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PROCESSO Nº: 5003431-38.2023.8.13.0672
ASSUNTO: [Auxílio-Alimentação]
SENTENÇA
Vistos, etc.
Trata-se de ação ordinária ajuizada por ITAMAR SANTANA PEREIRA em face do ESTADO
DE MINAS GERAIS, objetivando o pagamento da verba pleiteada na exordial.
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Presentes estão os pressupostos processuais. Não existem nulidades a serem sanadas e nem
preliminares foram arguidas.
No caso dos autos, o autor pretende a concessão de ajuda de custo pelas despesas com alimentação
sob o fundamento de que é servidor estadual efetivo, exercendo a função de investigador da polícia civil e
possui jornada de trabalho superior a 6 (seis) horas diárias.
Sobre a legislação que regula a matéria, tem-se a expressa disposição dos arts. 189 e 47 da Lei
Estadual nº 22.257/2016 que assim preveem:
Art. 189. Será concedido ao servidor em efetivo exercício no órgão ou na entidade cuja jornada de
trabalho seja igual ou superior a seis horas, como ajuda de custo pelas despesas de alimentação,
observados os critérios e condições mínimos definidos em decreto, vale-refeição ou valores diferenciados de
vale-alimentação, com parâmetros e limites distintos daqueles definidos nos arts. 47 e 48 da Lei nº 10.745,
de 25 de maio de 1992.
(...)
Art. 47 - Será concedido ao servidor público estadual cuja jornada de trabalho for igual ou
superior a 6 (seis) horas 1 (um) vale-alimentação por dia efetivamente trabalhado, nos termos do
regulamento. Parágrafo único - Exclui-se do benefício deste artigo o servidor, que, no local de trabalho,
faça jus à refeição gratuita ou subsidiada.
Como se vê, a lei estadual dispôs acerca do direito dos servidores públicos do Estado de Minas
Gerais à percepção da ajuda de custo, verba de natureza alimentar.
Contudo, tal direito foi suprimido aos policiais civil quando da edição do Decreto Estadual
48.113/2020 ao dispor o seguinte:
I – o servidor que tiver direito à alimentação gratuita no local de trabalho ou, quando em viagem a
trabalho, estiver inclusa a alimentação no valor da hospedagem;
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IV – o servidor que não cumprir a jornada diária mínima de seis horas de trabalho, sendo vedada a
complementação da jornada diária com horas extras não autorizadas;
(Inciso com redação dada pelo art. 2º do Decreto nº 48.172, de 7/4/2021, com produção de efeitos a
partir de 1º/1/2021.)
Porém, em que pese a proibição imposta pelo Decreto 48.113/2020, entendo que o Poder Executivo
extrapolou o poder regulamentar ao criar restrição onde a lei não o faz.
Nos termos do art. 84, IV, da Constituição Federal da República “compete privativamente ao
Presidente da República sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como expedir decretos e
regulamentos para sua fiel execução.” Referida disposição é perfeitamente aplicável ao Governador do
Estado, pelo princípio da simetria, no tocante ao dever de expedir Decretos e regulamentos em estrita
observância à fiel execução da lei.
Em sendo assim, a restrição do pagamento da ajuda de custo aos policiais civis contida em decreto
não pode ser oposta à parte autora para restringir seu direito à benefício previsto em Lei Estadual, cuja
previsão não exclui a categoria de servidores a que faz parte o requerente.
"Mandado de segurança - Servidor público - Poder Executivo - requisição pela Justiça Eleitoral -
supressão da ajuda de custo implementada pela Lei Estadual 22.257, de 2016 - Resolução 4.969, da
Secretaria da Fazenda - ilegalidade - condição não prevista na lei - Direito líquido e certo - art. 9º, da Lei
Federal 6.999, de 1982 - segurança concedida. 1. A Administração Pública está adstrita ao princípio da
legalidade, sendo vedado conceder ou negar direito fora das hipóteses previstas em lei. 2. O ordenamento
jurídico pátrio é pautado pela hierarquia das normas, de modo que um decreto, resolução ou ordem de
serviço não pode dispor de forma diversa ou além do que prevê a lei, impondo obrigações ou restringindo
direitos, sob pena de ofender os limites do poder regulamentar a que está adstrito o administrador público.
3. Conforme a Lei Federal 6.999, de 1982, o servidor requisitado para o serviço eleitoral conservará os
direitos e vantagens inerentes ao exercício do seu cargo ou emprego." (TJMG - Mandado de Segurança
1.0000.17.015862-0/000, Relator(a): Des.(a) Marcelo Rodrigues , 2ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em
06/03/2018, publicação da súmula em 09/03/2018, grifo nosso)
No que tange ao pagamento, entendo que a verba postulada somente deve ser paga a contar da
entrada em vigor da Resolução Conjunta COFIN/PCMG nº 001/2022, a qual estabeleceu o valor da ajuda de
custo pleiteada, senão veja-se:
Art. 3º - A ajuda de custo específica a que se refere o art. 2º terá a seguinte composição: I – uma
parcela fixa, no valor de R$50,00 (cinquenta reais) por dia efetivamente trabalhado; II – uma parcela
variável, no valor de até R$25,00 (vinte e cinco reais) por dia efetivamente trabalhado, vinculada ao
cumprimento das metas previstas na resolução conjunta de que trata o “caput” do art. 2º
Art 4º - As resoluções conjuntas vigentes, na data de publicação desta resolução, que regulamentam
o pagamento da ajuda de custo específica, com valores diferenciados, a que se refere o inciso II do § 3º do
art. 1º do Decreto nº 48.113, de 2020, deverão ser ajustadas para que o benefício passe a ter a seguinte
composição, a partir de 1º de maio de 2022: I - uma parcela fixa, no valor de R$50,00 (cinquenta reais) por
dia efetivamente trabalhado; II – uma parcela variável, vinculada ao cumprimento das metas previstas nas
resoluções conjuntas de que trata o “caput”, cujo valor máximo será obtido mediante cálculo da diferença
entre o valor diário da ajuda de custo em vigor na data de publicação desta resolução e a parcela fixa de
que trata o inciso I, aplicando-se o índice de 10,06% de reajuste sobre o valor resultante
Destarte, diante do exposto e por tudo o mais que dos autos consta, julgo extinto o processo com
resolução do mérito nos termos do art. 487, III, ‘a’, do Código de Processo Civil, e, via de consequência,
JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTE o pedido inicial para DECLARAR o direito da parte autora
ao recebimento do auxílio-alimentação previsto no art. 189 da Lei 22.257/2016 e Resolução Conjunta
COFIN/PCMG nº 001/2022 a partir de maio/2022.
Ato contínuo, CONDENO o ESTADO DE MINAS GERAIS a pagar as diferenças pretéritas (após
maio/2022) relativas à ajuda de custo não paga ao servidor, cujo período deverá ser apurado após o trânsito
em julgado, a partir dos contracheques juntados aos autos, respeitada a prescrição quinquenal quanto às
parcelas pretéritas ao ajuizamento da ação.
Quanto aos créditos devidos após 09/12/2021 (data de início de vigência da EC nº 113/2021), a
correção monetária e juros de mora incidirão, uma única vez, até o efetivo pagamento, pelo índice da taxa
referencial do Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (Selic), acumulado mensalmente, a partir da
citação.
Tendo em vista que o réu é a Fazenda Pública, o cumprimento da presente ação seguirá o rito do
RPV (requisição de pequeno valor) ou do precatório, de acordo o disposto na legislação vigente e nos termos
do contido nos arts. 534 e 535 do CPC.
Juiz de Direito
Rua Senhor dos Passos, 95, Centro, SETE LAGOAS - MG - CEP: 35700-016
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