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Procuradoria-Geral do Consultivo
Parecer Jurídico n.º 521/2020-PGCONS/PGDF/2020 -
PGDF/PGCONS
Processo nº 00010-00002328/2020-85
RELATÓRIO
Em 12.11.2019, foi editada a Emenda Cons tucional nº 103 que, entre outras
alterações, acrescentou, ao artigo 37, o parágrafo 4º, que assim dispõe:
“A aposentadoria concedida com a u lização de tempo de contribuição
decorrente de cargo, emprego ou função pública, inclusive do Regime
Geral de Previdência Social, acarretará o rompimento do vínculo que
gerou o referido tempo de contribuição”.
Registre-se que o ar go 6º da mencionada Emenda estabeleceu que a nova regra não
se aplica a aposentadorias concedidas pelo Regime Geral de Previdência Social até a data de entrada
em vigor da Emenda Cons tucional e que, em consonância com o ar go 36, III, a vigência da Emenda
iniciou-se na data da sua publicação, ou seja, 13.11.2019.
Em outras palavras, não há dúvida, pois, de que deve ser ex nto automa camente o
vínculo de emprego daqueles empregados públicos que veram a aposentadoria concedida pelo
Regime Geral de Previdência, valendo-se da contagem de tempo de serviço decorrente de cargo,
emprego, ou função pública, em data posterior a 13.11.2019, e con nuaram laborando em empresas
estatais distritais. Em razão da alteração cons tucional promovida pela Emenda acima indicada, o
vínculo é rompido.
Impõe-se, contudo, examinar a situação daqueles empregados públicos que, à época da
entrada em vigor da Emenda Cons tucional nº 103, já estavam aposentados pelo Regime Geral de
Previdência Social.
O Supremo Tribunal Federal, no julgamento das ADIs 1721 e 1770, declarou a
incons tucionalidade dos parágrafos 1º e 2º, do ar go 453 da Consolidação das Leis do Trabalho
(CLT), e decidiu que “a mera concessão da aposentadoria voluntária ao trabalhador não tem por efeito
extinguir, instantânea e automaticamente, o vínculo de emprego”.
Este entendimento, contudo, isoladamente, não configura obstáculo à demissão dos
empregados de empresas estatais distritais que já es vessem aposentados pelo Regime Geral de
Previdência Social na data da entrada em vigor da EC nº 103.
Note-se que o Supremo Tribunal Federal já decidiu que os empregados públicos não
fazem jus à estabilidade prevista no ar go 41 da Cons tuição Federal, salvo aqueles admi dos em
período anterior ao advento da EC nº 19/1998. Neste sen do, entre outros, o acórdão prolatado no
julgamento do RE nº 589.998, rel. Min. Ricardo Lewandowski, pub. no dia 12.09.2013.
Neste sen do, se não configurada a hipótese excepcional mencionada no parágrafo
anterior, ou outra circunstância, prevista no ordenamento jurídico, que atribua ao empregado público
estabilidade transitória, como, por exemplo, aquela descrita no ar go 10, II, “b”, da Cons tuição
Federal, mostra-se viável a demissão do empregado aposentado, em data anterior a 19.11.2019.
Neste contexto, duas questões devem ser examinadas. A primeira delas consiste em
definir se a demissão do empregado público, já aposentado pelo Regime Geral de Previdência, em
data anterior à vigência da EC 103/2019, deve ser mo vada. A segunda diz respeito às verbas
rescisórias que o empregado teria direito em decorrência da demissão.
Para responder à primeira questão, impõe-se examinar a jurisprudência do Supremo
Tribunal Federal e do Tribunal Superior do Trabalho.
No Supremo Tribunal Federal, ao menos três recursos extraordinários discu ram
questões correlatas a que ora se examina. Um deles já teve seu julgamento concluído. Trata-se do RE
589.998. E os outros dois ainda estão pendentes de julgamento: RE 688.267 e RE 655.283. Nos três foi
reconhecida a repercussão geral.
No julgamento do RE 589.998, o Supremo Tribunal Federal fixou a seguinte tese: “A
Parecer Jurídico 521/2020-PGCONS/PGDF (45953073) SEI 00020-00027760/2020-41 / pg. 2
Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos – ECT tem o dever jurídico de mo var, em ato formal, a
demissão de seus empregados”. Pela leitura do acórdão que julgou o extraordinário, e daquele que
apreciou os embargos de declaração, constata-se que a fixação do entendimento adotado levou em
consideração circunstâncias par culares da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, quais sejam:
ser prestadora de serviço público em regime de exclusividade, desfrutar de imunidade tributária
recíproca e pagar suas dívidas mediante precatório.
Ao apreciar o RE 655.283, do qual é relator o eminente Ministro Marco Aurélio, o
Supremo Tribunal Federal afirmou a repercussão geral, entre outros temas, da “ controvérsia rela va à
reintegração de empregados públicos dispensados em decorrência da concessão de aposentadoria
espontânea”. Em 07.08.2020, iniciou-se o julgamento virtual do mencionado extraordinário. Até o
momento, apenas dois Ministros proferiram voto.
O eminente Ministro Marco Aurélio concluiu que “o direito à reintegração alcança
empregados dispensados em razão de aposentadoria espontânea, considerado insubsistente o mo vo
do desligamento”.
Já o eminente Ministro Edson Fachin divergiu. Invocou a Emenda Cons tuição nº
103/2019 e afirmou que a aposentadoria rompe o vínculo de emprego, sem, contudo, fazer qualquer
dis nção entre os empregados aposentados antes da entrada em vigor da Emenda e aqueles que
tiveram a aposentadoria concedida em data posterior.
O julgamento ainda não foi concluído. Aguarda-se voto-vista do eminente Ministro
Alexandre de Moraes.
O terceiro recurso extraordinário (RE 688.267) ainda não foi incluído em pauta para
julgamento. Há, contudo, alguns esclarecimentos relevantes, que merecem ser prestados.
Inicialmente, o relator proferiu decisão monocrá ca, negando seguimento ao
extraordinário. Confiram-se trechos do decisum:
“A doutrina, em análise do tema, tem buscado jus ficar a necessidade, ou
não de mo vação na dispensa dos empregados, conforme a finalidade da
empresa pública ou da sociedade de economia mista, ou seja, se é
des nada à prestação de serviços públicos ou à exploração de a vidades
econômicas. (...)
É evidente que a necessidade ou desnecessidade de mo vação para a
dispensa de empregado deve ser avaliada em conformidade com as
a vidades desempenhadas pela empresa pública ou sociedade de
economia mista. Sendo assim, entendo que a obrigatoriedade dessa
mo vação, por parte de empresas públicas e sociedade de economia
mista que desempenham a vidade econômica, concede-as um desfalque
e certa desvantagem, quando consideradas em relação aos entes privados
com quem concorrem.”
Interposto agravo interno, tal decisão foi reconsiderada e o Supremo Tribunal Federal
reconheceu a repercussão geral da questão controver da, qual seja: “a dispensa imo vada de
empregado de empresa pública e de sociedade de economia mista admitido por concurso público”.
Como se vê, a questão rela va à necessidade, ou não, de mo vação da demissão de
empregado de empresa pública e de sociedade de economia mista ainda não foi defini vamente
decidida pelo Supremo Tribunal Federal.
Por outro lado, no âmbito do Tribunal Superior do Trabalho, foi editada a Orientação
Jurisprudencial nº 247, que assim dispõe:
“SERVIDOR PÚBLICO. CELETISTA CONCURSADO. DESPEDIDA IMOTIVADA.
EMPRESA PÚBLICA OU SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA. POSSIBILIDADE
(alterada – Res. Nº 143/2007) – DJ 13.11.2007
CONCLUSÃO
Cota - PGDF/PGCONS/CHEFIA
PROCESSO N°: 00010-00002328/2020-85
De acordo.
Para subsidiar novas análises por esta Casa Jurídica a respeito do assunto versado no
opina vo em apreço, deve a Biblioteca Jurídica Onofre Gon jo Mendes desta Procuradoria-Geral
proceder às devidas anotações no sistema de consulta de pareceres, a fim de registrar a
consolidação do entendimento anteriormente adotado por ocasião da emissão do Parecer nº
45/2016 – PRCON/PGDF.
Res tuam-se os autos à Consultoria do Gabinete do Governador do Distrito Federal,
para conhecimento e providências.