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ANA SOFIA GODINHO VASCONCELOS

INTERVENÇÃO DE TERCEIROS NO
PROCESSO DO TRABALHO

Monografia Jurídica de conclusão de


Curso de Especialização em Direito
do Trabalho.

PUC/São Paulo
2009
ANA SOFIA GODINHO VASCONCELOS

INTERVENÇÃO DE TERCEIROS NO
PROCESSO DO TRABALHO

Orientadora: Professora Cristina Paranhos Olmos

PUC/São Paulo
2009
Dedico este trabalho à minha mãe,
exemplo de persistência e força, a quem
sempre dispensarei todo o meu amor e
abnegação.
Agradeço a Deus, aos meus professores
de toda a vida e a todos aqueles que de
alguma forma contribuíram para a
realização deste trabalho.
RESUMO

O presente estudo se refere ao exame das modalidades de

intervenção de terceiros descritas no Código de Processo Civil e sua

compatibilidade com o Processo do Trabalho.

Ainda; há análise da compatibilidade das figuras de

assistência, oposição, nomeação à autoria, denunciação à lide e

chamamento ao processo, após o advento da Emenda Constitucional

45/2004.
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ........................................................................... 1

2. BREVES PONDERAÇÕES ACERCA DO CONCEITO DE PARTE E


LITISCONSÓRCIO .......................................................................... 1

3. INTERVENÇÃO DE TERCEIROS ............................................. 5

3.1.Classificação.................................................................................. 10

4. DA ADMISSIBILIDADE DA INTERVENÇÃO DE TERCEIROS NO


PROCESSO DO TRABALHO .......................................................... 11

5. ASSISTÊNCIA............................................................................... 19

5.1. Procedimento ..................................................................... 27

5.2. Admissibilidade no Processo do Trabalho ......................... 29

5.3. Efeitos na Sentença ...........................................................35

6. OPOSIÇÃO ....................................................................................37

6.1. Procedimento .......................................................................42

6.2 Admissibilidade no Processo do Trabalho .......................... 45

6.3. Efeitos na Sentença ............................................................ 52


7. NOMEAÇÃO À AUTORIA............................................................ 53

7.1. Procedimento....................................................................... 57

7.2. Admissibilidade no Processo do Trabalho ........................ 60

7.3. Efeitos na Sentença ............................................................ 64

8. DENUNCIAÇÃO À LIDE............................................................... 66

8.1 Procedimento ....................................................................... 77

8.2 Admissibilidade no Processo do Trabalho ........................... 82

8.3. Efeitos na Sentença ............................................................. 96

9. CHAMAMENTO AO PROCESSO.................................................. 99

9.1. Procedimento ......................................................................103

9.2. Admissibilidade no Processo do Trabalho .......................... 103

9.3. Efeitos na Sentença ............................................................. 110

10. CONCLUSÃO ................................................................................ 111

11. ANEXO DE JURISPRUDÊNCIA................................................... 1- 8

12. BIBLIOGRAFIA ............................................................................. 113


1

1. INTRODUÇÃO

O objeto do presente estudo é analisar a compatibilidade das

modalidades de intervenção de terceiros descritas no Código de Processo Civil

em relação ao Processo do Trabalho, em face do advento da Emenda

Constitucional 45/2004.

Existem outras formas de intervenção de terceiros como o recurso

de terceiro prejudicado, o “factum principis” descrito no artigo 486 da

Consolidação das Leis do Trabalho, bem como há menção na doutrina de outras

formas de intervenções anômalas, como a denominada por Gustavo Filipe

Barbosa Garcia como integração à lide, as quais não serão analisadas no

presente estudo.

Assim, objetivamos examinar a assistência, a oposição, a nomeação

à autoria, a denunciação à lide e o chamamento ao processo.

2. BREVES PONDERAÇÕES ACERCA DO CONCEITO DE PARTE E


LITISCONSÓRCIO

A doutrina esboça muitos conceitos para uma denominação de

parte, mas é assente no sentido de que se trata de sujeito do processo, tal qual o

juiz.
2

Em suma, são partes autor e réu, sendo que o autor é aquele que

deduz uma pretensão em juízo e réu é aquele contra quem é deduzida tal

pretensão.

O conceito de parte é eminentemente processual, não se balizando

pela relação jurídica material existente entre as partes.

Athos Gusmão de Carneiro destaca as hipóteses em que é possível

adquirir a qualidade de parte : a) para a posição de autor pela propositura da

demanda; b) para a posição processual de réu pela citação válida; c) para a

posição de autor ou de réu pela sucessão, que por sua vez pode ocorrer pelo

falecimento de uma das partes ou pela sucessão entre vivos; d) pela intervenção

de terceiros no processo pendente.1

Deste modo, nos casos de intervenção de terceiros ou litisconsórcio

ulterior é adquirida a qualidade de parte, mesmo em relação às partes primitivas,

visto que a atuação dos litigantes pode se desenvolver normalmente, guardadas

as peculiaridades relativas a cada modalidade interventiva.

O litisconsórcio é formado quando há mais de uma pessoa na

condição de autor ou réu, sendo que entre si são chamados litisconsortes.

1
CARNEIRO, Athos Gusmão, Intervenção de Terceiros, 18ª ed. Editora Saraiva, 2009, p. 6
3

Se o litisconsórcio é formado entre autores, é chamado

litisconsórcio ativo e se é formado entre réus é denominado litisconsórcio

passivo. Pode ocorrer litisconsórcio misto, quando há pluralidade de autores e de

réus ao mesmo tempo.

O litisconsórcio também pode ser classificado como originário ou

ulterior.

Diz-se originário quando ocorre na propositura da ação, ou seja,

quando intentada por mais de um autor ou a ação é proposta em face de mais de

um réu.

Já o litisconsórcio ulterior ocorre no curso do processo, ou seja, em

decorrência de algum ato processual, são inseridas novas pessoas no pólo

passivo ou ativo, ou ainda, por determinação do juiz, quando houver

litisconsórcio necessário. Nestas hipóteses, o litisconsórcio ulterior ocorre

apenas nos casos descritos em lei.

Ainda quanto às determinações legais na formação do

litisconsórcio, ele pode ser necessário ou facultativo.

O litisconsórcio necessário decorre de impositivo legal, ou seja, é

obrigatório nas hipóteses legais descritas no artigo 47 do Código de Processo

Civil. A crítica que a doutrina faz em relação à redação do referido artigo é pelo

fato de que o litisconsórcio necessário foi definido como unitário, sendo que
4

contudo, nem sempre nas hipóteses de formação de litisconsórcio necessário,

haverá uniformidade na decisão constante na sentença em relação aos

litisconsortes. Todavia, o raciocínio inverso pode ser empregado, uma vez que

todo litisconsórcio unitário é sempre necessário.

É dito facultativo, o litisconsórcio que se estabelece em face da

vontade das partes, sendo que está descrito no artigo 46 do Código de Processo

Civil.

Quanto aos efeitos da sentença em relação às partes, o litisconsórcio

pode ser unitário, que ocorre quando há julgamento uniforme para os

litisconsortes ou não unitário, quando o magistrado pode decidir de forma

diversa em relação aos litisconsortes.

Como se pode constatar através da análise da redação do artigo 48

do Código de Processo Civil, os litisconsortes são considerados em relação ao

adversário, como litigantes distintos, de forma que a atuação processual de um,

não gera efeitos de natureza processual em relação ao outro. Dentro deste

contexto, vale ressaltar que se um dos litisconsortes confessar, for revel,

transigir ou reconhecer a procedência do pedido, por exemplo, o outro

litisconsorte pode continuar atuando no processo, em defesa de seus direitos, ou

seja, sua atuação é autônoma.


5

Neste ponto vale citar que o artigo 509 do Código de Processo Civil

determina que o recurso apresentado por um dos litisconsortes, aproveita aos

demais, salvo se seus interesses forem opostos.

3. INTERVENÇÃO DE TERCEIROS

A intervenção de terceiros ocorre quando alguém intervém em

processo alheio, se utilizando das figuras descritas em lei.

Em outras palavras, terceiro é todo aquele que não é parte primitiva,

mas que vem a ingressar na lide.

Os terceiros podem integrar a lide por vontade própria ou podem

ser chamados a fazê-lo.

Nos dizeres de Carlos Henrique Bezerra de Menezes: “Dá-se a

intervenção de terceiros quando uma pessoa ou ente, não sendo

originariamente, parte na causa, nela ingressa para defender seus próprios

interesses ou os de uma das partes primitivas da relação processual.”2

2
LEITE, Carlos Henrique Bezerra, Curso de Direito Processual do Trabalho, 6ª ed., Editora LTr, 2008, p. 433
6

Para Amauri Mascaro Nascimento: “Dá-se a intervenção de

terceiro quando alguém passa a integrar o processo por ter um interesse

jurídico ou moral vinculado com aquele postulado no processo

trabalhista.”3

Segundo Athos de Gusmão Carneiro: “Pela intervenção, o terceiro

torna-se parte (ou coadjuvante da parte) no processo pendente.”4

E prossegue o referido autor, quanto à questão: “Evidentemente, a

intervenção de terceiros somente deve ser aceita sob determinados

pressupostos; um deles, ocorrente em todos os casos de intervenção, é que o

terceiro deve ser juridicamente interessado no processo pendente.”5

Para Daniel Ustárroz, dois são os critérios de definição para

admissão do terceiro na relação processual: “Dois são os critérios para definir

se o terceiro ostenta legitimidade para figurar em processo alheio: a eficácia

da coisa julgada e as peculiaridades do direito material discutido. Em

verdade, ambos os critérios no fundo imiscuem-se, afinal é justamente pela

natureza do direito substancial que liga o terceiro a determinada parte que

os limites objetivos e subjetivos da coisa julgada serão definidos. Assim,

para que seja admitida a intervenção de terceiro o interessado deve

comprovar a pertinência da intervenção de terceiro, verificada a partir da

3
NASCIMENTO, Amauri Mascaro, Curso de Direito Processual do Trabalho, 23ª ed., Editora Saraiva, 2008, p.
453
4
Op. cit. p. 70
5
Op. Cit. 70
7

afirmada relação com algumas das partes originárias e da pretensão

concretamente formulada na demanda.”6

E prossegue o mencionado autor: “Quanto ao comportamento do

terceiro, pode ocorrer que este auxilie uma parte em juízo, buscando, assim,

obstruir o reconhecimento de direito alheio. Nessa hipótese, seu papel será

semelhante ao de um coadjuvante, daí falar-se em intervenção ad

coadiuvandum. O exemplo clássico é da assistência simples. De outra banda,

pode suceder que o interesse do terceiro não seja simplesmente aderir à

defesa de uma das partes, mas afastá-la do processo para alcançar direito

que lhe é próprio. Aqui, haverá intervenção ad excludentum.”7

São formas de intervenção de terceiro descritas no Código de

Processo Civil, a oposição, a nomeação à autoria, a denunciação à lide, o

chamamento ao processo e a assistência.

Muito embora a assistência esteja descrita o Capítulo V do Código

de Processo Civil, intitulado como “Do Litisconsórcio e da Assistência”, é

considerada de forma unânime pela doutrina como intervenção de terceiro.

Vicente Greco Filho esclarece que a assistência foi estrategicamente

colocada no capítulo que trata do litisconsórcio, em decorrência da atividade

processual que pode desenvolver o assistente, em especial o assistente

6
USTÁRROZ, Daniel, A Intervenção de Terceiros no Processo Civil Brasileiro, Editora Livraria do Advogado,
2004, p. 29
7
Op. cit. p. 29
8

litisconsorcial, que é equiparado ao litisconsorte, mas assevera se tratar de forma

de intervenção de terceiro.8

Cumpre ainda esclarecer que alguns doutrinadores consideram o

recurso de terceiro prejudicado com previsão no artigo 499 do Código de

Processo Civil como forma de intervenção de terceiro, contudo, a referida

matéria não será objeto do presente estudo.

No âmbito do Direito Processual do Trabalho, há também uma

forma de intervenção de terceiros denominada pela doutrina como “factum

principis”, que versa sobre a intervenção do Estado na atividade empresarial e

sua integração na lide trabalhista, com a finalidade de ressarcir o trabalhador,

quando, pelo desenvolvimento da atividade estatal tenha dado causa ao

encerramento das atividades empresariais.

Tal instituto não será objeto do trabalho, uma vez que a proposta do

presente estudo é analisar as formas de intervenção de terceiros descritas no

Código de Processo Civil e sua aplicabilidade no Processo do Trabalho.

A intervenção de terceiros no âmbito do Processo Civil descabe no

rito sumário, consoante determinação contida no artigo 280 do Código de

Processo Civil.

8
GRECO FILHO, Vicente, Direito Processual Brasileiro, 12ª ed., Editora Saraiva, v.1, p. 118
9

Em decorrência de tal fato, não é cabível a intervenção de terceiros,

no rito sumário (nas causas em que o valor não extrapole dois salários mínimos)

art. 2º , parágrafo 3º da Lei 5.584/70 e no rito sumaríssimo trabalhista descrito

no artigo 852-A e seguintes da Consolidação das Leis do Trabalho.

Para Amauri Mascaro Nascimento, o procedimento a ser seguido no

emprego das figuras de intervenção de terceiro no Processo do Trabalho é o

descrito no Código de Processo Civil, conforme destaca: “Como não há

procedimento previsto na legislação processual trabalhista para a

intervenção de terceiros, são aplicáveis as normas do Código de Processo

Civil. Em linhas gerais, o procedimento é o seguinte: 1) petição

fundamentada dirigida ao juiz; 2) intimação das partes para que se

manifestem num determinado prazo pelo juiz fixado; 3) indeferimento do

pedido de plano se o terceiro não demonstra seu interesse na causa; 4)

aplicação dos dispositivos do Código de Processo Civil compatíveis com o

processo trabalhista (arts. 56 a 80).”9

9
Op. cit. p. 462
10

3.1. Classificação

As formas de intervenção de terceiro podem ser classificadas como

espontâneas ou provocadas.

Diz – se espontânea a forma de intervenção, quando o interveniente

se insere na relação processual por vontade própria e provocada, quando uma

das partes requer a participação do terceiro na relação processual.

Humberto Theodoro Júnior classifica as formas de intervenção,

seguindo dois critérios:

1) quanto à abrangência do objeto da lide, conforme o terceiro

vise sua ampliação e modificação :

ad coadiuvandum: quando o terceiro presta assistência a uma

das partes da demanda primitiva, como na assistência;

ad excludentum: quando o terceiro visa à exclusão de uma ou

ambas as partes da relação, como na oposição e na nomeação à

autoria;

2) quanto à iniciativa da medida:

espontânea: quando a iniciativa de participar da relação

processual, parte do terceiro;


11

provocada: quando o terceiro é chamado a integrar a lide por

uma das partes do processo.10

Conforme os ensinamentos de Athos Gusmão Carneiro, as formas

de intervenção de terceiros podem ser classificadas em: 1) intervenções

mediante “inserções” na relação processual existente, citando a assistência,

nomeação à autoria, o chamamento ao processo e o recurso de terceiro não

prejudicado; 2) intervenções mediante a formação de uma nova relação jurídica

processual no mesmo processo, mediante uma nova ação “in simultaneus

processus”, como é o caso da oposição e da denunciação à lide.11

4. DA ADMISSIBILIDADE DA INTERVENÇÃO DE TERCEIROS NO


PROCESSO DO TRABALHO

Precipuamente é necessário esclarecer que aqueles que defendem a

impossibilidade da utilização das figuras de intervenção de terceiro no processo

do trabalho, fundamentam tal posicionamento na aplicação do princípio da

celeridade processual e na natureza alimentar do crédito trabalhista.

10
THEODORO JUNIOR, Humberto, Curso de Direito Processual Civil, 49ª edição, 2008, v.1, p. 120
11
Op. cit. p. 86
12

Acerca da admissibilidade da intervenção de terceiros no processo

do trabalho, Amauri Mascaro Nascimento destaca que existem duas correntes:

“A primeira é restritiva, por sustentar que da intervenção de terceiros

resultaria, no processo trabalhista, a constituição de lide paralela entre o

terceiro interveniente e a parte, em detrimento do objeto normal da ação

trabalhista, que é a solução da lide entre o trabalhador e o empregador.

Para essa corrente, a Justiça do Trabalho seria mesmo incompetente para

apreciar a referida lide paralela. A segunda é não restritiva e admite, na

plenitude, a intervenção de terceiro, por entender que é uma figura

processual legítima e não pode ser afastada do direito processual do

trabalho sem lei que expressamente o faça.”12

O renomado jurista entende que a intervenção de terceiros é

perfeitamente compatível com o processo do trabalho: “É cabível na Justiça do

Trabalho a intervenção de terceiros em face do princípio da

subsidiariedade, uma vez que, sendo o direito processual comum fonte

subsidiária do processo do trabalho (CLT, art. 769) e diante da omissão e

inexistência de incompatibilidade, segue-se que rejeitá-la implicaria

descumprir a lei. A lide denominada paralela que na verdade não o é, mas

mera questão incidental a ser resolvida pela Justiça do Trabalho, como

tantas outras com que se defronta e decide até mesmo em dissídios

coletivos, quando um sindicato ingressa no processo para afastar sindicato


12
Op. cit. p. 453
13

que dele figura da categoria. Os tribunais do trabalho vêm decidindo sem

controvérsia essas questões, em caráter incidental, embora sabidamente a

competência originária para a sua apreciação venha a ser da justiça

comum.”13

Samuel Angelini Morgero destaca, com relação à admissibilidade

da intervenção de terceiro no processo do trabalho, que após a ampliação da

competência da Justiça do Trabalho, não deve causar estranheza a ocorrência de

resolução de controvérsias decorrentes das relações de trabalho entre dois

empregadores: “ A partir da publicação da Emenda Constitucional n. 45, de

8. 12.04 (DOU 31.12.04), a Justiça do Trabalho passou a ser competente

para apreciar todas as demandas decorrentes da relação de trabalho, de

acordo com o novel art. 114, I, da Constituição Federal. Atualmente, a

competência da Justiça do Trabalho, é estabelecida, portanto, pela matéria

em litígio (relação de trabalho) e não pela qualidade das partes, pelo que

entendemos que a tese de que a Justiça do Trabalho não é competente para

apreciar demanda entre empregadores está superada.”14

13
Op. cit. p. 454
14
MORGERO, Samuel Angelini, Intervenção de Terceiros no Processo do Trabalho, 2006, p. 141
14

Para adotar um posicionamento acerca do tema, se fez necessária

uma digressão acerca da redação anterior do artigo 114 da Constituição Federal,

que preconizava:

Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho conciliar e

julgar os dissídios individuais e coletivos entre

trabalhadores e empregadores, abrangidos os entes de

direito público externo e da administração pública direta

e indireta dos Municípios, do Distrito Federal, dos

Estados e da União, e, na forma da lei, outras

controvérsias da relação de trabalho, bem como os litígios

que tenham origem no cumprimento de suas próprias

sentenças, inclusive coletivas.

Com o advento da Ementa 45/2004, o artigo 114 da Constituição

Federal passou a ter a seguinte redação:

Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e

julgar:
15

I as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os

entes de direito público externo e da administração

pública direta e indireta da União, dos Estados, do

Distrito Federal e dos Municípios;

II as ações que envolvam exercício do direito de greve;

III as ações sobre representação sindical, entre sindicatos,

entre sindicatos e trabalhadores, e entre sindicatos e

empregadores;

IV os mandados de segurança, habeas corpus e habeas

data , quando o ato questionado envolver matéria sujeita

à sua jurisdição;

V os conflitos de competência entre órgãos com jurisdição

trabalhista, ressalvado o disposto no art. 102, I, o;

VI as ações de indenização por dano moral ou

patrimonial, decorrentes da relação de trabalho;

VII as ações relativas às penalidades administrativas

impostas aos empregadores pelos órgãos de fiscalização

das relações de trabalho;


16

VIII a execução, de ofício, das contribuições sociais

previstas no art. 195, I, a , e II, e seus acréscimos legais,

decorrentes das sentenças que proferir;

IX outras controvérsias decorrentes da relação de

trabalho, na forma da lei.

Dentro deste contexto, é importante destacar a competência da

Justiça Especializada que se restringia a resolução de litígios havidos entre

empregados e empregadores decorrentes da relação de trabalho, passou a

abarcar todas as controvérsias relativas à relação de trabalho.

Note-se que a expressão anterior constante do artigo 114 da

Constituição Federal “os dissídios individuais e coletivos entre trabalhadores e

empregadores” foi suprimida, passando a figurar na redação do artigo apenas

“ações oriundas da relação do trabalho”, o que leva ao entendimento de que a

Justiça Especializada passou a ser competente para apreciar todas as

controvérsias decorrentes da relação do trabalho, não importando quem são as

partes litigantes.

Prova desta realidade é o fato de que a Justiça do Trabalho adquiriu

competência inclusive para apreciação das questões relativas à execução das

contribuições sociais, decorrentes das sentenças que proferir, o que leva ao


17

entendimento de que o próprio INSS pode participar da lide, como terceiro

interessado, em face do caráter arrecadatório.

Assim, entendemos que com a ampliação da competência da Justiça

do Trabalho, todas as modalidades de intervenção de terceiros podem ser

empregadas no Processo do Trabalho, mesmo quando a lide secundária implicar

na resolução de conflitos entre dois empregados ou duas empresas.

Mais ainda; o inciso IX do artigo 114 menciona claramente que

compete à Justiça do Trabalho dirimir outras controvérsias na forma da lei.

Este entendimento se alicerça na exegese do artigo 109 do Código

de Processo Civil:

Art. 109. O juiz da causa principal é também

competente para a reconvenção, a ação declaratória

incidente, as ações de garantia e outras que

respeitam ao terceiro interveniente.

Respeitáveis são os argumentos dos doutrinadores no sentido de

que a admissibilidade de terceiros intervenientes poderia colocar em risco a

aplicação do princípio da celeridade processual, bem como a efetividade do

processo, mas ante o disposto no artigo 114 da Constituição Federal, no nosso

entender não resta dúvida de que tal intervenção deve ser plenamente admitida.
18

Além disso, é de vital importância a atuação dos magistrados no

sentido de preservar a satisfação do crédito do empregado, nos casos desta

natureza, bem como dar efetividade ao processo, nos exatos termos do artigo

125 do Código de Processo Civil:

Art. 125. O juiz dirigirá o processo conforme as

disposições deste Código, competindo-lhe:

I - assegurar às partes igualdade de tratamento;

II - velar pela rápida solução do litígio;

III - prevenir ou reprimir qualquer ato contrário à

dignidade da Justiça;

IV - tentar, a qualquer tempo, conciliar as partes.

Assim, não há incompatibilidade em determinar a execução do

crédito de natureza alimentar com prioridade, e posteriormente, a execução do

valor relativo à ação regressiva, em caso de denunciação à lide, por exemplo.

Destarte, concluímos que com o advento da Emenda Constitucional

45/2004, a utilização das modalidades de intervenção de terceiros descritas no

Código de Processo Civil devem ser amplamente admitidas no âmbito de

atuação da Justiça do Trabalho.


19

5. ASSISTÊNCIA

A assistência é modalidade de intervenção de terceiro através da

qual aquele que tiver interesse jurídico no resultado de determinada demanda

havida entre autor e réu, pode intervir na qualidade de assistente.

Deste modo, a assistência pressupõe a existência de uma relação

jurídica com o assistido e a possibilidade dos efeitos da sentença influenciarem

esta relação, seja por via reflexa ou diretamente.

A assistência é forma de intervenção espontânea, uma vez que o

terceiro integra o pólo passivo da ação por iniciativa própria, sem ser chamado

pelas partes litigantes.

Vale citar o conceito apresentado por Samuel Angelini Morgero:

“A assistência ou intervenção adesiva é sempre intervenção espontânea, em

processo pendente, do terceiro juridicamente interessado, como tal

entendido aquele que figura em relação jurídica dependente de outra (a

controvertida) submetida a juízo.”15

Nas lições de Athos de Gusmão Carneiro, na assistência: “O

terceiro, ao intervir no processo na qualidade de assistente, não formula

pedido algum em prol de direito seu. Torna-se sujeito do processo, mas não

se torna parte. O assistente insere-se na relação processual com a finalidade

15
Op. cit. p. 74
20

ostensiva de coadjuvar a uma das partes de ajudar ao assistido, pois o

assistente tem interesse em que a sentença venha a ser favorável ao litigante

a quem assiste.”16

E quanto à existência do interesse jurídico, o referido autor

preleciona: “A existência do “jurídico interesse” na intervenção: o terceiro,

a rigor, não se torna parte do processo, pois não formula pedido algum,

nem pedido algum é formulado contra ele. É um coadjuvante do litigante a

quem assiste. Todavia, o Código de Processo Civil considera-o “auxiliar da

parte principal”, e por isso, vários autores impropriamente o designam de

parte acessória ou parte secundária, o que destoa do conceito de parte

referido anteriormente (Capítulo I).”17

A assistência teve origem no Direito Romano como forma de

combater a simulação.

No Direito Brasileiro, a assistência foi disposta nas Ordenações

Filipinas, no Regulamento 737 de 25 de novembro de 1850, bem como no

Código de Processo Civil de 1939.

A assistência pode ser classificada em simples ou adesiva e

litisconsorcial.

16
Op. cit. p. 184
17
Op. cit. p. 189
21

Na assistência simples, o assistente desempenha o papel de auxiliar

da parte litigante, atuando no processo de forma limitada, ficando adstrito aos

atos processuais praticados pelo assistido.

Deste modo, o assistente atua como coadjuvante do assistido.

Em decorrência da própria redação empregada no Código de

Processo Civil, o assistente atua na condição de mero auxiliar da parte:

Art. 52. O assistente atuará como auxiliar da parte

principal, exercerá os mesmos poderes e sujeitar-se-

á aos mesmos ônus processuais que o assistido.

Parágrafo único. Sendo revel o assistido, o

assistente será considerado seu gestor de negócios.

Deste modo, a doutrina, em posicionamento majoritário, não admite

que o assistente simples seja tido como parte.

Neste ponto vale citar os ensinamentos de Athos de Gusmão

Carneiro: “O assistente adesivo atua sempre “complementando” a atividade

processual do assistido, ou, pelo menos, nunca em antagonismo com o

posicionamento do assistido. Assim, poderá apresentar rol de testemunhas,

mas não se o assistido requereu o julgamento antecipado da lide; poderá

requerer perícia, mas não se o assistido expressamente afirmou

desnecessária a prova pericial; poderá recorrer mesmo que o assistido não


22

o faça, mas não se este expressamente renunciou ao direito de recorrer

(CPC, arts. 502 e 503).”18

Ainda importante citar os exemplos fornecidos por Carlos Henrique

Bezerra de Leite: “A assistência simples é também permitida nas ações civis

públicas (ou coletivas lato sensu), em defesa dos interesses individuais

homogêneos como prevê o art. 94 do CDC (Lei n. 8078/1990), embora esta

norma empregue, de forma atécnica, o termo “litisconsorte”. É que nas

ações civis públicas só pode haver litisconsórcio entre os legitimados

arrolados taxativamente no art. 5º da Lei n. 7.347/1985 e no art. 82 do

CDC.”19

No caso do assistente litisconsorcial, sua atuação não sofre limites e

atua como litisconsorte, não se sujeitando a atuação processual do assistido, nos

termos do artigo 54 do Código de Processo Civil, combinado com o artigo 48 do

Código de Processo Civil:

Art. 48. Salvo disposição em contrário, os

litisconsortes serão considerados, em suas relações

com a parte adversa, como litigantes distintos; os

atos e as omissões de um não prejudicarão nem

beneficiarão os outros.

18
Op. cit. p. 198
19
Op. cit. p. 435
23

Art. 54. Considera-se litisconsorte da parte

principal o assistente, toda vez que a sentença

houver de influir na relação jurídica entre ele e o

adversário do assistido.

Parágrafo único. Aplica-se ao assistente

litisconsorcial, quanto ao pedido de intervenção, sua

impugnação e julgamento do incidente, o disposto

no art. 51.

Dentro deste contexto, vale citar o entendimento de Athos Gusmão

Carneiro: “Assim, o assistente não é parte, mas o direito do assistente

litisconsorcial está na causa. Por tal motivo, pode o assistente litisconsorcial

agir no processo, e conduzir sua atividade, sem subordinar-se à orientação

tomada pelo assistido; pode contraditar a testemunha que o assistido teve

por idônea; pode requerer o julgamento antecipado da lide, embora o

assistido pretenda a produção de provas em audiência; pode impugnar a

sentença, não obstante o assistido haja renunciado à faculdade de

recorrer.”20

20
Op. cit. p. 200
24

Deste modo, o assistente litisconsorcial, além de prestar auxílio à

defesa do assistido, exercita a defesa de seu direito, uma vez que possui relação

jurídica com o adversário do assistido, possuindo todas as faculdades conferidas

às partes, haja vista que desde o início poderia atuar como litisconsorte

facultativo.

Conforme aduz, Carlos Henrique Bezerra de Leite: “Na prática, a

assistência litisconsorcial assemelha-se a uma espécie de litisconsórcio

facultativo ulterior, na medida em que o assistente litisconsorcial poderia,

desde o início do processo, ter sido litisconsorte facultativo-unitário da

parte assistida.”21

A distinção preponderante entre a assistência simples e

litisconsorcial é o fato de que na assistência simples, o assistente tem interesse

jurídico no deslinde da controvérsia indiretamente, uma vez que mantém relação

jurídica com o assistido, a qual será afetada de acordo com o resultado da

demanda por via reflexa; já na assistência litisconsorcial, o assistente intervém

no processo por deter interesse jurídico direto no resultado da demanda, por

manter relação jurídica direta com o adversário do assistido, passando a atuar

como litisconsorte do assistido, não sofrendo qualquer limitação processual em

face da atuação do assistido.

21
Op.cit. p. 435
25

Um exemplo sistematicamente mencionado pela doutrina de

assistência litisconsorcial, é o caso do herdeiro que integra o pólo passivo da

ação em que o espólio está sendo representado pelo inventariante.

Alguns doutrinadores defendem a tese de que o assistente, seja

simples ou litisconsorcial, não pode ampliar o objeto da lide.

Em posição que nos parece ser mais acertada, Vicente Greco Filho

afirma que na assistência litisconsorcial, há ampliação da lide: “Das duas

formas de assistência, distingue-se a chamada intervenção litisconsorcial,

que é uma forma de intervenção principal em que o interveniente exerce

verdadeira ação, paralela a uma das partes e contra a outra. Neste caso, não

há real intervenção de terceiro ou assistência, mas ampliação da lide, caso

em que a sentença abrangeria também, o objeto da nova ação proposta.”22

Isso porque o ingresso do assistente litisconsorcial faz prever que

surgirão questões outras que não eram objeto da demanda primitiva, até mesmo

pelo fato de que caso o assistente desista, transija ou reconheça o pedido, pode o

assistente litisconsorcial prosseguir na defesa de seus direitos.

22
Op. cit. p. 129
26

No que tange aos poderes e ônus do assistente, é necessário destacar

que poderá promover diligências e perícias, requerer a produção de provas,

peticionar e participar amplamente de toda a instrução.

Caso o demandado seja revel, o assistente figurará como gestor de

negócios, conforme dispõe o parágrafo único do artigo 52 do Código de

Processo Civil.

Como o assistente simples figura como auxiliar da parte, não pode

se opor ao fato de que parte transija, reconheça a procedência do pedido ou

desista da ação, sendo que somente poderá recorrer, se o assistido assim

proceder, consoante se pode defluir da análise do artigo 53 do Código de

Processo Civil.

Já no caso do assistente litisconsorcial, assumida tal posição, lhe é

facultado que prossiga na defesa de seus direitos até a final decisão, uma vez

considerado que é titular da relação jurídica material com o adversário do

assistido, praticando todos os atos processuais que são facultados à parte,

consoante se pode concluir da análise do artigo 54 do Código de Processo Civil.


27

Neste ponto inteiramente cabível mencionar o entendimento de

Samuel Angelini Morgero, acerca da possibilidade de oposição do assistente

litisconsorcial em face da desistência, transação das partes ou reconhecimento

do direito discutido: “Nesse particular entendemos que assistente

litisconsorcial poderá se opor em termos, desde que demonstre que a

desistência do assistido, o reconhecimento da procedência do pedido, a

transação e o acordo possam influenciar na sua relação jurídica com o

adversário do assistido;”23

A assistência pode ser empregada em todos os procedimentos, até o

trânsito em julgado da decisão, como se pode entrever da análise do parágrafo

único do artigo 50 do Código de Processo Civil.

5.1. Procedimento

A assistência será requerida por petição do terceiro interessado,

acerca da qual as partes deverão se manifestar.

23
Op. cit. p. 80
28

Caso as partes não se manifestem, cabe ao juiz admitir a assistência,

sem maiores oposições, até mesmo por conta do princípio da imparcialidade do

juiz e visando dar margem ao exercício do contraditório e ampla defesa.

Na hipótese das partes apresentarem impugnação, esta somente

poderá versar sobre a ausência de interesse jurídico do assistente, sendo que até

ulterior decisão do magistrado, o processo seguirá seu curso.

Ainda; caso haja impugnação esta deverá ser desentranhada dos

autos juntamente como pedido de assistência e deverá ser apensada aos autos

principais, podendo ocorrer dilação probatória, assinalando o juiz prazo para as

partes, para posterior julgamento, conforme se pode constatar por análise do

artigo 51 do Código de Processo Civil.

A decisão que admite a assistência é decisão interlocutória, não

recorrível de pronto no âmbito do processo do trabalho.

Transpassados estes procedimentos para a dinâmica do processo do

trabalho, importante citar a posição de Samuel Angelini Morgero, que

preleciona: “De acordo com os princípios da concentração e da oralidade,

que são a tônica do processo do trabalho, caso o pedido seja apresentado em

audiência, o juiz poderá – de preferência deverá- determinar que as partes


29

se manifestem na própria audiência, acolhendo ou rejeitando o pedido, sem

prejuízo do instante processual.”24

Ainda o renomado jurista destaca que: “De acordo com as

características do processo do trabalho, entendemos que o juiz só deverá

determinar a autuação em separado do pedido (art. 51, I, do CPC) caso a

questão não possa ser resolvida em audiência.”25

A assistência pode ser empregada no processo de conhecimento, no

processo cautelar e na execução, tão somente nos embargos à execução, a qual

se trata da fase de conhecimento no referido rito.

5.2. Admissibilidade no Processo do Trabalho

A assistência é admitida no Processo do Trabalho, conforme se

deflui da análise da Súmula 82 do Colendo Tribunal Superior do Trabalho:

24
Op. cit. p. 86
25
Op. cit. p. 86
30

Súmula Nº 82 ASSISTÊNCIA

A intervenção assistencial, simples ou adesiva, só é

admissível se demonstrado o interesse jurídico e não

o meramente econômico.

Assim, não há controvérsia quanto à aplicação da assistência nos

dissídios individuais.

Cláudio Armando Couce de Menezes cita exemplo da assistência

simples mencionado por Christovão Piragibe Tostes Malta: “Segundo

Christovão Piragibe Tostes Malta, seria cabível hipótese em que uma

empresa é vendida, comprometendo-se o sucedido a responder pelos débitos

trabalhistas anteriores à sucessão. Assim, ajuizada a reclamatória contra o

sucessor, relativamente à dívida anterior à sucessão, o sucedido poderia

requerer sua admissão na qualidade de assistente do sucessor. Com a

assistência, estar-se-ia evitando as figuras do chamamento ao processo ou

da denunciação à lide de discutível cabimento no processo laboral. Desta

forma, essa pessoa viria como assistente, porque tem interesse não só

econômico, mas também jurídico de intervir nesta relação processual.”26

O referido autor cita como exemplos de assistência litisconsorcial, a

substituição processual do sindicato e sucessão em que se dá o direito material.27

26
MENEZES, Cláudio Armando Couce de, Direito Processual do Trabalho, Editora LTr, 1996, p. 28
27
Op. cit. p. 30
31

Samuel Angelini Morgero, ao tratar da questão da assistência no

caso de sucessão, destaca: “De acordo com o critério preconizado por

Manoel Antonio Teixeira Filho, a assistência prestada pelo sucedido ao

sucessor é simples, tendo em vista que o assistente (sucedido) não tem

relação jurídica com o adversário do assistido que possa a vir a ser

influenciada pela sentença.”28

E conclui: “O interesse que justifica a intervenção do sucedido

em processo alheio se consubstancia na possibilidade, em tese de vir a

responder pelas dívidas da empresa. Se o contrato de compra e venda

contiver cláusula expressa excluindo a responsabilidade do sucedido, a

assistência deverá ser indeferida, por ausência de interesse.”29

Entendemos que o sucedido é assistente litisconsorcial, visto que se

poderia vislumbrar a existência de uma relação jurídica entre o sucedido e o

adversário do sucessor, tendo em vista a possibilidade de vir a arcar de forma

solidária com as obrigações trabalhistas decorrentes da relação de trabalho, em

razão da aplicação dos artigos 10 e 448 da Consolidação das Leis do Trabalho,

“in verbis”:

Art. 10 - Qualquer alteração na estrutura jurídica

da empresa não afetará os direitos adquiridos por

seus empregados.
28
Op. cit. p. 82
29
Op. cit. p. 83
32

Art. 448 - A mudança na propriedade ou na

estrutura jurídica da empresa não afetará os

contratos de trabalho dos respectivos empregados.

Diante da aplicação dos dispositivos citados, é forçoso concluir que

ainda que haja pactuação contratual acerca da venda da empresa entre sucessor e

sucedido, tal avença, não afasta a aplicação da lei, sendo cediço que o sucedido

deverá adimplir as obrigações derivadas dos contratos de trabalho relativos à

época de sua atuação, caso o sucessor não o faça. O contrato não se sobrepõe à

lei, daí porque entendemos que o sucedido pode atuar como assistente

litisconsorcial, visto que tem interesse jurídico e relação direta como o

adversário do sucedido.

Outro exemplo sistematicamente citado na doutrina, é assistência

do sindicato em ação promovida pelo empregado. Justifica-se ainda o interesse

jurídico do sindicato em proteger o interesse do empregado e dos demais

empregados, que eventualmente possam ser beneficiados pelo deslinde da

controvérsia.

Analisando a questão apenas sob a ótica da defesa do interesse do

empregado individualmente, se poderia concluir que o sindicato participa do

processo na qualidade de assistente simples.


33

De outra parte, na hipótese da ação remeter a um interesse de todos

os demais membros da categoria, se poderia afirmar que o sindicato atuaria na

qualidade de assistente litisconsorcial, haja vista que estaria atuando como

substituto processual. Dentro deste contexto, ainda que ocorresse a transação, o

sindicato poderia prosseguir na demanda até o final, atuando no interesse dos

demais representados.

Também pode ser mencionado ainda como exemplo de assistência

simples, o credor da massa falida que gozando da faculdade descrita no artigo

30, inciso I do Decreto-lei n. 7.661, de 21.6.45, se apresenta ao Juízo Trabalhista

na qualidade de assistente para auxiliar a defesa do síndico, conforme

mencionado por Samuel Angelini Morgero, citando Isis de Almeida. 30

O mesmo autor declina exemplo de José Janguiê Bezerra Diniz, no

qual afirma que é exemplo de assistência litisconsorcial, quando uma das

empresas de grupo econômico integra o pólo passivo da demanda, em

decorrência da solidariedade descrita no artigo 2º, parágrafo 2º da Consolidação

das Leis do Trabalho.31

Parece-nos defensável a idéia que empresa pertencente a grupo

econômico que pretendesse integrar à lide outra empresa do mesmo grupo

econômico deveria se valer do chamamento ao processo, que a figura que trata

da integração à lide dos “devedores solidários”.


30
Op. cit. p. 83
31
Op. cit. p. 84
34

Há ainda o exemplo da assistência do subempreiteiro, quando este

é o empregador, e o empreiteiro é demandado, sendo bem útil a assistência do

subempreiteiro, que é quem tem de fato as informações necessárias a elaboração

da defesa.

Isso porque o empreiteiro tem direito de regresso contra o

subempreiteiro, em consonância com o artigo 455 da Consolidação das Leis do

Trabalho:

Art. 455 - Nos contratos de subempreitada

responderá o subempreiteiro pelas obrigações

derivadas do contrato de trabalho que celebrar,

cabendo, todavia, aos empregados, o direito de

reclamação contra o empreiteiro principal pelo

inadimplemento daquelas obrigações por parte do

primeiro.

Parágrafo único - Ao empreiteiro principal fica

ressalvada, nos termos da lei civil, ação regressiva

contra o subempreiteiro e a retenção de

importâncias a este devidas, para a garantia das

obrigações previstas neste artigo.


35

Como se pode constatar, a assistência é amplamente aceita no

processo do trabalho, existindo inúmeros exemplos de sua aplicação.

5.3. Efeitos na Sentença

No que concerne aos efeitos da sentença, há polêmica doutrinária

acerca dos efeitos da coisa julgada quanto ao assistente simples e litisconsorcial.

Entendemos ser claro que o assistente litisconsorcial se sujeita aos

efeitos da coisa julgada, justamente pelo fato de que teve amplas possibilidades

da atuar como parte.

Já no caso do assistente simples, por atuar no processo de forma

limitada, desempenhando um papel de mero auxiliar do assistido e ainda por não

possuir uma relação jurídica direta com o adversário do assistido, não se sujeita

aos efeitos da coisa julgada, ainda que tais efeitos lhe afetem por via reflexa.

Contudo, em decorrência do exercício da assistência pelo assistente

simples, este não poderá discutir em processo posterior, a justiça da decisão,

salvo se demonstrar que pelo estado em que se encontrava o processo ou pelos

atos processuais do assistido, teve sua atuação prejudicada.


36

Neste ponto imperioso citar o disposto no artigo 55 do Código de

Processo Civil, que refere a exceptio male gestis processus:

Art. 55. Transitada em julgado a sentença, na causa

em que interveio o assistente, este não poderá, em

processo posterior, discutir a justiça da decisão,

salvo se alegar e provar que:

I - pelo estado em que recebera o processo, ou pelas

declarações e atos do assistido, fora impedido de

produzir provas suscetíveis de influir na sentença;

II - desconhecia a existência de alegações ou de

provas, de que o assistido, por dolo ou culpa, não se

valeu.

Assim, o assistente litisconsorcial se sujeita aos efeitos da coisa

julgada, ao passo que o assistente simples não se sujeita aos mesmos efeitos, não

podendo, contudo, discutir a justiça da decisão, salvo nas exceções descritas no

referido artigo.
37

6. OPOSIÇÃO

Oposição é a modalidade de intervenção de terceiro consistente na

propositura de ação por terceiro, com a finalidade de obter para si, o objeto da

controvérsia existente entre as partes.

Através da oposição, o terceiro denominado oponente pretende ser

declarado titular do direito discutido entre as partes, razão pela qual é dito que a

sentença proferida em sede de oposição, é declaratória em face do autor e

condenatória em face do réu da demanda primitiva.

A oposição é uma faculdade de terceiro, se tratando de ação

autônoma proposta em face do autor e do réu.

Dentro deste contexto, não há que se cogitar de qualquer prejuízo

de ordem processual, caso seja proposta uma ação autônoma posteriormente,

após a tramitação da ação principal.

A natureza jurídica de ação da oposição está descrita no artigo 57

do Código de Processo Civil:


38

Art. 57. O opoente deduzirá o seu pedido,

observando os requisitos exigidos para a

propositura da ação (arts. 282 e 283). Distribuída a

oposição por dependência, serão os opostos citados,

na pessoa dos seus respectivos advogados, para

contestar o pedido no prazo comum de 15 (quinze)

dias.

Interessante a colocação de Daniel Ustárroz acerca da oposição: “O

oponente somente pode ser tido como terceiro, enquanto ausente da relação

processual. Ao apresentar sua petição, transforma-se em parte,

inaugurando nova demanda.”32

A oposição teve origem no direito germânico.

Nas Ordenações Filipinas houve previsão para o emprego do

instituto, bem como no Regulamento 737 de 25 de novembro de 1850 e no

Código de Processo Civil de 1939.

A oposição pode ser classificada como interventiva ou autônoma.

32
Op. cit. p. 62
39

É interventiva a oposição proposta antes de iniciada a audiência de

instrução e julgamento; é autônoma, a oposição ofertada após a audiência de

instrução e julgamento.

No que concerne a distinção entre a oposição e embargos de

terceiro, Daniel Ustárroz destaca: “ Distingue-se a oposição dos embargos de

terceiro, pois nestes o embargante alega seu direito de dono ou possuidor

sobre a coisa (jamais um direito pessoal) e simplesmente postula

provimento jurisdicional que afaste a constrição judicial lançada sobre ela.

Não visa à exclusão do direito sobre o qual controvertem autor e réu, mas

apenas para livrar o bem de posse ou propriedade de terceiro, da constrição

judicial que lhe foi imposta.

A oposição visa a uma sentença que se pronunciará principaliter

sobre o direito real ou pessoal afirmado pelo autor inicial e pelo oponente e,

como é natural, receberá a autoridade da coisa julgada, dada que proferida

após a participação de todos em contraditório.”33

Humberto Theodoro Junior elucida de forma clara a distinção entre

a oposição e os embargos de terceiro: “Sua admissibilidade, todavia, está

subordinada à existência de uma disputa de outrem sobre a coisa ou direito

que o oponente pretende seu. Assim, se a pretensão do terceiro for apenas

de defender passivamente sua posse sobre bens apreendidos judicialmente,

33
Op. cit. p. 71
40

sem discussão sobre o mérito do direito ou da posse, na ação principal

(como nas penhoras, arrestos etc.), a medida do direito ou da posse, na ação

principal (como nas penhoras, arrestos, etc.), a medida adequada será a

ação de embargos de terceiros (art. 1046) e não a de oposição.”34

Para Claudio Armando Couce de Menezes, a oposição é figura

distinta dos embargos de terceiro: “Não se confundem, porque a ação de

embargos de terceiro se concretiza, em regra, na execução, além do fato de

já existir um gravame, enquanto que na oposição se tenta justamente evitar

a possibilidade de futuros prejuízos.

A oposição não é cabível na execução, porque nesta já se tem

um título judicial definido: quem é credor e quem é devedor. Ademais, o

próprio art. 56 do CPC determina que a oposição só pode ser oferecida até

ser proferida a sentença (juízo de primeiro grau). Ora, na execução a

sentença já foi proferida. Logo não é cabível a oposição.”35

Já Carlos Henrique Bezerra de Leite, no que concerne a oposição e

embargos de terceiro aduz: “Há relação entre oposição e embargos de

terceiro? Parece-nos que sim. Oposição e embargos de terceiro são

processos incidentes, instaurados por meio de ação (com petição inicial, por

força do art. 57 e 1.050 do CPC), que fará nascer uma nova relação jurídica

34
Op. cit. p. 122
35
Op. cit. p. 33
41

processual. Tanto é assim, que haverá citação, contraditório, instrução,

sentença, recursos, etc.

A única ressalva, no processo do trabalho, a rigor, fica por

conta do formalismo: nos embargos de terceiro há formação de novos

autos; na oposição, as duas relações processuais correm nos mesmos autos.

Os embargos de terceiro cabem em qualquer processo (CPC, art. 1048); a

oposição não cabe no processo de execução, pois de acordo com o art. 56 do

CPC, ela só tem lugar antes de proferida a sentença.”36

Entendemos que a oposição é figura distinta dos embargos de

terceiro, uma vez que na oposição, o oponente pretende para si o direito

discutido na demanda principal; nos embargos de terceiro, o autor pretende tão

somente se opor a constrição judicial de seus bens, não pretendendo discutir o

objeto da demanda principal; ainda, a oposição só tem lugar no processo de

conhecimento, ao passo que os embargos de terceiro são opostos na fase de

execução.

36
Op. cit. p. 438
42

6.1 Procedimento

Consoante se pode defluir por análise dos artigos que tratam da

oposição elencados no Código de Processo Civil, a referida modalidade de

intervenção de terceiros é uma verdadeira ação, razão pela qual se sujeita aos

requisitos descritos no artigo 282 do Código de Processo Civil, sendo que o

oponente é autor e a ação deverá ser distribuída por dependência, em

conformidade com o artigo 109 do Código de Processo Civil.

A oposição somente pode ocorrer até a prolação da sentença.

Vale notar que na ação de oposição, o autor e réu da ação principal

assumem posição de litisconsortes, sendo que ainda que um deles reconheça a

procedência do pedido descrito na ação de oposição, o processo prosseguirá em

face do outro litisconsorte, em consonância com o artigo 58 do Código de

Processo Civil.

Por se tratar de ação autônoma, a oposição será autuada em

apartado, em consonância com o disposto nos artigos 59 e 60 do Código de

Processo Civil.
43

No que pertine a questão da competência, importante destacar que

será competente o juiz perante o qual tramita a causa principal, nos termos do

artigo 109 do Código de Processo Civil, o que não obsta à parte exercer sua

defesa, mediante a argüição de suspeição, litispendência, incompetência

absoluta e coisa julgada, como informa Humberto Theodoro Junior, citando

Celso Barbi.37

Destaque-se ainda, que segundo o regramento descrito no Código

de Processo Civil, os opostos têm o prazo de 15 dias para contestar, sendo que

após a audiência preliminar , o juiz fará a instrução conjunta da ação principal e

da ação de oposição.

Caso um dos opostos admita a procedência do pedido, a ação

prosseguirá em face do outro litisconsorte, conforme disposição do artigo 58 do

Código de Processo Civil.

Acerca do tema, importante deixar consignados os ensinamentos de

Athos de Gusmão Carneiro, que menciona que caso a oposição seja ofertada

após a audiência na ação principal, não mais se apresentará como forma de

intervenção de terceiro, sendo que embora seja distribuída por dependência, será

processo autônomo, consoante os ditames dos artigos 60 e 103, ambos do

Código de Processo Civil.38

37
Op. cit. p. 123
38
Op. cit. 92
44

Destaque-se que o juiz, com vistas a julgar ambas as ações em

mesma oportunidade, poderá sobrestar o feito da ação principal pelo prazo

máximo de 90 dias.

Somente é a viável a oposição no processo de conhecimento e nos

especiais em que seja admitido o rito ordinário, ficando afastada a possibilidade

de propositura de ação de oposição em sede de execução.

Entendemos que não cabe oposição quando a demanda segue o rito

sumário e no rito sumaríssimo, por analogia a legislação aplicável aos Juizados

Especiais (art. 10 da Lei 9.099/95).

Caso haja desistência da ação principal, a oposição deverá

prosseguir, haja vista se tratar de uma ação autônoma.

Com relação ao procedimento no âmbito da Justiça Especializada,

destaca Samuel Angelini Morgero, que o emprego da oposição deve atender os

princípios norteadores do Direito do Trabalho: “Assim, sendo, caso a oposição

seja apresentada antes da audiência, o juiz dará ciência às partes da

oposição, citando-as na pessoa de seus advogados (art. 57, caput, do CPC), e

notificando também o oponente para comparecer à audiência. O prazo para

contestar a oposição será de 20 minutos e correrá em audiência, de acordo

com a regra do processo do trabalho (art. 847 da CLT). Após a audiência

prosseguirá normalmente, com a produção de provas requeridas pelas

partes, inclusive pelo oponente, e o julgamento do processo (ação originária


45

e oposição em conjunto), sem qualquer prejuízo à celeridade e à economia

processuais.”39

6.2. Admissibilidade no Processo do Trabalho

A admissibilidade da oposição no processo do trabalho é bastante

controvertida na doutrina.

Segundo Samuel Angelini Morgero, são partidários do cabimento

da oposição : Christovão Piragibe Tostes Malta, Amauri Mascaro Nascimento,

Wagner D. Giglio e Eduardo Gabriel Saad; destaca que Ives Gandra da Silva

Martins Filho, sustenta que se trata de uma hipótese teórica; que são contrários

Isis de Almeida, Wilson de Souza Campos Batalha, Amador Paes de Almeida e

Sérgio Pinto Martins.40

O Ilustre Jurista acerca da questão destaca: “O mais forte

argumento daqueles que sustentam o não-cabimento da oposição no

processo do trabalho é a incompetência em razão da matéria da Justiça do

Trabalho para apreciar pedido de empregado contra empregado.

39
Op. cit. p. 96
40
Op. cit. p. 89
46

Essa tese decorre do fato de que a oposição, como visto, é uma

ação autônoma que tem como rés as partes do processo originário, ou seja o

empregado, autor da ação originária, passa a ser réu na oposição,

juntamente com o empregador, réu da ação originária.”41

Carlos Henrique Bezerra de Leite esclarece em crítica ao

entendimento de Manoel Antonio Teixeira Filho, que a oposição não encontra

lugar na Justiça Especializada: “Não obstante a autoridade e o respeito que

nutrimos pelo referido jurista, parece-nos que não há razão para admitir a

oposição no processo do trabalho, pois as regras constitucionais de

competência da Justiça Especializada do Trabalho continuam sendo,

mesmo com o advento da EC n. 45/2004, em razão da matéria e das pessoas,

uma vez que lhe compete processar e julgar as ações oriundas:

a) da relação de emprego, o que pressupõe dois

sujeitos em posições antagônicas entre si, isto é empregado e

empregador;

b) da relação de trabalho, ou seja, entre trabalhador e

tomador do seu serviço.

41
Op. cit. p. 90
47

Logo, não há previsão constitucional ou infraconstitucional

para a Justiça do Trabalho processar e julgar ações entre dois tomadores

de serviço ou entre dois trabalhadores ou relação de emprego entre eles.”42

A inaplicabilidade da oposição na Justiça do Trabalho também é

posição defendida por Cláudio Armando Couce Menezes : “A oposição faz

surgir duas demandas: a primeira, em que a Justiça do Trabalho seria

competente para apreciar; e a segunda, em que a Justiça do Trabalho já

não o seria, pois que consistiria em litígio entre dois empregados, duas

pessoas físicas prestadoras de serviços. Assim, existiria incompetência em

razão da matéria (ou da pessoa ?) quanto a uma das pretensões

manifestadas.”43

Importante deixar consignado o entendimento de Gustavo Filipe

Barbosa Garcia, que entende ser inaplicável a oposição no processo do trabalho:

“É certo que, com a nova redação do art. 114, I, da Constituição da

República, compete à Justiça do Trabalho processar e julgar as “ações

oriundas da relação de trabalho”, evidenciando tratar-se de competência

em razão da matéria.

A relação de trabalho é uma modalidade de relação jurídica,

tendo por objeto, justamente o trabalho. Trata-se de gênero, que tem como

uma de suas espécies a relação de emprego. Seu objeto imediato (objeto da


42
Op. cit. p. 439
43
Op. cit. p. 35
48

prestação ou bem jurídico) é o próprio trabalho. Seus sujeitos são: a pessoa

que trabalha e aquele em favor de quem se trabalha.

Assim, fica evidente que a relação jurídica entre dois

trabalhadores, ou entre duas empresas, não configura relação de trabalho,

estando fora do alcance do art. 114 da Constituição Federal, mesmo na

redação em vigor.”44

E conclui o renomado autor:

“Portanto, mesmo em ação ajuizada por empregado, pleiteando

certo direito em face do empregador, por exemplo, prêmio por ter sido o

melhor vendedor ou por ter criado uma invenção, caso outro trabalhador

alegue ser o titular desse direito pretendido, a oposição não se mostra

aplicável.”45

Vale esclarecer que alguns doutrinadores admitem a aplicação do

instituto, destacando que caso haja desistência ou reconhecimento do pedido por

uma delas, a competência para apreciação da ação passaria a ser da Justiça

comum.

44
GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa, Intervenção de terceiros, litisconsórcio e integração à lide no processo do
trabalho, Editora Método, 2008, p. 40
45
Op. cit. p. 41
49

Contudo, não nos parece a melhor saída, vista que aplicação parcial

do instituto desvirtuaria sua natureza, bem como poderia gerar inúmeros

conflitos de jurisdição, o que não atende às determinações legais, tampouco dá

margem à efetividade do processo.

Alguns exemplos são citados pelos doutrinadores que são

partidários do cabimento da oposição no âmbito da Justiça Especializada.

Amauri Mascaro Nascimento cita alguns exemplos da aplicação da

oposição ao processo do trabalho: “Se empregado e empregador discutem

direitos sobre invenção de empregado no curso do contrato de trabalho,

terceiro que se julga com direitos sobre a invenção pode ingressar no

processo. Há oposição nos dissídios coletivos. O sindicato que tem

representatividade da categoria ingressa no processo em que é suscitante

outro sindicato, para excluí-lo da relação processual, pendente impugnação

apresentada ao Ministério do Trabalho ou ação na justiça comum.”46

Ainda vale mencionar exemplo de empregado que é demandado

pela empresa para devolução de mostruário, sendo que outro empregado que se

diz titular do direito, oferta a oposição.

46
Op. cit. p. 457
50

Importante deixar consignada a posição de Wagner Giglio citada

por Samuel Angelini Morgero: “A objeção baseada na incompetência prova

demais, salvo melhor juízo; pelo mesmo fundamento não seria possível

discutir, na Justiça do Trabalho, a caracterização da sucessão de empresas

(rectius: de empregadores), da responsabilidade do empreiteiro principal,

da existência de grupo de empresas, da responsabilidade por factum

principis do ente de direito público interno etc.; porque tais hipóteses

implicariam em dirimir controvérsias entre empregado e empregador, ou

entre empregado e Estado, que escapariam da competência da Justiça do

Trabalho, fixada pelo art. 114 da Constituição Federal.”47

O Ilustre Magistrado destaca que a oposição é admissível no

Processo do Trabalho: “Entendemos que não existe incompetência da Justiça

do Trabalho, tendo em vista que a oposição não deixa de ser uma ação que

poderia ser proposta como ação autônoma. Nesse caso, a segunda ação seria

conexa à ação original, eis que o pedido é o mesmo (idêntico objeto).”48

Com relação ao argumento de que não caberia oposição no processo

do trabalho pelo fato de que poderia resultar no conflito entre dois empregados,

assevera o citado autor: “Entendemos que essa objeção conflita com o texto

do art. 58 do CPC, que dispõe que “se um dos opostos reconhecer a

47
Op. cit. p. 91
48
Op. cit. p. 92
51

procedência do pedido, contra o outro prosseguirá o oponente”, ou seja, a

própria lei admite o prosseguimento da oposição mesmo sem que haja

controvérsia entre os opostos. Da mesma forma, o art. 57, parágrafo único,

do CPC, prevê o prosseguimento da oposição mesmo que o réu da ação

originária seja revel.”49

Entendemos que a oposição é perfeitamente cabível no processo do

trabalho, primeiro porque em decorrência do advento da Emenda 45/2004,

houve ampliação da competência da Justiça Especializada, passando a abarcar

todas as demandas decorrentes da relação de trabalho, o que conseqüentemente

faz emergir a conclusão de que há viabilidade de julgamento de conflitos entre

dois empregadores e entre duas pessoas jurídicas; segundo, por conta da regras

relativas à competência e ainda, pelos inúmeros argumentos doutrinários de que

acaso não se admitisse o cabimento da oposição, também não seria possível se

admitir a apreciação de outras questões incidentais, como responsabilidade

subsidiária por exemplo.

49
Op. cit. p. 93
52

6.3. Efeitos na Sentença

Acerca dos efeitos da sentença, importante citar os dizeres de Athos

Gusmão Carneiro: “Sabemos que a sentença a ser proferida na ação entre A

e B somente fará coisa julgada entre as partes (CPC, 472); portanto, não

prejudicará os eventuais direitos de terceiro. Este pode, em princípio,

aguardar a prolação da sentença, e resguardar-se para agir mais tarde em

defesa de seus interesses. Todavia de fato (por um motivo econômico,

digamos), pode convir ao terceiro uma imediata afirmativa de suas

pretensões sobre a coisa ou direito controvertidos entre autor e réu; e

também pode ser-lhe conveniente, de jure, agir sem mais delongas, para

interromper, por exemplo, o prazo de prescrição de seu alegado direito

(CPC, art. 219, caput). Ao terceiro, então, é facultada (intervenção

espontânea) a propositura da ação de oposição (também denominada

“intervenção principal), que, é como já exposto, uma das formas de

intervenção de terceiro no processo pendente.”50

Ao proferir a sentença, o juiz apreciará em primeiro lugar a

oposição para posteriormente tratar da ação principal.

O julgamento da oposição deverá ocorrer antes do julgamento da

demanda principal, em decorrência da relação de prejudicialidade que existe


50
Op. cit. p. 89
53

entre tais demandas, ou seja, julgada procedente a oposição, o juiz estará

afastando as pretensões de autor e réu na demanda principal. Já no caso de

improcedência da oposição, o magistrado deverá decidir a questão relativa a

demanda principal, em face do autor e réu.

Sendo julgada procedente a ação de oposição, necessariamente se

terá a improcedência da ação principal, uma vez que é conclusão óbvia que se o

direito pertence ao oponente, não poderá pertencer aos litigantes da ação

principal.

Evidentemente a sentença proferida em sede de oposição faz coisa

julgada entre as partes na ação autônoma e em relação às partes primitivas na

demanda principal.

7. NOMEAÇÃO À AUTORIA

A figura da nomeação à autoria é empregada quando há necessidade

de se corrigir o pólo passivo da ação, na hipótese do autor acionar por equívoco,

o mero detentor, no lugar do possuidor ou proprietário.


54

O conceito de detentor está descrito no artigo 1198 do Código Civil,

que transcrevemos:

Art. 1.198. Considera-se detentor aquele que, achando-se

em relação de dependência para com outro, conserva a

posse em nome deste e em cumprimento de ordens ou

instruções suas.

Parágrafo único. Aquele que começou a comportar-se do

modo como prescreve este artigo, em relação ao bem e à

outra pessoa, presume-se detentor, até que prove o

contrário.

Nos dizeres de Athos Gusmão de Carneiro: “A nomeação à

autoria (laudatio actoris ou nominatio auctoris) objetiva a substituição do

réu parte ilegítima para a causa por um réu parte legítima para a causa.

Em última análise, visa corrigir a legitimação passiva.”51

51
Op. cit. p. 97
55

Interessante destacar a crítica que Vicente Greco Filho faz ao

instituto da nomeação à autoria: “A crítica que pode ser feita ao instituto da

nomeação à autoria é a de que, apesar de sua existência, não resolve ele o

problema da legitimidade passiva da ação, pois, mesmo no caso de

nomeação aceita, continua o autor podendo correr o risco de vir a ser

julgado carecedor da ação porque está propondo a ação contra a parte

ilegítima, isto é, contra a pessoa errada. Contudo, essa circunstância é

inevitável, pois não se poderia exigir que o juiz, numa fase em que não

tenha cognição plena, devida, desde logo, em caráter definitivo, sobre a

legitimidade da ação que envolve, muitas vezes, aspectos bastante

complexos que exigem dilação probatória.”52

Cabe a nomeação à autoria nos casos em que o autor, por um lapso,

propôs ação em face do mero detentor da coisa litigiosa, competindo ao

demandado nomear a autoria o verdadeiro proprietário, em nome de quem ele

detém a coisa ou ainda, nas ações indenizatórias, quando o demandado afirmar

que cometeu determinada conduta que culminou na ocorrência do alegado dano,

por ordem de outrem ou em decorrência de determinações alheias, em

consonância com os artigos 62 e 63 do Código de Processo Civil:

52
Op. cit. p. 137
56

Art. 62. Aquele que detiver a coisa em nome alheio,

sendo-lhe demandada em nome próprio, deverá

nomear à autoria o proprietário ou o possuidor.

Art. 63. Aplica-se também o disposto no artigo

antecedente à ação de indenização, intentada pelo

proprietário ou pelo titular de um direito sobre a

coisa, toda vez que o responsável pelos prejuízos

alegar que praticou o ato por ordem, ou em

cumprimento de instruções de terceiro.

Conforme os ensinamentos de Humberto Theodoro Junior: “Não

cabe a nomeação à autoria se o detentor passou a exorbitar de sua situação

e exercer atos de posse em nome próprio; nem quando o preposto agiu com

excesso de gestão e praticou ato culposo, casos em que corre

responsabilidade solidária do agente.”53

A nomeação à autoria teve sua origem no Direito Romano.

No ordenamento brasileiro, houve previsão da figura da nomeação à

autoria nas Ordenações Filipinas, na Consolidação de Ribas e no Código de

Processo Civil de 1939.

53
Op. cit. p. 126
57

7.1. Procedimento

Para que a nomeação à autoria tenha lugar, é necessário que tanto

autor como nomeado concordem com a indicação apresentada pelo nomeante.

No prazo da defesa, o nomeante deverá indicar o nomeado e

esboçar os motivos pelos quais apresenta a nomeação à autoria, sendo que tem a

faculdade de apresentar defesa, após a resposta do autor e do réu, de acordo com

a previsão legal.

Todavia, é possível a apresentação de defesa em conjunto com a

nomeação à autoria.

Após a apresentação da nomeação à autoria, em conformidade com

o artigo 64 do Código de Processo Civil, o juiz deverá suspender o processo e

assinalará prazo de cinco dias para que o autor se manifeste.

Em resposta à nomeação à autoria, o autor tem três possibilidades:

1) poderá aceitar a nomeação à autoria; 2) poderá abster-se de se manifestar, o

que faz presumir a aceitação; 3) poderá recusar a nomeação à autoria, hipótese

na qual a ação prosseguirá em face do nomeante, sendo que neste caso o autor

assume o risco de litigar contra quem não tem legitimidade passiva “ad

causam”.
58

Caso haja aceitação por parte do autor, ainda que tácita, lhe

incumbe promover a citação do nomeado.

O nomeado também não está obrigado a aceitar a nomeação, sendo

que a recusa deve ser expressa, uma vez que a falta de manifestação implica em

aceitação tácita.

O autor pode discordar da nomeação a autoria, hipótese em que a

ação prosseguirá contra o nomeante, sendo importante destacar que neste

aspecto, o autor estará assumindo o risco de litigar contra quem não tem

legitimidade passiva ad causam, o que poderá lhe redundar em severos prejuízos

e ter por conseqüência a extinção do processo sem julgamento do mérito.

Na hipótese de concordância do nomeado, ocorrerá a extromissão

do nomeante, ou melhor, este deixará de figurar no pólo passivo da ação, sendo

que a ação prosseguirá em face do nomeado, que se tornará réu.

Caso o nomeado não aceite a condição que lhe é imputada, a ação

prosseguirá contra o nomeante.

Neste ponto é inteiramente cabível destacar que em casos desta

natureza, se o nomeado maliciosamente negar sua condição com a finalidade

única de evitar tal ônus processual, deverá arcar com perdas e danos, conforme

preconiza o artigo 69 do Código de Processo Civil, abaixo transcrito:


59

Art. 69. Responderá por perdas e danos aquele a

quem incumbia a nomeação:

I - deixando de nomear à autoria, quando Ihe

competir;

II - nomeando pessoa diversa daquela em cujo

nome detém a coisa demandada.

De outra parte, importante deixar consignado que aquele que não

nomear a autoria quando deveria fazê-lo também se sujeita ao pagamento de

perdas e danos, inclusive no caso de nomear pessoa diversa daquela a qual

deveria ter nomeado, consoante se deflui do referido artigo.

O autor deverá promover ação autônoma com a finalidade de

reparação dos prejuízos decorrentes da ausência de nomeação à autoria ou

nomeação de quem não era o correto legitimado.

Destaque-se que no que se refere a questão das perdas e danos, a

doutrina majoritária se posiciona no sentido de que a aplicação de tal penalidade

somente terá lugar, quando demonstrada a culpa daquele que deveria ter

nomeado à autoria e não o fez, ou ainda, nomeou pessoa diversa da realmente

legitimada para exercer tal condição. Assim, é forçoso concluir que tal

responsabilidade é subjetiva.
60

Samuel Angelini Morgero, acerca do procedimento a ser adotado na

nomeação à autoria menciona : “Admitida a nomeação à autoria no processo

do trabalho, entendemos que o procedimento deverá ser adequado a esta

realidade. Assim, o juiz deverá adiar a audiência e mandar notificar o

nomeado.”54

7.2. Admissibilidade no Processo do Trabalho

Segundo entendimento de Claudio Armando Couce Menezes, a

nomeação a autoria não é aplicável ao Direito do Trabalho: “A nomeação à

autoria restringe-se a direitos sobre bens móveis e imóveis, ou seja: direitos

reais sobre coisas alheias e de garantia, propriedade, posse ou indenização

de danos causados aos bens. De modo que não tem aplicação no Direito do

Trabalho, que é fundado no direito obrigacional.”55

Gustavo Filipe Barbosa Garcia admite a aplicação da nomeação à

autoria ao processo do trabalho e elucida: “Se a ação for ajuizada pelo

empregado (ou diversa modalidade de trabalhador, abrangido pela redação

mais ampla conferida ao art. 114, inciso I, CF/1988, pela Emenda

Constitucional 45), postulando a retomada de bem da sua propriedade,

54
Op. cit. p. 106
55
Op. cit. p. 36
61

utilizado na prestação dos serviços, em face de preposto do empregador (ou

do tomador de serviços, em face de preposto do empregador (ou tomador

de serviços do trabalhador), observa-se a evidente ilegitimidade passiva.

Pela nomeação à autoria, possibilita-se a correção do pólo passivo, passando

a figurar como réu o empregador ou verdadeiro tomador dos serviços

(nomeado), substituindo o preposto (nomeante).

Caso a ação seja ajuizada pelo empregador (ou diversa

modalidade de tomador de serviço, incluída no art. 114, inciso I, da

CF/1988), com pedido de devolução de instrumento fornecido para a

prestação dos serviços, em face de empregado (ou trabalhador) que é mero

detentor do bem (conservando a posse em nome alheio, ou seja, de outro

empregado, o verdadeiro titular da posse, que, por exemplo, emprestou-lhe

o bem), o réu, sendo parte ilegítima, deve nomear à autoria o efetivo

possuidor do bem (nomeado), possibilitando-se a correção da ilegitimidade

passiva.”56

Destaca ainda o ilustre autor: “Se o empregador ou tomador de

serviços (incluído na competência da Justiça do Trabalho), proprietário de

certa máquina de trabalho, ajuizar ação com pedido de indenização pelos

danos causados a esse bem, em face de certo trabalhador (incluído no inciso

I do art. 114), e este alega ter praticado o ato por ordem, ou em

56
Op. cit. p. 49
62

cumprimento de instruções do superior hierárquico (outro empregado ou

trabalhador), também é possível, em tese, a nomeação à autoria (art. 63 do

CPC), mesmo no processo do trabalho, possibilitando a correção da

ilegitimidade de parte passiva.”57

Ainda quanto a admissibilidade da nomeação à autoria, Gustavo

Filipe Barbosa Garcia aduz : “A sua regulamentação no Código de Processo

Civil revela a sua simplicidade, pois a nomeação à autoria para se

concretizar, depende da concordância do autor e do nomeado, afastando

qualquer discussão que pudesse atrasar a decisão ou tornar o processo

complexo.”58

Samuel Angelini Morgero menciona que existe celeuma doutrinária

acerca do cabimento da nomeação à autoria, sendo partidários de sua

inadmissibilidade, Wilson de Souza Campos Batalha, Manoel Antonio Teixeira

Filho e Claudio Armando Couce Menezes, sob o fundamento de que o instituto

só pode ser empregado em ações reais. Afirma ainda que Coqueijo Costa se

posiciona contra a aplicação da nomeação à autoria no processo do trabalho. Já

Ives Gandra da Silva Martins citado pelo referido autor, se mostra favorável a

admissibilidade da nomeação, mencionado o exemplo de gerente ou preposto

que demandado por empregado, poderia nomear à autoria a empresa em questão.

57
Op. cit. p. 49
58
Op. cit. p. 50
63

Ainda aduz que Wagner Giglio, Amauri Mascaro Nascimento e Eduardo

Gabriel Saad admitem a aplicação do instituto.59

Afirma ainda o referido autor que Sérgio Pinto Martins e José

Janguiê Bezerra Diniz não admitem a nomeação à autoria no processo de

execução, o que entende ser a posição mais acertada. Aduz que Saulo Emídio

dos Santos afirma que o artigo 63 do CPC, que trata da nomeação à autoria,

quando existe alegação da prática do ato por determinação de outrem, tem plena

aplicação na Justiça do Trabalho. 60

Carlos Henrique Bezerra de Leite menciona exemplo de Aguinaldo

Locatelli : “Interessante exemplo é dado por Aguinaldo Locatelli, para

quem, em face da EC. n.45, em casos especiais, poderá ser admitida a

nomeação à autoria, como “na ação de indenização intentada pelo

empregador em face do empregado, sob a alegação de danos causados por

dolo ou culpa a veículo, que se encontrava na posse do empregado. Com

espeque no art. 63 do CPC, o empregado poderá aduzir que praticou o ato

por ordem ou em cumprimento de instruções de superior hierárquico e, em

razão disso, nomear à autoria o seu superior hierárquico, o qual poderá ser

até o administrador do empregador, que presta serviços na condição de

autônomo”.61

59
Op. cit. p. 106
60
Op. cit. p. 106
61
Op. cit. p. 441
64

Amauri Mascaro Nascimento cita como exemplo de situação em

que a nomeação à autoria encontra lugar, o caso em que o empregado que

praticou durante greve, danos materiais à empresa e alega que o fez por ordem

do sindicato.62

Entendemos que a nomeação à autoria é perfeitamente aceitável no

processo do trabalho, uma vez que podem ocorrer controvérsias decorrentes da

relação do trabalho que admitam o emprego do instituto, como no caso de

preposto demandado em nome próprio que nomeia a autoria, a empresa.

Ademais, o fundamento sustentado por alguns doutrinadores de que

o instituto somente pode ser utilizado no que concerne aos direitos reais cai por

terra, diante da disposição constante no artigo 63 do Código de Processo Civil.

7.3. Efeitos da Sentença

No que concerne aos efeitos da sentença, é necessário esclarecer

que seus efeitos ficarão circunscritos às partes litigantes, uma vez que aceita a

nomeação, ocorrerá a extromissão do nomeante, ou melhor, a retirada do pólo

passivo do réu primitivo.

62
Op. cit. p. 459
65

Dentro deste contexto, o nomeado sofrerá os efeitos da coisa

julgada em face do autor, sem prejuízo da responsabilização por perdas e danos

em face da incorreta nomeação.

Daniel Ustárroz , ao tratar da questão da retirada do pólo passivo da

ação pela nomeação daquele de fato detinha a legitimidade passiva ad causam,

esboça interessante posição: “Uma questão a ser enfrentada nessas hipóteses

diz respeito à vinculação do nomeante (que é excluído) ao resultado do

processo, ou seja, caso ao fim o magistrado se convença de que não havia

espaço para a nomeação aceita e que o verdadeiro legitimado era o réu

originário. Qual a conseqüência desta situação? A lógica impõe a admissão

de que a sentença lhe alcance também, afinal houvera um convite para

participar do contraditório, declinado por razões que se demonstraram

injustificadas. Assim, há vinculação entre nomeante “extrometido” e

sentença futura. Isto é, a extromissão operada não teria o condão de

imunizá-lo da eficácia da decisão definitiva.”63

63
Op. cit. p. 83
66

8. DENUNCIAÇÃO À LIDE

A denunciação à lide é modalidade de intervenção de terceiros dita

obrigatória, que consiste na integração de terceiro no pólo passivo da demanda,

mediante a propositura de uma nova ação “in simultaneus processus”, nas

hipóteses elencadas no artigo 70 do Código de Processo Civil:

Art. 70. A denunciação da lide é obrigatória:

I - ao alienante, na ação em que terceiro reivindica

a coisa, cujo domínio foi transferido à parte, a fim

de que esta possa exercer o direito que da evicção

Ihe resulta;

II - ao proprietário ou ao possuidor indireto

quando, por força de obrigação ou direito, em casos

como o do usufrutuário, do credor pignoratício, do

locatário, o réu, citado em nome próprio, exerça a

posse direta da coisa demandada;

III - àquele que estiver obrigado, pela lei ou pelo

contrato, a indenizar, em ação regressiva, o

prejuízo do que perder a demanda.


67

A denunciação à lide possui natureza de ação e em razão deste fato,

somente pode ser proposta por iniciativa das partes.

Luiz Rodrigues Wambier, Eduardo Talamini e Flávio Renato

Correia de Almeida destacam acerca do conceito de denunciação à lide: “A

denunciação à lide é instituto criado com o objetivo de, levando a efeito o

princípio da economia processual, inserir num só procedimento duas lides,

interligadas, uma de que se diz principal e outra de que se diz eventual,

porque, na verdade, o potencial conflituoso da lide, levada a conhecimento

do juiz através da denunciação, só se realiza concretamente em função de

um determinado resultado, que será obtido com a solução da lide principal.

Não sendo vencido o denunciante na ação originária, a lide eventual não

deve ser examinada, já que a denunciação como que “perderá” seu

objeto.”64

Dentro deste contexto, vale citar a posição de Athos Gusmão

Carneiro que preleciona: “Teremos, pois, “no mesmo processo”, duas ações,

duas relações jurídicas processuais. Portanto, um só processo, uma só

64
WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo e ALMEIDA, Flávio Renato Correia de, Curso Avançado
de Processo Civil: teoria geral do processo e processo de conhecimento, 10ª edição, 2008, v.1. p. 296
68

instrução, uma mesma sentença para ambas as ações, a ação principal e a

ação de denunciação à lide.”65

Ainda nos dizeres do renomado mestre: “A denunciação da lide

pode apresentar duas finalidades fundamentais: pela primeira, o instituto

visa trazer o terceiro ao processo para que defenda (colabore na defesa) o

interesse da parte que o convocou; como segundo aspecto, o terceiro é

convocado para indenizar os danos que a parte que o convocou venha a

sofrer, caso perca a demanda.”66

A figura da denunciação à lide surgiu no Direito Romano, tendo

sofrido fortes influências do Direito Germânico.

No ordenamento brasileiro, a denunciação à lide remonta das

Ordenações Filipinas, tendo sido prevista ainda no Código de Processo Civil de

1939.

Na hipótese descrita no inciso I do artigo 70, a denunciação à lide é

realizada como forma de garantia da evicção, uma vez que é chamado o

alienante, quando o adquirente é demandado por terceiro, que está pretendendo a

coisa alienada. Assim, a denunciação à lide se presta a assegurar os direitos do

adquirente em face do alienante pela evicção, consoante disposição descrita nos

artigos 447 a 457 do Código Civil.

65
Op. cit. p. 104
66
Op. cit. p. 105
69

Caso o adquirente não efetue a denunciação à lide, perderá o direito

de garantia relativo à evicção, conforme descrito no artigo 456 do Código Civil,

que transcrevemos:

Art. 456. Para poder exercitar o direito que da

evicção lhe resulta, o adquirente notificará do litígio

o alienante imediato, ou qualquer dos anteriores,

quando e como lhe determinarem as leis do

processo.

Parágrafo único. Não atendendo o alienante à

denunciação da lide, e sendo manifesta a

procedência da evicção, pode o adquirente deixar

de oferecer contestação, ou usar de recursos.

Por este motivo, na hipótese no inciso I do artigo 70 do CPC, a

denunciação à lide é obrigatória.

No que concerne a hipótese do inciso II, a denunciação à lide é

promovida pelo possuidor direito contra o proprietário ou possuidor indireto

quando terceiro demandar a coisa, com a finalidade de assegurar o pagamento

de perdas e danos, por não haver a garantida da posse cedida. Podem ser citados

como exemplos de hipóteses em que a denunciação à lide seria cabível, os casos

de usufruto, credor pignoratício e locatário.


70

A terceira hipótese em que pode ocorrer a denunciação à lide está

descrita no artigo III do artigo 70 do Código de Processo Civil, o qual preconiza

que aquele que pela lei ou contrato detiver responsabilidade de indenizar o

denunciante em ação regressiva, poderá ser denunciado com vistas a possibilitar

a reparação.

Por versarem sobre institutos de natureza eminentemente civil, as

hipóteses de denunciação à lide elencadas nos incisos I e II do artigo 70 do

Código de Processo Civil, não podem ser aplicadas ao Direito do Trabalho, por

tratarem de matérias que não se enquadram na esfera de competência da Justiça

Especializada.

Aspecto relevante a ser tratado acerca do tema diz respeito à

obrigatoriedade da denunciação à lide.

Isso porque muito embora o texto de lei seja expresso no sentido de

que a denunciação à lide é obrigatória em todas as hipóteses elencadas no artigo

70 do Código de Processo Civil, a doutrina é majoritária no sentido de que a

denunciação à lide somente é obrigatória no caso do inciso I do referido artigo,

sendo que caso não haja denunciação à lide nas demais hipóteses elencadas no

artigo mencionado, subsiste o direito de regresso.

Interessante destacar a posição de Vicente Greco Filho, que entende

que a denunciação à lide é obrigatória em todas as hipóteses mencionadas no


71

artigo 70 do Código de Processo Civil: “Mas pergunta-se: como interpretar,

então, o termo obrigatória que também rege as hipóteses desses incisos?

A solução lógica é a mesma encontrada pelo texto expresso do

Código português: “Se o não chamar, terá de provar, na ação de

indenização, que na demanda anterior empregou todos os esforços para

evitar a condenação”.

Tal disposição, aliás, nem precisaria ser expressa em lei,

porquanto deflui dos princípios. Quem não chamou o garante para amarrá-

lo aos efeitos imutáveis da coisa julgada corre o risco de, na ação própria,

receber exceções materiais relativas à sua atuação no primeiro processo e,

se agiu com culpa nessa demanda, sua negligência compensa o dever de

indenizar, uma vez que o garante demonstre que poderia ter ganho a ação.

A denunciação da lide, portanto, é obrigatória, nos casos dos

incs. II e III, a fim de que o denunciante, na mesma ação, obtenha o título

executivo contra o denunciado (art. 76) e a fim de evitar que na eventual

ação autônoma de regresso se rediscuta o mérito da primeira ação, cuja

sentença não encerra a força de coisa julgada contra aquele que, por não

ter sido denunciado, não foi parte no feito.”67

67
Op. cit. p. 142 a 143
72

Já no que concerne a perda do direito de regresso, leciona Athos

Gusmão de Carneiro: “Cumpre salientar que, nos casos do art. 70, III, a

obrigatoriedade da denunciação da lide merece interpretação restritiva; não

exercitada a denunciação, a parte perderá apenas as vantagens processuais

dela decorrentes, mas não perde a pretensão de direito material; portanto, a

ação regressiva poderá ser ajuizada posteriormente, em processo

autônomo.”68

Dentro deste contexto, o nobre processualista entende que a

obrigatoriedade da denunciação à lide nos casos previstos nos incisos II e III do

artigo 70, se limita ao interesse da parte obter desde logo um título executivo,

com o fito de evitar à parte o risco de perder o direito de regresso por

fundamento que poderia ter sido oposto ao autor da demanda primitiva.

Entendemos que a denunciação à lide de fato somente é obrigatória

quanto à perda do direito material na hipótese descrita no inciso I do artigo 70

do CPC, visto que há dispositivo expresso na lei relativo ao direito material no

sentido de determinar tal obrigatoriedade no caso de evicção.

Já nas hipóteses descritas nos incisos II e III do artigo 70 do CPC,

não há qualquer determinação legal expressa no sentido de determinar a perda

do direito de regresso, o que faz presumir simplesmente a ocorrência de um ônus

processual à parte, ou melhor, deixando de denunciar à lide da demanda

68
Op. cit. p. 129
73

primitiva, pode sofrer limitações quanto à sua atuação processual em ação

regressiva, opostas pela ocorrência da coisa julgada na demanda primitiva.

Assim, aquele que deveria ter denunciado à lide nas hipóteses

descritas no inciso II e III e não o fez, suporta o ônus processual de sua

“negligência”, mas não encontra óbices na propositura de ação autônoma,

tampouco na perseguição do direito material. Em outras palavras, a penalidade é

de cunho processual, daí porque a norma processual traz a expressão

“obrigatória”.

A denunciação à lide amplia o objeto da demanda, uma vez que

haverá apreciação do objeto da ação principal e ainda, da controvérsia havida

entre denunciante e denunciado, ou melhor, serão julgadas duas demandas

simultâneas em um único processo.

A denunciação à lide pode ser promovida tanto pelo autor como

pelo réu.

Conforme asseveram Nelson Nery Junior e Rosa Maria Andrade

Nery, o autor, ao denunciar a lide, na verdade propõe duas demandas: uma em

face do réu e outra em face do denunciado, esboçando os fundamentos que dão

suporte ao direito de regresso69. Destacam ainda os renomados processualistas,

que muito embora, o texto de lei classifique como o denunciado pelo autor como

69
NERY JUNIOR, Nelson e NERY, Rosa Maria de Andrade, Código de Processo Civil Comentado e Legislação
Extravagante, 10ª edição, Editora Revista dos Tribunais, 2007, p. 289
74

litisconsorte, ele é assistente simples, visto que não possui relação jurídica com

o réu e em razão de tal fato não possuiria legitimidade para figurar na condição

de litisconsorte.70

Alguns doutrinadores, como Luiz Rodrigues Wambier, entendem

que quando a denunciação à lide é feita pelo réu, denunciante e denunciado são

litisconsortes em relação ao autor.

Entendemos que muito embora o texto de lei seja expresso quanto à

condição de litisconsorte do denunciado em relação ao denunciante, tanto na

hipótese de denunciação à lide formulada pelo réu, quanto na denunciação à lide

formulada pelo autor, não há que se falar em litisconsórcio, primeiro pela

inexistência de relação jurídica entre denunciado e adversário de denunciante;

segundo, porque o denunciado atua como mero auxiliar do denunciado, em

decorrência de seu interesse jurídico no deslinde da demanda primitiva, uma vez

que o resultado lhe afetará por via reflexa na demanda secundária. Trata-se de

assistência simples.

Interessante a posição de Humberto Theodoro Júnior ao tratar da

denunciação à lide do litisconsorte: “A circunstância de ser o responsável pela

garantia litisconsorte da ação principal não dispensa nem impede a

denunciação à lide. É que o objetivo da intervenção, na espécie, é deduzir

uma nova ação em juízo, sem a qual a sentença solucionará a lide primitiva,

70
Op. cit. p. 293
75

mas não poderá condenar o garante regressivo naquilo que diz respeito à

sua responsabilidade perante o beneficiário da mesma garantia. Há,

portanto, legítimo interesse na propositura da denunciação da lide, mesmo

quando o terceiro (litisdenunciado) já figure, a outro título, na relação

processual originária.”71

No que tange a hipótese descrita no inciso III do artigo 70 do

Código de Processo Civil, há celeuma doutrinária no que concerne a

abrangência desta previsão, sendo que Athos Gusmão Carneiro apresenta três

correntes:

“a) sustentaram alguns que na expressão “ação regressiva”

somente estariam compreendidos os casos em que o direito

houvesse sido transferido ao denunciante pela pessoa a ser

chamada ao processo através da denunciação;

b) para outros, a denunciação, com arrimo no art. 70, III, do

CPC, supõe que a ação de regresso contra o terceiro decorra de

texto expresso de lei ou de previsão contratual, previsão esta

que poderá ser expressa ou decorrer implicitamente do caráter

e dos propósitos da avença firmada entre denunciante e

denunciado;

71
Op. cit. p. 134
76

c) um terceira corrente, invocando a vantagem de ordem

prática em diminuir o número de demandas regressivas em

processos posteriores, advoga o cabimento da denunciação em

todos os casos em que um terceiro esteja adstrito a reembolsar

os prejuízos sofridos por aquele que denuncia.”72

Entendemos que no que concerne ao cabimento da denunciação à

lide com base no inciso III do artigo 70, é necessário observar que a pretensão

deve estar alicerçada em lei ou contrato celebrado, que faça entrever a

possibilidade de responsabilização do denunciado, não bastando a simples

possibilidade de direito de regresso, conforme consta expressamente do texto de

lei.

No que concerne à problemática das denunciações sucessivas,

Athos de Gusmão Carneiro destaca: “Há, sem dúvida, um risco de eternização

do processo, com a convocação de sucessores alienantes já falecidos etc. Por

isso, Arruda Alvim sustentou que o Código teria usado propositadamente

do verbo “intimar” e não do verbo “citar”; a intimação não tornaria os

intimados réus de sucessivas demandas regressivas, mas serviria para

cientificá-los do processo, a fim de que nesse pudessem intervir, como

assistentes. Posteriormente, o Prof. Arruda Alvim modificou seu ponto de

72
Op. cit. p. 117
77

vista, passando a admitir a denunciação sucessiva da lide, que todavia, não

deverá ser aceita no caso de “delonga a dano do autor,

principalmente”(Manual, cit., 10. Ed., v. 2, n. 68, p. 162).”73

Entendemos que a ocorrência de denunciações sucessivas no âmbito

do Processo do Trabalho deve ser vista com certa reserva, com vistas à aplicação

do princípio da celeridade e ainda pelo fato de que o crédito trabalhista tem

natureza alimentar, havendo que se sopesar preponderantemente o interesse do

autor.

Contudo, tal questão deve ser analisada caso a caso, ficando ao

prudente arbítrio do magistrado a sua admissibilidade, na hipótese de se

vislumbrar a aplicação do princípio da econômica processual.

8.1 Procedimento

Inicialmente cumpre esclarecer que no caso de denunciação à lide

requerida pelo autor, deve ser feita com a petição inicial, bem como o

requerimento de citação do denunciado para que venha integrar a lide na

qualidade de litisconsorte, lhe sendo facultado o aditamento da petição inicial,

sendo que no caso de denunciação à lide pelo réu, esta deverá ser feita em sede

73
Op. cit. p. 140
78

de defesa, em conformidade com o disposto no artigo 71 do vigente Código de

Processo Civil:

Art. 71. A citação do denunciado será requerida,

juntamente com a do réu, se o denunciante for o

autor; e, no prazo para contestar, se o denunciante

for o réu.

Quando a denunciação à lide é formulada pelo autor, podem ocorrer

três hipóteses em relação ao denunciado: 1) se este permanecer silente, a ação

prosseguirá em face do demandado, sem a sua participação no pólo passivo,

visto que ninguém pode ser obrigado a ser parte, ficando resguardados os

direitos do autor quanto a ação regressiva; 2) integrar a lide, com a possibilidade

de aditar a petição inicial; 3) comparecer somente para negar sua condição, caso

em que a ação prosseguirá em face do demandado, se resguardando ao autor os

direitos inerentes a garantia da evicção ou da responsabilidade de indenização

por parte do denunciado.

Ressalte-se que somente após o prazo para manifestação do

denunciado, em casos desta natureza, é que será realizada a citação do réu.

Na hipótese de denunciação à lide feita pelo réu, este não está

obrigado a apresentar defesa simultaneamente, haja vista que é facultada a

possibilidade de apresentação de defesa, após a citação do denunciado, até


79

mesmo porque o exercício do direito de defesa está ligado a integração ou não

do denunciado ao pólo passivo da lide.

Quando ocorre a denunciação à lide pelo réu podem ocorrer três

hipóteses em relação ao denunciado: 1) o denunciado poderá aceitar a condição,

apresentando defesa; 2) o denunciado poderá ser tido como revel ou negar a

condição que lhe imputada pelo denunciante, hipóteses nas quais o denunciante

prosseguirá na defesa até o final; 3) poderá comparecer e confessar os fatos

imputados na inicial, sendo que o denunciante poderá elaborar sua defesa até o

final.

Vale esclarecer que mesmo que o denunciado negue sua condição,

deverá permanecer na lide até o seu julgamento final.

No que se refere a questão da aceitação da denunciação à lide pelo

denunciado, assevera Athos de Gusmão Carneiro, que a primeira vista, o texto

de lei dá impressão de que se trata de uma faculdade do denunciado, sendo que

contudo, no caso de acolhimento da denunciação à lide, o denunciado somente

dispõe de duas possibilidades: 1) contesta a ação, podendo argüir preliminar

rechaçando a denunciação à lide; 2) não comparece, se sujeitando neste caso aos

efeitos da revelia. 74

74
Op. cit. p. 146
80

Na hipótese do denunciado deixar de contestar as pretensões

descritas na lide secundária, se sujeita aos efeitos da revelia, sendo aplicável o

artigo 319 do Código de Processo Civil.

Ressalte-se que nos casos de confissão ou reconhecimento do

pedido pelo denunciado, em consonância com a aplicação do artigo 75, inciso III

do Código de Processo Civil, o denunciante terá duas possibilidades: 1) poderá

formular sua defesa, entendendo que a conduta do denunciante não lhe acarreta

prejuízo; 2) poderá aderir a confissão, postulando o manejo do direito

regressivo.

A denunciação à lide só tem lugar no processo de conhecimento,

em decorrência da natureza do instituto e pelo fato de culminar em sentença que

importa necessariamente no julgamento de duas lides em um mesmo processo,

quais sejam, a questão principal e a controvérsia estabelecida entre denunciante

e denunciado.

Segundo Nelson Nery Junior e Rosa Maria de Andrade Nery: “O

denunciante deve deduzir pretensão condenatória, pedindo ao denunciado

que indenize, em regresso, pela perda da propriedade (evicção) ou por

aquilo que tiver de pagar à parte contrária na ação principal. Neste pedido,

podem ser incluídas as despesas processuais e honorários de advogado que


81

o denunciante tiver de pagar à parte contrária na ação principal (v.g. CC

450 III; CC/1916 1109 III).”75

Como no Processo do Trabalho vigora o princípio da oralidade e

concentração dos atos, é necessário que o procedimento descrito no Código de

Processo Civil, seja adequado a realidade da Justiça Especializada, segundo o

prudente arbítrio do magistrado.

Assim, no caso de denunciação à lide pelo autor, entendemos que o

juiz deve de plano determinar a citação do denunciado, para lhe ofertar a

possibilidade de se manifestar, inclusive com o aditamento da petição inicial,

para posteriormente determinar a citação do réu. Já na hipótese de denunciação à

lide pelo réu, o juiz deverá adiar a audiência e determinar a citação do

denunciado.

Samuel Angelini Morgero esboça seu posicionamento quanto ao

procedimento no caso de denunciação à lide: “Caso o reclamado apresente

denunciação à lide (hipótese mais comum), entendemos que o juiz deverá

suspender o processo e designar nova audiência, onde comparecerão as

partes: reclamante, reclamado e denunciado.

Na audiência em prosseguimento, o denunciado apresentará

sua defesa, e o feito seguirá seu curso normal.

75
Op.cit. p. 289
82

Caso o denunciado negue sua responsabilidade, será prudente

que o juiz relegue a análise do cabimento da denunciação da lide para a

sentença.

Caso o reclamante apresente denunciação da lide, não haverá

necessidade de suspender o processo, bastando ao juiz mandar notificar o

denunciado a comparecer à audiência, sob as penas do art. 844 da CLT.”

8.2. Admissibilidade no Processo do Trabalho

Consoante OJ 227 da SDBI-1 do Tribunal Superior do Trabalho, a

figura da denunciação à lide não era admitida no Processo do Trabalho,

conforme se segue:

ORIENTAÇÃO JURISPRUDENCIAL 227.

DENUNCIAÇÃO DA LIDE. PROCESSO DO

TRABALHO. INCOMPATIBILIDADE.

(cancelada) - DJ 22.11.2005
83

Contudo, em face da ampliação da competência da Justiça do

Trabalho e em decorrência da alteração do artigo 114 da Constituição Federal

pela EC 45/2004, a OJ 227 da SBDI-1 foi cancelada.

Em apertada síntese, o entendimento dos doutrinadores acerca da

inadmissibilidade da denunciação à lide mesmo após a Emenda 45/2004, se

ampara no fato de que faltaria competência à Justiça Especializada para

apreciação da demanda secundária, ou melhor, havida entre dois empregadores;

sustentam ainda, que a possibilidade da instauração de uma nova demanda,

acarretaria prejuízo à efetividade do processo e a aplicação dos princípios da

celeridade processual.

Gustavo Filipe Barbosa Garcia se posiciona contrariamente a

denunciação à lide no processo do trabalho, mesmo após o advento da Ementa

45/2004, destacando: “À Justiça do Trabalho não foi atribuída a

competência para processar e julgar controvérsias entre duas empresas,

decidindo a respeito de relação jurídica que possuam, seja na redação

originária do art. 114, seja naquela decorrente da Emenda Constitucional

45/2004.

Isso afasta a aplicação da denunciação da lide no processo

trabalhista mesmo nas hipóteses do art. 455 (direito de regresso do

empreiteiro em face do subempreteiro), dos arts. 10 e 448 (sucessão

trabalhista), do art. 2º, parágrafo 2º (grupo de empresas), todos da CLT,


84

do art. 16 da Lei 6.019/1974 (responsabilidade solidária da empresa

tomadora na falência da empresa de trabalho temporário).

Nem mesmo se pode acolher a tese de que a decisão a respeito

seria proferida apenas incidentalmente, sem fazer coisa julgada. Na

denunciação da lide, há uma expansão do objeto do processo, com nova

pretensão a ser decidida de forma principal.”76

O autor ainda refuta o argumento de que a ampliação da

competência pela Emenda 45/2004 alteraria a possibilidade de admissão da

denunciação à lide: “O argumento de que o art. 114 da Constituição da

República, na redação originária, fundava-se na competência em razão da

pessoa (trabalhador e empregador), mas atualmente, tem por critério a

competência em razão da matéria (relação de trabalho), não altera a

conclusão.

Mesmo antes da Emenda Constitucional 45/2004, a

interpretação mais adequada já era no sentido de que o referido dispositivo

constitucional estabelecia a competência material da Justiça do Trabalho

para os conflitos decorrentes da relação de emprego, sem se limitar à

interpretação literal do dispositivo. Tanto é assim que, mesmo falecendo o

empregado, sempre se admitiu a competência em ação ajuizada pelo espólio

ou dependentes, que não se confundem como o empregado em si, para

76
Op. cit. p. 58
85

controvérsias originadas do vínculo de emprego cessado. Também a

Orientação Jurisprudencial 327 da SDI- I do TST, anterior à Reforma do

Poder Judiciário (atualmente convertida na Súmula 392), já levava em

conta o critério material para definir a competência da Justiça Laboral. O

que a mencionada Emenda Constitucional 45 alterou foi a indicação, no art.

114, inciso I, da “relação de trabalho”, que pode ser entendida como

gênero, englobando, como uma de suas espécies, a relação de emprego.”77

Amauri Mascaro Nascimento, quanto a questão da admissibilidade

da denunciação à lide no processo do trabalho destaca: “Ultimamente, o

cabimento da denunciação da lide no processo trabalhista vem sofrendo a

oposição de alguns doutrinadores, com base em argumentos respeitáveis.

Primeiro, a finalidade da referida figura processual, que seria incompatível

com as perseguidas pela ação na Justiça do Trabalho. Segundo, a

incompetência desta para apreciar a demanda entre o denunciado e o

denunciante, porque não se trata, como é sabido, de questão trabalhista.”78

E prossegue o renomado jurista79:

77
Op. cit. p. 61
78
Op. cit. p. 460
79
Os argumentos expendidos por Amauri Mascaro Nascimento no sentido de que a denunciação à lide poderia ser encarada como
mecanismo de defesa, nos parecem mais se enquadrar como forma de intervenção anômala, denominada por Gustavo Filipe Barbosa Garcia
como integração à lide, conforme se segue:“A integração à lide, diversamente, primando pela efetividade do processo, objetiva, de
forma bem mais ampla, que o provimento jurisdicional seja proferido em face do efetivo devedor. Para tanto, caso o réu originário
requeira a integração de terceiro ao processo, havendo anuência ao autor, formulando pretensão em face do chamado (por meio de
aditamento à petição inicial), autoriza-se a formação do litisconsórcio passivo, pois a decisão sobre quem é, por exemplo, o
empregador, normalmente ocorre após a instrução processual.” E prossegue: “Acrescente-se, ainda, que o requerimento de
integração à lide não é, propriamente, um dever do réu, até porque, ausente a sua regulamentação específica, não se verifica
imposição legal a respeito. A indicação, por exemplo, do efetivo tomador da prestação dos serviços ou do empregador, é faculdade do
demandado, que pode facilitar sua linha de defesa.” (Op. cit. p.46-47)
86

“É evidente que a denunciação à lide, quando cabível no

processo trabalhista, só pode ser concebida como medida de defesa em

juízo, daí por que aqueles que a concebem como meio de ataque para que o

denunciante possa, nela, obter a condenação do denunciado certamente

encontrarão enormes dificuldades em admiti-la na Justiça do Trabalho,

porque é pacífico que esta, certamente, não pode impor condenações ao

denunciado para indenizar o denunciante.

Assim, a sua admissibilidade no processo trabalhista só pode

ser concebida à luz da concepção de defesa, para permitir ao juiz no

processo, com a presença do denunciado, melhor conferir, de modo mais

sólido e claro, o problema que lhe foi proposto pelo denunciante. A

regressividade é aspecto do qual evidentemente a Justiça do Trabalho não

pode cogitar, mas a responsabilidade de reclamado, que seria o

denunciante, ou a exclusão dessa responsabilidade diante da posição, na

relação jurídica de direito material, do que seria o denunciado, a Justiça do

Trabalho sempre estará apreciando, ainda que suponha rejeitada a

denunciação da lide, que não o faz. Desde o momento em que emite o seu

provimento declarando que o reclamado é ou não responsável pelas

obrigações trabalhistas, a Justiça do Trabalho está, inafastavelmente,

decidindo, entre os dois sujeitos que integrariam a denunciação à lide, qual,


87

entre ambos, ou se ambos, devem pagar o débito trabalhista, o que influi de

algum modo na solução subseqüente do problema cível.”80

A crítica que se faz ao posicionamento do renomado jurista, se deve

ao fato de que a figura jurídica discutida não poderia ser aplicada parcialmente,

uma vez que se desvirtuariam as disposições e procedimentos elencados no

Código de Processo Civil, o que leva a conclusão de que não seria atendida a

finalidade para a qual a denunciação à lide foi criada, qual seja, a apreciação de

duas demandas “in simultaneus processus”.

Samuel Angelini Morgero atesta que há grande divergência

doutrinária quanto a admissibilidade da denunciação à lide no processo do

trabalho, destacando que entre os doutrinadores que se posicionam pelo não

cabimento da denunciação à lide estão Wagner Giglio, Sérgio Pinto Martins,

Manoel Antonio Teixeira Filho, Carlos Eduardo Oliveira Dias, Ives Gandra da

Silva Martins, José Janguiê Bezerra Diniz e Francisco Meton Marques de Lima.

Destaca que Eduardo Gabriel Saad assume posição intermediária, admitindo a

denunciação à lide no processo do trabalho apenas se o denunciado aceitar a

qualidade que se lhe quer atribuir e que Ricardo Aerosa admite a denunciação à

lide após o advento da Lei 8.984/95. Afirma que Amador Paes de Almeida e

80
Op. cit. p. 462
88

Francisco Gérson Marques de Lima mencionam a existência de celeuma

doutrinária, mas não assumem posição.81

O referido autor ainda menciona os argumentos expendidos por

Edilton Meireles, que em apertada síntese, destaca que a denunciação à lide é

perfeitamente cabível na Justiça Especializada, em decorrência da aplicação do

artigo 109 do Código de Processo Civil, que assegura ao juiz da causa a

competência para ações de garantia, bem como pelo fato dessa ação ter

abrangência necessária para o exercício da função judicante, uma vez que a

Justiça do Trabalho possui a competência necessária para dirimir conflitos

decorrentes de sua competência necessária, bem como aqueles que lhe são

derivados, conexos, acessórios e dependentes. Destaca ainda o autor citado, que

o afastamento da denunciação à lide pode resultar em decisões conflitantes,

gerando descrédito para a própria Justiça. 82

Entendemos que tal posição é a mais acertada, tendo em vista que

conforme dito alhures, a competência da Justiça Especializada após o advento da

Emenda, passou a ser relativa à matéria “relação de trabalho” e não mais em

relação às pessoas “empregados e empregadores”, conforme se deflui do

confronto da redação anterior e atual do artigo 114 da Constituição Federal,

aliado ao fato de que o artigo 109 do Código de Processo Civil, menciona de

forma expressa que o juiz competente para analisar a causa principal, também é

81
Op. cit. p. 119
82
Op. cit. p. 122 – 123
89

competente para apreciar as ações de garantia, que é o caso da denunciação à

lide.

Além disso, cabe ao magistrado velar pela rápida solução dos

conflitos, priorizando a execução do crédito de natureza alimentar em face da

execução decorrente da sentença proferida na ação de regresso, de modo que

não há que se cogitar de ameaça a aplicação do princípio da celeridade

processual, podendo inclusive determinar a execução do crédito de natureza

alimentar com prioridade, em relação a demanda de natureza regressiva.

Samuel Angelini Morgero admite a denunciação à lide, elencando

as situações nas quais tal modalidade de intervenção de terceiros pode ser

empregada:

“Entendemos que o empreiteiro principal poderá denunciar a

lide ao subempreiteiro, para exercer desde logo o seu direito de regresso. O

subempreiteiro (litisdenunciado) integrará o pólo passivo como réu na ação

de garantia e como assistente (qualificado) do empreiteiro. Caso a

denunciação da lide seja indeferida, o direito de regresso – a ser exercido na

Justiça Comum- estará sem dúvida, garantido, contudo o subempreiteiro

poderá rediscutir toda a matéria de mérito, conforme exemplo referido por

Edilton Meireles, gerando sentenças contraditórias.”83

83
Op. cit. p. 125
90

Nos dizeres de Carlos Henrique Bezerra de Leite, a denunciação à

lide, não é cabível na hipótese do inciso III do artigo 70 do CPC em relação ao

artigo 455 da CLT : “Pensamos ser incabível a denunciação à lide em tal

hipótese, pois a Justiça do Trabalho é incompetente para processar e julgar

a segunda lide, ou seja, aquela que surge entre o denunciante (empreiteiro)

e o denunciado (subempreiteiro), pois ambos se encontram na relação

processual na qualidade de co-responsáveis pelas obrigações trabalhistas,

isto é, como “empregadores”.”84

Com relação a denunciação à lide do subempreiteiro pelo

empreiteiro, nos casos em que for diretamente demandado pelo empregado do

subempreiteiro, entendemos ser perfeitamente admissível, em face da disposição

contida no disposto no inciso III do artigo 70 do Código de Processo Civil,

combinada com a exegese do artigo 455 da Consolidação das Leis do Trabalho:

Art. 455 - Nos contratos de subempreitada

responderá o subempreiteiro pelas obrigações

derivadas do contrato de trabalho que celebrar,

cabendo, todavia, aos empregados, o direito de

reclamação contra o empreiteiro principal pelo

inadimplemento daquelas obrigações por parte do

primeiro.

84
Op. cit. p. 443
91

Parágrafo único - Ao empreiteiro principal fica

ressalvada, nos termos da lei civil, ação regressiva

contra o subempreiteiro e a retenção de

importâncias a este devidas, para a garantia das

obrigações previstas neste artigo.

Aliás, em casos desta natureza, a denunciação à lide do

subempreiteiro resulta em vantagens ao empreiteiro, visto que aquele é quem

detém maiores subsídios, por se tratar do empregador e ainda, remanesce ao

empreiteiro, o direito de ser ressarcido por ter que suportar eventual condenação.

Vale destacar ainda que não se trata de hipótese de chamamento ao

processo, porquanto o empreiteiro e o subempreiteiro não são devedores

solidários, diferentemente do que ocorre na sucessão.

Com relação à questão de sucessão, Samuel Angelini Morgero

assevera: “No caso de sucessão, entendemos que o sucessor poderá

denunciar a lide ao sucedido, desde que o contrato de compra e venda

(trespasse) tenha previsto – de forma expressa – a responsabilidade deste.

Caso não exista essa previsão, não haverá direito de regresso a ser exercido

e a denunciação da lide será incabível.”85

85
Op. cit. p. 125
92

Com relação à questão da denunciação à lide nos casos de sucessão,

em que pesem os argumentos expendidos pelo Ilustre Magistrado, ousamos

discordar, visto que entendemos que nos caso mencionado, a figura aplicável é o

chamamento ao processo, visto que o comando normativo descrito no artigo 10

e 448 da Consolidação das Leis do Trabalho, nos leva ao entendimento de que

sucessor e sucedido são devedores solidários, já citados.

Da análise do texto de lei, se pode defluir que sucessor e sucedido

são devedores solidários, visto que caso o sucessor não venha a suportar as

obrigações trabalhistas em face dos empregados que também eram do sucedido

à época em que estava à frente da empresa, este suportará tais obrigações,

mesmo com a existência de cláusula contratual tendente a afastar esta

responsabilidade, uma vez que o contrato não pode se sobrepor à lei. Trata- se

de hipótese de chamamento ao processo, descrita no inciso III do artigo 77 do

CPC : “III - de todos os devedores solidários, quando o credor exigir de um

ou de alguns deles, parcial ou totalmente, a dívida comum.”

Outra hipótese em que se cogita a admissibilidade da denunciação à

lide se refere à possibilidade de exercício do direito de regresso do empregador

em face do empregado que lhe ocasionou prejuízos, consoante disposto no artigo

934 do Código Civil.

Sob este aspecto, Gustavo Filipe Barbosa Garcia, também inadmite

a denunciação à lide: “Como o direito de regresso do empregador perante o


93

empregado culpado envolve fundamento novo, distinto da ação originária,

não pode ser exercido por meio da denunciação da lide, sob pena de ofensa

o princípio da celeridade, de grande incidência no âmbito trabalhista,

merecendo destaque o disposto no art. 5º, inciso LXXVIII, da CF/88

acrescentado pela Emenda Constitucional 45. No caso, como se pode

verificar, a condenação do empregador (réu) não gera, automaticamente, a

responsabilidade de empregado (ou trabalhador) que aquele alega ser o

culpado, revelando ser incabível a denunciação da lide, por não se tratar de

ação de garantia propriamente.”86

Entendemos que nesta hipótese é cabível a denunciação à lide, uma

vez que a utilização deste instituto é extremamente útil ao empregador que

demandado por empregado que alega a existência de dano moral ocasionado por

seu preposto, pode tanto obter maiores elementos de defesa, pela ocorrência da

assistência simples, como exercer seu direito de regresso, na hipótese de ficar

constatada a existência de ato ilícito. Caso o denunciado, admita que os fatos

narrados na prefacial correspondem a realidade, se abrirá para o empregador a

possibilidade do exercício do direito de regresso. Ainda caso haja transação na

ação principal proposta pelo autor, nada obsta o prosseguimento da denunciação

à lide para aferir a responsabilidade do preposto denunciado, com ampla

possibilidade de dilação probatória.

86
Op. cit. p. 65
94

Interessante a posição de Daniel Ustárroz ao mencionar a

possibilidade de denunciação à lide nos casos em que se discuta a

responsabilidade civil do Estado por ato cometido por funcionário público : “ De

um lado, argumenta-se que é conveniente ao Estado chamar desde logo o

funcionário causador do dano, a fim de que a sentença defina ambas as

relações de direito material oriundas do episódio da vida discutido. De

outro, refere-se a impossibilidade dessas demandas serem cumuladas, afinal

suas causas de pedir não se confundem. Isso porque a relação entre Estado

e a vítima guia-se pela responsabilidade objetiva advinda da teoria do risco,

ou seja, prescindindo da análise da culpa. Já a denunciação formulada pelo

Estado e a vítima guia-se pela responsabilidade objetiva advinda da teoria

do risco, ou seja, prescindindo da análise da culpa. Já a denunciação

formulada pelo Estado disciplina-se pela responsabilidade subjetiva, e, por

isso, depende de instrução probatória distinta, para verificar a presença de

falta ou dolo.”87

E destaca ainda: “Não se deve olvidar que, no mais das vezes, o

denunciado será aquele que melhor terá condições de fornecer elementos de

convicção para o correto julgamento da causa, tendo em vista sua

participação, em tese, no evento narrado na inicial. Dessa forma, privar o

Estado de contar com a colaboração de seu funcionário, cujo o

comportamento é inquinado de ilegal, é favorecer sobremaneira a parte


87
Op. cit. p. 100
95

autora, em detrimento de seu oponente. Para que o Estado logre quebrar o

nexo de causalidade demonstrando culpa exclusiva da vítima (ou mesmo

instrumentalize o regresso), é de todo conveniente o ingresso do

funcionário, afinal resolver-se-ão duas relações autônomas em apenas uma

sentença, sem, contudo, comprometer a celeridade da instrução

probatória.”88

No que tange a denunciação da lide nos casos de pessoa jurídica de

direito público, em decorrência da aplicação do artigo 37, parágrafo 6º da

Constituição Federal, destaca Athos Gusmão de Carneiro, que cabe denunciação

à lide nas ações indenizatórias promovidas em face da União em relação ao

funcionário público como forma de exercício do direito de regresso. 89

Dentro deste contexto é forçoso concluir de que é perfeitamente

defensável a tese da aplicabilidade da denunciação à lide nos casos em que a

União for demandada por funcionário público em sede de ação indenizatória, no

caso de atribuir a responsabilidade do evento danoso a outro funcionário da

administração pública, em consonância com a exegese dos artigos 109 e 114 da

Constituição Federal.

Tecidas estas considerações, entendemos que a ampliação da

competência da Justiça Especializada trouxe ampla possibilidade de aplicação

da denunciação à lide ao processo do trabalho.


88
Op. cit. p. 102
89
Op. cit. p. 121
96

8.3. Efeitos da Sentença

A denunciação à lide dá ensejo à uma cumulação de ações, de sorte

que na mesma sentença deverão ser julgadas ambas as demandas, que possuem

relação de prejudicialidade entre si, sendo que não é necessário ao denunciante

propor uma nova ação.

Destaque-se que um dos efeitos da denunciação à lide, mesmo

diante da sua não aceitação é sujeitar o denunciado aos efeitos da sentença,

sendo que valerá como título executivo, conforme disposição do artigo 76 do

Código de Processo Civil, que transcrevemos:

Art. 76. A sentença, que julgar procedente a ação,

declarará, conforme o caso, o direito do evicto, ou a

responsabilidade por perdas e danos, valendo como

título executivo.

De outra parte, quando o denunciante for vencedor na demanda, o

julgamento da denunciação à lide simplesmente estará prejudicado, não cabendo

ao magistrado se manifestar sobre a questão.

No que tange a questão da prejudicialidade entre a demanda

primitiva e a demanda secundária, é importante destacar que caso o denunciante

seja vitorioso na demanda principal, necessariamente, a demanda havida entre


97

denunciante e denunciado será julgada prejudicada; caso o denunciante seja

condenado na demanda primitiva, haverá julgamento da denunciação à lide.

Quanto ao cumprimento da sentença, já que abrange duas ações

cumuladas, esta também dará ensejo a duas execuções, de modo que parte da

doutrina entende que o denunciado poderia ser diretamente executado pelo

adversário do denunciante, no caso de ter sido julgada procedente a matéria que

deu ensejo à denunciação à lide.

Interessante a posição de Athos de Gusmão Carneiro, que entende

que o autor, em sede de execução pode voltar-se contra o denunciado: “Nos

casos de ação regressiva por responsabilidade civil (inclusive nas demandas

contra o Estado), igualmente consideramos possível ao autor executar a

sentença condenatória não só contra o réu denunciante como contra o

denunciado, seu litisconsorte por força da lei processual, isso, naturalmente

dentro dos limites da condenação na demanda regressiva.”90

Particularmente, tal posicionamento de alguns doutrinadores nos

parece equivocado, considerando que são duas ações cumuladas, ou melhor, “in

simultaneus processus” e não há relação jurídica de direito material entre o

denunciado e o adversário do denunciante, haja vista que somente se pode exigir

o adimplemento de determinada obrigação, quando balizada em uma relação

jurídica direta.

90
Op. cit. p. 149
98

Em que pesem os argumentos dos doutrinadores, como Humberto

Theodoro Junior, de que tal procedimento visaria dar azo ao princípio da

celeridade e economia processual, bem como atender à efetividade do processo

como forma de realização de Justiça, tal procedimento carece de embasamento

legal, podendo ser inclusive objeto de discussão pelo denunciado, o qual não

mantém qualquer relação jurídica com o adversário do denunciante.

Nos casos de transação na ação principal, entende Athos Gusmão

de Carneiro que a demanda principal será extinta, sendo que tal fato não

acarretará prejuízo ao julgamento de denunciação à lide, por se tratar de ação

autônoma, citando o seguinte exemplo: “Assim, o proprietário do veículo,

citado em ação indenizatória por acidente de trânsito, aceita o pedido do

prejudicado ou com este transaciona, até por considerar legítima a

pretensão formulada na inicial. Tal conduta não inibe de prosseguir na

demanda de reembolso movida contra a seguradora denunciada, embora

naturalmente, esta denunciada possa continuar invocando a ausência de

responsabilidade por parte de seu segurado; com efeito, os motivos do

reconhecimento do pedido, ou os fundamentos da transação, não vinculam

o terceiro a quem a lide originária foi denunciada.”. 91

91
Op. cit. p. 155
99

Feitas estas considerações, concluímos que tanto denunciante como

denunciado sujeitam-se aos efeitos da coisa julgada e que há relação de

prejudicialidade no julgamento da demanda principal e demanda secundária.

9. CHAMAMENTO AO PROCESSO

Pelo chamamento ao processo é possível ao réu devedor, chamar a

integrar a lide os demais co-devedores, que também mantém uma relação

jurídica com o autor, mas que não foram por este demandados.

O artigo 77 do Código de Processo Civil prevê três hipóteses

através das quais, a medida é cabível:

Art. 77. É admissível o chamamento ao processo:

I - do devedor, na ação em que o fiador for réu;

II - dos outros fiadores, quando para a ação for

citado apenas um deles;

III - de todos os devedores solidários, quando o

credor exigir de um ou de alguns deles, parcial ou

totalmente, a dívida comum.


100

Como se pode constatar através da análise do dispositivo em

questão, para que ocorra o chamamento ao processo é necessário que haja

relação jurídica material entre o chamado e chamante, como fiança ou obrigação

solidária e entre o chamado e o autor, figurando o primeiro na qualidade de

devedor da obrigação principal.

Dentro deste contexto, diferentemente da denunciação a lide, no

chamamento ao processo, necessariamente deve existir uma relação jurídica

entre o autor e o chamado.

Assim, para que haja a possibilidade de exercício do chamamento

ao processo, se faz necessária a existência de uma relação jurídica consistente

em obrigação solidária, acerca da qual o autor poderia exigir o cumprimento da

obrigação do chamado, sendo que o chamante tem possibilidade de exigir o

reembolso, no caso adimplemento integral da obrigação.

Necessário deixar consignada a posição de Athos de Gusmão

Carneiro, com relação a finalidade do chamamento ao processo: “Pelo

chamamento ao processo, ao réu assiste a faculdade (não a obrigação) de,

acionado pelo credor em ação de conhecimento sob o rito ordinário, fazer

citar os coobrigados a fim de que estes ingressem na relação jurídica

processual com seus litisconsortes, ficando destarte abrangidos pela eficácia

da coisa julgada material resultante da sentença.


101

Não se trata, aqui, do exercício de um direito regressivo, como

no caso da denunciação da lide; com efeito, os “chamados” devem ao credor

comum, não ao “chamante”. Cuida-se, isto sim, da instauração de um

litisconsórcio sucessivo facultativo: o terceiro é convocado ao pólo passivo

porque, consoante a relação de direito material em que se baseia a

demanda, ele, terceiro, “deve” ao autor, como credor comum, e em

princípio “não deve” ao chamante.”92

Destaque-se que Nelson Nery Junior e Rosa Maria Andrade Nery,

formulam crítica à aplicabilidade do instituto: “A tese da instrumentalidade do

processo tem sido corretamente defendida em todos os rincões do território

brasileiro. Mas é preciso que se dê a ela substância e efetividade, para que

não fique limitada apenas a mera figura de retórica ou de palanque do

politicamente correto. Como explicar, à luz da instrumentalidade do

processo, que o instituto processual do chamamento ao processo foi criado

pelo CPC 77 para estorvar ou até extinguir o direito material da

solidariedade passiva, obrigando o credor a litigar contra quem ele não

escolhera para figurar no pólo passivo da demanda? E é isso mesmo que

ocorre quando se defende a tese do chamamento “amplia” o pólo passivo,

colocando os chamados na posição de litisconsortes passivos, isto é de réus”.

92
Op. cit. p. 165
102

A instrumentalidade deve ser aplicada in concreto e não apenas defendida

in abstracto.”93

O chamamento ao processo é uma faculdade do réu e independe da

aceitação do autor, razão pela qual caso o réu não a exerça, pode posteriormente

propor ação em face dos demais devedores, em consonância com a aplicação

nos artigos 78 e 79 do Código de Processo Civil.

O chamamento ao processo tem por conseqüência tornar o

chamado, litisconsorte do chamante, em conformidade com o posicionamento

majoritário da doutrina.

O chamamento ao processo não era regrado pelo Código de

Processo Civil de 1939 e tem sua origem no Direito português.

Por se tratar de ação condenatória, o chamamento ao processo deve

ser requerido no prazo para defesa, observados os ditames dos artigos 282 e 283

do Código de Processo Civil.

93
Op. cit. p. 298
103

9.1. Procedimento

O chamamento ao processo é possível tão somente no processo de

conhecimento, não sendo viável em sede de execução, cautelar e procedimentos

especiais.

O réu deverá efetuar o chamamento ao processo no prazo para a

defesa.

Como as disposições constantes no Código de Processo Civil acerca

do procedimento são simples, entendemos que não há grandes dificuldades na

sua aplicação ao Processo do Trabalho, visto que apresentado o chamamento ao

processo pelo réu em audiência, o juiz deverá determinar o adiamento da

audiência e a citação do chamado para que passe a integrar o pólo passivo da

lide.

9.2. Admissibilidade no Processo do Trabalho

O chamamento ao processo é instituto que foi criado para atender

ao réu e sofre inúmeras críticas por parte da doutrina, sob o fundamento de que o

autor, que é responsável por propor os contornos da lide, fica obrigado a litigar

contra quem não tinha esta pretensão.


104

Samuel Angelini Morgero destaca acerca da admissibilidade do

chamamento ao processo na Justiça do Trabalho: “Repetimos que caberá ao

juiz analisar duas relações jurídicas substanciais e, se procedente o pedido

do autor em face do réu (demanda originária), deverá dizer se o chamado

ou chamados responderão ou não e de que forma: solidária ou

subsidiariamente.

É exatamente isso que acontece no processo do trabalho,

mutandis mutanti, no caso de terceirização, quando o empregado reclama

em face da empregadora e da tomadora de serviços pleiteando a

condenação da empregadora como devedora principal e da tomadora de

serviços como devedora subsidiária, de acordo com o Enunciado n. 331, IV,

do TST. Caso o pedido ou pedidos em face da empregadora sejam

procedentes, caberá ao juiz analisar a questão da responsabilidade da

tomadora de serviços, em capítulo à parte da sentença.”94

Samuel Angelini Morgero, quanto a admissibilidade do

chamamento ao processo, assevera: “Entendemos que a competência da

Justiça do Trabalho para analisar o chamamento ao processo decorre do

art. 109 do CPC e que o fato de execução ocorrer entre dois empregadores

(chamador e chamado) não deve causar estranheza.”95

94
Op. cit. p. 132
95
Op. cit. p. 140
105

Ressalta ainda o referido autor que a doutrina é unânime em admitir

o chamamento ao processo na Justiça do Trabalho na hipótese do inciso III do

artigo 77 do CPC, sendo que a discrepância de entendimentos se limita à

casuística.

Gustavo Filipe Barbosa Garcia se manifesta acerca da

inadmissibilidade do chamamento ao processo: “Respeitadas as opiniões em

contrário, tem-se que o mencionado instituto do Direito Processual Civil é

incompatível com o processo do trabalho, por fundamentos semelhantes aos

utilizados na denunciação da lide, inclusive a incompetência absoluta da

Justiça do Trabalho para decidir a respeito de controvérsia entre duas

empresas. Novamente, não pode se afastar esse óbice com a assertiva de que

a questão é decidida apenas incidentalmente, pois não é isso o que se

verifica por meio da figura mencionada.”

E prossegue:

“Ou seja, numa lide trabalhista, pelo chamamento ao processo,

ter-se-ia título executivo judicial em favor da empresa que pagou o débito

por inteiro, contra outra (s) coobrigada (s).”

E conclui:
106

“Ora, à Justiça Laboral não foi atribuída competência material

para proferir decisão, com valor de título executivo, envolvendo duas

empresas, uma favorecida e outra condenada. A “relação de trabalho”,

prevista nos atuais incisos I e VI do art. 114 da Constituição Federal, como

já destacado, não se confunde com relação jurídica entre duas empresas,

cujo objeto não é o ato de trabalhar.”96

Cláudio Armando Couce Menezes faz crítica aqueles que se

posicionam pela inaplicabilidade do chamamento ao processo, em face da

incompetência da Justiça Especializada para apreciar a demanda existente entre

o chamado e o chamante: “Entendem doutrinadores de nomeada ser

incabível o chamamento ao processo no campo do processo laboral, pois

que possível seria a formação, por causa do chamamento, de uma segunda

demanda, entre aquele que chamou e o chamado, que poderia negar a

qualidade de responsável solidário ou a própria incidência das

circunstâncias autorizadoras de sua integração ao processo; o que fugiria à

esfera da competência trabalhista, já que não seria um dissídio entre

empregado e empregador. Entanto, seu argumento fica no vazio quando

inocorre o dissenso entre o chamante e o chamado, vez que há apenas um

96
Op. cit. p. 70
107

dissídio entre empregado e (possíveis) empregadores e responsáveis

solidários.”97

Carlos Henrique Bezerra de Leite, exemplica situações em que o

chamamento ao processo pode ocorrer: “Os exemplos mais aceitos são os

seguintes: a) “grupo empresarial” também chamado de “solidariedade de

empregadores”, consubstanciado no art. 2º, parágrafo 2º da CLT; b)

condomínio residencial que não possui convenção devidamente registrada,

situação em que o condômino demandado pode chamar ao processo os

demais condôminos como co-responsáveis pelas obrigações trabalhistas; c)

sociedade de fato irregularmente constituída, na qual todos os sócios são

solidariamente responsáveis pelas obrigações trabalhistas; d) consórcio de

empregadores rurais, pois todos são responsáveis solidários pelas

obrigações trabalhistas, por aplicação conjunta do art. 3º , parágrafo 2º , da

Lei n. 5.889/1973 e do art. 25-A da Lei n. 10.256, de 9.7. 2001.”98

Samuel Angelini Morgero acerca da admissibilidade do

chamamento ao processo no caso de grupo de empresas destaca: “Entendemos

que o empregador, quando demandado sozinho, não pode chamar ao

processo os demais integrantes do grupo econômico, da mesma forma que

um dos integrantes do grupo não pode chamar os demais, tendo em vista

que nesse caso não existe direito ao ressarcimento, estando ausente um dos

97
Op. cit. p. 45
98
Op. cit. p. 446
108

pressupostos do chamamento ao processo, referidos por Athos Gusmão

Carneiro.

Se o empregador pagar a dívida, ele não poderá ser ressarcido

pelos demais integrantes do grupo econômico; se um dos integrantes do

grupo econômico pagar a dívida, ele poderá ser ressarcido pelo empregador

(devedor principal) e não pelos demais integrantes do grupo; portanto, em

se tratando de grupo econômico pagar a dívida, é cabível apenas o

chamamento ao processo do empregador (devedor principal), caso a

reclamação seja movida apenas em face de um ou mais integrantes do

grupo econômico (art. 77, III, do CPC).”99

A crítica que se faz a tal posicionamento se refere ao fato de que o

parágrafo 2º do artigo 2º da Consolidação das Leis do Trabalho trata da

solidariedade das empresas no grupo econômico, razão pela qual perfeitamente

plausível a aplicação do inciso III do artigo 77 do CPC, que menciona “dos

devedores solidários”.

Da mesma forma, conforme já mencionado, entendemos que pode

haver chamamento ao processo nos casos de sucessão, em face das disposições

contidas nos artigos 10 e 448 da Consolidação das Leis do Trabalho.

Interessante citar ainda a posição de Samuel Angelini Morgero,

quanto a intervenção de terceiros nos casos específicos de terceirização: “A


99
Op. cit. p. 136
109

responsabilidade subsidiária do tomador de serviços é uma criação

jurisprudencial que se baseia na interpretação da culpa contratual in

eligendo e in vigilando, ou seja, não se trata de uma hipótese expressamente

prevista em lei, como ocorre com a responsabilidade do empreiteiro

principal (art. 455 da CLT) . Admitindo que o reclamante resolva reclamar

apenas contra o tomador dos serviços, cuja responsabilidade é subsidiária,

não existe nenhuma figura de intervenção de terceiro (típica) que permita

que o tomador pleiteie a integração à lide do empregador.”

E conclui:

“Entendemos, portanto, que a única saída viável in casu é

aplicar por analogia o art. 77, I, do CPC, e admitir que o tomador de

serviços chame ao processo o empregador, na qualidade de devedor

principal, antecipando, com isso, o exercício do benefício de ordem em

futura execução, com maior efetividade processual em favor do

empregado.”100

Em que pesem os argumentos citados pelo Ilustre Magistrado, nos

parece que o caso citado se adequa mais a integração à lide, posição tão

defendida por Gustavo Filipe Barbosa Garcia.

100
Op. cit. p. 138
110

9.3. Efeitos da Sentença

É necessário deixar claro ainda que o chamamento ao processo não

implica no exercício de ação regressiva como na denunciação a lide, se

consubstanciado em faculdade ao chamante, na hipótese deste ter que arcar com

a obrigação, objeto da ação.

Dentro deste contexto, a sentença não se prestará somente a

satisfação do crédito do autor e sim, servirá como título executivo em favor

daquele que efetuou o cumprimento da obrigação contra os outros litisconsortes,

em consonância com a redação do artigo 80 do Código de Processo Civil.

Como ilustra Athos de Gusmão Carneiro : “Como o chamamento

importa na convocação de terceiro, ou terceiros, para que os chamados

assumam, também eles, e ao lado do chamante, a posição de réus perante o

credor, evidente que na mesma sentença cabe ao juiz definir as

responsabilidades de cada um dos litisconsortes. O juiz inclusive pode

condenar um réu ao pagamento, e julgar improcedente a demanda perante

o outro, já que as defesas oponíveis ao pedido nem sempre serão as mesmas

para todos os litisconsortes (v.g., pode o fiador réu chamar ao processo o

afiançado, e, em contestando, alegar e provar a nulidade da fiança).”101

101
Op. cit. p. 178
111

Além disso, em decorrência da existência de litisconsórcio entre o

chamado e o chamante, o juiz apreciará a causa uniformemente, sendo que nada

obsta que estabeleça a existência de título executivo do chamante em face do

chamado, ou vice e versa, em face daquele que adimplir a obrigação junto ao

autor.

Ressalte-se que o chamado se sujeita aos efeitos da sentença e

conseqüentemente da coisa julgada, ainda que recuse tal condição.

O autor não se beneficia dos efeitos da sentença proferida na

demanda secundária, ou melhor, na relação processual existente entre chamante

e chamado, visto que somente propôs ação em face do chamante, sendo que o

título executivo descrito na sentença somente contra este último valerá. De outra

parte, caso o chamante venha a adimplir a obrigação na integralidade, podendo

requerer a satisfação do crédito em face do chamado.

10. CONCLUSÃO

Para a conclusão do presente estudo, entendemos necessário

destacar que a Emenda 45/2004, ao ampliar a competência da Justiça

Especializada, tornou possível a aplicação de todas as modalidades de

intervenção de terceiros descritas no Código de Processo Civil.


112

Este entendimento se alicerça no fato de que a redação anterior do

artigo 114 da Constituição Federal apontava para a competência em razão das

pessoas, ou melhor, entre empregado e empregador, sendo que a nova redação

do artigo remete a competência em razão da matéria, qual seja, relação de

trabalho.

Além disso, importante ressaltar que o artigo 109 do Código de

Processo Civil atribuiu competência ao juiz da causa principal para análise das

ações de garantia.

Ainda é importante deixar consignado, que a inserção das figuras de

intervenção de terceiros no Processo do Trabalho, não gera óbices a aplicação

do princípio da celeridade, bem como à efetividade do processo, cabendo ao

magistrado velar pela breve satisfação do crédito de natureza alimentar com

prioridade em face da execução dos créditos decorrentes das demandas

secundárias, existentes entre empregadores, como já ocorre nos casos em que se

discute a arrecadação das contribuições sociais.

Dentro deste contexto, concluímos que são aplicáveis ao Processo

do Trabalho, todas as modalidades de intervenção de terceiros, quais sejam:

assistência, oposição, nomeação à autoria, denunciação à lide e chamamento ao

processo.
113

11. BIBLIOGRAFIA

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TEIXEIRA FILHO, Manoel Antonio. Curso de Processo do trabalho:

perguntas e respostas sobre assuntos polêmicos em opúsculos específicos, n.

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THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 49ª ed.,

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<http:www.trt02.gov.br>

<http:www.trt.gov.br>

<http:www.trt5.jus.br>
1

ANEXO DE JURISPRUDÊNCIA

OPOSIÇÃO

EMENTA: “INTERVENÇÃO DE TERCEIROS. PROCESSO DO TRABALHO.


CHAMAMENTO AO PROCESSO. No presente feito, pretende o reclamado a inclusão
do Prefeito Municipal, entendendo que ele responde na forma da Lei Complementar no.
101, de 2000, a Lei de Responsabilidade Fiscal, para que ele arque com os encargos
trabalhistas. Percebe-se que a pretensão de inclusão na lide é por responder o Prefeito
Municipal, solidariamente, pelos créditos trabalhistas, entendendo que é ele o causador
da despesa. Nada se alterou após a Emenda à Constituição no. 45, de 2004, no tocante à
aplicação das figuras de intervenção de terceiros ao processo do trabalho, que segue
admitindo apenas as hipóteses de assistência e de oposição. Não se pode confundir, por
outro lado, que as figuras típicas de direito processual civil reguladas pelos artigos 62 a
80 do CPC, que são a nomeação à autoria, a denunciação da lide e o chamamento ao
processo, tenham lugar no processo trabalhista. Nestes três casos, trata-se de discussão
entre empregadores, que têm entre si um contrato de direito comercial - ou de natureza
civil - que não significa uma relação de trabalho. Mesmo que o trabalhador busque
receber os seus direitos, a desavença entre os outros contratantes não pode ser
solucionada pela Justiça do Trabalho.” (TRIBUNAL: 3ª Região
DECISÃO: 09 08 2005
TIPO: RO NUM: 00240 ANO: 2005
NÚMERO ÚNICO PROC: RO - 00240-2005-045-03-00-1 TURMA: Segunda Turma

EMENTA: “INTERVENÇÃO DE TERCEIROS. OPOSIÇÃO. NÃO CABIMENTO.


CPC, ART. 56. A oposição é instituto de intervenção de terceiros que tem natureza
jurídica de ação judicial de conhecimento ajuizada por terceiro (opoente) contra autor e
réu (opostos), em litisconsórcio passivo necessário. Em seu objeto, o opoente não
concorda com o pedido do autor e deduz pretensão contra este e contra o réu. Deseja o
direito ou coisa disputada em juízo. Portanto, um de seus requisitos é que o opoente
deduza pretensão contra autor e réu ao mesmo tempo. O opoente pretende no todo ou
em parte a coisa ou o direito sobre o qual pende a demanda entre outras pessoas. Propõe
a sua ação contra elas, para fazer valer direito próprio. Se o opoente não pretende um
direito em que supostamente são titulares reclamante e reclamada, mas seu objetivo é
provar que não existiu relação de emprego com a reclamada e sim com o opoente; ou
seja, pretende defender a reclamada, excluindo-a da lide, não se configura o instituto da
oposição, havendo que se extinguir o processo sem julgamento de mérito por
ilegitimidade de parte, porquanto a ação sequer foi ajuizada em face do opoente que é
parte estranha à lide.” (TRIBUNAL: 15ª Região
ACÓRDÃO NUM: Acórdão: 013915/2001 DECISÃO: 19 04 2001
TIPO: RO NUM: 018143 ANO: 1999
NÚMERO ÚNICO PROC: RO - TURMA: TU5 - Quinta Turma)
2

EMENTA: “OPOSIÇÃO - REPRESENTAÇÃO DA CATEGORIA PROFISSIONAL.


A OPOSIÇÃO É AÇÃO DE TERCEIRO CONTRA AUTOR E REU,AO MESMO
TEMPO, PARA EXCLUI-LOS DA RELAÇÃO MATERIAL, PARA FAZER VALER
DIZER PROPRIO INCOMPATIVEL COM O DIREITO DAS PARTES OU DE UMA
DELAS. PODE DIZER RESPEITO A UMA COISA OU A UM DIREITO, NO SEU
TODO OU EM PARTE. A OPOSIÇÃO É UMA ESPECIE DO GENERO DE
INTERVENÇÃO DE TERCEIROS, QUE DEVE SER UTILIZADA QUANDO O
INTERESSADO NO DIREITO POSTULADO POR DUAS OUTRAS PARTES
INGRESSA CONTRA A LESÃO OCORRIDA EM HAVENDO SUCESSÃO, NA
LIDE, PARA UMA DAS PARTES. "IN CASU", INCABIVEL A OPOSIÇÃO,
VEZ QUE O SINDICATO-RECORRENTE NÃO PRETENDE O DIREITO
POSTULADO, QUAL SEJA, O CUMPRIMENTO DE CLAUSULA DE ACORDO
COLETIVO, E SIM A EXTINÇÃO DO FEITO SEM JULGAMENTO DO MERITO,
POR ILEGITIMIDADE DE PARTE.” (TRIBUNAL: TST ACÓRDÃO NUM: 958
DECISÃO: 04 02 1997 PROC: ROAR NUM: 194166 ANO: 1995 REGIÃO: 15
UF:SP RECURSO ORDINARIO EM AÇÃO RESCISORIA ORGÃO JULGADOR -
SUBSEÇÃO II ESPECIALIZADA EM DISSIDIOS INDIVIDUAIS TURMA: D2)

NOMEAÇÃO À AUTORIA

EMENTA: “DENUNCIAÇÃO DA LIDE. CHAMAMENTO AO PROCESSO E


NOMEAÇÃO À AUTORIA. Estas três figuras estão nos artigos 62 a 80 do CPC e
podem ser tratadas neste subtítulo, conjuntamente, pela característica do ponto comum
existente entre elas: a "inaplicabilidade destas figuras ao processo do trabalho". Como
bem acentua o Professor AROLDO PLÍNIO GONÇALVES, na sua obra intitulada "Da
Denunciação da Lide", esta figura processual - como as outras duas - não pode ser
aceita no âmbito da Justiça do Trabalho, por não tratar de "controvérsias entre
trabalhadores e empregadores". Em qualquer destes casos, travar-se-ia discussão entre
os próprios empregadores - ou, excepcionalmente, os próprios empregados - que
ficariam no processo demandando um contra o outro, não figurando nos pólos ativo e
passivo aqueles apontados pelo art. 114 da Constituição da República, ferindo-se a
preceituação sobre competência. Exatamente, neste artigo da Constituição. Esta é a
posição do TST, conforme a Orientação Jurisprudencial no. 227 da sua SDI-1, com a
seguinte redação: "Denunciação da lide. Processo do Trabalho. Incompatibilidade". Esta
discussão deverá ser travada no "foro próprio", por se tratar, como já se acentuou, de
relação de natureza civil e não trabalhista e, se o reclamante escolheu mal o reclamado
para demandar, será este último declarado parte ilegítima para figurar no feito. Poderá,
entretanto, demandar contra o outro, em ação distinta, em outra oportunidade. No
Capítulo II, item 2.1, quando tratamos da competência da Justiça do Trabalho, com a
redação nova que a EC no. 45, de 2004, deu ao art. 114 da CRF, afirmamos que não se
pode confundir, por outro lado, que as figuras típicas de direito processual civil
reguladas pelos artigos 62 a 80 do CPC, que são a "nomeação à autoria", a
"denunciação da lide" e o "chamamento ao processo", tenham lugar no processo
trabalhista. Nestes três casos, trata-se de discussão entre empregadores, que têm entre si
um contrato de "direito comercial" - ou de natureza civil - que não significa uma
"relação de trabalho". Mesmo que o trabalhador busque receber os seus direitos, a
3

desavença entre os outros contratantes não pode ser solucionada pela Justiça do
Trabalho. Não é mesmo competência da Justiça do Trabalho dirimir tais dissídios, que
não foram contemplados pelo novo texto da Constituição da República.” ( TRIBUNAL:
3ª Região
DECISÃO: 29 03 2006
TIPO: RO NUM: 00044 ANO: 2005
NÚMERO ÚNICO PROC: RO - 00044-2005-073-03-00-6 TURMA: Terceira Turma)

DENUNCIAÇÃO À LIDE

EMENTA : “DENUNCIAÇÃO DA LIDE. CABIMENTO. A denunciação da lide no


processo do trabalho somente se justifica se adstrita ao interesse discutido. Ainda que
admitida esta hipótese, trata-se de assunto a ser tratado em procedimento próprio, a fim
de não prejudicar a celeridade processual, diante do caráter alimentar da verba
trabalhista.” (TRIBUNAL 2ª REGIÃO TIPO: RECURSO ORDINÁRIO DATA DE
JULGAMENTO: 10/02/2009 RELATOR(A): SERGIO WINNIK REVISOR(A):
PAULO AUGUSTO CAMARA ACÓRDÃO Nº: 20090052638 PROCESSO Nº:
01239-2000-023-02-00-8 ANO: 2008 TURMA: 4ª DATA DE
PUBLICAÇÃO: 20/02/2009)

EMENTA: “DENUNCIAÇÃO À LIDE. APLICAÇÃO SUPLETIVA DA NORMA


ALIENÍGENA. TAXATIVIDADE E INTERPRETAÇÃO RESTRITIVA - Em
decorrência do cancelamento da Orientação Jurisprudencial 227 da Sessão de Dissídios
Individuais 1, fica autorizado o instituto processual da denunciação à lide no processo
trabalhista. Por obrigatória, na verificação de sua hipótese fica o magistrado compelido
a inclusão da denunciada no pólo passivo da ação. Autorizada pelo artigo 769 da CLT a
aplicação supletiva do artigo 70 da legislação processual civil, que descreve, de forma
taxativa, as hipóteses de seu cabimento. Interpretação restritiva da norma.” (TRT 2ª
REGIÃO TIPO: RECURSO ORDINÁRIO DATA DE JULGAMENTO: 29/10/2008
RELATOR(A): LILIAN LYGIA ORTEGA MAZZEU REVISOR(A): ANA MARIA
MORAES BARBOSA MACEDO ACÓRDÃO Nº: 20080959576 PROCESSO Nº:
03083-2007-202-02-00-1 ANO: 2008 TURMA: 8ª DATA DE
PUBLICAÇÃO: 11/11/2008)

EMENTA: “ DENUNCIAÇÃO À LIDE. A circunstância de haver sido cancelada a OJ


227 da SBDI-1 do TST não faz presumir o cabimento irrestrito, na Justiça do Trabalho,
da denunciação à lide.” (TRIBUNAL 5ª REGIÃO RECURSO ORDINÁRIO Nº 00199-
2008-033-05-00-5-RO Relator: Desembargador ALCINO FELIZOLA Processo 00199-
2008-033-05-00-5 RO, ac. nº 0231752008, Relator Desembargador ALCINO
FELIZOLA, 1ª. TURMA, DJ 24/09/2008.)
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EMENTA: “RECURSO ORDINÁRIO - DENUNCIAÇÃO DA LIDE - EMENDA


45/2004 - A controvérsia sobre a compatibilidade ou não da figura da denunciação da
lide com o processo do trabalho volta à cena, depois da Emenda Constitucional
45/2004, já agora não mais persistindo o condicionamento aos limites da competência
desta Justiça Especializada para dirimir litígios exclusivamente entre empregados e
empregadores. No entanto, essa não é a hipótese a ser considerada quando a pretensão
do autor se exaure no âmbito do grupo empresarial formado pelas reclamadas em face
das quais foi deduzida a pretensão inicial. Preliminar que se rejeita.
(TRIBUNAL: 2ª Região
ACÓRDÃO NUM: 20060503577 DECISÃO: 04 07 2006
TIPO: RO01 NUM: 00018 ANO: 2006
NÚMERO ÚNICO PROC: RO01 - 00018-2005-051-02-00
RECURSO ORDINÁRIO TURMA: 11ª)

EMENTA: “DENUNCIAÇÃO À LIDE - APLICABILIDADE NO PROCESSO DO


TRABALHO - A denunciação à lide é ação incidental que tem por objeto pretensão de
regresso da Demandada contra terceiro, caso venha a ser condenada na ação principal
(art. 70 do CPC). Bem por isto, neste caso, não é compatível com o processo trabalhista,
posto que a Justiça do Trabalho não se presta a resolver conflito entre empresas. E se a
ré entende que outra pessoa pode vir a responder pelos créditos reconhecidos na
sentença, compete-lhe propor ação regressiva, não sendo possível a denunciação à lide,
por não se adequar a situação à hipótese do inciso III do art. 70 do CPC.” (TRIBUNAL:
3ª Região DECISÃO: 03 06 2008
TIPO: RO NUM: 00855 ANO: 2007
NÚMERO ÚNICO PROC: RO - 00855-2007-005-03-00-0
TURMA: Segunda Turma)

EMENTA: “DENUNCIAÇÃO À LIDE. PROCESSO DO TRABALHO. Apesar do


cancelamento da OJ no. 227 da SDI-1 do TST, a denunciação à lide ainda não é, em
regra, aplicável às causas em tramitação nesta Especializada, ante a ausência de
competência para se dirimir conflitos que escapam ao âmbito das relações de trabalho,
nos termos da EC no. 45/04.” (TRIBUNAL: 3ª Região
DECISÃO: 28 04 2008
TIPO: RO NUM: 01059 ANO: 2007
NÚMERO ÚNICO PROC: RO - 01059-2007-058-03-00-0 TURMA: Sexta Turma)

EMENTA: “DENUNCIAÇÃO DA LIDE. ART. 114 DA CONSTITUIÇÃO


FEDERAL. Ainda que cancelada a Orientação Jurisprudencial nº 227 da SBDI-1 do C.
TST, após a edição da Emenda Constitucional 45, o fato é que o art. 114 da
Constituição Federal não foi alterado por essa Emenda a tal ponto de
desincompatibilizar o instituto da denunciação da lide com o Processo do Trabalho.
Recurso Ordinário a que se nega provimento.” (TRIBUNAL 2ª REGIÃO TIPO:
RECURSO ORDINÁRIO DATA DE JULGAMENTO: 04/12/2007 RELATOR(A):
ANELIA LI CHUM REVISOR(A): RICARDO VERTA LUDUVICE ACÓRDÃO Nº:
20071069725 PROCESSO Nº: 01812-2004-070-02-00-4 ANO: 2005 TURMA: 5ª
DATA DE PUBLICAÇÃO: 18/01/2008).
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EMENTA: “DENUNCIAÇÃO À LIDE - Malgrado o cancelamento da Orientação


Jurisprudencial n. 227 da Egrégia SBDI-1 do Colendo TST, tal fato, de per si, não
implica na plena e automática aplicação do instituto da denunciação à lide na seara
trabalhista. O Colendo TST, mesmo após a Emenda Constitucional n. 45 de 31.12.2004,
vem se manifestando no sentido da inaplicabilidade no processo do trabalho do artigo
70, III, do CPC, porquanto não detém esta Especializada competência para julgar a
controvérsia entre a denunciante e a denunciada. O cancelamento da OJ n. 227/SBDI-1
do Colendo TST só tem relevância nas lides trazidas para a órbita de competência da
Justiça do Trabalho e que não envolvam relação empregatícia.( TRIBUNAL: 3ª Região
DECISÃO: 03 05 2006
TIPO: RO NUM: 00448 ANO: 2005
NÚMERO ÚNICO PROC: RO - 00448-2005-028-03-00-5 TURMA: Quarta Turma)

EMENTA: “ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA - CONTRATAÇÃO SEM PRÉVIO


CONCURSO PÚBLICO - RESPONSABILIDADE DO ADMINISTRADOR
PÚBLICO - A contratação indiscriminada de trabalhadores por alguns administradores
públicos, sem a observância do concurso, é ato que fere, na sua essência, o interesse
público, com prejuízos para o trabalhador de boa-fé e o erário público, comprometendo
o sucesso da administração subseqüente. A Lei n. 4.717/65 trata, expressamente, do
agente público causador do ato, sendo, portanto, plausível, a nosso ver, a sua
denunciação à lide, cabendo ao julgador, de ofício, incluí-lo no pólo passivo da relação
processual, permitindo, assim, o exercício do amplo contraditório e o sagrado direito de
defesa. Essa solução, data máxima vênia, compatibiliza os princípios de celeridade e da
economia do direito processual do trabalho, com o estatuído no artigo 70, inciso III, do
CPC, e a lei acima mencionada.” (TRIBUNAL: 3ª Região
DECISÃO: 13 11 2008
TIPO: RO NUM: 00031 ANO: 2008
NÚMERO ÚNICO PROC: RO - 00031-2008-093-03-00-4 TURMA: Setima Turma)

CHAMAMENTO AO PROCESSO

EMENTA :”RECURSO ORDINÁRIO - CHAMAMENTO AO PROCESSO -


JUSTIÇA DO TRABALHO - COMPETÊNCIA. Em tese, não mais se exclui da
competência judiciária trabalhista a pendência que empresas possam travar entre si -
desde que vinculada, por origem ou decorrência, a um conflito trabalhista surgido
diretamente entre uma delas e um trabalhador -, se a reclamatória é distribuída já na
vigência da Emenda Constitucional nº. 45/2004, que alterou o artigo 114 da
Constituição Federal para ampliar a competência da Justiça do Trabalho e nela incluir
todas as ações e outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho. Daí ser o
chamamento ao processo admissível na esfera processual trabalhista, do mesmo modo
que a denunciação da lide. CHAMAMENTO AO PROCESSO - OPÇÃO DO AUTOR -
ART. 282 DO CÓDIGO CIVIL - SPTRANS. O fundamento de que o autor não
pretendeu, na inicial, voltar-se concomitantemente contra a São Paulo Transporte é
relevante por se enquadrar na disposição do art. 282 do vigente Código Civil (o credor
pode renunciar à solidariedade em favor de um, de algum ou de todos os devedores) e
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seu parágrafo único (se o credor exonerar da solidariedade um ou mais devedores,


subsistirá a dos demais). Além disso, coaduna-se com o entendimento de que a co-
responsabilização empresarial, subsidiária ou solidária, pleiteada em Juízo, não
comporta o chamamento de terceiro à lide pelo devedor coobrigado que não disponha
do direito de regresso contra o outro (como é o caso da recorrente em virtude do
contrato direto que manteve com o recorrido e de sua condição de prestadora contratada
em face do gerenciador contratante), eis que a hipótese não se enquadra em quaisquer
das disposições tratadas nos incisos I a III do art. 77 do CPC. COMISSÃO DE
CONCILIAÇÃO PRÉVIA - COISA JULGADA - ART. 1030 DO CÓDIGO CIVIL -
ART. 625-E DA CLT. Desfazendo-se dois equívocos, justifica-se a manutenção de
sentença que rejeita acordo celebrado pelas partes perante a Comissão de Conciliação
Prévia quando lesivo ao trabalhador: primeiro, o art. 625-E da CLT caracteriza o termo
de conciliação lavrado perante a Comissão de Conciliação Prévia como título executivo
extrajudicial, cuja natureza difere do título executivo judicial porquanto, não resultando
de um julgamento em Juízo, tampouco transita em julgado; segundo, porque a esdrúxula
disposição do art. 1030 do Código Civil de 1916 está implicitamente revogada, tendo
em vista não ter sido recepcionada pelo novo código, de 2002. CONCESSIONÁRIA
DE TRANSPORTE PÚBLICO - DESCREDENCIAMENTO - FORÇA MAIOR OU
RISCO EMPRESARIAL. O descredenciamento insere-se no contexto do risco
empresarial e, dessa forma, não se caracteriza como força maior. Ao participar da
licitação que lhe valeu o direito de operar linhas de transporte coletivo urbano, a
empresa estava ciente de que, da mesma forma como recebia a concessão, poderia
perdê-la, tudo em conformidade com as cláusulas contratuais a que aderiu e às quais se
sujeitava sob condições específicas. A perda da concessão, pois, é um evento previsível
e evitável, dentro dos parâmetros contratuais. Ademais, o § 1º do art. 501 da CLT
ressalva que a imprevidência do empregador exclui a razão de força maior. HORAS
EXTRAS - TRABALHO SIMULTÂNEO - PRESCRIÇÃO QÜINQÜENAL. O direito
a horas extras não é afetado pela alegação de que a testemunha não trabalhou junto com
o reclamante no período imprescrito. A prescrição qüinqüenal diz respeito aos créditos
resultantes das relações de trabalho na vigência do contrato, e não à prova dos
correspondentes direitos. Se o reclamante comprova a situação jurídica favorável ao
reconhecimento de sobrejornada não paga, constitui um direito que se presume
persistente no tempo até que sobrevenha eventual contraprova cujo ônus, por implicar
fato modificativo, incumbe à reclamada. Inteligência dos arts. 818 da CLT e 333, II, do
CPC.”(TRIBUNAL: 2ª Região
ACÓRDÃO NUM: 20060653056 DECISÃO: 22 08 2006
TIPO: RO01 NUM: 01506 ANO: 2006
NÚMERO ÚNICO PROC: RO01 - 01506-2005-025-02-00
RECURSO ORDINÁRIO TURMA: 11ª)

EMENTA: “JUSTIÇA DO TRABALHO. CHAMAMENTO AO PROCESSO.


CABIMENTO. Correto o entendimento exarado pelo MM. Magistrado de origem, tendo
em vista que a ação deve ser proposta contra a tomadora (Município), contra a
intermediária (IBPH) e também contra a própria Cooperativa. Caso houver algum
vínculo de emprego, este será declarado com o tomador de serviços.” (TRT 2ª REGIÃO
TIPO: RECURSO ORDINÁRIO EM RITO SUMARÍSSIMO DATA DE
JULGAMENTO: 29/10/2008 RELATOR(A): ROSA MARIA ZUCCARO ACÓRDÃO
Nº: 20080969792 PROCESSO Nº: 00736-2008-361-02-00-7 ANO: 2008
TURMA: 2ª DATA DE PUBLICAÇÃO: 11/11/2008)
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EMENTA: “COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO. Estando o dissídio


implicitamente associado à relação de emprego, a matéria pertence à competência desta
Justiça Especializada. IMPUGNAÇÃO AO VALOR DA CAUSA. CONVERSÃO DO
RITO PROCESSUAL. A manifestação do Órgão ad quem tem o seu limite determinado
pelas alegações apresentadas no recurso. De outra parte, constitui pressuposto da ação
sujeita ao rito sumaríssimo, a indicação do valor de cada pedido, no momento da sua
propositura, consoante se extrai do artigo 852-B, item I, regra de ordem pública.
Desatendida essa exigência legal, nada obstante o valor atribuído à causa seja inferior a
40 salários mínimos é inadmissível a conversão do procedimento ordinário em
sumaríssimo. ILEGITIMIDADE DE PARTE. Sendo o reclamado titular da relação
substancial afirmada em Juízo, detém legitimidade para figurar no pólo passivo e
responder à pretensão. NULIDADE PROCESSUAL. CHAMAMENTO AO
PROCESSO DA FAZENDA DO ESTADO DE SÃO PAULO. Os elementos constantes
dos autos, especialmente a prova documental permitem inferir que o co-reclamado
Economus - Instituto de Seguridade Social, criado pelo Banco Nossa Caixa S/A, se
incumbe do processamento da folha de pagamento do benefício devido à reclamante,
sendo que a fonte pagadora é a Secretaria de Estado dos Negócios da Fazenda. Nesse
contexto, é imprescindível a participação da Fazenda Estadual no pólo passivo da
presente reclamação, já que, efetivamente, a matéria que constitui o seu objeto envolve
o erário público.” ( TRIBUNAL 2ª REGIÃO TIPO: RECURSO ORDINÁRIO DATA
DE JULGAMENTO: 28/02/2008 RELATOR(A): LUIZ CARLOS GOMES GODOI
REVISOR(A): ROSA MARIA ZUCCARO ACÓRDÃO Nº: 20080161108
PROCESSO Nº: 00865-2007-059-02-00-3 ANO: 2007 TURMA: 2ª DATA
DE PUBLICAÇÃO: 01/04/2008)

EMENTA: “CHAMAMENTO AO PROCESSO, INVIABILIDADE NESTA JUSTIÇA


ESPECIALIZADA. No processo do trabalho não há espaço para os institutos de
chamamento à lide, como expressamente requerido pela defesa, nem de intervenção de
terceiros previstos na legislação processual civil, exceto quanto à assistência e à
oposição. O chamamento ao processo deságua na declaração, na mesma sentença, da
responsabilidade dos demais obrigados, e, como é cediço, tal situação refoge à
competência ratione materiae desta Especializada (art. 114 da CF/88). Registre-se ainda
que o princípio da inércia da jurisdição não só retira, em regra, do órgão julgador, a
faculdade de instaurar de ofício a relação processual, como também não lhe outorga a
prerrogativa de dizer em face de quem a Reclamante deverá ajuizar a demanda.”
(TRIBUNAL 2ª REGIÃO TIPO: RECURSO ORDINÁRIO EM RITO
SUMARÍSSIMO DATA DE JULGAMENTO: 09/12/2008 RELATOR(A): SERGIO
WINNIK REVISOR(A): ACÓRDÃO Nº: 20081083020 PROCESSO Nº: 00848-2008-
361-02-00-8 ANO: 2008 TURMA: 4ª DATA DE PUBLICAÇÃO:
20/01/2009)
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EMENTA: “OGMO. OPERADOR PORTUÁRIO. CHAMAMENTO AO PROCESSO.


DESNECESSIDADE. Estipula o artigo 2º, I, parágrafo 4º, da Lei n. 9.719/98a
responsabilidade solidária entre o OGMO e o Operador Portuário quanto aos direitos
trabalhistas e previdenciários, impedindo, inclusive, a invocação do benefício de ordem.
Tendo o trabalhador tomado a precaução de constituir corretamente o pólo passivo com
ambas as reclamadas, despiciendo o chamamento ao processo pretendido, sobretudo em
razão da incompetência para dispor sobre lide entre duas pessoas jurídicas que mantêm
entre si relação diversa da relação de emprego. TRABALHADOR AVULSO.
EQUIPARAÇÃO DE DIREITOS. VALE-TRANSPORTE. É lição sabida que a
interpretação gramatical é o método hermenêutico que retira o menor potencial de
eficácia da norma, e isso mais se ressalta na exegese constitucional. A referência à
igualdade de "direitos" entre o trabalhador com vínculo empregatício e o trabalhador
avulso não pode importar uma restrição aos direitos previstos no artigo 7º ou em outros
cânones da Constituição Federal. Isso porque, em nova referência hermenêutica, onde o
legislador não restringiu, não cabe ao intérprete fazê-lo. No caso do vale-transporte, não
se pode negar esse benefício ao trabalhador avulso a pretexto de não constar no rol dos
direitos positivados pela Constituição. É interpretação restritiva e incoerente quando se
trata de direitos constitucionais sociais.” ( TRIBUNAL 2ª REGIÃO TIPO: RECURSO
ORDINÁRIO DATA DE JULGAMENTO: 01/10/2008 RELATOR(A): ROVIRSO
APARECIDO BOLDO REVISOR(A): LILIAN LYGIA ORTEGA MAZZEU
ACÓRDÃO Nº: 20080873337 PROCESSO Nº: 00752-2006-255-02-00-8 ANO:
2007 TURMA: 8ª DATA DE PUBLICAÇÃO: 14/10/2008 )

EMENTA: “Grupo Econômico. Chamamento ao Pólo Passivo. Empresa localizada no


mesmo endereço que a primeira, e com o mesmo objeto social sugerem a ocorrência da
figura do grupo econômico, sendo cabível o prosseguimento da ação em face da,
também, 3ª empresa. Recurso a que se dá provimento.” (TRIBUNAL 2ª REGIÃO
TIPO: RECURSO ORDINÁRIO EM RITO SUMARÍSSIMO DATA DE
JULGAMENTO: 12/02/2008 RELATOR(A): MARTA CASADEI MOMEZZO
REVISOR(A): ACÓRDÃO Nº: 20080064218 PROCESSO Nº: 00728-2006-021-02-
00-5 ANO: 2007 TURMA: 10ª )

EMENTA: “ CHAMAMENTO AO PROCESSO. POSSIBILIDADE. O chamamento ao


processo, como é sabido, é hipótese de intervenção de terceiro, do qual o Demandado
pode se servir para inserir no pólo passivo da demanda os seus co-devedores solidários
ou o devedor principal. Apesar da severa divergência jurisprudencial e doutrinária,
entendo aplicável o instituto ao processo do trabalho em situações restritas e apenas na
hipótese do inciso III, do art. 77, do CPC, sem perder de vista o que dispõe o art. 282 do
Código Civil. No caso em análise, não se há falar em chamamento ao processo, porque
o chamado não sucedeu o empregador falecido, não é co-proprietário do
empreendimento e, por isso, também não é co-devedor solidário.” (TRIBUNAL: 23ª
Região
DECISÃO: 21 08 2007
TIPO: RO NUM: 00092-2007-026-23-00-0NÚMERO ÚNICO PROC: RO - 00092-
2007-026-23-00 RELATOR DESEMBARGADOR TARCÍSIO VALENTE)

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