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DIREITO PROCESSUAL PENAL - RENATO BRASILEIRO DE LIMA

Aula 11
COMPETÊNCIA
CRIMINAL II
1. MECANISMOS DE SOLUÇÃO DE CONFLITOS.
2. Princípio do juiz natural.
3. COMPETÊNCIA.
4. GUIA PARA FIXAÇÃO DE COMPETÊNCIA.
5. COMPETÊNCIA CRIMINAL DA JUSTIÇA MILITAR
DA UNIÃO E DOS ESTADOS.
6. COMPETÊNCIA CRIMINAL DA JUSTIÇA
ELEITORAL.
7. COMPETÊNCIA CRIMINAL DA JUSTIÇA DO
TRABALHO.
8. COMPETÊNCIA CRIMINAL DA JUSTIÇA
FEDERAL.
8.1. Competência “Ratione Materiae”: CF/88,
Art. 109, IV a XI.
CF/88.
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e
julgar:
(...)
IV - os crimes políticos e as infrações penais
praticadas em detrimento de bens, serviços ou
interesse da União ou de suas entidades
autárquicas ou empresas públicas, excluídas as
contravenções e ressalvada a competência da
Justiça Militar e da Justiça Eleitoral;
V - os crimes previstos em tratado ou convenção
internacional, quando, iniciada a execução no País, o
resultado tenha ou devesse ter ocorrido no
estrangeiro, ou reciprocamente;
V-A - as causas relativas a direitos humanos a que se
refere o § 5º deste artigo;(Incluído pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)
VI - os crimes contra a organização do trabalho e, nos
casos determinados por lei, contra o sistema
financeiro e a ordem econômico-financeira;
VII - os "habeas-corpus", em matéria criminal de
sua competência ou quando o constrangimento
provier de autoridade cujos atos não estejam
diretamente sujeitos a outra jurisdição;
VIII - os mandados de segurança e os "habeas-
data" contra ato de autoridade federal, excetuados
os casos de competência dos tribunais federais;
IX - os crimes cometidos a bordo de navios ou
aeronaves, ressalvada a competência da Justiça
Militar;
X - os crimes de ingresso ou permanência
irregular de estrangeiro, a execução de carta
rogatória, após o "exequatur", e de sentença
estrangeira, após a homologação, as causas
referentes à nacionalidade, inclusive a
respectiva opção, e à naturalização;
XI - a disputa sobre direitos indígenas.
§ 1º - As causas em que a União for autora
serão aforadas na seção judiciária onde tiver
domicílio a outra parte.
§ 2º - As causas intentadas contra a União
poderão ser aforadas na seção judiciária em
que for domiciliado o autor, naquela onde
houver ocorrido o ato ou fato que deu origem à
demanda ou onde esteja situada a coisa, ou,
ainda, no Distrito Federal.
§ 3º Serão processadas e julgadas na justiça estadual, no foro do
domicílio dos segurados ou beneficiários, as causas em que
forem parte instituição de previdência social e segurado, sempre
que a comarca não seja sede de vara do juízo federal, e, se
verificada essa condição, a lei poderá permitir que outras causas
sejam também processadas e julgadas pela justiça estadual.
§ 3º Lei poderá autorizar que as causas de competência da
Justiça Federal em que forem parte instituição de previdência
social e segurado possam ser processadas e julgadas na justiça
estadual quando a comarca do domicílio do segurado não for
sede de vara federal. (Redação dada pela Emenda Constitucional
n. 103, de 2019).
(...)
§ 4º - Na hipótese do parágrafo anterior, o recurso
cabível será sempre para o Tribunal Regional Federal
na área de jurisdição do juiz de primeiro grau.
§ 5º Nas hipóteses de grave violação de direitos
humanos, o Procurador-Geral da República, com a
finalidade de assegurar o cumprimento de
obrigações decorrentes de tratados internacionais
de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte,
poderá suscitar, perante o Superior Tribunal de
Justiça, em qualquer fase do inquérito ou
processo, incidente de deslocamento de
competência para a Justiça Federal. (Incluído pela
Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
8.2. Competência da Justiça Federal x
Atribuições da Polícia Federal.
CF/88.
Art. 144. A segurança pública, dever do Estado,
direito e responsabilidade de todos, é exercida
para a preservação da ordem pública e da
incolumidade das pessoas e do patrimônio,
através dos seguintes órgãos:
I - polícia federal;
(...)
Art. 144 (...)
§ 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão
permanente, organizado e mantido pela União e
estruturado em carreira, destina-se a:(Redação dada
pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
I - apurar infrações penais contra a ordem política e
social ou em detrimento de bens, serviços e interesses
da União ou de suas entidades autárquicas e empresas
públicas, assim como outras infrações cuja prática
tenha repercussão interestadual ou internacional e
exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei;
II - prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e
drogas afins, o contrabando e o descaminho, sem
prejuízo da ação fazendária e de outros órgãos públicos
nas respectivas áreas de competência;
III - exercer as funções de polícia marítima, aérea e de
fronteiras;
III - exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária
e de fronteiras; (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 19, de 1998)
IV - exercer, com exclusividade, as funções de polícia
judiciária da União.
8.3. Análise Pormenorizada da Competência
Criminal Estabelecida no Art. 109 DA CF/88.
8.3.1. Crimes Políticos.
8.3.1.1. Previsão Legal.
LEI Nº 7.170, DE 14 DE DEZEMBRO DE 1983

Define os crimes contra a segurança nacional,


a ordem política e social, estabelece seu
processo e julgamento e dá outras
providências.
8.3.1.2. Motivação Política: art. 29 da Lei
7.170/83 X art. 121 do CP.
Lei n. 7.170/83
Art. 29 - Matar qualquer das autoridades referidas no
art. 26.
Pena: reclusão, de 15 a 30 anos.
Art. 26 - Caluniar ou difamar o Presidente da
República, o do Senado Federal, o da Câmara dos
Deputados ou o do Supremo Tribunal Federal,
imputando-lhes fato definido como crime ou fato
ofensivo à reputação.
Pena: reclusão, de 1 a 4 anos.
Lei n. 7.170/83
Art. 2º Quando o fato estiver também previsto
como crime no Código Penal, no Código Penal
Militar ou em leis especiais, levar-se-ão em
conta, para a aplicação desta Lei:
I – a motivação e os objetivos do agente;
II – a lesão real ou potencial aos bens jurídicos
mencionados no artigo anterior.
8.3.1.3. Competência da Justiça Federal X
Competência da Justiça Militar.
Lei 7.170/83.
Art. 30 - Compete à Justiça Militar processar e
julgar os crimes previstos nesta Lei, com
observância das normas estabelecidas no Código
de Processo Penal Militar, no que não colidirem
com disposição desta Lei, ressalvada a
competência originária do Supremo Tribunal
Federal nos casos previstos na Constituição.
Parágrafo único - A ação penal é pública,
promovendo-a o Ministério Público.
8.3.1.4. Recurso Cabível da Sentença em Crime
Político.
CF/88.
Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal
Federal, precipuamente, a guarda da
Constituição, cabendo-lhe:
(...)
II - julgar, em recurso ordinário:
(...)
b) o crime político;
8.3.4. Infrações Penais Praticadas em
Detrimento de Bens, Serviços ou Interesse da
União ou de suas Entidades Autárquicas ou
Empresas Públicas.
- Lesão direta a bens, serviços ou interesses
da União, Autarquias Federais ou Empresas
Públicas Federais.
Súmula 107 do STJ: compete à Justiça Comum
Estadual processar e julgar crime de
estelionato praticado mediante falsificação das
guias de recolhimento das contribuições
previdenciárias, quando não ocorrente lesão à
autarquia federal.
STJ: “(...) Não obstante os recursos do Programa Mato Grosso 100%
Equipado serem provenientes de empresa pública federal, não se
evidenciou qualquer prejuízo ao ente público federal, haja vista que
a relação jurídica que vincula o Estado de Mato Grosso ao BNDES é a
de mútuo feneratício, o que indica, à toda evidência, que o valor
emprestado deverá ser ressarcido pelo ente federativo. Incide para o
caso, mutatis mutandis, a ratio essendi do Enunciado n. 209, da
Súmula do STJ, que afirma que "compete à justiça estadual processar
e julgar prefeito por desvio de verba transferida e incorporada ao
patrimônio municipal". (STJ, 5ª Turma, RHC 42.595/MT, Rel. Min.
Felix Fischer, j. 16/12/2014, Dje 02/02/2015).
- Exemplos.

1) Fraude eletrônica praticada em detrimento


de correntista da Caixa Econômica Federal,
cuja agência está localizada em São Paulo e os
saques fraudulentos são realizados em
Curitiba:
STJ: “(...) O furto mediante fraude não se confunde com o estelionato. A
distinção se faz primordialmente com a análise do elemento comum da fraude
que, no furto, é utilizada pelo agente com o fim de burlar a vigilância da vítima
que, desatenta, tem seu bem subtraído, sem que se aperceba; no estelionato,
a fraude é usada como meio de obter o consentimento da vítima que, iludida,
entrega voluntariamente o bem ao agente. Hipótese em que o Acusado se
utilizou de equipamento coletor de dados, popularmente conhecido como
"chupa-cabra", para copiar os dados bancários relativos aos cartões que
fossem inseridos no caixa eletrônico bancário. De posse dos dados obtidos,
foi emitido cartão falsificado, posteriormente utilizado para a realização de
saques fraudulentos. No caso, o agente se valeu de fraude - clonagem do
cartão – para retirar indevidamente valores pertencentes ao titular da conta
bancária, o que ocorreu, por certo, sem o consentimento da vítima, o Banco.
A fraude, de fato, foi usada para burlar o sistema de proteção e de vigilância
do Banco sobre os valores mantidos sob sua guarda, configurando o delito
de furto qualificado”. (STJ, 5ª Turma, Resp 1.412.971/PE, Rel. Min. Laurita Vaz,
j. 07/11/2013, Dje 25/11/2013).
2) Roubo contra casa lotérica:
3) Roubo contra agência dos Correios:
STJ: “(...) Nos crimes praticados em detrimento das agências da Empresa
Brasileira de Correios e Telégrafos - ECT, esta Corte Superior já firmou o
entendimento de que a fixação da competência depende da natureza
econômica do serviço prestado. Se explorado diretamente pela empresa
pública - na forma de agência própria -, o crime é de competência da Justiça
Federal. De outro vértice, se a exploração se dá por particular, mediante
contrato de franquia, a competência para o julgamento da infração é da
Justiça estadual. A espécie, contudo, guarda peculiaridade, pois a agência
alvo do roubo é tida como "comunitária". Constituída sob a forma de convênio
entre a ECT e a prefeitura municipal, ostenta interesse recíproco dos entes
contratantes, inclusive da empresa pública federal. Embora noticiado que o
ilícito importou em pequeno prejuízo à empresa pública, o fato é que houve
perda material e prejuízo ao serviço postal; logo é o caso de firmar a
competência da Justiça Federal para conhecer do feito, nos termos do art. 109,
IV, da Constituição Federal”. (STJ, 3ª Seção, CC 122.596/SC, Rel. Min.
Sebastião Reis Júnior, j. 08/08/2012).
STJ: “(...) Se cabe à instituição financeira contratante dos
serviços do Banco Postal (in casu o Banco do Brasil S/A) a
responsabilidade pelos serviços bancários disponibilizados pela
EBCT a seus clientes e usuários, ressalta nítido que eventual
lesão decorrente da abertura de conta corrente por meio da
utilização de documento falso atingiria o patrimônio e os serviços
do Banco do Brasil S/A e não da Empresa Brasileira de Correios e
Telégrafos - EBCT ou dos serviços típicos de sua atividade fim.
Tanto é assim que, caso a empreitada delituosa tivesse tido êxito,
os prejuízos decorrentes da abertura de conta corrente na
agência do Banco Postal seriam suportados pelo Banco do Brasil
S/A”. (STJ, 3ª Seção, CC 129.804/PB, Rel. Min. Reynaldo Soares
da Fonseca, j. 28/10/2015, Dje 06/11/2015).
4) Crime cometido em detrimento da FUNASA:
5) Crime cometido em detrimento da OAB:
CP.
Exercício de atividade com infração de decisão
administrativa
Art. 205 - Exercer atividade, de que está
impedido por decisão administrativa:
Pena - detenção, de três meses a dois anos, ou
multa.
Obs: Se recai sobre a Justiça Federal a competência para o processo e julgamento
do crime do art. 205 do Código Penal na hipótese em que o agente exercer a
advocacia com a inscrição na OAB suspensa, em razão de infração reconhecida
pelos órgãos disciplinares competentes, raciocínio diverso se aplica ao
inadimplemento de anuidade, hipótese em que restará configurada a contravenção
penal do art. 47 do Dec.-Lei n. 3.688/41, logo, da competência da Justiça Estadual,
eis que, nesse caso, não há falar em verdadeira punição, mas mero ato
administrativo de saneamento cadastral, que, por consequência, não se amolda ao
conceito penal de decisão administrativa proibitiva do exercício da profissão.
Dec.-Lei n. 3.688/41: “Art. 47. Exercer profissão ou atividade econômica ou
anunciar que a exerce, sem preencher as condições a que por lei está subordinado
o seu exercício: Pena – prisão simples, de 15 (quinze) dias a 3 (três) meses, ou
multa”. Nesse contexto: STJ, 3ª Seção, CC 165.781-MG, Rel. Min. Laurita Vaz, j.
14.10.2020, DJe 21.10.2020; STJ, 3ª Seção, CC n. 164.097/SP, Rel. Min. Reynaldo
Soares da Fonseca, DJe de 11/03/2019.
6) Roubo contra o Banco do Brasil:
Súmula 42 do STJ: compete a justiça comum
estadual processar e julgar as causas cíveis
em que é parte sociedade de economia mista e
os crimes praticados em seu detrimento.
STJ: “(...) Compete à Justiça Estadual Comum
julgar e processar crimes cometidos contra
empresa concessionária de serviços públicos,
por inexistir prejuízo a bens e/ou interesses da
União”. (STJ, 5ª Turma, RHC 19.202/SC, Rel.
Min. Arnaldo Esteves Lima, Dje 08/09/2008).
7) Crimes cometidos contra bens tombados:
8) Crime cometido contra consulado
estrangeiro:
9) Peculato cometido em detrimento do
MPDFT:
STJ: “(...) O Poder Judiciário do Distrito Federal, assim como seu
Ministério Público, sua Defensoria Pública e seu sistema de
Segurança Pública, embora organizados e mantidos pela União
(art. 21, XIII a XIV, da CF), não tem natureza jurídica de órgãos de
tal Ente Federativo, pois compõem a estrutura orgânica do
Distrito Federal, equiparado aos Estados Membros (art. 32, § 1º,
da CF). Os delitos perpetrados em detrimento de bens, serviços e
interesses do Ministério Público do Distrito Federal não se
enquadram na regra de competência do art. 109, IV da CF. Conflito
conhecido para declarar competente o Juízo de Direito da 1ª Vara
Criminal e dos Delitos de Trânsito de Samambaia – DF,
suscitado”. (STJ, 3ª Seção, CC 122.369/DF, Rel. Min. Alderita
Ramos de Oliveira, j. 24/10/2012).
Súmula 208 do STJ: compete a justiça federal
processar e julgar prefeito municipal por
desvio de verba sujeita a prestação de contas
perante órgão federal.

Súmula 209 do STJ: compete à justiça estadual


processar e julgar prefeito por desvio de verba
transferida e incorporada ao patrimônio
municipal.
10) Desvio de verbas do FUNDEF:
STJ: “(...) O FUNDEF - Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino
Fundamental e de Valorização do Magistério, atende a uma política nacional de
educação (artigo 211, § 1º, parte final). A teor do disposto no artigo 212, caput, da
Carta Magna, "A União aplicará, anualmente, nunca menos de dezoito, e os Estados,
o Distrito Federal e os Municípios vinte e cinco por cento, no mínimo, da receita
resultante de impostos, compreendida a proveniente de transferências, na
manutenção e desenvolvimento do ensino." A malversação de verbas decorrentes
do FUNDEF, no âmbito penal, ainda que não haja complementação por parte da
União, vincula a competência do Ministério Público Federal para a propositura de
ação penal, atraindo, nessa hipótese, a da Justiça Federal, bem como o controle a
ser exercido pelo TCU, conforme dispõe o artigo 71 da CR/88. Evidenciado o
interesse da União frente à sua missão constitucional na coordenação de ações
relativas ao direito fundamental da educação, principalmente por tratar-se de
fiscalização concorrente entre entes federativos, a competência é da Justiça
Federal, sendo nula a sentença condenatória proferida por Juízo Estadual, a teor do
disposto no artigo 5º, III, da Carta Republicana”. (STJ, 3ª Seção, CC 119.305/SP, Rel.
Min. Adilson Vieira Macabu, Dje 23/02/2012).
11) Falsificação de moeda estrangeira:
12) Falso testemunho cometido em processo
trabalhista (ou perante a Justiça Eleitoral,
Federal ou Militar da União):
Súmula n. 165 do STJ: “Compete à Justiça
Federal processar e julgar crime de falso
testemunho cometido no processo
trabalhista”.
STJ: “(...) O eventual ilícito decorrente do uso de
artefato incendiário contra edifício-sede da Justiça
Militar da União em Porto Alegre/RS não é crime militar,
uma vez que o bem atingido não integra patrimônio
militar, nem está subordinado à administração militar
(art. 9º, III, a, do CPM). Conflito conhecido para declarar
a competência do Juízo Federal da 11ª Vara de Porto
Alegre - SJ/RS, o suscitado”. (STJ, 3ª Seção, CC
137.378/RS, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, j.
11/03/2015, Dje 14/04/2015).
- Compete à Justiça do Distrito Federal julgar o crime de falso testemunho
praticado em processos sob sua jurisdição. O Tribunal de Justiça do
Distrito Federal e dos Territórios, ao contrário da Justiça Trabalhista,
detém atribuições criminais (como também as Justiças Eleitoral e a
Militar). Todavia, diferentemente de todos outros braços do Poder
Judiciário da União, o TJDFT possui natureza híbrida, pois sua
competência jurisdicional corresponde à dos Tribunais estaduais (ou seja,
não se trata de Justiça especializada). Por isso, o Superior Tribunal de
Justiça proferiu julgados nos quais consignou que outros crimes
(diversos do falso testemunho) cometidos contra o MPDFT ou o TJDFT
não são processados e julgados na Justiça Comum Federal. Em
conclusão, a índole sui generis da Justiça do Distrito Federal e dos
Territórios, distinta por sua atribuição jurisdicional equivalente à dos
Tribunais estaduais, impede o reconhecimento de interesse direto da
União na causa. Nessa linha: STJ, 3ª Seção, CC 166.732-DF, Rel. Min.
Laurita Vaz, j. 14.10.2020, DJe 21.10.2020.
13) Crime cometido contra (ou por) funcionário
público federal:
Súmula n. 147 do STJ: “Compete à Justiça
Federal processar e julgar os crimes
praticados contra funcionário público federal,
quando relacionados com o exercício da
função”.
STJ: “(...) se um servidor público federal é vítima de um delito em razão do
exercício de suas funções, tem-se que o próprio serviço público é afetado, o
que atrai a competência da Justiça Federal para processar e julgar o feito.
Doutrina. Enunciado 147 da Súmula do Superior Tribunal de Justiça.
Precedentes. No caso dos autos, ainda que a atuação dos policiais rodoviários
federais tenha se dado de forma casuística, como sustentado na impetração, o
certo é que era sua incumbência, naquele momento, reprimir a prática
criminosa, nos termos do artigo 301 do Código de Processo Penal, motivo pelo
qual não há dúvidas de que agiram no exercício de suas funções, o que revela a
competência da Justiça Federal para processar e julgar o paciente, que desferiu
diversos tiros contra eles ao empreender fuga de agência bancária que tentou
assaltar. Precedente. Habeas corpus não conhecido”. (STJ, 5ª Turma, HC
309.914/RS, Rel. Min. Jorge Mussi, j. 07/04/2015, Dje 15/04/2015).
Obs. 1: a mera condição de servidor público federal não
basta para atrair a competência da Justiça Federal, na
medida em que o interesse da União há de sobressair das
funções institucionais, não da pessoa do acusado. Por
isso, em caso concreto envolvendo suposto crime de
homicídio qualificado praticado por policial rodoviário
federal, por ele cometido quando se encontrava em
deslocamento no trajeto de sua residência para o local de
trabalho, concluiu a 1ª Turma do STF (HC 157.012/MS,
Rel. Min. Marco Aurélio, j. 10/12/2019) pela fixação da
competência da Justiça Estadual.
Obs. 2: É firme a jurisprudência no sentido de que suposto erro sobre a
pessoa ou mesmo erro na execução do delito não têm o condão de
alterar a competência para a prestação jurisdicional. Não por outro
motivo, em caso concreto de dano contra a Polícia Federal, em que o
autor do delito teria incidido em erro quanto ao estabelecimento contra o
qual o delito foi praticado, pois pensava dirigir sua conduta contra a
Prefeitura do Município, já que estava transtornado em razão de ter sido
demitido de uma autarquia municipal, concluiu a 5ª Turma do STJ (AgRg
no HC 560.391-DF, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, j. 04.08.2020, DJe
10.08.2020) que o art. 20, §3º, do CP, que trata do erro sobre a pessoa,
não pode ser invocado para alterar regras de competência definidas pela
Constituição Federal, daí por que foi reconhecida a competência da
Justiça Federal, haja vista a lesão ao patrimônio da União (CF, art. 109,
IV).
14) Crimes contra o meio-ambiente.
Súmula n. 90 do STJ: “Compete à Justiça
Federal processar e julgar os crimes
praticados contra a Fauna” (CANCELADA).
Exemplos:

a) Crime de pesca ilegal de camarão no mar


territorial:
STJ: “(...) CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA.
EXTRAÇÃO DE CASCALHO SEM AUTORIZAÇÃO. ART. 55 DA
LEI 9.605/98. PROPRIEDADE PRIVADA. IRRELEVÂNCIA.
RECURSO MINERAL. BEM DA UNIÃO. ART. 20, IX, DA CF.
COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. ART. 109, IV, DA CF.
Cuidando-se de delito contra bem da União, explicitamente
trazido no artigo 20 da Constituição Federal, mostra-se
irrelevante o local de sua prática, pois onde o legislador
constituinte não excepcionou, não cabe ao intérprete fazê-lo.
Conflito conhecido para julgar competente o JUÍZO FEDERAL
DE RONDONÓPOLIS - SJ/MT, suscitante”. (STJ, 3ª Seção, CC
116.447/MT, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, j.
25/05/2011).
b) Crime ambiental cometido na Floresta
Amazônica:
STJ: “(...) Não há se confundir patrimônio nacional com bem
da União. Aquela locução revela proclamação de defesa de
interesses do Brasil diante de eventuais ingerências
estrangeiras. Tendo o crime de desmatamento ocorrido em
propriedade particular, área que já pertenceu - hoje não mais -
a Parque Estadual, não há se falar em lesão a bem da União.
Ademais, como o delito não foi praticado em detrimento do
IBAMA, que apenas fiscalizou a fazenda do réu, ausente
prejuízo para a União. Conflito conhecido para julgar
competente o JUÍZO DE DIREITO DA 1A VARA DE
CEREJEIRAS - RO, suscitante”. (STJ, 3ª Seção, CC 99.294/RO,
Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, j. 12/08/2009).
15) Crimes contra a fé pública:
a) Falsificação de documento:
Súmula 104 do STJ: Compete à Justiça
Estadual o processo e julgamento dos crimes
de falsificação e uso de documento falso
relativo a estabelecimento particular de ensino.
Súmula 73 do STJ: A utilização de papel-moeda
grosseiramente falsificado configura, em tese,
o crime de estelionato, da competência da
Justiça Estadual.
STF: “(...) FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO PÚBLICO - CERTIDÃO NEGATIVA
DE DÉBITO DO INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - E USO DO
MESMO JUNTO A BANCO PRIVADO PARA RENOVAÇÃO DE FINANCIAMENTO.
FALSIFICAÇÃO QUE, POR SI SÓ, CONFIGURA INFRAÇÃO PENAL PRATICADA
CONTRA INTERESSE DA UNIÃO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL.
ORDEM CONCEDIDA. A jurisprudência desta Corte, para fixar a competência
em casos semelhantes, analisa a questão sob a perspectiva do sujeito
passivo do delito. Sendo o sujeito passivo o particular, conseqüentemente a
competência será da Justiça Estadual. Entretanto, o particular só é vítima do
crime de uso, mas não do crime de falsificação. De fato, o crime de falsum
atinge a presunção de veracidade dos atos da Administração, sua fé pública e
sua credibilidade. Deste modo, a falsificação de documento público praticada
no caso atinge interesse da União, o que conduz à aplicação do art. 109, IV, da
Constituição da República. Ordem concedida para fixar a competência da
Justiça Federal para processamento e julgamento do feito”. (STF, 2ª Turma,
HC 85.773/SP, Rel. Min. Joaquim Barbosa, DJ 27/04/2007 p. 105).
STF: “(...) PENAL MILITAR. CRIMES DE FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO
OU USO DE DOCUMENTO FALSO (ARTS. 311 E 315 DO CPM).
CADERNETA DE INSCRIÇÃO E REGISTRO (CIR) OU HABILITAÇÃO DE
ARRAIS-AMADOR. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. ORDEM
CONCEDIDA. I - Em diversas oportunidades, esta Suprema Corte afirmou
o entendimento de que é da Justiça Federal a competência para
processar e julgar civil denunciado pelos crimes de falsificação de
documento ou uso de documento falso (arts. 311 e 315, respectivamente,
do CPM), quando se tratar de falsificação da Caderneta de Inscrição e
Registro (CIR) ou Habilitação de Arrais-Amador, ambas expedidas pela
Marinha do Brasil, por aplicação dos arts. 21, XXII, 109, IV, e 144, § 1º, III,
todos da Constituição da República. II - Habeas corpus concedido para a
anular o acórdão ora atacado e declarar a incompetência da Justiça
Militar para processar e julgar o feito”. (STF, 1ª Turma, HC 104.837/SP, Rel.
Min. Ricardo Lewandowski, Dje 200 21/10/2010).
Súmula vinculante n. 36 (STF): “Compete à Justiça
Federal Comum processar e julgar civil denunciado
pelos crimes de falsificação e de uso de documento falso
quando se tratar de falsificação da caderneta de
inscrição e registro (CIR) ou de carteira de habilitação
de amador (CHA), ainda que expedidas pela Marinha do
Brasil”.
b) Uso de documento falso:
STJ: “(...) A competência para processamento e julgamento do delito de uso
de documento falso deve ser fixada com base na qualificação do órgão ou
entidade perante o qual foi apresentado o documento falsificado, sendo certo
que os serviços ou bens da entidade são efetivamente lesados, pouco
importando, em príncípio, a natureza do órgão responsável pela expedição
do documento. No caso dos autos, tendo o Certificado de Registro e
Licenciamento de Veículo (CRLV) falso sido apresentado à Polícia Rodoviária
Federal, órgão da União, em detrimento de seu serviço de patrulhamento
ostensivo das rodovias federais, previsto no art. 20, II, do Código de Trânsito
Brasileiro, afigura-se inarredável a competência da Justiça Federal para o
processamento e julgamento da causa, nos termos do art. 109, IV, da
Constituição Federal. Conflito conhecido para declarar competente o Juízo
Federal da 5ª Vara da Seção Judiciária do Estado do Espírito Santo, ora
suscitado”. (STJ, 3ª Seção, CC 124.498/ES, Rel. Min. Alderita Ramos de
Oliveira, Dje 01/02/2013).
Súmula n. 546 do STJ: “A competência para
processar e julgar o crime de uso de
documento falso é firmada em razão da
entidade ou órgão ao qual foi apresentado o
documento público, não importando a
qualificação do órgão expedidor”;
c) Crime de falso como crime-meio:
d) CTPS falsa:

Súmula 62 do STJ: compete à Justiça Estadual


processar e julgar o crime de falsa anotação na
Carteira de Trabalho e Previdência Social,
atribuído à empresa privada.
STJ: “(...) CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. PENAL. ART.
297, § 4.º, DO CÓDIGO PENAL. OMISSÃO DE LANÇAMENTO DE
REGISTRO. CARTEIRAS DE TRABALHO E PREVIDÊNCIA SOCIAL.
INTERESSE DA PREVIDÊNCIA SOCIAL. JUSTIÇA FEDERAL. O
agente que omite dados na Carteira de Trabalho e Previdência
Social, atentando contra interesse da Autarquia Previdenciária,
estará incurso nas mesmas sanções do crime de falsificação de
documento público, nos termos do § 4.º do art. 297 do Código
Penal, sendo a competência da Justiça Federal para processar e
julgar o delito, consoante o art. 109, inciso IV, da Constituição
Federal. 2. Competência da Justiça Federal”. (STJ, 3ª Seção, CC
58.443/MG, Rel. Min. Laurita Vaz, Dje 26/03/2008).
5) Falsificação de certificado de conclusão de
curso:
Súmula 31 do TFR: compete à Justiça Estadual
o processo e julgamento de crime de
falsificação ou de uso de certificado de
conclusão de curso de 1º e 2º Graus, desde
que não se refira a estabelecimento federal de
ensino ou a falsidade não seja de assinatura
de funcionário federal.
- Juízo Federal da Execução Penal.
Súmula 192 do STJ: compete ao juízo das
execuções penais do estado a execução das
penas impostas a sentenciados pela justiça
federal, militar ou eleitoral, quando recolhidos
a estabelecimentos sujeitos a administração
estadual.
Lei 11.671/08
Art. 2º. A atividade jurisdicional de execução
penal nos estabelecimentos penais federais
será desenvolvida pelo juízo federal da seção
ou subseção judiciária em que estiver
localizado o estabelecimento penal federal de
segurança máxima ao qual for recolhido o
preso.
(...)
STJ: “(...) Se a execução penal é transferida para outra Unidade da Federação, consectário
lógico da remoção operada, a teor do art. 86 da Lei nº 7.210/84, o Juiz competente para esse fim
é o indicado pela Lei de Organização Judiciária, ou seja, aquele da Unidade da Federação onde
se executará a pena. Está-se diante não de uma simples delegação de competência de um
Estado para outro, mas de verdadeira modificação de competência. Não há olvidar a
competência do Juízo das Execuções fluminense para decidir quanto à conveniência da
remoção, a teor do art. 5º da Lei 11.671/2008. Entretanto, a execução das penas é da
competência do Juízo Federal de Catanduvas/PR, em atenção ao art. 1º, § 1º, da Resolução nº
557/07 do Conselho da Justiça Federal, (redação similar ao artigo 4º, § 1º da Lei nº
11.671/2008), que determina: "A execução penal da pena privativa de liberdade, no período em
que se efetivar a transferência, ficará a cargo do juízo federal competente." Para o fiel
cumprimento da execução penal deve-se levar em conta, diante das circunstâncias do caso
concreto, não apenas as conveniências pessoais e familiares dos presos, bem como os da
Administração Pública, sobretudo quando relacionadas com o efetivo cumprimento da pena,
uma vez que se reconheça a impossibilidade do Juízo que solicitou o deslocamento dos
apenados de se fazer presente no local do cumprimento da pena para acompanhá-la e tratar de
incidentes que surjam no decorrer da execução. Exegese do Enunciado Sumular 192 desta
Corte, a corroborar a regra disposta no art. 66, III da Lei de Execuções Penais”. (STJ, 3ª Seção,
CC 90.702/PR, Rel. Min. Og Fernandes, Dje 13/05/2009).
Lei 11.671/08
Art. 2º. (...)
Parágrafo único. O juízo federal de execução
penal será competente para as ações de
natureza penal que tenham por objeto fatos ou
incidentes relacionados à execução da pena
ou infrações penais ocorridas no
estabelecimento penal federal. (Incluído pela
Lei n. 13.964, de 2019)
(...)
- Crimes cometidos no estrangeiro:
- Contravenções penais:
Súmula 38 do STJ: compete à justiça estadual
comum, na vigência da constituição de 1988, o
processo por contravenção penal, ainda que
praticada em detrimento de bens, serviços ou
interesse da união ou de suas entidades.
STJ: “(...) Apesar da existência de conexão entre o crime de contrabando e
contravenção penal, mostra-se inviável a reunião de julgamentos das
infrações penais perante o mesmo Juízo, uma vez que a Constituição Federal
expressamente excluiu, em seu art. 109, IV, a competência da Justiça Federal
para o julgamento das contravenções penais, ainda que praticadas em
detrimento de bens, serviços ou interesse da União. Súmula nº 38/STJ.
Precedentes. Firmando-se a competência do Juízo Federal para processar e
julgar o crime de contrabando conexo à contravenção penal, impõe-se o
desmembramento do feito, de sorte que a contravenção penal seja julgada
perante o Juízo estadual. Conflito conhecido para declarar competente o
Juízo de Direito do 8º Juizado Especial Criminal do Rio de Janeiro/RJ, o
suscitado, para processar e julgar a conduta relacionada à contravenção,
remanescendo a competência do Juízo Federal da 9ª Vara Federal Criminal da
Seção Judiciária do Rio de Janeiro-RJ, suscitante, para o processo e
julgamento do crime de contrabando”. (STJ, 3ª Seção, CC 120.406/RJ, Rel.
Min. Alderita Ramos de Oliveira, Dje 01/02/2013).
8.3.5. Crimes previstos em tratado ou
convenção internacional, quando, iniciada a
execução no país, o resultado tenha ou
devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou
reciprocamente.
CF/88

Art. 109. Aos juízes federais compete processar e


julgar:
(...)
V - os crimes previstos em tratado ou convenção
internacional, quando, iniciada a execução no País, o
resultado tenha ou devesse ter ocorrido no
estrangeiro, ou reciprocamente;
8.3.5.1. Requisitos.
- Exemplos.

1) Tráfico internacional de drogas:


Súmula n. 528 do STJ: “Compete ao juiz
federal do local da apreensão da droga
remetida do exterior pela via postal processar
e julgar o crime de tráfico internacional”;
STF: “(...) PROCESSO PENAL E CONSTITUCIONAL. AÇÃO PENAL.
CONTRABANDO DE ARMA DE FOGO (CP, ART. 334, § 1º, C).
DESCLASSIFICAÇÃO PARA RECEPTAÇÃO (CP, ART. 180).
PRORROGAÇÃO DA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL.
IMPOSSIBILIDADE. 1. A norma do art. 81, caput , do CPP, ainda que
busque privilegiar a celeridade, a economia e a efetividade
processuais, não possui aptidão para modificar competência
absoluta constitucionalmente estabelecida, como é o caso da
competência da Justiça Federal. 2. Ausente qualquer das hipóteses
previstas no art. 109, IV, da CF, ainda que isso somente tenha sido
constatado após a realização da instrução, os autos devem ser
remetidos ao Juízo competente, nos termos do § 2º do art. 383 do
CPP. 3. Ordem concedida. (STF, 2ª Turma, HC 113.845/SP, Rel. Min.
Teori Zavascki, j. 20/08/2013).
Obs. 1: Compete à Justiça Estadual o pedido de habeas
corpus preventivo para viabilizar, para fins medicinais, o cultivo, uso,
porte e produção artesanal da Cannabis (maconha), bem como o porte
em outra unidade da federação, quando não demonstrada a
internacionalidade da conduta. Ora, se os impetrantes objetivam ordem
de salvo conduto, impedindo possível constrangimento de autoridades
estaduais (v.g., Delegado Geral da Polícia Civil, Comandante Geral da
Polícia Militar), para que possam cultivar artesanalmente a
planta Canabis Sativa L, bem como usá-la e portá-la dentro do território
nacional com fins terapêuticos, sem qualquer intento de obter uma
ordem judicial de modo a viabilizar uma conduta transnacional (v.g.,
importação da Cannabis), é de rigor a conclusão no sentido de que não
há nada que justifique a fixação da competência da Justiça Federal.
Nesse sentido: STJ, 3ª Seção, CC 171.206/SP, Rel. Min. Joel Ilan
Paciornik, j. 10/06/2020, DJe 16/06/2020.
(PGR –PROCURADOR DA REPÚBLICA – 2015) ANALISE AS
ASSERTIVAS ABAIXO:
I - "A" é preso em flagrante por tráfico internacional de drogas
(importação e transporte de 100kg de cocaína oriunda do Paraguai,
acondicionada em fundo falso de uma caminhonete) e, no mesmo
momento, e encontrada em sua posse, sob o banco do motorista uma
arma sem a devida autorização para porte (mas não usada em
nenhum momento pelo preso), caracterizada estara, por esta
circunstância, no caso concreto, a competência da Justiça Federal
para o julgamento de ambos os delitos, presente a conexão probatória
(Súmula 122, STJ).
II - Recebida a denúncia contra "A" por crimes de tráfico internacional
de entorpecentes conexo com moeda falsa, após a instrução, estando
conclusos os autos para sentença, o Juiz Federal se convence que
não há provas da internacionalidade do tráfico, desclassificando a
conduta para tráfico interno de entorpecentes. Neste caso, achando
que não há provas suficientes da autoria do delito de moeda falsa, cuja
materialidade e indiscutível, deverá ele, necessariamente, julgar o
mérito de ambos os crimes, proferindo sentença quanto ao mérito
inclusive no que se refere ao delito desclassificado.
III - É entendimento do Supremo Tribunal Federal que, presente a
usurpação de sua competência, porque indevidamente investigado
também um parlamentar federal em primeiro grau e presente a
coautoria em tese dos demais envolvidos, o provimento da reclamação
ajuizada pelo parlamentar nao autoriza o deferimento do pedido de
extensão de nulidade formulado pelos advogados dos demais
investigados.

Pode-se afirmar que:


(a) As assertivas I e II estão erradas e a assertiva III esta correta.
(b) As assertivas II e III estão erradas e a assertivas I está correta;
(c) Todas as assertivas estão corretas.
(d) A assertiva I está errada e as assertivas II e III estão corretas.
Gabarito: D
2) Prática de pedofilia pela internet:
STJ: “(...) O art. 109, V, da Constituição Federal estabelece que compete aos Juízes
Federais processar e julgar "os crimes previstos em tratado ou convenção internacional,
quando, iniciada a execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no
estrangeiro, ou reciprocamente". Para fixar a competência da Justiça Federal, não basta
o Brasil ser signatário de tratado ou convenção internacional que prevê o combate a
atividades criminosas relacionadas a pedofilia, inclusive por meio da Internet. O crime
há de se consumar com a publicação ou divulgação, ou quaisquer outras ações
previstas no tipo penal do art. 241, caput e §§ 1º e 2º, da Lei 8.069/90, na rede mundial
de computadores (Internet), de fotografias ou vídeos de pornografia infantil, dando o
agente causa ao resultado da publicação, legalmente vedada, dentro e fora dos limites
do território nacional. Na hipótese dos autos, e pelo que se apurou, até o presente
momento, o material de conteúdo pornográfico, em análise no apuratório, não
ultrapassou os limites dos estabelecimentos escolares, nem tampouco as fronteiras do
Estado brasileiro. Assim, não estando evidenciada a transnacionalidade do delito - tendo
em vista que a conduta do investigado, a ser apurada, restringe-se, até agora, à
captação e ao armazenamento de vídeos, de conteúdo pornográfico, ou de cenas de
sexo explícito, envolvendo crianças e adolescentes, nos computadores de duas escolas
-, a competência, in casu, é da Justiça Estadual”. (STJ, 3ª Seção, CC 103.011/PR, Rel.
Min. Assusete Magalhães, Dje 22/03/2013).
(TRF – 3ª REGIÃO – JUIZ FEDERAL SUBSTITUTO- 2016)
Segundo o Supremo Tribunal Federal, o julgamento dos crimes
relacionados à pornografia na internet compete:
a) À Vara da Criança e Adolescente, uma vez que o crime está
previsto no ECA;
b) À Justiça Federal, pois, dentre outros motivos, presente a
internacionalidade;
c) À Justiça Estadual, sempre que as imagens tiverem sido
postadas no Brasil;
d) À Justiça Estadual, desde que as imagens tenham sido
acessadas no Brasil.
Gabarito: B
(Procurador da República – Março/2017). Em razão
da matéria, compete necessariamente à Justiça
Federal processar e julgar os crimes consistentes
em disponibilizar ou adquirir material pornográfico
envolvendo criança ou adolescente, quando
praticados por meio da rede de computadores,
bastando, para tanto, que o material tenha estado
acessível por alguém no estrangeiro, ainda que não
haja evidências de que esse acesso realmente tenha
ocorrido.
GABARITO: CORRETA
- Obs. 1: A competência também será da Justiça Federal nos casos em
que o compartilhamento das fotos contendo o material pedopornográfico
for feito através do programa P2P (Peer-to-Peer), o qual tem como uma
das principais características o fato de que todos os arquivos existentes
na pasta compartilhada do computador membro ficam visíveis para os
demais componentes da rede. Ora, se os arquivos ficam disponíveis a
usuários indefinidos e ilimitados, inclusive no estrangeiro, bastando que
instalem o aludido programa em seus dispositivos eletrônicos, para que
tenham acesso ao conteúdo pornográfico, dúvida não há quanto à
internacionalidade potencial da conduta delituosa, justificando-se, assim,
a fixação da competência da Justiça Federal, pouco importando que não
haja evidências de que houve algum acesso no estrangeiro. Com esse
entendimento: STJ, 3ª Seção, CC 173.960-MS, Rel. Min. Laurita Vaz, j.
14.10.2020, DJe 21.10.2020.
- Obs. 2: racismo por meio de sítio virtual de amplo acesso (Lei n. 7.716/89,
art. 20, §2º). Em caso concreto envolvendo a divulgação pela rede social
“Facebook”, na página “Hitler Depressão – A Todo Gás”, de conteúdo
discriminatório contra todo o povo judeu e não contra pessoa
individualmente considerada, a 3ª Seção do STJ deliberou pela fixação da
competência da Justiça Federal. A uma porque se trata de crime previsto em
tratado ou convenção internacional, in casu pela "Convenção Internacional
sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial",
promulgada pela Assembleia das Nações Unidas e ratificada pelo Brasil em
27.03.1968. A duas porque presente a internacionalidade territorial do
resultado relativamente à conduta delituosa. Com efeito, a mera
potencialidade de o material disponibilizado na internet ser acessado no
exterior é o quanto basta para fixação da competência da Justiça Federal,
mesmo que o conteúdo não tenha sido efetivamente visualizado fora do
território nacional. Nesse contexto: STJ, 3ª Seção, CC 163.420/PR, Rel. Min.
Joel Ilan Paciornik, j. 13.05.2020, DJe 01.06.2020.
- Obs. 3: crimes de violação de direito autoral e contra
a lei de software decorrentes do compartilhamento
ilícito de sinal de TV por assinatura, via satélite ou
cabo, por meio de serviços de card sharing.
STJ: “(...) Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes
de violação de direito autoral e contra a lei de software
decorrentes do compartilhamento ilícito de sinal de TV por
assinatura, via satélite ou cabo, por meio de serviços de card
sharing. A conduta assinalada consiste no compartilhamento
ilícito de sinal de TV, por meio de um cartão no qual são
armazenadas chaves criptografadas que carregam, de forma
cifrada, o conteúdo audiovisual. Tais cartões são inseridos em
equipamentos que viabilizam a captação do sinal, via cabo ou
satélite, e sua adequada decodificação, conhecidos como AZBox,
Duosat, AzAmérica, entre outros. (...)
(...) Ao que consta dos autos, uma das formas de quebra das chaves criptográficas é feita por
fornecedores situados na Ásia e Leste Europeu, que enviam, via internet, a pessoas que as
distribuem, também via internet, aos usuários dos decodificadores ilegais, assim permitindo
que o sinal de TV seja irregularmente captado. Nesse sentido, de acordo com o art. 109, V, da
Constituição Federal, a competência da jurisdição federal se dá pela presença concomitante da
transnacionalidade do delito e da assunção de compromisso internacional de repressão,
constante de tratados ou convenções internacionais. A previsão normativa internacional, na
hipótese, é a Convenção de Berna, integrada ao ordenamento jurídico nacional através do
Decreto n. 75.699/1975, e reiterada na Organização Mundial do Comércio – OMC por acordos
como o TRIPS (Trade-Related Aspects of Intellectual Property Rights) - Acordo sobre Aspectos
dos Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio (AADPIC), incorporado pelo
Decreto n. 1.355/1994, com a previsão dos princípios de proteção ao direitos dos criadores. O
outro requisito constitucional, de tratar-se de crime à distância, com parcela do crime no Brasil
e outra parcela do iter criminis fora do país, é constatado pela inicial prova da atuação
transnacional dos agentes, por meio da internet. Nesse contexto, tem-se por evidenciados os
requisitos da previsão das condutas criminosas em tratado ou convenção internacional e do
caráter de internacionalidade dos delitos objeto de investigação, constatando-se, à luz do
normativo constitucional, a competência da jurisdição federal para o processamento do feito.
(STJ, 3ª Seção, CC 150.629/SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, j. 22/02/2018, DJe 28/02/2018).
3.6. Incidente de Deslocamento de
Competência (IDC).
CF/88.
Art. 109 (...)
§ 5º Nas hipóteses de grave violação de direitos
humanos, o Procurador-Geral da República, com a
finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações
decorrentes de tratados internacionais de direitos
humanos dos quais o Brasil seja parte, poderá suscitar,
perante o Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase
do inquérito ou processo, incidente de deslocamento de
competência para a Justiça Federal. (Incluído pela
Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
8.3.6.1. Requisitos.
8.3.6.2. Legitimidade e Competência.
(TRF – 2ª REGIÃO – JUIZ FEDERAL SUBSTITUTO- 2017) Analise
as assertivas sobre a competência penal e, depois, marque a opção
correta:
I - A conexão entre crimes da competência da Justiça Federal e da
Estadual não enseja a reunião dos feitos;
II — São requisitos para o deferimento do incidente de deslocamento
de competência para a Justiça Federal a grave violação de direitos
humanos, a necessidade de assegurar o cumprimento, pelo Brasil, de
obrigações decorrentes de tratados internacionais e a incapacidade de
o estado membro, por suas instituições e autoridades, levar a cabo, em
toda a sua extensão, a persecução penal.
III - Se cometidos durante o horário de expediente, compete à Justiça
Federal julgar os delitos praticados por funcionário público federal.
(a)Apenas a assertiva I está correta.
(b)Apenas a assertiva II está correta.
(c)Apenas a assertiva III está correta
(d)Todas as assertivas estão corretas.
(e)Apenas as assertivas II e III estão corretas.
Gabarito: B
8.3.7. Crimes Contra a Organização do
Trabalho.
CF/88.
Art. 109 (...)
VI - os crimes contra a organização do trabalho
e, nos casos determinados por lei, contra o
sistema financeiro e a ordem econômico-
financeira;
Súmula 115 do TFR: compete à Justiça Federal
processar e julgar os crimes contra a
organização do trabalho, quando tenham por
objeto a organização geral do trabalho ou
direitos dos trabalhadores considerados
coletivamente.
CP.
Aliciamento de trabalhadores de um local para
outro do território nacional
Art. 207 - Aliciar trabalhadores, com o fim de
levá-los de uma para outra localidade do
território nacional:
Pena - detenção de um a três anos, e multa.
(Redação dada pela Lei nº 9.777, de 29.12.1998)
Art. 207 (...)
§ 1º Incorre na mesma pena quem recrutar
trabalhadores fora da localidade de execução
do trabalho, dentro do território nacional,
mediante fraude ou cobrança de qualquer
quantia do trabalhador, ou, ainda, não
assegurar condições do seu retorno ao local
de origem. (Incluído pela Lei nº 9.777, de
29.12.1998)
Art. 207 (...)
§ 2º A pena é aumentada de um sexto a um
terço se a vítima é menor de dezoito anos,
idosa, gestante, indígena ou portadora de
deficiência física ou mental. (Incluído pela Lei
nº 9.777, de 29.12.1998)
CP.
Redução a condição análoga à de escravo
Art. 149. Reduzir alguém a condição análoga à de escravo,
quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada
exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de
trabalho, quer restringindo, por qualquer meio, sua
locomoção em razão de dívida contraída com o empregador
ou preposto: (Redação dada pela Lei nº 10.803, de
11.12.2003)
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa, além da pena
correspondente à violência. (Redação dada pela Lei nº
10.803, de 11.12.2003)
Art. 149 (...)
§ 1º Nas mesmas penas incorre quem: (Incluído pela Lei nº
10.803, de 11.12.2003)
I – cerceia o uso de qualquer meio de transporte por parte
do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho;
(Incluído pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003)
II – mantém vigilância ostensiva no local de trabalho ou se
apodera de documentos ou objetos pessoais do
trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho.
(Incluído pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003)
Art. 149 (...)
§ 2º A pena é aumentada de metade, se o
crime é cometido: (Incluído pela Lei nº 10.803,
de 11.12.2003)
I – contra criança ou adolescente; (Incluído
pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003)
II – por motivo de preconceito de raça, cor,
etnia, religião ou origem. (Incluído pela Lei nº
10.803, de 11.12.2003)
8.3.8. Crimes Contra o Sistema Financeiro e a
Ordem Econômico-financeira (CF/88, art. 109,
“in fine”).
1) Lei 1.521/51:
Súmula 498 do STF: compete à justiça dos
estados, em ambas as instâncias, o processo e
o julgamento dos crimes contra a economia
popular.
2) Lei 4.595/54:
3) Lei 7.492/86:
Lei 7.492/86

Art. 26. A ação penal, nos crimes previstos


nesta lei, será promovida pelo Ministério
Público Federal, perante a Justiça Federal.
Obs. 1: a operação envolvendo compra ou venda de criptomoedas não
encontra regulação no ordenamento jurídico pátrio, pois as moedas virtuais
não são tidas pelo Banco Central do Brasil (BCB) como moeda, nem são
consideradas como valor mobiliário pela Comissão de Valores Mobiliários
(CVM), não caracterizando sua negociação, por si só, os crimes tipificados
nos arts. 7º, II, e 11, ambos da Lei n. 7.492/1986, nem mesmo o delito previsto
no art. 27-E da Lei n. 6.385/197. Logo, recai sobre a Justiça Estadual a
competência para o processo e julgamento de eventual ilícito referente à
atuação de trader de criptomoeda (bitcoin) que oferecia rentabilidade fixa aos
investidores. Nesse contexto: STJ, 3ª Seção, CC 161.123-SP, Rel. Min.
Sebastião Reis Júnior, j. 28.11.2018, DJe 05.12.2018. Ausentes elementos que
revelem ter havido evasão de divisas ou lavagem de dinheiro em detrimento
de interesses da União, compete à Justiça Estadual processar e julgar crimes
relacionados a pirâmide financeira em investimento de grupo em
criptomoeda: STJ, 3ª Seção, CC 170.392/SP, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, j.
10/06/2020, DJe 16/06/2020.
Obs. 2: Considerando-se, todavia, a possibilidade de a negociação de
criptomoeda ser utilizada como meio para a prática de eventual crime de
evasão de divisas (Lei n. 7.492/86, art. 22), se acaso o agente adquirir a
moeda virtual como forma de efetivar operação de câmbio (conversão de
real em moeda estrangeira), não autorizada, com o fim de promover a
evasão de divisas do país, é de rigor a conclusão de que, em tal hipótese,
ter-se-ia como fixada a competência da Justiça Federal, seja por força do
art. 26 da Lei n. 7.492/86, seja por conta d‘ súmula n. 122 do S’J. Idêntico
raciocínio, é dizer, no sen‘ido da competência d’ Justiça Federal, é válido
na hipótese de oferta pública de contrato de investimento coletivo em
criptomoedas sem prévio registro de emissão na autoridade competente.
Explica-se: nesse caso, incidem as disposições contidas na Lei n.
7.492/86 (arts. 4º, 5º, 7º, II, e 16), notadamente porque tal espécie de
contrato consubstancia valor mobiliário, nos termos do art. 2º, IX, da Lei
n. 6.385/1976. A propósito: STJ, 6ª Turma, HC 530.563/RS, Rel. Min.
Sebastião Reis Júnior, j. 05/03/2020, DJe 12/03/2020.
4) Lei 8.137/90:
5) Lei 8.176/91:
6) Lei 9.613/98:
Lei 9.613/98
Art. 2º O processo e julgamento dos crimes previstos nesta
Lei:
(...)
III – são da competência da Justiça Federal:
a)Quando praticados contra o sistema financeiro e a ordem
econômico-financeira, ou em detrimento de bens, serviços
ou interesses da União, ou de suas entidades autárquicas
ou empresas públicas;
b)Quando a infração penal antecedente for de competência
da Justiça Federal.
(CESPE –DEFENSOR PÚBLICO FEDERAL – DPU-2017) Em cada um
do item seguinte é apresentada uma situação hipotética, seguida
de uma assertiva a ser julgada à luz das disposições
constitucionais e legais a respeito de competência.

Ricardo foi denunciado pela prática do crime de lavagem de


capitais provenientes do tráfico internacional de drogas. Nessa
situação, o crime de lavagem de capitais será processado e
julgado pela justiça federal, haja vista a competência
constitucional do crime antecedente.
Gabarito: Certo
8.3.9. Crimes Cometidos a Bordo de Navios e
Aeronaves (CF/88, art. 109, IX).
- Conceitos.

Navio: embarcação de grande porte e que seja


capaz de circular em alto-mar.
A bordo: deve ser entendido como crime
praticado no interior do navio.
Aeronave: Lei 7.565/86, art. 106, “caput”.
Lei 7.565/86.
Art. 106. Considera-se aeronave todo aparelho
manobrável em voo, que possa sustentar-se e
circular no espaço aéreo, mediante reações
aerodinâmicas, apto a transportar pessoas ou
coisas.
Compete à Justiça Estadual o julgamento de crimes
ocorridos a bordo de balões de ar quente tripulados.
Explica-se: os aeróstatos (balões e dirigíveis) não são
manobráveis, mas apenas controlados em voo, já que
são guiados pela corrente de ar. De outro lado, sua
sustentação não ocorre por reações aerodinâmicas, mas
por impulsão estática, decorrente do aquecimento do ar
ao seu redor, tornando-o menos denso, o que os faz subir
e alçar voo. Logo, não podem ser tratados como
aeronave à luz do art. 106 do Código Brasileiro de
Aeronáutica. Nessa linha: STJ, 3ª Seção, CC 143.400/SP,
Rel. Min. Ribeiro Dantas, j. 24/04/2019, DJe 15/05/2019.
8.3.10. Crimes Praticados por (ou contra)
Índios.
Súmula n. 140 do STJ: “Compete à Justiça
Comum Estadual processar e julgar crime em
que o indígena figure como autor ou vítima.
CF/88.
Art. 231. São reconhecidos aos índios sua
organização social, costumes, línguas, crenças
e tradições, e os direitos originários sobre as
terras que tradicionalmente ocupam,
competindo à União demarcá-las, proteger e
fazer respeitar todos os seus bens.
(...)
- Genocídio contra índios: Lei 2.889/56.
(Procurador da República – Março/2017). Crime
cometido por indígena contra outro indígena
dentro da aldeia é de competência federal
porque se presume haver disputa sobre
direitos indígenas.
GABARITO: ERRADA
8.3.11. Conexão e Continência entre Crime
“Federal” e Crime “Estadual”.
Súmula 122 do STJ: compete à Justiça Federal
o processo e julgamento unificado dos crimes
conexos de competência federal e estadual,
não se aplicando a regra do Art. 78, II, "a", do
Código de Processo Penal.
CPP.
Art. 78. Na determinação da competência por conexão
ou continência, serão observadas as seguintes regras:
(Redação dada pela Lei nº 263, de 23.2.1948)
(...)
Il - no concurso de jurisdições da mesma categoria:
(Redação dada pela Lei nº 263, de 23.2.1948)
a) preponderará a do lugar da infração, à qual for
cominada a pena mais grave; (Redação dada pela Lei
nº 263, de 23.2.1948)
Reconhecendo a competência da Justiça Federal para
o processo e julgamento de crime de roubo armado
contra agência dos correios, crime de competência da
Justiça Federal, conexo a tentativa de homicídio contra
policiais militares: STJ, 3ª Seção, CC 165.117/RS, Rel.
Min. Ribeiro Dantas, j. 23/10/2019, DJe 30/10/2019.
(MPE- PROMOTOR DE JUSTIÇA SUBSTITUTO –MP/SP – 2017) Assinale
a alternativa correta.
(A) A competência jurisdicional só será determinada pelo domicílio do réu
quando desconhecido o lugar da infração.
(B) Em homicídio praticado em coautoria, por pessoa com prerrogativa de
função estabelecida pela Constituição Federal e outra sem foro
privilegiado, a continência importa em unidade do processo e prorrogação
da competência do Tribunal do Júri.
(C) A Justiça Federal é competente para o processo e julgamento unificado
dos crimes conexos de competência federal e estadual, ainda que a pena
aplicada ao crime de competência estadual seja mais grave.
(...)
(...)
(D) Na hipótese de crimes conexos, o juiz que decretar a prisão preventiva
de um dos acusados fica, em face da prevenção, competente para a
apreciação de todos os crimes, independentemente do número de
infrações cometidas.
(E) No caso de crime continuado, com diversos processos em andamento,
o juiz prevento deverá avocar os demais, sendo nula qualquer sentença
proferida por outro juízo, ainda que definitiva.
Gabarito: C
(PGR –PROCURADOR DA REPÚBLICA – 2013) ASSINALE A
ALTERNATIVA CORRETA:
(a) Não obstante evidente conexão entre crimes de competência da Justiça
Federal e contravenções penais, compete à Justiça Estadual julgar
acusado da contravenção penal, devendo haver desmembramento da
persecução penal;
(b) Pessoa condenada na Justiça Estadual é transferida de presídio
estadual para presídio federal. A competência para a execução penal
permanece na Justiça Estadual;
(c) A competência para julgamento de crimes ambientais é, em regra, da
Justiça Federal, com exceção daqueles cometidos em terras indígenas;
(d) Segundo a Lei n. 9.613/98, os crimes de lavagem de capitais não têm
persecução penal na Justiça Estadual.
Gabarito: A
9. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL.

Possui natureza residual.

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