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Sentenca Incapacidade Parcial Aposentadoria Inconstitucionalidade
Sentenca Incapacidade Parcial Aposentadoria Inconstitucionalidade
26/04/2023
Número: 1025941-17.2021.4.01.3400
Classe: PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL
Órgão julgador: 26ª Vara Federal de Juizado Especial Cível da SJDF
Última distribuição : 06/05/2021
Valor da causa: R$ 66.000,00
Assuntos: Auxílio-Doença Previdenciário
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? SIM
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM
Partes Procurador/Terceiro vinculado
ANTONIO SERGIO LIMA DE SOUZA (AUTOR)
INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL (REU)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
15868 20/04/2023 17:21 Sentença Tipo A Sentença Tipo A
53363
PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA FEDERAL
Seção Judiciária do Distrito Federal
26ª Vara Federal de Juizado Especial Cível da SJDF
SENTENÇA
Dispensado o relatório formal, nos termos do artigo art. 38 da Lei 9.099/95, c/c o art. 1º da Lei
10.259/01.
FUNDAMENTAÇÃO
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O auxílio por incapacidade temporária e a aposentadoria por incapacidade permanente são
espécies do gênero benefícios por incapacidade e a única diferença é de grau e não de índole
ontológica. Assim, a única diferença entre ambos os benefícios diz respeito ao grau da
incapacidade.
São requisitos para a concessão de auxílio por incapacidade temporária ou aposentadoria por
incapacidade permanente: a incapacidade para o trabalho, a qualidade de segurado e a carência
exigida.
Embora a incapacidade de que cogita o laudo pericial seja de natureza parcial para determinadas
atividades, tenho que é preciso agregar outros elementos a tal veredicto médico, como a
profissão habitual, o grau de escolaridade, o nível de qualificação profissional, as reais
possibilidades de reabilitação a curto ou médio prazo para exercer outra ocupação profissional e
outros dados socioeconômicos relevantes que possam repercutir no tipo de benefício a ser
judicialmente outorgado, principalmente quando se tratar de incapacidade parcial.
A esse respeito, convém invocar o teor do enunciado da Súmula 47 da TNU, nestes termos:
“Uma vez reconhecida a incapacidade parcial para o trabalho, o juiz deve analisar as
condições pessoais e sociais do segurado para a concessão de aposentadoria por
invalidez”
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Sem delongas, no caso concreto constata-se que a situação da parte autora comporta as
condições pessoais, sociais e culturais imprescindíveis à outorga da aposentadoria por
incapacidade permanente. Se não, vejamos:
Tal fato está registrado nos anais do Encontro Científico sobre Perícias Médicas da Seguridade
Social realizado no ano de 2017 na Justiça Federal do Distrito Federal, conforme noticio no livro
de minha autoria “Os Benefícios por Incapacidade e das Pessoas com Deficiência em Juízo e os
Direitos Humanos em ação”, Ed. Fontenele, São Paulo, 2ª. Edição, p. 104, nestes termos:
“No item 3.5.2, ao tecer reflexões sobre a incapacidade laborativa social, citamos dois
especialistas e profissionais atuantes na Diretoria de Saúde do Trabalhador que
ministraram palestra no Encontro Científico sobre Perícias Médicas da Seguridade
Social realizado na Justiça Federal do Distrito Federal.
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fruição de auxílio por incapacidade temporária no período compreendido entre 09/05/2020 a
27/01/2021.
Considerando a DII estimada pelo perito judicial (04/04/2019), fixo a DIB da aposentadoria
judicialmente reconhecida por ocasião da DCB do auxílio por incapacidade temporária NB
632.557.860-4 (27/01/2021), tal como pleiteado na inicial.
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salários-de-contribuição, nos termos dos arts. 61 e 29, § 10, da LBPS.
Essa regra não faz o menor sentido. Estabelece que um segurado em gozo de auxílio-
doença receba remuneração bem superior a um segurado aposentado por invalidez. É
surreal! Imagine-se um segurado em gozo de auxílio-doença que tenha um
agravamento em sua incapacidade e passe a fazer jus à conversão do benefício em
aposentadoria por invalidez. Pela nova regra da EC nº 103/2019, ele teria uma
redução no valor da remuneração na ordem de mais de 30% no valor do benefício, e
não um acréscimo como deveria ser por uma questão de lógica e justiça. Um
verdadeiro despautério!
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debenefício nos casos em que ocorre a conversão do benefício previdenciário de
auxílio-doença em aposentadoria por incapacidade permanente.
A par disso, o Ministro Barroso (op. cit, p. 234) salienta uma íntima relação do princípio
da razoabilidade com o princípio da isonomia, servindo o primeiro como parâmetro
para aferir se o fundamento da diferenciação é aceitável e se o fim visado pela
desigualdade é legítimo. Sob essa perspectiva, não há racionalidade na
desequiparação estabelecida pelo art. 26, §§ 2º e 5º, da EC 103/2019, pois confere ao
segurado acometido por uma incapacidade mais severa um benefício flagrantemente
inferior àquele concedido ao acometido por uma incapacidade mais branda, ou seja,
ao invés de tratar desigualmente os desiguais a fim de gerar uma isonomia material, a
norma em questão desarrazoadamente agrava ainda mais a desigualdade. Trata-se,
assim, de desequiparação arbitrária, caprichosa, aleatória, sem qualquer adequação
entre meio e fim, razão pela qual se mostra juridicamente intolerável.
Além do mais, é inconteste a contrariedade ao art. 1º, inciso III, da CF, tendo em vista
que os direitos fundamentais referidos nesta decisão são reputados densificações do
princípio da dignidade da pessoa humana que é, segundo a doutrina e a
jurisprudência nacionais, o valor-fonte da ordem político-jurídica brasileira.
POSTO ISTO, conheço dos embargos (pela sua tempestividade), mas a eles nego
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provimento.
Não se pode considerar livre uma sociedade cujas instituições se omitem e outras tantas
estimulam (imprensa, mercado, Estados estrangeiros, instituições financeiras, especialmente as
que negociam a previdência complementar etc) em detrimento dos trabalhadores em geral do
país e dos demais segurados no contexto da aprovação da Reforma da Previdência, a qual não
deu oportunidade real e insofismável para ouvir as várias organizações representativas de seus
interesses perante o Regime Geral de Previdência Social desse imenso e desigual país.
Não se pode considerar justa a sociedade que amesquinha e legitima a vergonhosa reforma da
Previdência Social neste país, sem uma discussão mais ampla com os setores interessados,
tanto que consagraram uma norma de iniquidade surreal, típica de um Parlamento e de um
Executivo subservientes ao mercado, às imposições de países centrais do liberalismo desmedido
e aos interesses de instituições financeiras nacionais e estrangeiras, pois nem se deram ao
trabalho de que a aposentadoria por incapacidade permanente ficaria com o valor menor do que o
auxílio por incapacidade temporária em mais de 1/3 de sua renda ou, conforme a decisão do Juiz
Federal Mauro Spalding, mesmo que incidisse sobre tal benefício por incapacidade permanente o
adicional de 25% nos termos do artigo 45 da Lei 8.213/91, ainda assim o benefício permanente e
definitivo ficaria com a renda menor do que o benefício temporário, o que é totalmente
inconcebível num Estado de Direito Democrático.
Enfim, não se pode considerar solidária a sociedade que consagra um benefício por incapacidade
permanente aos segurados mais vulneráveis do país, em decorrência de um acidente, lesão ou
doença incapacitante ou altamente estigmatizante plenamente imprevisível, com uma renda
vergonhosa e bem menor do que a de outros benefícios menos gravosos, conforme já abordado
nessa fundamentação. O princípio da solidariedade é um dos principais postulados que norteiam
a Seguridade Social na República Federativa do Brasil.
Mas há outras injustiças grosseiras nessa parte da reforma da previdência. Se não, vejamos:
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por tempo de contribuição integral, o mesmo tratamento está sendo dispensado para um
benefício não programado, causado por um infortúnio cuja essência é a sua imprevisibilidade e a
retirada do poder de trabalho do segurado, porquanto, pela regra do artigo 26, caput e §§ 2º e 5º
da EC 103/2019, a integralização dos 100% do salário de benefício em prol da aposentadoria por
incapacidade permanente (2% por ano contributivo a partir de 15 ou 20 anos de tempo de
contribuição, a depender de algumas circunstâncias) só ocorreria com 35 a 40 anos de tempo de
contribuição, conforme o caso, sendo, praticamente, a mesma regra para o benefício programado
de aposentadoria por tempo de contribuição.
No mais, a tutela de urgência deve ser estendida para a aposentadoria por incapacidade
permanente, diante da manutenção dos pressupostos que autorizaram a sua anterior concessão
no decorrer do processo.
DISPOSITIVO
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(quarenta e cinco) dias, porquanto a parte autora demonstra os requisitos
necessários à extensão da antecipação dos efeitos da tutela jurisdicional para o
beneficio de aposentadoria por incapacidade permanente.
Fica arbitrada a multa de R$250,00 (duzentos e cinquenta reais) por dia, em caso de
descumprimento do item (c) a partir do 46º dia útil, independentemente de nova intimação.
Interposto recurso, vista à parte contrária para, no prazo de 10 (dez) dias, ofertar contrarrazões.
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