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- Surgiu então a Lei 12.694/12, que deu um conceito jurídico interno de crime
organizado. Mas essa lei foi, ao menos nesse ponto, tacitamente revogada pela
Lei 12.850/13, que é a legislação atual sobre crime organizado e que, não só
trouxe um conceito de crime organizado, como tipificou essa conduta, como
veremos.
COLABORAÇÃO PREMIADA
- A Lei 12.850/13 traz uma normativa central e aprofundada sobre esse instituto
da colaboração premiada. Contudo, a ideia de colaboração premiada não é nova
no direito brasileiro, existindo em vários diplomas normativos, como será visto.
- O artigo 8º, parágrafo único, da Lei 8.072/90 (Lei de Crimes Hediondos),
prevê, com relação ao atual crime de associação criminosa (artigo 288, do
Código Penal), que caso o participante ou associado denuncie à autoridade o
“bando ou quadrilha”, permitindo o seu desmantelamento, terá a sua pena
reduzida de um a dois terços.
- Esse benefício foi levado pela mesma lei ao Código Penal com relação ao
crime de extorsão mediante sequestro, no artigo 159, § 4º, que, com a redação
dada pela Lei 9.269/96, prevê que “se o crime é cometido em concurso, o
concorrente que o denunciar à autoridade, facilitando a libertação do
sequestrado, terá sua pena reduzida de um a dois terços”.
OBS.: Além dos benefícios previstos no caput do art. 4º, o §4º desse mesmo
dispositivo estabelece que será possível: (i) deixar de oferecer a denúncia; (ii) se
a infração revelada pelo colaborar for desconhecida; (iii) e se o colaborador não
for chefe da organização criminosa e for o primeiro a prestar efetiva colaboração.
OBS.: Art. 4º, §5º: Se a colaboração for posterior à sentença, a pena poderá
ser reduzida até a metade ou será admitida a progressão de regime ainda
que ausentes os requisitos objetivos.
- Aponta a doutrina que, para a colaboração premiada possuir eficácia
probatória, aquilo que for delatado ou informado pelo colaborador deve ter
credibilidade objetiva, através da regra da corroboração: quer dizer, somente
terá valor a colaboração premiada se as alegações do colaborar encontrarem
respaldo no lastro probatório já produzido.
OBS.: Art. 4º, §3º: O prazo para oferecimento de denúncia ou o processo,
relativos ao colaborador, poderá ser suspenso por até 6 (seis) meses,
prorrogáveis por igual período, até que sejam cumpridas as medidas de
colaboração, suspendendo-se o respectivo prazo prescricional.
Será punido:
Com as penas do art. 121, § 2º, do Código Penal, no caso da letra a
(reclusão, de 12 a 30 anos);
Será punido:
Com as penas do art. 121, § 2º, do Código Penal, no caso da letra a
(reclusão, de 12 a 30 anos);
Art. 6º Os crimes de que trata esta lei não serão considerados crimes
políticos para efeitos de extradição.
OBS.: Os crimes do Estatuto do Desarmamento que são considerados
hediondos serão vistos logo à frente (arts. 16, 17 e 18, do Estatuto).
OBS.: O crime de organização criminosa, previsto na Lei 12.850/13, também
será considerado hediondo quando a organização se voltar à prática de
hediondos e equiparados.
ATENÇÃO: Crimes hediondos são os da Lei 8.072/90, em seu art. 1º, caput e
parágrafo único. Crimes equiparados a hediondo são os previstos na
Constituição Federal e no art. 2º da Lei 8.072/90, sendo eles: tráfico de drogas,
tortura e terrorismo, cujas leis estudaremos na sequência.
Regime atual das armas de fogo: Decreto 10.030/19, com redação dada pelo
Decreto 10.627/21
1) Arma de fogo
- Arma de fogo é aquela “que arremessa projéteis empregando a força expansiva
dos gases gerados pela combustão de um propelente confinado em uma
câmara, normalmente solidária a um cano, que tem a função de dar continuidade
à combusta do propelente, além de direção e estabilidade ao projétil” (Decreto
10.030/19). Por isso, estão excluídas as armas de gás comprimido ou pressão,
bem como as armas brancas.
- As armas de fogo podem ser de três tipos: a) de uso permitido; b) de uso
restrito; ou c) de uso proibido.
1.1) Arma de fogo de uso permitido
- Arma de fogo de uso permitido - as armas de fogo semiautomáticas ou de
repetição que sejam:
a) de porte, cujo calibre nominal, com a utilização de munição comum,
não atinja, na saída do cano de prova, energia cinética superior a mil
e duzentas libras-pé ou mil seiscentos e vinte joules;
b) portáteis de alma lisa; ou
c) portáteis de alma raiada, cujo calibre nominal, com a utilização de
munição comum, não atinja, na saída do cano de prova, energia
cinética superior a mil e duzentas libras-pé ou mil seiscentos e vinte
joules;
1.2) Arma de fogo de uso restrito
- Arma de fogo de uso restrito - as armas de fogo automáticas, de qualquer tipo
de calibre, e as semiautomáticas ou de repetição que sejam:
a) não portáteis;
b) de porte, cujo calibre nominal, com a utilização de munição comum,
atinja, na saída do cano de prova, energia cinética superior a mil e
duzentas libras-pé ou mil seiscentos e vinte joules; ou
c) portáteis de alma raiada, cujo calibre nominal, com a utilização de
munição comum, atinja, na saída do cano de prova, energia cinética
superior a mil e duzentas libras-pé ou mil seiscentos e vinte joules;
1.3) Arma de fogo de uso proibido
- São aquelas que não podem ser utilizadas em hipótese alguma. É o caso de
tanques de guerra, granadas, canhões, por exemplo. Nem mesmo o Exército
pode autorizar o particular a ter. São elas:
a) as armas de fogo classificadas como de uso proibido em acordos
ou tratados internacionais dos quais a República Federativa do Brasil
seja signatária; e
b) as armas de fogo dissimuladas, com aparência de objetos
inofensivos.
2) Munição
- Munição é o cartucho completo ou seus componentes, incluídos o estojo, a
espoleta, a carga propulsora, o projétil e a bucha utilizados em armas de fogo.
2.1) Munição de uso permitido
- Não há definição normativa, mas pode-se concluir, por exclusão, que se trata
de qualquer munição que não seja considerada restrita ou proibida, podendo ser
disparada por arma de uso permitido
2.2) Munição de uso restrito
- Munição de uso restrito - as munições que:
a) atinjam, na saída do cano de prova de armas de fogo de porte ou
de armas de fogo portáteis de alma raiada, energia cinética superior
a mil e duzentas libras-pé ou mil seiscentos e vinte joules;
b) sejam traçantes, perfurantes ou fumígenas;
c) sejam granadas de obuseiro, de canhão, de morteiro, de mão ou
de bocal; ou
d) sejam rojões, foguetes, mísseis ou bombas de qualquer natureza;
2.3) Munição de uso proibido
- Munição de uso proibido - as munições que sejam assim definidas em acordo
ou tratado internacional de que a República Federativa do Brasil seja signatária
e as munições incendiárias ou químicas.
- De se notar uma coisa: nem sempre uma arma de fogo proibida terá uma
correspondente munição de uso proibido. De fato, uma arma de fogo dissimulada
como um objeto inofensivo será considerada proibida, mas não sua munição:
uma arma construída como uma caneta pode disparar projéteis de calibre .22 e
será considerada de uso proibido, mas a munição continuará de uso permitido.
3) Acessório
- Acessório é o artefato que, acoplado a uma arma, possibilita a melhoria do
desempenho do atirador, a modificação de um efeito secundário do tiro ou a
modificação do aspecto visual da arma.
- Dentre os acessórios de uso restrito, estão aqueles que tenham como objetivo
a supressão ou o abrandamento do estampido, ou ainda a modificação das
condições de emprego da arma, conforme regulamentação (ex.: mira a laser,
mira óptica). O que não for de uso restrito será visto como de uso permitido.
Tipos penais
Posse irregular de arma de fogo de uso permitido
Art. 12. Possuir ou manter sob sua guarda arma de fogo, acessório ou
munição, de uso permitido, em desacordo com determinação legal ou
regulamentar, no interior de sua residência ou dependência desta,
ou, ainda no seu local de trabalho, desde que seja o titular ou o
responsável legal do estabelecimento ou empresa:
Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.
Omissão de cautela
Art. 13. Deixar de observar as cautelas necessárias para impedir que
menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa portadora de deficiência mental
se apodere de arma de fogo que esteja sob sua posse ou que seja de
sua propriedade:
Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos, e multa.
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorrem o proprietário ou diretor
responsável de empresa de segurança e transporte de valores que
deixarem de registrar ocorrência policial e de comunicar à Polícia
Federal perda, furto, roubo ou outras formas de extravio de arma de
fogo, acessório ou munição que estejam sob sua guarda, nas
primeiras 24 (vinte quatro) horas depois de ocorrido o fato.
OBS.: O legislador prorrogou a vacatio legis indireta para posse de arma de fogo
de uso restrito tão somente até 23/06/2005. Portanto, o período de atipicidade
temporária para esse crime é menor do que o do crime do art. 12, do Estatuto.
- A Lei Anticrime acabou por desdobrar as condutas de posse e porte de arma
de fogo de uso restrito e de uso proibido, deixando para o caput do art. 16 a
primeira conduta, e colocando como qualificadora a segunda conduta, no §2º do
mesmo art. 16. Quer dizer: porte e posse de arma de fogo de uso proibido é
tratado como qualificadora, em termos de pena, com relação a posse e porte de
arma de fogo de uso restrito.
- O §2º, do art. 16, é crime hediondo, já que dispõe sobre a posse e o porte de
arma de fogo de uso proibido (redação dada pela Lei Anticrime, ao inciso II do
parágrafo único do art. 1º da Lei 8.072/90).
- Trata-se de crime hediondo (Inciso III, do parágrafo único, do art. 1º, da Lei de
Crimes Hediondos).
- Esse crime pressupõe reiteração de comportamentos ligados aos seus núcleos
do tipo. Quer dizer: pressupõe habitualidade na realização dessas condutas.
Caso contrário, responderá ou pelo artigo 14, ou pelo 16, caput, ou pelo 16, §2º
(nesses últimos, considera-se o ato isolado, sem reiteração). É a ideia de
“atividade”.
- §2º:
- Trata-se de crime hediondo (Inciso IV, do parágrafo único, do art. 1º, da Lei de
Crimes Hediondos).
Comércio ilegal de arma de fogo
Art. 17. Adquirir, alugar, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em
depósito, desmontar, montar, remontar, adulterar, vender, expor à
venda, ou de qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou alheio, no
exercício de atividade comercial ou industrial, arma de fogo,
acessório ou munição, sem autorização ou em desacordo com
determinação legal ou regulamentar:
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos, e multa. (Redação dada
pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 1º Equipara-se à atividade comercial ou industrial, para efeito deste
artigo, qualquer forma de prestação de serviços, fabricação ou
comércio irregular ou clandestino, inclusive o exercido em residência.
(Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 2º Incorre na mesma pena quem vende ou entrega arma de fogo,
acessório ou munição, sem autorização ou em desacordo com a
determinação legal ou regulamentar, a agente policial disfarçado,
quando presentes elementos probatórios razoáveis de conduta
criminal preexistente. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
- Trata-se de crime hediondo (Inciso III, do parágrafo único, do art. 1º, da Lei de
Crimes Hediondos).
- Esse crime pressupõe reiteração de comportamentos ligados aos seus núcleos
do tipo. Quer dizer: pressupõe habitualidade na realização dessas condutas.
Caso contrário, responderá ou pelo artigo 14, ou pelo 16, caput, ou pelo 16, §2º
(nesses últimos, considera-se o ato isolado, sem reiteração). É a ideia de
“atividade”.
- Trata-se de crime hediondo (Inciso IV, do parágrafo único, do art. 1º, da Lei de
Crimes Hediondos).
Art. 19. Nos crimes previstos nos arts. 17 e 18, a pena é aumentada
da metade se a arma de fogo, acessório ou munição forem de uso
proibido ou restrito.
Art. 20. Nos crimes previstos nos arts. 14, 15, 16, 17 e 18, a pena é
aumentada da metade se: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de
2019)
I - forem praticados por integrante dos órgãos e empresas referidas
nos arts. 6º, 7º e 8º desta Lei; ou (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
II - o agente for reincidente específico em crimes dessa natureza.
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
Art. 21. Os crimes previstos nos arts. 16, 17 e 18 são insuscetíveis de
liberdade provisória. (Vide Adin 3.112-1)
LEI DE TORTURA (LEI 9.455/97)
OBS.: Aponta a doutrina o caráter bifronte da tipificação legal da tortura pela Lei
9.455/97. Isso quer dizer que a legislação brasileira não limita o sujeito ativo do
crime de tortura à autoridade pública; tanto o particular como o agente estatal
podem ser autores dos crimes dessa lei. Essa uma disposição que contrasta com
os tratados internacionais, que costumam trazer a proibição da tortura referente
aos agentes do poder público, e não quanto aos particulares.
Conceito de terrorismo
a) Sujeito ativo
- Para o art. 2º, da Lei Antiterrorismo, os atos de terrorismo podem ser praticados
tanto por grupos como por indivíduos isolados, que são denominados “lobos
solitários” (lone wolves) ou “ratos solitários” (lone rats). Dessa forma, pode-se
dizer que o crime é unissubjetivo (não necessita de ser praticado por mais de
uma pessoa; alguém sozinho basta) e de concurso eventual (admite-se a
prática do crime por mais de uma pessoa, em concurso de agentes).
b) Finalidade especial
- A conceituação legal exige que o ato, para ser classificado como ato terrorista,
deve vir motivado por razões de xenofobia, discriminação ou preconceito de
raça, cor, etnia ou religião. É a ideia do terrorismo em sua dimensão mais
moderna, o terrorismo fundamentalista, esquecendo-se das demais noções de
terrorismo.
- A crítica que se faz a essa exigência de finalidade especial é que ela torna
muito mais difícil o enquadramento típico em alguma figura criminosa que a Lei
Antiterrorismo tenha previsto; ela perde muito de sua aplicação prática, dado que
os crimes trágicos praticados no Brasil dificilmente são motivados por tais
circunstâncias.
- Como esse elemento faz parte do próprio conceito de ato terrorista, haverá de
ser provada a motivação. Se ela não estiver presente, o fato não se enquadrará
como crime de terrorismo, mas poderá, obviamente, ser considerado como outro
tipo penal.
c) Modo de atuação
- O terrorismo é praticado através de atos que busquem provocar terror social ou
generalizado. É a ideia da “vítima sem rosto” (faceless victims). O objetivo desse
modo de atuação é provocar a intimidação massiva, através de escolha aleatória
de vítimas, de constante perspectiva de novos ataques e a ampla divulgação dos
ataques nos meios de comunicação, contribuindo para espalhar o medo.
d) Exposição a perigo do bem jurídico
- Os atos de terrorismo visando a colocar em risco de dano os bens jurídicos
pessoa, patrimônio, paz pública ou incolumidade pública. Dessa forma, pode-se
dizer que a ideia do ato terrorista é, num primeiro momento, a simples colocação
em risco, independentemente do efetivo dano provocado pelo comportamento.
A ideia é a de aterrorizar, de colocar como possível que esses bens jurídicos
venham a ser prejudicados, atacados.
- Após o caput descrever em que consiste o próprio terrorismo, o §1º traz quais
são as formas de execução do terrorismo, ou seja, quais são os atos de
terrorismo, pelos quais o sujeito responderá criminalmente:
Art. 4º (VETADO)
Art. 8º (VETADO).
Art. 9º (VETADO).
- Caso uma substância seja, então, considerada como droga, ela somente
poderá ser utilizada, transportada, comercializada, produzida e etc. se houver
previsão legal ou regulamentar do seu uso. Ex.: talidomida. Também se admite
a utilização dessas substâncias quando vinculadas a rituais religiosos. Ex.: chá
do Santo Daime – ayahuasca. Caso se deseja utilizar outras substâncias, sem
que se tenha tal autorização legal ou regulamentar, é indispensável a obtenção
prévia de autorização judicial (ex.: maconha para fins medicinais).
- Esse Capítulo III está inserido, no âmbito da Lei de Drogas, na parte relativa à
prevenção ao consumo indevido de substâncias psicotrópicas e na recuperação
e reinserção social dos usuários e dependentes dessas substâncias. Percebe-
se, portanto, que o usuário é aquele que faz a utilização eventual da droga, com
fins recreativos, enquanto que o dependente é aquele que se vale da droga com
maior constância, passando a sofrer dos males físicos e psicológicos
provenientes da abstinência.
- Dentre os modelos existentes para o enfrentamento da questão das drogas
(modelo norte-americano, da tolerância zero e da abstinência; modelo europeu
da redução de danos; modelo liberal radical; e modelo de justiça terapêutica), a
Lei 11.343/06 mais se aproxima do último desses modelos, uma vez que buscou
despenalizar, de forma moderada, a conduta relacionada ao usuário e ao
dependente (porte de drogas para uso próprio – art. 28), sem, contudo, deixar
de considerar tal postura como sendo criminosa. É uma preocupação com o
usuário e com o dependente, mas ainda vinculada ao aspecto penalizador.
- O crime em questão diz respeito aos objetos, como máquinas e aparelhos, que
são utilizados na preparação das drogas, tenham eles a finalidade específica de
produzirem drogas, ou que sejam utilizados nessa produção.
- A inclusão desse tipo penal é uma novidade da Lei 11.343/06, que optou por
punir mais severamente a conduta daquele que, com habitualidade, custeio as
práticas relacionadas ao tráfico de drogas.
- Esse custeio abrange qualquer espécie de financiamento das atividades dos
traficantes, seja através de valores em espécie (dinheiro), seja através da
entrega de bens.
- A punição pelo artigo 36, como vimos, ocorre quando a conduta de financiar é
habitual. Caso o financiamento seja isolado ou ocasional, o criminoso
responderá pelo crime de tráfico de drogas, com causa de aumento de pena (art.
40, VII, da Lei de Drogas).
- O artigo 39, da Lei de Drogas, pune a conduta do sujeito que consome drogas
e conduz embarcação (navio, jet-ski, etc.) ou aeronave (avião a jato, monomotor,
etc.), colocando em risco a integridade física de outras pessoas em geral.
- Caso o condutor esteja dirigindo veículo automotor, o crime será o do art. 306,
do Código de Trânsito Brasileiro:
Art. 44. Os crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1º, e 34 a 37 desta
Lei são inafiançáveis e insuscetíveis de sursis, graça, indulto,
anistia e liberdade provisória, vedada a conversão de suas penas em
restritivas de direitos.
Parágrafo único. Nos crimes previstos no caput deste artigo, dar-se-á
o livramento condicional após o cumprimento de dois terços da pena,
vedada sua concessão ao reincidente específico.
Art. 46. As penas podem ser reduzidas de um terço a dois terços se,
por força das circunstâncias previstas no art. 45 desta Lei, o agente
não possuía, ao tempo da ação ou da omissão, a plena capacidade
de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo
com esse entendimento.
Fase policial
- O art. 50 estabelece que, ocorrendo prisão em flagrante, a autoridade policial
fará, imediatamente, comunicação ao juiz competente, remetendo-lhe cópia do
auto lavrado, do qual será dada vista ao órgão do Ministério Público, em vinte e
quatro horas.
- O Ministério Público e o juiz devem analisar se o auto está formalmente em
ordem e se o caso era mesmo de flagrante delito, pois, do contrário, a prisão
deverá ser relaxada. A necessidade de comunicação da prisão decorre da regra
do art. 5º, LXII, da Constituição Federal.
- Para a lavratura do auto de prisão e estabelecimento da materialidade, dispõe
o art. 50, § 1º, que é suficiente o laudo de constatação da natureza e da
quantidade da droga, firmado por perito oficial ou, na falta deste, por pessoa
idônea.
- Estando o indiciado preso, o inquérito deverá ser concluído em trinta dias.
Se estiver solto, o prazo será de noventa dias (art. 51). Esses prazos, porém,
podem ser duplicados pelo juiz, ouvido o Ministério Público, mediante pedido
justificado da autoridade policial (arts. 51, parágrafo único, e 52, II).
- Findos os prazos, a autoridade policial deve encaminhar o inquérito ao juízo.
Para tanto, elaborará “relatório”, narrando sumariamente os fatos e justificando
as razões que a levaram à classificação do delito, indicando a quantidade e a
natureza da substância ou do produto apreendido, o local e as condições em que
se desenvolveu a ação criminosa, as circunstâncias da prisão, a conduta, a
qualificação e os antecedentes do agente (art. 52, I), ou requererá a devolução
dos autos para a realização de diligências necessárias.
- Estabelece o art. 52, parágrafo único, que a remessa do inquérito a juízo far-
se-á sem prejuízo de diligências complementares:
I — necessárias ou úteis à plena elucidação do fato, cujo resultado deverá ser
encaminhado ao juízo competente até três dias antes da audiência de instrução
e julgamento;
II — necessárias ou úteis à indicação dos bens, direitos e valores de que seja
titular o agente, ou que figurem em seu nome, cujo resultado deverá ser
encaminhado ao juízo competente até três dias antes da audiência de instrução
e julgamento.
- Já o art. 53 dispõe que, em qualquer fase da persecução criminal relativa aos
crimes previstos na Lei, são permitidos, além dos previstos em lei, mediante
autorização judicial e ouvido o Ministério Público, os seguintes procedimentos
investigatórios:
I — infiltração por agentes de polícia, em tarefas de investigação, constituída
pelos órgãos especializados pertinentes;
II — não atuação policial sobre os portadores de drogas, seus precursores
químicos ou outros produtos utilizados em sua produção, que se encontrem no
território brasileiro, com a finalidade de identificar e responsabilizar maior
número de integrantes de operações de tráfico e distribuição, sem prejuízo
da ação penal cabível (entrega vigiada). Nesta hipótese, a autorização será
concedida desde que sejam conhecidos o itinerário provável e a identificação
dos agentes do delito ou de colaboradores (art. 53, parágrafo único).
Da instrução criminal
Da instrução criminal
- De acordo com o art. 54, sendo recebidos em juízo os autos de inquérito policial,
de investigação feita por Comissão Parlamentar de Inquérito, ou peças de
informação, dar-se-á vista ao Ministério Público para, no prazo de dez dias,
adotar uma das seguintes medidas:
I — requerer o arquivamento;
II — requisitar as diligências que entender necessárias;
III — oferecer denúncia.
- Por sua vez, se o Órgão do Ministério Público se convencer da existência de
indícios de autoria e de materialidade, deverá oferecer denúncia. Na denúncia,
poderão ser arroladas até cinco testemunhas, independentemente de o crime
ser punido com reclusão ou detenção, devendo também o Ministério Público
requerer as diligências necessárias (art. 54, III).
- Em juízo, o procedimento deverá observar as seguintes fases:
a) defesa prévia;
b) recebimento da denúncia;
c) citação;
d) audiência para oitiva de testemunhas, interrogatório e debates orais;
e) sentença.
- Com efeito, nos termos do art. 55, caput, oferecida a denúncia, o juiz ordenará
a notificação do acusado para oferecer defesa prévia, por escrito, no prazo de
dez dias. Nessa defesa, o denunciado poderá arguir preliminares (prescrição,
por exemplo) e exceções, além de invocar todos os argumentos que entenda
pertinentes no sentido de convencer o juiz a não receber a denúncia. Para tanto,
poderá oferecer documentos e justificações. É nessa defesa que o denunciado
deve elencar as provas que pretende produzir, antes e depois de eventual
recebimento da denúncia, e arrolar até cinco testemunhas.
- As exceções a que a lei se refere são aquelas previstas nos arts. 95 a 113 do
Código de Processo Penal (suspeição ou impedimento, incompetência do juízo,
litispendência, ilegitimidade de parte e de coisa julgada) e, nos termos do art. 55,
§ 2º, da Lei n. 11.343/2006, serão processadas em apartado.
- Caso o denunciado não apresente a defesa prévia, o juiz nomeará defensor
para oferecê-la, fixando, para tanto, mais dez dias de prazo e abrindo, no ato
de nomeação, vista dos autos ao defensor (art. 55, § 3º).
- Apresentada a defesa, o juiz, no prazo de cinco dias, terá de tomar uma das
seguintes decisões: a) receber a denúncia; b) rejeitá-la; c) determinar a
realização de diligências que entenda imprescindíveis. Nesta última hipótese, o
juiz fixará prazo máximo de dez dias para a realização das diligências, exames
ou perícias determinadas e, em seguida, terá mais cinco dias para decidir se
recebe ou rejeita a denúncia.
- Recebida a denúncia, o juiz designará dia e hora para a audiência de
instrução e julgamento, ordenará a citação pessoal do acusado, a intimação
do Ministério Público e do assistente (se for o caso), e requisitará os laudos
periciais faltantes (art. 56, caput). Embora a Lei não mencione expressamente,
é evidente que também deverá ser intimado o defensor do acusado, bem como
determinada sua requisição, caso esteja preso.
- Tratando-se dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1º, e 34 a 37, o juiz,
ao receber a denúncia, poderá decretar o afastamento cautelar do denunciado
de suas atividades, se for funcionário público, comunicando a decisão ao
órgão onde atua o réu (art. 56, § 1º). Esse dispositivo se aplica, por exemplo, se
o acusado for policial.
- Se o réu for citado pessoalmente e não comparecer na audiência, será
decretada sua revelia, de modo que ele não será mais intimado para os demais
atos processuais (art. 367 do CPP). Caso compareça, será devidamente
interrogado.
- Se o réu não for encontrado para citação pessoal, o juiz determinará a citação
por edital; nesse caso, se o réu não comparecer ao interrogatório designado nem
nomear defensor, o juiz decretará a suspensão do processo e do prazo
prescricional, nos termos do art. 366 do Código de Processo Penal, que se aplica
subsidiariamente à Lei de Drogas (art. 48). Essa hipótese só ocorrerá, na prática,
se o réu estiver solto, e, por tal razão, o juiz analisará se a decretação da prisão
preventiva se mostra necessária.
- A audiência de instrução e julgamento deverá ser realizada dentro do prazo de
trinta dias, a contar do despacho em que foi recebida a denúncia, salvo se tiver
sido determinada a realização de perícia para verificar eventual dependência de
drogas do acusado, hipótese em que deverá ser realizada no prazo de noventa
dias.
- Na audiência, o juiz ouvirá inicialmente as testemunhas, primeiro as de
acusação e depois as de defesa.
- O depoimento de policiais (militares ou civis) tem o mesmo valor que em
qualquer outro processo penal (furto, roubo, porte de arma etc.), devendo ser
aferido pela harmonia com os demais depoimentos, pela firmeza com que foi
prestado etc. Nada obsta a condenação fundada apenas em depoimento de
policiais, uma vez que é extremamente comum que as testemunhas civis não
queiram ser mencionadas na ocorrência policial por temerem depor contra
traficantes. É óbvio, todavia, que o juiz não poderá aceitar depoimentos
completamente contraditórios de policiais como fundamento para eventual
condenação.
- Ouvidas as testemunhas, o juiz interrogará o acusado. De acordo com o art. 57
da Lei de Drogas o interrogatório deveria ser feito antes da oitiva das
testemunhas, mas o Plenário do Supremo Tribunal Federal, no julgamento
do HC 127.900, em março de 2016, decidiu que o interrogatório deve ser feito
após a oitiva das testemunhas:
A Lei n. 11.719/08 adequou o sistema acusatório democrático,
integrando-o de forma mais harmoniosa aos preceitos constitucionais
da Carta de República de 1988, assegurando-se maior efetividade a
seus princípios, notadamente, os do contraditório e da ampla defesa
(art. 5º, inciso LV) (...) Ordem denegada, com a fixação da seguinte
orientação: a norma inscrita no art. 400 do Código de Processo
Penal comum aplica-se, a partir da publicação da ata do presente
julgamento, aos processos penais militares, aos processos
penais eleitorais e a todos os procedimentos penais regidos por
legislação especial incidindo somente naquelas ações penais cuja
instrução não se tenha encerrado (STF — HC 127.900, Rel. Min. Dias
Toffoli, Tribunal Pleno, julgado em 03/03/2016, processo eletrônico
DJe-161, divulg. 02/08/2016, public. 03/08/2016).
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Violência psicológica contra a mulher (Incluído pela Lei nº 14.188, de 2021)
Art. 147-B. Causar dano emocional à mulher que a prejudique e perturbe seu pleno
desenvolvimento ou que vise a degradar ou a controlar suas ações, comportamentos,
crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação,
prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar
ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões,
mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação,
isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto,
chantagem, violação de sua intimidade, ridicularização, exploração e
limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause
prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação; (Redação
dada pela Lei nº 13.772, de 2018)
III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a
constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual
não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da
força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a
sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método
contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou
à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou
manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos
sexuais e reprodutivos;
IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que
configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus
objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens,
valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a
satisfazer suas necessidades;
V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que
configure calúnia, difamação ou injúria.
- O artigo 22 trata das medidas que podem ser aplicadas ao responsável pela
agressão contra a mulher:
- Arrolou a lei, no âmbito das medidas protetivas de urgência, outras que dizem
respeito especificamente à integridade física e ao patrimônio da ofendida e de
seus dependentes.
- Assim, segundo dispõe o art. 23:
Aspectos penais
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Juizados de violência doméstica e familiar contra a mulher
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STF, no julgamento da ADO 26/DF: “1. Até que sobrevenha lei emanada do Congresso
Nacional destinada a implementar os mandados de criminalização definidos nos incisos XLI e
XLII do art. 5º da Constituição da República, as condutas homofóbicas e transfóbicas, reais
ou supostas, que envolvem aversão odiosa à orientação sexual ou à identidade de gênero
de alguém, por traduzirem expressões de racismo, compreendido este em sua dimensão
social, ajustam-se, por identidade de razão e mediante adequação típica, aos preceitos
primários de incriminação definidos na Lei nº 7.716, de 08/01/1989, constituindo, também, na
hipótese de homicídio doloso, circunstância que o qualifica, por configurar motivo torpe (Código
Penal, art. 121, § 2º, I, “in fine”);”
Pena: reclusão de um a três anos.
Art. 12. Impedir o acesso ou uso de transportes públicos, como aviões, navios
barcas, barcos, ônibus, trens, metrô ou qualquer outro meio de transporte
concedido.
Pena: reclusão de um a três anos.
Art. 13. Impedir ou obstar o acesso de alguém ao serviço em qualquer ramo das
Forças Armadas.
Pena: reclusão de dois a quatro anos.
Art. 18. Os efeitos de que tratam os arts. 16 e 17 desta Lei não são automáticos,
devendo ser motivadamente declarados na sentença.