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Poder Judiciário

JUSTIÇA FEDERAL
Seção Judiciária do Rio Grande do Sul
18ª Vara Federal de Porto Alegre
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PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL Nº 5046415-41.2023.4.04.7100/RS


AUTOR: ERONITA MARIANO DOS PASSOS
ADVOGADO(A): PATRICIA BETTIM CHAVES (DPU)
RÉU: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS

SENTENÇA

Dispensado o relatório formal do processo, em consonância com a norma do


artigo 38 da Lei nº 9.099/95, aplicável por força do disposto no artigo 1º da Lei nº
10.259/2001.

Fundamentação

Postula a parte Autora a inexigibilidade/irrepetibilidade dos valores que


auferiu à título de antecipação do benefício assistencial NB 709.062.696-3, os quais vêm
sendo descontados do benefício assistencial NB 710.946.517-0, posteriormente deferido.

Pede a cessação dos descontos, bem como a devolução dos valores decontados,
em sua integralidade.

Prefaciais

Da não incidência do tema 979 do STJ.

O INSS requer, preliminarmente, a não incidência do Tema 979 do STJ no caso


concreto, sob fundamento de que a presente demanda trata de um mero acerto contábil, não
decorrente de erro administrativo.

Entendo, entretanto, que tal alegação diz respeito ao mérito da demanda, motivo
pelo qual não acolho a presente preliminar.

Mérito

A parte autora alega que recebeu os pagamentos a título de Auxílio da União


(antecipação da LOAS, NB 16/707.657.452-8), em razão da pandemia de COVID-19,
prevista inicialmente no art. 3º da Lei nº 13.982/2020, entre 24/08/2020 e 31/12/2020.

De fato, o montante foi concedido durante a tramitação do pedido de benefício


assistencial ao deficiente NB 87/709.062.696-3, ocorrida entre 24/08/2020 e 13/01/2021, o
qual restou indeferido por falta de atualização do Cadúnico, bem como por não
comparecimento da Postulante ao exame médico pericial.

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O INSS, então, passou a efetuar descontos referentes ao montante recebido da
antecipação da LOAS no benefício atualmente recebido, concedido em 11/01/2022 (NB
88/7109465170).

Vejamos.

O auxílio da União, também chamado de auxílio emergencial, foi disciplinado


inicialmente pela Lei nº 13.982, de 02/04/2020, cujos artigos 2º e 3º interessam à solução
deste processo, in verbis:

Art. 2º Durante o período de 3 (três) meses, a contar da publicação desta Lei, será
concedido auxílio emergencial no valor de R$ 600,00 (seiscentos reais) mensais ao
trabalhador que cumpra cumulativamente os seguintes requisitos: (...)

Art. 3º Fica o INSS autorizado a antecipar o valor mencionado no art. 2º desta Lei para
os requerentes do benefício de prestação continuada para as pessoas de que trata o art.
20 da Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993, durante o período de 3 (três) meses, a
contar da publicação desta Lei, ou até a aplicação pelo INSS do instrumento de
avaliação da pessoa com deficiência, o que ocorrer primeiro.

Parágrafo único. Reconhecido o direito da pessoa com deficiência ou idoso ao


benefício de prestação continuada, seu valor será devido a partir da data do
requerimento, deduzindo-se os pagamentos efetuados na forma do caput. (grifei)

Ou seja, em virtude do fechamento das agências do INSS pela pandemia de


Covid-19, foi permitido o pagamento de R$ 600,00 aos requerentes de benefício assistencial
enquanto não eram realizadas as perícias administrativas.

No caso em tela, a autora requereu o NB 87/709.062.696-3 em


24/08/2020, indeferido por desatualização do Cadunico, bem como pela ausência da Autora à
avaliação médica.

Neste interregno, recebeu o benefício de NB 16/707.657.452-8, denominado


Antecipação de LOAS, concedido com base na Lei nº 13.982/2020, conforme a INFBEN
anexado aos autos (evento 5, DOC2). O auxílio teve início em 24/08/2020 e que foi cessado
em 31/12/2020.

Por outro lado, o pedido NB 87/709.062.696-3, com DER em 24/08/2020, que


estava em análise quando Eronita recebeu o Auxílio da União, foi indeferido.

Posteriormente, a parte autora formulou novo pedido administrativo, desta vez


ao idoso, com DER em 11/01/2022 (evento 5, DOC3), o qual foi deferido pela Autarquia sob
NB 88/710.946.517-0.

Ocorre que o auxílio da União, concedido durante o trâmite do pedido


indeferido, foi cessado anteriormente, em 31/12/2020.

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Logo, não existe concomitância entre as mensalidades do Auxílio da União
efetuadas durante a análise do pleito efetuado em 24/08/2020 e do benefício assistencial
requerido posteriormente, em 11/01/2022 o qual restou concedido, não se enquadrando o caso
no parágrafo único do art. 3º da Lei nº 13.982.

Logo, os valores reclamados no feito são inexigíveis da Autora, tendo sido


indevidamente descontados pelo INSS do benefício vigente.

Destaco que o próprio INSS, na Portaria/DIRBEN 480 de 22/06/2020 dispensa


a devolução de valores recebidos a título de antecipação da LOAS em caso de indeferimento
do benefício, in verbis:

"Art. 5º As antecipações de que tratam os Arts. 3º e 4º da Lei 13.982/2020 não fazem


jus ao abono anual.

§ 1º O crédito gerado corresponde ao disposto nos Arts. 3º e 4º da Lei 13.982/2020, R$


600,00 e um salário-mínimo, respectivamente, portanto, não observará a
proporcionalidade dias para o período registrado nos sistemas de benefícios.

§ 2º Caso não seja reconhecido o direito ao benefício, ficará dispensada a devolução


ao erário dos valores recebidos na forma do caput, salvo comprovada fraude ou má-
fé.

(...) "(grifei)

Ademais, considerando que não há nos autos outra justificação da autarquia


para a consignação identificada no HISCRE (evento 1, DOC8) como "CONSIGNAÇÃO-
CRÉDITO DE BENEFÍCIO ANTERIOR", rubrica 203, procede o pedido de declaração de
inexigibilidade do débito previdenciário, sendo indevida a restituição dos valores, devendo
ser cessada a consignação.

Destaco que o montante já descontado deverá ser restituído pelo INSS, com a
devida atualização.

Dispositivo

Ante o exposto, rejeito a prefacial arguida


e julgo procedente o pedido para condenar o INSS a se abster de efetuar atos de
cobrança da dívida apurada em razão do pagamento da antecipação da LOAS e a restituir
eventuais valores já descontados, declarando a inexigibilidade do débito decorrente do
recebimento de Auxílio da União (NB 16/707.657.452-8)

Condeno o INSS a restituir os valores já descontados devidamente atualizados


da seguinte forma: a) IGP-DI até janeiro de 2004; b) INPC a partir de fevereiro de 2004 (art.
29-B da Lei 8.213/91) até junho de 2009; c) IPCA-E a partir de 1º julho de 2009. Juros
moratórios, a partir da citação: a) 1% ao mês até junho de 2009; b) o mesmo índice aplicado a
título de remuneração das cadernetas de poupança, a partir de julho de 2009 (Lei
11.960/2009), com capitalização simples. A partir de 09/12/2021, para fins de atualização

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monetária e juros de mora, haverá a incidência, uma única vez, até o efetivo pagamento, do
índice da taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (SELIC),
acumulado mensalmente, nos termos do art. 3º da Emenda Constitucional nº 113/2021.

Incabível a condenação ao pagamento de custas processuais e honorários


advocatícios, a teor das normas dos artigos 54 e 55 da Lei nº 9.099/95, aplicáveis em virtude
do estabelecido no artigo 1º da Lei nº 10.259/2001.

Intimem-se as partes. Em caso de interposição de recurso(s), intime(m)-se a(s)


parte(s) contrária(s) para apresentação de contrarrazões, no prazo de dez dias, e, após,
encaminhem-se os autos às Turmas Recursais.

Com o trânsito em julgado:

1) Proceda-se à elaboração do cálculo das parcelas vencidas até a data da


implantação, descontando-se eventuais valores recebidos, no período, a título de benefício
inacumulável, expedindo-se requisição de pequeno valor ou precatório com a inclusão, em
favor da Justiça Federal, do valor relativo aos honorários periciais (se eventualmente foram
antecipados à conta de verba orçamentária da Seção Judiciária do Rio Grande do Sul) e o
destaque do montante que couber ao patrono da parte autora a título de honorários
advocatícios contratuais, se juntado aos autos o respectivo instrumento;

2) Abra-se vista às partes do cálculo elaborado e do requisitório expedido, para


que se manifestem no prazo de 05 (cinco) dias, devendo a parte autora, caso o montante
devido ultrapasse o limite de competência do JEF, por força do art. 17, § 4º da Lei nº
10.259/2001, manifestar-se sobre o seu interesse em renunciar ao crédito excedente, optando
pelo saldo sem expedição de precatório ou o pagamento do crédito integral por via de
precatório;

3) Transmita-se a requisição de pequeno valor ou precatório;

4) Após, aguarde-se o pagamento.

5) Vindo o demonstrativo de transferência, dê-se ciência a parte autora ou


beneficiário da RPV sobre o(s) valor(es) depositado(s) para comparecer na agência bancária,
situada na Rua Otávio Francisco Caruso da Rocha, 600, Prédio da Justiça Federal, entre 12 h
e 17 h, portando o CPF e RG, ou em qualquer outra Agência da mesma Instituição Financeira
(neste caso deverá saber o número da conta), e retirar o(s) valor(es) pago(s) pelo INSS.

6) Intime-se, ainda, a parte autora para vista dos autos, observando que a
fiscalização quanto ao efetivo cumprimento da revisão/implantação do benefício e pagamento
de eventuais parcelas atrasadas deverá ser realizada pelo próprio segurado.

Documento eletrônico assinado por FABIO HASSEN ISMAEL, Juiz Federal, na forma do artigo 1º, inciso III, da Lei
11.419, de 19 de dezembro de 2006 e Resolução TRF 4ª Região nº 17, de 26 de março de 2010. A conferência da
autenticidade do documento está disponível no endereço eletrônico http://www.trf4.jus.br/trf4/processos/verifica.php,
mediante o preenchimento do código verificador 710019240794v11 e do código CRC 8098cf38.

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Signatário (a): FABIO HASSEN ISMAEL
Data e Hora: 27/1/2024, às 8:30:15

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