméstica e Familiar contra a Mulher. Esse Juizado poderá ser criado pela
União, no âmbito do Distrito Federal e dos Territórios, e pelos Estados-membros,
no âmbito de suas justiças estaduais.
- A peculiaridade, com relação a esse Juizado, é a cumulação das competências
cível e criminal, sendo o critério definidor da competência a existência de uma
mulher agredida, nos termos da Lei 11.340/06.

LEI DE RACISMO (LEI 7.716/89)

- A Constituição Federal de 1988 possui vários fundamentos, sobre os quais


repousa a ideia central de vedação ao racismo. São eles: a) art. 1º, III: dignidade
da pessoa humana, como um dos valores fundamentais da República; b) art. 3º,
IV: promoção do bem de todos, sem qualquer tipo de preconceito, como objetivo
interno da República; c) art. 4º, VIII: repúdio ao racismo, como base para a
atuação no plano externo pela República brasileira; d) art. 5º, XLII: “a prática do
racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão,
nos termos da lei”.
- Os crimes de racismo estão previstos na Lei 7.716, de 5 de janeiro de 1989,
como concretização do mandado constitucional de criminalização do art. 5º, XLII,
CF/88.
- Perceba-se, portanto, que, nos termos da Constituição, todos os crimes
previstos na Lei de Racismo devem ser entendidos como imprescritíveis.
OBS.: O Supremo Tribunal Federal (STF), por oito votos a um, entendeu que
a injúria racial (art. 140, §3º) é uma espécie de racismo, portanto, é
imprescritível, isto é, a punibilidade não pode ser extinta pelo transcurso do
tempo, e o crime pode ser julgado a qualquer tempo, independentemente da data
de quando foi cometido. Com esse entendimento, o Supremo confirma a
jurisprudência da 6ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ), e o
acolhimento das ideias defendidas por Guilherme de Souza Nucci há tempos. O
julgamento começou em dezembro de 2020 e foi interrompido pelo pedido de
vista do ministro Alexandre de Moraes. Em 28/10/21, a análise do Habeas
Corpus 1542.48 voltou à pauta do plenário, culminando com esse entendimento.
Portanto, entendeu o STF que a injúria racial é uma concretização do mandado
constitucional de criminalização, da mesma forma que os tipos penais previstos
na Lei de Racismo, não sendo razoável mais entendê-los de forma separada,
distinta.
Conceitos

- Racismo: a teoria segundo a qual certos povos ou nações são dotados de


qualidades psíquicas e biológicas que os tornam superiores a outros seres
humanos.
- Preconceito: conceito ou opinião formados antecipadamente, sem levar em
conta o fato que os conteste, e, por extensão, suspeita, intolerância, ódio
irracional ou aversão a outras raças, credos, religiões etc. Mais especificamente,
pode ser tido como sentimento em relação a uma raça ou um povo, decorrente
da adoção de crenças racistas.
- Discriminação: ao contrário do preconceito, que é estático, consiste em uma
atitude dinâmica de separação, apartação ou segregação, traduzindo a
manifestação fática ou a concretização do preconceito.
OBS.: Não confundir discriminação negativa (manifestação do preconceito) com
a discriminação positiva (ações afirmativas), uma vez que essas últimas são
permitidas pela legislação, como manifestações do princípio da igualdade
material. De acordo com o Estatuto da Igualdade Racial, ações afirmativas são
“programas e medidas especiais adotados pelo Estado e pela iniciativa privada
para a correção das desigualdades raciais e para a promoção da igualdade de
oportunidades”. As ações afirmativas são uma forma de discriminação válida,
positiva, que busca compensar desigualdades históricas.

- Nos termos do art. 1º, da Lei de Racismo:

Art. 1º Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes resultantes de


discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou
procedência nacional. (Redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)

- Percebe-se, assim, que a noção de racismo vai muito além da concepção de


cor de pele. Hoje se sabe que não existem várias raças humanas, já que,
geneticamente, a Ciência descobriu que todos os seres humanos compõem uma
mesma raça. Dessa forma, os elementos que compõem essa noção devem ser
expandidos, sendo que, portanto, o racismo envolve a discriminação realizada
contra uma pessoa, tendo por base alguma característica sua, que a define como
ser humano.
- Nesse sentido, tem-se que o racismo envolve: a) cor da pele (exteriorização,
na epiderme, de um centro grupo humano); b) grupo étnico (conjunto de pessoas
que se identifica não só por fatores biológicos, mas também cultural e
linguisticamente – ex.: índios); c) religião (crença ou fé em Deus ou qualquer
forma de poder sobrenatural – não envolve o ateísmo, porque o ateísmo é uma
concepção filosófica ou ideológica); d) procedência nacional (a origem da
pessoa, seja dentro de um mesmo pais, como, p. ex., preconceito contra
nordestinos; seja de pessoas provenientes de países estrangeiros, como, p. ex.,
preconceito com árabes, com venezuelanos, etc.); e) orientação sexual e
identidade de gênero1 (conforme Ação Direta de Inconstitucionalidade por
Omissão nº 26/DF, em que o STF entendeu estar incluído na criminalização).

- Crimes de racismo: análise do texto de lei:

Art. 3º Impedir ou obstar o acesso de alguém, devidamente habilitado, a qualquer


cargo da Administração Direta ou Indireta, bem como das concessionárias de
serviços públicos.
Pena: reclusão de dois a cinco anos.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, por motivo de discriminação de
raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional, obstar a promoção funcional.
(Incluído pela Lei nº 12.288, de 2010)

Art. 4º Negar ou obstar emprego em empresa privada.


Pena: reclusão de dois a cinco anos.
§ 1º Incorre na mesma pena quem, por motivo de discriminação de raça ou de
cor ou práticas resultantes do preconceito de descendência ou origem nacional
ou étnica: (Incluído pela Lei nº 12.288, de 2010)
I - deixar de conceder os equipamentos necessários ao empregado em igualdade
de condições com os demais trabalhadores; (Incluído pela Lei nº 12.288, de
2010)
II - impedir a ascensão funcional do empregado ou obstar outra forma de
benefício profissional; (Incluído pela Lei nº 12.288, de 2010)
III - proporcionar ao empregado tratamento diferenciado no ambiente de
trabalho, especialmente quanto ao salário. (Incluído pela Lei nº 12.288, de 2010)
§ 2º Ficará sujeito às penas de multa e de prestação de serviços à comunidade,
incluindo atividades de promoção da igualdade racial, quem, em anúncios ou
qualquer outra forma de recrutamento de trabalhadores, exigir aspectos de
aparência próprios de raça ou etnia para emprego cujas atividades não
justifiquem essas exigências. (Incluído pela Lei nº 12.288, de 2010)

Art. 5º Recusar ou impedir acesso a estabelecimento comercial, negando-se a


servir, atender ou receber cliente ou comprador.

1
STF, no julgamento da ADO 26/DF: “1. Até que sobrevenha lei emanada do Congresso
Nacional destinada a implementar os mandados de criminalização definidos nos incisos XLI e
XLII do art. 5º da Constituição da República, as condutas homofóbicas e transfóbicas, reais
ou supostas, que envolvem aversão odiosa à orientação sexual ou à identidade de gênero
de alguém, por traduzirem expressões de racismo, compreendido este em sua dimensão
social, ajustam-se, por identidade de razão e mediante adequação típica, aos preceitos
primários de incriminação definidos na Lei nº 7.716, de 08/01/1989, constituindo, também, na
hipótese de homicídio doloso, circunstância que o qualifica, por configurar motivo torpe (Código
Penal, art. 121, § 2º, I, “in fine”);”
Pena: reclusão de um a três anos.

Art. 6º Recusar, negar ou impedir a inscrição ou ingresso de aluno em


estabelecimento de ensino público ou privado de qualquer grau.
Pena: reclusão de três a cinco anos.
Parágrafo único. Se o crime for praticado contra menor de dezoito anos a pena
é agravada de 1/3 (um terço).

Art. 7º Impedir o acesso ou recusar hospedagem em hotel, pensão, estalagem,


ou qualquer estabelecimento similar.
Pena: reclusão de três a cinco anos.

Art. 8º Impedir o acesso ou recusar atendimento em restaurantes, bares,


confeitarias, ou locais semelhantes abertos ao público.
Pena: reclusão de um a três anos.

Art. 9º Impedir o acesso ou recusar atendimento em estabelecimentos


esportivos, casas de diversões, ou clubes sociais abertos ao público.
Pena: reclusão de um a três anos.

Art. 10. Impedir o acesso ou recusar atendimento em salões de cabeleireiros,


barbearias, termas ou casas de massagem ou estabelecimento com as mesmas
finalidades.
Pena: reclusão de um a três anos.

Art. 11. Impedir o acesso às entradas sociais em edifícios públicos ou


residenciais e elevadores ou escada de acesso aos mesmos:
Pena: reclusão de um a três anos.

Art. 12. Impedir o acesso ou uso de transportes públicos, como aviões, navios
barcas, barcos, ônibus, trens, metrô ou qualquer outro meio de transporte
concedido.
Pena: reclusão de um a três anos.

Art. 13. Impedir ou obstar o acesso de alguém ao serviço em qualquer ramo das
Forças Armadas.
Pena: reclusão de dois a quatro anos.

Art. 14. Impedir ou obstar, por qualquer meio ou forma, o casamento ou


convivência familiar e social.
Pena: reclusão de dois a quatro anos.

Art. 15. (Vetado).


Art. 16. Constitui efeito da condenação a perda do cargo ou função pública,
para o servidor público, e a suspensão do funcionamento do estabelecimento
particular por prazo não superior a três meses.

Art. 17. (Vetado).

Art. 18. Os efeitos de que tratam os arts. 16 e 17 desta Lei não são automáticos,
devendo ser motivadamente declarados na sentença.

Art. 19. (Vetado).

Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça,


cor, etnia, religião ou procedência nacional. (Redação dada pela Lei nº 9.459, de
15/05/97) (tipo penal subsidiário, que serve para abranger todas as situações de
racismo que não estiverem abrangidas pelos artigos anteriores)
Pena: reclusão de um a três anos e multa. (Redação dada pela Lei nº 9.459, de
15/05/97)
§ 1º Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas,
ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou
gamada, para fins de divulgação do nazismo. (Redação dada pela Lei nº
9.459, de 15/05/97)
Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa. (Incluído pela Lei nº 9.459, de
15/05/97)
§ 2º Se qualquer dos crimes previstos no caput é cometido por intermédio dos
meios de comunicação social ou publicação de qualquer natureza: (Redação
dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)
Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa. (Incluído pela Lei nº 9.459, de
15/05/97)
§ 3º No caso do parágrafo anterior, o juiz poderá determinar, ouvido o Ministério
Público ou a pedido deste, ainda antes do inquérito policial, sob pena de
desobediência: (Redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)
I - o recolhimento imediato ou a busca e apreensão dos exemplares do material
respectivo; (Incluído pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)
II - a cessação das respectivas transmissões radiofônicas, televisivas,
eletrônicas ou da publicação por qualquer meio; (Redação dada pela Lei nº
12.735, de 2012)
III - a interdição das respectivas mensagens ou páginas de informação na rede
mundial de computadores. (Incluído pela Lei nº 12.288, de 2010)
§ 4º Na hipótese do § 2º, constitui efeito da condenação, após o trânsito em
julgado da decisão, a destruição do material apreendido. (Incluído pela Lei nº
9.459, de 15/05/97)

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