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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL VARA FEDERAL DA

SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE MARINGÁ – ESTADO DO PARANÁ

SERVICES ASSESSORIA E COBRANÇAS - EIRELI,


pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ/MF sob o nº 00.584.567/0001-52, com
sede na Avenida Marechal Deodoro, nº 314, Conjunto 601, Centro, CEP 80.010-010,
Curitiba/PR, por seu advogado ao final assinado, com escritório profissional na Avenida Anita
Garibaldi, 850, sala 602, Torre Royal, CEP 80.540-180, Curitiba/PR (instrumento de
procuração em anexo), ajuizar a presente AÇÃO DECLARATÓRIA COM PEDIDO DE
TUTELA DE URGÊNCIA CAUTELAR, em face de UNIÃO FEDERAL, Pessoa Jurídica
de Direito Público, o que faz com fulcro nos artigos 318 e seguintes do Código de Processo
Civil, pelos fundamentos de fato e de direito que a seguir passa a expor.

I – SÍNTESE FÁTICA

A requerente é pessoa jurídica que tem como objeto social as


seguintes atividades: prestação de serviços de tele cobranças, telemarketing e cobranças
extrajudiciais, administração de cobranças, recuperação de créditos, cobranças de cheques,
notas promissórias, duplicatas, títulos de créditos em geral e cobranças gerais de débitos não
liquidados de pessoas físicas e jurídicas (CONTRATO SOCIAL em anexo).

A sociedade encontra-se sediada na cidade de Curitiba, com


filiais no estado de São Paulo e na cidade de Ponta Grossa, possuindo em seu quadro de
pessoal mais de 5.000 funcionários (recibos CAGED em anexo).

No exercício de suas atividades encontra-se a requerente sujeitas


a enorme gama de tributos.

Em função da pandemia decorrente do COVID-19 que atinge


todo o mundo e, para o caso dos autos, o Brasil, todas as atividades empresariais vem sendo
dramaticamente atingidas, sendo certo que a atividade desempenhada pela requerente
encontra-se na ponta final da sua respectiva cadeia, o que implica em dizer que a mesma sofre
diretamente os efeitos mais maléficos da desaceleração econômica/recessão, dentre eles, a
falta de pagamentos por seus principais clientes.

Crises fazem parte da história de todas as sociedades, mas a


atual reúne elementos relativos simultaneamente à saúde humana e à economia, tornando
ainda mais complexo seu enfrentamento. A peticionária luta, por um lado, para
desempenharem suas atividades, respeitando os contratos em vigor com seus clientes e
buscando gerar receitas em decorrência disto e, de outro, buscam garantir a preservação da
saúde e das condições de subsistência de seus mais de 5.000 colaboradores.

No entanto, ao menos até o presente momento, não se alcançou


uma equação que equilibre perfeitamente a consecução dos objetivos acima com as demais
circunstâncias que afetam as atividades da requerente, notadamente as que têm a ver com a
relação das mesmas com o Poder Público.

Perceba-se que até a data de hoje, 25/03/2020, o Poder


Executivo Federal mostra-se completamente perdido e inerte em seu papel estabilizador das
relações sociais, agindo sem um objetivo claro, em especial ao não compreender a
importância das medidas de quarentena paulatinamente determinadas pelos governos
estaduais e municipais, tampouco ao não perceber os efeitos que a paralisação da
economia causa a empresas e cidadãos.

No caso concreto da requerente, a folha de pagamentos dos


5.000 funcionários das mesmas alcança o importe de R$ 10.255.100,00 (dez milhões
duzentos e cinquenta e cinco mil e cem reais – valor para março de 2020), sendo o valor
devido a título de salários propriamente dito de R$ 4.750.000,00 (quatro milhões
setecentos e cinquenta mil reais). Tal valor será devido integralmente até o 5º dia útil do
mês subsequente ao trabalhado, sendo os demais valores pagos conforme regras específicas
(INSS, FGTS, férias, rescisões, seguro de vida, planos de saúde, vale refeição, vale-transporte,
etc...).

O pagamento do valor de R$ 4.750.000,00 (quatro milhões


setecentos e cinquenta mil reais) é, sem dúvidas, prioridade absoluta para a requerente - sem
prejuízo das demais obrigações -, seja porque seus colaboradores trabalharam todo o mês na
expectativa de receber seus salários, seja porque deles dependem para sua completa
sobrevivência, em especial num cenário em que muitos familiares estão perdendo suas fontes
de renda, com destaque a autônomos (profissionais liberais em geral) e informais. Por outro
lado, caso os funcionários não recebam seus salários, é seguro prever que as atividades da
requerente serão automaticamente interrompidas, em função da consequente quebra da
relação de trocas existente entre empregados e empregador.

A requerente possuei condições no limite de arcar com as


verbas salariais (EXTRATOS BANCÁRIOS – Saldo em 23/03/2020 de R$ 8.864.252,58 em
23/03/2020 - em anexo), mas não sem deixar de pagar os tributos federais com
vencimento em 25/03/2020 (PIS e COFINS, conforme DARFs em anexo) e 31/03/2020
(IRPJ e CSLL, conforme DARFs em anexo), num total de R$ 2.341.064,17.

Por óbvio que cabe a cada empresa decidir diuturnamente com


quais despesas irá arcar e quais irão ou não ser inadimplidas, sofrendo então com multas,
encargos e demais consequências. No entanto, o cenário de notória e inédita crise
epidemiológica modifica os parâmetros em relação a tudo que já se viveu até o presente
momento, não sendo razoável imaginar que no atual cenário tenham os
empregadores/contribuintes as mesmas opções que possuíam até não mais que uma
semana atrás.

O iminente inadimplemento de tributos federais é capaz de


agravar ainda mais a situação da requerente, não pelo débito em si, mas sim pelas
consequências que dele advém. A impossibilidade de obtenção de CND, a inscrição no
CADIN, a inscrição em dívida ativa e o risco de sofrer penhora on line em Execução Fiscal
são medidas que decretariam de vez a perda de 5.000 empregos diretos, exatamente o que se
busca evitar através do ajuizamento da presente demanda.

Para tanto, busca a requerente que seja determinado o


diferimento dos tributos do IRPJ, CSLL, PIS e COFINS com vencimento nos próximos
90 dias, notadamente devidos nos meses de março, abril e maio de 2.020, com a
prorrogação de cada um destes vencimentos por 90 dias.

II - FUNDAMENTOS – SITUAÇÃO
EXCEPCIONALÍSSIMA – PRESERVAÇÃO DE DIREITOS FUNDAMENTAIS –
INAÇÃO DO REQUERIDO

A efetivação dos direitos sociais previstos no artigo 6º da


Constituição Federal de 1988, notadamente os que se relacionam intrinsicamente à atividade
empresarial, quais sejam, alimentação e trabalho, bem como os contidos no artigo 7º da Carta
Magna, especificamente os que decorrem do desempenho do trabalho, como os previstos no
inciso IV,1 que trata do salário mínimo, e no inciso X,2 que versa sobre a proteção ao salário,
encontram-se no caso concreto ligados umbilicalmente à efetiva proteção da ordem
econômica, contemplada no artigo 170 do texto constitucional, em especial os princípios
abaixo transcritos:

Artigo 170 – A ordem econômica, fundada na valorização do


trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a
todos existência digna, conforme os ditames da justiça social,
observados os seguintes princípios:
(...)
VIII - busca do pleno emprego;

A realização da ordem econômica através do desempenho da


atividade empresarial permite em parte ao Estado eximir-se dos deveres descritos nos
artigos 6º e 7º da Constituição Federal, os quais, num Estado Social como o instituído pela
CF/1988, é verdadeiro dever do Poder Público.

Ocorre que, no presente momento, a realização de tais


direitos, todos eles, pode ser inviabilizado pela inércia do requerido em promover
medidas que permita fazer chegar recursos financeiros diretamente onde eles serão
mais necessários, ou seja, aos seus cidadãos.

Não se trata aqui de investimentos em educação ou saúde,


mas sim de garantir a subsistência de milhares de pessoas. Não se trata mais de destinar
bilhões de reais para a construção de escolas ou hospitais, mas de garantir que as
empresas possam pagar o salário de seus funcionários. Não se pleiteia aqui uma isenção
ou o remanejamento do orçamento público, mas efetivamente se pretende fazer com que

1
CF/88 – artigo 7º - Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de
sua condição social
(...)
IV - salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas necessidades vitais básicas e às
de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social,
com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim;

2
CF/88 – artigo 7º - Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de
sua condição social
(...)
X - proteção do salário na forma da lei, constituindo crime sua retenção dolosa;
todo o dinheiro que seria pago neste momento pela requerente a título de tributos seja
entregue diretamente àqueles que trabalharam e precisam receber para poder chegar até o
final do mês.

Trata-se de medida excepcional de diferimento judicial,


amparado na Constituição Federal e no artigo 151, V do Código Tributário Nacional,
que trata como causa de suspensão da exigibilidade tributária a concessão de liminar ou de
tutela antecipada (verbis):
Artigo 151 - Suspendem a exigibilidade do crédito tributário:

(...)

V – a concessão de medida liminar ou de tutela antecipada,


em outras espécies de ação judicial;

Não se trata de afastar a exigência tributária sem propósito


algum. Busca-se preservar 5.000 empregos diretos, algo fundamental num período de crise
tão aguda e grave na história moderna.

Além disto, quando se percebe que uma das facetas do


diferimento tem o condão de impedir a incidência da multa moratória, sanção que existe
para coibir os maus pagadores, resta claro que o propósito de tal multa não se aplica para
uma empresa que se antecipa em demonstrar que uma situação excepcional de crise
epidemiológica pode levar a uma devastação de empregos.

Os demais efeitos da medida, fundamentais para a


requerente, não tem o condão de causar danos ao erário na dimensão dos que serão
causados à empresa autora, especialmente porque se decidir a peticionária em
privilegiar os créditos trabalhistas nos próximos meses, em prejuízo dos tributos
devidos mensalmente, nada a impedirá, mas a não emissão da CND em breve fará
interromper a retomada das suas atividades e a manutenção de tamanha quantidade de
empregos. Ou seja, a garantia de que a empresa requerente terá CND emitida e situação
fiscal regular durante os próximos 90 dias será crucial para o que virá depois da crise.

III - TUTELA DE URGÊNCIA CAUTELAR -


OBJETIVO/FUNDAMENTO LEGAL
O pedido de antecipação de tutela que se faz está amparada
no conteúdo do artigo 300 do CPC, abaixo transcrito, e o preenchimento de seus requisitos
será exposto adiante (verbis):

Artigo 300 - A tutela de urgência será concedida quando


houver elementos que evidenciem a probabilidade do
direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do
processo.

Da exposição feita no item precedente emerge a aparência de


direito da autora, o fumus boni iuris, o qual encontra-se demonstrado pelas razões até aqui
aduzidas face ao disposto nos dispositivos legais mencionados e asseguradores do direito
pleiteado, especialmente a Constituição Federal e o Código Nacional Tributário.

Preservar empregos e com isto garantir direitos sociais


básicos a pelo menos 5.000 pessoas, em situação de calamidade pública vivenciada pelo
Brasil, compatibilizando isto com a manutenção da atividade empresarial, é o cerne da
aparência de direito exigida pela norma processual civil.

A situação objetiva de perigo de dano evidencia-se no fato de


que, ao deixar a requerente de recolher tributos federais (PIS, COFINS, IRPJ e CSLL) pelo
período de 3 meses, auge da pandemia do COVID-19, a União inevitavelmente promoverá
a inscrição de tais débitos no CADIN, negará a emissão de CND e imporá pesados
encargos sobre o valor inadimplido.

Além dos evidentes efeitos negativos decorrentes da multa


moratória, a negativação e a não emissão de Certidão Negativa de Débitos terão efeitos
nefastos para a contratação de empréstimos em Instituições Financeiras públicas e privadas,
bem como impedirá a renovação de contratos com os atuais clientes da requerente (grandes
bancos privados e empresas de telefonia móvel), que exigem de seus fornecedores estrito
cumprimento tributário.

Perceba-se que o não pagamento de tributos neste


momento não implica no seu não pagamento ad eternum. Pelo contrário, a medida de
diferimento que se pleiteia neste momento evidencia que a empresa requerente vê uma “luz
do túnel” em momento próximo, sendo necessárias as presentes medidas para garantir
êxito na manutenção de empregos, evitando a destruição completa de vagas de
trabalho em pouco tempo.
Por fim, não se alegue que as medidas buscadas pela
requerente competiriam exclusivamente ao Poder Executivo ou que devam ocorrer
mediante a promulgação de lei. A busca pelo Judiciário dá-se como forma de suprir a
inércia marcante da União Federal em apresentar medidas de alívio compatíveis com a
grave crise econômica que se instala, em decorrência da pandemia do COVID-19.

Perceba-se que é certo que o Executivo Federal concederá ao


final da crise um programa especial de parcelamento de débitos, com redução/afastamento
de multas e juros relativos a tributos não pagos neste período, mas certamente em tal
momento inúmeras empresas, como a requerente, terão deixado de continuar
operando pela impossibilidade de demonstração de regularidade fiscal, cabendo ao
Poder Judiciário sanar tal situação de forma tempestiva, quando e da forma que a urgência
dos fatos exige.

III.A – DANO À REQUERENTE X DANO À


SOCIEDADE E REVERSIBILIDADE DA MEDIDA

A análise de viabilidade de concessão da tutela de urgência


cautelar no caso concreto precisa necessariamente passar pelo confronto do dano que pode
ser imposto à requerente e aos seus 5.000 funcionários, em decorrência de seu fechamento
abrupto versus o dano a ser experimentado pela União Federal e pela sociedade em função
da ausência ou do diferimento por 90 dias de tributos federais.

É requisito do artigo 300, §3º do CPC, para a concessão


da tutela de urgência, a não ocorrência de “perigo de reversibilidade dos efeitos da
decisão”.

A decisão que aqui se busca não se constitui em ordem


judicial hábil a causar providência cujos efeitos serão irreversíveis. A mera revogação da
decisão liminar trará consigo o retorno dos procedimentos relativos à exigibilidade
imediata dos tributos, sem prejuízos reais à União Federal.

IV – PEDIDO
Diante do exposto, e pelo que mais possa ser suprido pelo
entendimento do Julgador, requer:

a) presentes os requisitos do fumus boni iuris e periculum


in mora, a concessão da tutela de urgência cautelar para o
fim de determinar o diferimento do PIS, COFINS, IRPJ e
CSLL devidos pela requerente e suas filiais, com
vencimento nos meses de março, abril e maio de 2.020,
pelo prazo de 90 dias em relação a cada um dos
vencimentos, determinando à União que se abstenha de
promover a inclusão da autora no CADIN e que permita a
expedição de CND nos termos do artigo 206 do CTN
(certidão positiva com efeitos de negativa) relativos a
débitos dos tributos supra mencionados com vencimento
no período em questão;

b) a citação da União Federal, para apresentar resposta,


no prazo legal;

c) a produção de todas as provas em direito admitidas;

d) a condenação do requerido nas verbas de


sucumbência;

e) a designação da audiência prevista no artigo


319, VII, do CPC;

f) seja a presente demanda julgada procedente, para o fim


de declarar o direito da autora em ver diferido o
recolhimento do PIS, COFINS, IRPJ e CSLL devidos pela
requerente e suas filiais com vencimento nos meses de
março, abril e maio de 2020, pelo prazo de 90 dias para
cada vencimento.

Dá-se à causa o valor de R$ 10.000,00 (Dez mil reais).


Nesses termos,

Pede deferimento.

Umuarama, 16 de março de 2020.

AGUINALDO MATHEUS ALVES BURATI

OAB/PR 97.337

JOÃO VICTOR DE OLIVEIRA RODRIGUES TEIXEIRA

Bacharel em Direito

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