O jornal do Brasil

Rio de Janeiro • Quarta-feira • 20 de junho de 2018 FUN DADO EM 9 DE ABRIL DE 1891 Ano 127 • nº 116 • www.jb.com.br • R$ 5,00

MOTORISTAS DE ÔNIBUS

MP abre inquérito
sobre descontos ilegais
O Ministério Público do Trabalho do Rio vai instaurar uma investigação para
apurar os chamados “vale-filmagem”, “vale-avaria” e “vale-sinistro”, descontos
irregulares que vêm sendo aplicados por algumas empresas aos contracheques
de motoristas de ônibus, como revelou o JORNAL DO BRASIL no domingo.
“Será aberta uma nova investigação”, afirmou a procuradora Fernanda Diniz,
referindo-se à outra apuração em curso no MP, acerca da chamada “sobra de
escala”, em que os condutores perdem folgas e até são descontados quando se
apresentam para o trabalho e são dispensados por excesso de contingente. Pág. 5

PREOCUPAÇÃO
Adrian Dennis/AFP

A seleção pode ter um problema para a partida de sexta-fei-

ra contra a Costa Rica, definida por Philippe Coutinho como
“nossa primeira final”. Durante toque de bola em um bobinho,
Neymar sentiu o pé direito, o operado, e saiu de campo man-
cando. A CBF garantiu que ele sentiu apenas dores no torno-
zelo, por causa das dez faltas que sofreu no empate com a Su-
íça, e que treinará normalmente hoje. Caderno Rússia 2018

RENATO TOSTÃO NELSON

Globalização pode Gostei do nível téc- Na imprensa,
explicar nivelamen- nico da 1ª rodada. Rússia contrasta
to das seleções Nada excepcional com o Brasil

Nova vitória faz Sul-americanos

os russos se são um fiasco na
entusiasmarem primeira rodada

NÃO TÁ FÁCIL PRA NINGUÉM.

‘BRASILEIRO’ FAZ ATÉ GOL CONTRA
Os brasileiros andam em baixa na Rússia. Ontem, o zagueiro
Thiago Rangel Cionek, curitibano naturalizado polonês, fez,
contra, o primeiro gol na vitória do Senegal sobre seus novos
compatriotas por 2 a 1. No outro jogo do grupo H, a Colôm-
bia perdeu para o Japão pelo mesmo placar.

HOJE NA TV 9h PORTUGAL x MARROCOS 12h URUGUAI x ARÁBIA SAUDITA 15h IRÃ x ESPANHA

Supremo absolve Gleisi

INFORME PUBLICITÁRIO

COLUNAS
PUBLICAÇÃO EM
Tereza Cruvinel
Governo tenta fazer tudo a toque de caixa,
e Paulo Bernardo CUMPRIMENTO À
DECISÃO JUDICIAL
antes que o povo decida em contrário. Pág.2 A Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) absolveu on-
tem, por unanimidade, a presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann, e o
marido dela, o ex-ministro do Planejamento Paulo Bernardo, dos crimes
TJ – 10ª Câmara Cível –
Informe JB de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Por 3 votos a 2, a Turma
também absolveu os réus do crime de falsidade ideológica eleitoral. Pág. 3 Apelação Cível e
Vietnamita apresenta na UFRJ a pilha
de oxigênio sólido. Pág. 6 Embargos Declaratórios
Tiroteio no 171 mil ricaços n° 0318087 4.2010.9.0001
Hildegard Angel Santa Marta brasileiros têm – Marlan de Moraes Marinho
Jornalista George Vidor lança livro “Os
Leite Barbosa”. Caderno B, pág. 3
assusta Botafogo US$ 4,5 trilhões Jr. e outros (autores) x

Intenso tiroteio entre PMs e tra- Pesquisa mundial da consultora

Artistas mapeiam as
fachadas históricas do Rio
com projeções visuais.
Págs. 1 e 2
ficantes no Morro Santa Marta, em
Botafogo, aterrorizou pais e alunos
de escolas na região e moradores da
favela, que relataram violação e abu-
sos por parte dos policiais. Pág. 7
Companhia Brasileira de
Capgemini revela que, apesar de a Multimídia (ré).
economia patinar, o Brasil ganhou
em 2017 sete mil novos milioná-
rios. São 171 mil, com patrimônio Pág. 4
de US$ 4,5 trilhões. Pág. 10
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COISAS DA POLÍTICA
Tereza Cruvinel
tereza.cruvinel@jb.com.br
Pressa incomum
Um governo em final de mandato – noves fora o dé-
ficit de legitimidade e a impopularidade – e uma Câma-
ra que em breve submeterá aos eleitores a recondução
de seus integrantes, deviam ter o bom senso de não ten-
tar aprovar agora, no apagar das luzes, de afogadilho e
sem debate, um projeto como o que permite à Petrobras
vender até 70% de suas reservas onerosas do pré-sal. A
empresa tem exclusividade sobre elas e está proibida de
transferi-las. A sessão entrou pela noite com a oposição
obstruindo a proposta.
Faltando 100 dias para a eleição, é espantosa a so-
freguidão com que o governo tenta aprovar tudo o que
permite a realização de grandes negócios no curto pra-
zo: marcou a venda das seis distribuidoras da Eletrobras
para 26 de julho, quer aprovar o projeto que autoriza a
venda da holding do sistema elétrico, e agora esta nova
alteração no pré-sal. No meio da discussão, o deputa-
do Chico Alencar (PSOL-RJ) anunciou ter descoberto
uma portaria do governo, da semana passada, que a
pretexto de regular a exploração mineral, voltou a per-
mitir a mineração em reservas indígenas e ambientais,
tal como na investida contra a Renca, da qual o presi-
dente Temer recuou diante da repercussão negativa.
Tanta pressa alimenta todo tipo de boato sobre ir-
regularidades que estariam programadas para tais ne-
gócios. Boatos não merecem transcrição mas a pressa
parece indicar a certeza do governo de que o resultado
eleitoral não será favorável à continuidade de sua agen-
da (que não passou pelas urnas). Então, tenta fazer tudo
a toque de caixa, antes que o povo decida em contrário.
Nesse caso do pré-sal, trata-se de remover a vedação
de transferência destas áreas, para que possam ser logo
leiloadas. Esta é uma questão estratégica demais para
ser decidida sem debate, a partir de um projeto que
aportou repentinamente no plenário. Temer e aliados
deviam deixar assunto de tal gravidade e magnitude
para seu sucessor. Se ele for um presidente privatista,
retomará a proposta. Se tiver outra orientação, terá le-
gitimidade para esquecê-la.
As reservas em questão foram inicialmente avaliadas
em 5 bilhões de barris mas sabe-se hoje que podem re-
presentar 15 bilhões de barris. O projeto não especifica
o modelo pelo qual seriam vendidas, prevendo apenas
o pagamento de um “bônus”. Pelo regime de cessão
onerosa, a Petrobrás pagaria royalties de 10% do óleo
extraído, dos quais a União ficaria com a metade e esta-
dos e municípios com os outros 50%. Técnicos da opo-
sição calculam as perdas da União em R$ 500 bilhões
e as do Estado do Rio de Janeiro em R$ 80 bilhões. Só
com royalties.
TREME-TREME
Diante da Lava Jato, a Câmara treme. Na semana
passada o deputado Paulo Pimenta (PT-RS) conseguiu
as assinaturas necessárias à criação da CPI das delações.
No alvo, principalmente, o advogado Figueiredo Basto
e outros, que teriam cobrado para viabilizar acordos de
delações. Ontem, houve um festival de arrependimen-
tos, gente retirando assinaturas e jurando ao microfone
que apoia a operação. MDB e PSDB recuaram. “Co-
vardes”, acusou Pimenta na tribuna. Sites lavajatistas o
acusaram de ter usado, como justificativa, fatos anterio-
res à Lava Jato. Rodrigo Maia agora quer novo requeri-
mento e assinaturas.
Em seu voto no julgamento da senadora Gleisi Hof-
fmann, o ministro relator Luiz Fachin apontou contra-
dições entre os delatores e ausência de provas. A absol-
vição dela, se confirmada ao final, dará força à CPI das
delações.
INGRATIDÃO
A senadora Lídice da Mata, do PSB, foi uma das
mais aguerridas defensoras da ex-presidente Dilma
no curso do impeachment, afora ter sempre apoiado
os governos petistas. O PT da Bahia, entretanto, vai
deixá-la fora da chapa majoritária do governador Rui
Coista. Uma vaga de senador será do ex-ministro
Jacques Wagner, outra do aliado do PSD, Ângelo
Coronel. Com caneladas assim, fica difícil o PT
obter o tão desejado acordo com o PSB.
Política
Aliança do PSDB
com MDB avança
Apesar dos desmentidos, acordo é previsto para o fim de julho
EDLA LULA
edla.lula@jb.com.br
Segue cercado de cuidados o namoro
entre o MDB e o PSDB para selar uma
aliança na chapa majoritária ainda no
primeiro turno. Ontem, diante das es-
peculações de que os dois partidos esta-
riam fechando acordo em prol da unida-
de de centro em torno do pré-candidato
tucano à Presidência Geraldo Alckmin,
lideranças de ambos os partidos tra-
taram de negar a informação. Porém,
segundo fontes ligadas aos dois lados, a
consumação é uma questão de tempo.
O presidente do MDB, senador Rome-
ro Jucá (RR), que tinha encontro marcado
para esta quinta-feira com o coordena-
dor da campanha de Alckmin, Marconi
Perillo, ex-governador de Goiás, buscou
preservar a candidatura do ex-ministro
da Fazenda, Henrique Meirelles. “Emen-
do o diálogo e entendimento entre os
partidos de centro e tenho a convicção
que juntos levaremos o Meirelles para o
segundo turno e depois para a vitória. O
Brasil necessita disto. Temos que avançar”,
disse em postagem no Twitter.
O ex-governador de São Paulo,
por sua vez, negou, em sabatina na
rádio Joven Pan, que suas negocia-
ções incluam o partido do presidente
Michel Temer. “Nós temos aliança
encaminhada com quatro partidos.
Agora, com o MDB não tem conversa
porque eles têm candidato”, afirmou
Alckmin, referindo-se a Meirelles.
O encontro entre Jucá e Perillo só
não se dará porque Temer adiou a visita
que faria ontem aos refugiados vene-
zuelanos abrigados em Roraima para a
Temer afirma que
assumiu um ‘pepino’
O Palácio do Planalto estreou, on-
tem, uma nova campanha publicitá-
ria na qual vincula a impopularidade
do presidente Michel Temer ao can-
saço da população por causa da crise
econômica provocada por governos
passados. Mas não chega a citar o PT
e nem a ex-presidente Dilma Rousse-
ff, de quem Temer era vice-presiden-
te. O governo usa atores para afirmar
que o Brasil estava “no caos”, com
números comparáveis ao de um país
“em guerra”.
Sobre as cobranças por resultados
econômicos melhores e impactos de
medidas do governo, como a redução
do desemprego, a propaganda oficial
afirma que eles só virão no futuro: “O
fato é que a maioria dessas mudanças
que o governo fez só vão ser sentidas
lá na frente.”
Também sem menções ao processo
de impeachment de Dilma, o governo
Temer afirma que “teve que assumir
esse pepino” em que todos estavam
“passando por um sufoco terrível”.
“A coisa foi muito séria, gente.
Por isso, todo mundo fica irrita-
do e impaciente mesmo, porque
já está todo mundo cansado com
todos esses anos de crise. Era uma
batata quente de um lado para o
outro, mas alguém tinha que resol-
ver mesmo que isso gerasse a tal da
impopularidade”, relata o ator.
“Mesmo com todos os críticos,
inclusive os que quebraram o País,
Miguel Schincariol/AFP
Para Alckmin, mais força nos municípios
mesma quinta-feira. O senador está em
plena campanha em seu estado e acom-
panhará Temer nas visitas aos abrigos.
Principal tutor de Meirelles no
MDB, Jucá considera precipitada uma
decisão, agora, sobre qual dos dois
partidos abrirá mão da candidatura
em benefício do outro. Se o nome de
Meirelles não decola nas pesquisas
eleitorais, o de Alckmin também não
– esta é a avaliação. No entanto, inte-
grantes do MDB indicam que o nome
de Meirelles já começou a se des-
gastar até mesmo dentro do partido.
Antes apontado como candidato do
Planalto, o ex-ministro perdeu a sim-
patia de Temer ao dar sinais de que
pretendia descolar a sua imagem do
presidente, que entra para a história
alguém tinha que pegar essa batata
quente. O rombo era gigante, a popu-
lação estressada, tudo mundo queria
uma solução rápida, mas, surpresa:
em economia não existe solução má-
gica, gente. As coisas são feitas para
corrigir o rumo, mas algumas vezes
elas vão demorar um pouquinho até
chegar na gente.”
Com recorde de 82% de desapro-
vação, conforme a última pesquisa
Datafolha, o governo Temer reco-
nhece que está “todo mundo irri-
tado, com raiva mesmo”. “Raiva de
tudo, raiva de todos e no final das
contas sobra para todo mundo”, diz
o texto da peça publicitária.
As propagandas, divulgadas nas
redes sociais da Presidência da
República, começam com um ape-
lo para quem “está aí reclamando
do governo” assistir à argumenta-
ção do Planalto, interpretada por
um homem e uma mulher, em ce-
nas que simulam “depoimentos”
sentados dentro de suas casas em
frente à câmera. O tom é de uma
conversa.
“Já temos vários números excelen-
tes no País. A inflação, por exemplo,
é a menor da nossa história, o juro
a mesma coisa. Tem recorde nas ex-
portações, na colheita, na Bolsa de
Valores. Já são mais de dois milhões
de postos de trabalho criados. Sim,
mas ainda faltam milhões”, diz um
dos atores.
Quarta-feira, 20 de junho de 2018
Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
Meirelles perde apoio no próprio MDB
como o mais rejeitado pela popula-
ção, com 82% de desaprovação.
De acordo com interlocutores tuca-
nos, esta seria também a razão porque
setores do partido de Alckmin não
concordam com a aliança. Unido ao
alto nível rejeição do presidente, está o
fato de diversos integrantes do partido,
incluindo o próprio Temer, terem seus
nomes vinculados ao noticiário sobre
corrupção, com alguns já presos.
A favor da aliança, estão os que veem
na coligação a oportunidade de ganhar
mais tempo no horário eleitoral no rá-
dio e na TV e também a forte presença
do MDB nos municípios. A previsão é de
que no final de julho o namoro se con-
solide, com a vantagem pendendo para
Alckmin, que tem mais bagagem política.
Governador
da Bahia
adia chapa
O governador da Bahia, Rui
Costa (PT), adiou de novo, on-
tem, o anúncio da composição da
chapa majoritária pela qual ten-
tará se reeleger em outubro, após
partidos médios e pequenos da
base governista – como PDT, PR e
PCdoB – pedirem para discutir as
vagas de suplente ao Senado.
Marcado para ontem, o anún-
cio da chapa agora é previsto para
sexta-feira, afirmaram interlocu-
tores do Palácio de Ondina. Mas
há no governo quem defenda a
comunicação da aliança após o
domingo, 24, dia de São João, para
que a celebração dilua o desgaste
das decisões tomadas pelo petista.
PP, PSD e PT serão os partidos
contemplados na composição. As
legendas ficarão, respectivamente,
com as vagas de vice-governador
e senadores. O atual vice, João
Leão (PP), tentará a reeleição ao
lado de Rui, enquanto o presi-
dente da Assembleia Legislativa,
Ângelo Coronel (PSD), e o ex-
-ministro e ex-governador Jaques
Wagner (PT), tentarão se eleger
para o Senado.
A escolha desses nomes, já co-
municada a líderes partidários,
significa a exclusão da senadora
Lídice da Mata (PSB), que é pré-
-candidata à reeleição. A ela foi
oferecida a vaga de suplente, que
também é pleiteada pelo PCdoB.
Quarta-feira, 20 de junho de 2018 Política Conheça nosso site www.jb.com.br • 3

Supremo absolve petistas

2ª Turma livra Gleisi Hoffmann e Paulo Bernardo de condenações por corrupção, lavagem e caixa 2
Nelson Jr./SCO/STF
KÁTIA GUIMARÃES
katia.guimaraes@jb.com.br

A Segunda Turma do Supre-

mo Tribunal Federal (STF) ab-
solveu ontem a presidente do
PT, senadora Gleisi Hoffmann, e
o marido dela, o ex-ministro do
Planejamento Paulo Bernardo,
dos crimes de corrupção passiva,
lavagem de dinheiro e falsidade
ideológica eleitoral.
Primeiro dos ministros a se
manifestar no julgamento, o rela-
tor do caso, Edson Fachin, votou
por absolver a senadora, mas pe-
diu a sua condenação por falsida-
de ideológica para fins eleitorais,
ou seja, caixa 2, na campanha elei-
toral de 2010. Fachin ainda pediu
a absolvição do ex-ministro.
Segundo a votar, o ministro
revisor, Celso de Mello, seguiu o
relator. Depois dele, Dias Toffo-
li também absolveu Gleisi, Paulo Os ministros Dias Toffoli, Celso de Mello, Ricardo Lewandowski, Gilmar Mendes e Edson Fachin decidiram inocentar Gleisi Hoffmann e Paulo Bernardo
Bernardo e o empresário Ernesto
Kugler de corrupção e lavagem de
dinheiro. Toffoli divergiu de Fa- Turma, Ricardo Lewandowski, pode levar a “abusos”, ao afirmar longo do tempo, de colaborado- riu ao advogado Figueiredo Basto,
chin e de Celso de Mello ao não acompanhou Toffoli e Gilmar, que a denúncia, baseada nas dela- res, e é só o que existe nesse pro- responsável acusado de ser opera-
aceitar a conversão da conduta definindo o placar de 3 a 2 pela ções do ex-diretor Paulo Roberto cesso: depoimentos confusos de dor de um esquema para vender
dos réus de corrupção passiva absolvição dos réus também do Costa e do doleiro Alberto Yous- colaboradores”, afirmou Mudro- delações e defensor de Youssef e
para falsidade ideológica eleitoral. crime de caixa 2. sef, tem versões conflitantes entre vitsch, ao alegar que Youssef apre- seu sócio, Antonio Pieruccine, que
Em seguida, Gilmar Mendes Ao longo da sessão, a defesa de si e que não há provas do recebi- sentou três versões. teria entregue o dinheiro a Ernesto
acompanhou Toffoli e também Gleisi afirmou que as acusações mento do dinheiro. Mudrovitsch sugeriu ter havi- Krugel, também réu na ação. Re-
absolveu os réus de falsidade eram“frágeis”, “contraditórias” e “A ação penal está lastreada do ajustes nas delações e disse que centemente, o Ministério Público
ideológica eleitoral. A essa altu- sem “elemento probatório”, o que nas palavras de delatores. Cola- as colaborações premiadas não Federal (MPF) divulgou uma espé-
ra, já estava formada a maioria, “consagra a má utilização do insti- boradores premiados de maneira seriam aceitas na atual gestão da cie de manual em que recomenda
que acabou virando unanimida- tuto da colaboração premiada”. O exagerada, pois todos eles tiveram Procuradoria-Geral da República que benefícios aos delatores, como
de, pela absolvição dos crimes de advogado Rodrigo Mudrovitsch imunidade em relação aos fatos (PGR) porque a orientação é que o não oferecimento de denúncias,
corrupção e lavagem de dinheiro. disse que a concessão “desarrazo- hoje discutidos. Depoimentos advogados não podem atuar em só podem ocorrer em “situações
Último a votar, o presidente da ada de imunidade” para delatores confusos, que foram alterados ao casos conflitantes. A defesa se refe- extraordinárias”.

3 pedem para desistir de CPI Fachin mantém execução da

Deputados pediram para
retirar assinaturas de apoio à
criação de uma Comissão de
Inquérito Parlamentar (CPI)
para investigar a Operação
Lava Jato na Câmara dos De-
putados. A iniciativa de pedir a
instalação da CPI teve o apoio
de líderes de diversos partidos,
como MDB, PT, PP, PR, PDT,
PCdoB e PSOL. Mais de 180
deputados assinaram o reque-
rimento a favor da criação da
comissão.
Até ontem, pelo menos três
parlamentares haviam pedido
para retirar seu nome do reque-
rimento: Rogério Rosso (PSD-
-DF), Darcísio Perondi (MDB-
-RS) e Evair de Melo (PP-ES).
Todos alegaram ter entendido
errado do que se tratava a CPI.
Em nota, Perondi disse que foi
induzido ao “erro” e não tem
como objetivo “desconstruir as
delações premiadas e, por con-
sequência, esvaziar a Lava Jato”.
O presidente da Câmara,
Rodrigo Maia (DEM-RJ), ain-
da não se manifestou sobre o
pedido de CPI. Como justifica-
va para a criação da CPI, os lí-
deres registraram que era pre-
ciso investigar os “esquemas de
venda de proteção em delações
premiadas por parte de advo-
gados e delatores no âmbito da
Lava Jato e em investigações
anteriores”.
Líder do PT na Câmara, o
deputado Paulo Pimenta (PT-
-RS), que articulou o recolhi-
mento de assinaturas para a
instalação da CPI, criticou a
decisão de parlamentares de re-
tirarem apoio para a comissão.
Para o líder petista, os deputa-
dos se “acovardaram” diante da
pressão da opinião pública e de
grupos ligados a procuradores
e juízes.
pena do irmão de Dirceu
O ministro Edson Fachin, do Su-
premo Tribunal Federal (STF), negou
seguimento ao habeas corpus (HC)
de Luiz Eduardo de Oliveira e Silva, ir-
mão do ex-ministro José Dirceu (Casa
Civil) - que está preso desde fevereiro.
Luiz Eduardo buscava reverter a
execução provisória da pena por as-
sociação criminosa e lavagem de di-
nheiro no âmbito da Operação Lava
Jato. Ele foi condenado a 8 anos e
nove meses de reclusão pelo juiz Sér-
gio Moro, por suposta participação
na organização que se infiltrou na Pe-
trobras e por recebimento de recursos
irregulares da Engevix Engenharia.
O Tribunal Federal da 4.ª Região,
em julgamento de recurso do Ministé-
rio Público Federal, aumentou a pena
para dez anos e seis meses. Em segui-
da, o Superior Tribunal de Justiça (STJ)
rejeitou HC impetrado pela defesa.
No HC, a alegação da defesa de
Luiz Eduardo é que a execução da
pena foi determinada antes do esgo-
tamento de recursos no STJ e STF.
Fachin destacou que o Supremo
reconheceu, em vários julgados re-
centes, que a execução provisória
da pena, ainda que sujeita a recurso,
não compromete o princípio consti-
tucional da presunção de inocência.
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TRIBUNAL DE JUSTIÇA
10ª Câmara Cível Apelação Cível nº 0318087-74.2010.8.19.0001
Apelante 1: COMPANHIA BRASILEIRA DE MULTIMÍDIA (ré) Apelante 2: Marlan de Moraes Marinho Jr, Zoraide Amaral de Souza, Juliana Medrado Tangari, Matheus Barros Marzano, Maria-
na Zonenschein, Mariama Rocha de Farias, Andrea dos Santos Silva, Leila Siqueira Pereira, Bruno de Mello Navarro e Luciana Fagundes Falcão Felix Cardoso. Apelados: os mesmos
Ação indenizatória - Relator Desembargador PEDRO SARAIVA DE ANDRADE LEMOS
EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. Ação indenizatória. Divulgação de notícias, durante dezessete dias,
com conteúdo difamatório da honra, intimidade, imagem do autor. Rechaçada a alegação de omissão
na sentença. Conteúdo das publicações que veicula de forma inadvertida, tendenciosa e inconsequente
a prática de condutas criminosas, ilegais e antiéticas, desacompanhado da comprovação da veracidade.
Extrapolação dos limites do dever de informação da companhia ré. Violação da honra e da imagem do
ofendido. Atividade informativa que não é absoluta. Constituição Federal, art. 5º, inciso X. Precedentes
jurisprudenciais das Cortes Superiores e deste Tribunal de Justiça. Danos morais devidos ao primeiro
autor (R$ 80.000,00) e à terceira (R$ 30.000,00). Quantum arbitrado corretamente. Respeito aos prin-
cípios da razoabilidade e da proporcionalidade. Outros autores fazem parte da sociedade advocatícia
mencionados na notícia por uma única vez através de nominata a justificar, por si só, a reparação de
ordem moral no montante de R$ 10.000,00 para cada um deles. Afastada a pretendida aplicação do
parágrafo único do art. 953 do Código Civil. Honorários advocatícios fixados com adequação. Sentença
mantida em parte. PROVIMENTO PARCIAL DO SEGUNDO APELO, COM NEGATIVA DE PRO-
VIMENTO AO PRIMEIRO RECURSO.
ACÓRDÃO: Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº 0318087-74.2010.8.19.0001, figu-
rando como apelantes o autor COMPANHIA BRASILEIRA DE MULTIMÍDIA e o réu MARLAN DE MO-
RAES MARINHO JR. E OUTROS, sendo os mesmos apelados. ACORDAM os Desembargadores da egré-
gia Décima Câmara Cível, por unanimidade, em DAR PARCIAL PROVIMENTO AO SEGUNDO APELO
E NEGAR PROVIMENTO AO PRIMEIRO RECURSO, nos termos do voto do Desembargador Relator.
RELATÓRIO: 1. Trata-se de recursos de apelação interpostos por ambas as partes contra sentença de proce-
dência parcial prolatada pelo juízo da 51ª Vara Cível da Comarca da Capital, em ação indenizatória proposta
por Marlan de Moraes Marinho JR. e outros em face de COMPANHIA BRASILEIRA DE MULTIMÍ-
DIA. 2. A d. sentença de fls. 1058/1065, integrada pela decisão de fls. 1074, confirmou a antecipação dos
efeitos da tutela anteriormente concedida, condenou a ré a ressarcir ao primeiro autor o valor de R$ 80.000,00
e à terceira autora o importe de R$ 30.000,00, a título de danos morais, acrescidos de juros de mora de 1% ao
mês desde data da primeira publicação das matérias e correção monetária pelos índices do TJRJ, e determinou
que seja publicada nota com o conteúdo integral da sentença, com idêntico destaque, tamanho e na mesma
página daquela em que foram veiculadas as reportagens, objeto da causa de pedir da demanda em julgamento,
em jornal de grande circulação por mídia impressa e na página on line da rede mundial de computadores do
Jornal do Brasil – JB, no primeiro domingo depois de decorrido o prazo de 10 dias a contar da intimação, e
por mais de 16 dias consecutivos, sob pena de multa diária no valor de R$ 1.000,00. 3. Os pedidos de danos
materiais e danos morais formulados pelos demais autores foram julgados improcedentes. Por fim, as custas
foram divididas em dez partes iguais, respondendo por duas partes a ré e 1/10 para cada autor, com exceção do
primeiro e da terceira. Honorários fixados em 10% do valor da condenação devidos ao primeiro e ao terceiro
autores, e honorários arbitrados em R$ 1.000,00 por cada autor sucumbente à ré. 4. Primeiramente, apela a
ré, COMPANHIA BRASILEIRA DE MULTIMÍDIA, às fls. 1075/1113. Em suma, alega que a sentença foi
omissa acerca do pedido de sobrestamento do feito até o trânsito em julgado do Agravo de Instrumento nº.
0040072-44.2011.8.19.0000; e que não houve descumprimento da antecipação dos efeitos da tutela, devendo
ser afastada a multa imposta, uma vez que sua aplicação desvirtua sua finalidade de coerção. 5. Segue a ré
afirmando que o prazo para cumprimento da obrigação de fazer determinada na sentença só deve ser iniciado
após o trânsito em julgado da fase de conhecimento e da intimação pessoal da ré apelante; que inexiste possi-
bilidade de julgamento antecipado da lide por ser imprescindível a produção de prova oral em audiência; que
o cerceamento de defesa é notório. 6. Aduz que os documentos colacionados aos autos pelos autores carecem
de força probante; que agiu no exercício regular de direito, inexistindo animus injuriandi ou animus difaman-
di; que inexiste dever de indenizar; que o quantum indenizatório merece ser reduzido; e que é desnecessária a
publicação da sentença em periódico de mídia impressa de grande circulação. 7. Por sua vez, os autores ape-
lam às fls. 1117/1132. Sustentam, em síntese, que todos os autores devem ser indenizados pelos danos morais
sofridos; que as quantias indenizatórias arbitradas ao primeiro e terceiro autores são insuficientes e tímidas
para reparar a imensa mancha deixada pelas matérias da ré; que o art. 953, parágrafo único, do Código Civil
deve ser aplicado na fixação do dano material; e que os honorários advocatícios devem ser majorados para o
patamar máximo de 20%, bem como devem ser fixados em prol dos demais autores. 8. Contrarrazões apre-
sentadas pela ré às fls. 1136/1155, e pelos autores às fls. 1156/1170. 8. Estes autos vieram conclusos em 27 de
agosto de 2012, sendo devolvidos nesta data, com remessa à douta revisão. Rio de Janeiro, 19 de setembro de
2012. Desembargador PEDRO SARAIVA DE ANDRADE LEMOS Relator
VOTO: Relatório nos autos. 1. Cinge-se a controvérsia acerca do cabimento de indenização de ordem moral
e material decorrente da divulgação de notícias, durante dezessete dias, pela ré, COMPANHIA BRASILEI-
RA DE MULTIMÍDIA, com conteúdo difamatório da honra, intimidade, imagem dos autores, Marlan de
Moraes Marinho JR. e outros, todos sócios de escritório advocatício. 2. O d. magistrado a quo houve por
bem julgar procedente, tão somente, o pedido de indenização de ordem moral ao primeiro e terceiro autores.
Daí, o inconformismo de ambas as partes. 3. Em análise ao apelo da ré, COMPANHIA BRASILEIRA DE
MULTIMÍDIA, de plano, deve ser afastada a tese de omissão na r. sentença. 4. Isso porque o agravo de ins-
trumento nº. 0040072- 44.2011.8.19.0000 interposto pela ré contra decisão que indeferiu pedido de produção
de provas por intempestividade foi desprovido por esta E. Décima Câmara Cível, e o recurso especial dele
oriundo foi inadmitido pela Terceira Vice-presidência, inexistindo respaldo legal para o pleito de sobresta-
mento do feito, valendo o silêncio como inacolhimento total da tese defendida. 5. Outrossim, a verificação do
cumprimento integral ou não da obrigação de fazer determinada em sede de antecipação dos efeitos da tutela
deverá ser analisado em momento processual futuro, oportunidade em que o Magistrado a quo certamente
apreciará com cautela as provas do cumprimento produzidas pela ré. 6. Não há, ainda, que se falar em omissão
do dispositivo no tocante ao prazo de cumprimento da determinação de publicação da sentença em jornal de
grande circulação. O item III de fls. 1065 é expresso e claro acerca do prazo de dez dias, a contar da intimação
da ré para cumprimento de sentença. 7. Infundada, ademais, a tese de cerceamento de defesa. O juiz, como
destinatário da prova, tem a faculdade de dispensar a produção daquelas que entender desnecessárias à forma-
ção de seu convencimento, não havendo qualquer nulidade na sentença vergastada decorrente da ausência de
outras ou novas provas que a ré apelante pretendia produzir. 8. Cumpre ressaltar que o indeferimento da
produção probatória requerida pela ré se deu, exclusivamente, em razão de sua própria desídia, vez que for-
mulada intempestivamente. 9. Quanto ao mérito propriamente, em que pesem os argumentos despendidos
pela ré apelante, da análise detalhada dos autos, facilmente se constata que o conteúdo das publicações, desa-
companhado da comprovação de sua veracidade, não está dentro dos limites do dever de informação da
companhia ré e, certamente, extrapola a liberdade de expressão, violando a honra e a imagem do ofendido.
10. É certo que, em sede de ação indenizatória em virtude de publicação jornalística, sua concessão depende
da comprovação de que a matéria teve caráter lesivo, o que se verifica no caso em tela, porquanto não se pode
admitir que o cidadão esteja sujeito a ver seu nome e imagem utilizados de forma leviana pela mídia, que sem
absoluta certeza da informação, noticia de forma inadvertida, tendenciosa e inconsequente a prática de con-
dutas criminosas, ilegais e antiéticas. 11. Assim sendo, temos que a atividade informativa não é absoluta, uma
vez que é vedada a divulgação de fatos que acarretem danos à honra dos indivíduos, sendo assegurado pela
própria Constituição Federal, art. 5º, inciso X, o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente
de tal violação. 12. Destarte, correta e bem lançada a d. sentença, não só em condenar a ré a ressarcir os pre-
juízos morais sofridos pelo primeiro e terceiro autores, como também em determinar a publicação da senten-
ça, durante dezessete dias, em jornal de grande circulação, com escora no direito de resposta proporcional ao
agravo, constitucionalmente assegurado no artigo 5º, inciso V. 13. Corroborando o acima exposto: EMENTA
Ação originária. Fatos incontroversos. Dispensável a instrução probatória. Liberdade de expressão limitada
pelos direitos à honra, à intimidade e à imagem, cuja violação gera dano moral. Pessoas públicas. Sujeição a
críticas no desempenho das funções. Limites. Fixação do dano moral. Grau de reprovabilidade da conduta.
Fixação dos honorários. Art. 20, § 3º, do CPC. 1. É dispensável a audiência de instrução quando os fatos são
incontroversos, uma vez que esses independem de prova (art. 334, III, do CPC). 2. Embora seja livre a ma-
nifestação do pensamento, tal direito não é absoluto. Ao contrário, encontra limites em outros direitos
também essenciais para a concretização da dignidade da pessoa humana: a honra, a intimidade, a
privacidade e o direito à imagem. 3. As pessoas públicas estão sujeitas a críticas no desempenho de suas
funções. Todavia, essas não podem ser infundadas e devem observar determinados limites. Se as acusações
destinadas são graves e não são apresentadas provas de sua veracidade, configurado está o dano moral.
4. A fixação do quantum indenizatório deve observar o grau de reprovabilidade da conduta. 5. A conduta do
réu, embora reprovável, destinou-se a pessoa pública, que está sujeita a críticas relacionadas com a sua fun-
ção, o que atenua o grau de reprovabilidade da conduta. 6. A extensão do dano é média, pois apesar de haver
publicações das acusações feitas pelo réu, foi igualmente publicada, e com destaque (capa do jornal), matéria
que inocenta o autor, o que minimizou o impacto das ofensas perante a sociedade. 7. O quantum fixado pela
sentença (R$ 6.000,00) é razoável e adequado. 8. O valor dos honorários, de 15% (quinze por cento) sobre o
valor da condenação, está em conformidade com os critérios estabelecidos pelo art. 20, § 3º, do CPC. 9. O
valor dos honorários fixados na reconvenção também é adequado, representando a totalidade do valor dado à
causa. 10. Agravo retido e apelações não providos. (AO 1390, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Tribunal
Pleno, julgado em 12/05/2011, DJe-166 DIVULG 29-08- 2011 PUBLIC 30-08-2011 EMENT VOL-02576-01
PP-00017 RDDP n. 104, 2011, p. 144-150) (grifo nosso) CIVIL. DANOS MORAIS. DOCUMENTO ESCRI-
TO IMPUTANDO A PECHA DE “MENTIROSO” A ADVERSÁRIO POLÍTICO. LIDO EM PROGRAMA
RADIOFÔNICO E POSTERIORMENTE DISTRIBUÍDO EM VIA IMPRESSA. REPROVABILIDADE
EVIDENTE. CONDENAÇÃO DE ACORDO COM OS PRECEDENTES. 1 - A crítica entre políticos que
desvia para ofensas pessoais, atribuindo a prática de mentir ao adversário, causa dano moral, porque mentir é
conduta socialmente desabonadora 2 - A garantia constitucional de liberdade de manifestação do pensa-
mento (art. 5.º, IV) deve respeitar, entre outros direitos e garantias fundamentais protegidos, a honra
das pessoas, sob pena de indenização pelo dano moral provocado, como decorre dos termos do art. 5.º,
V e X, da CF. Não se deve confundir, por consequência, liberdade de expressão com irresponsabilidade
de afirmação. Recurso especial provido. (REsp 801.249/SC, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEI-
RA TURMA, julgado em 09/08/2007, DJ 17/09/2007, p. 257) (grifo nosso) 0007427-73.2007.8.19.0042 -
APELACAO - Julgamento: 10/02/2012 - DECIMA CAMARA CIVEL Imprensa. Notícia atribuindo a prática
de delito ao autor. Sensação de prévia condenação através da opinião pública. Posterior absolvição. Necessi-
dade de observância ao princípio da presunção da inocência, insculpido no artigo 5º, LVII da Constituição
Federal. Liberdade de informar que implica no dever de investigar a veracidade da informação. Maté-
ria que poderia ter se limitado a noticiar a atribuição de acusação formal pela autoridade policial, mas
não a prática do furto em si, este pendente de apreciação judicial quanto à configuração. A responsabi-
lidade e o zelo no desempenho das funções dos órgãos e profissionais de imprensa apresentam-se como
contrapartida inequívoca à liberdade ampla e sem restrição, que deve operar em tal atividade. Conduta
ilícita inequivocamente comprovada nos autos. Dano moral configurado. Valor indenizatório arbitrado em
R$15.000,00 (quinze mil reais) que bem atende aos parâmetros da razoabilidade e da proporcionalidade, bem
como às peculiaridades do caso. Apelos improvidos. (grifo nosso) 0086048-13.2007.8.19.0001 - APELA-
Quarta-feira, 20 de junho de 2018
CAO - Julgamento: 05/10/2011 - SEGUNDA CAMARA CIVEL Direito Civil. Divulgação por programa te-
levisivo de fatos supostamente praticados pelo autor. Artista conhecido nacionalmente. Ausência de compro-
vação da veracidade dos fatos narrados pela ré no programa. Inexistência de interesse público no teor da
notícia. Violação a direito da personalidade. Limitação à garantia de liberdade de expressão. Dever de caute-
la que se impõe ao comunicador. Proibição de censura que não impede que o agente responda, cível ou
criminalmente, pelas consequências do que expressou. Danos moral e material configurados. Redução da
verba compensatória. Recurso a que se dá parcial provimento. (grifo nosso) 14. Passemos, então, à análise do
apelo dos autores. 15. É fato que o dano moral só pode ser reconhecido nos casos de efetiva violação da inte-
gridade, da intimidade, da honra subjetiva e da imagem do ofendido. 16. Em relação ao quantum arbitrado, a
título de indenização por danos morais ao primeiro autor e à terceira, não merece respaldo a tese de ambas as
partes. 17. Sabe-se que a compensação oriunda dos prejuízos morais deve dar-se de acordo com o prudente
arbítrio do magistrado. De sorte que, para arbitrar o montante indenizatório, o órgão julgador deve ponderar
o grau de reprovabilidade da conduta ilícita, a capacidade econômica do causador do dano, as condições so-
ciais do ofendido e a extensão do dano, sendo certo que a indenização deve representar caráter punitivo ao
causador do dano, bem como, proporcionar ao ofendido uma compensação pelo dissabor vivenciado. 18.
Assim, atendendo a tais ponderações, e considerando as circunstâncias do caso concreto, além do caráter
pedagógico de que deve se revestir a fixação do dano moral, entendo que o valor arbitrado pelo Juízo a quo
(R$ 80.000,00 para o primeiro autor e R$ 30.000,00 para a terceira autora) revela-se justo e adequado, além
de coadunar-se com os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade. 19. Com relação aos demais auto-
res vitimados, ressalte-se que a publicação se deu por uma única vez através de nominata (fls. 89), sendo
certo que com relação à LUCIANA FAGUNDES TONASSI FALCÃO, uma das Apelantes, não se vê qual-
quer maior dissabor, tendo em vista que seu casamento se deu em dia anterior ao indevidamente veiculado,
tudo a justificar o arbitramento nesta sede no valor de R$ 10.000,00 para cada um, acrescidos de juros de mora
de 1% ao mês, desde a data da primeira publicação das matérias e correção monetária pelos índices do TJ/RJ.
20. Em relação aos danos materiais, inviável reconhecer a pretensão dos autores apelantes, uma vez que não
há provas dos efetivos prejuízos decorrentes da veiculação das notícias depreciativas, o que, por certo, na
presente hipótese não se mostra dificultoso, afastando a pretendida aplicação do parágrafo único do art. 953
do Código Civil. 21. Por fim, quanto à verba honorária arbitrada – 10% sobre o valor da condenação, melhor
sorte não socorre os autores apelantes, estando o percentual fixado em total adequação ao grau de zelo do
profissional e à complexidade da causa. 22. À conta de tais fundamentos, DOU PARCIAL PROVIMENTO
AO SEGUNDO APELO - Marlan de Moraes Marinho JR. e outros (autores), E NEGO PROVIMEN-
TO AO PRIMEIRO RECURSO - COMPANHIA BRASILEIRA DE MULTIMÍDIA (ré), mantida, no
mais, a sentença nos termos e conteúdo que foi proferida. Publique-se. Rio de Janeiro, 19 de setembro de
2012. Desembargador PEDRO SARAIVA DE ANDRADE LEMOS Relator.
TRIBUNAL DE JUSTIÇA 10ª CÂMARA CÍVEL
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NA APELAÇÃO CÍVEL Nº 0318087- 74.2010.8.19.0001
Embargante 1: MARLAN DE MORAES MARINHO JR. E OUTROS (autores) Embargante 2: COMPA-
NHIA BRASILEIRA DE MULTIMÍDIA (ré) Embargados: os mesmos
Ação Indenizatória - Relator Desembargador PEDRO SARAIVA DE ANDRADE LEMOS
EMENTA: EMBARGOS DE DECLARAÇÃO opostos por ambas as partes. Apelação cível. Ação inde-
nizatória. Divulgação de notícias, durante dezessete dias, com conteúdo difamatório da honra, intimi-
dade, imagem do autor. Necessidade de integração do acórdão para que passe a constar a condenação
da ré à integralidade dos ônus sucumbenciais. No mais, inexiste contradição, omissão ou obscuridade.
Não tem o julgador o dever de analisar ponto por ponto cada aspecto suscitado pela parte, nem o dever
de mencionar no julgamento dispositivos legais que a parte pretende ver constantes expressamente na
decisão. ACOLHIDOS OS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO OPOSTOS PELA PARTE AUTORA E
REJEITADOS OS ACLARATÓRIOS OPOSTOS PELA RÉ.
ACÓRDÃO: Vistos, relatados e discutidos estes Embargos de Declaração nº. 0318087-74.2010.8.19.0001
em que são embargantes MARLAN DE MORAES MARINHO JR. E OUTROS (autores) e COMPA-
NHIA BRASILEIRA DE MULTIMÍDIA (ré), e embargados os mesmos. ACORDAM os Desembarga-
dores que compõem a egrégia Décima Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro,
por unanimidade de votos em ACOLHER O PRIMEIRO RECURSO E REJEITAR O SEGUNDO
RECURSO de Embargos de Declaração, nos termos do voto do Des. Relator.
RELATÓRIO: 1. Embargos de Declaração deduzidos por ambas as partes contra acórdão de fls. 516/528.
2. Primeiramente, embargou a parte autora às fls. 1242/1243, alegando que deve constar expressamente do
acórdão que a parte ré deve arcar com a integralidade dos ônus sucumbenciais. 3. Por sua vez, a parte ré
opôs embargos de declaração às fls. 1244/1247, pretendendo rediscutir e prequestionar a matéria na apela-
ção ventilada, sob o argumento de omissão na fundamentação do acórdão. 4. Os autos vieram conclusos em
24/10/2012, sendo devolvidos em 30/10/2012, com pedido de inclusão em mesa. 5. É o relatório.
VOTO: 1. Examinando os embargos, apesar da argumentação trazida por ambos os embargantes, verifico
não se adequar às hipóteses previstas no art. 535, I e II do CPC: contradição, obscuridade e omissão. 2. Com
efeito, merecem acolhida os aclaratórios opostos pela parte autora, necessitando o acórdão ser integrado para
que conste a condenação da parte ré, COMPANHIA BRASILEIRA DE MULTIMÍDIA, na integralidade
das custas e honorários advocatícios, estes fixados em 10% do valor da condenação. 3. Isso porque o acórdão
de fls. 1228/1240 proveu parcialmente o recurso de apelação interposto pela parte autora para reconhecer
o cabimento de indenização por danos morais aos demais autores da demanda, no valor de R$ 10.000,00
para cada. 4. Assim sendo e conforme preceitua o art. 21, parágrafo único, CPC, no caso de sucumbência
mínima de uma das partes, a outra deverá arcar por inteiro com as despesas e honorários advocatícios, exa-
tamente a hipótese dos autos, em que parte autora decaiu somente no tocante aos danos materiais. 5. Corro-
borando o acima exposto: CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL. ACIDENTE DE TRABALHO. LESÃO
POR ESFORÇO REPETITIVO - LER. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. DANOS MORAIS. MANUTENÇÃO
DO QUANTUM. SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA. INOCORRÊNCIA. 1. Consideradas as peculiaridades
do caso em questão, o valor arbitrado pelo Tribunal a quo a título de danos morais mostra-se razoável, li-
mitando-se à compensação do sofrimento advindo do evento danoso, e não afrontando o princípio que veda
o enriquecimento sem causa. Outrossim, o montante de R$ 30.000,00 (trinta mil reais), equivalente a cerca
de 115 (cento e quinze) salários mínimos, atualmente, guarda total consonância com a quantia arbitrada, em
casos semelhantes, por esta Quarta Turma. Precedentes. Desta feita, devidamente guardados os parâmetros
jurisprudenciais acerca do arbitramento do quantum indenizatório, que não se revela ínfimo ou excessivo,
não se justifica a excepcional interferência desta Corte Superior, sob pena de indevida imisção no contexto
fático probatório dos autos, a esbarrar no óbice representado pela Súmula 07 da Corte, em razão do que, neste
aspecto, não se conhece do Recurso Especial pela divergência interpretativa (Súmula 83 da Corte). 2. Dadas
as dificuldades tanto na aferição da lesão imaterial, como na apuração do valor indenizatório, esta Corte tem
reiteradamente admitido que o quantum inicialmente pedido em ação de indenização por dano moral seja
genérico ou meramente estimativo. Neste caso, vindo a ação a ser julgada procedente em montante inferior
ao sugerido pelo ofendido, não há que se falar em sucumbência recíproca, porquanto não se está diante de
pedido quantitativamente certo. Tal hipótese configurará, ao revés, caso de sucumbência total, visto que o
objeto imediato do pedido, é dizer, a providência jurisdicional que se pleiteia, a condenação por dano moral,
foi julgado procedente. 3. A sucumbência total deve ser reconhecida não obstante tenha a recorrente de-
caído no concernente aos lucros cessantes, aplicando-se, por se cuidar de “parte mínima do pedido”, os
ditames do parágrafo único do art. 21 do CPC. 4. Recurso parcialmente conhecido e, nesta parte, provido.
(REsp 537.386/PR, Rel. Ministro JORGE SCARTEZZINI, QUARTA TURMA, julgado em 19/04/2005, DJ
13/06/2005, p. 311) (grifo nosso) 0005477-64.2010.8.19.0061 – APELACAO – Julgamento: 23/08/2012 –
SEGUNDA CAMARA CIVEL RELAÇÃO DE CONSUMO. VÍCIO DO PRODUTO. Recall. Não substitui-
ção das peças defeituosas. Vício de natureza grave. Risco de perda de controle da motocicleta. Impossibilida-
de de utilização do bem por período superior a dez meses. Substituição efetivada por força de decisão judicial
antecipatória dos efeitos da tutela. Dano moral configurado. Verba compensatória excessiva. Sua redução em
consonância com o princípio da razoabilidade e vedação ao enriquecimento sem causa. Dano material não
demonstrado. Sucumbência mínima do autor. Recursos parcialmente providos. 0245247-03.2009.8.19.0001 –
APELACAO – Julgamento: 18/07/2012 – DECIMA PRIMEIRA CAMARA CIVEL RESPONSABILIDADE
CIVIL. FORNECIMENTO DE GÁS. SUSPENSÃO. INADIMPLÊNCIA. DÉBITO. ALEGAÇÃO. DANO
MORAL. QUANTUM. DANO MATERIAL. SUCUMBÊNCIA. 1. Suspensão do serviço de fornecimento de
gás. Abusiva.2. Inadimplência não configurada. Débito objeto de discussão judicial.3. Alegação da existência
de outros débitos não provada. De igual modo, notificação acerca da existência destes. Alegação sem prova é
alegação nenhuma. 4. Dano moral positivado. Interrupção do fornecimento de gás encanado, bem essencial,
de forma ilegal, sem prévia notificação, durante período de tempo considerável.5. Quantum. Sete mil reais,
valor não despropositado.6. Dano material não evidenciado.7. Autora que decaiu em parte mínima do pedido.
Ônus da sucumbência a ser arcado pela ré.8. Desprovimento do primeiro recurso e provimento parcial do se-
gundo. 0237060-06.2009.8.19.0001 – APELACAO – Julgamento: 27/03/2012 – Decima Nona Câmara Cível
Apelação Cível. Ação De Indenização Por Danos Morais E Materiais. Recusa Indevida Do Réu Em Fornecer
Talões De Cheque. Responsabilidade Objetiva. Dano Moral Configurado. Verba Indenizatória Fixada Dentro
Dos Parâmetros Da Razoabilidade, Proporcionalidade E Vedação Ao Enriquecimento Ilícito. Dano Material
Não Comprovado. Autor Que Decaiu Em Parte Mínima Do Pedido. Artigo 21, § Único Do Cpc. Decisão
Monocrática. Parcial Provimento Do Recurso Para Afastar A Sucumbência Recíproca, Mantendo-Se No Mais
A R. Sentença Recorrida. 6. Por outro lado, em relação aos embargos opostos pela parte ré, COMPANHIA
BRASILEIRA DE MULTIMÍDIA, não se observa a existência de omissão, contradição ou erro material
que deva ser retificado. 7. Em verdade, pretende a ré embargante modificar o acórdão embargado. Contudo,
a contrariedade entre a decisão e o interesse da parte não autoriza a interposição de embargos de declaração.
8. Ademais, quanto ao prequestionamento, cumpre registrar que não tem o julgador o dever de analisar ponto
por ponto cada aspecto suscitado pela parte, nem o dever de mencionar no julgamento dispositivos legais
que a parte pretende ver constantes expressamente na decisão. 9. Por tais fundamentos, voto no sentido de
ACOLHER OS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO OPOSTOS PELA PARTE AUTORA, MARLAN
DE MORAES MARINHO JR. E OUTROS, para que passe a constar na parte dispositiva do acórdão a
condenação da ré na integralidade das custas e dos honorários advocatícios, estes fixados em 10% sobre o
valor da condenação; e REJEITAR OS EMBARGOS OPOSTOS PELA PARTE RÉ, COMPANHIA
BRASILEIRA DE MULTIMÍDIA. Publique-se. Rio de Janeiro, 07 de novembro de 2012. Desembargador
Pedro Saraiva De Andrade Lemos Relato
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Roberto Herrera

Rodoviários se revoltam contra empresas que descontam os valores das passagens de gratuidades sem RioCard, como estudantes e idosos, de seus salários

Viações na mira da lei

Após denúncia de descontos ilegais contra motoristas, procuradoria iniciará investigação

MARIA LUISA DE MELO
malu@jb.com.br
O Ministério Público do Trabalho do
Rio de Janeiro abrirá uma investigação
para apurar os chamados “vale-filmagem”,
“vale-avaria” e “vale-sinistro”, descontos
irregulares que estão sendo feitos nos con-
tracheques de motoristas de ônibus. O pri-
meiro, segundo relato de funcionários das
viações, é aplicado a motoristas que deixam
passageiros com direito à gratuidade, mas
sem RioCard, entrar pela porta traseira,
mediante a apresentação de identidade ou
declaração escolar. O corte salarial varia de
R$ 80 a R$ 200. Os outros dois vales pena-
lizam os condutores por colisões ou danos a
alguma peça dos coletivos. Os trabalhado-
res acusam as empresas de fazer os cortes
sem comprovar as supostas irregularidades.
“Será aberta uma nova investigação, que
ficará sob responsabilidade do mesmo co-
lega que ajuizou ação civil pública contra a
Transurb para apurar casos de funcionários
que sobravam na escala”, explicou a procu-
radora Fernanda Diniz, referindo-se ao pro-
curador Carlos Solar, que cuidará deste caso.
As “sobras na escala”, às quais se refere
a procuradora, são outra reclamação re-
corrente entre os funcionários. Segundo
contam, as empresas convocam, por meio
de escalas, mais profissionais do que o ne-
cessário para atender os turnos. Assim, se
alguém falta, a empregadora não fica des-
“
coberta. O prejuízo, no entanto, vai para
o bolso dos motoristas. Quando são in-
cluídos no grupo dos excedentes, mesmo
tendo se apresentado para o trabalho, per-
(Eu) Me sinto dem folgas ou até são descontados, como
humilhado. se tivessem faltado ao expediente. Muitos
relatam serem obrigados a voltar no turno
Dá a entender da tarde para tentar trabalhar.
que estão me A prática, segundo a procuradora Fer-
descontando nanda Diniz, é ilegal, assim como as co-
branças por avarias, sinistros e gratuidades
porque fiquei com indevidas, sem comprovação de falhas dos
o dinheiro das funcionários. “Ainda que tenha quebrado
passagens. Estão alguma peça ou quebrado um ônibus, a
responsabilidade do funcionário deve ser
chamando a apurada antes de qualquer coisa. Algo di-
gente de ladrão” ferente disso está errado”, explicou.
As denúncias feitas por motoristas da
MOTORISTA DE empresa Transurb S/A e divulgadas na
ÔNIBUS edição de domingo do JORNAL DO BRA-
Viação N. Sra. das Graças
SIL foram endossadas por funcionários da
Viação Nossa Senhora das Graças. Um dos
condutores que procuraram o JB disse que,
para além do prejuízo financeiro, se sente
humilhado pela situação. “Recebemos faltas
e ganchos (suspensão) totalmente arbitrá-
rios por baixo carregamento de passageiros
(quando não batem a meta de passageiros
transportados estipulada pelas viações).
Somos descontados por ‘vale-filmagem’, e
nunca nos apresentam as gravações. Eu me
sinto humilhado, pois (a medida) dá a en-
tender que estão me descontando porque
acham que fiquei com o dinheiro das passa-
gens. Nas entrelinhas, estão nos chamando
de ladrões”, revolta-se um condutor.
Um outro rodoviário, da Transurb, espe-
ra que os descontos, sobretudo o “vale-fil-
magem”, sejam suspensos o quanto antes.
“A gente precisa trabalhar e, para conseguir
pagar as nossas contas e sustentar as nossas
famílias, não podemos ter surpresa todo
fim de mês, com descontos que aparecem
do nada. Mesmo sem deixar gratuidades
com declaração ou identidade passarem
pela porta de trás, o ‘vale-filmagem’ vem
descontado do nosso salário. Ou seja, é
arbitrário. Há um ano na Transurb, nunca
recebi meu pagamento completo. Somos
sempre garfados. É gancho, ‘vale-filmagem’,
só absurdo”, dispara um motorista da linha
C-10 (Central-Bairro de Fátima).
Integrante da Comissão Parlamentar de
Inquérito dos Ônibus, instalada na Câma-
ra de Vereadores no ano passado, o verea-
dor Tarcísio Motta (PSOL) acredita que a
prefeitura tenha responsabilidade sobre os
abusos cometidos contra os rodoviários. “A
prefeitura deve fiscalizar os direitos traba-
lhistas dos motoristas, como faz com outras
empresas com as quais mantêm contratos.
Esses absurdos deveriam implicar no encer-
ramento do contrato de concessão. Já fomos
procurados por muitos motoristas lesados
por empresários de ônibus”, diz ele, que pre-
parou um relatório alternativo ao oficial da
CPI, com 350 páginas de recomendações
contra os empresários de ônibus.

CONDUTORES DE VANS COBRAM LICITAÇÃO

Tânia Rêgo/Agência Brasil

Transporte alternativo Motoristas de vans partiram em caravana, ontem de manhã, de diversos pontos da cidade para participar de audiência pública na Câmara
de Vereadores, onde discutiram a situação dos permissionários e auxiliares cadastrados. Eles cobram da prefeitura a conclusão do processo de licitação iniciada em agosto
de 2016 para emissão de 967 permissões e outras 828 para o quadro de reserva, entre outras reivindicações, como o ajuste dos itinerários, negociado desde 2013.
6 • Conheça nosso site www.jb.com.br Cidade Quarta-feira, 20 de junho de 2018

INFORME JB
Paes nega ter recebido
vantagem na Rio 2016
Ex-prefeito diz à Justiça que campanha da reeleição não teve caixa 2
José Lucena/AE

Jan Theophilo
jan@jb.com.br

Vida em Marte

Q
ue Matt Damon, que nada. Anteontem, em
uma conferência na Coppe/UFRJ o vietna-
mita Nguyen Minh, do Centro de Pesquisas
de Energia da Universidade da Califórnia,
apresentou uma das tecnologias mais avançadas para a
produção de oxigênio: a pilha eletrolisadora de óxido sólido
(SOEC em inglês), que nada mais é do que uma pilha de
combustível sólido que será levada pela NASA em 2020 na
sua missão a Marte. “Quando a SOEC é combinada com
energia solar, separa o dióxido de carbono para produzir
oxigênio, que então pode ser usado tanto como suporte de
vida e lançamento de foguetes, como para trazer humanos
ou amostras diversas de volta para a Terra”, explica Minh.
Autor de livros e de mais de 150 artigos sobre o assunto,
Minh estuda pilhas de combustível há mais de 30 anos. Ele
explica que a SOFC é multifuncional, pode ser usada para O ex-prefeito do Rio Eduardo Paes prestou depoimento, ontem, como testemunha de defesa do ex-governador Sérgio Cabral

geração de eletricidade, produção de hidrogênio quando
operada em modo reverso e produção de produtos quími-
cos. Seria um sonho de consumo para o astronauta Mark
Watney, vivido por Damon em “Perdido em Marte”. Pena
que essas coisas, nossa imprensa não vê.
Pistola é o...
A CBF não achou a menor
graça no apelido de “Cana-
rinho Pistola”, que o mal-
-humorado mascote da Se-
leção ganhou na internet e
foi reproduzido fartamente
durante o Brasil e Suíça.
Ontem mesmo a confede-
ração notificou as emisso-
ras de que não quer seu Piu
Piu marrento associado a
violência e armas de fogo.
Parem as rotativas
Quem teve acesso à dela-
ção de Carlos Miranda, um
dos principais operadores
financeiros do ex-gover-
nador Cabral saiu impres-
sionado com o tamanho
do cartapácio. São gordos
anexos que detalham como
funcionava o “mecanismo”
em cada uma das secreta-
rias do governo.
Mau gosto em dobro
Não bastava a polêmica
estética relativa à cons-
trução do Monumento ao
Holocausto, um espigão
de gosto duvidoso e 22
metros de altura no alto
do Morro do Pasmado.
A vereadora Theresa Ber-
gher insiste agora, que o
monumento leve o nome
de seu marido, o saudoso
vereador Gerson Bergher.
Marx em Icaraí
Niterói comprova a tese do
velho barbudo que a histó-
ria só se repete como farsa
ou tragédia. O vereador
Carlos Jordy se autointitu-
lou “Filhote de Bolsonaro”
e lançou candidatura a es-
tadual tendo como mote o
embate diário na Câmara
LANCE LIVRE
• Os Produtores, musical que
traz aos palcos a adaptação da
clássica comédia cinemato-
gráfica de Mel Brooks, chega
ao Vivo Rio com direção de
Miguel Falabella, dia 13 de ju-
com a vereadora Talyria
Perrone, do PSOL, a mais
votada da cidade.
Você está demitido
O prefeito Marcelo Cri-
vella anda mau como pi-
ca-pau. Exonerou ontem
o subprefeito da Barra
Azaury Monteiro, só por-
que ele reclamou, em reu-
niões do primeiro escalão,
da ideia de taxação de ser-
vidores inativos.
Mora na filosofia
O vice-presidente nacional
do PT, Alberto Cantalice,
minimizou ontem a revolta
de parte dos militantes do
partido com a confirma-
ção de Marcia Tiburi como
candidata ao governo. “No
PT é difícil uma coisa ser
unânime”, diz Alberto.
“Mas a decisão da ampla
maioria foi justamente de
lançar um nome diferente”.
Outsider
O entrevero entre Ciro Go-
mes e o vereador Fernan-
do Halliday acendeu um
sinal vermelho no QG de
Jair Bolsonaro. O proble-
ma não consiste apenas em
identificar Ciro como o pior
opositor possível para um
bate-boca. O que os bolso-
minions temem é que seu
candidato não tenha como
se contrapor ao currículo de
Ciro como ex-prefeito, ex-
-governador e ex-ministro.
Tenho beleza
Em relação a essa histó-
ria de chamar Halliday de
“Capitão do Mato” Ciro
está coberto de razão. E
viva Zé Celso Corrêa!
lho. A UFF promove terça-feira
um debate sobre intolerância
religiosa e estado laico. O even-
to contará com nomes como
Amanda Mendonça, Christina
Vital e Henrique Vieira.
“
O ex-prefeito do Rio Eduardo Paes teria”, afirmou Paes.
negou, ontem, ter recebido vantagens Perguntado sobre delações de exe-
de empresas que trabalharem nas cutivos da Odebrecht, que apontam
obras das Olimpíadas de 2016, duran- doações de campanha em caixa 2, Paes
te audiência na 7ª Vara Federal Crimi- Tem certos disse que cabe à Justiça e ao Ministério
nal, em depoimento à Justiça Federal comportamentos que Público apurar. “Cabe ao Poder Judi-
como testemunha de defesa do ex-go- ciário e ao Ministério Público apurar,
vernador Sérgio Cabral. Paes falou no
não tenho na vida. e a empresa comprovar isso. Eu nego.
âmbito da operação Unfair Play, um Ninguém me ofereceu, Todos os valores recebidos nas minhas
desdobramento da Lava Jato, e negou até porque, se campanhas foram devidamente decla-
ter presenciado articulações ilícitas rados”, disse o ex-prefeito.
para garantir, no Comitê Olímpico
oferecesse, levava O marqueteiro Renato Pereira disse
Internacional (COI), a vitória do Rio voz de prisão na hora” em delação premiada que a campanha
como sede dos Jogos Olímpicos. para a reeleição de Paes, em 2012, teve
EDUARDO PAES
No fim da audiência, o juiz Marcelo dinheiro de caixa 2. Segundo o mar-
ex-prefeito do Rio
Bretas perguntou se o ex-prefeito teria queteiro, Paes teria avisado que ele se-
recebido alguma ajuda das empreitei- ria procurado por Leandro Azevedo,
ras que atuaram nas obras olímpicas, executivo da construtora Odebrecht, e
no Brasil ou no exterior. Paes negou foi ainda mais enfático quanto a não que ele próprio, o ex-prefeito e o então
que tivesse havido recebimento de aju- ter recebido vantagens de emprei- deputado federal Pedro Paulo Carva-
da das empresas no exterior, mas disse teiras. “Tem certos procedimentos e lho teriam negociado que a campanha
que precisaria checar suas contas de comportamentos que eu não tenho na custaria R$ 20 milhões. No suposto
campanha para saber se houve alguma vida. Ninguém me ofereceu, até por- esquema, a produtora emitia nota fis-
doação eleitoral. que, se oferecesse, levava uma voz de cal em valor menor do que o cobrado
À saída da Justiça Federal, já na cal- prisão na hora. Tem certos tipos de ao PMDB, e a diferença era paga por
çada, Paes falou com os jornalistas e conversas que eu não tenho e jamais meio de caixa 2. (Com Agência Brasil)
Marielle: ministro reconhece atraso
O ministro extraordinário da Segu- dificuldade de se construir provas. todo esse quadro torna mais difícil e mais
rança Pública, Raul Jungmann, disse em “Em primeiro lugar, o fato de que ele (o necessária a construção de provas robus-
entrevista na Rádio Eldorado, ontem, crime) foi planejado, foi feito por profis- tas para poder indicar e apresentar a de-
que as equipes que atuam na investiga- sionais. Também a dificuldade de se en- núncia contra executores e mandantes”,
ção da execução da vereadora Marielle contrar a razão que teria levado à morte afirmou Jungmann.
Franco e do motorista Anderson Go- da Marielle, porque ela não apresentaria Acusado por uma testemunha-chave
mes, mortos a tiros em 14 de março pas- ameaça pessoal, o que torna a complexi- do caso como um dos mandantes do cri-
sado, já sabem quem são os envolvidos, dade adicional, que é fazer a construção me, o ex-policial militar Orlando Olivei-
mas trabalham no levantamento de pro- dessas possíveis ameaças. Isso compli- ra de Araújo foi transferido, ontem, para
vas para poder apresentar as denúncias. ca, como também a percepção de que o uma penitenciária federal de segurança
Ele reconheceu que, comparado a outros círculo dos envolvidos é maior do que se máxima em Mossoró, no Rio Grande do
casos de repercussão no Rio, o crime pensava anteriormente, apontando para Norte. A defesa do ex-PM disse que a
está demorando mais do que a média a participação, no caso dos mandantes, transferência é irregular e prometeu re-
para ser elucidado, mas atribui o atraso à de autoridades do Rio de Janeiro. Então, correr. (Com Estadão Conteúdo)
Roberto Herrera
Passagem de ônibus Prédio é evacuado no Subtenente é o 60º
deve subir amanhã Centro devido a tremor policial morto no Rio
A Justiça suspendeu, ontem à O Edifício Conde Pereira Carnei- O subtenente da Polícia Militar
noite, a liminar concedida ao ro, na Av. Rio Branco, no Centro Rogenir Moura de Oliveira foi
Ministério Público que proibia (foto), foi esvaziado às pressas executado com vários tiros
o reajuste, e as passagens de ontem à tarde, devido a um quando chegava em casa, na
ônibus no Rio devem subir de tremor causado por uma hélice noite de segunda-feira, em São
R$ 3,60 para R$ 3,95 a partir que se desprendeu do sistema Gonçalo. Ele foi o 57º PM morto
de amanhã. A decisão foi da do ar condicionado. Após vistoria, em decorrência da violência no
desembargadora Marília de os bombeiros liberaram o prédio. Estado do Rio neste ano. Com
Castro Neves Vieira, da 20ª Funcionários que trabalham no outros três policiais civis assas-
Câmara Cível do Tribunal de local disseram que o abalo fez os sinados, o número de policiais
Justiça do Rio. computadores balançarem. mortos chega a 60 em 2018.
Quarta-feira, 20 de junho de 2018 Cidade Conheça nosso site www.jb.com.br • 7

Dia de terror no Santa Marta

Moradores relatam abusos em operação da PM. Colégio particular tomou medidas de segurança
ROGÉRIO DAFLON
rogerio.daflon@jb.com.br
A Favela Santa Marta teve ontem uma ma-
nhã sob intenso tiroteio. Por volta das 7h, po-
liciais do Grupo de Intervenção Tática (GIT)
do Comando de Polícia Pacificadora (CPP) e
da Unidade de Polícia Pacificadora do Santa
Marta entraram no morro pela parte de cima,
vindos de Laranjeiras, como relatou José Má-
rio dos Santos, presidente da Associação de
Moradores da comunidade: “A ação começou
no Pico (como é conhecido o local mais alto
da encosta), mas foi até o trecho mais baixo,
próximo à Rua São Clemente”. Segundo ele,
moradores da favela foram à associação regis-
trar violações de direitos humanos praticadas
por policiais militares. Itamar Silva, que reside
no morro, considerou absurdo o horário da
operação policial: “Na parte mais baixa da fa-
vela, várias mães estavam desesperadas, pois
estavam levando seus filhos à creche Casa
Santa Marta naquele momento”. Na Rua São
Clemente, a Escola Alemã Corcovado acionou
uma sirene e conduziu os alunos à garagem no
subsolo da instituição, seguindo seu protocolo
de segurança para episódios como o de ontem.
Indagada sobre os relatos de violações
levados à associação de moradores do San-
ta Marta, a Polícia Militar emitiu a seguinte
nota: “Na manhã desta terça-feira (19/06),
policiais do Grupo de Intervenção Tática
(GIT) do Comando de Polícia Pacificadora
(CPP) e da Unidade de Polícia Pacificadora
Dona Marta, estão realizando uma operação
na Comunidade. Assim que os agentes che-
garam à comunidade, criminosos atiraram
contra eles. Até o momento não há registro
de feridos e apreensões”.
Duas mulheres que levaram suas reclama-
ções à associação de moradores deram entre-
vista à reportagem do JORNAL DO BRASIL,
sem se identificar. As duas moram no Pico.
“Jogaram gás lacrimogênio em frente à minha
casa. Meu filho é um bebê e tem bronquite.
Vi que eles estavam revistando meu marido
fora de casa. Então, eles entraram na minha
casa sem mandado de busca e apreensão, per-
guntando onde estava a mochila com drogas.
Meu esposo não é bandido, e eles tentaram
me arrancar uma confissão”, disse ela, acres-
centando que os policiais não prenderam o
marido dela.
A outra mulher que se propôs a falar disse
que os policiais também entraram na casa dela
sem mandado: “(Eles) Me perguntaram se eu
tinha alguma ligação com o tráfico. Um deles
falou: ‘Se estiver mentindo, já sabe”. Ela relatou
outra cena: “Pegaram um menino com todo
mundo gritando que ele não era bandido”.

SEM TETO, SEM EMPREGO, SEM PREVIDÊNCIA

José Lucena/AE José Lucena/AE Maíra Coelho/AE

Protestos na Prefeitura O Centro Administrativo São Sebastião foi ponto de concentração para diversas manifestações populares ontem. Enquanto cerca de sessenta famílias retiradas de
um terreno em São Cristóvão e acampadas debaixo da passarela do metrô exigiam aluguel social e inscrição no “Minha casa, minha vida”, agentes do Centro Presente pediam a continuidade do
programa — que pode ser extinto dia 30 — e servidores municipais convocavam para uma paralisação contra a reforma da previdência — que será votada, hoje, na Câmara dos Vereadores.

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Vice-Presidente Editorial
Gilberto Menezes Côrtes
Presidente: Omar Resende Peres | Conselheiros: Gilberto Menezes Côrtes - René Garcia Jr - Octávio Costa - Wilson Cid - Hildeberto Aleluia
Nós e a guerra das sobretaxas
Talvez por estarem com suas principais atenções
voltadas para a Rússia, onde se realizam jogos de suas
seleções, os grandes povos descuidem ou permane-
çam insuficientemente atentos aos desdobramentos
que poderão advir do impasse nas relações comer-
ciais entre China e Estados Unidos, tendentes a se
transformar numa vigorosa queda de braços. Há que
se falar não apenas nos dois grande produtores, mas
sem a exclusão de todos os demais países, onde quer
que se encontrem, pois somos candidatos naturais a
deparar com os respingos da grande batalha que está
levando dólares e yuans ao campo de batalha. A po-
derosa arma, disponível para ambos, é a sobretaxa,
que encarece os produtos que chegam, limitando-lhes
o poder da concorrência interna. Terminada a copa,
todos de volta à casa, governos e certamente a opinião
pública desses países, terão de avaliar os desdobra-
mentos diretos e indiretos da refrega desses interesses
econômicos que permanecem em jogo.
De fato, se a disputa se trava entre americanos e
chineses pelo domínio dos seus mercados de con-
sumo, não significa que apenas a eles caberão os re-
sultados, porque raros são os países que, a um dos
dois, não tenha de vincular seus próprios objetivos
O fracasso do governo Temer
JOSÉ LUIS OREIRO*
A recente turbulência no mercado de câmbio jogou a pá de
cal nas expectativas de retomada do crescimento da economia
brasileira em 2018. Os indicadores de atividade econômica já
vinham apresentando performance muito abaixo do esperado
pelo governo e pelos analistas econômicos, no primeiro qua-
drimestre de 2018. A greve dos caminhoneiros teve um im-
pacto significativo na produção, tanto de bens agrícolas como
industriais, devendo puxar para baixo o PIB do segundo tri-
mestre; que poderá apresentar variação próxima de zero com
respeito ao primeiro trimestre. Nesse cenário, já bastante desa-
lentador, a desvalorização recente da taxa de câmbio produziu
uma elevação da taxa de juros futura em função da expectativa
de que o Bacen será obrigado a elevar a taxa Selic ainda em
2018, para coibir o repasse da desvalorização cambial para a
taxa de inflação. A resultante de todos esses fatores foi uma re-
dução expressiva da expectativa de crescimento da economia
brasileira, para um patamar entre 1,2 a 1,5% em 2018.
Se esse cenário se confirmar, então o governo Temer terá sido
um completo fracasso. Com efeito, o impeachment da presiden-
te Dilma Rouseff foi vendido para a sociedade brasileira como a
única maneira de “pôr o país em ordem” e assim retomar o cres-
cimento da economia. Os economistas liberais afirmavam que a
substituição de Dilma por Temer iria restaurar a “confiança” dos
empresários, levando assim a um aumento do investimento e ao
Editores
• Política/Nacional: Octávio Costa | octavio.costa@jb.com.br
• Cidade: Clóvis Saint-Clair | clovis@jb.com.br
• Economia: Gilberto Menezes Côrtes | gilberto.cortes@jb.com.br
• Internacional/Esporte: Toninho Nascimento | toninho@jb.com.br
• Informe JB: Jan Theophilo | jan@jb.com.br
Opinião
Fundado em 9 de abril de 1891
Diretor-Presidente
Omar Resende Peres
Diretor de Redação
Toninho Nascimento
CONSE LHO E DIT ORIAL
EDITORIAL
comerciais. Por muito ou por menos, considerando-
-se que na bolsa internacional de ofertas e procu-
ras todos têm algo a comprar, vender ou especular.
Quando ocorrem oscilações, como recentemente se
viu na linha de commodities, o aço do Brasil foi jo-
gado na berlinda pelo governo americano.
Os negócios comerciais compõem-se de balanças,
nas quais pesam-se os interesses de importadores e
exportadores. Quando os pesos tendem excessivamen-
te para um dos lados, abrem-se discussões para um
maior controle de contas. Estados Unidos e China, que
são entre si, simultaneamente, os maiores compradores
e vendedores, ameaçam uma guerra de sobretaxações.
No lucro ou no prejuízo, os respingos serão inevitáveis
para clientes menores, aos quais cabe atentar, se não
para ganhar, pelo menos que não seja para perder. No
caso presente, se for possível dar todos os créditos às
ameaças do presidente Trump, pode-se aplicar sobre os
produtos chineses uma sobretaxa de 25%, com imedia-
ta represália no mesmo nível. Ruim para ambos.
Esses embates, principalmente quando ocorrem em
torno de grandes potências, sugerem a nós outros a
procura de mercados menos acidentados, imunes às
implicações políticas que extrapolam a interveniência
fim da recessão. O Brasil poderia então retomar um crescimen-
to em torno de 2,5% a.a, que poderia ser ampliado por uma sé-
rie de reformas como, por exemplo, a PEC do Teto dos Gastos,
a reforma trabalhista e a reforma da Previdência Social. Dessas
três, o governo Temer emplacou as duas primeiras: o teto dos
gastos, aprovado em 2016; e a reforma trabalhista, em 2017.
Não podemos deixar de fora das “reformas” do governo
Temer a mudança ocorrida na atuação do BNDES com a
substituição da TJLP pela TLP e a expressiva redução dos de-
sembolsos do banco, o que restituiu ao Tesouro Nacional pra-
ticamente todos os empréstimos recebidos no período 2008-
2014. Em suma, Temer e seu “dream team” da área econômica
seguiu à risca o receituário liberal e desmontou a famigerada
“nova matriz macroeconômica” da presidente Dilma.
Quais os resultados dessa “guinada” na condução da política
econômica? A economia saiu da recessão em 2017, mas a velo-
cidade de recuperação da atividade econômica é o mais lento
entre todas as recessões que o Brasil experimentou desde a dé-
cada de 1980. O hiato do produto ainda se encontra em torno
de 6% segundo estimativas do Instituição Fiscal Independente;
e o desemprego persiste em torno de 13%. A inflação encon-
tra-se abaixo do piso do regime de metas há 11 meses, graças
à forte desaceleração da inflação de serviços, o que mostra a
debilidade do nível de atividade econômica e do mercado de
trabalho. Mantido o atual ritmo, o Brasil deverá recuperar o PIB
de 2014 por volta de 2020 ou 2021.
Os economistas liberais certamente irão dizer que a razão do
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Quarta-feira, 20 de junho de 2018
Vice-Presidente Administrativo
Antonio Carlos Mello Affonso
e o controle da Organização Mundial do Comércio, da
qual o Brasil figura entre os 159 países constituintes. Se
é impossível impedir algum tipo de reflexo, os estilha-
ços que ricocheteiam, nem por isso teria cabimento o
mundo subjugar totalmente seus negócios comerciais a
demandas que se travam em esferas particulares.
O Brasil há que descobrir novos mercados poten-
ciais, como na semana passada analisava, no Congres-
so Nacional, o ministro Aloísio Nunes, das Relações
Exteriores. Falava sobre o mercado do Irã, ainda não
suficientemente atendido pelos exportadores brasilei-
ros. Interessante observar que, não raro, os negócios
comerciais não prosperam, por falta de maior e me-
lhor conhecimento público do potencial importador.
O exemplo do Irã vem a calhar. Um país tecnologica-
mente evoluído, dominando a energia atômica, alvo
de afagos de investidores europeus, enquanto para
muitos, entre nós mesmos, equivocadamente, aparece
como país exótico, de religiosos radicais e mulheres
de burca nas ruas. Nada mais equivocado.
Precisamos muito vender, sejam quais forem
os resultados da divergência entre americanos e
chineses. Rumo aos mares e aos ares, enquanto os
leões brigam.
fracasso do governo Temer foi que não se realizaram todas as re-
formas necessárias, ficou faltando a da Previdência. Nessa linha
de raciocínio, os economistas liberais terão que admitir que todas
as reformas feitas não tinham utilidade alguma; e a única que era
realmente necessária foi a que eles mesmos sugeriram que fosse
deixada por último. O erro terá sido deles, em vez de ser um efeito
retardado da nova matriz macroeconômica.
Existe outra interpretação para esse fracasso. A política
macroeconômica do governo Temer, continuando o modelo
do segundo mandato de Dilma, foi caracterizada pelo que o
economista Braulio Borges denominou de “contracionismo
excessivo”. Entre 2015 e 2016 houve a ocorrência simultânea
de uma política fiscal, monetária e parafiscal contracionistas.
Com efeito, a política macroeconômica produziu uma forte
elevação da Selic e uma redução expressiva dos investimento
da União e das estatais; ao mesmo tempo em que o BNDES
reduzia os seus desembolsos e aumentava o custo de suas ope-
rações de crédito. Um colapso da atividade econômica que só
começou a arrefecer quando a política monetária começou a
ser afrouxada, no fim de 2016 e após a liberação dos saldos
inativos das contas do FGTS em 2017.
Se Temer não tivesse dado ouvidos aos economistas libe-
rais, seu governo poderia ter sido melhor em matéria econô-
mica. Esperemos que o próximo presidente da República não
cometa o mesmo erro.
* Professor do Departamento de Economia da Universidade de Brasília
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Quarta-feira, 20 de junho de 2018
Desigualdade econômica
no mundo desenvolvido
FERNANDO AUGUSTO DE MATTOS*
A desigualdade da distribuição de
renda voltou a debate a partir dos re-
sultados que diversos pesquisadores so-
bre o tema apontaram nos rescaldos da
grande crise financeira internacional,
deflagrada nos EUA em 2007. Não foi
à toa que o livro de Piketty (“O capital
no século 21), que ilustrou o fenômeno,
a partir de ampla base de dados, tenha
sido objeto de tanta fama.
O cenário político nos EUA e na Eu-
ropa foi marcado pelo tema em manifes-
tações como o Occupy Wall Street (cujo
mote era “1% versus 99%”), ocorrida
em Nova York, e que depois se espalhou
para outras cidades dos EUA, da Europa
e países de quase todos os continentes,
denunciando a enorme desproporção
dos efeitos da crise sobre as classes so-
ciais. Livro recente de Edward Wolff (“A
century of wealth in America”) mostra
que, enquanto em 2004 o 1% mais rico
dos EUA concentrava 34,3% da rique-
za do país, em 2013, esse valor já havia
saltado para 36,7%. No ultraprivilegiado
estrato do 0,1% mais rico, por sua vez,
os dados são, respectivamente, iguais a
12,1% e 13,6%, revelando a pronunciada
ampliação da desigualdade, mesmo den-
tro do topo da distribuição.
A literatura internacional mostra que
a explicação para a piora do perfil dis-
tributivo ocorrida nas últimas décadas
deve-se, principalmente, aos efeitos
das rendas do capital, notadamente dos
rendimentos decorrentes da posse de
ativos financeiros. Esse fenômeno foi
turbinado pelas políticas de austerida-
de fiscal, adotadas para o enfrentamen-
to da crise internacional, e aplicadas em
quase todos os países do mundo desen-
volvido.
Os dados recentes ilustram a progres-
siva financeirização da riqueza, confir-
mando o que mostravam trabalhos pio-
neiros do economista francês François
Chesnais já nos anos 1990. A mudança
na composição da riqueza representa
uma alteração no perfil da acumulação
de capital, em que a valorização dos
ativos financeiros supera a dos ativos
produtivos. Tal fenômeno decorreu da
forma como foi desmontada a ordem
financeira internacional, que havia sido
Quando a ferrovia chegar, o Brasil terá jeito
GENÉSIO PEREIRA DOS SANTOS*
Há uma máxima dos tempos imemoriais
aplicável, analogamente, ao título deste ar-
tigo, tema que deve estar em consonância
com os dias atuais turbulentos por que pas-
sa o país, “no tempo e no espaço”, neste fim
do primeiro semestre de 2018: “Quando a
primavera chegar” marcará nova expecta-
tiva, nova esperança, época primeira; nova
aurora para o transporte ferroviário, o futu-
ro: quando a ferrovia chegar, o Brasil, via-
riamente, terá jeito, terá solução, espera-se!
Essa é a minha crença e, creio seja a mes-
ma de milhares de ferroviários, de ferrovia-
ristas, que sonhamos com a volta do Brasil
aos trilhos ainda nesta segunda década do
século 21, pois, deste “tamanhão”, efetiva-
mente, não dá para ficar transportando
milhões de toneladas de insumos por sobre
pneus, à longa distância, convenhamos.
Circulação de mercadorias num per-
curso de até 500km é recomendável por
rodovia, como procedem os países mais
desenvolvidos neste ícone. Acima, somen-
te por ferrovia, de acordo com a logística
operacional e a comprovada economia de
combustíveis. Essa é a visão primária dos
grandes dirigentes das grandes nações, que
Opinião
criada no pós-Segunda Guerra e que ha-
via permitido o crescimento econômico
com melhoria da distribuição de renda,
tanto na Europa como também nos EUA.
Tal temática é magistralmente apresen-
tada no recém-lançado documentário
“Dedo na ferida”, do cineasta brasileiro
Silvio Tendler.
Outro elemento que promoveu a piora
dos perfis distributivos foi a desarticula-
ção das políticas tributária e fiscal que
haviam sido construídas no pós-Segun-
da Guerra. Basta lembrar, como Piketty,
que, até os anos 70, no caso dos EUA, as
alíquotas de imposto de renda chegaram
a atingir 90% para os casos de rendas
mais altas, tendo sido reduzidas a pata-
mares próximos de 30% já no início do
governo Reagan. É consensual, hoje, en-
tre os especialistas no tema, que os sis-
temas tributários dos principais países
do mundo tornaram-se cada vez mais
regressivos, taxando cada vez menos os
mais ricos e promovendo piora contínua
do perfil distributivo.
No livro “Oligarchy”, Jeffrey Winters
define o conceito de “indústria de defe-
sa da renda” para explicar como certos
profissionais (muito bem pagos) – advo-
gados tributaristas, contabilistas e agên-
primam pelo que há de mais moderno.
A partir da década de 90, começou o
desmonte da Rede Ferroviária Federal, que
teve a sua certidão de criação, com a edição
da Lei nº 3115/57. Pela Lei nº 11.483/07,
veio o seu óbito, por falta de competência
de uma legião de maus gestores que por ela
passaram, nesse lapso temporal. De lá para
cá, pouquíssimos são os que defendem o
modo ferroviário como deveriam fazê-lo.
Ao Estado cabe estabelecerem-se nor-
mas e fazer os investimentos que propiciem
a construção de um sistema viário realmen-
te integrado, onde cada ícone de transporte
tenha a sua função institucional e opera-
cional, que vise ao conforto e bem-estar da
população trabalhadora, destinatária últi-
ma dos benefícios dos governos. A rigor,
ferrovias não existem.
Estamos às portas de eleições gerais. Até
este mês de junho não se viu, leu ou ouviu
nenhum vislumbre de pré-candidatos a pre-
sidente apresentar um esboço de programa
que fale em melhorar a malha ferroviária,
abandonada há décadas e à continuada prio-
rização das rodovias, filé mignon dos lobis-
tas que assolam o Congresso Nacional. Sem
o transporte sobre trilhos não se chegará a
lugar nenhum neste Brasil, onde, há 164
anos, Irineu Evangelista de Souza inaugurou
Conheça nosso site www.jb.com.br
cias de gerenciamento de fortunas – pro-
curam influenciar a elaboração de leis e
a tomada de decisões do poder público
para tornar o sistema tributário menos
penoso aos detentores de riqueza e in-
fluenciar os orçamentos públicos de for-
ma a não prejudicar os rendimentos dos
rentistas.
Em todos os países, a ingerência do
poder econômico, cada vez mais mar-
cado pela concentração da renda e da
riqueza, sobre os financiamentos de
campanhas políticas e na execução de
pressões sobre as atuações dos par-
lamentares tem colocado em xeque
a representatividade dos mesmos e a
própria essência da democracia. Até
mesmo instituições como o FMI (como
no recente estudo intitulado “Tackling
Inequality”) têm chamado a atenção
para a necessidade de que sejam ela-
boradas políticas mais progressivas de
tributação, bem como políticas fiscais
mais voltadas à ampliação da oferta de
bens e de serviços públicos para a po-
pulação mais vulnerável.
* Prof. da Faculdade de Economia da UFF
e pesquisador visitante na Universidade de
Columbia (Nova Iorque – EUA)
o primeiro trecho de ferrovia, uma façanha
do grande empreendedor daquele século.
O Brasil tem jeito, tem solução, desde que
construamos mais e mais ferrovias, com a
participação patriótica dos gestores dos três
níveis da administração pública: municí-
pios, estados e União, pois, essa empreitada
terá que ser homogênea, numa integração
público-privada, com manifesto interes-
se em ver-se o imbróglio, definitivamente,
afastado de nosso colorário de cancros que
assolam o país.
Não temos uma malha ferroviária con-
tinental para o transporte geral de cargas
(e passageiros). Mais de 80% da carga que
circula pelas nossas poucas ferrovias são
dos seus acionistas. Exportam “comodi-
ties” minerais e agrícolas, que não trazem
benefícios para o povo brasileiro. Quase
tudo que está nas lojas, na sua casa, ou na
sua mão, circulou de caminhão (por trem
não chegou), infelizmente.
As autoridades têm que olhar o Brasil, em
matéria de sistema viário, de frente para o es-
pelho de uma realidade nua e crua. Ninguém
se vê tentando olhar-se colocando o espelho
na nuca. O Brasil tem jeito, tem solução, mas
tão somente com muitas ferrovias.
* Advogado, jornalista e escritor
• 9
A nova
revolução
chinesa: Parte 1
FELIPE RIBBE*
As tarifas de importação anunciadas se-
mana passada são um claro sinal de que
uma guerra comercial entre EUA e China é
iminente. Donald Trump alega que há um
desequilíbrio muito grande na relação entre
os países. Os chineses afirmam que apenas
contra-atacaram. Porém, a medida de Trump
vai muito além do déficit dos EUA na balan-
ça comercial. Sua verdadeira preocupação é a
intenção dos asiáticos de se tornarem a maior
superpotência mundial, usando tecnologia e
aumentando sua influência em outras regi-
ões. A estratégia chinesa é composta por três
planos: o Made in China 2025, o IA 2030 e o
Belt and Road Initiative. Hoje irei me concen-
trar no primeiro; os dois últimos serão assun-
to do próximo artigo.
Em 2015, Xi Jinping, presidente chinês,
anunciou o Made in China 2025. O programa
estabeleceu dez áreas inovadoras para se tornar
referência global. As escolhidas foram: robóti-
ca; veículos de energia limpa; biotecnologia; in-
dústrias aeroespacial, naval e ferroviária avan-
çadas; energia elétrica; novos materiais (como
de células solares); hardware e software de alto
desempenho; e máquinas agrícolas.
A área de tecnologia é que mais vem chaman-
do atenção. As duas maiores empresas da China
no setor, Alibaba e Tencent, estão avaliadas em
mais de US$ 500 bilhões. O protecionismo do
governo chinês ajudou (Google e Facebook são
proibidos por lá, por exemplo), mas seria injus-
to usar esse argumento para explicar tamanho
valor de mercado. Os investimentos no desen-
volvimento de empresas da área são impres-
sionantes: saltaram de US$ 14 bilhões em 2012
para US$ 120 bilhões em 2017. Ano passado, 34
startups chinesas se tornaram unicórnios (com
valor de mercado de US$ 1 bilhão ou mais), ou
seja, 35% de todas as companhias que consegui-
ram o feito no mundo. Os EUA ainda lideraram,
com 41,3%, mas o gap já foi muito maior: em
2014, eram 13,9% contra 61,1%. Outro sinal do
avanço chinês em tecnologia é o fato de que, dos
500 supercomputadores mais rápidos do mun-
do, 202 ficam no país.
A indústria de chips é fundamental nos pla-
nos tecnológicos de Xi Jinping, mas ainda pouco
desenvolvida na China. A dependência estran-
geira é muito grande (90% dos chips usados por
lá são importados, especialmente dos EUA), por
isso o governo pretende anunciar, em breve, um
fundo exclusivo, estimado em US$ 47 bilhões,
para fomentar a indústria local, com foco em
chips de 5G e inteligência artificial.
No setor automotivo, a China começa a se
destacar, impulsionada pelos carros elétricos.
Segundo projeções, em 2040, 54% dos veículos
vendidos no mundo serão de energia limpa.
Os chineses já são o maior mercado mundial
no segmento e, no Salão de Automóveis de Pe-
quim deste ano, 174 modelos foram apresen-
tados, sendo 124 desenvolvidos localmente. A
proeminência do país se dá também nas bate-
rias, uma vez que 60% do cobalto refinado do
planeta (fundamental na produção delas) são
de propriedade de companhias chinesas. Os
carros autônomos são outros que irão contri-
buir para os planos dos asiáticos. São estimados
que 33 milhões deles serão vendidos em 2040
e a já citada Tencent, além da Baidu (outra em-
presa importante de tecnologia), investem pe-
sado no desenvolvimento dessas aplicações.
No campo científico, os chineses brigam de
igual para igual com os americanos, pelo me-
nos em publicações de pesquisas. Em 2016,
foram 426 mil artigos publicados, contra 409
mil dos EUA. O setor de biotecnologia deve
corresponder a mais de 4% do PIB em 2020,
estimulado pelos mais de 100 parques cientí-
ficos que existem ao redor do país.
Como vimos, o Made in China 2025 anda
a todo vapor e empresas chinesas começam
a ganhar protagonismo nos principais seto-
res atualmente. Na próxima quarta-feira, irei
comentar sobre o IA 2030 e o Belt and Road
Initiative, outros motivos para as dores de ca-
beça de Trump.
* Especialista em inovação e novas tecnologias
10 • Conheça nosso site www.jb.com.br Economia&Negócios Quarta-feira, 20 de junho de 2018

Brasil tem 171 mil ricaços

Fortuna dos milionários cresce 4,2% e supera US$ 4,5 trilhões; PIB é de US$ 2,05 trilhões
O crescimento de 1% da economia brasi- cimento da economia e à valorização de
leira em 2017 não foi lá essas coisas. Perdeu TOTAL DE MILIONÁRIOS BRASILEIROS ações e commodities nas bolsas de valores
para vários países e não foi suficiente para 175 e mercadorias. Em 2025, a fortuna do gru-
Renda acima de US$1 milhão

reduzir o desemprego, que voltou a crescer
em 2018, após a recessão de 2015 (-3,55%)
e 2016 (-3,60%). Mas, com crescimento
de 4,2% em 2017, os milionários brasilei-
ros voltaram a respirar ares de riqueza. De
acordo com o relatório global de 2018 pu-
blicado ontem pela consultoria Capgemini,
o Brasil ganhou 7 mil milionários em 2017,
quando registrou 171.480 ricaços.
A Capgemini lista as “high net worth
individuals” (HNWIs), ou seja as pessoas
com patrimônio superior a US$ 1 milhão,
excluídos a residência oficial, obras de arte
e coleções de bens monetizáveis. O patri-
mônio desse grupo de brasileiros somava
US$ 4,5 trilhões. Para mostrar o grau de
concentração de renda no país, o PIB bra-
sileiro, o total de bens, serviços e renda
produzidos a cada ano, foi de US$ 2,05 tri-
lhões em 2017. Os mais ricos representam
170 po vai superar os US$ 100 trilhões, prevê.
Segundo a Capgemini, o mundo teria
165
agora 18,1 milhões de milionários, um salto
160 frente aos 11 milhões de 2010. Estados, Ja-
155 pão, Alemanha e China concentram 61,2%
150 da população de pessoas ricas. As fortunas
145
que mais cresceram, com ganhos acima de
20% ficaram concentradas, pelo segundo
140
ano seguido, nos países da Ásia e Pacífico
135 e na América Latina. O Brasil se recuperou
130 diante do México que ganhou apenas 5 mil
2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 milionários, atingindo 126 mil ricaços em
Fonte: Capmegini 2017. Mas o Brasil foi superado pelos milio-
nários do Kuwait, caindo da 17ª para a 18ª
posição. A Índia tomou o 11º posto da Ho-
0,8% da população (209 milhões). Mas têm xado a 148,5 mil brasileiros, o salto foi de 23 landa. As ações são o principal ativo finan-
renda e patrimônio superior a mais de 60% mil novos milionários em dois anos. ceiro dos milionários, com 30,9% no primei-
dos brasileiros. O número de 2017 ainda é A consultoria estimou que a fortuna dos ro trimestre de 2018. Os imóveis respondem
inferior aos 172 mil,1 mil de 2013. Mas de milionários em todo o mundo superou os por 16,8% do patrimônio. As moedas digi-
2015, quando o número de ricos tinha bai- US$ 70 trilhões em 2017, devido ao cres- tais ainda não entusiasmam os mais velhos.

Venezuela, um país de milionários pobres

Elizabeth está indignada, mas como boa
venezuelana, leva a coisa no humor. “Somos
um país de milionários!”, diz sarcasticamente,
apontando chocada para uma placa de preço
no mercado: “Caixa de ovos = 3.000.000”.
“Você é milionário, porque gasta esses va-
lores, mas só tem 36 ovos. O salário mínimo
é 2.600.000. Com o seu trabalho de um mês,
não pode comprar isso”, afirmou a contadora
aposentada de 64 anos, outrora chavista fervo-
rosa. Essa é a grande ironia: a Venezuela petro-
leira é um país de milionários, mas arruinado.
Elizabeth Torres não é a única a criticar isso.
Entre bancas de verduras, carne e sapatos
falsificados, no mercado de Chacao, em Ca-
racas, escuta-se queixas pelo custo de vida:
o salário que Elizabeth menciona equivale a
US$ 32 no câmbio oficial, mas só US$ 1 no
paralelo. A cada dia, os venezuelanos têm que
desembolsar cifras de sete ou oito dígitos para
comprar farinha de milho para as arepas, ar-
roz, pão, ou outro carboidrato.
Carmen Machado, de 57 anos, foi demiti-
da de uma empresa de limpeza de escritórios.
Recebeu 5,8 milhões de bolívares por quatro
anos de serviço - o equivalente a um quilo de
“Caixa de ovos = 3.000.000”, anuncia o cartaz no mercado de Chacao, em Caracas
carne. Para piorar, os preços aumentam mais
de uma vez por semana. De acordo com o Par-
lamento, de maioria opositora, a hiperinflação
foi de 24.571% nos últimos 12 meses e soma
1.995% de janeiro a maio.
Em um petshop, Olga Aviles, de 53 anos,
está dividida entre comprar comida de gato,
Federico PARRA / AFP
ou um quilo de carne, para a família. “Sempre
tem que haver uma parcela de sacrifício. Se eu
gasto com isso, não gasto com aquilo”, explica.
“Na Venezuela, nós não vivemos, nós so-
brevivemos: se você compra frutas, não pode
comprar legumes, se você comprar grãos, não
compra cereais”, concorda Elizabeth.
Para facilitar o comércio, o presidente Ni-
colás Maduro propôs em março lançar novas
notas, retirando três zeros da moeda. Ele será
chamado de “bolívar soberano”, em oposição
ao “dólar do império”. Mas, na realidade, em-
bora o governo venda certos alimentos subsi-
diados nos bairros populares e a eletricidade,
a água e o gás sejam quase gratuitos, muitos
bens e serviços são cotados no dólar negro, 30
vezes mais caro do que o dólar oficial.
“Temos que pedir para os familiares de fora
enviarem algo. Com o que temos aqui, não
podemos comer”, diz Aurora González, de 71
anos, cujo filho emigrou, como milhares de
venezuelanos fizeram nos últimos anos.
Reeleito até 2025 em eleições não reco-
nhecidas na Europa e nos EUA, Maduro diz
que a inflação é induzida, em uma “guerra
econômica” para derrubá-lo. O economista
Luis Vicente León atribui o colapso ao mode-
lo econômico intervencionista, ao monopólio
estatal da moeda estrangeira e ao controle dos
preços e do câmbio, que alimenta o mercado
negro do dólar. “Nós lidamos com milhões,
mas o país está falido”, resume Aurora Gonzá-
les. (Maria Isabel Sanchez, da AFP)

Mensagens dos leitores

As cartas, contendo telefone e endereço do autor devem ser dirigidas à redação do JORNAL DO BRASIL, Avenida Rio Branco, 157 - CEP: 20040-006 ou pelo e-mail: cartas@jb.com.br

 ELETROBRAS
Irretocável e corajoso, o
editorial do JB (19/6) ao
colocar o governo golpista do
Temer no seu exato lugar. A
sociedade deve dizer não a
essa desastrosa intenção
de privatizar a Eletrobras.
Um governo sem legitimidade
não tem o direito de vender
as nossas estatais, sob o
argumento falacioso de que
esta empresa é deficitária.
Não tenhamos dúvidas de
que o ônus, sempre que há
privatizações de empresas
que prestam relevantes
serviços sociais, recairá
no ombro da população,
sobretudo da parte dos mais
necessitados.
Mas sempre tem os
manipuladores que aplaudem
o atual governo e seus crimes
de lesa-pátria.
Romildo Vieira do Bomfim  Celso Pinheiro
Niterói/Icaraí/RJ
PATRIMÔNIO PÚBLICO INSS sejam cooptar é formada pelos CALÇADAS INTERDITADAS
Sobre o editorial “Eletrobras: Há poucas semanas o INSS bai- pobres. Mas o único partido que Parece que com a atual
que se notifique aos compra- xou uma portaria determinando durante a sua trajetória firmou administração municipal
dores” (JB, 19/6), os cidadãos que os segurados que forem so- uma aliança com o povo foi o PT. voltamos décadas atrás –
brasileiros precisam votar em licitar aposentadoria por idade Antonio Negrão de Sá para  ser mais exato, 20 anos
candidatos que tenham pro- devem, obrigatoriamente, usar Rio de Janeiro em dois. Temos a sensação de
postas opostas aos neoliberais. o site do órgão para conseguir que estamos vivendo governos
A bem da verdade, eles foram o benefício. Só que  tem que ir COPA DO MUNDO passados com relação aos
derrotados quatro vezes segui- no posto pedir a senha, ou seja, Foi decepcionante ver o nosso camelôs, quando ocupavam
das nas urnas e deram um golpe não agiliza,  superlota o posto e escrete sofrer para arrancar um qualquer via pública.
para retornar. Agora querem os funcionários. Aguardei mais empate contra um time de ama- Quem precisa passar pela
vender o patrimônio público e de três horas para conseguir dores, cujos jogadores exercem Tijuca, Copacabana, Méier,
destruir o país. atendimento. Até quando quer outras profissões. Outra grande Madureira ou Centro da
Somente um candidato nacio- ajudar, o governo Temer erra.  diferença entre nós e eles, é que cidade verá que andar
nalista será capaz de reverter a Evandro B. Coelho  eles sentem orgulho de viver num nas calçadas é uma
maioria dos atos deste desgo- Rio de janeiro  país sem corrupção, com empre- aventura.
verno. gos dignos, superseguro e com A prefeitura não faz coisa
Moreira Franco, velho conhe- ELEITORADO serviços públicos de primeiríssima alguma para melhorar o
cido aqui do Rio de Janeiro, Nos jornais e nas TVs assis- qualidade para a população. trânsito dos pedestres. Na
há mais de 30 anos conseguiu timos aos candidatos à presi- Enquanto o Brasil parar nos feria- praça Saens Peña é comum ser
fazer um dos piores governos da dência da República querendo dões, e achar que a vida é apenas assaltado. Em qualquer bairro
nossa história. herdar o eleitorado do PT. Entre samba, cerveja e futebol, vamos as calçadas são tomadas por
O que esperar quando Ali Babá eles, Marina Silva, oriunda do continuar levando goleada dos camelôs.
governa a utópica terra dos PT, Roberto Freire, oriundo do países que estão disputando uma Parece que os moradores são os
Macunaímas? PCB, e mais os candidatos do simples Copa do Mundo. estranhos.
PSOL, PCdoB e PSB. João Direnna Wallace Pires de Carvalho
Rio de Janeiro Essa parcela que eles tanto de- Quissamã-RJ Rio de janeiro
Quarta-feira, 20 de junho de 2018
Solução final para Petrobras
Base governista aproveita projeto de lei para embarcar a solução dos contratos da cessão onerosa
As ações da Petrobras fecharam
o pregão de ontem na B3 em alta.
Os papéis PNs valorizaram 6,34%,
enquanto o valor das ONs subiu
3,72%. O otimismo do mercado
pode estar ligado à proximidade
de uma solução para o impasse
da Cessão Onerosa do Pré-sal, re-
centemente incluída no texto do
Projeto de Lei 8939/17, cujo ponto
central era a liberação da Petrobras
para repassar à iniciativa privada
até 70% de cada área contratada
sob aquele regime. O PL, que corre
em regime de urgência, estava na
pauta para ser discutido no plená-
rio da Câmara ontem à noite.
O texto discutido no Con-
gresso foi alterado pelo relator,
o ex-ministro Fernando Bezerra
Coelho Filho (DEM/PE), que in-
cluiu a possibilidade de um mo-
delo compensatório alternativo
pela mudança dos parâmetros do
contrato de Cessão Onerosa assi-
nado em 2010. Uma vez definida
como devedora, como próprio
texto indica que será, a União
poderá ressarcir a Petrobras com
direitos de produção, ou seja,
barris de petróleo. Há meses, essa
saída política vem sendo cogita-
da pela base do governo. A solu-
ção do impasse é uma exigência
do Tribunal de Contas da União
(TCU) para liberar o megaleilão
do excedente da área, que pode
chegar a 15 bilhões de barris. A
licitação no apagar das luzes de
2018 poderia garantir larga arre-
União não tem folga para
financiar precatórios
O ministro do Planejamento,
Desenvolvimento e Gestão, Esteves
Colnago, disse ontem que o governo
federal não tem dotação orçamen-
tária para oferecer empréstimo sub-
sidiado para estados e municípios
pagarem os precatórios devidos.
A medida está prevista na emen-
da constitucional 99, promulgada
em dezembro do ano passado, que
adiou de 2020 para 2024 o prazo
para os entes quitarem essas dívidas
dentro de um regime especial.
De acordo com a emenda, em
até seis meses, a União, direta-
mente, ou por intermédio das ins-
tituições financeiras oficiais, deve
disponibilizar uma linha de cré-
dito especial para pagamento dos
precatórios.
Os precatórios são as dívidas
contraídas pelos governos em to-
das as esferas, quando são conde-
nados em instância final pela Jus-
tiça, a pagar a pessoas físicas ou
jurídicas.
Segundo Colnago, o governo
não conseguiu retirar o dispositivo
da proposta e agora, para cumprir
essa obrigação, será preciso abrir
espaço no orçamento. “Alguma coi-
sa terei que deixar de fazer”, diz.
“Vamos ter essa discussão den-
tro do Executivo, para ver como
atender e se vamos atender”, disse,
explicando que a própria Cons-
tituição diz que é preciso ter do-
tação orçamentária para cumprir
as obrigações, assim a Lei de Res-
ponsabilidade Fiscal e a Lei de
Diretrizes Orçamentárias pedem
NÚMEROS DAS ÁREAS SOB REGIME DE CESSÃO ONEROSA
CAMPO
(MILHÕES DE BARRIS)
ITAPU (EX-FLORIM)
SÉPIA ( EX-NORDESTE DE
TUPI)
BÚZIOS (EX-FRANCO)
ATAPU, BERBIGÃO E
SURURU
(EX-ENTORNO DE IARA)
SUL DE LULA (EX-SUL DE
TUPI)
SUL DE SAPINHOÁ
(EX-SUL DE GUARÁ)
TOTAL
cadação a um governo em difí-
cil situação fiscal.
O texto ainda prevê o ressarci-
mento de eventuais perdas da com-
panhia em caso de devolução de
campos sob Cessão Onerosa, mais
uma vantagem ao plano de negó-
cios atual da Petrobras, pautado em
desinvestimentos de toda ordem.
Em plenário, os deputados
decidiram que o excedente das
áreas sob cessão onerosa serão
licitados, por regime de parti-
Conalgo: orçamento restrito não vai permitir empréstimos subsidiados
essa compatibilidade orçamentá-
ria. Para o ministro, mesmo para
o orçamento do ano que vem,
para que o financiamento seja
oferecido aos entes, outras despe-
sas deverão ser reduzidas. “É uma
discussão que veremos ao longo
do tempo e no envio da LOA (Lei
Orçamentária Anual)”, explicou.
Regulamentação
De acordo com o secretário do
Tesouro Nacional, Mansueto Al-
meida, o que o governo pode fa-
zer até 30 de junho é regulamen-
tar a lei, já que não existe previsão
no orçamento. “Também não foi
feita a estimativa de impacto eco-
nômico e financeiro. Mas o im-
pacto não será nesse ano, nem no
Economia&Negócios
VOLUME VOLUME EXCEDENTE
CONTRATADO MÍNIMO
(MILHÕES DE BARRIS)
466,968 300
427,784 500
3056,000 6500
599,560 2500
128,051 – –
319,107 – –
4997,469 9300
lha, uma vitória da oposição.
De autoria do deputado José
Carlos Aleluia, também do DEM,
texto permite que a estatal repas-
se campos da cessão onerosa à
petroleiras privadas por convite,
sem licitação. O formato de ne-
gócios é muito lucrativo porque
não há participação especial para
a União e só incide sob a produ-
ção royalties de 10%.
Com o preço do barril de pe-
tróleo a US$ 70 e um custo de
Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
próximo”, disse.
Almeida explicou que, antes
de acessar a linhas de crédito da
União, os estados e municípios
têm prazos e precisam recorrer
aos recursos próprios e outros
mecanismos para pagar os preca-
tórios.
Segundo levantamento feito
pelo Conselho Nacional de Justi-
ça (CNJ), até junho de 2014, a dí-
vida total da União, dos estados,
do Distrito Federal e dos muni-
cípios com precatórios era de R$
97,3 bilhões. A maior dívida é dos
estados e alcança R$ 52,7 bilhões
nos tribunais federais, estaduais e
trabalhistas. A dívida dos muni-
cípios é de R$ 43,7 bilhões e a da
União, de R$ 935 milhões.
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VOLUME EXCEDENTE
MÁXIMO
(MILHÕES DE BARRIS)
500
700
10.000
4.000
15.200
Fonte: CNPE
produção estimado em US$ 27
por barril, o ex-consultor do
Congresso Paulo Cesar Ribeiro
Lima calcula um valor presente
líquido de R$ 173,3 bilhões para
os 5 bilhões de barris da cessão
onerosa e R$ 500 bilhões para
os excedentes. Lima lembra que
os termos vantajosos da Cessão
Onerosa foram acordados para
capitalizar a estatal em um mo-
mento difícil e não deveriam va-
ler para companhias privadas.
VW e Ford anunciam
aliança estratégica global
A alemã Volkswagen e a ame-
ricana Ford anunciaram ontem
“aliança estratégica” global para
reforçar a competitividade de am-
bas. De acordo com comunicado
conjunto, as montadoras analisam,
entre outras iniciativas, uma união
para desenvolver uma linha de veí-
culos comerciais. Entre as possibili-
dades estão projetos de novas vans,
segmento em que a Volkswagen é
forte na Europa, e picapes de gran-
de porte, mercado dominado pela
Ford nos EUA.
As companhias afirmaram que
a aliança não envolve aportes fi-
nanceiros nem troca de ações, mas
não deram detalhes. Não há infor-
mações também sobre os países
em que a parceria poderá ser efe-
tivada. No Brasil, as duas empresas
também informaram que detalhes
sobre possível impactos no País só
Cade não obsta plano
de recuperação da Oi
O Conselho Administra-
tivo de Defesa Econômica
(Cade) deferiu o pedido da
Oi pelo não conhecimento da
operação de aumento de ca-
pital da companhia, na forma
que está prevista no plano de
recuperação judicial já apro-
vado pelos credores e homo-
logado pela Justiça. Agora, o
processo será encerrado no
dia 04 de julho. Se até esta
11
Estatal tem
julgamento
de R$ 15 bi
A julgar pela alta das ações da
Petrobras na Bolsa, o mercado ig-
norou a maior ação trabalhista da
história estatal, que será julgada
amanhã no Tribunal Superior do
Trabalho (TST). Se for condena-
da, a empresa terá de pagar R$ 15
bilhões aos trabalhadores e os us-
tos com pessoal aumentará até R$
2 bilhões por ano.
A causa é referente a disputa
entre Petrobras e os trabalhadores
representados pelo Sindipetro, o
sindicado dos petroleiros, dos es-
tados do ES, RJ, BA, MG, SP, PE,
PB, SE, AL, RN, CE, PI, PR, SC e
RS sobre um acordo coletivo fir-
mado em 2007. O entendimento
previa benefícios como adoção de
uma política para equalizar salá-
rios com uma remuneração míni-
ma por cargo e região, a chamada
remuneração mínima por nível e
regime (RMNR).
No processo, os trabalhadores
pedem um novo formato de cálculo
para adicionais como trabalho no-
turno, sobreaviso e confinamento.
Na prática, o acolhimento do pe-
dido pela Justiça quase dobraria os
valores envolvidos. No balanço de
2017, a estatal havia declarado que
a expectativa “é de perda possível”.
poderão ser avaliados futuramente.
Thomas Sedran, diretor de estra-
tégia do grupo Volkswagen, ressal-
tou que as demandas do mercado
e dos clientes estão se modificando
a uma velocidade “incrível” e que
ambas as empresas já têm posi-
ções fortes e complementares em
diferentes segmentos de veículos
comerciais.
Autolatina
potencial colaboração industrial
com a Ford é vista como uma opor-
tunidade para melhorar a competi-
tividade global das duas compa-
nhias”, afirmou, em nota. As duas
marcas já estiveram unidas na Au-
tolatina, joint venture que operou
no Brasil e na Argentina de 1987 a
1996, mas, nesse caso, é uma par-
ceria mundial que envolve apenas
desenvolvimento de produtos.
data, não houver manifesta-
ções contrárias à decisão do
Cade, o deferimento estará
confirmado.
Após esta confirmação, e
com a anuência já concedi-
da pelo Conselho Diretor da
Agência Nacional de Teleco-
municações (Anatel), todas
as etapas necessárias para a
realização do aumento de ca-
pital serão cumpridas.
12 • Conheça nosso site www.jb.com.br Internacional Quarta-feira, 20 de junho de 2018

CAMPO DE DESLOCADOS Mundo tem

recorde de
Copa é oásis da alegria na Síria refugiados

P
ara dezenas de civis
deslocados na Síria, a
paixão pelo futebol é
um dos poucos refú-
gios em um país assolado pela
guerra e pelo terrorismo. Até a
final da Copa do Mundo, em
15 de julho, bilhões de pessoas
acompanharão as partidas do
Mundial no conforto de suas
casas sem se darem conta de
que vivem um grande privilé-
gio. Em Ain Issa, cidade próxi-
ma à fronteira com a Turquia,
dezenas de pessoas se reúnem
desde o início da competição
em um acampamento que
abriga 13 mil deslocados para
assistir às transmissões dos jo-
gos na Rússia. Juntos alimen-
tam o mesmo sonho: acom-
panharem a Copa de 2022 de
volta às suas casas.
Na pequena cidade loca-
lizada a 50 quilômetros de
Raqqa, antiga capital do gru-
po terrorista Estado Islâmico
(EI), crianças, adolescentes e
adultos têm os olhos fitados
em projeções dos jogos dispu-
tados pelas principais seleções
do planeta. A estrutura foi
providenciada por uma asso-
ciação de caridade. Na região
que já viveu sob o controle do
EI, vibrar pelo futebol parece
fora da realidade: os extremis-
tas consideravam o esporte
uma tradição “de infiéis”.
Na segunda Copa do Mun-
do desde o início da guerra ci-
Deslocados sírios acompanham partida entre Costa Rica e Sérvia, no último domíngo, em Ain Issa
vil síria, em 2011, acompanhar
os jogos mesmo longe de casa
é um avanço simbólico para
a humanização do cotidiano
dos deslocados no país. “Gra-
ças a Deus, nos livramos do
EI e podemos ver as partidas
em liberdade. Apesar das cir-
cunstâncias difíceis, estamos
felizes”, diz Abdullah Fadel al-
-Obeid, ex-jogador de futebol
de 30 anos que vivia nos su-
búrbios de Aleppo.
No entanto, apesar do en-
gajamento, a influência extre-
mista e o terror do conflito que
matou 350 mil pessoas afeta-
ram o engajamento com o es-
porte, especialmente entre os
mais jovens, que não conhe-
ceram uma realidade diferen-
te da guerra. “A guerra afetou
esta geração, privando-a dos
esportes por sete anos”, afirma
Abdullah Abdel Baset, de 47
anos, fã de futebol e que treina
equipes de jovens nos acampa-
mentos. “Antes havia um gran-
de entusiasmo, mas agora as
pessoas quase não aplaudem, a
não ser que se marque um gol”.
Entre os espectadores, um
nome desperta unanimidade:
Mohamed Salah, jogador da
Delil Souleilman/AFP
seleção do Egito e ícone no
mundo árabe. Al-Obeid, tor-
cedor do time egípcio “Faraós”,
lamentou a ausência do atleta
na primeira partida contra o
Uruguai e provavelmente vi-
brou pelo pênalti bem sucedi-
do na disputa contra a Rússia.
Ainda que o Mundial re-
presente um breve período de
alegria e distração em meio
à guerra, a paz está longe do
horizonte sírio. Ontem, um
ataque atribuído a Israel pelo
governo de Bashar al-Assad no
leste do país matou 52 comba-
tentes pró-regime.
GENEBRA - O número de refu-
giados e deslocados internos no
mundo chegou a um patamar
recorde em 2017, de acordo com
o Alto Comissariado das Nações
Unidas para Refugiados (Acnur).
De acordo com o levantamento,
68,5 milhões de pessoas foram
afetadas por conflitos, persegui-
ções ou desastres, um aumento de
3,1 milhões de casos em relação a
2016. Destes, 85% vêm de países
em desenvolvimento, contrarian-
do a narrativa de que se concen-
tram em grandes quantidades no
hemisfério norte.
As crises vividas na República
Democrática do Congo e na Ve-
nezuela, a guerra no Sudão do Sul
e o perseguição à minoria étnica
rohingya no Mianmar contribuí-
ram para o impulsionamento des-
ses números. Segundo o Acnur, o
número de deslocados internos
diminuiu de forma tímida, em-
bora esteja no patamar dos 40 mi-
lhões, e o contingente de refugia-
dos cresceu expressivamente. A
Turquia é o país que mais recebeu
asilados em números absolutos,
mas o Líbano é o maior anfitrião
se levada em conta a proporção da
população nacional.
Os venezuelanos, a quarta na-
cionalidade com mais pedidos
de asilo, fizeram 111.600 apelos
em 2017, um aumento de 30%
em relação ao ano anterior. Peru,
Estados Unidos, Brasil e Espanha
são os principais destinos daque-
les que pleiteam a condição de
refugiados.

EUA deixam conselho da ONU Andrew Caballero-Reynolds/AFP

WASHINGTON - Em mais um mo-
vimento de ruptura de sua polí-
tica externa, os Estados Unidos
anunciaram ontem a retirada
do país do Conselho de Direitos
Humanos das Nações Unidas
(CDH), sediado em Genebra, na
Suíça. É a primeira vez na histó-
ria que uma nação deixa volun-
tariamente o órgão.
A embaixadora dos EUA na
ONU, Nikki Haley, classificou o
CDH como um órgão “hipócri-
ta e autocentrado” e o acusou de
proteger países que desrespeitam
os direitos humanos e alimentar
um viés anti-Israel “despropor-
cional”. A diplomata, que chegou
a cogitar a saída do país do con-
selho no ano passado, enfatizou
que a medida não significa o re-
cuo dos EUA na defesa dos di-
reitos humanos e abriu margem
para um possível retorno do país
ao órgão caso ele seja reformado
aos moldes do que desejam os
americanos.
Imediatamente após o anún-
cio de Haley, vários dos 47 paí-
ses-membros do CDH “decep-
ção” pela retirada americana em
uma carta ao secretário de Esta-
do dos EUA, Mike Pompeo. O
secretário-geral da ONU, Antó-
nio Guterres, também lamentou
a decisão e defendeu os esforços
da entidade na defesa dos direi-
tos humanos.
A decisão foi tomada em meio
à polêmica política de separação
de crianças imigrantes de seus
pais na fronteira com o México,
criticada por conservadores e
progressistas e classificada pela
oponente democrata Hillary
Clinton como uma crise huma-
nitária. Na última segunda-feira,
o alto comissário da ONU para
os Direitos Humanos, Zeid Ra’ad
al-Hussein, também condenou a
medida.
No âmbito da ONU, entida-
Haley anuncia saída dos EUA
de alvo de críticas da campanha
presidencial de Donald Trump
em 2016, a saída do conselho é
o gesto mais contundente desde
a saída dos EUA do Fundo das
Nações Unidas para a Infância
(Unicef). O CDH, criado em
2006, é o principal foro de dis-
cussão das prerrogativas defini-
das pela Declaração Universal
dos Direitos Humanos, de 1948,
da qual os EUA são signatários.
Desde o início do mandato
de Trump, em 20 de janeiro de
2017, os EUA também deixaram
o Acordo de Paris, que estabelece
metas de combate às mudanças
climáticas, e o acordo nuclear do
Irã, ambos assinados durante o
governo do antecessor democra-
ta Barack Obama.
Com a saída dos EUA do
CDH, teme-se que a agenda da
política externa da Casa Bran-
ca se volte para uma defesa ain-
da mais enfática do governo de
Benjamin Netanyahu. Em maio,
os EUA transferiram sua embai-
xada de Tel Aviv para Jerusalém,
rompendo com um entendi-
mento histórico da comunidade
internacional pela neutralidade
da cidade disputada com os pa-
lestinos.
Diálogo é
suspenso na
Nicarágua
MANÁGUA - Os bispos da Con-
ferência Episcopal da Nicarágua,
principais mediadores na violen-
ta crise política vivida pelo país,
anunciaram ontem a suspensão
do diálogo com o presidente Da-
niel Ortega. A decisão vale até que
o governo oficialize o convite para
que a Comissão Interamericana
de Direitos Humanos (CIDH),
o Alto Comissariado das Nações
Unidas para os Refugiados (Ac-
nur) e a União Europeia inspecio-
nem a nação centro-americana.
Ontem, a crise se agravou de-
pois de uma ofensiva do governo
para recuperar o controle da ci-
dade de Masaya, de 100 mil habi-
tantes, que se declarou rebelde na
última segunda-feira e exige a re-
núncia de Ortega e sua vice. Des-
de abril, 186 pessoas morreram na
onda de protestos no país.

Chavismo realiza troca de cadeiras

Os principais nomes do chavismo reorganizaram na
última semana os principais postos de comando da
Venezuela, um ciclo que se completou ontem com a
eleição de Diosdado Cabello, número dois do regime, para
a presidência da Assembleia Constituinte. Ele substitui
Delcy Rodriguez, nomeada na última quinta-feira como
vice-presidente do país no lugar de Tareck El Aissami, que
assumiu o ministério da Indústria. Cabello, que foi vice
de Chávez em 2002, comandará o órgão que, na prática,
anulou o parlamento dominado pela oposição. Ele é acu-
sado de ter ligações com o narcotráfico e de ter recebido
US$ 100 milhões em propinas da Odebrecht.
JB
Quarta-feira, 20 de junho de 2018
Conheça nosso site www.jb.com.br • Não pode ser vendido separadamente Ozan Kose/AFP

ACORDARAM
Os russos entraram na Copa. Se a goleada por 5 a 0 sobre a Arábia
Saudita foi vista sob certa desconfiança, os 3 a 1 de sobre o Egito, com
Salah, despertou de vez um país de cerca de 145 milhões de pessoas. A
Rússia está praticamente nas oitavas. A festa vai continuar. Pág. 6
2 Quarta-feira, 20 de junho de 2018 Conheça nosso site www.jb.com.br • Não pode ser vendido separadamente

JORNAL DO BRASIL

Jack Guez/AFP

TABELINHAS
As caras da Copa Mladen Antonov/AFP Jack Guez / AFP
IBOPE A vitória da
Estádio de futebol também Inglaterra sobre a
Tunísia deu mais
é lugar de princesas
audiência na televisão
As relações entre Rússia e Japão no Reino Unido do
continuam sendo tensas, por causa de que o casamento do
diferenças relativas às ilhas Kurilas, em príncipe Harry. O jogo
poder de Moscou. Mas se o futebol é teve pico de audiência
capaz de pausar guerras, conseguiu outra 18,3 milhões de
façanha: a princesa japonesa Takamado espectadores.
assistiu à vitória do Japão sobre a Co-
lômbia. Há 102 anos nenhum membro da LEÃO COLOMBIANO TORCIDA DO SOL NASCENTE
família imperial visitava a Rússia. A prin-
cesa vai assistir ao jogo contra Senegal. Franck Fife /AFP Francisco Leong/AFP
CIDADANIA Após a
vitória por 2 a 1 sobre a
Polônia, os torcedores
de Senegal deram
um belo exemplo e
limparam boa parte
da arquibancada do
tádio do Spartak, em
Moscou.

BEIJINHOS À POLONESA UNIÃO FAZ O SENEGAL

Gabriel Bouys/AFP Giuseppe Cace/AFP

VERGONHA Já os
suíços, quem diria,
estão fazendo feio.
Vídeos que circulam nas
redes sociais mostram
SHAQUIRA vestiu o uniforme da Colômbia torcedores urinando nas
nos lindos filhos Milan, 5 anos, e Sacha, do ruas. Eles estão sendo
casamento com o craque Piqué, para torcer chamados de porcos
ontem. Pena que a torcida não deu sorte. pelos russos. Bem feito! BELEZA DO FUTEBOL RUSSO FÉ NO FARAÓ

Martha Esteves

PRIMEIRA FASE
GRUPO A GRUPO B GRUPO C GRUPO D
14/06 12h Moscou Rússia 5 x 0 Arábia Saudita 15/06 12h São Petesburgo Marrocos 0 x 1 Irã 16/06 7h Kazan França 2 x 1 Austrália 16/06 10h Moscou Argentina 1 x 1 Islândia

15/06 9h Ecaterimburgo Egito 0 x 1 Uruguai 15/06 15h Sochi Portugal 3 x 3 Espanha 16/06 13h Saransk Peru 0 x 1 Dinamarca 16/06 16h Kaliningrado Croácia 2 x 0 Nigéria

19/06 15h São Petesburgo Rússia 3 x 1 Egito 20/06 9h Moscou Portugal x Marrocos 21/06 9h Samara Dinamarca x Austrália 21/06 15h Nijni Novgorod Argentina x Croácia

20/06 12h Rostov Uruguai x Arábia Saudita 20/06 15h Kazan Irã x Espanha 21/06 12h Ecaterimburgo França x Peru 22/06 12h Volgogrado Nigéria x Islândia

25/06 11h Samara Uruguai x Rússia 25/06 15h Saransk Irã x Portugal 26/06 11h Moscou Dinamarca x França 26/06 15h São Petesburgo Nigéria x Argentina

25/06 11h Volgogrado Arábia Saudita x Egito 25/06 15h Kaliningrado Espanha x Marrocos 26/06 11h Sochi Austrália x Peru 26/06 15h Rostov Islândia x Croácia

GRUPO E GRUPO F GRUPO G GRUPO H

17/06 9h Samara Costa Rica 0 x 1 Sérvia 17/06 12h Moscou Alemanha 0 x 1 México 18/06 12h Sochi Bélgica 3 x 0 Panamá 19/06 9h Saransk Colômbia 1 x 2 Japão

17/06 15h Rostov BRASIL 1 x 1 Suíça 18/06 9h Nijni Novgorod Suécia 1 x 0 Coreia do Sul 18/06 15h Volgogrado Tunísia 1 x 2 Inglaterra 19/06 12h Moscou Polônia 1 x 2 Senegal

22/06 9h São Petesburgo BRASIL x Costa Rica 23/06 12h Rostov Coreia do Sul x México 23/06 9h Moscou Bélgica x Tunísia 24/06 12h Ecaterimburgo Japão x Senegal

22/06 15h Kaliningrado Sérvia x Suíça 23/06 15h Sochi Alemanha x Suécia 24/06 9h Nijni Novgorod Inglaterra x Panamá 24/06 15h Kazan Polônia x Colômbia

27/06 15h Moscou Sérvia x BRASIL 27/06 11h Kazan Coreia do Sul x Alemanha 28/06 15h Kaliningrado Inglaterra x Bélgica 28/06 11h Volgogrado Japão x Polônia

27/06 15h Nijni Novgorod Suíça x Costa Rica 27/06 11h Ecaterimburgo México x Suécia 28/06 15h Saransk Panamá x Tunísia 28/06 11h Samara Senegal x Colômbia

SEGUNDA FASE DECEPÇÃO DO DIA

SALAH
Gabriel Bouys/AFP

OITAVAS DE FINAL OITAVAS DE FINAL

QUARTAS DE FINAL QUARTAS DE FINAL

30/6 SOCHI 15H 1/7 MOSCOU 11H

1º A 6/7 NIJNI NOVGOROD 11H 7/7 SOCHI 15H 1º B

SEMIFINAL SEMIFINAL 1°B OU 2°A
1°A OU 2°B

2º B 11/7 MOSCOU 15H 2º A

10/7 SÃO PETERSBURGO 15H

VENCEDOR VENCEDOR 1/7 NIJNI NOVGOROD 15H

30/6 KAZAN 11H

1º C 1º D
1°D OU 2°C
1°C OU 2ºD FINAL
2º D 15/7 MOSCOU 12H 2º C

VENCEDOR CAMPEÃO VENCEDOR

2/7 SAMARA 11H 3/7 SÃO PETERSBURGO 11H

7/7 MOSCOU 11H

1º E 6/7 KAZAN 15H 1º F
1°E OU 2°F 1°F OU 2°E
2º F 2º E

2/7 ROSTOV 15H VENCEDOR VENCEDOR 3/7 MOSCOU 15H

3° LUGAR
1º G 14/7 SÃO PETERSBURGO 11H
1º H
1°G OU 2°H 1°H OU 2°G TRISTEZA Salah chegou à Rússia como candi-
dato a melhor jogador do Mundial, mas deve ir
2º H PERDEDOR VENCEDOR PERDEDOR 2º G
embora sem ter confirmado as apostas feitas nele.
 Quarta-feira, 20 de junho de 2018

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JORNAL DO BRASIL

Renato Mauricio Prado

renato.mprado@jb.com.br

Nivelou geral? padrão para todas as seleções. Ora

SOCHI - Favoritos derrotados,
empates surpreendentes e dificul-
dades inesperadas até para os que
venceram. O que está havendo
nos gramados da Rússia? Os mais
fortes pioraram ou os mais fracos
melhoraram? Essa é, no momen-
to, a grande questão na Copa do
Mundo.
Não tenho dúvida de que boa
parte da resposta está no fenôme-
no da globalização. Praticamente
todas as seleções são formadas por
jogadores que atuam nos princi-
pais centros da Europa. Senegal,
que derrotou ontem a Polônia, é
um bom exemplo. E até os japo-
neses, que bateram a Colômbia,
andam se aventurando além da
terra do Sol Nascente.
Quem diria, a tal frase “não tem
mais bobo no futebol”, que surgiu
inicialmente como desculpa esfar-
rapada para treinadores surpre-
endidos por rivais inexpressivos,
parece que, pouco a pouco, vai se
tornando uma verdade.
As famosas duas linhas de
quatro, ou ainda a de cinco, mais
próxima à própria área, se tornaram
bolas, a retranca sempre existiu,
dirão alguns. É verdade, mas com
a evolução do preparo físico e a
chamada “compactação”, igualmen-
te, adotadas por quase todas as se-
leções na Copa, ficou, de fato, bem
mais difícil chegar ao gol adversário.
E tome de jogo duro entre Islândia
e Argentina, Suíça e Brasil, México
e Alemanha, França e Austrália e
por aí vai. Por que, diabos, então,
tamanho nivelamento não se dá nas
grandes ligas europeias?
Primeiro, é importante ressaltar
que até na Liga dos Campeões
zebras têm sido mais frequentes e
jogos que se antecipavam fáceis,
se tornaram mais difíceis. Depois,
não custa lembrar, nesse caso,
estamos falando de times, que
treinam juntos o ano inteiro, não
de seleções que se juntam even-
tualmente. É bem diferente. Um
time talentoso e bem entrosado
terá sempre mais armas e facilida-
de para dobrar as retrancas rivais
do que uma seleção que, por mais
que se reúna para fazer amistosos e
competições esporádicas, dificil-
mente chegará a jogar por música.
Ainda creio que depois da pri-
meira fase, na hora do vamos ver,
do mata-mata, a tendência será de
crescimento das grandes potências
e desaparecimento paulatino dos
azarões. Mas do jeito que a coisa
vai, prefiro esperar a apostar.
OLHO VIVO
Alguém esperava vitórias cate-
góricas da, até então combalida,
Rússia nas duas primeiras roda-
das? Estará o controle antidoping
de olho nos anfitriões?
“Vada a bordo”, doutor!
É inadmissível que Rodrigo
Lasmar, médico da seleção que
operou Neymar, há cerca de três
meses, se esconda atrás de um
assessor de imprensa, depois que
o principal jogador do Brasil
deixou o campo manquitolando
e com expressão de dor, no pé
que sofreu a cirurgia e foi alvo de
uma série de bordoadas no jogo
de estreia.

Tarso Sarraf/AE Fotos de Adrian Dennis/AFP

Tropeço do
Brasil motiva
adversários
SÃO PETESBURGO - O tropeço do
Brasil na estreia contra a Suíça está
servindo de combustível para moti-
var seus próximos adversários. Mes-
mo vindo de uma derrota para a Sér-
via, os costarriquenhos começaram
a acreditar numa façanha. “A Suíça
conquistou um ponto. Então os bra-
sileiros não são invencíveis. Vamos
com tudo para obter um bom resul-
tado contra eles”, avisou o atacante
Três momentos de expectativa (da esquerda para a direita): a contusão, a saída de campo e a dificuldade para subir o degrau Marcos Uraña durante entrevista re-
alizada em São Petersburgo.

SINAL DE ALERTA:
Assumir uma mentalidade ofen-
siva no duelo de sexta-feira é a saí-
da que resta aos rivais caso tenham
pretensões maiores do que chegar a
mais um Mundial. Para ele, sua equi-

NEYMAR MANCA
Atacante deixa treino e aumentam
dúvidas sobre sua presença na partida
de vida ou morte contra a Costa Rica
SOCHI - Dentro ou fora de campo, Neymar
é conhecido mundialmente pela irreverên-
cia e qualquer dor que ele venha a sentir de-
sencadeiam reações que vão muito além de
seu organismo e afetam toda uma nação. A
participação do atacante no treino de ontem
no Centro de Treinamento de Sochi, durou
poucos minutos - ainda no aquecimento - e o
craque deixou o gramado acompanhado pelo
fisioterapeuta Bruno Mazziotti.
Perseguido em campo na partida contra
a Suíça, quando sofreu 10 faltas e chegou a
mancar após girar o pé numa finalização,
Neymar foi poupado das atividades de se-
gunda-feira mas reapareceu, com um novo
corte de cabelo, na atividade de regeneração
realizada ontem. Participou de uma roda de
bobo e não demorou para se queixar de dores
no tornozelo.
A assessoria de imprensa da CBF infor-
mou que o atleta ficará sob os cuidados da
fisioterapia até a manhã de hoje, mas treinará
normalmente com o grupo na parte da tar-
de. Mas como o treino desta quarta-feira será
fechado existe a possibilidade concreta de
Neymar reaparecer na parte aberta e depois
voltar à fisioterapia, não treinar com os cole-
gas e isso passar despercebido da imprensa.
Concluído o aquecimento, o técnico Tite
comandou um trabalho de finalizações em
duas etapas. A falta de precisão nos arrema-
tes foi a principal reclamação do treinador na
acanhada estreia contra a Costa Rica. Titu-
lares no domingo, Gabriel Jesus e Casemiro
participaram da primeira parte da atividade
que consistia em cruzamentos laterais para
a área. A segunda parte do treino foi dada
atenção especial a troca rápida de passes num
campo em dimensões reduzidas.
Após o treinamento, Philippe Coutinho
participou da coletiva de imprensa. Questio-
nado sobre o que ocorreu com Neymar, disse
que não tinha muitas informações. “Vi o que
vocês viram, não conversei com ele depois.
Estava com minha família. Hoje (ontem) foi
dia de recuperação. Acredito que ele tenha
sentido um pouquinho de dor, mas isso é
Vai ser um normal”, minimizou o meia, destaque da se-
leção na estreia.
jogo difícil, Ao comentar sobre o duelo contra a Cos-
como todos os ta Rica, Coutinho disse que a partida já pode
ser considerada a primeira final da seleção no
jogos de Copa. Mundial. “Vai ser um jogo difícil, como todos
Temos que estar os jogos de Copa. Temos que estar ligados. Se
ligados” eles vierem mais defensivamente, temos que
ver como penetrar. Caso saiam para o jogo,
PHILIPPE COUTINHO, também temos que ver qual a melhor forma
Meio-campo do Brasil para marcar, defender e sair jogando”, destacou
o meia, que vive a melhor fase sua carreira.
Sobre o golaço que marcou na estreia,
Coutinho disse que é preciso saber as oportu-
nidades surgidas em campo. “Na minha po-
sição, às vezes a oportunidade que aparece é
para chutar de fora da área. Tive felicidade de
fazer o gol, se Deus quiser mais (gols) virão”,
arrematou o meia.
pe precisa saber tirar proveito da
pressão na qual a seleção comandada
por Tite se encontra e aproveitar os
contra-ataques. “Esperávamos mais
do Brasil, mas dá para ver que estão
lidando com muita pressão. Vamos
aproveitar. Eles têm que atacar e vão
abrir espaços”, previu o atacante de
28 anos, que atua no Los Angeles FC,
da Major League Soccer.
“A maior virtude da Costa Rica é
que ela é ordenada taticamente. O
Brasil tem que atacar para ganhar e
haverá espaços. O mais importante é
tentar aproveitar as opções. Sabemos
que é difícil mas não impossível, e
nós estaremos lá”, completou o ata-
cante Daniel Colindres.
Já do lado sérvio, o clima é de mais
respeito, mas os europeus levam uma
grande vantagem por terem vencido
a Costa Rica na primeira rodada e
dependerem apenas de si para seguir
nas competição. Uma vitória sobre a
Suíça na sexta-feira, em Kaliningra-
do, garante a classificação dos esla-
vos. “Estamos menos pressionados
porque vencemos o primeiro jogo.
Mas não podemos ser favoritos em
um grupo que tem o Brasil. Nossa
prioridade não é ficar em primeiro
ou segundo; é avançar de fase”, admi-
tiu o meia Luka Milivojevic.
Jogador do Crystal Palace, Milivo-
jevic disse que ninguém na seleção
sérvia esperava que o Brasil perdes-
se pontos diante da Suíça. E também
não arriscam dizer que terminarão
a fase de grupos no topo da tabela.
“Depende de sexta. Se vencermos,
então veremos. Mas depende do Bra-
sil, do que eles vão fazer”, disse.
4 Quarta-feira, 20 de junho de 2018 Conheça nosso site www.jb.com.br • Não pode ser vendido separadamente

JORNAL DO BRASIL

Nelson de Sá

Rússia contrasta com o Brasil Em suma, “a maior batalha que os

Em seu relato “ao vivo” do jogo
com o Egito, o russo Kommersant
não escondeu a surpresa com a
sequência de gols, publicando frases
como “O que está acontecendo?” e
“Você consegue acreditar nisso?”.
Outra, quase incrédulo: “Denis
alcança Ronaldo na artilharia”.
O jornal fechou o dia com man-
chete para o “jogo histórico”. No
texto, reportou o início dos gols: “E
então aconteceu. Foi como um mi-
lagre, uma revelação, o rompimento
de uma barragem”.
Avisou, ao leitor, que agora ele
“pode admitir” a eficiência da
seleção. A reportagem termina com
nova pergunta: “Quem teria imagi-
nado isso uma semana atrás?!”.
No enunciado do alemão
Süddeutsche Zeitung para o jogo,
“Rússia entra em modo de festa”.
E o inglês Guardian, usualmente
entre os mais críticos do país no
Ocidente, passou a destacar, entre
todos os seus textos sobre a Copa,
“Dez coisas que aprendemos” com
o torneio, até o momento.
A primeira é “A Rússia pode ser
um ótimo lugar para sediar uma
Copa”. Em outras palavras, “É pro-
vável que muita gente deixe a Rússia
com grandes lembranças e com
uma visão diferente do país”.
Em contraste, também na lista
das dez lições tiradas pelo Guar-
dian, “As inseguranças brasileiras
precisam acabar”.
Diz que depois do gol da Suíça
“o Brasil se desfez em pedaços e
subitamente perdeu o controle,
por um período de 15 minutos”.
brasileiros podem enfrentar é com
seu equilíbrio interno”.
Recorde para a Globo!” A conta
da Fifa no Twitter comemorou que o
jogo contra a Suíça “quebrou o recor-
de de audiência para eventos espor-
tivos no Brasil, com 55,89 milhões
de espectadores e 79,33% de share
para a Globo!”, desta vez a única TV
aberta na transmissão, no país.
A Fifa festejou outros números,
inclusive para aquele considerado o
melhor jogo, entre Espanha e Por-
tugal: share de 66,7% na Espanha,
68,2% em Portugal e até 46,4% na
Alemanha, somando 25,2 milhões
de telespectadores nos três países.
Na chinesa CCTV, a maior audiên-
cia “de longe” foi para Argentina e
Islândia: 44,7 milhões.
Os números divulgados pela
Fifa “não incluem a audiência por
streaming digital”. Às vésperas da
Copa, o IAB (Interactive Adverti-
sing Bureau), entidade que reúne
gigantes digitais como Google e
Facebook, divulgou pesquisa em 21
países mostrando que 65% anun-
ciavam que iriam assistir à Copa
em streaming, contra 71% para TV.
Em alguns deles, inclusive China e
EUA, a audiência digital prometia
ser maior.

O HOMEM CERTO
Jack Gaez/AFP

NA HORA CERTA
Niang supreende zaga
em lance polêmico
ao retornar a campo
após bola mal atrasada
POLÔNIA 1 COLÔMBIA
SENEGAL 2 JAPÃO
MOSCOU - No confronto de ontem entre
as seleções da Polônia e Senegal muito
se esperava dos atacantes Lewnadowski e
Mané, as estrelas das duas equipes. Mas a
vitória dos africanos por 2 a 1 no Estádio
do Spartak, em Moscou, em partida váli-
da pelo Grupo H, o protagonismo acabou
sendo das defesas. O placar não refletiu o
que foi a partida, pois um gol nasceu de
uma falha da zaga polonesa e o segundo
foi fruto de uma decisão controvertida do
árbitro Nawaf Shukralla, do Bahrein. A vi-
tória senegalesa foi a primeira de uma se-
leção do continente africano na primeira
rodada do Mundial e garantiu a liderança
do Grupo H, ao lado do Japão.
Foi uma partida fraca tecnicamente.
Os armadores das duas seleções abusa-
vam dos erros de passes. O primeiro gol
senegalês surgiu aos 37, após chute do volante
Gueye. A bola despretensiosa, resvalou duas
vezes na zaga, sendo que o último toque foi
do brasileiro naturalizado Thiago Cionek.
Mas o lance do jogo coube ao árbitro que
autorizou a volta do atacante Niang a cam-
po ao mesmo tempo que o volante polonês
Krychowiak atrasou para a zaga. Niang
apareceu por trás de Bednarek, livrou-se
do goleiro e concluiu para o gol vazio, aos
Neuer prevê uma decisão
a cada jogo para alemães
Depois da desastrosa atuação da
Alemanha diante do México, o goleiro
e capitão Manuel Neuer afirmou que,
a partir de agora, a equipe deve en-
carar todas as partidas como finais. O
próximo desafio dos atuais campeões
mundiais será a Suécia no sábado.
“Reclamar do que aconteceu não vai
mudar as coisas”, disse, resumindo o
clima na equipe alemã.
Quando retornei,
a defesa deles
estava voltando.
Senti que estava
em condição de
marcar o gol”
M’BAYE NIANG,
Atacante do Senegal
Fifa vai se manifestar
sobre queixa da CBF
O presidente da Fifa, Gianni In-
fantino, confirmou que a entidade
vai responder a carta da CBF que
reclama de decisões da arbitragem
no empate em 1 a 1 entre Brasil e
Suíça. Os lances citados pelo Brasil
foram analisados pela equipe do VAR
durante o jogo e avaliação foi de que
não houve nem falta em Miranda e
nem pênalti em Gabriel Jesus.
Franck Fife/AFP
O goleiro Szczesnyaut ensaia reclamação
após o lance com Niang, que toca para o gol
15 do segundo tempo. Lewandoski e seus
colegas reclamaram muito com a arbitra-
gem. Em vão, pois o VAR não viu irregu-
laridade no lance, mas não se pode negar
que Niang voltou ao gramado em posição
privilegiada. No desespero, os poloneses
descontaram com Krychowiak, aos 42.
“Quando retornei, a defesa deles estava
voltando. Senti que que estava em condi-
ção de marcar o gol”, explicou Niang.
Polônia: Szczesny, Piszczek (Bereszynski),
Pazdan, Cionek e Rybus; Krychowiak; Zie-
linski, Blaszczykowski (Bednarek), Milik
(Kownacki), Grosicki e Lewandowski. Sene-
gal: N’Diaye, Wagué, Koulibaly, Salif Sané e
Sabaly; Alfred N’Diaye (Kouyaté), Gueye,
Sarr, Mané, Diouf (N’Doye) e Niang (Kona-
té). Juiz: Nawaf Shukralla (Bahrein). Cartões
amarelos: Krychowiak, Sané e Gueye.
Policial participou de vídeo
obsceno com mulher russa
A Polícia Militar de Santa Catarina
abriu processo disciplinar contra um
tenente reconhecido entre os torcedo-
res que participaram de vídeo asse-
diando uma russa que repetia, sem
compreender, as expressões chulas di-
tas pelo grupo. O policial, que não teve
o nome revelado, trabalha em Lages e
está de férias, situação que não o livra
de responder pelo episódio.
Osako (15) comemora o seu gol, o da vitória
A vingança
pragmática
do samurai
1
2
SARANSKI - O Japão chegou desacre-
ditado na Rússia. Afinal havia troca-
do seu treinador poucos meses antes
e sua reparação também não foi das
melhores. Mas o obediente time ja-
ponês jogou com inteligência tática e
soube aproveitar muito bem a expul-
são de Carlos Sánchez, logo aos três
minuto: dominou a Colômbia e ven-
ceu por 2 a 1, pelo Grupo H. Uma boa
vingança dos samurais pela goleada de
4 a 1 sofrida para os colombianos na
Copa de 2014.
Os gols foram marcados por Ka-
gawa, de pênalti, aos 6 minutos e
Quintero, batendo falta ao estilo Ro-
naldinho, aos 38 do primeiro tempo.
Osako, de cabeça, garantiu a vitória
da seleção asiática aos 38 do segundo
tempo.
Carlos Sánchez foi o primeiro joga-
dor a receber um cartão vermelho na
Copa da Rússia e o segundo a ser ex-
pulso mais rápido na história das Co-
pas. Só perde para José Alberto Batis-
ta, que foi expulso em 54 segundos de
jogo no Mundial de 1986, na Espanha.
A Colômbia, jogando na base da
raça e do coração, bem que tentou
o empate até o fim da partida. Mas
como era de se esperar, os japoneses
se fecharam na marcação usando o
pragmatismo de sempre e saíram de
campo com a vitória merecidamente.
Colômbia: Ospina; Arias, Murillo,
Davinson Sánchez, Mojica, Carlos
Sánchez; Lerma, Izquierdo (Bacca);
Quintero (James Rodriguez); Juan
Cuadrado (Barrios) e Falcao. Japão:
Kawashima; H. Sakai, Yoshida, Shoji,
Nagatomo e Hasebe; Shibasaki (Yama-
guchi), Inui, Kagawa (Honda), Hara-
guchi e Osako (Osaki). Juiz: Damir
Skomina (Eslovênia). Cartões amare-
los: Barrios, James Rodríguez. Cartão
vermelho: Carlos Sánchez.
 Quarta-feira, 20 de junho de 2018

5
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JORNAL DO BRASIL

Tostão
Os catedráticos
BELO HORIZONTE - Gostei
do nível técnico da primeira
rodada. Nada excepcional. Notei
a pouca pressão em quem está
com a bola. As equipes preferem
recuar e fechar os espaços, para
contra-atacar. A Espanha foi o
melhor time, e a Arábia Saudi-
ta, o pior. Espanha e Portugal
fizeram o jogo mais agradável,
e Croácia e Nigéria, o mais
desagradável. Cristiano Ronaldo
foi o cara, e Coutinho fez o gol,
tecnicamente, mais brilhante.
A Islândia mostrou o melhor
sistema defensivo, e o México, o
melhor contra-ataque. A Alema-
nha foi a maior decepção.
A dificuldade das grandes
seleções, diante de equipes
inferiores, não foi surpresa, pois,
nos últimos anos, estes, em todo
o mundo, aprenderam a como
se posicionar defensivamen-
te. Achei excessivas as duras
críticas à Argentina e ao Brasil,
já que Islândia e Suíça marcaram
muito bem. Messi e Neymar ti-
veram grandes dificuldades. Das
principais seleções, a Bélgica foi
a única que ganhou com facili-
dade, porém, contra o fraquíssi-
mo Panamá.
Com exceção de Bélgica,
Inglaterra e Costa Rica, que ini-
ciaram as partidas com três za-
gueiros, todos os outros jogaram
com dois. A Bélgica, com três
defensores, foi a equipe mais
ofensiva, pois coloca três em seu
campo e sete no do adversário.
De Bruyne, o craque do time,
brilha de uma área à outra. É
o tipo de armador que falta ao
Brasil. Falo isso há mil anos.
A Alemanha, além de ca-
recer de um ótimo jogador
de ataque, teve uma atuação
defensiva desastrosa. Um time
com dois zagueiros não pode
atuar com o lateral-direito como
ponta e com os dois armadores
(Khedira e Kroos) no campo
adversário. As equipes, de todo
o mundo, que jogam com dois
zagueiros, possuem um volante
mais centralizado, que marca e
inicia as jogadas ofensivas, como
Casemiro, no Brasil, Busquets,
na Espanha, Kanté, na França.
A Alemanha só não levou uma
goleada porque o México não
tem ótimos atacantes.
Bastou o Brasil não atuar bem
e empatar contra o bom time da
Suíça para muitos torcedores e
jornalistas esportivos passarem
da euforia, do oba-oba, para a
depressão, como se a atuação
tivesse sido horrível. Pediram
até a saída de Neymar, e surgi-
ram enormes deficiências no
trabalho do técnico. Tite passou
de santo a mortal.
Na Copa, aumenta bastante o
número de analistas e convida-
dos famosos, que não acompa-
nham o futebol internacional e
que se acham os catedráticos.

FIASCO DOS Valentim troca

SUL-AMERICANOS
Primeira rodada do Mundial da Rússia foi marcada por muito
equilíbrio e teve mais da metade dos gols saindo de bola parada
GUILHERME BIANCHINI
guilherme.bianchini@jb.com.br
A primeira derrota para um asiático na
história. Apenas uma vitória em cinco par-
tidas. E um desempenho pior do que o da
Ásia. A primeira rodada da Copa do Mundo
foi desastrosa para a América do Sul. E po-
deria ser pior, já que o zagueiro uruguaio
Giménez garantiu o único triunfo sul-
-americano só aos 44 minutos do segundo
tempo, contra o Egito.
Na comparação histórica, é o menor
aproveitamento proporcional (33%) do
continente em primeiras rodadas desde o
Mundial de 1974. Na Alemanha Ocidental,
o empate do Brasil foi o ponto solitário
das quatro seleções da América do Sul –
aproveitamento de 12,5%, pois a vitória
valia dois pontos.
Para os africanos, a Rússia também vem
sendo um ambiente hostil. Os três pontos
conquistados por Senegal ontem foram os
únicos do continente, já que Egito, Marro-
cos, Nigéria e Tunísia acabaram derrota-
dos na estreia. Os asiáticos estão felizes da
vida. Depois de saírem do Brasil sem um
triunfo sequer, já conseguiram duas vitó-
rias, com Irã e Japão.
Se a vida está difícil para sul-americanos
e africanos, os europeus nadaram de bra-
çada na rodada inicial. Conquistaram
28 de 39 pontos possíveis (71%), um de-
sempenho que perde em apenas um pon-
to percentual para 2006, melhor ano dos
países do Velho Continente, em se tratan-
do de primeira rodada com 32 equipes.
Não é coincidência que 2006 tenha sido
a última Copa na Europa. Além disso,
Rússia e Bélgica foram as únicas seleções
que venceram por goleada – 5 a 0 e 3 a 0,
respectivamente.
ALGUNS A escassez de placares elásticos foi uma
NÚMEROS das marcas dos 16 jogos iniciais na Rús-
sia. Goleadas russa e belga à parte, a vi-
APROVEITAMENTO tória de 2 a 0 da Croácia sobre a Nigéria
DOS CONTINENTES foi a única por mais de um gol de diferen-
71% Europa ça. A grande superioridade das principais
seleções está ficando apenas na teoria, e é
40% Ásia cada vez mais difícil superar defesas. O 1
a 0 foi o placar que mais se repetiu (seis
33% América do vezes), seguido pelo 2 a 1 (quatro). Desde
Sul 2002, esta foi a primeira Copa sem 0 a 0.
33% América do Mundial das bolas paradas
Norte, Central e Caribe Diante da imposição defensiva, a bola
parada, incessantemente treinada, virou a
20% África principal arma para balançar a rede. Dos
38 gols, 20 saíram dessa forma, entre pê-
Pior desempenho naltis, faltas cruzadas na área, faltas dire-
proporcional da tas e escanteios. A porcentagem de 52% é
América do Sul desde superior aos 35% do Campeonato Alemão
1974 e aos 23% do Francês, para citar exemplos
de duas das cinco grandes ligas do mundo.
Gols de bola parada O predomínio na bola parada é do pê-
20 (52% do total nalti, impulsionado pelas consultas à vi-
de gols) deo-arbitragem (VAR). Os sete gols de
pênalti na Rússia já representam mais da
Rodada inicial sem 0 metade dos 12 que ocorreram em toda a
a 0 pela primeira vez Copa de 2014. E os dois pênaltis perdidos
desde 2002 (Messi e Cueva) foram suficientes para su-
perar o único erro de cobrança do Mun-
6 vitórias por 1 a 0. dial no Brasil.
Outra marca já batida em apenas uma
rodada foi a dos gols de falta direta –
quatro contra três. Golovin, Cristiano
Ronaldo, Kolarov e Quintero foram os
responsáveis. O português, por sinal, foi
quem mais brilhou na semana inicial, com
três gols diante da favorita Espanha.
Botafogo por
mundo árabe
O Botafogo apostou em Alberto
Valentim e parece que perdeu. Após
quatro meses no clube, o técnico
aceitou proposta milionária do fu-
tebol árabe. Valentim está na Rús-
sia acompanhando alguns jogos da
Copa e ainda não se pronunciou so-
bre qual será seu destino.
Na segunda-feira, o treinador tele-
fonou para o gerente Anderson Bar-
ros e comunicou que havia aceitado
a proposta dos árabes. O alvo agora
é Zé Ricardo, que tem o perfil dese-
jado, apesar de ser visto como caro
demais.
Já o Fluminense ouviu um não do
técnico Zé Ricardo logo na primeira
sondagem. Agora, os dirigentes vão
ter que redirecionar as negociações
com Dorival Junior, favorito para
substituir Abel Braga.
Paulo Angioni, apesar de ainda
não ter sido anunciado como diretor
executivo, trabalha ao lado do presi-
dente Pedro Abad e do vice de fute-
bol, Fabiano Camargo, para resolver
o problema o mais rapidamente pos-
sível, no máximo, até dia 26, quando
os jogadores se reapresentam.
Já em tom de despedida no Fla-
mengo, a menos de um mês de com-
pletar 18 anos e tornar-se oficialmen-
te jogador do Real Madrid, Vinicius
Junior já fala como atleta do clube
espanhol. O atacante deu entrevista
ao diário “Marca” e confirmou sua
apresentação em julho para a pré-
-temporada.
Perguntado se preferia retornar ao
Flamengo para terminar o ano e dis-
putar o Brasileiro ou ser emprestado
para outro clube europeu caso o Real
Madrid opte por não utilizá-lo no
momento, Vinicius foi objetivo: “Eu
prefiro jogar no Real Madrid, mas
eles vão saber o que é melhor para
mim”, admitiu o jovem atacante.

Ingleses treinam e se
divertem na piscina
Os jogadores da Inglaterra tiveram um
treino regenerativo no mínimo divertido,
ontem. Um dia após estrear com vitória
sobre a Tunísia, ele disputaram, na pis-
cina, corrida usando boias em formato
de unicórnio. O meia Jesse Lingard
gostou tanto da brincadeira que postou
fotos em suas redes sociais.
MARADONA ABRE O VERBO E CRITICA O EX-GENRO AGÜERO Vasco, aliviado, acerta
A metralhadora giratória de Diego Maradona não para. O ex-jogador voltou a dar
renovação de Pikachu
pitacos na seleção da Argentina, depois de alfinetar o técnico Jorge Sampaoli pelo Principal destaque vascaíno, com 13
empate com a Islândia. O alvo de suas críticas é Sergio Agüero, seu ex-genro: ele gols, Pikachu deixou acertada sua
foi casado com uma das filhas de Maradona, Gianinna, com quem tem um filho, renovação de contrato com o Vasco,
Benjamín. “Tomara que haja mudanças. Gosto do Pavón, creio que o meio de campo que não confirmou qual será a validade
também tem de mudar... E no ataque, digo com dor na alma por meu neto, creio que do novo vínculo. Já o caso de Andrés
Kun (Aguero) não deve jogar os 90 minutos. Se entrar de novo como titular, vamos Ríos, cujo contrato termina dia 30, está
queimá-lo por toda a Copa. Com Pavón e Higuaín, haveria alguém para cabecear”, difícil. O clube teria que pagar para
disse em seu programa “De La Mano Del Diez”, para o canal venezuelano Telesur. adquirir parte dos direitos econômicos.
6 Quarta-feira, 20 de junho de 2018
Antonin Thuillier/AFP
O goleiro El Shenawy salta em vão para evitar o primeiro gol russo
EXÉRCITO VERMELHO
MOSTRA AS ARMAS
Anfitriões vencem não
só o adversário, mas
também a desconfiança
sobre seu potencial
SÃO PETERSBURGO - Antes vista com
desconfiança aos olhos da torcida e das
demais seleções, a Rússia mostrou futebol
convincente pela segunda partida con-
secutiva. Como se estivessem desfilando
numa parada militar, os russos apontaram
seus tanques na direção do Egito e ven-
ceram a seleção do astro Mohamed Salah
por 3 a 1, em São Petersburgo, deixando
claro que em terra de czar faraó não tem
vez. Com o resultado, praticamente garan-
tiram vaga antecipada na próxima fase da
competição, o que acontecerá se o Uruguai
derrotar hoje, às 12h, a Arábia Saudita.
Embalada pela torcida e motivada pelo
bom resultado na estreia, a Rússia contro-
lou as ações. Pela esquerda, Zhirkov segu-
rava o ímpeto de Salah. O egípcio corria,
buscava espaços, mas o lateral-esquerdo
russo não saía do seu encalço.
Zhirkov, porém, não se restringiu ao
campo defensivo. Se mostrava opção viá-
vel, auxiliando Cheryshev pelo flanco es-
querdo do ataque russo.
A primeira chance do time treinado por
Cherchesov Stanislav veio aos 5 minutos,
quando Golovin roubou a bola na entrada
da área e bateu, oferecendo perigo.
Portugal duela com o Marrocos
MOSCOU - Não basta vencer. Tem que
convencer e mostrar que aprendeu com
os erros da estreia. Esse é o objetivo de
Portugal, que enfrenta o Marrocos, pelo
Grupo B, hoje, às 9h, no estádio Luzhni-
ki. O técnico Fernando Santos não quis
anunciar o time, mas tudo indica que An-
dré Silva poderá ganhar a vaga de Gonçalo
Guedes, e João Mário entrar no lugar de
Bruno Fernandes. Como era de se esperar,
o treinador confirmou que trabalhou com
os jogadores para tentar corrigir os erros
apresentados no empate com a Espanha
“Vamos ver se estaremos no ponto. Pro-
curamos pensar no que fizemos, nas coisas
boas e menos boas. Procuramos também
trabalhar para seguir melhorando o que
fizemos bem e corrigir as coisas não tão
boas. Mas são dois ou três dias. Não há um
pó mágico, mas Portugal tem capacidade
para fazer, na minha opinião, melhor do
que fez contra Espanha”, entende.
JORNAL DO BRASIL
Egípcios, desolados, assistem à comemoração de Cheryshev, autor do segundo gol russo
Cristophe Simon/AFP
URUGUAI
X ARÁBIA
ROSTOV - O Uru-
guai se classifica
para as oitavas
de final e também
garante a Rússia
se vencer hoje
a frágil Arábia
Saudita, às 12h.
Uruguai: Muslera,
Varela, Giménez,
Godín e Cáceres;
Nández (Carlos
Sánchez), Vecino,
Dzyuba bate continência após marcar o terceiro
Bentancur e
Arrascaeta (Ce-
bolla Rodríguez); A seleção do Egito tentava equilibrar as
Suárez e Cavani. ações, mas os jogadores de Hector Cuper
Arábia Saudita: tinham dificuldades na saída de bola.
Al-Maiouf, Al- Time rápido do meio-campo para frente,
-Burayk, Osama encontrou solução para resolver tal pro-
Hawsawi, Omar blema aos 15 minutos: apertar a marcação.
Hawsawi e Al- Salah, Marwan e Trezeguet fecharam os
-Shahrani; Otayf, espaços e deixaram os russos, ao menos
Al-Shehri, Al- por alguns minutos, numa enrascada.
-Jassim, Al-Faraj A mudança de atitude foi premiada
e Al-Dawsari; com um lance perigoso. Trezeguet recebeu
Al-Sahlawi. Juiz: e bateu de chapa para o gol de Akinfeev. A
Clément Turpin bola passou perto da trave esquerda.
(França). Os 45 minutos finais começaram agi-
tados. Aos 2 minutos, em lance bisonho,
os donos da casa abriram o placar. El She-
Francisco Leong/AFP
Autor dos três gols na estreia, Cristiano
Ronaldo sabe que tem mais uma chance
de aumentar sua artilharia. “Estou muito
feliz, é uma marca importante para minha
carreira”, disse o astro, após a façanha.
Mas é bom os portugueses se prepara-
rem para um jogo duro: os marroquinos,
que não vão contar com o atacante Nor-
din Anrabat, prometem lutar até o fim e
não se entregar na partida. “Os portugue-
ses têm dois pés, duas pernas”, destacou o
meia marroquino Fayçal Fajr, negando-se
a aceitar uma derrota.
Portugal: Rui Patricio, Cédric, Pepe,
José Fonte e Rapahel Guerreiro; William
Carvalho, João Moutinho, João Mário
(Bruno Fernandes) e Bernardo Silva; An-
dré Silva (Gonçalo Guedes) e Cristiano
Ronaldo. Marrocos: Munir, Sofyan Amra-
bat, Benatia, Saïss e Achraf Hakimi; El-
Cristiano Ronaldo quer -Ahmadi, Boussoufa, Ziyech, Belhanda e
aumentar artilharia hoje Harit; El-Kaabi. Juiz: Mark Geiger (USA).
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Gabriek Bouys/AFP
nawy saiu do gol de soco e afastou, mo-
mentaneamente, o perigo. A bola sobrou
para Zobnin, que pegou muito mal. O
capitão egípcio Fathi tentou fazer o corte,
mas a bola, caprichosa, bateu em seu joe-
lho e entrou no gol de El Shenawy.
Após o gol, era de se esperar que o Egito
tentasse dominar a partida. O que se viu,
porém, foi o domínio russo. Aos 13, os
donos da casa ampliaram o placar. Mário
Fernandes recebeu dentro da área e cru-
zou rasteiro. Cheryshev bateu de primeira
e anotou seu terceiro gol na competição,
igualando-se ao artilheiro português Cris-
tiano Ronaldo.
Aos 16, para desespero dos torcedores
egípcios em São Petersburgo, a Rússia ain-
da marcaria o terceiro. Dzyuba dominou
lançamento longo no peito, deu um toqui-
nho para tirar do defensor e chutou forte,
no canto direito de El Shenawy: 3 a 0 .
O Egito se reorganizou e apertou nova-
mente a marcação. Aos 21, Trezeguet teve
boa oportunidade para diminuir o marca-
dor, mas a bola passou ao lado da baliza
russa. No entanto, aos 27, os egípcios con-
seguiram marcar o gol de consolação.
O árbitro marcou falta fora da área,
mas, após consulta ao VAR, voltou atrás
e assinalou penalidade máxima. Salah co-
brou mal, à meia altura, quase no meio do
gol, mas bateu Akinfeev. O meia comemo-
rou à sua maneira tradicional: ajoelhou-se
e agradeceu a Alá. A prece fez sentido por-
que somente um milagre permitirá a clas-
sificação do craque do Liverpool e seus
companheiros, o que não ocorreu.
Rússia: Akinfeev; Mário Fernandes,
Kutepov, Ignashevich e Zhirkov (Ku-
dryashov); Gazinskyi, Zobnin, Golovin,
Cheryshev (Kuziaev) e Samedov; Dzyuba
(Smolov). Egito: El Shenawy; Fatih, Ali
Gabr, Hegazy e Abdleshafy; Tarek Hamed,
Elneny (Warda), Abdalah, Trezeguet (So-
bhi) e Salah; Mohsen (Kahraba). Cartões
amarelos: Trezeguet e Smolov.
ESPANHA TEM DE VENCER IRÃ
Em Kazan, a Espanha mede forças hoje
com o Irã, às 15h, buscando três pontos
fundamentais para as suas aspirações
de passar às oitavas, após o empate com
Portugal, e também para dar um basta às
críticas ao goleiro David de Gea, apontado
como culpado do tropeço na estreia, por
ter falhado no segundo gol. Do outro lado
do campo, os espanhóis encontrarão uma
seleção iraniana, do excelente atacante
Sardar Azmoun, confiante e que, após
surpreender na primeira partida na Copa,
acredita mais do que nunca na possibilida-
de de passar de fase.
Espanha: De Gea - Carvajal (ou Nacho),
Piqué, Ramos, Jordi Alba - Busquets, Koke
- Iniesta, Isco, Silva - Diego Costa.
Irã: Beiranvand - Rezaian, Cheshmi, Pou-
raliganji, Hajsafi - Ebrahimi - Jahanbakhsh,
Ezatolahi, Shojaei, Ansarifard - Sardar
Azmoun. Árbitro: Andrés Cunha (URU)
Rio de Janeiro — Quarta-feira, 20 de junho de 2018 Conheça nosso site www.jb.com.br • Não pode ser vendido separadamente
JORNAL DO BRASIL
Roberto Herrera

BPM Mapping
fez imagens
multicoloridas
na fachada da
Igreja da Penha
e repetirá a dose
amanhã na
Cinelândia

Luzes
Fotos de João Pequeno
da cidade Nova edição do Rio Mapping
Festival tem projeções em prédios
que contam a história carioca
JOÃO PEQUENO Imaginar, ampliar e refazer construções históricas
joao.pequeno@jb.combr do Rio de Janeiro sem quebrar uma pedra nem
mexer em uma viga. À luz dos olhos, a criatividade
dos artistas e a tecnologia produzem, em minutos, reconstruções visuais em terceira
dimensão de fachadas icônicas da cidade. Sob o conceito de projeção difundido
nesta década, o Rio Mapping Festival vai até o final de semana, em quinta edição,
a primeira, com tema livre.
A entrada principal e as escadarias do Palácio Pedro Ernesto, sede da Câmara dos
Vereadores, recebe amanhã a próxima projeção, com visualizadores de Petrópolis,
de Curitiba e até da Europa. No sábado, é a vez da Escola de Cinema Darcy Ribeiro,
em frente ao CCBB. “Resolvemos fazer o festival sem tema neste ano para deixar
o pessoal mais livre”, explica ao JB Paulinho Sacramento, produtor e idealizador
do Rio Mapping, durante projeção, na Igreja da Penha, de seu grupo, o coletivo
BPM, que integra com Ricardo Brizio e Leandro Malaquias e que volta a projetar
amanhã, na Cinelândia.
Imagens com cores verde-e-rosa e azul-e-branco foram citadas como supostas
homenagens a escolas de samba, como Mangueira e Portela, pelo padre que narrava a
projeção – “Só uma coincidência”, segundo Paulinho, que, no entanto, tinha na mira
o subúrbio carioca, lar da maioria das agremiações. “Escolhi fazer esse video mapping
aqui na igreja muito porque tenho família na Penha, sou nascido aqui perto, no pé do
Morro do Adeus, em Bonsucesso, criado em Higienópolis. A Igreja da Penha é um
lugar onde a galera da minha geração veio muito para festas. É a primeira vez em que
fazemos o festival aqui em cima, um lugar onde a gente vê quase toda a Zona Norte,
de onde se tem visão do aeroporto, da Ponte Rio-Niterói, do Arco Metropolitano
[já na Baixada Fluminense]”, ressalta o idealizador do festival.
Para a projeção na Penha, Paulinho detalha que o BPM trabalhou sobre a fa-
chada da igreja, com a sua marca registrada de desconstrução e desconstrução da
arquitetura. “Em sete minutos, traçamos o caminho de pegar pedaços da fachada,
soltar esses pedaços; depois, fazer com que eles se unam novamente. Esse é um
pouco da busca do coletivo, em todos os projetos que a gente realizou: fazer com
que a fachada se desmonte e monte novamente em cada apresentação que a gente
faz. Pensamos mais ou menos assim: ‘com 15 segundos, vamos tirar a janela, vamos
virar, vamos explodir’”, explica.
Com os video mappings tendo se difundido em festas, a trilha sonora também
serve de roteiro para trabalhos dos artistas, inicialmente chamados de VJs (video
jockeys) – ainda que hoje, muitos deles trabalhem sem música. “Com o BPM, tem
a coisa da cor, com a saturação bem forte, mas tudo começa no áudio, pela trilha
sonora – depois as imagens”, Há artistas que trabalham sem música, o silêncio é um
elemento interessante também, mas nossa marca é esta”, pontua Paulinho Sacramento. Projeção descontruiu e refez visual da
Continua na página 2 fachada da igreja, além de jogar cores
2 • Conheça nosso site www.jb.com.br Caderno B Quarta-feira, 20 de junho de 2018

Continuação da capa

Multicores arquitetônicas Fotos de Roberto Herrera

VJ foi o termo dado ao maior veterano das câmeras entre
os artistas nacionais que trabalham com video mapping
quando ele passou a fazer projeções. Aos 62 anos, Jodele
Larcher tornou-se nome recorrente nas raves quando já tinha
longa estrada em programas musicais da Rede Globo e hoje
integra a cena carioca das projeções, com todo o pessoal
cerca de três décadas mais jovem.
“Sou diretor de dramaturgia, comecei como operador de
VT e sempre tive ligação com a música. Nos anos 1980, co-
mecei a dirigir os clipes do ‘Fantástico’ e fiquei parceiro dos
músicos. Em 1997, o Lulu [Santos] me chamou para fazer
os visuais do show dele”, explica o artista.
Aí então, vieram as descrições para profissionais de novos
tipos de projeções visuais. “Depois, que descobri que era VJ”,
brinca. “Comecei e fazer Gilberto Gil, Netinho – o da Bahia
– e pedi ao [Roberto] Talma [diretor da Globo] para ser VJ
do Rei, lembra Jodele, que passou a fazer projeções – ainda
diferentes da técnica do video mapping – nos especiais de
fim de ano de Roberto Carlos.
Quanto ao video mapping, que consiste basicamente em
exibições sobre prédios, ele recorda: “No início, o que a gente
fazia nem tinha um nome definido. Chamavam, por exemplo
de vídeo-fachada, projeção arquitetural até encontrarem o
termo video mapping”.
A tecnologia também ajudou os artistas a sofisticarem
seus trabalhos, seguindo suas ideias e chegando ao 3D e a
múltiplas projeções por computador. “Antigamente, usá- Leandro
vamos máquinas de slide, com imagens estáticas. Depois, Malaquias
vieram projetores de vídeo, mas ainda havia toda a com- e Paulinho
plexidade de você ter que ajustar as imagens a partir do Sacramento – do
projetor: chegava ele para a frente, para trás, pegava umas BPM Mapping –
máscaras para projetar naquele lugar... Agora, os projetores em frente à Igreja
ficaram mais baratos e os softwares, programas de mapear, da Penha, na
mais disponíveis e com eles você consegue trabalhar com foto acima, em
perspectiva”, descreve Jodele, que, na busca de um nome evento do festival
que englobe seu ramo profissional de forma geral, define a que também teve
si e aos colegas como “visualizadores” – termo já aprovado participação de
e adotado nesta reportagem. Jodele Larcher,
A denominação de “projeção arquitetural”, por sua vez, veterano das
seguia bem a linha do caminho traçado no video mapping. projeções,
“São projeções arquiteturais. Então, o trabalho acompanha ao lado
a arquitetura e ‘veste’ o objeto, ou o edifício, mas vai desde
coisas pequenas. Você pode mapear desde plantas e árvores
até prédios enormes. No ano passado, fizemos no Copaca-
bana Palace, outros já fizeram no Empire State, em Nova
York; no Hoover Damp, uma represa enorme em Nevada”,
enumera Jodele, que, com seu parceiro Vini Fabretti, expôs
na Igreja da Penha na mesma noite que o BPM. Serviço
Paulinho Sacramento avalia que “o video mapping é o 5º RIO MAPPING FESTIVAL
contrário do audiovisual tradicional, em que o diretor ou o PRÓXIMAS PROJEÇÕES
roteirista têm primeiro um filme na cabeça e depois manda Amanhã (21/6), de 18h às 23h: Palácio Pedro Ernesto (Câmara Municipal). Praça
para cinema, TV ou um celular e você pode assistir a esse Floriano, s/n - Cinelândia. BPM Mapping (Rio), Marcus Vinícius (Petrópolis), Urutau Visual
produto em qualquer lugar. No video mapping é o oposto: (Curitiba) Jeremy Oury (França), Telenoika (Espanha). Festa convidada: Baile do Shackal.
primeiro, você define a fachada – geralmente, locais com uma Sábado: (23/6), de 18h às 23h: Escola de Cinema Darcy Ribeiro (Rua da Alfândega, 5 -
história envolvida – para modificar, momentaneamente, a Candelária. Trabalho final da pequisa de artes digitais e integradas da oficina Mapeando,
arquitetura da cidade. Então, a gente faz ‘ao contrário’: inicia ministrada por artistas do festival.
pela busca da arquitetura – e depois cria em cima dela”.

#Dicas Artes plásticas

Fotos de divulgação

Parque Lage “Era uma vez” Cordel

As galerias 1 e 2 da Escola de Artes Visuais do
Parque Lage (R. Jardim Botânico, 414 - Jardim
Botânico; Tel.: 3257-1800) recebe, a partir de hoje,
às 20h, as exposições de Celeida Tostes (“Artes
do fogo”) e Cinthia Marcelle (“Fonte 193 - foto - e
“475 Volver”). Segundo o curador Ulisses Carrilho,
“enquanto Celeida aponta para uma ancestralidade
em como lida com o material, o barro, a terra
molhada, Cinthia utiliza-se de tratores e caminhões
de bombeiro para desenhar na paisagem formas
que são Sísifos e aludem ao infinito”. Seg a qui, das
9h às 19h. Sex, sáb e dom, das 9h às 17h. Entrada
franca. Até 15/7.
Com curadoria de Luciano Vinhosa, a exposição
apresenta a recente série fotográfica de Felipe
Ferreira de Almeida chamada “Cotidiano”. São
20 trabalhos, sendo 18 fotografias e dois vídeos.
O título já dá ideia do material: um mundo
encantado, fabuloso e fabulado, dos contos de fada,
com imagenstodos referenciados nas ilustrações
religiosas, na cultura televisiva, programações
infanto-juvenis do cinema. Espaço UFF de
Fotografia (R. Miguel de Frias, 9, Icaraí; Tel.:
3674-7511). A abertura é hoje, às 19h e a visitação
acontece de seg. a sex., das 10h às 21h e sáb. e dom.,
das 13h às 21h. Até 22/7.
“Cordel e cantadores - Brasil, a República do
Cordel”, em cartaz até 17/8 no Sesc Tijuca (R.
Barão de Mesquita, 539 - Tijuca; Tel.: 3238-
2139) homenageia os cem anos de morte do
poeta Leandro Gomes de Barros (1865-1918),
considerado um dos patronos da literatura de
cordel. A exposição apresenta uma coleção com
cordéis de Gomes de Barros e outra de cordéis
comemorativos do Centenário de Juazeiro do Norte.
Estampas obtidas através da xilogravura para capas
e ilustrações e xilogravuras em alto relevo também
estão entre os destaques da exposição. Ter. a sex.,
das 9h às 21h, e sáb. e dom. das 9h30 às 17h30.
Quarta-feira, 20 de junho de 2018 Caderno B Conheça nosso site www.jb.com.br • 3
A BEM ARTICULADA Flavia Oliveira vai mediar
debate na pré-estreia de Auto de Resistência,
filme que cobre os homicídios cometidos

Hildegard Angel
pela PM/RJ classificados como “autos de
resistência”, isto é, legítima defesa. Dia 21, 18h, hilde@jb.com.br
no Cine Odeon. Discussão quente: a diretora
do filme, Natasha Neri, ativistas de direitos
humanos, defensoria pública, OAB, Mães de
Manguinhos, Rede de Comunidades.

Fotos acervo de Luiz Carlos Barreto

Elegância das Copas
• SEMPRE ATENTO a tudo que rola, principalmente a bola, o cineasta Luiz Carlos
Barreto retirou de seus preciosos arquivos esta foto à esquerda: Zito e Pelé, em Es-
tocolmo, na Copa do Mundo na Suécia, em 1958. Vejam que dupla chique. Nada se
compara. “Sem aparato”, Luiz Carlos comenta, “só elegância”. E o sur ton de creme
com café com leite! Nossos rapazes não eram bons apenas de futebol... Junto, ele
remete a foto acima, do Paulinho fazendo escova antes do jogo, e comenta: “Os joga-
dores cabeceiam com medo de desarrumar os cabelos, concentração zero”.

• NOSSOS ATLETAS do futebol parecem mais preocupados com o look do que com
a bola. Barretão está certo. Quando vi o time do Brasil entrando em campo na Arena
Rostov, pensei que eram modelos do Prêmio Intercoiffure de Cabeleireiros, aquele
concurso anual de penteados. Cada um com o cabelo mais rebuscado. Que São João
Batista, o padroeiro dos descabelados, nos ajude e ajude a fazer bombar a hashtag
#MenosCabeloMaisBola
Fotos de Marcos Rodrigues e Marcelo Borgongino

A introdução tão cálida e pessoal de George Vidor nos promete leitura atraente e fácil,
daquelas que é pegar e não largar. Surpreendente para um livro que conta “a saga da
corretora que revolucionou o mercado de capitais”. Bem, ainda não li, folheei, mas já me
antecipo a recomendar “Os Leite Barbosa”, pelo muito de respeito, afeto e isenção com os
fatos em que ele vem embrulhado, desde o prefácio de José Luiz Alquéres, à credibilidade
do autor George Vidor, ao envolvimento de Antonia Leite Barbosa, jornalista e neta do
protagonista da obra, Marcelo Leite Barbosa. Os reveses por que passou uma das maiores
corretoras do país, em outras circunstâncias teriam levado qualquer sobrenome ao degre-
do social. Não os Leite Barbosa, que atravessaram a tempestade da bolsa que os atingiu
com o mesmo rigor ético com que os irmãos Marcelo e Maurício empreenderam a cons-
trução de seu bom nome. Prova disso foi a presença massiva da sociedade no lançamento
do livro no restaurante Rubayat. Fotos: Antonia Leite Barbosa e Joana Almeida Braga...
Monica Aranha Barreto, Tereza Seiler e Luiz Seve... Antonia Leite Barbosa, Joaquim
Saboia, Vera Magalhães e George Vidor... George Vidor e Mariana Gross

Fotos de Paulo Jabur

HELENA SEVERO é uma realizadora. Foi ser
secretária de Cultura de Cesar Maia, trouxe o
conceito de Barcelona, revolucionando através da
Cultura, trazendo um sopro de frescor à cidade...
FOI PRESIDIR o Theatro Municipal, e o pas-
sou inteiro a limpo, numa reforma com poucos
recursos e muita eficiência... FOI A SÃO Paulo
e ajudou Edemar Cid Ferreira na montagem da
magnífica mostra dos 500 anos, o mais represen-
tativo evento cultural do século XX... AGORA,
PRESIDENTE da Biblioteca Nacional, concluiu
as obras de restauração da fachada, iniciadas há
longos oito anos, com apoio da Fundação Miguel
de Cervantes, presidida pelo desembargador An-
tonio Izaías da Costa Abreu, presente, bem como
o ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão, e o pre-
sidente do Iphan, Marcelo Araújo... UM CON-
JUNTO DE Câmara da OSB apresentou Vivaldi,
Mozart e Villa-Lobos, regência do maestro An-
tonio Augusto, e Cecília Borges regeu o buffet,
com seu refinado senso gastronômico... CIDI-
Helena Severo e Marcelo Araújo, pres. do Iphan
NHA CAMPOS, a deputada desafeto do Marce-
lo Freixo, implica com os carinhos que a Globo
dá ao deputado: “sempre está com photoshop, os
olhos verdes do Chico Buarque e a pele da Anit-
ta”... FALAR EM PSOL, a professora do Instituto
de matemática da UFRJ, Tatiana Roque, lançou
pré-candidatura a deputada federal pelo Psol, no
IAB... SE PRESTÍGIO contasse voto, Tatiana já
estava eleita. Vejam quem foi na solenidade: Luiz
Antonio Izaias Abreu e Francisco Weffort
Pinguelli Rosa, Eliomar Coelho, Chico Alencar,
André Barros, Jean Willis... ALÉM DE Tarso
Genro, que ficou na mesa ao lado dela, numa de-
monstração de possível aliança entre as correntes
de esquerda, PT, Psol e PcdoB... EM SUA FALA,
Tarso Genro comentou inclusive a possibilidade
de esses partidos se aliarem a Ciro Gomes, para
frear Jair Bolsonaro... POR FIM, Tarso ainda disse
que, se fosse carioca, votaria em Lindberg (PT) e
Chico Alencar (Psol), para o senado, e em Tatiana
Roque para federal. Que beleza, quanta harmo-
nia! (som de piados de passarinho)... O AMOR
na política é lindo. SQN... CONCEIÇÃO EVA-
RISTO foi pessoalmente à ABL na segunda-feira
entregar a carta em que se apresenta como can-
didata a uma vaga à imortalidade... APESAR DE
que tudo leva a crer que a vaga seja de Cacá Die-
gues. Embora o candidato Pedro Corrêa do Lago
esteja fazendo uma campanha bem competente,
não só junto aos Eleitores, com apoio de seu sogro
Rubem Fonseca, como também com forte pre-
sença na mídia... ESSES MOVIMENTOS, tanto
o do movimento negro, atuando nas redes sociais
por Conceição, quanto de Corrêa do Lago, atra-
vés da visibilidade na grande mídia (mesmo que
eventualmente a candidatura não seja menciona-
da), são uma novidade em se tratando do pleito da
ABL, que sempre se resumiu à campanha interna,
dos contatos pessoais, das visitas aos acadêmicos e
dos jogos de influência e poder...

Com João Francisco Werneck

4 • Conheça nosso site www.jb.com.br Caderno B Quarta-feira, 20 de junho de 2018

Musical
Reprodução

falará da
vida de
Michael
Jackson
NOVA YORK (EUA) - A vida de Michael Jackson chegará
à Broadway em um musical que incorpora as canções
do Rei do Pop escritas por um importante dramaturgo
americano. Os produtores do musical anunciaram o
projeto ontem, sem revelar o título e disseram que
pretendem fazer a estreia em 2020. O musical, que
está sendo coproduzido pelo patrimônio do falecido
rei do pop, será escrito por Lynn Nottage, duas vezes
vencedor do Prêmio Pulitzer.
Nottage, professor do Departamento de Teatro da
Universidade de Columbia, recentemente aclamado
por “Sweat”, uma peça sobre uma cidade operária da
Pensilvânia que vê o surgimento de tensões étnicas
com os imigrantes à medida que os empregos indus-
triais desaparecem.
A peça, para a qual Nottage viajou à Pensilvânia para
fazer pesquisa em primeira mão, estreou em 2015 e mais
tarde foi vista como um olhar presciente para as pessoas
que votaram no presidente Donald Trump.
O musical sobre Michael Jackson vai incorporar sua
música e a coreografia por Christopher Wheeldon,
um nome proeminente no balé. Wheeldon escreveu
trabalhos originais para o Royal Ballet em Londres
Com roteiro do premiado Lynn Nottagen, produção abordará todas as fases do artista, desde que surgiu no Jackon 5
baseado em “As aventuras de Alice no País das Ma-
ravilhas”, de Lewis Carroll, e “O conto de inverno”, de
Shakespeare. Em Nova York, Wheeldon escreveu um
balé e um musical baseados em “Um americano em
Paris”, filme de 1951 de Gene Kelly inspirado na música
de George Gershwin.
Resta saber como o próximo musical irá retratar
Michael Jackson, que em grande parte tem sido visto
como uma figura trágica desde a sua morte em 2009,
embora o envolvimento de sua propriedade aumente
as expectativas de que o trabalho se concentrará nas
partes positivas.
Jackson ficou conhecido quando criança por fazer
parte do “Jackson 5”, antes de alcançar um sucesso
sem precedentes como artista solo, com “Thriller”, de
1982, permanecendo como o álbum mais vendido de
todos os tempos.
Michael Jackson morreu após ingerir propofol, um
poderoso anestésico administrado por seu médico pes-
soal para ajudá-lo a dormir. O cantor havia sido absol-
vido quatro anos antes de alegações de abuso sexual
infantil, o que ele negou veementemente.

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Quarta-feira, 20 de junho de 2018 Caderno B Conheça nosso site www.jb.com.br • 5

Fotos de divulgação

Produção elogiada da maratona francesa deste ano (acima, um dos protagonistas, o ator Thomas Gioria), drama familiar saiu premiado em Veneza e recebeu o troféu Luigi De Laurentiis

Patologia: amar demais

No último dia do Festival Varilux, o cineasta estreante Xavier Legrand conta como
arrebatou críticos e conquistou prêmios em Veneza e San Sebastián com ‘Custódia’
RODRIGO FONSECA* Cenas da vida: lá
Especial para o JB pelo meio do Festi-
val Varilux, que ter-
mina hoje depois de 14 dias, um cinéfilo já grisalho,
habitué do Cine Odeon, que estava acompanhando
a maratona nacional de filmes franceses desde a
abertura, virou-se para um grupo de jovens, afoi-
tos por conhecerem a programação do evento, e
cravou: “Se vocês forem escolher um único filme
desta mostra para ver, apostem em ‘Custódia’, pois
raras vezes a França fez coisa tão boa”.
A opinião deste entusiasta – um crítico anônimo
– coincidiu com muitas resenhas escritas por deca-
nos da imprensa cinematográfica europeia acerca
do longa-metragem de estreia de Xavier Legrand. A
primeira exibição deste drama (com tons de thriller
de suspense) sobre as sequelas de uma separação se
deu em setembro de 2017, na disputa pelo Leão de
Ouro de Veneza. Aos 39 anos, Legrand saiu de lá
com o prêmio de Melhor Direção e o troféu Luigi
De Laurentiis dado ao melhor longa de cineasta
iniciante. Sobrou para ele ainda uma láurea de júri
popular no Festival de San Sebastián, na Espanha.
Pôster do filme sobre as sequelas de uma separação
O que “Jusqu’à la garde” (seu título original) tem
de tão bom? Bom, como sua estreia comercial no
Brasil está prevista só para 5 de julho, vale pegar
uma das derradeiras sessões desta produção, nesta
quarta, no fim do Varilux: tem às 13h45, no Museu
da República; às 14h no Cinestar Laura Alvim; e às
18h25, no Espaço Itaú.
Indicado ao Oscar de Melhor Curta-metragem
por “Avant que de tout perdre”, Legrand, antes
conhecido por seu trabalho como ator, narra em
“Custódia” o processo de enfurecimento de um pai
de família, o brucutu Antoine (Denis Ménochet),
depois que sua mulher, Miriam (Léa Drucker) pede
a separação. A dificuldade para poder encontrar e se
relacionar com seus filhos gera loucura e violência,
retratadas numa narrativa sufocante, que extrai
tensão de cada um de seus 93 minutos.
Conhecido por longas como “Bastardos ingló-
rios” (2009) e “7 dias em Entebbe” (2018), Méno-
chet encarna Antoine como se fosse um leão ferido:
seu modo de amar é bruto. Nesta entrevista ao
JORNAL DO BRASIL por e-mail, Legrand esmiúça
como este filmaço foi urdido.

JB: Apesar de passear do drama ao sus-

pense, “Custódia” é uma história de amor,
acima de tudo. Mas que amor é esse?
Xavier Legrand: É tóxico. Prefiro definir este
filme como a história sobre um lugar onde um dia
houve um grande amor, e este se transformou num
exercício de controle coercitivo. Antoine, o pai, é
um narcisista, que sofre de paranoia e de ciúme
doentio. Ele pensa que Miriam pertence a ele. Esse
sentimento de posse o levará a fazer de tudo para
que ela continue com ele.

Como é que a edição foi concebida para

valorizar a tensão?
Em geral, as pessoas montam um copião inicial
com o material bruto e tiram, dia a dia, o que é
considerado excesso. Não fizemos esse corte inicial
assim: meu montador, Yorgos Lamprinos, e eu fo-
mos diretamente às cenas de tensão, de ritmo mais
ágil, de modo a criar uma estrutura narrativa em
que o suspense parecesse orgânico.
Xavier Legrand (à esquerda) e assistente, nas filmagens de “Custódia”, que estreará aqui no início de julho
Sua fotografia é cem por cento realista.
Como foi construída a luz de “Custódia”?
Na busca pela simplicidade. Nathalie Durand, quanto Antoine ou Miriam: o silêncio. O No Brasil, “Custódia” foi o filme mais elo-
minha diretora de fotografia, foi atrás da essência do filme é pautado pela quietude. O que o si- giado do Varilux, evento criado para pro-
roteiro: o cotidiano. Trabalhamos com luz natural e lêncio significa como ferramenta estética? mover o melhor do cinema francês. Como
fizemos marcações na condução dos atores usando Em “Custódia”, o silêncio é a força que confina você avalia a situação atual desse cinema?
movimentos de câmera bem simples, simétricos. os personagens num pesadelo contínuo. O filme Nossa força vem da variedade, da multiplici-
E nas cenas de mais violência jogamos com a au- começa numa audiência de conciliação onde o casal dade, da diversidade. A mistura de gêneros que
sência de luz, para desfocar o olhar do espectador, em conflito discute por cerca de 20 minutos. Dali você encontra no meu filme não é algo inerente ao
de modo a aumentar sua incerteza acerca do que para diante, não há nada mais a ser dito. Todos os nosso DNA cinéfilo. Mas o hibridismo é algo que
está se passando. argumentos estão na mesa. Mas o filme se interessa atrai os críticos e satisfaz o público. Foi assim com
por aquilo que se passa depois do que foi arbitrado a nossa história.
Existe uma espécie de personagem imate- pela Justiça: as emoções inerentes à sentença. Só * Roteirista e presidente da Associação de Críticos do
rial no filme, tão importante para a trama nos resta observar. Rio de Janeiro (ACCRJ)
6 • Conheça nosso site www.jb.com.br
A pirataria na era do streaming
Pesquisador de Columbia que faz conferência hoje em
Botafogo sustenta que pirataria é uma questão de preço
ANDRÉ DUCHIADE Presente em pratica-
andre.duchiade@jb.com.br mente todo o mundo,
a pirataria de conteúdo
se deve à própria organização dos mercados culturais:
ao mesmo tempo em que os produtos são anunciados
para todos, só uma parcela da população pode pagar
por eles. Esta é uma das conclusões de Joe Karaganis,
vice-presidente do instituto The American Assembly,
da Universidade de Columbia, que faz palestra na Fun-
dação Getúlio Vargas hoje. Em seu trabalho, ele estuda
como a economia do conhecimento é regulamentada
ao redor do mundo, com interesse especial na pirataria.
O estudioso organizou, entre outros, os livros “Me-
dia piracy in emerging economies” (2011) e “Shadow
libraries” (2018), sobre, respectivamente, a pirataria no
mundo globalizado e como estudantes acessam textos
necessários à formação. Os dois livros estão disponíveis
gratuitamente na internet e têm capítulos sobre o Brasil,
escritos por pesquisadores da FGV.
Hoje, ele fala no seminário “Tecnologias regulatórias:
Novas fronteiras da educação e cultura”, no auditório do
12º andar da FGV. A programação, que continua ama-
nhã, começa às 9h e a palestra de Karaganis é às 16h30.
O evento é aberto ao público e a entrada é gratuita.
JORNAL DO BRASIL: Por que a pirataria é
tão disseminada?
Joe Karaganis: Em nossos estudos, entendemos
que isso se relaciona a como os mercados culturais
estão organizados. Os mercados de música, cinema,
software e livros se tornaram globais. Ao fazer isso,
eles passaram a fazer publicidade para mais pessoas do
que aquelas que podiam pagar. A indústria começou a
mirar em 6 bilhões de pessoas, mas só 1 bilhão de fato
tinha dinheiro para bancar os itens anunciados. Havia
um gap entre o anunciado e a capacidade de acesso —
o marketing alcançava bilhões, mas os preços só eram
viáveis para uma fração. E então as tecnologias de có-
pia se tornaram mais baratas e as pessoas começaram
a fazer mais cópias, preenchendo esse vazio.
Então você entende tratar-se de uma questão
de preço?
Há um grande elemento relacionado a preços: um
DVD original custa 20 dólares no Brasil, mesmo pre-
ço dos Estados Unidos, enquanto os piratas saem por
1 ou 2. Mas parte da questão também se explica por
uma mudança de expectativas. Quando as pessoas só
podiam consumir pequenas quantidades de cultura,
isto é, quando havia uma limitação física aos produtos
culturais, as expectativas eram diferentes em relação ao
que se podia acessar. Quando a maior parte dos itens se
torna digital, tudo fica disponível. E os serviços piratas
foram os primeiros a atender essa nova demanda, a dar
acesso a quanta cultura as pessoas quisessem. Nos últi-
mos anos, isso mudou, sobretudo em termos de vídeo
e música, com os serviços de streaming.
Qual é sua opinião sobre o streaming?
Considero um passo inevitável e muito positivo. Os
serviços de streaming são as formas legais que surgiram
Musa
alternativa
MARIANA CAMARGO A 13ª Mostra de Cinema
Especial para o JB de Ouro Preto (CineOP)
encerrou esta semana,
com uma programação estruturada nos temas. “Preser-
vação”, “História” e “Educação”. Reuniu profissionais e
especialistas do audiovisual brasileiro e estrangeiros no
debate sobre soluções para a importante questão de pre-
servar a memória audiovisual brasileira, parte essencial
que é da memória do país.
Em países onde é forte atividade cinematográfica, os
filmes são preservados e mesmo recuperados através
de programas de investimento que incluem depósito
de acervos e instituições preparadas e equipadas, como
cinematecas, escolas de cinema, etc. No Brasil, acervos
inteiros com importantes filmografias correm risco de
ser perdidos por falta de investimento ou políticas públi-
Caderno B
Divulgação
Joe Karaganis defende que serviços de streaming
reproduzem “sensação de que tudo está disponível”
para repetir aquela sensação de que tudo está disponível.
Aquilo que tornou o Napster algo tão empolgante há 20
anos foi replicado por esses serviços: demorou 20 anos para
encontrarem o modelo adequado, mas aconteceu. Eles não
eliminarão completamente a pirataria, porque há pessoas
que não podem pagar pelos serviços e vão fazer cópias
piratas. Mas, tudo bem com isso, também.
No caso do Spotify, há muita controvérsia sobre
quanto dinheiro vai para os artistas. Há relatos
de pessoas que tiveram milhões de reproduções
e ganharam menos de cem reais. Como você vê
estas críticas?
Esta é uma preocupação real: ninguém sabe quanto
os músicos são pagos. Uma das razões disso é que as
companhias mantêm estes números em sigilo. Não sabe-
mos quanto o Spotify paga nem como esses valores são
diferentes dos do Youtube ou dos da Apple, por exem-
plo. Meu grupo de estudos está atualmente dedicado a
entender esta questão. .
A pirataria é a mesma em economias de baixa
e média renda e nos países desenvolvidos?
Quando começamos nossa pesquisa, as estratégias
de preço das grandes empresas de cultura eram muito
simples: estabeleciam o preço para os EUA e a Europa e
adaptavam ligeiramente para outras economias. Social-
mente, entretanto, as diferenças eram muito significati-
vas. No caso dos softwares, por exemplo: os programas
de computador atualmente são parte da infraestrutura
de um país. Para a maioria dos países, contudo, os preços
dos programas simplesmente não eram acessíveis. Isso
levava à pirataria, é claro. Nos últimos anos, contudo, as
empresas começaram a se tornar mais conscientes em
suas políticas. Em alguns casos, começaram também a
pressionar entidades que podem pagar, e têm muita for-
ça para fazer isso, como monopolizam alguns mercados.
Leo Lara/Divulgação
Festival em Ouro Preto reverenciou Maria Gladys
cas para este fim. O CineOP vem há anos promovendo
seminários, mostras e encontros com profissionais preo-
cupados com essa demanda.
Nesta edição, o CineOP homenageou a atriz Maria
Gladys. Na noite de abertura, foram exibidos o curta-me-
tragem “Maria Gladys - Uma atriz brasileira”, de Norma
Bengell (1980), e o longa “Sem essa, Aranha” (1970), de
Rogério Sganzerla. Considerada um ícone do cinema
brasileiro, a atriz trabalhou com os principais diretores
do Cinema Novo e sobretudo com os diretores associa-
dos ao Cinema Marginal, que encontraram na atriz uma
Quarta-feira, 20 de junho de 2018
A pirataria também cria oportunidades de
inovação?
Com certeza absoluta. O software, de novo, é o melhor
exemplo. Nos casos de alguns países, entre 90 e 95% dos
sistemas operacionais são pirateados. Todos os negócios
usam esses programas, produzindo uma informação
crítica, sem a qual nenhuma economia moderna pode
funcionar. Em nosso novo livro (“Shadow Libraries”,
MIT Press, 2018), também estamos estudamos como
a maior parte do material educacional em economias
de renda média ou baixa, como o Brasil, é fotocopiado.
A educação ao redor do mundo nos últimos 40 anos
baseia-se na cópia. A única diferença é que em alguns
países essa prática é legal, enquanto, em outros, não. No
Brasil, nas décadas de 1970 a 90 era legal, até que uma
mudança no final daquela década tornou a prática ilegal.
E como você entende que o Estado e a sociedade
devam lidar com essa prática de cópia de livros?
É importante saber que, nas universidades, todo
mundo copia. Isso não vai parar. A questão é como
legalizar um número maior de atividades. Há três solu-
ções: a primeira é incentivar obras com licenças abertas,
do tipo Creative Commons, que autorizam a cópia das
obras. A segunda, é o modelo das bases de dados, em
que os custos são absorvidos, por exemplo, pelas biblio-
tecas. Esta é uma forma de tirar o assunto da visão de
todo mundo, sem enfrentar questões mais polêmicas.
A terceira, por fim, são soluções envolvendo leis de
direito autoral: legalizar o que os estudantes já fazem,
expandindo a prática do chamado “uso justo” [doutrina
que autoriza a cópia em determinadas situações].
É possível acabar com a pirataria? Qual é
uma política pública apropriada para lidar
com a questão?
A pirataria está deixando de ser uma grande preocupa-
ção para as indústrias criativas, como era há 20 anos com
a emergência do compartilhamento digital. As dúvidas
existenciais de que o cinema ou a música iam morrer se
provaram falsas. Conforme as indústrias se reconfigura-
ram, a pirataria foi marginalizada. Isso já aconteceu com a
música, com o cinema e a TV e começa agora a acontecer
com os livros, que são a última fronteira, porque ler no
papel era muito mais agradável do que ler em aparelhos
digitais. Em relação à lei, desde a origem dos direitos
autorais, entende-se que, se a lei não for boa, coisas boas
deixariam de ser produzidas. Isso, no entanto, não têm
acontecido: o número de obras está aumentando, não há
problema de produção. A defesa de uma lei mais rígida
é desmentida pela grande produção criativa em toda a
parte nos últimos dez anos.
E há, a seu ver, algum lado negativo rela-
cionado a essa ascensão do streaming e à
diminuição da pirataria?
Vejo dois riscos. O primeiro é a possibilidade de ter-
mos uma vitória completa de Hollywood em âmbito
global. O sistema de publicidade e hype, que Hollywood
faz melhor do que ninguém, pode diminuir a demanda
por produtos locais. A segunda ameaça é a diminuição
da demanda por coisas novas. Quando todos os filmes,
músicas, livros e programas de TV estiverem à disposi-
ção, isso pode canibalizar a demanda por novo material.
Esta pergunta do material novo competindo com o velho
ainda precisa ser respondida.
vocação para expressar suas vertentes, mais contrárias às
do Cinema Novo. Gladys participou de “O anjo nasceu”
(1969) e “Cuidado Madame”, (1970), de Júlio Bressane,
e de “Piranhas no asfalto”, (1971) e “Matou a família e foi
ao cinema” (1991), de Neville d’Almeida.
Ao longo dos anos, Gladys tem participado de pro-
duções dos mais diversos gêneros com personagens
marcantes, como nos filmes “Anchieta, José do Bra-
sil” (1977), de Paulo César Sacareni, “Bar Esperan-
ça”(1983), de Hugo Carvana, “Brás Cubas” (1985),
de Júlio Bressane, “Se eu fosse você” (2006), de Daniel
Filho, e “Febre do Rato” (2012), de Cláudio Assis, entre
outros. As homenagens à atriz incluíram a exibição de
“Vida” (2008), de Paula Gaitán, e de “Quebratanto”
(2017), de José Sette.
Uma atriz que se formou no teatro, Gladys conta que
também gosta muito de fazer televisão e que trabalhar
com Miguel Falabella é sempre um grande prazer: “ Mi-
guel, apesar de não ser de minha geração, é com quem
eu tenho trabalhado na Globo. Ele gosta de mim e sabe
aproveitar o que eu tenho a oferecer”. Morando há cinco
anos na cidade de Santa Rita do Jacutinga, na Zona da
Mata, a atriz carioca diz que ficou muito feliz com o
convite de Raquel Hallak, coordenadora da mostra, e
participou de forma intensa das homenagens ao longo
da semana na cidade mineira.