Você está na página 1de 17

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA 1ª VARA

FEDERAL DA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE FRANCISCO BELTRÃO – SEÇÃO


JUDICIÁRIA DO PARANÁ.

TRANSPORTES RODOVIÁRIOS VALE DO PIQUIRI


LTDA., já devidamente qualificada nos autos do MANDADO DE SEGURANÇA
Nº 5012284-73.2019.4.04.7005/PR, impetrado em face do DELEGADO DA
RECEITA FEDERAL DO BRASIL EM CASCAVEL, vem respeitosamente à
presença de Vossa Excelência, por intermédio de seus procuradores que aqui
subscrevem, por não se conformar com a respeitável sentença publicada,
apresentar

RECURSO DE APELAÇÃO

em atenção ao art. 1.009 do CPC, pelos fatos e fundamentos a seguir expostos.

Requer seja recebido o presente Apelo, e posteriormente


que seja remetido ao Egrégio Tribunal Regional Federal da 4ª Região e
devolvido o conhecimento da matéria questionada, procedendo-se a um
novo julgamento.

Nestes termos, pede deferimento.

Francisco Beltrão/PR, 21 de maio de 2020.

JOÃO JOAQUIM MARTINELLI


OAB/PR 25.430-A
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR FEDERAL PRESIDENTE
DO EGRÉGIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 4ª REGIÃO.

ORIGEM: 1ª VARA FEDERAL DA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE FRANCISCO


BELTRÃO – SEÇÃO JUDICIÁRIA DO PARANÁ.
MANDADO DE SEGURANÇA Nº: 5012284-73.2019.4.04.7005/PR.
APELANTE: TRANSPORTES RODOVIÁRIOS VALE DO PIQUIRI LTDA.
APELADO: DELEGADO DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL EM CASCAVEL.

RAZÕES DO RECURSO DE APELAÇÃO

Colenda Turma,
Eméritos Julgadores.

I. DA SÍNTESE DO FEITO

A Apelante impetrou o presente mandamus objetivando


obstar a cobrança de contribuições a entidades terceiras considerando base de
cálculo superior a 20 (vinte) salários mínimos, com base nos termos do artigo
4º, parágrafo único, da Lei nº 6.950/811.

1
Art 4º - O limite máximo do salário-de-contribuição, previsto no art. 5º da Lei nº 6.332, de 18 de maio de
1976, é fixado em valor correspondente a 20 (vinte) vezes o maior salário-mínimo vigente no País.
Parágrafo único - O limite a que se refere o presente artigo aplica-se às contribuições parafiscais arrecadadas
por conta de terceiros.
Apreciando o feito, o juízo a quo prolatou sentença
denegando a segurança pleiteada, entendendo ter sido revogado
integralmente o artigo 4º da Lei nº 6.950/81 pelo Decreto-Lei nº 2.318/1986,
bem como, ter sido vedada a vinculação de salário mínimo para qualquer fim,
pelo artigo 7º, inciso VI da Constituição Federal:

SENTENÇA

[...]

A Lei nº 6.950/1981 unificou a base contributiva das empresas para a


Previdência Social e das contribuições parafiscais arrecadadas,
estabelecendo que o limite máximo do salário de contribuição, nessas
hipóteses, seria correspondente a vinte vezes o salário mínimo vigente no
País:

Art 4º - O limite máximo do salário-de-contribuição, previsto no art. 5º


da Lei nº 6.332, de 18 de maio de 1976, é fixado em valor correspondente
a 20 (vinte) vezes o maior salário-mínimo vigente no País.
Parágrafo único - O limite a que se refere o presente artigo aplica-se às
contribuições parafiscais arrecadadas por conta de terceiros.

Anos depois, o Decreto-Lei nº 2.318/1986 estabeleceu, de forma expressa,


que o salário de contribuição não está sujeito ao limite de vinte vezes o
salário mínimo, imposto pelo citado artigo 4º da Lei nº 6.950/1981:

Art 3º Para efeito do cálculo da contribuição da empresa para a


previdência social, o salário de contribuição não está sujeito ao limite de
vinte vezes o salário mínimo, imposto pelo art. 4º da Lei nº 6.950, de 4
de novembro de 1981.

A despeito de o preceito normativo supracitado fazer referência tão somente


à contribuição da empresa para a previdência social, com o que estaria
revogando o caput do artigo 4º da Lei nº 6.950/1981, é imperioso salientar
que, segundo a interpretação sistemática, não é possível um parágrafo,
parte acessória do artigo, subsistir em vigor estando revogado o artigo
correspondente.

Segundo a boa técnica legislativa, objetivada e orientada pela Lei


Complementar nº 95/1998, as disposições normativas devem expressar, por
meio dos parágrafos, os aspectos complementares à norma enunciada
no caput do artigo e as exceções à regra por este estabelecida.

Portanto, o texto expresso nos parágrafos indica a disposição secundária de


um artigo, que completa ou altera a disposição principal, a qual está
vinculada.

Com efeito, em se tratando de parte acessória do artigo, descabe se cogitar


de manutenção da vigência de um parágrafo na hipótese em que o
correspondente artigo foi revogado, ainda que tacitamente.
Nessa linha de intelecção, uma vez que o artigo 3º do Decreto-Lei nº
2.318/1986 revogou o caput do artigo 4º da Lei nº 6.950/1981,
forçoso se reconhecer a revogação indireta do seu parágrafo único.

Essa é a orientação mais recente do Tribunal Regional Federal da 4ª Região:

TRIBUTÁRIO. PROCEDIMENTO COMUM. CONTRIBUIÇÕES. EC Nº 33/2001.


RECEPÇÃO. BASE DE CÁLCULO. ART. 4º DA LEI Nº 6.950/81.
INAPLICABILIDADE. REVOGAÇÃO PELO DECRETO Nº 2.138/86 1. As
contribuições destinadas ao INCRA, SEBRAE, SENAI/SESI e FNDE não
foram revogadas pela EC nº 33/2001, inexistindo incompatibilidade das suas
bases de cálculo com as bases econômicas mencionadas no art. 149, § 2º,
inciso III, alínea a, da CF. 2. A limitação de 20 salários mínimos, prevista no
parágrafo único do artigo 4º da Lei nº 6.950/81, foi revogada juntamente
com o caput do artigo 4º, pelo Decreto-Lei nº 2.318/86, pois não é possível
subsistir em vigor o parágrafo estando revogado o artigo correspondente. 3.
Sentença mantida. (TRF4, AC 5005457-96.2017.4.04.7205, SEGUNDA
TURMA, Relator ANDREI PITTEN VELLOSO, juntado aos autos em
27/09/2018) (Grifo do Juízo).

TRIBUTÁRIO. AÇÃO ORDINÁRIA. CONTRIBUIÇÃO DESTINADA AO SALÁRIO-


EDUCAÇÃO. BASE DE CÁLCULO. ART. 4º DA LEI Nº 6.950/81.
INAPLICABILIDADE. REVOGAÇÃO PELO DECRETO Nº 2.138/86. 1. A
limitação de 20 salários mínimos, prevista no parágrafo único do artigo 4º
da Lei 6.950/81, foi revogada juntamente com o caput do artigo 4º, pelo
Decreto-Lei 2.318/86, pois não é possível subsistir em vigor o parágrafo
estando revogado o artigo correspondente. 2. O salário-educação incide
'sobre o total das remunerações pagas ou creditadas, a qualquer título, aos
segurados empregados". (TRF4, AC 5006468-73.2011.4.04.7205, SEGUNDA
TURMA, Relatora LUCIANE AMARAL CORRÊA MÜNCH, juntado aos autos em
14/11/2012) (Grifo do Juízo).

TRIBUTÁRIO. CONTRIBUIÇÃO PARA O INCRA. LIMITE PREVISTO NO ART. 4°


DA LEI Nº 6.950/81. INAPLICABILIDADE. DISPOSITIVO REVOGADO PELO
DECRETO-LEI Nº 2.318/86. TÉCNICA LEGISLATIVA. 1. O art. 4° da Lei n°
6.950/81 foi integralmente revogado pelo art. 3° do Decreto-Lei n°
2.318/86. 2. Os parágrafos constituem, na técnica legislativa, uma
disposição acessória com a finalidade apenas de explicar ou excepcionar a
disposição principal contida no caput. 3. Não é possível subsistir em vigor o
parágrafo estando revogado o artigo correspondente - Precedentes. (TRF4,
AC 2009.72.05.000875-2, PRIMEIRA TURMA, Relatora MARIA DE FÁTIMA
FREITAS LABARRÈRE, D.E. 03/08/2011) (Grifo do Juízo).

Ainda que assim não fosse, tem-se que a Lei nº 7.789/1989, em ordem a
ratificar o disposto no artigo 7º, inciso IV, da Constituição Federal, estatuiu
cláusula genérica de vedação de vinculação do salário mínimo para qualquer
fim, com exceção dos benefícios de prestação continuada da Previdência
Social:

Art. 3º Fica vedada a vinculação do salário mínimo para qualquer fim,


ressalvados os benefícios de prestação continuada pela Previdência
Social.

Destarte, observa-se que a limitação instituída pelo artigo 4º da Lei


nº 6.950/1981 também se encontra tacitamente revogada pelo
dispositivo supratranscrito.
Nessa linha, a Súmula nº 50 do Tribunal Regional Federal da 4ª Região:

Não há direito adquirido à contribuição previdenciária sobre o teto


máximo de 20 salários mínimos após a entrada em vigor da Lei nº
7787/89.

Nesse panorama, seja qual for a ótica de análise, vislumbra-se inexistir, na


atual ordem jurídica, limitação à base de cálculo das contribuições
parafiscais, razão por que a denegação da segurança é medida que se
impõe.

DISPOSITIVO

Ante o exposto:

1) JULGO IMPROCEDENTE o pleito autoral e DENEGO A SEGURANÇA,


extinguindo o processo com resolução de mérito, na forma do art. 487, I,
do Código de Processo Civil;

[...] (grifos nossos).

A Apelante entende que a r. sentença merece reforma,


razão pela qual interpõe o presente Recurso de Apelação, pleiteando a devida
tutela jurisdicional, para que seja a matéria submetida ao Tribunal Regional.

II. DA PRELIMINAR

(A) TEMPESTIVIDADE

Antes de se adentrar na exposição das razões que


evidenciam o desacerto do posicionamento do d. Tribunal a quo, reitera-se que
a decisão recorrida foi publicada em 08.05.2020 (evento nº 19) e a intimação
eletrônica que deu ciência sobre esta foi lida pela Apelante em 11.05.2020
(evento nº 26).

O prazo para interposição do Recurso de Apelação é de 15


dias úteis, conforme previsto no artigo 1.003, §5º do Código de Processo Civil2,
logo, tem-se como termo final para interposição do presente recurso o
dia 01.06.2020.

2
Art. 1.003. O prazo para interposição de recurso conta-se da data em que os advogados, a sociedade de
advogados, a Advocacia Pública, a Defensoria Pública ou o Ministério Público são intimados da decisão.
§ 5º Excetuados os embargos de declaração, o prazo para interpor os recursos e para responder-
lhes é de 15 (quinze) dias.
À vista do exposto resta evidente que a presente Apelação
é tempestiva, razão pela qual é de rigor o seu regular processamento e
julgamento.

III. FUNDAMENTOS JURÍDICOS

(A) DA LIMITAÇÃO DA BASE DE CÁLCULO DAS CONTRIBUIÇÕES


DESTINADAS A ENTIDADES TERCEIRAS –
ART. 4º, PARÁGRAFO ÚNICO, DA LEI Nº 6.950/81

A denegação da segurança ora pleiteada teve como


fundamento principal a revogação do artigo 4º, parágrafo único, da Lei nº
6.950/813, ocorrida como consequência da revogação do caput do mesmo
dispositivo, firmada pelo Decreto-Lei nº 2.318/86, em seu artigo 3º4.

Ocorre que, com a promulgação do Decreto-Lei nº


2.318/86, a limitação imposta no caput do art. 4º da Lei nº 6.950/81 foi
afastada, sem revogação, e apenas para as contribuições previdenciárias,
sendo silente a nova legislação quanto às contribuições parafiscais, disciplinadas
no parágrafo único do mesmo artigo.

Em outras palavras, o legislador, com a edição do referido


Decreto-Lei, tinha por objetivo somente afastar a limitação de 20 salários
mínimos para a base de cálculo das contribuições previdenciárias, sem fazer
qualquer menção expressa, muito menos tácita, sobre a revogação do seu
parágrafo único. Vejamos a redação:

Art. 3º Para efeito do cálculo da contribuição da empresa para a


previdência social, o salário de contribuição não está sujeito ao limite de

3
Art. 4º - O limite máximo do salário-de-contribuição, previsto no art. 5º da Lei nº 6.332, de 18 de maio de
1976, é fixado em valor correspondente a 20 (vinte) vezes o maior salário-mínimo vigente no País.
Parágrafo único - O limite a que se refere o presente artigo aplica-se às contribuições parafiscais
arrecadadas por conta de terceiros.

4
Art. 3º Para efeito do cálculo da contribuição da empresa para a previdência social, o salário de
contribuição não está sujeito ao limite de vinte vezes o salário mínimo, imposto pelo art. 4º da Lei nº 6.950,
de 4 de novembro de 1981.
vinte vezes o salário mínimo, imposto pelo art. 4º da Lei nº 6.950, de 4 de
novembro de 1981. (Decreto-Lei nº 2.318/86)

Como se vê, o legislador não autoriza outra interpretação,


de modo que a limitação imposta pelo artigo 3º do Decreto-Lei nº 2.318/86 de
aplicação da norma do artigo 4º da Lei nº 6.950/81 não afeta as contribuições
destinadas a terceiros, já que especificou expressamente que a eficácia da
norma limitava apenas as contribuições para a previdência social. Caso fosse o
desejo do legislador afastar o limite de 20 (vinte) salários mínimos também das
contribuições parafiscais, teria feito de forma expressa.

Sobre esse ponto, no Parecer que se apresenta junto a este


recurso, importante lição de Paulo de Barros Carvalho, ao tratar do tema, assim
dispõe:

“as leis não trazem norma jurídicas organicamente agregadas, de tal


modo que não seja lícito desenhar, com facilidade, a indigitada proposição
normativa. (...) Mas, reiteramos, a norma não é a oralidade ou escritura da
linguagem, como advertiu LOURIVAL VILANOVA. O esquema sintático-
gramatical dos artigos, com seus parágrafos, inciso e alíneas, são os
enunciados normativos (sentenças e orações), modos expressionais
frásticos da síntese conceptual que é a norma, entendida como estrutura
lógico-sintática de significação”.

Portanto, devemos partir do pressuposto de que cada


caput, parágrafo, inciso e alínea são enunciados normativos que carregam
significados próprios e que se projetam sobre objetos diversos, para atender à
disciplina das incontáveis situações da vida social.

Assim, observa-se que o artigo 3º do Decreto-Lei 2.318/86


veio a afastar a aplicabilidade/eficácia de modo expresso tão somente para o
disposto no caput do artigo 4º da Lei nº 6.950/81, nada referindo acerca do
seu parágrafo único.

É de se salientar, por oportuno, que NÃO se trata de


revogação de norma, mas de ineficácia ou inaplicabilidade
momentânea do que nela está disciplinado.
Nesse sentido, o art. 9º da Lei Complementar nº 95/98 é
categórico ao afirmar que: a cláusula de revogação deverá enumerar,
expressamente, as leis ou disposições legais revogadas. Cumpre esclarecer que
a Lei Complementar nº 95/98 é aquela que disciplina como serão interpretadas
as normas jurídicas no âmbito da legislação federal.

Frisa-se que o art. 4º da Lei nº 6.950/81 permanece


integralmente válido, vigente e eficaz. Tanto é assim, aliás, que, na forma
que editado, caso o artigo 3º do Decreto-Lei nº 2.318/86 venha a ser revogado,
o limite de 20 salários mínimos previsto no artigo 4º da Lei nº 6.950/81 voltará
a ser integralmente aplicável também às contribuições previdenciárias
devidas pelas empresas.

Por último, cumpre-nos analisar o efeito de eventual


condição revogatória do art. 3º do Decreto-Lei nº 2.318/86 sobre o parágrafo
único do art. 4º da Lei nº 6.950/81. Isso porque trata-se de norma
autônoma que disciplina algo diverso do caput.

São as formas de revogação: (i) expressa - trata-se de


uma revogação manifesta, na qual a lei declara que está extinta ou indica os
artigos da lei que pretende suprimir; (ii) tácita - ocorre quando o diploma
revogador é implícito e resulta da incompatibilidade entre a lei nova e a antiga,
não se indicando as normas revogadas; e (iii) global - trata-se de um estatuto
revogador implícito, independente de incompatibilidade, disciplinar de modo
integral matéria de lei, mesmo repetindo certas disciplinas das normas
revogadas.

No caso, não há que se falar em revogação expressa5, pois,


como visto, a lei foi rigorosamente silente.

Tampouco em revogação tácita, porque, para existir,


requer a incompatibilidade entre a lei nova e a anterior e não se nota qualquer

5
Art. 2o Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue.
§ 1o A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela incompatível ou
quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior. (Decreto-Lei nº 4.657/42)
confronto entre o art. 3º do Decreto-Lei nº 2.318/86 e o parágrafo único do
art. 4º da Lei nº 6.950/81. Afinal, um trata das contribuições previdenciárias
(caput) e o outro das contribuições devidas a terceiros (parágrafo único),
respectivamente.

A revogação global não se sustenta uma vez que o art. 3º


do Decreto-Lei nº 2.318/86 não regulou integralmente o contido no art. 4º,
caput e parágrafo único da Lei º 6.950/81, mas, apenas, parte do dispositivo.

Novamente, cabe o ensinamento de Paulo de Barros,


exposto no Parecer ora apresentado:

“Nada obstante, permanecendo na dimensão física dos signos, isto é, lidando


apenas com os suportes materiais das significações, com a chamada “letra
da lei”, não se atinge o conteúdo, sentido e alcance do comando jurídico.
O entendimento daqueles que dão por suprimida a mensagem do parágrafo
único, do art. 4º, da Lei nº 6.950/81, por que foi revogado o caput do
dispositivo, certamente se baseia numa visão estritamente literal dos textos
normativos, fazendo tabula rasa de todas as complexidades que o sistema
do direito positivo oferece à mente do jurista”.

[...]
“A supressão da cabeça do art. 4º, da Lei nº 6.950/81 não alcança o
conteúdo de seu parágrafo único. Legislar em matéria fiscal pressupõe a
observância dos muitos princípios constitucionais, entre eles o primado da
estrita legalidade que advém da natureza fechada dos tipos tributários. Ao
exercitar sua competência impositiva, deve o político atinar para todos os
pormenores da regra-matriz de incidência, preservando sua inteireza e
mantendo sua unidade. Pretendendo alterá-la, terá que empregar os
instrumentos jurídicos apropriados, seguindo, fielmente, os preceitos
constitucionais que regem essa possibilidade. Tudo porque uma série de
valores foram postos em nosso Texto Supremo para garantir a segurança
dos administrados, em face da pretensão impositiva do Estado. “

[...]

“Na situação exposta, caso fosse o desejo do legislador suprimir o


limite de vinte salários-mínimos também no que concerne às demais
contribuições, teria que fazer referência expressa, uma a uma, como
singela homenagem ao princípio da segurança jurídica e do bom
entendimento que há de existir e de ser mantido, entre o Estado-
administração e seus súditos ou administrados. Não é preciso dizer que
procedimentos desenvolvidos no plano da implicitude geram insegurança,
duvida, hesitação, clima que não se recomenda na relação fisco-
contribuinte.”
Por todo o exposto, ainda permanece vigente o limite à
base de cálculo das contribuições parafiscais (destinadas a outras
entidades ou terceiros).

O MM. juiz, ao não conceder a segurança pleiteada,


também usou como fundamento a redação do artigo 3º da Lei nº 7.789/89, que
modificou o disposto no artigo 7º, inciso IV da Constituição Federal e estatuiu
cláusula de vedação à vinculação do salário mínimo. In verbis:

Art. 3º Fica vedada a vinculação do salário mínimo para qualquer fim,


ressalvados os benefícios de prestação continuada pela Previdência Social.

Entendeu, ainda, que a Súmula nº 50 do Egrégio TRF da 4ª


Região ratificou tal entendimento, ao dizer que “não há direito adquirido à
contribuição previdenciária sobre o teto máximo de 20 salários mínimos após a
entrada em vigor da Lei nº 7787/89.”

De início, cumpre pontuar que a Apelante não trouxe aos


autos discussão a respeito de contribuições previdenciárias, e sim, sobre
contribuições destinadas a entidades terceiras.

A simples análise dos precedentes que deram azo à criação


da Súmula não deixa dúvidas de que a intenção dos julgadores foi evitar a
diminuição da base de cálculo de benefícios de empregados. A título
exemplificativo, veja-se um dos precedentes supracitados:
Não fosse isso bastante, veja-se a vedação imposta se
refere a utilização do salário mínimo como índice de atualização, não
havendo qualquer impedimento para o uso do salário mínimo para outros fins.
É este, inclusive, o entendimento desta Egrégia Corte Regional:

ADMINISTRATIVO. CREA. FISCALIZAÇÃO. PISO SALARIAL. AUTUAÇÃO.


PISO SALARIAL DAS CATEGORIAS PROFISSIONAIS. NECESSIDADE DE
OBSERVÂNCIA DOS PATAMARES REMUNERATÓRIOS E DA JORNADA DE
TRABALHO ESTABELECIDOS EM LEI FEDERAL. 1. O Supremo Tribunal
Federal assentou o entendimento de que não é possível a vinculação do piso-
base ao salário mínimo, por conta do disposto na parte final do inciso IV do
art. 7º da CF/88. 2. Nada obstante, a vinculação do salário mínimo
restringe-se à sua utilização como índice de atualização, sem
impedimento de seu emprego para fixação do valor inicial de piso
salarial em múltiplos do salário mínimo, o qual deve ser corrigido,
daí em diante, pelos índices oficiais de atualização. Precedentes do
STF. (TRF4, AC 5006008-94.2017.4.04.7005, TERCEIRA TURMA, Relatora
VÂNIA HACK DE ALMEIDA, juntado aos autos em 30/07/2019)

Analisando o Agravo Regimental em Reclamação nº


18.356/PE, em decisão datada de 11.11.2014, a Ministra Carmen Lúcia
endossou o entendimento até aqui exposto, manifestando-se nos seguintes
termos:

“Ainda que assim não fosse, conforme ressaltei na decisão agravada, não há
afronta à Súmula Vinculantes n. 4 deste Supremo Tribunal Federal, pois pela
decisão impugnada não se determinou a utilização do salário mínimo como
indexador, ou seja, o salário profissional, após fixado em múltiplos de
salários mínimos, nos termos da Lei n. 4.950-A/1966, não segue os
aumentos do salário mínimo.

A jurisprudência deste Supremo Tribunal consolidou-se no sentido


de que a inconstitucionalidade da vinculação do salário mínimo
restringe-se à sua utilização como índice de atualização, sem
impedimento de seu emprego para fixação do valor inicial da condenação, a
qual deve ser corrigida, daí em diante, pelos índices oficiais de atualização.”

Logo, conclui-se que a redação do artigo 3º do Decreto-Lei


nº 2.318/86 não alcançou o parágrafo único do artigo 4º da Lei nº 6.950/81, e
a vedação imposta pelo artigo 7º, inciso IV da Constituição Federal se limite a
utilização do salário mínimo como índice de atualização, sendo, portando,
procedentes as alegações trazidas pela Apelante e necessária a modificação da
sentença.
(B) DO ENTENDIMENTO JURISPRUDENCIAL FAVORÁVEL AO
CONTRIBUINTES – DECISÕES DO STJ E TRF´S.

A pacífica jurisprudência dos Tribunais pátrios,


especialmente do Superior Tribunal de Justiça, corrobora com o exposto até
aqui, bem como comprova a existência do direito líquido e certo da Apelante.

Merece destaque recente decisão exarada pela Primeira


Turma da Corte Superior, que reconheceu a vigência do parágrafo único do
artigo 4º da Lei nº 6.950/81 mesmo após o advento do Decreto-Lei nº 2.318/86.
Veja-se:

TRIBUTÁRIO. AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. CONTRIBUIÇÃO


SOCIAL DEVIDA A TERCEIROS. LIMITE DE VINTE SALÁRIOS MÍNIMOS. ART.
4O DA LEI 6.950/1981 NÃO REVOGADO PELO ART. 3O DO DL 2.318/1986.
INAPLICABILIDADE DO ÓBICE DA SÚMULA 7/STJ. AGRAVO INTERNO DA
FAZENDA NACIONAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO.
1. Com a entrada em vigor da Lei 6.950/1981, unificou-se a base
contributiva das empresas para a Previdência Social e das
contribuições parafiscais por conta de terceiros, estabelecendo, em
seu art. 4o., o limite de 20 salários-mínimos para base de cálculo.
Sobreveio o Decreto 2.318/1986, que, em seu art. 3o., alterou esse
limite da base contributiva apenas para a Previdência Social,
restando mantido em relação às contribuições parafiscais.
2. Ou seja, no que diz respeito às demais contribuições com função
parafiscal, fica mantido o limite estabelecido pelo artigo 4o., da Lei
no 6.950/1981, e seu parágrafo, já que o Decreto-Lei 2.318/1986
dispunha apenas sobre fontes de custeio da Previdência Social, não
havendo como estender a supressão daquele limite também para a
base a ser utilizada para o cálculo da contribuição ao INCRA e ao
salário-educação.
3. Sobre o tema, a Primeira Turma desta Corte Superior já se posicional no
sentido de que a base de cálculo das contribuições parafiscais recolhidas por
conta de terceiros fica restrita ao limite máximo de 20 salários-mínimos, nos
termos do parágrafo único do art. 4o. da Lei 6.950/1981, o qual não foi
revogado pelo art. 3o. do DL 2.318/1986, que disciplina as contribuições
sociais devidas pelo empregador diretamente à Previdência Social.
Precedente: REsp. 953.742/SC, Rel. Min. JOSÉ DELGADO, DJe 10.3.2008.
4. Na hipótese dos autos, não tem aplicação, na fixação da verba honorária,
os parâmetros estabelecidos no art. 85 do Código Fux, pois a legislação
aplicável para a estipulação dos honorários advocatícios será definida pela
data da sentença ou do acórdão que fixou a condenação, devendo ser
observada a norma adjetiva vigente no momento de sua publicação.
5. Agravo Interno da FAZENDA NACIONAL a que se nega provimento.
(STJ, AgInt no Resp 1.570.980/SP, Relator Ministro Napoleão Nunes Maia
Filho, Data do julgamento 17.02.2020)
Anteriormente, a Primeira Turma já havia se manifestado
no mesmo sentido:

PROCESSUAL CIVIL. TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL. CONTRIBUIÇÃO


PREVIDENCIÁRIA. AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO DO ART. 535 II, DO CPC.
AUXÍLIO EDUCAÇÃO. SEGURO DE VIDA EM GRUPO. CONVÊNIO SAÚDE.
LIMITE DO SALÁRIO-DE-CONTRIBUIÇÃO. AUSÊNCIA DE
PREQUESTIONAMENTO. ART. 515, DO CPC. VALORES PAGOS A TÍTULO DE
ALUGUÉIS DE IMÓVEIS PARA USO DE EMPREGADOS E PARTICIPAÇÃO NOS
LUCROS. QUESTÕES FÁTICAS APRECIADAS PELA ORIGEM. SÚMULA 7/STJ.
VIOLAÇÃO DO § 2º, DO ART. 25, DA LEI N. 8.870/94. ENFOQUE
CONSTITUCIONAL. IMPOSSIBILIDADE DE EXAME DO TEMA NA VIA
ESPECIAL.
(...)
3. No período do lançamento que se discute nos autos, tem aplicação o
art. 4º, parágrafo único, da Lei n. 6.950/81, que limita o
recolhimento do salário-de contribuição de vinte vezes o valor do
salário-mínimo para o cálculo da contribuição de terceiros.
(...)
7. Consoante já decidiu esta Turma, aplica-se o limite de 20 vezes o
maior salário mínimo vigente no País para o salário de contribuição
ao INCRA e ao salário educação.
(...).”
(Recurso Especial nº 953.742/SC, Relator Ministro José Delgado, 1ª Turma,
DJE de 10/03/2008)

Em reiteradas oportunidades, a Segunda Turma também se


manifestou sobre a controvérsia, decidindo monocraticamente com decisões
favoráveis a tese em comento e demonstrando, assim, que a questão está
consolidada e deve ser aplicado por este e. TRF.

Cumpre destacar a decisão monocrática proferida no REsp


nº 1.439.511, sob relatoria do Min. Herman Benjamin:

A irresignação merece prosperar, pois em caso semelhante esse


Tribunal Superior entendeu que o art. 3º do Decreto-Lei 2.318/1986
não alterou o limite de 20 salários-mínimos do art. 4º, parágrafo
único, da Lei 6.950/1981 (base de cálculo das contribuições
parafiscais arrecadas por conta de terceiros), pois esse artigo
apenas dispõe sobre as contribuições sociais devidas pelo
empregador diretamente à Previdência Social.
(...) É o voto.
Cabível, portanto, o acolhimento do apelo, no ponto, para afastar as
contribuições sobre a remunerações pagas além do limite máximo do salário-
de-contribuição.
Em face do exposto, NEGO provimento ao recurso especial do INSS.
Diante do exposto, nos termos do art. 557, 1º - A do CPC, dou provimento
ao Recurso Especial, e fixo, com base no art. 20, 4º, do CPC, os honorários
advocatícios sem 5% sobre o valor da condenação.
(STJ, REsp 1.439.511/SC, Relator Ministro Herman Benjamin, DJe
25.06.2014)

Os Tribunais Regionais Federais não se distanciam da


melhor doutrina e do entendimento do STJ, como ilustram os julgados abaixo:

AGRAVO INTERNO. TRIBUTÁRIO. SALÁRIO-EDUCAÇÃO. CARÁTER


TRIBUTÁRIO DA EXAÇÃO. AUSÊNCIA DE OFENSA AOS PRINCÍPIOS DA
LEGALIDADE E DA ANTERIORIDADE. BASE DE CÁLCULO. LIMITE.
REVOGAÇÃO APENAS PARA CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS DEVIDAS
PELAS EMPRESAS. CONTRIBUIÇÕES A TERCEIROS. LIMITE PRESERVADO.
DECISÃO MANTIDA. AGRAVO IMPROVIDO.
(…)
7. No tocante à arrecadação, nos termos do art. 4º, parágrafo único,
da Lei nº 6.950/81, foi estabelecido limite máximo para base de
cálculo das contribuições parafiscais. No entanto, sobreveio o
Decreto-Lei nº 2.318/86, com disposição que retirou o limite para o
cálculo da contribuição da empresa. Assim, ocorreu expressa
revogação do limite apenas para as contribuições previdenciárias
devidas pelas empresas, preservando-se o limite somente para as
contribuições a terceiros. Neste sentido, correta a r. sentença
apelada, ao ressaltar que, a Lei nº 9.426/96 constitui-se no diploma
regulador específico do salário-de-contribuição, de modo que a Lei
nº 6.950/81, que cuidava unicamente de alterar a legislação
previdenciária, não se pode sobrepor aos ditames da nova lei,
posterior e específica, até porque suas disposições, na questão em
foco, são eminentemente conflitantes com a nova regra.
8. A decisão monocrática recorrida encontra-se adrede fundamentada. De
qualquer sorte a matéria debatida nos autos já foi devidamente dirimida,
sendo, inclusive objeto da Súmula n° 732 do Supremo Tribunal Federal e do
RE n° 660.993-RG (DJe 22/02/2012), apreciado no regime da repercussão
geral. 9. Não há elementos novos capazes de alterar o entendimento
externado na decisão monocrática. 10. Agravo interno improvido.
(TRF3 – APELAÇÃO CÍVEL – 1917527/SP, 0009810-15.2011.4.03.6104,
Relator(a) DESEMBARGADORA FEDERAL CONSUELO YOSHIDA, SEXTA
TURMA, Data do Julgamento 13/12/2018, e-DJF3 Judicial 1
DATA:11/01/2019)

DIREITO PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. CONTRIBUIÇÃO AO INCRA.


TETO DE VINTE SALÁRIOS-MÍNIMOS. COMPENSAÇÃO. DEMONSTRAÇÃO
DO INDÉBITO. SUMCUMBÊNCIA RECÍPROCA.
1. Cinge-se a controvérsia a aferir se o parágrafo único do artigo 4º da Lei
6.950/1981 - que aplicou o limite máximo do salário-de-contribuição de
vinte salários mínimos (estabelecido no caput) às contribuições parafiscais à
conta de terceiros - foi revogado pelos termos do artigo 3º do Decreto-Lei
2.318/1986.
2. A prescrição do artigo 3º do Decreto-Lei 2.318/1986 não pretende
a regência do recolhimento de contribuições parafiscais, mas, sim,
modular a incidência do caput do artigo 4º da Lei 6.950/1981. Desta
forma, o comando tão-somente destaca as contribuições patronais
da regra geral anteriormente estabelecida, conforme ressalva
expressa constante de seu texto.
3. A derrogação tácita pressupõe antinomia entre prescrições
normativas, comumente solucionada pelo critério temporal. Sucede
que o regramento específico do salário-de-contribuição, enquanto
conceito de direito previdenciário, em nada conflita com a referência
de seu anterior limite para regramento de matéria diversa, como o
cálculo do teto contributivo de CIDE, assim entendida a contribuição
ao INCRA.
4. Insubsistente a alegação de que a revogação do caput do artigo
4º importa a derrogação, por arrastamento, de seus parágrafos,
incisos ou alíneas, por questões de linguagem e estrutura
dogmática. É que não se pode tomar aprioristicamente a relação de
subordinação orgânica - própria da validade desse tipo de raciocínio
- entre o caput e a integralidade dos comandos a ele vinculados, pois,
até mesmo pela dinâmica do processo legislativo, a observação
empírica revela frequentes exceções. É o caso dos autos, em que o
liame entre o caput e o parágrafo único (que, frise-se tratam de
assuntos distintos), é de cunho meramente objetivo e funcional,
pertinente tão-somente ao valor positivado, do que resulta a
autonomia entre as disposições.
5. O acervo probatório dos autos não permite o reconhecimento do direito à
compensação de eventuais recolhimentos indevidos, vez que ausente
qualquer prova dos indébitos, a amparar o direito invocado e submetido a
julgamento. Com efeito, o provimento declaratório de direito condiciona-se
à prova mínima de sua existência - no caso, da condição de credor, pelo
contribuinte.
6. Evidenciada a sucumbência recíproca, pelo que cada parte deve arcar com
a respectiva verba honorária, nos termos do artigo 21 do CPC/1973, sob a
égide do qual foi prolatada a sentença.
7. Apelo parcialmente provido. (TRF 3ª Região, TERCEIRA TURMA, Ap -
APELAÇÃO CÍVEL - 2159394 - 0012994-76.2011.4.03.6104, Rel.
DESEMBARGADOR FEDERAL CARLOS MUTA, julgado em 07/07/2016, e-DJF3
Judicial 1 DATA:15/07/2016)

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO LEGAL EM APELAÇÃO. ARTIGO 557, §1º, DO


CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. TRIBUTÁRIO. CONTRIBUIÇÕES DE
TERCEIROS. TETO LIMITE DE 20 (VINTE) SALÁRIOS MÍNIMOS PARA
O SALÁRIO DE CONTRIBUIÇÃO (DECRETO LEI Nº 2.318/86). AGRAVO
LEGAL IMPROVIDO, MANTENDO-SE A DECISÃO UNIPESSOAL DO RELATOR
QUE ADOTOU A TÉCNICA PER RELATIONEM.
1. É válida a decisão unipessoal de relator, tomada com base no art. 557 do
CPC, que adotou a técnica per relationem amplamente utilizada nas Cortes
Superiores.
2. A Lei 6.950/81 estabeleceu que as contribuições parafiscais arrecadadas
por conta de terceiros teriam como limite o mesmo patamar estabelecido
para as contribuições destinadas ao INPS.
3. A disposição do Decreto-Lei nº 2.318/86 removeu o limite
somente para o cálculo da contribuição da empresa. Isto foi
necessário, pois a contribuição da empresa era equivalente à do
trabalhador, em conformidade com a disposição contida no inc. V do
art. 69 da Lei nº 3.807/60, com redação dada pela Lei nº 6.886/80.
Note-se que o teto de salário-de-contribuição para a contribuição do
trabalhador continuou em vigor mesmo após a edição do
mencionado dispositivo.
4. Houve remoção do limite apenas para as contribuições
previdenciárias devidas pelas empresas, como consequência lógica o
limite para as contribuições a terceiros permaneceu, visto que nem o
caput do artigo, nem o parágrafo único foram revogados.
5. Em síntese, a eficácia do parágrafo único do art. 4º da Lei nº 6.950/81 foi
preservada, tendo em vista que o caput do dispositivo permaneceu
produzindo efeitos jurídicos; apenas deixou de ser aplicado para o cálculo do
montante devido pelas empresas.
6. Dessa forma, conclui-se que a disposição contida no Decreto-Lei nº
2.318/86 não alcançou as contribuições relativas a terceiros, do que decorre
que o limite de 20 vezes o maior salário mínimo vigente no País permaneceu
até 25/10/1991, noventa dias após a edição da Lei nº 8.212/91, que no §
5º de seu art. 28 passou a disciplinar integralmente a limitação do salário-
de-contribuição, revogando por completo o art. 4º da Lei nº 6.950/81. (TRF
3ª Região, SEXTA TURMA, ApReeNec - APELAÇÃO/REMESSA NECESSÁRIA -
1419144 - 0019143-96.1994.4.03.6100, Rel. DESEMBARGADOR FEDERAL
JOHONSOM DI SALVO, julgado em 10/12/2015, e-DJF3 Judicial 1
DATA:17/12/2015)

EMBARGOS À EXECUÇÃO FISCAL. COISA JULGADA. INEXISTÊNCIA. INCRA


E SALÁRIO-EDUCAÇÃO. LIMITE DA BASE DE CÁLCULO. HONORÁRIOS.
1. Os efeitos da coisa julgada atingem apenas os lançamentos
administrativos objetos de apreciação judicial, não fazendo coisa julgada em
relação a outros lançamentos, mesmo versando estes sobre a mesma
matéria. 2. A base de cálculo das contribuições parafiscais recolhidas
pelo INSS por conta de terceiros se submete ao limite de 20 salários-
mínimos, por força do parágrafo único, do art. 4º da Lei 6.950/81. O
art. 3º do Decreto-Lei n.º 2.318/86 não logrou alterar tal limite, pois
dispõe apenas sobre as contribuições sociais devidas pelo
empregador diretamente à Previdência Social. 3. A fixação dos
honorários advocatícios em 10% da valor da causa implica redução da verba
honorária arbitrada pelo Juízo a quo. Sentença mantida, sob pena de
reformatio in pejus.(TRF4, APELREEX 1999.04.01.049035-4, PRIMEIRA
TURMA, Relator JOEL ILAN PACIORNIK, D.E. 22/09/2010).

Assim sendo, por todos os argumentos expostos e pela


jurisprudência consolidada pelo STJ e demais tribunais pátrios, deve ser
resguardado o direito da Apelante de aplicar o limite previsto no art. 4º,
parágrafo único, da Lei nº 6.950/81 (20 vezes do salário mínimo vigente no
país), devendo ser totalmente reformada a sentença apelada.

IV. DOS REQUERIMENTOS

Por todo o exposto, REQUER

a) seja dado provimento ao presente Recurso de


Apelação, para obstar que o Apelado deixe de observar o valor-limite de 20
(vinte) salários mínimos vigentes no País para fins de apuração da base de
cálculo (folha de salários) e recolhimento das contribuições devidas a
terceiros/outras entidades;

b) seja reconhecido, por consequência, o direito da


Apelante de apurar o indébito referente aos valores recolhidos a maior a título
de contribuições de terceiros/outras entidades, indébito este que deve ser
atualizado pela taxa SELIC desde o pagamento indevido, observado o prazo
prescricional de 5 (cinco) anos aplicável, conforme artigo 168 do Código
Tributário Nacional;

c) seja, em consequência da procedência do pedido,


condenado o Apelado ao reembolso das custas processuais despendidas pela
Apelante.

Por fim, requer que todas as intimações relativas ao feito,


sejam realizadas exclusivamente em nome do Dr. JOÃO JOAQUIM
MARTINELLI, OAB/PR 25.430-A, ou ainda através do endereço eletrônico
controladoriaespaider@martinelli.adv.br, sob pena de nulidade, nos termos
do art. 272, §2º, do Código de Processo Civil.

Nestes termos, pede deferimento.

Francisco Beltrão/PR, 21 de maio de 2020.

JOÃO JOAQUIM MARTINELLI


OAB/PR 25.430-A

Você também pode gostar