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27/02/2023, 08:33 5003431-38.2023.8.13.

0672 · Processo Judicial Eletrônico - 1º Grau

 PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE MINAS GERAIS  

Justiça de Primeira Instância 

Comarca de SETE LAGOAS / Unidade Jurisdicional - 2º JD da Comarca de Sete Lagoas

PROCESSO Nº: 5003431-38.2023.8.13.0672 

CLASSE:  [CÍVEL] PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL DA FAZENDA PÚBLICA


(14695) 

ASSUNTO: [Auxílio-Alimentação] 

REQUERENTE: ITAMAR SANTANA PEREIRA

REQUERIDO(A): ESTADO DE MINAS GERAIS 

 
SENTENÇA

Vistos, etc.

Trata-se de ação ordinária ajuizada por  ITAMAR SANTANA PEREIRA em face do ESTADO
DE MINAS GERAIS, objetivando o pagamento da verba pleiteada na exordial.

Dispensado o relatório nos termos do art. 38 da Lei 9.099/95.

 
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Presentes estão os pressupostos processuais. Não existem nulidades a serem sanadas e nem
preliminares foram arguidas.

No caso dos autos, o autor pretende a concessão de ajuda de custo pelas despesas com alimentação
sob o fundamento de que é servidor estadual efetivo, exercendo a função de investigador da polícia civil e
possui jornada de trabalho superior a 6 (seis) horas diárias.

Sobre a legislação que regula a matéria, tem-se a expressa disposição dos arts. 189 e 47 da Lei
Estadual nº 22.257/2016 que assim preveem:

Art. 189. Será concedido ao servidor em efetivo exercício no órgão ou na entidade cuja jornada de
trabalho seja igual ou superior a seis horas, como ajuda de custo pelas despesas de alimentação,
observados os critérios e condições mínimos definidos em decreto, vale-refeição ou valores diferenciados de
vale-alimentação, com parâmetros e limites distintos daqueles definidos nos arts. 47 e 48 da Lei nº 10.745,
de 25 de maio de 1992.

(...)

Art. 47 - Será concedido ao servidor público estadual cuja jornada de trabalho for igual ou
superior a 6 (seis) horas 1 (um) vale-alimentação por dia efetivamente trabalhado, nos termos do
regulamento. Parágrafo único - Exclui-se do benefício deste artigo o servidor, que, no local de trabalho,
faça jus à refeição gratuita ou subsidiada.

Como se vê, a lei estadual dispôs acerca do direito dos servidores públicos do Estado de Minas
Gerais à percepção da ajuda de custo, verba de natureza alimentar.

Contudo, tal direito foi suprimido aos policiais civil quando da edição do Decreto Estadual
48.113/2020 ao dispor o seguinte:

Art. 4º – Não terá direito à ajuda de custo:

I – o servidor que tiver direito à alimentação gratuita no local de trabalho ou, quando em viagem a
trabalho, estiver inclusa a alimentação no valor da hospedagem;

II – o policial civil, policial militar e bombeiro militar;

III – o servidor em exercício fora da administração direta, autárquica e fundacional do Poder


Executivo Estadual, ressalvado o disposto no art. 5º;

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IV – o servidor que não cumprir a jornada diária mínima de seis horas de trabalho, sendo vedada a
complementação da jornada diária com horas extras não autorizadas;

(Inciso com redação dada pelo art. 2º do Decreto nº 48.172, de 7/4/2021, com produção de efeitos a
partir de 1º/1/2021.)

V – o servidor em afastamento ou licença, remunerados ou não.

Porém, em que pese a proibição imposta pelo Decreto 48.113/2020, entendo que o Poder Executivo
extrapolou o poder regulamentar ao criar restrição onde a lei não o faz.

Nos termos do art. 84, IV, da Constituição Federal da República “compete privativamente ao
Presidente da República sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como expedir decretos e
regulamentos para sua fiel execução.” Referida disposição é perfeitamente aplicável ao Governador do
Estado, pelo princípio da simetria, no tocante ao dever de expedir Decretos e regulamentos em estrita
observância à fiel execução da lei.

Em sendo assim, a restrição do pagamento da ajuda de custo aos policiais civis contida em decreto
não pode ser oposta à parte autora para restringir seu direito à benefício previsto em Lei Estadual, cuja
previsão não exclui a categoria de servidores a que faz parte o requerente.

Corroborando com o entendimento ora firmado, têm-se precedentes do E. Tribunal de Justiça:

"Mandado de segurança - Servidor público - Poder Executivo - requisição pela Justiça Eleitoral -
supressão da ajuda de custo implementada pela Lei Estadual 22.257, de 2016 - Resolução 4.969, da
Secretaria da Fazenda - ilegalidade - condição não prevista na lei - Direito líquido e certo - art. 9º, da Lei
Federal 6.999, de 1982 - segurança concedida. 1. A Administração Pública está adstrita ao princípio da
legalidade, sendo vedado conceder ou negar direito fora das hipóteses previstas em lei. 2. O ordenamento
jurídico pátrio é pautado pela hierarquia das normas, de modo que um decreto, resolução ou ordem de
serviço não pode dispor de forma diversa ou além do que prevê a lei, impondo obrigações ou restringindo
direitos, sob pena de ofender os limites do poder regulamentar a que está adstrito o administrador público.
3. Conforme a Lei Federal 6.999, de 1982, o servidor requisitado para o serviço eleitoral conservará os
direitos e vantagens inerentes ao exercício do seu cargo ou emprego." (TJMG - Mandado de Segurança
1.0000.17.015862-0/000, Relator(a): Des.(a) Marcelo Rodrigues , 2ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em
06/03/2018, publicação da súmula em 09/03/2018, grifo nosso)

EMENTA: REEXAME NECESSÁRIO - MANDADO DE SEGURANÇA - DIREITO


ADMINISTRATIVO - SERVIDOR PÚBLICO ESTADUAL - JUCEMG - REQUISIÇÃO PELA JUSTIÇA
ELEITORAL - VALE TRANSPORTE - AJUDA DE CUSTO DE ALIMENTAÇÃO - SUSPENSÃO DO
PAGAMENTO - IMPOSSIBILIDADE - MANUTENÇÃO DOS BENEFÍCIOS ASSEGURADA NA LEI
FEDERAL Nº 6.999/82. - Nos termos do art. 9º da Lei Federal nº 6.999/82, "o servidor requisitado para o
serviço eleitoral conservará os direitos e vantagens inerentes ao exercício de seu cargo ou emprego". - O
servidor estadual requisitado pela Justiça Eleitoral faz jus à percepção do vale-transporte e da ajuda de
custo de alimentação previstos na Lei Estadual nº 22.257/2016, cujo pagamento não pode ser suspenso
por normas de hierarquia inferior, tais como portarias e ordens de serviço." (TJMG - Remessa Necessária-
 Í
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27/02/2023, 08:33 5003431-38.2023.8.13.0672 · Processo Judicial Eletrônico - 1º Grau

Cv 1.0000.20.513143-6/001, Relator(a): Des.(a) Ana Paula Caixeta , 4ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em


26/11/2020, publicação da súmula em 26/11/2020,grifo nosso)

No que tange ao pagamento, entendo que a verba postulada somente deve ser paga a contar da
entrada em vigor da Resolução Conjunta COFIN/PCMG nº 001/2022, a qual estabeleceu o valor da ajuda de
custo pleiteada, senão veja-se:

Art. 3º - A ajuda de custo específica a que se refere o art. 2º terá a seguinte composição: I – uma
parcela fixa, no valor de R$50,00 (cinquenta reais) por dia efetivamente trabalhado; II – uma parcela
variável, no valor de até R$25,00 (vinte e cinco reais) por dia efetivamente trabalhado, vinculada ao
cumprimento das metas previstas na resolução conjunta de que trata o “caput” do art. 2º

Art 4º - As resoluções conjuntas vigentes, na data de publicação desta resolução, que regulamentam
o pagamento da ajuda de custo específica, com valores diferenciados, a que se refere o inciso II do § 3º do
art. 1º do Decreto nº 48.113, de 2020, deverão ser ajustadas para que o benefício passe a ter a seguinte
composição, a partir de 1º de maio de 2022: I - uma parcela fixa, no valor de R$50,00 (cinquenta reais) por
dia efetivamente trabalhado; II – uma parcela variável, vinculada ao cumprimento das metas previstas nas
resoluções conjuntas de que trata o “caput”, cujo valor máximo será obtido mediante cálculo da diferença
entre o valor diário da ajuda de custo em vigor na data de publicação desta resolução e a parcela fixa de
que trata o inciso I, aplicando-se o índice de 10,06% de reajuste sobre o valor resultante

Destarte, diante do exposto e por tudo o mais que dos autos consta, julgo extinto o processo com
resolução do mérito nos termos do art. 487, III, ‘a’, do Código de Processo Civil, e, via de consequência,
JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTE o pedido inicial para DECLARAR o direito da parte autora
ao recebimento do auxílio-alimentação previsto no art. 189 da Lei 22.257/2016 e Resolução Conjunta
COFIN/PCMG nº 001/2022 a partir de maio/2022.

Ato contínuo, CONDENO o ESTADO DE MINAS GERAIS a pagar as diferenças pretéritas (após
maio/2022) relativas à ajuda de custo não paga ao servidor, cujo período deverá ser apurado após o trânsito
em julgado, a partir dos contracheques juntados aos autos, respeitada a prescrição quinquenal quanto às
parcelas pretéritas ao ajuizamento da ação.

Condeno, ainda, o réu à obrigação de fazer consistente na implementação do benefício de ajuda de


custo na folha de pagamento do autor, desde que a jornada seja superior a 6 horas diárias, no prazo de 15 dias
a partir do trânsito em julgado da presente decisão.

Quanto aos créditos devidos após 09/12/2021 (data de início de vigência da EC nº 113/2021), a
correção monetária e juros de mora incidirão, uma única vez, até o efetivo pagamento, pelo índice da taxa
referencial do Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (Selic), acumulado mensalmente, a partir da
citação.

Sem custas e honorários advocatícios, conforme o disposto no art. 55 da Lei 9.099/95.


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27/02/2023, 08:33 5003431-38.2023.8.13.0672 · Processo Judicial Eletrônico - 1º Grau

Tendo em vista que o réu é a Fazenda Pública, o cumprimento da presente ação seguirá o rito do
RPV (requisição de pequeno valor) ou do precatório, de acordo o disposto na legislação vigente e nos termos
do contido nos arts. 534 e 535 do CPC.

Publique-se. Registre-se. Intimem-se.

SETE LAGOAS, data da assinatura eletrônica.

ALESSANDRO DE ABREU BORGES   

Juiz de Direito

 Unidade Jurisdicional - 2º JD da Comarca de Sete Lagoas  

Rua Senhor dos Passos, 95, Centro, SETE LAGOAS - MG - CEP: 35700-016

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